Economia - Fatores Das Trocas Internacionais
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ASREIA<:OESECONOMICASlNTERNACIONAIS 839
maior complementaridade entre cadeias produtivas internacionais e as
mudancas substantivas nas estruturas de custos das ernpresas),
o As grandes correntes teoricas das trocas internacionais, em pers-
pectiva historica: 1) a hip6tese mercantilista clas vanragens unilaterais:
2) a hip6tese classica dos beneficios reciprocos; 3) a teoria estrutura-
lista da dependencia: 4) 0$ desenvolvimentos recentes no contexto da
globalizacao.
o As trocas intensificadas uma sintese dos beneficios e custos.
20.1 Fatores Determinantes das Trocas
Internacionais
na As redes internacionais de intercambio econ6mico estabelecern-se a partir de
duas grandes categorias de fatores determinantes: as diferencas na dotacao de
recursos naturals entre os paises e a assirnetria na configuracao de atributos na-
cionais construidos, A primeira categori.a pode ser desdobrada em tres elemen-
tos de diferenciacao, a segunda, em outros tres:
. o s N atu rals
Diferencas na dotacao de recursos naturals
o Area territorial: dimensoes e caracteristicas.
o Diversidade do fator terra.
o Ocorrencias localizadas.
Assimetrias em atributos construidos
o Relacao entre fatores de producao,
o Diversidade na qualificacao dos fatores de producao,
Herancas culturais: diversidade em capacitacoes acumuladas.
Area e diversidade do fator terra. Entre os fatores determinantes das re-
des internacionais de trocas, um dos que tern mais alta relevancia e a diversida-
de com que se apresentam nos diferentes paises os elementos de que se consti-
tui 0 fator terra - 0 solo, 0 subsolo, a pluviosidade, 0 cJima, a flora e a fauna.
Ha exemplos bem conhecidos:
o Se dependessem de seu clima e de seu solo, os europeus e os norte-
americanos nao consumiriam produtos tropicais, como 0 cacau e 0
cafe. Cerca de 80% da producao mundial do cacau, especie originaria
das florestas equatoriais cia America do SuI, concentram-se nos paises
clessa regiao e da Africa, notadamente Gana, Nigeria, Costa do Mar-
fim, Camaroes, Brasil, Bolivia e Equador. A maior parte clas varieclades
de cafeeiros requer clima quente e umido e um solo rico em ferro; 0
Brasil e os parses do centro-norte dos Andes sao particularmente bem
dotados para sua producao.o Os povos tropicais nao teriam, em contrapartida, acesso aos clerivados
do trigo, especie que nao se desenvolve produtivarnente em dimas
quentes e umidos, principalmente porque ai as pragas destruiriam qua-
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se a totalidade das colheitas. Ja a cana-de-acucar exige dimas tropicas
ou sernitropicais, 0mesrno ocorrendo com a seringueira.
o Madeiras duras; como 0 ipe, 0 jacaranda e 0 mogno, sao nativas d o
tropicos; nas zonas rernperadas ocorrem especies macias, conferas,
como 0 pinho e 0 cipreste. As primeiras sao insumos importantes p a r a
as industrias de movers, as segundas, para os de celulose e papel. Eos
dimas subtropicais sao favoraveis a uma terceira especie substitutaoeucalipto originario cla Australia.
o A alta pluviosidade e fundamental para a producao de arroz, em t o -
dos os esragios de seu clesenvolvimento. Ja 0 algodao exige c h u v a s
moderadas e, nos estagios finals de sua maturacao, a alta pluviosidade
e prejudicial a produtividade por area plantada e a qualidade das f i-bras. Na r giao central dos Estados Unidos, no Egito, no Sudao e n o
Paquistao as condicoes pluviornetricas e a tipologia dos solos sao alta-
mente favoraveis a producao do algodao. E 0 arroz, em contrapartida.
provem de regioes em que preclominam varjoes de alta extensao, c omo
em longa faixa cia porcao central cia China, na Tailandia e nas planides
do extreme suI do Brasil.
o Essencias vegetais para chas de alta qualidade adaptam-se as c o n d i -
coes climaticas e a textura do solo de Sri Lanka, mais do que em q u a l -
quer outra regiao: perto de 60% dos mercados mais exigentes sao a t e n -
didos por importacoes originarias desse pals.
o A quase totalidade da la processada pela industria textil mundial p r o -
cede da Australia, da Nova Zelandia, da Argentina, da Africa Sui e do
Uruguai. Estes paises combinam dois atributos essenciais para a pro-
ducao clessa materia-prima: disponibilidade de tetras para sistemas
serni-extensivos de criacao e dimas mesoterrnicos.
o A pecuaria bovina de corte, para racas zebuinas, estabelece-se mais
competitivamente em regioes onde prevalecem gran des extensoes de
terra, com solos de textura media, drenagem moderada e dimas tropi-
cais. Ja a pecuaria bovina de leite de alta produtividade e sensivel a scondicoes tropicais, que sao mais propicias a s racas de alta rusticidade.
Estas diferentes exigencias por condicoes de solo e cl ima determinarn os
padroes da divisao internacional cia producao primaria, no subsetor agropecua-
rio. Elas levam a especializacao E esta, <10 estabelecimento cle redes mundiais
de trocas, sob a forma de commodities semiprocessadas ou de produtos proces-
sados para utilizacao final.
Ocorrencias localizadas. As diferentes exigencias por condicoes de solo e
clima somam-se outros fatores derivados cia dotacao prirnaria de recursos, como
os lencois petroliferos, as reservas de gas natural e as jazidas minerals metalicas
c nao-metalicas. Tarnbem quanta a este aspecto ha exemplos conhecidos.
o Cerca de 75% das reservas conhecidas e da producao mundial de car-
VJO mineral concentrarn-se em apenas seis paises: das 2,5 trilhoes de
toneladas anualmente produzidas, quase em sua totalidacle destinadas
a siderurgia e a metalurgia, 1,9 trilhoes sao procedentes da Federacao
Russa, da China, clos Estados Unidos, do Reino Unido, da Alernanha e
cia Polonia. Mais de 34 cia extracao rnundial ocorrem dentro de umamesma faixa meridiana, no hernisferio norte: entre 30 e 60° ..Mas, den-
tro dessa extensa fa ixa , a ocorrencia nao e uniformemente distribuida
840 A ECONOMIA NACIONAL E ASRELA<;OESECONOMICAS INTERNAClONAlS
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por paises. E ha paises ai situados onde as ocorrencias sao insignifi-
cantes ou de qualidade nao comperitiva.
o A ocorrencia de petroleo e tambem fortemente concentrada. Aproxi-
madamente, 85% do consumo mundial sao supridos por oleo bruto
procedente do Oriente Medic, do Norte da Africa, dos paises da re-
giao sudoeste da CEI, da porcao centro-sul dos Estados Unidos, doCanada, do Mar do NOlte e da Venezuela. A Europa Ocidental, bem
dotada de reservas de carvao, e altamente dependente de petroleo. E
alta tarnbem a dependencia em relacao a este insumo primario de na-
coes industrials avancadas, como 0 japao, ou emergentes, como os
Tigres Asiaticos.
o Cerca de 90% das .reservas conhecidas de uranio concentram-se nos
Estados Unidos, no Canada e na Africa do Sui. Mas sua utilizacao para
fins energeticos e mais dispersa.
u OCOlTe 0 oposto com 0 mine rio de ferro. Embora sua ocorrencia seja
mais dispersa, a extracao e geograficamente concentrada: 80% dos 550
milhoes de toneladas anualmente extraidas sao de jazidas localizadasem 11 grandes regioes fornecedoras, destacando-se a CEI, os Estados
Unidos, a Australia , 0Brasil, a China, 0Canada, a Liberia e a Suecia.
