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Compilação de Paulo Victorino Traduzido da Wlkiipedia em francês, inglês e espanhol, com apoio de várias outras fontes, entre elas, a Britannica Escolar > http://escola.britannica.com.br/ Edouard Manet Vida, paixão e morte 1832-1883 Édouard Manet nasceu no dia 23 de janeiro de 1832, em Paris, na França, e faleceu na mesma cidade, em 30 de abril de 1883, aos 52 anos. Aos sete anos, começou a estudar francês e os autores clássicos da literatura. Dos 12 aos 16 anos, foi interno de um colégio, mas só se interessava pelo curso especial de desenho oferecido pela escola, considerando enfadonhas as outras matérias. Seu pai queria que ele se formasse em direito, mas Édouard queria ser pintor. Como o pai não lhe deu permissão para isso, embarcou, aos 16 anos, em um navio de carga, como aprendiz de piloto. Na volta à França, em junho de 1849, foi reprovado no exame de admissão ao colégio naval e seu pai (dos males, o menor), finalmente, permitiu-lhe tornar-se pintor. Com 18 anos, Manet ingressou num estúdio de pintura clássica e conheceu o revolucionário poeta Charles Baudelaire, que o inspirou a pintar o Concerto no Jardim de Tuilleries (1862). Essa obra foi criada ao ar livre, sob os olhares dos transeuntes, curiosos de ver um pintor, vestido com elegância, montar seu cavalete e trabalhar em público. Pintar ao ar livre não era comum e só se tornou possível com a revolução industrial, que passou a fornecer, já prontas, tintas em pequenas bisnagas, facilitando o transporte até o local da cena a ser captada.

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Compilação de Paulo Victorino Traduzido da Wlkiipedia em francês, inglês e espanhol, com apoio de várias outras fontes,

entre elas, a Britannica Escolar > http://escola.britannica.com.br/

Edouard Manet Vida, paixão e morte

1832-1883

Édouard Manet nasceu no dia 23 de janeiro de 1832, em Paris, na França,

e faleceu na mesma cidade, em 30 de abril de 1883, aos 52 anos. Aos sete anos,

começou a estudar francês e os autores clássicos da literatura. Dos 12 aos 16

anos, foi interno de um colégio, mas só se interessava pelo curso especial de

desenho oferecido pela escola, considerando enfadonhas as outras matérias.

Seu pai queria que ele se formasse em direito, mas Édouard queria ser

pintor. Como o pai não lhe deu permissão para isso, embarcou, aos 16 anos, em

um navio de carga, como aprendiz de piloto. Na volta à França, em junho de

1849, foi reprovado no exame de admissão ao colégio naval e seu pai (dos

males, o menor), finalmente, permitiu-lhe tornar-se pintor.

Com 18 anos, Manet ingressou num estúdio de pintura clássica e conheceu

o revolucionário poeta Charles Baudelaire, que o inspirou a pintar o Concerto

no Jardim de Tuilleries (1862). Essa obra foi criada ao ar livre, sob os olhares

dos transeuntes, curiosos de ver um pintor, vestido com elegância, montar seu

cavalete e trabalhar em público.

Pintar ao ar livre não era comum e só se tornou possível com a revolução

industrial, que passou a fornecer, já prontas, tintas em pequenas bisnagas,

facilitando o transporte até o local da cena a ser captada.

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Concerto no Jardim de Tuilleries (detalhe)

Em 1863, Manet casou-se com a holandesa Suzanne Leenhoff. No mesmo

ano, o júri do principal Salão de Arte da França rejeitou seu quadro Déjeuner

sur l’herbe (Almoço na relva), obra de técnica totalmente revolucionária. A

pintura teve de ser exposta no Salão dos Recusados, criado para exibir obras

rejeitadas pelo salão oficial. Os críticos sentiram-se ofendidos porque o quadro

mostrava uma mulher nua em companhia de dois jovens em trajes formais. Eles

também se aborreceram pela forma como essas figuras eram apresentadas, em

uma luz sombria e impessoal, num ambiente florestal pouco realista (e o realismo

era o estilo vigente). Tudo isso era novidade na pintura da época. Ao mesmo

tempo, porém, o quadro despertou o entusiasmo dos jovens pintores que, mais

tarde, formaram o núcleo do chamado grupo impressionista

“Almoço na relva” (detalhe)

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No Salão de 1865, sua pintura Olympia (1863) provocou mais escândalo

ainda. Nela, uma mulher nua, reclinada, olha desafiadoramente para o público.

Quando várias de suas obras foram rejeitadas para a Exposição Universal

de 1867, Manet, ao lado do pintor Gustave Courbet (1819-1877) pioneiro do

realismo francês, que tivera a mesma ideia, montou uma barraca na esquina de

uma avenida de Paris. Lá expôs cinquenta obras, que também não tiveram boa

aceitação, mas um jovem romancista, Émile Zola (pronúncia: zolá), ficou muito

impressionado com o novo estilo da pintura de Manet. Ele escreveu um artigo

longo e corajoso numa revista, fazendo muitos elogios aos seus quadros.

Zola viu Manet como o representante de todos os artistas inovadores que

desagradam a opinião pública e os públicos, mas que no fim são reconhecidos

como realmente importantes. Manet expressou sua gratidão pintando um retrato

de Zola, exposto no Salão de 1868.

Durante a guerra franco-prussiana (1870-1871), Manet serviu como tenente na

Guarda Nacional e testemunhou o cerco de Paris. A revolta popular chamada

Comuna de Paris (1871) lhe inspirou várias pinturas, e, pela primeira vez, ele

conseguiu vender um grande conjunto de quadros. O ano de 1874 também foi

notável, especialmente pelo desenvolvimento da amizade de Manet com o

jovem pintor impressionista Claude Monet. Os dois pintavam juntos às

margens do rio Sena, em Paris. Édouard Manet, mais velho e experiente. Claude

Monet, bem mais jovem, mas com ideias inovadoreas.

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Émile Zola pintado por Manet

Em 1880, Manet estava com problemas de circulação, afetando

principalmente as pernas e evoluindo para uma infecção generalizada

(septicemia). Em 1881, com a doença progredindo em ritmo alarmante, mandou

alguns quadros para uma importante exposição de arte francesa realizada em

Londres. Em 6 de abril de 1883, sua perna esquerda teve que ser amputada.

Manet não se recuperou da cirurgia e morreu no fim do mês, em Paris.

No ano seguinte, em janeiro, uma exposição póstuma das pinturas de

Manet foi realizada na Escola de Belas-Artes, em Paris. Fiel à sua admiração

pelo artista, Zola escreveu o prefácio ao catálogo da exposição. Depois dessa

homenagem, bem aceita pelos críticos, as pinturas de Édouard Manet

começaram a se destacar. Antes tarde do que nunca...

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O marinheiro deslumbrado

e a Baía da Guanabara

Aos 12 anos, Édouard foi enviado ao colégio Rollin (hoje liceu Jacques

Decour), perto de Montmartre. O desempenho de Édouard foi, no entanto,

decepcionante, pois, o que lhe faltava em aplicação, sobrava em insolência.

Se, nessa idade, não tinha ainda certeza do que queria em relação ao futuro,

uma coisa tinha certeza: ele não queria o ensino tradicional dos bancos

escolares, achando enfadonho frequentar aulas e seguir o roteiro traçado por

seus mestres.

Clair de lune sur le port de Boulogne (1869), detalhe

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A escola só se tornava suportável por causa das aulas de desenho, mas seu

pai já descartara de vez, a possibilidade de o filho seguir a carreira das artes,

pretendendo fazê-lo um advogado de prestígio, ou pelo menos um advogado

que exercesse a profissão o suficiente para tocar sua vida. Isso era tudo o que

Edouard não queria.

Descartada a pintura, Edouard manifestou sua segunda opção que era a de

ingressar na marinha e, a contragosto, a família permitiu que ele tentasse a

experiência. A despeito de ser recusado na escola naval, pelo pouco

aproveitamento que tivera no ensino convencional, conseguiu engajar-se como

aprendiz no navio escola “Le Havre et Guadaloupe”, que saíra da França para

atravessar o Atlântico, tendo, em sua rota, uma ancoragem na Baía da

Guanabara.

“Le Départ du vapeur de Folkestone” (1869), detalhe

Esta viagem começou em 9 de dezembro de 1848, quando Manet tinha 16

anos mas a presença de poucos dias no Brasil influiu em seu destino, encantado

que estava com a beleza da paisagem na Guanabara, o encanto das mulheres

brasileiras, com as quais teve um breve contato, e – o outro lado da lua – a visão

cruel da escravidão, que o levou a formar uma opinião anti-escravista, ainda que

não estava ao seu alcance mudar o status, que era consequência de uma

sociedade conivente e um conceito econômico que dependia do braço escravo

para sobreviver.

Manet ainda faria algumas tentativas, todas elas frustradas, para entrar na

Academia Naval. Então, diante do irremediável, a família acabou concordando

em que ele voltasse toda sua atenção para a pintura, cujo talento era

incontestável, demonstrado pelos vários esboços que fez em sua curta

permanência no Brasil e em outros lugares onde o navio escola ancorou.

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“Le Combat du Kearsarge et de l'Alabama” (1865) (detalhe)

Parece pouco, mas não é. Das experiências vividas na breve passagem pelo

território brasileiro, surgiria, mais tarde, inspiração para outros quadros pintados

na França, retratando paisagens marinhas, como “Clair de lune sur le port de

Boulogne” (Luar sobre o porto de Bolonha), 1869 [pg. 005], e “Le Départ du

vapeur de Folkestone” (A partida do vapor de Folkestone), pintado também

em 1869 [pg. 006]. E sua viagem marinhista inspirou outras obras, como “Le

Combat du Kearsarge et de l'Alabama” (1865) (acima) ou “L'Évasion de

Rochefort” (1881) (detalhe abaixo).

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Foi no Brasil que ele desenvolveu um certo gosto pelo exótico, pelas

mulheres, e foi a visão das ruas do Rio de Janeiro que o fez desenvolver uma

repulsa ao escravismo. Marcou-o, também, e muito, a luminosidade da baia de

Guanabara que haveria de deixar traços marcantes na sua maneira de pintar.

“Vue de mer, temps calme”, (1864-65).

Vindo de classe média, que tinha recursos e incentivava a cultura geral, com

certeza, Manet já tomara contato, anteriormente ao navio-escola, com as

pranchas de Debret sobre usos e costumes do Brasil, mas o contato direto com

a realidade trouxe um impacto que influiu sobre sua vida.

Mas é só. O Manet marinheiro foi só um episódio. Uma vez consolidado na

pintura, ele sempre preferiu a terra firme, tanto nas paisagens quando na arte. E

não titubeou, quando o objetivo era escandalizar, rompendo coma pintura

convencional para mostrar um novo estilo pitoresco.

Edouard Manet foi ele próprio, sem disfarces, nem rebusques. Mestre que

era, auxiliou e muito no desenvolvimento do Impressionismo mas ele mesmo

se fixava no Realismo, recusando-se a participar das exposições

impressionistas. Sua presença entre os inovadores da impressão, todos muito

mais jovens que ele, foi, não obstante, a amálgama que sustentou o

Impressionismo como movimento. Com sua morte, em 1883, o grupo se

dispersou, seguindo cada um, seu próprio caminho.

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Pelos caminhos da vida

É proveitoso analisar o interesse dos pintores impressionistas pelas gravuras

japonesas do período Edo. Libertas de qualquer preconceito, elas desconhecem

os parâmetros rígidos da arte renascentista, até porque o Japão, assim como a

China viveram, por séculos, afastados da arte ocidental, criando um mundo

próprio de desenvolvimento, alheio ao Ocidente.

Sem compromissos com a pintura clássica, criaram sua própria concepção

da arte, gravando sobre madeira (xilogravura) e fazendo a impressão rudimentar

em branco e preto. Essas gravuras eram, depois, entregues a coloristas, que

lhes davam o acabamento final, uma a uma, deixando-as prontas para a venda.

“Gueixa”, releitura em crayon

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“Mulher com sombrinha” de Manet,detalhe,

Note a semelhança com as estampas japonesas)

O Período Edo foi de 1573 a 1603 e, em certo sentido, serviu para balizar a

arte no extremo asiático. Livres e descompromissados, os artistas da época

ignoravam regras elementares do classicismo, como os princípios de

perspectiva, a distribuição dos elementos na paisagem e nas figuras e,

sobretudo, a aplicação das cores, feita de forma livre e aparentemente (só

aparentemente), sem regras de qualquer espécie.

Tudo isso fascinou os pintores impressionistas, que acabavam de romper

com a Academia, buscando uma nova forma de expressão em que as

formalidades técnicas tradicionais eram postas de lado e o que buscavam era a

impressão contida na pintura, mais que a forma tão perseguida pelos pintores

da Renascença.

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Conquanto Manet perseguisse o Realismo, o artista sofreu influência do

“japonismo”, mas, ao mesmo tempo, buscou inspiração da pintura ocidental,

ainda que não convencido em sua adesão ao tradicional.

Um ano após seu regresso da aventura marinhista, Edouard tornou-se um

discípulo de Thomas Couture (1815-1879), artista interessado em pintura

histórica, mas que igualmente se dava bem com retratos, destacando-se como

professor e tendo entre seus alunos Henri Fantin-Latour, John La Farge, Pierre

Puvis de Chavannes, Karel Javůrek, e J-N Sylvestre.

“Tete de femme”, pintado por Thomas Couture

Não foi por pouco tempo. Edouard estudou com De Couture: foram longos

seis anos, período em que também visitava o Louvre para copiar Tiziano e

Rembrandt, assim como Goya, Delacroix, Courbet e Daumier.

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Tinha tudo para dar certo. De Couture tinha consciência de que, para ensinar

bem, era necessário ter respeito pelo acervo artístico legado pelos grandes

mestres do passado mas, lamentavelmente, Couture era, ao mesmo tempo um

anti-realista fanático, preso demais ao passado e entrando em rota de colisão

com o estilo vigente em sua época.

Isso colocava Manet e seu mestre em extremos diferentes. Manet zombava

do mestre, ao mesmo tempo em que desdenhava incentivos oficiais, como o

Prêmio de Roma, que oferecia recursos a estudantes para estagiar na Itália.

Manet era um realista convicto e seu mestre o admoestava dizendo que, ao

buscar novos rumos, que não o Clássico, o discípulo nunca passaria de um

Theodore Rousseau. Para entender, Rousseau (1812-1867) foi um pintor

realista francês, fundador da Escola de Barbizon, sendo considerado, por alguns,

como o precursor do Impressionismo.

