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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
Área de concentração: Geografia e Gestão do Território
ESTUDO DAS RELAÇÕES CLIMATO-HIDROLÓGICAS E DOS IMPACTOS CAUSADOS PELA IRRIGAÇÃO NA
MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DO AMANHECE – ARAGUARI – MG
Enio Rodovalho dos Santos
UBERLÂNDIA 2005
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
INSTITUTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA Área de concentração: Geografia e Gestão do Território
ESTUDO DAS RELAÇÕES CLIMATO-HIDROLÓGICAS E DOS IMPACTOS CAUSADOS PELA IRRIGAÇÃO NA MICROBACIA
HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DO AMANHECE – ARAGUARI – MG
Enio Rodovalho dos Santos
Uberlândia
2005
iii
Enio Rodovalho dos Santos
ESTUDO DAS RELAÇÕES CLIMATO-HIDROLÓGICAS E DOS
IMPACTOS CAUSADOS PELA IRRIGAÇÃO NA MICROBACIA
HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DO AMANHECE –
ARAGUARI – MG
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal
de Uberlândia, como requisito parcial à obtenção do
título de Mestre em Geografia.
Área de concentração: Geografia e Gestão do Território.
Orientador: Prof. Dr. Washington Luiz Assunção.
Uberlândia-MG
2005
v
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________________ PROFª DRª MAGDA LUZIMAR DE ABREU
_________________________________________________________________ PROF. DR. SAMUEL DO CARMO LIMA
_________________________________________________________________ PROF. DR. WASHINGTON LUIZ ASSUNÇÃO
Uberlândia, ____ de _______________________ de 2005.
Resultado: ___________________________
vi
À minha esposa que além da cumplicidade e auxílio na execução da pesquisa, soube compreender a minha ausência e a falta de atenção.
vii
AGRADECIMENTOS
Inicialmente quero agradecer a Deus pela força espiritual, pois sem ela não seria
possível contornar os momentos de maiores dificuldades.
Aos meus pais, que mesmo apesar da distância física, sempre estiveram próximos
através de seus pensamentos e pelo esforço dedicado durante suas vidas para dar aos filhos o
que eles não tiveram: a oportunidade de estudar.
A meu irmão pelo incentivo e apoio em minha vida escolar.
Ao professor Prof. Dr. Washington Luiz Assunção, que, além da orientação nesta
pesquisa, apontando caminhos e corrigindo as falhas, sempre foi um amigo pronto a ajudar.
Aos produtores rurais da bacia do córrego do Amanhece pela dedicação em realizar as
leituras pluviométricas e pela boa receptividade em atender-me durante as entrevistas
fornecendo informações preciosas para a elaboração dos resultados finais e aprendizagem
sobre o objeto de estudo.
À equipe do Laboratório de Climatologia e Recursos Hídricos e alunos do curso de
Geografia, Alécio, Aline, Baltazar, Deusmar, Ellem, Emerson, Graziella, Kall, Matheus,
Marcelo, Moacir, Rafael e Rose que se organizaram com muita boa vontade para colaborar nos
trabalhos de campo realizados durante o ano da pesquisa. Sem eles não seria possível atingir o
objetivo de monitoramento das vazões do córrego.
Aos professores, colegas e amigos da pós-graduação que caminharam juntos comigo e
contribuíram com conceitos, idéias e experiências.
A Thaís Pereira pelo trabalho de elaboração dos materiais cartográficos.
Ao Fernando Carlos Naves pela sua colaboração na revisão dos originais em português.
viii
Ao Malaquias do Laboratório de Geomorfologia e Erosão de Solos pelo trabalho de
análise das amostras de solos.
Ao Wander, chefe do setor de transporte da Universidade Federal de Uberlândia, que
sempre teve boa vontade no agendamento dos veículos para a realização dos trabalhos de
campo.
E a todos que de alguma forma contribuíram para a realização desta pesquisa.
ix
“Somente após terem derrubado a última árvore, poluído o último rio e pescado o último peixe é que as pessoas perceberão que não se pode comer dinheiro”.
Provérbio Indígena.
x
RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo realizar um estudo sobre os elementos
climáticos e hidrológicos da microbacia do Córrego do Amanhece, bem como um diagnóstico
sobre os impactos decorrentes do uso da água superficial e subterrânea utilizada principalmente
na cafeicultura irrigada. Para atingir esses objetivos foram realizados trinta e um trabalhos de
campo na área de pesquisa com o intuito de monitorar as vazões do curso fluvial durante o
período de setembro de 2003 a setembro de 2004, elaborar ensaios de infiltração em diferentes
tipos de solos e coberturas, visando analisar a interferência causada na mudança do uso do solo
no processo de infiltração da água pluvial e entrevistas com os proprietários rurais como uso de
questionários e conversas informais, com o objetivo de extrair informações a respeito do modo
de vida, sobre o uso da água e as atividades produtivas praticadas nos estabelecimentos rurais.
Os resultados demonstraram que ocorrem impactos ambientais decorrentes da retirada de
cobertura vegetal nativa e devido ao elevado uso da água provenientes de fontes superficiais e
subterrâneas destinadas à irrigação de culturas.
Palavras chave: clima, hidrologia e impactos ambientais.
xi
ABSTRACT
This work have as main objective to carry out a study on the climatic and hydrologic elements
of Amanhece Stream Micro Basin and a diagnosis about the resulting impacts of the superficial
and underground water use mainly in the irrigated coffee plantation.
To realize these objectives, did 31 field works our investigated space to check the fluvial
course outflows from September/2003 to September/2004, making infiltration assays in
different ground types and coverings: with the propose of analyze the interference caused in
the change of the ground use in the pluvial water infiltration process, and to interview the
agricultural proprietors by informal questionnaires and colloquies for to extract information
about the life way, the water use and the productive activities practiced in the agricultural
establishments.
The results had demonstrated the presence of environment impacts due to the native vegetal
covering withdrawal and the intense water use from superficial and underground sources that is
destined to cultures irrigation.
Keywords: climate - hydrology – environmental impacts.
xii
LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Localização da área de estudo. ............................................................... 22
Figura 2 – Localização dos pontos pluviométricos, fluviométricos e de captação
de água.
.........................................................................................................................
37
Figura 3 – Pluviômetro, modelo Ville de Paris, ao lado de pluviômetro de
plástico fornecido por empresas de insumos – Faz. Araras. 38
Figura 4 – Cachoeira do Córrego do Amanhece. ..................................................... 44
Figura 5 – Geologia da microbacia do córrego do amanhece. ................................. 47
Figura 6 – Contato da camada superficial e basal da formação Marília. ................. 48
Figura 7 – Perfil longitudinal topográfico do leito do Córrego do Amanhece. ....... 49
Figura 8 – Compartimentação geomorfológica da microbacia do córrego do
amanhece. ................................................................................................................. 50
Figura 9 – Tipos de solos da microbacia do córrego do amanhece. ........................ 52
Figura 10 - Remanescentes de murunduns localizados em topo de chapada. .......... 53
Figura 11 – Reflorestamento da mata ciliar do Córrego do Amanhece na Fazenda
Macaúbas. ................................................................................................................ 56
Figura 12 – Propriedades Rurais da Microbacia do Córrego do Amanhece. ........... 57
Figura 13 – Plantio de seringueira consorciado com a pupunha e açaí – Fazenda
Macaúbas. ................................................................................................................ 59
Figura 14 – Cultura de café consorciada com quiabo e vagem, em pequena
propriedade. .............................................................................................................. 61
Figura 15 – Culturas de soja e café inseridas no topo de chapada da borda sudeste
da microbacia hidrográfica do Córrego do Amanhece. ........................................... 62
Figura 16 – Uso e ocupação do solo na microbacia do córrego do amanhece. ....... 65
Figura 17 – Série histórica de preços de venda e níveis de custos de produção da
saca de café, no período de 1970 a 1998, no Brasil. ................................................ 77
Figura 18 – Totais pluviométricos anuais (2003 – 2004) microbacia do córrego
do amanhece. ............................................................................................................ 84
xiii
Figura 19 – Total pluviométrico mensal – fevereiro de 2004 – microbacia do
córrego do amanhece. .............................................................................................. 85
Figura 20 – Total pluviométricos mensal – setembro de 2003 – microbacia do
córrego do amanhece. .............................................................................................. 86
Figura 21 – Total pluviométrico mensal – outubro de 2003 – microbacia do
córrego do amanhece. .............................................................................................. 86
Figura 22 - Total pluviométrico mensal – novembro de 2003 – microbacia do
córrego do amanhece. .............................................................................................. 86
Figura 23 - Total pluviométrico mensal – dezembro de 2003 – microbacia do
córrego do amanhece. .............................................................................................. 86
Figura 24 - Total pluviométrico mensal – janeiro de 2004 – microbacia do
córrego do amanhece. .............................................................................................. 87
Figura 25 - Total pluviométrico mensal – março de 2004 – microbacia do córrego
do amanhece. ............................................................................................................ 87
Figura 26 - Total pluviométrico mensal – abril de 2004 – microbacia do córrego
do amanhece. ............................................................................................................ 87
Figura 27 - Total pluviométrico mensal – maio de 2004 – microbacia do córrego
do amanhece. ............................................................................................................ 87
Figura 28 – Ilustração do infiltrômetro de anéis. ..................................................... 90
Figura 29 – Infiltração café. ..................................................................................... 91
Figura 30 – Infiltração café. ..................................................................................... 91
Figura 31 – Infiltração café. ..................................................................................... 92
Figura 32 – Infiltração cultura temporária. .............................................................. 93
Figura 33 – Infiltração cultura temporária. .............................................................. 93
Figura 34 – Infiltração pastagem. ............................................................................ 94
Figura 35 – Infiltração eucalipto. ............................................................................. 95
Figura 36 – Infiltração hortaliça. .............................................................................. 96
Figura 37 – Infiltração cerrado. ................................................................................ 96
Figura 38 – Infiltração cerrado. ................................................................................ 97
Figura 39 – Vereda localizada na margem direita do Córrego do Amanhece. ........ 99
Figura 40 – Vazões e pluviosidade do ponto 1. ....................................................... 103
xiv
Figura 41 – Vazões e pluviosidade do ponto 2. ....................................................... 104
Figura 42 – Vazões e pluviosidade do ponto 3. ....................................................... 105
Figura 43 – Médias de precipitação, evapotranspiração e temperatura da
microbacia do córrego do Amanhece – 2003 a 2004. .............................................. 108
Figura 44 – Relação entre pluviosidade e deflúvio – Macaúbas............................... 110
Figura 45 – Relação entre pluviosidade e deflúvio – Araras.................................... 111
Figura 46 – Relação entre pluviosidade e deflúvio – Foz......................................... 112
Figura 47 - Modelo hidrológico da área I - Faz. Macaúbas. .................................... 114
Figura 48 - Modelo hidrológico da área II - Faz. Araras. ........................................ 115
Figura 49 - Modelo hidrológico da área III – Foz. ................................................... 115
Figura 50 – Captação de água no Córrego do Amanhece com motor elétrico –
Fazenda Macaúbas. .................................................................................................. 117
Figura 51 - Irrigação de café com pivô central – Faz. Macaúbas............................. 119
Figura 52 - Profundidade do lençol freático. ........................................................... 123
Figura 53 - Desperdício de água causado por vazamento em tubulação.................. 124
Figura 54 - Desperdício de água causado por instalação de aspersor em local
incorreto. .................................................................................................................. 124
Figura 55 - Pivô central e lavoura de café inserida em área de APP de nascente. ... 127
Figura 56 - Tanque de decantação de dejetos de suínos construído sem lona de
impermeabilização.................................................................................................... 127
xv
LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Análise granulométrica do solo. ............................................................. 53
Tabela 2 – Amostragem do uso e ocupação do solo na microbacia do Córrego do
Amanhece (ha) 2003/04. .......................................................................................... 60
Tabela 3 - Totais Pluviométricos mensais e anuais de Araguari – MG................... 66
Tabela 4 – Resumo do Balanço Hídrico de Araguari (MG): 1975 – 2003............... 68
Tabela 5 - Balanço Hídrico Climatológico de Araguari (MG): 1991...................... 69
Tabela 6 - Balanço Hídrico Climatológico de Araguari (MG): 1984.................... 70
Tabela 7 - Deficiência hídrica anual e mensal em Araguari (MG): 1975 – 2003. 72
Tabela 8 - Avaliação do risco de perda de safras através do DEF em Araguari -
MG, com DEF médio de 168 mm anuais. ................................................................ 73
Tabela 9 – Dados de Precipitação e Temperatura do Distrito do Amanhece –
Araguari-MG – (1999-2003). .................................................................................. 74
Tabela 10 - Censo Populacional das Propriedades Rurais da Microacia do
Córrego do Amanhece – 2003/04. ........................................................................... 75
Tabela 11 - Diagnóstico econômico da cafeicultura na microbacia do Córrego do
Amanhece - Safra 2003. .......................................................................................... 79
Tabela 12 - Diagnóstico econômico da cafeicultura na microbacia do Córrego do
Amanhece - Safra 2004. ........................................................................................... 79
Tabela 13 – Totais pluviométricos da bacia do Córrego do Amanhece - setembro
de 2003 a setembro de 2004. .................................................................................... 88
Tabela 14 - Vazões e Quantidades de Água Utilizadas pelos Irrigantes (m³/h) -
2003/2004 - Microbacia Hidrográfica do Córrego do Amanhece - Araguari – MG 101
Tabela 15 – Estimativa de evapotranspiração para a microbacia do córrego do
Amanhece. ................................................................................................................ 107
Tabela 16 – Áreas hidrológicas da microbacia do córrego do Amanhece. .............. 109
xvi
LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Unidades Geológicas da Microbacia do Córrego do Amanhece. .......... 48
Quadro 2 – Diagnóstico do uso e ocupação do solo na microbacia do Córrego do Amanhece. ................................................................................................................
64
Quadro 3 - Ciclicidade pluvial dos períodos chuvosos 1975 – 2003........................ 67
Quadro 4 - Ciclicidade pluvial dos períodos secos 1975 – 2003.............................. 67
Quadro 5 - Evapotranspiração real da microbacia do córrego do Amanhece. ......... 108
Quadro 6 - Disponibilidade e consumo de águas superficiais (m³/h) - Microbacia
Hidrográfica do Córrego do Amanhece. .................................................................. 120
xvii
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA. ..................................................................................................... 6
AGRADECIMENTOS. ............................................................................................ 7
EPÍGRAFE. .............................................................................................................. 9
RESUMO. ................................................................................................................ 10
ABSTRACT. ............................................................................................................ 11
LISTA DE FIGURAS. ............................................................................................. 12
LISTA DE TABELAS. ............................................................................................ 15
LISTA DE QUADROS. ........................................................................................... 16
INTRODUÇÃO. ...................................................................................................... 20
1 – CLIMA, HIDROLOGIA E CAFEICULTURA IRRIGADA. ........................... 26
2 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS. ...................................................... 36
3 - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO. ............................................. 43
3.1. GEOLOGIA REGIONAL E LOCAL. .............................................................. 44
3.2. GEOMORFOLOGIA. ....................................................................................... 48
3.3. SOLOS. ............................................................................................................. 51
3.4. VEGETAÇÃO E USO DO SOLO. ................................................................... 54
3.5. CLIMA REGIONAL E LOCAL. ...................................................................... 66
3.5.1 Condições hídricas dos solos. ......................................................................... 68
3.6. ASPECTOS SÓCIO-AMBIENTAIS E ECONÔMICOS. ................................ 74
4 - A DINÂMICA HIDROLÓGICA NA MICROBACIA DO CÓRREGO DO
AMANHECE. ..........................................................................................................
81
4.1 - OS ELEMENTOS HIDROLÓGICOS DA BACIA DO CÓRREGO DO
AMANHECE. ..........................................................................................................
82
4.1.1 – Precipitação. ................................................................................................. 82
4.1.2 – Infiltração. .................................................................................................... 88
4.1.3 - Escoamento Fluvial. ..................................................................................... 98
4.1.4 – Evapotranspiração. ....................................................................................... 106
4.2. RELAÇÃO ENTRE PRECIPITAÇÃO E DEFLÚVIO. ................................... 108
xviii
5 - OFERTA E DEMANDA DE ÁGUA E IMPACTOS AMBIENTAIS NA
MICROBACIA DO CÓRREGO DO AMANHECE. ..............................................
117
5.1. USO DE ÁGUA PROVENIENTE DE FONTES SUPERFICIAIS. ................ 118
5.2. USO DE ÁGUA PROVENIENTE DE FONTES SUBTERRÂNEAS. ........... 121
5.3. IMPACTOS AMBIENTAIS. ............................................................................ 125
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS. ............................................................................. 130
7. REFERÊNCIAS. .................................................................................................. 135
ANEXOS. ................................................................................................................ 141
INTRODUÇÃO
O crescimento populacional e conseqüentemente o aumento da demanda por
alimentos acarretaram a expansão das fronteiras agrícolas mundiais. No Brasil, a partir
da década de 1970 os Cerrados começaram a ser explorados com fins agrosilvopastoris.
Programas como o POLOCENTRO (Programa de Desenvolvimento dos Cerrados) e
PRODECER (Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos
Cerrados) surgiram, nesta época como incentivo por parte do Estado e de instituições
internacionais para a introdução de novas tecnologias de cultivos dos solos dos
Cerrados.
A expansão da fronteira agrícola nestas áreas provocou uma enorme pressão
sobre os recursos naturais, especialmente nos mananciais hídricos. Sabe-se que as
nascentes das principais bacias hidrográficas do Brasil estão localizadas principalmente
na região central do país, áreas de Cerrados com topografia plana e elevada, justamente
onde foram inseridos os cultivos agrícolas de soja e milho, principalmente.
Se não bastasse a degradação ambiental provocada pela ocupação dos solos,
(assoreamento de nascentes e leitos de rios, bem como desmatamentos de matas
ciliares) a inserção da irrigação a partir da década de 1990 provocou impactos
relacionados ao uso da água.
O uso da água vem se intensificando em todo o planeta gerando problemas
relacionados tanto com a quantidade quanto à qualidade de água doce disponível para as
atividades humanas. De acordo com os dados da ANA (Agência Nacional das Águas,
2003), o Brasil possui uma disponibilidade hídrica superficial estimada em 8.160
Km3/ano ou aproximadamente 18% do total disponível no globo terrestre. Parte deste
potencial é utilizado para geração de energia elétrica, irrigação de culturas agrícolas,
21
aproveitamento para piscicultura, recreação, turismo, dentre outros. Mas, pelo fato de
existir “abundância” (apesar de mal distribuída) de água doce em várias regiões do país,
a população em geral utiliza mal este recurso, gerando desperdícios. E um dos grandes
desafios para o Brasil deverá ser o de enfrentar a problemática do controle e do uso dos
recursos hídricos dentro de seu território nacional.
Segundo Mendes (1991):
“... à medida que o Brasil se desenvolve, mais intenso é o uso dos recursos hídricos, maior é o potencial de conflito entre usos e maiores os riscos de degradação da qualidade dos corpos de água. A água deixará de ser abundante, necessitando ser gerida como bem escasso e, portanto, com alto valor econômico”.
Além do consumo normal diário de água pela população brasileira existe
também o desperdício, que ocorre sob diferentes formas: vazamentos em tubulações
para abastecimento urbano, utilização em excesso proveniente de fontes d’água
superficiais e subterrâneas na agricultura, que é um dos setores que mais a consome
atualmente no país.
Diante dessa problemática, referente principalmente ao uso da água, parte-se
para uma análise de uma microbacia hidrográfica denominada de Amanhece, localizada
no município de Araguari-MG (figura 01). Esta bacia foi escolhida como objeto de
estudo porque é uma área onde o uso dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos é
intenso, tendo lá já ocorridos conflitos entre os usuários que captam água do córrego do
Amanhece, principal curso fluvial da microbacia.
Para solucionar os conflitos, a curadoria do meio ambiente do município
solicitou que os irrigantes se organizassem em forma de associação para discutirem os
problemas, sob a ameaça de não autorizar nenhuma outorga futura, caso continuassem
23
os desentendimentos. No ano de 2001 a associação foi fundada e, através dela, os
usuários conseguiram outorga coletiva de água para dezesseis usuários.
Os objetivos da pesquisa foram entender os processos climáticos e hidrológicos
da microbacia do Córrego do Amanhece; quantificar o uso da água superficial e
subterrânea nas atividades agrícolas irrigadas, visando diagnosticar possíveis impactos
ambientais dele decorrentes. Estabelecer as disponibilidades hídricas da microbacia
através de vazões sazonais. Elaborar cálculo do balanço hídrico com dados de
temperatura e precipitação na microbacia do Córrego do Amanhece.
No primeiro capítulo foi realizado uma revisão bibliográfica relacionada aos
conceitos de clima e sua influência no setor agrícola, uma discussão sobre o uso da água
no Brasil, da legislação federal e estadual que trata deste tema e como os agricultores da
bacia hidrográfica do Córrego do Amanhece fazem uso dos recursos hídricos
superficiais e subterrâneos.
No segundo capítulo foi apresentada a metodologia usada para atingir os
objetivos propostos da pesquisa, destacando-se os procedimentos usados para mensurar
as vazões do Córrego do Amanhece, no período de setembro de 2003 a setembro de
2004, a instalação dos pluviômetros e a aplicação dos questionários, dentre outros.
No terceiro capítulo foi elaborada uma caracterização dos elementos naturais e
antrópicos, existentes na área da pesquisa, com destaque para a geologia,
geomorfologia, solos, vegetação e uso do solo, clima e aspectos sócio-ambientais e
econômicos.
O quarto capítulo foi dedicado à quantificação e análises dos elementos
hidrológicos da bacia e à discussão da geração de impactos na dinâmica hidrológica em
virtude do uso antrópico do ambiente.
24
No quinto e último capítulo foi feita uma discussão a cerca da oferta e demanda
de água, com base em dados levantados durante a pesquisa junto aos agricultores e
também um relato sobre os impactos ambientais atuantes na bacia do Córrego do
Amanhece.
Pretende-se, com este trabalho, conhecer os processos climáticos e hidrológicos
que ocorrem em uma microbacia hidrográfica e a respectiva interferência antrópica no
meio. O entendimento desses processos serão úteis para futuros planejamentos na área,
abrangendo principalmente o uso da água, considerando-se que existe uma elevada
retirada desse recurso em fontes superficiais e subterrâneas para atender à irrigação de
culturas agrícolas o que gera impactos ambientais e conflitos entre os usuários.
