EDUCAÇÃO FÍSICA, UMA INTERVENÇÃO EM FAVOR DA …§ao... · A esquizofrenia é sugerida como...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE DA
FAMÍLIA
EDUCAÇÃO FÍSICA, UMA INTERVENÇÃO EM FAVOR DA SAÚDE
MENTAL: atividade física como prática terapêutica para pacientes com
transtornos mentais
WESLEY GONÇALVES
BELO HORIZONTE / MINAS GERAIS
2012
WESLEY GONÇALVES
EDUCAÇÃO FÍSICA, UMA INTERVENÇÃO EM FAVOR DA SAÚDE
MENTAL: atividade física como prática terapêutica para pacientes com
transtornos mentais
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao curso de Especialização em
Atenção Básica em saúde da Família,
Universidade Federal de Minas Gerais, para
obtenção do Certificado de Especialista.
Orientadora: Roselane da Conceição Lomeo
BELO HORIZONTE / MINAS GERAIS
2012
WESLEY GONÇALVES
EDUCAÇÃO FÍSICA, UMA INTERVENÇÃO EM FAVOR DA SAÚDE
MENTAL: atividade física como prática terapêutica para pacientes com
transtornos mentais
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso
de Especialização em Atenção Básica em saúde da
Família, Universidade Federal de Minas Gerais, para
obtenção do Certificado de Especialista.
Orientadora: Roselane da Conceição Lomeo
Banca Examinadora
_________________________________________________ Profa. Mestre Roselane da Conceição Lomeo _________________________________________________ Profa. Doutora Ivana Montandon Soares Aleixo
Aprovada em Belo Horizonte 15/09/2012
À minha família, esposa e filhas pelo
incentivo e apoio, aos colegas de
trabalho pelo empenho e colaboração
em todos os momentos do curso.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus pelo sustento diário, e a todos os tutores e coordenação do Curso de
Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família pela paciência e dedicação para
tornar possível minha formação.
“E disse-me: a minha graça te basta, porque o meu
poder se aperfeiçoa na fraqueza. de boa vontade, pois
me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim
habite o poder de Cristo. ...Porque quando estou fraco
então sou forte.”
II Coríntios 12:9-10
RESUMO
Os hábitos de vida inadequados, o nível de pressão social e o descontentamento com a baixa renda, o desemprego, e a violência, associados a fatores psicológicos, uso de álcool e outras drogas, o sedentarismo e a carência nutricional, podem contribuir como principais causas que propicia o alto índice de transtornos mentais na comunidade. Em decorrência a estas problemáticas, aumentam-se o número de usuários com incapacidades físicas e mentais, invalidez, aposentadoria precoce e consumo exagerado de medicamentos antidepressivos. O objetivo desse trabalho foi aplicar o método de Planejamento para processar o problema identificado no diagnóstico situacional local e elaborar um Plano de Ação para intervir sobre o problema de transtornos mentais no município de Boa Esperança, de acordo com a abrangência do território USB Santa Finóchio. Foi utilizado o método de Estimativa Rápida para obter as informações necessárias para um diagnóstico situacional. Utilizou-se de entrevistas, observação ativa e dados secundários (SIAB, Ficha A, dados da Equipe Saúde da Família, Prontuários e dados do CAPS - Centro de Atenção Psicossocial). Este método contribuiu para identificar os principais problemas da comunidade, tendo como prioridade o alto índice de pessoas diagnosticadas com transtorno mental e acompanhadas pelo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Em seguida construiu-se um Plano de Ação para intervir no problema identificado. O diagnóstico situacional deu início ao Planejamento, que proporcionou a definição dos passos para sua realização: definição de problemas; priorização, descrição e explicação desse problema; seleção dos “nós” críticos; desenho das operações; identificação dos recursos críticos; análise de viabilidade do plano; elaboração do plano operativo e por fim a gestão do plano que consiste em ofertar e incentivar práticas corporais e atividade física para essa população. É esperada, com as ações, a promoção da saúde pela prática da atividade física, pelo acompanhamento nutricional e psicológico dos usuários e diminuir os determinantes que podem propiciar algum tipo de transtorno mental na população.
Palavras chaves: Transtorno Mental, Atividade Física, Promoção da Saúde.
