EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA COMO LUGAR DA AUTORIA NA …§ão... · A inversão dos termos Educação e...
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EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA COMO LUGAR DA
AUTORIA NA PRODUÇÃO DE SABERES NAS AULAS
DE BIOLOGIA E FÍSICA
ANA PAULA BATALHA RAMOS SOARES
RAFAEL DOS ANJOS MENDES TAVARES
LEADRO FABRÍCIO RIBEIRO
Education and Technology as Place of Authorship in the
Production of Knowledge in Biology and Physics Classes
Resumo
O trabalho se propõe a tecer algumas reflexões acerca do binômio Educação e Tecnologia
procurando afastar-se de concepções que tratam essa expressão de forma invertida e por isso
mesmo, tendem pensá-lo como sinônimo de inovação. Destacamos que ao entendê-los como
campo de saberes articulados no contexto pedagógico da Educação Básica, podem conferir tanto
ao professor quanto ao aluno a condição de autoria na produção de conhecimento trazendo
outras nuances à epistemologia social escolar e a formação continuada do professor. As
proposições deste texto estão ancoradas no trabalho realizado por uma escola do Rio de Janeiro,
de forma específica, nas turmas da 2ª e 3ª série do Ensino Médio. As inspirações advindas do
diálogos teórico-metodológicos com os saberes docentes (TARDIF, 2004), as diferentes formas
de relação com o saber (CHARLOT, 2000) e as metodologias ativas (MORAN,2015) trazem às
aulas de Biologia e Física do Ensino Médio, a constituição de “comunidades de aprendizagem”
docente e discente movimentando as linhas que traçam o conhecimento escolar pautado na
tradição disciplinar. Defendemos o argumento de que a lógica da utilização da tecnologia como
ferramenta não é suficiente para promover outras relações com os conhecimentos que
constituem os adjetivos “escolar” e “docente”.
Palavras-chave: Educação e Tecnologia, saberes escolares, aprendizagem.
Abstract
The paper intends to weave some reflections about the binomial Education and Technology, trying
to move away from conceptions that treat this expression in an inverted way and, therefore, tend
to think of it as a synonym for innovation. We emphasize that by understanding them as a field of
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knowledge articulated in the pedagogical context of Basic Education, they can give both the
teacher and the student the condition of authorship in the production of knowledge bringing other
nuances to the school social epistemology and the continuing education of the teacher. The
propositions of this text are anchored in the work done by a school in Rio de Janeiro, specifically,
in the 2nd and 3rd grade classes. Inspirations from theoreticalmethodological dialogues with
teaching knowledge (TARDIF, 2004), different forms of relationship with knowledge (CHARLOT,
2000) and active methodologies (MORAN, 2015) bring to Biology and Physics classes in high
school, the constitution of teaching and student “learning communities” moving the lines that
outline school knowledge based on the disciplinary tradition. We argue that the logic of using
technology as a tool is not sufficient to promote other relationships with the knowledge that
constitute the adjectives "school" and “teacher”.
Keywords: Education and Technology, school knowledge, learning.
Introdução
A inversão dos termos Educação e Tecnologia proposta no título do trabalho não é aleatória. Ela
já anuncia uma posição teórico-metodológica que sustenta este trabalho e talvez sim, esta possa
ser entendida como inovação no campo.
Assumimos a posição de pensar a Tecnologia a partir das contribuições advindas do campo
da pedagogia e de forma mais adensada, da Didática para trazê-la não como recurso de
inovação, mas como elemento que pode reconfigurar as aprendizagens dos sujeitos que
compõem o espaço escolar e promover outras formas de relação com o saber.
A utilização de tecnologia como um recurso que auxilia os processos pedagógicos já não
representa mais uma grande inovação na área educacional. Embora a utilização da tecnologia
como uma ferramenta seja uma forte tendência, é importante ter clareza de que estamos diante
da geração digital. Uma geração nascida e criada em um mundo completamente digital e,
portanto, sensível à utilização de qualquer recurso que traga rapidez na resposta, facilidade e
eficiência. Sendo assim, apenas utilizar a tecnologia como ferramenta não traz,
necessariamente, qualidade à aprendizagem dos alunos, uma vez que não instiga à construção
de outras formas de relação com o saber e a autoria.
Assumimos como premissa que para haver reconfiguração nas formas de pensar e agir do
sujeito aprendente é importante que tenha um processo pedagógico cuidadosamente planejado
pelo professor para que a experiência em sala de aula seja ainda mais instigante, dinâmica e
interativa.
Nessa direção, o texto traz resultados do trabalho realizado em uma escola do Rio de Janeiro,
com alunos do Ensino Médio, nas aulas de Biologia e Física procurando operar na pauta da
epistemologia social escolar considerando que a tecnologia sob o olhar educação, pode
reconfigurar os processos de produção e circulação de saberes docentes (TARDIF,
2004), saberes escolares (GABRIEL, 2003; RAMOS, 2006) e as formas de relação com o saber
(CHARLOT, 2000).
