Estado Da Arte Solos Lateriticos Pavimentos

104
ESTADO DA ARTE SOBRE A UTILIZAÇÃO DE SOLOS LATERÍTICOS EM PAVIMENTOS RODOVIÁRIOS SÓNIA VANESSA MENESES DUTRA Dissertação submetida para satisfação parcial dos requisitos do grau de MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL ESPECIALIZAÇÃO EM GEOTECNIA Orientador: Professor Doutor António Manuel Barbot Campos e Matos Coorientador: Professora Doutora Cecília Maria Nogueira Alvarenga Santos do Vale e Engenheiro Sérgio Cunha SETEMBRO 2014

description

Estado Da Arte Solos Lateriticos Pavimentos

Transcript of Estado Da Arte Solos Lateriticos Pavimentos

  • ESTADO DA ARTE SOBRE A UTILIZAO DE SOLOS LATERTICOS

    EM PAVIMENTOS RODOVIRIOS

    SNIA VANESSA MENESES DUTRA

    Dissertao submetida para satisfao parcial dos requisitos do grau de

    MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL ESPECIALIZAO EM GEOTECNIA

    Orientador: Professor Doutor Antnio Manuel Barbot Campos e Matos

    Coorientador: Professora Doutora Ceclia Maria Nogueira Alvarenga

    Santos do Vale e Engenheiro Srgio Cunha

    SETEMBRO 2014

  • MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL 2013/2014

    DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

    Tel. +351-22-508 1901

    Fax +351-22-5081446

    [email protected]

    Editado por

    FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO

    Rua Dr. Roberto Frias

    4200-465 PORTO

    Portugal

    Tel. +351-22-508 1400

    Fax +351-22-5081440

    [email protected]

    http://www.fe.up.pt

    Reprodues parciais deste documento sero autorizadas na condio que seja

    mencionado o Autor e feita referncia a Mestrado Integrado em Engenharia Civil -

    2013/2014 - Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia da Universidade

    do Porto, Porto, Portugal, 2014.

    As opinies e informaes includas neste documento representam unicamente o ponto de

    vista do respetivo Autor, no podendo o Editor aceitar qualquer responsabilidade legal ou

    outra em relao a erros ou omisses que possam existir.

    Este documento foi produzido a partir de verso eletrnica fornecida pelo respetivo Autor.

  • minha famlia e ao meu noivo

    A grandeza no consiste em receber honras, mas em merec-las.

    Aristteles

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    i

    AGRADECIMENTOS

    Gostaria de expressar a minha gratido a todos os que, de alguma forma, contriburam para a

    realizao deste trabalho.

    Ao Professor Doutor Antnio Viana da Fonseca, diretor da Seco de Geotecnia do Departamento de

    Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, e a todos os Professores que,

    com as suas excelentes aulas, me levaram a decidir por este ramo.

    Ao meu orientador, Professor Doutor Antnio Campos e Matos, por ter sugerido uma dissertao

    acerca do tema laterites.

    Professora Doutora Ceclia Vale, por me ter orientado, pelos contactos realizados que permitiram a

    realizao do inqurito, e pelos documentos disponibilizados.

    Doutora Ana Cristina Freire, pela disponibilidade imediata com que sempre me recebeu, pelas

    sugestes e documentos disponibilizados.

    Ao Professor Doutor Amrico Dimande da Universidade Eduardo Mondlane em Moambique, que se

    disponibilizou para enviar documentos.

    Ao Eng Ricardo Ferreira, Eng Jos Carlos Almeida, Eng Paulo Guedes, Eng Marta Isidoro, Eng

    Andr Costa, Eng Andr Maurcio, Eng Licnio Pereira e ao Eng Fernando Castelo Branco da MSF

    pela colaborao pronta na resposta ao inqurito sobre laterites.

    Ao Eng Paulo Fonseca da Elevogroup, coordenador do grupo de trabalho de Pavimentos Rodovirios

    da Plataforma Tecnolgica Portuguesa da Construo, pelo apoio no contacto com as empresas

    portuguesas que colaboraram neste trabalho.

    Ao Andr Cunha e Marta Torneiro, pela ajuda na programao da base de dados.

    minha famlia que me deu sempre fora para continuar, e que sempre acreditou em mim. minha

    me, Rosa Meneses, s minhas tias, Paula Goulart e Sandra Meneses, e em especial Cristina

    Oliveira, aos meus tios Nuno Goulart e lvaro Oliveira, e ao Alexandre Faria, por todo o apoio que

    me permitiu chegar ao fim do curso. Ao meu pai, Arlindo Dutra pela ajuda na elaborao de imagens.

    Ao meu noivo, Csar Duarte, por todo o apoio e fora dados ao longo do curso, e que esteve sempre

    ao meu lado nos momentos mais difceis deste percurso. E sua famlia, pelo apoio e carinho.

    Aos meus colegas de curso que me aturaram por 6 longos anos, que me ajudaram nos estudos, e a

    passar os dias com mais alegria. Em especial ao ngelo Pereira, Diogo Silva e Filipa Garrett pela

    ajuda.

    A todos os que, injustamente, me esqueci de mencionar, o meu muito obrigada.

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    ii

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    iii

    RESUMO

    Esta tese no mbito do Mestrado Integrado em Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia da

    Universidade do Porto, opo de Geotecnia, surgiu da necessidade de compilao da informao

    existente acerca de um tipo de solo residual tropical peculiar as laterites/solos laterticos. Este tipo de

    solo muito utilizado nas zonas tropicais pela possibilidade mais econmica, no s de utilizar os

    materiais disponveis, mas tambm pela necessidade crescente de se recorrer a materiais mais

    sustentveis.

    A informao acerca deste tema encontra-se temporal e espacialmente dispersa, sendo a compilao

    um dos objetivos deste trabalho. Este foi alcanado atravs de uma pesquisa intensiva, tanto em

    bibliotecas reais como em bibliotecas digitais, e da criao de uma base de dados contendo os

    documentos encontrados acerca deste tipo de solo e da sua localizao.

    Outro dos objetivos consistia em aprofundar a pesquisa na rea da aplicao em pavimentos, j que a

    principal rea de utilizao das laterites, pelo que foi desenvolvido um captulo acerca do tema.

    O ltimo dos objetivos foi recolher informao atravs de inquritos dirigidos a engenheiros com

    experincia no emprego das laterites em engenharia civil, informao que foi tratada de forma

    qualitativa.

    PALAVRAS-CHAVE: estado da arte, laterites, solos laterticos, pavimentos rodovirios, avaliao do

    comportamento, solos residuais tropicais, ferramentas de apoio.

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    iv

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    v

    ABSTRACT

    This thesis as part of the Master in Civil Engineering, Faculty of Engineering of University of Porto,

    Geotechnical Engineering option, arose from the need to compile the existing information concerning

    a peculiar type of tropical residual soil laterites/ lateritic soils. This type of soil is widely used in the

    tropics for the economical opportunity, not only to use the available materials, but also for the growing

    need to use more sustainable materials.

    The information on this subject is temporally and spatially dispersed, being the compilation one of the

    goals of the present work. This goal was achieved through intensive research, both in real libraries as

    digital libraries, and with the creation of a database containing the documents found about this type of

    soil and its location.

    Another aim was to deepen the research in the area of application in pavements, as it is the main area

    of application of laterites, for what it has been developed a chapter on the subject.

    The last of the goals was to gather information through surveys directed to engineers with experience

    in the use of laterites in civil engineering, information that has been treated qualitatively.

    KEYWORDS: state of the art, laterites, lateritic soils, road pavements, behavior assessment, tropical

    residual soils, support tools.

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    vi

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    vii

    NDICE GERAL

    AGRADECIMENTOS ................................................................................................................................... i

    RESUMO ................................................................................................................................. iii

    ABSTRACT ............................................................................................................................................... v

    1. INTRODUO .................................................................................................................... 1

    1.1. MBITO E ENQUADRAMENTO .......................................................................................................... 1

    1.2. OBJETIVOS ....................................................................................................................................... 2

    1.3. CONTEDO DA DISSERTAO ........................................................................................................ 2

    2. SOLOS LATERTICOS ............................................................................................... 3

    2.1. INTRODUO .................................................................................................................................... 3

    2.1.1. SOLOS RESIDUAIS: ASPETOS GERAIS ................................................................................................ 4

    2.1.2. INTEMPERISMO O PROCESSO DE FORMAO .................................................................................. 5

    2.1.3. FATORES CONDICIONANTES E CARACTERSTICAS GERAIS .................................................................. 9

    2.2. SOLOS RESIDUAIS TROPICAIS ...................................................................................................... 10

    2.2.1. PROCESSO DE FORMAO .............................................................................................................. 10

    2.2.2. DISTRIBUIO GEOGRFICA ............................................................................................................ 11

    2.2.3. CARACTERIZAO FSICA E MECNICA............................................................................................. 13

    2.2.3.1. Metodologia de Ensaios ........................................................................................................... 13

    2.3. LATERITES ...................................................................................................................................... 17

    2.3.1. DEFINIO DE LATERITE .................................................................................................................. 17

    2.3.2. DISTRIBUIO GEOGRFICA ............................................................................................................ 19

    2.3.2.1. Laterites de frica ..................................................................................................................... 20

    2.3.2.2. Laterites da ndia ...................................................................................................................... 21

    2.3.2.3. Laterites do Brasil ...................................................................................................................... 25

    2.3.3. CARACTERIZAO FSICA ................................................................................................................ 27

    2.3.4. CARACTERIZAO MINERALGICA E FSICO-QUMICA ....................................................................... 27

    2.3.5. CARACTERIZAO MECNICA .......................................................................................................... 28

    2.3.6. UTILIZAO DE LATERITES EM ENGENHARIA CIVIL ............................................................................ 30