Paisagem pintada por Theodore Rousseau

Sem prejuízo do que aprendeu com o mestre, Manet fez sua própria síntese

da história da pintura, e como outros de sua época, buscou aprender mais, vendo

gravuras japonesas. De seu contato com a pintura europeia acumulada no

acervo do Louvre, essa busca incessante pelo diferente o fez um pintor eclético

e, sobretudo, independente, criando seus próprios caminhos sem a camisa de

força imposta pelos vários estilos. Bom por um lado, ruim por outro, porque, ao

ignorar as aspirações do colecionador, ou mecenas, estava fechando as portas

para a colocação de sua arte, a qual era sua fonte de seu sustento.

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Buscando ampliar seus conhecimentos pela observação da arte que se fez

no passado, Manet, entre 1853 e 1856, se dedicou-se a viajar pela Europa,

visitando, nessas andanças, a Itália, a Holanda, a Alemanha e a Áustria,

percorrendo museus, fazendo anotações e criando esboços copiados da pintura

dos grandes mestres.

1860 - Edouard Manet e a inspiração dos mestres do passado

“O cantor espanhol”, óleo sobre tela, 147 x 114 cm

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Nada se cria, tudo se recria

Edouard Manet se inspirou em Diego Velazquez,

Auguste Renoir se inspirou em Edouard Manet

Abaixo: "O Violonista Espanhol" - Pierre Auguste Renoir

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Ma bien aimée Suzanne

O homem nasce, cresce, fica bobo e casa. Essa definição irônica do

casamento, feita pela sabedoria popular, vai em confronto com a teoria das

almas gêmeas, aquela metade da laranja perdida em algum ponto do planeta e

que, em determinado momento da vida, encontra o outro pedaço e forma uma

unidade absoluta e indissolúvel.

Não existe alma gêmea e as metades se juntam e se separam,

aleatoriamente, guiadas por circunstâncias fortuitas e, é claro, ao sabor das

conveniências de cada um. Um pintor, por exemplo, ao olhar para uma mulher,

busca nela uma definição plástica para sua arte, e isso explica porque pintores

se apaixonam por suas modelos, casando-se, às vezes, com uma delas ou, pior

que isso, vivendo um romance paralelo que complica sua vida dele e tumultua a

a vida dos que transitam em sua órbita.

Suzanne Leenhoff (1829-1906) entrou para a vida da família Manet ainda

jovem, e num momento em que Edouard era adolescente, tinha apenas 19 anos,

com muitas ideias, mas de futuro ainda indefinido. Ela era uma pianista

holandesa, residente na França, que foi contratada pelo pai Auguste para ensinar

música a ele e a seus irmãos.

Suzanne ao piano, 1867-1868,

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Só isso, não mais que isso, não fora o fato de que Edouard viu na preciosa

dama, três anos mais velha que ele, sua musa inspiradora, capaz de transformar

em realidade seus sonhos, tanto como modelo para seus quadros como

refrigério para sua alma. E, entre os dois, nasceu precocemente um romance

furtivo que se prolongaria por longos anos, até 26 de outubro de 1863, quando

Manet, já aos 29 anos, e após a morte do pai, oficializou a união, casando-se

com ela.

Durante a longa relação extra-conjugal, nasceu León, em 1852, nunca

reconhecido por Manet, e que seguiu vida afora apenas o sobrenome da mãe e

apresentado à sociedade como irmão dela, nunca como filho legítimo dos dois.

Leon seria um dos personagens do quadro “Homenagem a Delacroix”, do

pintor do Romantismo francês Henri Fantin-Latour, (1836-1904), pintado no ano

de 1864. Edouard aparece também na pintura, ele é a quarta figura em pé, ao

lado direito do quadro pendurado à parede.

Henri Fantin-Latour, Homage a Delacroix, 1864, 160 x 250 cm

A despeito de nunca ter sido oficialmente reconhecido, Leon Koella

Leenhoff frequentava regularmente a casa de Manet, posando algumas vezes

para suas pinturas. A mais conhecida delas é “Garoto portando uma espada”,

pintado em 1861, quando o menino tinha 11 anos, quadro esse que hoje se

encontra no Metropolitan Museum of Art, de Nova York (pg. 017).

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1861 – Edouard Manet, “Boy with a Sword” óleo sobre tela, 131 x 93 cm

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Leon volta a aparecer no quadro “Luncheon in the Studio” (1868), óleo

sobre tela, 118 × 154 cm, acervo da “Neue Pinakothek, Munich”

Suzanne é modelo de Manet no quadro “A Leitura”

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Artista, mestre e companheiro

Pintor de mão cheia, Manet sempre manteve um bom conceito no mercado

e nunca lhe faltou retorno financeiro, bastando-se por si mesmo, ao contrário de

outros artistas à sua volta, quase sempre envolvidos em negócios mal-sucedidos

e tendo de apelar à ajuda de amigos para vencer suas crônicas necessidades.

Apesar de não depender de ninguém, sempre deu apoio àqueles que, de

alguma forma, buscavam viver da arte. Acompanhou de perto a atividade do

movimento impressionista e, ainda que não tenha, de fato, se tornado um

impressionista, passou a todos a sua experiência de mestre na pintura. Não

participou de nenhuma das exposições do Impressionismo, mas sua influência

era tal que, morto Manet em 1883, o movimento não conseguiu mais se

sustentar, havendo uma dispersão dos artistas que, a partir de então, se

afastaram das regras estabelecidas, ainda que influenciados, vida afora, pelas

linhas gerais do estilo. Mas, sem Manet, tornava-se difícil manter a unidade que

caracterizava o movimento impressionista.

Apesar de dar apoio a artistas incipientes, Manet nunca se interessou em

aparecer como mestre. Para dizer a verdade, em sua vida profissional, teve uma

única aluna, em 1869, Eva Gonzalès (1849-1883), filha do romancista

Emmanuel Gonzalez, a qual lhe havia sido apresentada por um marchand. A

jovem até podia ter algum talento, mas lhe faltava outro elemento importante

para o sucesso, que é a iniciativa própria. Desenvolveu bem sua pintura, mas

raramente participou de exposições e, a despeito de ser impressionista, nunca

se juntou ao movimento, faltando-lhe, em consequência, a notoriedade

necessária a quem deseje impor sua arte ao público.

Eva foi, ao menos uma vez, retratada por seu mestre, posando de pintora

no ateliê do artista, com um destaque especial mais para as vestes.

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Eva Gonzalès, nos pincéis de Manet (1860)

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Eva começou a treinar nos estúdios de Manet em 1869 mas tinha pouco em

comum com o mestre. Não se interessava por paisagem, sua pintura se

restringia a retratos, usando como modelos ela própria e sua irmã Jeanne. Após

o casamento, em 1879, com o artista gráfico Henri Guerard, este também serviu

de modelo para seus retratos. A artista morreu aos 34 anos, sem ganhar

notoriedade e tudo o que se tem de registro, após sua morte, é uma retrospectiva

póstuma realizada em 1885.

Mantendo-se próxima aos jovens impressionistas, mais por convivência

social que artística, ela posou para vários deles mas nunca se engajou de fato

ao movimento. Sua pintura, voltada para a vida doméstica, lembra um pouco a

das artistas contemporâneas Marie Bracquemond, Berthe Morisot e Mary

Cassatt.

Ainda que não tendo outros discípulos em sua carreira, sempre chamamos

Manet de mestre, por sua proximidade com os impressionistas e pela influência

que exerceu sobre aqueles jovens pintores, aos quais se afeiçoou, dando-lhes

seu condicional apoio, e dos quais recebeu incontestável reconhecimento

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Em sua proximidade com os impressionistas, facilitada pela presença, no

grupo, de sua cunhada, a pintora Berthe Morisot, cultivou grandes amizades,

entre elas, a de Edgar Degas, Claude Monet, Pierre-Auguste Renoir, Alfred

Sisley, Paul Cézanne e Camille Pissarro, além de Berthe Morisot.

A aproximação entre Manet e Monet foi até curiosa. Edouard Manet era oito

anos mais velho e já famoso quando Claude Monet buscava se firmar no

mercado. Com apenas uma letra de diferença em seu nome (Monet, Manet),

acabava sendo beneficiado indiretamente pela fama de Manet, criando uma

certa irritação ao mestre. Apesar disso, e também por causa disso, os dois se

aproximaram e firmaram uma grande amizade, sendo que, com o tempo, Manet

manifestou sua admiração por Monet, externada em uma pintura em que o

mestre retrata o discípulo em seu barco-estúdio.

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Sua influência junto aos incipientes artistas era inconteste e sua ajuda foi

importante para abrir espaços que permitissem a divulgação dos trabalhos.

Ainda que os impressionistas tivessem de se exibir no Salão dos Rejeitados, fora

do circuito convencional, pela recusa dos curadores em incluí-los na exposição

oficial, as portas não estiveram de todo fechadas. Berthe Morisot, que fazia parte

do grupo e era cunhada de Manet, conseguiu romper a barreira, tendo um de

seus trabalhos aceitos no Salon de Paris de 1864 e continuou a participar nos

salões seguintes nos próximos 10 anos.

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E como o incentivo e o apoio nas horas incertas é sempre recíproco, Manet

sempre contou com a ajuda de amigos não pintores nos momentos em que

necessitou deles. Registre-se a presença do escritor Émile Zola, que garantiu

sua publicidade na imprensa, assim como Stéphane Mallarmé e Charles

Baudelaire, dos quais nunca lhe faltou a mão amiga.

Retrato de Sthépane Mallarmé pintado por Edouard Manet

Latour pintou “Homenagem a Manet”

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O equilíbrio nascido da contradição

De todos os artistas de seu tempo, Manet foi, talvez, o mais contraditório

deles. Ainda que marcado como um personagem controvertido e rebelde,

buscava disciplinar sua trajetória para ser aceito na comunidade artística. Mestre

e firme orientador dos jovens e incipientes artistas, era, ele mesmo inseguro com

relação ao seu próprio trabalho.

Tido como um dos pais do impressionismo, não foi um impressionista no

sentido estrito dessa definição. Sua pintura era mais voltada para o Realismo do

que para o Impressionismo e nunca participou das exposições realizadas pelos

impressionistas. Ainda que recusado pelo Salon, sempre insistiu em colocar

suas obras nessa exposição oficial, ao invés de juntar-se aos “rejeitados”.

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Manet, para uso próprio, mantinha posições conservadoras, afirmando que

não tinha intenção que ignorar os velhos métodos de pintura para criar novos

estilos revolucionários. Assim, era, em certo sentido, um anti-impressionista.

Não obstante, sempre conseguiu navegar nessas águas turbulentas e seu

relacionamento com os inovadores do impressionismo sempre se traduziu no

mútuo respeito.

Manet em um dos vários retratos de sua cunhada Berthe Morisot

Em todos eles, o uso excessivo do preto, contrariando

um dos preceitos do impressionismo

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Apresentando-se numa postura conservadora, Manet instigava os críticos

com os temas de seus quadros, considerados escandalosos.

Se, em algum momento, tentou o impressionismo, jamais convenceu o seu

público, pela forma conservadora em que experimentava o novo estilo pictórico,

demonstrando estar mais próximo do passado do que na busca da inovação.

Sua pintura era hermeticamente fechada e se pautava mais pelos mestres do

passado, como Diego Velázquez.

Manet e o retrato mais conhecido de Berthe Morisot,

mais conservador e menos inovador

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Concerto campestre, uma obra clássica que teria sido iniciada por

Giorgione (1477c-1510) e completada por Tiziano (1480c-1576), fascinou

tanto Manet que inspirou o pintor em “Almoço sobre a relva”

Concerto Campestre (Giorgione/Tiziano), 1510

“Almoço sobre a relva”, Edouard Manet, 1863

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Reforçando a contraditória trajetória de Manet, pode-se afirmar que nenhum

outro, dentro do grupo impressionista foi tão debatido quanto ele. Para os artistas

que privavam de sua companhia e de sua experiência, Manet foi o pintor mais

genuíno, por manter-se equidistante de sua obra, como se fosse indiferente aos

quadros que produzia. Para outros, tal como acontecera no Renascimento, o

pintor buscava esconder em suas pinturas, símbolos cujo significado o

observador deveria buscar por sua própria observação.

Outros, porém, mais prosaicos ou céticos, acabavam por concluir que se

tratava mais de uma deficiência técnica que o tornava incapaz de obter uma

coerência espacial ou compositiva no conjunto da obra.

Há pelo menos um consenso entre os críticos, o de que foram essas

supostas incongruências é que deram destaque ao seu trabalho, o qual, por ser

diferenciado dos demais, trouxe uma deliberada contribuição para as

transformações que se deram no período de rebeldia acadêmica que se

convencionou chamar de Vanguardas Europeias, semente da arte moderna tal

como a conhecemos nos dias de hoje.

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CRONOLOGIA

ILUSTRADA

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1858-1859

Le Buveur d'absinthe

(O bebedor de absinto)

óleo sobre tela, 180 x 105 cm

“Ny Carlsberg Glyptotek” (Copenhague)

O Bebedor de absinto (Le Buveur d'absinthe) é uma das primeiras pinturas

significativas de Edouard Manet, feita em 1859. É a primeira obra original do

artista, na época com apenas 26 anos.

O estilo claramente realista e prosaico da tela representa simbolicamente

uma verdadeira ruptura com a formação recebida por Manet do seu antigo

mestre, Thomas Couture. Há também a influência muito forte da pintura

espanhola, especialmente de Diego Velasquez e do seu quadro Menippe. O

caráter audacioso deste trabalho permitiu convencer Baudelaire do talento de

seu jovem amigo.

Na página do museu Ny Carlsberg Glyptotek, a cujo acervo pertence esta obra

de Manet, faz-se a seguinte apreciação:

"Retratos de corpo inteiro eram tradicionalmente reservados para

membros da aristocracia e da realeza, mas Manet substituiu-os com algo

tão duvidoso como um vagabundo bêbado.

Ironicamente, este homem veste uma capa e uma cartola como se

pertencesse aos escalões superiores da sociedade.

Manet foi de grande importância para o avanço moderno na arte figurativa

com motivos tais como este e porque a sua técnica de pintura era

radicalmente diferente dos ideais oficiais do tempo.

Em vários pontos, a superfície da pintura não é lisa e as pinceladas

individuais são visíveis, as sombras na parede não são consistentes com

a figura e as pernas estão ligadas ao seu corpo de forma curiosa."

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O discípulo e o mestre

À esquerda, “O bebedor de absinto”, de Edouard Manet (1859)

À direita, a obra “Menippe” de Diego Velazquez (1639)

No universo, nada se cria, tudo se recria

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- 1860 -

Retrato do casal Auguste Manet

(Portrait Of Monsieur And Madame Auguste

Manet) 111,5 × 91 cm, Musée d'Orsay (Paris)

O quadro “Retrato do casal Auguste Manet” foi desenvolvido por [Edouard

Manet em 1860 e mostra os pais do artista, tendo sido exibido no Salon de Paris

de 1861, juntamente com outra obra sua, “O cantor espanhol” (Le Chanteur

espagnol).