O trabalho em pauta não trata de defender uma “nova pedagogia” que concebe a tecnologia
como linguagem ou técnica de ensino, mas se propõem por meio do pensamento reflexivo sob
a prática, posicioná-la por um lado com mobilizadora de iniciativa de formação continuada no
espaço escolar assegurando a integração crítica e reflexiva aos processos educacionais e por
outro, ressignificando os saberes docentes e escolares. Seguir nessa linha, parece-nos mais
interessante, na medida em que o processo de construção de conhecimento, do qual docentes
e alunos podem participar mobilizando saberes individuais de diferentes naturezas –
disciplinares, científicos, curriculares, culturais, entre outros – traz mobilidade às posições de
sujeito previamente definidas, bem como a relação entre os participantes do processo,
potencializando a condição de autoria individual e coletiva. E ainda, fomenta a utilização de
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recursos linguísticos e de auto-regulação da aprendizagem criando novas formas de convívio
social, afetivo e cultural.
Nas linhas deste traçado, a associação educação e tecnologia traz um espaço de produção
de saberes autorais, por meio da constituição de “comunidades de aprendizagem” docente e
discente movimentando as linhas que traçam o conhecimento escolar pautado na tradição
disciplinar. Ademais, desenvolvem esquemas mentais de seleção, análise, síntese, associação,
inferência, que será explorado mais adiante neste trabalho.
Ao tecer as reflexões ora propostas sem perder de vista a proposição anunciada de fazê-las
na pauta da epistemologia social escolar (GABRIEL, 2006) queremos marcar a posição de
reconhecimento da complexidade e da multidimensionalidade dos processos de seleção,
produção e circulação dos saberes escolares, nos aspectos epistemológicos, políticos e
pedagógicos que permeiam o processo de ensino-aprendizagem.
Tendo como foco de discussão o ensino de conteúdos disciplinares
específicos, torna-se difícil sustentar que no processo de produção de
conhecimento escolar não entrem em linha de conta critérios também
de ordem epistemológica. No campo pedagógico, a questão dos
valores é intrínseca à seleção dos conteúdos escolares e entre esses
valores, não é possível descartar o valor de verdade que se formula
também no terreno da epistemologia. (GABRIEL, 2006)
Na medida em que o trabalho é realizado por dois professores especialistas, nas áreas de
Biologia e Física, as ditas ”ciências duras”, não é demais lembrar que assim como o processo de
formação acadêmica, o processo de seleção de conteúdos didatizados, propostos como objeto
de ensino, são frutos de disputa entre interesses diversos advindos da ciência de referência, dos
saberes docente, das possibilidades de construções históricas, pela diversos; pela intenção de
'territorialização' do conhecimento, num movimento de legitimação de grupos, ideias e sujeitos.
Em outras palavras, não nos deixa perder de vista que há sempre uma disputa de sentidos de
conhecimento que confere a não neutralidade aos conhecimentos adjetivados “escolares” e
docentes.
Assumindo essa pauta como cenário das reflexões propostas por este trabalho, procurando
tecer apontamentos que indiquem pistas para pensar: em que medida o diálogo entre os saberes
docentes e os escolares podem criar condições de autoria para os sujeitos da/na escola? Que
possibilidades podem ser encontradas ao reinvestir de potencial os sentidos da expressão
“educação e tecnologia”?
As formulações de tais questões procuram marcar nosso entendimento de que a categorias:
saberes docentes e saberes escolares, têm configurações epistemológicas próprias ainda que
tenham pontos de aproximação. A articulação entre essas categorias de análise, corroboram
com o argumento de que apenas a ótica epistemológica não é suficiente para pensar no processo
de significação da produção de conhecimento escolar e da autoria, no contexto da sala de aula.
Para tecer as reflexões ora propostas organizamos esse trabalho da seguinte forma: na
primeira parte, nos dedicamos a articulação entre as categorias saberes escolares e docentes,
a segunda contextualizamos a proposta de Educação e Tecnologia desenvolvida na escola
analisada e por fim, trazemos as narrativas de professores e alunos que participam desse
trabalho.
A articulação entre os saberes
No campo educacional, o reconhecimento de que existem diferentes saberes no espaço escolar
marcou as pesquisas no final da década de 80. As categorias “saberes escolares” e “saberes
docentes” tem permitido dar visibilidade e problematizar os espaços de construção desses
saberes. Nos últimos anos, esforços têm sido realizados por pesquisadores em educação, com
o objetivo de refinar o instrumental teórico disponível e nesse contexto, a categoria "saber
docente" ganha destaque, pois permite tratar das relações dos professores com os saberes que
reúnem e que os conferem a condição de ensinar e aqueles que ensinam, sob uma nova ótica,
ou seja, mediadas por criadoras de saberes práticos, que passam a ser considerados
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fundamentais para a configuração da identidade e competência profissionais (TARDIF,
LESSARD E LAHAYE, 1991; TARDIF, 2004).