26
CAPÍTULO I
CLIMA, HIDROLOGIA E CAFEICULTURA IRRIGADA
A existência do ser humano no globo terrestre depende de vários fatores. Um
deles é o clima, pois o homem possui seu modo de vida influenciado pelas condições
climáticas do local em que habita. Outro fator relevante é a produção de alimentos, que
por sua vez, também depende do clima, sendo que onde o mesmo não é totalmente
favorável para os cultivos agrícolas, o homem cria ambientes artificiais para suprir a
oferta natural ali inexistente. Uma das formas de artificialização que o homem
encontrou para compensar o déficit hídrico de uma região foi a irrigação. Com isso,
atualmente, o uso dos recursos hídricos vem se intensificando à medida que o homem
sente a necessidade de produzir quantidades cada vez maiores de alimentos, com o
intuito de aumentar sua renda econômica e atender à demanda do mercado. Infelizmente
esse uso é realizado de modo desordenado, provocando impactos no ambiente.
Segundo Conti (1998), a agricultura é o setor produtivo que mais depende das
condições climáticas. Como as condições de tempo não são totalmente previsíveis, a
agricultura é uma atividade de risco em virtude de secas prolongadas, veranicos
(períodos secos dentro de uma estação chuvosa) e chuvas excessivas. Por isso o estudo
sobre o comportamento da atmosfera torna-se cada vez mais necessário para obter-se
sucesso com as atividades agrícolas, assim como o conhecimento não apenas de
técnicas adequadas de cultivo, mas também das condições climáticas locais.
Em áreas de cerrado, a existência do período de estiagem durante a estação do
inverno condiciona o uso de irrigação na agricultura, principalmente de culturas
perenes, como, por exemplo, o café, muito cultivado no município de Araguari. Por isso
27
se faz necessária a realização de um estudo, não só das condições climáticas, mas de um
estudo climato-hidrológico, que consiste em entender as relações entre as chuvas, a
infiltração, o escoamento pluvial e o escoamento fluvial considerados como agentes
modeladores do ambiente.
No âmbito desse estudo faz-se necessário compreender a paisagem da área de
pesquisa, que é um dos principais objetos de estudo da geografia. Segundo Gonçalves
(2003) os estudos sobre paisagem remontam aos naturalistas Humboldt (1769-1859) e
Dockuchaev (1866-1903), sendo que Humboldt descreveu as zonas naturais da Terra em
sua obra “Kosmos” e Dockuchaev promoveu estudos baseados nas inter-relações
presentes entre os elementos naturais, ao caracterizar a zonalidade dos solos e da
natureza.
Com base nos estudos desses dois autores, o francês Bertrand (1971) e o
soviético Sotchava (1977), desenvolveram conceito do geossistema. A respeito desses
autores, Monteiro (2001) relata que:
“Diferentemente de Bertrand que quis amarrar a sua tipologia às ordens taxonômicas do relevo, Sotchava vai ligar-se às formações biogeográficas. Sem querer ser determinista atribuo a esta diferença de atitude entre os dois geógrafos a influência dos seus próprios “meios” e locais de trabalho. Parece lógico que o francês, trabalhando no Pirineus – onde as mudanças se acentuam em altitude – recorresse ao relevo. Enquanto isso o russo, trabalhando nas planícies siberianas, seu maior apoio viesse a ser o revestimento biótico (vegetal – animal)”.
No Brasil, a visão sistêmica da paisagem vem sendo trabalhada por vários
autores, como Ab’Saber (1969), Christofoletti (1979 e 1996), Ribeiro (1989 e 2001),
Medeiros (2002) e Gonçalves (2003).
Nos estudos elaborados por esses autores, a abordagem da paisagem foi
realizada de acordo com metodologias diferenciadas, aprimoradas por cada um deles.
Ab’Saber propôs uma abordagem em três níveis. No primeiro é proposto a
28
caracterização e descrição das formas de relevo com objetivo de compartimentação
topográfica. No segundo nível a realização de interpretações das estruturas superficiais,
com os processos formadores da paisagem e no terceiro nível, a busca do entendimento
das paisagens atuais, com base na análise da dinâmica do passado e da ação antrópica.
Já Christofoletti (1996) possui uma concepção de abordagem holística e destaca
a importância das bacias hidrográficas como unidades de análise de funcionamento e
evolução do ambiente.
Ribeiro (2001) desenvolveu a Teoria da paisagem aplicada ao desenvolvimento
rural sustentado, com suporte teórico-metodológico no trabalho de Ab’Saber (1969);
porém, com a inserção de dois novos níveis de abordagem, a taxonomia das paisagens e
o sistema de suporte à tomada de decisões.
Tanto Medeiros (2002), como Gonçalves (2003) utilizaram a metodologia
proposta por Ribeiro (2001), em seus estudos, realizando a compartimentação da
paisagem de bacias hidrográficas localizadas nos municípios de Araguari/Indianópolis-
MG e Uberlândia/Tupaciguara-MG, respectivamente.
No presente trabalho considera-se dos geossistemas apenas o seu fundamento,
que é o entendimento da paisagem na relação homem-natureza, sem a realização da
referida compartimentação da paisagem em níveis taxonômicos, por não corresponder
ao objetivo principal da pesquisa e porque estenderia muito a redação, considerando de
discussão sobre o uso da água pelos irrigantes da microbacia hidrográfica.
Deste modo, buscou-se caracterizar os aspectos físicos e sociais da microbacia
hidrográfica, considerando-a como um sistema aberto no qual se pode compreender a
inter-relação dos elementos naturais e destes com o homem.
O conceito de bacia hidrográfica pode ser entendido como uma área que abrange
um determinado território delimitado por interflúvios, caracterizados por possuir cotas
29
altimétricas mais elevadas do que a região central, onde existe uma rede de canais que
permitem o escoamento da água para um canal principal, drenando-a para uma outra
bacia hidrográfica, um lago ou para o oceano.
As bacias hidrográficas possuem dimensões variadas e de acordo com sua
extensão territorial são classificadas em bacias, sub-bacias e microbacias. A dimensão
da microbacia é muito discutida por estudiosos e pelos órgãos ambientais.
De acordo com o § 3 do Art. 3º da Resolução nº do CONAMA de maio de
2004 considera-se como microbacia a menor unidade de planejamento em termos de
bacia hidrográfica.
Segundo Lima (1994) do ponto de vista hidrológico as bacias hidrográficas são
classificadas:
“... em grandes e pequenas não com base em sua superfície total, mas nos efeitos de certos fatores dominantes na geração do deflúvio. Define-se microbacia como sendo aquela cuja área é tão pequena que a sensibilidade a chuvas de alta intensidade e às diferenças de uso do solo não seja suprimida pelas características da rede de drenagem”.
Segundo Rocha & Kurts (2001) a microbacia é aquela unidade hidrológica que
possui área inferior a 20.000 hectares.
Entende-se então que a área de estudo pode ser classificada como uma
microbacia, por possuir uma área de 3.062 hectares e ser umas das menores unidades de
planejamento dentro da bacia hidrográfica do rio Paranaíba.
Do modo abordado na pesquisa, o estudo da área da microbacia hidrográfica do
córrego do Amanhece permitiu conhecer a quantidade de água produzida e o quanto de
água é usada pela população local, estabelecendo-se assim, as formas de relações entre
homem e natureza. A partir do conhecimento destas relações tornou-se possível
objetivar tomadas de decisões que venham de encontro aos interesses da população
30
local, que estejam de acordo com a legislação ambiental vigente e contribuam para
atenuar os impactos ambientais.
É necessário que a exploração do ambiente para fins agrícolas ocorra de forma
sustentável e a consideração sobre o uso da água é importante, pois é um elemento que
se torna cada vez mais escasso devido à sua intensa utilização, principalmente na
irrigação de culturas. Culturalmente, os produtores rurais irrigantes não adotam os
devidos critérios para auxiliar na tomada de decisão da quantidade de água a ser
aplicada nas lavouras. Esta afirmação foi verificada por Assunção (2002), nos
resultados de suas pesquisas realizadas no município de Araguari-MG.
“A quantidade de água aspergida sobre as lavouras é medida apenas em número de horas de funcionamento do sistema de irrigação, sem se importar com a lâmina, expressa em mm, necessária para suprir as exigências hídricas das plantas ou, em outros termos, para recompor a capacidade de campo”.
Para monitorar o uso da água na agricultura, tem se utilizado muito, atualmente,
por estudiosos da área de agricultura, climatologia e recursos hídricos, o cálculo do
balanço hídrico. Com seus resultados é possível contabilizar as entradas e saídas de
água no solo. As entradas ocorrem através da chuva, orvalho e irrigação e as saídas, pela
evapotranspiração e escoamento superficial. As diferenças entre estes valores irão
determinar o armazenamento de água no solo, disponível para o desenvolvimento da
planta.
Desenvolvido por Thornthwaite & Mather (1955), o balanço hídrico
climatológico é uma importante ferramenta para monitorar a quantidade de água
armazenada no solo, que é variável de acordo com a época do ano, em virtude das
condições de temperatura e de chuva, principalmente. Neste cálculo são considerados os
índices de chuva precipitados, a demanda atmosférica (evapotranspiração potencial) e a
capacidade do solo em armazená-la. Com estes parâmetros, o cálculo fornece estimativa
31
da evapotranspiração real, do excedente hídrico e da deficiência hídrica. O cálculo pode
ser contabilizado na escala diária ou mensal. O primeiro passo para inicia-lo é a seleção
da capacidade de água disponível, representada pelas iniciais CAD, que é a capacidade
do solo em armazenar água em quantidade ideal para ser aproveitada pela planta.
Segundo Sentelhas (2000) a escolha da CAD é realizada mais em função do tipo
de cultura do que do tipo de solo, justificando que:
(...) “se em um solo arenoso o valor da diferença entre a porcentagem de água no solo e a porcentagem de água no solo no ponto de murcha é menor que a de um solo argiloso, a profundidade do sistema radicular neste último é menor, havendo então compensação, tornando a CAD aproximadamente igual para os dois tipos de solo”.
Diante disso, independentemente do tipo de solo, adota-se valores de CAD, entre
25 e 50 mm para hortaliças; entre 75 e 100 mm para culturas temporárias; entre 100 e
125 mm para culturas perenes e entre 150 e 300 mm para espécies florestais.
Ainda segundo Sentelhas (2000), o cálculo do balanço hídrico climatológico
possui como aplicações principais a caracterização regional da disponibilidade hídrica, a
caracterização de períodos de secas e da aptidão hídrica regional para culturas e para
determinação das melhores épocas de semeadura.
Com os resultados do cálculo do balanço hídrico os agricultores irrigantes
poderão utilizar os recursos hídricos de forma sustentável, principalmente em Araguari,
pois, de acordo com informações da Associação dos Cafeicultores de Araguari – ACA,
toda área ocupada com cafeicultura no município, cerca de 18 mil hectares, são
irrigados, com a utilização de diversos modelos de sistemas de irrigação, sendo que o
mais usado é a Mangueira Plástica Perfurada (MPP), existindo também sistema por
gotejamento e aspersão convencional (pivô central e canhão).
32
Segundo informações do Ministério do Meio Ambiente (1998) estão sendo
utilizados no Brasil 2,8 milhões de ha com agricultura irrigada e dos 145 milhões de ha
de áreas agricultáveis, 45 milhões são potencialmente utilizáveis para irrigação.
Com toda esta oferta de terras potenciais para a agricultura irrigada, viu-se a
necessidade de regularizar o uso da água. Com a promulgação da Constituição Federal
de 1988, os recursos hídricos do Brasil, deixaram de ser bem privado e tornaram-se bem
público. Não bastando apenas o conteúdo promulgado na carta maior de nosso país, foi
criada em 8/1/97 a Lei Federal n. 9.433, que institui a Política Nacional dos Recursos
Hídricos, com o intuito de gerenciá-los. Essa lei baseia-se nos seguintes fundamentos:
“a água é um bem de domínio público; a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico; em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é para o consumo humano e de animais; a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas; a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional dos Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos; a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do poder público, dos usuários e das comunidades.”
Com relação ao último fundamento da lei de gestão dos recursos hídricos,
descentralizado e com participação do poder público, usuários e comunidades, foram
regulamentados também na política Nacional dos Recursos Hídricos a criação dos
Comitês de Bacias Hidrográficas, que possui a importante função de promover o debate
das questões relacionadas aos recursos hídricos da bacia, realizar julgamentos em
primeira instância de conflitos relacionados ao uso da água, estabelecer formas e sugerir
valores para cobrança pelo seu uso, bem como outras atribuições. Em Minas Gerais a
cobrança pelo uso da água foi regulamentada por um Decreto Lei, aprovado pelo
Conselho Estadual de Recursos Hídricos de Minas Gerais, formulado de acordo com o
Art. 27, §2º, da Lei nº 13.199, de 29 de janeiro de 1999, que por sua vez trata da
regulamentação dos recursos hídricos referente ao estado de Minas Gerais.
33
Diante da obrigação de cumprir a nova legislação, surge a necessidade de se
conhecer os potenciais climato-hidrológicos das bacias hidrográficas para que o uso dos
recursos hídricos ocorra de forma sustentável.
Na área constituída como objeto de estudo, a microbacia do Córrego do
Amanhece, os resultados da pesquisa serão muito úteis para a comunidade, que já está
organizada em forma de associação de usuários, pois o monitoramento da quantidade de
água disponível na bacia servirá para manter atualizado o balanço da disponibilidade
desse recurso frente às necessidades de uso. Esta obrigação está regulamentada no
estatuto da Associação Regional dos Usuários da Bacia Hidrográfica do Córrego do
Amanhece – ARUAMA, criada no ano de 2001.
A criação da associação surgiu diante da necessidade de controlar o intenso uso
dos recursos hídricos, que chegou a gerar conflitos entre produtores na região e
acarretou aos proprietários a não liberação de outorga de direito de uso da água do
córrego. Sabendo que a outorga é o ato administrativo mediante o qual o Poder Público
outorgante (União, Estados ou Distrito Federal) faculta ao outorgado o uso de recurso
hídrico, por prazo determinado.
Dentre os setes objetivos regulamentados no estatuto da associação, destaca-se o
primeiro, que estabelece:
“Assegurar à atual e às futuras gerações que se utilizam da Bacia Hidrográfica do CÓRREGO DO AMANHECE, a disponibilidade de água, em padrões de qualidade e quantidade adequados às necessidades da comunidade e à preservação do ecossistema.”
Para atingir este e os outros objetivos do estatuto é necessário que os produtores
continuem se reunindo periodicamente para trocar informações visando manter a coesão
da associação. Desta forma eles terão maior poder de negociação junto ao Poder Público
34
para conseguirem outorga de água e usar os recursos hídricos de forma racional na
microbacia.
Segundo Assunção (2002) as mudanças ocorridas na região dos Cerrados desde
a década de 1970, com a modernização da agricultura e com a implantação de um
modelo de desenvolvimento agrícola que possui como premissa a constante acumulação
de capitais, os produtores rurais deixam para segundo plano a preservação do ambiente,
considerando principalmente os recursos vegetais e hídricos.
O uso da água na região dos cerrados deve ocorrer de forma planejada de acordo
com Ribeiro (1997):
“O Domínio dos Cerrados do Brasil Central é caracterizado pela regular alternância entre períodos marcados pela abundância e escassez de água. Isso faz com que o uso dos recursos hídricos deva ser cuidadosamente planejado, no sentido de que os elevados excedentes hídricos (típicos do período chuvoso – primavera/verão) sejam prejudiciais à organização da produção e, por outro lado, para garantir o abastecimento satisfatório durante o período de estio (outono/inverno)”.
Infelizmente o uso dos recursos hídricos não é realizado segundo as diretrizes
estabelecidas em um planejamento, porque a maioria dos produtores não possui
conhecimento para elaborá-lo e mesmo aqueles que têm, concentram-se em planejar
outros detalhes, como a compra de insumos e equipamentos, contratação de mão-de-
obra permanente e temporária e a armazenagem e venda da produção, etc.
CAPÍTULO II
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para atingir os objetivos propostos foi necessário inicialmente elaborar bases
cartográficas, na escala de 1: 45.000, digitalizadas no AutoCad, com a finalidade de
confeccionar os mapas temáticos (geologia, geomorfologia, solos, pluviosidade e uso e
ocupação) que abordaram os resultados das pesquisa. Foram usados os seguintes
materiais cartográficos como apoio:
- Carta topográfica folha SE. 22-Z-B-VI (MI – 2451) Uberlândia, escala
1:100.000;
- Carta topográfica folha (MI-2451/2-NO) Amanhece, escala 1: 25.000;
- Imagem de satélite TM/ Landsat 5 escala de 1: 250.000 (de junho de 2000),
composição colorida bandas 3R4G5B.
A localização geográfica e a posição altimétrica dos pontos levantados em
campo foram obtidas por GPS portátil Eagle Explorer com margem de erro de 15 m
para coordenadas UTM, e 20 m para altimetria.
Para avaliar o comportamento pluviométrico da microbacia hidrográfica foram
instalados 09 pluviômetros nas seguintes fazendas: Ariana, Araras, Duas nações,
Londrina, Macaúbas, Macaúbas-Bocaina, Maringá, Paraná e um pluviômetro no distrito
de Amanhece. Deste total, três pluviômetros estão localizados na margem direita e os
outros seis na margem esquerda (figura 2). O motivo desta disposição é porque a
margem esquerda possui área e número de propriedades superior ao da margem direita e
porque quatro destes pluviômetros já estavam em operação na margem esquerda antes
da escolha da área para a realização da pesquisa, o que foi vantajoso, pois já existia uma
38
série dados de anos anteriores e por esses proprietários já utilizarem dados de chuva
como parâmetro no manejo da irrigação. Os dados de três pluviômetros, um da margem
esquerda e dois da margem direita, foram descartados, pois as leituras não foram
realizadas corretamente pelos moradores.
Os pluviômetros usados na pesquisa são do tipo Ville de Paris construídos pelo
LCRH (Laboratório de Climatologia e Recursos Hídricos) do IGUFU (Instituto de
Geografia da Universidade Federal de Uberlândia), conforme se pode visualizar na
figura 3.
Figura 3 – Pluviômetro, modelo Ville de Paris, ao lado de pluviômetro de plástico fornecido por empresas de insumos – Faz. Araras. Foto do autor, março de 2003.
No final de cada mês os proprietários repassaram os dados diários de
precipitação coletados nos pluviômetros que foram usados para determinação dos totais
pluviométricos mensais e anuais da microbacia e trabalhados simultaneamente com os
dados de vazão. A determinação da espacialização de precipitação da microbacia foi
calculada pela média ponderada por isoietas que oferece maior precisão nos resultados.
Esta metodologia pode ser encontrada em Coelho Netto (1995) que cita três formas para
estimativas da precipitação média.
39
“média aritmética que é recomendada para área de baixo relevo, com alta densidade de postos pluviométricos e baseia-se no simples cálculo de média aritmética dos totais de chuva registrados nos postos da área; a média ponderada de Thiessen, recomendada para áreas com baixa densidade de postos pluviométricos (...); média ponderada por isoietas, recomendada para áreas sob forte gradientes de precipitação causadas por relevo ou por células de tempestade.”
Foram elaborados cálculos de balanço hídrico mensal do solo com o método
proposto por Thornthwaite & Mather (1955) usando um software desenvolvido por
Rolim & Sentelhas (1999) do período de setembro de 2003 a setembro de 2004,
coletados na área de pesquisa e de uma série histórica do município de Araguari (1975 a
2003), fornecidos pela ANA (Agência Nacional de Águas). Todos os cálculos foram
realizados com CAD de 125 mm, que é o valor padrão usado na cafeicultura.
A medição da vazão das águas do córrego do Amanhece foi realizada em três
pontos do curso fluvial, sendo um ponto no alto curso e os outros dois no médio e baixo
curso respectivamente. Durante o período seco as medidas foram quinzenais e no
período chuvoso semanais (figura 2). Neste último período as leituras foram realizadas
semanalmente, pois existe uma maior variação do nível da água devido a ocorrência de
chuvas freqüentes.
Para realizar medidas de vazão existem, além de outras, duas técnicas muito
utilizadas: a dos flutuadores e com o uso de correntômetros, Cunha (1995). A técnica do
correntômetro, instrumento conhecido também como molinete foi descartada, pois é um
aparelho de alto custo financeiro e mais utilizado para cursos d’água com vazões
superiores ao córrego estudado. Foi, então, utilizado o uso dos flutuadores, a mesma
metodologia usada por Medeiros (2002) nos municípios de Araguari e Indianópolis-MG
e por Gonçalves (2003) nos municípios de Tupaciguara e Uberlândia-MG. Para tal, é
necessário a utilização dos seguintes equipamentos: cordão, estacas, trena, cronômetro,
flutuadores e corrente.
40
1º passo – Para cada local de medida de vazão foi delimitado uma seção de 10 metros ao
longo do curso do córrego.
2º passo – Com o uso de uma corrente fez-se a medida da distância entre uma margem e
outra, passando pelo fundo do córrego e com uma trena mediu-se a distância entre as
margens na superfície da lâmina d’água. Essas medidas foram realizadas em cada um
dos extremos da seção, uma a montante e outra a jusante. Com isso calculou-se as áreas
ocupada água no leito do córrego e logo em seguida a área média da seção em m².
3º passo – Determinou-se o tempo gasto pelos flutuadores para percorrerem os 10
metros nas situações de vazio, pela metade e cheio d’água. Fizeram-se três medidas em
cada situação. Com o tempo médio dos frascos calculou-se a velocidade média do fluxo
de água do córrego em m/s.
4º passo – Multiplicou-se o valor da área (m²) pela velocidade média do fluxo de água
(m/s) e a seguir novamente multiplicou-se o resultado por 3600, para encontrar a vazão
do fluxo de água do córrego em m³/h.
