Eumênides - Ésquilo

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Eumênides

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EUMNIDES

EUMNIDES

squilo

poca da ao: idade herica da Grcia (cerca de 1200 a.C.).Locais: Delfos e Atenas.Primeira representao: 458 a.C., em Atenas.

PERSONAGENS

Orestes, filho de Agammnon e de ClitemnestraApoloAtenaFantasma de ClitemnestraProfetisa Ptia, j idosaCoro das Frias (seis)EscoltaHermes

CENRIOEm Delfos, diante do templo de Apolo. A Profetisa entra em cena e se encaminha para a porta fechada do templo. Antes de entrar, detm-se e se inclina reverentemente diante da trpode onde se sentava para profetizar.

ProfetisaDou nesta prece inicial a precednciaentre todos os deuses sagrada Terra,a mais antiga de todas as profetisas;depois invoco Tmis Tmis: filha da Terra, uma das mulheres legtimas de Zeus, deusa das leis eternas e da justia. Atribua-se a Tmis a inveno dos orculos, e ela teria sido a instrutora de Apolo na arte oracular., a segunda deusaa ter assento no trono de sua me,de acordo com alguns relatos; em seguida,com o consentimento da divina Tmise sem qualquer preterio, subiu ao tronooutra filha da Terra - a Titanide Febe -;esta o passou depois a Febo Febo: um dos eptetos de Apolo, significando "luminoso"., como ddivapara marcar o dia de seu nascimento.Febo, que deve a Febe seu sagrado epteto,abandonando o lago e os montes de Delos,depois de conhecer o litoral de Palas,apreciado pelas naus, chegou a Delfos,junto ao Parnasso, sua nova residncia.os filhos de Hefesto Filhos de Hefesto: os atenienses, cujo rei mtico - Erictnio - era filho de Hefesto, o deus do fogo. o homenagearamcom toda a reverncia, abrindo-lhe caminhospara a conquista do territrio indomado.O povo todo e Delfos, timoneiro e reidaquela regio, instituram logoo culto solene de Febo Apolo e Zeus Febo Apolo: Veja a nota 2,dando a Febo imortal a cincia divina "Cincia Divina": o dom da profecia.,e decidindo p-lo neste augusto assentopara ser desde ento o seu quarto profeta;aqui Apolo Apolo: no original est Lxias, um dos eptetos do deus significando "oblquo", numa aluso obscuridade dos orculos. o porta-voz de Zeus, seu pai.So estes os deuses que invoco em minhas preces.

(Voltando-se primeiro para a imagem de Atena, e sucessivamente para as imagens dos outros deuses que invoca.)

Atena Atena: no orginal est Palas Pronaia, um epteto duplo da deusa. O epteto mais usado de Atena Palas. tem tambm um lugar destacadoem minha fala; menciono ainda as Ninfasque moram na caverna da rocha Corcia,onde vo deleitar-se os pssaros e um deus;naquela regio o rei divino Brmio Brmio: um dos eptetos do deus Diniso, significando "fremente", "retumbante".(jamais o esqueceria!) desde que saiu frente do longo cortejo das Bacantese fez Penteu Penteu: rei de Tebas, morto por sua prpria me Agave, inspirada pelas Bacantes, por desprezar e combater o culto orgistico de Diniso. morrer como se fosse lebre.Tambm invoco as guas do sagrado Pleisto Pleisto: rio situado na Focis. Poseidon o deus das guas em geral, dos rios e dos mares.,a fora enorme do divino Poseidone Zeus onipotente antes de me sentarcomo sacerdotisa no meu prprio trono.Bendigam eles hoje mais que noutros diasminha presena no lugar santificado.Se aqui se encontram quaisquer peregrinos gregos,devem aproximar-se como de costumena ordem predeterminada pela sorte;de minha parte profetizarei agoratudo que me for inspirado pele deus.

(A Profetisa entra no templo e logo depois sai horrorizada, apoiando-se na porta e nas colunas do templo.)

Ah! No consigo descrever um espetculocuja simples viso me deixa transtornadae me fora a deixar o templo de Loxias,de tal maneira horrvel que perdi o nimoe no consigo, embora queira, estar de p.Tenho de me valer das mos para mover-me,pois minhas pernas trpegas no me sustentam.Qual a valia de uma velha estarrecida?Nenhuma; como se ela fosse uma criana.Eu caminhava em direo ao santo altarrepleto de oferendas, e meus olhos viramjunto pedra central do templo um ser humanomarcado pela maldio das divindades;ele estava sentado como suplicantee com as mos ensangentadas seguravaum punhal retirado havia pouco tempode um ferimento; em suas mos ainda estavaum longo ramo de oliveira recobertodevotamente por uma camada espessade alva l - serei mais clara se disserque aquilo parecia a pele de um carneiro.Em frente ao homem h um grupo de mulheresde aspecto estranho adormecidas nos assentos.Falei que so mulheres? Devo dizer Grgonas!Talvez no seja boa esta comparao;no a Grgonas que devo referir-me.Lembro-me bem de ter visto em pintura um diaas Hrpias Hrpias: monstros femininos alados, que roubavam diariamente os alimentos de Fineu, rei-profeta de Salmideso, na Trcia.no justo momento em que tiravamfurtivamente os alimentos de Fineu.Estas daqui, porm, parecem no ter asas;o seu aspecto tenebroso e repelente;enquanto falam no se suporta seu hlitoe de seus olhos sai um corrimento ptrido;seus trajes so inteiramente inadequadosa quem est diante dos augustos deusesou mesmo em casa de criaturas humanas.Nunca e em parte alguma vi seres assime no consigo imaginar que algum lugarpossa t-las criado sem se arrependere lamentar amargamente esse castigo.Quanto ao que ainda est por vir, tudo dependedo deus senhor deste recinto consagrado- Loxias poderoso -; ele cura as pessoasgraas a seus orculos sempre verazes, um intrprete infalvel de portentose purifica os lares de todos os homens.

(A Profetisa afasta-se: abre-se a porta do templo; v-se Orestes sentado na pedra que marca o centro do templo; Apolo est de p a seu lado. As Frias esto adormecidas nos assentos do templo.)

Apolo (dirigindo-se a Orestes.)

Jamais te trairei! Serei at o fimteu guardio fiel, quer esteja a teu lado,quer nos separem distncias interminveis,e em tempo algum protegerei teus inimigos.J podes ver as Frias todas dominadas;vencidas por pesado sono, ei-las imveis,estas virgens malditas, filhas antiqussimasde um passado remoto; nunca as possuramquaisquer dos deuses, homens e nem mesmo feras.Nascidas para o mal, coube-lhes em partilhaa treva deletria do profundo Trtaro Trtaro: a parte mais profunda do inferno, onde eram confinados os piores criminosos.,criaturas malditas por todos os homense pelos deuses que se renem no Olimpo.Deves, porm, fugir daqui e ter cuidado.Elas querem continuar a perseguir-tee te procuraro por todos os lugares,tentando sempre te expulsar de onde estiveresem tuas longas caminhadas sem destino,alm do mar e das cidades que ele cerca.E no te deixes dominar pelo cansaoenquanto pastoreias tuas desventuras;mas, quando perceberes que afinal chegaste nobre cidade de Palas Cidade de Palas: Atenas., ajoelha-tee abraa a imagem antiqussima da deusa.Na mesma ocasio, diante de juizese com palavras adequadas ao momentodescobriremos a maneira de livrar-tedefinitivamente de teu sofrimento,pois fui eu mesmo, e mais ningum, que te induzia ferir mortalmente a tua prpria me.

OrestesSabes ser justo, Apoio rei, quando te apraz;cumpre-te ainda estar atento at o fim,pois teu poder de fazer bem e proteger-me minha garantia de sucesso pleno.

(Entra Hermes..)

Apolo (dirigindo-se primeiro a Orestes e depois a Hermes.)