Na obra “Saberes Docentes e Formação Profissional”, Maurice Tardif se dedica a
problematizar os elementos que compõem os chamados “saberes docentes” e a sua relação com
a formação profissional dos professores com o próprio exercício da docência. Seus estudos
oferecem grandes contribuições a partir da provocação feita pelo autor em lançar olhar sobre o
que pensam os professores sobre sua formação. Ao desenvolver esse trabalho, o autor defende
que o saber docente é um “saber plural, formado de diversos saberes provenientes das
instituições de formação, da formação profissional, dos currículos e da prática cotidiana” (p.54).
Tomando como pressuposto a ideia de pluralidade, o autor afirma que a possibilidade de uma
classificação coerente dos saberes docentes só existe quando associada à natureza diversa de
suas origens, às diferentes fontes de sua aquisição, bem como as relações que estabelecem
entre/com os saberes.
Para constituir a categoria “saberes docentes” o autor tece a afirmação a respeito da
existência de quatro tipos diferentes de saberes que configuram a atividade docente: os saberes
da formação profissional (das ciências da educação); os saberes disciplinares; os saberes
curriculares e, por fim, os saberes da experiência.
Ainda que não haja nas considerações do autor nenhuma intenção de hierarquizá-los e
mesmo argumentando que há diversos saberes que compõem essa categoria, o autor chama
atenção para o lugar que os saberes da experiência tendem a ocupar na trajetória profissional.
Essa tendência é defendida por Tardif (2004) sob o argumento da relação de exterioridade que
em geral, o professor mantém com os demais saberes, pois entende que não controlam sua
produção e sua circulação. Essa relação de exterioridade mantida pelos professores com os
saberes curriculares, disciplinares e da formação pedagógica faz com que valorizem ainda mais
os saberes experienciais. Este em geral, o professor mantém o controle, tanto no que diz respeito
a sua produção quanto a sua legitimação reforçando ainda mais a dicotomia teoria- prática,
universidade-escola.
No exercício cotidiano de sua função os professores vivem situações que consideram mais
concretas a partir das quais se faz necessário atuar com habilidade, capacidade de interpretação
e tomada de decisão para agir e escolher qual estratégia ou intervenção deverá fazer para
resolver tal situação. Ainda que cada situação seja única, tendem a guardar entre si certas
aproximações que permitem ao professor, então, transformar algumas das suas estratégias,
trazer a sensação de autoria e promover uma aprendizagem significativa. Esta experiência,
representa concretamente uma conquista e tende a ser utilizada em situações similares, no
sentido de desenvolver um habitus específico a sua profissão.
Considerando que o campo da tecnologia educacional constructo teórico é relativamente
novo, que a tecnologia chega às escolas como um elemento incontornável e ainda que, os
demais saberes (disciplinares, curriculares e da formação) não são possíveis de mobilizar para
oferecer um arcabouço para o professor, é no contexto da prática e da experiência que esse
saber é construído.
A categoria “saber escolar” surge no contexto dos estudos que investigam a relação escola e
cultura, bem como lugar de relevância da escola como espaço de produção da memória coletiva,
de identidades sociais, das tensões que tangenciam os mecanismos de seleção, distribuição e
circulação dos diferentes saberes que habitam à escola.
Entendemos, portanto, que há a especificidade do adjetivo “escolar” e afirmamos que este
não é sinônimo de conhecimento acadêmico ou conhecimento disciplinar, ainda que os demais
sejam elementos que o constituem Com isso, evidenciamos a não neutralidade do conhecimento
escolar que é produto de hibridizações, de seleções, das subjetivações presentes nas tradições
disciplinares, de marcas da ciência de referência e que ainda são reelaborados didaticamente
em objetos de ensino.
Assim, consideramos que o conhecimento escolar é fruto de diferentes demandas que são
endereçadas às escolas, objetivos e finalidades pedagógicas que articulam das dimensões do
ensino e da aprendizagem. Tendo sua configuração enredada no conhecimento cientifico
advindo do contexto de produção da ciência, ganha legitimidade e validade para ser ensinado
no espaço escola.