Muito bem recebida na exposição, esta tela deixou felizes os pais de

Edouard, não por serem eles os retratados, mas porque vislumbravam, afinal, a

chance de o filho ser reconhecido como artista. Até então, a carreira era ainda

duvidosa e os pais vinham achando que ele teria feito melhor se estudasse

Direito ou, na pior das hipóteses, que tivesse seguido a Escola Naval.

O trabalho segue o estilo realista, do qual, em verdade, o artista nunca se

afastou, mesmo durante o período em que orientou os jovens impressionistas,

transmitindo a eles um pouco de sua experiência profissional.

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- 1860 -

O cantor espanhol

(Le chanteur espagnol)

147,3 × 114,3 cm

Metropolitan Museum of Art (New York)

“O cantor espanhol” é uma tela pintado por Edouard Manet em 1860 e

apresentado no Salon de Paris juntamente com o retrato de seus pais, o casal

Auguste Manet.

Com seu tom realista e exótico, o quadro faz parte da fase hispânica do

pintor, quando ele buscava inspiração na arte da Península Ibérica, com um

direcionamento especial para o estilo de Diego Velazquez.

Não era privilégio dele, em particular. O espanholismo, tal como o

japonismo, estava em voga mas para Edouard tinha um sabor especial, pois foi

esta pintura, mais que o retrato do casal Manet, foi a que chamou a atenção dos

curadores, abrindo as portas do Salon para ele, numa deferência pouco comum

aos artistas incipientes E, para coroar o sucesso, a obra recebeu a “Menção de

Honra”.

Mais do que aos críticos, agradou a pintura agradou muito também ao poeta

simbolista Charles Baudelaire (1821-1867), assim como a Théophile Gautier

(1811-1872), escritor, jornalista, poeta e crítico literário.

Era um sucesso esplêndido e repentino, mas infelizmente de pouca duração.

De início, incentivou Manet a liberar suas ideias com trabalhos mais ousados e,

em breve, o que era sucesso, se transformou em escândalo, diante de uma

sociedade que ainda não estava preparada para inovações, em uma arte

secularmente regulada pelas academias, ainda não maduras para a renovação.

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- 1860/1861 -

A ninfa surpreendida

(La Nymphe surprise)

146 x 114 cm, Museu Nacional de Belas

Artes de Buenos Aires - Argentina

“A ninfa surpreendida”, ou (La nymphe surprise) inaugura um novo período

na trajetória de Édouard Manet e torna-se um marco também na história da

pintura moderna francesa. Afastando-se dos parâmetros convencionais dos

salões europeus, Manet inova com nus ousados que iriam marcar uma

temporada de escândalos e de rejeição ao artista, agravando-se depois com a

mais escandalosa “Olímpia”.

A obra foi finalizada e enviada à exposição da Academia de Arte de São

Petersburgo em 1861, com o título “Ninfa e Sátiro”, Dois anos depois, outro

escândalo surgiria, ao expor, no Salão dos Rejeitados, em Paris” a controvertida

pintura “O almoço sobre a erva”.

O modelo para a ninfa foi Suzanne, a jovem holandesa que entrou para a

família como professora de piano e acabou se tornando o amor secreto de

Édouard, como quem viria a se casar mais tarde, mas só após a morte do pai do

artista.

A ligação do artista com a “ninfa” sempre foi muito forte, tanto que ele não a

colocou à venda, conservando-a em seu poder até a morte. De um lado, há

evidências de uma obsessão doentia do pintor pelo simbolismo do quadro mas,

aparte disso, ele considerava a “ninfa” um de seus mais importantes trabalhos,

na medida em que representou uma fixação de rumo quanto ao seu estilo

pessoal, um gabarito para os trabalhos que vieram a seguir.

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- 1861 -

Menino portando uma espada

L'Enfant à l'épée - 131 × 93,3 cm

Metropolitan Museum of Art (New York)

“Menino portando uma espada”, no original, “L’Enfat à l’epée” é um quadro

pintado por Édouard Manet em 1861 e toma como modelo o filho de sua então

amante Suzanne, Léon Koëlla-Leenhoff. Após casar-se com Suzanne, anos

mais tarde, Edouard adotou-o como enteado, ainda que provavelmente o menino

fosse seu filho natural, oriundo do relacionamento extra-conjugal mantido

enquanto o pai do pintor era ainda vivo.

A espada, forjada para uso de um forte guerreiro é desproporcional, em

tamanho e peso, para a fragilidade de um corpo infantil, além do que se

apresenta como um objeto despropositado para uso de um simples infante.

Segundo alguns críticos, essa discrepância é um dos símbolos secretos que

os pintores costumavam colocar em suas obras, representando, neste caso, o

peso carregado pelo menino pela ausência dos pais, ou o peso dos pais em

carregar consigo esse segredo, não revelado nem à família nem à sociedade.

Típico do período hispânico da pintura de Manet, influenciado por Diego

Velazquez, este quadro inova ao revelar também a influência que, em certo

momento, exerceu sobre ele o estilo do pintor naturalista belga Frans Halls

(1580-1666).

Em 1862 e nos anos seguintes, esta obra foi exibida em exposições de

diferentes lugares e recebeu críticas favoráveis em todas elas, diferentemente

de seus trabalhos seguintes, nos quais Manet decidiu ser ele mesmo, desafiando

as normas acadêmicas mais conservadoras.

Em 1889, o colecionador nova-iorquino Erwin Davis doou a pintura ao

Metropolitam Museum, tornando-se a primeira obra de Manet a entrar para o

acervo do museu.

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- 1861 -

O pequeno Lange (Le petit Lange),

116,5 x 72 cm, Óleo sobre tela

Staatliche Kunsthalle (Karlsruhe)

“Lange”, no título desta obra, é apenas um sobrenome de família e, por essa

razão, não se traduz. O pintor não deixou maiores informações para identificar a

família Lange e, assim, o histórico do quadro fica, de certo modo comprometido.

Nesta fase incipiente de Manet eram comuns os retratos de crianças. No

caso presente, um menino, para nós desconhecido, aparentando uns cinco anos.

Como nos trabalhos anteriores, aparecem novamente, as influências do

espanhol Diego Velazquez (1599-1660) e do mestre do rococó, Jean-Antoine

Watteau (1864-1721).

A iluminação é frontal e atinge principalmente o rosto da criança e a mão

esquerda é obliterada de maneira a levar toda a atenção para a mão direita, onde

o menino segura um brinquedo. Os detalhes da roupa são apenas insinuados.

Na cabeça, um chapéu redondo de aba larga, convenientemente empurrado

para trás. Há um cuidado em ressaltar a camisa branca, nos detalhes do

colarinho e em um dos punhos e a botina também é clareada para não se perder

no conjunto.

O artista apenas esboçou as linhas gerais do quadro e do retrato,

concentrando os detalhes para o rosto iluminado do menino, que olha fixamente

para um ponto à sua frente, como que contemplando uma cena fora do quadro

e seu olhar, desinteressado e sem entusiasmo, traz uma sensação de

melancolia.

Chama a atenção uma dedicatória que Manet colocou no quadro logo acima

de sua assinatura, supostamente para Mme. Lange.

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- 1862 -

Lola de Valência (Lola de Valence),

123 x 92 cm, Óleo sobre tela

Musée d’Orsay, Paris

Lola de Valência (Lola de Valence) é uma pintura que Manet desenvolveu

em 1862, ainda dentro de sua fase espanhola, e faz par com sua obra anterior

intitulada “O cantor espanhol”, pintada em 1860. Em uma e outra, há uma

evidente influência do pintor barroco Diego Velazquez, cuja obra sempre

fascinou os pintores de vanguarda, sendo chamado por Manet de “o pintor dos

pintores”. Anos depois, Velazquez seria tema para as criações de Picasso e Dali

e o pintor Francis Bacon também recriaria algumas de suas obras mais famosas.

Não é de se admirar, portanto, a insistência de Manet em tomar Velazquez

como seu gabarito e, neste caso, recriar o rico folclore das danças valencianas,

até hoje cultivado por aquela comunidade.

Lola de Valence tem a característica de ser a primeira obra de Manet a

despertar a desaprovação, pelo erotismo sugerido no tema. Era um sinal de

alerta, abrindo o caminho para outros escândalos, ao exibir, mais tarde, “Almoço

na relva” e “Olímpia”.

O poeta Baudelaire, com sua visão artística mais apurada, percebeu de

pronto a mensagem transmitida com a rica bailarina e escreveu, sobre o quadro,

estes versos: “Entre tantas belezas em torno, você pode ver, / Eu entendo,

amigos, esse equilíbrio do desejo / Mas vemos, brilhando, Lola de Valence / Com

o charme inesperado de uma joia rosa e preto.

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- 1862 -

Mademoiselle V. en costume d'espada

165,1 x 127,6 cm, Óleo sobre tela

Metropolitan Museum of Art (New York)

Mademoiselle V. em traje de espadachim, também chamado de Victorine

é uma pintura de Edouard Manet feita em 1862 e apresentada no Salão dos

Recusados em 1863, com outros quadros do artista, como “Le déjeuner sur

l'herbe” e “Le Jeune homme en costume de majo”.

A tourada é uma farsa, nem chega a existir, como se percebe pela atitude

displicente da toreadora, que seria fatal, numa luta de verdade. O objetivo central

do artista é justamente escandalizar, ao colocar uma mulher em trajes

masculinos, mas ainda assim mantendo sua feminilidade.

O escritor Émile Zola, com sua argúcia de crítico, mas também com a

tolerância de um amigo sempre presente, classifica a obra como de “um raro

vigor e extrema pujança de cores”. Mas, por outro lado, não houve a mesma

tolerância de outros críticos, que desaprovaram energicamente a abordagem do

tema,

Théophile Thoré-Bürger, jornalista e crítico de arte, (1807-1869) fez uma

severa reprimenda a Manet, condenando a imagem intolerável de “uma dama de

honra em traje de espadachim, com seu manto de púrpura, na arena destinada

a touradas”, ressaltando a insistência do pintor em seu afeto e dependência do

espanholismo, no estilo e na cor.

A modelo é Victorine Meurent sob o disfarce de um “matador”, em imagem

nada convincente, já que seus sapatos são inadequados para uma tourada, a

capa rosa nada tem a ver com touradas e a pose displicente tira toda a tensão

que existe em uma arena. Dá impressão de que Manet, deliberadamente,

desejava provocar a crítica contundente, a qual, em última análise, é melhor que

deixar o quadro passar em brancas nuvens.

Victorine Louise Meurent (1844-1927) foi uma pintora francesa, notável por

ter sido uma modelo bastante retratada em quadros célebres do período

impressionista, em especial por ter sido a modelo predileta de Édouard Manet, a

quem conheceu no ano de 1862 e para quem posou ao longo dos 13 anos

seguintes.

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- 1862 -

Música nas Tulherias (La Musique aux

Tuileries) 76 x 118 cm, óleo sobre tela

National Gallery (Londres)

“Música nas Tulherias” (La musique aux Tuileries) é uma pintura feita em

1862 por Edourd Manet. Tulherias foi um palácio parisiense, cuja construção

começou em 1564 sob o impulso de Catarina de Médici, num local ocupado

anteriormente por uma fábrica de telhas (tuiles). Foi aumentado em reinados

sucessivos, dispondo de uma imensa fachada com 266 metros de comprimento.

Foi residência real de numerosos soberanos, nomeadamente Henrique IV, Luís

XIV, Luís XV e ainda Luís XVIII, depois residência Imperial com Napoleão III até

a sua destruição por um incêndio em maio de 1871. As suas ruínas foram

demolidas em 1882, restando o jardim, em nova concepção paisagística.

Manet era um jovem sociável e aceito nos círculos de intelectuais e

aristocratas parisienses. Frequentava assiduamente os Jardins das Tulherias

com a presença constante de seu amigo, Baudelaire, de onde surgiu a ideia de

transferir suas experiências para a tela, que representa, em certo sentido, seu

afastamento parcial do realismo e uma tentativa de aproximação ao

impressionismo.

O concerto se realiza nos jardins do palácio e Manet retrata no quadro

algumas das pessoas mais chegadas a ele. Da esquerda para a direita, no

primeiro plano, identifica-se, num grupo de figuras masculinas, como seu antigo

companheiro Zacharie Astruc (sentado) e o poeta Charles Baudelaire de pé,

atrás dele. No grupo de homens, o pintor acrescentou seu irmão Eugene,

Théophile Gautier, Champfleury, Barão Taylor, Aurélien Scholl e Charles

Monginot. A primeira-dama vestida de branco a partir da esquerda é Madame

Lejosne, esposa do comandante Hippolyte Lejosne, por intermédio de quem

Manet conheceu Baudelaire. Ao seu lado, se encontra a Madame Offenbach.

Como era praticamente impossível reunir tanta gente importante para a

realização de um quadro, o mais provável é que Manet fez a pintura orientando-

se por uma fotografia, fazendo as adaptações e acrescentando outros

personagens dentro da liberdade criadora permitida ao artista.

Por ironia, “Música nas Tulherias”, a despeito de homenagear várias

personagens da mídia, foi criticado por todos, inclusive pelo próprio Baudelaire.

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La Musique aux Tuileries de Manet

O jardim das Tulherias nos dias de hoje

vendo-se ao fundo o Museu do Louvre

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- 1862 -

O velho músico (Le Vieux Musicien)

187,4 x 248,3 cm, óleo sobre tela

National Gallery of Art (Washington)

“O velho músico” (Le Vieux Musicien) é um quadro de Edouard Manet

realizado em 1862, ao curso do período em que o pintor se achava influenciado

pela arte espanhola, chamando a atenção as dimensões fora do usual para o

artista.

A tela apresenta uma série de detalhes que chamam a atenção do

observador, familiarizado com a obra de Manet. Por exemplo, o homem de

cartola que se vê à direita é o mesmo modelo que posou para “O bebedor de

absinto” (pg. 033) e que agora reaparece sem nenhuma razão aparente, já que

não faz parte do grupo de amigos íntimos do artista.

O menino com chapéu de palha se inspira explicitamente na obra “Pierrot”

(reproduzida abaixo), do pintor valenciano radicado na França, Antoine

Watteau (1864-1721). Quanto ao homem de barba, é uma reminiscência a

“Ménippe” de Diego Velazquez, também reproduzido na página 033. Com

recortes aqui e lá, mais a imaginação, eis que surge um novo quadro.

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- 1862 -

“Retrato de Victorine Meurent”

(Portrait de Victorine Meurent)

42,9 x 43,7 cm, óleo sobre tela

Museu de Belas Artes de Boston (EUA)

Victorine Louise Meurent (1844-1927) foi uma pintora francesa, notável por

se tornar modelo bastante retratada em quadros célebres do período

impressionista, em especial por ter sido a modelo predileta de Édouard Manet,

a quem conheceu no ano de 1862 e para quem posou ao longo dos 13 anos

seguintes.

