Exegese Genesis 32.21-32
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AMÓS CAVALCANTI PEREIRA FARINHA
Exegese – Gênesis 32.21-32 –
SÃO PAULO
2007
2
Índice
ÍNDICE 1
1. INTRODUÇÃO 4
2. APARATO CRÍTICO GÊNESIS 32.21-‐32 (22-‐33 TM) 5
V. 23 5 V. 24 5 V. 31 5
3. ANÁLISE LEXICOGRÁFICA: GN. 32.21-‐32 (22-‐33 TM) 7
PALAVRA 7 ANÁLISE 7 TRADUÇÃO LITERAL 7
4. TRADUÇÃO LITERÁRIA 18
5. PALAVRAS-‐CHAVE 19
6. OUTRAS TRADUÇÕES 21
BÍBLIA DE JERUSALÉM. 21 NOVA VERSÃO INTERNACIONAL 21 JFA – EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA 22 OBSERVAÇÕES 23
7. ASPECTOS GRAMATICAIS 24
8. DELIMITAÇÃO DE CLÁUSULAS 24
GÊNESIS 32.22-‐32 24
9. ESTRUTURA DO TEXTO 28
DIVISÃO DE CENAS 28 CENA 1 28 CENA 2 28 CENA 3 28 CENA 4 28
3
CENA 5 28 CENA 6 28 CENA 7 29 CENA 8 29 CENA 9 29 CENA 10 29 ESTRUTURAS 29 ESTRUTURA SIMPLES: 29 ESTRUTURA EM PASSOS 30 ANÁLISE DA ESTRUTURA 31
10. ESTRUTURA DO CONTEXTO LITERÁRIO 33
GÊNESIS 34 JACÓ 35
11. MENSAGEM PARA A ÉPOCA DA ESCRITA 42
A HISTÓRIA. 42 A INCAPACIDADE HUMANA E O PODER DIVINO. 43 O CLAMOR HUMANO E A BENÇÃO DIVINA. 44 MUDANÇAS MARCANTES 46
12. MENSAGEM PARA TODAS AS ÉPOCAS 47
13. ESBOÇO DE SERMÃO 50
TEMA: O TRATAMENTO DE DEUS EM TEMPOS DE CRISE. 50 TESE: COMO DEUS TRATA SEU POVO EM TEMPOS DE CRISE? 50 INTRODUÇÃO 50 CONTEXTO 50 1. DEUS MOSTRA QUE SOMOS FRACOS 50 2. DEUS RESTAURA O NOSSO CARÁTER 51 3. DEUS RESTAURA A NOSSA ESPERANÇA 51 CONCLUSÃO 53
CONCLUSÃO 55
BIBLIOGRAFIA 56
4
1. Introdução Este texto de Gênesis 32.21-‐32 é um dos textos mais intrigantes do Velho Testamento.
É realmente um texto que durante a história provocou diversas interpretações, ou
complexas ou simplistas demais. Quando nos deparamos com este texto podemos ver
algumas peculiaridades do estilo de Moisés e de como ele se preocupou em relatar ao
povo de Israel o início e o desdobramento da história da aliança de Deus com esse povo.
Nosso objetivo é descobrir a importância deste texto para seus leitores originais e para os
leitores de todas as épocas.
Neste trabalho faremos uma abordagem do texto levando-‐se em conta os princípios
reformados de exegese e da hermenêutica, ou seja, histórico-‐gramaticais. Faremos um
estudo gramatical, estrutural, textual, contextual, literário, comparativo, e prático,
Desenvolvendo uma abordagem que explique e, por fim, aplique o texto ao seu contexto
original e ao nosso.
O Texto Massorético apresenta este trecho a partir do verso 22 e vai até ao 33,
portanto, no decorrer do trabalho utilizaremos a numeração comum na nossa língua
vernácula, sendo que as aparições em que possam surgir dúvidas quanto aos versos
receberão, ao lado, alguma referência, ou à Edição Revista e Atualizada, ou ao TM.
Este texto foi separado nestes versos, ou seja, a partir do verso 21, para dar uma
ligação histórica quanto ao que se passa antes do fato central relatado no texto, pois
como o texto é uma narrativa, e esta não começa neste ponto do livro, mas muitos
capítulos antes, começaremos a nossa análise a partir deste verso para ligarmos o texto ao
seu contexto próprio.
A importância desse estudo repousa sobre a ligação da vida de Jacó com o plano
pactual de Deus para com sua descendência e, por fim, com a humanidade. A sua vida
está profundamente marcada por essa passagem e conta com essa ligação para que a
compreensão da sua vida e de boa parte do livro de gênesis seja completa e satisfatória.
5
2. Aparato Crítico Gênesis 32.21-32 (22-33 TM)
V. 23
aWhª (aquele) Lê-‐se como leitura sugerida na Pentateuco Samaritano awhh: como
14.22
qBo)y: (Jaboque) O Pentateuco Samaritano possui a leitura qBo)y:h em lugar da
expressão qBo)y: obs: nos dois casos temos a inserção do artigo definido, indicando, no primeiro caso que é
um pronome demonstrativo que tem função de adjetivo atributivo, o que é comum para
se designar alguma ocasião ou lugar específicos. No segundo caso, diante de um
substantivo, o artigo também vem determinar um lugar específico. Ambos podem ser
subentendidos no texto utilizado, não fazendo grande diferença para a tradução.
V. 24
-ta, Manuscrito Medieval, Pentateuco Samaritano e várias versões adicionam -lK' inserido.
Al Assim está no códice L, em muitos manuscritos hebraicos medievais e edições
impressas da Bíblia Hebraica Al). Obs: nesses casos, vemos a mudança de “o que tinha” para “tudo o que tinha”, dando
apenas mais ênfase na totalidade dos bens, mas isso está implícito no texto adotado.
V. 31
lae_ynIP. O Pentateuco Samaritano, Símaco (sec. II), a Peshita, e a Vulgata trazem
como lawnp.
6
Considerações: Essas diferenças sugeridas não afetam de maneira importante o texto, sendo apenas nuanças que não ferem o significado do texto em nenhuma de suas partes e dessa forma, podemos manter o texto da BHS como está. Embora várias variantes se relacionem com textos relativamente significativos, como o Pentateuco Samaritano, as alterações não influenciam no resultado geral da narrativa.
7
3. Análise Lexicográfica: Gn. 32.21-32 (22-33 TM) BHS Bíblia Hebraica
`hn<)x]M;B;( aWhßh;-hl'y>L:)B; !l"ï aWh±w> wyn"+P'-l[;
hx'Þn>Mih; rboð[]T;w: 22
Palavra Análise Tradução literal
rboð[]T;w: Partícula conjuntiva Verbo qal consecutivo, imperfeito, 3º pessoa, feminino, singular
E passou, cruzou.
hx'Þn>Mih Artigo Substantivo comum feminino singular absoluto
O presente
wyn"+P'-l[;
Preposição Substantivo comum, plural, construto, sulfixo na 3º pessoa masculino Singular
Por diante dele
aWh±w> Conjunção Pronome independente 3º pessoa masculino singular
E ele
!l"ï Verbo qal, perfeito, masculino, 3ºpessoa, singular
Ficou
aWhßh;-hl'y>L:)B
Preposição Substantivo comum singular masculino absoluto Artigo Pronome independente 3º pessoa masculino singular
Naquela noite
± hn<)x]M;B
Preposição Substantivo comum singular absoluto
No acampamento
Tradução v.22: e passou o presente por diante dele e ficou naquela noite no acampamento.
wyt'êxop.vi yTeäv.-ta,w> ‘wyv'n" yTeÛv.-ta, xQ;úYIw: aWhª hl'y>L:åB; ~q'Y"åw: 23
`qBo)y: rb:ï[]m; taeÞ rboê[]Y:w:) wyd"_l'y> rf"ß[' dx;îa;-ta,w> ~q'Y"åw Conjunção
Verbo qal consecutivo E levantou
8
imperfeito 3º pessoa masculino singular
hl'y>L:åB; Preposição Substantivo masculino singular absoluto
Durante a noite
aWh Pronome independente 3º pessoa masculino singular
Ele
xQ;úYIw Conjunção Verbo qal consecutivo imperfeito 3ºmasc. sing
E tomou
yTeÛv.-ta Partícula do objeto direto Adjetivo feminino dual construto
Duas
‘wyv'n Substantivo comum feminino plural construto,sulfixo na 3º pessoa do singular masculino
Suas mulheres
yTeäv.-ta,w> Conjunção Partícula do objeto direto Numeral cardinal, adjetivo feminino dual construto
E duas
wyt'êxop.vi Substantivo comum feminino plural construto, sulfixo na 3º pessoa masculino singular
Suas servas
dx;îa;-ta,w> Conjunção Partícula do objeto direto Adjetivo masculino singular construto, numeral
E um
rf"ß[ Adjetivo masculino singular absoluto, numeral
Dez
wyd"_l'y> Substantivo comum masculino plural construto, sulfixo na 3º pessoa masculino singular
Seus filhos
rboê[]Y:w:) Conjunção Verbo qal consecutivo, imperfeito, 3º pessoa masculino singular
E passou
taeÞ Partícula do objeto direto Sem tradução
rb:ï[]m Substantivo comum masculino singular construto
Vau de
9
qBo)y Substantivo próprio Jaboque
Tradução v. 23 (22 ara): E levantou ele durante a noite e tomou suas duas esposas e suas duas servas e seus onze filhos e passou o vau de Jaboque.
`Al-rv,a]-ta, rbEß[]Y:w:) lx;N"+h;-ta, ~rEÞbi[]Y:)w: ~xeêQ'YIw: 24
~xeêQ'YIw Conjunção Verbo qal consecutivo imperfeito 3º pessoa masculino singular, sulfixo na 3º pessoa do masculino plural
E os tomou
~rEÞbi[]Y:)w Conjunção Verbo hifil com vav consecutivo imperfeito 3º p. masc. Sing. com sulfixo na 3º p. masc. Pl apocopada
E os fez passar
lx;N"+h;-ta, Partícula do objeto direto Artigo Substantivo comum absoluto singular masculino
O vale
rbEß[]Y:w:) Conjunção Verbo hifil com vav consecutivo imperfeito na 3º p. masc. Sing. apocopada
E fez passar
Al-rv,a]-ta, Partícula do objeto direto Pronome relativo Pronome preposicionado, sulfixo na 3º pessoa masculino singular
Aquilo que era dele
Tradução v.24 (23 ara): E os tomou e os fez passar o vale e fez passar aquilo que era dele.
`rx;V'(h; tAlï[] d[;Þ AMê[i ‘vyai qbeîa'YEw: AD=b;l. bqoß[]y: rtEïW"YIw: 25
rtEïW"YIw: Conjunção Verbo niphal com vav consecutivo imperfeito na 3º pessoa masculino singular
E foi deixado
bqoß[]y: Substantivo próprio Jacó
AD=b;l Preposição Substantivo comum
Sozinho
10
masculino singular construto, sulfixo na 3º pessoa masculino singular
qbeîa'YEw: Conjunção Verbo niphal com vav consecutivo imperfeito 3º pessoa masculino singular
E lutou
‘vyai Substantivo comum masculino singular absoluto
Homem
AMê[i Preposição sufixo na 3ºpessoa do singular masculino
Com ele
d[;Þ Preposição Até
tAlï[] Verbo qal infinitivo construto
Romper
rx;V'(h Artigo Substantivo comum masculino singular absoluto
A alva
Tradução v.25(24ara): E Jacó foi deixado sozinho e lutou com ele um homem até o amanhecer.