    2.3.7. BASE DE DADOS DE REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS RELACIONADAS COM LATERITES ........................ 31

    2.4. CONCLUSES ................................................................................................................................. 33

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    viii

    3. APLICAO DE SOLOS LATERTICOS EM PAVIMENTOS RODOVIRIOS ...................................................................................................................... 35

    3.1. INTRODUO ................................................................................................................................. 35

    3.2. PAVIMENTOS RODOVIRIOS: TIPOLOGIA, CONSTITUIO E MATERIAIS CORRENTES ............ 36

    3.3. ESPECIFICAES DE LATERITES PARA PAVIMENTOS ................................................................ 38

    3.3.1. GUIDE PRATIQUE DE DIMENSIONNEMENT DES CHAUSSEES POUR LES PAYS TROPICAUX .................... 38

    3.3.2. MANUAL DE PAVIMENTAO - DNIT ................................................................................................ 42

    3.3.3. NORMA DNIT 098/2007 ES (PAVIMENTAO-BASE ESTABILIZADA GRANULOMETRICAMENTE COM

    UTILIZAO DE SOLO LATERTICO ............................................................................................................. 42

    3.3.4. ESPECIFICAO 504 CAMADAS DE DESGASTE DE ASFALTO........................................................... 44

    3.3.5. NORMAS DE UTILIZAO DE LATERITES AFRICANAS EM PAVIMENTOS ................................................ 44

    3.3.6. OUTRAS ESPECIFICAES .............................................................................................................. 45

    3.4. ESTABILIZAO DE LATERITES PARA PAVIMENTOS................................................................... 46

    3.4.1. ESTABILIZAO COM CAL ............................................................................................................... 46

    3.4.2. ESTABILIZAO COM CIMENTO ........................................................................................................ 47

    3.4.3. PRECIPITAO DE CALCITE POR ATIVIDADE MICROBIANA (MICP) ..................................................... 47

    3.4.4. SOLO CIMENTO-LATERTICO ........................................................................................................... 47

    3.5. CASOS DE APLICAO DE SOLOS LATERTICOS EM PAVIMENTOS ........................................... 48

    3.5.1. EXPERINCIA INTERNACIONAL ......................................................................................................... 48

    3.5.1.1. Caso 1 Classificao MCT para Caracterizao de Solos Tropicais .................................... 48

    3.5.1.2. Caso 2 Utilizao de solo latertico em pavimentos e sua estabilizao com cal ................ 51

    3.5.1.3. Caso 3 Utilizao de materiais laterticos como bases de pavimentos ................................ 53

    3.5.1.4. Caso 4 Utilizao de solo-cimento latertico em pavimentos ................................................ 53

    3.5.2. EXPERINCIA PORTUGUESA ............................................................................................................ 54

    3.5.2.1. Caso 1 Aplicao de laterites em pavimentos - Angola ........................................................ 54

    3.5.2.2. Caso 2 Aplicao de laterites em pavimentos - Moambique .............................................. 55

    3.5.2.3. Caso 3 Aplicao de laterites em pavimentos Guin Equatorial ....................................... 55

    3.5.2.4. Caso 4 Aplicao de laterites em subleito e leito do pavimento Guin Equatorial, Senegal,

    Costa do Marfim e Burkina Faso ........................................................................................................... 56

    3.5.2.5. Caso 5 Aplicao de laterites em aterros de estradas - Senegal ......................................... 56

    3.5.2.6. Caso 6 Aplicao de laterites em pavimentos e fundaes de aterro - Senegal .................. 56

    3.5.2.7. Caso 7 Aplicao de laterites em pavimentos Gana (Acra) ............................................... 57

    3.5.2.8. Caso 8 Aplicao de laterites em pavimentos e fundaes Gana ..................................... 57

    3.6. CONCLUSES ................................................................................................................................ 58

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    ix

    4.CONCLUSES .................................................................................................................. 61

    4.1. OBJETIVOS ATINGIDOS E CONCLUSES GERAIS ......................................................................... 61

    4.2. TRABALHO FUTURO ...................................................................................................................... 62

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................... 63

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    x

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    xi

    NDICE DE FIGURAS

    Figura 2.1 Ciclo das Rochas e formao dos solos residuais ............................................................. 5

    Figura 2.2 Distribuio das zonas morfoclimticas .............................................................................. 6

    Figura 2.3 - Grau de alterao no perfil tpico de um solo residual ...................................................... 10

    Figura 2.4 Perfil tpico de um solo residual tropical ............................................................................ 11

    Figura 2.5 Distribuio geogrfica dos solos residuais tropicais ....................................................... 12

    Figura 2.6 Relao da classificao pedolgica com o grau de alterao do solo ........................... 13

    Figura 2.7. Perfil de solo tropical em clima hmido vs. clima alternadamente hmido e seco ......... 19

    Figura 2.8 Distribuio das diferentes formaes laterticas em frica em1983 ............................... 20

    Figura 2.9 Distribuio das laterites (ferricretes) em frica em 1991 ................................................ 21

    Figura 2.10 Evoluo das laterites de Kerala .................................................................................... 22

    Figura 2.11 Perfis laterticos de regies gnssicas em funo do relevo (Kerala) ............................ 22

    Figura 2.12 Frao argilosa das amostras de laterites em Kerala e Kanara Sul .............................. 23

    Figura 2.13 ndice de vazios in situ de laterites em Kerala e Kanara Sul .......................................... 24

    Figura 2.14 - Distribuio das laterites (ferricretes) no Brasil em 1991 ................................................ 25

    Figura 2.15 Perfil 1 (Solo residual tropical da Regio de Areia) ........................................................ 25

    Figura 2.16 Perfil 2 (Solo residual tropical da Regio de Joo Pessoa)............................................ 26

    Figura 2.17 Perfil 3 (Solo residual tropical da Regio de Sap) ........................................................ 26

    Figura 2.18 Exemplo de dois registos na base de dados. ................................................................. 32

    Figura 2.19 Exemplo da ligao para a tabela que contm os ttulos dos artigos. ........................... 33

    Figura 2.20 Tabela exemplo com os artigos e respetivos autores. ................................................... 33

    Figura 3.1 Pavimento flexvel ............................................................................................................ 36

    Figura 3.2 Pavimento semirrgido estrutura direta e estrutura inversa ........................................... 37

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    xii

    Figura 3.3 Pavimento rgido ............................................................................................................... 37

    Figura 3.4 baco para Classificao MCT ......................................................................................... 42

    Figura 3.5 Curva granulomtrica do solo estudado ............................................................................ 50

    Figura 3.6 Curva de compactao do solo estudado .......................................................................... 50

    Figura 3.7. Variao do Limite de Liquidez com a % de cal .............................................................. 52

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    xiii

    NDICE DE TABELAS

    Tabela 2.1 Zonas Morfoclimticas ........................................................................................................ 7

    Tabela 2.2 Fases de um solo residual tropical .................................................................................... 12

    Tabela 2.3 Ensaios realizados para classificao MCT ..................................................................... 15

    Tabela 2.4 Propriedades comuns das laterites .................................................................................. 19

    Tabela 2.5- Critrio de classificao granulomtrica ........................................................................... 27

    Tabela 2.6-Classificao fsico-qumica baseada na relao molecular

    ....................................... 28

    Tabela 3.1 Especificaes para colocao em obra de seixos laterticos para a camada de sub-base

    ............................................................................................................................................................... 38

    Tabela 3.2 Classes de trfego de acordo com o guia ...................................................................... 39

    Tabela 3.3 Caractersticas dos seixos laterticos adequados para classes de trfego T3 ............. 39

    Tabela 3.4 Especificaes para colocao em obra de seixos laterticos para a camada de base . 40

    Tabela 3.5 Caractersticas dos materiais possveis de tratar com cimento ou cal ........................... 40

    Tabela 3.6 - Valores admissveis para classes T1-T3 e trfego de eixo simples de 8 a 10 toneladas 41

    Tabela 3.7 Valores admissveis para classes T4-T5 e trfego de eixo de 13 toneladas .................. 41

    Tabela 3.8 Recomendaes para utilizao de seixos laterticos naturais ...................................... 41

    Tabela 3.9 Caractersticas dos solos laterticos adequados para base de pavimento. ..................... 43

    Tabela 3.10 Normas de utilizao de laterites africanas em pavimentos .......................................... 44

    Tabela 3.11 - Normas de utilizao de laterites africanas em pavimentos revestidos ......................... 44

    Tabela 3.12 Propriedades recomendadas para os SAFL ................................................................... 49

    Tabela 3.13 Caracterizao geotcnica pelos mtodos clssicos ..................................................... 49

    Tabela 3.14 Resultados dos testes preliminares ................................................................................ 51

    Tabela 3.15 Resultados dos ensaios de laboratrio .......................................................................... 54

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    xiv

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    xv

    SMBOLOS, ACRNIMOS E ABREVIATURAS

    # - peneiro n

    ngulo de atrito

    c coeso

    d OPT Peso especfico seco mximo

    Relao molecular slica-sesquixido

    Al Alumnio

    Al2O3 xido de Alumnio

    (Al2(Si2O5)(OH)4) Caulinite

    Ca Clcio

    CaCO3 Calcite

    Fe - Ferro

    Fe2O3 xido de Ferro

    K - Potssio

    Mg - Magnsio

    Na - Sdio

    (N1)60 valor corrigido do SPT

    R2O3 xidos Refratrios (Neutros, Viscosos e Retardadores de Cristais)

    SiO2 Dixido de Silcio ou Slica

    Ti - Titnio

    u unidade de massa atmica

    WOPT Teor em gua timo

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    xvi

    AASHTO - American Association of State Highway and Transportation Officials

    ACV Aggregate Crushing Value

    ASTM - American Society for Testing and Materials

    BS - (British Standards para Projetos de Pavimentao e Drenagem)