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Neste trabalho pensamento ganha destaque na medida em que o tomamos não só como
objeto de análise, mas procuramos pensá-lo de forma específica no contexto de duas disciplinas
escolares e portanto concordamos com Gabriel:
Tendo como foco de discussão o ensino de conteúdos disciplinares
específicos, torna-se difícil sustentar que no processo de produção de
conhecimento escolar não entrem em linha de conta critérios também
de ordem epistemológica. No campo pedagógico, a questão dos
valores é intrínseca à seleção dos conteúdos escolares e, entre esses
valores, não é possível descartar o valor de verdade que se formula
também no terreno da epistemologia. A verdade e validade de um
saber se, por um lado, não são mais vistas como definitivas e
absolutas, por outro, continuam a ter sua pertinência baseada em
regimes de verdades construídos e legitimados também no seio da
comunidade científica produtora dos saberes acadêmicos, que servem,
entre outros, de referência para os saberes escolares. (GABRIEL, 2017
p.11)
A proposta da escola
A escola que tem suscitado as reflexões aqui compartilhadas, vem ao longo de três anos
investindo cada vez mais em reflexões e estudos acerca do tema tecnologia e educação. Para
iniciar o trabalho, no ano de 2017, buscou pensá-lo de forma colaborativa. Reuniu com uma
equipe multidisciplinar, composta por professores de diferentes áreas e segmentos,
coordenadores pedagógicos, técnicos e analistas de tecnologia da informação. Essa equipe,
orientada pela Direção Pedagógica participou de reuniões, pesquisas de campo e iniciativas de
formação continuada ao longo de 2 meses. Após implantação do projeto–piloto no primeiro
semestre com o professor de Biologia somou –se a este grupo o professor de Física.
Ao final deste ano, disponibilizou à comunidade escolar recursos de formação e
compartilhamento de experiências advindas do contexto de prática dos professores de Biologia
e Física a fim de oferecer possibilidades de reflexão a respeito do processo pedagógico com
vistas à aprendizagem significativa de docentes e alunos.
Nessa direção, com dois anos de trabalho 267 alunos, distribuídos em 7 turmas da 2ª e 3ª
série do Ensino Médio já estão totalmente inseridos no trabalho.
Atualmente, uma equipe de nove profissionais da área de Tecnologia da Informação atuando
em parceria com a área Pedagógica nas duas unidades da Instituição, desenvolve projetos que
auxiliam professores a criar conteúdo e materiais para suas aulas, bem como oferece recursos
que possam ser utilizados como forma de avaliação.
Os projetos de Educação e Tecnologia, na referida escola, têm como uma das principais
funções ressignificar as relações que o aluno estabelece com suas dúvidas, entre a elaboração
e a resolução de problemas, desejos e necessidades de pesquisa e qualificação de seus estudos
em sala de aula. A ideia é que o aluno encontre uma abertura maior nas interações que
estabelece com seu aprendizado e, do mesmo modo, uma forma consciente e ética de usar a
tecnologia, inclusive no cotidiano. Nessa direção, assume-se a posição de entender que a
tecnologia associada à educação não se resume a utilização de uma ferramenta. Essa
associação traz consigo uma concepção metodológica, materializada por instrumentos e
procedimentos de problematização e criação.
Com esse cenário, a tecnologia representa hoje nessa escola a possiblidade de integração
de espaços-tempos de aprendizagem. O ensinar e o aprender acontece mediante a articulações
simbióticas, constantes entre os “mundos” físico, digital, ético e emocional. São espaços
estendidos, uma sala de aula ampliada que se hibridiza constantemente e oferece múltiplas
possibilidades.
A escola adota como premissa a autoria tanto de professores quanto de alunos. Ainda que as
duas disciplinas Biologia e Física tenham convergências teóricas calcadas nos saberes
disciplinares e acadêmicos das “ciências duras, cada professor, cria seu planejamento para
desenvolver seu trabalho de forma autônoma com vistas ao alcance dos objetivos estabelecidos.
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Contudo, preservam o diálogo, pois reconhecem a potencialidade de compartilhar seus saberes
advindo da experiência.
Nesta escola, os componentes curriculares que correspondem à área de Ciências da
Natureza (Química, Física e Biologia) tem carga horária diferenciada preservando dois tempos
semanais dedicados à pratica de investigação científica realizada em laboratório especifico,
conforme tabela a seguir.
Tabela 1 - Carga horária dos componentes curriculares de Ciências da Natureza.
Componentes curriculares Química Física Biologia
Aulas em Laboratório 2 2 2
Aulas em outros espaços 4 4 3
Essa distribuição nos trouxe uma pista interessante para pensar em que medida a educação
e tecnologia pode representar uma ruptura com o modelo clássico do ensino das Ciências.
Em geral, produções do Ensino de Ciências apontam para o entendimento de que a forma de
aprender “Ciência é fazer ciência” para que seja afastada a condição de mera repetição
formalística ou apoio na indagação e experimentação para estabelecer comprovação.
Entendemos que a educação e tecnologia como aqui propomos, pode trazer ao ensino de
Ciências a possiblidade desenvolver nos alunos uma atitude curiosa, criativa e que opera com
as ideias teoria e prática como sinônimos, não sendo mais possível pensá-las de forma separada.