Lembra-te, Orestes! No permitas que o temordomine a tua mente! E tu, Hermes divino Hermes: filho de Zeus e de Maia na mitologia grega, mensageiro de seu pai e deus incumbido de levar as almas dos mortos aos infernos.,meu caro irmo, em cujas veias corre o sanguede um deus que nosso pai, zela tambm por ele!Justifica teu nome e cuida de guiarcomo um pastor fiel este meu suplicante!No podes ignorar o respeito de Zeuspelos proscritos em circunstncias iguaiss deste que te entrego para ser levadoao julgamento dos mortais sem mais delongas,com recomendaes de sorte favorvel.(Sai Apolo. Orestes parte conduzido por HERMES. Aparece o fantasma de Clitemnestra, que se dirige ao Coro das Frias adormecidas.)

Fantasma de ClitemnestraDormis profundamente! Qual a serventiade sonolentas como vs? Por vossa causasou vilipendiada no mundo dos mortos,que no cessam de me humilhar qualificando-meinjuriosamente de assassina, l,vagando envergonhada em meio a tantas sombras!Sou acusada nas profundezas do infernode um crime brbaro e como se no bastasse,aps a minha morte nas mos de meu filho(destino atroz!) nenhum dos deuses se revoltae mostra sua clera a favor da me!Vede com vossos coraes estas feridas,pois quando adormecida a mente iluminadae seus olhos so muitos, mas luz do dianosso destino totalmente imprevisvel.Ah! Quantas vezes viestes sugar em bandosas minhas oferendas generosas,as apaziguadoras libaes sem vinho,e vos propiciei banquetes numerososdurante as noites sacrossantas nos altaresiluminados pelas chamas crepitantesem horas execradas pelos outros deuses "Outros deuses": os deuses infernais, os nicos que recebiam sacrifcios noturnos.!E vs calcastes tudo isso sob os ps!Ele escapou e desapareceu daquicomo se fosse alguma cora ainda novalivrando-se num salto gil da armadilhae zombando de vs com um riso sarcstico!De p, deusas das profundezas infernais!Como num sonho invoco-vos, eu, Clitemnestra!

(Ouvem-se uivos do coro das Frias. O fantasma de Clitemnestra dirige-se ao Coro.)

Uivai! Uivai! O homem desapareceu,fugindo para longe! Ele tem seus amigose eu - pobre de mim! - no tenho um sequer!

(Ouvem-se novos uivos do Coro.)

Continuais dormindo e no vos comoveiscom meu enorme sofrimento!O criminoso, o matricida Orestes, desapareceu!

(Ouvem-se gemidos do Coro.)

Gemeis, dormis... No vos levantareis depressa?Tendes outra funo alm de fazer mal?

(Ouvem-se novos gemidos do Coro.)

O sono e a fadiga, invictos conjurados,consumiram as foras dos drages terrveis!

Coro (Entre uivos estridentes.)Pegai! Pegai!Pegai! Tende cuidado!

Fantasma de Clitemnestra (dirigindo-se ao Corifeu..)Agora persegues a fera em sonho e gritascomo esses ces que nunca deixam seu canilpara atacar a caa! Dize-me: que fazes?Vamos! Levanta-te! No te deixes vencerpela fadiga a ponto de esquecer ofensas!Incita o corao com justas reprimendas,pois elas estimulam as pessoas sbias!Exala sobre Orestes teu sangrento hlito!Trata de ressec-lo com o vapor de fogoque sai insuportvel de tuas entranhas!Deve extenu-lo at tirar-lhe o flegonuma perseguio feroz e implacvel!

(Desaparece o fantasma de Clitemnestra; as Frias incitadas pelo Corifeu, despertam uma aps outra.)

Corifeu

Desperta, e tu, desperta outra companheira,como j fiz contigo! Ainda ests dormindo?Ergue-te e afasta j o sono de teus membros!No nos deixemos iludir ao persegui-lo!

CoroAi! Ai! Como temos sofrido, amigas!

Uma das FriasSofri demais e tudo foi intil!

CoroSofremos tanto! Insuportveis penas!Rompendo a rede, a fera foi embora!

Outra FriaPerdi a presa! O sono me venceu!

CoroAges como um ladro, filho de Zeus! "Como um ladro": aluso a Hermes, deus famoso por sua habilidade para roubar.Sim! Tu, Apolo, um jovem deus, superasidosas deusas! S por piedadeproteges um indigno suplicante,homem sem deus, cruel com sua me!s deus, e nos roubas um matricida!Quem pode ver justia em tudo isto?

Outra FriaDo fundo de meus sonhos uma afronta,brutal como o aguilho que algum cocheiroempunha firmemente, vem ferir-meo corao e at minhas entranhas.Sinto passar por mim um calafriomortificante, similar ao ltegodo mais impiedoso dos verdugos.

CoroAssim procedem os deuses mais novos,vidos de poder sobre este mundoe descuidosos da santa justia,num trono maculado pelo sanguedesde seus ps at a cabeceira.

Outra FriaTenho a impresso de ver com os prprios olhoso centro deste mundo, poludo "Centro deste mundo": Delfos, onde ficava o orculo mais famoso de Apolo, era tida como o centro do mundo (no original "umbigo" em vez de "centro".pelo sangue de um brbaro homicdio!

CoroApolo, deus-profeta, conspurcouseu prprio lar sem qualquer compulso,e sem ser provocado transgrediuas sacras leis; por um simples mortalo deus rasgou o pacto muito antigo "O pacto muito antigo": o pacto pelo qual os deuses estabeleceram as respectivas atribuies junto aos mortais.Outra FriaAgindo assim ele ganhou meu diosem conseguir salvar seu protegido.Ainda que se oculte sob a terraOrestes no se livrar de ns.Culpado de assassnio, onde ele forencontrar por certo um vingadordisposto a golpe-lo na cabea.

Apolo (saindo de seu templo com um arco nas mos, pronto para ser usado.)

Abandonai agora mesmo a minha casa!Ordeno-vos! Deixai em paz o santurioonde proclamo profecias verdadeiras;se no obedecerdes sereis atingidaspelas serpentes sibilantes de asas brancas "Serpentes sibilantes de asas brancas": metfora significando flechas.que, saltando da corda de meu arco ureo,vos foraro a vomitar entre estertoresa negra espuma que deveis a tantos homense a expelir o sangue que sugastes deles!Esta casa, de fato, no adequada vossa companhia. No! Vosso lugar l onde h sentenas de degolamentoe olhos a ser arrancados, ou entoonde gargantas so abertas, ou aindaonde, para extinguir toda a virilidade,meninos so castrados, onde se mutila,onde seres humanos morrem lapidados,onde vitimas empaladas, gemebundas,esvaem-se numa agonia interminvel!Ouvistes, monstros odiados pelos deuses,a relao de vossas festas preferidas?E vosso aspecto condizente com tal gosto!Devereis viver em antros de leessorvedores de sangue, em vez de poluiros muitos visitantes do templo proftico!Ide pastar sem um pastor longe daqui,pois deus nenhum desejaria tal rebanho!

CorifeuOuve-me, Apoio rei; d-me a palavra agora.No s um simples cmplice; toda tua,de mais ningum, a culpa neste crime horrvel.

ApoloMas como? Fala apenas para responder!

CorifeuTeu santo orculo ordenou ao suplicanteque assassinasse a prpria me com suas mos.

ApoloO orculo ordenou-lhe que vingasse o pai.

CorifeuE prometeste proteo ao assassino,embora ainda houvesse sangue em suas mos!

ApoloMandei-o vir aqui para expiar o crime.

CorifeuPor que, ento, detns suas perseguidoras?

ApoloPorque neste lugar elas no so bem-vindas.

CorifeuQueremos simplesmente cumprir um dever.

ApoloMas, que dever? Exalta essas prerrogativas!

CorifeuCumpre-nos expelir do lar os matricidas!

ApoloE que fazes quando a mulher mata o marido?

CorifeuNo se derrama o mesmo sangue nesse crime.