ABSTRACT
The inadequate life habits, the level of social pressure and dissatisfaction with the low income, unemployment, and violence associated with psychological factors, alcohol and other drug use, physical inactivity and poor nutrition, can contribute as it provides the main causes high rate of mental disorders in the community. Due to these problems, increase the number of users with physical and mental disability, early retirement and excessive consumption of antidepressant drugs. The aim of this study was to apply the method to process the planning problem identified in the local situation analysis and prepare a Plan of Action to intervene on the problem of mental disorders in the city of Boa Esperança, according to the scope of the territory USB Santa Finóchio. We used the method of Quick Estimates for the information necessary for a situation analysis. We used interviews, participant observation and secondary data (SIAB, Form A, data from the Family Health Team, Medical records and data from CAPS - Psychosocial Care Center). This method helped to identify the main problems of the community, prioritizing the high rate of people diagnosed with mental disorder and monitored by the Center for Psychosocial Care (CAPS). Then we constructed a plan of action to intervene in the identified problem. The diagnosis began the planning, which provided the definition of the steps for its realization: problem definition, prioritization, description and explanation of this problem, check the "we" critical, design of operations, identification of critical resources, feasibility analysis of plan, development of the operational plan and finally the management plan is to offer and encourage physical activity and body practices for this population. It is expected, stocks, health promotion through physical activity, the nutritional and psychological monitoring of users and reduce the determinants that can provide some sort of mental disorder in the population.
Key words: Mental Disorder, Physical Activity, health promotion.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1……………………………………………………………………………..19
Quadro 2……………………………………………………………………………..20
Quadro 3……………………………………………………………………………..20
Quadro 4……………………………………………………………………………..21
Quadro 5……………………………………………………………………………..22
Quadro 6……………………………………………………………………………..23
LISTA DE ABREVIATURAS
CAPS Centro de Atenção Psicossocial
CNS Conselho Nacional de Saúde
DATASUS Departamento de Informações do Sistema Único de Saúde
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
NA Narcóticos Anônimos
NASF Núcleo de Apoio à Saúde da Família
OMS Organização Mundial de Saúde
PAM Pronto Atendimento Municipal
PAC Programa Academia da Cidade
SIAB Sistema de Informações da Atenção Básica
UBS Unidade Básica de Saúde
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................11
2. OBJETIVO...................................................................................................................12
3. REFERENCIAL TEÓRICO.......................................................................................13
3.1. Saúde Mental.................................................................................................................13
3.2. Caracterização da Área de Abrangência da UBS Santa Finóchio.................................14
3.3. Atividade Física e Saúde Mental...................................................................................16
4. METOLOGIA..............................................................................................................18
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES...............................................................................19
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................24
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA..................................................................................25
ANEXOS.............................................................................................................................28
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1. INTRODUÇÃO
A atuação do profissional de Educação Física tem se ampliado para a área da saúde
respaldando-se na Resolução de N° 218 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) de março
de 1997 que reconhece este profissional como categoria de profissionais de Nível Superior
da Área de Saúde (BRASIL, 1997). A partir daí, a Educação Física vem ganhando espaço
de grande importância na Atenção Primária. Tal reconhecimento da categoria viabilizou o
surgimento dos cursos de pós-graduação na área da saúde, a entrada do profissional nos
serviços de atenção básica através do Núcleo de Atenção a Saúde da Família (NASF) e do
atendimento à comunidade através do Programa Academia da Cidade (PAC), em Belo
Horizonte.
Neste contexto, o profissional de Educação Física tem oportunidades de vivenciar a
prática da atividade física junto à comunidade de uma forma integral. A rica vivência
oportuniza o atendimento de pessoas com diferentes quadros clínicos, como a hipertensão,
a diabetes, problemas cardíacos, incluindo até mesmo, os transtornos mentais.
O transtorno mental sempre foi observado como um desvio em relação a um padrão
de comportamento pré-estabelecido como normalidade, tanto pela sociedade em geral,
como pela ciência (REINALDO; ROCHA, 2002). Através das ações desenvolvidas no
NASF, juntamente, com a equipe de saúde mental, o profissional de Educação Física
poderá, interdisciplinarmente, desenvolver atividades que envolva a prática terapêutica
pela atividade física contemplando os usuários com sofrimento mental.
