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Iju
2010
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2010, Adriano Canabarro TeieiraUniersidade de Passo Fundo,Instituto de Cincias Eatas e Geocincias B5Passo Fundo RS Brasil CEP.: 99052-900Currculo: http://lattes.cnpq.br/1841882790688813Pgina pessoal: http://usuarios.upf.br/~teieiraTwitter: http://twitter.com/aTeieiraRSMsn: [email protected]: adrianoteieirapf
Direitos de Publicao:Programao isual, Editorao e ImpressoEditora Uniju da Uniersidade Regional do Noroestedo Estado do Rio Grande do SulRua do Comrcio, 136498700-000 - Iju - RS - Brasil -Fone: (0__55) 3332-0217Fa: (0__55) 3332-0216E-mail: [email protected]://www.editoraunijui.com.br
Editor:Gilmar Antonio BedinEditor-Adjunto:Joel CorsoCapa: Elias Ricardo Schssler
Andr Luis Macedo Caruso
Catalogao na Publicao:Biblioteca Uniersitria Mario Osorio Marques Uniju
T266i Teieira, Adriano Canabarro.Incluso digital : noas perspectias para a informtica
educatia / Adriano Canabarro Teieira. Iju : Ed. Uniju,
2010. 152 p.ISBN 978-85-7429-851-1
1. Educao. 2. Incluso digital. 3. Informtica educati-a. I. Ttulo. II. Ttulo: Noas perspectias para a informticaeducatia.
CDU : 37.0137:004.73
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AgrAdecimentos
Uniersidade de Passo Fundo e Uniersidade Federal do Rio
Grande do Sul, instituies em que realizei minha formao acadmica ecientfica; Fundao de Amparo Pesquisa do Rio Grande do Sul pela
concesso de bolsa de iniciao cientfica; ao Laboratrio de Tecnologias
Audioisuais da Uniersidade de Roma Trs Itlia, pela possibilidade de
realizao de estudos aanados na rea de pesquisa no perodo de setembro
de 2004 a setembro de 2005, e ao Alan Office, pelo apoio concedido por
meio do programa de bolsas de alto nel da Unio Europeia para a Amrica
Latina (bolsa n E04D047495BR).
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sumrio
LISTA DE FIGURAS E GRFICOS .......................................................11
LISTA DE TABELAS ................................................................................13
LISTA DE ABREvIATURAS ...................................................................15
APRESENTAO ......................................................................................17
INTRODUO ..........................................................................................19
REDES CONCEITUAIS DE PARTIDA .................................................23
Conectando alguns ns iniciais: a sociedade contempornea .............23
A perenidade das redes e a urgncia
de uma cultura equialente ...........................................................26
A dimenso reticular do processo de autoria ................................32A filosofia do software lire como manifestao
de cultura de rede ..........................................................................34
Mais elementos da sociedade contempornea .....................................35
A lgica do mercado global ............................................................35
A necessria ampliao do conceito de incluso digital ...............36
Abstraindo elementos finais e proisrios da rede formada................39
Notas de fim ...........................................................................................40
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LINEARIDADE ESCOLAR
NA RETICULARIDADE SOCIAL..........................................................43
A escola como elemento de manuteno da hegemonia .............47A importncia das polticas pblicas .....................................................51
Programa Nacional de Informtica na Educao .........................52
Fundo de Uniersalizao dos Serios de Telecomunicaes ..56
Opo brasileira por software lire ................................................58
Um contraponto entre as polticas pblicas elencadas ...............61
A necessidade de um noo modelo educacional ................................62
A questo da formao docente ...........................................................65
Abstraindo elementos finais e proisrios da rede formada................71
Notas de fim ...........................................................................................72
O PROJETO EMERSO TECNOLGICA DE PROFESSORES.....77
Percurso metodolgico ...........................................................................77
Definio da amostra ......................................................................79
Detalhamento dos instrumentos ...................................................80
Aes desenolidas ..............................................................................84
Ao 1: Diulgao da pesquisa .....................................................84
Ao 2: Reconhecimento de concepes iniciais .........................85
Ao 3: Desenolimento de momentos
de discusso e refleo ...................................................................87
Ao 4: vincia do processo autoral .............................................88
Ao 5: Anlise dos dados coletados..............................................91
Notas de fim ...........................................................................................95
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O PROCESSO vIvENCIADO NO PROJETO EMERSOTECNOLGICA DE PROFESSORES EM FORMAO ..................97
Anlises propostas ..................................................................................98
O processo como eperincia de incluso digital ........................99
A filosofia de software lire no processode criao de software didticos ..................................................104
O aano na cultura de rede ........................................................108
Alguns ns de rede a eplorar .............................................................113
Contrapontos entre produtos e processo ....................................114
Modelo de formao docente ienciado ...................................117
Notas de fim .........................................................................................119
CONSIDERAES FINAIS...................................................................121
A origem deste liro .............................................................................121
O processo cientfico-metodolgico ...........................................122
A anlise do processo ...................................................................123
REFERNCIAS ........................................................................................127
ANExOS ....................................................................................................133
Aneo 1: Um contraponto entre o Relatrio Jacques Delorse a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional ........................133
Aneo 2: O Proinfo na regio de Passo Fundo ...................................137
Aneo 3: Sistematizao do processo refleio empregadona etrao das categorias de codificao a partir do conceitode cultura de rede ................................................................................144
Aneo 4: Proposta de eperincia de formao docentecom base no processo ienciado no projeto
Emerso Tecnolgica de Professores ..................................................145Nota de fim ...........................................................................................151
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ListA de FigurAs e grFicos
Figura 1: Mapa da ecluso digital no Brasil ..............................................37
Figura 2: Mapa conceitual elaborado no decorrer da pesquisa ................83
Figura 3: Categorias de codificao etradas
do conceito de cultura de rede ...................................................94
Grfico 1: Manifestaes de cultura de rede durante o projeto ..............110
Grfico 2: Manifestaes de cultura de rede posterior ao projeto...........110
Grfico 3: Manifestaes de criao e manuteno de cultura de redea partir de seus elementos centrais durante o projeto ............111
Grfico 4: Manifestaes de criao e manuteno de cultura de rede
a partir de seus elementos centrais posteriores ao projeto .....112
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ListA de tABeLAs
Tabela 1: Processo refleio realizado para o estabelecimento
do conceito de rede......................................................................29
Tabela 2: Nmero de laboratrios de Informtica
e de conees Internet disponibilizados
no pas no perodo de 2002 a 2003 ..............................................46
Tabela 3: Comparatio entre os nmeros iniciais e atuais do Proinfo ......53
Tabela 4: Categorias etradas do conceito de cultura de rede ...............109
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ListA de ABreviAturAs
Anatel: Agncia Nacional de Telecomunicaes
CCC: Curso de Cincia da Computao
CTG: Centro de Tradies Gachas
Fapergs: Fundao de Amparo Pesquisa do Estado do Rio Grande do
Sul
FGv: Fundao Getlio vargas
Fust: Fundo de Uniersalizao dos Serios de Telecomunicaes
HTML: Hyper Tet Markup Language
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
Inep: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio
Teieira
ITI: Instituto Nacional de Tecnologia da Informao
LCI: Laboratrio Central de Informtica
LTA: Laboratorio Tecnologie Audioisie
MC: Ministrio das Comunicaes
MCT: Ministrio da Cincia e Tecnologia
MEC: Ministrio da Educao
NTE: Ncleo de Tecnologia Educacional
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17Introduo
Pnad: Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios
Proinfo: Programa Nacional de Informtica na Educao
P2P: Peer-To-Peer
PSL: Projeto Software Lire Brasil
SMS: Short Message Serice
TCU: Tribunal de Contas da Unio
TIC: Tecnologias de Informao e Comunicao
TR: Tecnologias de RedeUFRGS: Uniersidade Federal do Rio Grande do Sul
Uniroma3: Uniersit degli Studi di Roma Tre
UPF: Uniersidade de Passo Fundo
voIP: voice Oer Internet Protocol
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ApresentAo
Neste liro, fruto do fenmeno de autoemerso na construo de
sua tese de doutorado, Adriano Teieira Canabarro nos desafia a pensar nainstituio de um noo paradigma para a Educao e para a formao de-professores: a cultura da rede. Apoiado na proposta de apropriao autoraldas tecnologias da rede (TR) pelos professores, o autor desenole eperi-ncias de formao na interface entre a lgica reticular e a criao de umacultura equialente. A equialncia correlaciona a ao dos professoresno sentido de se apropriarem das tecnologias de rede numa dinmica decriao e manuteno de uma cultura de rede, ao mesmo tempo em queienciam essa apropriao junto aos demais ns da trama pedaggica.Essa disposio de simetria e conergncia dos princpios da emerso traz cena o rompimento com o paradigma da recepo. Oferece uma base paraa reconstruo de si, do professor proatio, na lgica das redes, que assumeo contnuo desenolimento da sua fluncia tecnocontetual.
De um lado, Adriano Canabarro apresenta uma crtica contundenteaos modos escolares de realizar a escolarizao, que anula[m] o potencial
das TR numa dinmica de acomodao destas tradicional lgica linear.
De outro, seu teto conclama as escolas e os seus professores a ines-tirem no potencial das tecnologias de rede como elementos contribuintesna construo de eperincias colaboratias e horizontais.