Outro parâmetro que foi utilizado na pesquisa foi a quantidade de água que
infiltra nos solos, após episódios de chuva. A infiltração é variável e determinada pelo
tipo e pelo uso do solo. Em solos com alta porosidade e com cobertura vegetal natural a
taxa de infiltração é maior do que em um solo onde a vegetação nativa da área foi
retirada e sofreu processo de compactação para implantação de uma pastagem, por
exemplo. A mensuração da infiltração é importante para se determinar a contribuição de
água subterrânea que a microbacia hidrográfica possui para abastecer os cursos fluviais.
41
Segundo Coelho Netto (1995), o termo infiltração foi proposto por Horton em
1933 para expressar a água que molha ou que é absorvida pelo solo. O mesmo conceito
foi também discutido por outros autores como Daker (1970), Souza Pinto (1976) e
Guerra (1996).
Para avaliar a capacidade de infiltração dos solos foram realizados ensaios de
infiltração em dez diferentes locais da microbacia com o uso de um infiltrômetro de
anéis, cujo uso será mais bem detalhado no capítulo 4.
Visando aprofundar no entendimento não só das condições ambientais, mas
também das sociais e econômicas, foram aplicados questionários, em forma de
amostragem, com os produtores rurais da microbacia. Do total de 77 propriedades foram
visitadas 44, incluindo aquelas que serviram de pontos de coleta de informações
(pluviométricas e de vazão).
Os questionários tiveram como objetivos principais conhecer melhor os tipos de
culturas agrícolas desenvolvidas na área, bem como sua forma de manejo e
produtividades; a forma de apropriação dos recursos hídricos de fontes superficiais e
subterrâneas e avaliar a conservação dos recursos vegetais da microbacia. As
informações obtidas através deles serviu para elaboração de vários resultados deste
trabalho.
Capítulo III
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
A Microbacia do Córrego do Amanhece está localizada na parte central do
município de Araguari-MG, entre as coordenadas geográficas: 18º 31’ – 18º 33’ de
latitude sul e 48º 12’ – 48º 17’ de longitude oeste (Figura 1). Próximo da nascente do
Córrego do Amanhece localiza-se o distrito municipal do Amanhece (Figura 2), o qual
situa-se a uma distância aproximada de 12 Km da sede do município, tendo como
acesso a rodovia MG 414, que por sua vez se estende até à divisa com o estado de
Goiás, delimitada pelo Rio Paranaíba, onde a travessia é realizada por uma balsa. Além
da via principal, existem vias secundárias, sem pavimentação, que proporcionam um
acesso fácil a toda área da mesma.
A área da microbacia do Córrego do Amanhece possui 30,062 Km², sendo que o
mesmo desemboca no Ribeirão Araras, o qual por sua vez é afluente da margem
esquerda do Rio Paranaíba. Cabe ressaltar que a bacia do rio Paranaíba, um dos
formadores do rio Paraná, se estende por cerca de 200.000 km², ocupando partes dos
estados de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal.
A nascente do Córrego do Amanhece está localizada em uma altitude de
aproximadamente 930 metros, em área de chapada e possui vertentes suaves sem
corredeiras no alto e médio curso. No baixo curso, existem trechos com corredeiras e
vertentes íngremes, especialmente próximo à cachoeira do Amanhece, que possui uma
altura de aproximadamente 20 metros (Figura 4). A foz está localizada a uma altitude
aproximada de 835 metros.
44
O canal principal do córrego do Amanhece possui um comprimento de 9,9 km e
é classificado como um canal de segunda ordem. De acordo com Strahler (1952) citado
por Cunha (1995), os canais que não possuem nenhum afluente são denominados de
primeira ordem. Após a confluência de dois canais de primeira ordem surge um de
segunda ordem e da confluência de dois de segunda ordem surge um canal de terceira
ordem e assim por diante.
Figura 4 – Cachoeira do Amanhece. Foto do autor, setembro de 2003.
3.1. GEOLOGIA REGIONAL E LOCAL
De acordo com um mapeamento realizado por Rosa (1992) usando técnicas de
sensoriamento remoto, o município de Araguari possui as seguintes unidades
geológicas: Complexo Goiano, Grupo Araxá, Formação Serra Geral e Formação
Marília.
45
Complexo Goiano
Datado do período geológico do Arqueano, o complexo Goiano localiza-se na
porção nordeste do município indo até as margens do Rio Paranaíba e em uma pequena
área ao sul, próximo às margens do Rio Araguari. As rochas predominantes são:
gnaisses, migmatitos e rochas granitoides.
Grupo Araxá
Unidade geológica do proterozóico inferior composto por gnaisses, anfibólio
xistos, micaxistos e micaxistos feldspáticos. Ocupa áreas marginais ao longo dos leitos
dos rios Araguari e Paranaíba.
Formação Serra Geral
Composto por basaltos originários de intensos derrames de materiais
magmáticos ocorridos no período jurássico. Entre os derrames existe a presença de
arenitos intertrapeanos. No município esta unidade geológica encontra-se localizada
entre o grupo Araxá e a formação Marília
De acordo com o Projeto Radam Brasil (1983), a formação é representada: “por
lavas de natureza toleítica, com aspecto maciço, uniforme, amigdaloidal, vesiculares,
contendo fraturas irregulares a subconchoidais, formando espessuras variáveis de
derrames, com intercalações lenticulares e diques de arenitos”.
Segundo Carvalho (2000) apud Bacarro (2004) esta formação sofreu processos
de soerguimentos pós-cretácicos, que produziram falhas estruturais, originando
patamares, que quando cortados por drenagens formam cachoeiras, funcionando como
controladoras dos processos erosivos remontante. No córrego do Amanhece, assim
como em vários outros cursos d’água da região que drenam a formação Serra Geral,
46
existe uma cachoeira (figura 4) com altura aproximada de vinte metros, que além de
servir como uma barreira natural para os processos erosivos remontante, delimita o
médio e o baixo curso do córrego. A formação Serra Geral ocorre no baixo curso da
bacia (figura 5)
Formação Marília
Esta unidade ocupa a região central do município de Araguari, em áreas de
elevadas altitudes de topos planos. A formação Marília (Grupo Bauru) é composta por
arenitos finos a grosseiros. Segundo Barcelos (1993):
“A formação Marília teria sido depositada em condições de clima semi-árido, com sistemas de leques aluviais de regime torrencial, caracterizados por arenitos conglomeráticos, calcretes e camadas descontínuas de lamitos avermelhados”.
Na microbacia do córrego do Amanhece a formação Marília predomina em sua
área (figura 5). Esta formação possui duas camadas principais, uma superficial
composta por arenitos de pequena granulometria e outra basal, composta por arenitos
conglomeráticos. A camada superficial domina a maior porção da área, sendo possível
visualizar o contato dessa com a camada basal onde esta última se encontra aflorada
devido à interferência antrópica em um local que antes era usado para retirada de
“cascalho” (área de empréstimo), conforme pode ser visto na figura 6.
48
Figura 6 – Contato da camada superficial e basal da formação Marília. Foto do autor, março de 2003.
A seguir foi inserido um quadro descrevendo as unidades geológicas presentes
na microbacia do córrego do Amanhece (Quadro 1).
Quadro 1 - Unidades Geológicas da Microbacia do Córrego do Amanhece
ERA PERÍODOS GRUPOS FORMAÇÕES LITOLOGIA
CRETÁCEO (superior) BAURU MARÍLIA
Arenitos imaturos, conglomerados e arenitos conglomeráticos
MESOZÓICA
JURÁSSICO SÃO BENTO
SERRA GERAL
Basaltos maciços com níveis vesiculares amigdaloidais nos topos e base dos derrames. Presença de arenito intertrapeano.
Fonte: Nishiyama (1998) apud Gonçalves (2003).
3.2. GEOMORFOLOGIA
A área de estudo está inserida na região do Triângulo Mineiro ou como foi
descrita no Radam (1983): na “chapada Uberlândia – Araguari”, que por sua vez está
inserida na bacia sedimentar do Paraná, unidade geomorfológica que recobre porções
49
dos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais (Triângulo Mineiro) e São
Paulo, principalmente.
De acordo com o mapeamento realizado por Rosa (1992), o município de
Araguari possui as seguintes classes de dissecação do relevo: formas aguçadas,
localizadas na área dominada pelo complexo goiano; formas convexas, que ocupam
áreas dominadas principalmente pelas rochas do grupo Araxá e formas tabulares
localizadas nas áreas onde predomina a formação Marília.
Quanto a essas classes, predomina na microbacia do Amanhece relevo de forma
tabular, com feições medianamente dissecados. Possui topos de chapadas caracterizados
por terrenos planos, com altitudes acima de 940 metros e áreas de chapadas com
altitudes variando entre 900 e 940 metros. Em uma pequena área, na porção oeste da
bacia, no baixo curso, surgem áreas com vertentes convexas com feições intensamente
dissecadas, com altitudes variando entre 835 a 850 m (figura 8). As altitudes do leito do
córrego estão entre 835 e 935 metros conforme demonstra a figura 7.
- Área do baixo curso - Área do médio curso - Área do alto curso
Figura 7 – Perfil longitudinal topográfico do leito do Córrego do Amanhece. Org.: Enio Rodovalho
51
3.3. SOLOS
De acordo com os mapeamentos pedológicos produzidos pelo Radam (1983), na
escala de 1:1.000.000, os solos predominantes da área de estudos é o Latossolo Roxo
distrófico (pela nova classificação: Latossolo Vermelho distroférrico) e o Latossolo
Vermelho-Escuro. Porém com as observações de campo foram identificados na área da
microbacia do Córrego do Amanhece quatro grupos principais de solos. No topo de
chapada, originários dos arenitos da Formação Marília estão os Latossolos vermelho
distrófico e Latossolo vermelho-amarelo álico. No compartimento medianamente
dissecado e intensamente dissecado surge o Nitossolo originário dos basaltos da
Formação Serra Geral (figura 9). Além desses três grupos predominantes foi observado,
também, em área de topo de chapada o Latossolo amarelo. Em alguns locais, próximos
às margens do córrego e nas nascentes, surgem solos hidromórficos de coloração escura
e gleissolos com coloração cinza, sendo esse último encontrado também em uma área de
chapada, na parte leste da bacia, onde a água permanecia acumulada nos perfis
superficiais do solo durante a estação chuvosa. Neste local foram identificados alguns
murunduns, com presença de atividade biológica. Os murundus encontram-se bastante
degradados devido à ocupação do solo com pastagem (figura 10) e pela construção de
um canal, utilizado para drenar a água pluvial que se acumulava no terreno devido à
topografia plana e prejudicava as pastagens e campos de cultivos agrícolas.
Segundo Schneider (1991) “murunduns ou covoais é um tipo de microrelevo
constituído por morrotes circulares ou elípticos, que variam de 0,5 a 15 metros de
diâmetro e altura entre 0,3 e 2,0 metros, em geral”.
53
Figura 10 - Remanescentes de murunduns localizados em topo de chapada.
Foto do autor, julho de 2004.
Ainda de acordo com Schneider (1991) “os covoais ocorrem em três diferentes
posições paisagísticas: depressões fechadas de topo, cabeceiras de drenagem e média-
vertente”. Os covoais da microbacia do córrego do Amanhece são de depressão fechada
de topo.
De acordo com os resultados das análises granulométricas realizadas no
Laboratório de Geomorfologia e Erosão dos Solos do Instituto de Geografia da UFU, de
cinco amostras coletadas na superfície do solo em pontos diferenciados na área, a
textura dos mesmos varia de argila arenosa a muito argilosa (tabela 1).
Tabela 1 – Análise granulométrica do solo.
Amostra Tipo de solo Local da coleta Argila %
Silte %
Areia Fina %
Areia Grossa %
Areia Total %
1 LV Campo Cerrado 38,9 05,8 32,3 23,0 55,3 2 LV Cultivo de soja 79,8 02,6 09,2 08,4 17,6 3 LA Cultivo de soja 61,3 15,7 10,1 12,9 23,0 4 LV Cultivo de milho 48,7 02,7 28,6 20,0 48,6 5 Nt Pastagem 62,6 20,4 07,6 09,4 17,0
Fonte: Dados de pesquisa. Org.: Enio Rodovalho.
54
As amostras 1, 2 foram coletadas no topo de chapada em solos Latossolos
vermelho-amarelos. A amostra 3 foi coletada também no topo de chapada em Latossolo
amarelo. A amostra 4 em Latossolo vermelho-amarelo foi coletada na média encosta
próximo a uma nascente onde o solo possui uma coloração escura, associada
possivelmente à baixa profundidade do lençol freático. A amostra 5 foi coletada em
Nitossolo próxima à foz, no vale do Ribeirão Araras.
Para os tipos de solos citados, Resende (2002) atribui os seguintes conceitos:
- Latossolo Vermelho-Amarelo (LV) – São solos que ocorrem no domínio
pedobioclimático do Mar de Morros Florestados e extensamente no Planalto
Central; são geralmente álicos ou distróficos, mas podem ser eutróficos em
extensões consideráveis nas regiões mais secas. Esta classe é bastante ampla no que
se refere à coloração e aos teores de F2O3.
- Latossolo Amarelo (LA) – Possui baixos teores de Fe2O3, cor amarelada e é
tipicamente caulinítico e goethítico, apresentando os torrões com uma grande
coerência e que não se desmancham como pó de café. É quase sempre álico.
- Nitossolo (Nt) – solos com horizonte nítico, correspondendo a Terra Roxa
Estruturada e similar, Terra Bruna Estruturada e similar, alguns Podzólicos
Vermelho-Escuros.
3.4. VEGETAÇÃO E USO DO SOLO
A vegetação dominante da área era o cerrado. Devido ao intenso desmatamento
para o estabelecimento da pecuária e posteriormente a agricultura, restam pequenas
áreas com vegetação original.
Das formas de vegetação que dominavam a cobertura do solo antes da inserção
da agropecuária, destaca-se o cerradão, mata galeria, floresta de encosta e veredas.
55
O cerradão, segundo Eiten (1990) é a forma mais alta de cerrado, com dossel
fechado e árvores de 8 a 15 metros de altura. Além do estrato arbóreo existem os
estratos arbustivo e herbáceo, constituídos principalmente por gramíneas. As espécies
mais comuns do cerrado são: Pequi, Ipê-amarelo, Maria-Preta, Sucupira, Óleo-de-
Copaíba, Jacarandá, Jatobá, dentre outros.
Os solos que sustentam esta vegetação são profundos, bem drenados, com
fertilidade natural de média a baixa e geralmente com alto teor de alumínio.
Ainda segundo Eiten (1990) a mata galeria e floresta de encosta “são tipos
adjacentes em uma encosta de vale e graduam uma para outra. Juntas, podem ser
chamadas de floresta de vale”.
Na microbacia do Córrego do Amanhece, a mata galeria está presente ao longo
das margens em toda extensão do curso fluvial, estando mais preservada junto com a
floresta de encosta no baixo curso onde o vale é mais encaixado. No médio e alto curso,
locais de menor declividade a faixa de vegetação é menor, devido ao desmatamento que
avançou pela facilidade do manejo dessas áreas com máquinas agrícolas.
Em duas propriedades os fazendeiros estão reflorestando áreas de preservação
permanente, e em uma delas já foram plantadas mais de 2000 mudas (Figura 11).
As veredas são um tipo fisionômico do cerrado com vegetação associada a solos
saturados de água. Surgem nas áreas de nascentes ou paralelas às margens, em ambos os
casos em terrenos planos e suavemente inclinados onde o lençol freático está aflorado.
Nelas os estratos são arbóreos e arbustivos e a espécie dominante é o buriti, além de
gramíneas.
A forma de relevo é o principal fator influenciador no tipo de uso do solo da
microbacia do Córrego do Amanhece. A topografia plana facilita a mecanização no
preparo, plantio, manejo e colheita das áreas agrícolas, apesar da baixa fertilidade
56
natural dos solos, do tipo latossolos, pois a aplicação de adubos e corretivos da acidez
(calcários) possibilita o seu uso para fins agrícolas.
Figura 11 – Reflorestamento da mata ciliar do Córrego do Amanhece na Fazenda Macaúbas. Foto do autor, março de 2003.
Pode-se associar também que a intensa ocupação do espaço foi facilitada pela
proximidade da área com a sede do município (cidade de Araguari) localizada a uma
distância de dez quilômetros e a ele interligado por uma rodovia estadual asfaltada.
Para facilitar a análise dos dados, as propriedades rurais da bacia (Figura 12)
foram agrupadas em pequenas, médias e grandes propriedades, de acordo com uma
classificação específica para cafeicultura, citada por Freitas (2005), sendo que as
propriedades com área cultivada de café menores que 10 hectares são classificadas
como pequenas, as com área entre 10 e 50 hectares médias e as acima de 50 hectares,
grandes.
As pequenas propriedades representam a maior classe com 45% do total das
propriedades pesquisadas, com destaque para um grande número de chácaras com áreas
de 3,7 ha, que se encontram agrupadas na região sudeste da microbacia, conhecida
como Porto Barreiro. As mesmas foram criadas e doadas pela Companhia Energética de
58
Minas Gerais (CEMIG) no ano de 1979 às pessoas que tiveram que se mudar por
motivo da construção do lago da Hidrelétrica de Emborcação. Ao todo foram removidas
para este local, trinta e três famílias que receberam seus lotes com uma casa construída e
o terreno preparado e adubado para o plantio de arroz. Atualmente existem apenas duas
famílias que ainda residem no Porto. Todas as outras venderam seus lotes e foram viver
na cidade ou em outras localidades. De acordo com o relato do Senhor Roque Inácio de
Freitas e Dona Carmelita Rodrigues (pertencentes a uma dessas famílias que ficaram), a
mudança para este local foi vantajoso, pois na vila original do Porto Barreiro situada nas
margens do Rio Paranaíba, as famílias não eram donas da terra e viviam apenas em
função do comércio com os viajantes que atravessavam o rio de balsa ou trabalhavam
como empregados em grandes propriedades na região. Atualmente as famílias do Porto
Barreiro vivem do plantio de café sendo que algumas fazem o consórcio da lavoura com
hortaliças e existem algumas pequenas áreas ocupadas com milho cultivado para
subsistência.
As médias propriedades ocupam 39 % e as grandes 16% do total. Estas últimas
apesar de representarem a menor classe ocupam a maior área percentual da bacia, o que
se assemelha à realidade de distribuição de terras no restante do território brasileiro.
Nos últimos anos (até 2004), em virtude do declínio do preço da saca de café os
produtores estão diversificando sua produção, aumentando as áreas para produção de
milho, soja e introduzindo novos tipos de cultivo e também partindo para a criação de
suínos e aves. Na fazenda Macaúbas, produtora de café, o proprietário introduziu
seringueiras para extração do látex consorciado com pupunha e açaí, palmeiras
originárias da região amazônica, utilizadas para extração do palmito (Figura 13).
De acordo com dados de amostragem adquiridos nas entrevistas, a cafeicultura
ocupa 37,5% da área da bacia, seguida pela soja que ocupa 25,4%, milho com 12,5%,
59
além de uso para pastagem, plantio de feijão, hortaliças, dentre outras culturas (tabela
2). Algumas culturas como o feijão, a vagem e hortaliças são consorciadas com o café.
Figura 13 – Plantio de seringueira consorciado com a pupunha e açaí – Fazenda Macaúbas. Foto do autor, março de 2003.
O sistema de cultivo consorciado é essencial para a sustentabilidade produtiva das
pequenas propriedades, pois entre as linhas de café há espaço, de cerca de 3,5 metros e
com isso o proprietário consegue aproveitar melhor a área disponível (figura 14). O
restante, cerca de 19% é ocupado com áreas de preservação permanente (APP), reserva
legal e infra-estrutura das propriedades (sede, barracões, terreiros, etc). Isto significa
que, no geral, não existe o mínimo de áreas de reservas ambientais que é de 20%,
principalmente em propriedades localizadas em chapadas, áreas de fácil mecanização,
onde todo o terreno foi ocupado com cultivos agrícolas (figura 15).
A solução encontrada pelos proprietários e pelos órgãos ambientais foi adquirir
terras em outras localidades para compensar a falta de áreas ambientais. Entretanto
outras propriedades se encontram ainda em situação irregular, pois não possuem áreas
de APP e reserva legal.
60
Tabela 2 – Amostragem do uso e ocupação do solo na microbacia do Córrego do
Amanhece (ha) 2003/04.
1 - consorciado com outra cultura 2 – não possui reserva legal 1 - possui APP e reserva legal 3 - possui reserva legal e não está em APP Fonte: Dados de pesquisa, 2003/04. 4 - possui reserva legal fora da propriedade Org.: Enio Rodovalho
Classes/ Total Área Culturas do uso Total
1,0 3,0 3,0 4,0 7,2 18,2 2 20,02,0 0,6 0,5 0,2 3,3 2 3,73,0 1,0 4,0 2 4,83,0 2,0 1,5 6,5 3 9,73,0 17,0 20,0 4 22,03,5 3,5 2 3,73,5 1,0 3,5 2 3,73,5 3,5 4 3,73,6 3,6 2 3,74,0 4,0 1 4,84,8 1,5 6,3 2, 4 4,84,8 4,8 2 4,87,0 1,0 1,0 9,0 4 7,48,0 1,0 3,0 12,0 4 12,59,0 10,0 0,5 19,5 1 22,09,0 35,0 35,0 79,0 4 94,0
1,0 1,0 3,5 5,5 3 5,82,5 1,5 4,0 3 9,69,0 5,0 2,0 7,0 23,0 3 24,0
1,0 26,0 27,0 4 29,0Total 72,7 56,0 62,1 8,5 2,5 20,2 8,2 1,5 29,5 0,0 0,0 260,2 293,7
10,0 4,6 14,6 4 14,810,0 30,0 40,0 1 75,010,0 50,0 60,0 3 70,012,0 12,0 24,0 1 14,515,0 65,0 80,0 2 80,016,0 70,0 86,0 1 89,017,0 2,0 19,0 4 17,919,0 3,0 22,0 4 19,220,0 20,0 1 22,024,0 24,0 2 24,024,0 47,8 71,8 4 72,028,8 28,8 4 29,030,0 30,0 1 38,532,0 1,0 33,0 4 33,641,0 10,0 51,0 4 42,0
90,0 90,0 2, 4 91,05,0 1,5 x 6,5 3 235,0
Total 308,8 127,8 234,6 10,0 1,0 18,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 700,7 967,550,0 80,0 130,0 4 134,055,0 9,6 64,6 1 73,062,5 10,0 72,5 1 86,565,0 65,0 1 75,0108,0 20,0 8,0 8,0 144,0 1 156,0200,0 200,0 1 240,0
360,0 360,0 3 432,0Total 540,5 440,0 9,6 0,0 0,0 0,0 0,0 10,0 20,0 8,0 8,0 1036,1 1196,5Total 922,0 623,8 306,3 18,5 3,5 38,7 8,2 11,5 49,5 8,0 8,0 1997,0 2457,7
% 37,5 25,4 12,5 0,8 0,1 1,6 0,3 0,5 2,0 0,3 0,3 81,3 100,0
Médias
Grande
Pequenas
Café Soja Milho Feijão Arroz Hortal. Eucal. ReservaMand. Marac. Pasto Sering.