%r,y<å-@K; ‘[q;Te’w: Ak=rEy>-@k;B. [G:ßYIw: Alê ‘lkoy" al{Ü yKiä ar>Y:©w: 26
`AM*[i Aqßb.a'he(B. bqoê[]y: ar>Y:©w: Conjunção
Verbo qal imperfeito 3º pessoa masculino singular apocopada
E viu
yKiä Conjunção Que
al{Ü Partícula de negação Não
lkoy" Verbo qal, perfeito 3º pessoa masculino singular
Podia
Alê Preposição, sulfixo 3º pessoa masculino singular
Contra ele
[G:ßYIw: Conjunção Verbo qal imperfeito 3º pessoa masculino singular
Então tocou
Ak=rEy>-@k;B Preposição Substantivo com. fem. sing. Substantivo com. feminino singular construto, sulfixo na
Na articulação da sua coxa
11
3º p. masc. sing.
‘[q;Te’w: Conjunção Verbo qal imperfeito 3º pessoa feminino singular
E deslocou
%r,y<å-@K Substantivo feminino singular construto Substantivo feminino singular construto
Articulação de coxa de
bqoê[]y: Substantivo próprio Jacó
Aqßb.a'he(B Preposição Verbo niphal infinitivo construto
Enquanto lutava
AM*[ Preposição, sulfixo 3º pessoa masculino singular
Com ele.
Tradução v.26 (25ara): E viu que não podia com ele, então tocou na articulação da sua coxa e deslocou a articulação da coxa de Jacó enquanto lutava com ele.
yKiÞ ^êx]Lev;(a] al{å ‘rm,aYO’w: rx;V'_h; hl'Þ[' yKiî ynIxeêL.v; rm,aYOæw: 27
`ynIT")k.r:Be-~ai rm,aYOæw: Conjunção
Verbo qal imperfeito 3º pessoa masculino singular
E disse
ynIxeêL.v; Verbo piel imperativo masculino singular sulfixo 1º pessoa comum singular
Deixe-‐me ir
yKiî Conjunção Pois
hl'Þ[ Verbo qal perfeito masculino 3º pessoa singular
rompeu
rx;V'_h Artigo Substantivo masculino comum singular absoluto
A alva
‘rm,aYO’w: Conjunção Verbo qal imperfeito 3º pessoa masculino singular
E disse
al{å Partícula de negação Não
^êx]Lev;(a] Verbo piel imperfeito 1º p. com. sing., sulfixo 2ºp. masc sing.
Te deixarei ir
yKiÞ Conjunção Que
12
ynIT")k.r:Be-~ai Conjunção Verbo piel perfeito 2º pessoa masculino singular, sulfixo 1º pessoa comum singular
Se me abençoares
Tradução v.27 (26ara): Então disse, deixe-me ir, pois amanheceu, e disse: não te deixarei ir se [não] me abençoares.
`bqo)[]y: rm,aYOàw: ^m<+V.-hm; wyl'Þae rm,aYOðw: 28
rm,aYOðw: Conjunção Verbo qal imperfeito 3º pessoa masculino singular
E disse
wyl'Þae Partícula preposição sulfixo 3º pessoa masculino singular
Para ele
^m<+V.-hm Pronome interrogativo Substantivo comum masculino construto sulfixo 2º pessoa masculino singular
Qual [é] seu nome?
rm,aYOàw Conjunção Verbo qal imperfeito 3º pessoa masculino singular
E disse
bqo)[]y Substantivo próprio Jacó
Tradução v.28 (27ara): Então disse a ele: qual é seu nome? E respondeu: Jacó.
lae_r"f.yI-~ai yKiÞ ^êm.vi ‘dA[ rmEïa'yE ‘bqo[]y: al{Ü rm,aYO©w: 29
`lk'(WTw: ~yviÞn"a]-~[iw> ~yhi²l{a/-~[i t'yrIôf'-yKi( rm,aYO©w: Conjunção
Verbo qal imperfeito 3º pessoa masculino singular
E disse
al{Ü Partícula negativa Não
bqo[]y: Substantivo próprio Jacó
rmEïa'yE Verbo niphal imperfeito 3º pessoa masculino singular
Será chamado
‘dA[ Advérbio Mais
^êm.vi Substantivo masculino singular construto, sulfixo 2º pessoa masculino singular
Teu nome
YKiÞ Conjunção Mas
13
lae_r"f.yI-~ai Conjunção Substantivo próprio
Agora Israel
t'yrIôf'-yKi Conjunção Verbo qal perfeito 2º pessoa masculino singular
Pois lutaste
~yhi²l{a/-~[ Preposição Substantivo masculino
Com Deus
~yviÞn"a]-~[iw> Conjunção Preposição Substantivo masculino pl.
E com homens
lk'(WTw: Conjunção Verbo qal imperfeito 2º pessoa masculino singular
E venceste
Tradução v.29 (28ara): E disse: teu nome não será mais Jacó, agora será Israel, pois lutaste com Deus e com homens e venceste.
hZ<ß hM'l'î rm,aYO¨w: ^m,êv. aN"å-hd"yGI)h; ‘rm,aYO’w: bqoª[]y: la;äv.YIw: 30
`~v'( Atßao %r<b'îy>w: ymi_v.li la;äv.Ti
la;äv.YIw: Conjunção Verbo qal imperfeito 3º pessoa masculino singular
E perguntou
bqoª[]y Substantivo próprio Jacó
‘rm,aYO’w: Preposição Verbo qal imperfeito 3º pessoa masculino singular
E disse
aN"å-hd"yGI)h Verbo hifil, imperativo masculino singular Interjeição
Diga por favor
^m,êv Substantivo comum masculino singular construto, sulfixo 2º pessoa masculino singular
Teu nome
rm,aYO¨w: Conjunção Verbo qal imperfeito 3º pessoa masculino singular
E disse
hM'l'î Partícula interrogativa Por que?
hZ Adjetivo masculino singular Este
la;äv.Ti Verbo qal imperfeito 2º pessoa masculino singular
Perguntas
14
ymi_v.li Preposição + substantivo masculino singular construto sulfixo 1º pessoa comum singular
Sobre meu nome
%r<b'îy>w: Conjunção Verbo piel imperfeito 3º pessoa masculino singular
E Abençoou
Atßao Partícula do objeto direto sulfixo da 3º pessoa masculino singular
Ele
~v'( Advérbio Ali
Tradução v.30 (29ara): E perguntou Jacó e disse: diga, por favor, teu nome, e respondeu: por que perguntas sobre meu nome? E o abençoou ali. ~ynIåP' ‘~yhil{a/ ytiyaiÛr"-yKi( lae_ynIP. ~AqßM'h; ~veî bqo±[]y:
ar"óq.YIw: 31 `yvi(p.n: lceÞN"Tiw: ~ynIëP'-la,
ar"óq.YIw Conjunção Verbo qal imperfeito 3º pessoa masculino singular
E chamou
bqo±[]y: Substantivo próprio Jacó
~veî Substantivo comum masculino singular construto
Nome de
'~AqßM'h Artigo Substantivo masculino comum singular absoluto
O lugar
lae_ynIP. Substantivo próprio Peniel
ytiyaiÛr"-yKi Conjunção Verbo qal perfeito 1º pessoa comum singular
Porque vi
‘~yhil{a/ Substantivo próprio Deus
~ynIåP' Substantivo masculino comum plural absoluto
Faces
~ynIëP'-la Preposição Substantivo masculino comum plural absoluto
À faces
lceÞN"Tiw: Conjunção Verbo niphal imperfeito 3º pessoa feminino singular
E foi salva
15
yvi(p.n: Substantivo comum feminino singular construto, sulfixo 1º pessoa comum singular
A minha alma
Tradução v. 31(30ara): E chamou Jacó o lugar Peniel, pois: vi a Deus face a face e minha alma foi poupada.
[;leÞco aWhïw> lae_WnP.-ta, rb:ß[' rv<ïa]K; vm,V,êh; Alå-xr:(z>YI)w: 32
`Ak*rEy>-l[ Alå-xr:(z>YI)w: Conjunção
Verbo qal imperfeito masculino 3º pessoa singular Preposição, sulfixo 3º pessoa masculino singular
E levantou sobre ele
vm,V,êh; Artigo Substantivo comum singular absoluto
O sol
rv<ïa]K; Preposição Pronome relativo
Quando
rb:ß[' Verbo qal perfeito masculino 3º pessoa singular
Passou
lae_WnP.-ta, Partícula do objeto direto Substantivo próprio
Por Peniel
aWhïw> Conjunção Pronome independente 3º pessoa masculino singular
E ele
[;leÞco Verbo qal particípio masculino singular absoluto
Mancava
Ak*rEy>-l[; Preposição Substantivo comum feminino singular construto sulfixo 3º pessoa masculino singular
Por causa de sua coxa
Tradução v. 32 (31ara): e levantou o sol sobre ele quando passou por Peniel e mancava por causa do seu músculo.
16
‘rv,a] hv,ªN"h; dyGIå-ta, laeør"f.yI-ynE)b. Wl’k.ayO-al{) !Ke‡-l[; 33 dygIßB. bqoê[]y: %r,y<å-@k;B. ‘[g:n" yKiÛ hZ<+h; ~AYæh; d[;Þ
%rEêY"h; @K:å-l[; `hv,(N"h;
!Ke‡-l[; Preposição Advérbio
Por isso
Wl’k.ayO-al{) Partícula negativa Verbo qal imperfeito 3º p. masc. pl.
Não comem
laeør"f.yI-ynE)b. Substantivo masculino plural construto Substantivo próprio
Filhos de Israel
dyGIå-ta, Partícula do objeto direto Substantivo comum masculino singular construto
Tendão de
hv,ªN"h; Artigo Substantivo comum masculino singular absoluto
O nervo da coxa
‘rv,a Pronome relativo Que
@K:å-l[;| Preposição Substantivo comum feminino singular construto
De sobre articulação
%rEêY"h; Artigo Substantivo comum singular feminino absoluto
A coxa
d[;Þ Preposição Até
~AYæh; Artigo Substantivo comum singular absoluto
O dia
hZ<+h; Artigo Adjetivo masculino singular
O este
yKiÛ Conjunção Pois
‘[g:n" Verbo qal perfeito 3º pessoa masculino singular
Tocou
%r,y<å-@k;B Preposição Substantivo feminino construto singular Nome comum feminino singular construto
Em articulação de coxa de
bqoê[]y: Substantivo próprio Jacó
dygIßB. Preposição Substantivo comum masculino singular construto
Em tendão de
17
hv,(N"h; Artigo Substantivo comum masculino singular absoluto
O nervo da coxa
Tradução v.33(32ara): Por isso não comem, os filhos de Israel, até o dia de hoje, do tendão do nervo que está sobre a articulação da coxa, pois este tocou na articulação da coxa de Jacó, no nervo da coxa.
18
4. Tradução Literária
22 (21ara) E passou o presente por diante dele e ficou naquela noite no acampamento.
23 (22 ara) E levantou ele durante a noite e tomou suas duas esposas e suas duas servas e
seus onze filhos e passou o vau de Jaboque. 24 (23 ara) E os tomou e os fez passar o vale e
fez passar aquilo que era dele.
25 (24ara) E Jacó foi deixado sozinho e lutou com ele um homem até o amanhecer.
