ENIGMA - Crônicas e Poesias de Um Poeta Morto
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ENIGMA
Crônicas e poesias de um poeta morto.
12/04/2012
JUNIOR CESAR SANTIAGO
1
ANJO MEU
Quero oh! Anjo, repousar em teus braços
Pois me sinto cansado de viver sem você
Quero, oh! Anjo me aquecer em teu corpo
Pois é fria é à noite em que não posso te ver
Tão fria, e só e amarga e sem fim.
Que acordo em delírio, buscando-te aqui.
E só a encontrando no vazio dentro de mim
Visita-me oh! Anjo, na calada da noite.
Deixa tua imagem no escuro eu ver
Proteja-me do medo, do frio, da solidão.
Deixa ouvir teu sorriso de criança
Tua voz mansa e suave meu nome chamar
Quero tua mão a tocar meu corpo
Acordando-me do sono me fazendo enxergar
Que o fruto de todos os sonhos
Já em verdade, me veio visitar.
E então, dorme comigo.
2
Deixa-me cercar-te em meus braços
Repousa teu rosto, se desfaz do cansaço.
E deixa que dessa vez seja eu que te guarde
Que te cerque e proteja,
E que amanheça e enfim eu acorde
Podendo voltar a dormir com você do meu lado.
3
A NOITE!
Quando a noite cair
E um frio imenso tocar teu corpo
Fecha os teus olhos e me chama
Que onde estiver te escutarei
Abre a tua janela, deixe o vento entrar
Que de carona vou com ele
Guiado pelas estrelas, preparado pra te amar
Deita na cama...ainda sentes frio...
Olhas com esperança a janela aberta
Porém demoro e você chora
Teus olhos fechados não podem me ver entrar.
Chego de mansinho à beira da tua cama
E beijo teu rosto, bem calmo..
Abre os olhos...ansiosa,
Teu corpo de repente se aquece,
Mas não me vês...voltas a dormir...se irrita
Fecha a janela e abraça o travesseiro
Ele é teu único companheiro...ele e a saudade,
4
Mas eu estou ali...sento ao teu lado na cama
Acaricio tua pele, tua acordas e me vê
Eu sorrio e te abraço
Te aperto bem forte em meu peito e te sentes segura...
De leve te beijo decorando o sabor do teu lábio.
Te olho nos olhos(como tudo é mágico!!)
Teu corpo se arrepia, eu a beijo de novo
Digo-te frases de amor bem junto ao teu ouvido
Tremes, te sinto frágil
Te abraço em meu peito e já não tremes mais...estas consumida...
Teu coração em chamas pelo desejo
Nos seus olhos vejo um querer intenso
Toco teu lábio e me lembro do céu
Tu te achegas e sinto meu sangue ferver
De leve vejo-te desabotoar a tua blusa
Me olhando nos olhos...me beijando com força
Eu a interrompo no terceiro botão
Tu sorris e me beija de novo
Conduzes minhas mãos em teu corpo
E eu seduzido, como um bobo começo a tremer
Desabotoo tua blusa...um calor me envolve
5
Abres minha camisa e me toca
Sente o quanto meu peito se aquece
Inflamado por teu amor
A noite vai caindo e é hora de ir
Faço menção de ir embora, mas não me deixas fugir
Eu sorrio e te beijo te conduzindo pra cama
Te pego em meus braços e a ponho no leito ficando ali...
...por cima de ti...a olhar-te nos olhos
Teus cabelos por sobre teus olhos te dão um ar de menina
Um pouco de anjo
Eu me afasto e te digo adeus sorrindo
Mas não queres que eu vá e me abraças bem forte
Pergunto com os olhos se tem certeza do que queres
E tu docemente me respondes num beijo
Penso em sair mas és menina travessa
E me virando na cama sobes por cima de mim
Eu sorrio, mas a brincadeira fica séria
Teus cabelos brincam no meu rosto e teu olhar me atrai
Beijo tua boca com vontade
Demonstro todo amor que há em mim
E deixo o corpo me guiar
6
O teto parece sumir quando nos amamos
Um céu cheio de estrelas ...uma fina chuva cai sobre nós
Tudo parece sumir, o mundo acaba e nós nos amamos
A lua se esconde, o Sol começa a nascer
Mas as nuvens nublam-se e se juntam pra escurecer o dia
Querem prolongar nossa noite
São cúmplices de dois amantes Que descobriram o quanto se aprende
Quando se dispõem a amar.
7
VIVIANE
Vivo pensando em você
Imaginando motivos para...
Vê-la, tocá-la, beijá-la tão...tão..
Intensamente, a ponto de sentires, o...
Amor que há dentro de mim, esse amor que
Nega-se a si mesmo, na...
Esperança de ser aceito por ti.
8
GISLAINE
GRITO POR TI, AMOR, NÃO ADIANTA EU...
INVENTAR MANEIRAS DE TE ESQUECER
SEMPRE SENTIREI VOCÊ EM MIM
LATEJANDO UMA PAIXÃO ETERNA...E UM...
AMOR SEM LIMITES, ALÉM DA...
IMAGINAÇÃO DE QUALQUER POETA,
NEGO, RENEGO A TUDO POR TI, SOU TEU.
ENTENDA!SOU TEU.
9
A PARTIDA
Vai-te! Voa, parte daqui
Vai-te abrindo as asas
Ganha os horizontes
E te afastes de mim
Deixas-me na angústia perder-me
Deixa-me insano definhar
Abra tuas asas e voa
Ficarei aqui, preso em algum lugar
Aos poucos o brilho se acabará
E o encanto trocar-se-á pela negridão
Pelo frio intenso de uma solidão profunda
Aos poucos o Sol se apagará em mim
E meus olhos já não mais contemplarão o firmamento
Nem mais me extasiarei diante da nossa estrela
Que, apagada já caiu dos céus.
Vai, vai-te logo! Antes que me ouça gritar
Antes que te envergonhe com meu choro
E a manche com meu pranto
10
Vai-te! Parte! meu coração se tornará cruel
Já murcharam-se as rosas
Já se foram meus jardins
Já se apagaram os meus olhos
Já se acabou tudo,... enfim...
Ah! Deixa-me agora
Sozinho a afundar-me nesse abismo
E vai! Suma daqui
Voa e ganha os ares
Pois quando eras minha, tu parecias feliz
Mas se é teu destino: A liberdade...
Vai-te, que encarcerado, morrerei aqui...
11
ADORÁVEL ILUSÃO
Quando anoitecer
E eu sentir falta de um sorriso
Ter-te-ei aqui...no coração
Quando faltar-me a luz
Terei teu olhar a iluminar-me a noite
Quando sentir frio, tua presença aquecerá meu corpo
E se tudo passar, ainda restará no quarto
O teu cheiro a espalhar-se
E se ainda mesmo assim eu chorar
Será de Saudades, ansiando tua volta
Quando amanhecer
E o Sol vir brincar na minha janela
Fecharei as cortinas e lembrarei que o teu rosto
Traz mais luz ao meu dia, e se acaso duvidar
E por um segundo te esquecer
Voltarei ,minha adorável ilusão, pra minha cama
Pra então dormir
Voltando a Sonhar contigo
12
ANJO
Um dia, quando voltares.
Receber-te-ei com flores
Da tenra primavera
E com o fogo imenso
De uma paixão forjada
Numa noite quente de verão
Te esperarei com os lábios molhados
Levemente adocicados
Pelo mais puro mel do amor
Assim, abrirei os braços
E amparar-te-ei no meu peito
Aquecendo-te no meu corpo
Deixando que o desejo de ter-te
flua pra ti através de mim
Ergo teu rosto olhando-te nos olhos
Tua boca se abre a rogar-me um beijo
Eu de leve puxo teu lábio no toque dos meus
13
Um arco-íris se forma no céu
Pássaros cantam enquanto te beijo
As nuvens abaixam-se
pra poder nos ver melhor
Eu a levo pelos ares
Revelando-te meu segredo
Sou anjo que ao querer-te
Aprendeu a amar na Terra
E a ter nela um pedaço do céu.
14
ANTÍTESE
Eu sou mais que eu, sou vários.
Sou inteiro e pedaço de mim mesmo
Partes repartidas de um todo
Um nada, tudo, mais um pouco
Antítese deste verso
Esse sou eu.
Sou um poeta que não amou
E mesmo assim vários corações deixou.
No pranto de uma partida
Esse que de tanto amar, odeia
E que de tanto querer, se ira
Esse sou eu, um simples alguém
Chora por qualquer coisa
Esse que se arrebenta
Que nestes parcos versos se lamenta
A sorte árida do seu azar
15
Esse que parece não fazer sentido
Um enigma escondido
Dentro do meu coração
Esse mesmo que vos fala agora
Olha pra frente e vê um passado
Olha pra dentro e vê seu futuro
Mas enfim, cai em si mesmo
E por seu presente chora, morimbundo
Isso é o que sou
E se pudesse escolher ser outro
Esse outro, um dia
Acabaria por ser eu.
