Estudo de caso e comparações internacionaisaso e Comparações Internacionais - Giovana Rossi

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ECO Universidade Federal de Viçosa Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes Departamento de Economia Eco 449 - Política industrial e tecnológica Prof.a. Giovana F. Rossi 2010/2 Aula: Estudo de caso e comparações internacionais Tecnologia, aprendizado e Inovação Linsu Kim e Richard R. Nelson (orgs.) Campinas, SP: Editora Unicamp, 2005 1. Introdução "Nas décadas de 1950 e 1960, diversos estudos tentaram medir a contribuição da mudança tecnológica para o crescimento econômico em países que produziam nas fronteiras da tecnologia." i "Mais recentemente, vários economistas dirigiram sua atenção para os mecanismos do avanço tecnológico no desenvolvimento de economias que, inicialmente, ao menos, estavam muito aquém dessas fronteiras." "Desde o inicio dos anos 1960, países como Coréia do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong Kong transformaram-se de economias pobres e tecnologicamente atrasadas em economias afluentes e relativamente modernas. Cada um deles possui agora um significativo conjunto de empresas industriais, fabricando produtos tecnologicamente complexos e competindo eficazmente contra empresas estabelecidas em países industrialmente avançados." "A rápida industrialização das EIRs nas décadas de 1960 e 1970 originou-se em boa parte da imitação - isto é, da engenharia reversa de tecnologias estrangeiras já existentes. Quando produtos relativamente simples estão envolvidos, a engenharia reversa não requer investimentos especializados em P&D. Dá-se apenas um baixo nível de aprendizado, pois as empresas não precisam gerar novos conhecimento. No entanto, mesmo a engenharia reversa elementar raramente ocorre no vazio. Entre as atividades abrangidas pela engenhariareversa, incluem-se as que percebem as necessidades potenciais do mercado, as que localizam o conhecimento ou os produtos que podem satisfazer as necessidades do mercadoieas atividades capazes de introduzir esses dois elementos em um novo projeto. A engenharia reversa também envolve a busca intencional de informações relevantes, interações eficazes entre os membros técnicos de uma equipe de projeto e os departamento de marketing e de produção, além de interações eficazes com outras organizações, corno fornecedores, clientes e - para produtos e tecnologias mais complexos - institutos de P&D e universidades locais. Tais atividades requerem uma disposição de assumir riscos e de aprender a partir da experiência. Um aprendizado abrangendo tentativas, erros e novas tentativas é o que geralmente se espera para a obtenção de um resultado satisfatório." 2. Desenvolvimento teórico 2.1. A natureza do aprendizado tecnológico empresarial "Os países em desenvolvimento obtêm suas tecnologias industriais, sobretudo do mundo industrializado, e seu principal problema tecnológico, ao menos de início, consiste em dominar, adaptar e aperfeiçoar os conhecimentos e os equipamentos importados. (...) A 1

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ECOUniversidade Federal de ViçosaCentro de Ciências Humanas, Letras e ArtesDepartamento de EconomiaEco 449 - Política industrial e tecnológicaProf.a. Giovana F. Rossi2010/2

Aula: Estudo de caso e comparações internacionaisTecnologia, aprendizado e InovaçãoLinsu Kim e Richard R. Nelson (orgs.)Campinas, SP: Editora Unicamp, 2005

1. Introdução

"Nas décadas de 1950 e 1960, diversos estudos tentaram medir a contribuição da mudançatecnológica para o crescimento econômico em países que produziam nas fronteiras datecnologia." i"Mais recentemente, vários economistas dirigiram sua atenção para os mecanismos doavanço tecnológico no desenvolvimento de economias que, inicialmente, ao menos,estavam muito aquém dessas fronteiras.""Desde o inicio dos anos 1960, países como Coréia do Sul, Taiwan, Cingapura e HongKong transformaram-se de economias pobres e tecnologicamente atrasadas em economiasafluentes e relativamente modernas. Cada um deles possui agora um significativo conjuntode empresas industriais, fabricando produtos tecnologicamente complexos e competindoeficazmente contra empresas estabelecidas em países industrialmente avançados.""A rápida industrialização das EIRs nas décadas de 1960 e 1970 originou-se em boa parteda imitação - isto é, da engenharia reversa de tecnologias estrangeiras já existentes. Quandoprodutos relativamente simples estão envolvidos, a engenharia reversa não requerinvestimentos especializados em P&D. Dá-se apenas um baixo nível de aprendizado, poisas empresas não precisam gerar novos conhecimento. No entanto, mesmo a engenhariareversa elementar raramente ocorre no vazio. Entre as atividades abrangidas pelaengenhariareversa, incluem-se as que percebem as necessidades potenciais do mercado, asque localizam o conhecimento ou os produtos que podem satisfazer as necessidades domercadoieas atividades capazes de introduzir esses dois elementos em um novo projeto. Aengenharia reversa também envolve a busca intencional de informações relevantes,interações eficazes entre os membros técnicos de uma equipe de projeto e os departamentode marketing e de produção, além de interações eficazes com outras organizações, cornofornecedores, clientes e - para produtos e tecnologias mais complexos - institutos de P&De universidades locais. Tais atividades requerem uma disposição de assumir riscos e deaprender a partir da experiência. Um aprendizado abrangendo tentativas, erros e novastentativas é o que geralmente se espera para a obtenção de um resultado satisfatório."