Na medida em que essas atitudes passam a ser condição de pensamento do ensino de Ciências,
permite-se que o aluno passe não só a formular perguntas, mas sobretudo, passe a entendê-las
como parte do seu processo individual e coletivo de aprendizagem. Cada vez que um professor
se permite enredar pelo viés da Educação e Tecnologia como posição teórico-metodológica para
lançar um olhar sobre seu objeto de ensino, estaremos fazendo Ciência, sem a necessidade
premente de placa protoboard ou microscópios eletrônicos. Isso não significa abrir mão dos
experimentos, mas sim ampliar olhar permitindo o entendimento de que estes não são apenas
os únicos meios para ensinar a pensar cientificamente. Sabemos que as Ciências têm uma lógica
própria quanto a seus processos de produção do conhecimento, inclusive do valor de verdade
desse conhecimento quando adjetivado “científico”. Por isso mesmo, assumimos como
pressuposto que o pensar cientificamente requer resolver problemas, perguntar, construir
possiblidades de solução e realizar registros como forma de memória da aprendizagem.
No contexto específico das aulas de Biologia e Física, os professores envolvidos com o
trabalho adotam esse pressuposto como condição de pensamento para compartilhar com seus
alunos as intencionalidades do processo de ensino-aprendizagem. Além disso, insistem trazer a
problematização como mobilizadora da produção autoral do conhecimento, estimulando a
colaboração e aplicabilidade dos conhecimentos construídos.
Uma das possiblidades vislumbradas é o ensino por problematização e colaboração, em que
inspirados nas etapas do pensamento cientifico, os alunos se tornam mais ativos no processo na
geração de conhecimento.
Na 2ª série do Ensino Médio, as aulas de Biologia acontecem semanalmente nessa lógica,
para tal, os alunos são deslocados para um ambiente em que o mobiliário é diferenciado e
permite diversas configurações: individual, duplas, grupos, plenária.... Cada aluno tem acesso
ao computador para fazer seus registros em ambiente virtual dedicado à produção da turma, as
telas de LCD localizadas em ilhas de produção, permitem que cada grupo possa visualizar e
colaborar com a produção dos demais. Esse ambiente favorece a colaboração, coautoria e
ampliação das conexões entre conhecimentos construídos individual e coletivamente.
As aulas de Física, não necessariamente, utilizam esse espaço com a mesma frequência,
entretanto, os cromebooks vão até as salas de aula para que o trabalho seja desenvolvido com
a mesma finalidade.
É importante destacar que a condição de autoria do professor é também preservada, na justa
medida em que cabe a ele o diálogo entre os elementos que compõem os saberes docente,
reconfigurado por meio dos saberes da experiência adquirida com essa prática. Os excertos a
seguir evidenciam a reconfiguração dos saberes ora anunciada:
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“O projeto me foi inicialmente muito desafiador e intrigante, pois me
fazia repensar a minha forma de dar aula, o meu tratamento dos
conteúdos e o meu papel como professor.
Me deparei com uma total mudança de postura profissional, que por
vezes, me via sim colocando em prática a questão do professor como
um mediador e orientador para a construção do aprendizado dos meus
alunos, várias vezes tivemos que adaptar o tradicional programa, aos
conteúdos correlacionados a matéria trazidos por eles durante as suas
discussões prévias e as suas pesquisas na internet, dessa forma vi
como eles podem ser autores dos seus aprendizados e como aprendi
com esta troca.
As ferramentas digitais facilitaram muito o dia-dia, bem como tornaram
as aulas mais dinâmicas e atrativas, não deixando parecer para eles
maçante. ” (Professor de Biologia)
“Trabalhar com educação e tecnologia me fez repensar na forma de
como eu posso ensinar física e buscar formação continuada na área
de educação e tecnologia.
Usando a tecnologia foi possível trabalhar muito mais como orientador,
mediador e incentivador para o aprendizado do aluno. A dinâmica das
aulas mudou muito com o uso de ferramentas digitais, ao invés de
simplesmente transmitir o conteúdo, planejo as aulas pensando em
situações/problemas para que o aluno possa buscar suas respostas e
entender o conteúdo de diferentes formas. ” (Professor de Física)
Ao reconhecer o impacto dessa experiência na sua ação pedagógica os professores passam
a estabelecer outra relação com seus conhecimentos, considerando que a informação está
apenas sob a primazia da objetividade e o conhecimento é consolidado por meio da experiência
pessoal que traz a marca de apropriação do sujeito. Nas palavras do autor “não há saber senão
para um sujeito[..] não há saber em si mesmo” (CHARLOT,2000 p. 62), pois implica o
conhecimento e requer a relação consigo mesmo, com os outros e com a atividade desenvolvida.