Uma vez que, em geral, as pessoas em sofrimento mental possuem baixa adesão à
prática do exercício físico sistematizado, e considerando que os benefícios deste para a
saúde psicológica, servem como agente preventivo dos transtornos mentais (ROEDER,
2003), através do presente estudo buscou-se realizar um plano de ação na área de
abrangência da Unidade Básica de Saúde (UBS) Santa Finóchio, através da prática da
atividade física para que as pessoas com sofrimento mental possam ser assistidas e
beneficiadas pela prática da atividade física.
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2. OBJETIVO
Elaborar um Plano de Ação para intervir sobre o problema de transtornos mentais
no município de Boa Esperança, na área de abrangência da Unidade Básica de Saúde
(UBS) Santa Finóchio, através da prática da atividade física.
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3. REFERENCIAL TEÓRICO
3.1. Saúde Mental
A saúde mental, para Lino (1997), caracteriza-se pela maneira que uma sociedade,
em determinada época, julga ou reage a comportamentos considerados apropriados e
adequados, baseando-se em normas culturais, regras e conceitos próprios.
O indivíduo que mantém uma atitude adequada de interação com o meio em que
vive, dentro dos padrões de normalidades determinados pela sociedade, sem ter uma
relação passiva ou rígida é considerado um sujeito sadio. Os indivíduos mentalmente
saudáveis vivenciam uma vasta gama de emoções, incluindo tristeza, raiva, frustrações,
alegria, amor e satisfação (STROCK, 1991).
O homem é um ser social que recebe inúmeras e constantes influências do meio, e
muitas vezes se apresenta vulnerável a elas. As situações de excesso de preocupações e
trabalho, estafa física e psíquica, insegurança permanente, instabilidade de vida, poluição e
barulho, são características da vida moderna que deturpam o equilíbrio mental do homem
contemporâneo, e pode torná-lo, na maioria das vezes, inquieto, deprimido, angustiado e
nervoso. Estes fatores associados à predisposição genética são desencadeantes de
transtornos mentais (GOMES, 1985).
Os transtornos mentais comuns têm exercido considerável impacto sobre o
indivíduo, a família e a comunidades, sendo que, atualmente estima-se que 12% da
população sofrem de alguma doença mental (TOCANTINS, 2007).
Nos transtornos mentais pode se observar diversas alterações e sintomas referentes
ao comportamento dos indivíduos acometidos, conforme o tipo de doença que se apresenta.
No Transtorno de humor, por exemplo, observa-se falta de vontade e apatia, baixa
autoestima, lentidão motora, às vezes hiperatividade, falta de sentido de proporção e
agitação psicomotora (MORENO & MORENO, 1995).
Nos quadros de ansiedade, os sintomas apresentados são taquicardia, taquipnéia,
falta de ar, tensão, nervosismo, apreensão, insegurança, inquietação, insônia e irritação,
podendo se tornar patológica quando surge sem motivo ou desproporcional ao motivo que
a causou, e quando se mostra muito intensa (FILHO et al., 1995).
14
Na psicose o indivíduo apresenta-se com algum grau de perda de contato com a
realidade, com presença de delírios e alucinações, que geram crenças que não fazem parte
da cultura do indivíduo, e também, podem perceber estímulos externos que na realidade
não existem (ouvir vozes, ver coisas, ter sensações táteis, sentir cheiros e gostos sem ter
entendimento da natureza patológica dos mesmos) (ROEDER, 1999).
A esquizofrenia é sugerida como uma predisposição genética, sendo que os
aspectos biológicos, psicológicos e sociais somam-se em diferentes proporções, resultando
em quadros clínicos diversos (PAE, 1999).
A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2001) aponta que os transtornos mentais
serão a segunda causa de adoecimento da população mundial até o ano de 2020. De acordo
com a Associação Brasileira de Psiquiatria (2006), considerando a estimativa da população
brasileira em 190.732.694 pessoas no período de 2006, o Ministério da Saúde informava
que 21% da população já necessitavam de atenção e atendimento em algum tipo de serviço
de saúde mental, e com base no censo de 2010, esse valor representaria 40.053.865
habitantes com essa necessidade.
