Equoterapia – Um Enfoque Fisioterapêutico na Criança Portadora ...
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EFEITO DO TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO NA FUNÇÃO MOTORA DE UMA
CRIANÇA COM MAL FORMAÇÃO CONGÊNITA: RELATO DE CASO
Effect of physical therapy on motor function of a child with birth defects: CASE REPORT
Autores: Cejane Oliveira Martins Prudente, Cintya Maria Louza, Olívia Maria de Jesus.
RESUMO
EFEITO DO TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO NA FUNÇÃO MOTORA DE UMA
CRIANÇA COM MAL FORMAÇÃO CONGÊNITA: RELATO DE CASO
Introdução: A mal formação congênita inclui todos as alterações estruturais presentes ao nascimento,
que podem ser classificados como mal formações primárias, secundárias e deformações. Objetivo: relatar
o caso de uma criança vítima do medicamento talidomida; observar e relatar a evolução do
desenvolvimento motor; após reabilitação fisioterapêutica. Métodos: Trata-se de uma pesquisa
descritiva, relato de caso, com 1 criança com diagnóstico médico confirmado de mal formação congênita
provocada pelo medicamento talidomida, com idade de quatro anos. Resultados: Ao analisar a evolução
da função motora grossa do sujeito estudado em cada uma das cinco dimensões da Medição da Função
Motora Grossa (GMFM), notou-se evolução significativa na dimensão C: engatinhar e ajoelhar. As
outras dimensões não tiveram alteração. Um dado importante observado neste resultado foi referente ao
escore total do GMFM, pois antes o sujeito da pesquisa apresentava 30% e após 6 meses de reabilitação
o mesmo apresentou uma evolução significativa para 33%. Conclusão: Tendo em vista os resultados
apresentados neste trabalho, verificou-se que o tratamento fisioterapêutico e multiprofissional proposto
por meio do conceito Bobath contribuíram de forma positiva na função motora do sujeito relatado.
Palavras – chave: Talidomida, Reabilitação, Anormalidades Congênitas.
SUMMARY
Effect of physical therapy on motor function of a child with birth defects: CASE REPORT
Introduction: The malformation includes all the structural changes present at birth, which can be classified
as primary malformations, deformations and secondary ¬ vacation. Objective: To report the case of a child
victim of the drug thalidomide, observe and report the progress of motor development, after physical
therapy in rehabilitation. Methods: This is a descriptive case report with a child with a confirmed medical
diagnosis of congenital malformation caused by the drug thalidomide, aged four years. Results: By
analyzing the evolution of gross motor function of the subject studied in each of the five dimensions of the
Gross Motor Function Measure (GMFM), significant progress was noted in the Dimension C: crawling
and kneeling. The other dimensions did not change. An important result was observed in this for the
GMFM total score, because before the subject of the survey had 30% and after 6 months of rehabilitation
presented the same to a significant 33%. Conclusion: Considering the results presented here, it was found
that physical therapy and multi-concept proposed by Bobath contributed positively in motor function of
the subject reported.
Keywords - Keywords: Thalidomide, Rehabilitation, Congenital Abnormalities.
2
INTRODUÇÃO
A mal formação congênita inclui todos as alterações estruturais presentes ao nascimento, que
podem ser classificados como mal formações primárias, secundárias e deformações1. Podem ser
definidos como anomalia funcional ou estrutural do desenvolvimento do feto decorrente de fator
originado antes do nascimento; seja ele genético, ambiental ou desconhecido presente ao
nascimento; ou podendo manifestar-se anos mais tarde, como certas enfermidades crônicas
degenerativas. Podem se apresentar como formas isoladas (quando o recém nascido apresenta
somente uma mal formação, envolvendo sistemas corporais isolados) ou associadas (quando
coexistem múltiplas mal formações envolvendo muitos órgãos)2, 3
.
Uma definição mais ampla seria a de que a mal formação congênita corresponde a grupos
heterogêneos de diagnósticos, cada qual com morfogêneses distintas como as mal formações
congênitas, que são defeitos morfológicos de um órgão ou parte do corpo resultantes de um
processo do desenvolvimento anormal intrínseco.