o Com a maior parte de outras reservas minerais nao renovaveis OC01'-
rem tarnbern altas taxas de concentracao espacial. Cerca de 40% do
minerio de cromo empregado para fins industriais procedem de ape-
nas tres paises: Africa do SuI, Filipinas e Rodesia. Mais de 80% c ia pro-
ducao mundial de cobre resultarn da extracao de minas localizadas
em oito paises, tres dos quais sao fortemente depcndentes da minera-
cao e das exportacoes desse mineral: Chile, Zaire e Zambia. Da pro-
ducao mundial de ouro, 3 1 4 . concentram-se na Africa do SuI. A Italia, a
Espanha, 0Mexico e a China produzem a maior parte do mercuric de
utilizacao industrial. E quase 80% da producao mundial de manganesresultam da exploracao de minas localizadas na Australia, Gabao, Gana,
india, Africa do SuI, Zaire e CEL
Nos conhecidos exemplos que citamos, os paises de dimensoes continen-
tais aparecem mais de Un:1H vez, notadamente a China, os Estaclos Uniclos, 0
Canada, a Australia e 0 Brasil. Ja os paises de dimensoes territoriais menores sao
citados geralmente uma s6 vez, para ocorrencias de alta especificidade e, mes-
mo assim, sao raros os cases em que eles lideram 0 ranking da producao mun-
dial referida.
Esta particularidade tern razoes obvias. A probabilidade de ocorrencias na-
turais economicamente viaveis e maior em paises de dimensoes continentals. A
area territorial dos cinco maiores paises (Canada, Estados Unidos, China, Brasil e
Australia) totaliza 45,6 milhoes de krrr', mais de urn terce de toda a superficie
terrestre. E todos sao bem dotados de recursos naturais basicos, em diversidade
e em reservas aferidas. Ja os paises de menor disponibilidade do fator terra tern
majores graus de dependencia de suprimentos primaries externos. a probabili-
dade de ocorrencia e menor e, consequenternente, tambern a diversidade inter-
namente disponivel. Isto nao significa, porern, que os paises de grande extensao
territorial e alta diversiclade de recursos nao tenharn pontos vulneraveis em suas
cadeias internas de suprimentos. Os Estados Unidos sao excepcionalmente bern
dotados de reservas minerals, mas mesmo assim sao altarnente dependentes de
importacoes de grafite, manganes, bauxita, niquel, cromo e tungstenio.
AS RELAf,;:OES ECONOMICAS INTERNACIONAIS 841
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TABELA 20.1
Area territorial e
expressao do
comercio exterior
em relacao ao
PNB,de 40 paisesselecionados, de
diferentes niveis
de renda. Periodo
das transacoes:
1996-98.
Paises selecionados
Area Media das
territorial exportacoes e Importaeees
(Mil km") (% em relacao 0pm)
31 67,9
70 63,4
77 62,2
89 62,1
37 50,8
300 47,0
51 46,7
40 38,0
112 37,8
101 37,1
99 35,2
450 33,8
93 31,9
447 31,8
84 30,8
92 30,7
9,976 29,8
338 29,7
324 27,7
284 27,4
21 27,0
43 26,3
757 25,5
271 23,3
505 21,9
357 21,5
1.121 21,4
245 21,1
132 20,5
301 20,4
552 20,4
49 17,9
9.561 17,7
924 17,2
7,713 17,2
796 16,8
1.985 14,4
1.285 11,1
9,809 9,6
378 8,8
8,512 7,2
Belgica
Trlanda
Republica Checa
jordania
Parses Baixos
Filipinas
Costa Rica
S U 1 < ; ; " a
Honduras
Islandia
Coreia do SuI
Sue cia
Hungria
Marrocos
Austria
Portugal
Canada
Finlandia
omega
Equador
Israel
Dinamarca
Chile
ova Zelandia
Espanha
Alernanha
Africa do Sul
Reina Vnido
Grecia
Italia
Franca
Republica Dominicans
China
Nigeria
Australia
Paquistao
Mexico
PenJ
Estados Vnidos
Japao
Brasil
Fontes: WORLD BANK. World development report. 1998/99, Washington: World Bank/Oxford Uni-versity Press, 1999, (para areas territoriais). IMF - International Monetary Fund, Internatio-
nalfinancial statistics, v. LII, 9, Washington: IMF Publication Service, Sept 1999 (para
comercio exterior),------------------------------ ------------~
842 A ECONOMIA NACIONAL E AS RELA~OES ECONOMICAS INTERNACIONAIS
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FIGURA 20.1
Gradede correlacao, area territorial e expressao docomerclo exterior em relacao ao
PNB. Paises selecionados, 1997-98.
Cornercio
exterior/PNB
(% )
Mois de
50
40 o 50
30 0: 40
20 030
10 a 20
Menos
de10
C J Belgico
olrlando
CI Republica
Checa
Jordonia
o Parses Bcixos
o Costa
Rica
o Filipinos
DSuko
DCoreio do Sui D Islandia
ID Honduras
Portugal. 0
Hungria 0 CI Suecio
I
1 :1 Austrio Marrocos C J
Equodor C IConodo c
Naruega D
C J Chileo Israel
[] Reina [] Finl6ndio
o Dinomorco Unidoo Novo
o FroncoZelondia Alemonha a
[] Grecio o iloilo I: J Espanha D Africa do SuiI
[J R. DominicanaAustral ia []
Poquistdo 01Chino Q
Nigeria 0 o Mexico
a Peru.1
,:Jooco C I
C JI
Estodos Unidos
[J
Brasil
IMenos de 100 100 a 300 300 0500 5000 1.000 1.000 a 2.000 Mois de 2.000
Area territorial (Em mil km2)
Fontesi WORLD BANK. Wodd development n~pol·11998-99. Washington: World Bank/Oxford University Press, 1999 (pard areas
territoriais). IMF - International Monetary Fund. Internaiional financiai statistics, v. LII, 9. Washington: IMF PublicationService, Sept. 1999 (para cornercio exterior).
ASRElAc;:OES ECON<JMICAS ilNTERNACIONAIS 843
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A diversidad da dotacao de r cursos naturals basico reflete-se na expre -
sao do c mercia xterior dos pai ,relativamente ao valor agregado do p ro du -
to nacionaL A Tabela 20_1 mostra este asp cto do intercambio economico m u n -
dial, Embora ocorram significativas excecoe a esta regra, os paises de menore
dirnenso s territoriais tendem a apresentar coeficientes mats altos de transaq6e
come rcia i em rela ao ao PNB, comparativamente aos paises de dirnen oes terri-
toriais majores,A grade da Figura 20.1, construida com os dados ci a Tabela 20.1, cample-
menta a visao de te asp to das transaco s econornicas mundiais, E ela revela
que, nao obstant ocorram exceco ,quando colo amos no eixo horizontal a
dimensoes da ar a territorial e no v rtical a expr ssa do comercio exterior em
r lacao ao PNB, ambas m escala ascendentes, a posicao-padrao dos par e
esta ao longo de uma linha diagonal desc ndente, Mais: a grade revela du a
regioes vazlas, sem incidencia. Uma, no canto direito superior; outra, no canto
esquerdo inferior. Isto sugere que nao ha paises de dimensoes continentais q u e
apresentern elevados coeficiente de comercio exterior em relacao ao P N B ; e
que tarnl -m naoha
paises territorialment diminutos, especialmente entre0
de alta r nda, com taxas inexpressivas de cornercio xterior.
As A simetrias
ern Atriburos
C n truidos
Apesar da relacao evidenciada na grade, as bases tcrritoriaise a diversidade
do fator terra nao sao 0 Unlcos fatores determinantes lias trocas interna-
cionais. diferen¥'S na dotacao de recurso naturais omam-se as as i -
metrias em atributos construidos. E estas tenclem a ter importancia ere cente
na definicao das cadeias int rnacionais de producao de tro a .