26 (25ara) E viu que não podia com ele, então tocou na articulação da sua coxa e deslocou a articulação da coxa de Jacó enquanto lutava com ele. 27 (26ara) Então disse, deixe-me ir, pois amanheceu, e disse: não te deixarei ir se [não] me abençoares. 28 (27ara) Então disse a ele: qual é seu nome? E respondeu: Jacó.
29 (28ara) E disse: teu nome não será mais Jacó, agora será Israel, pois lutaste com Deus e
com homens e venceste.
30 (29ara) E perguntou Jacó e disse: diga, por favor, teu nome, e respondeu: por que perguntas sobre meu nome? E o abençoou ali.
31(30ara) E chamou Jacó o lugar Peniel, pois: vi Deus face a face e minha alma foi
poupada.
32 (31ara) E levantou o sol sobre ele quando passou por Peniel e mancava por causa do seu músculo. 33(32ara) Por isso não comem, os filhos de Israel, até o dia de hoje, do tendão do nervo que está sobre a articulação da coxa, pois este tocou na articulação da coxa de Jacó, no nervo da coxa.
19
5. Palavras-chave Israel : Israel significa ‘ele contende com Deus’. Palavra derivada do verbo ‘sara’ o qual se limita a esta passagem e a de Oséias 12.4,5, que provavelmente significam lutar ou perseverar, mas não podemos ter certeza de seu significado. A importância da palavra ‘sara’ repousa do substantivo que dela é derivado, a palavra yisra’el, Israel. O Senhor conferiu este nome a Jacó dizendo que seu nome não seria mais Jacó, suplantador, possivelmente indicando o sentido hostil que seu nome tinha, principalmente relacionado com as suas práticas no decorrer da sua vida: não será mais “ya’aqob”, suplantador, mas sim “yisra’el”, indicando a ação de perseverar. Não podemos afirmar com certeza e nem há apoio para a derivação do substantivo “sar” indicando: “como príncipe prevaleceste” (King James 1611/1769) usando a palavra sarita, “como príncipe tiveste poder”, como se a palavra derivasse da raiz sar, príncipe, traduzindo a palavra pela expressão, embora alguns autores indiquem esta relação.
O substantivo Israel aparece 2507 vezes no AT (mais as suas formas adjetivas) primeiramente como nome honorífico do patriarca Jacó, depois como próprio designativo da nação de Israel, a qual descendeu os 12 filhos dele posteriormente (depois de 930ac.) como designação do reino de Efraim, as dez tribos do norte contra o reino do sul, Judá, e finalmente como designação do reino do sul, após a queda do reino do norte.
Jacó: (bqo)[]y) Provavelmente Jacó recebeu este nome por ‘segurar’ simbolicamente o
calcanhar de seu irmão ao nascer. Entretanto este nome era comum na época, indicando “esteja nos calcanhares” “Deus seja a sua retaguarda” ou ainda “Deus o proteja”. Mais tarde quando roubou a benção de Esaú, seu irmão, este afirmou a natureza de seu nome na associação com o fato de tê-lo enganado duas vezes, destacando o sentido de perseguir os passos de outrem ou de sobrepujar a outrem; nesse sentido, basicamente, Jacó significaria suplantador, ou seja, o que leva vantagem, enganador. O nome de Jacó não teve seu uso abandonado depois que Deus lhe deu um novo nome, o que aconteceu com seus avós paternos, (Abrão – Abraão, Sarai – Sara), mas passou também a ser designação do povo de Deus, assim como Israel (Sl.24.6).
Coxa: (%r,y) A coxa poderia simbolizar o que se pode chamar de parte firme do homem,
lugar de cingir a espada, e a fonte da vida. Dessa maneira, a mão colocada sob a coxa simbolizava o mais solene juramento, especialmente durante a época patriarcal. E bater na
20
coxa tinha o sentido de um profundo arrependimento. Por isso o anjo atingiu a coxa de Jacó. Ele demonstrou sua força superior e indicou que a própria base da vida de Jacó fora mudada, o que foi também indicado pela mudança do nome do patriarca. Um lembrete permanente desse acontecimento foi dado a Jacó por ter de coxear constantemente e a
nação por ser proibida de comer do tendão da coxa. A palavra %r,y pode significar coxa,
músculo ou quadril. O mandamento que proíbe comer o nervo ligado ao quadril dos animais não reaparece no AT, mas em manuscritos rabínicos. Sendo um terceiro lembrete desta noite especial. Peniel: ou Penuel, ou ainda Fanuel (BJ). Significa “face de Deus”. Este nome foi dado a uma cidade naquela região também (Jz.8.8; 1Rs.12.25). A narrativa implica que a visão de Deus foi obscura, por ser durante a noite, mas foi face a face, para proteção de Jacó Deus saiu antes de nascer o dia, assim, quando o sol raiou, Jacó estava sozinho.
21
6. Outras Traduções
Bíblia de Jerusalém. 22. O presente seguiu adiante e ele ficou aquela noite no campo. 23. Naquela mesma noite, ele se levantou, tomou suas duas mulheres, suas duas
servas, seus onze filhos, e os fez passar o vau de Jaboc. 24. Ele os tomou e os fez passar a torrente e fez passar também tudo o que possuía. 25. E Jacó ficou só.
E alguém lutou com ele até surgir a aurora. 26. Vendo que não o dominava, tocou-lhe na articulação da coxa, e a coxa de Jacó se deslocou enquanto lutava com ele. 27. Ele disse: “Deixa-me ir, pois já rompeu o dia.” Mas Jacó respondeu: “Eu não te deixarei ir se não me abençoares.” E ele lhe perguntou: “Qual é o teu nome?” – “Jacó”, respondeu ele. 29. Ele retomou: “Não te chamarás mais Jacó, mas Israel, pois foste forte contra Deus e contra os homens, e tu prevaleceste.” 30. Jacó fez essa pergunta: “Revela-me teu nome, por favor.” Mas ele respondeu: “Por que perguntas pelo meu nome?” E ali mesmo o abençoou.
31. Jacó deu a este lugar o nome de Fanuel, “porque”, disse ele, “eu vi Deus face a face e a minha vida foi salva.” 32. Nascendo o sol, ele tinha passado Fanuel e manquejava de uma coxa. 33. Por isso os israelitas, até hoje, não comem o nervo ciático que está na articulação da coxa, porque ele feriu Jacó na articulação da coxa, no nervo ciático.
Nova Versão Internacional
21 Assim os presentes de Jacó seguiram à sua frente; ele, porém, passou a noite no
acampamento.
Jacó Luta com Deus
22 Naquela noite Jacó levantou-‐se, tomou suas duas mulheres, suas duas servas e
seus onze filhos para atravessar o lugar de passagem do Jaboque. 23 Depois de havê-‐los
feito atravessar o ribeiro, fez passar também tudo o que possuía. 24 E Jacó ficou sozinho.
Então veio um homem que se pôs a lutar com ele até o amanhecer. 25 Quando o homem
viu que não poderia dominá-‐lo, tocou na articulação da coxa de Jacó, de forma que lhe
deslocou a coxa, enquanto lutavam. 26 Então o homem disse: “Deixe-‐me ir, pois o dia já
desponta”. Mas Jacó lhe respondeu: “Não te deixarei ir, a não ser que me abençoes”.
27 O homem lhe perguntou: “Qual é o seu nome?”
“Jacó”, respondeu ele.
22
28 Então disse o homem: “Seu nome não será mais Jacó, mas sim Israel, porque
você lutou com Deus e com homens e venceu”.
29 Prosseguiu Jacó: “Peço-‐te que digas o teu nome”.
Mas ele respondeu: “Por que pergunta o meu nome?” E o abençoou ali.
30 Jacó chamou àquele lugar Peniel, pois disse: “Vi a Deus face a face e, todavia,
minha vida foi poupada”.
31 Ao nascer do sol atravessou Peniel, mancando por causa da coxa. 32 Por isso, até o dia
de hoje, os israelitas não comem o músculo ligado à articulação do quadril, porque nesse
músculo Jacó foi ferido.
JFA – Edição Contemporânea
21. Assim passou o presente adiante dele; ele, porém, ficou aquela noite no
acampamento.
22. Naquela mesma noite Jacó se levantou, e tomou suas duas mulheres, suas duas
servas, seus onze filhos, e passou o vau de jaboque.
23. Tomou-‐os e fê-‐los passar o ribeiro, e fez passar tudo o que tinha.
24. Jacó, porém, ficou só, e lutou com ele um homem até o romper do dia.
25. Quando o homem viu que não prevalecia contra ele, tocou-‐lhe a juntura da
coxa, e se deslocou a juntura da coxa de Jacó, enquanto lutava com ele.
26. Então o homem disse: Deixa-‐me ir, pois já rompeu o dia. Porém Jacó
respondeu: não te deixarei ir se não me abençoares.
27. Perguntou-‐lhe o homem: Qual é o teu nome? E Jacó respondeu: Jacó.
28. Então o homem disse: Não te chamarás mais Jacó, mas Israel, porque lutaste
com Deus e com os homens, e prevaleceste.
29. Perguntou-‐lhe Jacó: Dize-‐me, peço-‐te, o teu nome. Mas o homem respondeu:
Por que perguntas pelo meu nome? E ali o abençoou.
30. Jacó chamou àquele lugar Peniel, pois disse: vi a Deus face a face e minha vida
foi poupada.
31. Saía o sol quando ele transpôs Peniel, e manquejava de uma coxa.
23
32. Por isso os filhos de Israel até hoje não comem o nervo do quadril, que está
sobre a juntura da coxa, porque o homem tocou na juntura da coxa de Jacó no
nervo do quadril.
Observações Em quase todas as traduções podemos observar que o texto é numerado do verso 21-32, enquanto na Bíblia de Jerusalém e na Bíblia Hebraica, os versos vão do 22-33. Entre estas três versões podemos ver que a Bíblia de Jerusalém, além da semelhança entre versículos, é mais literal e clássica do que as demais. A versão mais clara é a NVI que traz uma fluência de linguagem muito contemporânea, apesar de manter a tradução com qualidade tanto quanto a de Jerusalém. A versão Contemporânea de Almeida, além de ser uma adaptação de uma tradução, não consegue ser tão contemporânea quanto a NVI. Como a tradução de Almeida, é dividida por versículos e não por parágrafos, o que demonstra maior ligação com o texto tradicional de Almeida.
Podemos ver na relação de termos usados para definir o nervo atingido de Jacó,
um perfil de cada versão. Na BJ é utilizado o termo “articulação da coxa” e “nervo ciático”
nos versos 26 e 33. Na NVI, nos versos 25 e 32, os termos usados são “articulação da coxa”
e “músculo ligado à articulação do quadril”, demonstrando uma profunda semelhança
com a BJ, sendo apenas mais simples. Na Edição Contemporânea de Almeida, nos mesmos
versos que a NVI foram utilizadas as palavras “juntura da coxa” e “nervo do quadril”.
Todos esses termos são relativos, mas é comum ver que na NVI estes termos são mais
explicados, na BJ são mais clássicos e na EC mais tradicionais. Isso se constata em outros
termos também. A expressão mais clara disso é o “surgir a aurora” (BJ), “amanhecer”
(NVI), “romper do dia” (EC).
24
7. Aspectos Gramaticais Nenhum aspecto gramatical influencia na teologia do texto, embora algumas
particularidades possam ser pertinentes. No verso 25, os verbos utilizados são todos no
tronco niphal o que indica que a figura de Jacó foi completamente passiva diante de ter
sido deixado e de lutar com o homem. Isso indica que Jacó não procurou decididamente
aquela situação, mas foi a situação que o encontrou.