61
Figura 14 - Cultura de café consorciado com vagem e quiabo, em pequena propriedade. Foto do autor, março de 2004.
As pequenas propriedades são as que ocupam a maior porcentagem de uso do
solo com cultivos agrícolas (88% em relação à área total da propriedade), devido
principalmente a um grande número de chácaras com área total de 3,7 hectares cada,
onde o proprietário ocupa todo o espaço com cultivos, principalmente café, pois sua
área é muita restrita e uma área de reserva legal iria inviabilizar o seu sistema produtivo.
Estas propriedades estão aguardando uma decisão judicial para adquirirem área de
reserva legal fora da propriedade.
Nas médias, apesar do uso representar 72% da área total da propriedade as áreas
de reserva não estão corretas, pois os 28% restantes estão distribuídos para reserva legal
e espaço de infra-estrutura das fazendas. E nas grandes propriedades o uso corresponde
a 86%.
Tanto nas pequenas, médias e grandes propriedades percebeu-se, com a
realização das entrevistas, que mesmo quando o proprietário relata que possui reserva
legal ou APP, as dimensões das mesmas nem sempre estão dentro da porcentagem
estabelecida pelo Código Florestal, que estabelece uma área correspondente a 20% da
área total da propriedade para reserva legal (no bioma do Cerrado) e uma extensão de
Figura 15 – Culturas de soja e café inseridas no topo de chapada na borda sudeste da microbacia hidrográfica do Córrego do Amanhece. Foto do autor, março de 2003.
63
30 metros ao longo das margens dos cursos d’água (de largura inferior a 10 metros) e de
50 metros no entorno das nascentes para APP.
Entende-se também que a liberação dos órgãos ambientais para aquisição área de
reserva fora da propriedade é uma medida paliativa que vem solucionar o problema
daquelas propriedades em que o proprietário desmatou toda a vegetação nativa para
substituí-la por cultivos agrícolas. Mas o ideal é que cada propriedade tenha suas áreas
de reservas legal dentro da própria fazenda. Não se justifica preservar uma área e
impactar outra. Cada bacia hidrográfica tem que possuir um mínimo de reserva legal,
visando permitir a manutenção dos recursos hídricos, da fauna e da flora. Como foram
demonstrados nos ensaios de infiltração realizados na microbacia, cujos resultados estão
no capítulo 4, as áreas ocupadas com cerrado nativo possuem uma taxa de infiltração
muito superior às outras ocupadas com agropecuária. A água de infiltração é essencial
para manter a recarga dos aqüíferos, que por sua vez garantem a perenidade das
nascentes dos cursos fluviais. Outro aspecto sob o ponto de vista hidrológico é que as
árvores, arbustos e gramíneas funcionam como barreira física, diminuindo o poder
erosivo das águas de escoamento superficial nas vertentes. Além disso, as reservas
legais são áreas de conservação de espécies vegetais e animais e evitam a degradação
dos solos.
De acordo com a figura 16, a distribuição de uso e ocupação do solo se
diferencia das porcentagens elaboradas com base nas entrevistas. Por esta figura foi
possível estabelecer um diagnóstico mais preciso a respeito do uso do solo na
microbacia pois o mesmo foi elaborado com base em imagem de satélite. Os
resultados demonstram que as áreas de reservas ambientais (APP e reserva legal)
correspondem apenas a 11% da área da microbacia, um valor muito inferior àquelas
64
extraídas das entrevistas e da porcentagem estabelecida pelo código florestal, que é de
20% para reserva legal em áreas de cerrados.
Observando a figura 16 percebe-se que praticamente todas as áreas de reserva
legal da microbacia foram ocupadas com uso agropecuário. Restaram apenas 2,6 % de
áreas de reserva legal e as áreas de APPs não foram ocupadas totalmente porque estão
em locais de solos hidromórficos ou de declividades elevadas, que dificultam o uso
antrópico. Esta informação exemplifica o desrespeito ao meio ambiente e ao não
cumprimento à legislação ambiental no Brasil.
A cafeicultura e as culturas temporárias são as maiores responsáveis pela
mudança no tipo de uso do solo da microbacia, ocupando juntas uma da área de 79,8 %
(Quadro 2).
Quadro 2 – Diagnóstico do uso e ocupação do solo na microbacia do Córrego do Amanhece.
Uso Área (ha) Área (%)
Café 1.276,0 41,7
Culturas temporárias 1.166,0 38,1
Áreas de APP 255,5 8,4
Áreas de reserva legal 81,0 2,6
Pastagem 211,0 7,0
Área Urbana 44,0 1,3
Seringueira 8,0 0,3
Hortaliça 13,5 0,4
Eucalipto 7,0 0,2
Total 3.062 100,0 Fonte: Dados da pesquisa.
É necessário que a curadoria do meio ambiente de Araguari, repense a
alternativa oferecida aos produtores de adquirir reserva legal fora da propriedade, pois é
uma solução que não soluciona os impactos ambientais gerados na microbacia devido a
intensa redução de áreas de reserva legal.
66
3.5. CLIMA REGIONAL E LOCAL
De acordo com os dados da tabela 3, o município de Araguari possui um total
pluviométrico anual, médio, de 1499 mm, sendo que desse total, 87% concentra-se no
período de outubro a março, e dezembro e janeiro são os meses mais chuvosos. Já nos
meses de junho, julho e agosto ocorrem os menores totais de chuva. Em 1982 e 1991
ocorreram os maiores totais anuais com o registro de 1891 e 1910 mm, respectivamente.
Os menores ocorreram nos anos de 1984 e 1998 com 1043 e 1099 mm, respectivamente.
Tabela 3 - Totais Pluviométricos mensais e anuais de Araguari – MG.
Ano Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Total1975 148 124 43 80 25 16 9 0 24 190 299 244 1202 1976 71 310 107 60 52 0 19 7 69 96 178 339 1307 1977 226 97 204 127 21 34 2 1 61 147 356 250 1525 1978 318 181 170 54 56 29 18 0 31 167 302 273 1599 1979 325 298 145 97 76 0 24 20 110 71 154 521 1840 1980 307 451 51 95 9 26 0 10 54 31 275 367 1676 1981 252 117 237 47 0 70 2 0 1 183 329 363 1601 1982 431 108 352 50 94 43 11 11 34 200 98 459 1891 1983 490 292 272 67 41 5 34 0 36 148 111 316 1812 1984 185 44 58 87 52 0 0 72 84 68 137 256 1043 1985 544 152 268 11 17 0 0 0 41 120 154 212 1519 1986 193 212 149 51 40 0 4 19 27 152 154 484 1484 1987 185 73 149 105 17 12 3 12 62 140 231 487 1477 1988 139 201 227 83 38 31 0 0 0 137 129 371 1356 1989 178 266 132 40 1 4 52 65 35 40 341 428 1582 1990 191 343 138 82 52 0 22 24 13 114 115 173 1266 1991 364 326 367 174 10 0 0 0 5 136 261 267 1910 1992 367 292 103 107 20 0 0 20 148 160 267 274 1759 1993 165 339 74 23 5 71 0 34 36 86 115 400 1348 1994 240 64 329 54 35 9 6 0 0 76 206 219 1239 1995 169 341 149 65 72 7 9 0 27 51 128 245 1261 1996 272 109 261 42 65 9 1 30 78 142 284 293 1587 1997 401 90 406 57 20 94 0 0 34 136 243 236 1716 1998 309 89 82 63 50 0 0 54 28 91 130 204 1099 1999 272 104 296 115 8 7 2 0 45 21 105 286 1262 2000 370 355 384 28 0 0 13 35 110 131 167 189 1782 2001 264 37 83 2 0 29 0 29 85 121 120 483 1253 2002 242 433 230 39 38 0 4 0 42 51 129 297 1505 2003 484 99 259 114 23 0 0 0 64 84 227 209 1563
Média 279 205 197 70 32 17 8 15 48 113 198 315 1499 Fonte: ANA - Agência Nacional de Águas – Estação 1848010
67
Segundo Sant´Anna Neto (2000) essas variações de anos chuvosos e secos
fazem parte do ciclo natural das chuvas (ciclicidade), pois a tendência é a ocorrência de
um ano ou período chuvoso seguido por outro ano ou período seco. Por exemplo, os
anos de 1982 e 1983 foram chuvosos com totais de 1891 e 1812 mm, respectivamente.
O ano seguinte de 1984 foi seco com total anual de 1043 mm. Os períodos chuvosos se
repetem de 3 a 8 anos e os períodos secos também apresentam uma ciclicidade com
intervalos de 2 a 9 anos (Quadro 3 e 4).
Vale ressaltar que para realizar o estudo mais elaborado da ciclicidade é
necessária uma série mais longa. O ideal seria mais de 50 anos de dados, pois seria
possível analisar o período de retorno dos períodos chuvosos e secos.
Quadro 3 - Ciclicidade pluvial dos períodos chuvosos 1975 – 2003.
Anos Total de chuvas (mm) Periodicidade – intervalo (anos) 1977/1983 1706
1985 1519 2 1989 1582 4
1991/1992 1834 2 1996/1997 1651 4
2000 1782 3 2003 1563 3
Org.: Enio Rodovalho
Quadro 4 - Ciclicidade pluvial dos períodos secos 1975 – 2003.
Anos Total de chuvas (mm) Periodicidade – intervalo (anos) 1975/1976 1255
1984 1043 8 1987/1988 1416 3
1990 1266 2 1993/1995 1283 3 1998/1999 1180 3
2001 1253 2 Org.: Enio Rodovalho
Com relação à irregularidade na distribuição das chuvas ao longo do ano,
fenômeno característico de regiões tropicais, é comum o excesso de precipitações no
68
verão e redução sensível das chuvas durante o inverno, o que acarreta problemas no
manejo das áreas com pastagens e culturas perenes, como é o caso da cafeicultura.
Essa sazonalidade pluviométrica “obriga” os agricultores ao uso da irrigação de
suas lavouras, como medida necessária para a manutenção dos índices de produção e
produtividade das culturas permanentes.
3.5.1 Condições hídricas dos solos
Para a realização desta análise, foram elaborados cálculos de balanços hídricos
do período de 1975 a 2003, enfatizando os dados de três balanços hídricos: um que
engloba a média de todo o período estudado (Tabela 4) e de outros dois, analisando as
condições de um ano muito chuvoso (1991) e outro pouco chuvoso (1984),
considerados como anos – padrões.
Os valores de ETP, ETR DEF e EXC da tabela 4 representam a média de cada
ano do período de 1975 a 2003, caso o balanço fosse calculado apenas com as médias
de temperatura e precipitação deste período as médias não seriam menos precisas.
Tabela 4 – Resumo do Balanço Hídrico de Araguari (MG): 1975 – 2003. CAD: 125 mm Latitude: 18º 39’ Sul
Meses Temp Precip ETP ETR DEF EXC Jan 23,2 279 110 110 0 174 Fev 23,2 205 97 97 1 106 Mar 23,0 197 101 101 2 108 Abr 22,4 70 87 86 7 9 Mai 20,2 32 67 56 14 0 Jun 18,8 17 52 35 20 0 Jul 18,9 8 54 25 30 0
Ago 20,6 15 69 31 41 0 Set 22,7 48 89 49 39 0 Out 23,7 113 108 108 15 1 Nov 23,3 198 104 104 0 47 Dez 23,2 315 108 108 0 176
Total 21,9 1499 1045 909 168 621 Fonte: Dados da pesquisa Org.: Enio Rodovalho
69
O cálculo do balanço hídrico do período de 1975 a 2003 demonstra que em
Araguari ocorre, em média, um déficit hídrico anual de 168 mm, com um longo período
de deficiência hídrica dos solos, significativo, entre os meses de maio e setembro. Por
outro lado observam-se médias pluviométricas elevadas durante o verão, que
corresponde ao período de ocorrência dos excedentes hídricos, sobretudo nos meses de
dezembro a março.
O ano de 1991 (tabela 5) foi o mais chuvoso do período, com um total
pluviométrico anual bem acima da média, registrando 1910 mm. O índice de deficiência
hídrica foi de 202 mm acumulado nos meses de maio, junho, julho, agosto e setembro.
Já o excedente hídrico anual foi de 1081 mm ou o equivalente ao dobro do normal.
Esses índices demonstram que apesar da grande quantidade de chuvas, o ano de 1991,
do ponto de vista agroclimático, foi um ano seco, pois apresentou um alto índice de
deficiência hídrica nos solos durante um período de cinco meses. O início do período
chuvoso em 1991 ocorreu apenas no dia 06 de outubro, quando começou a reposição
hídrica dos solos, oferecendo condições ideais para o início do plantio das culturas
temporárias.
Tabela 5 - Balanço Hídrico de Araguari (MG): 1991.
CAD: 125 mm Latitude: 18º 39’ Sul Meses Temp Precip ETP ETR DEF EXC
Jan 22,6 364 104 104 0 260 Fev 23,1 326 97 97 0 229 Mar 22,4 367 96 96 0 271 Abr 22,2 174 87 87 0 87 Mai 20,2 10 68 57 12 0 Jun 19,5 0 59 29 29 0 Jul 18,9 0 56 18 38 0
Ago 19,7 0 63 13 51 0 Set 22,3 5 87 14 72 0 Out 22,9 136 100 100 0 0 Nov 23,2 261 104 104 0 78 Dez 23,2 267 110 110 0 156
Total 21,7 1910 1031 829 202 1081 Fonte: Dados da pesquisa Org.: Enio Rodovalho
70
Ao contrário do que foi observado em 1991, o ano de 1984 apresentou o menor
índice pluviométrico anual do período estudado (tabelas 3 e 6). Apesar dessa baixa
precipitação a deficiência hídrica anual foi de 156 mm, acumulada entre os meses de
fevereiro e outubro. Quanto aos excedentes hídricos, foram registrados apenas 145 mm
no ano. Devido a ocorrência de um alto índice de deficiência hídrica em setembro e,
sobretudo, no mês de outubro, foram registradas perdas excessivas na produção/
produtividade da cafeicultura em Araguari, pois a irrigação não havia sido implantada
no município. O uso da irrigação se iniciou apenas no ano seguinte e de forma
experimental, em uma pequena propriedade de acordo com Assunção, 2002.
Tabela 6 - Balanço Hídrico de Araguari (MG): 1984. CAD: 125 mm Latitude: 18º 39’ Sul
Meses Temp Precip ETP ETR DEF EXC Jan 23,2 185 110 110 0 75 Fev 23,2 44 97 87 10 0 Mar 23,0 58 102 82 20 0 Abr 22,4 87 88 86 1 0 Mai 20,2 52 67 59 9 0 Jun 18,8 0 53 17 35 0 Jul 18,9 0 55 12 43 0
Ago 20,6 72 70 70 0 0 Set 22,7 84 90 85 5 0 Out 23,7 68 108 74 34 0 Nov 23,3 137 105 105 0 0 Dez 23,2 256 110 110 0 70
Total 21,9 1043 1054 898 156 145 Fonte: Dados da pesquisa Org.: Enio Rodovalho
Além do ano de 1984 que registrou o menor total anual pluviométrico do
período de 1975 a 2003, os anos de 1985, 1991 e 2002, apesar de registrarem totais
anuais acima da média, tiveram mais de noventa dias sem chuva, durante o período de
estiagem, o que não ocorreu em 1984. Em 1991, ano mais chuvoso, o déficit hídrico foi
maior do que o de 1984. A diferença é que no primeiro, o período seco foi regular e
71
mais concentrado, enquanto no segundo ano de análise, o período seco foi longo e
irregular, com uma interrupção em agosto, onde não ocorreu déficit. Essa condição é
mais prejudicial para a cafeicultura por causa do prolongamento da estiagem, pois
compromete o pegamento das floradas, assim como o vingamento dos chumbinhos da
nova safra, devido às poucas chuvas registradas em setembro e outubro. Deve-se,
portanto, observar que o ano de menor registro pluviométrico anual não é
necessariamente o mais seco do ponto de vista agroclimático (de menor índice de
deficiência). O que deve ser levado em consideração é a distribuição das chuvas ao
longo do ano, como também, o comportamento do período seco.
A deficiência hídrica média anual no município de Araguari é de 168 mm e
apresenta maiores médias mensais nos meses de junho, julho, agosto e setembro (tabela
7). Os meses de maio e junho apresentam também alta probabilidade de ocorrência de
déficit hídrico, apesar da média ser inferior aos três outros. A maior preocupação dos
cafeicultores é com os meses de agosto e setembro, período de pegamento da florada,
época mais comum da prática de irrigação no município, principalmente dos pequenos
produtores. Empreendedores que possuem melhor renda e mais capital para
investimentos irrigam também a partir de maio, como complemento das chuvas e só
param por volta de outubro, com o retorno do período chuvoso, que é o ideal, mas como
o preço da saca de café está muito baixo (até 2004), os pequenos produtores preferem
diminuir a irrigação e conseqüentemente abaixar os custos de produção.
Com os dados da tabela 8, pode-se afirmar que a cafeicultura no município de
Araguari seria impraticável se não houvesse irrigação. Considerando que acima de 100
mm de déficit anual ocorre perdas de produtividade no cafeeiro, do total de anos
analisados, em 83% deles foi necessário irrigar, seja de forma ocasional, complementar
ou obrigatória e apenas em 7% dos anos a irrigação torna-se dispensável. Em outras
72
palavras pode-se afirmar que em oito anos de cada década, o cafeicultor sem o uso da
irrigação poderá ter baixos níveis de produção ou até mesmo nos anos mais críticos,
perder por completo toda a produção em função da irregularidade das chuvas e do
aumento do período de estiagem. Tal fato já é suficiente para justificar o alto índice de
irrigação no município de Araguari, que atualmente atinge praticamente a totalidade das
lavouras de café.
Tabela 7 - Deficiência hídrica anual e mensal em Araguari (MG): 1975 – 2003. (CAD: 125 mm)
Fonte: dados da pesquisa
DEFAnual Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
1975 212 0 0 12 3 21 23 34 58 59 0 0 01976 128 6 0 0 3 4 22 22 46 17 10 0 01977 114 0 0 0 0 8 7 28 48 23 0 0 01978 129 0 0 0 4 3 9 18 47 48 0 0 01979 73 0 0 0 0 0 10 13 29 0 21 0 01980 239 0 0 9 0 25 16 39 49 32 71 0 01981 191 0 0 0 6 30 0 29 50 76 0 0 01982 86 0 0 0 5 0 1 11 30 38 0 0 01983 133 0 0 0 2 6 21 12 49 44 0 0 01984 156 0 10 20 1 9 35 43 0 5 34 0 01985 236 0 0 0 19 28 37 44 62 46 0 0 01986 170 0 0 0 5 9 27 34 40 54 0 0 01987 133 0 1 0 0 10 18 36 43 24 0 0 01988 161 0 0 0 0 7 6 21 43 85 0 0 01989 160 0 0 0 9 29 31 0 0 37 54 0 01990 107 0 0 0 1 1 17 14 26 44 0 3 01991 202 0 0 0 0 12 29 38 51 72 0 0 01992 120 0 0 0 0 11 27 40 41 0 0 0 01993 184 0 0 4 24 36 0 35 25 46 14 0 01994 255 0 7 0 4 14 23 30 48 92 37 0 01995 251 0 3 0 3 10 20 37 67 82 28 0 01996 111 0 0 0 8 2 18 37 41 4 0 0 01997 112 0 0 0 2 11 0 10 33 56 0 0 01998 213 0 2 10 18 8 37 45 23 61 11 0 01999 220 0 0 0 0 8 17 37 45 41 73 0 02000 146 0 0 0 10 34 40 30 32 0 0 0 02001 236 0 15 7 57 50 21 54 33 0 0 0 02002 265 0 0 0 8 14 36 39 69 29 69 0 02003 137 0 0 0 0 5 23 33 50 16 11 0 0
Média 168 0 1 2 7 14 20 30 41 39 15 0 0
1 8 6 21 27 26 28 27 25 12 2 0
3,4 27,6 20,7 72,4 93,1 89,7 96,6 93,1 86,2 41,4 6,9 0,0
Deficiência hídrica mensal (mm)Ano
Meses com DEF
Probab. de DEF %
73
Também se faz necessário que os produtores irrigantes disponham em suas
propriedades de equipamentos simples, como o pluviômetro e termômetros de máxima e
mínima, para quantificar as precipitações ocorridas sobre as lavouras a serem irrigadas,
como também, para a coleta de informações climáticas que facilitem a confecção de
balanços hídricos simplificados, como é o caso do método aperfeiçoado por Camargo
(1985), do Instituto Agronômico de Campinas (SP).
Tabela 8- Avaliação do risco de perda de safras através do DEF em Araguari - MG, com DEF médio de 168 mm anuais.
Ano Déficit Hídrico Observações (%) dos anos Anual (mm) Analisados
1979 73 1982 86 Irrigação dispensável 7
1990 107 1996 111 1997 112 1977 114 1992 120 Irrigação ocasional 1976 128 1978 129 1983 133 1987 133 2003 137 2000 146
38
1984 156 1989 160 Irrigação suplementar ou 1988 161 complementar (DEF muito 1986 170 prejudicial ao cafeeiro) 1993 184 1981 191
21
1991 202 1975 212 1998 213 1999 220 2001 236 Irrigação obrigatória 1985 236 (DEF passa a ser 1980 239 limitante ao cafeeiro) 1995 251 1994 255 2002 265
34
Total 29 anos 100 Fonte: Adaptado de Santinato, R. et al. Apud Assunção (2002)
De acordo com os dados climatológicos do posto do distrito do Amanhece, a
temperatura média anual é de 21,2 ºC, com máximas em torno de 34,6 º C,
74
principalmente nos meses de setembro e outubro e mínimas médias de 8,4 ºC. O total
pluviométrico anual médio foi de 1510 mm, sendo que o ano mais chuvoso do período
de 1999 a 2003 foi o de 2000 com 1775 mm e o mais seco foi 1999 com apenas 1381
mm (tabela 9).