2. Desenvolvimento teórico

2.1. A natureza do aprendizado tecnológico empresarial

"Os países em desenvolvimento obtêm suas tecnologias industriais, sobretudo do mundoindustrializado, e seu principal problema tecnológico, ao menos de início, consiste emdominar, adaptar e aperfeiçoar os conhecimentos e os equipamentos importados. (...) A

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transferência bem-sucedida de tecnologia pode ser um processo demorado, envolvendo oaprendizado local para a conclusão das transação."

Dez importantes características do desenvolvimento tecnológico:1. "O aprendizado constitui um processo real e significativo. Ele é vital para odesenvolvimento industrial, sendo, essencialmente, consciente e intencional em vez deautomático e passivo."2. "As empresas não dispõem de informações completas sobre alternativas e funçõestécnicas, apresentando um conhecimento imperfeito, irregular e nebuloso das tecnologiasque utiliza. (...) Cada empresa possuí uma diferente experiência de aprendizado,dependendo de sua situação inicial e de seus esforços posteriores."3. "As empresas podem não saber como desenvolver as aptidões necessárias; o pró' rioaprendizado muitas vezes tem de ser aprendido. (...) Assim, as empresas podem não sercapazes de avaliar se, quando, como e a que custo elas poderiam aprender o suficiente parase tornarem plenamente competitivas, mesmo nos casos em que a tecnologia forperfeitamente conhecida e estiver plenamente desenvolvida alhures. Isto se acrescenta àincerteza e ao risco inerentes ao processo de aprendizado. (...) As dimensões do custo e dorisco dependem de quão nova é a tecnologia em relação à base de conhecimento daen1.presa iniciante, do grau de desenvolvimento de fatores subjacentes dos mercados, dasprofundidade a que a empresa deseja chegar em seu aprendizado, e de quão rápidas for amudança da própria tecnologia."4. "As empresas enfrentam essas condições incertas não por meio da maximização de umafunção-objetivo bem definida, mas pelo desenvolvimento de rotinas organizacionais eadministrativas satisfatórias, ajustando-as ao longo do tempo, conforme forem reunindonovas informações, aprendendo a partir das experiência e imitando outras empresas." (...)Uma vez adoradas, as trajetórias tecnológicas são difíceis de ser modificadas subitamente,em nível tanto nacional quanto empresarial, e os padrões de especialização tendem apersistir durante longos períodos."5. "O processo de aprendizado é altamente específico à tecnologia, já que às tecnologiasdiferem muito quanto a suas exigências de aprendizado. Por exemplo, algumas tecnologiaspodem estar mais incorporadas nos equipamentos, ao passo que outras possuem maiselementos tácitos. (...) nesse sentido, é possível pensar a respeito de tecnologias fáceis edifíceis. (...) As aptidões desenvolvidas numa atividade industrial talvez não sejamfacilmente transferíveis para outra, assim como as políticas para promover o aprendizadoem relação a uma atividade talvez não sejam muito úteis em uma outra."6. "Diferentes tecnologias podem também apresentar vários graus de dependência nainteração com fontes externas de conhecimento ou informação - como outras empresas,consultores, fornecedores de bens de capital ou instituições de pesquisa tecnológica."7. "O desenvolvimento de aptidões envolve esforços em todos os níveis - chão da fábrica,processos, engenharia de produto, gerência de qualidade, manutenção, compras, controlede estoque, logística exterior - e relações com outras empresas e instituições. As inovações,no sentido convencional das atividades de P&D formais, levam a novos produtos ouprocessos e se encontram em uma das extremidades do espectro das atividadestecnológicas, mas não as esgota. (...) A maior parte do aprendizado dos países emdesenvolvimento aparece nessas atividades técnicas triviais e em similares. No entanto, aP&D formal toma-se cada vez mais importante em tecnologias mais complexas, cujaabsorção eficiente requer pesquisas e experimentações específicas."8: "O desenvolvimento tecnológico pode ocorrer num determinado processo deaprendizado, em diversos graus de profundidade. A obtenção de um nível mínimo deaptidões operacionais (know-how) é essencial para toda atividade produtiva. Embora difícilde ser obtido, dependendo da tecnologia e do estoque inicial de aptidões, isto pode não