As queixas psiquiátricas foram consideradas pelo Ministério da Saúde, a segunda
causa de procura por atendimento na atenção básica, a considerar a depressão, a ansiedade,
as fobias e o alcoolismo. Sugere-se que 3% da população necessitam de cuidados
contínuos (transtornos mentais severos e persistentes), e 9% precisam de atendimento
eventual (transtorno menos graves). Portanto, é confirmado que 12% da população podem
ter, em algum momento da vida, algum transtorno mental (TOCANTINS, 2007).
3.2. Caracterização da Área de Abrangência da Unidade Básica de Saúde Santa
Finóchio
A Unidade Básica de Saúde Santa Finóchio situa-se no município de Boa
Esperança. O município, de acordo com o censo de 2010, tem 38.163 habitantes. Nas
últimas décadas a população de Boa Esperança teve uma taxa média de crescimento anual
de 1,35%, a taxa de urbanização cresceu 7.11%, passando de 76,53% para 81.98%. A
economia da cidade baseia-se na agricultura, com destaque para monocultura do café e
pecuária. Além disso, a cidade tem grande potencial turístico devido sua localização às
15
margens do lago formado pela represa de Furnas e por ser cortada pela serra de Boa
Esperança, com belas cachoeiras. Porém, o potencial turístico é pouco valorizado e pouco
explorado pelos próprios habitantes da cidade.
No setor econômico, a Cooperativa agropecuária e as indústrias que se dedicam ao
ramo do vestuário, artefatos de tecidos, calçados, imobiliário, produtos alimentares,
editorial e gráfica empregam boa parte da população.
O município tem características culturais e religiosas interioranas que propicia a
interação e participação da comunidade nos movimentos festivos.
Em relação à educação, o analfabetismo é relevante entre os maiores de 40 anos, e
não há muita evasão escolar entre os menores de 14 anos, de acordo com dados do Sistema
de Informações da atenção Básica (SIAB, 2012).
Na área da saúde, o município apresenta um hospital filantrópico, um pronto
atendimento municipal (PAM), um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), sete equipes
de saúde da família com cobertura de 64,5% da população, uma policlínica e um
laboratório de Análise Clínica Municipal, mantendo-se como referência para os
atendimentos de urgência e emergência e cuidados hospitalares para pequenas cidades
vizinhas.
Há cerca de dez anos o município adotou a estratégia de saúde da família para
reorganização da atenção básica e conta hoje com seis equipes de saúde da família na área
urbana, uma na zona rural.
A comunidade adstrita na UBS Santa Finóchio compreende uma população em
cerca de 6.800 habitantes que vem crescendo rapidamente devido à formação de novos
bairros.
A UBS de Santa Finóchio atende uma média de 50 pessoas ao mês que fazem uso
problemático de álcool e drogas, que recebem consulta individual, acompanhamento em
grupos de tabagismo e visitas domiciliares. De acordo com dados da equipe de saúde,
existe, em média, a despensa mensal de 40 receitas de medicamentos controlados,
geralmente, benzodiazepínicos, previamente prescritos por psiquiatras, e acompanhados
pela médica da UBS.
Em relação à saúde mental conforme dados obtidos do DATASUS no período de
novembro de 2008 a outubro de 2009 ocorreram 2347 de internações, destas 138 em
hospitais psiquiátricos com percentual de 5,88%, considerado elevado, visto que, o
processo de desinstitucionalização vem instalando-se de forma gradativa (BRASIL, 2009).
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A cidade conta com o CAPS e ambulatório em Saúde Mental como dispositivo de
enfrentamento da demanda destes pacientes. De acordo com informações cedidas pelo
serviço do CAPS, em abril de 2012, aproximadamente, 1200 pacientes foram atendidos.
Os recursos comunitários de grupos de apoio existentes são, nomeadamente, os
Narcóticos Anônimos (NA), grupo de tabagismo, grupos de religiosos, voluntários
integrantes da área de abrangência e oficina terapêutica com colaboração do Núcleo de
Apoio a Saúde da Família (NASF), composto por psicóloga, fisioterapeuta, nutricionista,
farmacêutico e profissional de educação física. A equipe do NASF desenvolve atividades
físicas, práticas corporais alternativas, atividades lúdicas, de lazer e artesanais com a
comunidade.