Tabela 9 – Dados de precipitação e temperatura do distrito do Amanhece - Araguari-
MG – (1999-2003).
Totais anuais Temp. média Temp. máxima Temp. mínima
1999 1381 20,5 34,0 (out.) 8,0 (jun.)
2000 1775 21,2 36,0 (set.) 4,0 (jul.)
2001 1432 21,2 34,0 (set.) 10,0 (jun.)
2002 1505 21,8 34,0 (out.) 10,0 (set.)
2003 1563 21,1 35,0 (nov.) 10,0 (maio)
Média 1510 21,2 34,6 8,4 Fonte: LCRH – Laboratório de Climatologia e Recursos Hídricos/IGUFU
3.6. ASPECTOS SÓCIO-AMBIENTAIS E ECONÔMICOS
A microbacia do córrego do Amanhece possui uma sede distrital e setenta e sete
propriedades distribuídas na área (figura 11). De acordo com dados da agência do IBGE
de Araguari do ano de 2000, o Amanhece possui 2.692 habitantes, sendo 1.185
residentes na área urbana e 1.507 na zona rural. Porém esses dados não representam a
população da microbacia hidrográfica do Amanhece e sim a área de influência do
distrito, que é maior do que a microbacia, pois o distrito está localizado em sua
cabeceira e com isso aquelas propriedades localizadas a leste, ao norte e a sudeste do
mesmo pertencem à sua região, apesar de não estarem situadas na microbacia do
Amanhece.
75
Nas quarenta e quatro propriedades visitadas foram cadastradas 202 pessoas.
Considerando que existe uma média de 4,6 pessoas por propriedade, nas setenta e sete
existirão cerca de 354 pessoas residentes na zona rural. Então estima-se que a
microbacia hidrográfica do Amanhece possui 1.539 habitantes (tabela 10).
Tabela 10 - Censo Populacional Rural da Microbacia do Córrego do Amanhece – 2003/04.
Moradores Área da Densid. demog. Classes Fixos Tempor ha hab/ha hab/Km² 2 3,7 0,54 0,02 4 3,7 1,08 0,01 5 3,7 1,35 0,01 5 3,7 1,35 0,01 5 7 3,7 1,35 0,01 1 10 4,8 0,21 0,05 2 4,8 0,42 0,02 1 4,8 0,21 0,05 6 5,8 1,03 0,01 7 7,4 0,95 0,01 3 9,6 0,31 0,03
Pequenas 5 9,7 0,52 0,02 1 2 12,5 0,08 0,13 3 6 14,5 0,21 0,05 7 11 14,8 0,47 0,02 2 8 17,9 0,11 0,09 7 15 19,2 0,36 0,03 3 8 20,0 0,15 0,07 3 22,0 0,14 0,07 5 3 22,0 0,23 0,04 1 22,0 0,05 0,22 1 24,0 0,04 0,24 2 2 24,0 0,08 0,12 6 29,0 0,21 0,05 5 30 29,0 0,17 0,06 5 11 33,6 0,15 0,07 2 38,5 0,05 0,19
Médias
4 20 42,0 0,10 0,11 4 12 70,0 0,06 0,18 4 10 72,0 0,06 0,18 3 30 73,0 0,04 0,24 4 75,0 0,05 0,19 4 30 75,0 0,05 0,19
10 6 80,0 0,13 0,08 16 86,5 0,18 0,05 2 6 89,0 0,02 0,45 2 6 94,0 0,02 0,47 3 20 134,0 0,02 0,45
14 22 156,0 0,09 0,11 2 235,0 0,01 1,18
24 40 240,0 0,10 10,00
Grande
7 432,0 0,02 0,62 Total 202 315 2457,7 0,08 0,12
Fonte: Dados da pesquisa, 2003/04. Org.: Enio Rodovalho
76
No entanto o número de habitantes rurais varia sazonalmente, devido ao período
de maior demanda de mão-de-obra durante a safra do café. São trabalhadores
temporários, provenientes do próprio município de Araguari, de municípios vizinhos e
até outros estados como da Bahia, Ceará e Paraná, principalmente. De acordo com os
dados da pesquisa, nas propriedades visitadas, ocorre um aumento de 43% no número
de pessoas no período de safra.
Um dos maiores desafios da cafeicultura é conciliar o preço de venda com o
custo de produção a fim de obter lucro. Os custos de produção representam
principalmente os valores gastos com implantação da lavoura e do sistema de irrigação,
com a condução da lavoura (compra de insumos, custo com mão-de-obra, diesel,
energia elétrica, etc) e financiamentos.
Mendonça (2001) classificou os custos de produção por saca da cafeicultura em
três classes (custo médio 1, US$ 50,00; custo médio 2, US$ 75,00 e custo médio 3,
US$100,00) (figura 17).
Desses três, o menor (US$ 50,00/sc), representa o custo médio de produção de
lavouras conduzidas por pequenos agricultores da região norte do Paraná, sem irrigação
e em sistema de plantio adensado, com 7.000 a 10.000 plantas por hectare.
O custo de produção intermediário (US$ 75,00/sc) está relacionado com o custo
das regiões produtoras de São Paulo, sul de Minas Gerais, Triângulo Mineiro e Alto
Paranaíba no período de 1994 a 1999 em lavouras de espaçamento convencionais, com
2.500 a 5.500 plantas por hectare.
Ainda segundo Mendonça (2001) o custo médio máximo (US$ 100,00/sc)
representa uma situação de risco para os produtores em períodos de desvalorização do
preço de venda da saca de café.
77
Geralmente o custo de produção oscila principalmente pela variação do preço de
venda da saca de café. Quando o preço da saca está alto os produtores fazem os devidos
tratos culturais das lavouras, aumentando o custo de produção. Ao contrário, quando o
preço da saca diminui, o produtor gasta menos com os tratos culturais da lavoura,
inclusive com irrigação, chegando muitas vezes a comprometer a produção,
produtividade e desenvolvimento das plantas. Com essa prática o produtor faz um
controle para não deixar que o custo de produção ultrapasse o valor de venda do
produto, o que o levaria ao prejuízo.
Na região do Amanhece, segundo relato dos agricultores, nas safras de 2003 e
2004 o custo de produção girou em torno de 75% do preço de venda da saca de café. Ou
seja, chegou a R$ 130,00 em 2003 e R$ 150,00 em 2004.
A produção de 2003 foi muito baixa na maioria das propriedades, pois o preço
do produto estava muito baixo no mercado. Com isso a produtividade média na região
foi de 17 sacas/ha. Em 2004, com uma ligeira valorização do produto a produtividade
Café - Preços x Custo de Produção
0
50
100
150
200
250
300
350
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
US$/sc 60 Kg
Preços Custo Médio 1 Custo Médio 2 Custo Médio 3
Figura 17 – Série histórica de preços de venda e níveis de custos de produção da saca de café, no período de 1970 a 1998, no Brasil. Fonte: Androcioli Filho (2000) apud Mendonça (2001).
78
média saltou para 37 sacas/ha. Por exemplo, em uma propriedade onde a produtividade
foi de 10 sc/ha em 2003, na safra seguinte a mesma aumentou para 43 sc/ha (tabelas 11
e 12 questionário nº 10). Deve-se considerar, também, que na safra de 2003 houve a
influência da baixa produtividade determinada pelo ciclo bianual do cafeeiro, em várias
lavouras.
Devido ao alto custo de produção da cafeicultura somente nas médias e grandes
propriedades obtém-se lucro satisfatório com uma maior quantidade produzida. Nas
pequenas propriedades a renda líquida anual obtida em anos de baixa produtividade não
é suficiente para o sustento familiar. Por exemplo, na safra de 2004, na propriedade de
nº 11 que produziu 30 sacas de café em uma área de 3,7 hectares, a renda foi em torno
de R$ 1.200,00 no ano. O pequeno produtor só consegue sobreviver porque produz
outras culturas consorciadas com o café, como hortaliças e feijão principalmente, que
lhes dão uma renda extra, com várias produções ao longo do ano, ao contrário do café
que só produz uma vez por ano.
Na propriedade de nº 36 na safra de 2004 ocorreu uma produção/produtividade
muito inferior às demais. Mas neste caso foi porque a propriedade foi adquirida
recentemente e no período de negociação da venda o antigo proprietário não irrigou a
lavoura, o que demonstra a importância dessa prática no município de Araguari.
O maior produtor é o Sr. Serafim Peres (nº 8) localizado na cabeceira da bacia
com uma produção em 2004 de 8.000 sacas. Além da alta produção, ainda produz café
despolpado que tem venda garantida no mercado externo, principalmente no europeu.
Recentemente este proprietário recebeu um certificado internacional de garantia de
qualidade, demonstrando o potencial não só quantitativo, mas também qualitativo da
cafeicultura de Araguari.
79
Tabela 11 - Diagnóstico econômico da cafeicultura na microbacia do Córrego do
Amanhece - Safra 2003.
Fonte: Dados da pesquisa 2003/2004 Org.: Enio Rodovalho
Tabela 12 - Diagnóstico econômico da cafeicultura na microbacia do Córrego do
Amanhece - Safra 2004.
Fonte: Dados da pesquisa 2003/2004 Org.: Enio Rodovalho
Nº Produção Área Produtivid. Custo (76%)Quest. sc ha sc/ha (R$) Bruta Líquida (24%)
30 60 4,8 13 7.800,00 10.200,00 2.400,00 18 200 20 10 26.000,00 34.000,00 8.000,00 17 500 12 42 65.000,00 85.000,00 20.000,00 7 1300 108 12 169.000,00 221.000,00 52.000,00 33 500 55 9 65.000,00 85.000,00 20.000,00 22 500 30 17 65.000,00 85.000,00 20.000,00 27 910 16 57 118.300,00 154.700,00 36.400,00 5 500 62,5 8 65.000,00 85.000,00 20.000,00 6 80 17 5 10.400,00 13.600,00 3.200,00 9 2000 41 49 260.000,00 340.000,00 80.000,00 10 70 7 10 9.100,00 11.900,00 2.800,00 11 30 3,7 8 3.900,00 5.100,00 1.200,00 12 120 3,7 32 15.600,00 20.400,00 4.800,00 14 40 3,7 11 5.200,00 6.800,00 1.600,00 20 240 24 10 31.200,00 40.800,00 9.600,00 28 420 9 47 54.600,00 71.400,00 16.800,00 29 500 50 10 65.000,00 85.000,00 20.000,00 41 80 3 27 10.400,00 13.600,00 3.200,00 43 50 3 17 6.500,00 8.500,00 2.000,00
Total 8100 473,4 17 1.215.000,00 1.620.000,00 405.000,00
Renda anual (R$)
Nº Produção Área Produtivid. Custo (75%)Quest. sc ha sc/ha (R$) Bruta Líquida (25%)
8 8000 200 40 1.200.000,00 1.600.000,00 400.000,00 31 700 19 37 105.000,00 140.000,00 35.000,00 19 100 9 11 15.000,00 20.000,00 5.000,00 22 1000 30 33 150.000,00 200.000,00 50.000,00 10 300 7 43 45.000,00 60.000,00 15.000,00 29 1100 50 22 165.000,00 220.000,00 55.000,00 36 15 8 2 2.250,00 3.000,00 750,00 38 1500 28 54 225.000,00 300.000,00 75.000,00 39 1000 24 42 150.000,00 200.000,00 50.000,00 40 400 7 57 60.000,00 80.000,00 20.000,00 41 40 3 13 6.000,00 8.000,00 2.000,00 43 30 3 10 4.500,00 6.000,00 1.500,00
Total 14185 388 37 2.127.750,00 2.837.000,00 709.250,00
Renda anual (R$)
CAPÍTULO IV
A DINÂMICA HIDROLÓGICA NA MICROBACIA DO CÓRREGO DO
AMANHECE
Devido à propriedade que a água possui de mudar de estado (sólido, líquido e
gasoso), ela adquiri uma enorme mobilidade no espaço. Ativada pela energia solar parte
das porções líquidas presentes na superfície terrestre evapora para a atmosfera em forma
de vapor de água, o qual ao encontrar camadas de ar mais frias em maiores altitudes
satura-se e condensa em forma de nuvens e subseqüentemente podendo ocorrer
precipitação.
Ao ocorrer precipitação sobre a superfície continental, parte dessa água é
interceptada pela vegetação e construções humanas e retorna para a atmosfera por efeito
da evaporação. Parte escoa superficialmente indo alimentar cursos hídricos e parte se
infiltra no solo. Uma parte da água de infiltração é captada pelas raízes das plantas e
retorna à atmosfera por efeito da transpiração e a outra se aprofunda no perfil do solo
indo abastecer os lençóis freáticos e subterrâneos.
Partindo desses conceitos do ciclo hidrológico, pode-se verificar que a água
presente no planeta é dinâmica, ativada pela energia solar. Portanto, a precipitação
funciona como um instrumento de entrada e a evapotranspiração e o escoamento fluvial
são as saídas de água de uma bacia hidrográfica.
82
4.1 – OS ELEMENTOS HIDROLÓGICOS DA MICROBACIA DO
CÓRREGO DO AMANHECE
Para realizar a contabilização das entradas e saídas de água da área da
microbacia hidrográfica do córrego do Amanhece, utilizou-se a Equação Básica do
Balanço Hidrológico, representada pela fórmula, segundo Gonçalves (2003):
P = I + E + Q + S, onde:
P = precipitação;
I = infiltração;
E = evaporação e evapotranspiração;
Q = escoamento superficial e
S = saldo, que é considerado igual a zero, pois ele é perdido rapidamente e não interfere
no cálculo.
4.1.1 – Precipitação
A precipitação é proveniente do vapor de água da atmosfera que chega à
superfície terrestre, constituindo como principal meio de entrada de água no ciclo
hidrológico e responsável pela sua reposição, perdida por efeito da evapotranspiração,
escoamento e infiltração.
Na microbacia do Amanhece durante o período da pesquisa (setembro de 2003 a
setembro de 2004), o total pluviométrico médio foi de 1595 mm. Os pluviômetros 1 e 2
localizados na cabeceira da bacia, onde se localiza o distrito, foram os que registraram
os maiores totais anuais com 1725 e 1666 mm, respectivamente. Nos outros pontos a
média foi de 1555 mm (tabela 13). Percebe-se que ocorreu uma diminuição na
distribuição espacial das chuvas à medida que se desloca da cabeceira em direção à foz
83
(figura 18). De acordo com os relatos dos moradores locais, os totais pluviométricos
sempre foram maiores nesta região. Investigando o entorno da bacia observa-se a
existência de um vale (conhecido como Bocaina) alinhado no sentido norte-sul, que
possivelmente funciona como um “corredor” para o deslocamento da massa de ar
Equatorial Continental, originária da Amazônia Ocidental, responsável pela produção
de chuvas e elevadas temperaturas durante o verão na maior parte do território nacional.
Porém, deve-se salientar que seria necessário uma série maior de dados coletados na
microbacia e no entorno para realmente confirmar esta hipótese.
O mês mais chuvoso durante o período de pesquisa foi o de fevereiro com total
mensal chegando a 439 mm na Faz. Maringá (figura 19). Entretanto o maior índice
pluviométrico diário do período estudado ocorreu na Faz. Araras (113 mm) no dia onze
de fevereiro de 2004. Observando as figuras de 19 a 27 que representam a pluviosidade
de cada mês do período da pesquisa é possível visualizar as primeiras chuvas do ano em
setembro e o aumento gradativo, até atingir o mês de fevereiro e logo após a diminuição
das mesmas com a aproximação do período seco.
A estiagem abrangeu os meses de maio a setembro do ano hidrológico.
Considerando o calendário gregoriano (janeiro a dezembro) o período seco teve uma
duração de seis meses se estendendo até o final de outubro de 2004.
Entretanto, ao mesmo tempo em que o solo permaneceu em déficit hídrico por
seis meses (maio a outubro), a umidade do período não foi tão baixa como nos anos
anteriores. As chuvas de maio foram as que mais prejudicaram a secagem dos grãos de
café colhidos. Quando os grãos estão expostos no terreiro e são umedecidos ocorre o
processo de fermentação, o que deprecia a qualidade do produto, porque a bebida se
torna “ardida”. Segundo o Sr. Genisvaldo (produtor de café) o prejuízo chegou a R$
15,00 por saca por causa desse processo de fermentação. Além do excesso de umidade a
88
nebulosidade também foi maior nos meses de outono e inverno em relação aos anos
anteriores, o que contribuiu para diminuir o número de horas de brilho solar.
Tabela 13 – Totais pluviométricos da microbacia do Córrego do Amanhece
setembro de 2003 a setembro de 2004.
Fonte: Dados da pesquisa. Org.: Enio Rodovalho
4.1.2 – Infiltração
A infiltração de água no solo é influenciada por vários fatores, principalmente:
as suas características, o tipo de cobertura e o modo de seu uso pelo homem.
Com relação às características do solo, a textura e a estrutura influenciam
significamente no processo de infiltração, uma vez que determinam a sua porosidade.
Solos com textura mais argilosa tendem a reter mais água e possuem taxa de infiltração
menor do que solos arenosos que possuem maior quantidade de macroporos e
conseqüentemente, apresentam maiores taxas de infiltração. Por outro lado, solos
argilosos, bem estruturados podem apresentar altas taxas de infiltração, pois a
Áreas Localidades Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set TotalDistrito 64 84 263 220 344 444 187 100 9 0 10 0 0 1725Faz. Macaúbas 70 60 296 240 325 397 154 104 20 0 0 0 0 1666Média 67 72 279 230 334 421 171 102 15 0 5 0 0 1696
Faz. Paraná 19 43 247 274 320 406 139 81 23 0 8 0 0 1561Faz. Maringá 54 43 249 319 231 439 114 93 24 0 0 0 0 1566Faz. Duas Nações 30 77 210 240 280 437 150 95 45 0 10 0 0 1574Média 34 54 235 278 277 427 134 90 31 0 6 0 0 1567
3 Faz. Araras 53 26 266 284 266 415 81 90 29 0 13 0 0 1522
Média 48 55 255 263 294 423 138 94 25 0 7 0 0 1602
Total pluviométrico anual médio: 1595 mm
1
2
89
organização dos agregados no perfil propiciam elevada permeabilidade, permitindo-lhes
boa drenagem.
O tipo de cobertura do solo é extremamente importante no processo de
infiltração. A existência ou não de vegetação sobre a superfície interfere na infiltração
da água da chuva. Em áreas onde a cobertura vegetal nativa é retirada para implantação
de uma lavoura para cultivo agrícola ou para pastagem a taxa de infiltração tende a
diminuir. A cobertura morta que se acumula em áreas com cobertura vegetal nativa e
em terrenos onde é realizado plantio direto de grãos proporciona a água da chuva
infiltrar com maior facilidade, pois evita a compactação superficial causada pela força
do impacto das gotas de chuva e permite uma maior atividade biológica, essenciais na
formação de micro e macroporos no solo e na decomposição da matéria orgânica, que
por sua vez age na estabilidade dos agregados por possuir substâncias cimentantes de
partículas do solo.
O modo de uso e ocupação do solo pelo homem também interfere na infiltração,
seja na urbanização de áreas, na retirada da cobertura vegetal e no modo de manejo em
áreas agrícolas, com sistema de plantio convencional ou plantio direto, de pastagens,
etc.
A infiltração de água no solo foi mensurada com a utilização do infiltrômetro de
anéis dotado de dois anéis com diâmetros de 22,0 cm e 44,0 cm respectivamente (figura
28), que são cravados de forma concêntrica no solo de modo que dois terços fica acima
da superfície. O anel externo teve a função de evitar a dispersão lateral da infiltração do
anel interno. A água colocada no anel interno foi medida com uma régua e em
intervalos de 30 em 30 segundos mediu-se os seus respectivos níveis, durante um tempo
de 10 minutos.
90
Com esse procedimento, realizado no mês de agosto de 2004, foi possível
analisar o comportamento da água de infiltração em diferentes locais onde predominam
diferentes tipos de solos, relevo e cobertura do solo existente na microbacia (figuras 29
a 38). Os ensaios foram realizados nesse mês, pois é necessário que o solo esteja seco
para medir a infiltração, ao contrário a existência de água no solo iria interferir nos
valores de infiltração.
Figura 28 – Ilustração do infiltrômetro de anéis. Adaptado de Gonçalves, 2003.
Em áreas ocupadas com cafeicultura foram realizados três ensaios de infiltração
(figuras 29, 30 e 31). Nos dois primeiros, dos 100 mm aplicados infiltraram-se 66 e 71
mm respectivamente e no terceiro infiltrou-se 100 mm em apenas quatro minutos. Os
fatores determinantes que influenciaram nessa diferença foram: os tipos diferentes de
solos, a declividade do terreno e a forma de manejo. No primeiro e terceiro ensaios o
tipo de solo foi o latossolo amarelo e no segundo, gleissolo. No primeiro e segundo os
terrenos possuíam uma pequena declividade, que propiciaram uma diminuição da
infiltração e concomitantemente aumento do fluxo de água superficial. No terceiro, o
terreno é plano, em área de chapada. Mas o principal fator que a de salientar é a forma
de manejo da lavoura. Na área de chapada o produtor conduz a lavoura manualmente e
Régua Anel interno
Anel externo
Solo
91
nas outras duas utiliza-se máquinas no manejo das culturas, contribuindo para aumentar
a compactação do solo e conseqüentemente diminuir a sua permeabilidade.
Figura 29 - Infiltração acumulada em café sobre Latossolo vermelho - amarelo - microbacia do Córrego do Amanhece (Faz. Cachoeira) – 2004. Fonte: Dados da pesquisa, agosto de 2004. Org: Enio Rodovalho, 2004.
Figura 30 - Infiltração acumulada em café sobre Gleissolo - microbacia do Córrego do Amanhece (Faz. Macaúbas) – 2004. Fonte: Dados da pesquisa, agosto de 2004. Org.: Enio Rodovalho, 2004.
