Elisabeth De Andrade Pereira TEXTO POETICO NA...
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Elisabeth De Andrade Pereira
TEXTO POETICO NA ESCOLA
Monografia apresentada ao Curso de LetrasPortuguesJlngles da Faculdade de ClenciasLetras e Artes da Universidade Tuiuti doParana, como requisite parcial para a obtenyaodo grau de Ucenciatura Plena
Orientadora: Elisiani Vitoria Tiepolo
Curitiba2005
SUMARIO
1 INTRODUi;Ao... 42 FUNDAMENTAi;Ao TEORICA 82.1 A ESCOLARIZACAODA LlTERATURAINFANTILE JUVENIL... 82.2 0 TEXTOPOETICOEA ESCOLA... 102.3 QUEMDISSEQUECRIANCANAOGOSTADE POESIA?.. 253 PROCEDIMENTOSMETODOLOGICOS... 293.1 EM BUSCADE UMAOUTRAABORDAGEMDOTEXTO POETICONA
ESCOLA..... 294 CONCLUsAo... . 45REFERENCIAS... 47
Resumo
o objetivo deste trabalho e mostrar as praticas equivocadas com as quais asescolas trabalharam e ainda trabalham com os textos poeticos. E mostrar tambemoutras metodologias para se trabalhar com 0 texto poetico, fazendo com que osalunos sintam mais entusiasmo para estudar esse tipo de texto, e ter a poesiacomo urn refugio e nao um vilao. Mais ou menos na decada de 50 os poemasserviam apenas para serem decorados e declamados em dias festivos, isso faziacom que os estudantes odiassem os poemas, outra fator que justifica 0 odio dosestudantes pelo texto postico sao as pessimas sele90es de textos que as escolasfazem como: poemas que ridicularizam a inteligencia dos leitores iniciantes,poemas que impoe regras de bons costumes, poemas fora do cotidiano dosalunos, que fazem a leitura ser desestimulante e chata. Atraves da pesquisaobservou-se como se trabalhava com os textos poeticos na escola e observandoos erras que ainda sao cometidos hoje na escola tentou-se desenvolver praticasde trabalhos para tomar a leitura do texto poetico uma atividade mais dinamica eagradavel.
Palavras-chave: Texto poetico; pedagogiza92o da literatura; escola.
INTRODUQAO
Este projeto monografico tera como tema central 0 texto poetico na escola,
no Ensino Fundamental, especificamente de 5a a 8a series, pais e preocupante a
lalla de interesse dos estudantes de hoje por esse tipo de texto. Entrelanto com a
Irieza que se vive nesse mundo globalizado e tornado por tecnologias, 0 poema
pade ser urn refugio, urn aconchego, uma forma de sensibilizar. ativar a
imaginac;8.o e a criatividade.
Essa indiferenc;a em relayao a poesia e devido a forma equivocada com
que a escola trabalha, pais impoe leituras de livros antigos e muito distantes do
cotidiano dos jovens. IS50 torna 0 texto poetico uma atividade desagradavel e sem
sentido.
Nessa pesquisa serao discutidos alguns encaminhamentos equivocados
com as quais a escola tern trabalhado com a poesia no ensine fundamental de 5a
a S3 series para encontrar solw;:6es metodol6gicas em que 0 texto poetico seja
trabalhado de forma mais significativa e prazerosa.
Os objetivos especffrcos da pesquisa serao primeiramente a compreensao
do que e a literatura infantil e quais seus objetivos, conhecendo-se as perspectivas
da escolarizag8o da leitura literaria. Posteriormente procurar-se a definir 0 que e
poesia, mostrando como e 0 texto poetico voltado para a crianga em sala de aula.
Finaliza-se com uma proposta metodol6gica para 0 trabalho com 0 texto poetico
no Ensino Fundamental.
A primeira problematizagao a ser abordada e 0 fato de uma das raz6es pela
qual as estudantes de Ensino Fundamental e Media nao gostam de poesia e a nao
compreensao de sua subjetividade. Eles estao mais voltados para as tecnologias
virluais do que para os livros.
IS50 porque estao acostumados com as respostas prontas dos videogames,
computadores e telefones celulares que se utilizam da linguagem verbal e nao-
verbal. Eles nao conseguem compreender a subjetividade dos livros e
especificamente da poesia, que usam apenas a linguagem verbal.
Alem disso as estudantes estao acostumados a ler textos informativos que
apresentam linearidade, ora<;6es breves, com ordem sintatica natural (sujeito,
verba e complemento). Nessa leitura como busca de informag<3.o encontra-se
facilmente as respostas para: 0 que, quem, onde, quando, como, par que, e para
que em qualquer tipo de texto informativo.
Essa rnaneira com a qual as estudantes estao acostumados a ler nao
funciona com a texto poetico, pois ele nem sempre apresentara uma linearidade e
nao respondera a todos igualmente, porque 0 texto poetico e subjetivo, isto e,pessoal, particular. Cada leitor pode atribuir um sentido para 0 que Ie, e nem
sempre todos chegarao a mesma leitura.
o texto poetico utiliza uma Hnguagem que e ambigua, ou seja, nem sempre
os significantes terao os mesmo significados convencionais. Como afirma 0
escritor e poeta Fernando Paixao em seu livro "0 que e poesia".
Ao contrario da linguagem de usc pratico onde as palavras saoempregadas a partir do significado comum a todas as pessoas , acaracteristica mareante da poesia e a de recriar 0 significado das palavras,colocando-as num contexto diferente do nonnal. (p.14)(PAIMO, Fernando. ° que e Poesia. Sao Paulo: Brasiliense, 38 ed., 1984)
A metodologia utilizada para este trabalho sera a levantamento e estudo
bibliografico sabre quest6es do ens ina da literatura e especificamente sabre a
texto poetico.
Esta monografia sera apresentada em quatro capitulos: sendo a introdUl;:ao
a primeiro capitulo, que trata de apresentar a tese, as objetivos gerais e
especificos, a problematizayao, a metodologia utilizada e a organizay80 dos
capitulos.
o segundo capitulo, que e a fundamentayao te6rica apresentara Ires
subcapitulos, sendo 0 primeiro "A Escolariza9ao da Uteratura Infanti! e Juvenil ",
que nada mais e do que a apropria9ao pela escola da literatura infanto-juvenil, que
a didatizau, escolarizou e pedagizou para atender a seus pr6prios fins; 0 segundo,
" Texto poetico e a escola", tem-se uma tentativa de definiyao da poesia e
apresenta as maneiras equivocadas com as quais a escola trabalha a texto
poetico; 0 terceiro e ultimo sub-capitulo, " Quem disse que crian9a nao gosta de
poesia? " vai explicar porque crianya e poesia tern tudo aver.
o terceiro capitulo, que sao as procedimentos metodol6gicos, intitulado "
Em busca de uma outra abordagem do texto poetico na escola" apresentara
propostas diferentes, do que se encontrou nos livros didaticos, para se trabalhar
com 0 texto poetico e a conclusao da metodologia..
A ultima parte, "Conclusao", apresenta de forma sucinta as principais
questoes abordadas neste trabalho, apontando para a supera9ao de uma pratica
escolar arcaica de compreender e trabalha com 0 texto poetico.
A ESCOLARIZA(,fAO DA LlTERATURA INFANTIL E JUVENIL
Numa primeira perspectiva, podem-se interpretar as relaQoes entreescolarizaQ8o, de um lado, e literatura infantil, de Qutro, como sendo aapropriayao, pela escola, da literatura infantil: nesta perspectiva, analisa-se a processo pela qual a escola toma para si a literatura infantil,escolariza-a, didatiza-a, pedagogisa-a, para atender a seus pr6prios finsfaz dela urna literatura escolarizada. 1
Na escolariz898o da literatura, as produ\=oes Ijterarias infantis acabam
sendo voltadas para a escola, para os objetivos da escola, para 0 consumo dos
alunos da escola. E entao vern 0 questionamento sabre 0 que e literatura infantil: eo que se produz para a escola ou 0 que e produzido independente dela, para
depois ela se apropriar?