ApoloDegradas, reduzindo a pouco mais que nada,um pacto cujos fiadores principaisso Hera Hera: mulher legtima de Zeus, deus maior da mitologia grega., padroeira das npcias legtimas,e o prprio Zeus; tuas palavras inda aviltamAfrodite Afrodite: deusa do amor na mitologia grega. divina, de quem tantos homensrecebem suas alegrias mais queridas.O leito nupcial onde o destino uneo homem e a mulher, recebe a proteode um direito divino, cuja fora enormeexcede a que garante os santos juramentos.Se para aqueles que se matam uns aos outross a tal ponto complacente que te esquecese no os punes nem os marcas com teu dio,declaro inqua essa perseguio a Orestes.Percebo que teu corao quer castigarapenas um dos crimes, enquanto se omiteda maneira mais clara em relao ao outro.Palas, porm, ir pesar devidamenteos direitos das duas partes em litgio.

CORIFEUJamais permitirei que Orestes fique impune!

ApoloVai persegui-lo, ento! Sofrers mais por isso!

CorifeuNo me tiras os privilgios com palavras!

ApoloNo me interessam privilgios como os teus!

CorifeuDizem que teu poder junto ao trono de Zeus muito grande; quanto a mim, sou impelidapelo sangue de uma desventurada mee continuarei a perseguir Orestescomo se eu fosse um co de caa em sua pista!

ApoloSerei ento perseverante na defesae salvao de quem me implora que o proteja. insuportvel para os deuses e os mortaisa ira de um desesperado suplicantecontra quem o traiu depois de o apoiar.

(O Coro retira-se lentamente. Fecha-se a porta do templo de Apoio. O cenrio muda para a Acrpole de Atenas, diante do templo de Palas Atena, frente do qual se v uma imagem da deusa. Entra Hermes conduzindo Orestes, que abraa a imagem.)

OrestesEstou chegando aqui por ordem de Loxias,Atena soberana; acolhe com clemnciaum homem amaldioado. J no souum suplicante cujas mos esto impuras;a minha mcula gastou-se e desbotouna convivncia amvel com seres humanosque me hospedaram em seus lares respeitveisenquanto eu vagueava por terras e mares.Obediente ao mandamento de Loxiasem seu sagrado orculo, chego afinalao p de tua imagem e a teu templo, deusa!Aqui aguardo o veredicto da Justia!

(As Frias do Coro entram em cena, dispersas, seguindo as pegadas de Orestes.)

CorifeuAh! Muito bem! J vejo rastros dele, e ntidos!Sigamos a evidncia de um delator mudo.Como velozes ces de caa atrs de um cervorecm-ferido, assim eu sigo a trilha delepelas gotas do sangue que ainda o macula.Meu corao fraqueja de cansao e penas,pois percorri a terra toda procurando-ocom minhas companheiras; afinal chegamos,aps vencer o mar e suas altas ondas,voando sem ter asas e muito mais rpidasque as naus velozes em suas longas viagens.Agora Orestes deve estar acocoradoem um lugar qualquer pelas proximidades.O odor de sangue humano faz-me gargalhar!

(O Coro dirige-se primeiro ao Corifeu; depois as vrias Frias dirigem-se umas as outras.)

CoroAbre teus olhos, esquadrinha tudopara que o matador de sua meno fuja astutamente e fique impune!

Uma das Frias (percebendo Orestes.)J posso v-lo em sua tentativade proteger-se ainda desta vez.Cingindo firmemente com seus braosa santa imagem de Palas Atena,ele afinal deseja ser julgadopelo crime brutal de suas mos.

Outra FriaIsto no pode acontecer! No pode!O sangue maternal, se derramado,nunca, jamais poder refluir!Aps correr e se entranhar na terra,est perdido para todo o sempre!

Outra FriaPara aplacar a minha sede, Orestes,enquanto vives deixa-me sugarde tuas veias, em compensao,essa bebida horrvel que o sanguecomo se fosse uma oferenda rubra!

Outra FriaEsgotarei a tua fora todae te transportarei ainda vivopara os abismos mais fundos da terra,onde afinal possas pagar o preoque um matricida deve sua me.

Outra FriaL te sero mostrados os sacrlegosque ousaram ofender as divindades,seus hspedes ou seus progenitores,sofrendo cada um a punioimposta pela impvida justia.

Outra FriaHades Hades: deus supremo do inferno na mitologia grega., nas profundezas infernais,cobra sem compaixo alguma as dvidasdas criaturas cujas faltas guardacom zelo sua alma onividente.

OrestesA desventura me ensinou muitas maneirasde purificao, e tambm aprendia distinguir a hora de silenciarda hora em que se tem direito de falar.Em relao s circunstncias atuais,um mestre sbio me deu ordens peremptriaspara manifestar-me decididamente.O sangue em minhas mos est adormecidoe desbotou; a mcula do matricidaest lavada; ainda fresca em minha peleela foi removida por um deus - por Febo -em seu altar, aps a purificaopropiciada pela imolao de um porco.Seria uma histria longa mencionardesde o princpio todas as pessoasque visitei e no perderam a purezadiante de minha presena e companhia(com o perpassar do tempo tudo se desfaz).Agora, ento, posso invocar com lbios purose sem risco de cometer sacrilgioa deusa soberana desta regio:que Atena venha socorrer-me, e assim fazendosem recorrer s armas me conquistare alm de mim a minha terra insigne, Argos,e todos os seus numerosos habitantesque passaro a ser desde hoje e para sempreseus aliados mais leais e valorosos.Ainda que esteja na distante Lbia Lbia: na antigidade o Norte de frica. Triton era um rio da Lbia que desaguava no Mediterrneo.,na regio do rio Trton, cujas margenspuderam v-la na hora do nascimento,seja em repouso, seja numa ao de guerralevando a salvao sua gente amada,ou se estiver frente de bravos soldadoscomandando a defesa dos campos de Flegra Flegra: local do campo de batalha mtico onde os deuses olmpicos derrotaram os gigantes.-mesmo de longe os deuses ouvem os apelos -,

que venha a mim para salvar-me deste bando!

CorifeuAssim como no te salvou o prprio ApoIo,Atena tambm no te ajudar, Orestes!Perecers na mais completa solido,com tua alma abandonada para semprepela alegria - sombra privada do sanguesugado pelas potestades infernais!

(Orestes cospe na direo do Corifeu.)

No me respondes e te atreves a cuspirsobre minhas palavras, tu, msera vtima,nutrida para ser sacrificada a mim!Ainda vivo, sem sequer ser imolado,sers a iguaria de nosso banquete!Escuta o canto que te imobilizar!

(As Frias do Coro aproximam-se de Orestes danando com as mos dadas.)

CoroFechemos este crculo danante!Cantemos este pavoroso hinoanunciando como nosso bandoreparte a sorte entre todos os homens!Consideramo-nos as portadorasda justia inflexvel; se um mortalnos mostra suas mos imaculadas,nunca o atingir nosso rancore sua vida inteira passarisenta de todos os sofrimentos.Mas quando um celerado igual a esteoculta suas mos ensangentadas,chegamos para proteger os mortostestemunhando contra o criminoso,e nos apresentamos implacveis,para cobrar-lhe a dvida de sangue!

CorifeuAh! Noite, minha me que me paristepara dar o castigo inelutveltanto a todas as criaturas vivascomo s que j no podem ver a luz,escuta-me! O deus filho de Leto "Deus filho de Leto": Apolo.quer humilhar-me salvando esta presacujo destino expiar morrendoum crime sem perdo - o matricdio!