16
ANDRÉIA-MOÇA
Senhor! protegei a moça que passa
Que quase nada me diz
Mas que ao me olhar nos olhos
Faz-me pensar em todas as poesias do mundo
Protegei-a para que sinta outra vez
O doce cheiro de jasmim que antecede sua chegada e de novo veja o
seu sorriso
Que faz menos cruel o mundo e a vida menos triste
Protegei, Senhor, essa beleza cálida e suave
De quem talvez nem percebe o quanto encanta
Protegei seus lábios mornos e avermelhados
Protegei seus olhos meigos e misteriosos
Da cor de dois abismos
Nos quais adoraria perder-me
Protegei, Senhor, esse encanto moreno
De pele suave que nem preciso tocar pra saber que é tão lisa
E perfumada quanto as rosas de teu jardim, Oh! Deus...
Protegei também oh! pai se vos sobra um tempo
A este pobre mortal, para que não caia tentado.
A ofertar meu coração ao divino anjo que por mim passa.
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DEISEMARES
Diante de ti as palavras se calam...
Emudecem-se as vozes de espanto...
Intensificam-se as cores no céu...
Saem mais brilhantes as estrelas no firmamento.
Enquanto durar a tua vida...
Mais feliz será o mundo, e...
Ainda outros mundos se ainda houver.
Respiram mais do que ar os seres vivos
Exalam um pouco do teu perfume
Sem dúvida vivo graças a isso.
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ASSIM...TÃO DE REPENTE
Quando te vi passar
Foi como um sonho
Algo inesperado
Quase oportuno
Tu me deixaste marcas e foste embora
Assim... tão de repente
Eu te amava
Nem sequer minha vida
Coloquei acima de ti
E mesmo assim disseste adeus
Assim... tão de repente
Ah! se soubesses o mal que me fizeste
Ah! se soubesses o estado em que me deixaste
voltarias no mesmo instante
pra este que só sabe sofrer-te, querer-te, amar-te
19
Hoje vivo um sonho
Baseando minha vida inteira em um só momento
aquele em que te tive nos braços
respiro e transpiro lembranças
de um beijo dado em meio
a um turbilhão de sentimentos
num pequenino banco de praça
perto de uma catedral
um beijo...tão rápido
que me marcou tão forte
assim...de repente
E fugiste...fugiste de mim
foste pra longe
onde já não sinto o calor do teu corpo
que aquecia-me num fogo de paixão
mas ainda sei, que se fechar meus olhos
posso sentir tuas mãos entre as minhas
e sentir tua cabeça em meu ombro
se eu me esforçar
ainda sinto teu beijo.. aquele
20
dado anos atrás,
mas que como um ferro em brasa
marcou-me a vida
e me fez pensar em ti a cada dia
em cada segundo
em cada pedaço de mim
do meu ser, da minha alma
e tudo você me fez..
21
ATÉ A NOITE AMOR...
Numa noite, antes de deitar
Olha minha estrela
E me pede junto a ti
quando o sono vier
e você for dormir
Sentirás um leve toque
O meu lábio em teu rosto
Olharás...teu corpo arrepiando
porém ninguém no teu quarto está
– deitas na cama - Já pelo sono vencida
E eu te apareço em magia, mas não me vês, pois já dormes
Eu te cubro bem calmo, beijo teu rosto tão lindo
__ Dorme amor... dorme, que eu aqui velo teu sono.
No meio da noite despertas
Sentas na cama
E sentes uma solidão te invadir
Abre a Janela
E minha estrela tu olhas
22
Eu me aproximo de ti
E toco tuas mãos
de leve, acaricio tua pele
e digo__ Calma, eu estou aqui!
Me olhas confusa
Não sabes se é sonho
Porém gostas que eu esteja ali
Teu coração acelera
Ao me ver assim...tão perto
Toco teu rosto
A abraço e protejo
Ancorada em meu peito
Está frio, me abraças com força
Não queres me deixar
Mas o dia vai nascendo
E eu preciso ir embora
Tu me pedes: __não vá...
Mas é hora de ir
Eu te olho nos olhos
O sangue ferve em teu corpo
E sem mesmo notar
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Te entregas num beijo
É tudo tão doce
Cheio de encanto
Que não me deixas ir
Te conduzo até tua cama
Te deito e te faço fechar os olhos
Sentes sono e depressa dormes
O dia nasce
E acordas pensando
Que foi tudo um sonho
Mas pensas: se sonhei...
Porquê sinto no lábio o gosto
doce do beijo?
De leve tu sorri e sussurra baixinho...
__Até a noite amor....
Até a noite...
24
CANTO
Cantai, vida, cantai
Trazei no teu canto
A imagem do encanto
Que pude em teus olhos provar
Cantai, vida, cantai
Que através destes versos
Crio meu mundo, meu próprio universo
E nele posso enfim repousar
E deitar-me entre as nuvens
E ver-te, oh! vida, passar
Tocar nos passarinhos
Que cantavam naquele ninho
Que quando menino
Eu espiava da janela
Cantai, vida, cantai
Que a natureza me chama
25
E tornar-me-ei parte desta terra
Que um dia me trouxe no amor dela
Uma razão pra essa canção
Dos meus lábios aflorar
Ela, que é a razão destes versos
Nesse amor tão controverso
Que não espera ser correspondido
Pra de teimosia, assim, amar...
26
COELHINHA
Coelhinha, me dá cá teu amor
Que com ele é mais fácil viver
Coelhinha me dá cá da boca teu sabor
Que do mel do teu beijo é mais doce beber
Coelhinha, pede-me o que quiseres
E darei sem mesmo pensar
Só não me peças pra esquecê-la
Que isso, nem mesmo que eu queira
eu posso tentar
Coelhinha, faze-me cócegas e rio
Teu jeito faz feliz minha sofrida vida
Teu sorriso me faz voltar a ser menino
e todo meu escuro caminho ilumina
Coelhinha, vou confessar-te aqui no canto
Algo que já notas quando te olho
Coelhinha, Coelhinha
Ah! como eu te amo!!
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COMPREENSÃO
Quando busquei dizer algo
tu já me entendias
Quando chorei, nada disseste
Pois conheces que é melhor teu ombro
que mil palavras de consolo
Quando não tinha amigos
Me ofereceste teu colo
E nele pude repousar
Ainda quando não estavas presente
Só tua lembrança
Acalmava o furacão em mim
Tu és a doença que me mata
E o remédio que me vivifica
E eu que fico neste dilema
Entre o encanto e a realidade
Desorientado entre o que é real
E o que é mistério
Entre te amar ou fugir de mim
Vou me entregando à uma morte lenta
Regada pela dúvida
Pelo medo de te amar e ser feliz
28
DE VOLTA AO NAVIO NEGREIRO
Homenagem à Castro Alves
Eu aqui...no cais
A contemplar o horizonte, alheio ao mundo
Sentindo o frescor da brisa marinha
Tocando a minha fronte
Mas eis que um pesadelo me atormenta
Ouço gemidos, uma corda se arrebenta
E bem dentro do meu peito estala
O negror de uma lembrança amarga
Ai! Senhor Deus dos desgraçados
Que se volta contra mim o meu passado
E já velho, não quero ser lembrado
Dos horrores que padeci por minha cor.
Ai! Senhor Deus que tudo me volta
Tem pena de mim, misericórdia
Socorre o negro velho que te clama
Pois até ouço o capitão que reclama
29
“_Vamos cambada, bota essa negada pra dançar!!!”
há! há! há! há! há! há!
Ai que no fundo desta alma ainda ressoa
O barulho seco das correntes se arrastando
Num chão frio de porão
Num canto... um corpo de criança
E uma mão, já quase sem esperança
Dando uma teta já sem leite
P’ra um boca, já sem cor, mamar
“E dança, e ri a nobre corte”
Como uma orquestra verdadeiramente satânica
Toca a nota do terror
E eu volto a sofrer a minha dor
Mais uma vez a cicatriz me dói
Mais uma vez incapaz me sinto
Ao ver o olhar de meu filho
Que vê seu pai num tronco
Lacerado pela chibata
Nos olhos do meu filho um pranto aflito
E nas minhas costas o sangue batido.
Oh! Terra, que devia ser gentil
30
Tu que dentre as mil
Foi cantada nos melhores versos
Ai! Brasil que de tão gigante
Esmagou um povo errante
Que não teve culpa de nascer assim
Ai! Que esta abençoada terra
É a benção e maldição de minha vida
Eu que com a alma desvalida
Me agarro num fio de esperança
Um baque – um corpo ao mar
Um grito – uma mãe a chorar
Uma criança se foi pro céu.