Além disso, a mal formação congênita pode ser classificada segundo etiologias ou
mecanismos patogenéticos, como é o caso das trissomias 4. Essa é a lógica utilizada pela
Organização Mundial da Saúde (OMS), na Classificação Internacional de Doenças (CID) para a
codificação dos defeitos congênitos.
As causas associadas a mal formação congênita são ainda incertas. Estima-se que 15 a 25%
devem-se a alterações genéticas, 8 a 12% estão entre os causados por fatores ambientais, e 20 a
25% àqueles causados por ambos. Porém, a maioria 40 a 60% é de origem desconhecida 2,5
.
As mal formações congênitas são extremamente variáveis tanto no tipo quanto no mecanismo
causal, mas todas surgem de um transtorno do desenvolvimento durante a vida fetal6.
As causas de anomalias congênitas são freqüentemente divididas em fatores genéticos
(anomalias cromossômicas) e fatores ambientais, como drogas. Muitas anomalias congênitas
comuns são causadas por fatores genéticos e ambientais atuando conjuntamente. Isto se chama
herança multifatorial. Em 50 a 60% das anomalias congênitas, as causas são desconhecidas6.
Ao se analisar a teratogenicidade de um agente, devem-se levar em consideração três
princípios importantes: os períodos críticos do desenvolvimento, a dosagem de uma droga e o
genótipo do embrião. O período do desenvolvimento mais crítico é aquele em que a divisão
celular, a diferenciação celular e a morfogênese encontram- se em seu pico6.
3
Cada segmento de órgão de um embrião tem um período crítico durante o qual o seu
desenvolvimento pode ser perturbado. O tipo de anomalia causada depende de quais partes e
órgãos são mais suscetíveis no momento em que o teratógeno está ativo. Altos níveis de radiação
produzem mal formações no sistema nervoso central e dos olhos, além de retardo mental. O vírus
da rubéola causa defeito nos olhos (glaucoma e catarata), surdez e anomalias cardíacas. A
talidomida induz a defeitos dos membros e várias outras anomalias, como no ouvido por
exemplo6.
Talidomida ou "Amida Nftálica do Ácido Glutâmico" trata-se de um medicamento
desenvolvido na Alemanha, em 1954, inicialmente classificado como sedativo. Contudo a partir
de sua comercialização, em 1957, gerou milhares de casos de focomelia, que é uma síndrome
caracterizada pela aproximação ou encurtamento dos membros junto ao tronco do feto, devido a
ultrapassar a barreira placentária e interferir na sua formação. Utilizado durante a gravidez
também pode provocar graves defeitos visuais, auditivos, na coluna vertebral e em casos mais
raros, do tubo digestivo e problemas cardíacos7.
A ingestão de um único comprimido nos três primeiros meses de gestação ocasiona a
Focomelia, efeito descoberto em 1961, que provocou a sua retirada imediata do mercado
mundial. No entanto, em 1965 foi descoberto o seu efeito benéfico no tratamento de estados
reacionais em Hanseníase (antigamente conhecida como lepra), e não para tratar a doença
propriamente dita, o que gerou a sua reintrodução no mercado brasileiro com essa finalidade
específica7.
As mal formações de membros são as mais descritas dentre todas produzidas pelo efeito
teratogênico da talidomida. Os defeitos são normalmente bilaterais, mas não necessariamente
simétricos e membros opostos são afetados de forma desigual.
É possível dividir os defeitos de membros em quatro grupos: Focomelia (membros curtos ou
rudimentares) nos quatro membros; Focomelia ou amelia (ausência total) de membros superiores
com outros defeitos de membros inferiores; Focomelia ou amelia de membros superiores com
membros inferiores normais; Defeitos de membros inferiores predominantes (hipoplasia femoral
ou focomelia de extremidades inferiores), associados com membros superiores encurvados ou
com outros defeitos 8- 11
.
4
Os membros inferiores e superiores têm deformações pré-axiais e intercalares, sendo as
extremidades superiores geralmente acometidas por perda de dígitos e as inferiores por
polidactilia e sindactilia 8,11.