    CBR California Bearing Ratio

    CHT Crosshole Test

    CPT Cone Penetration Test

    DHT Downhole Test

    DNER - Departamento Nacional de Estradas de Rodagem

    DNER-ME - Departamento Nacional de Estradas de Rodagem - Mtodo de Ensaio

    DNIT - Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes

    IP ndice de Plasticidade

    LA Los Angeles

    LL Limite de Liquidez

    MCT - Miniatura Compactado Tropical

    MCV - Moisture Condition Value

    MDV Ensaio Micro-Deval

    MICP Microbial-Induced Calcite Precipitation

    OPM timo do Proctor Modificado

    PLT Plate Load Test

    PMT Pressuremeter Test

    RIS - Relao Mini-CBRis/Mini-CBRhm

    SAFL - Solos Arenosos Finos Laterticos

    SEM - Scanning Electron Microscope

    SPT Standard Penetration Test

    SR Seismic Refraction (Ensaio de Refrao Ssmica)

    UCS Unified Classification System

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    xvii

    USDA - United States Department of Agriculture

    VST Vane Shear Test

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    xviii

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    1

    1 INTRODUO

    1.1 MBITO E ENQUADRAMENTO

    Esta tese, no mbito do Mestrado Integrado em Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia da

    Universidade do Porto, opo de Geotecnia, surge da necessidade de compilar a informao existente

    acerca de laterites, j que esta se encontra muito dispersa tanto temporal como espacialmente.

    Este um tema que est a ganhar uma nova importncia nas empresas portuguesas pois a necessidade

    da sustentabilidade no processo de internacionalizao das mesmas impe o recurso a opes mais

    econmicas e sustentveis na construo civil e que, em simultneo, ofeream vantagens competitivas

    atravs da diferenciao nos mercados onde atuam.

    O clima tropical de regies como frica, ndia e Brasil leva formao em larga escala de solos do

    tipo laterticos, ausentes na Europa e em Portugal. Em resultado de estudos realizados durante o

    perodo de colonizao de alguns destes pases, conclui-se que este tipo de solos, pode ser melhorado

    do ponto de vista estrutural e, valorizado em detrimento da utilizao de materiais granulares

    produzidos propositadamente para a construo das bases e sub-bases das estradas, frequentemente

    localizados a grande distncia da zona da obra. Para alm da sustentabilidade ambiental proporcionada

    pela utilizao de materiais locais na construo de estradas, h ainda o reforo da competitividade

    pela utilizao e valorizao dos materiais existentes, utilizando-os em camadas mais nobres do

    pavimento, em substituio dos materiais granulares atrs referidos. No caso do continente Africano

    h ainda a dificuldade acrescida dos recursos se encontrarem a muitos quilmetros de distncia, sendo

    essencial recorrer aos recursos disponveis. Utilizando os materiais latertico disponveis para

    construo de estradas, inicia-se um processo de desenvolvimento econmico e social do pas.

    O facto de haver pouco conhecimento tcnico ou cientfico sobre o seu emprego na construo de

    estradas tem sido um constrangimento sua utilizao em maior escala pois, como em todos os

    materiais utilizados em engenharia civil necessrio conhecer bem o seu comportamento, de modo a

    assegurar a estabilidade e segurana da obra. Por essa razo, fundamental identificar, estudar e

    desenvolver metodologias construtivas que permitam adquirir conhecimentos no que se refere adio

    de ligantes hidrulicos, betuminosos ou produtos inicos aos materiais laterticos e que garantam um

    adequado comportamento estrutural das camadas granulares no ligadas, tendo em conta o trfego a

    que determinada estrada ir estar sujeita.

    As laterites so aplicadas em diversos tipos de construes, como em fundaes para barragens de

    terra e para pavimentos e, em especial, na constituio do pavimento, como camada de sub-base ou

    base, dependendo das caractersticas, do comportamento e da qualidade da laterite. Devido vasta

    utilizao das mesmas em estradas, foi desenvolvido um captulo dedicado ao tema.

  • Estado de Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    2

    Toda esta tese , portanto, uma reviso de literatura existente, com o contributo de uma base de dados

    criada e do tratamento dos inquritos realizados.

    1.2 OBJETIVOS

    O principal objetivo desta dissertao foi a compilao da informao existente acerca de solos

    residuais tropicais e laterites, como meio de aumentar o conhecimento relativo utilizao de solos

    laterticos em pavimentos rodovirios, colaborando desta forma para a melhoria do desempenho das

    empresas portuguesas nos pases africanos onde existem estes solos, como o caso de Angola,

    Moambique, Senegal, Nambia, Zmbia, etc., pois, como j foi referido, este tipo de solos no existe

    na Europa e os poucos estudos existentes referem-se ao perodo da colonizao.

    Para alcanar este objetivo foi necessria a realizao de uma pesquisa bibliogrfica alargada sobre as

    caractersticas intrnsecas dos solos laterticos e as suas propriedades geotcnicas, distribuio

    geogrfica, possibilidades de aplicao em pavimentos, materiais, tcnicas, procedimentos de melhoria

    e estabilizao, e os principais ensaios laboratoriais para avaliao das caractersticas qumicas, fsicas

    e mecnicas. Como resultado da pesquisa bibliogrfica, foi proposto o desenvolvimento de uma base

    de dados, que agregasse informaes acerca de todos os documentos consultados, de modo a facilitar a

    pesquisa de documentos sobre solos laterticos.

    Outro dos objetivos consistia em aprofundar a pesquisa na rea da aplicao em pavimentos, j que a

    principal rea de utilizao das laterites, pelo que foi desenvolvido um captulo acerca do tema.

    O ltimo dos objetivos pretendido era a recolha de informao sobre aplicaes recentes, atravs da

    experincia prtica de engenheiros portugueses, que ajudasse a comprovar alguns aspetos do

    comportamento (encontrados na literatura) deste tipo de solo. Para tal, foi estabelecido contacto com

    algumas empresas nacionais que utilizaram solos laterticos na construo de pavimentos rodovirios,

    em frica ou na Amrica do Sul, tendo em vista recolher resultados da caracterizao dos solos

    laterticos aplicados, bem como do comportamento dos pavimentos construdos.

    1.3 CONTEDO DA DISSERTAO

    De modo a contextualizar este tema, o segundo captulo (2. Solos Laterticos) iniciado com uma

    breve descrio dos solos residuais, sua origem, formao e outros aspetos importantes, para alm do

    principal fenmeno de alterao das rochas que o intemperismo. De seguida so descritas as

    laterites, ou seja, a sua definio, identificao e caracterizao. Tambm so descritas caractersticas

    de algumas laterites estudadas em frica, Brasil e ndia, visto estas serem as mais representativas por

    estarem registadas mais ocorrncias nestes pases, devido ao seu clima tropical.

    O captulo seguinte (3. Aplicao de solos laterticos em pavimentos) centra-se na utilizao das

    laterites em pavimentos, onde se pode encontrar alguns casos de estudo e ainda algumas

    recomendaes para a metodologia de ensaios. iniciado por uma breve explicao da constituio

    dos pavimentos, seguindo-se as especificaes mais adequadas aos solos laterticos.

    Por fim, encontra-se um captulo com as concluses da tese (4. Concluses).

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    3

    2 SOLOS LATERTICOS

    2.1 INTRODUO

    Neste captulo, define-se solos residuais, explica-se o processo de formao deste tipo de solos - o

    intemperismo - e distinguem-se sumariamente os tipos de intemperismo, descrevem-se os fatores

    condicionantes na formao dos solos residuais e as caractersticas gerais deste tipo de solo.

    Caracterizam-se os solos residuais tropicais e a sua distribuio geogrfica, assim como um tipo

    peculiar de solo residual tropical - as laterites - que o principal termo no qual se centra esta tese,

    sendo este termo definido, indicada a sua distribuio geogrfica, e referida a sua aplicao em

    engenharia civil.

    Comea por definir-se solo residual, explicar-se brevemente a sua formao, integrada no ciclo das

    rochas e distinguir-se os diferentes tipos de solos residuais: solo residual maduro ou eluvial, solos

    saprolticos ou solo de alterao, e solos laterticos.

    Quanto ao processo de formao, distinguem-se: intemperismo qumico; intemperismo fsico ou

    mecnico; e intemperismo biolgico. So ainda referidas as zonas morfoclimticas (Tropical hmido,

    Tropical Hmido-Seco, Tropical Semirido, Tropical rido, Hmido de Mdia-Latitude, Seco

    Continental, Periglacial, Glacial, Montanhas) e a influncia do clima nos diversos tipos de

    intemperismo.

    Na categoria Solos Residuais existem trs graus de alterao do solo: o Grau VI (solo residual), Grau

    V (completamente alterado) e Grau IV (muito alterado), e referida a relao entre o grau de alterao

    do solo e o seu comportamento em engenharia civil.

    Os fatores condicionantes na formao dos solos residuais so o clima, a rocha-me, o tempo, a

    topografia e a atividade biolgica, sendo o clima o mais importante, conferindo caractersticas nicas

    aos solos residuais. So estas a espessura, horizontalidade e composio.

    Quanto aos solos residuais tropicais, que so os solos encontrados nos trpicos, estes so distinguidos

    dos solos residuais normais porque nestas zonas o clima aumenta a intensidade do intemperismo e

    estes solos sofrem uma maior alterao. indicada a distribuio geogrfica destes solos, com

    distino das fases fersialtica, ferruginosa e ferraltica, seguindo-se a caracterizao fsica e mecnica

    deste tipo de solo.