O chicote novamente estala
E a orquestra ri, manchada em sangue.
Regendo sobre a mortalha
Do que um dia foi um ser humano
Desembarcava minha gente
Numa terra vil e descontente
Que só mal lhe traria com o tempo
Aqui, neste mar azul
A beleza se confunde com a tristeza
31
E o anil brilhante se vê maculado...
...com meu sangue.
Passam-se os anos, O sol da liberdade
Traz uma nobre princesa
Que de tão puro coração
Aboliu o perigo desta nação
Ser dissipada pela Escravidão
Era o ano de 1888
O tempo já marcara o meu rosto
Porém sorri, no cair das algemas
Minha vida foi sempre difícil
As marcas ainda trago no corpo
Porém maiores são as feridas
Na honra deste meu povo.
Nos meus sonhos ainda vejo uma senzala
Uma dança, uma luta, uma cultura
Algo que junto ao Brasil se mistura
Pra formar uma nova raça
Hoje vou livre, mas só em parte
Ainda luto todos os dias
32
Por uma oportunidade nesta cidade
Para vencer no meu futuro
Eu vim de um Navio Negreiro
Não me esqueço do meu passado
Ainda ecoa o grito da mãe
Que em alegria trouxe ao mundo
Um filho lindo, que moribundo.
Agora jaz bem lá no fundo
De um negro mar
Como um escravo
Um mar negro como tua pele
Negro como sua alma
Tudo por causa de um ponto de vista.
33
DESPEDIDA
Quando enfim, tudo se for
E nada no mundo parecer restar
Ainda ecoará no vazio a minha voz
Em desespero o teu nome chamar
Quando murcharem as flores do campo
E as estrelas do céu começarem a cair
Restará ainda um pouquinho de mim
A insistir em um minuto a mais, querendo te amar.
Se tudo acabar, amor, viverei.
E nada em mim morrerá
Pois ainda no meu mundo terei
A chance de novamente a encontrar
Quando tudo tiver um fim
Meu amor, recomeça,
E como a Fênix se liberta
Pra das cinzas retornar a te amar
34
ENQUANTO EXISTIR
Enquanto existir esperança
Enquanto o sol brilhar abrindo um novo dia
Enquanto as flores exalarem o seu perfume
Enquanto o fresco orvalho molhar a terra
Enquanto as estrelas brilharem
E a lua permanecer no céu
Enquanto as flores caírem no outono
E renascerem na primavera
Enquanto o rouxinol tentar ( em vão, garanto!)
Imitar o encanto e a beleza de tua voz
E as conchas formarem pérolas
Na tentativa vã de ofuscar teus olhos
Enquanto existir na criança um sorriso
E calor no corpo humano
Enquanto houver aquela canção que sem querer
Me faz lembrar de ti e de nós
Mesmo sem que eu saiba porquê
Enquanto durar a eternidade
Teu rosto estará em minha memória
E teu nome tatuado em meu coração.
35
EU
Quando ninguém me vê
E tudo está quieto
Quando os anjos dormem
Eu vou para o meu mundo
E lá posso ser eu,
Quando ninguém me escuta
Eu me derramo em poesia e conto ao vazio
Todas as esperanças minhas
Tudo, por trás desta face escura
Quando a noite baixa e esfria
Meu coração se aquece e ilumina
Todo o negrume do meu ser
Quando tudo se acaba
Eu recomeço
Como uma fênix que renasce
das próprias cinzas
Voltando à realidade
Cada vez mais...
Sendo mais eu...
36
HOJE, ME PERMITI CHORAR
Hoje, me permiti chorar
Permiti que meus olhos molhassem
Um pouco, a tua foto à minha frente
Mergulhei na lembrança de nossa noite
Que agora é só nossa e que o será pra sempre
Hoje, eu me permiti chorar
Chorar de saudades tuas
De desejo de tê-la de novo
De apertá-la em meus braços
De me tatuar em teu corpo quente
Hoje, eu me permiti chorar
Chorar como criança
Que necessita de colo, de carinho, de amor...
Me permiti soluçar de vontade
De ter tua boca doce na minha
De tocar tua língua de novo
37
De sentir o teu toque em meu corpo
Hoje, eu me permiti chorar
Coloquei nossa música...
E me permiti chorar
Chorar de alegria
Chorar de Tristeza
Um misto de euforia e certeza
De que nunca mais serei de outro alguém
A não ser teu, meu eterno amor.
38
HOJE
Hoje, te terei mais uma vez
A tomarei novamente em meus braços
E estenderei o teu corpo sobre a cama
Hoje, sentirei novamente
A tua pele quente a tocar-me
E o teu corpo trêmulo a abraçar-me
Ouvindo bem forte tua respiração
Hoje a terei de novo
E não me cansarei de ter-te
Ainda que só em sonho
Hoje, te terei de qualquer jeito
Sentirei teu cheiro
A propagar-se pelo quarto
A fazer-me enlouquecer
Com tua presença tão perto
Hoje, te terei outra vez
A tomarei tão intensamente
Que o suor do teu rosto
Fervendo em paixão
Juntar-se-á sobre o meu
Que ardendo queimará os lençóis
Hoje te terei como nunca
E essa hora será eterna
E assim o será todo dia
39
Até o momento
Em que o sonho acabar
E eu puder experimentar
Na realidade essa loucura
Que me faz amar-te
Que me faz desejar-te
Nos meus sonhos todos os dias
Até tê-la enfim encostada em meu peito
E eu dormir recostado ao teu seio
Ouvindo sumir no sono
A batida suave e o compasso lento do teu coração
E esse hoje se estenderá até a morte
E viveremos uma eterna noite
Onde o desejo não acaba
E nunca nos cansamos
De amar mais e mais
Hoje...amor....hoje te terei de novo.
40
IMPOSSÍVEL
O mais difícil pra mim
É encarar que não foi eterno
Que como tudo me minha vida
Você veio e passou
Juro, prefiro ficar só
Quando me amaste, deixaste tua marca em mim
e essa tatuagem não sairá
E enquanto viver mesmo que pra sempre eu viva
Naqueles momentos de Solidão
Pegar-me-ei pensando em ti
Talvez eu nem mais te veja
Porém vou amá-la assim mesmo
Preso, agarrado ao fio de uma lembrança.
Viverei a vida de um momento
O momento em que tive tua cabeça em meu ombro
Em que te vi sorrindo pra mim
Viverei para aquele momento
Pro gosto daquele beijo
Pra tua voz me dizendo: TE AMO...
41
IN MEMORIAM ( CHICO ANYSIO )
Mãe corre aqui! Apagou-se o riso.
A escola fechou , o circo não abriu
Corre aqui! Mãe, que o riso morreu.
Fala pro Padre reza uma missa
E o pastor chamar o povo para o culto
Quem sabe com choro,
Com a tristeza do tumulto.
O riso, meu amigo, ressuscita.
Vem cá mãe, apagou-se o riso.
A vela que o mantinha se extinguiu
Foi brilhar n’outro lugar
Fazer outros meninos rirem.
Fazer outro povo se alegrar.
Não chora mãe, que o riso volta.
Ouvi dizer que a morte é só uma porta
Que leva a gente pra passear
Quem sabe se ainda a gente encontra o riso
A fazer cócegas em algum anjo metido
42
Que não se riu de sua piada
Quem sabe se ele não foi pra Bahia
Terra de todos os santos
Virar beato, renovar seu canto.
A fim de brincar com o povo
Que sobe a escada do Bonfim
Não chora, mãe, que o riso é assim mesmo
Sujeito malandro, Sujeito matreiro.
Há de estar por aí, a se espalhar por inteiro.
Pra no fim não ser só de um
Mas sim de todos.
43
LEMBRANÇAS
Lembra, amor, daquela noite
Em que vi teus olhos brilharem
Mais que todas as constelações do céu
Lembra, amor, quando a beijei
O gosto doce do amor fluindo
No toque quente de nossa boca
E a força com que te abraçava
Lembra, amor, o deslizar suave
Da minha mão em tua pele
E como desenhei o teu corpo em meus dedos
Lembra, amor dos sorrisos no escuro
E até mesmo dos sussurros
Das frases entrecortadas por um gemido
Um arrepio de prazer escondido
Uma sensação de febre no corpo
Lembra, amor, das vezes que te disse: te amo
E me respondias com longos beijos
E com teu olhar doce de entrega
44
Um olhar que me persegue nos meus sonhos
E insiste em permanecer em minha mente
Até vê-lo de novo um dia
Lembra, amor da atração que sentimos
Do ar que se movia e coloria na nossa emoção
Não te esqueças amor, desse instante tão louco
Em que nos cercávamos de fogo
E ainda assim nos queríamos queimar
Não te esqueças da noite em que choramos
E correste pra mim num toque de desespero
Misturada a tão grande porção de amor
Não te esqueças das lágrimas derramadas
Das palavras marcadas por uma voz rouca
De tanto dizer: te amo!