8. Delimitação de Cláusulas Gênesis 32.22-32 PGN SUJEITO RAIZ
TEMÁTICA ASPECTO MODO
CLÁUSULAS VS.
3fs Ele Qal W Imperfeito
wyn"+P'-l[; hx'Þn>Mih; rboð[]T;w:
22 a
3ms Ele Qal W Imperfeito
`hn<)x]M;B;( aWhßh;-hl'y>L:)B; !l"ï///
aWh±w>
B
3ms Ele Qal W Imperfeito
`hn<)x]M;B;( aWhßh;-hl'y>L:)B; !l"ï///
aWh±w>
23 a
3ms Ele Qal W Imperfeito
wyt'êxop.vi yTeäv.-ta,w> ‘wyv'n" yTeÛv.-ta, xQ;úYIw wyd"_l'y> rf"ß[' dx;îa;-ta,w>
B
3ms Ele Qal W Imperfeito
qBo)y: rb:ï[]m; taeÞ rboê[]Y:w
C
3ms Ele Qal W Imperfeito
~xeêQ'YIw 24 a
3ms Ele Hifil W imperfeito lx;N"+h;-ta, ~rEÞbi[]Y:)w: B
3ms Ele Hifil W imperfeito `Al-rv,a]-ta, rbEß[]Y:w
C
3ms Jacó Niphal W imperfeito AD=b;l. bqoß[]y: rtEïW"YIw: 25 a
3ms Um homem Niphal W imperfeito rx;V'(h; tAlï[d[;Þ AMê[i ‘vyai qbeîa'Yew
B
3ms Ele (o homem) Qal W imperfeito ar>Y:©w: 26 a
25
3ms Ele (o homem) Qal Perfeito Alê ‘lkoy" al{Ü yKiä B
3ms O homem Qal W imperfeito Ak=rEy>-@k;B. [G:ßYIw C
3fs O nervo Qal W imperfeito bqoê[]y: %r,y<å-@K; ‘[q;Te’w
D
O homem Niphal Infinitivo AM*[i Aqßb.a'he(B E
3ms Ele Qal W imperfeito rm,aYOæw: 27 a
2ms Tu Piel Imperativo ynIxeêL.v; B
3ms O amanhecer Qal Perfeito rx;V'_h; hl'Þ[' yKiî C
3ms Ele (Jacó) Qal W imperfeito rm,aYO’w D
1cs Eu (Jacó) Piel Imperfeito ^êx]Lev;(a] al E
2ms O homem Piel Perfeito `ynIT")k.r:Be-~a iyK
F
3ms O homem Qal W imperfeito wyl'Þae rm,aYOðw: 28 a
Não verbal ^m<+V.-hm;
B
3ms Jacó Qal W imperfeito `bqo)[]y: rm,aYOàw
C
3ms Homem Qal W imperfeito rm,aYO©w: 29 a
3ms Ele (nome) Nifal Imperfeito ^êm.vi ‘dA[rmEïa'yE ‘bqo[]y: al
B
Não verbal lae_r"f.yI-~ai yK
C
2ms Tu Qal Perfeito ~yviÞn"a]-~[iw> ~yhi²l{a/-~[i t'yrIôf'-yKi(
D
2ms Tu Qal W imperfeito lk'(WTw
E
3ms Jacó Qal W imperfeito bqoª[]y: la;äv.Yiw: 30 a
3ms Jacó Qal W imperfeito rm,aYO’w
B
Ms Tu Hifil Imperativo ^m,êv. aN"å-hd"yGI)h
C
3ms Homem Qal W imperfeito rm,aYO¨w
D
26
2ms Tu Qal Imperfeito ymi_v.li la;äv.Ti hZ<ß hM'l'î
E
3ms Ele (o homem) Piel W imperfeito `~v'( Atßao %r<b'îy>w
F
3ms Jacó Qal W imperfeito lae_ynIP. ~AqßM'h; ~veî bqo±[]y: ar"óq.YIw:
31 a
1cs Eu (Jacó) Qal Perfeito ~ynIëP’-la ~ynIåP’ ‘~yhil{a/ ytiyaiÛr”-yKi
B
3fs Minha alma Nifal W imperfeito `yvi(p.n: lceÞN"Tiw
C
3ms O sol Qal W imperfeito vm,V,êh; Alå-xr:(z>YI)w: 32 a
3ms Ele, Jacó Qal perfeito lae_WnP.-ta, rb:ß[' rv<ïa]K
B
Ms Ele, Jacó Qal Particípio `Ak*rEy>-l[ [;leÞco aWhïw
C
3ms Filhos de Israel Qal Imperfeito hZ<+h; ~AYæh; d[;Þ %rEêY"h; @K:å-l[; ‘rv,a]
hv,ªN"h; dyGIå-ta, laeør"f.yI-ynE)b. Wl’k.ayO-al{) !Ke‡-l[;
33 a
3ms Ele (o homem) Qal Perfeito `hv,(N”h; dygIßB. Bqoê[]y: %r,y<å-@k;B. ‘[g:n” yKiÛ
B
27
28
9. Estrutura do texto Divisão de cenas
Cena 1
21 Assim os presentes de Jacó seguiram à sua frente; ele, porém, passou a noite no
acampamento.
Cena 2
22 Naquela noite Jacó levantou-‐se, tomou suas duas mulheres, suas duas servas e seus
onze filhos para atravessar o lugar de passagem do Jaboque.
23 Depois de havê-‐los feito atravessar o ribeiro, fez passar também tudo o que possuía.
Cena 3
24.a E Jacó ficou sozinho.
Cena 4
B Então veio um homem que se pôs a lutar com ele até o amanhecer.
Cena 5
25 Quando o homem viu que não poderia dominá-‐lo, tocou na articulação da coxa de Jacó,
de forma que lhe deslocou a coxa, enquanto lutavam.
Cena 6
26 Então o homem disse: “Deixe-‐me ir, pois o dia já desponta”. Mas Jacó lhe respondeu:
“Não te deixarei ir, a não ser que me abençoes”.
27 O homem lhe perguntou: “Qual é o seu nome?” “Jacó”, respondeu ele.
28 Então disse o homem: “Seu nome não será mais Jacó, mas sim Israel, porque você lutou
com Deus e com homens e venceu”.
29 Prosseguiu Jacó: “Peço-‐te que digas o teu nome”.
Mas ele respondeu: “Por que pergunta o meu nome?”
29
Cena 7
29b E o abençoou ali.
Cena 8
30 Jacó chamou àquele lugar Peniel, pois disse: “Vi a Deus face a face e, todavia, minha vida
foi poupada”.
Cena 9
31 Ao nascer do sol atravessou Peniel, mancando por causa da coxa.
Cena 10
32 Por isso, até o dia de hoje, os israelitas não comem o músculo ligado à articulação do
quadril, porque nesse músculo Jacó foi ferido.
Estruturas
Estrutura simples:
21 – cena 1 – introdução – narração de ligação: Jacó manda os presentes para seu irmão e
permanece no acampamento.
22,23 – cena 2 – narração – inicio da situação: Jacó faz passar, de noite, sua família e seus
bens pelo vale de Jaboque.
24a – cena 3 – narração – ocasião: Jacó ficou sozinho.
24b – cena 4 – narração – problema: aparece um homem e luta com Jacó.
25 – cena 5 – narração – problema: o homem não consegue vencer Jacó e desloca seu
nervo do quadril.
26-‐29 – cena 6 – diálogo – solução – ponto crítico: o homem pede pra ir embora e Jacó
não deixa até que ele o abençoe. Então Deus muda o nome de Jacó para Israel.
29b – cena 7 – narração – conclusão: Ele o abençoou.
30 – cena 8 – narração – explicação: por isso Jacó chamou aquele lugar de Peniel.
31 – cena 9 – narração – fim: de manhã Jacó atravessa o vau mancando.
32 – cena 10 – narração – explicação: os hebreus não comem o nervo da coxa por causa
desse fato.
30
Estrutura em passos 00
Inicio Contexto 32.21-‐23 Cenas 1 e 2
Ação crescente Problema 32.24-‐25 Cenas 3,4 e 5
Ponto crítico Clímax 32.26-‐29a Cena 6
Ação decrescente Solução 32.29b Cena 7
Conclusão Explicação 32.30-‐32 Cenas 8-‐10
Situação geográfica e temporária de Jacó para o acontecido.
A luta em si.
Jacó tem o nome trocado e a aprovação de Deus.
Deus abençoa Jacó.
Inicio da travessia: família e bens.
Fim da travessia de Jacó
O autor explica as conseqüências da luta de Jacó com Deus.
31
Análise da Estrutura Nesta estrutura temos uma divisão simples e que se desenvolve em torno da luta
de Jacó com o Anjo do Senhor. Então, antes desse acontecimento, tudo é um preparativo
na narrativa para a luta, depois tudo é conseqüência dessa luta. Entretanto, o ponto
central está na benção e não na luta em si. Só que a luta não está apenas no campo físico,
mas passa para o diálogo e se torna a maior cena da perícope, sendo assim o cerne dela.
Na primeira cena encontramos a indicação de que os presentes de Jacó seguiam à
sua frente. Isso indica uma preparação geral para a passagem, o verso 21 situa a perícope
ao mostrar uma relação com a anterior. Ela indica que Jacó permaneceu no acampamento
enquanto seus presentes caminhavam em direção a Esaú. É necessário justificar esta cena,
pois com ela podemos entender a situação de Jacó, ou pelo menos podemos começar a
situar a cena no contexto da sua história como um todo. Ou seja, Jacó estava prestes a se
apresentar a seu irmão Esaú e antes do encontro enviou presentes a ele para aliviar seu
furor. Assim, estava Jacó com seus pertences e família no acampamento que seguiria
depois de seus presentes. Por isso esta é uma cena introdutória.
Na cena dois, versos 22 e 23, nós vemos que depois de ter enviado seus presentes
adiante, ele envia também que Jacó faz passar o próprio acampamento com sua família e
bens. Desta forma, a cena dois forma um mesmo tópico com a anterior, sendo as duas
introdutórias, entretanto, nesta segunda cena vemos o inicio da narração ou da situação.
É a preparação para o ambiente de Jacó com o Anjo.
Na cena três vemos Jacó sozinho. Esta cena é a ocasião da perícope, mostrando
como estava Jacó na hora em que foi abordado pelo Anjo. Até aqui as cenas fizeram
explicar como estava Jacó na hora em que ocorreu a luta. Todas as cenas anteriores são
preparativas, esta é situacional, ou seja, elas apontam o caminho, esta fecha a ocasião,
mostrando que de fato, Jacó estava ali sozinho.
A partir da cena quatro começa a luta propriamente dita. As cenas 3, 4 e 5
fornecem uma perspectiva de ação crescente. É o problema que se desenvolve e caminha
para uma resolução. Toda luta é, em si mesma, uma busca por uma resposta, assim,
32
podemos ver que nestas cenas o problema vai sendo descoberto aos poucos e se
aproxima muito do ponto máximo da perícope, que está na cena seis.
Nesta cena vemos o clímax da perícope porque é agora que o homem que lutava
contra Jacó vai se manifestar. O dia começa a despontar e ele pede para que Jacó o deixe,
nesse dialogo que a cena começa ficar mais clara, e o propósito da luta começa a se
aclarar. É nesta cena que se centraliza todo o dialogo de Jacó com o anjo. É ali que o anjo
explica e muda o nome novo que Jacó está recebendo, anunciando a mudança interior.
