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ALVES & AZEVEDO (2017) A REFORMA DO ENSINO MÉDIO (LEI 13.415/2017) E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NATAL, RN – 24 A 27 DE JULHO DE 2017 – CAMPUS NATAL CENTRAL IFRN 1 EDUCAÇÃO PROFISSIONAL COMO GARANTIA DO DIREITO À EDUCAÇÃO E AO TRABALHO PARA JOVENS NO ENSINO MÉDIO: NOTAS PRÉVIAS DE PESQUISA Yossonale Viana Alves Márcio Adriano De Azevedo RESUMO A educação profissional dentro da perspectiva legal, tendo como referência a análise da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que regulamenta a educação no Brasil, é preceituada como uma modalidade de ensino transversal aos dois níveis de ensino no país. Sendo assim, esta comunicação propõese, objetivamente, a discutir uma perspectiva de educação profissional, para jovens de 15 a 17 anos, na faixa etária que corresponde ao Ensino Médio e que além de uma modalidade transversalizadora, haja vista que as prerrogativas constitucionais indicam a educação e o trabalho como direitos fundamentais que devem ser garantidos pelo Estado brasileiro. As reflexões partem de: observação contextual na qual se desnudam a falta de educação e de trabalho para os jovens acima dos 17 anos; indicadores educacionais em documentos oficiais; análise de instrumentos legais; pesquisa bibliográfica em autores que discutem a educação profissional; bem como educação para os jovens dentro de uma visão históricocrítica da educação e do trabalho como atividades humanas. Concluise que o Estado brasileiro não tem conferido, de forma efetiva, aos jovens de 15 a 17 anos, a educação profissional como garantia de direitos constitucionais. PALAVRASCHAVE: Educação, Trabalho, Educação Profissional. PROFESSIONAL EDUCATION AS GUARANTEE OF THE RIGHT TO EDUCATION AND WORK FOR YOUNG PEOPLE IN MIDDLE SCHOOL: PREVIOUS RESEARCH NOTES ABSTRACT Professional education from a legal perspective, based on the analysis of Law No. 9,394 of December 20, 1996, which regulates education in Brazil, is described as a teaching modality that transcends both levels of education in the country. Therefore, this communication objectively proposes to discuss a professional education perspective for young people aged 15 to 17, in the age group that corresponds to High School and that goes beyond a mainstream modality, since the constitutional prerogatives Indicate education and work as fundamental rights that must be guaranteed by the Brazilian State. The reflections start from: contextual observation in which the lack of education and work for the youths above the 17 years are undressed; Educational indicators in official documents; Analysis of legal instruments; Bibliographic research in authors who discuss professional education; As well as education for young people within a historicalcritical view of education and work as human activities. It is concluded that the Brazilian State has not effectively conferred on young people between 15 and 17 years of age, professional education as a guarantee of constitutional rights. KEYWORDS:Education, Work, Professional Education.

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ALVES  &  AZEVEDO  (2017)  

   

A   REFORMA   DO   ENSINO   MÉDIO   (LEI   13.415/2017)   E   SUAS   IMPLICAÇÕES   PARA   A   EDUCAÇÃO  PROFISSIONAL  NATAL,  RN  –  24  A  27  DE  JULHO  DE  2017  –  CAMPUS  NATAL  CENTRAL  -­‐  IFRN  

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EDUCAÇÃO  PROFISSIONAL  COMO  GARANTIA  DO  DIREITO  À  EDUCAÇÃO  E  AO  TRABALHO  PARA  JOVENS  NO  ENSINO  MÉDIO:  NOTAS  PRÉVIAS  DE  PESQUISA  

Yossonale  Viana  Alves    Márcio  Adriano  De  Azevedo  

   

RESUMO  

A   educação   profissional   dentro   da   perspectiva   legal,  tendo   como   referência   a   análise   da   Lei   nº   9.394,   de  20   de   dezembro   de   1996,   que   regulamenta   a  educação   no   Brasil,   é   preceituada   como   uma  modalidade   de   ensino   transversal   aos   dois   níveis   de  ensino   no   país.   Sendo   assim,   esta   comunicação  propõe-­‐se,  objetivamente,  a  discutir  uma  perspectiva  de   educação   profissional,   para   jovens   de   15   a   17  anos,   na   faixa   etária   que   corresponde   ao   Ensino  Médio   e   que   vá   além   de   uma   modalidade  transversalizadora,   haja   vista   que   as   prerrogativas  constitucionais  indicam  a  educação  e  o  trabalho  como  direitos  fundamentais  que  devem  ser  garantidos  pelo  

Estado  brasileiro.  As  reflexões  partem  de:  observação  contextual  na  qual  se  desnudam  a  falta  de  educação  e  de   trabalho   para   os   jovens   acima   dos   17   anos;  indicadores   educacionais   em   documentos   oficiais;  análise  de   instrumentos   legais;  pesquisa  bibliográfica  em   autores   que   discutem   a   educação   profissional;  bem   como   educação   para   os   jovens   dentro   de   uma  visão   histórico-­‐crítica   da   educação   e   do   trabalho  como   atividades   humanas.   Conclui-­‐se   que   o   Estado  brasileiro   não   tem   conferido,   de   forma   efetiva,   aos  jovens  de  15  a  17  anos,  a  educação  profissional  como  garantia  de  direitos  constitucionais.  

PALAVRAS-­‐CHAVE:  Educação,  Trabalho,  Educação  Profissional.  