Não te esqueças que permaneço aqui
Lembrando de tudo e nunca esquecendo
Que o meu destino e meu alento
É amar-te a todo instante
Não te esqueças que sou eu o teu abrigo
Teu amor, teu ombro amigo
Pronto a receber-te em todas as horas
45
Sou eu que na madrugada
Vai deitar-se ao teu lado e aquecer-te do frio
Que vai beijá-la quando o sol nascer
E te desejar um bom dia
Lembra, que sou eu o teu passado
Que se estende no presente
E perdurará pela eternidade
Lembra que nasci um enigma
E morri muitas vezes
Mas em todas renasci como a fênix
Por não poder partir sem antes te amar
Ao menos mais uma vez.
46
LIBERDADE!
Vai, vida, liberta-te
Corre para as asas de tua amada irmã
Enche de silêncio o barulho ensurdecedor
Da negra alma que se instala em mim
Vai-te vida, e arranca-te daqui
Parte pro teu mundo
Pra um outro universo
Onde não serás mais vida
Onde ecoarás na morte
Vai-te vida e leva-me contigo
Separa-me deste corpo infame
E retira-me desta existência vil
Pois ainda anseia minha alma libertar-se
E meu corpo a desejar-te
Procura outra vida além do véu
47
Recuso-me oh! Vida a ficar
E enfim desfrutar
De tão tosco e insensato tempo
Um baço e desgostoso intervalo
Entre o minuto em que se nasce
E o segundo em que se morre
Dai-me a alegria de voar
De enfim me ver livre de tão grande
Que encerra na maior angústia
Que possa cogitar teu coração
E nasça outra vez: enfim, livre!
48
LIBERTAÇÃO
Um dia repousarei nas nuvens
E cantarei meus versos
diante do coro celeste
Num painel de estrelas
Um dia correrei com o vento
brincando nas curvas
vivendo a emoção das alturas
fechando meus olhos ao abismo
Um dia terei no corpo
o perfume das flores
e nos olhos o fulgor do luar
terei a pele brilhando reluzente
Tal qual a armadura de um valente guerreiro
Nesse dia finalmente serei livre
livre como ninguém nunca foi
49
liberto da escravidão dos limites
Que durante a vida
me impuseram grilhões
Alguns chamarão isso morte
Mas eu gritarei : Libertação.
50
LÚCIA DE FÁTIMA SELEGHIM
Lealdade é algo que não se compra, é algo....
Único, como a amizade...
Como você!
Incrível como podemos ser cativados
Assim, tão rapidamente...
Desde que nos conhecemos
Entendo que existem no mundo de hoje
Flores em forma humana, como se pequenos
Átomos de rosas, margaridas e orquídeas se juntassem
T ornando suas principais qualidades, antes...
Invisíves, totalmente possíveis de se ver,
Mostrando-se a este tempo monótono, como uma pessoa
Ainda mais impressionante na sua forma humana
51
LUCIMARA
Linda, você nasceu como um sonho
Uniu cada estrela dos céus em seus olhos
Colhe a cada ano uma nova flor em seu jardim
Insiste, no entanto, em deixar ele assim, tão florido
Minha esperança é ver você sempre assim
Ainda mais linda, a cada ano que passa
Resistindo a todas as adversidades da Vida
Assumindo diante de todos a força que sempre vi em você
52
MEDO
Tenho medo menina, tenho medo de ti
Que teus doces carinhos
São pra mim como o vinho
Que me tiram de mim.
Tenho medo menina, tenho medo de ti
Que o tempo que passa
Me faz ver que só há graça
Quando estou junto a ti.
Tenho medo menina, tenho medo de ti
Que teus meigos encantos
Me induzem ao pranto
Encostado num canto
A sentir falta de ti.
Tenho medo menina, tenho medo de ti
Que me arrasto pra longe
Bem além do horizonte
Onde tu só existes pra mim.
Tenho medo menina, tenho medo de ti
Que a tua suave ternura
Me faz ver que há loucura em te amar tanto assim.
53
MENINA ANJO
Amo-te tanto, menina-anjo
Como a brisa ama o vento
Como o sol pela lua se apaixona
Como as estrelas encantam o céu
Como as notas estão nas canções
Assim estão para sempre, oh! Anjo
Os nossos corações.
Amarei-te enquanto viver
Enquanto houver no sol um brilho
Numa criança, um sorriso, uma emoção
Enquanto houver nos teus olhos
O fogo desta paixão!!!
Desde que te conheci me pergunto
Se és anjo que me guarda
Ou demônio que me atormenta
Já não sei viver sem ti
54
Estás em mim como doença
Um doce veneno que lentamente me mata
Teu sorriso me atrai
Tua boca me tenta
Teu Calor me queima
E ai! Que desejo todos os dias
Morrer por ti, a viver mil vidas
Sem a tua presença.
55
MENINA
Vou te amar...menina...vou te amar
Até que do fogo eterno se mate a última chama
Até a última nota da mais bela canção
Enquanto houver na criança um meigo sorriso
No Sol um brilho amigo
E nos teus olhos...a paixão.
Teu amor é como brisa suave
no mais quente verão
è frescor que invade meu corpo
quando me queimo no fogo dessa paixão.
Teu amor é aquarela
onde invento um mundo novo
Um mundo onde posso amá-la
Sem temor que se vá com o tempo
Teu amor é tudo isso...e mais..
É algo indecifrável
imedível, inalcançável
Só cabe dentro de mim, no meu universo
Dentro do enigma que sou...
56
MORTE
Varra-me fétida vida
Que de teus oceanos escuros,
Bebi cálices de amargura,
Varra-me, que os umbrais de tuas portas
Como celas me prendem
Não deixando libertar-me de mim
Varra-me que tuas correntes
São vagas de tortura, que te chamam de vida
Mas eu sei: Só começarei a viver...
Quando me for levado de ti.
Quando o teu fio de prata for quebrado
E minhas asas finalmente se abrirem
E rasgarem o firmamento na alegria de se verem livres,
Então eu sentirei de novo o prazer que tinha antes de nascer,
Quando na terra não vivia e desfrutava de meu lar no céu.
57
RESSURREIÇÃO
Quando findar em mim a esperança,
E achar que enfim vou morrer,
debruçar-me-ei no teu colo,
E com a cabeça encostada em teu seio,
Acharei na tua boca um sentido pra viver.
Quando o frio for chegando no meu corpo
E os meus olhos verem o dia escurecer,
Ouvirei ainda a tua voz a dizer-me
Que ainda é preciso um pouco mais...por ti...viver...
E se ainda eu frio for me despedindo
Desta vida cruel que me negou tua presença
O calor imenso que vem do teu corpo
Aquecer-me-á e me trará a vida. e assim...
Aquecido no teu beijo,
Um corpo que esperava a morte com força ressuscita,
Tão somente pra viver mais um pouco
O suficiente pra te amar...mais uma vez...
58
MULHER BRASILEIRA
TU ÉS COMO UM JARDIM FECHADO,
CHEIO DE BELEZA E CORES,
GUARDADO PELOS ANJOS,
INUNDADO DE PERFUMES.
TU ÉS O SOL QUE ME AQUECE,
A MINHA ALEGRIA,
PROVEDORA DE VIDA,
ABENÇOADA POR DEUS.
TU ÉS MORENA, RUIVA OU BRANCA COMO A NEVE,
NÃO ME IMPORTA COMO TE APRESENTAS,
ÉS SEMPRE BELA, GUERREIRA, UM ENCANTO,
DEITA-ME EM TEU COLO E ME DIZ “TE AMO”,
QUE CA DA VEZ MAIS ENAMORADO,
VIVO EM FUNÇÃO DE TI, MULHER.
ÉS MINHA MÃE, ESPOSA E AMANTE,
MEU PONTO DE APOIO,
59
MEU SONHO CONSTANTE,
A REALIDADE PRA QUAL VIVO,
MEU IDÍLIO, MINHA PAIXÃO DE INFANTE,
MEU ETERNO AMOR... MULHER.
60
MULHER
És tu mulher...
Controladora dos nossos destinos
Que inspira o Criador
A ter misericórdia da humanidade
Tu, sublime anjo terreno
Crias em teu ventre o carinho
E dás luz constante ao mundo...
A Ti, mulher...
Corajosa mãe, fiel esposa
E dedicada amiga
Que dedicamos o que somos
E também o que seremos
Pois não há futuro sem vós
E não há futuro algum
Que se deseje sem que existais.