A ação da Talidomida na gravidez inibe o desenvolvimento normal do feto. A incidência
maior do medicamento recai sobre os membros superiores (53% dos casos). O atrofiamento, tanto
de membros superiores quanto de inferiores representa 25% do total de deficiências, enquanto a
surdez responde por 11%. Os outros 11% restantes dividem-se em casos mais raros como
cegueira, atrofia apenas dos membros inferiores, mal formação da estrutura vertebral e do tubo
digestivo7.
A mal formação congênita é provocada pela ingestão do medicamento pela mãe, porém neste
estudo de caso específico o homem fez uso do medicamento talidomida para tratamento de
hanseníase, tornando um fato novo. Atualmente os registros trazem estudos de casos ocorridos
com a mãe, diante disto surgiu então a necessidade de se pesquisar.
A talidomida atravessa a placenta livremente, e estudos sugerem ser por difusão simples; no
entanto, ainda não se sabe se é excretada no leite materno 12
. Também ainda não se sabe se a
talidomida está presente no sêmen de homens saudáveis. Entretanto, um estudo duplo-cego
placebo-controlado com doses de talidomida de 100mg/dia ou placebo com indivíduos HIV
positivos, mostrou níveis de talidomida no líquido ejaculatório relacionados aos níveis
plasmáticos, indicando que esses níveis no sêmen podem aumentar caso a dose seja maior do que
a utilizada13
.
A talidomida começou a ser comercializada no Brasil em 1958, e ao longo dos anos em que
foi utilizada possuía quatro nomes comerciais: Sedalis®, Sedalis® 100, Sedin® e Slip®. Todos
esses fármacos eram indicados nos distúrbios do sono e como tranqüilizantes 14,15
. A partir de
1962, com o reconhecimento da teratogênese, o governo federal cassou as licenças dos fármacos
à base de talidomida, mas o ato só foi formalmente estabelecido em 1964, e segundo a
Associação Brasileira de Portadores da Síndrome da Talidomida (ABPST), a droga só foi de fato
retirada do mercado em 1965 16.
Na década de 1960 o uso da talidomida no Brasil foi regulamentado pelo Ministério da Saúde
para o tratamento do ENH 15
. Em 1973, em Porto Alegre, foi Registrada a Associação Brasileira
de Vítimas da Talidomida (ABVT), que surgiu com intuito de entrar com ações indenizatórias
contra o governo brasileiro 14
.
5
Em 1976 iniciou-se uma ação judicial contra laboratórios e o governo brasileiro exigindo suas
responsabilidades pela tragédia das vítimas da talidomida. A ação arrastou-se por muitos anos,
principalmente devido a falta de comprovação do uso da talidomida durante a gravidez das mães
de indivíduos afetados. Só em 1982 o governo sancionou a lei 7070 garantindo pensão vitalícia
para os portadores de embriopatia por talidomida. Em 1992 foi criada a ABPST com o objetivo
principal de revisão dos valores das pensões, direito a tratamento cirúrgico, ortopédico e
reabilitação 15
.
Um relatório do Ministério da Saúde17
alerta para os novos casos de bebês com más formações
causadas pelo uso do medicamento talidomida. A simples menção a talidomida causa medo em
muitas pessoas até hoje, embora 50 anos tenham se passado desde que essa droga causou o maior
desastre da história da medicina. Apesar desse triste episódio ter ocorrido há tanto tempo,
somente agora a ciência começa a desvendar os mistérios associados ao uso indevido desse
composto. Por isso despertou em nós a necessidade de relatar um estudo de caso onde o pai é
que estava sendo medicado com a talidomida.
O aumento colossal das vendas teve enorme impacto no balanço financeiro da empresa, de tal
forma que, em 1960, no auge do processo de expansão do mercado apenas na Alemanha foram
vendidas aproximadamente 14 toneladas do produto por ano 18
.
Paralelamente ao crescimento das vendas, começaram a surgir os primeiros relatos médicos
sobre reações adversas, incluindo constipação intestinal, tonteiras, perda de memória e
polineurites, entre outras7.