CoroEm frente nossa vitima cantamosum hino dedicado s sacras Frias,vertiginoso e delirante, a pontode provocar nos homens a loucurae de lhes imobilizar a mente,canto sem os acordes de uma liraque os horroriza e os seca de medo.O ofcio que o destino inexorvelfixou e nos imps eternamente perseguir todas as criaturaslanadas por sua prpria demnciana via tortuosa do homicdioat descerem ao profundo inferno;nem mesmo a morte as livrar da pena.Quando nascemos foi-nos confiadaesta prerrogativa; os imortaisno podem estender as suas mospara usurp-la, nem aparecercomo convivas em nossos banquetes,mas, em compensao, nunca vestimosroupas imaculadamente brancas;nossa incumbncia destruir as casasonde a Discrdia "Discrdia": no texto grego Ares, deus da guerra, da destruio e da discrdia., sem ser convidada,vem instalar-se perto da lareirae causa a morte de um ente querido.Por mais potente que seja o culpadoerguemo-nos imediatamentee iniciamos a perseguioat mat-lo na poa do sangueainda fresco da msera vitima.Aqui estamos e nosso propsito evitar que divindades novastenham de arcar com essa obrigao;tambm queremos afirmar agoraque falta a qualquer deus autoridadepara afastar-nos de nosso dever;ento Orestes no pode sequerser conduzido presena de um delesem busca da divina deciso.Zeus considera indigna de seu cetroa vizinhana dessa gente impuraainda maculada pelo sangue.As glrias mais prezadas pelos homensque vivem sob o cu se desintegrame perdem-se aviltadas c na terratangidas por nossos vus tenebrosose pelos malefcios oriundosde nossos passos numa dana ttrica.Saltamos com nossos ps vigorosospara pisotear pesadamenteat os corredores mais velozes.Em sua insanidade Orestes cai,sem perceber, num delrio que o perde( impenetravelmente negra a noiteque sua mcula envolvente estendesobre seus olhos, como se o cegasse),enquanto uma nuvem sombria descee encobre todo o palcio paternode acordo com rumores aflitivos.Eis-nos aqui; lentas para pensarmas decididas para executar,nunca esquecendo os crimes praticados,ns, as temveis, temos o poderde bem cumprir nossa misso, humildese desprezadas, distantes dos deusesnum pntano sem sol, intolervelpara quem j morreu e para os vivos.Ento, qual o mortal que pode ouvirsem reverncia e sem grande temora lei que nos imps outrora a Parca,ratificada por todos os deuses?Ainda nosso um apangio antigoe no nos faltam altas honrarias,embora moremos num negro abismoonde jamais entrou a luz do sol.

(Entra Atena.)

ATENA

Ouvi de muito longe um estridente apeloenquanto andava s margens do Escamandro Escamandro: rio da regio de Tria;l eu tomava posse da terra pujanteque os reis e comandantes dos aqueus "Aqueus": em sentido estrito, "habitantes de Acaia", e em sentido amplo os gregos em geral na poca da guerra de Tria. valentesme consagraram como o dom mais valiosodos ricos despojos de guerra, e cujo soloagora me pertence para todo o semprecomo o quinho mais precioso oferecidoaos bravos filhos de Teseu Teseu: o heri mais importante de Atenas, e rei da tica.. Venho de ltrazida por meus geis ps infatigveis,impulsionando aos ventos como se asa fossea minha sacra gide enfunada, guisade carro a que se atrelam cleres corcis.Agora, vendo minha frente um bando inslitode visitantes, no me sinto temerosa,porm h em meus olhos natural espanto.

(Dirigindo-se s Frias do Coro.)

Quem sois, ento? Estou falando a todos vs:ao estrangeiro piamente acocoradoaos ps de minha imagem, e tambm a vs,cuja figura estranha em nada se assemelhaa criatura alguma (os deuses no vos contamentre os numes celestes e vossas feiesem nada lembram as dos homens e mulheres).Mas insultar quem no nos deu qualquer motivopara ser denegrido ou mesmo censurado,alm de ser injusto contra a eqiidade.

CorifeuIrs saber de tudo resumidamente,filha de Zeus: somos as tristes descendentesda negra Noite; nas profundezas da terra,onde moramos, chamam-nos de Maldies.

AtenaAgora sei quem sois e o nome que vos do.

CorifeuLogo conhecers nossas prerrogativas.

AtenaSe me falardes claramente, saberei.

CorifeuFomos buscar em sua casa um assassino,

AtenaE para onde o leva essa perseguio?

CorifeuPara um lugar onde ningum se sente alegre.

AtenaE o maldizeis com gritos quando ele vos foge?

Corifeu, sim, pois ele ousou matar a prpria me.

AtenaAlgum o constrangeu a cometer o crime,ou ele tinha medo de alguma vingana?

CorifeuMas, pode a compulso levar ao matricdio?

AtenaEsto aqui neste momento duas partese ouvi apenas a metade dessa histria.

CorifeuMas, ele no jurou, nem quis que ns jurssemos... "Mas ele no jurou...": no jurou que diria a verdade nem pediu o juramento das Frias de que seriam verazes.

AtenaQuereis parecer justas, mas no estais sendo.

CorifeuQue pretendes dizer? Explica-te melhor,pois bem se v que no s pobre em sapincia.

AtenaDigo que os juramentos no tm o poderde transformar uma injustia em ato justo.

CorifeuEnto, depois de ouvi-lo julga retamente.

AtenaPretendeis confiar-me a deciso da causa?

CorifeuE por que no? Assim seremos reverentesa quem digna de nossa venerao.

Atena (dirigindo-se a Orestes.)Agora tua vez; responde-me, estrangeiro.Primeiro fala-me da terra onde nasceste,de tua raa e tambm de teus infortnios,antes de dar respostas s acusaes.Se tens de fato confiana na justia,tu, que procuras proteo junto ao meu temploe envolves minha santa imagem com teus braos,como se fosses piedoso suplicanteigual ao celebrado Ixon Ixon: rei dos Iapitas, habitantes de parte da Tesslia, famoso por sua arrogncia e crueldade, que certa vez se apresentou a Zeus como seu suplicante aps cometer um homicdio., esclarece-mesobre os reais motivos da perseguio.

OrestesAtena soberana! Devo comearpor tuas ltimas palavras, pois assimdesfao logo tuas preocupaes.No sou um ser maldito, nem estou aquiao p de tua imagem com mos maculadas,e disso posso dar-te uma prova cabal.A lei aqui impe silncio ao criminosoat o dia em que um purificadordo sangue derramado esparja sobre eleo sangue de um animalzinho degolado.H muito tempo me livrei de minha mculanos lares por onde passei e nas viagensque fiz por tantas terras e atravs dos mares.Tira de tua mente, ento, os teus cuidados.Quanto ao meu nascimento, logo sabers:Argos minha ptria; o nome de meu pai(tu o conheces muito bem) Agammnon,comandante de homens e naus; com tua ajudaele fez Tria desaparecer da terra.Esse famoso rei morreu ingloriamenteno dia em que, depois de terminada a guerra,voltou vitorioso ao lar. A minha me,levando a termo seus desgnios tenebrosos,atreveu-se a mat-lo depois de envolv-lonuma rede tecida em cores variadas,que ainda existe para ser um testemunhodo crime prfido dentro de uma banheira.Aps um longo exlio regressei ptriae matei minha me - no negarei o fato -para punir a morte de meu pai querido.To responsvel quanto eu pelo homicdio o prprio ApoIo, cujo orculo verazpara incitar meu corao mostrou-me as penasque eu sofreria se no quisesse cumpriras suas ordens para punir os culpados.Decide tu se meu ato foi justo ou no;estou em tuas mos; haja o que houver comigoaceito resignadamente o veredicto.

AtenaSe se considerar que o caso muito gravepara ser decidido por simples mortais,tampouco lerei permisso para julgaros criminosos motivados em seus atospelo desejo rancoroso de vingana;sob outro aspecto, chegas como suplicante,purificado pelos ritos pertinentese inofensivo para o meu sagrado altar.Por isso minha deciso acolher-te,pois tua vinda no ofende esta cidade.Mas estas criaturas que te perseguiramsem dvida so detentoras de direitosmerecedores de toda a nossa ateno;se lhes negarmos a vitria em sua causatodo o veneno do seu dio cairsobre esta terra como um mal intolerveltrazendo-nos interminveis amarguras.Nesta situao, quer eu lhes d ouvidos,quer no as favorea, terei de sofrerinevitveis dissabores. Entretanto,j que a questo chegou a meu conhecimentoindicarei juizes de crimes sangrentos,todos comprometidos por um juramento,e o alto tribunal assim constitudoter perpetuamente essa atribuio "Alto tribunal": o Arepago, principal tribunal de Atenas..Apresentai, ento, vs que estais em litgio,testemunhas e provas - indcios juradosbastante para reforar vossas razes.Retornarei depois de escolher os melhoresentre todos os cidados de minha Atenas,para que julguem esta causa retamente,fiis ao juramento de no decidiremcontrariamente aos mandamentos da justia.

