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≠10 3
EDITORIAL
Aqui estamos a descobrir mais um Projeto da Escola, do
Grupo de Escolas da ETIC - mesmo tendo como ponto de
partida a EPI - pois pretende-se viajar pelas escolas do
Grupo, pelos Alunos, pelos Professores, pelos Colabora-
dores, pelos Amigos e por todos aqueles que de uma forma
ou de outra estão ligados e têm interesse em descobrir
coisas novas e surpreendentes.
Queremos dar a descobrir muito mais do que aquilo que
normalmente está associado à escola. Queremos mostrar
o que fazem os nossos professores para além da escola,
percursos interessantes de alunos que passaram pela esco-
la, coisas que os alunos fazem fora da escola que não estão
diretamente relacionadas com o curso que frequentam, mas
igualmente trabalhos realizados na escola nas mais diver-
sas disciplinas.
Queremos mostrar o talento que por aqui passa, queremos
partilhar a criatividade, a inovação e o profissionalismo.
Ficarão surpreendidos com o que existe.
Este projeto pretende ser o trabalho de uma equipa que está
disposta a dar tudo e espera a contribuição de todos.
É um projeto aberto e será aquilo que os membros da equi-
pa quiserem que ele seja, mas será, de certeza, um projeto
realizado com paixão, querer e competência.
É uma honra e um prazer pertencer a uma equipa que tem
alunos e professores como vós.
JOSÉ PACÍFICO, DIRETOR DA EPI_
QUEM É QUEM
#1 Telma Silvestre - professora de Português
#2 Paula Caniça - professora de Português e Inglês
#3 Gonçalo Barreiros - professora de HCA
≠1 Catarina Ferreira da Graça - Interpretação 10
≠2 Flávio Magalhães - Design de interiores e exteriores 10
≠4 Marta Bello - Multimedia 09
≠5 Marta Guerreiro - Multimedia 09
≠6 Bruno Melro - PTM 09
≠7 Daniela Ascensão - Video 10
≠8 Carolina de Lemos - Video 09
≠9 Patrícia Faria - Fotografia 10
ÍndiceFora da Escola4 Marta Guerreiro MM09T: Carolina de Lemos F: Marta Bello
Professores8 Cristina CavalinhosT: Catarina Ferreira da Graça F: Cristina Cavalinhos
Música14 Filipe Santos | RUN APC PTM09T: Bruno Melro F: Rui Soares
Artigo18 Sociedade facebook – Um mundo digitalT: Flávio Magalhães F: Patrícia Faria e Carmen Pereira I: Ana Abrantes
Entrevista22 Edgar Alberto T: Gonçalo Barreiros F: Edgar Alberto
26 Manuela Carlos Diretora do GRUPO ETICTranscrição: Daniela Ascensão I: Guilherme Ornelas
Portfolio32 Capuchinho VermelhoT: Ana Moutinho F: Bernardo Pires
40 Como poderá a antifilosofia ser uma filosofia? T: Frederico Mimoso I: Guilherme Ornelas
Ficha Técnica
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Para além de ser aluna da turmaMultimédia09 na EPI, a Marta Guerreiro é também uma autora publicada. Entrevistámo-la, então, para descobrir mais sobre ela, os seus gostos, os seus feitos e o seu futuro mas, principalmente, a sua escrita...
O QUE É A ESCRITA PARA TI?A escrita é a forma que eu encontrei desde
muito nova para me expressar. Há quem
se expresse através de outras artes, da
música, da pintura... eu realmente achei
que escrever seria a forma onde eu me iria
libertar melhor e, ao fim e ao cabo, iria es-
clarecer dúvidas interiores.
ONDE É QUE GOSTAS DE ESCREVER? E QUANDO?Eu escrevo sempre à noite, que é quando
há mais silêncio e escrevo sempre no meu
quarto. Só há um fator em comum, além
desses, que é ter de estar sempre a ou-
vir música e a minha escrita reflete muito
aquilo que estou a ouvir no momento. Se
for uma música mais agressiva, a escrita
provavelmente vai ser mais agressiva.
EXISTE ALGUM OUTRO FATOR QUE INFLUENCIE A MANEIRA COMO ES-CREVES OU O QUE ESCREVES?Sim. Tem a ver também com o meu humor
e, por norma, também com as notícias que
vou ouvindo. Tenho muita
necessidade de, quando oiço alguma notí-
cia muito chocante, escrever sobre isso,
também para me libertar porque eu ab-
sorvo muito as coisas e fico muito irritada
e fica tudo cá preso dentro. Mas, sim, o
meu feitio também é muito bipolar e isso
também influencia muito a minha escrita.
fora da escola marta guerreiro
5
HÁ ALGUM AUTOR QUE TE INFLUENCIE ESPECIFICAMENTE? Gosto muito do José Luís Peixoto... Gosto
muito do Paulo Coelho por causa do per-
curso dele e por ser uma escrita que... dá
para toda a gente. Sinceramente, não acho
muito giro aqueles escritores que pensam
que usam palavras caras e por isso são
grandes escritores. Acho que é muito mel-
hor a “moral da história”, que vais ter no
final do livro e não
importa muito a forma como isso é
descrito. Gosto muito da moral das históri-
as do Paulo Coelho. Depois tenho, já não
da atualidade, Fernando Pessoa; é dos
meus escritores favoritos, se não o
escritor favorito. Florbela Espanca. Tam-
bém gosto muito de poesia. Também gos-
to de Nicholas Sparks mas, aí, é um lado
muito mais romântico. Gosto sobretudo, e
da atualidade, do José Luís Peixoto e do
Paulo Coelho.
COMO É QUE COMEÇASTE A ESCREVER?A leitura sempre foi influenciada pelos
meus pais. Quase sempre no Natal, por
exemplo, não me davam brinquedos. Era
sempre livros. A altura em que eu estava
mais com a minha mãe era precisamente
quando estávamos a ler em conjunto e eu
ganhei esse hábito de quando queria mais
atenção, de encontrar isso na
literatura. Consequentemente, o facto
de eu ler muito também fez com que eu
começasse a querer escrever e a ter coi-
sas minhas. Não sei... mal comecei saber
a escrever, comecei a escrever histórias,
muito simples, na altura.
ESTANDO EM MULTIMÉDIA, CONJUGAS A TUA ESCRITA COM OUTRAS ÁREAS?Não, eu uso a minha escrita... A minha
escrita pode influenciar alguns trabalhos.
Por exemplo, eu às vezes quero fazer um
site ou quero fazer alguma coisa que tenha
a ver com design e, por norma, escrevo
primeiro para me inspirar. Depois, é muito
mais fácil fazer isso mas não
consigo conciliar ambos. Não há assim
nada que se encaixe de forma a que eu
use a minha escrita... Claro que, por ex-
emplo, a minha PAP vai ter uma parte de
reportagem e aí vou poder usar a parte es-
crita, mas vai ter sempre que haver uma
parte multimédia muito literal. Não se pode
conjugar.
6
NÃO CONSEGUIRIAS, POR EXEMPLO, ESCREVER UM ARGUMENTO PARA UM FILME? Sim, conseguia e acho giro para teatro e
assim...
O QUE DIRIAS A ALGUÉM QUE ESCREVE MAS QUE TEM MEDO DE MOSTRAR O SEU TRABALHO A OUTRAS PESSOAS? QUE TEM MEDO DA REJEIÇÃO?Por norma, quando nós escrevemos é so-
bre coisas muito pessoais e, às vezes, não
é só o facto de escrevermos bem ou mal.
São coisas nossas e eu conheço
muita gente que tem blogs anónimos
porque não gosta de se expor. E eu
compreendo. Acho que é normal. Se a
pessoa quer mesmo seguir a parte da es-
crita, então, se calhar, é muito mais sim-
ples passar a escrever sobre temas que
não sejam tão profundos e tão
autobiográficos.