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levar automaticamente ao desenvolvimento de aptidões mais profundas - isto é, acapacidade de entender os princípios da tecnologia (kow-why). (...) A longo-prazo, issotalvez não seja ideal para o desenvolvimento das aptidões da empresas, pois estapermanecerá dependente de outras empresas em relação a todos os principaisaperfeiçoamentos de suas tecnologias.""Embora haja exceções, dependendo dos custos envolvidos, o desenvolvimento do know-why é um elemento importante do aprendizado em geral. "9. "O aprendizado tecnológico numa empresa não acontece de modo isolado; o processoestá repleto de externalidades e interconexões"."Finalmente, as interações tecnológicas acontecem tanto dentro de um países, quanto comoutros países. A tecnologia importada proporciona o mais importante input inicial para oaprendizado tecnológico dos países em desenvolvimento. Uma vez que as tecnologiasmudam constantemente, o acesso a fontes externas de inovação permanece essencial aoprogresso tecnológico contínuo. (...) O esforço tecnológico local e a importação detecnologia são em boa parte complementares.""Nesse caso, a principal distinção é a que se dá entre modos internalizados (dentro de umaem.presa multinacional) e modos externalizados (através de licenciamentos e outros) detransferência tecnológica. De forma geral, os modos internalizados são muito eficientespara a transferência de know-how, mas menos eficazes para a transferência de lmow-why.Os modos externalizados são mais eficazes para a geração local de know-why, mas talvezsejam mais dispendiosos a curto-prazo para o acesso ao know-how, e não permitem acessoa novas tecnologias que não estejam a venda.""Para os países em desenvolvimento continua' sendo importante aprofundar sua basetcnológica neste mundo globalizado. Quando a competitividade internacional se torna aprincipal consideração para atrair novos investimentos diretos e de alto valor agregado doexterior, os países devem oferecer locais de produção que tenham não apenas baixossalários; mas também capacidade técnica e gerencial entre as melhores do mundo."

2.2. Da imitação à inovação

"Schanaar (1994) classificou os diversos tipos de imitação em: imitações duplicativas -falsificação ou produtos piratas, cópias baratas de produtos caros ou clones -, cópias dedesign, adaptações criativas, saltos tecnológicos e adaptações para outros tipos deindústrias.'.'"No plano tecnológico, a imitação duplicativa não oferece vantagens competitivassustentáveis para o imitador; mas, em termos de preços, representa uma vantagemcompetitiva se os custos salariais do imitador forem significativamente inferiores aos docriador. Por essa razão, a imitação duplicativa, na medida em que for legal, constitui umaestratégia sagaz na industrialização inicial de países com baixos salários à procura de seudesenvolvimento; nos casos em que a tecnologia envolvida está plenamente desenvolvida eprontamente disponível, a imitação duplicativa das tecnologia plenamente desenvolvidatorna-se relativamente fácil de empreender.""Mas a imitação duplicativaisoladamente não é suficiente para uma EIR avançar em suaindustrialização. Tanto a imitação criativa corno a inovação requeridas não apena-s paraatualizar as indústrias existentes, mas também para enfrentar em países avançados novasindústrias. As cópias de design, a adaptação criativa, o salto tecnológico e a adaptação paraoutro tipo de indústria são imitações criativas. (...) A adaptação criativa é inovadora nosentido de que se inspira em produtos existentes, mas difere desses produtos. O saltotecnológico pode beneficiar um integrante tardio, quando o recém-chegado obtém acesso a

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uma tecnologia mais nova e a utiliza com uma compreensão mais exata do mercado emcrescimento do que aquela do inovador original.""Define-se a inovação como uma atividade precursora, originalmente enraizada nascompetências internas da empresa, para desenvolver e introduzir um novo produto nomercado pela primeira vez. Contudo, a distinção entre inovação e imitação criativa é algonebulosa. A maioria das inovações não envolve grandes rupturas, mas está profundamenteenraizada em idéias já existentes."

