Estudo Caso

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Universidade do Minho Instituto de Educação e Psicologia Mestrado em Educação Área de Especialização em Tecnologia Educativa Unidade Curricular: Métodos de Investigação em Educação Docente: Doutora Clara Pereira Coutinho Trabalho realizado por: Cidália Araújo (Aluno nº 10538) e-mail: [email protected] Emília M. F. Pinto (Aluno nº 10660) e-mail: [email protected] José Lopes (Aluno nº 10879) e-mail: [email protected] Luís Nogueira (Aluno nº 10870) e-mail: [email protected] Ricardo Pinto (Aluno nº 11317) e-mail: [email protected] Estudo de Caso Janeiro 2008

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  • Universidade do Minho Instituto de Educao e Psicologia

    Mestrado em Educao rea de Especializao em Tecnologia Educativa Unidade Curricular: Mtodos de Investigao em Educao Docente: Doutora Clara Pereira Coutinho

    Trabalho realizado por:

    Cidlia Arajo (Aluno n 10538) e-mail: [email protected]

    Emlia M. F. Pinto (Aluno n 10660) e-mail: [email protected]

    Jos Lopes (Aluno n 10879) e-mail: [email protected]

    Lus Nogueira (Aluno n 10870) e-mail: [email protected]

    Ricardo Pinto (Aluno n 11317) e-mail: [email protected]

    Estudo de Caso

    Janeiro 2008

  • ndice

    1. Introduo ............................................................................................................... 3

    2. O que um Estudo de Caso? ................................................................................ 4

    3. Estudo de Caso: modalidade dos planos qualitativos ou quantitativos? .......... 5

    4. Caractersticas bsicas de um Estudo de Caso ................................................... 7

    5. Objectivos de um Estudo de Caso ........................................................................ 9 6. Argumentos mais comuns dos crticos do Estudo de Caso ............................. 10

    7. Tipologia................................................................................................................ 12

    8. Constituio da amostra ou seleco do caso ............................................... 13

    9. Recolha de dados num Estudo de Caso ............................................................. 14

    10. Da recolha ao tratamento de dados................................................................... 17

    11. Validade externa ou generalizao.................................................................... 18

    12. Validade interna .................................................................................................. 19

    13. A questo da fiabilidade ..................................................................................... 20

    14. Concluso/Sntese.............................................................................................. 21

    Referncias bibliogrficas ....................................................................................... 23

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    1. Introduo

    O presente trabalho foi realizado no mbito do Mestrado em Educao na rea de Especializao em Tecnologia Educativa, da Unidade Curricular de Mtodos de Investigao em Educao.

    Dentro dos planos qualitativos que nos foram apresentados, escolhemos o estudo de caso. O estudo de caso constitui uma estratgia de pesquisa utilizada nas Cincias Sociais com bastante regularidade. Podemos afirmar que a estratgia mais utilizada quando se pretende conhecer o como? e o porqu? (Yin, 1994), quando o investigador detm escasso controlo dos acontecimentos reais ou mesmo quando este inexistente, e quando o campo de investigao se concentra num fenmeno natural dentro de um contexto da vida real.

    Assim, optamos por tentar, em primeiro, lugar definir o que um estudo de caso atendendo s suas principais caractersticas e objectivos de estudo.

    Posteriormente analisamos os argumentos mais utilizados pelos crticos deste tipo de metodologia, enunciamos as tipologias existentes, os processos de seleco e constituio da amostra, bem como os procedimentos de recolha e tratamento de dados.

    Por ltimo, debruamo-nos sobre as questes de validade externa e interna e sobre a questo da fiabilidade.

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    2. O que um Estudo de Caso?

    O estudo de caso trata-se de uma abordagem metodolgica de investigao especialmente adequada quando procuramos compreender, explorar ou descrever acontecimentos e contextos complexos, nos quais esto simultaneamente envolvidos diversos factores. Yin (1994) afirma que esta abordagem se adapta investigao em educao, quando o investigador confrontado com situaes complexas, de tal forma que dificulta a identificao das variveis consideradas importantes, quando o investigador procura respostas para o como? e o porqu?, quando o investigador procura encontrar interaces entre factores relevantes prprios dessa entidade, quando o objectivo descrever ou analisar o fenmeno, a que se acede directamente, de uma forma profunda e global, e quando o investigador pretende apreender a dinmica do fenmeno, do programa ou do processo.