As diferen~as Internaclonai quanta a atributo con truidos e ta o mais
fortemente associadas a fatores historicos e ulturai do que a elemento territo-riais. A relacao estrurural entre fatores de producao, que define as intensidades
com que 0capital e 0trabaJho (apoiados p r base determinadas de tecnologia
e de empresariedade) aplicam-se no processo produtivo, e um dos m ais im p or-
tantes atributos construidos que diferenciam as nacoes.
Embora possam ter sido influenciadas por desafios relacionados a dotacao
do fator t rra, as estruturas de producao capital-inten ivas ou trabalho-intensivas
definirarn-se pela inventividade, pela prop nsao a inovacao e pelo e sp frito e m -
preendedor revel ados em graus variados pelas nacoes, ao curso de sua formacao
econornica. A revolucao industrial do seculo XVIII nao ocorreu com a mesma
int nsidade nem com a m rna veJocidade m todos os paise, _Historicameme, a
predisposi ao para a mudanca, as ba es politico-institucionais, os desafios e tra-
tegicos e as diretrizes internas da politica publica diferenciaram-se for te rnente
d pais para pai . E, em urn mesmo lugar, nao s mantiveram com a mesma
forca impul ora 0tempo todo.
Por d terminantes institucionais e culturais, a Inglaterra, a Franca a Ale-
manha assumiram a dianteira do d envolvimento tecnol6gico no seculo XIX,
na esteira da revolu ao industrial europeia. Nessa epoca, no demais continen-
te , 0desenvolvimento te nico e ci ntifico nao seguiu om a mesma v locidad :
em alguns lugares rnanif tou-se tardiament ; em outros, limitou-se a uns pou-
cos setores de ponta, gerando dualidades t nol6gicas internas, e houve lugares
que ficararn a margern dos avances na tecnologia d producao.
ja n inicio do seculo xx, 0 picentro d progres 0tecni 0deslocou-se da
Europa Ocidental para os E tados Uniclos e, em ar as de ba e, para a antiga
844 A ECONOMIA NACIONAL B AS REIA(:OES ECONOMICAS lNTERNACIONAlS
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URSS. Nessas duas economias de dimensoes continentais, a disponibilidade de
atributos naturals cornbinou-se com os novos atributos construidos, redefinindo
o balance mundial da supremacia e do poder. Par fim, a partir dos anos 50 e,
rnais nitidarnente, nas tres ultimas decadas, enquanto a Europa Ocidental revita-
Iizava seus atributos construidos e integrava seus mercados, a Asia tambern pas-
saria a registrar forte expansao, fundamentada no aprimoramento cruzado de
dois fatores de producao. 0capital (via mudancas radicals em padroes tecnolo-
gicos) e 0 trabalho (via macicos investimentos em educacao),
As diferencas nos esforcos nacionais para a acumulacao e 0aprimoramento
de atributos construidos conduziram a assimetrias que se tornaram deterrninan-
tes de maier peso na definicao das redes internacionais de trocas, comparativa-
mente ao desempenhado pelas diferencas em dotacoes naturals. Em. anos mais
recentes, as dotacoes naturals perderam em importancia para novos fatores de-
terminantes de trocas entre as nacoes, E esses novos fatores sao, todos eles, de
alguma forma resultantes de diferencas nas estrategias nacionais de desenvolvi-
mento, de herancas culturais diferenciados e da diversidade de capacitacoes acu-
muladas. As vantagens competitiv-as defmidas em anos reeentes lastreiam-
se, asslm, muito mais nas assbnetrias resultantes de atributos construidos
do que em vocacoes natura is vinculadas a tipologia do fator terra.
20.2 A Interdependencia das Na~oes
Os Fluxos
Cre cente deCornercio
As redes de interdependencia economica das nacoes estabelecem-se sob a influ-
encia cruzada cla diversiclade em dotacoes naturals e dos diferenciais resultantes
de atributos construidos, As diferencas estruturais na clisponibilidade e na com-
binacao de recursos de producao dar resultantes impulsionam as fluxes interna-
cionais de cornercio, somando-se a outros fatores determinantes, Os de maior
relevancia sao:
C J Os beneficios proporcionados pelo intercambio internacional, quando
. fundamentado em especializacoes que conduzem a ganhos de escala
e a custos de producao menos onerosos.
C J Os ganhos de eficiencia que resultam de maiores graus de abertura e
de concorrencia, relativamente as situacoes em que os mercados se
mantem fechados e sujeitos as manobras tipicas de estruturas mono-
polistas de oferta.
C J As mudancas qualitativas nos padroes vigentes da tecnologia de pro-
ducao e a aceleracao do ritmo das inovacoes, trazidas pela maior ex-
posicao dos paises a concorrencia internacional.
o A maior diversidade de produtos trazida pelo comercio mundial e as
decorrentes mudancas po itivas nos padroes de vida vigentes,
A inevitabilidade das trocas internacionais (pela desigual dotacao de recut-
sos naturais), os diferenciais historicamente fixados entre as paises (por atribu-
tos construidos) e as vantagens decorrentes do intercambio (especializacao,
ganhos de escala e diversidade de produtos) sao eviclenciadas pelas taxas reais
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TABELA 20.2Taxas medias annals de
Taxas mediasPaises selecionados
crescimento (%)
anuais de PNB Comereio Icrescim.ento real exterior
I
doPNBedocomercio exterior, Baixa renda 3,6 4,1
empaisesPaquistao 5 , 7 5,8
Chade 4 , 6 6,5selecionados (a), Bangladesh 4 , 1 6 , 1
agrupados por Burundi 3 , 6 4 , 9
niveis de renda (b). Gana 3,5 4,0
Periodo 1980-98. Gambia 2, 4 3, 8
Mauritania 2,2 4, 7
Renda media baixa 5 , 1 7,5
China 8,4 10,6
Tailandia 7 , 2 1 4 , 6Indonesia 5 , 1 6 , 2
Turquia 4 , 6 10,5
Colombia 3 , 7 5 , 1
Tunisia 3 , 7 4 , 9
Marrocos 3 , 2 3 , 9
Costa Rica 3 , 6 5,2
Papua Nova Guine 3 , 1 3 ,6
Filipinas 2 , 3 3 , 9
Renda media alta 3,6 7,2
Coreia do Sui 7 , 2 1 1 , 9
Chile 5 , 1 5 ,5Portugal 3 , 3 1 0 , 2
Brasil 2 , 2 4, 7
Grecia 1 , 4 6 , 0
Uruguai 1 , 6 2 , 3
Alta renda 3 , 2 6,5
Cingapura 6 , 9 11,6
Hong Kong 6 , 4 1 2 , 7
japao 3 , 5\
5 , 9
Irlanda 3 , 8 6 , 9
Espanha 3 , 1 8,9
Australia 3 , 1 54Estados Unidos 2,8 6 , 2
Reino Unido 2 , 5 4 , 8
Austria 2 , 3 5,9
Italia 2 , 3 4 , 2
Franca 2 , 1 4 , 6
[ova Zelandia 1 , 7 4 ,0
(a) Os paises selecionados de cada grupo foram os que apresentararn, no pericdo 1980-98, as
mais altas medias anuais de crescirnento do PNB.
(b) As taxas de crescimento dos grupos de parses foram ponderadas pelos valores agregados do
produto e do cornercio de cada pais seJecionaclo.
Fontes: WORLD BANK. World Development indicators. World development report 1998/99. Wa-
shington : World Bank/Oxford University Press, 1999. IMF - International Monetary Fund.
International financial statistics,v. LII, 9. Washington: 1MI' Publication Service, Sept. 1999,
846 A ECONOMIA NACIONAL E AS RELA(:OESECONOMICAS INTERNACIONAIS
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t-- - I--- -
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FIGURA 20.2
Taxasmedias de
crescimento realdoPNB e do
comercio exterior
degrupos de
paises
selecionados,
segundo os niveis
de renda.