A partir do momento em que 0 Ensino Basico S8 voltou para a literatura, os
livros foram sendo produzidos para a escola. Segundo Marisa Lajolo, existe um
""pacto entre produtores e distribuidores", isto e, entre autores que produzem e a
escola que distribui". 2
Nessa demanda de atender ao mercado, quem sai perdendo sao os
estudantes, porque as adapta~oes feitas dos livros de literatura infantil para os
livros didaticos a fim de atender a escola sao pessimas. Nos livros didaticos sao
usados, par exemplo, fragmentos de textos narrativos para ensinar 0 que e um
texto, pois 0 tempo e curto para ler um texto completo, exceto contos e cronicas
curtos . A escola comec;a errando ai, pois ela ensina que urn fragmento de texto e
urn texto. Muitas vezes esses trechos comec;am no meio da historia e nao tem urn
lSOARES, Magda. A Escolarizayao da Lileramrn Inf.·llllilc Juvcnil. In: EVANGELISTA, Arney Alves
Martins (org.). A F-scolarjz~aoda Lei/ura l.ileraria. Relo Horizonte: Autentica, 1999.
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fim. 0 aluno aprende que um texto pode nao ter inicio e nem fim, e passa pelo
enredo sem conhecer melhor seus personagens. Essas praticas distorcem a
literatura, afastando 0 aluno das praticas da leitura do texto literario,
desenvolvendo nele resistencia au aversao ao livro e if leitura, uma vez que ela
perde a sentido e func;ao.
Pode-se observar essa fragmenta,ao no livre didatico ALP, "Analise,
Linguagem e Pensamento", sa serie, em que as autores usaram varies trechos de
textos, sem apresentar personagens, sem mostrar de que se trata 0 enredo, sem
contextualizar a obra. Os trechos de textos sao usados para trabalhar:
personagens, verbos, ambiente, narrador, adjetivos, etc. Sao leituras que naD
contribuem para a formac;ao do leitor. e ninguem se interessara em pegar as livros
dos autores usados para ler a hist6ria par completo uma vez que a trecho foi
usado como pretexto para atividades de metalinguagem.
Acostumados a ler trechos de textos, 05 alunos terao sempre dificuldade
em ler um livre inteiro, e acham isso '0 fim do mundo'.
Outro equivoco comum nos livros didaticos e a deturpa9ao pel a qual os
textos literarios passam.
Ainda uma outra forma, esta talvez mais grave, de diston;ao dotexto, no processo de sua transfer~ncia de livre de literatura infantil paraa livre didatico, e a alteracao do genero do texto: poemas setransfonnam em textos em prosa, textos literarios sao interpretadoscomo textos infonnativQS,textos jomalisticos como textos literanos, 3
1 Essa qucslao c aprolimdada no livro "A Escoiariz:uyao da Leitura Litcniria" , por Magda Soares, op cit, pi9J Id.lb" p.41
10
Com toda essa deturpa9ao que fazem do texto litenjrio nos livros
didaticos e necessaria que S8 descubram Qutras maneiras de trabalhar com a
literatura infanto-juvenil. Isso porque a escolariza«;fjo da leitura e inevitavel, pois a
escola e a principal Quia do aluno para a leitura. Mas 8ssa escolariza9ao precisa
acontecer de forma adequada, diferente do que vem acontecendo. Adequada e a
escolariza98o que conduza eficazmente as praticas de leitura litenjria que ocorrem
no contexte social e as atitudes e valores proprios do ideal do leitor que se quer
formar.
o TEXTO POETICO E A ESCOLA
Definir poesia e uma tarefa complexa e ja suscitou varios e diferentes
abordagens. Para Fernando Paixao, poesia e sensibilidade, sensibilidade para ler
o mundo. "Pareee ate que a poesia age como urn fogo fapido que esquenta a
frieza do dia-a-dia e desvenda fatos reais atraves de uma lente especial: a
sensibilidade" 4 A fUn<;80 da poesia e transmitir uma mensagem com uma distinta
forma de linguagem em que as palavras se organizam carregadas de sentidos.
Diferente de textos informativos que tern a funy80 pura e simples de informar.
Para Italo Mariconi "Ier poesia e ate de inaugura9ao pessoal, pisar no chao,
uma outra aterrissagem, possibilidade de transmigrar de planeta mental,
4 PAIXAo, Fernando. Oquee Poesia. Silo Paulo: Brasiliense, 3~ ed., 1984.p.7
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emocional"5. As sensa90es se repetem mesma quando lemos varias vezes a
mesma poesia que gostamos.
Quando Jose Paulo Paes descobriu a poesia pode perceber que
a poesia podia ser muito mais do Que eu pensava fosse. Podia ser alinguagem da surpresa diante dos misterios do mundo, 0 mundo fora e 0mundo dentro da gente; a linguagem em que eram formuladas as grandesperguntas fundamentais acerea do sentido da vida e da morte"~
as varios sentidos que as palavras carregam no texto poetico e umas das
dificuldades que as leitores encontram para entende-Io, pais 0 leern como S8
estivessem lendo urna noticia de jamal, pDr exemplo, esperando compreender
rapidamente as palavras. A poesia e diferente, pais sua absorc;ao nao einstantanea, sendo necessaria analisar os varios significados da palavra dentro do
texto. Sua ambigOidade pode levar a varias leituras, diferente do texto informativo,
que normalmente tem uma leitura apenas. Assim a poesia pode ser taxada de
leilura dificil pelos estudantes, porque e necessaria refletir sabre a expressao do
autor.
Ha quem diga que a poesia nao serve para nada, que temos que ocupar
nosso tempo lendo sobre a realidade do que acontece no mundo, e que poesia e
para desocupados. Mas 0 ato de fazer poesia ja vem de muito tempo, da antiga
Grecia lendiuia, quando a linguagem como urn todo apresentava urn carater
paetica. Os habitantes iam ate as oraculas, pequenas grutas au abismas, para
deciamarem aos deuses. E hoje, infelizmente, a poesia esta quase que restrita
aos pr6prias poetas, pais 0 interesse par ela e insignificante, por alguns pensarern
'MARICONI, Italo (org). Os cem melllOres poemas brasileiros do seculo. Rio de Janeiro: ObjCl"iva, 20016 PAES, Jose Paulo. Poesia para cr;a"qa~. Sao Paolo: Editora Giordano, 1996.
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que ela e insignificante. Se fosse mesma, naD teria resistido hi!. tant05 seculos,
mesma sem tant05 leitores quanta merecia ter.
Esta ideia de inutilidade da poesia vem da sociedade capitalista em que
vivemos, onde, como diz Paulo Leminski no mundo mercantil em que vivemos
tudo tem que ter um por que.
Do amor, par exemplo, tude 0 que sabemos e que ele existe. Claro. Nummundo assim, todas as coisas tern que ter urn parquEt Exatamente porque,no univers~ da mercadoria, tude tern que ter urn preco. Tudo tern que darluera. 0 porque e a luera, no plano intelectual das coisas.7
Os que acham que poesia naD serve para nada, querem viver como seres
inanimados, e realmente para esses ela naD serve para nada. " A funyao da
poesia e a fun,80 do prazer na vida humana", seu lucro est'; no poder de gerar
mundos novos, rnais criticos. "Quem quer que a poesia sirva para alguma coisa
nao ama a poesia.", ou talvez nao a entenda, nao consiga extrair 0 seu lucra.
Leminski brinca quando diz "que poesia e feita para poetas", ele explica
que: "Poeta neo e s6 quem faz poesia. ~ tambem quem tem sensibilidade para
entender e curtir poesia. Mesmo que nunca tenha arriscado um verso." A poesia
tern que estar presente tanto em quem Ie quanta em quem escreve.