3.3. Atividade Física e Saúde Mental
A associação da atividade física com os indicadores de bem estar físico e mental é
inegável. O sedentarismo, por outro lado, é uma condição que dobra o risco de morbidez e
morte por doenças associadas à depressão. O exercício físico, além de reverter esse quadro,
é capaz de promover o estado de bem estar mental, melhorando a qualidade de vida dos
indivíduos (FOX, 1999).
STEPHENS (apud NIEMAN, 1993), comprovou que a atividade física está
positivamente associada à boa saúde mental, em especial a uma elevada disposição, com
menos ansiedade e depressão e que, o estresse possui menos impacto negativo sobre
indivíduos fisicamente ativos. A atividade física geralmente envolve interação social e, por
esse motivo apresenta efeitos ansiolíticos e antidepressivos (NORTH et al., 1990).
CAMUS (1986) propõe exercícios motivados na busca da energia interior e da
expressão corporal e destaca a importância da atuação dos profissionais de Educação Física
no tratamento dos transtornos mentais, devido às práticas educativas e à amplitude
terapêutica da atividade física.
Além da influência positiva do exercício físico sobre a auto-imagem e a auto-
estima, verificam-se, também, benefícios desta prática, para pessoas com transtornos
mentais em tratamento, quanto aos aspectos cognitivos, sociais e psicomotores
(CARDOSO et al., 1982).
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Os hábitos de vida inadequados (sedentarismo, uso de drogas, tabagismo,
alcoolismo, distúrbios alimentares, nível de pressão social, desemprego, condições de
trabalho inadequadas, baixa renda e o alto índice de violência), somados a fatores
psicológicos (traumas, perdas diversas e dificuldades de relacionamento) e associados a
possíveis fatores genéticos e hereditários podem explicar as principais causas de alto índice
de transtornos mentais na comunidade do território da UBS Santa Finóchio.
Em decorrência destes maus hábitos, observou-se na comunidade o aumento do
número de usuários com incapacidades físicas e mentais, invalidez, aposentadoria precoce
e consumo exagerado de medicamentos antidepressivos. Este fato leva a perceber a
necessidade de maior atenção a esta comunidade por parte de profissionais especializados
na atenção básica.
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4. METODOLOGIA
Foi utilizado o método de Estimativa Rápida para obter as informações necessárias
para um diagnóstico situacional, através de entrevistas, observações ativas e dados
secundários (SIAB, Ficha A, dados da equipe de Saúde da Família, Prontuários e dados do
CAPS). Este método contribuiu para identificar os principais problemas vivenciados pela
comunidade, tendo como prioridade o alto número de pessoas diagnosticadas com
transtorno mental, o perfil das doenças, informações sobre o serviço Centro de Atenção
Psicossocial (CAPS) e também sobre a política de saúde local.
Através deste procedimento, puderam-se obter dados sobre a descrição do
transtorno mental e a seleção dos indicadores: frequência do uso de benzodiazepínico ou
antidepressivos, uso de álcool ou outras drogas, egressos de serviço de saúde mental,
encaminhamento para o serviço de saúde mental, dispensa de medicamentos controlados,
tentativas de suicídio e óbitos por suicídio utilizou-se dados dos prontuários dos usuários.
Em seguida construiu-se um Plano de Ação para intervir como aplicações de
práticas de atividades físicas para os usuários com sofrimento mental.
Os dados obtidos no diagnóstico situacional deram subsídios para iniciar o
planejamento, que proporcionou a definição dos passos para sua realização: definição de
problemas; priorização, descrição e explicação desse problema; seleção dos “nós” críticos;
desenho das operações; identificação dos recursos críticos; análise da viabilidade do plano;
elaboração do plano operativo e, por fim, a gestão do plano que consiste em ofertar e
incentivar práticas corporais e atividade física para a população com sofrimento mental.
Tendo como referencial as diretrizes propostas no módulo Planejamento e
Avaliação das Ações em Saúde, apresentado no curso de especialização em Atenção
Básica em Saúde da Família foi proposto, junto a equipe da UBS Santa Finóchio e equipe
do NASF, a elaboração de um plano de intervenção voltado para melhoria da qualidade de
vida e diminuição de condicionantes de saúde dos usuários com sofrimento mental pela
prática de exercício físico sistematizado através de um programa de atividade física.