 PROFESSIONAL  EDUCATION  AS  GUARANTEE  OF  THE  RIGHT  TO  EDUCATION  AND  WORK  FOR  YOUNG  PEOPLE  IN  MIDDLE  SCHOOL:  PREVIOUS  RESEARCH  

NOTES    ABSTRACT  Professional  education  from  a  legal  perspective,  based  on   the   analysis   of   Law   No.   9,394   of   December   20,  1996,  which  regulates  education  in  Brazil,  is  described  as   a   teaching  modality   that   transcends   both   levels   of  education   in   the   country.   Therefore,   this  communication   objectively   proposes   to   discuss   a  professional   education   perspective   for   young   people  aged   15   to   17,   in   the   age   group   that   corresponds   to  High   School   and   that   goes   beyond   a   mainstream  modality,   since   the   constitutional   prerogatives  Indicate   education   and   work   as   fundamental   rights  that   must   be   guaranteed   by   the   Brazilian   State.   The  

reflections  start  from:  contextual  observation  in  which  the   lack   of   education   and  work   for   the   youths   above  the  17  years  are  undressed;  Educational   indicators   in  official   documents;   Analysis   of   legal   instruments;  Bibliographic   research   in   authors   who   discuss  professional  education;  As  well  as  education  for  young  people   within   a   historical-­‐critical   view   of   education  and  work  as  human  activities.  It   is  concluded  that  the  Brazilian  State  has  not  effectively  conferred  on  young  people   between   15   and   17   years   of   age,   professional  education  as  a  guarantee  of  constitutional  rights.    

 KEYWORDS:Education,  Work,  Professional  Education.  

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EDUCAÇÃO  PROFISSIONAL  COMO  GARANTIA  DO  DIREITO  À  EDUCAÇÃO  E  AO  TRABALHO  PARA  JOVENS  NO  ENSINO  MÉDIO:  NOTAS  PRÉVIAS  DE  PESQUISA  

 

 

1  INTRODUÇÃO  A  presente  comunicação  propõe-­‐se,  objetivamente,  a  discutir  uma  perspectiva  de  educação   profissional   para   os   jovens   de   15   a   17   anos,   na   faixa   etária   que  corresponde   ao   Ensino   Médio.   Perspectiva   que   vá   além   de   uma   modalidade  transversalizadora,   haja   vista   que   as   prerrogativas   constitucionais   indicam   a  educação  e  o   trabalho   -­‐   como  direitos   fundamentais  que  devem  ser  garantidos  pelo  Estado  brasileiro  conforme  a  Constituição  Federal  (BRASIL,  1988).  A   educação   profissional   dentro   dos   marcos   legais,   tendo   como   referência   a  análise  da  Lei  nº  9.394,  de  20  de  dezembro  de  1996,  que  regulamenta  a  educação  no   Brasil,   é   preceituada   como   uma  modalidade   de   ensino   transversal   aos   dois  níveis  de  ensino  no  país,  básico  e  superior,  vinculada  às  demandas  que  em  certa  medida   desconsideram   o   contexto   e   os   sujeitos   sociais   demandantes   dessa  educação.  Contudo,  questiona-­‐se  por  que  a  educação  profissional,  efetivamente,  não  tem  sido  considerada  como  garantia  do  direito  à  educação  e  ao  trabalho  dos  jovens  que  cursam  o  Ensino  Médio  no  Brasil?  As   reflexões   aqui   desenvolvidas   partem   de:   observação   contextual   na   qual   se  desnudam  a  falta  de  educação  e  de  trabalho,  para  os  jovens  acima  dos  17  anos,  confirmada   pelos   indicadores   educacionais   em   documentos   oficiais;   análise   de  instrumentos  legais;  pesquisa  bibliográfica  em  autores  que  discutem  a  educação  profissional;   bem   como   da   concepção   de   educação   dentro   de   uma   visão  histórico-­‐crítica,   observando   a   relação   desta   com   o   trabalho   como   atividade  humana.    Ressalta-­‐se   que   este   artigo   pode   ser   considerado   como  de   informe   científico   à  medida  que  nele  são  tratadasalgumas  notas  prévias  de  uma  pesquisa  que  reflete  sobre  a   terceirização  atinge   jovens   trabalhadores   inseridos  em  uma   instituição  de  educação  profissional.    2  REFERENCIAL  TEÓRICO  A  relação  entre  trabalho  e  educação  deve  ser  entendida  a  partir  de  sua  inserção  no  contexto  das  relações  sociais,  de  modo  a  apreender  as  suas  repercussões  na  educação   profissional   brasileira,   particularmente   na   qualificação   dos  trabalhadores.  A   definição   de   trabalho   tem   abarcado,   ao   longo   da   história   ocidental,   uma  infinidade  de   formulações   conceituais   as  quais   tem  se  adequado  ao   sistema  de  produção  da  vida  dos  homens  em  suas  relações  sociais.  Nessa  dinâmica,      

o   trabalho  pode   ser  definido   como   toda  ação  humana,   realizada   com  dispêndio  de  energia  física  ou  mental,  acompanhada  ou  não  de  auxílio  instrumental,   dirigida   a   um   fim   determinado,   que   produz   efeitos   no  próprio   agente   que   a   realiza,   a   par   de   contribuir   para   transformar   o  mundo  em  que  se  vive.  (MARTINS  FILHO,  2007,  p.  03).  