As cenas que seguem caminham então para a solução final da perícope, pois já
havia sido iniciada uma solução na cena anterior, mas somente agora é que ela é
finalizada. Na cena seis, vimos a mudança do nome de Jacó para Israel, mas somente
agora é que ele é abençoado por Deus, somente agora é concretizado o pedido de Jacó no
inicio da cena seis, a benção.
Na cena seguinte e nas últimas, podemos ver o fechamento da perícope. Elas
explicam que Jacó deu um nome ao lugar em virtude da sua experiência com Deus e
depois atravessa o vale mancando, por causa da coxa lesada na luta. E conclui explicando
que até hoje (na época da escrita) os judeus não comem o nervo ligado à articulação do
quadril, ferido nessa circunstância.
33
10. Estrutura do Contexto Literário Para entendermos a passagem de Gn. 32.21-‐32, quando Jacó luta com Deus e vive
uma das mais marcantes experiências da sua vida, temos que ter uma noção ampla do
contexto que cerca Jacó no relato de Moisés.
Entendemos que o livro de Gênesis está disposto de maneira básica em dois
grupos, o primeiro trata da historia da humanidade de uma forma geral: como foram
criados todos os seres e como se deu a historia dos homens até Abraão. No segundo, a
partir do capítulo 12, Moisés passa a falar acerca do que Kidner chama de “a família
escolhida”. Nessa historia ele relata basicamente como foi a formação do povo de Israel,
quais foram as promessas de Deus para o povo e quem foram os patriarcas,
interessantemente relatados com qualidades e defeitos. Fala também sobre as
motivações e os desânimos, as lutas e as vitórias dos homens que Deus escolheu para
fazer deles seu povo, separado dentre os povos, e benção para as nações. Basicamente,
do capítulo 12 ao 50 Moisés fala sobre Abraão, Isaque, Jacó e José.
Não era o interesse de Moisés fazer uma biografia de cada patriarca, mas os
relatos aqui registrados são de valor educativo. Dos temas tratados por Moisés, o mais
importante deve ser a formação da aliança de Deus com seu povo. Esse tema é mais
evidente a partir do capítulo 12, e tem sua expressão maior no capítulo 15. É interessante
ver como se dá a divisão do livro a partir deste tema. O tema da salvação pode ser visto
desde o início de Gênesis, as atitudes de Deus em favor da preservação do homem após o
pecado podem ser interpretadas como manifestação da sua graça, e nessa manifestação
incluímos o pacto de Deus com a humanidade, em especial com Abraão e o
desenvolvimento desse pacto com a sua descendência escolhida. Portanto devemos olhar
para Gênesis sob o prisma de como o Deus Todo-‐Poderoso criador dos céus e da terra,
tratou o homem desde a sua criação e como, através da escolha desta família,
transformando-‐a em uma nação, Deus operou a salvação dos homens, não apenas desta
linhagem, mas de toda a terra a partir destes. Portanto, vemos que o relato dos patriarcas
se encaixa na perspectiva pactual de Moisés, a começar por Abraão, também em Isaque,
mas ganhando um destaque especial em Jacó. Com este, o povo veio a tomar forma de
34
doze tribos a partir dos seus doze filhos (devem-‐se incluir nas tribos os filhos de José, que
foram abençoados como se fossem de Jacó, sendo que não existe a tribo de José, mas sim
de Manassés e Efraim, com destaque para o segundo).
Então, é dentro deste contexto da vida de Jacó que se encontra a perícope a ser
estudada, exatamente no cerne da transformação do caráter do patriarca que deu origem
tanto aos cabeças das doze tribos, quanto ao nome do povo que persiste até hoje, Israel,
nome recebido na circunstância analisada aqui. Assim, podemos usar esta divisão de
Kidner, que, em comparação com outras, se mostrou clara e elucidativa para nosso
propósito de compreender a passagem de Gn. 32.21-‐32.
Gênesis
A história primeva 1-‐111
1. História da criação
2. Prova e queda do homem
3. O homem sob o pecado e a morte
4. Renovação e repovoamento
5. Fim e começo, Babel e Canaã.
A família escolhida
1. Abraão sob vocação e promessa 12-‐20
2. Isaque e mais provas da fé 21-‐26
3. Jacó e o surgimento de Israel 27-‐36
4. José e a migração para o Egito 37-‐50
Nosso texto está dentro do ponto 3 da segunda seção: “Jacó e o surgimento de Israel
27-‐36”. Podemos perceber que esta não é uma referencia completa sobre a vida de Jacó,
portanto, temos que refinar esta colocação do nosso texto, para que se facilite a
compreensão da passagem. No esquema abaixo podemos ver que Jacó começa a ser
relatado em 25.19-‐26, quando do seu nascimento, juntamente com a profecia que o 1 KIDNER, Derek. Gênesis, introdução e comentário. São Paulo, Edições Vida Nova, 1979.
35
antecedeu, que diria que o mais novo serviria o mais velho. A seguinte divisão é mais
detalhada e pode dar um perfil mais claro de cada fase da vida de Jacó:
Jacó
Eventos da vida de Jacó
1. Nascimento: 25.19-‐26
2. Estilo e relacionamento familiar: 25.27,28
3. Compra do direito de primogenitura de Esaú: 25.29-‐34
4. Roubo da benção de seu pai: 27.1-‐40
5. Foge de Esaú e vai para Harã: 27.41-‐28.9
6. Sonho em Betel: 28.10-‐22
7. Encontro com Raquel: 29.1-‐14ª
8. Casamento com Lia e Raquel: 29.14ª-‐30
9. Filhos de Jacó: 29.31-‐30.24
10. Jacó enriquece: 30.25-‐43
11. Foge de Labão: 31.1-‐21
12. Labão persegue Jacó: 31.22-‐42
13. Acordo de Labão e Jacó: 31.43-‐55
14. Jacó se prepara para encontrar Esaú: 32.1-‐21
15. Jacó luta com Deus: 32.22-‐32
16. O encontro de Jacó e Esaú: 33.1-‐15
17. Jacó volta a Canaã: 33.16-‐20
18. Conflito de Jacó e os siquemitas: 34.1-‐31
19. Jacó retorna a Betel: 35.1-‐15
20. Morte de Isaque e Raquel, nascimento de Benjamim: 35.16-‐29
21. Jacó e José: 37.1-‐36
22. Jacó envia seus filhos ao Egito: 42.1-‐38
23. Jacó envia Benjamim: 43
24. Jacó vai para o Egito: 46.1-‐47.12
25. Último desejo de Jacó: 47.27-‐31
36
26. Jacó abençoa Manasses e Efraim: 48
27. Jacó abençoa seus filhos: 49.1-‐28
28. Morte de Jacó: 49.29-‐50.14
Agora podemos fazer uma análise mais sintética e objetiva da vida de Jacó
separando a sua vida entre os principais eventos e lugares em que se estabeleceu. De
acordo com as referencias acima, dividimos a vida de Jacó em cinto pontos.
1. Vida familiar: 1-‐52
2. Na casa de Labão 6-‐13
3. Na volta para Canaã 14-‐20
4. Jacó e José 21-‐23
5. Jacó vai para Egito 24-‐28
Ainda poderemos fazer mais um breve esboço tomando por base a aliança na vida de
Jacó, deixando ainda mais claro o desenvolvimento do pacto, na vida deste patriarca:
1. Promessa e nascimento: 25.19-‐28
2. Primogenitura e benção: 25.29-‐34; 27.1-‐40
3. Promessa em Betel: 28.10-‐22
4. Início do cumprimento: família e bens: 29.1-‐30.43
5. Fuga e crise: 31.1-‐33.20
6. Reafirmação do pacto: 35.1-‐15
7. Família completa: 35.16-‐26
8. Egito: início do cumprimento de Gn. 15.13: 37.1-‐47.31
9. Bênçãos: 48.1-‐49.28.
Podemos olhar para a vida de Jacó como um todo e entender os aspectos mais
importantes do seu encontro transformador com Deus, primeiramente vendo que Jacó
2 Referente à numeração dada na lista anterior.
37
tem as suas peculiaridades desde o ventre. Filho de Isaque e Rebeca, foi escolhido por
Deus. Durante toda a sua vida ele evidenciou essa escolha. De Gênesis 25.19 até 28.9 nós
vemos todos os episódios que se desenvolveram na casa de seus pais, o seu
relacionamento com Esaú e a sua fuga. Dali nós podemos tirar a base para a formação da
cena no Jaboque, porque somente o roubo da benção de Esaú é que motivou a ira deste e
conseqüentemente o medo de Jacó, que teve que fugir na época. Agora, mais de vinte
anos depois (31.38), Jacó ainda temia e muito a ira do irmão. Entretanto havia uma
promessa, em 25.23, falando que o mais novo seria mais forte que o mais velho, e que o
mais velho, Esaú, serviria o mais novo. Isso serve para mostrar a perspectiva divina da vida
de Jacó, porque Deus sempre investiu em Jacó. Em Betel, Deus aparece a Jacó em sonho e
lhe promete as bênçãos da aliança, dizendo também: “Estou com você e cuidarei de você,
aonde quer que vá; e eu o trarei de volta a esta terra. Não o deixarei enquanto não fizer o
que lhe prometi”. (Gn.28.15 – NVI). Estas palavras são contundentes na explicação do fato
de que Deus insistiu em Jacó. Em Peniel Deus diz que ele foi perseverante contra Deus e
contra homens e venceu. Assim, Deus, e não Jacó, com suas próprias forças, que o fez pai
de uma nação.
Podemos ver que todos os fatores colaboram para Peniel, desde a promessa de Deus,
da benção que foi roubada, da ira de Esaú que o fez ir para Padã-‐Arã, para a casa de seu
tio Labão, onde ele pode enriquecer e formar uma família grande, com suas duas esposas
e as servas destas. Estas circunstâncias puderam formar um Jacó capaz de ser o que Deus
queria. Um homem rico, com uma grande família, com experiências amargas longe da
proteção da mãe, o que faria com que pudesse suportar os maus dias. Mas o que Deus
mais queria era transformar o caráter de Jacó. Para esta deliberação de Deus, o encontro
de Peniel se encaixa.
Assim vemos que Peniel está na intersecção entre duas fases de Jacó. A primeira é
caracterizada pelo Jacó aventureiro, enganador e enganado, um Jacó lutador, que não
conseguiu nada facilmente, pois para ter a benção se utilizou de um estratagema que o
fez fugir sob o ódio do irmão, para ter esposas teve que trabalhar quatorze anos, para ter
riquezas, seis anos e todos esses vinte anos debaixo da opressão de seu tio, que era mais
38
enganador que o próprio Jacó poderia ser. Jacó poderia ter trabalhado todos esses anos
sem ter ganhado nada se não usasse de estratégias, para formar seu próprio rebanho.
Mas o próprio Jacó reconhece que mesmo Labão tendo mudado seu salário por dez vezes,
Deus é quem o havia protegido e quem tirou o rebanho de Labão e lhe deu (cf. 31.1-‐9).
A segunda fase de Jacó é a de um Jacó patriarca, já marcado pelas experiências com
Deus e com os homens. Nessa fase, seus filhos começam a desempenhar um papel de
maior destaque, de forma que as suas aventuras pessoais dão lugar a sua luta com eles.