TENS ALGUM ASSUNTO QUE SEJA DIFÍCIL PARA TI, PESSOALMENTE, ES-CREVER? HÁ ALGUMA COISA QUE NÃO CONSIGAS ESCREVER OU QUANDO ESCREVES SENTES MUITA DIFICUL-DADE?Eu não consigo escrever muito bem na ter-
ceira pessoa. Escrevo sempre na primeira,
mas isso depois traz-me dificuldades... Por
exemplo, eu lancei o meu livro e como está
escrito na primeira pessoa e, realmente,
sou eu que estou a ser descrita… mas
nem sempre as pessoas têm tendência a,
quando se escreve na primeira
pessoa, acharem logo que o autor tem um
caráter muito próximo da
personagem.
Então, eu comecei a tentar escrever na
terceira pessoa, mas é muito complicado...
7
GOSTAVA QUE ME FALASSES UM BOCADINHO DA HISTÓRIA DO TEULIVRO, 1001 CORES.O livro é, como eu disse,
autobiográfico mas tem muita fantasia e
muita parte irreal. Eu tenho quinze anos,
na altura, foi quando escrevi, e encontro
um livro e uma escrita que faz com que eu
regresse no tempo até aos nove anos, mas
ciente de tudo o que tinha acontecido des-
sa minha idade para a frente. Nessa altura,
a minha mãe estava grávida. Entretanto,
eu tive uma irmã com paralisia cerebral e
então é a minha decisão se faço alguma
coisa para impedir ou não que isso acon-
teça. Mais do que um livro autobiográfico
é, sobretudo, uma fantasia.
O QUE É QUE TE LEVOU A ESCREVÊ-LO E, DEPOIS, DECIDIR PUBLICÁ-LO?Eu já tenho um blog desde os onze anos
e sempre fui escrevendo no meu tempo
livre. Naquela altura, já tinha acabado vári-
os módulos, foi do décimo para o décimo
primeiro, e achei que podia dar início a um
projeto maior mas não fazia ideia de que
isso pudesse ser um livro. Na altura, foi só
um projeto para mim. Foi uma passagem
de tempo. Quando o
concluí vi que tinha tamanho
suficiente e conteúdo que eu achei que
seria suficiente para mandar para edito-
ras. Mandei para várias, para muitas...! Só
passado um ano é que me responderam,
depois deu-se o processo da publicação.
TENS PLANOS PARA OUTRO LIVRO?Eu fui convidada, agora, por um escritor, o
Miguel Almeida, para participar num pro-
jeto de poesia. Ele escreve livros de po-
esia. O livro saiu a semana passada e o
lançamento vai ser agora, em dezembro.
Chama-se Palavras Nossas e tem cerca
de nove poemas meus. Possivelmente, no
início do próximo ano, devo publicar outro
livro. Escrevo, também, para um jornal de
Metal e Rock. Também tenho a PAP, o está-
gio e não me quero sobrecarregar...
Podemos ler mais da Marta na revista para
a qual escreve, Rock&Devy, no seu blog,
no seu primeiro livro 1001 Cores ou num
dos novos livros: Palavras Nossas, uma
colaboração num projeto de poesia com
outros autores; ou o seu novo livro que, em
princípio, se chamará Amores Rápidos.
TEXTO POR CAROLINA LEMOS VI09
8
Professorescristina cavalinhosCOMO NASCEU O DESEJO DE SER ATRIZ?Nasceu quando eu estava no 10.º ano, e
não havia nada para fazer na minha esco-
la. Juntei-me a um grupo de pessoas que
queriam essencialmente trabalhar à volta
da cultura. Na altura estava a surgir, nos
anos 80, o rock, e uma série de outras coi-
sas. Nós tínhamos as nossas vidas muito
pouco preenchid—as com passatempos.
A escola não tinha absolutamente nada,
nem sequer uma cantina! Fomos falar
com a Câmara Municipal, que nos cedeu
um espaço e nós criámos um grupo que
ainda se chama (H)ora Viva teatro, entre
outras coisas. Eu fui para o grupo de teatro
e apaixonei-me realmente, não quis fazer
mais nada na vida.
“Não se pode deixar ir abaixo cada vez que erra, nem se pode achar um máximo cada vez que é muito famoso, porque a fama é muito efémera. ”É como as flo-res, tem épocas!”
COMO JÁ SE SABE, INICIOU O SEU PERCURSO ARTÍSTICO NO TEATRO, E VEIO A REALIZAR VÁRIOS TRABALHOS EM TELEVISÃO, CINEMA, PUBLICIDADE, DOBRAGENS E LOCUÇÕES. QUAL DES-TAS ÁREAS A FASCINA MAIS E LHE DÁ MAIS GOZO?Todas essas áreas me fascinam por razões
diversas. Sou atriz e por isso gosto de de-
sempenhar todas as funções nas mais di-
versas áreas. Quando faço televisão, o que
me fascina é a rapidez, ter que responder
rápido sem tempo de ensaios, algo que
trabalha a minha rapidez como atriz e o
nível de concentração, que tem que ser
bastante grande.
No cinema preocupo-me com pequenos
detalhes, e a dependência do realizador é
muito maior.
9
Quando faço teatro sinto-me completa-
mente em casa, porque foi aí que eu come-
cei e é aí que eu quero acabar. Poderei cair
no cliché de dizer que teatro é o que eu
mais gosto. Sim, é o que eu mais gosto, é
onde me sinto mais à vontade, talvez seja
por isso. O teatro é mais completo, porque
é um trabalho de equipa. É uma arte muito
coletiva, onde também podemos desen-
volver os nossos gostos pela cenografia,
por figurinos e pela música. Nas dobra-
gens, eu continuo a construir personagens,
sendo que me estimula muito dar tudo de
uma personagem, tendo que obedecer a
um boneco já feito e a toda uma história,
ter que pôr a emoção só na voz, que é mui-
to giro. As locuções e publicidade são um
tipo de trabalho encomendado.
É um desafio conseguir ter criatividade e
fazer o que é pretendido, que às vezes é
muito específico. Portanto, eu acho que de
alguma maneira me completo com todas
as áreas como atriz.
TEM CERCA DE 30 ANOS DE CARREIRA. FALE-NOS UM POUCO DESTE SEU PER-CURSO BASTANTE VERSÁTIL.Eu comecei no teatro amador.
Depois passei para o teatro profissional
como estagiária e cumpri três anos de es-
tágio. A partir daí, poderia ser atriz profis-
sional. Na altura, para se ser atriz profis-
sional, era preciso ter o curso superior de
teatro, ter três anos de experiência numa
companhia ou ter 150 espetáculos feitos.
Eu já tinha muito mais do que 150 espe-
táculos feitos, três anos de estágio, mas
mesmo assim quis ir para o Conservatório,
porque achei que não sabia o suficiente.
Interrompi, de alguma maneira, durante
uns poucos meses, e fui para Lisboa es-
tudar sozinha, por minha conta e risco.
Logo ao fim de três meses consegui tra-
balho no Teatro da Cornucópia, através
de uma audição. Nunca parei de trabal-
har, enquanto estudava, e também nunca
faltei às aulas. Conseguia conciliar tudo.
Não dormia. Depois disso, comecei a fazer
teatro e começaram a surgir os primeiros
convites para televisão e nunca mais parei
desde então. Tive momentos sem trabalho,
como todos os atores que são freelancer.
Fiz parte de companhias de teatro, do nú-
cleo de companhias residentes. E a certa
altura escolhi outra vez ser freelancer, o
que é um risco em termos económicos
mas que traz uma liberdade artística muito
interessante. É um percurso cheio de espe-
táculos de teatro, de novelas, de cinema,
de muitas dobragens e, a par disso, o en-
sino artístico. É uma paixão muito grande
que eu tenho. Para isto, voltei à escola, tirei
um curso de Psicologia e tirei um curso de
Pedagogia, ou seja, de teatro e educação,
para poder saber mais como dar aulas de
teatro, o que não é fácil.
É um percurso cheio, mas que passou
rápido. Eu não tenho a noção, às vezes,
custa-me a pensar que são trinta anos de
profissão, parece menos tempo, porque
ainda tenho muito para aprender.