(Sai Atena.)

CoroPrognosticamos para muito breveo advento de uma grave subversodevida a novas leis, se triunfara causa torpe deste matricida!Logo seu crime justificaro desrespeito de todos os homens,e talhos incontveis de punhaislicitamente dados pelos filhossero a recompensa de seus paisantes de se passarem muitos anos!Isso acontecer porque as Frias,cuja incumbncia vigiar os homens,tero cessado displicentementede provocar rancor contra assassinos.A partir deste dia soltaremosos freios que at hoje contiveramos homicidas de todos os tipos.Os homens perguntar-se-o atnitos(cada um deles prestes a contaras desventuras de seus semelhantes)quando terminaro suas desditasou quando podero ter uma trgua,mas seu nico alivio - ah! infelizes!ser trocar conselhos e remdiosinteis para a cura de seus males!E quando algum mortal for atingidopelo infortnio, no nos pea ajudanem nos invoque desvairadamente:"Ah! Frias em seus tronos! Ah! Justia!"Talvez esses gemidos tristes venhamde um pai ou de uma transtornada me,vitimas novas de um destino inslito,pois a justia neste dia vque seu reduto est desmoronando!s vezes o temor bom e deve,como se fosse um guardio da mente,manter-se vigilante em seu lugar. til aprender sabedoriatendo por mestre o prprio sofrimento.Quem no refteia o corao com o medo- tanto as cidades como os habitantes -no capaz de curvar-se justia.No deveis submeter-vos nesta vidanem anarquia nem ao despotismo.Sempre a prudncia vitoriosapois deram-lhe os deuses o privilgiode limitar at os seus poderes.Cabem aqui palavras oportunas:a insolncia filha prediletada falta de respeito s divindades;ao contrrio, a felicidade nasceda s razo, e todos os mortaisclamam por ela em suas oraes.Pensando em tudo isso repetimos:a lei suprema impe que se venereo altar santificado da justiaem vez de com ps mpios ultraj-locedendo seduo de uma vantagem;o castigo vir e ao desenlacenenhuma criatura escapar.Ento, elevem-se acima de tudoo respeito sempre devido aos paise a hospitalidade a quem a pede.Quem por si mesmo e sem constrangimentosabe ser justo, ser venturosoe nunca estar totalmente morto.Mas o contestador audaciosocurvado ao peso de muitas riquezasamontoadas de qualquer maneirae contra os mandamentos da justia,ser forado no devido tempo-isso eu garanto! - a recolher as velas

quando a tormenta de castigos duroscair com violncia sobre a naupartindo o mastro que lhe foge s mos;ele faz preces que ningum escutae luta inutilmente pela vidasob o aoite das vagas revoltas.Os cus riem ao ver o insolenteque no pde prever a hora trgicae agora desespera ao enfrentartamanha desventura sem remdio,incapaz de vencer os vagalhes.No choque violento e irresistvelcontra os escolhos da justia atentao infeliz v naufragar, perdido,sua prosperidade anteriore sem uma lamentao sequerperece para ser logo esquecido.

(Atena reaparece seguida por um arauto que apresenta os juizes. Estes sentam-se de frente para o pblico, enquanto o Coro das Frias se agrupa em um dos lados do proscnio. Orestes obedecendo a um gesto dos juizes, fica de p em frente ao Coro.)

AtenaD um sinal, arauto, impondo ao povo a ordeme faze com que repercuta at o cua tua estrdula trombeta da Tirrnia "Tirrnia": nome antigo da Etrria, onde se fabricavam as trombetas mais famosas na antiguidade grega.,levando at os ouvidos desta multidoa tua voz aguda. Enquanto o tribunalestiver reunido, faa-se silncio,pois a cidade ter de escutar as leisque aqui e agora crio para persistiremat o fim dos sculos; graas a elasestes juzes podero fazer justia.

(Entra Apolo.)

CorifeuLimita a tua fora, Apolo, a teus domnios!Dize, senhor: que tens a ver com esta causa?

ApoloEstou chegando aqui para testemunhar.

(Apontando para Orestes)

Este mortal, de acordo com os sacros ritos,alm de ser meu suplicante um fielsempre bem-vindo junto ao meu altar; fui euquem o purificou do sangue derramado;estou aqui tambm como seu defensore, mais ainda, como responsvel mximopelo crime de morte contra sua me.

(Dirigindo-se a Atena.)

Abre o debate e passa a conduzir a causasempre de acordo com a tua sapincia.

Atena (dirigindo-se as Frias do Coro.)Quero dizer-vos que a palavra agora vossae declarar que esto abertos os debates.Falando em primeiro lugar, o acusadordeve instruir-nos claramente sobre os fatos.

CorifeuEmbora sendo muitas, falaremos pouco.

(Dirigindo-se a Orestes.)

D a cada pergunta uma resposta lcida;dize primeiro se mataste a tua me.

OrestesMatei-a, sim, e no posso negar o fato.

CorifeuJ nos favorvel uma das trs quedas "Uma das trs quedas": somente aps derribar trs vezes o adversrio um atleta era considerado vencedor na luta livre..

OrestesAinda no ca; por que te vanglorias?

CorifeuRevela, ento, como te atreveste a mat-la.

OrestesDirei: com minha espada cortei-lhe a garganta.

CorifeuQuem te persuadiu? Que conselhos te deram?

Orestes (apontando para Apolo.)Foi este deus que agora minha testemunha.

CorifeuO deus-profeta comandou o matricdio?

OrestesFoi ele, e no me queixarei de meu destino.

CorifeuNo pensars assim aps o veredicto!

OrestesTenho f em meu pai; ele me ajudar!

CorifeuTu, que mataste a tua me, tens f nos mortos?

OrestesEla se maculou em dois assassinatos.

CorifeuMas, como? Explica-te diante dos juzes!

OrestesMatando seu marido, ela matou meu pai!

CorifeuMas vives, e ela j se redimiu morrendo.

OrestesE por que no a perseguiste e a punistecom o doloroso exlio enquanto ela viveu?

CorifeuEm suas veias no corria o mesmo sanguedaquele homem cuja vida ela tirou.

OrestesPensas que eu e ela somos consangneos?

CorifeuQuem seno ela te nutriu no prprio ventre?Renegas, assassino, o precioso vnculoque o mesmo sangue unindo me e filho?

OrestesD-nos agora, Apolo, teu depoimento:explica claramente se quando a mateiagi de acordo com os ditames da justia.No vou negar a prtica do ato em si,mas desejo saber se em tua opinioeste homicdio pode ser justificado;desfaze as minhas dvidas e as dos juizes!

ApoloFalar-vos-ei, membros do egrgio tribunalrecm-institudo pela deusa Atena,seguindo os retos mandamentos da justia(sendo profeta, no posso dizer mentiras).Do alto de meu santo trono oracularjamais pronunciei uma simples palavrafalando a homens ou mulheres ou cidades,que no fosse inspirada pelo prprio Zeus,pai dos deuses olmpicos. Ficai atentos minha ponderosa justificao;exorto-vos a prestar-lhe toda a atenoe a ser submissos vontade de meu pai;juramento nenhum deve prevalecersobre os desgnios de Zeus todo-poderoso.

CorifeuVeio de Zeus, segundo tu mesmo disseste,a determinao oracular a Orestespara vingar o assassinato de seu paisem nada impor em relao sua me?