3. Retrospecto da experiência asiática

Apesar de elementos pouco promissores, os países asiáticos conseguiram gerar um rápido eeficiente crescimento industrial. O que explica esse crescimento?"Esse sucesso foi o resultado de diversos aspectos inter-relacionados, incluindo: (1) suaabertura ao conhecimento estrangeiro, e sua capacidade e disposição de vincular-se aosmercados internacionais de tecnologia; (2) as pressões exercidas sobre as empresas para queelevassem sua produtividade (para continuar a aumentar suas exportações, em vez deusarem o conhecimento obtido para extrair rendas da economia nacional), criando, dessemodo, uma demanda por tecnologias estrangeira; e (3) o incremento da alta produtividadeda tecnologia estrangeira, através de sua disseminação e de uso bem-sucedido por umaforça de trabalho local devidamente educada."

3.1. O início do desenvolvimento industrial

"Os países que tentassem emular o modelo de crescimento das EIRs teriam de das ênfase,no estágio inicial de sua industrialização, ao ensino básico de alta qualidade e amplamenteacessível. Simultaneamente, precisaria ocorrer uma lenta acumulação de aptidõessuperiores, a fim de permitir uma eventual transição para um crescimento mais complexo."

3.2. O desenvolvimento industrial mais complexo

"Os países que obtiverem êxito nos estágios iniciais do desenvolvimento, concentrando-seem produtos relativamente intensivos em trabalho, enfrentarão eventualmentecircunstâncias modificadas, requerendo novas posturas. Os níveis salariais começarão asubir, tomando-se necessária uma mudança para áreas de produção menos intensivas em.trabalho.""As estratégias adequadas, outra vez com base na experiências das EIRs, parecem estar naabertura à tecnologia estrangeira, no estímulo à P&D local e em melhorias das educação.""Com a necessidade de as empresas identificarem novos processos e novas áreas deproduto nas quaispossam competir, haverá uma maior demanda de trabalhadores cujaeducação lhes permita perceber as tendências do mercado mundial e lidar com rápidasmudanças. Nesse estágio, um nível mais elevado de nível médio e, talvez, de diplomados deterceiro ciclo, pode tornar-se um fator facilitador das mudanças necessárias na produção.Alguns graduados do ensino superior tomam-se importantes, especialmente os educadosem ciências e engenharia, cujas capacidades de acompanhar o conhecimento internacionaltomam-se maiores à medida que boa parte do conhecimento foi apresentando uma basecientífica diferente daquela que caracterizava o estágio inicial de desenvolvimento. (...)Assim surge a necessidade de uma maior força de trabalho local altamente educadas para

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poder identificar, avaliar e aperfeiçoar a tecnologia estrangeira. Essa classe de pessoasrequer um tempo razoavelmente longo para se desenvolver.""Deve-se enfatizar que as habilidades relevantes estão na ciência e tecnologia, e não nodireito ou nas humanidades."

3.3.As forças e fraquezas da ciência, das tecnologia e da inovação das EIRs asiáticas

"( ...) o processo de mudança tecnológica nas EIRs asiáticas tem sido geralmente mais umaquestão de aquisição e melhoria de aptidões tecnológicas do que de inovação na fronteirado conhecimento.""A identificação e o amparo de tecnologias-chave foram algumas das principais iniciativaspolíticas perseguidas pelas EIRs de Leste Asiático (setor eletrônico)""Num estudo da competitividade em alta tecnologia abrangendo 28 países, Porter et al.(1996) desenvolveram três indicadores: posição (produção atual de alta tecnologia ecapacidade de exportação); ênfase 9a extensão pela qual as exportações de um paísdependem de alta tecnologia); e a taxa de mudança da posição."