HOUVE ALGUM TRABALHO QUE A TEN-HA MARCADO ESPECIALMENTE?Eu acho, sinceramente, que não, porque
quando eles estão a acontecer são sem-
pre “o trabalho”. Quando eu estou a con-
struir uma personagem, seja pequena
ou grande, é sempre “a personagem”, é
aquela que eu mais amo na altura. Quase
todos os trabalhos me marcaram. E houve
alguns que me marcaram pela exposição
que tiveram, como uma novela que fiz há
uns anos em que interpretava uma person-
agem que não era assim muito grande, a
Freira Bochechas do Anjo Selvagem.
Foi uma personagem que me marcou
muito porque tendo tão pouco para fazer
e entrando tão pouco teve muito sucesso.
Foi uma personagem muito interessante.
10
Eu não entendia os atores que diziam
que não conseguiam andar na rua e foi
quando eu percebi que a certa altura tive
que deixar de ir ao supermercado e fazer
a minha vida normal, porque as pessoas
queriam falar comigo! É bom este carinho
do público, mas depois não é compatível
com uma vida normal. Foi bom este lado,
mas também foi assustador. No teatro fiz
muitas peças. Posso destacar uma, por
ser especial, onde eu fiz de Sancho Pança,
num espetáculo com Miguel Guilherme,
que fez de Dom Quixote. Foi uma proposta
engraçada, fazer de homem sem fazer um
travesti, ou fazer voz de homem, foi um
projeto muito interessante, por acaso.
QUAIS SÃO AS SUAS REFERÊNCIAS NO MUNDO DO TEATRO?Eu tenho, como todos os atores costumam
dizer, mestres. Mestres que foram pessoas
que me ensinaram, que passaram pela
minha vida, que foram meus professores
ou que foram os primeiros profissionais
com quem trabalhei e que me ajudaram.
Tenho alguns mestres, que para mim são
uma grande referência como profissionais,
de ética, de humildade e de solidariedade:
o Henrique Canto e Castro, o conhecido
ator Canto e Castro, e a atriz Isabel de
Castro, que já não estão entre nós. Sinto
muitas saudades deles, sinto muita falta de
às vezes lhes pedir conselhos. Ensinaram-
me bastante, mais na capacidade da ética
profissional e na humildade do que propri-
amente em técnicas diversas.
Passaram pessoas muito importantes na
minha vida.
O João Mota foi muito importante para mim
e todos os dias descubro que é mais im-
portante. Ensinou-me a dar aulas, ensinou-
me a gostar desse lado de uma maneira
incrível. Para mim, ele é um dos maiores
pedagogos portugueses ainda vivos. E o
Peter Brook, com quem eu tive a oportu-
nidade de fazer um workshop, porque fui
selecionada, por ser a melhor aluna do
conservatório. Fui para Madrid. Foi uma
experiência para a vida inteira porque tra-
balhar com Peter Brook é uma oportuni-
dade de uma vida.
11
EM PORTUGAL É NOTÓRIA A FALTA DE APOSTA NA DRAMATURGIA. O QUE PENSA SOBRE ISTO?Eu acho que isso é muito grave. Realmente
não estão a surgir novos dramaturgos
porque não lhes é dada oportunidade. Há
muito poucos dramaturgos, há muito pou-
cos concursos, e não se edita. Neste mo-
mento, os Artistas Unidos fazem edições,
o teatro Nacional também e pouco mais.
É mesmo muito grave, porque nem as no-
vas peças dos dramaturgos estrangeiros
são traduzidas, nem sequer vemos nascer
novos dramaturgos portugueses. O que
não faz sentido, porque nós somos um
país de poetas e dramaturgos. Portanto,
vejo isto com alguma apreensão, e tento
incentivar os meus jovens a serem mais um
ator/criador do que propriamente um ator
que só recebe propostas de trabalho e que
executa.
O QUE VEM A SER ISSO DO ATOR/CRIADOR?O ator/criador é o ator que, para além
de construir personagens, constrói o seu
próprio projeto, o seu próprio espetáculo.
Pega numa ideia ou num texto já existente
e transforma-o numa peça de teatro. Cada
vez mais um ator tem que ser um criador
total do seu projeto e não só um execu-
tante. No fundo, o ator é um executante,
cria, dá vida a personagens que um escri-
tor já imaginou, já escreveu. No caso do
ator/criador pode ser isso, obviamente,
mas também construir os seus próprios
projetos. E este tem de ser o futuro dos
jovens atores portugueses, porque não po-
dem ficar à espera de “projetos em casa”,
se não o telefone não vai tocar e vão deixar
de ser atores em três tempos.
APROXIMAM-SE MOMENTOS DIFÍCEIS, NOMEADAMENTE NO MUNDO DO ES-PETÁCULO, DEVIDO AO AUMENTO DO IVA. ACHA QUE ISTO PODE SER UMA AMEAÇA PARA OS ARTISTAS E CASAS DEESPETÁCULO? Claro que vai ser uma ameaça. As
pessoas não têm dinheiro e vão cortar jus-
tamente nas saídas, no entretenimento.
Vão ficar em casa a ver televisão. Portan-
to, para quem faz espetáculos de teatro
vai ser mais complicado, para quem faz
televisão talvez seja menos, talvez haja
mais trabalho. O grande problema é que
qualquer pessoa pode fazer televisão,
sendo ou não sendo ator com experiencia.
É por isso que eu acho que vai ser ainda
mais grave o aumento do preço dos bil-
hetes. Porque não acredito que a televisão
chame os atores todos, os atores mesmo,
para trabalhar. Daí a minha apreensão.
Acho que o teatro tem de ser acessível a
toda a gente. E tem que se voltar ao tea-
tro. Há muitos anos que o público portu-
guês está zangado com o teatro, eu penso
que foi um desentendimento público/teatro
que nunca ficou resolvido depois do 25 de
Abril.
12
HÁ 21 ANOS QUE É PROFESSORA DE TEATRO. COMO TEM SIDO ESTA EXPE-RIENCIA?É nova todos os dias, porque os jovens es-
tão a mudar. Eu sou professora de todas
as faixas etárias, inclusive de idosos. Tam-
bém trabalho com miúdos com deficiên-
cias várias, desde surdos, a trissomia 21,
a autistas.
Tem sido muito benéfico para eles e é aqui
que eu quero desenvolver mais a minha
área. No fundo, ser professor de teatro é
aprender todos os dias com os alunos e é
estar muito atenta e observar as mudanças
que se operam nas gerações.
Para terem uma ideia, os alunos que eu
tenho agora não têm nada a ver com os
alunos de há quatro anos atrás. As ger-
ações estão a mudar muito. As tecnologias
evoluem, as gerações mudam. Não é para
pior nem para melhor, mudam simples-
mente. Por isso é preciso estar atento, visto
que o ator é um profissional das emoções.
É importante perceber como é a vivência
destes jovens para não ferir suscetibili-
dades quando se forma um aluno.
COMO CONCILIA O TRABALHO DE PRO-FESSORA COM O DE ATRIZ?Não concilio, ou seja, consigo conciliar
mas não durmo. Para isto é preciso tra-
balhar não dois turnos mas três, trabalhar
de manhã, de tarde e de noite. Começar
às sete horas da manhã e, muitas vezes,
quando saio da escola às seis horas da
tarde, continuar a ensaiar até há uma hora
da manhã.
É um bocadinho coisa de loucos, mas
quem é viciada no trabalho gosta. A única
forma de conciliar é trabalhar mais, muito
mais.
QUE MENSAGEM GOSTARIA DE DEIX-AR AOS ASPIRANTES A ATORES E AOS AMANTES DE ARTES DO ESPETÁCULO?Aos aspirantes a atores e amantes: não
deixem de amar esta profissão porque
vale a pena. Têm de trabalhar bastante de
qualquer forma, tem que trabalhar duas
vezes mais do que aquilo que amam, se
amam 20 tem que trabalhar 40 para a
profissão. Não basta gostar, como dizia
Stanislavski: não basta pensar na intuição
tem que se experimentar, fazer. Como é
uma profissão que vive do erro, para saber
fazer é preciso experimentar. Erra-se e de-
pois a seguir repete-se, evolui-se. É preciso
muito trabalho. O ator é um profissional de
alta competição. Tem de trabalhar o corpo,
a voz, a mente, o intelecto, portanto tem
que ler, pesquisar, observar as pessoas
e depois tem de trabalhar as emoções.