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Figura 31 - Infiltração acumulada em café sobre Latossolo amarelo - microbacia do Córrego do Amanhece (Porto Barreiro) - 2004 Fonte: Dados da pesquisa, agosto de 2004. Org.: Enio Rodovalho, 2004.
Nas áreas ocupadas com culturas temporárias, mais especificamente a soja, a
quantidade de água infiltrada foi menor em relação à cafeicultura. Dos 100 mm
aplicados infiltrou-se entre 30 e 55 mm (figura 32 e 33). A redução da quantidade de
água infiltrada ocorre devido à substituição da cobertura natural por cultivos agrícolas
onde o intenso uso de máquinas utilizadas para plantio, aplicação de insumos e colheita
causam compactação do solo, mesmo sendo áreas onde se utiliza a técnica de plantio
direto.
O ambiente que apresentou a menor taxa de infiltração foi a área de pastagem,
onde infiltrou-se apenas 25 mm durante os dez minutos do ensaio (figura 34). Nesta
área localizada próxima a foz do córrego do Amanhece, a pastagem foi inserida sobre
Nitossolo vermelho, um solo muito argiloso originário de rochas basálticas. Devido ao
pisoteio do gado e à falta do manejo apropriado, o solo se encontra bastante
compactado. Em contrapartida as pastagens ocupam áreas pequenas, e com isso esse uso
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não é considerado o maior agravante na mudança da dinâmica hidrológica da
microbacia.
Figura 32 - Infiltração acumulada em cultura temporária sobre Latossolo amarelo - microbacia do Córrego do Amanhece (Faz. Palmira) – 2004. Fonte: Dados da pesquisa, agosto de 2004. Org.: Enio Rodovalho, 2004.
Figura 33 - Infiltração acumulada em cultura temporária sobre Latossolo vermelho - amarelo - microbacia do Córrego do Amanhece (Faz. Londrina) – 2004. Fonte: Dados da pesquisa, agosto de 2004. Org.: Enio Rodovalho, 2004.
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Figura 34 - Infiltração acumulada em pastagem sobre Latossolo vermelho distroférrico - microbacia do Córrego do Amanhece (Faz. Araras) – 2004. Fonte: Dados da pesquisa, agosto de 2004. Org.: Enio Rodovalho, 2004.
A maior taxa de infiltração ocorreu na área ocupada com eucalipto (figura 35).
Em apenas três minutos infiltraram-se 100 mm de água no solo. A explicação que foi
encontrada para esta ocorrência é que a planta retira uma grande quantidade de água do
solo, deixando-o em déficit hídrico por um tempo maior do que o normal em um
ambiente natural; o mesmo não é compactado, pois não há circulação de máquinas ou
animais na área e apesar do solo ser muito argiloso sua estrutura permite uma boa
percolação de água entre os macroporos formados pelos seus agregados.
Brandão et. al.: (2003) afirma que nos solos brasileiros, sua estrutura pode
exercer uma maior influência na taxa de infiltração do que a textura.
Segundo Lima (1996), pesquisas realizadas em microbacias, ocupadas com
eucaliptos com espécies semelhantes à encontrada no Amanhece, na África do Sul e
Portugal, da espécie Eucalyptus grandis e na Índia com Eucalyptus globulus,
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apresentaram resultados de diminuição de produção de água na microbacia com o
reflorestamento e aumento de água após o corte.
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Figura 35 - Infiltração acumulada em eucalipto sobre Latossolo amarelo - microbacia do Córrego do Amanhece (Faz. Macaúbas) – 2004. Fonte: Dados da pesquisa, agosto de 2004. Org.: Enio Rodovalho, 2004.
O ensaio realizado em área de hortaliça também apresentou uma baixa taxa de
infiltração de água (figura 36), devido à compactação do solo causada pelo uso de
máquinas e, possivelmente, porque o solo não estava em déficit hídrico, pois o
proprietário irriga a lavoura periodicamente.
Nas áreas ocupadas com cerrado os resultados apresentaram uma boa capacidade
dos solos de absorver água (figuras 37 e 38), pois se encontram preservados pela
cobertura vegetal natural e serrapilheira, além de não ocorrer compactação provocada
por circulação de máquinas agrícolas e de animais (bovinos).
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Figura 36 - Infiltração acumulada em hortaliça sobre Latossolo amarelo - microbacia do Córrego do Amanhece (Faz. Macaúbas)- 2004. Fonte: Dados da pesquisa, agosto de 2004. Org.: Enio Rodovalho, 2004.
Figura 37 - Infiltração acumulada em cerrado sobre Latossolo vermelho - amarelo - microbacia do Córrego do Amanhece (Faz. Araras) – 2004. Fonte: Dados da pesquisa, agosto de 2004. Org.: Enio Rodovalho, 2004.
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Figura 38 - Infiltração acumulada em cerrado sobre Latossolo amarelo - microbacia do Córrego do Amanhece (Faz. Macaúbas) – 2004. Fonte: Dados da pesquisa, agosto de 2004. Org.: Enio Rodovalho, 2004.
Destacam os gráficos das figuras 32 e 38 para demonstrar o impacto negativo
que a interferência antrópica pode causar na dinâmica hidrológica de uma microbacia.
No primeiro o teste foi realizado em área de cultura temporária (soja) sobre solo do tipo
Latossolo amarelo, onde infiltraram 33 mm de água. No segundo, realizado no mesmo
tipo de solo, com cobertura de cerrado e distante do primeiro cerca de vinte e cinco
metros, infiltrou-se 103 mm de água, ou seja, a mudança do uso do solo provocou uma
diminuição de quase 70 % na capacidade de infiltração do mesmo em área de topo de
chapada. Em locais de maior declividade, ocupados também com culturas temporárias o
impacto seria ainda maior, pois a diminuição da capacidade de infiltração propicia o
aumento do escoamento superficial e conseqüentemente dos processos erosivos e a
probabilidade de ocorrência de cheias nos fundos de vales.
98
4.1.3 – Escoamento Fluvial
O escoamento superficial é influenciado por diversos fatores: a
intensidade, duração e área abrangida pela chuva, a cobertura vegetal, tipos de uso do
solo, declividade do terreno e permeabilidade dos solos. De acordo com as
características de cada um desses fatores irá predominar o escoamento superficial ou o
processo de infiltração de água no solo. Durante episódios de chuvas de pouca
intensidade inicialmente a água precipitada se infiltra no solo e só depois de ocorrer
saturação é que inicia-se o escoamento. Porém, durante chuvas intensas, o volume de
água que chega na superfície do solo é superior à sua capacidade de absorve-la, com
isso o fluxo concentra-se em forma de escoamento superficial em poucos minutos.
A relação de área e declividade é descrita por Pruski et. al.(2003). “Quanto
maior a área e a declividade da bacia, maior deverá ser a vazão máxima de escoamento
superficial que ocorrerá na seção de deságüe da bacia”.
O escoamento fluvial é alimentado pelo lençol freático e escoamento superficial,
sendo que, durante o período chuvoso a contribuição do escoamento superficial causa
variações bruscas no volume de água durante chuvas intensas e de longa duração,
levando até à ocorrência de enchentes e durante o período de estiagem o lençol freático
garante o fluxo de água fluvial até a chegada do próximo período chuvoso.
As medidas das vazões do Córrego do Amanhece foram realizadas em três
pontos distintos. Um no alto curso, no ponto denominado de Fazenda Macaúbas, outro
no médio curso, no ponto da Fazenda Araras e o terceiro a poucos metros da foz do
córrego.
Em bacias hidrográficas onde o relevo é dissecado, geralmente existem muitos
afluentes ou vários canais de drenagem. Na microbacia do Córrego do Amanhece
99
devido à morfologia plana do relevo, o número de afluentes é muito reduzido (existem
apenas três, de pequena extensão e baixo volume de água), o que foi determinante para
a escolha dos pontos de monitoramento das vazões se localizarem apenas no curso
principal. Entretanto a contribuição de água subsuperficial da microbacia para o canal
fluvial é considerável. Esse fenômeno pode ser visualizado em vários pontos de veredas
(figura 39) e campos hidromórficos localizados nas margens do curso fluvial principal,
onde existe água aflorando do solo o ano todo, em determinados locais.
Figura 39 – Vereda localizada na margem direita do Córrego do Amanhece. Foto do autor, abril de 2004.
Como se pode visualizar na tabela 14, o volume de água medido no córrego foi
somado com os volumes captados pelos sistemas de irrigação dos agricultores e com a
vazão de um rego d’água localizado antes da foz, que retira água para fora da
microbacia. Os gráficos das figuras 40, 41 e 42 representam essas vazões do período de
setembro de 2003 a setembro de 2004 e as respectivas alturas pluviométricas do mesmo
período. Percebe-se a ocorrência de um aumento gradativo das vazões após o início do
período chuvoso (que teve início em novembro de 2003) e uma diminuição influenciada
pela chegada da estiagem no início de maio de 2004.
100
O primeiro gráfico (ponto 1, figura 40) representa as menores vazões, pois é o
ponto de medida mais a montante da bacia. A menor vazão ocorreu no mês de
novembro com 399,2 m³/h e a maior de 1967,6 m³/h em fevereiro.
Nos dias 13, 14 e 15/02/04 foram realizadas três medidas de vazões consecutivas
com o objetivo de visualizar com maior precisão a influência das chuvas no escoamento
fluvial. A vazão de 1883,1 m3/h foi influenciada principalmente pelas chuvas ocorridas
entre os dias sete e treze que somaram 183 mm, inclusive com a ocorrência da maior
precipitação pluviométrica diária do ano registrada no dia onze com um índice de 88,0
mm nesse ponto (Faz. Macaúbas). Como no dia treze choveu apenas 5,0 mm e no dia
quatorze não choveu a vazão deste dia diminuiu para 1640,2 m3/h. No dia quinze foi
registrado a maior vazão da pesquisa nesse ponto (1967,6 m3/h). Isto ocorreu porque no
período entre o final da tarde do dia quatorze e a manhã do dia quinze precipitaram 39,5
mm de chuva. Como o solo estava saturado, a maior parte da água da chuva concentrou-
se em forma de escoamento superficial e fluiu para o canal fluvial aumentado
consideravelmente a vazão.
O gráfico do ponto 2 (Faz. Araras) representa as vazões do médio curso do
córrego. É um ponto onde o mesmo apresenta um volume considerável, pois o recebe
água do principal afluente da bacia, um pequeno curso d’água localizado na margem
esquerda. A área entre este e o ponto 1 representa o maior terço em extensão da
microbacia do Amanhece, considerado nessa pesquisa (12,9 Km²), possuindo então uma
grande área de drenagem de águas superficiais e sub-superficiais. A menor vazão
ocorreu no dia onze de novembro de 2003 (1246,8 m³/h) e a maior no dia treze de
fevereiro (3494,1 m³/h).
101
Tabela 14 - Vazões e Quantidades de Água Utilizada pelos Irrigantes (m³/h) -
2003/2004 - Microbacia Hidrográfica do Córrego do Amanhece - Araguari – MG.
Ponto I Ponto II Ponto III Quantidade de água
utilizada Faz. Macaúbas Faz. Araras Foz Córrego Rego pelos irrigantes (m³/h) Data
V V+I V V+I V V+I+R Ponto I Ponto II Ponto III01/set 375 545 1125 1830 2701 3549 143 170 535 26/set 389 454 1209 1429 1727 2158 92 65 155 120 14/out 513 513 1574 1619 2499 2676 132 45 31/out 490 490 1665 1680 2117 2244 112 15 11/nov 399 399 1232 1247 2255 2389 119 15 25/nov 832 832 1571 1571 3751 3950 199 09/dez 1240 1240 2559 2559 8590 9045 455 19/dez 721 721 1688 1688 4652 4898 247 08/jan 1089 1089 1948 1948 5895 6207 312 15/jan 1020 1020 2004 2004 4929 5191 261 22/jan 1250 1250 2060 2060 3668 3863 194 29/jan 1264 1264 2028 2028 4558 4799 242 05/fev 1201 1201 2607 2607 5364 5649 284 13/fev 1883 1883 3494 3494 7201 7582 382 14/fev 1640 1640 0 15/fev 1968 1968 0 27/fev 1959 1959 2478 2478 8378 8822 444 08/mar 1696 1696 2171 2171 6713 6860 148 22/mar 1517 1517 2381 2381 5143 5256 113 05/abr 1303 1303 1812 2192 4179 4651 92 380 19/abr 1261 1281 2345 2365 4972 5101 109 20 03/mai 1023 1058 1829 1864 5451 5606 120 35 17/mai 1066 1086 1774 1824 5319 5486 117 20 30 01/jun 1013 1033 1945 1995 5198 5362 114 20 30 21/jun 983 1003 1882 1932 4850 5006 107 20 30 05/jul 960 980 2246 2296 4731 4885 104 20 30 19/jul 943 993 2147 2227 3809 3972 84 50 30 09/ago 841 921 1668 1778 3179 3359 70 80 30 23/ago 894 909 1464 1554 2767 2918 61 15 75 13/set 706 756 1311 1436 1724 2037 38 50 75 150 20/set 741 756 1374 1389 1808 1863 40 15
Quantidade de leituras: 29 Menor vazão: 399 1247 1863 Maior vazão: 1968 3494 9045 LCRH: Laboratório de Climatologia e Recursos Hídricos - UFU Fonte: Dados da pesquisa Org.: Enio Rodovalho V - vazão medida no córrego, V + I - vazão medida no córrego + irrigação.
102
O gráfico do ponto 3 (figura 42) representa o volume de água que o Córrego do
Amanhece lança em sua foz no Ribeirão Araras. A menor vazão registrada ocorreu no
dia treze de setembro de 2004 (2006,6 m3/h) e a maior ocorreu no dia nove de dezembro
de 2003 (8589,8 m3/h). Este elevado volume de água registrado pode ser explicado
também como resultante da contribuição do escoamento superficial, pois antes do
momento da medida ocorreu uma chuva de curta duração de 15 mm.
Pelos gráficos, é possível também, perceber o retardo no aumento da vazão em
relação à contribuição do freático, após um evento pluvial, devido à reposição de água
no solo no início do período chuvoso. Por exemplo, na figura 40, ocorre chuva no final
do mês de setembro, mas a vazão só aumenta no dia quatorze de outubro. No final de
outubro as chuvas diminuem e a vazão só diminui na leitura do dia onze de novembro.
Já no dia nove de dezembro, no momento da leitura estava ocorrendo chuva forte e, com
isso, a medida de vazão foi influenciada pelo escoamento superficial. O mesmo ocorreu
no dia treze de fevereiro.
Entretanto, o tempo da percolação da água no solo não é conhecido na área, pois
não foi realizado teste de condutividade hidráulica, que daria mais precisão na análise
da contribuição do lençol freático para a vazão.
É importante salientar também, que as leituras pluviométricas foram realizadas
diariamente e as vazões foram quinzenais (no período seco) e semanais (no período
chuvoso). Sem desmerecer a veracidade e a validade dos dados, o ideal seria fazer todas
as leituras na mesma escala (diária), a fim de obter maior precisão nas análises, mas em
virtude da escassez de recursos financeiros e de pessoal isso não foi possível.
Figura 40 - Gráfico das vazões e pluviosidade do Ponto 1 - Faz. Macaúbas - Microbacia do Córrego do Amanhece - Set/2003 a Set/2004. Org.: Enio Rodovalho, 2004.
0,0
200,0
400,0
600,0
800,0
1000,0
1200,0
1400,0
1600,0
1800,0
2000,0
01/s
et
29/s
et
14/o
ut
31/o
ut
11/n
ov
25/n
ov
09/d
ez
19/d
ez
08/ja
n
15/ja
n
22/ja
n
29/ja
n
05/fe
v
13/fe
v
14/fe
v
15/fe
v
27/fe
v
08/m
ar
22/m
ar
05/a
br
19/a
br
03/m
ai
17/m
ai
01/ju
n
21/ju
n
05/ju
l
19/ju
l
09/a
go
23/a
go
13/s
et
20/s
et
dias
Vaz
ões (
m³/h
)
0,0
100,0
200,0
300,0
400,0
500,0
600,0
Pluv
iosi
dade
(mm
)
Vazões Pluviosidade
Figura 41 - Gráfico das vazões e pluviosidade do Ponto 2 - Faz. Araras - Microbacia do Córrego do Amanhece - Set/2003 a Set/2004. Org.: Enio Rodovalho, 2004.
0,0
500,0
1000,0
1500,0
2000,0
2500,0
3000,0
3500,0
01/s
et
29/s
et
14/o
ut
31/o
ut
11/n
ov
25/n
ov
09/d
ez
19/d
ez
08/ja
n
15/ja
n
22/ja
n
29/ja
n
05/fe
v
13/fe
v
27/fe
v
08/m
ar
22/m
ar
05/a
br
19/a
br
03/m
ai
17/m
ai
01/ju
n
21/ju
n
05/ju
l
19/ju
l
09/a
go
23/a
go
13/s
et
20/s
et
dias
Vaz
ões (
m³/h
)
0,0
100,0
200,0
300,0
400,0
500,0
600,0
Pluv
iosi
dade
(mm
)
Vazões Pluviosidade
Figura 42 - Gráfico das vazões e pluviosidade do Ponto 3 - Foz - Microbacia do Córrego do Amanhece - Set/2003 a Set/2004 Org.: Enio Rodovalho, 2004.
0,0500,0
1000,01500,02000,02500,03000,03500,04000,04500,05000,05500,06000,06500,07000,07500,08000,08500,09000,09500,0
01/s
et
29/s
et
14/o
ut
31/o
ut
11/n
ov
25/n
ov
09/d
ez
19/d
ez
08/ja
n
15/ja
n
22/ja
n
29/ja
n
05/fe
v
13/fe
v
27/fe
v
08/m
ar
22/m
ar
05/a
br
19/a
br
03/m
ai
17/m
ai
14/ju
n
28/ju
n
05/ju
l
19/ju
l
09/a
go
23/a
go
13/s
et
20/s
et
dias
Vaz
ões (
m³/h
)
0,0
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
300,0
350,0
400,0
450,0
500,0
Pluv
iosi
dade
(mm
)
Vazões Pluviosidade
106
4.1.4 – Evapotranspiração
Assim como a chuva é considerada a principal forma de entrada de água
proveniente da atmosfera, o seu retorno ocorre, principalmente, pelo processo da
evapotranspiração em forma de vapor.
Segundo Sentelhas (2000) o termo evapotranspiração foi proposto por
Thornthwaite para representar os processos conjuntos de evaporação (água proveniente
dos oceanos, lagos, rios, solos e da vegetação úmida) e de transpiração (água retirada do
solo pelas raízes das plantas que evapora pelos seus estômatos) que ocorrem em uma
superfície vegetada, naturalmente.
A energia proveniente dos raios solares ativa este processo, que varia ao longo
do ano por influência dos diferentes índices sazonais de temperatura e pela quantidade
de água presente no sistema solo-atmosfera.
A partir da equação proposta por Thornthwaite, Camargo (1971) propôs sua
simplificação, com a utilização da radiação extraterrestre, ao invés do comprimento do
dia, para cada latitude. Considerando também a temperatura média, o número de dias do
mês e um fator de ajuste, de acordo com a temperatura média anual da localidade
considerada. Com isso chegou-se à fórmula a seguir:
Etp = Qo . T . D . F, onde:
Etp – evapotranspiração potencial (mm/mês)
Qo – radiação solar extraterrestre incidente em superfície horizontal, acima da
atmosfera, no dia 15 de cada mês, em mm de umidade equivalente.
T – temperatura média no período considerado (ºC)
D – número de dias no período.
F – fator de ajuste.
107
Os valores de radiação solar extraterrestre foram obtidos de acordo com a
latitude do local a ser estudado.
Os dados de temperatura foram estimados a partir dos valores de temperatura da
estação climatológica da UFU. Como a cada 100 metros de altitude ocorre uma variação
de 0,7 ºC e a diferença entre a altitude da UFU (872 m) e da microbacia do Amanhece
(940m) é de 68 metros a mais reduziu-se a temperatura da estação em 0,5 ºC. A partir
dessa estimativa elaborou-se uma outra estimativa para determinar a temperatura da foz
do córrego que está a uma altitude de 840, 100 metros a menos do que a cabeceira da
bacia. Para cada série anual de temperatura calculou-se a evapotranspiração potencial
que está representada na tabela 15.
Tabela 15 – Estimativa de evapotranspiração para a Bacia do córrego do Amanhece.
Evapotranspiração potencial (mm) Altitude
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Total
940 97,4 89,2 116,4 111,9 94,8 101,1 87,4 68,1 52,6 53,4 73,5 109,8 1055,5
840 102,9 94,1 123,5 119,0 100,6 107,4 92,7 71,8 55,21 56,0 77,6 117,3 1118,1Fonte: Dados da pesquisa.
Na figura 43 estão representados os valores médios de pluviosidade, temperatura
e evapotranspiração para toda a área da bacia. Percebe que existe um sincronismo entre
os três elementos considerando que quanto maior for a disponibilidade de água
proveniente das chuvas e temperaturas elevadas maior será a evapotranspiração.
Lembrando que a evapotranspiração é influenciada também pelo tipo de
cobertura do solo, seja com vegetação natural ou inserida pelo homem, quanto maior o
porte arbóreo e mais denso o dossel arbóreo maior será a capacidade do sistema solo-
planta em adicionar vapor de água na atmosfera. Mas o que mais influencia é a energia
108
solar, pois nos meses de inverno (junho a setembro) quando existe uma maior incidência
de radiação solar no hemisfério norte do que no sul a mesma diminui sensivelmente.
Porém, a evapotranspiração potencial é uma estimativa e os valores de
evapotranspiração real que são calculados a partir do cálculo do Balanço Hídrico,
proposto por Thornthwaite, oferece uma melhor precisão para referenciar com os
valores de vazões (Quadro 5).
0,050,0
100,0150,0200,0250,0300,0350,0400,0450,0
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
meses
(mm
)
0,05,010,015,020,025,030,035,040,0
ºC
Precipitação Evapotranspitação Temperatura
Quadro 5 - Evapotranspiração real da microbacia do córrego do Amanhece.