4. O papel da política científica e tecnológica no desenvolvimento industrial da Coréia doSul

"No estudo do desenvolvimento industrial sul-coreano, o papel das políticas de C&T nãorecebeu tanta atenção quanto o da política industrial. Contudo, a política de C&Tdesempenhou uma função importante que continua a crescer desde o estágio inicial dodesenvolvimento industrial. O estabelecimento das aptidões tecnológicas das empresas sul-coreanas deve-se em grande parte a um forte compromisso governamental.""Jinjoo Lee et al, (1988) identificam três estágios de desenvolvimento tecnológico no cursodo desenvolvimento industrial: o estágio da imitação, o estágio das internalização e oestágio da criação. No primeiro estágio, a imitação da tecnologia estrangeira é o principalmeio de aquisição de aptidões tecnológicas. O estágio de internalização tem início quandoos engenheiros locais tornam-se capazes de desenvolver produtos ou construir novasfábricas por meio de esforços locais, ou quando bens produzidos no país tornam-sesuperiores em termos técnicos aos produtos manufaturados em países estrangeiros. Oestágio da criação começa quando um país torna-se capaz de introduzir produtos líderes nomercado e tecnologia central de ponta."

4.1. O estágio da imitação

"A política tecnológica no estágio da imitação pode ser resumidas como segue. Emprimeiro lugar, a Coréia do Sul comprometeu uma parcela relativamente grande do seuorçamento governamental para estabelecer a infra-estrutura de C&T. os institutos públicosque consumiam a maior parte dos investimentos governamentais em C&T constituíramuma importante inovação institucional. Em segundo lugar, a políticaindustrial, o lado dasdemanda de tecnologia, desempenhou papel mais decisivo no estabelecimento das aptidõestecnológicas dos setores industriais estratégicos. A política de C&T, no entanto, não seligou intimamente à política industrial. Em terceiro lugar, a política em relação ao IDE foiseletiva. Em outras palavras, apenas os investimentos que satisfaziam as diversas restriçõesgovernamentais tinham permissão de ingresso."

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4.2. O estágio da internalização

"O principal tema de C&T, do estágio das internalizaçâo, pode ser sintetizado comoaumento da capacidade das empresas privadas em relação à inovação. Os incentivos fiscaise financeiros para dispêndios em P&D e desenvolvimento da força de trabalho foramreforçados a fim de ajudar os esforços das empresas privadas em sua acumulação decapacidade interna de P&D. Estimulou-se a aquisição de tecnologia por meio de IDE econtratos de licenciamento, o governo reduziu significativamente as barreiras de acessopara o IDE; foram também reduzidas as medidas de regulamentação para o controle daqualidade do IDE e do licenciamento de tecnologia.""O papel do governo como provedor de tecnologia passou a ser menos enfatizado.Durante a década de 1980, não cresceram a razão entre o investimento governamental emP&D e o PNB, nem a participação do investimento governamental em P&D no total desua dotação orçamentária. Para ser mais exato, a razão declinou na primeira metade dadécada de 1980 e recuperou-se na segunda. O investimento governamental em P&Ddeixou de aumentar, principalmente devido à política de 'pouco governo' da década de1980. Contudo, isso também refletiu uma significativa mudança na atitude dosformula dores de política em relação a P&D governamental, pois começaram a dar maistenção à eficácia dos investimentos."

4.3.. O estágio da criação

"Nesse estágio, o principal objetivo da política de C&T foi o estabelecimento de sistemasnacionais de inovação similares aos encontrados nos países mais avançados. Odesenvolvimento equilibrado das aptidões de pesquisa entre ramos industriais, entidadesacadêmicas e instituições públicas de pesquisa tornou-se um importante objetivo politico.Além disso, enfatizou-se a implantação de redes (networking) entre os principais atoresenvolvidos em P&D.""Uma mudança notável nesse estaglo com respeito à transferência de tecnologia foi aglobalização das empresas sul-coreanas.""à medida que a estratégia tecnológica sul-coreana foi mudando das imitação para ainovação, a proteção dos direitos de propriedade intelectual passou a receber uma crescenteatenção. No estágio de imitação, não se considerava importante a proteção a esses direitos,pois a Coréia do Sul gerava poucas patentes ou outras formas de propriedade intelectual.Em vez disso, o governo sul-coreano procurou minimizar a proteção a esses direitos a fimde ajudar as empresas locais a utilizar a propriedade intelectual estrangeira. A legislação e asdemais normas vigentes foram formuladas para satisfazer padrões internacionais mínimos;além disso, o cumprimento da legislação não era muito rigoroso."