19
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
O diagnóstico situacional deu início à elaboração de um plano de ação, entendido
como forma de sistematizar propostas para solução de enfrentamento dos problemas
sociais que poderiam evoluir para o desencadeamento de um transtorno mental.
Identificados os “nós críticos” considerados mais relevantes, foi pensado nas possíveis
soluções e estratégias para o seu enfrentamento. O Quadro 1, apresenta o desenho das
operações para se trabalhar os nós críticos em relação ao problema de transtornos mentais.
Quadro 1: Desenho das operações para os nós críticos do problema de transtornos mentais
Nó crítico Operação/ Projeto
Resultados esperados
Produtos esperados Recursos necessários
Hábitos e estilo de vida inadequados
Programa Viva Vida Modificar hábitos e estilo de vida
Diminuir em 15% o número de sedentários em 1 ano
Programa de caminhada orientada; ginástica localizada, aulas de relaxamento.
Organizacional: organizar caminhadas, aulas de relaxamento e ginásticas localizadas; Cognitivo: estratégias de captação e adesão de usuários; Políticos: conseguir espaços públicos para realização das atividades; Financeiro: aquisição de materiais(colchonetes, pesos, etc.)
Programa Tabagismo Diminuir o número de tabagistas
Reduzir em 20% o número de tabagistas em 1 ano
Campanhas educativas no PSF; Programa Nacional de controle de Tabagismo.
Organizacional: organizar consultas iniciais com o médico do PSF; Cognitivo: informações sobre o tema e estratégias de comunicação; Político: envio de medicamentos anti-tabagistas
Programa Nutrir Diminuir carência nutricional de famílias com baixa renda
Reduzir carências nutricionais em pacientes com transtornos mentais
Avaliar nutricionalmente os pacientes com transtornos mentais, prescrição de nutrição saudável, orientação de familiares
Organizacional: selecionar usuários e famílias beneficiadas; Cognitivo: informações sobre o tema, estratégias de comunicação; Político: articulação com órgãos agrícolas para aquisição de cestas verdes.
20
Foram identificados recursos indispensáveis para a execução da operação proposta,
“recursos críticos”, sendo necessário viabilizá-los para que o plano de ação pudesse
decorrer. O Quadro 2 apresenta os recurso críticos.
Quadro 2: Recursos críticos
Operação/ Projeto Recursos críticos
Programa Viva vida Políticos: conseguir espaços públicos para realização das atividades; Financeiro: aquisição de materiais esportivos.
Programa Tabagismo Organizacional: organizar as consultas iniciais na Unidade Básica de Saúde.
Programa Nutrir Político: articulação com órgãos agrícolas para aquisição de cestas verdes.
Foi preciso identificar os atores que controlam tais recursos críticos, analisando seu
provável posicionamento em relação ao problema que pode ser verificado no Quadro 3 que
apresenta a viabilidade do plano de ação.
Quadro 3: Viabilidade do plano
Operações/ Projetos
Recursos críticos
Controle dos recursos críticos
Ação estratégica
Ator que controla
Motivação
Programa Viva vida
Políticos: conseguir espaços públicos para realização das atividades; Financeiro: para aquisição de materiais esportivos (colchonetes, pesos, etc.).
Prefeitura Municipal Secretário de saúde
Favorável Favorável
Não é necessária
Programa Tabagismo
Organizacional: para organizar as consultas iniciais com o médico do PSF;
Equipe de Saúde da Família
Favorável Não é necessária
Programa Nutrir Político: articulação com órgãos agrícolas para aquisição de cestas verdes;
Prefeito Municipal Secretaria da Agricultura Secretário de Saúde
Favorável Favorável Indiferente
Apresentar o projeto Nutrir
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Na elaboração do plano operativo foram designados os responsáveis por cada
operação e definido o prazo para a execução das operações, de acordo como apresentado
no Quadro 4.
Quadro 4: Plano Operativo
Operação/ Projeto
Resultados Produtos
Ações estratégicas
Responsável Prazo
Programa Viva Vida Modificar hábitos e estilo de vida
Diminuir em 15% o número de sedentários em 1 ano
Programa de caminhada orientada; ginástica localizada, aulas de relaxamento
Wesley e Iandra
2 meses para início das atividades
Programa Tabagismo Diminuir o número de tabagistas
Reduzir em 20% o número de tabagistas em 1 ano
Campanhas educativas no PSF; Programa Nacional de controle de Tabagismo.