A escola brasileira, por sua capilaridade nacional e pelo acesso uni-ersalizado de crianas e joens ao Ensino Fundamental e em epanso aoEnsino Mdio, tem o priilgio de poder ir a ser o lugar de maior impactona transformao dos sujeitos da aprendizagem e dos modos de produodo conhecimento ao fazer uso autoral das tecnologias de rede.
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19Apresentao
A formao de noos agentes educacionais que usufruam das tecno-logias de rede e repliquem, ampliem, transcendam nossas propostas poss-eis hoje um desejo que est no cerne da transformao da pedagogia. A
replicao to-somente o primeiro instante de uma eperincia aprendidaque pode ser habilmente transformada pelo pensamento, pela eperincia,pela ao informada e refleia. O incio deste desencadeamento eige quea eperincia tenha potncia de ser boa na sua replicao e de ser passelde reconstruo criatia. Essa frmula prospectia coloca desafios em proporincias fundacionais capazes de gerar outros modos de fazer escolarizaoe, portanto, Educao. E aqui reside um grande desafio!
Nossas incias pedaggicas fundacionais, como alunos ou profes-
sores, nem sempre primaram pela eperincia criatia, o que resultou emsalas de aula desrticas. Essas se reproduzem pela falta de potncia daseperincias que se apresentam e naquilo que elas poderiam ir a gerar.
Na sua origem essas eperincias so deedoras. Mas Adriano Cana-barro props um modo de intereno ao centrar sua ateno e energia noprocesso de emerso. No fez concesses ao que a est as salas de auladesrticas. Mostrou que possel realizar incias pedaggicas fundacio-nais que priilegiam o protagonismo de professores e, consequentemente,
aumentam as chances de termos alunos proatios. Isso implicou a construode uma dimenso reticular de aprendizagem, de descoberta de potencia-lidades, [...] e refleo crtica sobre o conteto de cada sujeito. O conitea todos criar e recriar os ns da rede ao se reconhecer como n de umatrama hipertetual.
A rede e as tecnologias que ampliam nossa participao e sentidos sofatos portadores do porir j presentes no cotidiano que tendem a se epandirno refinamento da configurao de uma noa ordem: uma matriz de inte-rao entre sujeitos, saberes, contetos, competncias,cujas consequnciasse traduzem em deslocamentos dos centros produtores de conhecimento.Um esforo sinrgico capaz de potencializar a circulao e a criao de co-nhecimentos. Esse esprito responde pela escritura deste liro, tecido commuito conhecimento e incia,densamente construdos com as tecnologiasde rede. vale a pena acompanhar as anlises crticas e as proposies deAdriano Canabarro ao islumbrar potencial dos sujeitos no uso criatio dasTR e os desdobramentos no campo educacional. Que a leitura deste liro
seja inspiradora para noas eperincias educacionais!
Professora doutora Marie Jane Soares Carvalho UFRGS
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introduo
Um dos fenmenos de destaque na sociedade contempornea o
crescente nel de coneo possibilitado pelo adento das Tecnologias de
Rede (TR), que, ao redefinirem os conceitos de espao e de tempo, anulam
distncias e autorizam processos comunicacionais e colaboratios em tempo
real, colocando lado a lado territrios, pessoas e culturas.
Nessa perspectia, se, por um lado, as TRs potencializam processos
colaboratios de aprendizagem, por outro possibilitam que se ampliem pro-
cessos de dominao e eplorao, baseados na construo de uma massade consumidores permanentemente disponeis ao do mercado global e
imersos numa cultura tecnolgica que refora posturas passias; que ignora as
diferenas, desconsidera as culturas locais e impe tendncias, consolidando
um processo que lea incapacidade de reconhecer as TRs como elementos
essencialmente sociais e potencialmente libertadores.
Apesar de sua intencionalidade geradora, entretanto, as TRs trazem
em si caractersticas que as diferenciam radicalmente das demais tecno-
logias, permitindo apropriao crtica, protagonista e contrria lgica
erticalizada das mdias de massa, possibilitando a alorizao cultural e o
estabelecimento de processos de aprendizagem baseados numa cultura de
rede. Tal cultura pressupe processos de autoria horizontais e colaboratios,
baseados na comunicao multidirecional e no autorreconhecimento como
n de uma rede que, como tal, dee, necessariamente, romper com a lgica
da distribuio imposta, como possel erificar no fenmeno do software
lire, manifestao genuna desta cultura.
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21Introduo
A partir do reconhecimento de aes no sentido de formatar as TRs
lgica da linearidade e da receptiidade, aponta-se para a urgncia da
ampliao do conceito de incluso digital na sociedade contempornea,
superando a ideia de que incluir possibilitar o acesso para propor uma
concepo de incluso como forma crtica e protagonista de apropriao das
TRs e cujo cerne a incia de uma cultura de rede. Nesse conteto a
escola desempenha papel fundamental, seja na superao do modelo social
baseado no consumo, na reproduo e na massificao dos indiduos, seja
na perpetuao e na manuteno dessa realidade.
De fato, possel erificar que o modelo erticalizado e hierrquicoda escola nica no tem contribudo para uma apropriao diferenciada das
TRs, mas auiliado na manuteno dos processos contemporneos de eclu-
so social por meio da utilizao unidirecional de tais recursos tecnolgicos.
Essa realidade complea e demanda um esforo conjunto entre poder p-
blico, escolas e sociedade no sentido de iabilizar o acesso, de questionar e
discutir a concepo educacional que permeia as aes na rea e, sobretudo,
de ampliar reflees e aes referentes formao docente, todas com istas construo de um processo educacional que possibilite a incia de uma
cultura de rede como elemento fundamental para o eerccio da cidadania
no atual conteto social.
Assim, necessrio questionar: Como esperar que os professores,
tambm imersos nessa cultura tecnolgica de reproduo e consumo, cons-
truam junto a seus alunos um ambiente no qual seja possel desenoleruma cultura de rede se eles prprios raramente a ienciaram?
Nesse sentido, este teto, resultado da pesquisa de Doutorado em
Informtica Aplicada Educao na Uniersidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS), apresenta o relato detalhado do projeto de Emerso Tec-
nolgica de Professores realizado na Uniersidade de Passo Fundo (UPF)
no perodo de 2001 a 2005, junto a um grupo de professores em formao de
cursos de Licenciatura daquela instituio. Numa perspectia metodolgica
de pesquisa participante, baseou-se em mtodos de coleta e anlise de dados
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qualitatios e caracterizou-se como uma eperincia de formao docente
fundamentada na lgica das redes, com istas construo e manuteno
de uma cultura equialente entre os sujeitos enolidos.
A pesquisa realizada no projeto de Emerso Tecnolgica de Professo-
res tee por objetio principal analisar o processo ienciado pelos sujeitos
a fim de erificar em que medida e de que forma este auiliou na incia
e no desenolimento de uma cultura de rede como elemento base de
processos de incluso digital.
Para tanto, outros elementos especficos foram fundamentais nessa
tarefa, tais como: (a) aprofundar o conhecimento acerca de fenmenos
sociais contemporneos a fim de (b) realizar abstraes sobre o papel da
escola no atual conteto social e (c) reconhecer a potencialidade das redes
em processos de formao docente. Com base nisso, (d) identificar as formas
mediante as quais os participantes do projeto perceberam a eperincia no
intuito de melhor (e) compreender o processo de apropriao dos conceitos
e das habilidades enolidas na proposta. Finalmente, deseja-se (f) propor
reflees que possibilitem aanar nas discusses referentes formaodocente no conteto social atual e (g) detectar questes que demandem
mais empenho e discusso na rea especfica do estudo.
Um dos elementos que contriburam para a realizao da pesquisa
que originou este teto nasceu de eperincias ienciadas durante minha
caminhada acadmica, marcada pelo desejo de contribuir com o processo
educacional por meio de reflees acerca da necessria apropriao dos re-cursos tecnolgicos disponeis sociedade. Nesse sentido, possel citar
outros fatores determinantes.
O primeiro surgiu com a pesquisa realizada no Mestrado em Edu-
cao da Uniersidade de Passo Fundo,1 ocasio em que erifiquei que as
TRs podem representar um potencializador significatio para o processo de
aprendizagem e para o eerccio da cidadania, proporcionando alternatias
1 Maiores detalhes sobre a eperincia em Teieira (2002).
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23Introduo
de reerso de quadros de ecluso social na medida em que possibilitam
acesso a elementos e bens culturais at ento inacesseis a epressia par-
cela de populao brasileira. Tambm obserei, entretanto, a importncia
fundamental do educador na proposta de estratgias didticas que consi-
derem as tecnologias como potencializadoras de processos essencialmente
comunicacionais e colaboratios.
Outro elemento a ser destacado diz respeito s eperincias ien-
ciadas no desenolimento de minhas atiidades docentes em cursos de
Ps-Graduao lato sensu em Informtica Aplicada Educao. Nessas
oportunidades, por rias ezes foi leantada a questo da necessidade de
momentos de formao docente especfica na rea, leando ao questiona-
mento do modelo de formao proposto nesses cursos e necessidade de
eperimentar um modelo de formao baseado na lgica das redes, a fim
de analisar a sua possel contribuio para propostas na rea de informtica
educatia.