Foi apenas no seculo XVIII que 0 texto poetico ganhou espa,o na literatura
infanti-juvenil. Isso porque, apos s revolta burguesa no seculo XVIII, foi que a
crian~a passou a ser vista como crian~a, pois ate entao nac havia uma divisao
entre crian~ae adulto. Ela vivia os fatos da realidade como a morte e 0 sexe sem
interven~aosem nenhuma ameniza~aeda realidade.
7 LEMINSKI, Paulo. Ensaios c Anseios Cripticos. Curitiba. Polo Editorial do Parana, 1997.
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Hoje, pelo fato de criang8 ser tratada como urn ser humano a ser criado,
maldada, protegida, sua inteligencia passou a ser substimada, como ocorre nas
escolas. E na eseela que a literatura passa a "adaptar temas e discursos aos
limites da compreensao infantil, delerminados muitos pel as restri¢es sociais que
as crianc;as sofrem do que par sua biologia em crescimento ...a
E sabido que a crian9a tem seu estagio de matura9ao fisica e psicol6gica e
como leitora, mas 0 que aconteee na literatura e urn absurdo. "Campeiam a
imbecializa9ao das f6rmulas verbais com diminutivos e adjetiva90es profusas e
construl,(oes frasais canhestras; a apresentaC;80 desavergonhada de absolutos
duvidosos e irretoquiveis sabre 0 real, desestimulando a reflexao e a critica."g 0
vocabulario e limitado, impedinda que a crian9a tenha acessa amplo a sua lingua
materna e partinda do pressuposta de que ela naD tem muita paciencia, as textos
siio curtos, consequentemente desinteressantes.
Segundo Bardini, a poesia infantil segue praticamente tres caminhos
diferentes: ap6s 0 seculo XVIII, com 0 novo olhar sobre a crian9a, tem-se a
adequ8y8o de criat;oes folcl6ricas de origem camponesa; depois a apropriayao de
versos para mostrar os deveres das crianyas e por ultimo sao as adaptayoes
atraves de trechos de poemas classicos, como Os Lusiadas. Ou seja, primeiro
temas a rima infantil que passa de gerayao em gerayc30 por intermedio das amas;
segundo temos "os escritores que vestem-se de pedagogos", como fez Olavo
Bilac, "para ensinar condutas dentro das convenyoes poeticas que empregam
para adultos"; terceiro e ultimo caminho sao os pedagog os que adaptam a poesia
; !JORDINI, Maria da Gl6ria. Poesia Infanti\' Sao Paulo, Editora Aliea. 1991.2& ed. p.6-7.
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culta para urn tamanho que seja adequado e suportavel au moralmente
conveniente as crianyas.
Atualmente, 0 que prevalece e a preocupante lalta de interesse dos
estudantes pela poesia. Como constatou Enzensberger (intelectual alemao),
atualizando seu discurso feite ha dez anos, pade-s8 dizer que as jovens nao
deixam de lado as computadores, a internet, as mensagens enviadas par
telefones celulares, as maquinas fotograficas digitais, tada 85sa tecnologia para
mergulhar no mundo do texlo poetico. 0 que temos hoje e uma garotada
consumista e mais preocupada com 0 corpo do que com a mente.
"0 volume medic de vendas de urn livro de poesias e, atualmente, dequatrocentos a oitocentos exemplares. Poucas eoisas sugerem quenassos estudantes e aprendizes, tornados por urna epecie de hipnozeem massa, possam abandonar seus gravadores cassete e suasmotocicietas. negligenciando flagrantemente seus deveres esportivos,consumistas e cORulativos para se entregarem sem inibic6es aosprazeres da lirica." 0
Entretanto com a Irieza que se vive nesse mundo globalizado e tomado por
tecnologias, a poesia pode ser um refugio, um aconchega, uma forma de
sensibilizar, ativar a imaginay8a e a criatividade.
Essa indiferenya em relayao ao texto poetico e devido a forma equivocada
com que a escola trabalha, pais ah3m de impor 0 ensino da poesia, sao usados
quase sempre, livros antigos e muita dificeis que nao fazem relay80 com 0
cotidiano dos jovens. Isso torna 0 texta poetico uma atividade desagradavel e sem
sentido.
"ld.lb.,p.7
15
Existe uma !ista de erras que as professores cometem ao trabalhar com 0
texto poetica, tais como: usar a poesia com funy80 moralista, para tratar de temas
como aborto, drogas; mostrar atraves do texto poetico uma moral; estudo
gramatical do poema, 0 campo do texto poetico e 0 senti mento, e na maioria dos
textos naD se pade fazer uma analise gramatical; a tradUC;8o das imagens
existentes no poema pelo professor e prejudicial para 0 atuno, pais corta a
oportunidade do aluno de expor a sua criatividade e a sua emOYclo. Ou a
interpretayao correta que 0 professor quer que 0 aluno tenha que deve ser igual
a que 0 professor tern.
A respeito da interpreta9lio correta Enzensberger cita Susan Sontag que
disse que atualmente a interpretagao se tornou reacionaria e sufocante "a
interpretay80 de obras de arte atualmente envenena nossas sensibilidades ..
Interpretar significa explorar 0 mundo em que vivemos e torna-Io ainda mais
pobre."" Nao se pode compreender 0 por que da interpretagao c~rreta "pois se
dez pessoas leem um texto literario, 0 resultado sera dez leituras diferentes".'2
Pois existem inumeros fatores que podem influenciar na leitura como hist6ria
social e psicol6gica do leitor, suas expectativas e interesses, seu estado de
espirito no momento, a situagao na qual esta lendo. A interpretagao correta e uma
forma de frustar a leitura que e Anarquica. Tendo assim, 0 leitor, sempre razao
pois ele usa 0 texto de modo que lhe for mais conveniente.
10 ENZENSBERGER, Hans Magnus. Mediocridade e laucura e oulros ensaios. Sao Paulo, Editora Atica,1995.11 SUSAN, Sontag, AgaillSf interpretation alld other essays, London, 1967, p.5-8(N.A)12 ENZENSBERGER, Ilans Magnus. Mediocridade e tal/cura e oulros eJ/Saios. Sao Paulo, Editora Atica,1995, p.16
16
Infelizmente, ainda S8 pode observar que a maioria dos livros didilticos tern
a intenCfao de pedagogizar a literatura . A poeta Ana Cri,stina Cesar, ironiza esse
livros.
Primciru lit;:ao
Os gcneros de pocsia sao: tirieo, satirica,
diJl,tico, epicD, ligeiro.
o genera Hrico com preen de 0 lirismo.
Lirismo c a tmdw;:ao de UIll sentimento subjetivo,
sincero e pessoa1.
t a Iinguagem do corat;:ao, do amor.
o lirismo e assim denominado porque em QuIros
t••:mpos os versos 5enlimentais eram dedamados
ao SOIll da lira.
o lirisllIo pode ser:
a) Elegiaco. quando trala de assunlos Irisles,
quase $cmprc a morte.
b) 13uc6licQ. Quando versa sobre assuntos
campcstrcs.
c)Er6tico, quando versa sobre 0 alnor .
o lirismo clcgiaco comprccndc a clegia, a nenia,
a cndccha, 0 cpilafio e 0 cpicCdio.
Elcgia e UIlHI pOI;:sia qu~ trdta d~ asslUltos tristes.
Nenia c uma pocsia em homenagem a uma
pessoa morta.
Era dcclamadajunlo a rogucira onde 0 cadaver
em incinemdo.
Endccha c uma pocsia que revela as dores do
eoral(ao.
Epililfio cum pequeno verso gravado elll pcdras
tUUlulares.
