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artigo clássico de esther jean langdon sobre antropologia da performance (1996)

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  • Performance e Preocupaes Pos-Modernas na Antropologia1

    E. Jean Langdon, UFSC

    Agradeo a oportunidade de participar deste seminrio sobre performance. No

    incio fiquei perplexa com o convite, especulando o qual poderia ser a contribuio de

    uma antroploga como eu, que no faz performance (se no na sala de aula) e que estuda

    performance numa sociedade indgena. Tambm me perguntei o qual seria a minha

    contribuio numa mesa redonda sobre a linguagem performtica e a atualidade. Meus

    trabalhos de pesquisa tm sido basicamente com povos indgenas, explorando assuntos

    como xamanismo, rito, cosmologia, e cura. Mais recentemente comecei a explorar a

    narrativa dentro da perspectiva de arte verbal e o papel da narrao na vida cotidiana em

    momentos de crises de doena e outros infortnios. Sempre pensei que estas ltimas

    atividades fossam somente de interesse antropolgico nas tentativas de entender a

    dinmica da interao scio-cultural.

    Porm, o convite me forou a refletir sobre o tema geral da performance sendo

    desenvolvido nos ltimos 20 anos na antropologia que mais e mais trata de um mundo

    ps-moderno, o qual caracterizado pelo imprevisto ou indeterminado, a

    heterogeneidade, a polifonia de vozes, relaes de poder, a subjetividade e a

    transformao contnua. Estas caractersticas ps-modernas no so limitadas as

    sociedades complexas mas fazem parte de toda a interao social, inclusive nas

    sociedades grafas. O prprio conceito de performance na antropologia surgiu das

    anlises da dinmica do rito nas sociedades tribais. Felizmente, as teorias do rito, e

    subsequentemente da performance, foram marcadas por influncias transdisciplinares, e

    podemos dizer que o conceito de performance em antropologia emergiu e foi

    1 Trabalho apresentado no I Encontro Nacional de "Performticos, Performance e Sociedade" em novembro de 1995 e publicado em 1996 Performance e Preocupaes Ps-Modernas em Antropologia. In Performticos, performance e Sociedade (Joo Grabriel L.C. Teixeira org). Braslia, Editora Universidade de Braslia. Pp. 23-29. ISBN 85-230

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    desenvolvido simultaneamente com as indagaes que caracterizam vrias disciplinas

    hoje, tais como literatura, arte, lingistica, psicologia, histria e outras. O campo de

    performance, como to evidente neste simpsio, por natureza transdisciplinar.

    Nesta apresentao enfocarei o desenvolvimento do conceito de performance

    dentro das duas ticas predominantes, neste momento, na antropologia: a vida social

    como dramatrgica, ou como drama social, e a performance como evento, que tem seu

    enfoque nas caractersticas e produo dos eventos performticos. A primeira surgiu do

    campo da antropologia simblica e seus estudos sobre a relao entre rito, sociedade e

    transformao, desenvolvido por Victor Turner, Clifford Geertz, e outros. A segunda

    evoluiu dentro do campo da etnografia da fala, que marcada pelo cruzamento de

    interesses de lingistas, folcloristas, antroplogos, filsofos, socilogos, etc. (Bauman

    1976; Bauman 1977).

    O Enfoque da Performance e Drama Social

    Na antropologia, o conceito de performance emergiu das preocupaes com o

    papel do smbolo na vida humana e a construo de um conceito de cultura consequente

    desta viso simblica.. Tradicionalmente a cultura, conceito central na antropologia, foi

    pensada como normativa e homognea, como um conjunto de hbitos, valores, e normas

    fixas. O antroplogo frequentemente referiu-se aos atores sociais como um outro

    generalizado, representante de sua cultura, e descreveu suas atividades como resultados

    destes normas, pensamentos, valores, e hbitos em comum. A cultura foi vista como um

    modelo ideal e fixo e o comportamento foi visto como o resultado da aplicao deste

    modelo abstrato na ao.