    Assim, Yin (1994:13) define estudo de caso com base nas caractersticas do fenmeno em estudo e com base num conjunto de caractersticas associadas ao processo de recolha de dados e s estratgias de anlise dos mesmos.

    Por outro lado, Bell (1989) define o estudo de caso como um termo guarda-chuva para uma famlia de mtodos de pesquisa cuja principal preocupao a interaco entre factores e eventos. Fidel (1992) refere que o mtodo de estudo de caso um mtodo especfico de pesquisa de campo. Estudos de campo so investigaes de fenmenos medida que ocorrem, sem qualquer interferncia significativa do investigador.

    Coutinho (2003), refere que quase tudo pode ser um caso: um indivduo, um personagem, um pequeno grupo, uma organizao, uma comunidade ou mesmo uma nao. Da mesma forma, Ponte (2006) considera que:

    uma investigao que se assume como particularstica, isto , que se debrua deliberadamente sobre uma situao especfica que se supe ser nica ou especial, pelo menos em certos aspectos, procurando descobrir a que h nela de mais essencial e caracterstico e, desse modo, contribuir para a compreenso global de um certo fenmeno de interesse. (Ponte, 2006:2)

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    3. Estudo de Caso: modalidade dos planos qualitativos ou quantitativos?

    O enquadramento do estudo de caso dentro dos planos qualitativos uma questo controversa, no havendo consenso entre os investigadores. Como referem Coutinho & Chaves (2002) se verdade que na investigao educativa em geral abundam sobretudo os estudos de caso de natureza interpretativa/qualitativa, no menos verdade admitir que, estudos de caso existem em que se combinam com toda a legitimidade mtodos quantitativos e qualitativos.

    Ainda segundo estes autores, que se apoiam numa vasta reviso de literatura, o facto de o investigador estar pessoalmente implicado na investigao confere aos planos qualitativos um forte cariz descritivo, da que a grande maioria dos investigadores considere o estudo de caso como uma modalidade de plano qualitativo. No entanto, h tambm os que defendem que o estudo de caso pode ser conduzido sobre qualquer um dos paradigmas de investigao, do positivista ao crtico, sendo por isso mais coerente a sua incluso nos planos de investigao tipo misto.

    A este respeito Myers (1997) refere que o estudo de caso pode ter carcter positivista ou interpretativo, dependendo da perspectiva filosfica do pesquisador (Fig. 1).

    Figura 1: Pressupostos filosficos subjacentes (Myers, 1997)

    Em educao tm-se tornado cada vez mais comuns os estudos de caso de natureza qualitativa. No entanto, isso no uma caracterstica essencial deste tipo de investigao. Embora no sejam muito frequentes, podem ser realizados estudos de caso recorrendo a abordagens preferencialmente

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    quantitativas ou de carcter misto. Assim, por exemplo, tratando-se o caso de estudo de uma escola ou de um sistema educativo pode certamente tirar-se importantes informaes de variveis quantitativas de natureza demogrfica como o nmero de alunos, as taxas de reprovao, a origem social, entre outros (Ponte, 1994).

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    4. Caractersticas bsicas de um Estudo de Caso

    Benbasat et al (1987) consideram que um estudo de caso deve possuir as seguintes caractersticas:

    Fenmeno observado no seu ambiente natural; Dados recolhidos utilizando diversos meios (Observaes directas e indirectas, entrevistas, questionrios, registos de udio e vdeo, dirios, cartas, entre outros); Uma ou mais entidades (pessoa, grupo, organizao) so analisadas; A complexidade da unidade estudada aprofundadamente; Pesquisa dirigida aos estgios de explorao, classificao e desenvolvimento de hipteses do processo de construo do conhecimento; No so utilizados formas experimentais de controlo ou manipulao; O investigador no precisa especificar antecipadamente o conjunto de variveis dependentes e independentes; Os resultados dependem fortemente do poder de integrao do investigador; Podem ser feitas mudanas na seleco do caso ou dos mtodos de recolha de dados medida que o investigador desenvolve novas hipteses; Pesquisa envolvida com questes "como?" e "porqu?" ao contrrio de o qu? e quantos?