EpicCdio c uma pocsia ondc 0 poeta relata a vida
17
de uma pcsson morta. 13
Ao transformar 0 texto didalico em urn poema, a poeta faz uma ironia sabre a
maneira com que se trabalha 0 texto poetico nos livros didaticos, pais estes 56
ensinam conceito e classificaC;:8o, que as alunos geralmente decoram para
responderem na prova.
Ivete L C Wally fala das "anti-li90es da escola" em relac;ao a literalura e
principal mente ao texto poetico. Segundo ela, no poema de Ana Cristina Cesar
essas "anti-lic;5es" ficam claras, pais
-As palavras rnais presentes no poema pertencem ao camposemantico da merte: triste, marte, morta, cadaver, dores, pedrastumulares. Ao dar releva a esse contexte, 0 poema identifica-o a liy.3o deliteralura, que, nao por aeaso, sena 0 lugar da marte da literalura, de seuaprisionamento" 14
A impressao que temas e a de que a escola assassina a literatura, nao
consegue expor a que de bam ela tem. Par isso, a autora fala da morte da
literatura porque ela e obrigatoriamente estudada em conceitos para a prova. E
essa obrigatoriedade causa urn sentimento de repulsa nos estudantes.
Segundo Ivete Walty, nao e a escola que assassina a literatura, mas 0
excesso de didatismo, a burocracia e as regras rigidas. 0 discurso didatico
esvazia a texto literario usando-o como urn meio de ensinar regras morais, refletir
sobre drogas ou aborto na adolesce!ncia e, principalmente, ensinar regras
13 CESAR, Ana Cristina. A lells pes. Sao Paulo: Brasiliense, 1992,83 ed. p.S8.
14 WAL TY, Ivete L C. Litcratura e Escola : Anti-li~6es. In: EVANGELISTA, Aracy Alves
Martins (org.). A Escoiarizm;t1o da Lei/ura Lileraria. Bclo Horizonte: AuWntica, 1999. p.SO
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gramaticais. Mesma assim 0 mediador pode perder 0 controle, pais com a
polissemia e as lacunas a serem preenchidos pelo leitor, outros sentidos poderao
ser dad os, fugindo dos objetivos da escola. Mas esta escapada que 0 leitor mais
atenta pode fazer sozinho, deveria ser a principal atividade que a eseela poderia
desenvolver para que a leitura S8 tornasse mais interessante para as estudantes.
Observemos agora algumas praticas equivocadas com textos poeticos
encontrados em urn livre didalico.
No livro didatico ALP, "Analise, Linguagem e Pensamento", 8a serie, E
apresentada a figura de linguagem "eufemismo": "Muitas vezes, as pessoas, ao
precisarem referir-se a eoisas consideradas desagradaveis, usam certas palavras
em lugar de Qutras para sU8vizar a expressao e evitar constrangimentos. Essa
figura de linguagem chama-se eufemismo.,,15
Pede-S8 para ler tres trechos de poemas: um de Vinicius de Moraes, um de
Vicente de Carvalho e outro de Alvares de Azevedo. Tres poemas que tratam da
morte. Logo ap6s os poemas vern as seguintes quest6es: "Identifique os
eufemismos nesses trechos. Qual 0 sentido que apresentam ? Por que os
escritores muitas vezes utilizam 0 eufemismo para apresentar esse assunto?"
Como se pode perceber, foram usados trechos de tres gigantes da literatura
como pretexto para verificar a compreensao de um conceito pre-determinado de
uma figura de linguagem. Primeiro erro: 0 usa de trechos; segundo erro: usar
poemas como pretexto para ensinar figuras de linguagem; mas 0 principal erro foi
l'c6cco, Maria Fernandes. Alp novo: ami.lisc, Iinguagem c pcnsamentol Maria Fernandes C6cco, MarcoAntonio Hailer. -$.;0 Paulo:FTD, 2000- (col~i'lo ALP novo)
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a falta de explorac;aada simbalagia das paemas, a que levau a perda de fun~aa
do texta paetica e a impassibilidade de atribui~aa de sentidas. Em sintese, a texta
fai reduzido a objeto portador da figura de linguagem ja determinada- eufemismo-
e 0 leitor reduzido a agente passivQ a quem cabe verificar a presenc;a dessa
figura.
A crianc;a em contata com 0 texto poetico e "tamada par vivencias que a
distanciam de seu ambiente familiar, IingOistico e social".16 E esse transporte para
um outro mundo faz com que a crianc;asinta prazer e nao temar ao diferente. Per
isso ela nao deveria ser poupada do problematica, do inapreensivel, pais este
contato com as dificuldades faz com 0 que 0 leitor se sinta atraido a querer
sempre mais.
Apesar das sele~oes de textas paeticas nos livras didaticas estarem senda
menas pedagagistas, priarizanda a paesia culta, issa naa significa que as valares
morais e de sentimentos elevados nao deixaram de ser versificado para serem
apresentados em dias de comemorac;oesna escala, fazendo com que as crian9as
tenham uma na~aa errada da fun~aa paetica da linguagem.
Por isso nao e de se admirar que urn estudante que teve a sua infancia em
contato com as can90es folcl6ricas entre familia e amigos, saia da "escola
rejeitando inteiramente 0 que aprendeu a ver como poesia, gra9as ao esfor90
educativo de seus professores-poetas,,17
E e fato que 0 poema, mesmo presente nos livros didaticos, e pouco
trabalhada em sala de aula, senda entaa freqOente a pr6pria crian~a fazer a
20
descoberta da poesia sem a intervenc;:ao da escola. IS50 foi constatado a partir de
uma pesquisa que Ligia Morrone Averbuck fez em escolas publicas de Porto
Alegre. Ela comprovo que 0 que as crianc;:as entendiam par poemas eram as
poemas folcl6ricos, aprendidos com a familia.
Esse estreito conhecimento que a crianc;:a tern do texto poetica, atesta a
fraca participac;:ao da escola na formac;:ao do 905tO pelos poemas " e sua
incapacidade absoluta de satisfazer as necessidades de leitura existentes entre as
jovens. Conseguir que as jovens convivam com a poesia sera dar-Ihes
oportunidade de equilibrar. atraves das ressonfmcias poeticas, as proprias
emoc;:oes. n18
A poesia infantil e rnais urna viti rna da super proteyao da infancia, e acaba
"par perder sua natureza poetica, nurn balbucio meloso de emoc;:oes au na voz
estrondejante que exata deveres civicos ou familia res, como se pede perceber ne
texto de Olavo Bilac:"'9
Ave-Maria
Meu filho! tennina 0 dia ...
A primeira cslrcla brilha ..
Procura a tua cartilha
E reza a Ave-Maria
() gada volta aDs currais ...
o sino canta na igrcja ...
16 nORDINI, Maria cia Gloria. roesia Infantil. Silo Paulo, Editora Atica, 1991. za cd.17 Id. Ib.,p.53II Id. Ih.,p 54191d. Ib.,p 8
21
Pede a Deus que Ie protcja
E que de vida a teus pais!
Ave-Maria!... Ajoelhado,
Pede a Deus que, gcncroso,
Tc fa9ujusto c bondoso,
Filho born c homcm honrado;
Que tells pais conserve aqui,
Pam que possas, urn dia,
Pagar-Ihcs em alcgria
o que sofrerum por Ii.
Reza e procura 0 leu leila,
Para adonncccr contcntc;
Dormiris tranqiiilamente,
Sc disseressatisfeito:
-"Hojc, praliquei 0 bern;
Nao live urn dia vazio,
Trabalhci, nao Cui yadio
E nao liz mal a ninguem'';!o
Este poema de Olava SHac nada mais e que urn born exemp[o de poema de
boas maneiras, como urn born tilho deve se comportar, rezando par seus pais para
que Deus os proteja, que seja sempre um fi1hobondoso e honrado, pois seus pais
sofreram par ele, e ele deve pagar esse sofrimento com alegria e devo~ao.