Nessa fase Jacó não se mantém como o centro das atenções na narrativa, mas continua
sendo importante, pois as atitudes dos filhos têm direta relação com ele. Principalmente
quando se começa a falar de José. É importante notar as más atitudes dos filhos de Jacó,
como no caso de Siquém, quando foram traiçoeiros e assassinos, (cf.34.1-‐31), quando
Rubem se deita com a concubina de seu pai, (cf. 35.22), quando vendem José, (cf. 37.12-‐
36), e quando Judá adultera com sua nora, (cf. 38.1-‐30).
Entretanto, a vida de Jacó foi marcada por encontros com Deus. Nestas duas fases ele
teve um encontro especial com Deus em Betel. No primeiro encontro, Deus se revela em
sonho, mostrando para Jacó que ele era o descendente de Isaque que herdou a promessa
feita a Abraão e Isaque, de que o mesmo Deus de seus pais estava lhe dando esta terra a
ele e aos seus descendentes, que seriam mais numerosos que o pó da terra, e todos os
povos seriam abençoados por meio dele. Deus não deixaria Jacó até que cumprisse tudo o
que havia prometido, cuidando e acompanhando Jacó, levando-‐o para Padã-‐Arã e
trazendo-‐o de volta. Foi ali que Deus fez a sua aliança com Jacó, ou pelo menos a
confirmou, pois já havia feito esta aliança com seu avô e seu pai. Debaixo dessa promessa
que Jacó vai para a casa de Labão. Na segunda fase de sua vida, quando já tinha família,
riquezas e já havia reencontrado Esaú, Jacó é chamado por Deus para comparecer
novamente em Betel, para que lembrasse da aliança que Deus tinha feito com ele.
No meio destes dois encontros em Betel, está Peniel. Entre o primeiro encontro e o
segundo está um encontro que fez com que Jacó não fosse, no segundo, o mesmo do
primeiro. Não que tentemos dar mais importância ao fato do que ele já tem, mas
explicamos o relato de Peniel através da relação com os outros encontros com Deus. Em
39
Jacó em Betel 1º vez
Jacó em Peniel Jacó em Betel 2º vez
Betel, Deus veio em direção a Jacó para fazer e relembrar a aliança que tinha feito com
seus antepassados. Mas em Peniel, não. No segundo encontro em Betel, Deus apareceu a
Jacó como no primeiro, mas não em sonho, e pediu para que ele fosse até lá e ali em
resposta ao que Deus havia feito na vida dele, o adorasse, construindo um altar ao Deus
que o ouviu no dia da sua angústia, como o próprio Jacó diz nos versos 2 e 3 do capítulo
35.
Podemos então dizer que em Betel temos Jacó como representante de uma aliança
que Deus fazia através dele para todo seu povo que ele estava construindo. Mas Peniel é
apenas o homem Jacó e Deus. É um encontro transformador do Jacó interno, do Jacó
como ser humano e não como um representante do pacto. Ali, no vale de Jaboque não era
o patriarca, mas o homem Jacó que lutava com Deus contra si mesmo. Assim, podemos
formar um perfil da vida de Jacó com base no seu caráter, mostrando o antes e o depois
de Peniel. 3
Neste quadro podemos ver que a sua história começa com a astúcia em enganar o
irmão, atraindo a sua inimizade, sendo, então obrigado a fugir. Na fuga Deus aparece e faz
promessa a Jacó que se compromete com Deus ali também. Depois na casa do seu tio é
enganado durante vinte anos e se não fosse a boa mão de Deus ficaria sem nada. Então,
Deus ordena que Jacó parta com tudo o que possui, voltando para a erra de Canaã (31.3).
Foge, então, deste, sendo depois alcançado, e juntos fazem um acordo de paz. Mas logo
em seguida descobre que seu irmão que o havia jurado de morte está vindo em sua
direção com quatrocentos homens. Mal acabara o desespero da fuga e Labão, se viu em
um maior ainda, onde perigava a sua própria vida. Nessa situação de desespero, depois de
buscar a Deus em oração, Jacó teve seu encontro marcante com Deus no qual seu nome
foi mudado, seu corpo foi marcado, e seu caráter também foi transformado por Deus.
Peniel é importante no relato de Moisés para o povo de Israel para que o povo visse que o
Jacó patriarca não era o enganador de antes.
3 Ver quadro: “Sistema básico da vida de Jacó baseado em Peniel como centro”.
40
Podemos ainda fazer um perfil do capítulo 32, mostrando os
desenvolvimentos da postura de Jacó diante do perigo iminente. Vemos que ele se depara
com anjos, logo após ter deixado para trás seu sogro, o que foi para ele um sinal de que
Deus ainda estava caminhando com ele. A seguir mandou alguns dos seus servos adiante
para falar com Esaú, segundo toda a praxe e humildade que seria razoável naquela
situação, pedindo que fosse bem recebido, mediante as ofertas que Jacó mandava. Mas a
notícia que seus mensageiros trouxeram caiu como uma bomba para Jacó, seu irmão
estava vindo com um exército de quatrocentos homens.
Diante disso, além de se angustiar e ser tomado pelo medo, Jacó dividiu tudo o que
tinha em dois grupos para que pelo menos, em caso de ataque, uma parte do que era seu
pudesse escapar. A seguir ele orou a Deus com toda humildade e o relembrou de suas
promessas, das bênçãos recebidas por ele, e declarou o seu medo, pedindo a misericórdia
a Deus. Depois da oração ele separou, dentre seu rebanho, um presente para Esaú, para,
quem sabe, aplacar sua ira. Divididos em rebanhos, os presentes de Jacó a Esaú seguiram
à frente, mantendo uma distância entre eles, preparados para falar as palavras que Jacó
ordenou, dizendo que este é um presente de Jacó, que vinha logo atrás. É aí que começa o
texto examinado, pois os presentes de Jacó seguiram à frente, enquanto ele permaneceu
no acampamento. A situação era realmente crítica, e ele temia pela sua vida e pela vida da
sua família, não era mais uma questão de posses, mas era o que de mais precioso Jacó
possuía. A sua vida e a de seus familiares.
Então, a circunstância que leva Jacó ao vale com todo aquele desespero é o seu
reencontro com Esaú. O quadro a seguir mostra como a transformação ocorrida naquela
noite foi importante para a vida de Jacó.
No quadro abaixo vemos que a inimizade de Jacó com Esaú por causa da benção
roubada é o início de um problema que só será resolvido depois de Peniel, quando os dois
se encontram e Esaú se lança no pescoço de Jacó e o abraça e o beija, demonstrando paz
entre eles. No segundo quadro vemos a cena da promessa em Betel onde Deus garante a
proteção de Jacó tanto na ida quanto na volta para sua terra natal, esta fase se relaciona
com a Betel pós Peniel, onde Jacó adora a Deus por causa do que Deus já fez por ele.
41
Inimizade com o Esaú
Betel Aliança
Expectativa do encontro
Luta com Deus em Peniel
Encontro com Esaú
Betel
Raiz do problema de Peniel
Problema: crise de Jacó.
Solução do
problema de Peniel
Solução da crise de Jacó
Recordação da promessa e do
pacto
Promessa e pacto
Sistema básico da vida de Jacó baseado em Peniel como centro.
Depois vemos a tensão entre a expectativa do encontro com Esaú e o encontro com Deus
tratando de Jacó.
42
11. Mensagem para a época da escrita Para pensarmos na mensagem pretendida para a época, ou seja, para os leitores
originais deste livro, precisamos entender este livro como escrito por Moisés, bem como
os demais livros do Pentateuco, exceto Deuteronômio 34. O livro de Gênesis é constituído
de uma unidade narrativa, baseado em seu autor, que o escreveu provavelmente durante
a peregrinação pelo deserto, depois da saída do povo de Israel do Egito.
Nesse contexto em que o povo recebeu o livro o grande interesse de Moisés era
edificar o povo, mostrando as suas origens e o seu destino. Era explicar porque estavam
ali, porque eram o que eram e o que o futuro lhes preparava. Era também para que o
povo conhecesse melhor o Deus que era o seu libertador. O grande propósito do livro é o
de relatar ao povo de Israel como eles foram escolhidos por Deus dentre todos os povos e
como Deus os ser fez um povo. Mostrar que eles não se tornaram um povo por causa das
suas qualidades ou das qualidades dos seus pais, mas por causa única e exclusivamente da
graça de Deus. Foi esta graça que escolheu e chamou Abraão, depois fez com que seu filho
da velhice fosse seu herdeiro da promessa, seguido por Jacó, que embora mais novo que
Esaú, fora escolhido por Deus para formar o povo de Deus.
Dentro deste propósito está a nossa perícope, 32.21-‐32, em que Moisés relata a
luta de Jacó com Deus no vale de Jaboque. O que Moisés queria ensinar com esta
passagem para o povo de Israel no deserto?
A história.
Para responder esta pergunta, olhamos para a passagem e vemos que Moisés
relata a aflição de Jacó diante de seu irmão, tendo mandado tudo que era seu adiante
dele, através do Jaboque, e fica sozinho, no vale. Nesta solidão é encontrado por um
homem misterioso que começa a lutar com ele. Durante esta luta, Moisés relata que o
homem não conseguia dominar a Jacó, mas ao mesmo tempo, por causa disso, ele tocou e
deslocou a articulação da coxa de Jacó, exatamente a parte mais forte do homem. Eles
lutaram até quase amanhecer, quando o homem pediu para que pudesse ir embora,
então Jacó diz que não permitiria que ele fosse sem que o abençoasse, reconhecendo que
43
a benção só vem da parte de Deus. Aí Deus pergunta o nome de Jacó. Depois da resposta
deste, ele diz que seu nome seria agora não mais Jacó, mas, Israel, implicando que ele
lutou conta Deus e contra homens e prevaleceu. Jacó ainda perguntou o nome do anjo,
mas este perguntando o porquê do questionamento apenas o abençoou. Reconhecendo
que tinha visto Deus face a face, embora na penumbra, Jacó batiza o lugar por Peniel, que
significa que ele viu Deus diante de seus olhos e sua alma foi poupada. A seguir ele parte
mancando, com a luz do amanhecer, com um novo nome, com uma marca no seu corpo,
mas principalmente com uma marca no seu caráter.
A incapacidade humana e o poder divino.
Primeiramente vemos a incapacidade humana. Moisés não deixa de mostrar o
tamanho do desespero de Jacó. A despeito de sua esperteza em outras ocasiões, e
inclusive de sua estratégia, Moisés mostra para o povo de Israel o tanto que Jacó estava
inseguro. Esta insegurança expressa inclusive na oração que antecede é vista na angústia
de Jacó que o leva a ficar sozinho, provavelmente para orar. Diante de toda esta angústia,
aparece um homem e começa a lutar com Jacó, e esta luta é travada ferrenhamente até o
amanhecer. Notemos que não foi Jacó que lutou conta o homem, mas o verbo está no
niphal, qbeîa'YEw:, indicando uma ação passiva, ou no máximo reflexiva. Isso indica
que não foi Jacó que lutou contra o homem para obter algo, mas a principio era o homem
que lutava conta Jacó. Era o esforço de Deus para mostrar para Jacó que não era a sua
astúcia e nem a sua estratégia que poderia aplacar a ira de seu irmão ou resolver qualquer
problema seu, mas unicamente a vontade de Deus pode fazer isso. Deus vem lutar com
Jacó para ensiná-‐lo a abandonar sua confiança em si e confiar apenas no poder de Deus.
Era isso que Moisés queria que o povo entendesse, principalmente nesse contexto de
tantas dificuldades que era a peregrinação pelo deserto, a confiança em Deus como
aquele que toma a atitude de cuidar do seu povo era essencial para a sobrevivência do
povo, mesmo depois de entrar na terra.