A vida de Victorine Meurent é conhecida graças à fama que recebeu por sua

ligação com o pintor Manet e os quadros que se sucederam a partir dela, ainda

que. por vezes. enfrentando o desprezo público e acusações da imprensa, uma

vez que a nudez retratada pela arte moderna não era aceita da mesma forma

que a nudez de alegorias e figuras mitológicas, típicas nos quadros dos "grandes

mestres".

Manet teria ficado impressionado com sua "aparência original e distinta", de

acordo com relatos do amigo do pintor, Theodore Duret. Ao longo dos anos em

que posou para Manet, Victorine chegou a viajar à América, mas regressou no

ano de 1873, quando foi retratada mais uma vez pelo pintor francês. Após a

morte de Manet, Victorine chegou a pedir dinheiro para a viúva do pintor por meio

de uma carta, alegando que ele lhe havia prometido uma ajuda financeira quando

os quadros fossem vendidos.

Após seu longo período posando como modelo para diversos pintores, sabe-

se apenas que Victorine teve problemas com a bebida e que acabou caindo na

obscuridade. Enquanto pintora, chegou a expor alguns de seus quadros no Salão

de 1876, mesmo ano em que Manet foi recusado. (Fonte: Wikipedia em

português).

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- 1863 - “Olympia”

(Portrait de Victorine Meurent)

130,5 x 190 cm, óleo sobre tela

Musée d’Orsay (Paris)

Olympia é uma obra do Realismo, feita por Édouard Manet em 1863, de

largas dimensões (130,5 por 190 centímetros) e está no Museu d'Orsay em

Paris. Foi selecionada para o Salon de Paris em 1865 e lá exibida, suscitando o

maior escândalo.

A pintura foi inspirada na Vênus de Urbino de Ticiano, que por sua vez tem

referência na obra Vênus Adormecida de Giorgione. Também há a referência,

embora menos evidente, da obra de Goya, A Maja desnuda. Da síntese desses

três trabalhos, surgiu uma versão modernizada, pelos pincéis de Manet.

Embora Almoço sobre a Relva de Manet tenha provocado controvérsia em

1863, sua Olympia gerou protestos ainda maiores quando foi exibida no 'Salon

de Paris' em 1865. Os conservadores rechaçaram a obra classificando-a como

"imoral" e "vulgar". O jornalista Antonin Proust comentou posteriormente que "o

quadro de Olympia só não foi destruído devido às precauções tomadas pela

curadoria".

Contudo, a obra tinha seus defensores. Émile Zola logo proclamou-a a "obra-

prima" de Manet, e acrescentou: "Quando outros artistas corrigem a natureza

pintando Vênus eles mentem. Manet perguntou a si mesmo porque deveria

mentir. Por que não dizer a verdade?" (Fonte: Wikipedia em português)

Abaixo: “Vênus de Urbino” de Ticiano (1538)

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Giorgione – “A Vênus adormecida” (1510)

La maja desnuda, de Goya (1790-circa)

“Olympia, a síntese criada por Manet

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- 1863 - “Almoço sobre a relva”

(Le déjeuner sur l’herbe)

208 x 264,5 cm, óleo sobre tela

Musée d’Orsay (Paris)

A sensual e provocadora posição da modelo nua, Victorine Meurent, perante

dois homens completamente vestidos, provocou escândalo na sociedade mais

conservadora, quando da sua exibição no Salon des Refusés, em 1863.

Atualmente, o quadro está exposto nas paredes do Museu de Orsay, em Paris.

A obra não tem um teor crítico social, o artista não pretendia criticar a

sociedade, ou a condição das prostitutas parisienses, ou a procura do sexo pelos

aristocratas. O que esta tela declarava era a profunda e escandalosa liberdade

do pintor, que várias vezes, ao longo da sua trajetória pela arte, escandalizou os

espectadores.

Por trás de um título aparentemente inocente, esconde-se uma pintura com

força incrível, capaz de chocar o mais distraído espectador. A modelo e o homem

sentado ao seu lado olham diretamente o espectador, e a modelo, com o rosto

seguro pela mão direita, não se inibe de sorrir ligeiramente, exibindo uma

aparência segura e plena de sensualidade.

A cena no bosque ou num parque dos muitos que existiam e ainda existem

em Paris marca também pelo seu exotismo e pela interessante paleta de cores

que se desenrola lentamente em cada pedaço da tela, exibindo ostensivamente

o castanho e o oliva. Efetivamente, o castanho é a cor mais explorada nesta

composição, sendo que se espalha pelos primeiro e segundo planos da pintura

em vários tons.

Contrastante com a elegância dos dois homens, exibe-se a nudez da modelo,

sentada na grama, nua, com um homem ao seu lado esquerdo e uma natureza-

morta, com um cesto de frutas, juntamente com os seus vestido e chapéu azuis

jogados no chão, do seu lado direito, a sua tez extremamente branca, típica de

uma cortesã, confere luminosidade a toda a tela e surge como um grito no escuro

na conservadora sociedade parisiense que, apesar, da boemia reinante, se

mantinha avessa à mudança.

A pintura provocou risos desconcertantes no Salon, escandalizou a imperatriz e

foi considerada pelo imperador como atentado ao pudor. Não tanto pelo nu na

mulher, mas sim pelo fato de esta estar nua no bosque, em uma conversa

plausível, com dois homens. bem e inteiramente vestidos, como estavam os

espectadores da tela. Críticos defendem que o riso fora provocado pela

sensação que os espectadores tiveram de serem eles mesmos os observados,

sem saber. (Fonte: Wikipedia em português)

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“Almoço sobre a relva” de Manet

Alain Jaquet, (1939-2008), artista francês ligado à Pop Arte fez, em 1964,

fez esta versão satirizada do “Almoço sobre a relva” de Manet

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- 1863 -

“Jovem em roupa de mago”

(Jeune homme em costume de majo)

188 x 125 cm, óleo sobre tela

Metropolitan Museum of Art (Nova York)

“Le Jeune homme en costume de majo” é um quadro pintado por Édouard

Manet em 1863 e apresentado no mesmo ano no Salão dos Recusados,

juntamente com “Almoço sobre a relva” e “Mademoiselle Victorine en costume

d'espada”, fazendo parte do período hispânico de Manet, influenciado sobretudo

por Diego Velazquez. O modelo para esta tela não é outro senão o próprio irmão

do artista, Gustave Manet.

O pintor parece que buscava sempre um ponto de dissenção entre os

críticos, provocando reações ácidas sobre o trabalho realizado. Neste caso

específico, chama atenção, mesmo ao espectador mais desatento, o contraste

entre o traje que a modelo segura à mão, esmiuçado em seus mínimos detalhes,

fazendo contraste com o rosto do personagem. que pintado de forma displicente,

dando a impressão que lhe falta ainda o acabamento, ficando apenas no esboço.

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- 1864 -

“Cristo morto e anjos”

(Le Christ mort et les anges)

179 x 150 cm, óleo sobre tela

Metropolitan Museum of Art (Nova York)

Este quadro, exibido no Salon de Paris de 1864, juntamente com “Édipo e a

Esfinge” do pintor simbolista Gustave Moreau (1826-1898), sucitou violentas

críticas, pela indefinição do tema proposto, ocasionando mais perguntas que

respostas.

O que desejava o autor revelar? Uma ressurreição? Mas, então, o que fazem

lá os anjos, e por que um deles (com as asas azuis) se movimenta, apoiando o

Cristo, enquanto o outro permanece como num lamento? Se é uma caverna, há

muita luz. O que são a serpente e a concha de caracol em primeiro plano?

Porque é que a ferida de Cristo no lado esquerdo? E assim por diante.

O realismo é levado ao paroxismo, notadamente a presença de um Cristo

imóvel, olhando diretamente ao espectador, contrastando com a alvura dos

lençóis A representação de sombras é estranha, com uma espécie de boca

negra por trás dos personagens. O pé direito de Cristo parece prestes a mudar,

mas se apresenta distorcido, ninguém sabe por que. As mãos abertas estão

inacabadas, em contraste com outras partes do corpo cuidadosamente pintadas.

O quadro parece ter sido pintado às pressas em desafio a consistência

pictórica, demonstrando, para alguns críticos da época, um gosto perverso para

os extremos, um desejo de chamar a atenção a qualquer custo.

E uma pergunta final: por que um tema religioso e dramático, fugindo à linha

pitoresca que Manet havia desenvolvido até então, e à qual permaneceu fiel em

toda sua longa trajetória? É uma tela que suscita mais questões do que

respostas.

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- 1864 - 1865 -

“O homem morto” (L’Homme mort)

75,9 x 155,3 cm, óleo sobre tela

National Gallery of Art (Washington)

L'Homme mort é um quadro pintado entre 1864 e 1865, dentro do período

hispânico do pintor, influenciado ainda por Diego Velazquez, Francisco de Goya

e pela tauromaquia. Por essa época, ele escreveu a seu amigo, o poeta

Baudelaire:

“"Uma dos melhores, mais curiosas, e mais terríveis visões é que se pode

encontrar em uma tourada. Espero, por minha vez, levar à tela o

espetacular drama registrado no momento da tourada em que eu assisti."

A obra, originalmente, não era mais que parte de um conjunto maior que o

artista vinha preparando para o Salon de Paris, no mesmo ano sobre o mesmo

tema. A inspiração veio aos trabalhos de Goya sobre touradas, mas Manet se

fixou apenas no homem morto, desprezando o restante da cena com o touro

triunfante.

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1864-1865 – Manet – “O homem morto”

A paixão de Manet pelo tema veio

da série “Tauromaquia” de Goya

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- 1865 -

“Combate dos navios Kearsage e Alabama”

(Le Combat du Kearsarge et de l'Alabama)

134 x 127 cm, óleo sobre tela

Philadelphia Museum of Art(Filadelfia)

Le Combat du Kearsarge et de l'Alabama é um quadro de Édouard Manet

pintado em 1865, imortalizando a “Batalha de Cherbourg”, um combate naval

americano na Guerra da Secessão, que se desenrolou nessa cidade entre o

navio legalista USS Kearsarge e o navio confederado CSS Alabama em 1864,

portanto, no ano anterior à pintura. Essa batalha que se desenrolou no porto da

Normandia, em Alabama, é bastante pitoresca, pois se desenvolveu ao olhar de

centenas de espectadores.

O trabalho, que descreve o navio Alabama pronto para afundar, é um

anúncio premonitória da derrota final dos sulistas, ainda que, ao final ambos os

navios foram ao fundo.

O pintor marinhista francês, Louis Le Breton (1818–1866), também usou

esse tema em um de seus quadros ( veja abaixo)

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Manet, 1865,

“Combates de Kearsage e de Alabama”

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- 1865 -

“A Leitura” (La Lecture)

74 x 61 cm, óleo sobre tela

Musée d'Orsay (Paris)

“La Lecture” é uma pintura de Edouard Manet pintada em data

indeterminada, entre 1865 e 1873, exibida pela primeira vez em 1880, em uma

das mostras individuais, do artista e voltou a ser exposta em exposição de 1884,

após sua morte.

O quadro pertenceu, inicialmente, à coleção privada de Winnaretta Singer,,

uma das mais tumultuadas figuras da França. Seu pai tinha 24 filhos e

Winnareta, sendo lésbica, teve anulado seu casamento com o príncipe Louis de

Scey-Montbéliard, voltando a casar-se, desta vez com um gay, causando

escândalo ainda maior. Destacou-se como patrona de pintores e músicos.

Auto retrato de Winnaretta Singer

Tumultuada também é a trajetória da tela. Em 1944, após a morte da

mecenas, foi doada ao estado francês, entrando para o acervo do Museu do

Louvre. em 1947, depois foi transferida para a Galerie Nationale du Jeu de

Paume, no Jardim das Tulherias onde ficou até 1986, passando, então, para o

recém criado Museu d’Orsay, onde se acha atualmente.

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“La Lecture” – Retrato de Suzanne Manet

e seu filho Léon Leenhoff

A modelo é Suzanne Lenhoff, inicialmente professora de piano, depois

amante furtiva e, finalmente, esposa de Manet, sentada, com seu filho Leon

provavelmente também filho de Manet e usado também, frequentemente como

modelo do artista.

Nesta pintura o domínio da cena é o vestido da dama, que se prolonga, de

certo modo, pela semelhança pictórica do sofá e das cortinas, fazendo um

contraponto com o fundo negro onde se acha seu filho Leon, fazendo o papel de

leitor. A folhagem verde à esquerda, com um toque quase imperceptível de

vermelho, completa o equilíbrio do conjunto.

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- 1865 -

“Jesus insultado pelos soldados”

(Jésus insulté par les soldats)

190,8 x 148,3 cm, óleo sobre tela

Art Institute of Chicago (Chicago)

Esta é mais uma das raríssimas incursões de Édoard Manet na arte sacra,

já que sua pintura sempre foi essencialmente profana, como, de resto o profano

era uma característica dos impressionistas e mesmo dos outros artistas de

vanguarda que surgiram em movimentos subsequentes. Trata-se de um quadro

de grandes proporções e a relação “chiaoscuro” nos remete aos velhos mestres

da pintura, sem qualquer relação com o realismo ou com o impressionismo. O

que identifica Manet nesta obra é sua habitual ousadia e desrespeito pelas

convenções. Aqui, o espectador é posto diante de um Cristo muito humano,

vulnerável, não mais aquele mestre seguro e determinado identificado durante

sua curta carreira ministerial.

Neste fragrante, Manet mostra um Cristo fragilizado, logo após receber a

coroa de espinhos, enfrentando a zombaria de seus algozes, um deles

segurando o manto que lhe foi arrancado, e um terceiro ajoelhado, em uma

atitude de pretensa adoração. Compare com a obra de um mestre

desconhecidodo Século XVII, atualmente no Louvre, em Paris

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- 1865 -

“A morte do touro” – (La mort du taureau)

48 x 60,4 cm, óleo sobre tela

Art Institute of Chicago (Chicago)

Corrida : la mort du taureau é um óleo sobre tela de Édouard Manet,

pintado em torno de 1865, constituindo-se em um dos trabalhos que mais esteve

presente em exposições internacionais, fazendo parte de uma trilogia pintada

logo após seu retorno da Espanha, junto com o óleo “La Chute du picador”

(Musée d'Orsay), e, “La Chute du picador”, aquarela, em coleção particular.

Estas três pinturas se inserem em um conjunto de obras que Manet vinha

pintando desde 1862, só que desta vez ele transmitiu para as telas sua

impressão pessoal, após ter visto as touradas com seus próprios olhos e sentido

com seu próprio coração.

Imponente, ao centro, o toureiro se mostra ao público, após ter completado

sua missão de abater o touro. No lado esquerdo estão alguns “picadores”, figuras

odiadas pelo público, pois, sem a habilidade artística do toureiro, eles têm como

função enfraquecer o touro, diminuindo o risco e, por consequência, a emoção

da toureada.