ApoloSim, veio, pois totalmente diferentea morte de um heri ilustre, respeitadopor ser o detentor do cetro institudograas vontade divina; mais ainda:ele foi atingido por uma mulherno com um arco excepcional de longo alcance,desses usados pelas bravas amazonas,e sim da forma insidiosa que ouvireis,tu, Palas, e vs, os juizes impolutos,sentados nesta corte para decidircom vossos votos a questo em julgamento.O marido voltava de uma guerra longa,depois de vencer quase todas as batalhas;sua mulher o recebeu com falso amor,e levou-o a banhar-se; quando ele saada banheira sinistra, ela o envolveunum longo manto e num instante o abateu,preso naquele pano cheio de bordadoscomo se fosse uma armadilha sem salda.Foi este o fim ignbil de um heri sem par,o comandante-em-chefe de naus incontveis.Minha inteno falando assim despertara justa indignao das pessoas presentesdas quais depende agora a deciso da causa.

CorifeuLevando em considerao tuas palavras,Zeus tem especial estima pelos pais;ele, porm, acorrentou seu prprio pai,o antigo Cronos; como conciliarstua argumentao com a conduta dele? Cronos: antigo rei dos deuses, sucessor de Urano e predecessor de Zeus; este ltimo declarou guerra a seu pai e o destronou, substituindo-o como deus supremo.

(Dirigindo-se aos juizes.)

Conclamo-vos a prestar ateno a isto.

ApoloAh! Monstros execrados por todos os seres,e detestados pelos deuses imortais!Zeus sabe desatar correntes e conheceremdios para todas as situaese numerosos meios para resolv-las;mas quando morre um homem e seu sangue quenteencharca a terra, nada o traz de volta vida.Meu pai no tem contra esse mal recurso algum,ele que pode derribar ou levantartodas as coisas sem a mnima fadiga.

CorifeuAtenta, ento, ao modo pelo qual defendesa inocncia dele: dever Orestes,que derramou no cho o sangue maternal,morar em Argos, no palcio de seu pai?A que altares pblicos de sua ptriaele ter acesso para sacrifcios?Que confraria lhe dar consentimentopara purificar-se com gua lustral?

ApoloResponderei tambm a isso e sabersque todos os meus argumentos so corretos.Aquele que se costuma chamar de filhono gerado pela me - ela somente a nutriz do germe nela semeado -;de fato, o criador o homem que a fecunda;ela, como uma estranha, apenas salvaguardao nascituro quando os deuses no o atingem.Oferecer-te-ei uma prova cabalde que algum pode ser pai sem haver me.Eis uma testemunha aqui, perto de ns-Palas, filha do soberano Zeus olmpico -,

que no cresceu nas trevas do ventre materno;alguma deusa poderia por si mesmater produzido uma criana semelhante Zeus engoliu Mtis, sua primeira mulher divina, que estava grvida de Atena, e quando sentiu chegar a hora do nascimento desta ltima ordenou a Hefesto, deus do fogo, que lhe fendesse a cabea; de l saiu Atena, j crescida e armada.?De minha parte, Palas, sbio como sou,darei glria a teu povo e tua cidade;quanto a Orestes, que chegou at aquicomo teu suplicante, fui seu condutorat a frente de teu templo e tua imagem;ele te traz a sua eterna devooe a segurana de que ters nele mesmoe em todos os seus descendentes no porviros aliados mais fiis aos juramentos.

Atena (dirigindo-se ao Coro das Frias.)Devo chamar, ento, os juizes presentespara depositarem no fundo da urnaseus votos conscientes e bastante justos,j que tudo foi ponderado e dito aqui?

CorifeuJ disparamos todas as flechas que tnhamos;agora s nos interessa o veredicto.

Atena (dirigindo-se a Apolo e a Orestes.)Em relao a vs, que me cumpre fazerpara no merecer vossa reprovao?

Apolo (dirigindo-se aos juzes.)Ouvistes o que ouvistes; ao votar, amigos,lembrai-vos do que vosso corao jurou.

AtenaPrestai toda a ateno ao que instauro aqui,atenienses, convocados por mim mesmapara julgar pela primeira vez um homem,autor de um crime em que foi derramado sangue.A partir deste dia e para todo o sempreo povo que j teve como rei Egeu Egeu: rei mtico de Atenas.ter a incumbncia de manter intactasas normas adotadas neste tribunalna colina de Ares "Colina de Ares": em grego Arepagos, origem do nome do tribunal famoso., onde as Amazonas,iradas com Teseu Teseu: veja-se a nota 29, instalaram seus tronose ergueram suas tendas quando aqui chegaramna tentativa de conquistar a cidade;em frente fortaleza dos atenienseselas ergueram as muralhas altaneirasda nova cidadela; nas proximidadesfizeram santos sacrifcios ao deus Ares,dando por isso elevao rochosao nome preservado de Colina de Ares.Sobre esta elevao digo que a Revernciae o Temor, seu irmo, seja durante o dia,seja de noite, evitaro que os cidadoscometam crimes, a no ser que eles prefiramaniquilar as leis feitas para seu bem(quem poluir com lodo ou com eflvios turvosas fontes claras, no ter onde beber).Nem opresso, nem anarquia: eis o lemaque os cidados devem seguir e respeitar.No lhes convm tampouco expulsar da cidadetodo o Temor; se nada tiver a temer,que homem cumprir aqui os seus deveres?Se fordes reverentes ao poder legtimo,nele tereis um baluarte inexpugnvelde vosso territrio e de vossa cidade,como nenhum povo possui nem l na Ctia Ctia: nome de grande parte da atual Rssia ocidental na antiguidade.,nem mesmo na famosa ptria do heri Plops "Ptria do heri Plops": Peloponeso..Proclamo institudo aqui um tribunalincorruptvel, venervel, inflexvel,para guardar, eternamente vigilante,esta cidade, dando-lhe um sono tranqilo.Eis a mensagem que vos quero transmitir,atenienses, pensando em vosso futuro.Levantai-vos agora de onde estais, juizes,e decidi com vossos votos esta causa.

(Os juzes levantam-se um de cada vez para depositar os votos na urna, enquanto Apolo e o Corifeu altercam.)

CorifeuNossa presena pesar sobre esta terrase tentares privar-nos de nossos direitos!

ApoloDe minha parte, exorto-vos a respeitaras profecias que no so apenas minhas,pois vm de Zeus tambm! No mateis os seus frutos!

CorifeuEsts intrometendo-te em crimes sangrentos,que nada tm a ver com tuas profecias;se persistires no ters os lbios purospara exercer tuas funes oraculares.

ApoloEnto meu pai estava errado quando Ixon Ixon: veja-se a nota 31.,o primeiro assassino, aproximou-se delepedindo proteo como seu suplicante?

CorifeuDisseste estas palavras! Se nos derrotares,nossa presena trar males para Atenas!

ApoloSois desprezadas tanto pelos deuses novoscomo pelos antigos! Vereis meu triunfo!

CorifeuNo palcio de Feres Feres: fundador e rei da cidade de Feras, situada na Tesslia. j agiste assim,persuadindo as Parcas a dar vida eternaa criaturas destinadas a morrer.

ApoloNo pensais que justo ser benevolentecom quem nos dirige uma prece reverente,ainda mais quando precisa de socorro?

CorifeuAnulas a partilha feita h muito tempoe enganas com teu vinho antigas divindades!

ApoloDesgosta-vos a deciso a ser tomadae apenas cuspireis sobre quem vos enfrentaum veneno de agora em diante inofensivo.

CorifeuSentes prazer em humilhar nossa velhice,deus novo; espero ouvir o veredicto aqui,freando a minha ira contra esta cidade.

AtenaSerei a ltima a pronunciar o votoe o somarei aos favorveis a Orestes Esta a origem da expresso "voto de Minerva" (a deusa da mitologia romana equivalente a Atena)..Nasci sem ter passado por ventre materno;meu nimo sempre foi a favor dos homens, exceo do casamento; apio o pai.Logo, no tenho preocupao maiorcom uma esposa que matou o seu marido,o guardio do lar; para que Orestes vena,basta que os votos se dividam igualmente.

(Dirigindo-se aos juzes.)

Depositai depressa os votos nesta urna,juzes incumbidos de uma deciso.