E, assim, estabelecem outras ações que hibridizam diferentes saberes: escolares, docentes,
disciplinares e tantos outros não necessariamente categorizados, que trazem a marca de
significação e de relação de cada sujeito com “o saber”.
Nesse sentido, as aulas destas disciplinas oferecem tanto para professores quanto para
alunos oportunidades de estabelecer uma relação diferenciada com o conhecimento.
Chamo relação com o saber o conjunto de imagens, de expectativas e
de juízos que concernem ao mesmo tempo ao sentido e à função social
do saber e da escola, à disciplina ensinada, à situação de aprendizado
e a nós mesmos" (CHARLOT, 2000, p. 80).
Optamos por dar ênfase ao conceito de relação com o saber quando tratamos de pensar
educação e tecnologia, pois consideramos que esta é também uma forma de relação com o
mundo, que se caracteriza por ser, ao mesmo tempo, simbólica, ativa e temporal, definindo-a,
assim nuclearmente como conjunto de significados e espaço de atividades, inscritos num tempo
(CHARLOT, 2000, p. 78) em que a aprendizagem do sujeito acontece.
As ações pedagógicas dos professores se desdobram em diferentes atividades propostas que
abarcam a ludicidade, a construção de pesquisas, a elaboração de registros colaborativas e
multidisciplinares. À guisa de exemplificar o trabalho realizado, a seguir apresentamos algumas
produções dos alunos como forma de registro de aprendizagem.
Os alunos fizeram a proposta ao professor de Biologia que pudessem registrar suas
aprendizagens por meio de vídeos. Inspirados nos modelos do FameLab, o mais popular
concurso internacional de comunicação científica em que cada participante tem o limite de três
minutos para comunicar suas construções teóricas a respeito do tema recorrendo apenas à
palavra e ao gesto sem a ajuda de audiovisuais, se lançaram neste desafio.
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A medida em que o professor articula seus saberes docentes e permite que os saberes
escolares possam ser produzidos de forma a mobilizar a condição de autoria dos atores que com
ele, estão ali na condição de aprendentes, amplia-se as possibilidades de aprendizagem de
ambos.
No espaço dialogal da sala de aula, o planejamento foi feito de forma colaborativa entre
professor e alunos. Os alunos trouxeram a “novidade” desta forma de comunicação e o professor,
sugeriu que cada grupo pudesse escolher um tema de interesse já estudado que pudesse ter
maior significado para cada grupo. Esta proposição revela a intencionalidade docente em tornar
significativa e visível a aprendizagem para o aluno. Além disso, promove a ampliação das
aprendizagens individuais na medida em que os vídeos produzidos são também compartilhados
e exibidos aos demais tornando-se também material de consulta para estudos realizados em
casa.
Figura 1 - Registro elaborado por grupo de alunos de 16 anos como registros da aprendizagem
a respeito do sistema respiratório.
Coube a cada grupo eleger, além do tema, que recortes ou ênfases seriam dadas a fim de
garantir a cientificidade do conhecimento a ser compartilhado. A figura 2 refere-se a um grupo
que selecionou a partir do tema mais amplo: “sistema digestório”, trazer como acontece a ação
hormonal no sistema digestório. Este grupo teve ao longo do estudo interesse em saber o porquê
umas pessoas tinham mais fome do que outras e se era possível controlar o apetite. Tal
interesse, não necessariamente, estaria descrito no planejamento inicial do professor. Contudo
essa ampliação foi possível a partir do arcabouço que compõem o saber docente deste professor
ao trazer metodologicamente a proposta de indagação e curiosidade ao Ensino de Ciências.
Figura 2 - Registro elaborado por grupo de alunos de 16 anos como registros da aprendizagem
a respeito do controle hormonal no sistema digestório.
Foi interessante perceber como mobilizaram as habilidades de análise e síntese, bem como acionaram a criatividade para elaborar tais registros. Um dos grupos associou conhecimentos adquiridos em games e trouxe o minecraf para seu registro sobre o sistema digestório conforme mostra a figura 3.
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Figura 3 - Registro elaborado por grupo de alunos de 16 anos como registros da aprendizagem
a respeito do sistema digestório.
Outra possiblidade de registro da produção da aprendizagem acontece por meio da
elaboração de resumos colaborativos. A proposta é que o aluno faça primeiro o exercício de
elaboração da sua síntese pessoal e depois compartilha com seus colegas para que os mesmos
possam colaborar.
Nas aulas de Física, a dinâmica embora diferente, tem a mesma finalidade. O professor
propõe um tema ou uma situação problema e é dado um tempo para que os alunos pesquisem
na rede o conteúdo ou possíveis respostas para a problemática. Após a pesquisa, apresentam
suas respostas e o professor assume a condição de mediador provocando novas discussões,
problematizando os apontamentos feitos pelos alunos e orientando os registros apresentados.