    Por outro lado, Coutinho & Chaves (2002) fazem referncia a cinco caractersticas bsicas de um estudo de caso, que so:

    um sistema limitado, e tem fronteiras em termos de tempo, eventos ou processos e que nem sempre so claras e precisas (CRESWELL, 1994. In: COUTINHO & CHAVES, 2002:224);

    um caso sobre algo, que necessita ser identificado para conferir foco e direco investigao (COUTINHO & CHAVES, 2002:224);

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    preciso preservar o carcter nico, especfico, diferente, complexo do caso (MERTENS, 1998. In: COUTINHO & CHAVES, 2002:224);

    a investigao decorre em ambiente natural; o investigador recorre a fontes mltiplas de dados e a mtodos de

    recolha diversificados: observaes directas e indirectas, entrevistas, questionrios, narrativas, registros de udio e vdeo, dirios, cartas, documentos, entre outros (COUTINHO & CHAVES, 2002:224).

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    5. Objectivos de um Estudo de Caso

    O objectivo compreender o evento em estudo e ao mesmo tempo desenvolver teorias mais genricas a respeito do fenmeno observado (Fidel, 1992). Para Yin (1994) o objectivo do estudo de caso explorar, descrever ou explicar e segundo Guba & Lincoln (1994) o objectivo relatar os factos como sucederam, descrever situaes ou factos, proporcionar conhecimento acerca do fenmeno estudado e comprovar ou contrastar efeitos e relaes presentes no caso. Por seu lado, Ponte (1994) afirma que o objectivo descrever e analisar. A estes dois Merriam (1998) acrescenta um terceiro objectivo, avaliar.

    De forma a sistematizar estes vrios objectivos, Gomez, Flores & Jimenez (1996:99), referem que o objectivo geral de um estudo de caso : explorar, descrever, explicar, avaliar e/ou transformar.

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    6. Argumentos mais comuns dos crticos do Estudo de Caso

    Yin (1994) aponta que o estudo de caso, enquanto plano de investigao, apresenta falta de rigor, no entanto existem maneiras de evidenciar a validade e confiabilidade do estudo.

    Outro argumento comum prende-se com a influncia do investigador que pode contaminar o estudo atravs de falsas evidncias ou vises destorcidas da realidade que se observa.

    Para alm disso, o Estudo de Caso fornece pouqussima base para generalizaes, porm importante relembrar que o que se procura generalizar proposies tericas (modelos) e no proposies sobre populaes. Nesse sentido, os Estudos de Casos Mltiplos e/ou as replicaes de um Estudo de Caso com outras amostras podem indicar o grau de generalizao de proposies.

    Yin (1994) refere ainda que planos de investigao como o Estudo de Caso so muito extensos e demoram muito tempo a serem concludos, todavia nem sempre necessrio recorrer a tcnicas de recolha de dados que so mais demoradas. Alm disso, a apresentao do documento no precisa ser uma narrativa detalhada.

    Por ltimo, Hamel et al. (1993) salientam os problemas de escrita quando se recorre ao Estudo de Caso. De facto, ao usar materiais de diferentes origens e dada a anlise em profundidade que o processo implica, o estudo de caso apresenta claramente problemas na literatura e de uma forma mais geral na linguagem.

    Devido aos estudos exigirem uma descrio profunda, necessrio uma compreenso da forma como a linguagem dos materiais empricos transformada noutra linguagem, ou seja, a construo terica dos materiais empricos deve ser directamente compreendida dentro de uma anlise.

    A escrita do estudo de caso deve assim compreender trs qualidades de rigor (Hamel et al., 1993):

    a escrita deve ser livre de processos estilsticos;

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    deve incluir a demonstrao de conhecimentos (ex. frmulas ou equaes);

    e a linguagem deve ser irreduzvel, de forma a facilitar a sua compreenso.

    Etapas relevantes para a elaborao num estudo de caso

    Figura 2 : Etapas relevantes para a elaborao num estudo de caso Disponvel em : http://recep.linkway.com.br/download/estudo.pdf (acedido em 28/12/07)

    Padronizao Modificao Terica

    - objectivo de estudo - relato do estudo e teoria prevista

    - definir o processo operacional - definir o process out comes e no somente o efeito final

    Seleccionar o caso

    Preparar a seleco de

    dados

    Estabelecer conexes de

    dados

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    7. Tipologia

    Existe uma grande diversidade de casos e de objectivos, por esse facto existe tambm uma grande variedade de tipos de estudo de caso.