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EDUCAÇÃO  PROFISSIONAL  COMO  GARANTIA  DO  DIREITO  À  EDUCAÇÃO  E  AO  TRABALHO  PARA  JOVENS  NO  ENSINO  MÉDIO:  NOTAS  PRÉVIAS  DE  PESQUISA  

 

 

O   trabalho   é   atividade   humana   que   pressupõe   esforço   físico   ou   mental   e   seu  conceito  varia  conforme  a  área  do  conhecimento  na  qual  se  encontra,  o  contexto  social   e   os   referenciais   sobre   os   quais   se   fundamenta   o   estudo   sobre   esse  realizado.  Ademais,    

Do  ponto  de  vista   filosófico,   vem  sendo  conceituado  como   “atividade  consciente  e  voluntária  do  homem,  depende  de  um  esforço”  ou  como  “a   obra   moral   de   um   homem  moral”;   já   sob   o   prisma   econômico,   o  trabalho  é  considerado  como  “toda  energia  humana  empregada,  tendo  em  vista  um  escopo  produtivo”.  Finalmente,  sob  o  aspecto  jurídico,  ele  é  encarado  como  “objeto  de  uma  prestação  devida  ou  realizada  por  um  sujeito   em   favor   de   outro”   e,   mais   precisamente   do   ponto   de   vista  jurídico-­‐trabalhista,   o   trabalho   é   uma   prestação   do   serviço   não  eventual,  subordinada  e  onerosa,  devida  pelo  empregado  em  favor  do  empregador.   O   trabalho   pressupõe   atividade   que   se   manifesta   por  meio   de   variados   aspectos,   os   quais   reclamam   do   ordenamento  jurídico  atenção  diversa,  dependendo  da  época.  (BARROS,  2007,  p.  54-­‐55).    

Para   Saviani   (2007),   autor   vinculado   à   perspectiva   histórico-­‐crítica,   a   relação  entre   trabalho  e  educação  ao   longo  da  históriamostra  que  em  um  determinado  momento   dessa   história   ocorreu   separação   dessas   instâncias   essenciais   ao  desenvolvimento   do   homem.   Mas,   do   mesmo   modo,   reitera   uma  indissolubilidade   desses   termos,   entendendo   que   trabalho   e   educação   são  atributos   essenciais   e   fundamentais   ao   homem,  mesmo   dentro   das   sociedades  capitalistas.    Assim,   esclarece   que   a   consciência   humana,   sua   capacidade   de   produzir   seus  meios   de   vida   e   de   adaptar-­‐se   à   natureza   e   às   suas   necessidades   é   o   que  diferencia  o  homem,  e  tudo  isso  ocorre  através  do  seu  trabalho.  O  que  garante  a  existência   humana   e   o   homem   formar-­‐se   homem   encontra-­‐se   diretamente  vinculado   a   produção   material   da   vida   e   ao   processo   educativo.  O   trabalho  define,  assim,“a  essência  humana”  (SAVIANI,  2007,  p.155).  Esclareça-­‐se  que,  o  homem  é  um  ser  social  e  sua  essência,  formação  e  distinção  da  natureza  deve-­‐se  ao  trabalho;à  capacidade  de  produzir  suas  necessidades  e  de  dar  continuidade  a  sua  cultura,  de  ter  acesso  aos  valores  que  o  humanizam  e  o  fazem  ser  um  cidadão  de  direitos  e  deveres,  conhecedor  do  mundo  em  que  vive,  graças   também  aos   saberes   escolares  nas   sociedades   contemporâneas  que  não  podem  prescindir  do  conhecimento  científico  e  tecnológico.  Daí  a  necessidade  de  uma  formação  articulada  às  condições  de  produção  da  vida  pelo  trabalho.  SegundoFrigotto   (1999),   é   importante   fazer   a   crítica   da   atual   relação  hegemônica  entre  trabalho  e  educação  para  definir  qual  é  a  perspectiva  contra-­‐hegemônica   a   ser   seguida.  Sobre   a   relação   entre   trabalho   e  educação,   o   autor  explica  que  é  preciso  ter  cuidado  ao  definir  o  trabalho  como  princípio  educativo.  Acrescenta   que,   o   trabalho   como  princípio   educativo   foi   tomado   como  metodologia   no   sentido   do   "aprender  fazendo",   o   que,   segundo   o   pesquisador,  

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embora   não   seja   desprezível,   reduz  muito   o   sentido   do   princípio   educativo   do  trabalho  como  algo  imanente  à  formação  humana.  Ainda   para   Frigotto,   a   concepção   de   educação   como   um   capital   que  amplia   o  trabalho  é  criada  pela  burguesia  para  tentar  resolver  os  problemas  e  crises,  mas  essa   vinculação   é   incapaz   de   solucionar   o   que   provém   e   advém   disso,   pois,   a  solução  não  está  nas  consequências,  mas  nas  causas  e  essas  são  desconsideradas  nas   decisões   políticas   nos   Estados   capitalistas.   Nesse   sentido,   defende   que   a  relação   predominante   entre  trabalho   e   educação   hoje,   desconstrói   o   que   a  própria  burguesia  construiu,  com  a  ideia  das  competências  que  apenas  desloca  o  foco  dos  problemas  sociais.  Segundo  Oliveira  (2005),  não  se  pode  deixar  de  reconhecer  que  o  capital  tende  a  buscar   novas   formas   de   gerenciamento   da   produção,   como   mecanismos   de  aumento  das  suas  taxas  de  acumulação  e  faz  isso  orbitando  em  torno  da  relação  educação   e   trabalho.   Desta   feita,   tem   sido   exigido   dos   trabalhadores   novos  comportamentos  e  atitudes  no  que  diz  respeito  ao  seu  maior  envolvimento  com  o  processo  de  produção.Contudo,  até  que  ponto  as  novas  formas  de  produção  de  mercadorias   exigem   uma   maior   qualificação   dos   trabalhadores?Essa   é   uma  reflexão  necessária  quando  se  discute  educação  profissional  para  os  jovens.  Para  Antunes  (2010),  as  mudanças  no  mundo  do  trabalho  foram  tão   intensas  e  atingiram  diretamente   a   classe   que   vive  do   trabalho  no  que  diz   respeito   a   sua  materialidade,   bem   como   sua   subjetividade.   Dentre   as   tendências,   é   possível  destacar:   emergência  de   formas  desregulamentadas  de   trabalho,   acarretando  a  redução   do   conjunto   de   trabalhadores   estáveis;   surgimento   de   um   novo  proletariado  fabril  (os  terceirizados,  subcontratados,  parttime,  entre  outros);  e  a  exclusão   de   jovens   com   idade   de   ingresso   no   mercado   de   trabalho,   que,   sem  perspectivas   de   emprego,   acabam   inseridos   em   subempregosou   em   massa   de  desempregados,   principalmente   os   que   não   conseguem   uma   escolarização   na  denominada   idade  certa.Aindaadverte  que  é   imprescindível  o  entendimento  do  trabalho,   enquanto   elemento   estruturante   da   sociedade,   para   a   apreensão   das  tendências   em   curso,quais   sejam:   processo   de   intelectualização   do   trabalho  fabril,   demandando   uma   maior   qualificação   profissional   e/ou   processo   de  desqualificação  ou  subproletarização  da  classe  que  vive  do  trabalho.  No  contexto  de   flexibilização  da  produção  e  reestruturação  das  ocupações  há  a  predisposição  pela  polivalência  dos  trabalhadores  e  valorização  dos  saberes  não  ligados   ao   trabalho   prescrito   ou   ao   conhecimento   valorizado.   Para   esclarecer  essa   tese,   Ramos   (2002)   afirma   que   o   conceito   de   qualificação   enquanto  dimensão  social  permite  estabelecer  uma  relação  dialética  entre  os  saberes  e  a  configuração   da   divisão   social   e   técnica   do   trabalho.   Em   outras   palavras,  reconhece   que   a   qualificação   está   inserida   numa   dinâmica   social,   síntese   das  dimensões  conceitual,  experimental  e  social.Para  tanto,  o  trabalhador  não  pode  