Geralmente um ator tem uma inteligên-
cia emocional acima da média. É sempre
bom, mesmo que não se queira ser ator.
Ficará com certeza uma pessoa mais pre-
parada para a vida. O ator não pode nunca
desistir, e tem ainda que ter muito cuidado
com a sua autoestima e o seu ego. Não se
pode deixar ir abaixo cada vez que erra,
nem se pode achar um máximo cada vez
que é muito famoso, porque a fama é muito
efémera. É como as flores, tem épocas!
TEXTO POR CATARINA FERREIRA DA
GRAÇA INTP10
15
RUN APC, uma grande promessa do
“Drum N Bass” nacional, começou o seu
percurso em 2007, produzindo, primeira-
mente, instrumentais de Rap. Após a en-
trada da música eletrónica na sua vida,
este começou a interessar-se pelos ritmos
rápidos do “Drum N Bass” e “Hardtechno”,
e logo despertou o entusiasmo para pro-
duzir nestes géneros. As suas maiores
influências e inspirações são sonoridades
com “basslines” e “drum kits” pesados,
distorção e um lado obscuro tanto a nível
instrumental como a nível psicológico.
@ THERAPY SESSIONS : HALLOWEEN
Foto: Rui Soares
Foto: Rui Soares
Em 2009 meteu “as mãos à mesa de mistu-
ra”, tocando em algumas festas privadas e,
mais tarde, em festas de maior nome como
o THERAPY SESSIONS 4TH ANNIVERSA-
RY@LX,BROTHERS IN CRIME@PORTO-
RIO,THERAPY SESSIONS LISBON HAL-
LOWEEN SPECIAL, com participações de
outros dj’s do panorama nacional como C-
NETIK, ALIF, BLAST, DKAOS, ODER, ZERO
DEGREES, NOLEAF, ZEDER, FRAGZ,
AL:X, MAIN SHIFT e internacional como
BLACK SUN EMPIRE,COUNTERSTRIKE,
LIMEWAX, MACHINE CODE(CURRENT
VALUE AND DEAN RODDEL), SWITCH
TECHNIQUE,TRIAMER,FORBIDDEN SO-
CIETY, FREQAX,NANOTEK ED RUSH,
WILKINSON, STANZA, MENSAH.
Venceu também o concurso de novos tal-
entos UPCOMING TALENTS na cidade
do Porto@PORTO-RIO. Demonstra ser
versátil na escolha de músicas do seu
set, conseguindo variar, de maneira pro-
gressiva, entre estilos mais leves e estilos
mais pesados, e promete “causar estragos
onde quer que vá”.
Foto: Rui Soares
16
RUN APC, uma grande promessa do “Drum N Bass” Nacional. Conta-nos…
COMO É QUE ENTRASTE NO MUNDO DA MÚSICA ELETRÓNICA? Boa pergunta…pode-se dizer que foi por
causa de amigos meus que andavam sem-
pre com as colunas aos altos berros, visto
que nunca fui muito adepto deste género.
Mas foi desde que fui à minha primeira
festa que percebi qual era o meu mundo.
QUAIS SÃO AS TUAS REFERÊNCIAS MUSICAIS? As minhas referências musicais são vas-
tas. Vão desde o clássico ao mais extremo
da música eletrónica “pesada”. Desde as
batidas de Hip-Hop, Hardcore, Beatdown
até as quebras do Jazz, misturado com a
essência do Techno e ambientes noturnos
.
DE ONDE VEM A INSPIRAÇÃO PARA A TUA MÚSICA? De tudo o que é negro, obscuro, negativo,
da noite.
Lisboa é uma grande inspiração, as suas
ruas, o seu movimento, o caos!
CONTA-NOS COMO FOI A PRIMEIRA VEZ EM QUE TOCASTE EM PÚBLICO? As primeiras vezes que se pode dizer que
toquei para um público foi para grupos de
amigos, logo senti um grande à vontade
para fazer o que queria. Mas nas primeiras
festas em que toquei,
nomeadamente nas de maior nome e que
englobavam um público mais vasto, senti
uma grande concretização. Senti-me rec-
ompensado por todo o
esforço que empreguei para chegar onde
cheguei.
17
O QUE QUERES TRANSMITIR COM A TUA SONORIDADE (BASTANTE PESADA)? O que eu quero, e pelo menos tento, trans-
mitir é uma sensação de caos, de destru-
ição. Um “Apocalipse” na música, daí o
termo Run APC (Run 2 Apocalypse).
É verdade que já produziste instrumentais
de Rap no passado. Fala-nos sobre isso.
O rap foi o início. Quando tinha 14 anos,
antes de sequer saber o que era o “Drum n
Bass”, ou pelo menos de ter noção disso,
a minha vida era o Hip-Hop. Fascinava-me
toda essa cultura. O corte dos Samples
que misturava todos os estilos de música
num só. Os Dj’s, o Scratch, tudo isso.
QUE MATERIAL É QUE UTILIZAS PARA PREPARARES A TUA MÚSICA? O meu portátil mac book pro, Pro Tools8,
muita samplagem e muito gigabyte de
Plug-ins. Para atuações ao vivo, o suporte
é sempre o “pack” normal de um Dj em
qualquer casa, embora em breve gostasse
de investir algum tempo no Live Act.
QUE CONCELHOS DARIAS A QUEMESTIVESSE A COMEÇAR A PRODUZIR? Tenham fé no vosso som, mesmo que o
pessoal não goste ou não aceite, levem
a vossa avante e vão ver que um dia vão
sentir-se gratificados. Invistam bastante
tempo a ouvir várias coisas e a
experimentar novas técnicas. Nunca par-
em, procurem sempre outros caminhos!
IDEIAS PARA O FUTURO? Lançar a minha Ep, ainda em fase de
produção, sob o nome duma editora inter-
nacional (algo que já se está a
encaminhar). Esperem por ela! Tocar fora
do país e poder representar a nossa cultu-
ra “drum” em Portugal, lá fora, na Europa
e no mundo!
Links:
http://soundcloud.com/run-apc
http://www.facebook.com/RUN.APC
HYPERLINK “http://www.facebook.com/
yellowstripept” http://www.facebook.com/
yellowstripept
TEXTO POR BRUNO MELRO
um mundo digitalfacebook
18
Criado por ex-estudantes da Universidade
de Harvard, esta rede social iniciou-se em
2004 como um projeto restrito a estudantes
desta Universidade, alargando-se, poucos
meses depois, a outras universidades. A
rede continuou a expandir-se, e, em 2006,
passou a estar também disponível para
estudantes do Ensino Secundário e algu-
mas empresas. O Facebook, que todos
conhecemos, só foi aberto ao público em
geral a 11 de setembro desse mesmo ano,
encontrando-se apenas vedado a menores
de treze anos.
Este fenómeno mundial concentra-se
num pequeno mundo eletrónico com mais
de 750 milhões de usuários. Despendendo
apenas de uns breves minutos, é possível
criar uma conta e mergulhar, por infind-
áveis horas, em frente a um computador. A
questão é: o que alicia tal comportamento?
O vício do Facebook avança a cada minuto
e no fim deste artigo já terão sido criados
centenas de novos perfis e o botão “Gos-
to” pressionado milhões de vezes.
A facilidade com que se tem acesso à Inter-
net também contribui para o efeito e já são
muitos aqueles que utilizam os telemóveis
para aceder ao Facebook, partilhando fo-
tos acabadas de tirar. Segundo um estudo
norte-americano, este vício ultrapassa o
do tabaco e o do sexo, encontrando-se,
assim, no décimo sexto lugar no ranking,
sendo o álcool o líder da tabela.