    Nos ltimos anos esta perspectiva vem sendo contestada por uma outra viso, na

    qual a cultura vista como emergente e o enfoque est no ator social como agente

    consciente, interpretativo e subjetivo. Esta viso de cultura no nega que as pessoas

    dentro do mesmo grupo compartilharam certos valores, smbolos e preocupaes que

    podem ser caracterizados como tradio, mas o enfoque est na prxis, na interao

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    dos atores sociais que esto produzindo cultura a todo momento. Experincias passadas e

    tradio fornecem possveis recursos para os indivduos interpretarem, entenderem e

    agirem no presente, mas atravs da interao social que a cultura emerge. O homem

    simblico um ator, cuja ao no motivada s pela razo mas tambm pelas

    experincias passadas, pelos desejos, pelas necessidades de expressar e criar, e pela

    vontade (Langer 1971). Criatividade, expresso, inclusive as expresses estticas, e

    possibilidades de transformao tomam importncia neste novo estudo da cultura.

    No incio, o rito, como expresso simblica e performtica, ocupou um lugar

    central na anlise simblica. Rito no conceituado como uma mera repetio de atos em

    sequncia, mas como um ato performtico com poder de transformar o indivduo e a

    sociedade (Geertz 1978a; Rappaport 1992). Victor Turner foi importante na construo

    deste conceito do rito e seu papel dinmico na sociedade, atravs de suas pesquisas entre

    os Ndembu da frica (1967; 1974). Ele observou que a vida social cheia de conflitos e

    crises e o rito tem um papel importante nas tentativas de resolues feitas pelas pessoas

    envolvidas.

    Central teoria de rito o conceito de liminalidade (Turner 1974). Os ritos

    iniciam com a separao da vida cotidiana, tm sua fase liminal, e terminam com uma

    volta vida cotidiana. A fase liminal central ao poder do rito. o momento de betwix e

    between, quando esto ausentes a estrutura social e regras que normalmente ordenam as

    interaes sociais dos membros de uma sociedade. Na ao simblica da fase liminal a

    estrutura normal invertida, e o que escondido na vida cotidiana revelado. um

    momento de reflexividade, quando os participantes refletem sobre si mesmos e sobre o

    grupo, permitindo-lhes repensar sua sociedade. Liminaridade possibilita a criatividade, a

    expresso e a transformao.

    Como j foi dito acima, a viso de cultura como emergente basea-se na idia de

    que a vida social um processo dinmico e no uma estrutura fixa, e este processo,

    segundo Turner, melhor visto como um drama social, ou seja, como composto de

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    sequncias de dramas sociais que so resultado de uma continua tenso entre conflito e

    harmonia. A vida como um drama, cheio de situaes desarmnicas ou de crises cujas

    resolues desafiam os atores. So as brigas, as discusses, as doenas, os ritos de

    passagem, etc. que tomam formas dramticas e os atores tentam demonstrar o que tm

    feito, o que esto fazendo e tambm tentam impor suas solues ou idias aos outros

    (Turner 1981). A interao social, vista assim, uma continua negociao entre atores, e

    esta viso de processo social anloga a proposta do modelo dramatrgico de Irving

    Goffman (1983). Os atores dos dramas sociais de Turner realizam seus papis para os

    outros como platia, tentando persuadi-los da sua posio.

    Segundo Turner, os dramas scias da vida cotidiana so unidades de sequncias

    de ao que analiticamente podem ser separadas do fluxo contnuo do processo social.

    So marcados pelas fases de ruptura da ordem normal, crise, tentativas de compensao,

    e resoluo, quando a ruptura resolvida ou a diviso do grupo se torna permanente e

    reconhecida. A fase de compensao, como o rito, tem qualidades liminais. So

    momentos da vida social de negociaes entre os atores que tentam impor ou convencer

    os outros da sua viso ou paradigma. Fazem parte do o aspecto indeterminado e o

    modo subjuntivo na interao humana. A vida social est em jogo; h desejos, esperanas

    e poderes diferentes; o resultado no determinado. H possibilidades de mudana.