(Os juizes depositam e pouco depois tiram os votos da urna e os separam diante de Atena.)

OrestesAh! Febo Apolo! Qual ser o veredicto?

CorifeuAh! Noite negra, nossa me! Vs tudo isto?

OrestesDegolam-me ou inda verei a luz do dia?

CorifeuE para ns a runa, ou conservar aindanossas prerrogativas imemoriais?

Apolo (dirigindo-se aos juizes.)Contai exatamente os votos, meus amigos;ao separ-los evitai erros ou fraude.Um voto a menos pode provocar desastrese um voto a mais pode ressuscitar um lar.

(Os votos so mostrados a Atena.)

Atena (apontando para Orestes.)Ele foi absolvido de um crime de morte!Os votos dividiram-se em somas iguais.

(Sai Apolo.)

OrestesAtena, deusa salvadora de meu lar!Depois de expulso at da terra de meus pais,graas a ti ela me ser devolvida!Ah! Finalmente poderei ouvir dos gregos:"Orestes hoje volta a ser um dos argivose o dono do palcio em que seu pai morou!"Graas a Palas e a Loxias, e tambmgraas a Zeus, o meu terceiro salvador,que sempre ressentido por causa da mortede meu querido pai e vendo a insistnciadas Frias em querer vingar a minha me,neste momento me concede a salvao!

(Dirigindo-se a Atena)

Quero fazer o juramento mais solene,eternamente vlido, em tua cidadee na presena de teu povo generosoneste momento em que recupero meu lar:jamais um homem investido no poderem Argos, que meu reino, empunhar as armascontra tua cidade; eu mesmo, de meu tmulo,provocarei a perdio dos transgressoresdo santo juramento feito neste instante,lanando sobre eles males sem remdio,tirando-lhes o nimo durante a marchae pondo em sua rota lgubres pressgios,levando-os a desistirem de seus planos,Se, ao contrrio, houver o devido respeitos minhas palavras juradas e os argivoshonrarem para sempre a cidade de Palas,e a socorrerem como fiis aliados,hei de favorec-los por todos os sculos. Os heris, mesmo depois de mortos, podiam favorecer o seu povo, principalmente em feitos marciais.Digo-te adeus agora e tambm me despeode teu valente povo! Habitantes de Atenas!Desejo que nas lutas contra os inimigosnenhum destes se salve, e vossas investidasvos tragam salvao e vitria na guerra!

(Sai Orestes.)

CoroAh! Deuses novos! Como espezinhaisas leis antigas, pois arrebataisde nossas mos o que sempre foi nosso!E ns, infortunadas e menosprezadas,faremos com que este solo sintao peso todo de nosso rancor!Ai! Ai de ns! Nosso mortal venenovai ser a arma de cruel vingana!As gotas, destiladas uma a umapor nossos coraes, custaro caroa este povo e sua cidade;uma praga mortal sair delas,fatal a todos os frutos da terrae aos vossos filhos! Ah! Nossa vingana!Caindo sobre vosso cho, a pragaser a runa deste territrio!Gememos sem saber o que fazer!Ah! Ns, filhas da tenebrosa Noite,sofremos a maior humilhao!

AtenaOuvi-me: basta de soluos aflitivos!No vos considereis vencidas, pois da urnasaiu uma sentena ambgua, cujo efeito pura e simplesmente dar fora verdademas sem vos humilhar. Zeus todo-poderosomandou sinais capazes de causar espanto,anunciando ao prprio Orestes que seu atono acarretaria castigos divinos.Vossa vontade derramar sobre esta terraa vossa ira; peo-vos que reflitaisem vez de agir obedecendo aos vossos mpetos;no insistais em tornar este solo estrildeixando transbordar de vossos lbios sacrosuma espuma raivosa que destruiriatodos os germes produtores de alimentos.Desejo oferecer-vos de maneira justaasilo e proteo nesta cidade; aqui,no trono de vossos altares reluzentes,tereis assento e o respeito de meu povo.

CoroAh! Deuses novos! Reduzis a nadaas leis antigas, pois estais tirandode nossas mos o que sempre foi nosso!E ns, infortunadas e aviltadas,faremos com que este solo sintao peso todo de nosso rancor!Ai! Ai de ns! Nosso mortal venenovai ser a arma de cruel vingana!As gotas, destiladas uma a umapor nossos coraes, custaro caroa este povo e sua cidade;uma praga mortal sair delas,fatal a todos os frutos da terrae aos vossos filhos! Ah! Nossa vingana!Caindo sobre vosso cho, a pragaser a runa deste territrio!Gememos sem saber o que fazer!Ah! Ns, filhas da tenebrosa Noite,sofremos a maior humilhao!

AtenaNo fostes humilhadas; deveis evitarque vossa imensa clera vos estimulea perseguir encarniadamente os homens!Deixai que a terra escute as preces deles, deusas!Mas meu apoio Zeus e - por que no dizer? -apenas eu entre todas as divindadessei a maneira de abrir o compartimentoonde os raios divinos estio encerrados(aqui, porm, eles no nos so necessrios).Exorto-vos a crer sinceramente em mim!Que vossas bocas furiosas nunca maislancem sobre este solo frtil maldiescapazes de matar tudo que existe aqui!Deixai adormecer o lacerante mpetodessa torrente de rancor e recebeias honrarias que vos cabem por direito!Vinde viver comigo aqui e neste solo;a partir deste dia todas as primcias,as oferendas todas pelos nascimentose pelos himeneus vos sero reservadas!Ouvi-me e sempre louvareis o meu conselho!

CoroNs, deusas muito antigas, no queremoster esta sorte e residir aquicomo seres impuros e malditos!No! Todas ns estamos respirandoa mais intensa clera e vingana!Ah! Terra e cu! Ah! Quanto sofrimentoinvade agora nossos coraes!Ouve-nos, Noite! Ouve-nos, nossa me!Deuses maliciosos e perversosdespojam-nos de nossas honrarias,nunca negadas e hoje suprimidas!

AtenaPerdoarei a vossa clera incontida,pois j vivestes realmente muito tempo.Mas, se vosso conhecimento excede o meu,Zeus me dotou tambm de alguma sapincia.Se preferirdes ir para terras distantes,lamentareis por no terdes ficado aqui.Agora ireis ouvir a minha profecia:o tempo, em seu fluxo incessante, h de trazerglrias inda maiores para minha Atenas,e vs, de vosso trono em solo esplendoroso,ao lado da morada do rei Erecteu Erecteu: antigo rei de Atenas.vereis chegarem numerosas procissesde homens e mulheres para vos trazerempresentes que em outros lugares no tereis.Mas, quanto a vs, quero pedir-vos um favor:no empunheis esses sangrentos aguilhesque dilaceram peitos jovens, e sem vinhoos embriagam em furores delirantes.Tambm espero que no seja vosso intuitoexacerbar, como se os homens fossem galos,a clera no corao dos cidadose neles instilar a sede de homicdiosque lana irmos insanamente contra irmosat lev-los ao extermnio recproco;deixai que eles preservem sua valentiapara lutar contra inimigos estrangeiros,sempre ao alcance de quem traz no coraoum desejo febril de glria verdadeira,mas no queremos ter noticia em tempo algumde pssaros lutando na mesma gaiola.Aqui est o que podeis obter de mim:fazer e receber o bem e ser benditase veneradas numa terra mais que todasquerida pelos deuses, da qual vs sereisdesde este dia distinguidas cidads.

CoroNs, deusas muito antigas, no queremoster esta sorte e residir aquicomo seres impuros e malditos.No! Todas ns estamos respirandoa mais intensa clera e vingana!Ah! Terra e cu! Ah! Quanto sofrimentoinvade agora nossos coraes!Ouve-nos, Noite! Ouve-nos, nossa me!Deuses maliciosos e perversosdespojam-nos de nossas honrarias,nunca negadas e hoje suprimidas!