Escrever este artigo não faria sentido se
nunca me tivesse inscrito nesta rede fe-
bril, e o facto de tê-la eliminado dá-me a
vantagem de uma visão cristalina livre do
delírio ofuscante, sentido pela maioria dos
usuários. Para dizer a verdade, apenas
criei uma conta atendendo a um pedido.
Como podia dizer não? Não queria ser o
único a passar ao lado deste fenómeno.
Uma rede social não era novidade para
mim, tal como não o é para a maioria dos
seus utilizadores; quem é que não tinha
(ou tem) uma conta no hi5?
20
O ser humano sempre teve uma necessi-
dade inata de socializar, é essa necessi-
dade que, juntamente com o raciocínio (o
nosso maior trunfo), nos deu a capacidade
de evoluir para um nível ainda não con-
quistado por qualquer outro animal. Não é
de admirar que essa necessidade se ten-
ha acentuado num mundo onde as novas
tecnologias o possibilitam, exigindo cada
vez mais de nós; um mundo onde uma
mensagem de telemóvel requer uma res-
posta instantânea, reservando o estatuto
da carta a uma “coisa” do passado.
Porém, existe quem defenda que estas
novas tecnologias e estes mundos virtuais
não estão a assegurar o convívio essencial
para o nosso crescimento saudável. De
facto, apesar de abrir novas portas a um
começo mais “suave” para aqueles mais
introvertidos, não garante o necessário
a longo termo. A longo prazo, estas pes-
soas, especialmente jovens, estão sujeitas
a uma diminuição progressiva da capaci-
dade de estabelecer contato com os de-
mais. Muitos desses jovens acabam por
se isolar no seu mundo, cortando assim
relações “reais”.
Felizmente, posso dizer que não conheço
ninguém com as características descritas,
mas conheço algumas que são quase in-
separáveis do Facebook. Fazendo circular
comentários à velocidade de conversas,
atualizando constantemente o seu “Es-
tado”, retratando as coisas mais banais à
face da terra, para não mencionar os in-
úmeros pedidos de amizade de e a pes-
soas, muitas das quais nem conhecemos.
Na sua maioria são apenas pessoas co-
muns que tentam fazer novas amizades
ou simplesmente aumentar a sua rede de
amigos, muito valorizada neste meio; mas
nunca conhecemos as suas verdadeiras
intenções.
Todo o cuidado é pouco, e nesta altura
poucos são aqueles que têm constante-
mente os pais a controlar e a avisar para
nunca dar o número de telemóvel e a mo-
rada, entre outros tipos de avisos. Agora
somos nós a tomar as nossas próprias de-
cisões.
TEXTO POR FLÁVIO MAGALHÃES DIE10
22
PORQUE É QUE, NA ALTURA, ESCOLHEU A EPI?Em 1997, quando tinha 15 anos, comecei,
por brincadeira, a filmar as minhas primei-
ras curtas de ação, com a câmara Hi8 do
meu pai, e a editá-las nos 2 videograva-
dores VHS que tinha em casa.
Nesse ano também entrei, pela primeira
vez, num estúdio de televisão para assis-
tir à gravação de um programa da RTP e
senti-me bem, muito bem... deve ter sido
um pouco como os 3 Pastorinhos ao teste-
munharem as aparições de Fátima, mas
em versão High-Tech-Eletro-Digital.
Não fazia ideia de que havia escolas a
dar formação na área do audiovisual e
em 1999 eu continuava a minha luta por
me tornar cientista, biólogo, veterinário ou
talvez astronauta até que numa tarde de
primavera o meu pai mostrou-me um pan-
fleto da EPI.Essa folha A4 mudou tudo.
O QUE FOI PARA SI MAIS IMPORTANTE NA SUA FORMAÇÃOESCOLAR?A EPI foi a minha tropa, tornou-me um
homem. Deu-me um objetivo e um desejo
de fazer e criar coisas. Penso que as aulas
e a matéria dada em si são 40% do que
se leva daqui. O resto aprende-se com as
pessoas: professores, colegas, o senhor
do bar, a senhora das fotocópias, todos.
Acho que tudo aqui foi relevante para a
minha formação mas se tivesse de optar
por uma diria que foram as
pessoas.
ex alunoedgar alberto
Edgar Alberto foi aluno da EPI, tem um percurso profissional na áreado audiovisual,participou em projetos de grandeenvergadura como a “Noiva Cadáver” de Tim Burton”. Atualmente trabalha como editor de `vídeo
23
ATÉ QUE PONTO É QUE AS RELAÇÕES
QUE CRIOU NA ESCOLA COM ALUNOS/
PROFESSORES, FORAM IMPORTANTES
PARA A SUA CARREIRA?
As relações criadas durante os tempos da
EPI foram bastante importantes.
Tão importantes ao ponto de me deixar a
pensar quem seria eu hoje se não tivesse
conhecido certas pessoas. Desde cole-
gas, hoje grandes amigos, que me incen-
tivaram não só a fazer, mas a fazer cada
vez melhor, até aos professores que me
transmitiram a sua paixão por esta indús-
tria, paixão essa que é o combustível para
tudo o que faço hoje.
COMO FOI O SEU PERCURSO PROFIS-
SIONAL A SEGUIR À
ESCOLA?
Quando entrei para a EPI queria ser
operador de câmara.
Quando saí da EPI não sabia o que ser
porque queria ser tudo.
Organizei-me e fui ser tudo, durante 5 anos
experimentei quase todas as áreas do au-
diovisual e espetáculo. Fiz som,
luzes, câmara, cenários, realização, di-
reção técnica, produção, edição, fiz filmes,
teatro, concertos, dança, videoclips, fiz
tournées em carrinhas pela Europa fora,
dei aulas, fui viver para fora de Portugal.
Passados 5 anos e muitas experiências,
decidi que queria ser editor de vídeo em
Portugal e é hoje a minha função principal.
Continuo a exercer outras funções, o que
é bastante terapêutico contra o aborreci-
mento.
Faço realização de alguns projetos e sem-
pre que posso faço criação e manipulação
de conteúdos vídeo para teatro, dança e
eventos para aumentar a adrenalina.
24
QUAL OU QUAIS OS MOMENTOS QUE O MARCARAM EM PARTICULAR NO SEU PERCURSO PROFISSIONAL?Há tantos momentos que me marcaram no
meu percurso profissional. É difícil escol-
her um.
Os primeiros trabalhos que fiz marcaram-
me muito pela novidade, o stress, a ex-
perimentação, todas as coisas novas, ar-
tistas, técnicos, espaços e métodos. Cada
trabalho que corria bem era como uma
vitória recompensada com mais desafios
e responsabilidades. Se um trabalho corria
mal era sempre uma lição aprendida.
Os tempos em Londres marcaram-me
muito pela dimensão dos projetos em que
estive envolvido. Foi sem dúvida nenhuma
um privilégio ter feito as coisas que fiz
nesse dois anos. Entre 2006 e 2008 houve
trabalhos muitos importantes que me
ajudaram a definir uma linguagem e um
estilo próprio com maior confiança.
Depois há os momentos em que por mo-
tivos profissionais conhecemos alguém
e desenvolvemos laços de amizade:
grandes amigos e namoradas, a mãe dos
nossos filhos? Ainda não mas talvez um
dia!
QUAL ACHA QUE DEVE SER A ATITUDE DE QUEM SE LANÇA NO MERCADO DE TRABALHO?Acima de tudo devem fazer o que lhes dá
prazer de uma forma natural. Cada um terá
uma aproximação diferente a este desafio.
Se eu tivesse de escrever as instruções
para “Um lançamento no mercado de tra-
balho” diria que se deve: definir um objetivo
e uma data, para depois se trabalhar em
atingi-los. Antes disso devemos ainda faz-
er uma análise profunda de quem somos e
das nossas capacidades, ser ambiciosos
mas também realistas. Fazer um estudo do
estado atual do mercado e perceber qual o
lugar que queremos preencher. Desenhar
o trajeto para atingir o alvo, ir aprendendo
durante o caminho e desenvolvendo novas
capacidades que nos levarão a ambicio-
nar novos objetivos.
Esta é a forma que eu tenho para me or-
ganizar, deixando sempre uma margem
para os imprevistos e surpresas que a vida
nos traz.