Moisés diz que quando o homem viu que não prevaleceria contra Jacó, este
deslocou a articulação da coxa de Jacó, mostrando para Jacó, que, embora ele parecesse
44
prevalecer, isto só estava ocorrendo porque o que lutava com ele permitia, pois se era
possível a ele deslocar a coxa de Jacó, que é um dos músculos mais fortes do corpo, sinal
da força e da base da vida humana, era possível também vencer a luta em qualquer
momento. Esta relação, entre a aparente vitória de Jacó e a coxa deslocada pelo anjo deve
ter saltado aos olhos dos israelitas mostrando que embora a força do homem pareça
grande, Deus está completamente no controle, e na realidade, em comparação com o que
Deus pode fazer, nada pode o homem com as suas maiores forças. Apenas um toque da
mão de Deus pode acabar com toda a força de Jacó. Esta é uma grande mostra da
incapacidade do homem diante do poder divino. O povo durante o deserto precisava ter a
certeza de que nada neles poderia fazer com que a terra fosse conquistada. Nessa luta
Moisés mostra que o Deus da aliança é quem guia o caminho do povo em direção da terra
prometida da mesma forma e com o mesmo poder que demonstrou para Jacó que tudo
está sob o seu controle absoluto e que ainda que os homens pareçam prevalecer, apenas
um toque de Deus pode destruir a mais forte intenção humana.
O clamor humano e a benção divina.
Então, assim que Deus mostrou para Jacó que o seu poder era incomparavelmente
maior, a luta de Jacó toma um novo significado. Com a coxa ferida, ele se agarra em Deus,
e a luta dá lugar a súplicas, quando Jacó começa a perceber que o seu oponente não era
um homem normal, e se agarra nesse homem até que este o abençoe. Este é o pedido
quando o homem pede para ir embora, visto que amanhecia, o que era para proteção do
próprio Jacó. Mas este se agarra em Deus e não o deixa ir até que possa receber dele a
benção. Moisés mostra para o povo de Israel que a vida humana depende da benção de
Deus. Jacó começa entender que era Deus lutando com ele. O homem que estava
prevalecendo na luta agora se rebaixa suplicando a benção daquele que é maior do que
ele. Somente o maior abençoa o menor. Somente aceitando o poder de Deus Jacó poderia
clamar pela sua benção.
Então Deus pergunta o nome de Jacó. Pergunta para que ele soubesse exatamente
o que ele era, e o que ele seria a partir daquele momento. Ele não simplesmente dá um
novo nome, mas estabelece uma comparação entre os nomes de Jacó, mostrando que o
45
significado do primeiro não tem mais valor, porque agora, para Deus, Jacó era Israel. Para
o povo de Israel, o nome tinha muito significado, eles sabiam, que o nome representava a
reputação e o caráter de uma pessoa e muitas vezes era o resultado das expectativas dos
pais em relação ao futuro do filho4, ou das circunstâncias em que o filho nasceu, que é o
caso do nome de Jacó e do próprio Moisés. Assim, as implicações da mudança de nome de
Jacó para Israel mostram para o povo que na raiz do nome deles está um nome de
vencedor dado por Deus. A tradução do nome Deus mesmo deu a Jacó: “porque você
lutou com Deus e com homens e venceu” (32.28 – NVI). A implicação dessa frase pode
ficar mais clara dizendo que, se Jacó teve poder diante de Deus, muito mais terá diante
dos homens. Para o povo de Israel, isso faz com que desperte neles uma perspectiva
positiva com relação ao futuro deles, pois eles herdaram esse nome de Jacó, que agora
não seria mais conhecido como o suplantador, mas como o que prevaleceu contra Deus e
prevalecerá contra os homens, como prevaleceu no passado, contra seu irmão e contra
seu sogro. A vida de Jacó não foi fácil, ele não conseguiu nada com facilidade ou sem luta,
mas da mesma forma que Deus garantiu a sua vitória até ali por ser ele o seu escolhido,
Deus garantia a vitória do povo que também não teve nada com facilidade, mas pela mão
de Deus estava à caminho da terra prometida.
Para Jacó isso implicava diretamente na luta que ele imaginava ter com seu irmão
em breve, mas Deus garantiu a sua vitória na benção que lhe deu, o que seria para Israel
um sinal da continua benção de Deus na garantia da vitória. Esta passagem mostra para os
israelitas que eles não são nada, quando olham para seu nome, mas quando olham para o
nome que Deus lhes deu eles podem ver que a mão de Deus está acompanhando o povo
na caminhada em direção à terra prometida. Da mesma forma que Jacó se agarrou em
Deus suplicando a sua benção, o povo de Israel deveria se agarrar em Deus, confiando
nele e esperando nele durante este tempo de grandes dificuldades.
Moisés continua o relato falando que Jacó implorou para que o homem dissesse
seu nome, mas Deus respondeu questionando a pergunta de Jacó, mostrando que esta
pergunta não tinha sentido, uma vez que a benção de Deus deveria falar por si e esta seria
4 R. Laird Harris, Gleason L. Archer, Jr. & Bruce K. Waltke, Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo, Editora Vida Nova, 2001, p. 1578.
46
a revelação de Deus para Jacó, e não seu nome. A recusa de Deus em responder a Jacó
evidencia ainda mais a sua identidade, pois em razão disso que Jacó tem a certeza de que
era realmente Deus que o abençoou, e o povo teria a mesma certeza, confirmando ainda
mais o nome que ele recebeu e a validade de seu significado.
Mudanças marcantes
Além do nome de Jacó, agora Israel, e da coxa ferida, Jacó dá um novo nome ao
lugar em que estava, pois reconhece a grandiosidade do fato que ele viveu. Jacó chama o
lugar de Peniel, pois viu Deus pessoalmente e sua vida foi poupada. O povo ainda recebeu
por herança o costume de não comer o nervo ciático dos animais em recordação do dia
em que Deus lutou com Jacó, deslocando a sua coxa, e lhe deu nome de Israel. Esses
marcos serviriam para que o povo sempre tivesse uma lembrança de quem eles eram
segundo o ponto de vista de Deus. Eles carregavam um nome dado por Deus ao patriarca
Jacó que significa perseverança, o que estimularia o povo a avançar na conquista da terra
prometida.
47
12. Mensagem para todas as épocas O texto de Gênesis 32.21-‐32 é com certeza um texto muito obscuro. Esta passagem
se encontra em um ponto vital da vida de Jacó. Um dos mais importantes patriarcas, papel
essencial no desenvolvimento do pacto no Velho Testamento. Von Rad afirma que Peniel
interrompe o encontro pendente de Jacó com Esaú e apresenta uma posição que é
realmente muito importante para compreensão de toda sua história5.
Historicamente este texto da luta de Jacó com Deus recebeu muitas considerações
que o lançaram no campo do mito, devido à dificuldade de interpretação. Lutero, citado
por Leupold, disse que a todos os homens é seguro o fato de que este é um dos textos
mais obscuros do Velho Testamento6. Leupold ainda acrescenta, dizendo que não existe
comentarista que possa expor o texto com perfeita clareza, devido às dificuldades
envolvidas. Outros comentaristas taxaram o texto de um pesadelo tido por Jacó7, uma
descrição simbólica das dificuldades da travessia8, e ainda um símbolo da conquista da
terra prometida9, o que ainda nem tinha acontecido até a época da escrita defendida
neste trabalho. Ainda alguns chamam esta experiência de um sonho ou alegoria, ou
atribuem ao anjo a personalidade de algum anjo citado na Bíblia, como Miguel.
Entretanto devemos olhar para o texto levando-‐se em conta a tradição e entender
Jacó lutando com Deus da forma como Moisés mesmo relata, e ver que esta foi a forma
de Deus ensiná-‐lo de um modo bem especial para as lutas que ele enfrentaria e receber a
certeza da vitória, oriunda da parte de Deus.
Os temas desta perícope estão na raiz do relacionamento do homem Jacó com
Deus, no desenvolvimento do caráter de Jacó diante da principal crise da sua vida. Este
texto é marcado pelo encontro físico de Deus com Jacó, e pela mudança do seu nome. Em
Oséias temos a principal passagem relacionada ao texto de Jacó em Peniel, Oséias 12.3,4,
quando o profeta cita o fato de que Jacó lutou com Deus, ressaltando que não era um
5 RAD, Gerhard Von. Gênesis. Philadeilphia, The Westminster Press, 1972. p. 320. 6 H.C. Leupold, Exposition of Genesis, Grand Rapids, Baker book house, 1942. p.875 [minha tradução] 7 Ibid. 8 Ibid. 9 Ibid.
48
homem comum, mas o próprio Deus que estava com Jacó. E também acrescenta que ele
chorou e implorou o seu favor, lançando luzes ao estilo que a luta tomou, principalmente
perto do seu final. Em Gênesis 35.10 Deus aparece para Jacó novamente e reitera o nome
que havia dado a ele: “Seu nome é Jacó, mas você não será mais chamado Jacó; seu nome
será Israel”. (NVI)
Um homem em crise, um homem escolhido por Deus, mas repleto de defeitos;
abençoado por Deus, mas temendo pela própria vida e de seus familiares no encontro
com o irmão que se tornou inimigo no passado. Moisés retrata os patriarcas com tanta
humanidade que não é difícil encontrar alguém em uma situação parecida.
Deus se revelou pessoalmente de muitas maneiras no Velho Testamento,
mostrando, sobretudo, o seu interesse pelo povo, seu amor e atenção. Nesta passagem
Deus se revela a Jacó mostrando o tamanho da sua preocupação com ele. Jacó, apesar de
demonstrar certas características que o qualificam como um agente do pacto, mas suas
atitudes muitas vezes contradizem o que ele pensa. Assim, nesse encontro Deus
transforma o nome de Jacó, aplicando nele um novo caráter. A cura de Jacó aconteceu no
dia em que ele saiu ferido, mas com um novo nome, uma nova personalidade. Jacó saiu
daquele vale transformado. Van Groningen afirma que depois de Peniel, Jacó ao ouvir ou
refletir no seu nome “Israel”, era certificado do seu relacionamento pactual com seu
Senhor10.
Buscando a Deus em momentos de crise. Esta é a principal aplicação deste texto.
Na maior crise da sua vida, Jacó buscou a Deus e Deus lhe concedeu lições preciosas e
esse momento de crise se tornou em um momento de transformações profundas em Jacó.
É quando estamos fracos que Deus se mostra forte em nossas vidas, como diz Paulo:
“Mas ele [Deus] me disse: “Minha graça é suficiente para você, pois o
meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Portanto, eu me gloriarei ainda
mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo
repouse em mim. 10 Por isso, por amor de Cristo, regozijo-‐me nas
fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas
angústias. Pois, quando sou fraco é que sou forte”. 2 Co.12.9,10.(NVI)
10 GRONINGEN, Gerard Van. Criação e Consumação. São Paulo, Cultura Cristã, 2002. vol.1. p. 291.
49
É quando as possibilidades acabam, quando se esgotam as nossas forças, quando
nossos planos fracassam que Deus mostra para nós que os seus planos para nossa vida
nunca falha. Foi assim com Jacó, quando ele estava prestes a crer que os planos de Deus
falhariam em sua vida, por ele correr risco de morte diante de seu irmão, que Deus entrou
em cena, de maneira inesperada e exatamente da forma que Jacó precisava. Deus
mostrou pra Jacó que ele não é tão forte quanto ele pensava, que Deus está no controle,
que o nome que ele carregava, com todo o peso das suas atitudes anteriores, como
enganador, seria trocado por Deus, que lhe daria um novo nome, uma nova identidade.