Usaram os versos para fazer com que a leitar ande na linha.
o principal problema do texto poetico voltado para a crian,a esta nesta
ideia de que poesia infantil tem que ser limitada, cria-se a imagem de ignorancia e
20 In: __. Poesias infantis. 18. ed. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1952. p.70.
22
incapacidade da crian9a. Como pade ser abservada no paema ingles "Simplicia e
o padeiro".
Simplicio C 0 plldciro
Viu Simplicio 0 bom padeiro
13no cam;nho da fe;ra.
Disse 0 Simplicio ao padeiro,
dL'SSll torta quero a beira .
Disse 0 padeiro ao Simplicio,
Illostre primeiro os dinheiros.
Dissc Simplicio ao padeiro,
e que eu nao lcnho os meios.
Mel! Simplicio roi a pesc..'l
:i carra de uma balcia.
Toda agua que enconlrou
foi a do balde de areia.
fo; 0 Simplicio olhar
se amcixa da no cspinheiro;
Tanto encheu de espinho os dedos
que s6 se ouyiu 0 berreiro
I3uscou agua na pcneira
mas logo escorreu tudinho.
E agora 0 pobre Simpliciaill a YOCts adeusinho?1
21 Simple Simon and the Pieman. In: OPTE., lona and Peter, cds. The oxford Imrsery rhyme book. Oxford,Oxford University Press, 1979. p. 43. Traduyao de Maria da Gloria Bordini
23
Nesse poema a crianya e gravemente insultada de ignorante, como
que 0 Simplicio pode comprar uma torta sem dinheiro? Como que urn simples
Simplicio vai cayar uma baleia, S8 e necessario varias pessoas e equipamentos
para se capturar uma. A sequEmcias das ac;oes do persona gem nao tern 16gica.
desde quando ameixa dci no espinheiro, e se busca agua em peneira? Por que 0
nome do poema e Simpllcio e 0 padeiro se 0 padeiro s6 aparece no inicio do
poema, sera que e para rimar?
Outra questao a se entender em relayM ao texto poetico e que "fazia parte
do nosso sistema educativo (de fins de seculo XIX ate os anos 30/40) a
memorizal(ao de poemas que deveriam ser ditos pelos alunos nas aulas de leitura
au em datas festivas."22 Muitas pessoas que estudaram nesta spaca sentiam raiva
ou vergonha por ter que recitar. Esse ato obrigat6rio fez com que detestassem a
poesia.
Por Dutro lado hoje a poesia e entendida como "alga subjetivo e pessoal
que nao deve ser imposto a crianc;a .. pois s6 sera gratificante se resultar em um
ge5to espontElneO, feito com entusiasmo au alegria. No passada, panem, os
objetivos eram outros,,23
Um dos primeiros poetas infantis foi Olavo Bilac, que ficou ate as anos
50/60 sendo estudado nos manuais escolares. Do pensamento
materialista/positivista do fim-de-seculo, tinha como vi sao de homem, "por sua
propria natureza, estava fatalmente condenado a n;;o- realizayM de seus ideais e
22 COELHO, Nelly Novaes. UteralUra lnjantil: Teoria -Amilise- Didtilica. Silo Paulo, Editora Atica, 1997,6"cd.
24
a destrui9ao irremediavel da morte.,,24 Porem sua poesia nao tern visao de vida, e
negativista, frustrante e triste.
Ha algumas caracteristicas das poesias do passado que insistem em
aparecer nas poesias mais atuais. Caracteristicas estas que sao negativas para as
criangas, porque as tempos sao Qutros, a forma de pensar e compreender 0
mundo e outra.
Dentre estas caracteristicas negativas da poesia atual temas: "as cliches
poeticos na poesia da natureza"; os poemas que mostram as regras de boas
maneiras Ua vista em Ave Maria); as poemas que usam "Iinguagem pueril", au seja
infantilizada, que visa facilitar a comunicayao. (Simplicio e 0 Padeiro)
Outra questao e a insistencia em trabalhar textos poeticos narrativDs.
"Dissemos que 0 poema narrativo nao e dos mais aconselhiweis para despertar 0
gosto da crian~a pelo poetico, uma vez que a comunica~ao poetica deve atuar
muito mais sobre as sensayaes/ sentidos da crian~a do que sobre seu
entendimento.,,25
Textos poeticos antigos, de dificil compreensao e fora do cotidiano dos
jovens sao mais um motivo para que os estudantes do ensino fundamental nao
gostem de poesia. A cultura tradicional nao deve ser deixada de lado, mas e
necessario procurar alternativas para que 0 texto poetico seja mais acessivel aos
jovens.
13 Id. Ib.,p2022~ COELlIO, Nelly Novacs. Literafllra In/antil: Teoria -AnJlise- Dida/ica. Sao Paulo, Editora Atiea, 1997,63cd.25 KIIEDE, Org. por Sonia Salomao. Lilcratura infanto-juvenil: urn genero polcmieo. Porto Alegre, MercadoAbcrlo,1986.2acd.p.128
25
Quem disse que crianc;:a nao gosta de poesia?
Talvez a parte mais sacrificada da literatura seja a poesia. Isto
porque mais uma vez aparece a prerrogativa de que as crianyas nao gostam de
poesia. Prerrogativa falsa que pode ser quebrada quando S8 conversa com uma
crianc;a e percebe-se que a crianc;a tern tendemcia a gastar de poesia. Porque a
infancia e cheia de imagens, fantasia e sensibilidade como a poesia. Qutros
elementos nesse elo sao 0 ritmo e 0 aspecto ludico do texto poetico.
o ritmo, e!emento essencial a tada arte e it poesia, devera ser fortementemarcado no poema para crianQ8s. A rima, que naturalmente e urnacessorio na poesia, agrada-Ihes muito. Esse elementos marcam maisurna vez. 0 objetivo ludico da criany8, diante sobretudo da poesia.26
Quando 0 autor Jose Paulo Paes quis publicar 0 seu primeiro livro de
poemas infanto-juvenis, foi barrado par um editor especializado na area que disse
que "a poesia nao atrai as crianc;as de hoje, que elas so gostam de historias em
prosa , com personagens, e emedo de comec;o, meio e fim."27 Procurou outro
editor e seus livros fizerarn rnuito sucesso que desrnentiu essa tese de que crianc;a
nao gosta de poesia.
Essa ideia de que crianc;a nao gosta de poesia vern da falha na escolha do
poema e da maneira em que e trabalhado 0 poema em classe. A falha na escolha
26 CUNHA, Maria Antonieta Annmes. Litcratura Infantil: Teoria e Pnitica. Silo Paulo, Editora Atiea, 1997, 16.ed.p.11927 PAES, Jose Paulo. Poesia para criam;as. Sao Paulo: Editora Giordano, 1996
26
do poema e decerrente do direcionamento dado a crian9a, que sao poemas com
inten90es educativas e moralizantes, criados par educadores, e nao par paetas.
Onde buscar entaD a poesia para criangas? Estao surgindo bans autores
que nao estao S8 prendendo a esse conceito upoemas infantis" e sim produzindo
poemas que provoquem a sensibilidade e a fantasia.
Nao ha urn criteria que conceitue poesia facil e dificil para crian9as e
adolescentes, par isso e importante que eles tenham aceSSQ diversificado aos
textos poeticos. 0 facil e 0 dificil, 0 lon90 e 0 curto, rimando ou nao. 0 dificil pode
naD ser entendido a priori, mas posteriormente, nao sendo isso urn impecilio para
S8 gostar de poesia, a nao ser que seja constante esse cantato desestimulando a
leitura.