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ser   o   responsável   direto   pela   não   escolarização,   pela   não   formação   para   o  trabalho,  enfim,  pelo  não  trabalho.  Acrescente-­‐se   que   essas   dimensões   não   podem   ser   vistas   apenas   como  construtos,   cujo   foco   de   interesseseja   a   produtividade   pela   educação  instrumental,considerando   que   trabalho   e   educação   são   atividades  humanasessenciais,   complementares   e   indissociáveis   naperspectiva   histórico-­‐crítica  de  formação  humana.  3  METODOLOGIA    Esse   trabalho   foi   desenvolvido   por  meio   de   pesquisa   bibliográfica,   com   ênfase  nas   fontes   jurídicas   que   permeiam   a   estruturação   do   direito   à   educação   e   ao  trabalho   e  das  políticas  de   acesso   ao   trabalho  para  os   jovens  de  14   a  17   anos.  Também   foram   considerados   os   indicadores   educacionais   diretamente  relacionados  à  faixa  etária  de  14  a  17  anos  que  se  pressupõe  estarem  cursando  o  Ensino  Médio.  Salienta-­‐se   que   a   temática   construída   exigiu   uma   aproximação   com   o  materialismo   histórico-­‐dialético,   e   como   propõe   Frigotto   (2001,   p.   81):“o   que  importa   fundamentalmente   não   é   a   crítica   pela   crítica,   o   conhecimento   pelo  conhecimento,  mas  a  crítica  e  o  conhecimento  crítico  para  uma  prática  que  altere  e   transforme   a   realidade   anterior   no   plano   do   conhecimento   e   no   plano  histórico-­‐social.”Sendo   assim,   é   nessa   perspectiva   metodológica   que   foi  construído  este  trabalho.      4    EDUCAÇÃO  E  TRABALHO  COMO  DIREITOS  CONSTITUCIONAIS  E  OS  INDICADORES  EDUCACIONAIS  RELATIVOS  AOS  JOVENS    Compreende-­‐se  que  a  tríade  formada  por  educação,  trabalho  e  profissionalização  são  temas  educacionais  e  juridicamente  complexos,  notadamente  pelo  volume  de  normas   que   disciplinam   esses   direitos.   Desse   modo,   optou-­‐se   em   debater   a  Educação  Profissional   como  uma  das   formas  de  o  Estado  Brasileiro   respeitar  e  fazer   cumprir   suas   responsabilidades   de   efetivação   à   profissionalização   dos  jovens,  na  faixa  etária  correspondente  ao  Ensino  Médio,  como  pressuposto  que  a  educação   profissional   deveria   ocorrer,   de   início,   vinculada   a   essa   etapa   de  ensino.  Os   organismos   de   viabilização   do   direito   à   profissionalização,   diante   das  profundas   transformações   socioeconômicas   que   provocammudanças   nas   bases  legais,   necessitam   de   avaliação,   a   saber:   a   reforma   do   ensino   profissional,  prevista   na   Lei   de   Diretrizes   e   Bases   da   Educação   (LDB);   o   Instituto   da  Aprendizagem,  previstos  na  Consolidação  das  Leis  do  Trabalho  (CLT)  e  também  assegurados  pelo  Estatuto  da  Criança   e  do  Adolescente   (ECA);   além  dos  novos  fomentos  de  políticas  públicas  direcionadas  à  profissionalização  como  o  Estatuto  da  Juventude.  