Desse modo, além de possíveis respostas ou problema, o chamado conteúdo programático
descrito no planejamento, é naturalmente trazido pelos próprios alunos.
Os alunos escolhem como seus registros terão maior significado entendendo a forma como
funciona sua aprendizagem e a formular seus registros em caderno digital ou no caderno físico.
No contexto específico desta disciplina há uma dificuldade ferramental que por vezes é
representa um entrave na utilização de um caderno virtual em função da forma de registro das
fórmulas e resolução de exercícios. Sendo fiel às palavras do professor: ”escrever fórmulas e
equações no computador requer muito tempo e destreza, não é um registro rápido. Por isso
alguns alunos preferem buscar imagens de fórmulas e equações na internet para colocar no
caderno digital, outros fazem suas anotações no caderno físico mesmo”
Uma das propostas feitas aos alunos partiu da questão: motores a combustão, solução ou
problema? Em busca de possíveis respostas para a questão levantada pelo professor, os alunos
passaram a levantar hipóteses que pudessem defender uma primeira posição a respeito do tema.
Enveredaram no processo de pesquisa para tratar do tema considerando termodinâmica como
conceitos chave para pensar em alternativas.
A materialidade da produção dos saberes escolares ao longo do processo de estudos, foi
registrada em sites criados pelos alunos. Ao longo do processo de pesquisa, ultrapassaram os
limites do que habitualmente seria categorizado como conhecimento específico de uma ou outra
disciplina. Foram buscar o diálogo com a História, Geografia e Química elementos que pudessem
auxiliá-los nas construções e conceitos. O que dizem os atores
Nesta seção, trazemos a voz de professores e alunos, envolvidos com o trabalho de educação
e tecnologia. Como aporte metodológico, lançamos mão de uma pergunta para suscitar a
reflexão acerca do trabalho realizado e dos sentidos que essa prática vem assumindo no
contexto de aprendizagem dos diferentes atores. A escolha metodológica de trazer as narrativas
e pensar sobre elas, considerando as categorias de análise “saberes docentes e saberes
escolares” permitiu fazer alguns apontamentos em defesa de dois argumentos: a condição de
autoria emerge das tensões e diálogos entre os saberes. O processo de ressignificação da
expressão educação e tecnologia está intimamente ligada com o processo de formação do
professor decorrente da sua trajetória profissional e dos saberes da experiência.
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O segundo argumento defendido é evidenciado a seguir nas narrativas dos professores que
reconhecem a importância da formação continuada suscitada no espaço escolar em virtude de
situações que são endereçadas a eles em sala de aula:
Na minha graduação não existiu nenhuma ligação com tecnologia, mas
no mestrado pude desenvolver aplicativos para visualização de
fenômenos físicos e entender como ferramentas digitais podem
impactar o aprendizado dos alunos. O uso de tecnologia na educação
não é a revolução educacional que as pessoas relatam, ela é sim um
grande facilitador no dia a dia, mas trabalhar com uso de ferramentas
digitais requer pensar em novos métodos pedagógicos e novas formas
de fazer o aluno pensar e ter uma postura mais ativa durante as aulas.
(Professor de Física)
O projeto me fez buscar uma formação continuada, na área das
ferramentas digitais facilitadoras do aprendizado, pois na minha
formação profissional a tecnologia que me foi apresentada era muito
limitada. Sendo um desafio profissional, pois durante muito tempo me
questionava sobre alguns pontos, pois via alguns profissionais
indicando que a tecnologia seria a revolução da educação e a solução
de todos os problemas, hoje vejo que esta pode ser vista como um
agente facilitador do cotidiano dos professores, na verdade me vi
realmente tendo que ter uma mudança postural e metodológica, tendo
que instigar o meu aluno a investigar ao invés de ser um agente passivo
do seu aprendizado. (Professor de Biologia)
Os impactos gerados pelos sabres da experiência ampliam o espaço autoral e por um lado
trazem movimento à aprendizagem do professor e por outro mobilizam saberes disciplinares e
curriculares. "Mobilizar-se é pôr-se em movimento", é acionar recursos; é tanto preliminar à
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ação, quanto seu primeiro momento (CHARLOT, 2000, p. 55). O conceito de mobilização aponta,
por sua vez, para os conceitos de móbil e de recursos. Entende-se por móbil a razão para agir
(distinguindo-se de meta, que está vinculado a resultados esperados). Recursos seriam, então,
os trunfos, as forças de diferentes ordens, de que se dispõe e que são atualizados, acionados.
Nessa linha:
“(...) qualquer relação com o saber comporta também uma dimensão
de identidade: aprender faz sentido por referência à história do sujeito,
às suas expectativas, às suas referências, à sua concepção de vida,
às suas relações com os outros, à imagem que tem de si e à que quer
dar de si “ (p. 72).