A criantya pensa par imagens, sons, ritmos, todos esses aspectos ludico
que a poesia apresenta. A poesia elevada. bela, verdadeira obra de arte, e capaz
de provocar emoc;oes como sensibilidade e encantamento para a crianc;a.
as poemas modernistas sao os que agradam rnais por ser 0 que rnais se
aprexima da experiencia infantil, e 0 que mais se aproxima das cantigas de reda,
em que as crianyas tern mais contato antes de entrar na escola.
Gloria Maria Fialho Ponde acredita que a poesia e urn dos meios de se criar
novas linguagens, e que a crianc;a com sua percepC;ao diferente do adulto e capaz
de se sensibilizar intensamente com a poesia. E que a crianya perde essa
sensibilidade a partir da alfabetizagao, onde as formas sao linea res, 0 sentido e
apreendido palavra por palavra e nao como urn todo, como aeonteee no texto
27
poetico, "0 poema nao diz 0 que e e sim 0 que poderia ser, transfigurando a
realidade pel a ato da criac;ao".
A linguagem da poesia e economica porque opera basicamente com
imagens e simbolos, abolindo inclusive, nos tempos modernos, palavras
de ligacao e tudo a que e superfluo, para maior identificacao do leitar com
a emocao do poeta.28
o texto poetico e urn caminho para fugir urn pouco da linearidade comum
dos textos e S8 ter novas leituras de mundo. As palavras passam a ter sentidos
diferentes do convencional do que estamos habituados, ao inves de ser signa ela
passa a ser simbolo. Embora a palavra exprima a poesia, a poesia nao esta
limitada a palavra, e sim ao todD.
A razao principal para essa crenC;8 de crianyas e adolescentes nao gostem
de poesia esta em outra questao.
Uma pesquisa feita entre professores de Ensino Fundamental e Medio
constatou que os professores nao gostam de trabalhar poemas na sala de aula,
Nilo tem uma pratica de trabalho com 0 texto poetico. Alem disso professor nao
sa be como explorar um texto poetico, nao e ele quem escolhe os textos a serem
trabalhados em ciasse e sim 0 autor do livro didatico adotado.
Acredita-se que 0 professor da ciasse e quem deveria escolher os poemas,
porque e ele quem conhece as seus alunos e poderia escolher poemas de acordo
com 0 perfil da turma. Especialmente em se tratando de poema, a professor tern
28 KHEDE, Org. por Sonia Salomilo. Literatura infanto-juvenil: urn genero polemico. Porto Alegre, MercadoAberto, 1986. 2a ed. p.128
28
que conhecer e estar sensibilizado com a que vai oferecer para as seus alunos
para que consiga sensibilizar seus alunos tambem. Isso porque a poesia nao
pode ser tratada como urn texto que tern que ser entendido, mas poesia e para
ser sentida muito mais do que compreendida.
Urn outro agravamento para justificar a falta de interesse dos estudantes
pelo texto poetico e a questao da obrigatoriedade. Quando a escola trabalha com
a texto poetica, as menores de idade nao tern urna livre escolha do seu material
de leitura, alem de terem de if obrigatoriamente todos os dias para a escola, as
alunos tern que interpretar poemas que em quase cern par cento das vezes, nao
demonstraram qualquer tipo de interesse anterior.
o texto poetico nao pode estar ligado as atividades obrigatorias, tais como
ditado, memorizac;ao, biografia do autor, etc. Ao Contrario, existem varios recursos
que podem ser trabalhados com a poesia: musica sugestiva, boas ilustragoes,
slides, gravaC;ao do poema par urn grande interprete, etc. Mas tarnbern urna leitura
agradavel pode ser 0 suficiente para criar 0 gosto pel a poesia.
Maria A. A. Cunha sugere que:
... muito agradavel ao aluno e verdadeiramente educativo e partir-se dopoema para novas formas de expressao. Sob a sugestao do texto, osdesenhos, as montagens, a cora falado, a tentativa de criacao de novaspoemas, sao meios de desenvolver a criatividade das criancas.29
E preciso que exista esse empenho em levar a poesia para a sala de aula,
todas as estrategias sao validas para que seja despertado nos alunos a
29CUNHA, Maria Antonicta Antum.'S. Literatura lnfdntii: Teoria c Pnitica. Sao Paulo, Editora Atica, 1997, 16.cd.p.119
29
sensibilidade do texto poetico. Sendo na maioria dos casas a escola 0 unico meio
de cantata entre a aluno e a livre e ao texto literiuio, S8 este contato for traumatico,
depois de cumprir a sua obriga~ao de aluno com 0 livre, ele nunca mais ira sequer
esfolhea-Io.
EM BUSCA DE UMA OUTRA ABORDAGEM DO TEXTO
POETICO NA ESCOLA
Quando a produ9Bo poelica nBO subeslima a capacidade do pequeno leilor,
e 0 trata com a mesma capacidade de urn adulto e que temas urn texto de born
nivel como 0 "Nada e coisa nenhuma" de Sergio Caparelli:
o Nada e Coisa NenhulIlu
o Nada e 0 Coisa Ncnhuma
sainun a parte alguma.
Demro de um emoornaI
o Nada pos coisa ncnhumll
e num cmbrulhodejornal
Coisa Ncnhuma levou nada.
Quando chcgaram a cstrada
que leva a parte alguma
o Nada disse a Coisa Ncnhuma
• Estc passeio vai dar em nada!
E ao tomarcm a Irilha
Encontraram com Ningucm
Que vinha de maos vazias
Scm dividas e sem vinlem .
30
- Por favor, como c seu nome?
Pcrgunta-lhc Coisa Ncnhuma.
Sou 0 de nome ncnhum
Ningucm ou qualqucr urn
Entendi Ilada, Ninguem,
Adeus c passnr bern !
Dc volta:l !ugar ncnhum
o Coisa Nenhwna e 0 Nada
rcpaniram urn menos urn
e correram, as gargalhadas.virando som bra de sombra,
virando pocira de estrada.30
Uma caracteristica de uma boa poesia infantil e a possibilidade de
preencher as lacunas do verso com a imaginar;;ao do leitor, e como explica Maria
da Gloria Bordini:
Esse carcSiter inacabado do mundo ficcional, portanto, mesmo que a
crian98 nao 0 perceba, a incita a constituir 0 seu imaginario e aciona-Io e
transforma-Io, colabOrando para que ela se reconher;8 como urn ser que
pensa, que sofre ou se alegra. que deseja e que possui um acervo de
lembrancas com as quais pode enfrentar situacOes problematicas novas
Pode-se observar os efeitos das lacunas textuais no poema "Excursao" de
Sergio Caparelli, que permite que possamos viajar no onibus escolar, imaginar
todas as a96es dos passageiros e a paixao de urn estudante, entre urna linha e
outra.
31
Excursao
o unibus roncava na subida
c como era diticil 0 arnor de Mariana,
de blusa mla ejeans apertado!
A viagem nem tinhn com~ado
c eu ali, em meia ao vozerio, cantava
batcndo nos bancos,
en profcssora pl.>diuum poueo de silcllcio,
pelo arnor de Deus, vou ficar surda,
e a lunna batucava e balucava
c batucava no meia peilo
urn cora~o pedindo eslrada
c IU, fiem Ie ligo,
convcrsavas com Luisa, ajcitando uma rosa branca
nos teus cabclos lisos,
6 Mariana, ve se me ve, po, estOli aqui,
loueo de voce, c me catava,
ouvindo 0 onibus cheia de arnor peln estrada
que dianlc dele se torcia
m<lchucada.J1
Lucia Pimentel Goes acredita que todo 0 prazer pela leitura de textos
poeticos pode ser resgatado pelo intermedio do proprio professor, com promogao
de encontros sabre poesia, clube, cartazes contendo poesia. concursos,
entrevistas com paetas, audig80 de discos com poesia, debates. Incentivar os
alunos a terem a sua estante com livros de poesias, ou confeccionar urn caderno
com as poesias preferidas.