    Os ensaios de caracterizao de solos residuais tropicais mais comuns so SPT, CPT, VST, PMT,

    CBR in situ e PLT, e na seco da caracterizao (2.2.3 Caracterizao fsica e mecnica) encontram-

    se aspetos importantes da metodologia de ensaios, assim como algumas recomendaes na recolha e

    preparao das amostras e dos ensaios in situ e em laboratrio.

  • Estado de Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    4

    Aps caracterizao dos solos residuais tropicais, inicia-se a definio e caracterizao das laterites,

    explicando-se o seu processo de formao a laterizao. As laterites so solos ricos em xidos de

    ferro e alumnio, xidos estes que lhes confere uma cor avermelhada. feita a distino entre laterite e

    solos laterticos.

    indicada a distribuio geogrfica das laterites, que ocorrem com maior frequncia em frica, ndia

    e Brasil, pelo que foram descritos alguns casos de estudo acerca das laterites encontradas e analisadas

    nestes pases, consideradas as mais representativas.

    As caracterizaes fsica, mineralgica e mecnica das laterites encontram-se tambm neste captulo,

    no qual se referem alguns dos aspetos mais importantes acerca da resistncia ao corte, dureza,

    compressibilidade, suco, expansibilidade, plasticidade, atividade, limites de consistncia e

    compactao.

    A maior dificuldade da utilizao das laterites em engenharia civil prende-se ao facto de este tipo de

    solo possuir presses neutras negativas. Algumas desvantagens e vantagens deste solo so apontadas e

    so mencionados alguns casos de rotura de solos laterticos.

    A penltima seco deste captulo descreve a base de dados de referncias bibliogrficas relacionadas

    com laterites que foi criada.

    Por fim, indicam-se as concluses relativas a este captulo.

    2.1.1 SOLOS RESIDUAIS: ASPETOS GERAIS

    Em engenharia Terzaghi e Peck, em 1967, definiram o solo como sendo qualquer material natural

    solto, no consolidado, facilmente desagregvel, enquanto que Johnson e De Graff, em 1988,

    consideraram ser qualquer mineral com pouca resistncia [1].

    Os solos residuais so aqueles que resultam da decomposio in situ das rochas que lhe so

    originrias..

    Esta a definio de solos residuais de Viana da Fonseca [2], referindo ainda que esta decomposio

    gradual, com a fragmentao ou alterao qumica da rocha-me, e que so solos que dependem de

    diversos fatores como o clima, materiais de origem, topografia.

    A origem dos solos residuais faz parte do ciclo das rochas, conforme a figura 2.1, onde a exposio

    dos trs tipos de rochas (sedimentar, metamrfica ou gnea) aos processos exognicos (processos

    externos) provoca o intemperismo, tambm conhecido como meteorizao, e a velocidade de

    decomposio da rocha superior velocidade de transporte de sedimentos. O processo de

    intemperismo explicado no ponto 2.1.2.

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    5

    Figura 2.1 Ciclo das Rochas e formao dos solos residuais

    A rocha-me (sedimentar, metamrfica ou gnea) transformada in situ pelos diversos fatores

    associados ao intemperismo, resultando assim o solo residual. Segundo Huat et al [1],Singh e Kataria

    afirmam que durante e aps a formao dos solos residuais h pouco ou nenhum transporte do mesmo.

    Os fatores que mais influncia tm na formao dos solos residuais so a composio qumica da

    rocha, os fatores ambientais e o tempo, sendo o clima o mais importante de todos, cuja influncia ser

    explicada no ponto 2.1.3 Fatores Condicionantes e Caractersticas Gerais.

    Existem diversos tipos de solos residuais: solo residual maduro ou eluvial, que o que est

    completamente exposto, tendo j perdido a estrutura original da rocha-me; solos saprolticos ou solo

    de alterao que um solo residual jovem e tropical; e solos laterticos, que so o principal foco deste

    trabalho.

    2.1.2 INTEMPERISMO - O PROCESSO DE FORMAO

    O intemperismo tambm conhecido como meteorizao, tal como foi referido no incio do captulo.

    Este processo envolve um conjunto de alteraes qumicas e fsicas das rochas, levando sua

    degradao, podendo resultar na perda ou ganho de novos elementos ou compostos da rocha e dos

    minerais.

    Existem diferentes tipos de intemperismo, uns mais dominantes que outros, dependendo da situao.

    Segundo as referncias [1] e [3], os trs tipos de intemperismo que ocorrem so:

    O intemperismo qumico - cujo principal reagente a gua e, como o nome indica, h

    alterao qumica, sendo a decomposio dos minerais primrios da rocha resultante de

    reaes qumicas como a dissoluo, oxidao, hidratao, hidrlise e/ou acidlise. Huat

    et al [1] referem que, segundo Brand e Philipson, os solos residuais resultantes do

  • Estado de Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    6

    intemperismo qumico no existem propriamente onde o clima temperado, mas sim

    onde, por um perodo de tempo, houve clima quente e hmido.

    O intemperismo fsico ou mecnico o que provoca a fragmentao das rochas, atravs

    da variao de temperatura e consequente dilatao ou contrao e enfraquecimento da

    estrutura mineral.

    O intemperismo biolgico o tipo de intemperismo que provoca a desintegrao das

    rochas atravs dos organismos biolgicos, que provocam a fracturao das rochas ou a

    produo de cidos que reagem com as rochas, aumentando os processos qumicos.

    Os dois primeiros tipos de intemperismo muitas vezes atuam em conjunto, j que o intemperismo

    fsico, ao desintegrar a rocha em vrios fragmentos, est a acelerar o intemperismo qumico.

    A distribuio das zonas morfoclimticas est indicada na Figura 2.2.

    Figura 2.2 Distribuio das zonas morfoclimticas

    (adaptado de [4])

    A tabela 2.1 descreve as caractersticas de diferentes zonas morfoclimticas e a respetiva importncia

    dos processos geomrficos. Como pode ver-se pela tabela, o intemperismo qumico tem

    predominncia de ocorrncia nas zonas tropical hmida, tropical hmida-seca e hmida de mdia-

    latitude.

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    7

    Tabela 2.1 Zonas Morfoclimticas (adaptado de [1])

    Zona

    Morfoclimtica

    Temperatura

    Mdia Anual

    (C)

    Precipitao

    Mdia Anual

    (mm)

    Importncia relativa dos processos

    geomrficos

    Tropical

    Hmido 20-30 >1500

    Potencial de elevadas taxas de

    intemperismo qumico; intemperismo

    mecnico limitado; ativo e episdico

    movimento do macio; taxas de corroso

    moderadas a baixas.

    Tropical

    Hmido-Seco 20-30 600-1500

    Intemperismo qumico ativo durante a

    estao hmida; taxas de intemperismo

    mecnico baixas a moderadas;

    movimento do macio bastante ativo;

    ao fluvial elevada durante a estao

    chuvosa; ao do vento normalmente

    mnima, mas localmente moderada na

    estao seca.

    Tropical

    Semirido 10-30 300-600

    Taxas de intemperismo qumico

    moderadas a baixas; intemperismo

    mecnico localmente ativo,

    especialmente nas margens mais secas

    e frias; movimento do macio localmente

    ativo mas espordico; taxas de ao

    fluvial altas mas episdicas; ao do

    vento moderada a elevada.

    Tropical rido 10-30 0-300

    Taxas de intemperismo mecnico

    elevadas (em especial intemperismo com

    solues salinas); intemperismo qumico

    mnimo; movimento do macio mnimo;

    taxas de atividade fluvial geralmente

    muito baixas mas esporadicamente altas;

    mxima ao do vento.

  • Estado de Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    8

    Hmido de

    Mdia-

    Latitude

    0-20 400-1800

    Taxas de intemperismo qumico

    moderadas, aumentando para taxas

    elevadas a latitudes baixas; atividade do

    intemperismo mecnico moderada, com

    congelamento a latitudes altas; atividade

    do movimento do macio moderada a

    elevada; tavas moderadas de processos

    fluviais; ao do vento confinada s

    zonas costeiras.

    Seco

    Continental 0-10 100-400

    Taxas de intemperismo qumico baixas a

    moderadas; intemperismo mecnico, em

    especial ao de congelamento,

    sazonalmente ativo; atividade do

    movimento do macio moderada e

    episdica; Processos fluviais ativos na

    estao hmida; ao do vento

    moderada localmente.

    Periglacial

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    9

    Como se ver na prxima seco, cada rocha tem uma certa resistncia aos intemperismos,

    dependendo da rocha-me da qual derivou, j que alguns minerais so mais instveis que outros,

    degradando-se mais rapidamente. Para alm disso, o grau de meteorizao depende tambm da

    temperatura e precipitao; da topografia; rea de superfcie exposta aos intemperismos; entre outros.

    Segundo Bell [3], Fookes et al afirmam exatamente isso, que o grau de meteorizao depende no s

    da ao dos agentes que a provocam, assim como da durabilidade da rocha de que deriva o solo.

    Acerca da influncia do clima chegam-se s concluses gerais de que em climas hmidos e quentes, a

    taxa de meteorizao maior, enquanto que em climas secos e frios, essa mesma taxa decresce[1].

    Na referncia [3] encontra-se uma tabela que relaciona o grau de meteorizao da rocha com o seu

    comportamento quando aplicada a engenharia civil. No anexo I encontra-se essa relao, apenas para

    os graus de meteorizao que interessam para este trabalho: Grau VI (solo residual - termo), V

    (completamente alterado) e IV (muito alterado), graus estes pertencentes categoria Solo Residual[1].