Talidomida, por força da Portaria nº 354, de 15 de agosto de 1997, é proibida para mulheres
em idade fértil em todo o território nacional 7. Apesar da proibição, em casos especiais, médicos
receitam as droga. Entretanto são previstas sanções legais, cabendo observar que mesmo com a
assinatura de Termo de Esclarecimento aos Pacientes e Termo de Responsabilidade Médica,
ambos podem ser responsabilizados pelo mau uso da droga7.
Tem sido demonstrado que apenas o uso de anticoncepcionais por mulheres em idade fértil
não é suficiente para prevenir a ocorrência de nascimentos de crianças com síndrome da
Talidomida, pois a droga inibe o efeito dos anticoncepcionais. Portanto, deve-se usar o máximo
de métodos contraceptivos para maior segurança. Além disso, é de extrema importância que
todos os exames disponíveis de gravidez sejam utilizados (ex: urina, BHCG,etc) 7.
6
Conforme a Resolução n° RDC 140/2003 da ANVISA19
, a bula do medicamento informa que
“os homens que utilizam a Talidomida e mantém vida sexual ativa com mulheres em idade fértil,
mesmo tendo sido submetidos à vasectomia, devem ser orientados a adotar o uso de preservativo
durante o tratamento” e ainda “sobre a importância dos usuários não doarem sangue ou esperma”.
O objetivo geral deste estudo consistiu em mostrar a evolução do desenvolvimento motor de
uma criança vítima do medicamento talidomida; observar e relatar a evolução do
desenvolvimento motor desta criança.
7
CASUÍSTICA E MÉTODOS
Trata-se de uma pesquisa descritiva, do tipo relato de caso. A amostra foi composta por 1
criança, 4 anos de idade, com diagnóstico médico confirmado de mal formação congênita
provocada pelo uso do medicamento talidomida.
Os pais ou responsável legal do sujeito da pesquisa foram esclarecidos sobre a natureza da
pesquisa, seus objetivos e procedimentos, e consultados quanto ao aceite em participar do estudo,
de acordo com as recomendações da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Após
esclarecimento, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido concordando em
participar do estudo (TCLE) (ANEXO 01).
O TCLE foi criado a partir de modelo sugerido pelo Comitê de Ética em Pesquisa do CEP -
HUGO, sendo este entregue ao responsável, a fim de explicar as condições de coleta de dados,
proporcionando o entendimento completo do projeto e suas implicações para o sujeito da
pesquisa e para resguardar o participante em sua dignidade humana. Os preceitos ético-legais
foram estabelecidos de acordo com a resolução 196 do Conselho.
Nacional de Saúde (1996), que trata de recomendações éticas quando da realização de
pesquisa que envolva seres humanos. O protocolo desse estudo foi encaminhado para apreciação
do Comitê de Ética em Pesquisa Humana (CEP-HUGO), com posterior aprovação (ANEXO 02).
Foi incluído no estudo o indivíduo que apresentou mal formação congênita, provocada pelo
medicamento talidomida; idade de 4 anos; sexo masculino; inserido na equipe multiprofissional
do CRER; os pais ou responsável legal do sujeito da pesquisa que concordaram em participar
assinando o TCLE. Foram excluídos da pesquisa estavam incluídas nas populações e classes:
índios, presidiários, militares, e os pais ou responsável legal do sujeito da pesquisa que não
concordaram em participar.
O estudo foi realizado no Centro de Reabilitação e Readaptação DR. Henrique Santillo,
localizado no endereço Avenida Vereador José Monteiro, n. 1655, setor Negrão de Lima,
Goiânia/GO. A pesquisa foi realizada de fevereiro a julho de 2011.
Foi utilizada a Medição da Função Motora Grossa (GMFM), (ANEXO 3) para a realização da
coleta de dados, que é um instrumento de observação padronizado, criado e validado para medir
mudança na função motora grossa que ocorre com o passar do tempo nas crianças com paralisia
cerebral.
8
O GMFM-88 é composto por 88 itens e avalia a função motora em 5 dimensões: (A) deitado
e rolando com 17 itens; (B) sentado, com 20 itens; (C) engatinhando e ajoelhando, com 14 itens;
(D) ficando em pé, com 13 itens; e (E) andando correndo e pulando, com 24 itens.