Um terceiro elemento refere-se eperincia ienciada no ano de
2002 na UPF, onde, num projeto destinado capacitao docente para atuar
com as noas tecnologias, denominado na poca Imerso Tecnolgica de
Professores, acentuou-se o reconhecimento da insuficincia da formao
superior com referncia capacitao tecnolgica de seus alunos, futuros
professores. Nessa oportunidade leantaram-se questes importantes dis-
cusso e que seriram de base para reconfiguraes na pesquisa, culminandona proposta do projeto de Emerso Tecnolgica de Professores.2
Por fim, destaca-se que este teto, ao relatar detalhadamente o per-
curso terico e metodolgico percorrido, quer contribuir com a construo
de uma concepo de informtica educatia que tenha por base a lgica das
redes e seja, antes de tudo, um processo de incluso digital.
2 Os motios que learam a essa mudana de denominao so detalhados na nota ii docaptulo O Projeto de Emerso Tecnolgica de Professores.
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redes conceituAisde pArtidA
A partir da anlise da configurao social atual, desejo construir uma
linha de raciocnio que possibilite aanar na compreenso da dinmica so-
cial contempornea, fornecendo as bases contetuais das reflees a serem
desenolidas e que fundamentam a pesquisa realizada. Ao apresentar ques-
tes preliminares, busco refletir sobre o alor crescente do conhecimento
e sobre a importncia estratgica das tecnologias contemporneas, seja no
estabelecimento de um alto nel de coneo, propcio ao desenolimento
de processos colaboratios e comunicacionais, seja no seu emprego como
elemento de imposio cultural e dominao, a partir de sua acomodao
lgica da distribuio em massa de informaes.
Nesse conteto, desenolo o raciocnio de que so urgentes a (re)signi-
ficao e a ampliao do conceito de incluso digital, entendida como elemento
central para o eerccio da cidadania numa sociedade globalizada e conectada,
cuja base a incia de uma cultura baseada na lgica das redes.
ConeCtandoalgunsnsiniCiais:asoCiedadeContempornea
Ao refletir sobre eperincias realizadas no campo potencialmente
imbricado da tecnologia e da educao, fundamental destacar alguns as-
pectos referentes ao papel desempenhado por esses fenmenos sociais no
conteto contemporneo.
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25Redes Conceituais de Partida
Para tanto, parto da idia amplamente difundida de que este um
momento marcado pelo ertiginoso desenolimento das Tecnologias de
Informao e Comunicao (TICs) e pela alorizao do conhecimento.
Para realizar essas reflees adoto como pano de fundo os conceitos de
sociedade de aprendizagem, de cibercultura e do que se denomina de
globalizao.
Como destacado anteriormente, dois elementos so importantes para
essa contetualizao inicial: o primeiro refere-se ao potencial das TICs no
processo de disponibilizao de informaes, e o segundo, ao alor crescente
do conhecimento como fator fundamental ao desenolimento humano esocial. A partir desse cenrio, frequente a inculao entre a abundncia
de informaes e a possibilidade de ampliao do conhecimento, entretanto
preciso reconhecer que essas informaes no se caracterizam como co-
nhecimento, raciocnio considerado na conceituao de sociedade proposta
por Fres (2000).
Compilando e aaliando concepes suas e de outros pesquisadores,a autora discute os conceitos de sociedade da informao e sociedade
do conhecimento na medida em que aalia que a primeira ainda no
uma sociedade informada, uma ez que a informao no est disponel
a todos, e a segunda, por sua ez, trata o conhecimento como um produto
material, de mercado, algo que passa a interessar no apenas s uniersidades
e centros de pesquisa.
Assim, em razo da necessidade constante e crescente de atualizaoe de apropriao de conhecimentos por parte dos indiduos, Teresinha
Fres prope a utilizao da epresso sociedade da aprendizagem, que
surgiu em decorrncia da articulao entre sistemas educacionais e outras
agncias da sociedade os meios de comunicao de massa, os sindicatos,
as empresas dos setores produtios, as instituies pblicas de informao,
sade, segurana, etc. -, os quais passaram a serir de lastro para a compre-
enso poltico-epistemolgica dos impactos das tecnologias da informao e
comunicao na formao do trabalhador (2000, p. 298).
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Ratificando a pertinncia da denominao proposta por Fres e em
consonncia com o raciocnio de Edgar Morin, de que o conhecimento s
conhecimento enquanto organizao, relacionado com as informaes e
inserido no conteto destas (2000, p. 16), possel propor uma leitura al-
ternatia dessa realidade baseada no raciocnio de que, embora a informao
no esteja ao alcance de todos e normalmente se apresente fragmentada e
descontetualizada, nunca estee to disponel e em tamanha abundncia
em razo das potencialidades das TICs.
O conhecimento, por sua ez, fundamental para o desenolimento
humano e social, demanda refleo indiidual e coletia, contetualizao,formao e troca de sentidos, elementos fundamentais ao processo de apren-
dizagem, que possibilitam que essas informaes contribuam efetiamente
para a construo de conhecimento.
Buscando aprofundar o entendimento da sociedade, possel en-
contrar algumas contribuies fundamentais no conceito de cibercultura
apresentado por Andr Lemos, como a forma sociocultural que emerge darelao simbitica entre a sociedade, a cultura e as noas tecnologias (2003,
p. 12). Marcada pelas tecnologias digitais, a cibercultura permeia o cotidiano
das pessoas, que coniem e se fundem com as tecnologias disponeis,
fazendo de celulares etenses de seus prprios corpos e de cartes inteli-
gentes elementos comuns ao seu dia a dia. Dessa forma, independentemente
do acesso aos aparatos tecnolgicos, consolida-se um processo de imerso
indiidual e coletia numa configurao social repleta de tecnologias, quemodifica continuamente a dinmica cotidiana dos indiduos ao mesmo
tempo em que tambm so modificadas nessa interao, porm em inten-
sidades e formas diersas.
Fundada em caractersticas reticulares, a cibercultura libera os polos
de emisso, possibilitando que cada indiduo seja um potencial e perma-
nente emissor e receptor de informaes, independentemente do local onde
se encontre. Em razo da (re)significao dos conceitos de tempo e espao,
a cibercultura rompe com a lgica de distribuio broadcastdas mdias de
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27Redes Conceituais de Partida
massa, potencializando as trocas todos para todos, na medida em que se
constri a partir de um dos conceitos-chae da sociedade contempornea,
o conceito de rede.
A perenidade das redese a urgncia de uma cultura equivalente
To antigo quanto a prpria humanidade, o conceito de redei apresen-
ta-se como: ubquo, na medida em que est presente no cerne de fenmenos
biolgicos e sociais; contemporneo, uma ez que o adento das redes de
computadores eps ao etremo suas caractersticas e potencialidades, e
urgente para uma sociedade imersa numa cultura de passiidade, recepo
e reproduo, ainda baseada na distribuio em massa de informaes, ca-
racterstica primordial das mdias tradicionais.
A fim de refletir sobre o funcionamento e potencialidade das redes,
adotamos como pontos de partida o conceito de hipertetoii (Ly, 1993)e as leis da cibercultura (Lemos, 2003), na medida em que trazem em sua
gnese a lgica e a marca das estruturas reticulares.
O primeiro conceito, aprofundado por Pierre Ly em 1993, est
intimamente relacionado dinmica das redes e no d conta somente
da comunicao, mas dos processos sociotcnicos que, assim como rios
outros fenmenos, tm uma forma hipertetual (p. 25). visando a apresen-tar a forma como uma trama hipertetual se organiza, Ly formulou seis
princpios abstratos:
da metamorfose, que se refere dinamicidade das redes que se (re)organizam
a partir da interao entre os diferentes ns que a compem;
da heterogeneidade, que garante rede uma infinidade de formas de comuni-
cao e de intensidadede trocas, considerando a diersidade de elementos
que podem assumir o papel de n em um determinado momento;
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da multiplicidadee de encaixe das escalas, que identifica cada n da estrutu-
ra como um potencial elo com outras redes, ampliando ao infinito a sua
dimenso de alcance;
da exterioridade, que aponta para a independncia das redes para a ao
de um agente interno especfico e predeterminado, sendo continuamente
reconfigurada a partir das noas conees a ns ou a outras redes, caracte-
rizando a natural e necessria abertura das teias hipertetuais;
da topologia, intimamente relacionado ao princpio da metamorfose,que
garante a fleibilidade das relaes, das trocas realizadas e do desenho
da rede;
da mobilidade dos centros, caracterizado pela horizontalidade de processos,
isto que no h apenas um n de rede responsel pelo seu funciona-
mento, mas rios ns de rede que, em diferentes momentos, assumem
papis mais ou menos atios na malha de conees.
Duas reflees podem ser propostas com base nesses princpios: a
primeira refere-se impossibilidade da eistncia de uma estrutura hiperte-tual na ausncia de ns em constante moimento comunicacional; a segunda
aponta para a contemporaneidade de tais preceitos, delineados ainda em
1993, por poderem serir de base para o entendimento da organizao reti-
cular da sociedade contempornea, potencializada pela presena das TICs,
denominadas a partir deste ponto de tecnologias de rede (TRs).iii
O segundo elemento adotado nas reflees sobre o funcionamento
das redes foi aprofundado por Andr Lemos, que, ao apresentar a cibercul-tura, destaca trs leis especficas, fundamentais para o entendimento dessa
organizao sociocultural e sintetizadas em sequncia.