25
SER UM PROFISSIONAL DE SUCESSO DÁ MUITO TRABALHO?Eu meço o meu sucesso numa escala de
Felicidade. Se estou feliz estou a ter suc-
esso.
A Felicidade é como uma mistura secreta
de ingredientes misteriosos em quanti-
dades desconhecidas que vamos apren-
dendo a compor. Dá trabalho estar feliz
mas vale o esforço.
Penso que a maior dificuldade do sucesso
e da felicidade passa por não durarem
para sempre depois de atingidas. É uma
maratona e não um “sprint”.
Diziam-me na Warner Brothers, - “Tu és tão
bom quanto o último plano que filmaste”,
na rodagem de um filme que tem milhares
de planos.
QUE PLANOS/AMBIÇÕES TEM PARA O FUTURO?Tenho participado em projetos idealizados
e sonhados por outras pessoas, sempre
com imenso prazer mas adiando estrate-
gicamente a concretização das minhas
fantasias artísticas mais profundas. Num
futuro próximo irei-me aventurar na mate-
rialização dos meus sonhos e divagações.
HÁ ALGUMA MENSAGEM QUE GOS-TASSE DE PASSAR AOS ALUNOS?Absorvam conhecimento de tudo o que
vos rodeia, aprendam com os outros, en-
sinem os outros.
Descubram os que vos dá prazer e façam-
no. Imaginem e concretizem.
Ser estudante é a segunda melhor profis-
são do mundo. Aproveitem-na bem!
26
FOI NA TARDE DO PASSADO DIA 20 DE OUTUBRO QUE DECORREU A ENTREVISTA ESTILO-PERFIL COM MANUELA CARLOS, PRESIDENTE DO GRUPO DE EDUCAÇÃO EVOLUTION, PARA O PROGRAMA GRANDE PLANO DA EPI_TV, O CANAL DE TELEVISÃO DA EPI NA WEB
manuela carlos ? quem é
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GRANDE PLANO: QUEM É MANUELA CARLOS?MANUELA CARLOS: Uff! (risos) A Manuela
Carlos é alguém que gosta de estar desar-
rumada (risos). Eu gosto de inovar, gosto
de criar projetos, gosto de pensar em coi-
sas e levá-las até ao fim.
GP: NÃO É ESTÁVEL?MC: Não, eu sou estável. Eu acho que sou
estável, mas não sou acomodada. Não
me acomodo, portanto tento ir mais longe
e tento fazer coisas. Não fico satisfeita só
porque fiz algo. Fiz isso, mas quero fazer
mais! Não fico sentada em cima daquilo
que fiz.
GP: PORTANTO TENTA A CADA META EVOLUIR CADA VEZ MAIS E ULTRAPAS-SAR BARREIRAS?MC: Sim, sim! Exato.
GP: E ISSO A NÍVEL PROFISSIONAL, A NÍVEL PESSOAL… TUDO?MC: Sim, penso que a nível profissional e
a nível pessoal. Muitas vezes, nem sempre
consigo conciliar estas duas evoluções,
porque o nível profissional acaba por me
ocupar muito e eu própria, enquanto pes-
soa, deixo de fazer algumas coisas que
também gostaria de ter feito e de continuar
a fazer. Mas às tantas nós temos que fazer
opções, e essas opções têm que ser
tomadas.
GP: ISSO JUSTIFICA O PERCURSO QUE TOMOU? TEVE UM PERCURSO ARTÍS-TICO A DETERMINADA ALTURA E, DE-POIS, DECIDIU MUDAR PARA GESTÃO. PORQUÊ?MC: Sim. Eu costumo dizer que a minha
única profissão, para a qual eu tenho “car-
teira”, é a de atriz. Essa é a minha profis-
são. As outras são coisas que eu vou fa-
zendo.
GP: GOSTA?MC: Gosto das duas. Tenho muita pena
de ter deixado a carreira artística, porque
gostava muito e emociono-me muito, ain-
da, quando vou ao teatro e quando estou
com os meus colegas e com as pessoas
ligadas ao meio. Mas também gosto muito
do projeto que criei e do projeto que tenho
nos últimos vinte anos vindo a desenvolv-
er. Portanto, acho também que este pro-
jeto que hoje tenho não podia, de maneira
nenhuma, ser abandonado e, como tal,
também me dediquei a ele com a mesma
alma, com a mesma vontade e com o mes-
mo coração que me dediquei à carreira
artística.
Exatamente a gestão foi uma necessidade,
na altura em que criei o projeto ETIC. Uma
vez que eu não tinha qualquer conheci-
mento nesta área, senti a necessidade de
aprender um bocadinho e evoluir um bo-
cadinho dentro dessa área.
28
GP: CONSIDERA QUE É UMA PARTE SUA QUE PERDEU, A CARREIRA ARTÍSTICA?MC: Não. Eu não choro por ter derramado
um leite. Para mim está arrumado. Foi um
percurso que eu tive na minha vida, que
me foi muito querido, muito útil e que vivi
com muita intensidade. Mas ele foi toma-
do. Não digo que foi substituído, mas foi
tomado por um outro que eu também gosto
muito e que
vivo com a mesma intensidade. Ainda
houve uma altura em que tentei acumular
os dois, mas depois percebi que isso não
era possível. Não se pode estar a tempo
inteiro, e de corpo e alma, em dois sítios
ao mesmo tempo. Eu tive de fazer uma op-
ção na minha vida. Fi-lo conscientemente.
Gosto muito deste projeto. Hoje continuo a
ir ao teatro, ao cinema, à televisão e a olhar
com um olhar um bocadinho diferente do
comum. A sentir saudades, muitas vezes
a dizer: “Bom, se eu lá estivesse o que é
que eu fazia…” ou “Eu já fiz.. Olha aquele
papel eu já fiz”. Já fui a algumas peças em
que eu já estive do
outro lado, e acho engraçado. Tenho al-
guma saudade, alguma nostalgia, nessas
alturas, como é óbvio. Mas é um assunto
arrumado na minha vida. É um assunto
completamente arrumado e, portanto, eu
estou muito contente a fazer aquilo que
faço hoje.
GP: AGORA É PRESIDENTE DO GRUPO DE EDUCAÇÃO: IPA, ETIC, EPI E CESÁRIO VERDE. COMO DESCREVE ESTE PROJETO?MC: Este projeto é um sonho meu! Eu toda
a minha vida tive duas grandes paixões.
E essas paixões centraram-se na cultura e
na educação. A educação é uma paixão
que eu também levo com muito amor. Sem-
pre sonhei poder ter um grupo de edu-
cação ou algumas escolas. Não lhe chamo
grupo,
porque grupo é uma coisa pomposa, en-
fim.. Era um agrupamento de quatro es-
colas, neste caso, em que pudesse haver
uma linha orientadora, que eu considero
ser uma linha orientadora que pode levar a
atingir objetivos interessantes, tendo sem-
pre a arte e a criatividade como um motor
de
desenvolvimento da pessoa, para poder
atingir determinados objetivos através da
arte. Quando criei a ETIC, esta era uma
escola, e ainda é, muito única e bastante
inovadora em Portugal. Mas eu senti ne-
cessidade, passado algum tempo, de criar
uma escola onde pudesse apanhar os alu-
nos mais
pequenos, onde pudesse trabalhar com
eles algumas coisas que eu já não con-
seguia trabalhar quando os alunos che-
gam à ETIC, porque já são adultos, ou
praticamente adultos. Portanto já era muito
difícil poder fazer a experimentação desta
utilização desde muito pequeninos com a
arte. E isso eu
penso que se está a conseguir. Embora eu
pense, porque nós temos o Cesário Verde
há seis anos, que ainda não se consegue
tirar resultados concretos. Mas esses re-
sultados estarão a ser alcançados com a
criação do Cesário Verde, pois as crianças
entram lá com quatro meses e nós temos,
neste
momento, até ao nono ano. Portanto, essa
29
experimentação, esse incutir o gosto pela
arte, pela criatividade, pela inovação,
desde muito bebés vai trazer, de certeza,
resultados. Não tenho dúvida nenhuma
disso!