Cada item do GMFM é pontuado em uma escala de 4 pontos, sendo 0 quando a criança não
inicia; 1 quando a criança inicia e realiza menos de 10% da tarefa; 2 quando a criança completa
parcialmente (mais que 10% e menos que 100% da tarefa); e 3 quando a criança completa 100%
da tarefa. O escore de cada dimensão é inicialmente transformado em percentil e posteriormente
o escore total geral do teste é obtido pela soma dos resultados de todas as dimensões e dividindo.
Todas as informações referentes à pesquisa foram fornecidas ao participante e aos
responsáveis legais. A aplicação dos procedimentos foi iniciada após a leitura do termo de
consentimento livre esclarecido, contendo duas vias, uma para os participantes e outra para a
pesquisadora responsável.
A pesquisadora assinou o termo de responsabilidade de acordo do inteiro teor da resolução
196/96 bem como as demais aplicáveis ao caso, e as normas vigentes na administração onde será
coletado o material. (ANEXO 4)
A pesquisa foi dividida nas seguintes etapas – avaliação do pré-teste, programa de atividades
no centro de reabilitação e avaliação do pós-teste.
A avaliação do nível de desenvolvimento motor da criança no pré e pós-testes foram
realizadas por meio das tarefas que compõem a escala GMFM no qual analisa os seguintes
componentes: Motricidade fina, Motricidade grossa (avalia a coordenação geral), Equilíbrio
(avalia a postura estática), Esquema corporal (avalia a imitação de postura e rapidez),
Organização espacial (avalia a percepção espacial) e Lateralidade (avalia a lateralidade de mãos,
olhos e pés).
Após o pré-teste o sujeito da pesquisa foi submetido às terapias no Centro de Reabilitação e
Readaptação Dr. Henrique Santillo/ Crer.
O protocolo de tratamento de fisioterapia foi através do Conceito Neuroevolutivo Bobath,
cujo alvo principal é auxiliar a criança a mudar suas posturas e movimentos anormais de modo
que possam se adaptar confortavelmente ao ambiente e desenvolver uma melhor qualidade nas
habilidades funcionais.
O tratamento Neuroevolutivo Bobath priorizou a melhora da capacidade funcional da criança,
isto é, independência cada vez maior na sua rotina de vida diária. A terapia é especializada no
9
tratamento de distúrbios de função, movimento e controle postural, os quais foram causados por
uma lesão no sistema nervoso central.
O objetivo do tratamento é obter mudanças no tônus postural e padrões de movimentos, para
possibilitar torná-los mais úteis e eficientes, através da prática e do aprendizado. As sessões
visaram: ajuste postural em resposta as modificações do ambiente e as mudanças no corpo
durante atividades funcionais; motivar orientação de tarefas e funções; assim, em um ambiente
agradável e lúdico, à medida que a criança torna-se capaz de realizar as atividades, diminui-se
gradativamente a interferência direta do terapeuta, promovendo aumento de sua independência.
O sujeito da pesquisa realizou também hidroterapia 2 vezes por semana. As atividades
aquáticas também ajudam a aprimorar movimentos básicos e fundamentais necessários para
outras atividades do dia-a-dia, além disso, o trabalho na água pode proporcionar independência, o
que colabora para o engrandecimento da auto-estima, influenciando dessa forma o
desenvolvimento social.
O pesquisado também teve acompanhamento com o terapeuta ocupacional, 2 vezes por
semana e teve como objetivos a independência na alimentação, locomoção com skate, melhora
da função manual, fortalecimento de tronco, trocas posturais e uso do lúdico favorecendo a
coordenação visuomotora.
Foram realizados 6 meses de atendimentos multiprofissionais, no período de janeiro a julho
de 2011, duas vezes por semana, com duração de 40 minutos cada terapia.
Ao final do programa de intervenção, foi realizada a avaliação do pós-teste, a qual seguiu os
mesmos procedimentos do pré-teste, com o fim de se analisar o desenvolvimento motor em
resposta às sessões de terapias multiprofissionais.