Me fez questionar alguns conteúdos clássicos da disciplina, pois as
propostas trazidas pelos alunos nas aulas invertidas extrapolaram
estes limites, trazendo um enriquecimento da disciplina e buscando
uma aplicabilidade no cotidiano. Em alguns momentos vi que a falta de
interesse de alguns alunos se explicava por não se sentir atraído pelos
tópicos mais clássicos da disciplina, pois os mesmos quando foram
trazidos pela investigação prévia do aluno, podia ser trabalhado de
forma menos engessada. (Professor de Biologia)
No excerto que representa a voz do professor, referenda a mobilização do saber disciplinares
e curriculares para oferecer subsídios no contexto de prática e, ao mesmo tempo a mudança do
olhar para esses saberes na medida em que são incorporadas as experiências vividas.
O olhar reflexivo do aluno tanto para prática docente, quanto para sua aprendizagem indica
que binômio educação e tecnologia representa uma mudança significativa na forma de relação
como conhecimento das Ciências.
A grande vantagem desse método é expandir as possibilidades de se
aprender o mesmo conteúdo de diferentes formas. Não precisa ficar
preso a explicação do professor, podendo buscar outas formas de
explicação para o mesmo assunto. Um dos pontos fortes desse método
é conseguir visualizar exemplos e fenômenos de forma mais clara
através de imagens, simuladores e vídeos. (Pedro, 2ªsérie do
EM)
Senti diferença nas aulas usando tecnologia, me senti mais estimulado
por ter mudado o ambiente tradicional da sala de aula. Senti dificuldade
em adaptação para esse novo método e gostaria que outras disciplinas
adotassem esse método. (João Victor, 2ªsérie do EM)
As aulas na sala de educação e tecnologia foram mais interessantes
pois minha postura era mais ativa durante as aulas. Uma das
vantagens foi o fato de aprender novas ferramentas que considero
importante para meu futuro. Destaco que as visualizações de exemplos
e fenômenos foram bem melhores. (Lauris, 3ª série do EM)
As experiências de estudo fomentadas com essa prática foram transpostas pelos alunos para
auxiliá-los na compreensão e estudo em outras disciplinas. Sendo assim é possível afirmar que
esse espaço autoral também suscita auto-regulação do estudo redimensionando a relação do
estudante com objeto de ensino. Para alguns alunos, encontrar uma situação escolar “mais
favorável” torna ativo o processo de produção de saberes “Aprender é para eles apropriar-se dos
objetos de saber, ter acesso a um mundo de saber organizado em disciplinas (...); eles exprimem
aprendizados em termos de conteúdos de pensamento descontextualizados, de objetos
pensáveis em si mesmos, sem referência direta a um Eu em situação" (CHARLOT, 1996, P. 59).
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A curiosidade de usar a tecnologia para pesquisar em outras disciplinas
aumentou. (Nicole, 3ª série do EM)
Uso a ferramenta para elaboração de resumos, para qualquer
disciplina, com links de sites, fotos e vídeos. Os resumos podem ser
compartilhados com colegas de turma, onde cada aluno tem a
possibilidade de acrescentar a sua visão sobre o conteúdo. (Lauris, 3ª
série do EM)
Considerações finais
Considerando as afirmações feitas a partir da experiência relatada, nos permite defender o
argumento de que nesse ambiente os movimentos de significação de conceitos da área permitem
a transformação da informação em conhecimento e redimensionam a relação com o saber
disciplinarizado.
O diálogo entre os saberes docentes e escolares são permeados por uma relação pedagógica
tecida no espaço escolar que concede autoria à aprendizagem de professores e alunos.
As proposições feitas no espaço da Educação e Tecnologia oferece a possibilidade de
promover um espaço educativo cujo, o ambiente problematizador torna-se instigante tanto para
os alunos quanto para o professor.
Em nosso trabalho investigamos essa produção de conhecimento disciplinarizado,
observando as relações entre os sujeitos envolvidos no processo de Educação e Tecnologia, os
conteúdos selecionados para o ensino e o modo como, dessa relação, emergem o que
poderíamos configurar como conhecimento escolar, com uma linguagem singular e com a
intencionalidade pedagógica que traz a marca dos espaços escolares. Estudar essa produção
não tem sido uma tarefa fácil, pois os limites não são bem definidos, as ações dos sujeitos não
são necessariamente claras e, aquilo que é efetivamente ensinado ou aprendido nem sempre
são facilmente percebidos. O desafio, portanto, ocorre no cotidiano das relações no espaço
escolar com a tecnologia, com toda a complexidade que este espaço abriga e ainda com toda a
diversidade de demandas que tem atravessado a Educação Básica.
Referências
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Pesquisa. São Paulo, n. 97, 1996
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