No momento de maior crise temos que buscar a nossa identidade em Deus. Temos
que nos agarrar humildemente em Deus como Jacó e suplicar pela benção. Porque só se
agarra em Deus quem reconhece a sua dependência dele. Só assim, quando
reconhecemos que ainda que nossos planos venham a falhar, e nossa sabedoria não
resulte em nada, quando buscamos a Deus em meio às crises, ele mostra quem ele é e
quem nós somos diante dele. Assim, não existe outra saída senão a humilhação diante de
Deus, que nos restaura e nos dá a esperança de que estamos com ele diante das
adversidades.
Esta atitude é experimentada por Paulo e Silas, na prisão, em Atos. 16.22-‐28. Foi
no momento de crise, quando Paulo e Silas estavam encarcerados pelo evangelho que
eles conseguiram cantar em meio à dor e ao sofrimento, mostrando que eles tinham em
mente bem clara a visão de quem era Deus, de que os planos de Deus seriam cumpridos
na vida deles, e que Deus estava no controle de toda a situação. Era esta a perspectiva dos
amigos de Daniel, quando foram lançados na fornalha ardente em Dn. 3. 16-‐18, quando
disseram ara o rei Nabucodonossor que não iriam se dobrar diante da estátua, mesmo
que isso lhes custasse a vida. Em um momento de crise eles tiveram uma visão bem clara
do poder e da soberania de deus
Portanto, é assim que Deus manifesta a sua providência, nos momentos mais
difíceis Deus age para que crentes saibam que Deus ainda está no controle, que ele ainda
cuida e se preocupa com eles. Ele ensina e fortalece os crentes para passarem pela crise
com os olhos voltados para Deus.
50
13. Esboço de Sermão
Tema: O tratamento de Deus em tempos de crise.
Tese: Como Deus trata seu povo em tempos de crise?
Introdução
A complexidade da vida e a realidade do fato de que todos passam por crises em
algum momento da vida.
Contexto
Jacó passou mais de vinte anos na casa do seu tio Labão, depois de fugir do seu
irmão que o queria matar, por ter roubado a benção dele de Isaque, seu pai. Depois de
tanto tempo com Labão ele foge levando tudo o que possuía, sendo depois perseguido
por ele e após o acordo dom seu tio, ele se depara com a maior crise de sua vida: teria que
reencontrar seu irmão, pois estava voltando para Canaã e o encontro seria inevitável.
Mandou alguns dos seus servos adiante para apaziguar Esaú, mas recebeu a notícia de
que ele vinha com mais quatrocentos homens. Desesperado e com medo, Jacó toma
algumas providências práticas e ora a Deus. Durante a noite ele passa a sua família e tudo
o que possuía pelo vau de Jaboque e fica sozinho, possivelmente para orar. Nesse
momento acontece a história que lemos neste texto: Deus luta com Jacó.
1. Deus mostra que somos fracos
Quando Deus lutou com Jacó ele mostrou para ele que apesar da força que ele
possuía, a ponto de quase vencê-‐lo, Deus estava no controle da vida dele e ao tocar em
sua coxa, ele mostra que só não o derrotou porque não quis. Deus mostra para Jacó que
seus planos podem até ser bons, mas é em Deus que está o poder, é ele que é o Senhor da
vida de Jacó.
Ao mostrar para Jacó a sua fraqueza e a fraqueza de seus planos, Deus mostra o
quanto ele é dependente dele. Por isso Jacó se agarra ao Anjo, Jacó só tem o que tem
51
graças a ação de Deus e precisa ter ciência de que é em Deus que o seu caminho é
vitorioso.
Reconhecer que somos limitados e que devemos depender de Deus é a grande
lição que temos, da parte de Deus em momentos de crise. A crise mostra a nossa fraqueza
e a força de Deus. A nossa limitação e o poder ilimitado de Deus.
2. Deus restaura o nosso caráter
Quando Jacó se agarrou em Deus, este lhe perguntou: qual é o seu nome? Ao
perguntar isso Deus fez Jacó pensar no significado do seu nome. Para os hebreus os
nomes tinham um profundo significado, implicando na sua personalidade. Jacó
representava o enganador, representa o homem que enganou seu irmão, que usou de
estratégias para conseguir suas posses. Jacó representa um homem de vida irregular, de
caráter suspeito. Mas Israel representa um homem provado e aprovado por Deus, que
teve a experiência e leva no corpo as marcas de um encontro profundo com Deus. Israel é
o homem que prevaleceu contra Deus, e que prevalecerá contra os homens.
Ao mudar o nome de Jacó Deus mostra para ele que ele agora era um novo
homem. Um homem restaurado por Deus e pronto para enfrentar os desafios que virão.
Agora Israel é conhecido como um homem de Deus, um patriarca da aliança, herdeiro da
promessa.
Quando passamos por crises, podemos ser restaurados através do encontro que
temos com Deus através da sua Palavra e do seu Espírito Santo que atua em nós e nos faz
crescer em meio às lutas. A Palavra de Deus nos transforma, e em meio às lutas, quando já
declaramos a dependência de Deus, ela encontra um terreno fértil para nos edificar de
modo próprio. Por isso, as crises são ambientes de restauração e crescimento, de
renovação e edificação. É um período didático, bem utilizado por Deus para nos
transformar naquilo que ele espera que sejamos.
3. Deus restaura a nossa esperança
Ao dar um novo nome a Jacó, Deus aplicou nesse significado ao seu futuro. Este
encontro serviu para motivar Jacó, para lhe dar esperança de que os planos de Deus para
52
ele se concretizariam e de que ele seria vitorioso. Algumas coisas indicam isso.
Primeiramente é Deus quem vai até Jacó, o verbo no hebraico indica que foi o homem que
começou a lutar com ele e não Jacó que procurou briga. Isso mostra a insistência de Deus
em Jacó, pois ele foi um dos patriarcas que mais passou por experiências e revelações
especiais da parte de Deus. Deus sempre, desde seu ventre mostrou que ele era o
escolhido e durante toda a sua vida reafirmou isso aparecendo a Jacó de diversas formas.
Desta vez o encontro foi muito mais profundo e transformador e serviu para mostrar para
Jacó que agora ele era, mais do que nunca, o Israel de Deus. O fato de Deus ir ao encontro
dele diz isso, o fato de dar um novo nome diz isso, o fato de ter sido abençoado por Deus
diz isso, o fato de ter sobrevivido mesmo diante de Deus diz isso. Deus quer mostrar para
Jacó que ele é o seu Deus e o seu protetor. Assim Deus restaura a esperança de Jacó, que
estava quase perdida quando descobriu que seu irmão estava vindo ao seu encontro com
quatrocentos homens. Deus mostra para Jacó que se diante de Deus ele sobreviveu,
exército nenhum no mundo poderia destruí-‐lo.
Jacó agora caminha debaixo da benção de Deus, não apenas do seu pai, e não uma
benção roubada, mas dada exclusivamente a ele pelo próprio Deus de seus pais e seu. Isso
fortalece a esperança de Jacó.
Quando passamos por crises devemos buscar a Deus, reavaliar nossas posturas e os
humilhar, devemos caminhar na transformação do nosso caráter através da Palavra, e
nela ter a nossa esperança restaurada. Nós devemos reconhecer quem nós somos para
Deus, o que Cristo já fez por nós. Estamos debaixo da promessa de Deus, dentro do povo
de Deus e nessa promessa e nesse Deus encontramos a esperança da realização de tudo o
que foi planejado por ele mesmo. Paulo disse para os filipenses quase a mesma coisa que
Deus disse a Jacó, que aquele que começou a boa obra neles iria completá-‐la (Fp. 1.6) e
esta grande obra de Deus encontra sua revelação suprema em Cristo. Em Cristo temos
esperança para suportar as adversidades. Podemos ter esperança nele porque o
prometido de Jacó, o cumprimento da aliança de Deus com Israel, venceu o mundo.
Passaremos pelas aflições (Jo. 16.33), mas elas não nos derrotarão porque o nosso Deus,
Jesus Cristo venceu o mundo e a morte, sendo também Cristo em nós, a esperança da
53
glória, (Hb. 12.2). Assim levantemos os nossos olhos para Cristo, o autor e consumador da
nossa fé, pela qual foi também Jacó justificado.
Conclusão
Então, olhando para a vida de Jacó podemos aprender que quando passamos por
crises, Deus nos trata ensinando-‐nos que somos fracos sem ele. Nossos planos não terão
sucesso se Deus não estiver guiando-‐nos e executando a sua vontade, de forma que
percebamos que somos completamente dependente de Deus.
Vemos também que em momentos de crise, Deus opera em nós, transformando-‐
nos em crentes melhores, em servos melhores. A sua Palavra encontra um terreno fértil
com a ação do Espírito Santo em nós durante as crises. Fértil para nos fazer crescer, para
renovar o nosso caráter, a nossa personalidade, formando-‐o na semelhança de Cristo.
Aprendemos com Jacó também que Deus garante a nossa esperança ao nos
abençoar com o cumprimento do que ele prometeu. Ele nos enviou seu Filho e nos deu
nele a esperança para passar por tribulações e crises porque Cristo mesmo sofreu e
venceu. Deus garante a Jacó a vitória, não pela sua força, mas pela promessa que
carregava. Esta promessa, concretizada em Cristo nos garante também o socorro
presente, embora não a solução das situações muitas vezes, mas a solução do nosso ser, e
a esperança da glória.
Um texto que pode fechar nossa compreensão acerca do que vimos é o de
Romanos 5.3-‐5: “Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque
sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o
caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou
seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu”. (NVI).
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Conclusão Neste trabalho pudemos observar que o encontro de Jacó com Deus tem muitos
mais significados e implicações do que comumente imaginamos. Vimos também que é um
texto de difícil interpretação, pois seu relato não é tão claro quanto a nossa curiosidade
gostaria, e nem encontramos todos os detalhes em outros textos, mas vimos que dentro
do que temos, podemos entender o texto à luz do seu contexto e do seu tema principal: o
pacto de Deus com seu povo.
Abordamos os aspectos lingüísticos, gramaticais, textuais, contextuais, partindo do
pressuposto reformado de uma exegese histórico-‐gramatical, que interpreta o texto de
acordo com a sua relação com as Escrituras.
Vimos que as dificuldades vão se dissipando, na medida do possível, quando
desvendamos o local e a forma que Moisés usou para a confecção do livro, como se
relacionam as demais partes do livro com essa e como ela se destaca no contexto geral da
carta.
Percebemos que Jacó, em Peniel teve um encontro que o transformou em um
grande patriarca, mas principalmente em um homem de Deus, pois na maior crise da sua
história, Deus o ensinou e o mostrou sua fraqueza em contraste com o poder de Deus, sua
limitação e o poder ilimitado de Deus. Deus deu a Jacó um novo nome, Israel, e com ele
um novo caráter, deu a Jacó a esperança de que seria vencedor em suas lutas, por causa
da promessa de Deus e da benção de Deus que repousava sobre ele e sobre seu futuro.
Peniel foi fundamental para a compreensão da vida de Jacó. Por isso, ao adotar o
método citado, procuramos o sentido que Moisés intentou dar neste texto para seus
primeiros leitores e para os leitores de todas as épocas na história. Assim, cremos que em
Betel temos uma história que exemplifica muito bem a forma como Deus conduz seu povo
em tempos de crise.
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