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Percebe-­‐se  que  as  políticas  públicas  não  possuem  uma  centralidade  quando  ao  assunto   educação   profissional   e   ensino  médio.   Essas   servem,  muitas   vezes,   às  práticas   imediatistas   e   assistencialistas   que   não   combatem   de   forma   mais  incisiva  as  vulnerabilidades  a  que  os  jovens  estão  sujeitos,  como  a  dificuldade  de  acesso  à  educação  e  ao  trabalho,  principalmente  a  partir  da  negação  de  direitos  e  garantias  constitucionais.  O   Direito   à   Profissionalização,   garantido   pela   Lei   Maior   e   regulamentado   no  Estatuto  da  Juventude,  deveria  auxiliar  os  jovens  de  15  a  17  anos  na  difícil  tarefa  de   acesso   à   educação,   sobretudo   no   Ensino   Médio,   última   etapa   da   Educação  Básica.   Momento   da   vida   em   que   esses   jovens   deveriam   ser   preparados   não  apenas   para   o   ingresso   no   mercado   de   trabalho,   mas,   conforme   princípios  constitucionais,  terem  uma  formação  de  acordo  com  o  princípio  da  dignidade  da  pessoa   humana.Essa   assertiva   derivada   CF,   quando   preceitua   que:   a   educação,  direito   de   todos   e   dever   do   Estado   e   da   família,   deve   visar   ao   pleno  desenvolvimento   da   pessoa,   seu   preparo   para   o   exercício   da   cidadania   e   sua  qualificação  para  o  trabalho.    O  art.  227  da  CF  doutrina  a  proteção  integral  e  prioridade  absoluta  de  políticas  públicas  eficazes  na  área  da  infância  e  da  juventude,  concebendo  como  dever  da  família,  da  sociedade  e  do  Estado  assegurá-­‐los  à  criança  e  ao  adolescente.  Como  decorrência  da  relevância  constitucional  do  trabalho,  o  acesso  aos  postos  de   trabalho  deve  ser  assegurado  com  amplitude,  o  que  se  verifica  no  art.  6º  da  Constituinte   que,   ao   indicar   os   direitos   sociais,   inclui   o   denominado   direito   ao  trabalho.   Em   outras   palavras,   toda   pessoa,   ao   titularizar   o   direito   do   trabalho,  deve  ter  acesso  à  preparação  para  o  trabalho  e  às  oportunidades  no  mercado  de  trabalho.  Isso  porque  hoje,  o  trabalho  não  é  apenas  uma  tarefa  de  transformação  da  natureza,  é  também  uma  atividade  que  traz  satisfação  e  promoção  social.  E  o  direito  à  profissionalização  garante  aos  jovens  idealizar  sua  profissão,  firmar  sua  posição  na  sociedade  e  garantir  seu  futuro  e  independência  financeira.  A  CF  ao  assegurar  o  direito  à  capacitação  profissional,  no  art.  227,  complementa  o  direito  social  genérico  ao   trabalho.  Com  o  advento  da  Emenda  Constitucional  nº   65/2010   o   referido   direito   deixa   de   ser   dirigido   exclusivamente   aos  adolescentes,   passando   também   a   ser   um   direito   dos   jovens.   Antes   dessa  alteração,   o   que  mais   se   aproximava   de   uma   garantia   à   formação   profissional  para  os  indivíduos  que  não  fossem  adolescentes  era  o  direito  à  educação,  com  o  objetivo  da  qualificação  para  o  trabalho,  com  fulcro  no  art.  205  da  CF.  A   educação   e   o   trabalho   no   Brasil   são   direitos   constitucionais   que   devem   ser  respeitados   e   garantidos   pelo   Estado   e   seus   representantes.   Deriva-­‐se   daí   a  compreensão   de   que   a   educação   profissional   pode   ser   uma   garantia   do  cumprimento  desses  direitos.  Assim,  colocar  em  debate  a  educação  profissional  como   uma   das   formas   do   Estado   brasileiro   respeitar   e   cumprir   a   sua  

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EDUCAÇÃO  PROFISSIONAL  COMO  GARANTIA  DO  DIREITO  À  EDUCAÇÃO  E  AO  TRABALHO  PARA  JOVENS  NO  ENSINO  MÉDIO:  NOTAS  PRÉVIAS  DE  PESQUISA  

 

 

responsabilidade  de  efetivação  do  direito  à  educação  e  ao  trabalho,  tem  sido  um  desafio  que  parece  inalcançável.  A   Carta   Magna   também   prevê   a   qualificação   para   o   trabalho   como   uma   das  finalidades   da   educação   brasileira,   estando   descriminada   na   LDB   em  vigor.Assim,   no   art.   1º   fica   elucidado   que   a   educação   abrange   os   processos  formativos  que  se  desenvolvem  na  família,  na  convivência  humana,  no  trabalho,  nas   escolas,   nos  movimentos   sociais,   nas  organizações  da   sociedade   civil   e  nas  manifestações   culturais.   Visa   a   objetivar   a   educação   escolar,   vinculando-­‐a   ao  mundo  do   trabalho  e   à  prática  escolar.  Esta  Lei   apresenta  um  novo  paradigma  para   a   educação   profissional,   devendo   conduzir   o   cidadão   ao   permanente  desenvolvimento   de   aptidões   para   a   vida   produtiva,   integrada   às   diferentes  formas  de  educação,  ao  trabalho,  à  ciência  e  à  tecnologia.  Os   artigos   39   a   42   da   LDB   vigente   especificam   que   a   educação   profissional  deverá   tornar   o   indivíduo   apto   para   a   vida   produtiva,   ou   seja,   a   escola   deverá  fornecer   conhecimentos   que   tenham   alguma   utilidade   para   que   o   aluno   possa  engajar-­‐se   profissionalmente   e   participar   da   sociedade.   Portanto,   a   LDB  incorpora   trabalho   de   forma   restrita   e   universal,   sendo   o  meio   de   incentivo   à  integração  da  escola  à  comunidade.  Ainda   em   referência   à   educação   profissional   ou   preparo   para   o   mundo   do  trabalho,   a   LDB   entende   que   a   função   da   escola   é   preparar   os   alunos   com  conhecimentos   básicos   sobre   as   profissões   e   sobre   as   perspectivas   para   o  ingresso   no   mercado   de   trabalho.   Tem-­‐se,   ainda,   a   concepção   de   que   deverá  ocorrer   a   preparação   para   o   exercício   da   cidadania,   da   autonomia   e   do  pensamento  de  forma  ética.  Contudo,   os   problemas   da   política   de   formação   e   qualificação   profissional  começam  em  seus  objetivos,  especialmente  pela  relação  entre  escola  e  mundo  do  trabalho.   A   LDB   não   promove   a   integraçãosem   esta   integraçãose   restringe   à  formação  de   jovens  e   adultos   à   atividade  produtiva  para  que   se   enquadrem  às  demandas  do  mercado.Neste  âmbito,  como  as  demandas  do  mercado  são  cíclicas  e   mutantes   nas   sociedades   capitalistas,   torna-­‐se   difícil   a   escola   cumprir   sua  tarefa  e  os  jovens  encontrarem  trabalho.  O  mundo  do  trabalho  vem  sofrendo  os  reflexos  dessas  aparentes  contradições  do  sistema   educacional   e   mais   acentuadamente   da   formação   recebida   pelos  adolescentes  e  jovens  que  estão  à  procura  de  emprego.  Em  um  país  capitalista  a  ideia   é   atender   ao   sistema   guiado   pelo   mercado,e   isso   significa   que   os  trabalhadores   devem   adequar-­‐se   prioritariamente   às   necessidades   do   capital,  atendendo  à  lógica  produtiva  e  acumulativa  do  capital,  baseada  na  exploração  da  força  de  trabalho.  Percebe-­‐se   que,   na   sociedade   capitalista   brasileira,   a   educação   é   articulada   ao  trabalho   e   desenvolvida   a   partir   da   proposta   de   que   o   indivíduo   tem   que   se  enquadrar   nas   exigências   do   mercado   de   trabalho.   Isso   tem   gerado   vários  