    2.1.3 FATORES CONDICIONANTES E CARACTERSTICAS GERAIS

    Os cinco fatores principais, segundo Huat et al [1] e Autret [5], responsveis pela formao do solo

    residual so:

    O Clima - sendo este fator o que determina a precipitao e a temperatura, que por sua

    vez regulam a formao do solo, o fator mais importante. Nos trpicos, a abundncia de

    chuva, que o principal reagente nos processos de meteorizao, e as altas temperaturas

    implicam o aumento de reaes qumicas, logo, uma maior meteorizao, enquanto que

    em climas mais frios e secos, a taxa de meteorizao menor. Como visto anteriormente,

    o clima varia nas diferentes zonas do globo, o que justifica os diferentes solos residuais

    que se encontram. No artigo[6], tambm afirmado que o clima tem uma grande

    influncia nas propriedades dos solos, em especial nos tropicais;

    A Rocha-Me - Como visto no ciclo das rochas na figura 2.1, o solo resulta da alterao

    e desintegrao dos diversos tipos de rochas que se encontram expostas aos

    intemperismos, sendo estas as chamadas rocha-me. Segundo Huat et al [1], Gerrard

    afirma que, inicialmente, a rocha-me influencia o tipo de solo, j que as rochas diferem

    na composio, textura ou falhas. Quanto mais suscetveis de alterao forem os minerais

    constituintes, maior ser a taxa de meteorizao;

    O Tempo - A espessura e alterao dos solos depende do tempo durante o qual os

    processos de formao do solo decorreram, da que este seja um fator muito importante.

    Por exemplo, nos trpicos, os solos mais antigos so geralmente mais espessos e

    alterados. Com o tempo, ocorrem as alteraes climticas, o que modifica os processos de

    meteorizao e eroso;

    A Topografia - Esta tem grande influncia na orientao dos solos, na drenagem e

    eroso. Por exemplo, a altitude afeta a humidade do solo; o declive afeta o escoamento

    das guas superficiais e a eroso; o azimute o componente da topografia que

    influenciar a humidade do solo, se este ser mais seco e quente;

    A Atividade Biolgica - A matria orgnica fornecida pelas plantas e animais conduz

    queda da vegetao morta e produo de cidos que reagem quimicamente com rochas

    alteradas, para alm de que uma densa vegetao protege a superfcie da eroso. Onde

    existem mais micro-organismos e plantas normal o solo formar-se mais rapidamente e

    ser mais espesso, para alm de que as razes das plantas permitem que a meteorizao

    qumica atinja profundidades maiores.

  • Estado de Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    10

    sabido que os solos residuais tm caractersticas nicas. So estas:

    Espessura - formam camadas significativamente espessas acima do bedrock, dependendo

    dos processos de formao e de eroso em cada local (Bergman & McKnight) [1];

    Horizontalidade - o processo de lixiviao d origem a visveis horizontes distintos;

    Composio inicialmente definida pelo tipo de rocha-me da qual deriva o solo

    residual. Com o tempo, a lixiviao e a alterao qumica dificultam o reconhecimento da

    rocha-me.

    A figura 2.3 mostra duas das caractersticas acima mencionadas, visveis no perfil tpico de um solo

    residual.

    Figura 2.3 - Grau de alterao no perfil tpico de um solo residual

    (adaptado de [7])

    Como foi visto anteriormente, os graus VI, V e IV so os que pertencem categoria Solos Residuais,

    pelo que na figura 2.3 se verifica a espessura significativa que pode ocorrer acima da rocha s. So

    tambm claramente visveis as camadas horizontais distintas tpicas dos solos residuais, devido

    lixiviao.

    2.2 SOLOS RESIDUAIS TROPICAIS

    2.2.1 PROCESSO DE FORMAO

    Aos solos formados nos trpicos deu-se a designao de solos residuais tropicais. Quanto

    composio mineralgica, so constitudos por minerais argilosos, minerais silicatados, xidos

    metlicos hidratados, quartzo e SiO2, cuja proporo depende da intensidade do intemperismo e do

    avano da degradao.

    Segundo Cook e Newill [8], os solos que se encontram em zonas tropicais sofrem uma maior

    meteorizao quando comparados com os solos que se encontram em zonas temperadas, o que exige

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    11

    um maior cuidado na identificao e caracterizao do solo, para que se possa proceder ao uso

    adequado do mesmo.

    Nestas zonas morfoclimticas (zonas tropicais), o intemperismo qumico tem mais influncia do que a

    desagregao mecnica[1], como se pode confirmar pela tabela 2.1. Nos trpicos h condies para

    uma intensa meteorizao (acelerada pelas altas temperaturas e pela presena de gua). Os solos

    residuais formados nestas reas apresentam normalmente uma camada bastante espessa.

    O perfil dos solos residuais tropicais consiste em camadas horizontais distintas mais ou menos

    paralelas superfcie e, simultaneamente apresenta um perfil vertical, que geralmente se encontra mais

    degradado quanto mais prximo da superfcie devido s intempries, como ilustrado na figura 2.4.

    Figura 2.4 Perfil tpico de um solo residual tropical

    (adaptado de [1])

    Com o passar do tempo, d-se a alterao qumica, pelo que os perfis so alterados, atravs do

    fenmeno de laterizao, o qual ser descrito no subcaptulo 2.3 que concerne s laterites.

    Dependendo se se trata de uma rocha gnea ou metamrfica, o perfil sobre a rocha s varia. Note-se

    que so estes os dois tipos de rochas tpicos em zonas tropicais. Os perfis das rochas gneas

    apresentam uns aglomerados arredondados e irregulares por no terem sido atingidos pelo

    intemperismo, enquanto que os perfis das rochas metamrficas apresentam normalmente diclases-

    relquia, descontinuidades e tambm aglomerados arredondados e irregulares[1].

    2.2.2 DISTRIBUIO GEOGRFICA

    Nas zonas tropicais hmidas encontram-se grandes extenses de solos residuais at grandes

    profundidades. Segundo Huat et al [1], em 1982 Duchaufour sugeriu uma classificao das fases dos

  • Estado de Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    12

    solos residuais, dependente do clima, a qual foi suportada por Fookes em 1997 e por White em 2006

    [1]. As fases so: 1 Solo Fersialtico, 2 Solo Ferruginoso e 3 Solo Ferraltico.

    Um solo fersialtico tem uma proporo varivel de xidos de ferro, uma pequena quantidade de

    minerais caulnicos, uma relao

    e pode apresentar horizontes mais ou menos duros e

    proporo varivel de concrees laterticas [9]. Um solo ferruginoso rico em xidos de ferro e

    principalmente constitudo por caulinite, enquanto que um solo ferraltico constitudo por xidos de

    ferro e alumnio e por minerais caulnicos, podendo o seu perfil apresentar concrees laterticas [9].

    A tabela 2.2 resume as trs fases dos solos residuais propostas de acordo com as condies climticas

    e, na figura 2.5, podemos ver a distribuio dos mesmos no globo.

    Tabela 2.2 Fases de um solo residual tropical

    (Traduzido de [1])

    Fase Zona

    climtica

    Temperatura

    Mdia Anual

    (C)

    Precipitao

    Anual (mm)

    poca de

    Clima Seco

    Tipo de

    Solo

    3 Tropical >25 >1,5 No Ferraltico

    2 Subtropical 20-25 1,0-1,5 Por vezes Ferruginoso

    1 Subtropical 13-20 0,5-1,0 Sim Fersialtico

    Figura 2.5 Distribuio geogrfica dos solos residuais tropicais

    (adaptado de [1])

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    13

    Em Handbook of Tropical Residual Soils Engineering [1] encontra-se a relao da classificao

    pedolgica de Duchaufour com o grau de alterao:

    Figura 2.6 Relao da classificao pedolgica com o grau de alterao do solo

    (adaptado de [1])

    2.2.3 CARACTERIZAO FSICA E MECNICA

    As propriedades dos solos residuais so difceis de testar em laboratrio, pelo facto de ser um solo

    difcil de amostragem, logo, as propriedades so normalmente determinadas in situ. Os ensaios de

    caracterizao de solos residuais tropicais mais comuns so os j conhecidos SPT, CPT, VST, PMT,

    CBR in situ e PLT, [8] que sero referenciados na seco 2.2.3.1 Metodologia de Ensaios, com

    algumas recomendaes. Refere-se que estes ensaios no so exclusivos para os solos residuais. Ainda

    segundo Cook e Newill [8], as amostras devem ser conservadas e estudadas no estado natural do solo,

    sem este ter sido remexido. A Metodologia MCT tambm muito til para identificar solos com

    comportamento latertico, seguindo-se uma breve descrio desta metodologia, no ponto b) dos

    Ensaios de Laboratrio.

    Metodologia de Ensaios 2.2.3.1

    Recolha e Preparao de Amostras

    J sabendo que os solos residuais so solos difceis de amostrar, h que ter um certo cuidado neste

    campo. Vrios autores criaram recomendaes neste sentido, pelo que as mais pertinentes sero de

    seguida descritas, havendo um consenso geral quanto ao cuidado a ter na amostragem e transporte.

    Segundo Huat et al [1], uma amostra de boa qualidade a que no foi perturbada pela perfurao,

    amostragem e corte, mas na qual houve libertao de tenses, sendo que na realidade no existem

    amostras no perturbadas, dependendo ento do grau de alterao do solo aps ter sido removido; da

    representatividade do local; do mtodo de amostragem; e do manuseamento da amostra.

    No caso dos solos residuais, muito importante conseguir amostras imperturbadas, pois os

    equipamentos mecnicos podem modificar a estrutura do solo, da ser necessrio utilizar equipamento

    mecnico adequado; para alm de que permite identificar, classificar o solo e realizar ensaios

    representativos. O amostrador Mazier permite obter amostras na sua condio in situ[1], sendo

    portanto uma boa opo.