Na primeira lei, denominada lei da reconfigurao, o autor alerta para a
necessidade de reconfigurar prticas, modalidades mediticas, espaos, sem
a substituio de seus respectios antecedentes; a lei sequente, caracterizada
como liberao dos polos de emisso, sugere que as diersas manifestaes
socioculturais contemporneas representam ozes e discursos anteriormente
reprimidos pela edio da informao pelos compleos comunicacionais de
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29Redes Conceituais de Partida
massa; por fim, a terceira lei, da conexo generalizada, destaca a eoluo do
computador pessoal desconectado (CP) para o computador conectado rede
(CC) e, finalmente, para o computador conectado mel (CCm) (Lemos,
2003, p. 22).
Destacamos que o progresso epresso na ltima lei d-se especial-
mente a partir da fuso da telefonia mel com as TRs, no sendo mais
necessrio se deslocar at pontos especficos e tecnologicamente organizados
para acessar a malha comunicacional estabelecida, pois cada indiduo um
potencial n de rede. Ao tratar dessa conectiidade instituda, Mitchell traduz
adequadamente aquilo que em potncia j uma realidade, afirmando que
in an electronically nomadicized world I have become a two-legged terminal, an
ambulatory IP address, maybe even a wireless router in an ad hoc mobile network
(2003, p. 58).
Nas diretias de Lemos, tambm possel destacar a estreita in-
terdependncia eistente entre a rede e a ao de seus ns, numa dinmica
comunicacional que permite noas formas de apropriao s tecnologias con-
temporneas e que, independentemente de seus objetios iniciais, possibilita
aos indiduos e grupos a que pertencem organizarem-se e mobilizarem-se
no objetio de ampliar seus horizontes de interao e de ao a partir dos
contetos onde se encontram.
Com esse elenco de abstraes referentes sociedade contempornea,
compreendemos a eploso de pontos de emisso e de troca de informaes
e sentidos, eplcitos em WebLogs, FotoLogs, WebCams e SMSs, bem como as
intensas manifestaes comunicacionais ienciadas em chats,jogos on-line,
comunidades irtuais, Flashmobs1 ou P2P para trocas de msicas, filmes ou
qualquer outro material que possa serir de elo entre pessoas.
Nessa configurao social, no somente a postura dos indiduos
chamada mudana a fim de poder transitar e participar dessa realidade
comunicacional, mas tambm os conceitos de espao e tempo foram signi-
ficatiamente modificados, na medida em que as TRs proporcionam acesso
1 Manifestaes-relmpago em locais pblicos e com posterior disperso, organizadas pelautilizao de celulares ou outras formas de comunicao em rede.
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a um noo territrio, no qual as distncias foram anuladas e o tempo real,
gradatiamente, passa a ser a medida temporal dos processos. Referindo-se
s modificaes consequentes desse conceito de tempo, Santos afirma que
autoriza usar o mesmo momento a partir de mltiplos lugares, e todos oslugares a partir de um s deles (2004, p. 28), ampliando, dessa forma, o
campo de ao e de presena dos indiduos. Assim, independentemente de
onde estejam fisicamente, as pessoas iem uma realidade em que assumem
ostatus de posseis emissores em estado de permanente recepo.
Alm da natural e forte relao eistente entre os dois conceitos
apresentados, destacamos as aproimaes que interessam particularmente proposta deste estudo por meio da abstrao de alguns de seus elementos
centrais e que auiliam na definio do conceito de redes a ser adotado.
Tabela 1: Processo refleio realizado para o estabelecimento do conceito
de rede
Hiperteto Cibercultura Ponto conergente Processo refleio Caracterstica
Da mobilida-de dos centros
Liberao dos
polos de emis-
so
Necessidade/pos-
sibilidade de umapostura atia decada n da rede.
A rede s eiste em
funo da atiidade/acessibilidade de seusns.
Atiidade
Da multipli-
cidade e de
encaixe das
escalas
Conexo gene-
ralizada
Ampliao ou redu-o das redes pormeio de ns per-manentemente dis-poneis e que seconectam a outrosns ou redes.
A c o m p o s i o d euma rede compleae indeterminada emfuno das diferentesaes e elementospostos em moimentopara o(s) processo(s)corrente(s).
Compleidade
Da metamor-
fose
Reconfigura-
o
Dinmica impressa rede em funoda ao de seus ns,dos processos cor-rentes e das noasrequisies feitas estrutura reticular.
Em funo da multi-plicidade de processose de elementos enol-idos nos moimentoscomunicacionais su-portados pela estruturareticular, a rede est emconstante atiidade ecada processo demandadiferentes composiese configuraes rede.
Dinamicidade
Fontes: Princpios do Hiperteto (Ly, 1993) e Leis da Cibercultura (Lemos,2003).
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Por meio das aproimaes feitas, entendemos rede como uma
estrutura dinmica e aberta, cuja condio primeira de eistncia a ao
dos ns que a formam e que, ao construrem suas prprias formas de apro-
priao e de ao sobre a trama, modificam-na e por ela so modificados. Sua
funo bsica dar suporte ao estabelecimento de relaes comunicacionais
e colaboratias entre seus ns, entendidos como qualquer elemento que
possa integr-la num determinado momento a fim de completar algum sig-
nificado ou sentido no processo corrente, independentemente de pertencer
anteriormente ao emaranhado comunicacional.2
Dessa forma, o que se pe em jogo na sociedade contempornea, e
tambm como fundamental na lgica das redes, a necessidade de assumir o
papel de n na trama numa perspectia contrria dinmica de distribuio,
apropriando-se das caractersticas e potencialidades das redes e das tecnolo-
gias que a suportam, procedimento que, segundo Lemos, remete a noas
potencialidades libertadoras para os cyborgs interpretatios,3 eleando-os
dimenso de netcyborgs (2002, p. 187), seres que, mediante uma posturaatia, anulam gradatiamente o controle das mdias de massa e organizam-se
a partir de conees multidirecionais.i
O processo de reconhecimento enquanto n de rede ocorre gradual-
mente por meio de eperincias de autoria, nas quais, pelas modificaes
impressas pelo sujeito na rede de significaes na qual se encontra, ele
prprio seja reconfigurado e possa se sentir capaz de, com o aprimoramentodas habilidades enolidas e da refleo crtica sobre suas manifestaes
criatias, eperimentar autorias mais compleas e significatias para ele e
para a trama hipertetual, passando a uma dimenso desujeito-autor.
2 Salientamos que tal definio no tem o objetio de constituir um noo conceito de rede, masde representar uma sistematizao conceitual baseada na abstrao dos pontos principais dosconceitos e reflees feitas sobre hiperteto (Ly, 1993) e cibercultura (Lemos, 2003).
3 [...] o cyborg interpretatio se constitui pela influncia dos mass media, coagido que pelopoder da teleiso e do cinema. Assim, a cultura de massa e do espetculo nos fez cyborgsinterpretatios (Lemos, 2002, p. 185).
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Nesse sentido, ao refletir sobre o papel do autor, Maraschin define-o
como processualidade, no tendo um carter definitio, finito, mas que
se relana a cada passo (2000, p. 35), e que, segundo a lgica das redes,
pode ser caracterizado pela interrupo da postura unidirecional e linear
tradicional na busca de uma liberdade criatia, assumindo-se como um n
atio da rede de sentidos, subertendo o institudo a fim de romper com o
paradigma da recepo por intermdio de eperincias de autoria baseadas
no protagonismo, na criticidade, na horizontalidade e na liberdade.
Para que tal concepo de autoria, contudo, possa tomar forma numa
configurao social baseada na lgica das redes e potencializada pela presena
das TRs, fundamental que os indiduos se apropriem4 dos fenmenos
tcnico-sociais contemporneos, num processo denominado neste estudo
de fluncia tecnocontetual. Na base dessa apropriao identificamos
dois conceitos fundamentais a sua definio e entendimento: o de fluncia
em tecnologias (Caralho, 2002) e o de domnio das senhas infotcnicas
de acesso (Triinho, 2003), ambos analisados a partir do conceito de redesanteriormente definido.
Ao tratar da fluncia em tecnologia, Caralho aponta para a ampliao
conceitual em relao ao termo alfabetizao e define-a como a capaci-
dade de reformular conhecimentos, epressar-se criatia e apropriadamente,
bem como produzir e gerar informao [...], para efetiamente funcionar na
sociedade da informao (2002, p. 9).
Buscando refletir sobre tal conceito a partir da reconfigurao espao-
temporal proocada pelas TRs, alertamos para a necessidade de que esse
processo ocorra numa perspectia de alorizao das culturas e de respeito
s diferenas. Para que tais capacidades possam se desenoler, porm,
4 Salienta-se que o termo apropriao utilizado a partir do conceito de apropriao socialproposto por Benakouche. A autora destaca que o processo de aprendizado/domnio dosdiferentes grupos sociais com relao aos usos dos objetos tcnicos a que tem acesso. [...]faz-se de forma diferenciada entre sociedades e grupos de uma mesma sociedade (2005).
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necessrio que os indiduos se apropriem dos fenmenos tcnicos de forma
que possamsere estarna organizao reticular da sociedade de forma lire
e numa dinmica de autonomia temporria.