Em todos os
grupos,o
crescimento real
do comercio
superou0do PNB,
no periodo
1980-98.
Toxas de 8crescimento
real (% )7
6
5
4
3
2
Baixo
rendo
Rendo
olto
Renda
media
baixo
Renda
media
alta
DPNBGrupos de pofsesselecianadas
o Comercio Exterior
Fontes: WORlD BANK. W01-lddevelopment report 1998/99. Washington: World Bank/Oxford Uni-
versity Press, 1995. IMF - International Monetary Fund. International financial statistics,
v . UI, 9. Washington: IMF Publication Service, Sept. 1999.
de crescimento do cornercio mundial, comparativamente as do PNB das econo-
mias nacionais.
Historicamente, as taxas medias anuais de crescimento do cornercio exterior
tern superado as do PNB dos paises. A Tabela 20.2 mostra, para 0 periodo 1980-
98, as taxas medias anuais de crescimento do PNB e do cornercio exterior, para
pafses selecionados, agrupados por niveis de renda. Os paises selecionados fo-
ram os que apresentaram, em cada grupo, as mais altas taxas de crescimento do
produto agregado no periodo. E, em todos eles, as taxas de crescimento do
cornercio exterior (soma dos f1uxos de irnportacao e de exportacao) superaram
as do PNB.A Figura 20.2 cornpara 0 crescimento real desses dais indicadores, nos qua-
tro grupos de paises selecionados. Eles mostrarn, de urn [ado, a vitalidade eco-
nomica interna e, de outro lado, a capacidade de insercao crescente dos paises
selecionados na economia global. Mostrarn tambern que os fatores deterrninan-
tes cia cornercio exterior sao suficientemente fortes para aumentar 0 coeficiente
de abertura das economias nacionais ao longo do tempo, mtensificando-se, como
consequencia, as redes de trocas e a interdependencia das nacoes,
Para a economia mundial como lim todo, 0 crescimento dos fluxos de co-
mercio entre os pafses tern sido superior ao crescimento real do produto agrega-
do. A Tabela 20.3 destaca as taxas de variacao desses dois indicadores, em dife-
rentes periodos, entre os anos de 1965 e 1993. Em todos, a expansao do comer-cia exterior foi superior, especialrnente entre 1980-93. Comas taxas de cresci-
AS RElAf;OES ECONOMlCAS INTERNACIONAIS 847
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TABELA 20.3 [
Taxas medias ~
anuais de
crescimento real
do produto
mundial bruto e
do comercio
mundial, em
periodos
selecionados.
Periodos
Taxas anuais medias de
crescimento (%)I
j
Produto Comercio
mundial bruto mundial
5,6 9,1
3 ,6 4,7
3 ,4 3, 5
2,9 5,6
3,1 5 ,7
1965-73
]973-80
1980-86
1986-93
1994·-98
Fonte: WORLD BANK. World development report. Washington : Oxford University Press edi~oes
de 1975, 1980, 1995 e 1998/99. IMF - International Monetary Fund. Internaiicnalfinancial
statistics (varias edicoes, anos 1970, 1975, 1985, 1996 e 1999).
TABELA 20.4
Produto mundial
bruto e comercio
mundial: evolucao
comparativa.
Periodo 1970-98.
Anos
BilhOes de US$ correntes Rela~ao1
comercio/ produto
Produto Comercio (b) / (a)
mundial mundial
ia) (b)
3.313 624 18,8
11.168 2.562 22,9
13.934 3.925 28,2
21.755 6.824 31,4
22.110 6.982 31,6
23.274 7.456 32,0
24.437 7.437 30,4
25.610 8.313 32,5
27.037 10.025 371
28.172 10.412 37,0
29.258 ]0.794 36,9
30.124 11.315 37,6
1970
1980
1985
]990
1991
1992
1993
1 9 9 4
1 9 9 5
1996
1997
1 9 9 8
(a) Totalizacao do PNB das economias nacionais, convertido pela media anual ponderada clataxa
oficial de carnbio.
(b) Exportacoes (valores FOB) mais importacoes (valores elF) de 182 paises-mernbros do Fundo
Monetario Internacional, incluindo Taiwan.
Fontes: WORLD BANK, World development report. Washington: Oxford University Press (para
procluto mundial). IMF, International Monetary Fund, International financial statistics
(para cornercio mundial).
mento anual do periodo 1980-98, 0 produto rnundial bruto duplica a cada 25
anos; mas 0 cornercio val mais rapido, duplicando a cada 13. Esses diferentes
ritmos de crescimento, decorrentes da forca com que tern atuado os fatores de-
terrninantes da rede mundial de trocas, tern conduzido a expansao da relacao
848 AECONOMIA NACIONAL E AS RELA(:OES ECONOMICAS 1N1'ERNACIONAIS
-
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IIf
o Proces 0 deGlobaliza ao:
Pre-requisites
comercio/produto ao longo do tempo, como mostram os dados da Tabela 20.4.
Em 1970, os fluxos mundiais do cornercio representavam 18,8% do produto mun-
dial bruto. Em 1998, chegaram a 37,6%.
o forte crescimento dos fluxos muncliais de cornercio em relacao a outros
fluxes econ6micos agregados e um dos indicadores mais visiveis do processo
de globalizac;ao, definido como estaglo avancado das trocas internacionais
intensificadas, em m1iltiplos campos. Da forma como tem sido conceituado,
esse processo nao se limita a orclem economica: vai alem, alcancando a cultura
e as instituicoes, as redes de comunicacao e de transmissao de dados, as politi-
cas publicas e a consciencia social sobre questoes planetarias. Mas parece ser na
area econornica, real e financeira, em sells desdobramentos micro e macro, que
esse processo se express a com maior nitidez: e a partir das relacoes economicas
que ele alcanca outros aspectos cla realidade global. E sua consolidacao tambem
tern fortes vinculos com outros processos econornicos, como a formacao de blo-
cos, a constituicao de mercados comuns e de areas ampliadas de livre cornercio.
processo de g1obaliza~ao, forte mente vinculado aos fatores determinantesdo intercambio econornico, intensificou-se nos ultimos dez anos com base em
conjunto de pre-requisites. E tem produzido desdobramentos de alto impacto,
que chegam ate a afetar os conceitos convencionais de soberania das nacoes e a
perda de poder dos governos para 0 exercicio da politica econornica intern a ,
Vamos ver primeiro os pre-requisites. Em seguida as principais implicacoes des-
te processo.Quatro pre-requisites podem ser destacados:
o Cat~o. A consof1cra~ao dos processo d e integracao econontica e
politica das nacoes - a constituicao de novas esferas de co-prosperi-
dade. Sao exemplos desse processo a constituicao de blocos econ6mi-
cos em todos os continentes (C01110 0 NAFfA, na America do Norte; 0
MERCO ill, na America do Sui' a Undo EW~9Ptj;~, aAu~~a 9~-tal; a Comunidade Economica da Africa Ocidental; e, na Asia, a Asso-
cia:~ao das Nacoes do Sudeste Asiatico, Sao tarnbem exernplos os acor-
dos rnultilaterais para 0 estabelecimento de areas de livre cornercio,
removendo-se barreiras nacionais de protecao,
o Empresas transnacionais. 0 crescimento numerico e a maior ex-pressa da ernpre a r' n tycionais na com nidade m ndial de rie-
g6cios. Segundo dados da United Nations Conference on Trade and
Development, 1 citados por R. Baumann.f "0 estoque total de investi-mento direto externo atingiu, em 1994, US$ 2 trilhoes, associado aexistencia de .38mil empresas rransnacionals, com suas 207 mil subsi-diarias. Isso representa urn grande salto, se comparaclo com as 3.500
empresas estabelecidas no periodo compreenclido entre 1946 e 1961.