    - Lssard-Hbert et al (1994), Yin (1994), Bogdan & Bilken (1994), Punch (1998), diferenciam o estudo de caso em: estudo de caso nico e estudo de caso mltiplo.

    - Stake (1995), por sua vez distingue trs tipos de estudo de caso: o estudo de caso intrnseco, instrumental e colectivo.

    - Yin (1994) prope quatro modalidades: plano de caso nico global ou inclusivo, e plano de caso mltiplo global ou inclusivo.

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    8. Constituio da amostra ou seleco do caso

    Num estudo de caso a escolha da amostra adquire um sentido muito particular (Bravo, 1998). De facto a seleco da amostra fundamental, pois constitui o cerne da investigao. Apesar da seleco da amostra ser extremamente importante, Stake (1995) adverte que a investigao, num estudo de caso, no baseada em amostragem.

    Ao escolher o caso o investigador estabelece um fio condutor lgico e racional que guiar todo o processo de recolha de dados (Creswell, 1994).

    No se estuda um caso para compreender outros casos, mas para compreender o caso.

    Segundo Bravo (1998), a constituio da amostra sempre intencional baseando-se em critrios pragmticos e tericos, em detrimento dos critrios probabilsticos, procurando as variaes mximas e no a uniformidade. A mesma autora identifica seis tipos de amostras (intencionais ou tericas) passveis de serem utilizadas num estudo de caso:

    1- Amostras extremas (casos nicos); 2- Amostras de casos tpicos ou especiais; 3- Amostras de variao mxima, adaptadas a diferentes condies; 4- Amostras de casos crticos; 5- Amostras de casos sensveis ou politicamente importantes; 6- Amostras de convenincia.

    Estas amostras evidenciam caractersticas distintas das amostras probabilsticas presentes nas investigaes de carcter quantitativo (Guba & Lincoln, 1994; Yin, 1994; Bravo, 1998): os processos de amostragem so dinmicos e sequenciais; a amostra ajustada automaticamente sempre que surjam novas hipteses de trabalho; e o processo de amostragem s est concludo quando se esgota a informao a extrair atravs do confronto das vrias fontes de evidncia.

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    9. Recolha de dados num estudo de caso

    No processo de recolha de dados, o estudo de caso recorre a vrias tcnicas prprias da investigao qualitativa, nomeadamente o dirio de bordo, o relatrio, a entrevista e a observao. A utilizao destes diferentes instrumentos constitui uma forma de obteno de dados de diferentes tipos, os quais proporcionam a possibilidade de cruzamento de informao. (Brunheira, s/d)

    Embora os mtodos de recolha de dados mais comuns num estudo de caso sejam a observao e as entrevistas, nenhum mtodo pode ser descartado. O estudo de caso emprega vrios mtodos (entrevistas, observao participante e estudos de campo) (Hamel, 1993). Os mtodos de recolha de informaes so escolhidos de acordo com a tarefa a ser cumprida (Bell, 1989).

    Assim sendo, so utilizadas mltiplas fontes de evidncia ou dados por permitir por um lado, assegurar as diferentes perspectivas dos participantes no estudo e por outro, obter vrias medidas do mesmo fenmeno, criando condies para uma triangulao dos dados, durante a fase de anlise dos mesmos. Segundo Yin (1994:92), a utilizao de mltiplas fontes de dados na construo de um estudo de caso, permite-nos considerar um conjunto mais diversificado de tpicos de anlise e em simultneo permite corroborar o mesmo fenmeno.

    Seguidamente apresentaremos algumas das variadas fontes de dados: dirio de bordo, actividades de observao e respectivas notas de campo, documentos, entrevistas e relatrios.