Ninguém há que resista ao teu perfume
E não há quem não mate por tê-la
Guerras foram travadas por ti
61
E nações se uniram através de tua força
Foste rainha e camponesa
Foste marco de alegrias e tristezas
Mas nunca deixaste de forma alguma
De seres o que és...MULHER...
62
NÃO POSSO DEIXAR DE TE AMAR
Não posso deixar de te amar
Pois se te esqueço, os céus me lembrarão
teus olhos...e a doce brisa
o balançar lento dos teus cabelos
Se te esquecer, O mel me lembrará teu beijo
e chorarei...confessando em meu coração
que já não cabe mais em mim outro amor.
Quê Fazer? Se vejo nuvens formarem teu nome
Se os pássaros cantam a nossa canção quando passo pela rua
Se tudo me faz lembrar o teu sorriso?
Ah! Se houvesse cura para tal doença
essa doença que me leva
De forma tão agradável do delírio à morte
Essa doença que me cega
que rouba-me o ar
Essa doença que tem teu nome
Que se espalha pelo meu corpo
63
fazendo-me queimar por inteiro
Essa doença que me faz ter febres
que me faz gritar teu nome
Em todas as formas possíveis
do verbo amar.
64
O ADEUS
Agora, me deixais, amor meu
Depois de ferir-me o peito com tal paixão
me dizes adeus assim, tão logo
Vós que tal ferida deixaste em mim
Ferida esta que médicos não curam
Nem tão pouco os remédios saram
Tu dizes que vai embora
E jura-me amor, mostrando o contrário
Tu vais, sendo surda aos meus apelos
Que vãos tentam forçar-te a ficar
De que me adianta a vida?
Se não vivê-la ao teu lado.
Se não puder sentir o teu cheiro
De que me adianta respirar?
Se não posso olhar-te
por quê ainda vejo?
Não quero estes olhos
65
Se não puder tê-los fitos em ti.
Não quero estas mãos
Se entre elas não puder ter as tuas
Vai! Vais embora
e deixas pra trás
Este corpo vazio, de alma solitário
Um poeta errante
Que perdeu seu encanto
Num aceno triste de Adeus...
66
O Relógio
Eu aqui..sentado.
E ele ali, fazendo tic-tac, tic-tac
Me deixando nervoso
Pois vai passando o tempo
E eu ainda estou aqui, parado
Queria que ele parasse
E toda minha vida retrocedesse
Que me livrasse das tormentas de hoje
E da ansiedade do amanhã
É tarde. Os minutos passam lentamente
E sinto sono
Quase dormindo ainda contemplo
Os ponteiros correndo
Fixo o olhar
Quero ver aquele ponteiro dos minutos
Se mexendo, mas não consigo
Pareço um louco vendo o tempo passar
Hipnotizado por meu carrasco: a vida
67
Aos poucos meus cabelos ficam brancos
Minha lisa pele fica enrugada
As forças se vão, mas eu sorrio
Quando meus velhos e cansados olhos
Vêem a morte chegar...
Pois não terei de olhar
Aquele maldito relógio
Fazendo tic..tac...tic...tac...tic..tac...
68
O VIAJANTE
De onde vens viajante?
Da terra de ninguém.
Pra onde vais?
Ainda não sei.
Se é incerto teu rumo...
Como saberás teu destino?
Vivo minha vida a cada segundo
Decido meu destino a cada passo que dou.
A quem buscas?
Procuro minha amada.
E onde ela vive?
No meu coração.
Não! Seu endereço é o que quero saber.
Isto não importa, até os confins da terra eu irei percorrer
Atravessarei rios, desertos e matas,
sei que a encontrarei no fim desta jornada
Mas...Quem é tão bela dama, que tanto amor em ti desperta?
Não sei, não a conheço.
69
E como a buscas e dizes que a amas?
Eu num sonho a vi, e dentro de mim a fiz nascer
És louco por acaso?
E existe alguém são neste mundo?
Tu procuras uma ilusão
Sim, mas pelo menos eu luto por algo que ao meu ver vale a pena
Não adianta, nunca a encontrarás...
Talvez, mas morrerei tentando.
70
OLHA! AMOR...
Olha , amor...
A doce chuva beijando o solo
E a minha alma que se consola
Se vê rasgando em dor
Por te ter tão longe
Olha! Amor...o cheiro da terra
Que saciada do orvalho do céu
Sorri contente na primavera
E o meu corpo aqui...como terra
Árida e deserta...sedento pelo corpo teu.
Olha! Amor...
Esta dor que sinto
Que me rasga o peito
Esse amor tão grande
É corrente que me aprisiona,
Em elos finos de ternura
Forjados no mais forte fogo
Da paixão...
71
OLHOS VERDES
São uns olhos verdes, oh! Deus
Os que me atormentam
E na calada da noite
Vem brindar-me o sono
São uns olhos verdes, oh! Deus
Os que eu amo
Que me enfeitiçam, que me encantam
Que me despem de todo o medo
E me fazem tão loucamente amar
E esses olhos...
Quero vê-los hoje
Preenchendo o ar de cores
Ao se encontrar nos meus
Quero vê-los brilharem
Quando os lábios embaixo brindarem
A alegria dos olhos que se encontram
Ai! Deus socorre-me aqui
72
Que morro queimando ao pensar nestes olhos
Chorando a amargura de não tê-los agora
Socorre-me que vou padecendo
A dolorosa saudade
Que deixou-me marcas no peito
E feridas na alma
E se puder oh! Deus
Cura-me trazendo a imagem deles
Para que se eu viver eternamente
Eu, para todo o sempre
Fique a admirar a beleza
Daqueles olhos verdes.
73
ONDE ESTAVAS TU...
Onde estavas tu,
Naquela noite fria
Em que meu corpo se aquecia
No fogo da saudade?
Onde estavas quando morria
Pouco a pouco de solidão?
Onde amor...onde estavas?
Quando pedia teu colo
Um ombro p’ra chorar?
Onde estavas, na tempestade.
Quando entre raios gritava
Chamando o nome teu?
Onde estavas.
Quando me via em delírio
Beijando os lábios teus
Num arrebatamento profundo?
Onde...Onde estavas...
Quando o amor me doía
74
Torturando-me a carne?
Ah! Meu anjo...onde estavas?
Que te procurei como louco
Em cada coração?
Eu que via no mais louro cabelo
Um pedaço de ti.
Que provando tua boca
Lembrava-me do céu
Onde estavas quando eu, um enigma
Amava-te, sem limites, sem fim?
Onde estavas... Não sei!
Continuo eu aqui.
Com meus braços abertos
O meu rosto molhado
E meu lábio ainda quente
Pra quando voltares
Seja lá onde estiveres.
75
ORAÇÃO NA MADRUGADA
Senhor! O que faço agora?
Se é tão triste o que chora.
Neste canto escuro.
Se por ela é que verto meu pranto.
É que eu sem descanso.
Me vejo a correr, me vejo a lutar.
Me vejo na noite o nome dela gritar.
A suplicar que ela volte para mim.
Que sejamos felizes, Que ela me ame enfim.
Tanto quanto a amo agora.
Por ela, oh! Deus.
Desprezaria uma vida longa
Se poucos momentos.
Pudesse com ela viver.
Se a pudesse abraçar.
Se pudesse tocar os lábios dela.
Com os meus, se pudesse.
76
Tê-la em meus braços.
Sussurrando-lhe frases loucas de amor.
Ah! Com ela, oh! Deus.
Não me importaria a comida.
Nem sequer lembraria que vivo.
Se fosse meu destino
Morrer nos braços dela.
77
ORAÇÃO DO A.S.P
Protegei-me Senhor,
Para que as grades que me cercam
Não cerceiem minha visão
Que a maldade que me ronda
Não me corrompa o coração
Protegei-me...
Para que não carregue para o meu lar
A estupidez dos pavilhões
A raiva contida e insatisfeita
Que macula a paz perfeita
Que só tu me sabes dar.
Protegei-me...
Para que não torne em zombaria
A pequena alegria
De uma conversa entre amigos
Torna minha mente sadia
78
Livre de emulações e porfias
Para eu ser senhor do meu pensar
Não deixando que outro controle
O meu modo de julgar
Protegei-me, oh! Deus
Para que as lições que aprenda
Sejam de fontes seguras e confiáveis
Que não transforme meu caráter
Naquilo que a sociedade
Sem se informar pensa de mim
Livrai-me dos vícios
Da linguagem torpe
Da gramática Ruim
Preservai minha família
Que culpa eles não tem
Da Profissão que escolhi
Que na ilusória segurança
Não baseie minha esperança
Nem conspurque a vigilância
79
Que por profissão é meu dever
E se tudo desabar
Que sejas tu a me guardar
Pois tu és o único que se apieda.
Amém.
80
ORAÇÃO
Eis-me aqui, Senhor, um delinquente.
Uma pobre carne que sem querer
De sua justiça tem zombado.