10
RELATO DO CASO
Sujeito AMR, idade cronológica de 4 anos, sexo masculino, com mal formações, múltiplas
focomelias + agenesia de origem congênita, causada devido seu pai ter feito uso do
medicamento talidomida, no período de sua concepção; gestação sem intercorrências, parto
cesariano, chorou ao nascer, sem queixas respiratórias. Atualmente, o paciente não deambula,
movimenta em casa rolando, não consegue estender ou abduzir MMII’s, não realiza alcance,
mantém-se sentado e arrasta em prono, respostas normais aos estímulos sensoriais, não conhece
cores e formas e encontra-se dependente para as AVD’s.
Na figura 1 observa-se hipoplasias do rádio e da ulna bilateral, ausência da articulação
glenoumeral bilateralmente, ausência de raios das mãos extrodactilia e hipoplasias escapular.
Figura 1. Hipoplasias do radio e da ulna bilateral, ausência da articulação glenoumeral bilateralmente, ausência
de raios das mãos extrodactilia.
Na figura 2 observa–se pés eqüino varo adutos.
Figura 2. pés eqüino varo adutos.
11
Na figura 3 observa-se a movimentação do paciente, por meio do rolar.
Figura 3. Paciente em decúbito ventral, lateral e dorsal/ movimento por meio do rolar..
Na figura 4 se observa a imagem de RX de tronco, apresentando textura óssea normal,
acentuada hipoplasia da escápula e úmero bilateral, estando a articulação gleno – umeral
rudimentar, espaços articulares conservados, agenesia do rádio e ulna bilateral e hipoplasia dos
ossos do carpo.
Figura 4. Textura óssea normal, hipoplasia do úmero bilateral, estado da articulação gleno – umeral rudimentar,
espaços articulares conservados, agenesia do rádio e ulna bilateral, hipoplasia dos ossos do carpo.
12
Na figura 5 pode-se observar o RX da bacia, com textura óssea normal, escavação pelviana de
configuração anatômica, hipoplasia do acetábulo bilateral, hipoplasia da cabeça do fêmur
bilateral, luxação lateral das extremidades proximais dos fêmures, hipoplasia da tíbia e da fíbula
bilateral.
Figura 5. RX da bacia: textura óssea normal, escavação pelviana de configuração anatômica, hipoplasia do
acetábulo bilateral, hipoplasia da cabeça do fêmur bilateral, luxação lateral das extremidades proximais dos
fêmures, hipoplasia da tíbia e da fíbula bilateral.
Na figura 6 observa-se o RX da coluna, onde apresenta textura óssea conservada, alinhamento
ósseo preservado, aparente falha de fusão nas estruturas dos arcos posteriores de L 5 e dos
elementos sacrais.
Figura 6. Textura óssea conservada, alinhamento ósseo preservado, aparente falha de fusão nas estruturas dos
arcos posteriores de L 5 e dos elementos sacrais.
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A tabela 1 apresenta informações eferentes à evolução da função motora grossa nas 5
dimensões do GMFM, antes e após a reabilitação multiprofissional.
Comparando os resultados iniciais e finais, como é apresentado na tabela 1, constatou-se por
meio da ficha de avaliação GMFM, que no início do tratamento o sujeito apresentava na
dimensão A (deitar e rolar), 84% antes e se manteve, não tendo alteração na função motora, assim
como na dimensão B (sentar), onde o paciente apresentou 65% antes e depois. Já na dimensão C
(engatinhar e ajoelhar), o mesmo apresentou 2% antes e evoluiu na função motora grossa para
14%. Nas demais dimensões não houve uma melhora na função motora grossa; na dimensão D
(ficar em pé), a pontuação foi 0% e 0%, pois devido à mal formação congênita o mesmo não
conseguiu realizar as atividades solicitadas nesta dimensão. O mesmo ocorreu na dimensão E
(andar, correr e pular).
Tabela 1. Evolução da função motora grossa do participante da pesquisa nas 5 dimensões do
GMFM (n=1), antes e depois da reabilitação multiprofissional. Goiânia-GO, 2010-2011.