Evapotranspiração real (mm) Pontos de vazão Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
Faz. Macaúbas 75,7 89,2 116,4 111,9 94,8 101,1 87,4 58,1 27,9 22,2 16,1 11,8Faz. Araras 59,0 89,2 116,4 111,9 94,8 101,1 87,4 63,0 31,8 25,2 18,5 13,5Foz 33,2 89,2 116 112 94,8 99,6 87,4 58,3 27,4 27,7 16,9 12,4Fonte: Dados da pesquisa.
4.2. RELAÇÃO ENTRE PRECIPITAÇÃO E DEFLÚVIO
As regiões situadas à jusante de cada ponto de medida de vazão foram
consideradas como áreas hidrológicas (tabela 16) e para cada uma foi realizado o
Figura 43 - Médias de precipitação, evapotranspiração potencial e temperatura da microbacia do córrego do Amanhece – 2003 a 2004.
Fonte: adaptado de Gonçalves, 2003.
109
cruzamento dos dados de precipitação e vazão. Para isso as vazões (m³/h) foram
transformadas em deflúvio a fim de colocar precipitação e deflúvio com a mesma
unidade (mm), de acordo com a fórmula:
Deflúvio mensal (mm) = vazão média medida (m³/h) x 1000 x 24 h x nº de dias do mês
Área
Após efetuar os cálculos de deflúvio representou-se os resultados em forma de
gráficos, mostrando a relação entre pluviosidade e deflúvio (figuras 43, 44 e 45).
Tabela 16 – Áreas hidrológicas da microbacia do córrego do Amanhece.
Área Denominação das áreas Área (m²)
1 Faz. Macaúbas 8.833.959,4
2 Faz. Araras 21.790.431,9
3 Foz 30.624.398,3
Total Bacia 30.624.398,3 Fonte: Dados da pesquisa.
Observando os três gráficos (figuras 44, 45 e 46) que representam as chuvas e os
deflúvios da bacia do córrego do Amanhece, percebe-se que existe um retardo no
aumento do deflúvio após a ocorrência das chuvas, principalmente nas duas primeiras
áreas onde as vertentes possuem baixa declividade. Com isso os deflúvios são mais
regulares ao longo do ano por influência da alta infiltração de água no solo que
recarrega os lençóis subterrâneos e mantêm o fluxo basal, que por sua vez alimenta o
escoamento fluvial mesmo durante a estiagem. Na área três o deflúvio aumenta
rapidamente após a ocorrência de chuvas, pois as declividades nesta área são mais
acentuadas e com isso o fluxo de escoamento superficial é maior.
110
Gráfico - Faz. Macaúbas (Pluviosidade X Deflúvio) Microbacia do Córrego do Amanhece - 2003 a 2004
0,0
100,0
200,0
300,0
400,0
500,0
mm
0,020,0
40,060,0
80,0100,0
120,0140,0
160,0
Pluviosidade Deflúvio
Pluviosidade 67,0 72,0 261,4 224,5 334,4 420,7 170,6 102,2 14,5 0,0 5,0 0,0 0,0
Deflúvio 40,7 42,2 50,2 82,5 97,3 136,3 135,3 105,3 90,2 83,0 83,1 77,0 61,6
Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
Figura 44 – Relação entre pluviosidade e deflúvio – Macaúbas.
Fonte: Dados da pesquisa.
Na área 2 (figura 44) ocorreram os maiores valores de armazenamento hídrico da
bacia, por influência desta possuir a maior área hidrológica parcial da mesma e sua
quase totalidade ocupam áreas de chapadas com solos profundos, porosos e ótimos
armazenadores de água. Nesta área os deflúvios, em alguns meses, foram menores do
que na área 1 que está mais a montante, o que demonstra que existe um maior volume
de infiltração em relação ao escoamento superficial do que na primeira. Foi também
onde se registraram deflúvios bem regulares ao longo do ano em relação às outras duas
áreas.
Na área 3 (figura 45) ocorreram os maiores deflúvios em virtude da maior área
de contribuição e pelos maiores fluxos de escoamento superficial que se concentram
principalmente no baixo curso, por causa da maior declividade das vertentes.
111
Gráfico - Faz. Araras (Pluviosidade X Deflúvio) Microbacia do Córrego do Amanhece - 2003 a 2004
0,0
100,0
200,0
300,0
400,0
500,0
mm
0,010,020,030,040,050,060,070,080,090,0100,0
Pluviosidade Deflúvio
Pluviosidade 34,4 54,5 235,4 277,7 277,0 427,3 134,3 89,6 30,6 0,0 6,1 0,0 0,0
Deflúvio 53,8 56,3 46,5 72,5 68,6 91,3 77,7 75,3 63,0 64,9 77,2 56,9 46,7
Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
Figura 45 – Relação entre pluviosidade e deflúvio – Araras.
Fonte: Dados da pesquisa.
Um dos fatores que chamou atenção com relação ao uso do solo e interferência
na dinâmica hidrológica foi que na maioria das propriedades existem curvas de nível,
mas as mesmas não são suficientes para conter o fluxo de escoamento superficial que se
intensificou após a retirada da cobertura vegetal natural da bacia para inserção de
cultivos agrícolas. Outro fator que contribui para o aumento do escoamento é a
existência de carreadores dentro das lavouras e de estradas vicinais que são construídas
sem os devidos cuidados e funcionam como canais de concentração de fluxo. Essa
situação contribui para a diminuição da água que infiltra no solo e aumenta o
escoamento. O elevado volume de água superficial causa impactos negativos no
ambiente, pois acelera os processos erosivos nas vertentes, degradando as camadas
superiores do solo e os materiais transportados causam assoreamento do leito do
córrego.
112
Gráfico - Foz (Pluviosidade X Deflúvio) Microbacia do Córrego do Amanhece - 2003 a 2004
0,0
100,0
200,0
300,0
400,0
500,0
mm
0,010,020,030,040,050,060,070,080,090,0100,0
Pluviosidade Deflúvio
Pluviosidade 52,5 25,6 265,5 283,9 266,4 414,7 81,3 90,1 28,8 0,0 13,3 0,0 0,0
Deflúvio 53,8 56,3 46,5 72,5 68,6 91,3 77,7 75,3 63,0 64,9 77,2 56,9 46,7
Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
Figura 46 – Relação entre pluviosidade e deflúvio – Foz.
Fonte: Dados da pesquisa.
A seguir estão representados gráficos de cada área hidrológica considerando as
entradas e saídas de água no solo, que ocorrem através da precipitação,
evapotranspiração e deflúvio.
Partindo do pressuposto de que a precipitação é o principal meio de entrada de
água no sistema, que por sua vez, deriva para a infiltração e escoamento superficial e
que o fluxo basal é o que garante o escoamento fluvial mínimo durante o período de
estiagem foram construídos os gráficos considerando-se os valores de precipitação,
evapotranspiração real, deflúvios e saldo hídrico, computados juntamente com os
valores de infiltração, pois a água que infiltra no solo é a que se armazena e
posteriormente é transferida a outros sistemas através do deflúvio ou evapotranspiração.
Os resultados foram deduzidos a partir da equação hidrológica básica, segundo
Gonçalves (2003):
113
P = I + E + D + S
P – E – D = + S + I
P – (En – Em) – (Dn – Dm) = + S + I
Onde: P – precipitação;
En – evapotranspiração mensal;
Em – menor evapotranspiração do período analisado;
Dn – deflúvio mensal;
Dm – menor deflúvio do período;
S – saldo e
I – infiltração.
O primeiro saldo não aparece, pois representa o valor de setembro de 2003. Os
outros são resultantes da soma do mês em questão e do mês anterior.
Com isso foram elaborados gráficos com valores de precipitação,
evapotranspiração real, deflúvio e saldo hídrico do solo para as áreas 1, 2 e 3, conforme
representado nas figuras 47, 48 e 49, respectivamente.
Pode-se notar que os gráficos iniciam com saldo negativo em outubro e nos
meses seguintes o regime pluviométrico inicialmente repõe água no solo e com a
permanência das chuvas os saldos de armazenamento hídrico do mesmo se tornam
positivos somente em novembro. No final do ano hidrológico os saldos geralmente se
tornam negativos novamente, com a chegada da estiagem. Mas está situação não
ocorreu em 2004, devido aos elevados índices de chuva ocorridos nos meses de verão.
Salienta-se que este ano foi um ano chuvoso, principalmente nos meses de janeiro e
fevereiro, propiciando um maior acúmulo de água no solo (armazenamento), que
manteve o regime hídrico positivo nos meses de estiagem. Em anos menos chuvosos
114
chega a ocorrer saldos negativos mais elevados. Outro fator a ser considerado é que na
microbacia predomina áreas de chapada com solos profundos e porosos com alta
capacidade de armazenamento de água, justiçando os elevados valores de saldo hídrico.
Na área hidrológica I (figura 47) e principalmente na área II (figura 48)
ocorreram os maiores saldos hídricos, pois nestas áreas predominam as chapadas onde a
água da chuva depois de atingir a superfície do solo faz dois caminhos: evapora para a
atmosfera ou se infiltra no solo, em virtude da baixa ou inexistente declividade dos
terrenos, não permitir que a mesma escoe superficialmente.
Ao contrário, na área III (figura 49), os saldos hídricos foram menores, pois
próximo à foz, a declividade é mais acentuada e a água da chuva tem mais facilidade de
escoar pela superfície do terreno e atingir o curso fluvial, gerando então maiores
deflúvios em relação às áreas anteriores, considerando também que ela possui maior
área de contribuição. Esta área hidrológica representa as características de toda a
microbacia hidrográfica e as outras anteriores, apenas áreas parciais.
Figura 47 - Modelo hidrológico da área I - Faz. Macaúbas. Org.: Enio Rodovalho.
-500
50100150200250300350400450500550600650700750
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
meses
mm
Precip Etr D S
115
Figura 48 - Modelo hidrológico da área II - Faz. Araras. Org.: Enio Rodovalho.
Figura 49 - Modelo hidrológico da área III - Foz. Org.: Enio Rodovalho.
No geral, o comportamento hidrológico das áreas se diferenciou entre si, pois
cada área possui diferentes índices de chuva precipitada, cobertura vegetal, tipo de solos
e declividades, que refletem no comportamento hidrológico.
-500
50100150200250300350400450500550600650700750800
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
meses
mm
Precip Etr D S
-500
50100150200250300350400450500550600
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
meses
mm
Precip Etr D S
CAPÍTULO V
OFERTA E DEMANDA DE ÁGUA E IMPACTOS AMBIENTAIS NA
MICROBACIA DO CÓRREGO DO AMANHECE
Os recursos hídricos são bastante utilizados pelos proprietários rurais em uso
doméstico e, principalmente, na irrigação das culturas, com destaque para a cafeicultura
que possui a maior área cultivada dentro da microbacia em relação às outras culturas.
Existem quatorze produtores que captam a água diretamente do curso do córrego
(Figura 50) e das quarenta e quatro propriedades visitadas, vinte e cinco possuem pelo
menos um poço tubular perfurado. Na maioria das pequenas propriedades o poço é a
única fonte de água, pois a mesma não possui nenhum curso d’água superficial.
Figura 50 – Captação de água no Córrego do Amanhece com motor elétrico - Fazenda Macaúbas. Foto do autor, março de 2003.
118
5.1. USO DE ÁGUA PROVENIENTE DE FONTES SUPERFICIAIS.
Existem quatorze produtores que captam água no Córrego do Amanhece com a
finalidade de irrigar café e hortaliças. Desses, três possuem motores a diesel para fazer a
sucção da água do seu curso d’água e os outros possuem motores elétricos. O produtor
que capta o maior volume de água do córrego utiliza sistema de pivô central, que faz um
movimento de 180º para irrigar uma lavoura de 108 hectares de café. É o maior pivô de
que se tem notícia no município de Araguari. Possui 800 metros de raio e é alimentado
por uma bomba de sucção com capacidade de retirar 380 m3/h do córrego (figura 51).
Apesar do sistema consumir muita água, o produtor o utiliza de forma racional. Irriga
durante a noite por causa do baixo custo da energia elétrica nesse período e com isso
consegue um melhor aproveitamento da água, pois durante a noite a perda por
evaporação é reduzida. Possui também dois tensiômetros, distribuídos em pontos
diferenciados na lavoura, que servem para medir a tensão de água no solo. Com este
aparelho o produtor mantém a quantidade ideal de água no solo para o desenvolvimento
da planta. Antes do solo atingir o armazenamento crítico, o pivô é acionado e lança uma
lâmina média de 25 mm de água por metro quadrado, que é a quantidade necessária para
atender às necessidades hídricas da planta sem causar excedente hídrico e nem
desperdício. Além disso, nas entrelinhas o proprietário planta feijão ou cultivos para
serem incorporados ao solo em forma de adubo orgânico, como o capim brachiária e
soja, aproveitando também parte da água que o cafeeiro não consegue absorver.
119
Figura 51 - Irrigação de café com pivô central – Faz. Macaúbas.
Foto do autor, julho de 2004.
Os outros irrigantes captam entre quinze e noventa m3/h do córrego e utilizam
gotejo e principalmente o sistema de mangueira plástica perfurada (MPP) ou “tripa”
como é conhecida popularmente.
No total o consumo de água superficial corresponde a 872 m3/h (quadro 6).
Nesse quadro estão relacionados, os proprietários e os respectivos consumos de água,
considerando que a montante do ponto de medida de vazão nº 1 (Faz. Macaúbas) estão
os irrigantes do número 01 ao 04. Entre os pontos 1 e 2 (Faz. Araras) estão os irrigantes
do número 05 ao 10 e os outros entre o ponto 2 e o 3 (Foz). Na coluna de consumo
coletivo coloca-se o total captado pelo respectivo grupo de irrigantes. Na quantidade
disponível foi considerada a menor vazão ocorrida em cada ponto durante a pesquisa
correspondente ao mês de setembro de 2003, que coincide com o período de irrigação
das lavouras. Na coluna de consumo permitido está representada a quantidade que a
legislação ambiental permite retirar da vazão do córrego que é de 30 %. Se todos os
irrigantes ligassem seus sistemas ao mesmo tempo, a quantidade captada iria exceder o
limite de 30% nos pontos 2 e 3. Porém, alguns produtores irrigam à noite e outros,
durante o dia. Com isso, geralmente, o consumo acima do permitido não ocorre sempre,
120
a não ser quando algum grande consumidor de água realiza a primeira irrigação do ano
que geralmente tem a duração de 24 horas. Para esses eventos seriam necessários
acordos entre os irrigantes por intermédio da associação dos irrigantes (ARUAMA) para
planejarem os momentos em que cada irrigante iria fazer a sua irrigação.
Salienta-se ainda que, trabalhou-se com valores coletados apenas durante o
período de pesquisa, para fins de outorga de água usando o parâmetro do Q 7 10, que
representa a vazão mínima de 7 dias com 10 anos de recorrência. No caso do córrego do
Amanhece o Q7 10 é de 441 m³/h, de acordo com dados do relatório técnico de outorga
coletiva da área. Com isso entende-se que durante anos de baixa vazão não existe água
suficiente para todos.
Quadro 6 - Disponibilidade e consumo de águas superficiais (m³/h)
Microbacia Hidrográfica do Córrego do Amanhece.
Consumo Consumo Disponível Consumo
Proprietários individual Coletivo permitido (30%)
1 Luzinete Aparecida Pedro 15 2 Antônio Carlos Ortega 30 3 Décio Giollo e outros 15 4 Eduardo Marchi Pertenella 20
80 454 136
5 Nilo Calixto 30 6 Sérgio Rubens Mansano 380 7 Gilberto Norio Sell 27 8 Antônio Mota 15 9 Ramon Olini Rocha e outros 30
10 Guilherme Zaramela 80
642 1428 428
11 Eleutério Trevisan 90 12 Jaime Rodrigues Alvares 80 13 Norivaldo Piassa 30 14 José Bertaglia 30
872
2158
647
Org.: Enio Rodovalho
Diante desses valores de consumo, o volume disponível para outorga de água
superficial na bacia está esgotado. Se algum produtor vier a precisar fazer captação, a
mesma deverá ser negociada entre os irrigantes, através da associação e o novo produtor
121
inserir-se-á em uma nova outorga coletiva tendo o volume atual captado que ser
redistribuído.
5.2. USO DE ÁGUA PROVENIENTE DE FONTES SUBTERRÂNEAS.
Na figura 12, pode-se observar a distribuição das propriedades da microbacia do
córrego do amanhece. Algumas possuem curso d’água superficial e a maioria não.
Nessas últimas a única fonte de água disponível é a cisterna ou o poço tubular profundo,
utilizado para o consumo de pessoas, animais e irrigação de lavouras. Nas quarenta e
quatro propriedades visitadas foram cadastrados trinta e oito poços, sendo que existe
uma média de dois poços por propriedade e profundidades que variam de vinte a oitenta
e cinco metros com vazões entre três e setenta m3/h. Como os poços não são artesianos
é necessária a instalação de bombas de sucção para retirar a água do fundo do poço,
ocasionando custo com energia elétrica para o produtor.
O grande problema com exploração de água subterrânea ocorre em uma área de
nascente do Córrego do Amanhece, onde o proprietário possui quatro poços perfurados
dentro de área de preservação permanente (APP). Os poços servem para abastecer dois
pivôs-centrais e segundo o relato de um vizinho, o uso da água durante um tempo
excessivo já chegou a provocar diminuição da água no leito do córrego a jusante, a
ponto de deixá-lo sem água, prejudicando a irrigação de sua pequena lavoura de café.
Este problema poderia ser atenuado se o grande irrigante utilizasse a água
racionalmente, pois segundo o mesmo relatou os pivôs permanecem ligados durante um
tempo excessivo, lançando uma lâmina de água superior à necessidade das plantas
(cafés), além de causar rebaixamento do lençol freático.
122
No restante da área de estudo o uso da água subterrânea não chegou a causar
rebaixamento do lençol freático em dois pontos onde o nível do mesmo foi monitorado
no período de fevereiro a novembro de 2004 (figura 52). O monitoramento foi realizado
em duas cisternas, uma localizada em área de recarga na chapada (ponto 1) e outra na
média encosta na região do médio curso do córrego (ponto 2). Na área de recarga o
nível apresentou uma variação maior do que o ponto 2 ao longo do período estudado
havendo um rebaixamento do nível, logo após o início do período seco. No dia vinte de
fevereiro foi registrada uma profundidade de 7,75 metros, atingindo-se o maior nível em
cinco de abril (6,70 m) e no dia primeiro de novembro, 10,0 metros. Pode-se considerar
que em áreas de recarga é normal o rebaixamento pois o lençol freático é alimentado
exclusivamente pelas chuvas. Já na média encosta o rebaixamento não é elevado pois
mesmo com a falta de chuvas o local recebe água proveniente das áreas de recarga. De
acordo com o relato do Sr. Onisvaldo (proprietário da chácara onde foi monitorado o
N.A. do ponto 1) o nível d’água atingiu o menor nível no ano de 1999, chegando à
profundidade de doze metros no final do período de estiagem. Foi um ano em que
ocorreu um longo perído seco e, por isso houve uma diminuição tanto no nível da água
suberrânea quanto nos cursos d’água superficiais e vários cafeicultores perderam ou
tiveram redução na produção-produtividade da cafeicultura e outras culturas.
O ponto de monitoramento nº 1 está localizado em uma área de elevado uso de
água subterrânea, onde está concentrada a maior densidade populacional rural da
microbacia devido ao grande número de pequenas chácaras, constituindo a Vila Porto
Barreiro, em que cada usuário possui no mínimo um poço tubular profundo, destinado
principalmente à irrigação de culturas, além de cisternas que atendem ao consumo
doméstico. Isto demonstra que o uso de água subterrânea ainda não está causando
problemas de rebaixamento de nível de água durante a estiagem. Entretanto, o ano
123
de realização da pesquisa foi chuvoso. Em anos secos o problema pode ser
representativo.
Figura 52 - Profundidade do nível do lençol freático (m) Fonte: Dados da pesquisa 2003/2004. Org.: Enio Rodovalho.
Outro problema identificado quanto ao uso de águas superficiais e subterrâneas
está relacionado com o desperdício que ocorre por causa de vazamentos em tubulações
(figura 53), por desleixo do agricultor em irrigar onde não é necessário (figura 54) ou
por desconhecimento do produtor em não saber quando e o quanto de água deve ser
lançado na lavoura. Acredita-se que este último item seja o maior causador de
desperdício de água na irrigação, pois o irrigante não tem critério para efetuar esta
prática. Geralmente irriga-se somente quando o solo já está seco, ou seja, depois de
ocorrer estresse hídrico que causa prejuízo para o desenvolvimento das plantas ou deixa
o sistema de irrigação (pivô, gotejo, tripa, etc) ligado por um tempo excessivo, lançando
uma lâmina de água superior à capacidade de absorção do solo, saturando-o. O excesso
de água que a planta não consegue absorver infiltra para profundidades superiores ao
0,001,002,003,004,005,006,007,008,009,00
10,0011,00
met
ros
P 1 - Chapada P 2 - Vertente
P 1 - Chapada 7,75 6,70 7,30 7,37 7,30 7,94 7,90 8,57 9,60 10,00
P 2 - Vertente 1,70 2,30 2,70 2,68 2,59 2,78 2,95 2,97 2,58 2,87
20/fev 05/abr 03/mai 17/mai 01/jun 21/jun 12/jul 09/ago 13/set 01/nov
124
alcance do sistema radicular ou escoa superficialmente. Isto além de gerar desperdício
de água ocorre também um aumento do custo com energia elétrica e desgaste dos
equipamentos usados na irrigação, além de carrear os fertilizantes e nutrientes para as
partes mais profundas do solo.
Figura 53 - Desperdício de água causado por vazamento em tubulação.
Foto do autor, julho de 2004.
Figura 54 - Desperdício de água causado por instalação de aspersor em local incorreto.
Foto do autor, julho de 2004.
125
Diante desse problema foi elaborado pelos alunos disciplina de Gestão e Manejo
da Água na Irrigação, do curso de mestrado em Geografia do programa de pós-
graduação do Instituto de Geografia da UFU, ministrada pelo Prof. Dr. Washington
Luiz Assunção, duas cartilhas a partir do método do balanço hídrico proposto por
Ribeiro (2000), para servir de parâmetro para os agricultores efetuarem a irrigação
corretamente. As cartilhas estão direcionadas para irrigação em sistema de gotejamento
(anexo) e com MPP (tripa) por serem os sistemas mais usados no município de
Araguari. Escritas de uma forma para fácil entendimento ajudarão os produtores a
definirem o quanto de água deverão lançar na lavoura e o momento de irrigar.