A importancia desses indicadores decorre, evidentemente, do peso re-
lativo dessas ernpresas para a atividade economica mundial". Segundo1 \ 1 . Fdd,"fc 'n,-'"seus iIi\' , tin (0.... con titucm ·1 I e ; to - {JIX -osd " form' -
9ao de apitaI Iixs: de origem extema. E das correntes do cornercio
mundial, 2/3 sao de rransacoes inter e inrra-empresas transnacionais.
o Tecnologia em aceas-c,bave. 0 avanco tecno16gico e a quecla verti-
cal dos custos ern areas-chave para atuacao global - transportes, co-municacoes, processamento e transrnissao de dados. Series de longo
prazo construidas por G, Hufbauer' revelam que os fretes maritimes e
as taxas portuarias medias cairam 76% entre 1930-90; as tarifas inter-
AS RELA~OES ECON6MICAS INTERNACIONAIS 849
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nacionais de telecomunicacoes, 95%, entre 1940-90; as tarifas de uso
de satelites, 92%, entre 1970-90, Nos anos 90, periodo 1990-98, as
reducoes de custos prosseguiram. Nesses nove anos, os fretes mar i t ime s
cairam 18,6%; as tarifas de telecomunicacoes, 42,7%, segundo dados
do World economic outlook, edicao de 1999, do FM L Estas fantasncas
reducoes de custos, associaveis a ganhos tecnol6gicos e a economias
crescentes de escala, foram um dos mais importantes pre-requisites de
irnpulsao das transacoes globais - nao s6 0 comercio de produtos
intermediaries e finais, mas tarnbem os movimentos de capitais e a
mobilidade de fatores de producao interfronteiras.
o Desregulamentacao e libera iz~ao, As politicas publicas de desre-
gularnentacao e de liberalizacao. 0crescente empenho dos governos
nacionais em melhorar os padroes dos atributos construidos de co rn -
petitividade, via maiores coeficientes de abertura a proclutos e a fate-
res reais e financeiros, em vez de proteger os mercados nacionais com
barreiras protecionistas. 0 Brasil, economia de forte tradicao protecio-
nista, as tarifas aduaneiras, entre 1990-94, cairam de uma me d i a de
32,2% para 14,2%, segundo clados cia CNl.s
Superpostos aos demais fatores cleterminantes do intercambio internacional
(diversidade na dotacao de recursos naturais e atributos construidos), estes quatro
pre-requisites atuaram em dupla direcao, sobre dois eixos. Primeiro, aumentando
a intensidade dos fluxos interfronteiras nacionais. Segundo, deslocando do amb i to
local para 0 global-localizado 0 territ6rio de atuacao dos agentes econ6micos. E
essa dupia direcao e urn dos aspectos cruciais do processo de globalizacao.
Essa caracterizacao do processo de globalizacao, pela maim- intensidade
dos uxos interfronteiras e pelo debllitamento do gran de territorialida-
de das atividades economic as, foi sugerida por J C. Lerda."
o traeo que caractertza 0enomeno da globaliza~ao eurn progres-
sivo debllitamento do gran de territoriaJidade das atividades eco-
nomicas, no sentido de que Indiistrias, setores ou cadelas produ-
tivas inteiras - sejamelas pertencentes it estern real ou tlnanceira
- passam a desenvolver suas atividades com crescente Indepen-
dencla dos recursos espccificos de qualquer territorio nacional,
De um !ado, a refertda desterritorializat;ao das atividades econo-
micas resulta de causas vinculadas ao padri.o do progresso tecni-
co, a orgatl~3.0 e a forma de atuacao de ernpresas transnacio-
nais e a s politicas publieas de governo nactonais, De outro Iado,
a crescente intensifica~ao de fluxos de comercio, de investimen-to direto de ontes externas e de tecnologias, entre e intra-em-
p resas, eompiela a analise da gtobaltaacao, que deve ser
intcrpretada como aceleracao de urn processo Iaistorfco, cujas
raizes podem ser encontradas no seculo pass ado,
A Figura 20.3 ajuda a visualizar com maior clareza esses do is eixos do pro-
cesso de globalizacao, 0 grau de intensidade dos fluxos interfronteiras e 0 grau
de territorialidade das atividacles econornicas. 0 ponto A e a expressao basica
de uma fase primitiva de interdependencia econornica entre nacoes. baixa in-
tensidacle de fluxos reais e financeiros interfronteiras e agentes economicos atuan-
do preponderanternente em bases locais. 0 deslocamento desse ponto em du-pla direcao, Bee, sugere que urn cleles reflete e condiciona a marcha do outro.
De urn lado, urn aumento do grau de abertura e de internacionalizacao das
economias nacionais implica reducao ou rernocao de barreiras para as transa-
850 A ECONOMIA NACIONALE AS REIA(OES ECONOMICAS INTERNACIONAIS
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FIGURA 20.3
Dois aspectos
cruciais da
globalizacao. altaintensidade de
fluxos
interfronteiras e
territorialidade
global-localizada
dos agentes
econornicos.
Alta
' "
Globaliza~tio
Intensidade Redu¢o
de fluxos ou remo¢o- ~ - - - - - - -
interfronteiras debarreiras
I
i--
I
//• B
• - - I'1,
,,,
c.-----..:,,.....Integra~tio
de
terrlterlcs
A
Baixo
L oc o I
Territorialidade
da a~ao dos - Globol-locolizcdo
agentes eeenemicos
;Fonte: Adaptada de LERDA, J . C. Uma caracterizacao do processo de globalizacao econornica,
t6PlCO do Cap. 12. In: BAUMANN, Renato (Org.), 0 Brasil e a econotnia global. Rio de
Janeiro: Campus, 1996.
coes externas. De outre lado, a integracao de territories, seja por forrnalizacao
de acordos multilaterais entre governos, seja pela forma de atuacao de ernpresas
transnacionais, abre espacos para atuacoes global-localizadas.
Os efeitos sinergicos dessas duas direcoes fortalecern 0processo de globali-
zacao. Elas diferenciam os tipos de acordos internacionais que se celebravam no
passado daqueles que, em anos recentes, tern levado a forrnalizacao de blocos e
de areas de Livre mobilidade cle proclutos e recursos. Diferencia tambern a forma
de atuacao das empresas transnacionais. Segundo Lerda, "enquanto no passado
recente a estrategia clas ernpresas transnacionais consistia em reproduzir uma
versao, cla rnatriz, em pequena escala, nos paises onde se instalavarn, 0 atual
modelo tencle a localizar cliferentes operacoes (de producao, suprimentos, pes-
quisa e desenvolvimento de produtos e processes) em diferentes territ6rios ao
redor clo mundo. 0 novo sistema, flexivel, procura localizar eacla funcao corpo-
rativa no lugar rnais conveniente, de modo a aproveitar as - n agens ompa-
ra rvas de cada territorio. E a escolha de combinacoes otimas de localizacoes de
funcoes Oll operacoes determina-se pelo conceito de 1 strutdas'',
AS RELA(:OES ECONOMICAS lNTERNACIONAIS 851
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o resultado-sintese desse processo de globalizacao e 0 rapido crescimento c ia
relacao entre diferentes categorias de fluxos originarios do exterior e os agregados
convencionais das atividades economicas internas. Sao exemplos relevantes:
o Comercio exterior/produto agregado
o Investimentos externos/formacao bruta de capital fixo
o Consurno de produtos importados/consumo agregadoo Importacoes de insumos e componentes/valor dos fluxos das cadeias
internas de suprimentos
o Ingresso aut6nomo de recursos de risco/estoques internos de ativos
financeiros.