30 In: --. A jibOia Gabriela. Pono Alegre, L & PM, 1984. P.2D-131 In: --. Restos de area-iris. Porto Alegre, L & PM, 1985. p.48.
32
SONHOS OA MENINA
A flor com que a men ina sonhaeSHi 110 sonho?ou na fTonha?
Sonhorisonho:
o vento sozinhono seu carrinho.
De que lamanhoseria0 rebanho?
A vi7.inhaapallhaa sombrinhade [cia de amnha ...
Na lua ha um ninhode passarinho.
A lua com que a men ina sonhaeo linho do sonhoou a lua da fronha?2
o poema "Sonhos da Menina", de Cecilia Meireles, inspira-se no cotidiano,
mas com profundidade e lirismo. Se organiza como as sonhos, sem uma
sequencia 16gica.
o ritmo do poema S8 da com sons que S8 respondem como eeas. As rimas
externas aparecem em sonha, fronha; sonho, risonho; sDzinho, cam'nho; tamanho,
rebanho; vizinha, sombrinha; apanha, aranha; ninho, passarinho. Nessas palavras
podemos observar a insistemcia no som "nh"
o lexica se constitui de palavras simples e conhecidas pelo leitor. Os versos
tem constrUl;:5es sintaticas diferentes, com uma pontua9ao variada, uso de
33
interroga90es na 1a, 4a e 7aestrofes, indicando as duvidas entre a sonho e a
realidade.
Visual mente, as versos naD tern 0 mesma tamanho, e 0 poema e formado
por dais tercetos, quatro distico e urn quarteto, ou seja, tambem varia na
distribuiyao das estrofes.
1- Uma forma de encaminhar 0 trabalho com esse poema, e pedir para que 0
leitor represente 0 poema par meio de urn desenho que pode ajuda-Io a
perceber 0 jogo entre uma fronha estampada que cobre 0 travesseiro cnde a
menina dorme e os son has que a imagem provoca.
2- Uma Dutra atividade e solicitar ao Jeitor que destaque as versos em que
prevalece 0 sonho e em que prevalece a realidade.
3- E importante que 0 aluno/leitor perceba que a repeti~ao do som "nh" reproduz
a monotonia das can90es de ninaf. 0 professor pode pedir a turma que
destaque essa repeti~o e sugenr que outras palavras sejam incorporadas ao
conjunto. A partir desse novo conjunto as alunos podem construir par6dias33 do
poema de Cecilia Meireles.
32 MEIRELES, Cecilia. 011 isto Oil aqllila. Rio de Janeiro: Nova Fronleira, 1990. 50 Ed.33ParOdi:1: urn:! non e diferentc maneira de Ier 0 cOIwencionai
34
QUEM SOU EU?
Visto por inlciroo que pisa 0 chiloMas !lao sou intcira nao
NiiolllcdccapitcPen sando que cu fal~a:Da cauda fa~ocabcva.J4
mllJ
Em dois tercetos, Jose Paulo Paes consegue transformar um jogo de
adivinhayoes em urn poema. Com versos livres, rimas internas e extemas, a jogo
com as palavras faz com que a leitor tente matar a charada.
o titulo do poema e uma pergunta: "Quem sou eu ?", pergunta e5sa que
remete ao "0 que e 0 que e? " que anteeede normal mente as pistas das charadas.
o lexico e simples, facilitando a compreensao da leitura.
E um poema divertido e inteligente ao mesmo tempo. Para um leitor
iniciante de poemas e urn 6timo convite para a leitura, porque 0 texto poetico nao
deixade ser umjogo de adivinha90es.
1- Uma atividade que pode ser desenvolvida, e a professor dar urn conjunto
de adivinhas para as alunos rescreverem em forma de tercetos rimados.
34 PAES, Jose Paulo. Umpassarillho mecomoll. Sao Paulo: Editora
35
TCnl tutJua vcr
A pocsiatem tudo avercorn tua dor e alegrias,com cores, as farmas, os cheiros,os sabores e a mllsicado mundo.
A pocsiatern tudo avercom 0 sorriso cia crianr;a,o dialogo dos namorados,as higrimas dianLe da morte,as olhos pedindo paD.
A pocsiatcm tudo a vcrcom a plumagem, 0 voo e 0 canto,a veloz acrobacia dos peixes,as cores todas do areo-iris,o riLmo dos rios e cachoeiras,o brilho da lua, do sol c das cstrelas,a explosao em verde, em flo res e fru105.
A poesia- e sOahrir os ethos c vcr -tern Ludo a vcrcom tudO.35
No metapoema de Elias Jose, "Tem tudo a ver", a poesia e apresentada
para 0 leitor que ja deve ter 5e questionado: "com 0 que tern a ver a poesia?". Em
cada estrofe 0 leitor vai descobrindo que a poesia tern tudo a ver com a nossa
vida, nosso sentimentos, cotidiano, aryoes.
Sao quatro estrofes compostas por versos livres, com rimas internas.
Vocabulario de facil compreensao com refrao que se repete 3 vezes: " A poesia
36
tern tudo a ver com ". As virgulas freqOentes funcionam como uma enumera980
das respostas possiveis a pergunta implicita no titulo.
A sinestesia esta presente em: as formas, as cheires, 0$ sabores e a
musica do mundo, ou seja, quase lodos cinco sentidos do ser humane que sao
citados tern a ver com a poesia.
E urn 6timo poema para mostrar que a poesia tern tudo aver canasco.
Porque sorrimos, choramos, cantamos, nos alegramos, vivemos enfim, porque a
poesia tern tudo a ver com tudo.
1- Uma atividade que pode ser leita e pedir para os alunos darem um outro titulo
interrogativQ para 0 poema.
2- Perguntar quem e 0 interlocutor do poema.
3- Que versos S8 repetem em todas as estrofes?
4- Quais os trechos do poema que mostra a sinestesia?
J5 JOSE, Elias. Litera/lira em minim casa Palavras de CllcallfamentQ. Poesias. Editora Modema.
37
SONHO
Urn dia os homens acordaramc cstava tudo difcrcntc:das armas atomicas nem sinal haviae todos falavam a mesma lingua,falavam poesia. Quem visse a Terra do altonem reconheceria,cram campos e campos de trigoe corayoes de pum mel. E [oi uma felicidade tamanha,nos jornais nem urn 56 crime,que contando ninguem acreditaria.36
No poema "Sonho", de Roseana Murray, sao descritos sonhos impossiveis,
como todo mundo falar uma mesma lingua, a poesia, em urn mundo repleto de
paz e prosperidade, sem crimes.
Urn poema utopico, que utiliza a metMora "corayao de puro mel" para se
referir a ausencia de maldade no mundo inteiro.
E composto apenas par uma estrofe de doze versos livres, com rimas
internas e externas. 0 tom prosaico prevalece desde 0 primeiro verso: "Urn dia"
1- Para que 0 aluno perceba essa forma de poema que tern uma estrutura
mais em prosa, 0 professor pode ler texto e pedir a turma que tente
organiza-Io em versos.
2- Pode-se pedir para 0 atuno fazer uma comparag3o desse poema
contemporaneo e um poema tradicional. Para que 0 aluno perceba a
diferenga entre urn poe rna tradicional que tern versificagao, esquema
ritmico e rimico e um poerna contemporaneo que pode usar as mesmos
recursos do poema tradicional como pode rompe-Ios.
36 MURRA Y, Roseana. Utero/llro em minim caso. Palavras de encantamento. Poesias. Editora Modema.
38
MISTERIOS DO PASSADO
Quando Cabral 0 desc;obriu.sera que 0 Brasil sentiu frio?
Diz a hist6ria que as indios comeram 0 bispo Sardinha.Mas como foi que eles conseguiram abrir a latinha?
Qual 0 mais velho, diga num segundo:D. Pedro I ou D. Pedro II?