    Os solos residuais tropicais so um caso mais complicado devido sua heterogeneidade e anisotropia

    [1], da ser importante definir bem o plano de amostragem para que este seja representativo do local

  • Estado de Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    14

    em estudo, como j foi antes referido ser importante. Para alm disso, j foi referido que a Mecnica

    dos Solos Clssica no completamente adequada para este tipo de solos, pelo que alguns testes

    podem no ser fiveis neste tipo de solo, sendo preciso fazer ajustes. ento necessrio que os testes

    sejam realizados por especialistas em amostragem e ensaios, e tambm ter sempre algum esprito

    crtico na anlise dos resultados, j que a frico durante o corte da amostra; a reduo da presso

    neutra quando as amostras emergem superfcie, a vibrao aquando do transporte e os erros na

    preparao e ensaios, podem perturbar as amostras.

    As amostras devem ser fechadas em recipientes de vidro ou plstico, sacos de plstico ou latas; e a

    estrutura do solo, ndice de vazios, interligao entre partculas e teor em gua, tendo muita influncia

    na resistncia ao corte, devem ser preservados, pois algumas das propriedades dos solos residuais

    tropicais so sensveis como, por exemplo, o ndice de vazios altamente varivel, que pode levar a

    resultados enganadores da resistncia ao corte e da permeabilidade. ainda importante secar o menos

    possvel as amostras, pois pode implicar a alterao da estrutura do solo e seu comportamento [1].

    Ensaios de Laboratrio

    a) Determinao de Propriedades

    Na determinao do teor em gua do solo, segundo Huat et al [1], Fookes sugeriu que se realizem

    testes comparativos em amostras duplicadas, medindo o teor em gua na secagem at que no haja

    perda de massa, pois alguns solos residuais tropicais podem conter gua cristalizada na sua estrutura

    mineral, que se liberta para temperaturas entre 105 e 110C, sendo um modo de identificar este tipo de

    gua que faz parte das partculas slidas j que este no deve ser contabilizado como teor em gua.

    Deve ser realizado o teste de retrao, para definir a capacidade de retrao ou expanso do solo, j

    que os solos residuais tropicais tendem a alterar consideravelmente o seu volume aquando da

    molhagem ou secagem, sendo importante, segundo Huat et al [1], distinguir os materiais que retraem

    de forma irreversvel dos que voltam a expandir quando em contacto com a gua. Estudos realizados

    por Mutaya e Huat concluram que um solo menos argiloso e com menos teor em gua tende a retrair

    menos [1].

    Ao determinar a densidade das partculas, deve ser conservado o teor em gua do solo e no deve ser

    realizado nenhum pr-tratamento, de modo a obter o valor correto.

    b) Metodologia MCT

    A Metodologia MCT, criada por Nogami e Villibor segundo o Manual de Pavimentao do DNIT[10],

    surge no mbito da classificao geotcnica de solos tropicais, permitindo identificar o

    comportamento latertico e til para os estudos dos solos em pavimentos e outras obras de terras.

    Mais tarde, Parsons introduziu o ensaio de compactao mini-MCV, que permite determinar a energia

    de compactao e teor de gua mais adequados [10].

    Os ensaios realizados para classificao MCT, a sua finalidade e os parmetros medidos encontram-se

    enumerados na tabela 2.3. O procedimento encontra-se no Manual de Pavimentao do DNIT [10], do

    qual foi adaptada a tabela do anexo II, relativa aos solos com comportamento latertico.

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    15

    Tabela 2.3 Ensaios realizados para classificao MCT

    (adaptado de [11])

    Ensaio/referncia Finalidade Parmetros

    Compactao miniatura

    (mini-Proctor) DNER-ME

    228/4

    Definir parmetros de

    compactao (teor em gua

    timo e peso especfico seco

    mximo)

    Wtimo (%) e dmx

    (kN/m3)

    Compactao mini-MCV* -

    DNER ME 258/94

    Definir ndices para

    classificao MCT ndices c, d e e

    Perda de massa por

    imerso* - DNER ME

    256/94

    Definir ndices para

    classificao MCT

    Perda de massa por

    imerso (Pi em %)

    Mini-CBR e expanso

    DNER 254/97

    Avaliar a capacidade de

    suporte e o potencial de

    expanso

    ndice mini-CBR (em

    %) e ndice RIS**

    (em %)

    Contrao por secagem ao

    ar Nogami &Villibor

    Avaliar o potencial de

    contrao por secagem

    Contrao por

    secagem (em %)

    Infiltrabilidade Avaliar a velocidade de

    ascenso capilar

    Coeficiente de

    soro (s em

    cm/min1/2

    )

    *Ensaios destinados para classificao MCT do solo

    ** O ndice RIS representa o inverso da perda percentual de capacidade de suporte (pelo

    mini-CBR) com a imerso

    c) CBR

    Em Handbook of Tropical Residual Soils Engineering [1], referido que Parker considera

    insuficientes 4 dias de embebio para terrenos laterticos, ento nos ensaios realizados e descritos

    nesta referncia, aumentou-se o tempo de embebio, mas mesmo aos 7 dias de embebio nenhuma

    amostra se apresentava fissurada, pelo que ainda no ser suficiente este tempo.

    d) Ensaios de resistncia ao corte

    Normalmente recorre-se a ensaios de corte direto (em caixa de corte) ou a ensaios triaxiais para

    determinar a resistncia ao corte do solo, sendo o primeiro prefervel pelo facto de ser possvel utilizar

    uma caixa circular, ideal para solos residuais tropicais que so sensveis, por evitar as perturbaes nos

    cantos da caixa, e tambm porque os ensaios triaxiais supem completa saturao, o que no comum

    nos solos residuais, pois estes apresentam-se em diversas condies, em especial na parcialmente

    saturada [1]. Apesar do ensaio de corte direto ser o mais utilizado, este tem as desvantagens de no ser

  • Estado de Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    16

    possvel controlar a drenagem nem determinar a presso neutra, e de s permitir determinar a tenso

    normal total.

    Segundo Huat et al [1], Blight sugeriu que as amostras sejam preparadas e colocadas na caixa de corte

    com as menores perturbaes possveis e sejam inundadas com gua. Depois, aplica-se a tenso

    normal e realizam-se leituras at que a amostra pare de expandir [1]. Quanto aos ensaios triaxiais em

    solos residuais tropicais, as amostras devem ter 75 mm de dimetro de modo a minimizar a

    perturbao das mesmas e assegurar a representatividade, sendo que no Brasil, Austrlia e outros

    stios, comum utilizar o dimetro 100 mm [1]. tambm recomendado nesta referncia que o

    dimetro no seja inferior a oito vezes o tamanho mximo das partculas, e que a relao do

    comprimento com o dimetro seja de 2:1.

    e) Ensaios de presso neutra e suco

    A suco matricial muito importante por ter muita influncia na estabilidade da estrutura, na

    condutividade hidrulica, na resistncia ao corte, rigidez e na variao de volume, existindo uma

    resistncia adicional nos solos no saturados devido suco [1]. A suco pode ser medida em

    laboratrio, pelo mtodo do papel filtro, ou in situ com tensimetros. Na seco 2.3.5 Caracterizao

    Mecnica, ponto c), est explicada a suco.

    Ensaios In Situ

    a) Furos de sondagem, SPT, CPTU, PMT, PLT e DMT

    Os furos de sondagem devem ser feitos com uma distncia pequena uns dos outros, de modo a

    confirmar o local dos depsitos e espessura [12].

    O SPT o ensaio mais utilizado, pela sua simplicidade e capacidade de explorar camadas mais rgidas

    e duras, quando combinado com a perfurao rotativa. Os solos laterticos geralmente apresentam um

    maior (N1)60[1].

    O CPTU tambm muito utilizado, pela vantagem de medir a presso neutra, mas em solos no

    saturados, esta medio tem pouca aplicao [1].

    Os resultados obtidos do PMT devem ser comparados com os resultados tericos, ou seja, com a curva

    de presso-expanso calculada, para que se possa assegurar que os parmetros esto corretamente

    medidos [1]. Esta referncia afirma ainda que este ensaio permite estimar o potencial de colapso de

    um solo residual, assim como o PLT in situ.

    O PLT, apesar de ser um ensaio comum, tem a desvantagem de nos solos cimentados a sua modelao

    no ser fcil, o que exige uma anlise numrica sofisticada. Estes solos apresentam ainda um

    mecanismo distinto, que no pode ser avaliado pelos mtodos clssicos [1].

    Quanto ao DMT, no se sabe ao certo como a estrutura cimentcia dos materiais coesivos interfere nos

    parmetros medidos [1].

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    17

    b) Ensaios ssmicos

    Os ensaios ssmicos permitem identificar a espessura do estrato, a profundidade at ao bedrock,

    identificar cavidades, e identificar propriedades dos estratos e sua variao espacial, entre outras. Os

    ensaios ssmicos mais utilizados so o CHT, DHT e SR.

    c) Caracterizao das propriedades mecnicas

    Os solos residuais tropicais so solos coesivos, pelo que se tende a ignorar a componente c,

    correlacionando-se ento os parmetros in situ com . Os ensaios PMT e PLT so os mais

    consistentes para determinar as propriedades mecnicas dos solos coesivos [1].

    d) Compressibilidade e permeabilidade

    Para determinar a compressibilidade de solos residuais tropicais, so mais comuns os ensaios SPT,

    PMT e PLT [1].

    A permeabilidade dos solos residuais depende do tamanho das partculas, do ndice de vazios, da

    mineralogia e do grau de fissurao e caractersticas das fissuras, e pode ser determinada in situ, sendo

    importante que o furo usado para o teste esteja limpo, para que o resultado seja preciso [1].

    necessrio ter em conta a influncia da suco matricial na permeabilidade.

    e) Ensaio para solos no saturados

    Como j foi referido, os solos tropicais residuais podem estar parcialmente saturados, pelo que se deve

    ter este aspeto em conta na interpretao dos resultados dos ensaios. Para solos nesta condio,

    muito importante definir a curva caracterstica de gua no solo, visto que esta fornece informao

    relevante como o comportamento mecnico e hidrulico do solo nestas condies [1].