Para tanto, Triinho (2003, p. 65) destaca a necessidade de domnio
daquilo que chama de senhas infotcnicas de acesso, constitudas pelos
objetos infotecnolgicos, softwares, netwares e de infraestrutura de coneo
rede; pelo capital cognitio conforme; pelostatus de usurio teleinteragente
e pela capacidade, tanto econmica quanto subjetia, de acompanhamento
das reciclagens estruturais dos objetos infotecnolgicos e do capital cogni-
tio conforme.
Com base nestas reflees, definimos fluncia tecnocontetual
como um processo dinmico e proisrio que se renoa e aprimora na ao
e na interao dos ns sobree na rede de sentidos e suas interconees.
Para isso, essencial a apropriao crtico-refleia dos fenmenos socio-
tcnicos numa perspectia de contetualizao sociocultural, bem como o
desenolimento e a manuteno das habilidades necessrias interao
com e atravs deles.
Definidos esses conceitos e propostas essas reflees, h urgncia no
desenolimento de uma cultura de rede, entendida como um conjunto
compleo de sentidos, concepes e condutas fundamentais aos indiduos
na sociedade contempornea, baseado na lgica das redes e caracterizado
pelo rompimento do paradigma de recepo e reproduo numa dinmicapermanente de construo e manuteno da fluncia tecnocontetual.
A dimenso reticular do processo de autoria
Dadas as caractersticas das redes, ampliam-se as possibilidades e a
necessidade de autoria para a dimenso de autoria colaboratia, na qual os
indiduos constroem processos horizontais e comunicatios, alorizando a
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A filosofia do software livrecomo manifestao de cultura de rede
Embora seja um fenmeno em crescente eidncia na atualidade,
preciso fazer um resgate do conceito de software lire e da filosofia que o
norteia a fim de desenoler o raciocnio em torno da relao eistente entre
software lire e o desenolimento de uma cultura de rede.
Referindo-se ao moimento software lire, Sileira e Cassiano
afirmam que baseado no princpio do compartilhamento do conheci-
mento e na solidariedade praticada pela inteligncia coletia conectada narede mundial de computadores (2003, p. 36). Tal premissa est clara nos
elementos definidores do conceito de software lire, nos quais a idia de
liberdade mostra-se fortemente presente e transcende aspectos tcnicos,
sendo epressa em quatro dimenses: a liberdade de eecutar o programa,
para qualquer propsito; a liberdade de estudar como o programa funciona e
de adapt-lo para as suas necessidades; a liberdade de redistribuir cpias de
modo que se possa coloc-lo a serio de outras necessidades e a liberdade
de aperfeioar o programa e liberar os seus aperfeioamentos de modo que
toda a comunidade se beneficie (PSL, 2005a).
Numa anlise ampla, tais dimenses representam a liberdade de
eperimentar noas e contetualizadas solues e parcerias para propsitos
especficos, sempre numa perspectia de aperfeioamento e de colaborao.
Nesse sentido, Lemos defende que, alm da forma cooperatia de trabalho,
trata-se de buscar adicionar, modificar o que foi dito, escrito, graado, sem
a lgica proprietria, sem a dinmica da acumulao e do segredo (2004,
p. 10).
Dessa forma, assumir a filosofia do software lire aceitar o desafio
de ser autor, reconhecendo-se como um n de uma rede colaboratia que,
por meio de eperincias refleias de autorias e co-autorias, se refina e se
aperfeioa numa dinmica de autonomia proisria, pautada pela colaborao
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com os demais ns a fim de se harmonizar com a dinmica da rede e suas
reconfiguraes, enolendo-se numa espiral de apropriaes e reapropria-
es de conceitos, tcnicas e possibilidades.
maiselementosdasoCiedadeContempornea
A lgica do mercado global
A fim de ampliar a contetualizao social apresentada, propomos
a anlise de outra realidade na sociedade contempornea. Nesse sentido,as idias apresentadas por Milton Santos (2004), em especial o conceito de
globalizao que prope, representam um ponto de partida para que se possa
refletir sobre a importncia de se romper com a lgica da distribuio e repro-
duo e sobre a urgncia de redefinio do conceito de incluso digital.
Fazendo-se um resgate histrico possel identificar a ntima
ligao eistente entre as tecnologias e o estabelecimento de relaes de
poder e dominao, uma ez que, a serio dos atores hegemnicos, tradi-
cionalmente tm sido empregadas para manter os papis sociais. Aanando
nessa perspectia, as TRs representam um aparato fundamental e poderoso
no somente no processo de manuteno de hegemonias, mas tambm na
ampliao de situaes de dominao e de ecluso.
Nesse sentido, preciso reconhecer que, mais do que conectar equi-
pamentos, conectam-se culturas e contetos diferenciados, ampliando aspossibilidades de trocas e de crescimento sociocultural, mas tambm criando
um noo territrio, aberto e indefinido, sujeito manipulao de informaes,
imposio cultural, incitao para o consumo e a influncias eternas.
Presumimos que, medida que as informaes disponeis so pro-
duzidas por poucos compleos de comunicao, logicamente representam
reescritas especficas de fragmentos de fatos ocorridos, contribuindo para a
criao de um no lugar, uma suposta aldeia global na qual, pelas mos do
mercado global, coisas, relaes, dinheiros, gostos largamente se difundem
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por sobre continentes, raas, lnguas, religies, como se as particularidades
tecidas ao longo dos sculos houessem sido todas esgaradas (Santos,
2004, p. 41).
Incompatel com as caractersticas da cibercultura e contrariamente
s possibilidades de emisso e de criao que trazem em si, erificamos
um esforo no sentido de imprimir s TRs o tradicional modelo centrado
na recepo, no consumo e na reproduo, procurando fazer com que cada
indiduo se torne um consumidor potencial, constantemente acessel
ao do mercado, reduzindo-as, dessa forma, a tecnologias de recepo.
Nesse conteto, Serpa chama a ateno para o fato de que a incluso socialno mais a formao do indiduo cidado, includo na cultura nacional
e, sim, do indiduo consumidor, participante desse no-lugar, o Mercado
(2004, p. 183). Nessa dinmica so propostos mecanismos que asseguram
aos indiduos condies de manipular as tecnologias de acesso ao noo
territrio por meio de processos de capacitao que impem e reforam a
cultura passia da recepo e da reproduo.
Dessa forma, intumos que a sociedade da aprendizagem e a ciber-cultura no so, de fato, unanimidade,ii e que as iniciatias de incluso, por
sua ez, em desconsiderando as caractersticas essenciais das TRs como a
comunicao multidirecional, a interatiidade e o hiperteto, garantem a
dinmica e a manuteno do mercado neoliberal.
A necessria ampliaodo conceito de incluso digital
Com base nessas reflees, possel questionar a estatstica apre-
sentada no Mapa da Ecluso Digital, elaborado pelo Centro de Polticas
Sociais da FGv (2003) e que traa o perfil da ecluso digital a partir da
anlise dos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios
(Pnad) para o ano de 2001 e do Censo Demogrfico 2000, ambos leantadas
pelo IBGE. Segundo esses dados, 12,46% da populao brasileira dispem
de acesso a computadores e 8,31% Internet (FGv, 2003, p. 27). Esse ma-
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terial tambm apresenta a representao grfica do processo de ecluso, no
qual possel erificar que este acompanha a distribuio geogrfica das
outras modalidades de seletiidade eistentes no pas, na medida em que
as regies mais desenolidas so as que, logicamente, apresentam maioracesso, como possel isualizar na Figura 1.
Figura 1: Mapa da ecluso digital no Brasil
Fonte: Mapa da Ecluso Digital (FGv, 2003).
A crtica pesquisa reside no fato de que foi realizada considerando
como elemento definidor de situao de ecluso digital o acesso domiciliar
Internet, um dado quantitatio que no lea em conta o que fundamental
numa anlise de incluso digital como processo efetio de incluso social: a
forma como se d esse acesso. Procedendo dessa forma, ignora-se que gran-
de parte da sociedade j est imersa de fato e ideologicamente na cultura
digital do consumo, da recepo e da passiidade, acentuada fortemente
por iniciatias de pseudoincluso digital baseadas na reproduo, na falta de
criatiidade e na negao da reticularidade das tecnologias contemporneas.
No raramente caracterizadas pelo treinamento para utilizar determinados
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programas proprietrios, o que, em mbito macrossocial, refora a depen-
dncia tecnolgica, tais iniciatias geralmente so desinculadas de qualquer
compromisso social com a criao de uma cultura tecnolgica fundada na
lgica das redes.
Com base nessa ideia possel supor que no somente dentre os
que possuem acesso domiciliar Internet, mas tambm nas escolas e or-
ganizaes no goernamentais, um percentual muito maior de indiduos
est submetido a uma situao de ecluso digital, que, pela determinao
de formas de acesso diferenciado para as diferentes camadas da sociedade,
deia de ser mais uma faceta da ecluso social para se consolidar como uma
de suas principais mantenedoras.