GMFM ANTES DEPOIS
DIMENSÃO A / DEITAR E ROLAR 84% 84%
DIMENSÃO B / SENTAR 65% 65%
DIMENSÃO C / ENGATINHAR E AJOELHAR 2% 14%
DIMENSÃO D / EM PÉ 0% 0%
DIMENSÃO E / ANDAR, CORRER, E PULAR 0% 0%
ESCORE TOTAL 30% 32%
Ao correlacionar a evolução nas dimensões do GMFM antes e depois da reabilitação, pôde-se
observar que apenas a dimensão C (engatinhar e ajoelhar) apresentou uma evolução significativa.
As outras dimensões não tiveram alteração na sua porcentagem. Um dado importante observado
neste resultado foi o escore total; pois antes o sujeito da pesquisa apresentava 30%, e após 6
meses de reabilitação o mesmo apresentou uma evolução significativa para 33%.
14
DISCUSSÃO
Após 6 meses de reabilitação aplicando o protocolo de tratamento estabelecido nesta
pesquisa, observou – se como resultados finais uma melhora na função motora grossa do
engatinhar e ajoelhar, seguida de controle total de cervical e tronco, reação parcial de proteção e
de endireitamento. A dimensão C apresentou 2% antes e evoluiu na função motora grossa para
14%. Nas demais dimensões não houve uma melhora na função motora grossa.
Ferreira (2001)20
descreve que o desenvolvimento motor se processa a partir de uma
estimulação casual e que as crianças, quando expostas a uma estimulação organizada, em
circunstâncias que sejam encorajadoras, suas capacidades e habilidades motoras tendem a
desenvolver-se.
As reações de equilíbrio são respostas automáticas complexas e altamente integradas às
mudanças de posturas e movimentos, destinadas a restabelecer o equilíbrio alternado. Estas
reações se manifestam em mudanças muito pequenas do tônus por toda a musculatura postural ou
em movimentos automáticos de oposição para restabelecer o equilíbrio alterado21
.
Knox e Evans22
realizaram uma pesquisa que teve como objetivo avaliar os efeitos funcionais
do conceito Bobath. Os sujeitos da pesquisa tiveram importante evolução em relação à função
motora, corroborando com os resultados desta pesquisa, demonstrando assim que o conceito
Bobath pode ser de grande relevância.
Apesar dos estudos demonstrarem a eficácia da talidomida no tratamento de várias doenças,
deve-se considerar a dificuldade de se fazer a vigilância efetiva na comercialização desse fármaco
e a gravidade do efeito tóxico conhecido comprometendo a segurança na sua utilização. Um
grande número de bebês vítimas da talidomida continua a nascer a cada ano, possivelmente
devido a regulamentação deficiente e seu uso difundido sob supervisão inadequada.
Devido os resultados dos últimos estudos científicos que vêm demonstrando a ampliação do
uso da talidomida e de sua eficácia terapêutica no tratamento de determinadas patologias
prevalentes no país, a Portaria Conjunta nº 25/02 aprova os Protocolos Clínicos e Diretrizes
Terapêuticas para as seguintes patologias: doença enxerto contra hospedeiro (DECH), lúpus
eritematoso sistêmico e mieloma múltiplo23
.
15
Nos dias atuais, a questão que se coloca não é mais se a talidomida tem indicação terapêutica
nesta ou naquela situação, se deve ou não estar acessível para uso em mulheres, mas sim o que
pode ser feito para assegurar que a talidomida seja usada com racionalidade e segurança.
Não foram encontrados estudos relacionados ao artigo descrito, necessitando de novos
estudos para elucidar todas as questões que envolvem a mal formação correlacionada ao fármaco
talidomida.
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CONCLUSÃO
Tendo em vista os resultados apresentados neste trabalho, verificou-se que o tratamento
fisioterapêutico e multiprofissional proposto por meio do conceito Bobath contribuíram de forma
positiva na melhora do engatinhar e ajoelhar do sujeito relatado.
Este estudo é de grande relevância científica, contribuindo de maneira significativa na
reabilitação das crianças com mal formação congênita, pois seus resultados poderão ser
disseminados para a população e especificamente aos profissionais da saúde, atuando assim
como um método preventivo de novos casos.