    At hoje, foram propostos alguns modelos de anlise de solos no saturados, dependentes da presso

    mdia efetiva, tenso de desvio, suco e volume especfico, sendo portanto necessrio medir a suco

    matricial in situ[1]. No captulo 4 de Handbook of Tropical Residual Soils Engineering [1] encontra-se

    descrito o comportamento do solo nesta condio no saturada.

    2.3 LATERITES

    2.3.1 DEFINIO DE LATERITE

    A primeira referncia ao termo laterite, segundo Amu et al [12], e Bell [3], surgiu na ndia, em 1807,

    quando Buchanan observou que este solo, quando exposto ao sol, secava e ficava muito duro, podendo

    ser usado como blocos para construo. Da ter derivado do termo later, que em latim significa

    tijolo. Contudo, em Latrite et Graveleux Latritique de 1983 [5], Autret chama a ateno para o

    facto de esta definio de Buchanan ter apenas significado histrico, j que as laterites conhecidas

    atualmente nem permitem fazer tijolos para construo.

  • Estado de Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    18

    J em 1959, a definio de laterite proposta em As Laterites do Ultramar Portugus [13] a seguinte:

    "Material de estrutura vacuolar, muitas vezes matizado, com cores variando do amarelo ao vermelho

    mais ou menos escuro e mesmo negro, constitudo por uma crosta mais ou menos contnua de

    espessura e dureza variveis, tendo muitas vezes o aspeto duma escria, ou ainda contendo

    concrees isoladas, oolticas e pisolticas de maior ou menor resistncia e misturadas a uma parte

    argilosa."

    Em 1975, Larousse [5] definiu laterite como:

    Solo vermelho vivo ou vermelho acastanhado, rico em xido de ferro e alumnio, formado em clima

    quente. Os solos laterticos so altamente lixiviados, ricos em ferro (minerais da Guin) e contm

    alumina livre. Na zona florestal equatorial hmida, so laterites argilosas. A norte e a sul, na estao

    seca, observa-se a formao de carapaas laterticas, rochas muito duras, expostas na superfcie nas

    zonas mais ridas e completamente infrteis.

    As laterites devem ser distinguidas dos solos laterticos, uma vez que estes ltimos apresentam uma

    menor concentrao de xidos, refere-se no artigo [12], entre outros que fazem a mesma distino. Na

    Classificao de USDA (Departamento de Agricultura dos Estado Unidos), o termo laterite

    substitudo por plintita e o termo solos laterticos tambm substitudo por oxissolos [14].

    Os solos laterticos so caracterizados pela presena de xidos e hidrxidos de ferro e alumnio,

    resultantes da laterizao, explicada aps a definio de solo latertico. As laterites tm tipicamente

    uma cor avermelhada, podendo ser mais amarelado ou acastanhado, dependendo da quantidade de

    xidos ou hidrxidos de ferro presentes.

    Em As Laterites do Ultramar Portugus[13], de 1959, define-se solo latertico como:

    "Solo cuja frao argilosa tem uma relao molecular

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    19

    dependem das condies climticas, j que os solos em zonas cujo clima alterna entre poca hmida e

    seca apresentam um perfil diferente dos que se encontram em zona sempre hmida, como se mostra na

    figura 2.7.

    Figura 2.7. Perfil de solo tropical em clima hmido vs. clima alternadamente hmido e seco

    (adaptado de [1])

    2.3.2 DISTRIBUIO GEOGRFICA

    As laterites surgem principalmente em Guin, Angola, Moambique e ndia, no Ultramar Portugus.

    Esto tambm registadas muitas ocorrncias no Brasil e Austrlia.

    Os diversos tipos de laterites apresentam algumas propriedades em comum, as quais esto

    apresentadas na tabela 2.4.

    Tabela 2.4 Propriedades comuns das laterites (traduzido de [3])

    Teor de gua(%) 10-49

    Limite de Liquidez (%) 33-90

    Limite de Plasticidade (%) 13-31

    Fraco Argilosa 15-45

    Peso volmico seco (kN/m3) 15,2-17,3

    Coeso, cu (kPa) 466-782

    ngulo Interno de Atrito, u () 28-35

    Resistncia Compresso no confinada (kPa) 220-825

    ndice de Compressibilidade 0,0186

    Coeficiente de Consolidao (m2/ano) 262

    Mdulo de Young (kPa) 5,63 x 104

  • Estado de Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    20

    Laterites de frica 2.3.2.1

    As ocorrncias de Moambique surgem principalmente nas baixas litorais de Inhambane e nos

    planaltos de Vila Pery e Nampula. Em Angola, surgem principalmente nos planaltos de Nova Lisboa,

    S da Bandeira e Gabela.

    Em Laterita e Solos Laterticos do Brasil [16] feita referncia a estudos de laterites africanas, que

    puseram em causa a antiguidade, devido observao de possvel destruio de uma couraa pelo topo

    e reconstituio pela base, e tambm observao de ndulos milimtricos das couraas que se

    desprendem e contribuem para a formao de concrees laterticas.

    Em Latrite et Graveleux Latritique [5] encontra-se a distribuio das diferentes formaes laterticas

    em frica (figura 2.8), em 1983. J o artigo Mineralogical composition and geographical

    distribution of African and Brazilian periatlantic laterites. The influence of continental drift and

    tropical paleoclimates during the past 150 million years and implications for India and Australia

    [17], um artigo onde pode encontrar-se caractersticas de laterites africanas (ferricretes) e sua

    distribuio em 1991 (figura 2.9). Este artigo refere ainda que as laterites africanas diferem das

    brasileiras devido evoluo paleoclimtica (variao do clima ao longo da evoluo da Terra), como

    se pode confirmar na distribuio de 1983 para a de 1991 (figura 2.9), em frica.

    Figura 2.8 Distribuio das diferentes formaes laterticas em frica em1983 [5]

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    21

    Figura 2.9 Distribuio das laterites (ferricretes) em frica em 1991 [18]

    Um estudo realizado a bolsas laterticas da Baixa de Jangamo (Moambique) [19], umas mais

    laterizadas que outras, mostrou que as guas encontradas nessas bolsas apresentavam um pH entre 6,0

    e 6,6, e que o transporte para o laboratrio provocou a precipitao do xido de ferro. As anlises

    qumicas indicaram um alto grau de hidratao dos xidos, e as anlises granulomtricas mostraram

    que nas bolsas mais laterizadas a percentagem de finos maior, devido aderncia dos xidos de ferro

    ao quartzo, e que a percentagem de elementos menores que 2 de 35% a 40%. A identificao dos

    minerais permitiu concluir que a origem uma rocha metamrfica argilosa e o corte mostrou manchas

    ferruginosas que aumentavam em quantidade e tamanho com a profundidade, tendo sido identificados

    gros de quartzo e hematite.

    Outro estudo de terrenos laterticos de Nampula e Antnio Enes (Moambique) [20], mostraram que

    algumas caractersticas eram distintas nestes dois locais. Os terrenos de Nampula apresentavam

    poucas concrees, e eram constitudos por caulinite, gibsite, hematite e goethite, enquanto que os

    terrenos de Antnio Enes continham maiores quantidades de xidos de ferro e menor quantidade de

    caulinite, e continham tambm gibsite e concrees mais duras, mas em ambos os locais a quantidade

    de matria orgnica era pouca.

    Laterites da ndia 2.3.2.2

    Na ndia, as laterites esto bastante espalhadas e contm principalmente gibsite e alguma ou nenhuma

    boethite [18].

    Em Lateritas [21] representada a evoluo das laterites de Kerala (figura 2.10) e tambm perfis

    laterticos dessa regio (figura 2.11), e ainda referido um estudo de perfis laterticos sobre basaltos,

    tambm na ndia, nos quais se constatou uma intensa lixiviao do clcio, lcalis e de parte da slica

    que se encontrava acima do nvel de gua, o que levou formao de gibsite, enquanto que abaixo do

    nvel da gua, devido m drenagem, formou-se caulinita.

  • Estado de Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    22

    Figura 2.10 Evoluo das laterites de Kerala [21]

    Figura 2.11 Perfis laterticos de regies gnssicas em funo do relevo (Kerala) [21]

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    23

    As laterites estudadas na ndia [1], em Calicut (Kerala) e Rajahmundry (Andhra Pradesh), eram

    constitudas por haloisite, caulinite, goethite, gibsite, e minerais de quartzo; apresentavam um pH de

    6,1 a 6,9, ou seja, cido; 7 a 10% de matria orgnica, apesar de em Kerala central o contedo em

    matria orgnica ser bastante inferior (de 0 a 1,3%); valores elevados de capacidade de permuta

    catinica, devido presena da haloisite mas, assim como ocorre com a matria orgnica, a

    capacidade de permuta catinica bastante inferior nas laterites de Kerala central.

    Quanto ao rcio

    , as laterites de Kerala apresentam

    muito pequeno (0,1 a 0,54); 0,71 nas

    laterites de Andhra Pradesh; 0,18 nas laterites de Assam; 0,12 nas laterites de Maharastra; e 1,12 nas

    laterites de Madhya Pradesh, ou seja, pela classificao fisco-qumica do ponto 2.3.4, pode concluir-

    se que so todas classificadas como solo de laterite(

  • Estado de Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    24

    Figura 2.13 ndice de vazios in situ de laterites em Kerala e Kanara Sul

    (adaptado de [1])

    Registaram-se ainda outros aspetos em grficos do tipo dos anteriores (consultar Handbook of

    Tropical Residual Soils Engineering [1]), como os valores do mximo peso especfico seco e teor

    timo em gua resultantes do Proctor, que variam entre 1,48 e 2 Mg/m3 e entre 14 e 23%,

    respetivamente, para a maioria das amostras; resistncias compresso entre 10 e 42 MPa; 10 a 81%

    de perda de resistncia na molhagem; ngulos de atrito entre 25 e 35; valores de coeso entre 4 e 10

    kPa. Quanto ao SPT, foram registados 50 batimentos, pelo que se classificou a laterite como dura; no

    se encontrou o nvel de gua a 1,5 m.