Embora reconheamos a no neutralidade das tecnologias dada sua
intencionalidade geradora, eplicitada nos conceitos de artificialidadee de
racionalidade6propostos por Santos (2002), as TRs possuem caractersticas
reolucionrias em relao as suas antecessoras. Na medida em que trazemem si a potencialidade das redes, as TRs permitem uma apropriao dife-
renciada, pautada na criticidade, na criatiidade e na autoria. Entendidas
como produtos sociais que oferecem a possibilidade de superao do im-
peratio da tecnologia hegemnica e paralelamente admitem a proliferao
de noos arranjos, com a retomada da criatiidade (Santos, 2004, p. 8),
podem ser assumidas pelos diferentes grupos sociais segundo suas prprias
culturas e caractersticas, num moimento de alorizao de diferenas, de
produo de contedo e de estabelecimento de processos comunicatios e
colaboratios.
6 A artificialidade do objeto tcnico a garantia de sua eficcia para a tarefa para que foiconcebido (Santos, 2002, p. 181). [...] A partir desta artificialidade que a caracterstica deracionalidade se constri. A tcnica alimenta a estandardizao, apia a produo de prottipose normas, atribuindo aos mtodos apenas a sua dimenso lgica, cada intereno tcnicasendo uma reduo (de fatos, de instrumentos, de foras e de meios), serida por um discurso.A racionalidade resultante se impe s epensas da espontaneidade e da criatiidade, porqueao serio de um lucro a ser obtido uniersalmente (p. 182).
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Assim, propomos o alargamento do conceito de incluso digital para
uma dimenso reticular, caracterizando-o como um processo horizontal que
dee ocorrer a partir do interior dos grupos com istas ao desenolimento
de cultura de rede, numa perspectia que considere processos de interao,
de construo de identidade, de ampliao da cultura e de alorizao da
diersidade, para, desde uma postura de criao de contedos prprios e de
eerccio da cidadania, possibilitar a quebra do ciclo de produo, consumo
e dependncia tecnocultural.
abstraindoelementosfinaiseprovisriosdaredeformada
Com base nas reflees realizadas possel constatar que, embora
a situao de crescente conectiidade, cuja estrutura tcnica fornecida
pelas TRs, seja adequada ao estabelecimento de processos colaboratios e
de moimentos comunicacionais propcios construo do conhecimento,
elemento fundamental para o desenolimento indiidual e coletio, a malha
comunicacional tem sido frequentemente utilizada no sentido de manter
os papis sociais numa dinmica de unificao dos territrios a eplorar no
sentido mais amplo do termo.
Nesse sentido, preciso reconhecer a situao de imerso tecnolgicaa que os indiduos esto submetidos, num nel de compleidade tal que os
impede de reconhecer e de se apropriar das potencialidades reolucionrias
das TRs. Estas, cuja lgica das redes a base organizacional, possibilitam
uma apropriao diferenciada, por meio do rompimento com a lgica bro-
adcaste do estabelecimento de processos horizontais e multidirecionais de
comunicao e colaborao, tendo como ponto fundamental a necessria
ao dos ns que compem a rede hipertetual, como possel identificar
nas manifestaes de software lire.
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Considerando essa realidade, ressaltamos a urgente ampliao do
conceito de incluso digital para uma dimenso que priilegie a forma de
acesso, no somente o acesso em si, e que tenha como base e finalidade a
construo e a incia de uma cultura de rede como elemento fundamentalpara o eerccio da cidadania na sociedade contempornea.
notasi Ao fazer esta eposio, deseja-se eplicitar que tal conceito, prprio da natureza e da eis-
tncia humana, traz em si a possibilidade de potencializao do processo cognitio humano,que, embora estando em constante eoluo e no seja to antigo quanto o homem, pode sercompreendido a partir de um conceito de rede. Para aprofundar esta questo, Capra (2002),principalmente em seus trs primeiros captulos, discute amplamente a organizao reticularda ida tanto em seus aspectos biolgicos quanto nos sociais.
ii visando a alargar a abrangncia e o potencial desta estrutura reticular que caracteriza ohi-pertexto, aponta-se para o conceito dehipermdia,entendida como a fuso das possibilidadesoferecidas pela multimdia enquanto combinao de teto, arte grfica, som, animao edeo monitorado por computador e eposta aos sentidos do receptor e as caractersticas deuma estrutura hipertetual pela qual se moimenta com autonomia no s para combinardados, mas para alter-los, para criar outros e para construir noas rotas de naegao. Mais
elementos em Sila (2000, p. 154-162).iii Justifica-se que a opo por tal denominao se d pelo fato de que embora as TICs apontem
para a possibilidade de comunicao, tm sido utilizadas maciamente no sentido de distri-buio de informaes, no de troca. A sigla NTIC, por sua ez, utilizada frequentementepara denomin-las, tambm no parece adequada em funo de que se acredita que umanoa TIC depende intimamente da forma inusitada e inoadora de utilizao, no com suadata de fabricao, subertendo sua intencionalidade geradora. Assim, deseja-se desenolerreflees especificamente sobre as TRs, enquanto ambientes comunicacionais multidire-cionais, interatios, colaboratios e que trazem em si caractersticas e potencialidades quepossibilitam sua reapropriao numa dinmica contrria distribuio e reproduo.
i
importante destacar que a adoo do termo multidirecional se d em funo do reco-nhecimento de que as tecnologias contemporneas possibilitam um processo comunicacionalque dierso do modelo unidirecional Um para Todos e caracterstico da lgica broadcast.Diferencia-se tambm do esquema bidirecional Um para Um, possel a partir do surgi-mento de tecnologias como o telefone, por eemplo, que, embora represente um aanoem relao ao esquema comunicacional anterior, ainda no se apropria de forma plena dascaractersticas das redes, fundamentais para o estabelecimento de processos comunicacionaismultidirecionais, autorizando uma comunicao do tipo Todos para Todos .
Justifica-se a opo momentnea pela denominao de sujeito-autorpelo fato de que nesteponto se quer enfatizar oSujeito como aquele que protagonista, que possui uma posturade criao, de eposio de idias e de eteriorizao de subjetiidades, no como aquelesobre o qual uma determinada ao acontece, sendo constantemente coagido a alguma coisa,submetido a uma determinada situao e obrigado a se moer no sentido imposto, numasituao de um indiduo indeterminado, sem nome e sem histria.
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i Faz-se esta ressala medida que se reconhece que os Wikis so potencialmente maisacesseis e abertos colaborao de usurios de diferentes perfis e competncias tcnicase, portanto, mais democrticos participao e ao, ampliando consideraelmente a am-plitude das redes formadas.
ii O termo unanimidade usado para afirmar que, embora sejam fenmenos sociais poten-cialmente presentes na ida das pessoas, em funo do processo/formato de globalizaoapresentado/ienciado (cf. pgina 36, pargrafo 2), e da necessidade de ampliao poltico-conceitual do conceito de incluso digital proposto na tese (cf. pgina 39, pargrafo 1), nem asociedade da aprendizagem na conceituao de Fres e na ampliao proposta neste estudo(cf. pgina 24, pargrafo 4), tampouco o de cibercultura apresentado por Lemos e adotadocomo um dos fenmenos estudados para a compreenso da dinmica social contempornea(cf. pgina 25, pargrafo 3), so realidade para todas as parcelas da sociedade, nem se de-senolem na mesma intensidade entre elas.
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LineAridAde escoLArnA reticuLAridAde sociAL
ineitel o relacionamento entre essa possibilidade comunicatia
e colaboratia potencialmente instituda na cibercultura e os antigos, porm
ainda presentes, discursos referentes importncia de ambientes de cons-
truo colaboratia do conhecimento, fundamentados nas trocas entre os
sujeitos e o meio, na pesquisa, na descoberta, na autoria e na criticidade.
A potencialidade dessa relao intensifica-se quando reconhecemos
as caractersticas das TRs, baseadas fundamentalmente numa lgica reticu-
lar, marcadas pelas possibilidades da hipermdia e pela ubiquidade e que,
a partir da (re)significao dos conceitos de espao e tempo, ampliam de
forma indita a possibilidade de trocas entre diferentes indiduos e culturas,
bem como as possibilidades de comunicao e colaborao em processos de
aprendizagem e de eerccio da cidadania.
A fim de aprofundar as implicaes e a compleidade dessa relao,
resgatamos a lgica de distribuio de informaes instituda e imposta pe-
los atores hegemnicos, que, num moimento contrrio lgica das redes,
alem-se das TRs como tecnologias de acesso, promoendo uma dinmica
social baseada na passiidade, na recepo e na reproduo, desconsiderando
as diferenas e ignorando as culturas locais, para, dessa forma, ampliar a massa
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de consumidores1 permanentemente acesseis e incapazes de reconhecer
e de se apropriar das TRs de forma crtica e protagonista, impondo uma
cultura de rede s aessas.i
Num conteto de crescente coneo, a educao tem papel funda-
mental na organizao social contempornea, seja na reerso do conteto
institudo, mediante a apropriao das TRs no estabelecimento de processos
comunicacionais multidirecionais, horizontais e reticulares, seja na manu-
teno da cultura da recepo e da reproduo, fundamentais imposio
cultural e dominao social.
Assim, a partir do reconhecimento do alor estratgico da educao,
aprofundamos a anlise de elementos acerca dos diferentes papis assumidos
por ela, do alor das polticas pblicas na rea, da necessidade de um noo
modelo educacional e da importncia dos processos de formao docente para
o rompimento do paradigma de recepo institudo, bem como sobre a sua
possel contribuio para a criao e manuteno de uma cultura de rede.