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desafios,  pois  a  detenção  do  conhecimento  e  o  acesso  à  informação,  de  maneira  mais   rápida   e   eficiente,   é   o   diferencialpara   os   indivíduos   terem   acesso   ao  mercado   de   trabalho.  Mas   esse   não   tem   vagas   para   todos   e   nem   a   escola   está  preparada  para  atender  as  necessidades  do  mercado  capitalista.  No   contexto   da   educaçãofoi   estatuída   a   Lei   n.   9.394/1996.   O   referido   diploma  estabelece   dois   níveis   para   a   educação:   Educação   Básica   e   Educação  superior.Essa  também  contempla  as  denominadas  modalidades  de  ensino,  quais  sejam  a  educação  de   jovens  e  adultos  e  a  educação  especial  e  uma  modalidade  complementar:  a  Educação  Profissional.  Assim,  no  cumprimento  dos  objetivos  da  educação   nacional,   a   Educação   Profissional,   científica   e   tecnológica   integra   os  diferentes   níveis   e   modalidades   de   educação   e   às   dimensões   do   trabalho,   da  ciência  e  da  tecnologia  de  forma  transversal.  Sendo  transversal,  observa-­‐se  que  isso  provoca  uma  espécie  de  diluição  de  seus  indicadores  o  que  provoca  conflito  quando   se   busca   analisá-­‐la   como   garantia   de   um   direito   constitucional  amalgamado  em  outro  direito,  qual  seja,  o  trabalho.  Observa-­‐se  que  a  Educação  Profissional  tem  como  finalidade  não  só  a  formação  de   técnicos   de   nível   médio,   mas   também   o   treinamento   profissional,   a  capacitação,   a   qualificação   de   trabalhadores,   a   atualização   tecnológica  permanente   e   a   habilitação   ao   nível   superior.   Dessa   forma,   espera-­‐se   uma  Educação   Profissional   que   conduza   ao   desenvolvimento   de   aptidões   para  alcançar   maiores   habilidades   e   atitudes   formativas   vinculadas   à   formação  humana,  dentre  as  quais  as  inerentes  ao  mundo  do  trabalho.  Acrescente-­‐se   que   o   art.   4º,   parágrafo   único,   alíneas   “b”,   “c”   e   “d”,   da   Lei   n.  8.069/1990  define  que  a  garantia  de  prioridade  absoluta  cinge  a  precedência  de  atendimento  nos  serviços  públicos  ou  de  relevância  pública.  Assim,  pressupõe-­‐se  a   preferência   na   formulação   e   na   execução   de   políticas   sociais   públicas,   a  destinação   privilegiada   de   recursospúblicos   nas   áreas   relacionadas   com   a  proteção  da  infância  e  da  juventude.  O  art.  69,  do  mesmo  Estatuto,prescreve  que  ao  adolescente  deve  ser  assegurado  o  direito  à  profissionalização  e  à  proteção  no  trabalho,  desde  que  respeitada  sua  condição   peculiar   de   pessoa   em   desenvolvimento   e   a   capacitação   profissional  adequada  ao  mercado  de  trabalho.Portanto,  a  profissionalização  é  dita  como  um  direito  fundamental  e  inalienável  dos  adolescentes,  devendo  o  Estado  assegurar  os  meios  necessários  à  sua  implantação,  através  de  políticas  públicas  eficazes  e  enérgicas,   sob   pena   de   configurar   grave   ilicitude   constitucional,   a   sua   ofensa.  Adite-­‐se   que   a   juventude   foi   acrescida   por   meio   da   Emenda   Constitucional  nº65/2010   ao   rol   dos   direitos   fundamentais   já   garantidos   às   crianças   e   aos  adolescentes.  Assim,  a  Educação  Profissional  se  apresenta  como  um  dos  meios  de  estimular  a  inserção,   reinserção   e   manutenção   dos   aprendizes   no   sistema   educacional,  garantindo  assim  o  processo  de  escolarização  e,  principalmente,  oportunizando  