As
Consequencias
da Globalizacao
A intensificacao das transacoes econ6micas internacionais, a expansao dos graus
de interdependencia das nacoes e, mais importante, as formas de que se vern
revestindo 0 processo de globalizacao, tern produzido consequencias de alto i111-
pacto, desdobraveis em tres grupos:
n Consequencias institucionais.
o Consequencias de ambito macroecon6mico:
Sobre 0 setor real.
o Sobre 0setor financeiro.
o Sobre a politica econ6mica.
u Consequencias de ambito microeconomico.
Como resume Baumann," de uma perspectiva Institucional, a globaiiza-
cao leva a semelhancas crescentes, em termos da configuracao dos diversos sis-temas nacionais, e a uma convergencia dos requisitos de regulacao em diversas
areas, levando a maior homogeneidade entre paises. Ao mesrno tempo, conduz
a aparicao, no cenario internacional, de urn novo conjunto de atores com gran-
de capacidade de influencia, em comparacao com 0 poder das nacoes.
Nestes termos, convergencia, homogeneidacLe e perda de atributos de 50-
berania sao as imphcacoes-chave do processo de globalizacao no plano institu-
donal. Neste plano, em sintese, a globalizacao implica., oJ' / 8
o Semelhancas crescentes na configuracao dos sistemas nacionais.
o Convergencia dos mecanismos de regulacao em diversas areas: moda-lidades rna is uniforrnes de relacoes juridicas.
o Maior poder de influencia, em todas as nacoes, de agentes economi-
cos externos:
a) Organizacoes multilaterais.
b) Governos.
c) Empresas transnacionais.
o Perda de atributos de soberania nacional: reducao dos graus de auto-
nomia para 0 desenho de politicas publicas.
r1 f (
o Crescente prcsenca na agenda politica das nacoes de temas suprana-
cionais:
a) Meio arnbiente: controle sobre sistemas e elementos de impacto
global.
852 A ECONOMJA NACIONAL E ASRELAC;OES ECONOMICAS INTERNACIONAIS
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b) Modelos de integracao: regulacao das relacoes intra e interblocos.
c) Revisao e redefinicao das funcoes dos organismos multilaterais.
g Reorientacao da acao dos governos: compatibilizar os projetos nacio-
nais com a insercao global, buscando niveis mais altos de competitivi-
dade construida.
No ambito macroecooomlco, os desdobramentos do processo de globa-
lizacao alcancam os setores real e financeiro e a conducao da politica econorni-
ca. Interferem ainda nas condicoes de equilibria dos mercados de produtos e de
fatores de producao e nas estruturas da oferta e cia procura agregadas. Em sinte-
se, as principals implicacoes macroeconornicas sao:
Sobre 0setor real
a Aumento expressivo dos f1uxos de importacao e de exportacao em
relacao a oferta agregada, alimentando em graus crescentes as cadeias
de suprimentos.
a Tendencia a . homogeneidade das estruturas matriciais de insumo-pro-
duto.
a Tendencia a crescente homogeneidade das estruturas setoriais de pro-
cura agregada.
o Equalizacao de longo prazo na estrutura dos custos dos fatores enos
niveis de precos da oferta agregada.
o Expansao das taxas de participacao dos aportes externos no fluxo agre-
gado de investimentos.
61 Atratividade para investimentos externos decorrente mais de atributos
construfdos (infra-estrutura, qualidade dos recursos humanos e expec-tativas quanta a gestao macroeconornica) do que de dotacao de recur-
sos natura is e de vocacoes hist6ricas.
Sobre :0 setor financeiro
o Movirnentacao crescente de grandes fluxos de recursos autonornos in-
terfronteiras nacionais:
a) Para aplicacao nos mercados financeiros.
b) Para investimentos no setor real.
a Maior velociclade e volatilidade das transferencias de recurs os inter-
fronteiras. Empaises
debaixa atratividade
para investirnentos nosetor
real, preponderancia de aplicacoes mais volateis.
o Ampliacao dos riscos de choques desestabilizantes, pela mobilidade
dos recursos nos segmentos especulativos.
o Maior interdependencia entre institulcoes financelras, em redes mun-
diais, implicando aurnento de riscos para 0 sistema como urn todo,
em decorrencia dos seguintes fatores:
a) Opacidade das operacoes.
b) Diversidade de produtos derivatives.
c) Fragilidade da liquidez interbancaria,
d) Instabilidade dos retornos.
e) Volatilidade dos recursos captados.
AS REIACOES ECONOMICAS INTERNACIONAIS 853
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D Conducao cia politica econornica sobredeterminada por condicionantes
externos: objetivos filtrados por interesses multilaterais; meios impacta-
dos pela crescent internacionalizacao de fluxos reais e financeiro .
D Aumento no mimero, no grau de cornplexidade e na importancia es-
trategica das restricoes multilaterais a s politicas publicas nacionais.
D Reducao cia eficacia dos insrrumentos fiscais e monetarios.
a) Fiscais: pela substituicao de precos de mercado por precos de tran -
ferencia nas transacoes intra-empresas transnacionais, e pelo peso
de outros atributos construidos na determinacao dos fluxos de co-
rnercio e de investimentos.
b) Monetarios: pela desregulamentacao, pel as inovacoes introduzidas
nos mercados financeiros intereonectados; e pela m a ior m o bilid ad e
internacional do capital financeiro, com peso crescente nos esto- '
ques internos dos varies segmentos desse mercado. Consequente-
mente, as autoridades monetarias podem tornar-se refens da globa-
lizacao financeira: a manutencao da integridacle dos sistemas finan-
ceiros nacionais, abalados por rnovimentos bruscos, pode prevale-
cer sobre 0controle cia base monetaria.
D Em sintese: perch de autonornia no campo economico ou, como al-
ternativa, isolarnento e baixa insercao mundial da economia nacional,
impactanclo potencialiclac1es de crescimento.
As consequencias da globalizacao no . 'lnomi 0estao cen-
tradas no trinornio escalas-custos-cornpeticao. As de maior relevancia sao:
D Quebra de "barreiras de entrada" para concorrentes, em pra t icam entetodos os mercados: rnudancas na estrutura da concorrencia, int rodu-
cao de produtos substitutes e maior elasticidade das curvas cia procu-
fa, tanto do ponto de vista das empresas, como dos consumiclores.
D Econornias crescentes de escala, decorrentes de maiores volumes d e
transacoes internacionais intra-ernpresas: deslocamento para baixo da
curva de custo total medic a longo prazo.
D Mudanca nas estruturas de custos das empresas:
a) Custos em expansao: P&D (pesquisa e desenvolvimento), relacoes
com agentes externos, services pre e pos-venda e garantias associa-
das aos produtos.b) Custos em contracao: cstrutura organizacional, suprimentos e pro-
cessos de producao.
D Coni uios e cartels em baixa.
D Aliancas estrategicas e fusees em alta, com enfase nas que resultam
em riseos compartilhados e em cornplementacao de capacitacoes.
D Crescente integracao do processo de producao rnaior complementarie-
dade entre estruturas produtivas instaladas em parses ciistintos.
o Fragrnentacao das cadeias nacionais de suprimentos: globalizacao dos
eixos de geracao e de adicao de valor.
o Mudanca no eixo de cornpeticao das ernpresas: foco na tecnologia de
processes e no encurtamento do cicio de vida dos produtos.
D Estrategias ernpresariais ccntradas em diretrizes do tipo:
854 A ECONOMIA NACIONAL E AS RELACOES ECONOMlCAS INTERNACIONAIS
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FIGURA 20.4
As mudancas
estruturais nas
trocas
internacionais:novas vantagens
comparativas e
novos fluxos
predominantes.
Centradas em
atributos
construidos\
I
o foeo na competitividade:
a globalizac;ao
como marco
histerlceB
,,,
Vantagens
comparativas- - - - -
A
" .. .