GP: VALORIZA A CULTURA, PORTANTO?MC: Claro, muito! E foi com base nisso
que sonhei este projeto.
GP: É UM LADO MUITO SEU?MC: É um lado muito meu, sim! (risos)
GP: CONSIDERA QUE O LADO CRIA-TIVO E ARTÍSTICO DOS SEUS PROJE-TOS É UM EX-LIBRIS SEU?MC: Nada se faz sozinho. Portanto muitas
das coisas que aqui hoje existem foram
realmente pensadas por mim, mas só
foram concretizadas com a ajuda de to-
das as pessoas que eu encontrei ao longo
deste meu percurso. Isso foi muito impor-
tante e nunca teríamos chegado ao sítio
onde estamos hoje,
o grupo das escolas, se não tivéssemos
tido todas as pessoas que nos apoiaram,
e que contribuíram para que ele se tivesse
tornado uma realidade. Eu acho que não
sou, não quero ser, nem nunca tive isso
como pano de fundo, a supermulher, de
maneira alguma! (risos)
GP: POR FALAR EM SUPERMULHER, O FACTO DE SER MULHER IMPEDIU-A OU DIFICULTOU-LHE O SEU PERCURSO PROFISSIONAL?MC: Nunca senti isso! Sei que isso é uma
realidade, que isso existe, e que muitas
mulheres têm dificuldades em chegar a
determinados pontos, muitas vezes na sua
carreira profissional, ou até na sua própria
vida. Eu, felizmente, tive a sorte, quer a nív-
el pessoal, quer em termos profissionais,
de nunca ter
tido qualquer problema ou de me sentir in-
feriorizada pelo facto de ser mulher. Sem-
pre lutei, é um facto! Eu sou uma lutadora
e isso eu assumo. Quando me fecham uma
porta, eu entro pela janela e, se não con-
seguir entrar pela janela, tento entrar pelo
telhado. Entro! Sou persistente. Até posso
ficar
quieta e calada na altura, mas não desisto.
Não desisto! Quando tenho a certeza, e
quero, e tenho um determinado objetivo,
eu não desisto. Vou até ao fim! Luto por
isso.
GP: É ESSA A MENSAGEM QUE DEIXA ÀS ATUAIS GERAÇÕES?MC: Essa é uma das mensagens que eu
gostava de deixar. Eu acho que as pes-
soas não se podem acomodar. Nem se
pode, porque se fecha uma porta, deixar
de lutar. Nós temos que lutar até ao fim,
porque de outra forma não se consegue
nada, não se faz nada. Isso acho que é um
objetivo que nós
temos que ter enquanto pessoas. “Eu sou
capaz, eu tenho potencial, portanto eu vou
à luta! Eu luto!”, acho que isso é uma men-
sagem. Isto eu gostava de dizer: eu acho
que a juventude hoje tem tanto, ou mais,
valor do que tinha a minha. Essa história
de que a juventude é a culpada de todos
os males…
30
Não estou nada de acordo com isso! Acho
que a juventude tem muita força! Eu já fui
jovem e não me esqueci. Fiz coisas iguais,
ou parecidas, com aquelas que qualquer
juventude faz. Agora o que eu acho é que
nós temos que lutar por aquilo que quere-
mos. Não podemos ficar à espera que as
coisas
aconteçam. Eu costumo, muitas vezes,
dizer aos alunos quando terminam os cur-
sos nas escolas que o nosso universo não
pode ser fechado. Nem na nossa cidade,
nem, muitas vezes, no nosso país. Nós
temos que procurar a nossa felicidade e,
portanto, se não a encontramos num de-
terminado local,
temos de procurá-la noutro. Hoje o mundo
é global!
GP: CONCORDA COM NÃO NOS PO-DERMOS LIMITAR AO NOSSO PAÍS, MESMO QUANDO NÃO HÁ CONDIÇÕES QUE NOS FAVOREÇAM?MC: Não, não nos podemos limitar de ma-
neira nenhuma! Temos que ir à procura
noutro sítio. Vamos à luta. Se não con-
seguimos em Portugal, não nos favorecem
em Portugal… OK! Se não consigo em Por-
tugal, vou lutar para outro país qualquer.
Hoje já não é assim tão difícil. Há muitos
anos, quando eu
era mais jovem, principalmente os meus
antepassados tinham muitas dificuldades
em ir a Londres, ou tinham muitas dificul-
dades em ir a Paris, ou tinham muitas di-
ficuldades em ir a outro lado. Hoje vai-se
em duas horas, e vai-se em low cost por
25€ ou 30€. Portanto isso não é motivo.
Não pode ser
motivo! Nós não podemos ficar sentados à
espera que as coisas aconteçam. Nós te-
mos que combater, temos de ir à luta!
GP: ESTÁ ENVOLVIDA EM MAIS ALGUM PROJETO ATUALMENTE, OU JÁ ESTEVE?MC: Não. Ao longo da minha vida já fiz
várias coisas, desde que tenho as esco-
las, com pequenas outras empresas que
têm feito outras coisas. Mas aquilo em que
neste momento eu mais me envolvo são as
associações que estão ligadas às nossas
áreas. Quer nas associações a nível da
educação,
quer associações a nível da área mais cria-
31
tiva, mais cultural. Tento envolver-me, tento
fazer parte, tento perceber. Acho que isso
também é muito importante para nós, es-
cola. Uma escola não pode estar fechada
em si. Uma escola tem que ser um espaço
aberto, tem que saber o que o mundo faz,
tem que perceber onde estão as empre-
sas em que os nossos alunos vão trabalhar
e aquilo de que necessitam. Tem que ser
parte ativa desse movimento para poder,
também, trazer cá para dentro aquilo que
muitas vezes é proposto dentro dessas
linhas orientadoras, dessas associações.
Portanto eu tento também estar muito liga-
da a esta área, porque eu acho que uma
escola tem de ser um local aberto à co-
munidade, não pode ser nunca um local
fechado.
GP: QUEM OU O QUÊ ESTÁ EM GRANDE PLANO NA SUA VIDA?MC: Eu diria que em grande plano na
minha vida está a minha família, essencial-
mente. Tudo aquilo que faço é a pensar ne-
les. Portanto é a família, claramente, que
está em grande plano na minha vida.
GP: PENSA SEMPRE NELES?MC: Penso. Tem sido a minha âncora e,
portanto, quando penso em alguma coisa
e quando faço alguma coisa penso neles,
na importância que eles têm e naquilo que
estou a fazer para eles.
GP: É A DEFINIÇÃO DA SUA VIDA? UMA FORMA DE ESTAR, UM INTERESSE, UMA AJUDA PENSAR NA SUA FAMÍLIA?MC: Sim, são eles que me dão força, por-
tanto quando faço qualquer coisa, para
além de o fazer a pensar neles, eles próp-
rios me dão força para a fazer. Portanto a
família é, como disse, uma âncora impor-
tante naquilo que eu faço.
GP: OBRIGADA!MC: De nada, tive muito gosto!
GUIÃO DE ENTREVISTA POR: ELISA BA-
TISTA
TRANSCRIÇÃO POR: DANIELA ASCEN-
SÃO
Versão em vídeo disponível em: http://
www.livestream.com/epi_ ou através da
página do facebook da EPI - Escola Profis-
sional de Imagem
32
capuchinho vermelhoNo contexto da disciplina de Português, lecionada pela professora Cândida Mar-
tins e integrado no módulo Textos Narrativos foi apresentado a versão que se segue do “capuchinho vermelho”, da autoria de Ana Moutinho da turma de Ani08.
As fotografias são de Bernardo Pires de Fo 10 fotógrafo residente da revista
33
Era uma vez uma menina que vivia numa
cidade. O seu passatempo preferido era
apanhar flores para oferecer à mãe e à
avó. A avó da menina também vivia na
mesma cidade, mas para ela a visitar tinha
de andar muito, pois não podia atravessar
o parque por causa dos ladrões que as-
saltavam quem passasse por ali.