Peço agora com o coração dobrado.
Teu perdão, oh! Criador dos céus.
Se tenho vossa lei transgredido
Por misericórdia agora vos suplico
Pois o que faço senhor
Não quero eu, mas o que quero , senhor
Isso não faço.
Perdoa, que não o sabe
Este pobre mortal que a ti clama
Como exprimir-se em palavras humanas
A amargura que a alma sente
Sê pois vossa magnificência
Minha aliada
E tua misericórdia seja alcançada
Não porque mereço, mas sim porque embora peque
81
Sabes que o amo, mais que tudo
Senhor meu... e Deus meu.
Amo-te mesmo sem saber provar.
Amo-te embora sejam meus atos maus
Busco-te, pois és meu alvo maior
Preciso de ti.
Não recusa, oh! Deus esta oração
Que vem daqui...do coração
Dilacerado pelo sofrer causado
Por minha própria paixão
Uma paixão humana
Paixão vil, de um pecador mais vil ainda
Hoje, sei, oh! Senhor
Que desta culpa sou detentor.
82
POEMA AO DEUS VIVO
Queria acertar...Senhor, mas falhei
Queria mostrar meu amor
E só te magoei
Queria oferecer-te minha vida
E nem meu tempo dediquei a ti
Sabes de onde vim, e até mesmo aonde vou
E mesmo assim eu, cego,
Não me reconheci, pecador que sou
Se é verdade que só se dá valor a algo
Quando se perde
Rogo-te, diga que não é tarde
Pois amo-te muito e não quero que desistas de mim
Nem mesmo um só segundo.
Afinal, teu amor me mantém vivo
E mesmo parecendo que não
És o que mais anseio, anelo e amo
Sei que não posso provar-te
Sou mísero homem ajoelhado
Orando aqui...
83
POR UM MOMENTO
Por um momento eu pensei ter você
Pensei que tu não tinhas se ido
Nem deixado um coração ferido
Na dor da tua partida
Por um momento
Eu tive tua boca
Suavemente colada à minha
Num doce beijo de amor
Por um momento
Tua presença me convenceu
De que me amavas
E de que ali estavas
Para lutar por nosso romance
Por um momento
Eu fui capaz de ser feliz
De flutuar, não prender-me a nada
84
Sentei-me leve entre teus braços
Por um momento, um só
Eu me senti importante para você
E eras, tudo pra mim, tudo
Por um momento
Te provei, te senti
Te toquei..amei você
Por um momento
E aquele momento não se repetiu
Eu vivi intensamente
Mas esse momento passou
Todavia eu daria tudo
Para tê-lo de volta...agora.
85
POUCO A POUCO VOU SUMINDO
Pouco a pouco vou sumindo
Meus olhos já escurecidas
Não vêem o sol nascer
Eles ficaram cegos de olhar a estrada
Esperando encontrar você
Pouco a pouco vou sumindo
E o meu coração consumido
Já bate lentamente.
Num compasso lento...lento
Como aquela música
Que dançamos juntos.
Pouco a pouco vou sumindo
De minha pele já um pouco resta
Logo, logo já ela não existe
E pouco do teu cheiro ficará em mim
86
Pouco a pouco vou sumindo
A minha boca se amarela
A minha alma desespera
Um frio me penetra o ventre
E esse frio me faz lembrar
Da sensação que tive ao declarar
Todo o meu amor a ti.
Pouco a pouco vou sumindo
De mim só uma tosca sombra resta
E nesta sombra uma lembrança eterna
Do teu rosto tatuado nela.
87
PRAZER
Sabe, às vezes sonho que a vida
É um conto de fadas
E que eu sou um príncipe
A lutar pela linda donzela
E a resgatá-la de algum conde malvado
Eu a vejo na torre.
Com os braços abertos
A rogar-me que a livre
Do tormento de esperar-me
Vejo seus olhos.
Que choram na esperança
De que enfim viveremos felizes para sempre
Depois de ganha a luta
Eu a tomo em meus braços
Ponho-a em meu cavalo e a levo pra casa
Lá, convido a todos e faço uma festa
Caso-me com ela ali mesmo.
Sonho ser minha vida
88
Um simples viver, de sonho em sonho
De donzela em donzela
De prazer em prazer.
89
QUANDO FECHAR OS MEUS OLHOS
Ainda que me partiste o peito
E deixaste-me em dor consumir os meus dias
Quando fechar os meus olhos a este mundo
Minha última imagem será o teu rosto
Teus negros cabelos, suspensos na noite
Tua doce pele a tocar a minha
Teu cheiro suave a superar os odores
Que lançam as flores pra atrair as meninas
Quando fechar os meus olhos
Lembrarei da noite que não tivemos
Na cabana em que não fomos
Mas em que nos amamos em pensamento
Lembrarei daquele beijo doce da manhã
Do cheiro suave de relva fresca
Do calor do Sol a nascer por entre as montanhas
Lembrarei dos por-de-sóis que não vimos
Das piadas que não sorrimos
90
Dos beijos que não demos
Quando fechar os meus olhos a este mundo
Lembrarei do amor que te tive e não da dor que me causaste
Lembrarei dos olhares doces que me deste e não do adeus que me
deixaste
Lembrarei da noite quente em teus braços e não dos meses frios de
solidão
Lembrarei que nos meus piores dias tua imagem me aquecia o
coração.
Quando fechar os meus olhos ao mundo finalmente me terei livre
Sairei a voar em direção aos céus
Mas antes visitarei o teu quarto uma última vez antes de partir,
Olharei tua face de doce criança, sentirei tua respiração bem perto de
mim
Deitar-me-ei ao teu lado um pouquinho
Pra sentir ali como teria sido... Se tudo não terminasse assim.
E então tocarei tua face uma última vez
Afastarei teus cabelos e lamentarei que não estejas acordada
Pra me despedir dos teus olhos
91
Beijarei de leve o teu rosto e se puder chorar chorarei
Por não te sentir uma última vez...
Me afastarei bem lento...olhando tua imagem
A medida que irei desvanecendo
Como um sonho... um sonho
O que sempre fui pra ti.
92
QUEM SOU EU?
Eu sou eu, pedaço de muitos.
Sou aquele menino no deserto
Olhando de modo incerto
Para o carcará à sua frente
Discutindo silenciosamente
Quem comerá quem primeiro.
Eu sou eu, pedaço de muitos.
Sou aquela menina, morta pelo pai,
Que jogada em uma vala
Viu seus sonhos terminarem
Chutada por quem amava.
Eu sou eu, pedaço de muitos.
Sou a árabe inocente,
Espancada, envergonhada, apedrejada,
Vítima de um deus inclemente
Só por fazer, ter ou ser algo diferente.
Eu sou eu, pedaço de muitos.
Sou a criança que ri do palhaço
93
Que chora de tanto embaraço
Quando me falam da namoradinha
Sou o lixeiro que dança na avenida
Embalado no samba que toca a alegria
Nesse carnaval de emoções que é o meu país.
Eu sou eu, pedaço de muitos,
Sou o jovem indeciso
Em ser polícia ou bandido
Sem até mesmo saber se vou poder estudar
Sou o negro caçado
O pobre insultado
O gay violentado
O torcedor espancado
Por não concordar com você
Eu sou eu, pedaço de muitos.
Sou a mãe que se emociona
O pai que se controla
Quando seu filho te diz: Te amo!
Sou o noivo assustado
A noiva chorosa
Que se vê toda prosa
94
Por casar toda de branco
Eu sou eu, pedaço de muitos
Sou o poeta que declama
Da vida não reclama
Tem gente bem pior
Sou amante a vagar nas ruas
Em cada cama deixando nua
Mais uma dama a ressonar
Eu sou eu, pedaço de muitos.
Sou fraco, sou forte.
Nascido no Sul, Criado no Norte.
Chamado de Branco, Índio, Negro.
Moreno, Pardo e Mulato.
Conhecido por todos como: Ser humano.
95
QUERIA DEIXAR DE TE AMAR
Queria deixar de te amar
Queria olhar as estrelas.
E não lembrar dos teus olhos
E não amargar a tristeza
De não tê-las olhando pra mim.
Queria provar um favo de mel
Sem chorar de saudade
Sem lembrar que é verdade
Que sinto falta de ti
Queria deitar-me de noite
Sem sentir-me vazio
Por não ter o teu corpo
Do meu lado na cama
Queria olhar para a rua
E não ver na face de quem passa
96
Teu rosto a me sorrir
Queria deixar de te amar
Queria arrancar-te de mim
Pensei que só sem minha vida
Eu pudesse te esquecer
Mas me enganei
O amor não vê barreiras
Sei que ainda depois da morte
Não deixarei de te querer.
97
SE NECESSÁRIO QUE EU SOFRA
Se necessário que eu sofra senhor,
Que seja por amor.