" "\\
\
\A abordagem das
vantagens reciprocas:
a revolu!joo industrial
como marc.o historico
\
Centrodas no
dotocdo estrutural
de recursos
\
\
a
Entre
ernpresos e
setores
nco
relacionados
Fluxos de
comerele
predominantes -Intra
empresas e
setores
relacionados
a) Especializacao em linhas de producao.
b) Lancamento de produtos rnundiais, com elementos de conformidade
e de diferenciacao ditaclos pelas exigencias de mercados nacionais.
c) Eficiencia, agilidade e competitividade, subordinadas a padroes
mundiais.
A Figura 20.4 sintetiza as bases desse conjunto de consequencias macro e
microeconomicas do processo de globalizacao: as rnudancas nos fluxos de co-
mercio predominantes e nas condicoes dadas das vantagens comparativas entrea nacoes. A area A caracteriza periodos passaclos, em que as trocas internacio-
nais eram centradas em dotacoes naturais de recursos e praticados entre empre-
sas nao relacionadas entre si nem vinculaclas pOl' aliancas estrategicas. Ernbora
para muitos produtos, como materias-primas basicas, esse padrao de relacoes
internacionais ainda prevaleca, as transacoes predominantes nas ultirnas decadas
tern sido centradas em vantagens comparativas resultantes de atributos nacionais
construidos, E S2.0 praticadas intra-ernpresas ou por empresas entrelacadas por
aliancas internacionais. Caracteristicamente, posicionam-se na area B.
As rnudancas nos padroes enos fatores detenninantes das redes mundiais de
trocas estao refletidas na evolucao cia teoria basica neste campo. E 0 que veremos
a seguir, focalizando a teoria das trocas internacionais sob perspectiva historica.
AS RELA<;;:OESECONOMICAS INTERNACIONAIS 855
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Ulna Sinte e ernPer pecti a
Hi t6rica
20.3 A Evolucao da Teoria das Trocas
Internacionais
o ponto de partida das reflexoes teoricas sobre a relacao cu sto s-b e ne ficlo s d as
trocas internacionais coincide com 0 da p r im e i ra corrente do pensamento eco-
nomico, 0 mercantilismo. Os primeiros pensadores mercantilistas enfatizaram
como 0 com erc io exterior pocleria servir, unilateralmente, aos interesses do Es-
tado colonialista dos seculos XVI e XVII. Da hip6tese me.rcantillsta das vanta-
gens unilaterals, a teoria basica evoluiu para a hipctese classica dos benefi-
cios reciprocos, centrada nos principios das diferentes vantagens ab olutas e
relativas reveladas pelas nacoes.
A versao da ortodoxia classica, desenvolvida nos seculos XVIII e XIX, p a s -
SOLI por refinamentos e revisoes desde 0 inicio do seculo XX, evoluindo desde
entao para evidenciar que as bases das vantagens competitivas das nacoes des-locavam-se progressivamente da diversidaele estrutu ral de recursos natura is p ara
os atributos construidos. Paralelamente, correntes estrururalistas passararn a
poe em cheque as hipoteses bisicas dos beneficios reciprocos, nas deca-
elas de 1950 e 60, sugerinclo modelos de desenvolvimento substirutivos de i ru-
portacoes, sob forte protecionismo. E, em anos rnais recentes, as novas aborda-
gens teoricas passaram a enfatizar os impactos maeroeconomtcos das trocas
externas sobre as condicoes gerais do crescimento e da estabilidade. no
ambito microeconomico, a enfase tern recaido sobre as relacoes entre os pro-
cessos de globalizat;ao e de transnaclonalizacao das empresas.
o Quaclro 20.1 sintetiza esta evolucao, c1estacando as principais abordagens
de referenda dos quatro troncos teoricos destacados. Em perspectiva historica,
vamos abordar cada urn deles:
o A hipotese mercantilista dos beneficios unilaterais.
o A hip6tese classica dos beneffcios reciprocos.
o A teoria estruturalista.
[J Os clesenvolvimentos recentes, centrados em novos conceitos de c o m -
petitividade, nos ambttos macro e microeconomico.
856 A ECONOMlA NAQONAL E AS RELM.;;OESECONOMICAS INTERNACIONAIS
A Hip6tese dos
Beneficios
Unilaterais
A origem da analise teorica das trocas internacionais coincide com 0 desenvolvi-
rnento das tecnologias de producao, das financas e do comercio, nos seculo
XVI e XVII. 0mercantilismo foi a corrente dominante do pensamento economi-
co cla epoca, Colocou-se a service dos Estados soberanos cia Europa Ocidenral,
que buscavam, alern de objetivos politicos e militares, 0fortalecimento de seu
poder econornico.
As concepcoes de fortalecimento economico e de fortuna nacional dos mer-
cantilistas centravam-se em cinco pontos: 1) a acumulacao metalista, 2) 0 c010-
nialismo; 3) 0 industrialisrno protecionista: 4) 0controle das operacoes cambiais;
e 5) 0nacionalismo. Fortemente atrelado a esses cinco pontos, 0cornercio exte-
rior foi consiclerado como instrumento basico para alavancar OS objetivos de
fortalecimento dos Estados, sob a conviccao central de que as vanta gens auferi-
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QUADRO 20.1
Uma sintese da teoria das trocas internacionais: as prime.iras abordagens, as
extensoes, as revisoes critic as e os desenvolvimentos recentes.
Principais troncos teoricos Abordagens de referenda. ill'
1.A hip6tese <las vantagens unilaterais 0 A teoria mercantilista (Davenant-Mun).
0 A reconsideracao da visao rnercantilista (Hume).
2.A hipotese dos beneficios reciprocos 0 A teoria classica dos custos comparatives:
0 As varuagens absolutas (Smith).
0 As vantagens relativas (Ricardo-Mill).
0 Os refinamentos neoclassicos (Edgeworth -Ha-
berler).
0 A teoria da diversidade estrutural de recursos
(Heckscher-Ohlin),
0 As primeiras revisoes centradas em atributos cons-
truidos (Linder).
3.A teoria estruturalista 0 A deterioracao elas relacoes de troca
(Prebtsch-Singer- Furtado).
0 Os modelos de crescirnento por subsrituicao de irn-
portacoes e industrializacao intensiva
( urske-Chen ry).
4. Desenvolvimentos recentes a o foeo nos fatores de cornpetitividade:
0 Industrias como unidades de analise (Porter).
0 Nacoes como unidade de analise
(Sachs-Werner e Garelli-Guertechin). ,I
das por um pals atraves de saldos positivos da balanca de comercio representa-
yam, necessariamente, desvantagens para outros paises. Os beneficios advinclos
da trocas internacionais seriam assim unilaterais, implicando urna relacao de
perclas e ganhos para os paises envolvidos.
A abordagem dos beneficios unilaterais dos mercantilistas fundaments-
se em sua concepcao de riqueza. Os rnercantilistas ortodoxos acrec1itavam que
os metais preciosos, lastros dos meios de pagamento da epoca, eram a expres-sao da fortuna nacional. A acumulacao do ouro e da prata significava riqueza,
poder e prosperidade. Em uma epoca em que florescerarn 0 industrialismo, 0
cornercio e as rotas intercontinentais, 0 ouro e a prata serviam como meta is
monetarios por excelencia ..Assirn, rnesmo que nao constituissern a pr6pria ex-
pressao da riqueza, seriam instrumentos universais para sua aquisicao. Dai a
prescricao central de sua politica econornica: a busca pOl' salclos positivos na
balanca de cornercio com outros paises seria a base da acumulacao rnetalista.
o colonialismo compunha com a busca por superavits de comercio a estra-
regia de fortalecimento do Estado mercantilista, Na primeira fase da doutrina
mercantil, Estados c ia Europa Ocidental, como Portugal e Espanha, buscavam a
acumulacao metalista por dois carninhos: as rotas de cornercio, a exploracao de
minas de ouro e prata em suas colonias, a extracao de materias-primas essenci-
AS RElAC:;::OESECON6MICAS INTERNACIONAIS 857
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ais ao industrialisrno e a concessao de monopolies para exploracao de produtos
raros e de alto valor especifico. A manutencao de possessoes coloniais atendia
rigorosamente aos objetivos mercantilistas das metr6poles europeias. destas pro-
vinham manufaturados a pre~os elevados, em troea de materias-primas nativas,
a precos achatados. E os monopolies outorgados encarregavam-se de sustentar
as vantagens absolutas, e unilaterais, nas relacoes de trocas.
o industrialisrno protecionista surgiu como desdobramento destas ide ias .