    O dirio de bordo constitui um dos principais instrumentos do estudo de caso. Segundo Bogdan e Biklen (1994) este utilizado relativamente s notas de campo. O dirio de bordo tem como objectivo ser um instrumento em que o investigador vai registando as notas retiradas das suas observaes no campo. Bogdan e Bilken (1994:150) referem que essas notas so o relato escrito daquilo que o investigador ouve, v, experincia e pensa no decurso da recolha e reflectindo sobre os dados de um estudo qualitativo. No caso de o

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    investigador ser um observador-participante, alguns autores (Yin, 1994:88; Merriam, 1995:11), alertam para esse risco mas tambm para as excelentes oportunidades que esse papel pode proporcionar. O dirio de bordo representa, no s, uma fonte importante de dados, mas tambm pode apoiar o investigador a acompanhar o desenvolvimento do estudo. Bogdan e Biklen (1994:151) referem que acompanhar o desenvolvimento do projecto, a visualizar como que o plano de investigao foi afectado pelos dados recolhidos, e a tornar-se consciente de como ele ou ela foram influenciados pelos dados.

    A entrevista adquire bastante importncia no estudo de caso, pois atravs dela o investigador percebe a forma como os sujeitos interpretam as suas vivncias j que ela utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do prprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo (Bogdan e Biklen, 1994:134).

    Os diferentes tipos de entrevistas existentes tm sido classificados de formas diversas. Fontana e Frey (1994), consideram a existncia de trs grandes tipos: estruturada, semi-estruturada, e no estruturada; para Patton (1987), elas dividem-se entre quantitativas e qualitativas, sendo que a ltima comporta ainda trs classificaes (conversacional informal, guiada, aberta standard). Assim, as entrevistas implicam de uma forma geral a definio prvia de questes a colocar.

    Ao longo da investigao podem ser elaborados relatrios do tipo descritivo ou reflexivo, como ferramenta de recolha de dados. Os relatrios podem tambm surgir numa fase final, de forma a redigir concluses sobre os dados recolhidos.

    A pesquisa documental deve constar do plano de recolha de dados: cartas memorandos, comunicados, agendas, planos, propostas, cronogramas, jornais internos etc. O material recolhido e analisado utilizado para validar evidncias de outras fontes e/ou acrescentar informaes. preciso ter em

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    mente que nem sempre os documentos retratam a realidade. Por isso, importantssimo tentar extrair das situaes as razes pelas quais os documentos foram criados.

    Trs princpios para a recolha de dados segundo Yin (1994):

    a) Usar mltiplas fontes de evidncias

    O uso de mltiplas fontes de evidncia permite o desenvolvimento da investigao em vrias frentes investigar vrios aspectos em relao ao mesmo fenmeno. As concluses e descobertas so assim mais convincentes e apuradas j que advm de um conjunto de confirmaes. Alm disso os potenciais problemas de validade do estudo so atendidos, pois as concluses, nestas condies, so validadas atravs de vrias fontes de evidncia.

    b) Construir, ao longo do estudo, uma base de dados

    Embora no Estudo de Caso a separao entre a base de dados e o relato no sejam vulgarmente encontrada, sugere-se que essa separao acontea para garantir a legitimidade do estudo, uma vez que os dados encontrados ao longo do estudo so armazenados, possibilitando o acesso de outros investigadores. Os registos podem efectuar-se atravs de: notas, documentos e narrativas (interpretaes e descries dos eventos observados, registados...).

    c) Formar uma cadeia de evidncias

    Construir uma cadeia de evidncias consiste em configurar o estudo de caso, de tal modo que se consiga levar o leitor a perceber a apresentao das evidncias que legitimam o estudo, desde as questes de pesquisa at as concluses finais.

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    10. Da recolha ao tratamento de dados

    Numa investigao qualitativa o processo de recolha de dados extremamente demorado, pois o investigador depara-se com a necessidade de transcrever auscultaes realizadas aos participantes e registadas em vdeo, bem com transcrever integralmente as gravaes udio das entrevistas realizadas. Seguidamente os textos resultantes das transcries so transformados em formato electrnico tendo em vista a sua explorao com o apoio de um software adequado.

    Aps esta fase de tratamento dos dados e que consistiu basicamente as tarefas de: a) identificao, b) transcrio e c) organizao da base de dados, obtm-se uma base de dados a partir da qual so trabalhadas as fases seguintes de anlise dos dados (a codificao e a criao de categorias).