4A Lições da experiência sul-coreana:

"Em primeiro lugar, o direcionamento industrial desempenhou papel importante noestabelecimento das aptidões tecnológicas do setor produtivo sul-coreano.""Em segundo lugar, o direcionamento tecnológico não produziu resultados satisfatórios;ele se originou oficialmente pela criação dos projetos nacionais de P&D.""Em -terceiro lugar, a política sul-coreana em relação ao IDE e ao licenciamentotecnológico não pode ser emulada pelos outros países. A Coréia do Sul adotou uma políticarestritiva com respeito ao IDE, o ingresso de empresas estrangeiras foi permitidoseletivamente. Em conseqüência disso, o capital e a tecnologia foram importados

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separadamente; o primeiro por meio de empréstimos estrangeiros e a segundas por meiodo licenciamento de tecnologia.""Em quarto lugar, o investimento governamental em infra-estrutura de C&T do estágio daimitação acabou compensando a longo-prazo.""Em quinto lugar, desde a década de 1980, o subinvestimento e a falta decomprometimento do governo prejudicaram o sistema nacional de inovação sul-coreano.""em sexto lugar, a adoção, em 1997, das Lei Especial para a Ciência e a InovaçãoTecnológica representa um importante ponto de inflexão na formulação das politicas deC&T."

5. As instituições intermediárias de desenvolvimento

5.1. Cingapura

"Em resumo, a politica de Cingapura foi modificada recentemente, passando a focalizar oestímulo ativo em relação à P&D e à melhoria das aptidões locais de criação de tecnologia.Apesar de seus abundantes recursos tecnológicos, Cingapura não chegou a desenvolveraptidões tecnológicas que a levassem a inovar de modo expressivo. Sua nova politicaconcentra-se no desenvolvimento da infra-estrutura de pesquisa, com o objetivo de inseriraptidões tecnológicas nas empresas locais."

5.2. Taiwan"Os institutos de pesquisa tecnológica e científica amparados pelo governo foramindispensáveis no desenvolvimento industrial de alta tecnologia de Taiwan. (...) Seugoverno investiu mais em P&D, e fomentou diversos programas idealizados para estimularaptidões tecnológicas locais em tecnologias estratégicas."

" , (...) no caso de Taiwan, as pequenas e médias empresas empreendedoras locais - emrelacionamento estreito com os institutos de pesquisa - foram a força motriz."

5.3. Malásia"A Malásia dependeu muitíssimo do IDE como meio de estimular o desenvolvimentotecnológico local. Apesar disso, e do limitado retorno até agora obtido no desenvolvimentode aptidões tecnológicas locais, a Malásia continuará a utilizar tal investimento comoprincipal elemento da sua politica de desenvolvimento tecnológico. Para complementaressa política, ela está estimulando a aquisição de empresas estrangeiras, o emprego dosistema de fabricação de equipamentos originais e a subcontratação de tecnologia deempresas estrangeiras. Também criou diversas novas organizações."

6. A dinâmica do aprendizado tecnológico no período de substituição das importações e asrecentes mudanças estruturais no setor industrial da Argentina, do Brasil e do México

"A liberalização comercial, a desregulamentação das atividades econômicas, a privatizaçãodos bens públicos e uma administração muito mais cuidadosa da política macroeconômicaestão provocando mudanças de largo alcance na América Latina. Uma atmosfera maiscompetitiva está, gradualmente, ganhando terreno nos vários países da região, ao mesmotempo que as empresas, os mercados e as instituições vão se adaptando aos novos cenáriosmacro e micro econômicos."