Em England's treasure by foreign trade, T. Mun argumentou que, "para vender
mais aos estrangeiros do que de1es adquirir em valor, as manufaturas de expor-
tacao devem ter a protecao do tesouro". As protecoes entao concedidas iam das
baixas tarifas para a importacao de materia -primas destinadas a industria nas-
cente, a proibicao de exportacoes de produtos primarios nao manufaturados e
ainda a imposicao de taxas alfandegarias proibitivas para importacoes que con-
corressern com as industrias internas. Em History ofeconomic thought, E. K. Hunt"
mostra os sistemas de protecao entao criados: "A industria textil inglesa recebeu
este tipo de protecao, Os ingleses proibiram a exportacao de quase todas as
materias-primas e produtos serni-acabados, como pele de ovelhas e fios de laoE,na Franca, alem das protecoes efetivas, foram definidas medidas de contro le d e
qualidade para produtos de exportacao, sob inspiracao de J . B. Colbert."
Complernentando os sistemas de protecao, a acurnulacao rnetalista exlgia
ainda 0 eontrole centralizado das operacoes cambiais, para evitar a fuga de lin-
gotes de ouro e prata. G. Malynes, em The maintenance of trade, propos na
Inglaterra a criacao de um Escritorio Real de Carnbio para controlar opera oe
que implicassem perdas de reservas metalicas. As saidas dessas reserva s6 se
justificavam se se destinassem a importacao de materias-primas que, reproce a-
das, seriam reexportadas, gerando superavits de comercio, Por fim, na esteira
dessas ideias, 0 nacionalismo apresentava-se como corolario da politica mercan-
tilista de transacoes externas. De um lado, uma decorrencia da irnpossibilidade
de todos os paises aeumularem, ao mesmo tempo, excedentes comerciais. De
outro lado, uma extensao do principio dos beneffcios unilaterais do comercio.
Antes que este conjunto de ideias Fosse revisto pela ortodoxia classica, os
mercantilistas do fim do seculo XVII e inicio do XIX reconsideraram alguns as-
pectos de sua doutrina. D. Hume notabilizou-se entre os pens adores que fize-
ram a transicao do mercantilisrno para a econornia liberal classica. Ele se opo aideia de que 0 comercio exterior e uma fonte unilateral de beneficios. Propos
que as vantagens comparativas quanto a disponibilidade de recursos e quanto acapacidade de producao erarn os fatores determinantes do intercarnbio econo-
mico entre os pafses. E mostrou que os paises nao deveriam nutrir apreensoequanta ao desenvolvimento e ao aperfeicoarnento de seus parceiros.
Em urn dos ensaios reunidos em "lfI"Titingson economics, escrito em 1758,
Mun antecipou-se a teo ria classica das vantagens comparativas, ao destacar que
a natureza, dotando as nacoes de uma grande variedade de dimas e solos e de
uma diversidacle de capacitacoes, pode conduzir a padroes de intercarnbio com
vantagens mutuas. Alem disso, mostrou que, quanta 111ai5se desenvolvessem as
artes cia producao em qualquer pais, maior seria a procura pelos produtos de
outros parses. Se a prosperidade cle urn pais se fizer sobre 0 empobrecimento
cle outros, os mais prosperos acabarao por recair na mesma condicao abjeta a
que reduziu seus parceiros. Mas, sob a condicao de beneficios rmituos, a produ-cao e os padroes de vida de todos poderao aumentar simultaneamente. 0 fun-
damento de longo prazo do intercarnbio entre paises seria, assim, 0 beneficia
reciproco, nao 0 unilateral.
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A Hip6tese dos
Beneficios
Reciprocos
A revisao das ideias do mercantilismo primitivo foi a base da hipotese dos be-
neficios reciprocos, em que se fundamentou a teoria classica do cornercio ex-
terior. Na esteira da reconsideracao da visao mercantilista sugericla por Mun, as
hip6teses da economia classica basearam-se nos beneficios mutuos que a divi-
sao internacional do trabalho, a especializacao e as trocas poderiam trazer paraas nacoes envolvidas.
Em Wealtb of nations, A. Smith lancou as bases da doutrina classica das
trocas internacionais, sintetizada pelo binornio especializacao-trocas. Desde que
determinada nacao, atendendo a suas vocacoes naturais, a suas habilidades e
seus recursos abundantes, possa produzir dado produto a custos comparativa-
mente mais baixos que 0 de outras nacoes, ela devera especializar-se em sua
producao, trocando-o pelos proclutos em que suas vantagens absolutas sao infe-
riores. Esta e a base dos beneficios reciprocos, em oposicao a doutrina rnercan-
tilista tradicional. Para Smith, 0comercio exterior poderia ser mutuamente pro-
veitoso para todos os paises participantes - urn instrumento para a expansao
dos niveis cia producao e para a extensao dos beneffcios das trocas internacio-
nais aos consumidores, pela resultante reducao de custos e de prec;os finais.
o pensamento original de Smith f01 aprofundado no inicio do seculo XIX
por D. Ricardo e]. Stuart MilLA contribuicao de Ricardo-Mill f01 a de destacar
que as vantagens mutuas das trocas internacionais nao resultariam apenas de
vantagens absolutas de custos, mas tambern nos casos em que ocorressem
vantagens relativas. Segundo essa nova perspectiva, 0 comercio exterior serla
vantajoso para os paises envolvidos ate mesmo nos casos em que um deles pu-
desse produzir intemamenre a custos mais baixos os dois produtos objeto das
trocas, desde que, em termos comparativos, as vantagens fossem relatlvamente
diferentes ..Uma citacao bastante divulgada do Principles of political economy dd Mill
sintetiza a concepcao classica dos custos comparatives.
"Nao e apenas uma diferenca em custos ,absoilltos de produ-
Cao que deterrnina 0Intercambio, mas diferencas em custos COIJI-
paraUvos. Pode ser vantajoso para a Inglaterra importar ferro da
Suecia em troca de algodao, mesmo que as minas da Inglaterra. e
suas manufaturas texteis sejam rnais produtivas que as da Suecia,
Se tivermos uma vantagern de 50% no algodaoe de apenas 25°)0
no ferro e se pudermos vender nosso algodao a Suecia ao pre~o
que ela pagaria seela propria 0produzisse, consegulrtamcs ob-
ter uma vantagem de 50% nos dois produtos. Mesmo assim., 0. ne-
g6cio serfa tambem vantajoso para 0pais estrangesro, por'que a
mercadoria que ele recebeuem troca, embora para 0exportador
tenha eustado menos, para ele teria custado mais se ele proprio a
produztsse,"
A Tabela 20.5 estabelece uma hipotese simplificada de vantagens absolutas
- urn primeiro passo para a dernonstracao da teoria classica doscustos corn-
paratfvos, A hipotese e bastante simples. Fundarnenta-se em dois parses, Brasil
e Inglaterra, com possibilidades de troca de minerio de ferro por carvao mine-ral. Seguindo a versao classica, os custos internos desses dois produtos sao de-
terminados pelo trabalho empregado em sua producao.
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