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    25

    Laterites do Brasil 2.3.2.3

    O artigo [19] mostra a distribuio das laterites no Brasil (figura 2.14).

    Figura 2.14 - Distribuio das laterites (ferricretes) no Brasil em 1991 [18]

    No Estado de So Paulo, mais precisamente em Ribeiro Preto, foram encontradas laterites, as quais

    foram classificadas como latossolo vermelho distrofrrico, enquanto que em Barra Bonita foram

    relatados litossolos que formam uma crosta de aspeto ferruginoso, vermelha-amarelada [22].

    A tese de mestrado [23] caracteriza trs locais de solos residuais tropicais no Estado da Paraba, cujos

    perfis esto representados nas figuras seguintes.

    Figura 2.15 Perfil 1 (Solo residual tropical da Regio de Areia)

    (adaptado de [23])

  • Estado de Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    26

    Figura 2.16 Perfil 2 (Solo residual tropical da Regio de Joo Pessoa)

    (adaptado de [23])

    Figura 2.17 Perfil 3 (Solo residual tropical da Regio de Sap)

    (adaptado de [23])

    O solo de Areia um solo residual tpico, apresentando gibsite e goethite e partculas de quartzo e

    mica muscovita junto do quartzo; o solo de Joo Pessoa constitudo por caulinita, gibsite, goethita e

    uma maior quantidade de quartzo, mostrando uma lixiviao maior; as amostras de Sap revelaram a

    presena de hematite cimentada, gibsite e caulinite. O solo de Joo Pessoa continha mais argila e

    melhor graduao, o que leva a uma maior suco.

    Os ensaios concluram que os solos apresentavam uma composio qumica tpica de solos laterticos,

    e que no continham argila natural, devido aos sesquixidos de ferro unirem os constituintes argilosos

    [23]. O ensaio de Proctor revelou que teor timo em gua era de 17,9 %, 20,4% e 18,9%, para as

    amostras de Areia, Joo Pessoa e Sap, respetivamente, com pesos especficos mximos secos de 16,9,

    16,8 e 17,0 kN/m3.

    Os pH variaram de 4,7 a 5,3, sendo portanto cidos, como tpico dos solos laterticos e a matria

    orgnica est presente em pequena quantidade, assim como os solos estudados na ndia. A autora da

    tese, Martinez [23], concluiu ainda que a compressibilidade diminui com o aumento da suco.

    Aconselha-se a consulta da tese [23] para informao mais exaustiva acerca do estudo destes solos.

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    27

    2.3.3 CARACTERIZAO FSICA

    Em 1959, de acordo com o documento As Laterites do Ultramar Portugus[13], vrias eram as

    classificaes para os solos laterticos propostas at data. Alguns autores baseavam-se no grau de

    avano do processo de laterizao; outros no processo de formao ou condies de ocorrncia; nas

    quantidades de hidrxidos de ferro e alumnio; ou ainda, na relao molecular

    ou

    da frao

    argilosa. Ainda segundo As Laterites do Ultramar Portugus [13], a classificao litolgica baseada

    na cor, dimenso das partculas, grau de concreo e dureza das partculas, era a classificao mais

    importante em geotecnia. No entanto, com o evoluir dos estudos, chegou-se concluso de que estes

    caracteres macroscpicos no eram suficientes para classificar os materiais laterticos. Assim,

    introduziram-se novos parmetros como a expansibilidade e a petrificao para uma melhor

    caracterizao destes materiais.

    Na tabela 2.5 apresenta-se o critrio granulomtrico para classificao proposto em As Laterites do

    Ultramar Portugus [13]. Normalmente, as laterites apresentam uma curva granulomtrica muito bem

    graduada, contendo desde argila a cascalho, ou at partculas maiores [3].

    Tabela 2.5- Critrio de classificao granulomtrica [13]

    Argilas laterticas < 0,002 mm

    Siltes laterticos > 0,002 mm; < 0,06 mm

    Areias laterticas > 0,06 mm; < 2 mm

    Seixos laterticos >2 mm; 60 mm

    2.3.4 CLASSIFICAO MINERALGICA E FSICO-QUMICA

    Uma das condies mineralgicas dos solos laterticos a cimentao, que diminui o volume de

    vazios, preenchendo as fraturas provocadas pelo intemperismo, conferindo estabilidade aos

    microagregados [23]. A cimentao pode resultar da cimentao dos gros devido ao que sobra da

    rocha-me e contribui para a coeso [10], influenciando a compactao, a suco e aumenta o ngulo

    de atrito.

    Os solos laterticos tendem a ser cidos devido concentrao dos sesquixidos de ferro e alumnio,

    como se confirmou na descrio das laterites africanas, brasileiras e indianas da seco 2.3.2

    Distribuio Geogrfica. O seu pH varia entre 5 a 7,7 segundo As Laterites do Ultramar Portugus

    [13]. J segundo Martinez [23], Queiroz e Carvalho afirmaram que o pH varia de 4,6 a 6,6. Em

    Lateritas [24] pode encontrar-se mais informao acerca da influncia do pH.

    Em 1959, um dos critrios mais conhecidos para classificao fsico-qumica era o de Martin e Doyne,

    que se baseava na relao molecular

    da frao argilosa, mas outros autores preferiram a relao

    molecular

    , a qual considerada a mais apropriada em As Laterites do Ultramar Portugus [13].

    Esta ltima referncia, e tambm Latrite et Graveleux Latritique [5], classificam o tipo de solo

    como:

  • Estado de Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    28

    Tabela 2.6-Classificao fsico-qumica baseada na relao molecular

    [13]

    Tipo Relao

    Solo de laterite 1,33; 2,00

    Em As Laterites do Ultramar Portugus [13] salientado que esta relao apenas complementar, no

    podendo ser admitida como conclusiva.

    Outros autores recomendam ainda uma caracterizao baseada nos processos pedognicos [5].

    2.3.5 CARACTERIZAO MECNICA

    Como j foi referido, o clima muito importante, tendo um papel decisivo na saturao do solo. Por

    evaporao pela superfcie ou por evapotranspirao de uma camada de vegetao, a gua removida

    do solo. Por outro lado, a chuva provoca a saturao do solo. Ao ser influenciada a distribuio da

    presso neutra, resulta uma diminuio ou aumento de volume do solo. A alterao da presso neutra

    negativa devido a chuvas intensas a causa de muitos deslizamentos e aumentos da presso neutra

    esto tambm associados a redues da capacidade de carga e do mdulo de elasticidade. Percebemos

    ento que as presses neutras negativas desempenham um papel fundamental no comportamento

    mecnico dos solos no saturados.

    Os solos residuais esto normalmente situados acima do lenol fretico, da que no seja comum

    estarem saturados e, portanto, tm presses neutras negativas. Certos solos, ao serem molhados, tm

    tendncia a aumentar muito o volume ou a expandir, devido ao aumento da presso neutra, que tende

    para valores positivos, ou tendem ainda a uma perda significativa da resistncia ao corte. O volume do

    solo, as propriedades hidrulicas e a resistncia ao corte variam face s variaes climticas como, por

    exemplo, a evaporao, infiltrao e transpirao, que influenciam o volume de gua e as presses

    neutras negativas.

    Seguem-se alguns aspetos do comportamento mecnico, relativos a caractersticas no s intrnsecas

    do material, como a resistncia e dureza, mas tambm a caractersticas extrnsecas, como a

    compactao.

    a) Resistncia ao Corte e Dureza

    Os ensaios mais utilizados para avaliar a resistncia ao corte so os ensaios triaxiais, CPT e SPT,

    ensaios de corte direto e ensaios de carga. Segundo Martinez [23],Leroueil e Vaughan afirmam que a

    resistncia ao corte dos solos depende do arranjo das partculas e da cimentao natural do mesmo

    [23]. Sugere-se a leitura do captulo 6 de Handbook of Tropical Residual Soils Engineering [1], acerca

    do modelo de resistncia ao corte em solos residuais tropicais.

    Quanto dureza, as partculas concrecionadas so classificadas como concrees brandas e concrees

    duras [13]. As primeiras desfazem-se por presso entre os dedos, e nas segundas isso j no se

    verifica. O endurecimento das laterites, quando expostas ao ar, pode ser devida a uma alterao na

    hidratao dos xidos presentes, explica Bell (1993) em Engineering Geology[3].

  • Estado da Arte sobre a Utilizao de Solos Laterticos em Pavimentos Rodovirios

    29

    b) Compressibilidade

    A compressibilidade a capacidade de um solos se deformar, com diminuio de volume, se

    submetido a uma fora de compresso.

    A compressibilidade, assim como a resistncia ao corte, depende do arranjo das partculas e da

    cimentao natural do solo e a cimentao tpica dos solos laterticos tende a restringir a

    compressibilidade [23]. Ainda segundo esta fonte, para avaliar a compressibilidade realizam-se

    ensaios edomtricos com controlo de suco.

    c) Suco

    Quando o solo se encontra no saturado, as presses da gua do mesmo so iguais ou inferiores

    presso atmosfrica, sendo essa presso designada de suco, que se divide na suco matricial e na

    suco osmtica.

    A suco depende da gran