Elida e Vailton
2 meses para início das atividades
Programa Nutrir Diminuir carência nutricional de famílias com baixa renda
Reduzir carências nutricionais em pacientes com transtornos mentais
Avaliação Nutricional de pacientes com transtornos mentais, prescrição de nutrição saudável
Apresentar o projeto Nutrir
Iandra e Laura
Apresentar o projeto em 3 meses e início das atividades em 6 meses
Em seguida foi desenvolvido um sistema de gestão que coordenasse e
acompanhasse a execução das operações, indicando as correções de rumo necessárias,
como apresentado no Quadro 5.
22
Quadro 5: Planilha para acompanhamento de projetos
Operação: Programa Viva vida Coordenação: Wesley G. – Avaliação após seis meses do início do projeto Produtos
Responsável Prazo Situação atual
Justificativa Novo prazo
1 - Programa de caminhada orientada
Wesley 2 meses
2 - Ginástica localizada
Wesley 2 meses
3 - Aulas de relaxamentos
Wesley 2 meses
Operação: Programa Tabagismo Coordenação: Vailton J. – Avaliação após seis meses do início do projeto. Produtos
Responsável Prazo Situação atual
Justificativa Novo prazo
1 - Campanha educativa no PSF
Coordenados da USB
2 meses
2 - Programa Nacional de controle de Tabagismo.
Vailton 2 meses
Operação: Programa Nutrir Coordenação: Iandra M. – Avaliação após seis meses do início do projeto. Produtos
Responsável Prazo Situação atual
Justificativa Novo prazo
1 – Avaliação Nutricional
Laura 1 meses
2 – Horta Comunitária
Iandra 6 meses
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O monitoramento e a avaliações do plano foi definido através dos indicadores de
transtornos mentais definidos pela equipe, conforme pode ser observado no Quadro 6.
Quadro 6: Monitoramento e avaliação
DEPRESSÃO PLANILHA DE ACOMPANHAMENTO INDICADORES MOMENTO
ATUAL EM 6 MESES EM 1 ANO
Número % Número % Número % N° de pacientes que fazem uso de antidepressivos
N° de pacientes que fazem uso de drogas
N° de pacientes que fazem uso de álcool
Nº de sedentários
Encaminhamentos para psiquiatria e ou psicologia/ média por mês
Nº de dispensa de receitas de remédios controlados/mês
Nº de Tentativas de suicídios
Nº de Óbitos por suicídio
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho desenvolvido pela equipe de saúde da família da Unidade Básica de
Saúde Santa Finóchio, do município de Boa Esperança, recebe suporte da equipe
multidisciplinar do Núcleo de Apoio da Saúde da Família. As avaliações das ações
desenvolvidas por estas equipes podem contribuir para a mudança do perfil da população
adstrita ao território da referida UBS. Espera-se, através das ações conjuntas de
atendimento aos usuários em sofrimento mental, a promoção da saúde pela prática da
atividade física, pelo acompanhamento nutricional e psicológico e, ainda, a diminuição de
determinantes de saúde que podem propiciar algum tipo de transtorno mental na
população.
A busca pelo equilíbrio de uma vida com melhor qualidade parece ser o melhor
caminho para a saúde mental. Utilizando-se da prática da atividade física, como via de
alcance de hábitos de uma vida saudável, pode-se alcançar um estado de equilíbrio
desejado.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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ANEXOS Fig. 1 - ÁRVORE EXPLICATIVA DO TRANSTORNO MENTAL (UBS SANTA
FINÓCHIO):
Traumas Perda de alguém
Dificuldade de relacionamento
Fatores psicológicos Hábitos e estilo de vida
Nível de pressão social e descontentamentos
Sedentarismo Uso de drogas
Tabagismo e alcoolismo Carência nutricional
Fatores hereditários
Transtornos mentais
Incapacidade física e mental Suicídio
Invalidez Aposentadoria precoce
Aumento de consumo de antidepressivos
Desequilíbrio bioquímico
Problema
CONS EQUÊNC I AS
CAU S A S
Desemprego Trabalho Violência
Baixa renda