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Durante ISI, "simultaneamente à expansão de seus setores industriais, uma sofisticadacultura industrial foi se desenvolvendo nesses países, à medida que conseguiam absorvercom sucesso um vasto conjunto de habilidades tecnológicas, de hábitos de trabalho e denormas de comportamento. Um grande volume de 'capital social' desenvolveu-se juntocom essa expansão industrial, e esse capital parece agora ter adquirido uma importânciacrucial para o desenvolvimento capitalista futuro dos referidos países.""No decorrer desse processo, muitas empresas individuais conseguiram acumular umestoque próprio de habilidades tecnológicas e de aptidões de engenharia, as quais lhespermitiram aumentar significativamente sua produtividade e cornpetitividade, gradualmentesuperando seus desníveis em relação à fronteira tecnológica internacional.""Apesar de sua riqueza, esse processo de expansão industrial e de acumulação gradual dehabilidades tecnológicas sofreu uma brusca interrupção durante a década de 1980 em todosos três países aqui examinados. Por que isso ocorreu? Fatores externos, além dos internos,têm que ser analisados para explicar o sucedido.""Sustentaremos aqui que essa contração e a transformação estrutural experimentadas nadécada de 1980 pelos setores industriais da Argentina, do Brasil e do México resultarammais dessas circunstâncias macroeconômicas - e de seu impacto sobre a demandaagregada, a poupança, os investimentos, a incerteza e o espírito empreendedor - do queuma evidente deficiência ou concepção errônea da estratégia de industrialização.""Sob novos regimes de política macroeconômica, os setores industriais da Argentina, doBrasil e do México têm mudado muito dramaticamente suas estruturas e desempenho.Ramos intensivos em trabalho e as industrias intensivas em engenharia sentiram fortementeo impacto dessa transição para o novo regime de incentivos. Por outro lado, as indústriasde beneficiamento de recursos naturais e as de simples montagem tiveram uma rápidaexpansão em termos de produção, produtividade da força de trabalho e de exportações.""Diferenças de aptidões adaptativas têm prevalecido não apenas entre as indústrias, mastambém entre empresas de determinados ramos industriais. A maior parte das empresasreagiu defensivamente; adotaram mudanças poupadoras de mão-de-obra na organizaçãodas produção, embora sem se comprometer com novos e grandes investimentos ou com ofortalecimento de seus esforços tecnológicos locais. As empresas que adotaram essaestratégia limitaram-se a reduzir sua demanda de força de trabalho, mantendo ao mesmotempo um nível de produção aproximadamente constante. Em conseqüência dessecomportamento, um· grande problema de absorção .de mão-de-obra emergiu nos trêspaíses. Por outro lado, um número muito menor de empresas reagiu proativamente,construindo novas fábricas, mais próximas dos padrões tecnológicos internacionais e,simultaneamente, expandindo tanto sua demanda de força de trabalho, como suasexportações para o mercado mundial. Em conseqüência dessas estratégias defensiva eproativa, cresceram tanto o grau de heterogeneidade estrutural do setor industrial como ode concentração empresarial.""Ao mesmo tempo, com a abertura e desregulamentação da economia, as fontes e anatureza do progresso técnico passaram por significativas mudanças. O custo relativo docapital baixou, induzindo muitas formas de substituição capital-trabalho por parte dasempresas industriais. Pela primeira vez em muitas décadas, o setor industrial desses paísesdeixou de gerar empregos num ritmo compatível com a expansão da força de trabalho.""No que diz respeito à produção industrial agregada, as evidências disponíveis revelam queos três países conseguiram diminuir a diferença existente com os EUA em relação àprodutividade da força de trabalho, especialmente na década de 1990. Mas, ao desagrega-Iaem três dígitos, encontramos um quadro de grande heterogeneidade. Apenas em alguns_ramos industriais, e mesmo nestes, em determinadas empresas, chega-se a identificar umresultado bem-sucedido."

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6.1. O período de ISI: a dinâmica de aprendizado, o aumento da produtividade e asexportações

6.1.1. A dinâmica do aprendizado

"Inclinação no período pós-guerra a favor da atuação governamental em áreas comotelecomunicações, energia e transporte, bem como nas chamadas indústrias pesadas do aço,petróleo, carvão e petroquímica.""Uma atmosfera institucional completamente nova - incluindo um alto grau deprotecionismo - desenvolveu-se em âmbito mundial naqueles anos.""Na Argentina, no Brasil e no México, esse clima internacional sustentou com vigor umcontexto local extremamente nacionalista, que atribuía um papel central aosempreendimentos públicos no setor da defesa, assim como nos setores de energia,telecomunicações e transportes,""Ao final da década de 1950, entrou em cena um terceiro ator importante, as EMNs. (...)Chegaram a esses países com projetos de produtos e tecnologias organizacionaisclaramente superiores aos projetos e às tecnologias vigentes nas empresas locais. Dessemodo, o ingresso delas no mercado produziu importantes mudanças na cultura industrialpredominante nesses países. (...) Contudo, as externalidades destes investimentosestrangeiros difundiram-se rapidamente por toda a estrutura de produção, através dasmobilidade das mão-de-obra e da ampla utilização de novas práticas de controle dequalidade, novos princípios de organização da produção e outras técnicas de gestão.""Vários estudos realizados pelo autor nas décadas de 1970 e 1980 mostraram que esforçosde engenharia desse tipo foram empreendidos por muitras empresas latino-americanas nosanos de ISI. Além disso, até dois terços dos índices observados de aumento daprodutividade de muitas das empresas analisadas nesses estudos podem ser explicados portais esforços internos de geração de conhecimento incremental, En1.muitos desses estudos,também constatamos que o índice de aumento da produtividade obtido pelas empresas erasignificativamente mais elevado que a expansão material da fronteira tecnológica mundial,permitindo, desse modo, que elas fossem superando gradualmente o desnível relativo aospadrões internacionais de produtividade.""Ao final da década de 1970, não era surpreendente constatar que "muitas empresasargentinas, brasileiras e mexicanas tinham expandido suas exportações e suas atividades delicenciamento, em benefício de suas rápidas taxas de crescimento da produtividade edevido a suas crescentes aptidões competitivas, principalmente nos mercados latino-americanos, onde já desfrutavam de um status preferencial. (...) Além disso, tais empresasnão apenas expandiram a exportações de produtos industriais cada vez mais sofisticados,como algumas delas também chegaram a exportar apenas a tecnologia. Isto se deu sob aforma de licenciamentos, serviços de engenharia e do fornecimento de plantas industriaiscompletas para empresas de outros países menos desenvolvidos, principalmente dentro daAmérica Latina."