    No final da vida, Turner muda seu interesse de rito e drama social em sociedades

    tribais para performance cultural, As influencias da etnografia de fala, de Goffman e sua

    perspectiva dramatrgica da vida, e a colaborao com R. Schechner (1987; Turner 1982)

    sobre teatro, so evidentes nos seus ltimos trabalhos. Adotando a noo de

    performance cultural de Singer (Turner 1987: 23), os gneros performativos no so

    limitados ao teatro, concertos, palestras, como reconhecido no mundo ocidental, mas

    tambm incluem ritos, rezas, cerimonias, festivais, casamentos, etc. (Bauman 1992). So

    expresses artsticas e culturais marcadas por um limite temporal, sequncia de

    atividades, programa de atividades organizado, conjunto de atores, platia, um lugar e

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    ocasio para a performance. Podem ser observadas numa experincia direita e nica e,

    ainda mais importante, so compostas de mdia cultural, ou o que Singer descreve

    como meios de comunicao que incluem no s a linguagem falada, mas meios no-

    lingsticos tais como cantos, dana, interpretaes performativas, artes grficas e

    plsticas (Singer 1972: 71). Performances so mais uma orquestrao de meios

    simblicos comunicativos, e no expresses num nico meio. Isto, segundo Turner, Levi-

    Strauss e outros, resulta num conjunto de mensagens sutilmente variadas, sendo

    comunicadas numa performance.

    Momentos de performance so momentos de reflexividade, uma condio na

    qual um grupo reflete sobre ele mesmo (Geertz 1978b; Ohnuki-Tierney). Assim, para

    Turner, h uma ligao dialtica entre os dramas sociais do processo social e as

    performances culturais. Performances culturais originam-se nos dramas sociais, mas vo

    alm de simplesmente pensar sobre a sociedade. So momentos liminais caracterizados

    por reflexividade, criatividade, e inverso, e consequentemente podem ser agentes ativos

    de mudana, representando o olho com que uma cultura percebe-se e a prancha de

    desenho na qual os atores criativos esboam o que eles acreditam de ser desenhos para

    viver mais apropriados ou mais interessantes (Turner 1987: 24). ....both the performances and their settings may be likened to loops in a linear progression, when the social flow bends back on itself, in a way does violence to its own development, meanders, inverts, perhaps lies to itself, and puts everything so to speak into the subjunctive mood as well as the reflexive voice. Just as the subjunctive mood of a verb is used to express supposition, desire, hypothesis, or possibility, rather than stating actual facts, so do liminality and the phenomena of liminality dissolve all factual and common sense systems into their components and play with them in ways never found in nature or in custom, at least at the level of direct perception. (Turner 1987: 25)

    Com a mudana do enfoque de rito para o de gneros performticos, entram em

    cena os interesses sobre a fora da experincia, a subjetividade, as expresses artsticas e

    sua produo na vida humana.

    O Enfoque Performtico

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    Na sua teoria da performance Turner estava preocupada com a relao da

    performance com a sociedade, mas ele limitou sua analise no sentido de no considerar as

    caractersticas constituitivas de performances como eventos. Esta preocupao, ou o que

    eu chamo a perspectiva performtica, surgiu paralelamente ao trabalho de Turner,

    Singer, e Schechner. A diferena desta abordagem com a de Turner, et. al. encontra-se no

    nvel de anlise e enfoque, e no nos princpios e conceitos centrais. Enquanto podemos

    dizer que a teoria geral da performance na antropologia trata da relao cultura-

    sociedade-performance num nvel analtico, a perspectiva performtica surge da

    preocupao de como as culturas constrem e produzem seus gneros particulares de

    performance. Dito mais simplesmente, esta abordagem parte de uma definio de quais

    so as caractersticas de performance e preocupa-se com as situaes e os atos da

    performance no seus contextos especficos (Bauman 1977).

    Esta abordagem surgiu do campo da etnografia da fala, onde o ato performativo ,

    como outros atos de fala, um ato situado num contexto particular e construdo pelos

    participantes. H papis e maneiras de falar e agir. Performance um ato de

    comunicao, mas como categoria distingue-se dos outros atos de fala principalmente por

    sua funo expressiva ou potica, seguindo o conceito de Jakobson (1960). A funo

    potica ressalta o modo de expressar a mensagem e no o contedo da mensagem. Assim

    como Bakhtin (1968) dirige sua ateno para como o romance construdo, os estudos

    desta abordagem dirigem seu interesse para como performances so construdas pelos

    participantes do evento. Examinam o evento artstico (a situao de performance) e o ato

    artstico (a realizao do evento).