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uma  formação  técnico-­‐profissional  –  à  profissionalização,    e  principalmente,  uma  formação  vinculada  à  dignidade  humana.  Enfatize-­‐se,   pois,   que   a   formação  profissional   e   a   formação  para   o   trabalho  do  jovem   estão   no   centro   da   atual   crise   brasileira,   tendo   em   vista   o   processo   de  inclusão  ou  exclusão  dos  bens  e   serviços  prestados  pelo  Estado  a  essa   faixa  da  população.   Crise   que   envolve   questões   políticas,   econômicas,   trabalhistas,  culturais  e  sociais  cravejada  em  um  Estado  que  tem  desde  as  últimas  décadas  do  século   XX   se   caracterizado   como   neoliberal,   embora   apresente   em   alguns  momentos  mesclas  de  um  projeto  societário,  que  em  disputa,  não  tem  satisfeito  a  classe   trabalhadora   por   não   garantir   seus   direitos   fundamentais   advindos   da  Carta  Magna  de  1988.  A  educação  brasileira  passou  por  grandes  mudanças  nos  últimos  anos,  obtendo  como   resultado   uma   ampliação   significativa   do   número   de   pessoas   que   tem  acesso   às   escolas,   bem   como   aumento   do   nível   médio   de   escolarização   da  população.   Entretanto,   estas   transformações   não   têm   sido   significativas   para  colocar  o  país  no  patamar  educacional  necessário.  Isso  porque  do  ponto  de  vista  da   igualdade  de  oportunidades  proporcionadas  a   todos  os  cidadãos  brasileiros,  em   lugar   de   se   observar   aquilo   que   é   essencial,   reforma-­‐se  mais   uma   vez,   em  2017,  o  Ensino  Médio  sem  analisar  as  causas  do  insucesso  dos  jovens.  Segundo   o   indicador   da   Pesquisa   Nacional   por   Amostra   de   Domicílios  (PNAD/IBGE),  em  2015  a  média  nacional  de  estudantes  no  Ensino  Médio,  atingiu  a  marca  de  84,3%.  Ou  seja,  aproximadamente  8,3  milhões  de  jovens,  em  números  absolutos,  estavam  na  escola  e  pouco  mais  de  1,5  milhão  de  alunos  estavam  fora  do   sistema   educacional   brasileiro.   A   Figura   01  mostra   o   percentual   de   jovens  matriculados  na  Escola  e  no  Ensino  Médio  respectivamente.    Figura  01:  Percentual  de  jovens  matriculados  na  Escola  e  no  Ensino  Médio  -­‐  2015  

 Fonte:  MEC/INEP  

 Ademais,   na   Figura   02,   vê-­‐se   a   evolução   do   Índice   de   Desenvolvimento   da  Educação   Básica   (IDEB),   para   o   3º   ano   do   Ensino   Médio   entre   2005   e   2015,  demonstrando  uma  melhoria  na  qualidade  desse  ensino.  Figura  02  -­‐  Evolução  do  Índice  de  Desenvolvimento  da  Educação  Básica  (IDEB),  para  o  3º  ano  do  Ensino  Médio  entre  2005  e  2015  

 

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EDUCAÇÃO  PROFISSIONAL  COMO  GARANTIA  DO  DIREITO  À  EDUCAÇÃO  E  AO  TRABALHO  PARA  JOVENS  NO  ENSINO  MÉDIO:  NOTAS  PRÉVIAS  DE  PESQUISA  

 

 

Fonte:  MEC/INEP    

Observa-­‐se  ainda  que  a  porcentagem  de  jovens  que  concluem  o  Ensino  Médio  na  idade  certa  (até  os  17  anos)  aumentou  em  10  anos,  chegando  ao  índice  de  19%,  em   2014.(MEC/INEP,   2015).   No   entanto,   1,3   milhão   de   jovens,   entre   15   e   17  anos,  deixaram  a  escola  sem  concluir  os  estudos,  dos  quais  52%não  concluíram  sequer  o  Ensino  Fundamental.Analisando  a  renda  familiar  per  capita,  as  famílias  com  níveis  econômicos  mais  elevados  expõem  maiores  taxas  de  acesso  à  escola.  O  Censo  Escolar  2016revela  desafios  para  a  universalização  do  acesso  a  todos  os  níveis   de   ensino   no   Brasil.   Os   anos   de   investimento   em   educação   ainda   não  provocaram  mudanças  significativas  nos  dados  coletados  pelo  Instituto  Nacional  de  Estudos  e  Pesquisas  Educacionais  Anísio  Teixeira   (INEP),  elucidando  que  as  tendências   dos   anos   anteriores   permanecem   inalteradas   e   ainda   distantes   das  metas  do  Plano  Nacional  de  Educação  (PNE).  Para   que   o   país   alcance   a   meta   do   PNE   de   85%   dos   jovens   de   15   a   17   anos  matriculados   no   Ensino   Médio,   era   preciso   acelerar   o   ritmo   de   melhoria   na  educação,  e  continuar  a  reduzir  desigualdades  sociais.Contudo,  na  contramão,  o  Congresso  Nacional  promulgou  a  Emenda  Constitucional  nº  95,  que  limita  por  20  anos  os  gastos  públicos,  o  que  significa  que  a  educação  deve  deixar  de  receber  uma   soma   considerável   de   investimentos.   Sabe-­‐se   que   nos   últimos   anos,   a  despeito   da   crise,   a   União   vinha   repassando   um   montante  maior   que   os  obrigatórios.    Ademais,   os   dados   do   IBGErevelam  que  há   uma  diferença  no  perfil   dos   jovens  fora   da   escola.   No   total   da   população   de   15   a   17   anos   sem   estudar,   19%   já  completaram  o  Ensino  Médio.  Na  população  branca,  esse  percentual  é  de  28%,  bem   superior   ao   verificado   entre   os  negros   (15%).  Apesar  de  não   estarem  em  sala   de   aula,   esses   jovens   que   terminaram   o   Ensino   Médio   até   os   17   anos  conseguiram   concluir   sua   trajetória   na   Educação   Básica   sem   atrasos   e   estão  aptos  a   ingressar  no  Ensino  Superior.  É,  portanto,  uma  população  muito  menos  vulnerável  do  que  aquela  que  abandonou  os  estudos  sem  ter  sequer  chegado  ao  Ensino   Fundamental,   caso   de   52%  dos   jovens   de   15   a   17   anos   fora   da   escola,  sendo  43%  entre  brancos  e  57%  entre  negros  dessa  faixa  etária.  Assim,  caso  não  volte  aos  bancos  escolares,  essa  população  sofrerá  riscos  altíssimos  de  inserção  precária  no  mercado  de  trabalho  devido  à  baixa  escolaridade,  o  que  provocará  o  desrespeito  às  condições  humanas  com  dignidade  preceituadas  na  CF  de  1988.      4  CONSIDERAÇÕES  FINAIS  Considera-­‐se   que   o   Estado   brasileiro   não   tem   garantido   de   forma   efetiva   aos  jovens  de  15  a  17  anos  o  Ensino  Médio  e  a  Educação  Profissional  como  forma  de  garantia   de   direitos   constitucionais,   posto   que   o   país   apresenta   de   forma  