    O processo de identificao consiste no registo (identificao) feito durante ou imediatamente aps a recolha dos dados, da data, hora, local e sujeito (s) a que se reportavam os dados. Na transcrio, inclui-se as tarefas de transcrio para o texto em formato electrnico das gravaes udio das entrevistas e das auscultaes registadas em vdeo. Esta fase preliminar complementada pela organizao dos dados recolhidos atravs das diferentes tcnicas/instrumentos e atravs da constituio de um banco de dados organizado tendo como suporte um programa de computador adequado anlise de dados de carcter qualitativo: QSR NUD*IST Vivo (Qualitative Solutions and Research Non-Numerical Unstructured Data Indexing and Theorizing). O recurso ao NUD*IST Vivo fundamental, pois torna mais fcil o manuseamento e explorao dos dados de carcter qualitativo.

    Aps esta fase preliminar de tratamento de dados seleccionamos como principal estratgia de anlise dos mesmos o mtodo comparativo constante, segundo Merriam (1998). Este mtodo permite construir categorias que funcionam como elemento conceptual bsico a partir do qual se procede interpretao dos dados.

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    11. Validade externa ou generalizao

    Tendo em conta que um Estudo de Caso se baseia num caso especfico, circunscrito e limitado, poder este ser generalizado? E que utilidade tm os resultados?

    Existem autores que consideram que esta questo no se coloca (Punch, 1998). Em determinados estudos de caso, a generalizao no faz qualquer tipo de sentido, devido especificidade do caso ou pelo carcter irrepetvel do mesmo (Coutinho & Chaves, 2002). Gomez, Flores & Jimenez (1996), consideram que num estudo de caso temos que ponderar o seu carcter crtico, pois permite confirmar, modificar, ou ampliar o conhecimento sobre o objecto que estuda.

    Se por um lado existem casos em que a generalizao no faz sentido, por outro existem estudos de caso em que os resultados podem, de alguma forma, serem generalizados, aplicando-se a outras situaes (Yin, 1994). Punch (1998) considera a existncia de duas formas de generalizar os resultados de um estudo de caso: Conceptualizar, significa, no pensamento do autor, que na conduo do caso o investigador esteja mais preocupado em interpretar do que em descrever, ou seja, em chegar a novos conceitos que expliquem algum aspecto particular do caso que analisa. Desenvolver proposies ou hipteses significa que o investigador, baseado no seu caso, consegue avanar uma ou mais proposies/hipteses novas que liguem/relacionem conceitos ou factores dentro do caso.

    Estabelecer o domnio sobre o qual as descobertas podem ser generalizadas possvel testando a coerncia entre os resultados do estudo e os resultados de outras investigaes semelhantes.

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    12. Validade interna

    Existir validade interna se as concluses apresentadas correspondem autenticamente a alguma realidade reconhecida pelos prprios participantes, no sendo unicamente uma construo da mais ou menos frtil imaginao do investigador.

    O estudo de caso tambm conhecido como uma estratgia de investigao de triangulao. Stake (1995) afirma que os protocolos que so utilizadas para garantir a sua preciso e explicaes alternativas so chamados triangulao. A necessidade de triangulao surge da necessidade tica para confirmar a validade dos processos. Em estudos de caso, isto pode ser feito utilizando vrias fontes de dados (Yin, 1984).

    Para aumentar a credibilidade das interpretaes realizadas pelo investigador, este dever recorrer a um ou a vrios protocolos de triangulao.

    Denzin (1984), identificou quatro tipos de triangulao: triangulao das fontes de dados, em que se confrontam os dados provenientes de diferentes fontes; triangulao do investigador, em que entrevistadores/observadores diferentes procuram detectar desvios derivados da influncia do factor investigador; triangulao da teoria, em que se abordam os dados partindo de perspectivas tericas e hipteses diferentes; triangulao metodolgica, em que para aumentar a confiana nas suas interpretaes o investigador faz novas observaes directas com base em registos antigos, ou ainda procedendo a mltiplas combinaes inter metodolgicas (aplicao de um questionrio e de uma entrevista semi estruturada, etc, etc).