O touro negro parado à esquerda, com algumas bandarilhas espetadas em

seu corpo, mas ainda assim imóvel e impassível, não convence a qualquer

frequentador de touradas, além do que seu tamanho é desproporcional aos

toureiros, indicando tratar-se de um novilho.

De qualquer forma, uma pintura é a realidade vista pelos olhos do pintor e

não necessariamente uma reprodução fiel e técnica das proporções.

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- 1865 – 1866 -

“Combate ao touro” –

(Combat de taureau)

90 x 110 cm, óleo sobre tela

Musée d’Orsay (Paris)

Combat de taureau é uma tela de Édouard Manet, pintada entre 1865 e

1866, com assinatura postuma, atualmente no acervo do Museu d’Orsay em

Paris, fazendo parte da trilogia de Manet, realizada após sua viagem à Espanha

e dentro do período hispânico do artista. Ainda que admirada por seus amigos,

o poeta Charles Bandelaire e o escritor Émile Zola, foi atacada pelos demais

críticos. Depois disso, Manet manteve o quadro em seu ateliê por vários anos,

até que, em 1872, a tela chamou a atenção dos irmãos Edmond de Goncourt et

Jules de Goncourt, dois escritores naturalistas franceses, que realizaram uma

homenagem ao autor e à obra.

O artista já havia recorrido ao tema no decorrer de sua carreira, mas a

diferença é que os quadros anteriores aconteceram por influência de seu contato

com obra de pintores espanhóis, sendo que esta trilogia se deu após sua visita

à Espanha e o impacto após ter presenciado as touradas ao vivo, sendo certo

que tenha feito esboços “in loco”, apesar de que esses esboços teriam sido

destruídos, pois nunca foram encontrados.

A curadora e crítica de arte Françoise Cachin traça o percurso dessa obra,

desde que foi pintada. Primeiramente, foi vendida ao seu amigo M. Pertuiset de

quem o artista faria um retrato em 1881. Este passou o quadro para o marchand

Paulo Rurant-Ruerl pela bagatela de 1.200 francos, o qual revendeu à baronesa

Goldschmidt-Rothschild em Berlim, sendo levada a Paris por volta de 1930. A

obra passou para as coleções do Museu Nacional em 1976, em doação por

direitos de sucessão, em troca de um título que lhe foi concedido como

participante da Sociedade dos Amigos do Louvre.

Nenhuma doação é totalmente grátis e descomprometida. No mínimo, o

doador quer ter seu nome perpetuado, juntamente com a obra doada. Para o

doador, a vantagem, também, é retirar o bem de um futuro inventário, após sua

morte além de ter sua memória perpetuada. Ao museu, não custa nada perpetuar

a memória do doador, em troca de uma obra de valor, sem qualquer desembolso

financeiro, a não ser o comprometimento da preservação do bem, fazendo seu

restauro periódico e mantendo-o em ambiente propício para sua conservação.

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- 1866 -

“Jovem Dama (Victorine Meurent)” –

(Jeune femme en 1866)

185,1 x 128,6 cm, óleo sobre tela

Metropolitan Museum of Art (New York)

Victorine Louise Meurent (1844-1927) foi uma pintora francesa, notável por

ter sido uma modelo bastante retratada em quadros célebres do período

impressionista, em especial por ter sido a modelo predileta de Édouard Manet, a

quem conheceu no ano de 1862 e para quem posou ao longo dos 13 anos

seguintes.

Antes de “Jeune femme em 1866”, Victorine já havia posado para outros

trabalhos controvertidos e que suscitaram ácidas críticas, como “Almoço na

relva” e, principalmente “Olympia”, ambos quadros no acervo do Museu

d’Orsay.em Paris. Aqui ela aparece bem recatada, na maneira mais

convencional do retrato, em corpo inteiro, como só se fazia em retratos da

nobreza, mas ainda intimista, posando com um “robe de chambre”.

Para alguns, trata-se de uma réplica a “Mulher com com papagaio”

pintado no mesmo ano por Giustave Courbet. De fato, a a aparente semelhança

e real contraposição torna-se evidente. Courbet pintou uma mulher deitada e

completamente nua. Manet pintou uma mulher, também de corpo inteiro, mas

em pé e muito bem vestida. Em ambos os quadros, aparece, no mesmo lugar

um pequeno poste com o poleiro para o papagaio, só que a “mulher de Courbet”

é mais agressiva, posando com o papagaio em uma das mãos e deixando o

poleiro vazio. Mas, em ambos os quadros, as semelhanças são visíveis, bem

mais que as contradições. Abaixo, o quadro de Courbet.

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“Jeune femme en 1866” de Manet

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- 1866 - 1867 -

“A saudação do matador”

(Le Matador saluant)

171,1 x 113 cm, óleo sobre tela

Metropolitan Museum of Art (New York)

Originalmente, tratava-se de uma ilustração retratando o toureiro Cayetano

Sanz y Pozas (1821–1890), que Manet viu em ação durante sua visita à

Espanha, em 1865, diga-se de passagem, sua única visita, apesar de seu

fascínio pela arte espanhola do Século XVI, em especial, a arte de Diego

Velazques e De Goya. Este é o primeiro de uma série de quadros desenvolvidos

pelo artista, depois de estudar as obras de Velazquez em Madri, os quais foram

realizados no estúdio, após seu regresso a Paris.

Ao contrário das pinturas anteriores, modestas em cor, o retrato de Cayetano

é de um vibrante colorido, com grande riqueza de detalhes desde a vistosa

roupagem até a capa vermelha, marca registrada de um toureiro. Monet exibiu

esta obra em 1867, em uma individual montada em anexo à Exposição Universal

em Paris.

Para não depender exclusivamente da memória e das anotações trazidas da

Espanha, Édouard teria usado o próprio irmão como modelo de um triunfante

toureiro, aplaudido pela multidão após a morte do touro. Note-se, entretanto, que

não há uma reverência com o corpo curvado, mas um matador ereto, ciente de

sua importância, consentindo em cumprimentar o público, mas sem curvar-se

diante dele. A obra foi inicialmente adquirida pelo jornalista e crítico de arte

Théodore Duret que, por sua livre interpretação, achava tratar-se de um toureiro

antes (e não depois) e, assim, não estava agradecendo, mas, ao contrário, se

apresentava pedindo permissão ao público para iniciar o espetáculo.

O retrato de um toureiro já tinha sido feito por Monet utilizado como modelo

a jovem Victorine Meurent (imagem na pg. 047) para fazer o retrato de um

toureiro. A diferença é que, sem nunca ter presenciado uma tourada, ele se

serviu apenas da imaginação havendo uma licença poética ao usar uma mulher

como modelo e, mais que isso, em colocar em suas mãos uma capa cor de rosa,

ao invés do tradicional vermelho. Nesta outra versão, há um intenso realismo de

quem viu o espetáculo e se deixou influenciar por ele.

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- 1866 -

“O tocador de pífaro” (Le Joueur de fifre)

161,1 x 97 cm, óleo sobre tela

Musée d’Orsay, Paris

“Le Joueur de fifre” é um quadro pintado em 1866, uma das mais conhecidas

pinturas de Édouard Manet, que ficou bastante conhecida por suas cores vivas

e contrastes. É, segundo o autor, o retrato de um menino vestindo um uniforme

para crianças, imitando a farda da guarda imperial de Napoleão III, com calças

vermelhas e de listras pretas, jaqueta preta com botões dourados, cinto branco

e boné tal como eram caracterizados os soldados."

Uma vez mais, o tema da tela é inspirado em Diego Velazquez, lembrando

anões e bufões do pintor espanhol. Uma crítica mais ácida ironiza a obra,

comparando-a a uma “carta de baralho”, pela imobilidade do personagem,

faltando ao conjunto um mínimo de ação. Sente-se, uma vez mais, a dificuldade

de Manet em romper com o academicismo e esta foi uma das razões pelas quais,

embora mestre e orientador dos impressionistas, nunca conseguiu, de fato, se

tornar um deles.

“O tocador de pífaro”, a exemplo de outros trabalhos de Manet, também foi

recusado pelo Salon de Paris, havendo o júri reprovado sua técnica e o tema um

tanto popularesco. Saiu em sua defesa o escritor Émile Zolá, publicando uma

crítica mais extensiva, descrevendo a pintura como “sólida e forte” e, no afã de

defender o amigo classificou-a, talvez exageradamente, como uma obra

naturalista. A identidade da criança que posou como modelo permanece

indefinida. Poderia, eventualmente, ser filho de algum soldado da guarda

imperial. Ou poderia ser o próprio Leon Koela-Leenhoff, filho de Suzanne, que

se tornou afilhado de Manet após seu casamento com a modelo.

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- 1867 -

“A corrida em Longchamps”

(Le Courses à Longchamp)

43,9 x 84,5 cm, óleo sobre tela

Art Institute of Chicago (Chicago)

“Les Courses à Longchamp” é uma pintura de Édouard Manet

representando uma corrida hípica que acontece em Longchamp,

Esta pintura é particularmente inovadora, na medida em que os cavalos não

estão representados em perfil, como o espectador os vê da arquibancada, mas

sim revelados de frente como se o pintor estivesse no meio da pista.

Com isto, mais que o realismo da pintura, o artista busca a impressão dos

sentidos, sacudindo o espectador, como se este fosse o ator principal do

espetáculo.

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- 1867 -

“As bolas de sabão”

(Les Bulles de savon)

100,5 x 81,4 cm, óleo sobre tela

Museu Calouste Gulbenkian (Lisboa)

Nesta tela, o menino se diverte fazendo bolas de sabão e há quem diga

simbolizar a vida, a um só tempo com colorido e a beleza, em contraste com o

efêmero. A obra foi adquirida por Calouste Gulbenkian, em Nova Iorque, em

novembro de 1943 estando atualmente exposta no Museu Calouste Gulbenkian

em Lisboa. Em seu site, o museu faz as apresentações:

“O tema da pintura, a vanitas, o sentido da existência efémera,

simbolizado pelas bolas de sabão, conhece através de Manet uma

interpretação singular. Aspectos como o fundo escuro, a simplicidade das

formas e a sobriedade da composição parecem evocar, contudo, uma

obra com o mesmo título da autoria do pintor setecentista francês Jean-

Siméon Chardin O conteúdo alegórico não se sobrepõe, todavia, no

presente caso, à autonomia plástica do discurso visual. Manet cria a sua

expressão autónoma e impõe, a partir do motivo, uma afirmação da sua

percepção sensorial, da sua subjetividade. Não é de excluir, também, a

hipótese de o quadro poder constituir uma reflexão do autor sobre a

perenidade da arte. O estilo livre e direto da composição, com recorte da

figura bem definido, acentuado por um forte contraponto entre claro e

escuro, traz à memória o gênio de grandes mestres como Murillo e Frans

Hals.” (Wikipedia em português e outras fontes).

“Les Bulles de savon” de Jean-Siméon Chardin

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“Les Bulles de savon”

de Édouard Manet

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- 1868 -

“A Execução de Maximiliano”

(L'Exécution de Maximilien)

253 x 305 cm, óleo sobre tela

Städtische Kunsthalle (Mannheim)

Pintura histórica em um quadro monumental, com 3 metros de comprimento,

fugindo aos padrões de Manet não só quanto ao tamanho quanto ao tema, já

que o artista não era muito chegado nem à pintura histórica, nem à pintura

religiosa, nem a paisagens, dedicando-se mais frequentemente a retratos. Neste

caso, vale dizer que o imperador mexicano se achava sob a proteção de

Napoleão III, e o assunto interessaria, de certo modo, aos franceses.

L'Exécution de Maximilien (A Execução de Maximiliano) é uma pintura do

pintor francês Édouard Manet de 1868. A pintura representa a execução de

Maximiliano I do México por um pelotão de fuzilamento republicano.

Ao fim de três anos, o Imperador francês ordenou a retirada das suas tropas

e aconselhou Maximiliano a abdicar e a embarcar para a Europa, justificando

essa posição face às revoltas republicanas no México e pretendendo não piorar

a relação entre o Segundo Império e os seus adversários republicanos. Julgando

que a situação era ainda sustentável, Maximiliano vai tentar até o fim manter o

seu império, mas cai nas mãos dos adversários republicanos e é condenado à

morte, numa farsa de tribunal, e executado.

A notícia chegou a Manet durante a Expo do mesmo ano. O pintor, desde

sempre devoto republicano, ficou indignado com o modo como foi morto este

jovem príncipe e trabalhou mais de um ano num pequeno estudo a óleo, numa

litografia (proibida pela censura) e em três grandes quadros. Durante a sua vida,

Manet não pode expor ou vender qualquer um desses trabalhos na França,

mesmo depois da queda do Segundo Império. A Execução é então mostrada

num pavilhão pessoal perto da Ponte de Alma em Paris.

Após a morte do artista, em 1883, a tela maior é cortada e os seus

fragmentos estão atualmente em Londres, o estudo a óleo é enviado para

Copenhague e a primeira versão do quadro para Boston.

Por trás do muro, um pequeno grupo de curiosos acompanha o

acontecimento, cidadãos comuns, testemunhas de um acontecimento cuja

dimensão eles nem de longe conseguem compreender. (Wikipedia e outras

fontes)

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- 1868 -

“Retrato de Émile Zola”

(Portrait d'Émile Zola)

146 x 114 cm, óleo sobre tela

Musée d'Orsay (Paris)

Amigo certo nas horas incertas, o escritor e crítico de arte sempre esteve

próximo dos vanguardistas, em especial de Cézane e de Monet, saindo em sua

defesa ainda quando a mídia os atacava ferozmente. Em 1866, fez rasgados

elogios a Manet prenunciando que, pelo progresso demonstrado em sua pintura,

muito em breve ele estaria no Louvre. O elogio emocionou o artista que, em

reconhecimento, se propôs a fazer este retrato e o escritor posou para ele em

fevereiro de 1868, sentado em seu escritório, com um livro às mãos,

provavelmente “A História dos Pintores” de Charles Blanc, muito em voga

naquele momento.

O quadro foi aceito no Salon de Paris no mesmo ano e contém algumas

particularidades que revelam a amizade entre os dois, como a representação da

tela “Olympia” com o rosto de Victorine Meurent ligeiramente alterado para fixar-

se em Zola. Sobre a mesa, um folheto azul celeste, original de artigo escrito por

Zola para defender Manet. Junto a “Olympia”, uma estampa japonesa e dois

quadros de Velazquez, fontes de inspiração de Manet. À esquerda, um biombo

também no estilo nipônico.

Por ironia do destino, as grandes amizades, quando se rompem, oscilam

sensivelmente para o estremo oposto, tal qual o pêndulo de um relógio e

aconteceu que, um dia, Zola e Manet se afastaram um do outro. Uma das razões

foi a mudança de estilo do pintor, ficando a meio caminho entre o realismo que

sempre praticara e o impressionismo ao qual vinha dando seu incondicional

apoio. Qualquer outro motivo, se existiu, ninguém sabe, ninguém viu. (Traduzido

da Wikipedia, com apoio de outras fontes).