Vários medicamentos são lançados no mercado de forma desenfreada, visando principalmente
o lucro; e muitos destes medicamentos provocam tragédias nas famílias principalmente nas mais
carentes sem as orientações necessárias. A talidomida foi um exemplo, entre tantos, de
medicamentos pouco estudados, com o objetivo único de realizar a principal meta dessas
empresas, ou seja, o aumento do faturamento e a manutenção do poder econômico.
Esta irresponsabilidade resultou num mal irreparável a milhares de vidas no mundo inteiro. A
tragédia dos bebês deformados, apesar do desastre, resultou num avanço nas pesquisas e estudos
com a talidomida, além de muitos outros fármacos. Por ironia, o fármaco que causou tanto
sofrimento, retorna agora com a promessa de vida e esperança para milhares de pacientes.Várias
pesquisas foram realizadas na tentativa de comprovar a eficácia da talidomida; porém, não se
deve esquecer o passado deste medicamento e sua trajetória em todo o mundo; e no momento em
que se anuncia um novo século, a orientação adequada ao paciente que necessita ser medicado
com este fármaco é essencial.
17
AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar a Deus, que sempre iluminou meu caminho me dando muita fé e
coragem para seguir em frente, a toda a minha família, em especial a minha mãe, Nair do Carmo,
que é um exemplo de dedicação e amor. Não podendo esquecer-se do meu super herói meu pai
Lazaro Dias. Agradeço também ao corpo docente da PUC Goiás, de forma especial a professora
Cejane Oliveira Martins Prudente, que sempre me serviu inspiração, e que agregaram muito valor
a minha formação profissional e pessoal. Agradeço à avaliadora Cintya Louza que de forma
carinhosa esteve sempre presente comigo nesta caminhada. Não posso esquecer também de todos
os amigos e colegas que se prontificaram a participar do presente estudo e que me acompanharam
durante toda essa caminhada, dando muita força e ânimo para encerrar mais este ciclo em minha
vida.
18
REFERÊNCIAS
1.Dicionário digital de termos médicos 2006. Disponível em
http:/www.pdamed.com.br/diciomed/pdamed. [Acessado em 26 de julho de 2006.]2.
2. Horovitz DDG, Llerena Junior JC, Mattos RA. Atenção aos defeitos congênitos no Brasil:
panorama atual. 3. Maciel ELN, Gonçalves EP, Caderno Saúde Pública 2005; 21(4): 1055-64.
3. Alvarenga VA, Polone CT, Ramos MC. Perfil epidemiológico das malformações congênitas
no município de Vitória-ES. Caderno Saúde Coletiva 2006; 14 (3): 507-18.
4. Lynberg MC, Edmonds LD. State use of birth defects surveillance. In: Wilcox LS, Marks JS,
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produtos a base de talidomida.
20
Pesquisadores:
Olívia Maria de Jesus
Possui graduação em fisioterapia pela Universidade Salgado de Oliveira (2009),
Aperfeiçoamento profissional pelo Centro de Reabilitação e Readaptação Drº Henrique Santillo.
Formação Internacional em Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (PNF) Conceito Maggie
Knott e IPNFA. Atualmente realiza atendimentos domiciliar. Tem experiência na área de
Fisioterapia, com ênfase em Fisioterapia Neurológica.
Cintya Maria Louza
Especialização em Analise e Terapêutica do Movimento Humano Aplicado pela Universidade
Estadual de Goiás, Brasil(2004); Fisioterapeuta do Centro de Reabilitação e Readaptação Dr
Henrique Santillo , Brasil.
Orientada
Prof. Drª Cejane Oliveira Martins Prudente.
Possui graduação em fisioterapia pela Escola Superior de Educação Física de Goiás -
Universidade Estadual de Goiás (1998), especialização em Fisioterapia Neurológica pela
Universidade de Brasília, mestrado em Ciências Ambientais e Saúde pela Pontifícia Universidade
Católica de Goiás (2006) e Doutorado em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina da
Universidade Federal de Góiás. Atualmente é professora efetiva da Pontifícia Universidade
Católica de Goiás e da Universidade Estadual de Goiás. Tem experiência na área de Fisioterapia,
com ênfase em Fisioterapia Neurológica.