Quando o irrigante usa o sistema de gotejamento é mais fácil de efetuar o
controle da dotação de rega (tempo de molhamento) e do turno de rega (intervalo de
dias entre as irrigações) em relação ao sistema de tripa, porque com o gotejo necessita
apenas ligar o sistema, pois as mangueiras são fixas e com a “tripa” existe a necessidade
do produtor muda-las de lugar a cada irrigação, com isso o irrigante que usa esse
sistema, aumenta a dotação de rega para ficar um maior número de dias sem irrigar
naquele local e conseqüentemente diminuir o trabalho com o manejo das mangueiras.
Apesar de que isto não resolve, pois como já explicado a água lançada em excesso não é
absorvida pela planta. Por isso julga-se que o sistema de gotejamento é melhor do que o
de “tripa” por ser mais econômico em relação ao consumo de água e por ser de fácil
manejo.
5.3. IMPACTOS AMBIENTAIS
Existem vários impactos ambientais negativos que precisam ser solucionados
para que a dinâmica hidrológica da microbacia do Córrego do Amanhece seja
126
restabelecida ou pelo menos atinja um ponto de equilíbrio ideal, sem ocorrência de
grandes impactos.
Com a mudança no uso do solo na área que ocorreu nos topos de chapadas
devido à retirada da vegetação natural para inserção de monoculturas agrícolas,
principalmente soja e milho, após a década de 1970 e de pastagens nas áreas de menor
altitude e maior declividade, ocorridas antes deste período, houve uma enorme
diminuição de infiltração de água pluvial. Algumas medidas poderiam atenuar esse
efeito como, por exemplo, a construção de “caixas de contenção” da água de
escoamento superficial coletada pelas estradas que circulam livremente pelo terreno
após serem drenadas da mesma. Segundo o Sr. João (funcionário da Faz. Paraná) no
estado do Paraná os governos municipais construíram essas caixas nas margens das
estradas para coletar as águas de escoamento que permanecem armazenadas até se
infiltrarem no solo. É uma medida que evita que as águas de escoamento provoquem
erosões no solo e aumenta a quantidade de água de infiltração. Outras medidas seriam a
construção de curvas de nível e terraços que existem na maioria das propriedades da
bacia.
As áreas de APPs (Área de Preservação Permanente) também merecem atenção
e devem ser recuperadas, pois sofreram degradação em alguns locais, tanto nas áreas de
nascentes, como ao longo das margens do córrego. Alguns proprietários estão
recuperando-as devido à pressão da curadoria do meio ambiente do município, mas
ainda existem outras áreas a serem recuperadas, pois se encontram irregulares com
dimensões abaixo do estabelecido na legislação ambiental (figura 55) que é de trinta
metros ao longo das margens e de cinqüenta em áreas de nascentes.
127
Figura 55 - Pivô central e lavoura de café inserida em área de APP de nascente.
Foto do autor, julho de 2004.
Existe também uma propriedade que trabalha com suinocultura e os dejetos dos
3.300 animais da granja são descartados de forma irregular em um tanque sem
impermeabilização (figura 56). O chorume possui elevada concentração de nutrientes
(nitrogênio, fósforo, potássio, dentre outros) que se lançados em lagoas causam
processos de eutrofização. Além de possuir metais pesados, como cobre e zinco, que em
excesso provocam contaminação do solo, do lençol freático e águas superficiais.
Figura 56 - Tanque de decantação de dejetos de suínos construído sem lona de impermeabilização. Foto do autor, julho de 2004.
128
A recomendação é que o produtor impermeabilize o fundo e as laterais do tanque
de decantação do chorume com uma lona plástica própria de forma que o mesmo não
contamine o solo e o lençol freático.
Tomando essas medidas os proprietários estariam cumprindo a legislação
ambiental e de certa forma obtendo lucro, pois estariam contribuindo para aumentar a
oferta de água dos cursos fluviais que eles próprios utilizam.
Todos os irrigantes que captam água superficial possuem outorga coletiva,
conquistada recentemente por intermédio da formação da associação de irrigantes
(ARUAMA). Com relação aos poços tubulares alguns possuem outorga e outros ainda
não possuem.
O correto manejo do solo e da água na microbacia hidrografia do Córrego do
Amanhece é essencial para a garantia da qualidade de vida da comunidade local,
considerando a dependência existente entre o sucesso das atividades produtivas e a
oferta dos recursos naturais.
130
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização dessa pesquisa foi uma oportunidade para o pesquisador, que
possui origem rural, em unir seu conhecimento empírico com o científico-acadêmico e
também uma contribuição de materiais e informações para a comunidade da microbacia
do Córrego do Amanhece, diante de tudo que foi diagnosticado e proposto.
Entende-se que a realização dos trabalhos de campo na área de pesquisa foi
essencial para a obtenção de informações e para o entendimento dos processos físicos e
sociais presentes no espaço. Afinal, depois de repetidas observações de um mesmo lugar
percebe-se a ocorrência de mudanças, não só provenientes de fatores naturais, mas
também humanos e dos dois simultaneamente.
No meio rural o homem desenvolve suas atividades produtivas em função da
sucessão dos fenômenos naturais ao longo do ano, principalmente do clima. É claro que
as influências dos fatores sócio-econômicos não devem ser desprezados. Entretanto,
pode-se dizer que existe uma influência considerável dos ciclos naturais nas tomadas de
decisões no momento de plantar, efetuar os tratos culturais, irrigar, colher, beneficiar e
armazenar os grãos. Por mais que o ser humano artificialize seu modo de vida a
natureza é intrínseca.
A metodologia adotada na pesquisa cumpriu os objetivos propostos, pois as
informações buscadas no campo promoveram o entendimento dos processos interativos
homem-natureza, que ocorrem na área.
Os dados coletados sobre os elementos hidrológicos mostraram que a
predominância das áreas de chapadas na bacia do Córrego do Amanhece é um fator
determinante na elevada produção de água. Além da morfologia plana os solos de alta
porosidade e profundidades influenciam substancialmente no processo de infiltração de
131
água, contribuindo para recarga dos aqüíferos. Vale ressaltar que nas áreas de topos de
chapadas não ocorre escoamento superficial, pois além dos terrenos serem planos são
levemente embaciados, e com isso a infiltração é um único processo atuante. Os dados
dos ensaios de infiltração de água no solo demonstraram que a existência de áreas de
reservas legal facilitam este processo, tanto nos topos de chapadas como em locais de
relevo mais dissecados. Se os processos de retirada da cobertura vegetal natural
continuarem ocorrendo, provavelmente em pouco tempo a oferta de água superficial e
subterrânea não irá mais atender à demanda, pois os volumes hídricos irão diminuir
sensivelmente. É aconselhável que os produtores façam uma recomposição de áreas
onde existia vegetação nativa de mata ciliar (APP) e principalmente de reserva legal,
para elevar o armazenamento hídrico da microbacia e com isso manter o volume do
córrego e dos poços tubulares profundos.
Salienta-se que a pesquisa ocorreu em um ano chuvoso, o que gerou
curiosidades em saber como seriam os valores de saldos hídricos do solo em anos secos,
haja vista que neste os saldos foram positivos mesmo durante a estiagem.
Com relação ao uso da água, percebe-se que os valores retirados do curso fluvial
chegam a extrapolar a quantidade estabelecida pela legislação ambiental que é de até
30% do volume calculado pelo Q7 10. Essa questão poderia ser resolvida se os usuários
praticassem um uso mais racionado dos recursos hídricos, pois na maioria das
propriedades não se usa nenhum método para quantificar a água do solo, como o cálculo
do balanço hídrico ou o tensiômetro, por exemplo. Sem o uso de nenhum critério os
irrigantes lançam uma lâmina de água superior às necessidades hídricas das plantas
cultivadas e da capacidade de campo dos solos. O excesso de água irá gerar degradação
dos solos devido à aceleração dos processos intempéricos, além de desperdício da
132
própria água, adubos e outros insumos que são carreados e maior consumo de energia
elétrica.
O tipo de sistema de irrigação, também chama atenção, pois aqueles que
funcionam por aspersão consomem muita água se comparados com os por gotejamento.
Principalmente se o sistema por aspersão como o pivô central for instalado em áreas de
nascentes que possuem baixa disponibilidade de água. É o caso da maior propriedade de
café da microbacia do Amanhece, onde existem dois pivôs abastecidos com água do
lençol freático proveniente de poços perfurados em área de preservação permanente.
Quando o sistema permanece ligado por um tempo excessivo o volume de água do
córrego chega a diminuir, gerando principalmente conflitos entre os irrigantes à jusante.
Além de seguir estas orientações, os produtores deveriam participar efetivamente
na associação de usuários com o intuito de solucionar seus problemas e contribuírem
com o fortalecimento do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Paranaíba e a criação da
Agência de Águas local. Somente após a estruturação desses órgãos será possível
viabilizar o desenvolvimento sustentável da região, pois são formados por
representantes do poder público e da sociedade civil que promovem a normatização do
uso da água, solucionam os problemas e conflitos pertinentes à bacia hidrográfica e
principalmente, realizam a gestão dos recursos financeiros a serem aplicados na bacia
em forma de investimentos e recuperação de áreas degradadas.
A partir do momento em que a população compreender que as soluções para os
problemas estão vinculadas ao trabalho coletivo e que preservar os recursos naturais
está acima do simples cumprimento das normas estabelecidas na legislação ambiental, o
ser humano terá entendido o conceito de sustentabilidade. O dia em que a humanidade
entender e começar a praticar esta premissa irá descobrir o verdadeiro significado da
133
palavra respeito. O respeito pela natureza e consigo próprio, afinal todos fazemos parte
dela.
Contudo compreende-se que as mudanças ocorrem a partir de um processo. Por
isso, as propostas apresentadas aqui, não devem ser consideradas como um fim, mas um
meio de iniciar a tomada de decisões com o intuito de estabelecer soluções para os
impactos ambientais, gerados pela atuação humana no meio, que é um processo
dinâmico e sempre existe a necessidade de novos monitoramentos e novas proposições.
135
7. REFERÊNCIAS
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ANEXO 1
PESQUISA SOBRE A MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DO
AMANHECE
Data: / /
1. Nome do proprietário/arrendatário: _________________________________________
2. Nº de pessoas residentes na propriedade: fixas _________________________________
temporárias __________________
3. Nome da propriedade: ____________________________________________________
4. Área da propriedade: _________ ha
4.1 Área ocupada com café: _______ ha Idade: __________________________________
Espaçamento: ____________________________
4.2 Área ocupada com outros tipos de culturas ____________________________________
_________________________________________________________________________
4.3 Produção da última safra: _________________________________________________
5. Tipo de sistema de irrigação _______________________________________________
Áreas irrigadas (ha) _________________________________________________________
5.1 Os equipamentos de irrigação são movidos:
( ) Energia elétrica ( ) Óleo Diesel Gasto mensal: R$ _________________
Potência dos equipamentos: ______________ Vazão de água das bombas: _________
5.2 Meses em que são realizadas irrigações? _____________________________________
5.3 Intervalo de dias entre as irrigações: ___________ Quantidade (mm) ______________
5.4 Horário: _____________________
5.5 Faz parte da Associação dos irrigantes? ______________________________________
6. A água utilizada é proveniente de:
( ) Córrego – distância da lavoura: _____ m
( ) Poço – quantos: ___ Profund. ____ m Vazão média do(s) poços: ___________
6.1 Nº de horas de funcionamento do poço por dia ________
6.2 Faz algum tratamento da água: _____________________________________________
6.3 Que produtos são adicionados na água:
( ) fertilizantes ( ) fungicidas ( ) herbicidas ( ) _________________
6.4 Possui outorga da água? ( ) não ( ) sim de toda a água
( ) apenas uma parte – Qte da outorga _____________ Qte sem outorga ______________
6.5 Posição da bacia em relação aos irrigantes:
_____ Quantos acima ______ Quantos abaixo
7. Possui reserva legal, área de preservação permanente? Estão averbadas?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
8. Pretende ampliar a área do cafezal, substituir por outra cultura?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
9. Quais seriam os tratos para preparação do terreno e plantio de uma nova lavoura, com
ou sem irrigação?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
10. Qual é a renda familiar? Outras observações:
ANEXO 2 Nome da propriedade : __________________________________________________________
Proprietário: __________________________________________________________________
Talhão: ______ Tipo de cultura ___________ Idade da Lavoura ________ Área: _______ ha _______
FICHA DE CONTROLE DE IRRIGAÇÃO, COLHEITA E TRATOS CULTURAIS.
Mês: __________________ Ano: __________
DIA Irrigação, Colheita, tratos culturais realizados e outros (indicar quantidade, período do dia, etc.)
Organização: Enio Rodovalho ([email protected]), fone: (34) 3239-4169 ramais: 21 ou 31.
INSTITUTO DE GEOGRAFIALaboratório de Climatologia e Recursos Hídricos
Planilha para Leitura Pluviométrica Diária - Ano _______
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez123456789
101112131415161718192021222324252627282930 x31 x x x x x
Total
Org.: Enio Rodovalho - [email protected] - (34) 3239-4169 ramal 21 ou 31
ANEXO 3UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
Localidade____________________________________ Araguari-MGProprietário ______________________________________________
Local Local Local LocalHora Régua (cm) Hora Régua (cm) Hora Régua (cm) Hora Régua (cm)
Local Local Local LocalHora Régua (cm) Hora Régua (cm) Hora Régua (cm) Hora Régua (cm)
Org.: Enio Rodovalho
Coleta de dados com infiltrômetro de anelBacia Hidrográfica do Córrego do Amanhece
ANEXO 4
Introdução Um dos principais desafios da cafeicultura atualmente é produzir e obter lucros satisfatórios além de cobrir os custos de produção. Nos municípios de Araguari e Indianópolis a produção de café é dependente da irrigação, uma prática que eleva consideravelmente os custos produtivos. Por isso usar a água corretamente vai além do conceito de preservar o meio ambiente, significa obter mais lucros. Após a realização de pesquisas nesses municípios, constatou-se que a quantidade de água usada na irrigação de café é excessiva. E água em excesso causa prejuízo, tais como: - Gera um elevado custo com energia elétrica ou diesel para o
funcionamento dos equipamentos de irrigação; - Ocasiona um maior desgaste dos equipamentos por causa do
maior tempo de funcionamento; - Causa problemas de erosão e perda de nutrientes do solo; - Além dos problemas de conflitos com vizinhos que também
usam a água. 1. Quando irrigar
Durante o ano o cafeeiro apresenta diferentes fases fenológicas
(tabela 1), em cada uma delas a planta necessita de água disponível no solo para o seu desenvolvimento, exceto durante dormência. No período da estiagem que abrange alguns meses do outono, todo o inverno e parte da primavera, a baixa pluviosidade prejudica a produção e a produtividade da cultura, que se encontra nas fases de
ANEXO 5 UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
Instituto de Geografia Programação de Pós-Graduação em Geografia
MANUAL DE RECOMENDAÇÕES PARA CAFEICULTURA IRRIGADA POR
GOTEJO PARA OS MUNICÍPIOS DE ARAGUARI E INDIANÓPOLIS
Washington Luiz Assunção
Enio Rodovalho dos Santos Celiomar Fragas da Costa
Ivoney Gontijo Fátima de Jesus R. Martins
Uberlândia, 2004.
maturação, diferenciação floral, floração e expansão dos grãos, logo é necessário irrigar, exceto na fase da dormência, quando a planta está em repouso vegetativo. Tabela 1 – Fases da cultura
Verão (jan/fev/mar)
Outono (abr/mai/jun)
Inverno (jul/ago/set)
Primavera (out/nov/dez)
- Granação dos frutos
- Maturação dos frutos - Diferenciação floral
- Dormência - Floração
- Expansão (chumbinho)
Fonte: Cooxupé-Cooperativa regional de cafeicultores em Guaxupé LTDA 2. Como Irrigar Levando em consideração os tipos e as condições hídricas dos solos dos municípios de Araguari e Indianópolis, elaboramos as seguintes recomendações para o intervalo de dias entre as irrigações e a quantidade de água ideal a ser aplicada. Na tabela 2 está expresso o intervalo de dias entre uma irrigação e outra. Estes valores estão relacionados com a evapotranspiração da cultura, ou seja, a relação de quantidade de água que é absorvida e evaporada pela planta que foram calculados com a elaboração do cálculo do balanço hídrico para café proposto por Ribeiro (2001). Por exemplo, para o café com idade de 01 ano deve-se irrigar de oito em oito dias no mês de maio, pois a necessidade hídrica do cafeeiro nesse estágio é de 15 mm e a evapotranspiração diária correspondente é de 1,8 mm, 15 dividido por 1,8 é igual a 8. Em setembro é necessário irrigar de cinco em cinco dias, pois a
quantidade de água que evapora para a atmosfera é maior. Para o segundo e o terceiro ano as necessidades hídricas da planta são atendidas com aplicação de lâminas de 20 e 25 mm respectivamente. É necessário ainda instalar um pluviômetro na propriedade para quantificar as chuvas e estimar a quantidade armazenada no solo. Tabela 2 – INTERVALO DE DIAS ENTRE IRRIGAÇÕES PARA SISTEMA DE GOTEJO
Idade do cafeeiro
Meses Etc diária (mm)
0-12 meses
(15 mm)
Etc diária (mm)
12 - 24 meses
(20 mm)
Etc diária (mm)
(+) 24 meses
(25 mm) Janeiro 3,7 4 4,6 4 5,5 4
Fevereiro 3,5 4 4,4 4 5,3 5 Março 3,1 5 3,9 5 4,7 5 Abril 2,4 6 3,0 7 3,6 7 Maio 1,8 8 2,3 9 2,8 9 Junho 1,8 8 2,2 9 2,6 10 Julho 1,8 8 2,3 9 2,8 9
Agosto 2,3 6 2,9 7 3,5 7 Setembro 3,2 5 4,0 5 4,8 5 Outubro 3,4 4 4,2 5 5,0 5
Novembro 3,4 4 4,2 5 5,0 5 Dezembro 3,6 4 4,5 5 5,4 5
Na tabelas 3 relacionamos a quantidade de horas que o sistema de irrigação deve permanecer funcionando para atingir a quantidade de água necessária para o bom desenvolvimento do cafeeiro, considerando diferentes lâminas para cada idade, vazão do gotejador e espaçamento da cultura em solo argiloso.
Tabela 3 – NÚMERO IDEAL DE HORAS DE FUNCIONAMENTO DO SISTEMA DE GOTEJO
15 mm 20 mm 25 mm0-12 meses 12 - 24 meses (+) 24 meses
Vazão Média (ml)
Espaça- mento (m) Horas/min Horas/min Horas/min
20 4h14 5h55 7h3030 2h50 3h55 5h0040 2h08 3h00 3h4550 1h40 2h20 3h0060
0,35
1h25 2h00 2h3020 6h00 8h25 10h4530 4h00 5h35 7h1040 3h00 4h15 5h2550 2h25 3h25 4h2060
0,5
2h00 2h50 3h3520 7h20 10h10 12h5530 4h50 6h45 8h3540 3h40 5h05 6h3050 2h55 4h05 5h1060
0,6
2h25 3h25 4h2020 9h10 12h40 16h1030 6h05 8h30 10h4540 4h35 6h20 8h0550 3h40 5h05 6h3060
0,75
3h00 4h15 5h2520 10h20 14h20 18h1030 6h50 9h30 12h1040 5h10 7h10 9h0550 4h10 5h45 7h1560
0,85
3h25 4h45 6h00
De acordo com a tabela para o café com dois anos com espaçamento de 0,75 m e vazão do sistema de 30 ml/minuto o tempo de funcionamento do sistema será de 8 horas e 30 minutos, e para outros espaçamentos e vazões. É necessário medir qual é a vazão média do seu sistema de irrigação e não usar apenas a vazão dada pelo fabricante, pois a mesma pode variar de acordo com o tipo de inclinação do terreno e eficiência das bombas. A vazão pode ser medida facilmente usando uma proveta para verificar a quantidade de água que goteja em vários furos da manqueira, medindo no início, no meio e no final da mesma. Considerando que em cada furo a vazão será diferenciada, calcule qual será a média entre eles. No esquema abaixo foram realizadas quatro medidas em um gotejo e a vazão foi de: 20, 22, 20 e 18 ml/minuto, respectivamente em cada furo. Para encontrar a média basta soma-los e dividir o resultado por quatro (número de furos): 20+22+20+18 = 80 / 4 = 20 ml. Portanto a vazão média do gotejo será de 20 ml. Quanto mais medidas forem realizadas, maior será a precisão.
Caso a vazão medida não seja nenhuma dos exemplos da tabela (entre 20 e 60 ml) você deverá calcular o número de horas usando como parâmetro o valor mais próximo. Por exemplo, qual será o tempo de funcionamento para uma vazão média de 22 ml?
gotejo
proveta
Considerando que para o espaçamento de 0,75 m com vazão média de 20 ml o tempo de funcionamento é de 9 horas e 10 minutos, significa que para cada 1 ml o tempo é de 27,5 minutos, então para 22 ml soma-se mais 55 minutos que é igual a 10 horas e 05 minutos. 3. Considerações finais Lembramos que essas recomendações são generalizadas para os municípios de Araguari e Indianópolis. Para obter uma maior precisão, você agricultor deverá instalar em sua propriedade um mini-posto climatológico para coletar dados e elaborar cálculos diários de balanço hídrico do solo, que servirão de parâmetros para determinar a hora e a quantidade certa de água para necessidades hídricas de sua lavoura. Caso o agricultor não esteja disposto a fazer tal investimento no momento os resultados apresentados nessa cartilha oferecem um ótimo parâmetro para melhorar o gerenciamento do uso da água e consequentemente dos custos de produção de sua lavoura. 4. Referências bibliográficas ASSUNÇÃO, Washington Luiz. Climatologia da cafeicultura irrigada no município de Araguari-MG. Presidente Prudente, 2002 (Tese de Doutorado) JORDÃO, César; et al. Irrigação do cafeeiro – recomendações gerais. Cooxupé: Monte Carmelo, 1996.
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