Um dia a mãe da menina chamou-a e
disse-lhe que ela tinha de levar um lanche
a casa da avó porque ela estava doente e
não podia levantar-se da cama.
A mãe bem avisou a menina para não ir
pelo parque e para não se demorar muito
pelo caminho…
A menina vestiu a sua capa com um capuz
vermelho, pegou no cesto do lanche e saiu
em direção à casa da avó.
A meio do caminho, pensou que seria
agradável levar um raminho de flores à
avó para a alegrar. Viu umas bem bonitas
mesmo à entrada do parque e começou a
apanhá-las. De repente, junto de uma
árvore mais distante, viu umas flores am-
arelas que nunca tinha visto. Para apan-
há-las teria de entrar um bocadinho no
parque… Contudo, pensou que se apare-
cesse alguém, teria tempo de fugir.
Entusiasmada com as flores, nem repa-
rou que já tinha entrado demasiado no
parque e que as árvores e os arbustos não
a deixavam encontrar o caminho de volta.
Quando tentou encontrar o caminho de
volta, sentiu alguém atrás de si. Quando se
voltou, deparou com um homem mesmo à
sua frente. Este tinha a intenção de a as-
saltar, mas resolveu conversar um pouco
com a menina antes de o fazer.
Perguntou-lhe onde ia e quando ouviu
dizer que ela ia visitar a avó ficou todo con-
tente e começou a pensar numa maneira
de assaltar as duas.
Sugeriu, então, à menina fazerem uma
corrida até à casa da avó. A menina
começou a pensar que afinal aquele
homem desconhecido até era simpático e
boa pessoa e aceitou fazer a corrida com
ele.
Partiram os dois e o assaltante, que
conhecia muito bem todos os caminhos do
parque, foi por um atalho e chegou mais
rapidamente a casa da avozinha. Bateu à
porta e disfarçou a voz para fingir que era
a menina. Assim que entrou, dirigiu-se logo
para o quarto da avó, que ficou muito as-
sustada e desatou aos gritos.
O assaltante amarrou-a logo a uma ca-
deira, colou-lhe um pedaço de fita
adesiva na boca e trancou-a na despensa.
Depois, vestiu uma das camisas de
dormir da avó, pôs uma touca na cabeça e
deitou-se na cama à espera que a menina
chegasse.
Quando a menina chegou, bateu à porta,
pensando que tinha ganho a
corrida. O homem mandou-a entrar fazen-
do uma voz fininha para fingir que era a
avó. A menina ficou admirada por ver a avó
com um aspeto tão diferente do habitual e
pensou que ela devia estar mesmo muito
doente. Perguntou porque tinha óculos de
sol e o homem respondeu, disfarçando a
voz, que era moda. Em seguida, a meni-
na perguntou porque tinha ela as orelhas
cheias de brincos e o homem respondeu
que fazia parte do estilo. Por fim, a menina
perguntou por que tinha ela as mãos atrás
das costas e o homem, já sem disfarçar a
voz, gritou que era um assalto. E começou
a pedir todo o dinheiro que ela tinha.
A menina saiu do quarto a correr antes
de o homem a assaltar e quando chegou à
rua começou a gritar por socorro.
Um polícia que passava ali perto ouviu
os gritos e correu para junto da casa da
avó. Assim que viu o assaltante, correu
atrás dele e deitou-o ao chão. Algemou-o
e recolheu as joias da avó que ele roubara.
A menina, entretanto, regressou à casa da
avó, soltou-a e comeram as duas o belo
lanche.
A partir desse dia, toda a gente pode
passear à vontade, pois o parque passou
a ser policiado regularmente.
TEXTO ESCRITO CONFORME O ACORDO OR-
TOGRÁFICO - CONVERTIDO PELO LINCE.
41
Ora vá de se ver a seguinte tese, “peixe é
peixe e carne é carne”, “bacalhau é bacal-
hau e um bom bifinho de vaca é um bom
bifinho de vaca!”. Mas, depois, afinal, o
peixe já é carne, “Sim filhote, o peixinho
tem carninha boa”, e eu que o diga não
me querendo perder. Então peixe é carne
e carne é peixe ou peixe é peixe e carne
é carne? A não ser que peixinho seja algo
diferente do peixe, mas em todos os ensi-
namentos que tenho, sejam eles muitos ou
vastos, tal ideia não consta, por isso, carne
é peixe e peixe é carne.
Se formos colocar a mesma questão a
um apreciador de peixe, em vez da nossa
mãezinha, dir-nos-á que peixe é peixe e
carne é carne, o que nos deixará em dúvi-
da de novo, sem saber se peixe é carne e
carne é peixe, ou se o pescado é diferente
do “abatido”.
Vamos então analisar a estrutura biológica
aos animais e esclarecer a questão ator-
mentadora do peixe e da carne e da carne
e do peixe.
Ao analisarmos a questão, deparamo-nos
com a realidade e é-nos comprovado que
os piscícolas são compostos por múscu-
los, músculos esses que degustamos ao
pobre animal e que um animal/carne como
o bovino por exemplo, também tem mús-
culos e são esses músculos que vamos
“morfar” do animal, então peixe e carne
são carne!
Após tal dilema, encontramos o Sr. Apre-
ciador do peixe e tentamos corrigi-lo expli-
cando-lhe que peixe é carne e carne tam-
bém é peixe, ao que ele nos responderá
“sim, mas peixe é peixe e carne é carne”.
Desistimos, convencemo-nos de que o
peixe só é peixe por desejo, por adoração,
que se trata de uma utopia em que as pes-
soas sempre acreditaram cientes de que
peixe é carne.
Agora, é de minha vontade que o caro
leitor troque o peixe pela antifilosofia e a
carne pela filosofia e que perceba que a
antifilosofia não é filosofia, porque senão
corremos o risco de entrar numa espiral
de esbofeteamento e nunca mais dela saí-
mos. É que, ao questionarmos o crente da
Antifilosofia, e se este conseguir raciocinar,
tem o direito de responder o que quer e
como quer, alegando que são questões
ideológicas, tal como eles fazem na as-
sembleia da república. Convencidos, en-
tão, como se eles fossem políticos, vamos
confirmar, pelo menos é um hábito a ad-
quirir (o confirmar se os políticos ou os
que falam como os políticos falam mesmo
a verdade), se a antifilosofia não é uma
filosofia.
Facilmente iremos perceber que a filosofia
é uma forma de pensar ideologicamente,
submetendo as coisas a julgamentos de
acordo com a nossa ética que está de
acordo com o que nós achamos, logo
se a Antifilosofia é o não ter filosofia, é já
obrigatoriamente uma questão ideológica,
uma maneira de ver a vida. Então a anti-
filosofia não existe mas existe, é uma ideia
contraditória e por isso nunca deixará de
ser filosofia.
No seguinte dia, vamos confrontar o “pseu-
do-anti-filosofias” de que a antifilosofia “é
submeter-se a uma forma de pensar, por
isso é irremediavelmente uma filosofia”.
Pumba!
Entramos na espiral dos tabefes sem dar-
mos por ela, com um só som, um só sinal
de alerta o “primeiro pumba!” que leva-
mos, e só vai acabar quando lhe parecer
que já estamos convencidos de que a an-
tifilosofia é uma filosofia, e só assim é que
acho que possa acreditar completamente
que a antifilosofia é uma filosofia. Ideolo-
gias é melhor não confrontar, dizemos que
sim com a cabeça a todas mas ficamos só
com a nossa, faz parte do caráter de cada
um.
TEXTO ESCRITO CONFORME O ACORDO
ORTOGRÁFICO - CONVERTIDO PELO
LINCE.
No contexto da disciplina de Português lecionada pela professoraCândida Martins, foi apresentado o texto que se segue da autoria de Frederico Mimoso de SOM08
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PROPRIEDADE ETIC escola técnica de imagem e comunicação
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DIREÇÃO DE ARTeAna AbrantesGuilherme Ornelas
PRODUÇÃO EXECUTIVADaniela AscençãoGonçalo Barreiros
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Agradecimentos Alexandre Santos