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- 1868 -

“O almoço no estúdio”

(Le Déjeuner dans l'atelier)

118 x 154 cm, óleo sobre tela

Neue Pinakothek (Munich)

“Le Déjeuner dans l'atelier” é um quadro pintado por Mane tem 1868 e

apresentado no Salon de Paris do ano seguinte. O personagem em primeiro

plano é Léon Koelin-Leenhoff, registrado como Léon Édouard Koëlla,

seguramente filho de Suzanne Leenhoff e muito provavelmente de Manet, já que

nasceu quando os dois desenvolviam um relacionamento amoroso. Leon

aparece frequentemente como modelo e, após o casamento Manet-Suzanne, foi

adotado pelo casal e, nesta pintura, a família está reunida no estúdio.

A tela foi executada no apartamento de férias do casal em Boulogne-sur-

mer, no Canal da Mancha, 260 km ao norte de Paris, onde a família passava os

Verões.

O quadro, propositadamente, é bizarro e contraditório, reunindo elementos

díspares e absurdos. Os personagens não se comunicam entre si, como se

fossem fruto de uma colagem de figuras. Sobre a mesa, a refeição envolve ao

mesmo tempo café da manhã e ostras. As armas, no canto esquerdo, são de

períodos diferentes e não seriam usadas pelo mesmo guerreiro.

Alguns analistas, deixando levar-se pela imaginação podem interpretar tudo

isso sobre as contradições frente a um público, ora indiferente, ora crítico ácido

do trabalho pacientemente desenvolvido pelo artista, ignorando que o pintor

coloca em sua tela o melhor de si mesmo, na tentativa de ser reconhecido pela

obra que realizou.

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- 1868 -

“Retrato de Mademoilselle Claus”

(Portrait de Mademoiselle Claus)

111 x 70 cm, óleo sobre tela

Ashmolean Museum (Oxford)

Este retrato impressionante é um estudo para a obra “Le Balcon” (abaixo)

obra que Manet concluiria no ano seguinte e que está agora no Museu d’Orsay,

em Paris. O modelo é Fanny Claus, uma violinista famosa, amiga íntima de

Suzanne, a esposa do artista.

Violinista e participante do primeiro quarteto feminino de cordas, Fanny era

também assistente favorita de Manet, fazendo parte de um círculo íntimo de

amigos da casa. Ela se casou com o pintor, gravador e escultor Pierre Prins

(1838-1913), outro amigo íntimo da família.

“O Retrato de Mademoiselle Claus” foi comprado em 1884 pelo artista

americano John Singer Sargent.e mais tarde cedido ao Ashmolean Museum de

Oxford, na Inglaterra.

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- 1869 -

“Na praia de Bolonha”

(Sur la plage de Boulogne)

32 x 65 cm, óleo sobre tela

Virginia Museum of Fine Arts (Richmond)

Manet pintou este quadro no Verão de 1869, nas férias que a família

passava todos os anos na casa de praia. Uma outra versão, mais simples, seria

reproduzida pelo pintor em 1873 e se encontra no Museu d’Orsay. Veja essa

segunda versão abaixo.

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“Na praia de Bolonha”, original de 1869

“Na praia de Bolonha” em selo postal

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- 1869 -

“Luar sobre o porto de Bolonha”

(Clair de lune sur le port de Boulogne)

82 x 101 cm, óleo sobre tela

Musée d'Orsay (Paris)

“Le Clair de lune sur le port de Boulogne” é um quadro pintado por Édouard

Manet em 1869, por ocasião da temporada de Verão em sua casa de Bolougne-

Sur-Mer, no Canal da Mancha, a 250 quilômetros ao norte de Paris.

A pintura focaliza o retorno de um barco de pesca à noite esperado

ansiosamente pelas mulheres dos marinheiros, tudo isso à meia-luz do luar. O

trabalho, ao mesmo tempo cheio de luz e de sombra, é, na avaliação dos críticos,

um tributo notável à pintura de Rembrandt.

Abaixo, Rembrandt, “Cristo na tempestade”

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“Clair de Lune...” de Manet

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- 1869 -

“Partida do vapor, de Folkestone”

(Le Départ du vapeur de Folkestone)

60 x 73 cm, óleo sobre tela

Philadelphia Museum of Art (Filadelfia)

“Le Départ du vapeur de Folkestone” é um quadro pintado por Édouard

Manet em 1869 em sua temporada de Verão em Boulogne-sur-Mer, na margem

francesa do Canal da Mancha.

A tela representa um barco a vapor para transporte de pequeno curso,

usado na travessia do canal, entre a França e a Inglaterra, e o próprio pintor já

havia, no ano anterior, experimentado esse trajeto para visitar Londres.

Note-se que Folkestone fica no lado inglês do Canal da Mancha e é hoje o

ponto de partida do Eurotunel, numa extensão de 50 quilômetros, até Calais, no

lado francês. Naquela época a única forma possível de fazer a travessia era

através das pequenas embarcações a vapor, que levavam passageiros e

mercadorias entre um país e outro.

A dama de branco e o cavalheiro de preto à esquerda, bem próximos ao

vapor são a mulher de Manet, Suzanne, acompanhada de seu filho Leon.

A pintura, por sua vez, é uma demonstração da habilidade com que o pintor

administrava luz e cores para criar uma atmosfera de alegria e despreocupação.

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- 1869 -

“O terraço” (Le Balcon)

170 x 124 cm, óleo sobre tela

Musée d'Orsay (Paris)

Na ocasião em que Manet pintou este retrato, na sacada de um prédio, as

cenas retratando a vida burguesa, eram recorrentes, sendo tema de vários

artistas. Sentada, aparece a pintora impressionista Berthe Morisot, modelo

frequente do pintor. Ao conhecer Manet, passou a posar para seus quadros e,

nessa proximidade com a família dele, apaixonou-se pelo irmão do artista, o

pintor Eugène Manet, casando-se com ele e tornando-se cunhada de Edouard.

Foi ela que cuidou da aproximação de Edouard Manet com o grupo de

impressionistas.

A cena é estática, como se os personagens fossem bonecos de cera, com o

olhar perdido no espaço, como que em devaneio. Não há ação, não há uma

revelação de qualquer mensagem a ser transmitida ao espectador.

O importante neste quadro é o divisor de águas. Manet, por fim, liberta-se de

vez das influências acadêmicas e, ainda que haja uma reminiscência à varanda

nas “Majas” de Goya, o estilo agora aparece totalmente livre.

“Majas na varanda”, de Goia (1800circa)

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“Le Balcon”, de Manet (1869)

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- 1869 – 1870 - -

“Le repos” (O descanso)

150,2 x 114 cm, óleo sobre tela

RISD Museum (Rhode Island-USA)

O quadro retrata a pintora e modelo Berthe Morisot (1841-1895), cunhada

de Manet, que descansa em um sofá de veludo, em atitude de devaneio, tendo

à parede uma figura japonesa, como decoração do ambiente.

O quadro foi exposto no Salon de Paris e, como em suas exibições

anteriores, Manet foi alvo críticas as mais variadas, por sua atitude provocativa

de radicalização do estilo, com largas pinceladas e um jogo de luz e sombra,

criando um ambiente estranho e dando destaque ao rosto do modelo, como que

buscando, antes de mais nada, revelar sua personalidade.

Vendido inicialmente a um colecionador francês circulando por algum

tempo dentro do próprio país, em 1898, o quadro foi vendido a George Vanderbit,

um mecenas americano de origem holandesa e, mais tarde, doado ao Risd

Museum, de Rhode Island, sendo uma das primeiras obras de Manet a ser

introduzida na coleção americana de arte.

Possuído por primeiros colecionadores franceses proeminentes, foi

adquirido por George Vanderbilt em 1898, tornando-se uma das primeiras

pinturas de Manet introduzidas a uma coleção americana.

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- 1869 – 1872 - -

“Barcos ao mar; cena ensolarada”

(Bateaux en mer; soleil couchant)

41 x 92 cm, óleo sobre tela

Museu de Arte Moderna

André Malraux (Le Havre)

Bateaux en mer, soleil couchant revela a influência que, sobre os pintores

impressionistas, exerceram as estampas japonesas, ora reproduzidas como

parte de seus próprios quadros, ora servindo de inspiração em sua obra criativa.

Uma exposição internacional, com a montagem de um pavilhão de arte

japonesa trouxe aos artistas franceses uma proximidade com a arte oriental, num

momento em que os impressionistas, rompendo com a academia, procuravam

uma nova forma de se expressar, com estilo livre e descompromissado com a

arte tradicional do Ocidente.

Para Manet, foi como “cair-lhe a sopa no mel” e o artista não desperdiçou a

deixa, registrando sua visão pessoal da renovação artística que se avizinhava.

Abaixo, o quadro “Barcos ao mar”, aqui comentado, com proporções

alongadas, muito comuns nas estampas japonesas.

Na página ao lado, dois outros trabalhos de Manet, focalizando o mesmo

tema.

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- 1870 -

“Efeito de Neve em Petit-Montrouge”

(Effet de neige à Petit-Montrouge)

59.7 x 49,7 cm, óleo sobre tela

Museu Nacional de Cardiff (Cardiff)

Effet de neige à Petit-Montrouge é uma pintura realizada por Édouard

Manet em 1870, na cidade de Paris. Petite-Montouge é um dos “quartiers”

(bairros, ou quarteirões administrativos em que está dividida a capital francesa).

É uma das raras paisagens do artista e, ainda assim, em tela vertical, formatada

como retrato. Manet gostava de pintar pessoas, colocando a paisagem como

complemento. A torre de sino, que se destaca no centro da tela, é a da Igreja

Saint-Pierre-de-Montrouge.

Manet pintou este quadro quando fazia parte da Guarda Nacional, durante o

cerco de Paris, mas, contrariando a tendência dos artistas de pintar esse

momento histórico como épico, o artista preferiu criar uma atmosfera pesada e

ameaçadora. A pintura, pois, reflete a desesperança de Manet quanto à situação

militar, revelando a profunda solidão e as privações por que passou nesse

momento difícil de sua vida.

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- 1872 -

“Berthe Morisot com buquê de violetas”

(Berthe Morisot au bouquet de violettes)

55 x 38 cm, óleo sobre tela

Musée d'Orsay (Paris)

A guerra franco-prussiana, que resultou na perda, em favor dos alemães, dos

territórios de Alsácia e Lorena, marcou profundamente Manet, membro da

Guarda Nacional. Assinado o armistício, o artista voltou à pintura e tomou a

pintora Berthe Morisot, como modelo preferida. Berthe viria a se casar, mais

tarde, com o irmão dele, o também pintor Eugene Manet.

Ao invés de usar iluminação uniforme, como costumava fazer em seus

retratos, o artista, preferiu projetar sobre seu modelo uma iluminação viva e

lateral, deixando o rosto metade iluminado e a outra metade, sombreado. Morisot

aparece com olhos negros (na vida real eles eram verdes) e Manet usa e abusa

da cor preta, que era um tabu para os impressionistas.

Conquanto não agrade a todos, os mais próximos a Manet consideram este

retrato como uma obra prima do pintor.

No quadro abaixo, a própria Berthe pintou seu marido Eugene, com a filha

do casal, em 1881.

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“Berthe Morisot au bouquet de violettes”, pintado por Manet tem 1872

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- 1872-1873 -

“A Estrada de Ferro” (Le Chemin de fer)

99,3 x 111,5 cm, óleo sobre tela

National Gallery of Art, Washington

Le Chemin de fer é um quadro pintado por Édouard Manet no início dos anos

70 e concluído em 1873, em que aparece como modelo, pela última vez o

“feitiche” do artista, a pintora Victorine Meurent, com quem ele teve 13 anos de

relacionamento profissional e amoroso. Victorine, no passado, posou para os

quadros de Manet que mais agitaram os críticos, como “Almoço na relva” e

“Olympia”. Nesta obra, ela aparece ao lado da filha do pintor Alphonse Hirsch,

ambas em frente à gare de Saint Lazare.

Esta obra, repleta de nostalgia, traz um portão de ferro, como que separando

o passado e o futuro, refletindo um sentimento de amargura. É bom lembrar que,

neste momento, Manet já começava a ter problemas de saúde que complicariam

sua vida, levando-o a uma doença progressiva, até a morte, dez anos depois.

Abaixo, a mesma Victorine, no quadro “Olympia”,

que causou enorme escândalo

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“A Estrada de Ferro” (Le Chemin de fer)

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- 1874 -

“No barco” (En bateau)

97,1 x 130.2 cm, óleo sobre tela

Metropolitan Museum of Art (New York)

Enfim, impressionista! Apresentada no Salon de Paris de 1879, esta obra

marca uma reviravolta na linha pictórica do artista, com maior aproximação aos

cânones impressionistas, aos quais Manet sempre se mostrou rebelde. Curioso

é que, sendo mais velho e experiente, ele sempre foi um mestre entre os jovens

impressionistas, mas, pessoalmente, permaneceu fiel ao realismo.

No Verão de 1874, Manet viaja até a propriedade de seu primo, o poeta Jules

Jouy, nas margens do Sena, 15 quilômetros ao Norte de Paris e, aproveitando o

ensejo, visita seu amigo Claude Monet, residente em Argenteuil, do outro lado

do rio, pintando em sua companhia e, eventualmente, também, na companhia

de Piere-Auguste Renoir.

Foi nessa ocasião, especialmente, que ele admitiu utilizar o estilo

impressionista, nesta e em outras telas. Não é uma conversão definitiva, mas

uma adesão de momento, em acompanhamento aos seus dois amigos artistas.

Outra tela, pintada por ele nesta ocasião e bastante conhecida retrata Monet em

seu barco-estúdio, e vai reproduzida abaixo.

Claude Monet em seu barco-estúdio (quadro de Édouard Manet)

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“No barco” (En bateau), de Manet

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- 1874 -

“Argenteuil” 149 x 115 cm, óleo sobre tela

Museu de Belas Artes (Tournai)

Argenteuil é uma comuna francesa, localizada no departamento de Val-

d'Oise, da região administrativa de Ilha-de-França, na periferia de Paris, banhada

pelo rio Sena. Sendo uma região pitoresca, foi um destino certo para artistas

parisienses, entre eles, Claude Monet, Jean-Étienne Delacroix, Auguste Renoir,

Gustave Caillebotte, Alfred Sisley, Georges Braque, Édouard Manet e outros.

A tela representa um canoeiro em companhia de uma jovem, numa barca às

margens do Sena. A ideia inicial era usar como modelos Claude Monet e a

esposa dele, Camille, mas Monet estava envolvido em seus próprios projetos e

não dispunha de tempo, então, a figura do canoeiro é, provavelmente, o escritor

e poeta Guy de Maupassant, sendo que a mulher não chegou a ser identificada.