Pois neste mundo não há mal.
Que me faça mais bem.
E que me traga mais prazer,
Que o mal de amar.
O quanto vaguei em busca de uma felicidade.
Que nem sei se existe mais.
Ou se de velha, já morreu há tempos.
Oh! Deus, quando eu chorava não tive colo.
Achei que morreria.
Que minha vida teria fim
Num trêmulo frio de solidão.
Foi quando não havia mais como a tristeza tomar-me.
Que eu a vi, assim... de repente.
Como uma visão, algo mágico
Ela vinha pra mim
Seus olhos me fitavam
98
E eu nada conseguia dizer.
Afastei-me com medo.
Disse que ela era perfeita demais.
Para um pobre mortal como eu.
Ela me olhou, e...sorriu
Oh! Deus! Se criaste algo mais belo tal maravilha nunca vi.
Ela aproximou-se...mais perto.
Meu corpo arrepiou-se.
E eu achei que era sonho.
Porém, se for, não me acorde.
Pois quero morrer provando este beijo.
Debruçando sobre o corpo dela.
Se necessário que eu sofra, Senhor.
Que eu sofra de amor.
Que não existe melhor mal.
Que deseje um homem para si.
99
SE VOCÊ NÃO EXISTISSE
Se você não existisse
E eu tivesse que te inventar
Usaria as mais brilhantes estrelas do céu
Para fazer os teus olhos
Usaria as pétalas de mil rosas
Tiradas do Jardim do paraíso
Para fazer tua pele e
Colocaria mel no sabor dos teus lábios
Se você não existisse
E eu tivesse que te inventar
Usaria o balanço do mar
Para definir o teu andar
Usaria o frescor da brisa
Para exprimir o teu cheiro
Usaria o canto de mil rouxinóis
Para fazer a tua voz
Se você não existisse
100
E eu tivesse que te inventar
Desenharia teu corpo
Numa argila fresca e rosada
Colocaria nele o calor do sol
Pra que me queimes quando me abraçares
Se você não existisse
Talvez eu tudo isso fizesse
Porém, sei que estás aqui...viva...
E ainda nada do que eu disse
Se compara com que em você
Vejo, toco e amo...
101
SONETO DE CONFISSÃO
Sabe, confesso que te amo,
Tentei evitar, mas foi em vão.
Pertenço a ti, sou teu escravo.
Cativo do amor que me foi dado.
Se amar-te, oh! Musa, for pecado.
Ai de mim! Que sou pecador
Pois vivo nesta vida
Toda hora a pecar de amor.
Queria tão somente ser correspondido.
_ Eu, que só te venerar faço_
Queria não me sentir perdido.
Queria ver meu choro sentido.
Se transformar num belo riso
Quando feliz te tomar nos braços.
102
SONETO DE DESPEDIDA
Quando vais, meu coração se aperta
Vejo lágrimas correrem sobre o meu rosto
E eu assim, no desgosto
Anseio, contando os segundos para tua volta
Ai! Que tua ausência me mata
É tortura sequer pensar em não te ver
És doença que tomou meu corpo
Dando-me alegria até mesmo no desejar morrer
Se se morre de amor eu não sei
Pouco me importa agora saber
Se tão somente em teu colo debruçar-me
E nele eu puder dormir
Morro feliz olhando pra ti
Vendo o céu antes de para ele eu finalmente partir.
103
SONETO DE ESPERA
A cada segundo amor, pensarei em ti
A cada mínimo impulso meu de respirar
Mesmo depois que este inverno passar
Meus olhos mostrarão o gelo que há em mim
Amar-te foi minha maior vitória e meu maior combate
Travado às margens da dor e da felicidade
Sem trégua ou descanso
Sem tempo nenhum para enxugar o pranto
E assim permaneço a querer-te
Num compasso lento o coração pulsando
Espera o teu rosto no escuro enxergar
E se tua imagem não me aparece
Os meus sonhos levemente desvanecem
Num fio de amor que teima em te esperar
104
SONETO DE ESQUECIMENTO
Ás vezes me pergunto
O Porquê dessa paixão tão confusa
Você assim , tão insegura
Nunca sabe bem o que quer
Já cansei disso tudo
Quero enfim viver, amar a cada segundo
Queria tentar te esquecer
Para que meu coração não venha a sofrer
E seu eu não consegui
Mesmo assim não vou deixar-me iludir
Sei quando um amor não dá
De algum modo ainda há esperança
Que tu deixes de ser tão criança
E que um dia de verdade vais me amar
Baseado no soneto “ ultimo soneto à ti” de Sabrina Magalhães.
105
SONETO DE OBSESSÃO
Tudo o que pedi foi teu amor _ Foi muito?
Queria teu colo, teu abraço, teu consolo
Um ombro para chorar, um lábio morno
Alguém que ame assim...bem fundo.
Sei que tens medo de mim
Sei que meu doce amor te atemoriza
És em minha vida um temporal sem fim
E não consigo ser na tua sequer uma brisa
Se minha insistência por fim conquistar-te
Garanto-te! Serás para sempre minha
Viverás por mim cortejada
Por todos os lados adornada
Nas mais distantes terras
Ouvirão que tu és minha rainha
106
SONETO ROMÂNTICO
Amar é ver cores intensas no céu.
Mesmo quando ele estiver nublado.
É sentir tua presença
Mesmo sem estares do meu lado.
Amar é sempre querer te ver
É seguir-te para onde estiveres
É durante toda esta vida.
Escolher a ti, mesmo entre todas as mulheres.
É enfim, a essência do que sinto,
A esperança pela qual vivo.
A meta final de minha vida.
É lutar sempre para esse Amro tão lindo.
Não vá morrendo com o tempo
Mas renasça de dia em dia.
107
SONETO DE ESPERANÇA
Chegaste, assim tão de mansinho.
E ocupaste meu peito com total liberdade
E eu sem mesmo vacilar me entreguei
A esse amor brando, a essa tal felicidade
Foi encanto, uma magia intensa,
Uma paixão, talvez, o que me assola.
Só sei que não passa um segundo
Sem que eu perceba que a amo mais que agora.
Esses teus olhos de medo.
Que me inspiram tanto amor.
E que me aumentam o desejo.
Esses olhos é que verei brilharem
Quando em meus braços te tomar à noite
E quando abertos verem o dia amanhecendo.
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TELEFONE MUDO
Tentei uma vez, na..
Esperança de que atendesses, mas...
Logo percebi, que não
Entendias meu jeito de chamar...
Foi passando o tempo...
Os anos se amadureceram e já...
Não temo mais amar você...
Estou aqui, de novo, teu telefone na
Memória, descendo teu número...
Um suor frio toma meu rosto...
De repente...nada...
O telefone estava mudo.
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UTOPIA
Queria tanto esquecer-te
Porém fazes parte de mim
Queria lavar minha boca
E tirar esse gosto doce do teu beijo nela
Queria no banho
Poder limpara de mim
As marcas que no meu corpo deixaste
Quando em plena paixão me abraçavas
Quê fazer? Se ainda sinto teu cheiro
A se espalhar em mim como doença?
Se o desejo de ter-te é tão forte
Tão forte quanto o de respirar?
Que fazer se nas noites
Ouço tua voz a chamar-me
E acordo vendo que tudo
Não passa de ilusão, Utopia
Porém sei o quanto te amo
E que esse amor um dia
Há de conquistar-te.
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ENTRE OLHOS E CELAS
Quando entrei pela primeira vez na prisão, algo me fez ver que eu
havia feito uma grande burrada e agora pagava por isso. Deram-me
um uniforme esquisito. Disseram-me que agora deveria andar na
linha ou acabaria ‘me arrastando’. Não entendi bem o que
significava, mas mesmo assim, quase que por instinto quis saber o
que deveria ser obedecido, como seriam as revistas, as ‘blitz’
surpresas e tudo mais. Quando os grandes portões bateram atrás de
mim, meu estômago embrulhou, o ar era diferente. Pesado. Tenso.
Os paredões eram altos e as caras muito mal humoradas. A maldade
tinha cheiro e eu nem pensava que pudesse ser assim. Eu não poderia
carregar nada, deveria fazer o que me mandassem fazer e existia uma
hierarquia que passei muito tempo para conceber, aceitar e obedecer.
Nesse meio tempo apanhei um pouco, é claro. De manhã, tinha a
contagem, algo sagrado, ai de todos se faltasse um só preso. Logo
tive que me habituar à língua local: ‘marrocos’ é pão com manteiga,
banana é ‘macaca’ e ‘funça’ é funcionário, às vezes também
chamado de ‘verme’, algo não tão educado. O almoço, ou ‘bóia’ é
entregue cedo, lá pelas dez e meia e são os ‘faxinas’ que recebem e
os ‘boieiros’ os que distribuem. Aos poucos vou guardando os
nomes. Todo dia a ‘bóia’ é diferente, tem vez que é carne com
batatas e salada, outra vez, abobrinha refogada e carne moída.