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    13. A questo da fiabilidade

    Qualquer que seja o tipo de estudo cientfico, seja ele um estudo quantitativo ou um estudo qualitativo, o conceito fiabilidade, neste contexto, relaciona-se com a possibilidade de reaplicar as concluses a que se chega (Vieira, 1999), ou seja, com a possibilidade de diversos investigadores, poderem chegar a resultados semelhantes sobre o mesmo fenmeno estudado utilizando, para isso, os mesmos instrumentos (Schofield, 1993; Yin, 1994; Mertens, 1998). Na realidade trata-se de aferir se os dados recolhidos na investigao so estveis no tempo e se tm consistncia interna, especialmente se provierem de diversas fontes (Stake, 1995; Punch, 1998).

    Num estudo de cariz quantitativo o requisito da fiabilidade facilmente alcanvel, num estudo de caso, a garantia de fiabilidade torna-se mais difcil de alcanar, porque o investigador o principal, e muitas vezes nico instrumento do estudo (Vieira, 1999) e, acrescentando que o caso em si no pode ser replicado ou reconstrudo (Yin, 1994). No entanto, a questo da fiabilidade no pode deixar de ser colocada se queremos que ao nosso estudo de caso seja reconhecida pertinncia e valor (Yin, 1994).

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    14. Concluso/Sntese

    Procurando sintetizar todos os aspectos apresentados no presente trabalho, diramos que o estudo de caso representa uma abordagem metodolgica de investigao especialmente adequada quando procuramos compreender, explorar ou descrever acontecimentos e contextos complexos e que este constitui uma estratgia de pesquisa utilizada nas Cincias Sociais.

    Conclumos que uma investigao com caractersticas peculiares, pois incide intencionalmente sobre uma situao especfica que se presume ser nica ou especial, procurando descobrir o que h nela de mais fundamental e especfico, compreendendo assim globalmente um determinado fenmeno ao qual o investigador atribui importncia. Sendo o seu objectivo geral: explorar, descrever, explicar, avaliar e/ou transformar, assim sendo quase tudo pode ser um estudo de caso.

    Quanto modalidade de investigao em que o estudo de caso se enquadra, verificamos que segundo diversos autores, o estudo possui um forte cariz descritivo, da que a grande maioria dos investigadores considere o estudo de caso como uma modalidade de plano qualitativo. No entanto, h tambm autores que defendem que o estudo de caso pode ser conduzido sobre qualquer um dos paradigmas de investigao, considerando por isso mais coerente a sua incluso nos planos de investigao do tipo misto.

    Ao longo da elaborao do presente trabalho percebemos que a amostra num estudo de caso fundamental, pois constitui o cerne da investigao e que o processo de amostragem s est concludo quando se esgota a informao a extrair atravs do confronto das vrias fontes de evidncia.

    Compreendemos tambm que o estudo de caso utiliza mltiplas fontes de evidncia ou dados o que permite, por um lado, assegurar as diferentes perspectivas dos participantes no estudo e por outro, obter vrias medidas do mesmo fenmeno, criando condies para uma triangulao dos dados durante a fase de anlise dos mesmos. Devemos realar que o processo de recolha de dados extremamente demorado, pois o investigador depara-se com a necessidade de transcrever auscultaes realizadas aos participantes, registadas nos diversos instrumentos de investigao utilizados.

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    No que concerne validade de um estudo de caso verificamos que determinados autores defendem que a generalizao no faz qualquer tipo de sentido, devido especificidade do caso, no entanto, existem estudos de caso em que os resultados podem, de alguma forma, serem generalizados, aplicando-se a outras situaes.

    No que se refere fiabilidade, tivemos oportunidade de perceber que esta se relaciona com a possibilidade de reaplicar as concluses a que se chega e com a possibilidade de diversos investigadores chegarem resultados semelhantes sobre o mesmo fenmeno estudado.

    Na presente metodologia de investigao estudada, a garantia de fiabilidade mais difcil de alcanar pois trata-se de um estudo de cariz qualitativo, isto acontece porque neste tipo de estudo o investigador tem um papel primordial, e constitui muitas vezes o nico instrumento do estudo, o que de certa forma o oposto do que sucede num estudo de cariz quantitativo.

    Finalizando, conclumos que um estudo de caso representa um mtodo de investigao relevante, sobretudo porque assenta numa pesquisa intensiva e aprofundada de um determinado objecto de estudo, que se encontra extremamente bem definido e que visa compreender a singularidade e globalidade do caso em simultneo.

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