Esta obra se insere entre as primeiras telas de Manet após sua adesão real

ao impressionismo, do qual sempre foi um dos mentores, mas não praticante. O

tema se fixa abertamente na natureza e a impressão gravada na tela é agressiva,

chamando atenção de críticos pelas cores fortes, em especial o azul. Ao fundo,

como segundo plano, aparece a cidade de Argenteuil.

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- 1874 -

“Claude Monet pintando em seu estúdio”

50 x 64 cm, óleo sobre tela

Neue Pinakothek (Munich, Germany)

A pintura retrata seu amigo Claude Monet em plena criação artística no

barco, imerso na vegetação de Argenteuil, perto da casa da família de Monet.

Os modelos são o próprio Monet e sua esposa Camille, que aparecem sob um

toldo improvisado, para protege-los da luz do sol. A aproximação de Edouard

Manet com os impressionistas deu-se por influência de sua cunhada, a pintora

Berthe Morisot e criou-se uma forte ligação, mais que aos outros artistas, ao

jovem pintor Claude Monet, seu melhor amigo e, neste momento, um

companheiro de pinturas, compartilhando as mesmas paisagens, cada um com

sua própria versão. Neste momento, quem vivia em um período de escassez era

o jovem Monet e o mestre Manet lhe estendeu o braço, ajudando-o

financeiramente.

O título da obra é, de certa forma, irônico, já que o objetivo dos

impressionistas era se colocar diante da paisagem, para fixar a impressão do

momento, porém, Monet foi além, comprando um velho barco e adaptando-o

para ficar “dentro da paisagem”.

Manet, mestre dos impressionistas mas não um deles, aderiu ao

impressionismo nesta série, para estar mais perto do amigo e discípulo Monet,

daí as telas impressionistas do mestre e sua aproximação das águas, tema que

sempre fascinou os impressionistas, pela sua luminosidade. A exploração do

tema favorito de Monet, ou seja, água, está na mesma aspiração.

Pintura de Monet, demonstrando seu fascínio pelas águas

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Mestre Manet ironiza seu amigo

Claude Monet, colocando-o em

seu estúdio dentro das águas

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- 1874 -

“Le linge” (A roupa lavada)

145 x 115 cm, óleo sobre tela

Barnes Foundation (Filadelfia

A tela, que representa uma jovem lavando roupa em uma tina, improvisada

como tanque, no Quartier des Batignolles, foi, de pronto e sem maior análise,

recusada pelo Salon de Paris de 1876 e o motivo foi o tema provocativo, seja por

usar o estilo impressionista, rejeitado pelos salões, seja pela versão prosaica,

retratando uma mulher do povo em sua tarefa mais comum, de lavar roupa.

Lembremos que o impressionismo sempre foi rejeitado pelo salão oficial e,

por iniciativa do Imperador, Napoleão III, foi criado o “Salão dos Rejeitados”, para

abrigar a exposição daqueles que não conseguiram obter a bênção dos

curadores. E os temas aceitos pelo salão, na sua maioria das vezes, retratavam

gente da burguesia, dificilmente a gente simples do povo.

Não obstante a reação contrária da crítica, a tela atraiu a atenção do poeta

e crítico francês Stéphane Mallarmé, que se tornou, a partir daí, um dos mais

chegados amigos de Manet, defendendo-o das críticas ácidas de seus

adversários.

Mellarmé pintado por Manet em 1876

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“Le Linge”, impressionista e popularesco,

na visão do Salón de Paris

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- 1876 -

“Marguerite de Conflans”

53 x 64 cm (oval), óleo sobre tela

Museu dos Agostinhos (Toulouse)

Este quadro, excepcionalmente no formato oval, pertenceu à coleção

particular de Miss d’Angely, filha da própria modelo que o legou ao Museu

Nacional do Louvre em 1941, sendo oficializado no acervo em 1945 e transferido

para o Museu d’Orsay em 1986.

Como o nome o diz, trata-se de um retrato de Marguerite de Conflans,

sentada em uma cadeira à direita da mesa, com espelho e uma penteadeira,

olhando de frente para o espectador. Ela veste uma túnica de musselina branca

com mangas transparentes e segura um livro aberto, em seu colo. Há uma

predominância do azul, mas o fundo é atenuado com tons mais acinzentados,

numa perfeita interação de cores e texturas. Para destacar o primeiro plano, o

reflexo no espelho aparece inacabado, apenas sugerido, mas sem detalhes.

Manet recusou-se a se apresentar com os impressionistas em 1874, como,

de resto, não participou de nenhuma exposição de seus pupilos, mas, desde sua

temporada com Monet em Argenteuil, passou a admitir o novo estilo, que

aparece mais visível em sua obra, até então realista. Note-se que a gama de

cores usado por Manet é agpra mais apuradas, bem como o seu estilo tornou-

se mais flexível, o que é particularmente visível nesta imagem.

A reprodução da mulher em toda sua feminilidade continua sendo um padrão

muito caro ao artista. Aqui, ele coloca um espelho na composição que ilumina e

ajuda a mostrar o caráter de vários ângulos. Esse processo, utilizado por Ingres

em retratos femininos, é raro em Manet e foi usado pela última vez no quadro

“Folies Bergère”, de 1880 (abaixo).

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Marguerite de Conflans (1876)

Marguerite de Conflans foi pintada por Manet, dentro do gosto vigente na

época por quadros retratando a burguesia. A dama foi várias vezes retratada

pelo pintor e participou de recepções organizadas por ele, sendo que, em

algumas delas, se fez acompanhar por sua mãe.

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- 1877 –

“Nana” – Pronúncia: Naná

154 x 115 cm, óleo sobre tela

Kunsthalle de Hambourg

Concluída em 1877 Manet apresentou a pintura ao Salon de Paris no mesmo

ano e, para não contrariar a lógica, também esta obra foi recusada pelos

curadores, desta vez, por razões de ordem moral. Não era um nu, a mulher que

aparece no retrato está até que muito bem vestida e bem-comportada, diante de

um espelho, com o rosto voltado para o espectador. Poderia ser pendurado em

uma sala do jardim da infância, sem causar transtornos. O detalhe é que Nana

(pronuncia “Naná”) é uma prostituta, com anáguas em lugar de saia e tendo atrás

de si um circunspecto cavalheiro de “reputação ilibada”. Não é aquilo que se vê,

mas aquilo que se sugere, que escandalizou os selecionadores do Salon.

O cognome Nana (Naná) não era, na França do Século XIX, dado a senhoras

de “boa linhagem” e se utilizava para designar mulheres frívolas, ou tidas como

tal, acentuando ainda mais a divisão de classes, já que podia ser aplicado pelos

burgueses a qualquer mulher pobre, por mais honesta e trabalhadora que fosse.

Assim, ao titular a obra, Manet dava uma bofetada com luvas de pelica e, em

resposta, foi nocauteado, com a recusa de seu quadro para exibição pública.

Um dos amigos e defensores de Manet, o escritor Émilie Zola (pronúncia

“zolá) publicou um livro com o mesmo nome, mas não há relação entre o livro e

a pintura, ou a ideia de que um tenha inspirado o outro. Pode acontecer, sim,

que o mote, para o pintor, tenha sido o livro do mesmo Zola intitulado “Le Rêve”

(O Sonho), em que uma garota órfã se apaixona por um homem da nobreza.

Este livro, embora publicado em outubro de 1888, foi escrito entre 1860 e 1869

e Manet, como amigo íntimo de Zola, provavelmente teve acesso aos originais.

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- 1877 –

“Retrato de Antonin Proust”

(Portrait d'Antonin Proust)

182 x 110 cm, óleo sobre tela

Museu Fabre (Montpellier)

Antonin Proust (1832-1905), jornalista, político, crítico de arte, curador e

colecionador, havendo ocupado ministérios no governo francês. O sobrenome

“Proust” era comum na França e não se deve confundir “Antonin Proust” com

o famoso escritor “Marcel Proust”, não sendo a mesma pessoa e não havendo

relação de parentesco entre eles. De resto, o retrato é uma homenagem ao

eminente cidadão, promovendo, a um só tempo o retratado e o retratista. Manet

fez mais de um quadro deste proeminente político e outros artistas, como

Auguste Rodin (1840-1917) usaram o mesmo tema em seus trabalhos. Nesta

obra, Antonin é retratado de corpo inteiro em um quadro com 1,82 metros de

altura, estando praticamente em seu tamanho natural. Os retratos de corpo

inteiro eram reservados para gente de “alta linhagem”. Gente do povo,

costumava-se retratar de “meio corpo”.

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- 1877 –

“Café-concert”

47,5 x 30,2 x 110 cm, óleo sobre tela

Museu de Arte Walters (Baltimore)

Os cafés parisienses eram ponto de reunião de artistas de todos os gêneros,

não apenas pintores e, assim, eram tema recorrente nas pinturas, não só de

Manet como de outros contemporâneos seus. No caso, trata-se da Brasserie

Reichshoffen, no boulevard do mesmo nome. As três figuras centrais formam

um triângulo (símbolo da solidez), olhando em diferentes direções. Manet faz

questão de marcar a distinção entre os personagens. O cavalheiro é habitual

frequentador de cafés, ponto de encontro para “jogar conversa fora”. Não é

comum, entretanto, a presença de mulheres, às quais não se recomendava a

presença em tais lugares públicos. A mulher à esquerda, familiarizada com tais

ambientes, olha o espectador, enfrentando o preconceito, mas a adolescente, ao

lado direito, manifesta um visível constrangimento, como se fora a primeira vez

a entrar em um café.

Como o ambiente está livre de qualquer protocolo, também o pintor joga

livremente as tintas sobre a tela. As figuras são apenas delineadas, sem

qualquer pretensão ao perfeccionismo. O objetivo é caracterizar o ambiente e

essa aparente displicência auxilia na caracterização. É um café-concerto. Ponto

final.

Abaixo, o mesmo ambiente, por vários pintores

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- 1877 –

“Le Prune” (A ameixa)

73,6 x 50,2 cm, óleo sobre tela

National Gallery of Art (Washington)

Descompromissado com o tema, o título se fixa no detalhe menos importante

e quase invisível no quadro, as ameixas ao lado de um sorvete de chocolate.

Aqui, Manet reúne em um só quadro seus dois temas prediletos, o café-concerto

e a mulher que, provavelmente, é a atriz Ellen Andrée,.modelo preferido dos

impressionistas, como Manet, Renoir e Degas.

“Almoçando no Barco”, de Renoir

(Andrée está no centro, com um copo à boca)

Manet soube captar, na tela, os olhos fixos no infinito, numa atitude que

mostra devaneio e melancolia e, sem penetrar na alma do modelo, deixa ao

espectador o encargo de interpretar os sentimentos da personagem naquele

instante, que pode ser de tristeza, mas não de desânimo ou perplexidade, dado

que afoga suas pretensas mágoas, não em um copo de bebida, mas em um

inocente sorvete, sem qualquer enfeite ou complemento. Apenas sorvete.

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- 1878 –

“A rua Mosnier, com bandeiras”

(La Rue Mosnier aux drapeaux)

65,5 x 81 cm, óleo sobre tela

J. Paul Getty Museum (Los Angeles)

A data nacional da França, todo mundo sabe, é a da Tomada da Bastilha,

em 14 de julho, mas há uma segunda comemoração, também importante, que é

o “30 de junho”, lembrando a recuperação da França após a desastrosa guerra

franco-prussiana, à qual se seguiu outro movimento igualmente desastroso, a

Comuna de Paris. Esse feriado existe para lembrar aos franceses que é mais

importante comemorar a Paz do que festejar a guerra. Da janela de segundo

andar, em seu apartamento, Édouard Manet capta a rua engalanada, marcando

as comemorações pela Paz.

No primeiro plano, à esquerda, um homem de muletas, com uma das pernas

amputada, sugerindo os horrores da guerra. Ao centro-direita, um cabriolé e à

sua volta os prováveis passageiros que se dirigem para o local das

comemorações. No lado esquerdo, mais ao fundo, outra carruagem, já com os

passageiros acomodados. E, como ninguém vai ficar parado no mesmo lugar, a

pintura se desenvolveu no estúdio contando apenas com um rápido e rudimentar

esboço, que se transformou na tela pela memória e imaginação do pintor. E, se

você é bom observador, irá encontrar vários outros detalhes, como o operário

carregando uma escada, em que a cabeça do homem é apenas insinuada,

dando-se prioridade ao seu instrumento de trabalho, a escada.

Impressionistas tinham ojeriza ao estúdio e buscavam no espaço urbano os

temas de suas pinturas, registrando uma cidade de Paris que não mais existe e

permitindo comparar a simplicidade da paisagem no século XVI com a agitada

capital que hoje é uma das mais importantes cidades do mundo. E repare que,

nesta obra, Manet está mais impressionista do que nunca.

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- 1879 –

No “Père Lathuille” (restaurante)

(Chez le Père Lathuille)

93 x 112 cm, óleo sobre tela

Museu de Belas Artes (Tournai)

“Père Lathuitile” era uma mistura de café-concerto e restaurante no distrito de

Batignolles, em Paris, nas proximidades do famoso Moulin Rouge.

Contrariando a habitual frieza do artista com relação aos personagens,

neste quadro ele busca fixar os caracteres psicológicos do casal, o homem em

um tom provocativo, olhando fixo para a mulher, que parece querer se livrar de

uma proposta para a qual não estava, naquele momento, preparada. Ela parece

embaraçada, enquanto ele, descontraído, com o braço no espaldar da cadeira,

força uma intimidade que parece não existir. A cena chama a atenção de um

garçom, que suspendeu sua atividade para observar o que estava acontecendo.

Essa discrepância é mais acentuada pela cor das roupas, ela com um traje

conservador, escuro, que sugere um distanciamento, enquanto ele se veste de

forma descontraída, como vivendo apaixonadamente e buscando uma definição

favorável à sua proposta.

O personagem é o próprio filho de Lathuille, dono do estabelecimento e ela

é a atriz Ms. Franck, prima de Offenbach, amiga do pintor, que consentiu em

posar para o quadro.

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- 1879 –

“Auto-retrato com a paleta”

(Autoportrait à la palette)

83 x 67 cm, óleo sobre tela

Coleção privada

Este quadro, aparentemente trivial, gerou uma acirrada disputa no leilão da

Sotheby’s de Londres em junho de 2010, sendo arrematado por um feliz

colecionador pelo valor de 17 milhões de euros, um recorde para obras de

Édouard Manet.

Trata-se de trabalho tardio do pintor, já influenciado pelos impressionistas.

Um exame técnico, utilizando os recursos do raio-X, revelou que a tela não era

virgem. Por debaixo desta pintura, existe, obliterada, uma outra obra renegada

por Manet, que era um retrato de sua esposa Suzanne, em uma pose muito

semelhante ao quadro “Madame Manet ao piano” (abaixo), pintado em 1868, e

que hoje se encontra no Museu d’Orsay. Quem comprou uma, levou duas.