Sempre tem um que reclama quando o almoço ou a janta se repete
por mais vezes na semana. Dizem que os ‘funça’ estão ‘tirando’, sei
lá, acho que isso é só manifestação de desagrado. Fico pensando em
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quantos estão comendo arroz puro ou apenas um ovo requentado que
lhe servirá de nutrição para um dia inteiro de trabalho braçal. Á tarde
tem futebol, fico só olhando, sempre tem um que chuta a canela do
outro e sai pedindo enfermaria. Lá pelas quatro são todos trancados,
é hora em que os presos assistem à novela e esperam nova contagem.
Fim de Semana tem visita, só se vê feijoada, macarronada da mamãe,
salgados e sobremesas passando. O rádio toca um rap no rádio dentro
das celas enquanto alguns estão fazendo amor com suas respectivas
amásias. Penso em quanto tempo vou ter que ficar aqui. Meses,
talvez anos. Uma sensação de frustração e tristeza me invade. Eu sei
que está tudo quieto... por enquanto. Já ouvi comentários de que
quando fica quieto demais é por que a coisa vai ficar feia, muitos já
morreram assim. Não posso fazer nada. Sou obrigado a ficar aqui.
Tenho que sustentar minha família. Sou concursado, eu escolhi viver
assim, entre olhos e celas.
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DÊ O GOVERNO AOS PEQUENOS
A. é uma menina, não posso escrever o nome dela, pois é menor e a
lei não permite. A. está grávida, diz a si mesma que com quinze anos
é dona de seu nariz e tem responsabilidade. A.quer ser mãe. Até
cogitou o aborto, mas se arrependeu quando B., sua amiga, morreu
na mesa tentando retirar um feto indesejado. Ver sua amiga de treze
anos no caixão fez A. perceber o valor da vida. Ela sorriu após o
enterro, a vida é curta, deveria vivê-la intensamente. C.,namorado de
A. é o outro que não posso nomear aqui. Ele quer ser presidente do
Brasil. Faz 17 anos no mês que vem e já tem uma longa ficha
criminal. Ele se considera um ativista, é filiado a partido político de
esquerda e treina todos os dias seu discurso de campanha. Enquanto
rouba a vizinha colocando sua filha de cinco anos sob a mira de um
38 comprado com dinheiro da venda de umas pedrinhas de crack ele
pensa: “Vou pedir apoio político ao macarrão do morro do alemão.
Mato uns desafetos dele e ele financia minha campanha.”. Mais um
grito no ouvido da vizinha que, engraçadinha, foi mexer no telefone.
Ele quebra o braço da criança para poder provar que é homem sério e
de palavra. Se diz que mata as duas se ela reagir, é verdade. Como
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pode alguém se revoltar contra seu futuro presidente?. “Vou levar
este brinco para A.”.Pensa C. “Minha primeira dama tem que andar
distinta”. C. resolve matar a vizinha.Tanto faz roubar ou matar.Ele é
menor. Nada acontece aos menores. A FEBEM virou ‘Casa’ e a
polícia não assusta. Agora é o tempo da juventude. São os pequenos
no governo. D., amigo de C. já é presidente do morro do carcará, E.,
primo de D., é prefeito do ligeirão e todos apóiam C. na candidatura.
C. é um novo Robin Hood, Tira dos ricos, dos classe-média, dos
média-baixa, de todos aqueles que possuem um salário maior que o
dele. Ele não recebe salário. C. e A. tentaram assaltar uma banco.
Precisavam de dinheiro para subornar um juiz e autorizar a inscrição
deles como candidatos. C. e A. foram presos. C. recebeu uma
ameaça severa de ir para ‘Casa’ e A., bem... essa passou mal e quase
perdeu o bebê. Os direitos humanos processaram a polícia, o Estado
e A. recebeu uma grande indenização com a qual pagou todas as
despesas de C. Agora C. está tentando se eleger vereador. Um passo
de cada vez. Ao lado de vários traficantes ele grita seu slogan: “Dê o
governo aos pequenos!!!”.
OLHOS VERDES.
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Era um desses anos de nossa infância que sem saber por que, ou por
simplesmente não nos importamos com datas naquela época, não
lembramos. Eu tive nefrite (uma inflamação nos rins por excesso de
sal) e em decorrência disso fui parar na Santa Casa de Misericórdia.
Eu tinha uns 11 anos. Como todo garoto precoce, fui logo querendo
me enturmar. Lá conheci o Adriano, que tinha quebrado o braço e
que logo ficaria bom. Conheci a Juliana, menina de que lembro-me
bem, mas que não me interessou na época. Conheci uma figura cujo
nome era Charles, mas, que em consideração ao tamanho e porte,
apelidamos de mosquitinho. A mim, sobrou “índio”, em virtude de
meu cabelo ser longo, negro e escorrido. Ah! E ela. É só “ela”
mesmo. Não lembro sequer de seu nome. Posso passar horas
descrevendo seu cabelo ondulado, castanho-claro, desses que a gente
vê passando e vai logo cantando: “debaixo dos caracóis, dos seus
cabelos, uma história pra contar...”, só pra ver se ela sorria. E como
sorria. Era uma deusa, se meus 11 anos me permitissem as
comparações. Não parecia doente, era mais um anjo a circular pela
área pediátrica. Todos repararam como fiquei bobo de repente. Eu,
falante tal qual uma matraca, emudeci. Baixei os olhos. Enrubesci.
Esperando algo, meio sem saber o quê. Foi aí o meu desencanto.
Adriano se pôs à frente, todo galanteador, e lá fui eu ao fundo do
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parque, desolado, brincar de gangorra comigo mesmo. Mosquitinho
até tentou me animar, mas foi em vão. Foi aí que a vi chegar. “Cadê
o Adriano?” pensei. Ela, me olhando assim, com aqueles olhos
verdes...devia ser pecado ter uns olhos assim. Ela sentou-se no outro
lado da gangorra, e começamos a conversar. Aquele foi um dia
inesquecível. Ela me amava. Nem nos conhecíamos, mas pra mim, já
era eterno. À noite, Charles “mosquitinho”, Juliana e Adriano me
acordaram. Disseram que no dia seguinte ela iria embora e que eu
devia aproveitar a chance e dar-lhe um beijo de despedida.
Temerosos, quase ao estilo “Missão Impossível”, cruzamos o
corredor e chegamos ao quarto dela. Esperamos a enfermeira sair e
nos arrastamos no escuro até a cama em que ela, como um anjo,
ressonava. (será que os anjos ressonam?). Charles arriscou-se
primeiro, e pelo seu tamanho, nem me importei quando, sorrindo ele
lascou um beijo à face de minha amada. “Agora é sua vez”, foi o que
ele disse. Tremi dos pés à cabeça, suei, tive tonturas, ouvi barulhos
(talvez, os de meu próprio coração), e em desabalada carreira, voltei
para o meu quarto, me remoendo de arrependimento, mas, sem
coragem pra voltar. Resumindo: Ela foi embora, eu fiquei ali, a olhar
para o vazio, vendo meus amigos recebendo alta até chegar a minha
vez. Nunca esqueci aqueles olhos verdes, e em meus sonhos a vi por
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muitos anos. Cheguei a ligar para a Santa Casa quando adulto e
procurar nos registros, mas, naquele tempo não tinham computador
registrando a ala. Aprendi a lição: Não deixe as oportunidades
passarem, agarre-se a cada momento bom e retire dele todos os
detalhes. Não deixe simplesmente as pessoas irem, crie relações
duradouras, contatos, redes de relacionamento. Seja de todos e todos
serão seus. Vivemos em um mundo em que estamos conectados a
uma pessoa no Japão e ao mesmo tempo estamos a milhares de anos-
luz de distância de nossos filhos, pais e amigos. Momentos divertidos
como os que tive não seriam possíveis se eu não tivesse sido
internado. Outra lição que aprendi: Tire da adversidade uma
lembrança positiva que guie seus passos futuros em direção a algo
produtivo. Aproveite o tempo que você ficar “internado” e obtenha
boas relações. Faça algo divertido, sem o compromisso de manter
uma imagem ou parecer sociável. Libere sua criança interior e apenas
divirta-se. Não seja um covarde, como eu fui. Sou corajoso hoje,
porque desejei mil vezes um tapa na cara à completa desolação de
não haver tentado beijá-la e, portanto, decidi não perder mais este
tipo de oportunidade. Minha mulher que o diga. Não desista jamais.
Ainda que você passe mal, transpire muito, tenha tonturas ou ouça
barulhos imaginários. Na maioria das vezes o resultado compensa.