A escola, enquanto instituio social deliberadamente criada para seocupar dos processos educacionais, constitui o ponto de partida para as abs-
traes e reflees a serem efetiadas, uma ez que tem assumido funes
que o muito alm da transmisso de informaes e da pretensa construo
do conhecimento. Embora reconheamos que a escola possui qualidades e
deficincias, salientamos que as reflees a seguir so feitas numa dimenso
crtica, fundamentadas em eperincias pessoais e em reflees tericas
nascidas de dilogos estabelecidos com diferentes autores.
Por esse motio, comungamos da afirmao de Serpa de que a escola
nunca , de forma absoluta, reprodutora ou transformadora somente (2004,
p. 65), pois, como produto da sociedade, pode se (re)configurar a fim de dar
respostas s demandas sociais, sejam elas baseadas na reproduo do esquema
hegemnico, seja no sentido de transformar realidades.
1 No somente de produtos, mas de ideias, posturas, concepes e tendncias, num processode generalizao de acesso e indiidualizao do consumo.
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vrias so as razes que contribuem para a identificao da escola
como espao estratgico para o rompimento com o paradigma broadcast
institudo e para a construo e manuteno de uma cultura de rede.
Inicialmente preciso reforar a ideia da escola como instituio
social deliberadamente criada para se ocupar da formao humanaii e que
tem assumido crescente responsabilidade e importncia nos processos for-
matios dos sujeitos. Geralmente uma das nicas alternatias aos apelos
passiidade e ao consumo das mdias de massa que inadem os mais
diferentes ambientes e que m se constituindo como um dos principais
eculos pseudoculturais da sociedade, permanentemente disponel aos
indiduos numa dinmica de onipresena.iii
Outro elemento significatio refere-se capilaridade da escola e do
percentual de pessoas que abrange no territrio brasileiro. Pelas estatsticas
disponibilizadas no Sistema de Estatsticas Educacionais do Inep/MEC,2
possel ter uma iso mais detalhada dessa abrangncia, bem como dapresena crescente das TRs nesses ambientes. Segundo os Indicadores
Educacionais do pas, em 2000 96,4% da populao entre 7 e 14 anos e 83%
da populao entre 15 e 17 estaam matriculados em escolas do Ensino
Fundamental e Mdio (Inep, 2005), um percentual epressio do ponto
de ista quantitatio e que no pode ser desprezado em se considerando
mudanas sociais e estruturais a mdio e longo prazos, sejam elas no sentido
que forem.
Como terceiro fator til s reflees deste teto, reconhecendo as
caractersticas das TRs, que possibilitam a quebra do paradigma de recepo
e que so determinantes para alguns dos elementos do desenolimento de
fluncia tecnocontetual, a Tabela 2 apresenta o incremento na disponibili-
zao de recursos tecnolgicos entre os anos de 2002 e 2003.
2 Foram utilizados os dados disponibilizados no sistema em 6 de maio de 2005.
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Tabela 2: Nmero de laboratrios de Informtica e de conees Internet
disponibilizados no pas no perodo de 2002 a 200334
Laboratrio
de Informtica
Conexo
Internet4Nmero total
de laboratrios
Nmero total
de escolas
Ensino Fundamental 2.078 3.533 23.064 169.065
Ensino Mdio 1.033 1.619 12.947 23.118
Fonte: Edudadabrasil 2005 / Inep
Salientamos que, quando apontamos as limitaes das estatsticas
apresentadas no Mapa da Ecluso Digital (FGv, 2003), na medida em que
estas consideram somente o acesso s TRs como elemento determinante naidentificao de situaes de ecluso digital, destacamos a necessidade de
ampliar o entendimento dos processos de incluso digital para uma dimenso
deforma de acesso, no somente de acesso. Reafirmamos, entretanto, que
o acesso s TRs condio fundamental para possibilitar formas diferen-
ciadas de apropriao dessas dentro de um processo de desenolimento e
manuteno de uma cultura de rede. Assim, esses nmeros tm o objetio
de colaborar com a demonstrao do potencial dos estabelecimentos deensino nesse sentido.i
Tomando por base essas informaes e resgatando os dados da FGv
sobre o percentual de acesso domiciliar Internet, podemos supor que o
ambiente escolar geralmente fornece o primeiro contato com essas tecno-
logias para a maioria dos enolidos no processo educacional,5 reafirmando
a sua importncia estratgica na sociedade contempornea e ampliando a
necessidade de que os processos educacionais, alendo-se das TRs numaperspectia de ambiente comunicacional, assumam a lgica das redes como
fundamento.
3 Para a realizao desta pesquisa consideraram-se no sistema todas as escolas de EnsinoFundamental e Mdio de qualquer categoria administratia, com qualquer localizao e queofeream qualquer srie.
4 A partir das informaes geradas pelo sistema, no possel determinar em quantas escolas
o acesso Internet disponibilizado aos alunos.5 A discusso referente forma como se d esse contato ser realizada na prima seo deste
teto.
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A escola como elementode manuteno da hegemonia
To importante quanto reconhecer o potencial da escola como
instituio que possui qualidades e que necessria enquanto formato
realizar uma refleo crtica sobre o seu papel enquanto local fundamental
na manuteno da tradicional lgica da distribuio instituda e de suas
implicaes.
Referindo-se ao processo educatio na modernidade, Serpa afirma
que concretizou-se atras da escola nica, com o objetio de formar cadahomem e mulher no mbito da cultura nacional, entendendo-se esta como
a cultura do Rei (2004, p. 148), ou seja, a cultura e os interesses do poder
hegemnico. Nessa perspectia, desconsideram-se as culturas regionais e
locais e assume-se, gradatiamente, o compromisso com a cultura imposta,
num processo que isa consequente igualizao dos indiduos e grupos
sociais num moimento de massificao compulsria.
Essencialmente ancorada em processos erticais e hierarquizados, a
escola nica reproduz a dinmica broadcastdas mdias de massa, por meio
de uma organizao baseada na transmisso de informaes, eplcita na
disposio dos meis nas salas de aula e de seu carter hermtico, na postura
fsica e comportamental assumida por professores e alunos, na maneira como
os recursos tecnolgicos disponeis sociedade geralmente so acomoda-
dos nos moldes tradicionais e lineares de utilizao, na forma como se d o
processo de aprendizagem e nos seus mtodos de alidao.
Ao abordar a dimenso reprodutora da escola nica e uniersalizada
e a sua origem social, Serpa afirma que uma necessidade da sociedade
moderna, j que esta ficou relatiizada, sem hierarquias a priori; precisou-se
ter uma instituio social que mantiesse a ordem social na relatiizao
(2004, p. 65) e que atendesse necessidade de manuteno de uma massa
de sujeitos passios e acostumados ao consumo e reproduo, disponeis
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49Linearidade Escolar na Reticularidade Social
ao do mercado local e global. Tal realidade denunciada por Freire ao
alertar para a eistncia de uma educao para o homem-objeto e outra
para o homem-sujeito (1983, p. 36).
Passadas mais de duas dcadas, essa situao continua a figurar como
realidade e, analisada na perspectia de uma sociedade profundamente
transformada pela dinmica das redes e submetida lgica da globalizao,
pode ser identificada tambm em reas fundamentais soberania das naes,
como a educao, em que se erificam influncias no sentido de impor uma
educao para a dominao e outra para a obedincia.
Num estudo sobre a influncia do Banco Mundial nas polticas sociais
brasileiras, Fonseca denuncia que, quando este faz um emprstimo, impe
determinadas condicionalidades [...] que incluem desde a fiao de clusu-
las financeiras e gerenciais, at a fiao de diretrizes educacionais (2000,
p. 67). Tal afirmao, referente influncia eistente nas definies educa-
cionais, pde ser detectada ao relacionarmos e analisarmos as aproimaesentre o Relatrio da Comisso Internacional sobre Educao para o Sculo
XXI: Educao: um Tesouro a Descobrir(Delors, 2001), organizado a pedido
da Unesco, e as Leis de Diretrizes e Bases brasileiras (Brasil, 2003b).
A relao mencionada desenolida no Aneo 1 e permite identificar
em ambos a mesma concepo educacional e um moimento no sentido
de reatribuir educao e, por conseguinte, escola, o poder centralizadordo processo formatio dos cidados, o que no configuraria um elemento
negatio se essa formao no estiesse intimamente atrelada a uma con-
cepo erticalizada e reprodutora. Podemos supor que esse esforo se d no
sentido de manter a sustentabilidade das relaes entre os pases, baseadas
num processo de globalizao no qual todo e qualquer pedao da superf-
cie da Terra se torna funcional s necessidades, usos e apetites de Estados
e empresas nesta fase da histria (Santos, 2004, p. 81) e que encontra na
educao uma forma eficaz de manuteno dessa realidade.
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Realizadas essas reflees, possel afirmar que o formato atual
da escola contribui para o fortalecimento dos papis sociais no somente
reforando a postura passia e massificante, desconsiderando as culturas e
primando pela formatao coletia dos indiduos, mas tambm anulando
o potencial das TRs numa dinmica de acomodao destas tradicional
lgica linear.