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- 1879 –

“Na estufa” (Dans la serre)

115 x 150 cm, óleo sobre tela

Alte Nationalgalerie (Berlin)

Trata-se de um quadro despretensioso, dentre os muitos que Manet fez

utilizando sua esposa como modelo. Neste mesmo ano, o artista fez outro retrato

de Madame Manet em que ela aparece em posição semelhante (reprodução

abaixo. O tratamento do rosto, aqui mais envelhecido, é opção do pintor.

Nessa época, o grande mecenas era, ainda o Estado e Manet tentou negociar

a venda de “Dans La Serre” para ser incorporado ao acervo do Museu de

Luxemburgo, sem sucesso e o quadro acabou ficando com ele até o fim da vida.

Atualmente, se acha na Galeria Nacional em Berlim.

É a rotina de sempre, ignorado em vida, o gênio é reconhecido após a morte

e o que era aparentemente inútil ganha valor e é disputado ferozmente no

mercado de arte.

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“Na estufa” (Dans la serre)

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- 1879 –

“Retrato de Mademoiselle Lucie Delabigne”

(Portrait de Mademoiselle Lucie Delabigne)

52,2 x 35,6 cm, pastel sobre papel

Metropolitan Museum of Art (New York)

Este pastel descreve Lucie Dalabigne, uma bela e disputada cortesã

parisiense, retratada não só por Manet mas por outros artistas, como Jean-Louis

Forain e Edouard Detaille.

Manet teve seu primeiro contato com ela por influência de seu amigo, o

escritor Émile Zola, que utilizou o perfil da ilustre dama para escrever o famoso

livro “Nana”, descrevendo a vida dessas acompanhantes, por vezes mais

poderosas que as próprias damas da alta sociedade. O romance, escrito anos

atrás, foi publicado em 1880, um ano após Manet ter pintado o quadro.

A beleza de Mademoiselle Lucie impressiona até hoje e reproduções são bem

vendidas em suas versões litográficas, sendo ainda objeto de decoração de

bolsas e utensílios femininos.

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- 1879-1880 –

“Retrato de Clemenceau”

(Portrait de Clemenceau)

52,2 x 35,6 cm, óleo sobre tela

Musée d'Orsay (Paris)

Georges Clemenceau, o todo poderoso primeiro-ministro da França durante

a Primeira Guerra Mundial, era amigo próximo de artistas e alvo de trabalhos

produzidos por eles. Frequentava os “jardins” de Claude Monet e foi ele que

convenceu Monet a doar para o Estado a série de quadros gigantescos, que hoje

se acham em exibição permanente, em um pavilhão construído para abriga-los.

Íntimo também de Édouard Manet, consentiu que fosse retratado pelo pintor,

mas é pouco provável que tenha posado para ele, dado à sua atividade intensa

como estadista, assim, o artista deve ter-se baseado em uma fotografia, dentre

as muitas que se achavam disponíveis.

Estava em voga entre os impressionistas uma atração irresistível pelas

estampas japonesas e há quem veja, neste retrato a pincel, uma inspiração nos

desenhos a bico-de-pena, onde, com uma economia de traços e formas, o autor

consegue expressar a energia, a determinação, a dureza e, ao mesmo tempo, o

humor característico do estadista e político. Essa concisão, aliada à precisão,

faz a obra ser entendida como um dos principais retratos pintados no Século XIX.

Com efeito, este retrato inaugura a modernidade pictórica, usando de

mínimos recursos para transmitir, de maneira enérgica, os traços psicológicos

do grande político, desprezando os detalhes supérfluos para concentrar toda cor

e energia no rosto do retratado. Tudo mais é complemento.

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- 1880 –

“Espargo” (L’Asperge)

16,5 x 21,5 cm, óleo sobre tela

Musée d'Orsay (Paris)

O que é que leva um artista, no auge da fama, pintar temas tão triviais como

um simples legume atirado à areia? E o que leva o artista, profissional como

definição, dependendo da venda de seus quadros, a fazer uma pintura de um

quadro de 16x21 cm, que em nada combina com a parede das grandes salas de

um mecenas? Só Deus sabe!

O Museu D’Orsay, que guarda a obra em seu acervo, conta que Manet

vendera ao crítico de arte, historiador e colecionador Charles Ephrussi a pintura

de lote de aspargos por 800 francos, mas o comprador enviou-lhe, em

pagamento 1.000 francos, 200 a mais que o combinado. Então, com uma pitada

de humor, Manet remeteu este pequeno quadro com o recado: “Eis o espargo

que faltava...”

Descontraído e descompromissado de normas técnicas, Manet pinta uma

pequena faixa de águas pretas, contrastando com o resto da superfície,

marmorizada, na qual o aspargo se confunde com o segundo plano. Há apenas

o prazer de pintar livremente, num momento em que a habilidade se harmoniza

com o humor. Talvez, até, uma ironia às “naturezas mortas” que inundavam as

galerias, levando um crítico a dizer que “lugar de natureza-morta é no açougue!”.

Ou neste caso específico, é na quitanda...

Naturezas-mortas nunca foram praia do artista. Vez por outra pintou alguma

delas, mas sempre em pequeno tamanho e como pura diversão, e sempre

representando flores ou frutos, dificilmente animais mortos, que é o que se vê

frequentemente nesse gênero.

Para Monet, ontem, hoje e sempre, seu foco sempre foi o retrato, e por isso

sempre buscou pintar gentes, em seu habitat, ou no estúdio, ou na paisagem,

sendo que esta, quando aparecia, era apenas um acessório para destacar o

essencial: o ser humano.

E, por fim, para provar que tamanho não é documento, um dos quadros mais famosos do mundo, “Moça com brinco de pérola” de Vermeer mede apenas 44x39 cm. e é a atração maior do museu “Mauritshuis”, em Haia, onde se encontra.

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O lote de aspargos...

... e o aspargo que faltava!

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- 1881 –

“A fuga do Rochefort”

(L'Évasion de Rochefort)

143 x 114 cm, óleo sobre tela

Museu das Belas Artes (Zurique)

Victor Henri Rochefort-Luçay (1831-1913), mais conhecida como Henri

Rochefort, foi um jornalista, dramaturgo, político francês. Grande polemista nas

páginas de seus jornais (La Lanterne, La Marseillaise, Intransigeant), ele

defendia opções radicais ou extremistas, sendo anti-clerical, nacionalista, adepto

da Comuna, boulangerista (extremista da direita), socialista e anti-Dreyfus, o que

lhe rendeu perseguições, incluindo a prisão em Noumea, de onde,

excepcionalmente, ele conseguiu escapar em 1874.

Esta obra é uma homenagem ao combativo jornalista e registra sua fuga da

prisão de New Caledonia ocorrida a 19 de março de 1874, na companhia de

Pascal Grousset e Olivier Pain. Mais que detalhar os personagens, Manet

procurou ressaltar a coragem deles a se aventurar num pequeno barco em um

mar tempestuoso, repleto de tubarões, onde a possibilidade de sobrevivência

era muito pequena e do qual, apesar disso, saíram vitoriosos.

Admirador dessa figura histórica, no mesmo ano, Manet fez também um

retrato de Rochefort.

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- 1881 –

“O Outono” (Meri Laurent)

L'Automne (Méry Laurent)

73 x 51 cm, óleo sobre tela

Museu de Belas Artes de Nancy

Mery Laurent, cujo nome verdadeiro era Rose Suzanne Louviot era tida

como uma mulher de vida fácil, que conseguiu se impor sobre várias

personalidades de sua época, tornando-se musa de Stéphane Mallarmé, Émile

Zola, Marcel Proust, François Coppe, ou Henri Gervex, James Whistler e

Édouard Manet.

Marcada para a sarjeta, teve inteligência, percepção e voluntarismo para

superar as adversidades, inclusive o oportunismo de sua mãe que, quando a

menina tinha 15 anos, vendeu sua virgindade ao marechal François Canrobert,

de quem se tornou amante, recebendo uma pequena mesada que lhe permitiu,

logo em seguida alçar voos mais altos, iniciando carreira no teatro de variedades,

então bastante popular na França e que mais tarde se popularizaria também nos

Estados Unidos e Canadá, como “vaudeville”..

Ao invés de humilhada, sempre soube se impor sobre os demais, ganhando

respeito e admiração. Em seu testamento, deixou toda a fortuna ao seu protegido

Victor Margueritte. Toda, menos o quadro alegórico de Manet, intitulado

“Outono”, objeto desta página, que foi doado ao Museu de Belas Artes de Nancy,

onde se encontra até hoje. O fascínio que Mery Laurent exerceu sobre Manet

levou-o a retratá-la várias vezes, ao longo da carreira.

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- 1881 –

“O caçador de leões”

“Pertuiset, le chasseur de lions”

150 x 170 cm, óleo sobre tela

MASP - Museu de Arte de São Paulo

Édouard Manet pintou um retrato de Eugene Pertuiset, aventureiro e

explorador francês, que descobriu em 1873 a parte norte da Tierra del Fuego,

na Patagônia.

O tema interessou a Manet, que fez também um desenho sobre papel,

usando pena, tinta e crayon. Esse desenho, em 2012, foi vendido em leilão da

Sotheby’s de Nova York por 386.500 dólares. E era só um desenho sobe papel.

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- 1882 –

“Primavera, Jeanne de Marsy”

(Printemps, Jeanne de Marsy)

74 x 51,5 cm, óleo sobre tela

J. Paul Getty Museum (Los Angeles)

Jeanne de Narsy era uma famosa atriz parisiense, na época em que este

quadro foi pintado. A ideia inicial de Édouard Manet era pintar as quatro

estações, tal como Vivaldi fizera anteriormente na composição musical de suas

fugas. O pintor deveria usar uma modelo diferente para cada quadro, não teve a

mesma sorte de Vivaldi, pois foi colhido pela morte, em abril de 1883, havendo

concluído apenas esta “Primavera” e o “Outono”.

No “Outono”, a modelo é Méry Laurent, uma atriz pouco conhecida, mas com

algum relacionamento social, por ter sido uma das amantes do poeta e crítico

francês Stéphane Mallarmé. O pintor está usando a atriz como modelo, não para

um retrato dela mas para incorporar o “Outono” como parte da encomenda para

as “Quatro Estações” que recebeu de seu amigo de infância, o jornalista e

político Antonin Proust (1831-1905) [veja retrato dele na pg. 123].

“O Outono”, de Edouard Manet

.

O quadro é impressionista, lembrando as estampas japonesas. Quanto à

sombrinha, Manet deixou que a modelo comprasse uma a seu gosto.

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- 1882 –

“Um Bar no Folies Bergère”

(Un bar aux Folies Bergère)

96 x 130 cm, óleo sobre tela Existem 2 versões da obra estando uma no Instituto Courtauld (Londres)

e outra numa coleção privada após ter sido arrematada em leilão de 2015 A pintura é uma cena simulando o famoso café-concerto e foi exibida no Salon

de Paris no mesmo ano. Ainda assim, não foi pintado “in loco”, mas no ateliê,

usando-se de anotações e da memória do pintor. Apenas a jovem que serviu de

modelo era uma contratada do café-concerto, criando o elo com o

estabelecimento. Foi a última grande obra do pintor, que morreria meses depois.

Os numerosos elementos presentes sobre o balcão do bar, garrafas de bebidas,

flores, frutas, formam uma evolução piramidal, encontrando o cume, não por

acaso, nas flores que ornam o colo da servente.

O que intriga mais os críticos é o reflexo da modelo Suzon no espelho. Suas

costas não parecem revelar uma imagem exata da cena, tanto no que concerne

à sua postura, tanto como a presença de um homem em sua frente, tão próximo

que deveria ter tampado a visão do observador (Manet). É difícil concluir se esta

anomalia é fruto da vontade do artista ou um simples erro de apreciação.

Huysmans, escritor e crítico de arte francês, descreveu com deleite a maneira

como o quadro "surpreende os que o observam, que trocam observações

desorientadas sobre a visão desta tela". A assinatura de Manet está no rótulo da

garrafa vermelha, no canto inferior esquerdo da tela.

Uma primeira versão da obra foi leiloada por mais de 23 milhões de euros

em junho de 2015, num leilão da Sotheby’s em Londres. O estudo foi feito ainda

no local. Depois o artista montou um bar no seu ateliê e compôs a pintura final.

As duas obras partilham a composição complexa, com o balcão de pedra com

garrafas em primeiro plano e o retrato da empregada ao centro. O fundo é

dominado por um enorme espelho que reflete a multidão, o lustre e o espaço

cheio de fumo da sala. (Wikipedia em português)

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A assinatura de Manet está no rótulo da primeira garrafa

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- 1882 –

“Cravos e clematites em um vaso de cristal”

(Œillets et clématites dans un vase de cristal)

56 x 35 cm, óleo sobre tela

Museu d’Orsay (Paris)

Nos Estados Unidos, este gênero é chamado, mais apropriadamente de

“Still-life” (ainda viva). No Brasil, preferimos traduzir a expressão francesa

“nature morte” (natureza morta), bem aplicada para animais, mas

inconveniente para flores e frutas que, mesmo depois de apanhadas, ainda

continuam vivas.

Animais mortos, flores e frutas, assim como paisagens, nunca foram temas

de Manet, que sempre preferiu retratar seres humanos em seu afã diário. Não

se sabe por que, nos últimos dois anos de vida, já doente, ele fez alguns quadros

aspargos e serelepes, assim como flores, muitas flores.

Este quadro, talvez sua penúltima obra, foi concluído ao final de 1882, meses

antes da morte, ocorrida em abril do ano seguinte. Aqui, o artista adere, por

completo, ao impressionismo, inclusive na proibição do uso do negro, aqui

substituído pelo roxo.

Clematites, a inspiração de Manet (Google)

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- 1882 –

“Verão”, ou ”A Amazona”

(Eté ou L'amazone ou Cavalière)

73 x 52 cm, óleo sobre tela

Museu Thyssen-Bornemisza (Madrid)]

Este é o “canto do cisne” de Édouard Manet, que primeiro contraíra sífilis,

depois teve uma perna gangrenada e, por fim, morreu em abril de 1883, aos 52

anos, após uma operação mal-sucedida, com a amputação.

Amigo e mestre dos impressionistas, permaneceu a maior parte de sua vida

fiel aos cânones da pintura acadêmica, mas, nos últimos dez anos, foi migrando

paulatinamente para o impressionismo de seus pupilos.

A morte de Manet, em 30 de abril de 1883, marcou o fim do

Impressionismo como movimento. A partir daí, o grupo se dispersou,

desprezando as rígidas regras que engessavam a arte, e aceitando apenas o

que, de bom, o impressionismo trouxe, como a busca pelo conteúdo, em prejuízo

da forma, e a intensa luminosidade que marca a impressão nessas obras de arte.

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