AtenaJamais me cansarei de tentar convencer-vosde que vos convm aceitar minhas promessas;no quero que penseis que eu, deusa mais nova,e os muitos habitantes de minha cidade,tivemos a inteno de expulsar desta terradeusas antigas em vez de homenage-las.Se venerais a sagrada Persuaso,que faz minhas palavras parecerem mgicase cheias de doura, concordai comigoe sede para todo o sempre minhas hspedes.Mas, se no concordardes, sereis certamenteinquas, deixando cair sobre a cidadedio, rancor e males contra os habitantes,pois tendes minha permisso para gozarde todos os direitos de cidadania,glorificadas entre ns eternamente.

CorifeuMas, onde moraremos, soberana Atena?

AtenaNum lugar onde no h penas; aceitai-o!

CorifeuSe o aceitarmos, como nos distinguiro?

AtenaSem vossa beno, nenhum lar prosperar.

CorifeuTeremos com certeza todo este poder?

AtenaS tero minha proteo vossos devotos.

CorifeuE manters tua palavra para sempre?

AtenaNada me obriga a prometer o que no quero.

CorifeuAbrandas meu rancor e renuncio ao dio.

AtenaFicando aqui, conquistareis novos amigos.

CorifeuQue bnos deveremos invocar agorapara tua cidade em nossos hinos? Dize!

AtenaAquelas que trazem vitrias sem tristeza.Que soprem sobre esta cidade brisas calmasvindas da terra, do profundo mar, do cu,sob os raios propcios do brilhante sol!Que o solo rico e os rebanhos nunca deixemde dar prosperidade ao povo ateniense!Que a semente dos homens seja protegida!Que os descuidosos da venerao dos deusessejam ceifados sem nenhuma piedade,pois como um jardineiro sempre cuidadosogosto de ver os mortais justos prosperaremcomo uma plantao livre de ervas daninhas.Ai esto as bnos que vs nos trareis.Quanto s lides guerreiras, cuidarei eu mesmade que elas sempre glorifiquem a cidadeproporcionando-lhe vitrias de seus homens.

CoroEnto queremos conviver com Palase nunca aviltaremos a cidadeque ela e Zeus onipotente e Aresexaltam como invicta fortaleza,brilhante baluarte dos altaressantificados por todos os deuses!Alamos nossos votos fervorosose nossas profecias mais propiciaspara que o vivido esplendor do solfaa brotar da terra generosa,em transbordante e eterna plenitude,as bnos que tornam feliz a vida!

AtenaLevada pelo amor a este povo,deixo com ele as deusas poderosasmas de trato difcil; seu encargo dirigir a vida dos mortais.Quem no pautar a conduta na vidapelos ditames destas divindadestemveis por seu poder inconteste,no poder compreender a origemdos golpes que recebe em sua vida.Por causa dos pecados de seus pais,os homens so levados a enfrent-lase a morte muda, embora suas vtimastentem det-las com palavras speras,destri-as em obedincia apenasao rancor implacvel destas deusas.

CoroQue nunca os ventos cheios de miasmassoprem para matar as vossas plantas!Graas a ns o fogo irresistvel,cujo calor consome a florao,nunca ultrapassar vossas fronteirase o triste mal destruidor das frutasno se aproximar de vossas rvores!Que os campos generosos sempre aumentemas vistosas ovelhas fecundadaspara terem belos cordeiros gmeosquando chegar a hora prefixada!E praza aos cus que as riquezas guardadasno solo cheio de grandes tesourosvos permitam retribuir aos deusesas ddivas do ganho inesperado!

AtenaOuvistes, guardies desta cidade,o que elas devero fazer por vs?Grande poder tm as augustas Friasjunto aos deuses do Olimpo e mais aindas divindades do profundo inferno.Para os mortais so elas que, sem dvidae plenamente, do a uns razespara cantar e a outros para o pranto.

CoroLivramo-vos da morte prematuraque ceifa impiedosamente os jovens.Vs, que determinais a vida humana,divinas Parcas Parcas: em grego Mirai, divindades responsveis pelo destino de cada mortal. As Parcas eram trs: tropos, Clot e Lquesis; eram filhas da Noite, como as Frias., filhas como nsda negra Noite, distribuidorasda eqidade, vs que sois os rbitrosda sorte de todas as criaturas,proporcionai s virgens a venturade ter um dia esposos a seu lado!Vs, que tendes lugares exclusivosnos lares, confirmai vossa presenade paladinas da sacra justia,deusas mais respeitadas neste mundo!

AtenaAlegra-me que com bons sentimentosvs concordeis em confirmar as bnospara minha cidade; manifesto-megrata Persuaso, cujos olharesguiaram minha voz e os lbios meusem face de vossa feroz recusa.Prevaleceu a vontade de Zeus,inspirador de todas as palavras,e minha pertincia benfazejatriunfa para toda a eternidade.

CoroJamais possa a discrdia insacivelvociferar possessa na cidade,e o p da terra nunca mais absorvao sangue escuro de seus prprios filhospor causa de paixes inspiradorasde lutas fratricidas oriundasda nsia irresistvel de vinganaque leva os homens destruio!Possam as criaturas, ao contrrio,trazer contentamento umas s outras,unnimes no amor e no rancor!Esta a cura de males sem nmeroque afligem a existncia dos mortais.

AtenaPoder-se- dizer que descobristesa via dos desejos amistosos?Vossos rostos esqulidos prometemgrandes vantagens para este povo.Se vosso amor responde ao seu amore fordes veneradas para sempre,mostrar-vos-eis unnimes ao mundo,levando minha terra - esta cidade -pelos caminhos retos da justia.

CoroSede felizes na posse dos bensabenoados da prosperidade!Sede felizes, cidados de Atenas,sentados perto da Virgem de Zeus "Virgem de Zeus": Atena,prestando-lhe as devidas homenagensenquanto aprendeis a sabedoriaa cada dia; quem protegidopelas asas de Palas, ter semprea considerao de Zeus, seu pai.

ATENA

Sede tambm felizes! Marcharei vossa frente para vos mostrarvossa morada, sob as santas luzesda procisso que dever seguir-nos;levai convosco pias oferendas,descei para as profundezas da terra,retende longe de ns todo male mandai-nos de l muita ventura,para o triunfo constante de Atenas!E vs, senhores de minha cidade,filhos de Crnaos Crnaos: segundo rei de Atenas., mostrai a rotaa estas recm-vindas habitantes.Que os cidados, para seu beneficio,tenham somente pensamentos bons!

CoroTornamos a dizer: sede felizes,vs todos que morais nesta cidade,mortais ou deuses; ela de Palas;pedimos-lhe que seja reverentej que nos outorgou cidadania;e vs em tempo algum vos queixareisda sorte que o destino vos reserva!

AtenaMerece aplausos vossa invocaoe vos conduzirei luz brilhantede tochas at vossa residncianas entranhas da terra, em companhiade minhas seguidoras, guardisde minha imagem consagrada.Os olhos da terra de Teseu Veja-se a nota 29. iro conosco-cortejo glorioso de matronas,

de virgens e mulheres venerveis.Adornai-vos com vestidos de prpurae destacai o fogo destas tochaspara que a companhia generosadas novas cidads nos traga semprea bno de excelentes geraes.

ProcissoMarchai frente, divindades fortes,filhas sem filhos da fecunda Noite,sedentas de homenagens, ombreandocom um cortejo composto de amigosat chegar gruta subterrnea.- Pronunciai bons votos, habitantes! -L vos esperam santas oferendase sereis cultuadas como deusas.- Pronunciai bons votos, habitantes! -Propcias e leais a esta terra,segui vosso caminho, augustas deusas;rejubilai-vos com a luz das tochasque, afogueadas, indicam a rota.- Gritai agora, obedecendo aos ritos,numa resposta ao nosso canto estridulo!

(Grilo prolongado.)

O povo preferido por Atenaacaba de ganhar a paz aquipara a felicidade de seus lares,e assim vemos selar-se a unioentre as Parcas e Zeus onividente!-Gritai agora, obedecendo aos ritos,

numa resposta ao nosso canto estrdulo!

(Grito prolongado.)

FIM