    Performance uma experincia humana contextualizada e a anlise performtica

    explora a dinmica da expresso potica do evento e no a fixao do evento como um

    texto de narrativa ou o manuscrito de uma pea de teatro. Por exemplo, no meu trabalho

    sobre narrativas xamnicas dos ndios Siona de Colmbia meu objetivo no somente de

    colecionar um conjunto de textos fixos considerados legtimos e representantes. Procuro

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    tambm captar os momentos performticos, quando um narrador realiza sua performance

    da narrao num contexto social, e examinar estes atos com o fluxo da vida cotidiana.

    Quero captar o estilo potica - na linguagem, no uso de voz e do corpo, e nos outros

    mecanismos - que transformam o momento de contar num momento dramtico e

    divertido para os participantes (Tedlock 1977).

    Caractersticas dos atos performticos:

    Nem todos os atos de narrao so performances, nem todos os atos de

    comunicao so performances no sentido performtico. A performance, como j foi

    dito, distingue-se primariamente por uma situao onde a funo potica dominante no

    evento de comunicao. A experincia invocada pela performance importante e uma

    consequncia dos mecanismos poticos e estticos, uma consequncia dos vrios meios

    comunicativos sendo expressados simultaneamente. O ato performtico chama ateno de

    todos os participantes atravs da produo da sensao de estranhamento do cotidiano.

    Fazendo estranho, suscitando um olhar no-cotidiano, e produzindo momentos onde a

    experincia est em relevo, so caractersticas dos atos performticos (Bauman 1977;

    Bauman and Briggs 1990).

    Especificamente, os elementos essncias da performance, segundo esta

    abordagem, so:

    1. Display ou a exibio dos atores que atuam para os outros.

    2. Os atores assumem a responsabilidade para competncia. Eles exibem o

    talento e a tcnica de falar e agir em maneiras apropriadas.

    3. Avaliao por parte das participantes. Foi uma boa performance ou no.

    4. Experincia em relevo - as qualidades da experincia (expressiva, emotiva,

    sensorial) so o centro da experincia. Assim, o ato de expresso e os atores so

    percebidos com uma intensidade especial, onde as emoes e prazeres suscitados pela

    performance so essenciais para a experincia.

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    5. Keying - atos performticos so momentos de ruptura do fluxo normal de

    comunicao, so momentos que so sinalizdos (ou keyed) para estabelecer o evento da

    performance, para chamar ateno dos participantes performance. Esta sinalizao ou

    keying, focaliza o evento e indica como interpretar a mensagem a ser comunicada. O ato

    performativo indica que no para interpretar a mensagem literalmente e estabelece um

    conjunto de expectativas sobre os atos a seguir. Os ritos tm invocaes que marcam o

    inicio da ao. No cotidiano h momentos de performance tambm, que comunicam para

    os outros o que esperar no momento performtico. Talvez o mais conhecido entre ns,

    apesar de no ser consciente, so os momentos de piadas. Uma pessoa, assumindo a

    responsibilidade de divertir os outros, introduz no fluxo do discurso uma formula verbal

    que chama ateno de todos para escutar - Voc sabe a do Portugus........ Voc

    sabe aquela sobre o que aconteceu quando o portugus...... Escutando a abertura da

    piada, os participantes do grupo param seu discurso normal e entram na interao do

    evento da piada - o contador de piadas ocupa o centro da ateno, os outros escutam

    esperando ser agradados com uma surpresa engraada no final. Em culturas tribais, onde

    a literatura oral ainda um recurso de divertimento e prazer, h aberturas verbais

    especificas que preparam as pessoas presentes para a narrao performtica. Na nossa

    tradio, Era uma vez ..., tal abertura que indica para os participantes como

    interpretar e prosseguir com a aao. Os ndios Siona abrem com: Nos primeiros

    tempos.....