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agravada,  algumas  características  próprias  de  países  em  desenvolvimento,  entre  as  quais  enorme  desigualdade  na  distribuição  da  renda  e  imensas  deficiências  no  sistema  educacional  reveladas  pelas  matrículas  em  seus  próprios  indicadores.  É   preocupante   o   reduzido   percentual   de   jovens   que   conseguem   terminar   o  Ensino  Fundamental,  redundando,   inclusive,  no  número  relativamente  pequeno  dos  que  se  matriculam  no  Ensino  Médio.    A  preparação  para  o  trabalho  no  Ensino  Médio  poderia  contribuir,  sobremaneira,  para   a   melhoria   da   qualificação   da   mão-­‐de-­‐obra   e   deveria   constituir   uma  prioridade  da  política  educacional  brasileira  para  que  esses  jovens  pudessem  ter  uma   formação   humana   com   dignidade   e   integrada   aquilo   que   é   essencial   ao  homem  –  o  trabalho,  a  ciência  e  a  tecnologia  integradas  à  dimensão  cultural.  Por   fim,   pelos   indicadores   apresentados   é   possível   afirmar   que   a   Educação  Profissional,  efetivamente,  não  tem  sido  considerada  como  garantia  do  direito  à  educação  e  ao  trabalho  dos  jovens  que  cursam  o  Ensino  Médio  no  Brasil.      REFERÊNCIAS  ANTUNES,  Ricardo.  Adeus  ao  trabalho?  Ensaio  sobre  as  metamorfoses  e  a  centralidade  do  mundo  do  trabalho.  14.ed.  São  Paulo:  Cortez,  2010.  BARROS,  Alice  Monteiro.  Curso  de  Direito  do  Trabalho.  2007.  2.ed  p.  54-­‐55.  BRASIL.  Constituição  da  República  Federativa  do  Brasil  de  1988.  Disponível  em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>.  Acesso  em  20  de  maio  de  2017.  _________.  Consolidação  das  Leis  do  Trabalho.  Disponível  em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-­‐Lei/Del5452.htm>.  Acesso  em  20  de  maio  de  2017.  _________.  Diretrizes  e  Bases  da  Educação  Nacional.  Disponível  em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>.  Acesso  em  20  de  maio  de  2017.  _________.  Estatuto  da  Criança  e  do  Adolescente.  Disponível  em:  <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm>.  Acesso  em  20  de  maio  de  2017.  _________.  Estatuto  da  Juventude.  Disponível  em:<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-­‐2014/2013/Lei/L12852.htm>.  Acesso  em  20  de  maio  de  2017.  FRIGOTTO,  Gaudêncio.  O  enfoque  da  dialética  materialista  histórica  na  pesquisa  educacional.  In:  FAZENDA,  Ivani  (org.).  Metodologia  da  pesquisa  educacional.  7  ed.  São  Paulo:  Cortez,  2001.  FRIGOTTO,  Gaudêncio.  A  produtividade  da  escola  improdutiva:  (re)  exame  das  relações  entre  educação  e  estrutura  econômica-­‐social  e  capitalista.  5ed.  São  Paulo:  Cortez,  1999.  

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EDUCAÇÃO  PROFISSIONAL  COMO  GARANTIA  DO  DIREITO  À  EDUCAÇÃO  E  AO  TRABALHO  PARA  JOVENS  NO  ENSINO  MÉDIO:  NOTAS  PRÉVIAS  DE  PESQUISA  

 

 

________,  Gaudêncio.  O  enfoque  da  dialética  materialista  histórica  na  pesquisa  educacional.  In:  FAZENDA,  I.  (Org.).  Metodologia  da  pesquisa  educacional.  3  ed.  São  Paulo  (SP):  Cortez  Editora;  1994.    Instituto  Nacional  de  Estudos  e  Pesquisas  Educacionais  Anísio  Teixeira.  Ministério  da  Educação.  Disponível  em:<http://portal.inep.gov.br/censo-­‐escolar>.  Acessado  em  21  de  maio  de  2017.  MARTINS  FILHO,  Ives  Gandra  da  Silva.  Manual  Esquemático  de  Direito  e  Processo  do  Trabalho.  15  ed.  São  Paulo,  2007,  p.  3.  OLIVEIRA,   Ramon   de.   Empresariado   industrial   e   a   educação   brasileira:  qualificar  para  competir?  São  Paulo:  Cortez,  2005.  RAMOS,  Marise  N.  Possibilidades  e  Desafios  na  Organização  do  Currículo  Integrado.  In:  RAMOS,  Marise  N.  (Org.);  FRIGOTTO,  Gaudêncio  (Org.);  CIAVATTA,  Maria  (Org.)  Ensino  Médio  Integrado:  Concepção  e  Contradições.  1.  ed.  São  Paulo:  Cortez,  2005.  SAVIANI,  Dermeval.  Trabalho  e  educação:  fundamentos  ontológicos  e  históricos.  Revista  Brasileira  de  Educação,  v.12,  n.34,  jan./abr.  2007.