6.1.2. O aumento da produtividade e a exportação de manufaturados durante o processo deISI

"A década de 1960 e boa parte da década de 1970 foram anos de sucesso para os setoresindustriais das Argentina, do Brasil e do México.""A" exportação de produtos manufaturados, com um grau crescente de sofisticaçãotecnológica, resultou de um processo evolucionário como o que discutimos. As

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exportações de bens de capital e de serviços de engenharia fornecem evidências de um graucrescente de maturidade tecnológica.""No entanto, apesar dessas mostrar de sucesso e da crescente orientação econômica para omercado externo, a industria de transformação parou de crescer em meados da década de1970 na Argentina, e durante a década de 1980 no Brasil e no México, contraindo-seseveramente depois disso.""Sustentamos aqui que o desempenho industrial declinante (...) em vez de ter sidoconseqüência de uma estratégia de industrialização erroneamente concebida, (...) parecehaver decorrido basicamente da má administração macroeconômica no rasto da crise dadevidas do [mal da década de 1970."

6.2. O impacto do novo regime de incentivos macroeconômicos

6.21. A reestruturação da produção industrial em direção a maquiladoras e empresasprocessadoras de matérias-primas para a exportação

"O padrão de especialização que ocorreu na Argentina, no Brasil e no México, durante asdécadas de 1950 e 1960, pendeu significativamente em direção ao setor rnetalmecânico -isto é, na direção das indústrias produtoras de bens de capital, automóveis, bens duráveisde consumo, implementos agrícolas .e produtos similares. Muitos desses ramos foramcapazes de acumular um estoque significativo de aptidões tecnológicas no período de ISI,com alguma expansão bem-sucedida nas atividades de exportação. Contudo, na década de1980, uma grande parte dessas indústrias passou a enfrentar sérias dificuldades parasustentar suas taxas de expansão. A retração da demanda interna, em primeiro lugar,seguida pela entrada massiva de substitutos importados, explicam porque muitas empresasmetalúrgicas, assim como muitos fabricantes de artigos de vestuário, sapatos e móveis não. conseguiram manter o crescimento durante a década de 1980 como nas décadas de 1960 ea1970.""Em agudo contraste com a experiência desses ramos industriais, as indústriasprocessadoras de matérias-primas das Argentina e do Brasil, assim como as maquila:dorasdo México, expandiram-se rapidamente durante aqueles anos, tanto na capacidadeprodutiva quanto nas exportações. Ao final da década de 1970, e durante toda a década de1980, uma grande quantidade de fábricas modernas e altamente intensivas em capitalsurgiram na Argentina e no Brasil para a produção de papel e celulose, produtospetroquímicos, aço, alumínio, óleos vegetais, ferinha de peixe, minérios e produtossimilares.""Uma clara exceção no declínio generalizado do setor metalmecânico verificou-se naindústria-automobilística, que também se expandiu de modo bastante significativo naArgentina, no Brasil e no México durante os últimos anos.""A nova atmosfera econômica, mais competitiva e desregulamentada, também atuou comoum poderoso mecanismo. de seleção não-isento, favorecendo determinados tipos deempreendimentos em detrimento de outros, e provocando um vigoroso processo de. concentração econômica na estrutura produtiva."

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