    O local ou o tempo podem ser outros indicadores do evento performtico,

    determinando o que esperado e permitido. No teatro, o palco um dos mecanismos que

    estabelece as expectativas. Piadas podem ser contados em vrias situaes, mas h

    lugares e momentos onde totalmente impensvel contar piadas. O local para a

    performance de narrativas entre os Siona de manh quando toda a famlia esta sentada

    fazendo cestas. A casa ritual as noites local para as performances rituais.

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    Os atos performticos so estruturados de vrias maneiras. No ha tempo de

    elaborar aqui, mas brevemente podemos mencionar algumas delas. Uma vez sinalizado,

    h regras bsicas para o tipo de performance que esta sendo realizado - a sequncia da

    ao (por exemplo na piada, s ri no final), modos de falar, movimentar, e agir que so

    especficas situao. A participao tambm socialmente construda - os papis que os

    participantes assumem (ator, platia, etc.) e quem tem direito de ocupar um papel

    especifico. Em algumas sociedades, as narrativas tm donos, e s elas podem cont-las.

    Em outras, o papel de narrador formal, nem todos podem assumir a autoridade de

    contar. Em outros, os atores so figuras marginais, tais como palhaos nas cortes da

    Europa.

    Segundo o conceito elaborado acima, performance uma categoria universal no

    sentido de que elas acontecem em todas as culturas, e que todas as sociedades humanas

    tm vrios gneros de performance, os momentos que elas reconhecem e valorizam pela

    funo potica e que exibem as suas caractersticas, descritas acima. As formas dos atos

    performticos so variadas e diversas, construdas por culturas especficas. A anlise

    performtica procura descobrir quais so os gneros reconhecidos e realizados por

    membros de um grupo e como estes gneros so estruturados nos atos performticos. As

    metodologias e outros assuntos particulares esta abordagem no sero explorados aqui.

    Quero concluir esta apresentao levantando as consideraes desta perspectiva que so

    compartilhadas com as da abordagem da performance no seu sentido mais lato e que

    tratam das caractersticas ps-modernas da vida social (Bauman and Briggs 1990).

    1. Performance como emergente - enfoque na experincia emergente da

    performance. Ambas as abordagens liberam a performance de um modelo fixo de

    cultura. O texto liberado de sua forma fixa e todas as performances so vistas como

    nicas. O objetivo no de congelar ou fixar o momento, mas de examinar como

    produzido. Cada performance emerge atravs da interao dos recursos comunicativos

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    (maneiras de falar), a competncia individual e os objetivos dos participantes dentro do

    contexto da situao particular.

    2. Negociao do evento: como em toda a vida interativa, h negociaes

    contnuas das regras bsicas da performance. Entra relaes de poder e autoridade. Quem

    quer falar tem que estabelecer sua autoridade, e h negociao dos papis que os

    participantes assumem. Podemos dizer que a estrutura social emerge na performance, ela

    realizada.

    3. Dialocalidade: A performance inclue as vozes de vrias pessoas.

    4. Poder retrico: numa performance efetiva, a platia amarrada ao ator, o

    performer. Ele assume a responsabilidade de levar a platia um outro plano no fluxo do

    cotidiano - seja para divertimento, reflexo ou outras sensaes. Com o keying,

    estabelece-se um ambiente de expectativa. A platia se permite ser levado, e o performer,

    se bom, tem a corrente de interao nas suas mos. Isto possibilita a transformao da

    situao. Atos performativos tm o potencial, atravs dos atores, de subverter e

    transformar o status quo.

    Consideraes Finais:

    Performance representa um novo enfoque na antropologia - seja o da perspectiva

    iniciada por Victor Turner ou o enfoque com origem nas preocupaes da etnografia da

    fala - e as duas abordagens convergem para as mesmas indagaes sobre a vida social.

    Performance inclui os momentos liminais quando as experincias afetiva, emotiva e

    esttica so centrais. So momentos liminais e transformativos, caracterizados pela

    inverso e reflexividade. A experincia sempre est sendo criada. Podemos dizer que

    performance nas duas abordagens aqui descritas, o nexo da tradio, da praxis, e da

    emergncia da realidade como inovao.

    Bibliografia: Bakhtin, M.M. 1968. Rabelais and His World. Cambridge, MA, MIT Press.

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