Dc que cor era mcsmo (ell nllnea deeoro)o cavalo braneD do Mareehal Deodorof'
Jose Paulo Paes, em UMisterios do passado" ,brinca com a hist6ria do
Brasil, nurn jogo de perguntas que serao respondidas pela imaginayao e
conhecimentos hist6ricos do leitor.
A pergunta "Quando Cabral 0 descobriu, sera que 0 Brasil sentiu frio?" Essa
pergunta esta relacionada ao fata de os indios terem que colocar roupa quando as
portugueses chegaram aqui, pois ate entao as indios nao vestiam Toupas.
Na segunda estrofe, 0 autor brinca com 0 significado da palavra sardinha,
ja que as indios comeram a bispo Sardinha, (Sardinha, com letra rnaiuscula, urn
substantivo pr6prio) se eles nao tinha como abrir a lata de sardinha (com letra
rninuscula, urn sUbstantive corn urn)
37 PAES, Jose Paulo. l.ileroturo em minho coso. PolOllros de ellcontamelllQ. Poesias. Edilorn Modema.
39
Na terceira estrofe tern S8 urna ambigliidade com 0 segundo (dig a em urn
segundo), numero ordinal, e II, (D. Pedro II) algarismos romanos, que deixa 0 leitor
confuso podendo errar na resposta.
E na ultima estrofe a resposta ja esta na propria pergunta.
1-Uma atividade que pode ser desenvolvida e pedir que as alunos peguem temas
que estao sendo vistas em Hist6ria, e transforme as fatos hist6ricos em versos
com perguntas sobre estes fatos. Allam de ser urna atividade interdisciplinar , as
alunos farae parodias de textos informativos transformando-as em textes liten:'irios,
jil pode ser urn gancho para os alunos entenderern 0 P6s- Modernisrno.
40
You-me cmbora pm Pasargada
Vou-me embora pra Pasargada
La sou amigo do rei
La tcnho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasargada
Vou-me cmbora pTa Pasargada
Aqui eu nao SOli feliz
La a existcncia c uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha c f..,lsa demente
Vem a ser contraparcnte
Da nOTa que eu nunca live
E como raTei ginaslica
Andarci de biciclcta
Montarci em burro braba
Subirei no pau-dc-seba
Tomarci banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na bcira do rio
Mando chamar a mac-d'agua
PTa me contar as historias
Que no tempo de eu menina
Rosa vinha me cOnlar
Vou-me embora pm Pasargada
41
Em Pasargada tern tudo
E culra civilizacrao
Tem um proccsso seguro
De impedir a concep~ao
Tern telefone autornatico
Tern alcal6ide a vontade
Tem prosLitutas ixmilas
Para a gcntc namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de nilo tef jeito
Quando de neile me def
Vontadc de me matar
- I,a sou amjgo do rei -
Terei a rnullier que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra PasargadaJ8
No poema "Vau-me embora pra Pasiugadau• de Manuel Bandeira, pode-se
perceber que visualmente as versos nao tern 0 mesma tamanho. Mas
sonora mente sim. Ha rimas externas ricas e pobres. Rica em: rei e escolherei; e
pobre em: inconseqOente e demente.
Neste poema e possivel ir para um lugar chamado Pasargada, onde epossivel se fazer de tudo, diferente do mundo real, onde nao se pode ser tao feliz.
J! AANDEIRA, Manuel: ESlrefada vida inleira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995,
42
Em Pasargada e possivel lazer ginastiea, andar de bieieleta, montar em
burro brabo, subir no pau de sebo, tomar banho de mar e ainda ouvir hist6rias.
A90es que talvez nao possam ser realizadas no mundo real.
Em Pasargada pode-s8 namorar muito sem ter filhos, e quando a
depressao chegar sempre haven:i uma companhia. Pasargada e uma fuga onde
se pode tudo.
1- Uma atividade que poderia ser leita e pedir para 0 aluno eitar um lugar que
seria a sua Pasargada, 0 que ele faria de diferente neste lugar? E se este lugar
existe?
43
Convite
Poesiae brincar com palavrascomo se brincacom bola, papagaio, piao.
Sequebola, papagaio, piande tanto brincarsegastam
As palavras nao:quanta mais se brincacom elasmais novas fiearn.
Como a agua do rioque e agua sempre nova.
Como cada diaque e sempre um novo dia
Vamos brincar de poesia?
o poem a escolhido para a conclusao da metodologia eo "Convite", de Jose
Paulo Paes, que demonstra bern como que 0 texto postieD funciona. Da mesma
maneira que S8 brinca com as brinquedos, pode-s8 brincar com as palavras ,
porem com urna vantagem . os brinquedos S9 gastam com 0 passar do tempo
enquanto as palavras, quanta mais S8 brinea com elas, mais novas fiearn.
A mistura de objetos concretos no poema , e mesma urn convite para urn
leitor iniciante S9 interessar pelo texto poetico.
44
Por meio da metodologia aplicada nestes poemas pode-se perceber que a
analise literaria deve ser faita e aproveitada em uma metodologia que possa ser
trabalhada de uma forma prazerosa fazendo com que 0 aluno S8 interesse mais
pelo poema e goste de fazer as atividades relacionadas a ele.
o professor devera ser urn mediador entre 0 texto poetico e 0 aluno, e tazer
com que este cantato seja prazeroso para que esta rela~o entre 0 aluno e a texto
poetico continue mesmo depois do periodo escolar. 0 professor devera saber
adequar as temas dos textes poeticos 80 seu publico, mas isso nao significa que a
professor deva subestimar a inteligencia do leitor iniciante. A limitaC;:Elo de faixa
etaria deve ser quebrada pois texlos que sao voltados para crianc;as tem uma
qualidade literaria lao boa que pode ser trabalhado com as leitores mais velhos e
vice-versa, pais ha poetas que sao vo/tados mais para adultos, mas que acabam
por conquistar 0 publico infantil.
45
CONCLusAo
Neste trabalho procurou-se mostrar como que a literatura infantil safre com a
questao da escolarizac;ao da literatura infanto-juvenil que S8 reflete tambem no
texte poetico. Foi exposto algumas definigoes que alguns poetas deram para a
poesia, para S8 compreender a poder que ela tern sabre nossos sentimentos.
Sao apontados alguns motivos pelos quais as estudantes de hoje nao S8
interessam pelo texte poetico. Uns dos motivos e a forma equivocada com a qual
a escola trabalha com 0 texto poetica, essas formas erradas com que a escola
trabalha sao apontadas, inclusive alguns exemplos de como as livros didaticos
vern trabalhando com este tipo de texto.
Foi feito urn percurso desde 0 camsgo do seculo para ilustrar como que 0
texto poetico foj trabalhado e como ele ainda continua sendo trabalhado na escola.
E pesquisas que mostram que muitos professores nao trabalham com 0 texto
poetico porque nao sabem como trabalhar com ele. E que 0 conceito de poesia
para alguns alunos sao as cantigas de roda que eles aprenderam quando crianc;:a.
E sao apresentados alguns motivos pelos quais as crianc;:as gostam de poemas, a
musicalidade, 0 ritmo, as rimas sao alguns dos atrativos que fazem com que os
leitores mirins 58 sintam atrafdos pelo texto poetico.
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Ap6s expor 05 principais motivQs que fazem com que as alunos fujam dos
poem as, tentou-se mostrar uma metodologia para S8 trabalhar com 0 texto poetico
de uma forma mais prazerosa, inteligente e atrativa.
Foram escolhidos textes que sao voltados para alunos mais iniciantes ate as
alunos com mais idade. Sem subestimar a inteligencia do leitor iniciante. Tentou-
se usar a analise literaria e trabalhar outros aspectos do texto para que as alunos
sintam mais interessem pelo que VaG trabalhar.
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