Desconsidera-se que, como produtos sociais, as TRs no deeriam ser
inseridas no processo educacional, como se escola e tecnologia no fossem
produtos de uma mesma sociedade, mas apropriadas no sentido de permear
os processos educacionais como elementos contribuintes na construo deeperincias colaboratios e horizontais. Essa realidade pode ser erificada
no depoimento de Aut0135, participante do projeto de Emerso Tecnolgica
de Professores:
Na minha escola no tem computador, mas eu estudei, fiz magist-rio numa escola particular e a gente s usaa os computadores paradigitar tambm. Todas as ezes que mandaam a gente para l agente nunca tee uma atiidade diferente, nada... computador erapara ter ... algumas ezes a gente digitaa teto, para ser entregue eaaliado[...] (Aut0135).6
Nessa dinmica, e sob o discurso de preparar para as necessidades do
mercado de trabalho, ou, ainda, de incular o oferecimento deLaboratrios
de Informtica ideia de modernidade e de qualidade,i a escola tem pos-
sibilitado o acesso burocratizado, linear e fragmentado s TRs, adequando-as lgica tradicional. Garante, dessa forma, que esse imenso nmero de
alunos, a mdio e longo prazos, reproduzam e assumam essa postura de
passiidade e recepo em outras instncias sociais, sendo incapazes de
6 Esta sigla identifica o fragmento do teto retirado do Banco de Dados da pesquisa armaze-nado no Sistema de Indeao e Tratamento de Dados (cf. pgina 84, pargrafo 1). As trsprimeiras letras representam o nome do sujeito; os dois algarismos seguintes, a Unidade deDados (UD) no banco e os dois ltimos, o pargrafo correspondente dentro da UD. Casono seja possel a determinao do nome do sujeito, utiliza-se a siglaAut, como abreiaturade Autor.
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reconhecer nessas tecnologias formas priilegiadas de agregao social, de
eerccio da cidadania e de desenolimento, reforando os papis sociais
dentro e fora do pas.
Tal realidade pode ser ainda mais complea quando, ao erticalizar
processos e reproduzir modelos hierarquizados, a escola desconsidera as
caractersticas das noas geraes, que possuem uma tendncia natural co-
municao multidirecional, reticularidade e multiplicidade de processos,
a uma incia cultural intensa, seja ela em CTGs, em grupos dehip hop, ou
em rodas de capoeira,ii todos desenolidospela e na dinmica da sociedade
contempornea, cada um a sua maneira e dentro de suas condies.
Assim, na medida em que a escola nica ignora essa eferescncia
cultural, consolida uma iolncia que consiste na transformao do Outro
no Eu, a heterogeneidade na homogeneidade, o no acesso das culturas
dos diferentes grupos humanos dinmica da sociedade moderna (Serpa,
2004, p. 182).
Buscando refletir sobre as implicaes desse modelo de escola na
sociedade, alguns elementos podem ser destacados. O primeiro, baseado
na (re)siginificao do espao e do tempo, aponta para a incapacidade da
escola nica de potencializar processos de alorizao cultural e de respeito
s diferenas entre os diferentes grupos sociais aproimados pelas TRs, fun-
damental para o eerccio da cidadania na sociedade contempornea. Ainda
com referncia ao espao e tempo, as TRs reduzem a necessidade de um
local especfico e da sincronia temporal para acesso a informaes e, em certa
medida, para o estabelecimento de processos comunicacionais unidirecionais,
elementos fortemente caractersticos da escola como instituio.
Outro elemento a ser apresentado refere-se linearidade e erticali-
dade instituda nos processos realizados nos ambientes escolares, resgatando
a idia de educao bancria proposta por Paulo Freire (1997) e reforando
as posturas passias de recepo e de reproduo do modelo igente. Des-
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considera-se, dessa forma, a necessidade de desenolimento de processos
horizontais, comunicacionais e colaboratios baseados na lgica das redes e
passeis de potencializao pela apropriao das TRs pela educao.
Assim, essas reflees leam a crer que a escola nica no d conta
das demandas contemporneas, nem, tampouco, considera as caractersticas
e potencialidades reticulares das TRs, no contribuindo dessa forma para a
criao de uma cultura de rede e ampliando as implicaes do processo de
ecluso digital como elemento de destaque na manuteno da estrutura
social atual.
aimportnCiadaspoltiCaspbliCas
Com o reconhecimento da compleidade inerente a essa realidade
que conjuga a urgncia da ampliao do acesso s TRs, a necessidade de
reflees e aes no sentido de qualificar esse acesso, a importncia do
fortalecimento da escola nesse processo e a conenincia de ampliao
do conceito de incluso digital na perspectia proposta neste estudo, ficaeidente que no bastam iniciatias isoladas por parte dos enolidos nesse
conteto.
Nesse sentido, necessrio um eerccio de refleo coletio, [...]
que possa cooperatiamente potencializar a tomada de decises, assumir po-
sies, criar iniciatias, traar planos, estabelecer polticas, definir pedagogias,
definir pontos de partida (At, 2000, p. 27), a partir do estabelecimento de
polticas pblicas articuladas que fortaleam todos e cada n dessa trama eque os tomem como parceiros no processo, a fim de que possam contribuir,
efetiamente, para uma educao que d respostas s demandas e caracte-
rsticas da sociedade contempornea.
Isso posto, desejamos refletir sobre as principais iniciatias goerna-
mentais relatias ao trinmio escola, formao docente e TR: o Programa
Nacional de Informtica na Educao (Proinfo), que conjuga esforos no
sentido de propiciar acesso e formar professores; o Fundo de Uniersalizao
de Serios de Telecomunicaes (Fust), que, entre outras aes, pre a
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coneo de bibliotecas e escolas Internet, e uma terceira, etremamente
significatia no sentido de romper com a lgica da distribuio instituda,referente opo brasileira pela utilizao de software lire.
Programa Nacional de Informtica na Educao
Considerado a principal iniciatia do pas na introduo das tecnolo-
gias de rede na escola pblica, o Proinfo foi aproado em 9 de abril de 1997pela portaria n 522, figurando como a principal poltica pblica no que se
refere informtica educatia como processo de fornecimento de acesso eformao docente.
No intuito de inserir o programa nas diretrizes definidas pelo MEC
referentes Poltica Nacional de Educao, os objetios do Proinfo so(Brasil, 2003a, p. 3):
a) melhorar a qualidade do processo de ensino-aprendizagem mediante a
possibilidade de igualdade de acesso a instrumentos tecnolgicos e aos
benefcios decorrentes do uso das tecnologias no processo educacional;
b) possibilitar a criao de uma noa ecologia cognitia por meio da incor-
porao adequada das tecnologias nas escolas;
c) propiciar uma educao oltada para o desenolimento cientfico e
tecnolgico, como base de atuao dos indiduos no conteto cientficoe tecnolgico atual;
d) educar para uma cidadania global numa sociedade globalizada.
Considerando os objetios do programa, algumas consideraes po-dem ser feitas no sentido de identificar as concepes educacionais eistentes
nessa poltica. No objetio a, clara a inculao equiocada e latente no
imaginrio social de que o acesso s TRs necessariamente conduz a umamelhoria de qualidade do processo ensino-aprendizagem,iii desconside-
rando que a sala de aula infopobre pode ser rica em interatiidade, uma ezque o que est em questo o moimento contemporneo das tecnologiase no necessariamente a presena da infotecnologia (Sila, 2000, p. 78).
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Com base no teto do Proinfo, ainda podemos detectar a ausncia de indi-
caes sobre a forma como tais recursos podem ser imbricados aos processos
necessariamente horizontais e comunicacionais da aprendizagem.
Os objetios seguintes apontam para a insuficincia do modelo edu-
cacional atual em dar respostas s demandas de uma sociedade em crescente
coneo, na medida em que atribuem ao Proinfo funes intimamente rela-
cionadas educao com ou sem TR, responsabilidade que, certamente, no
pode eercer sozinho ou sem uma profunda articulao entre as diferentes
polticas pblicas na rea, ancoradas num amplo processo de discusso sobre
a concepo de educao que se quer ienciar.Segundo o documento base do programa, as metas para o binio 97-98
eram de atender 7,5 milhes de alunos em 6 mil escolas; instalar 200 ncleos
de tecnologia educacional (NTEs); capacitar mil professores multiplicadores
e 25 mil professores das escolas para trabalhar com recursos de telemtica
em sala de aula; formar 6.600 tcnicos de suporte s escolas e instalar 105 mil
computadores, cem mil destinados s escolas pblicas selecionadas e 5 mil
aos NTEs. Buscando sistematizar a eoluo das metas do Proinfo, a tabelaa seguir apresenta uma relao entre essas preises e os nmeros atuais:7
Tabela 3: Comparatio entre os nmeros iniciais e atuais do Proinfo8
Preiso binio 97-98 Dados 20059
Alunos atendidos 7.500.000 10.720.104Escolas atendidas 6.000 4.856NTEs 200 345
Professores multiplicadores 1000 2.114Professores capacitados 200.000 166.477Tcnicos de suporte 6.600 291Microcomputadores distribudos 105.000 66.169
Fonte: Portal Seed Proinfo / MEC
7 Para a realizao desse comparatio, utilizaram-se os nmeros constantes das metas para obinio 97-98, estabelecidas no documento base do programa, e as informaes disponibilizadas
no site do Proinfo (http://www.proinfo.mec.go.br/), na opo NTE/Escolas.8 Esses alores dizem respeito soma dos nmeros correspondentes de cada Estado em 11
de maio de 2005.
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Ainda em 1999, ao realizar uma leitura crtica das metas iniciais,
Cysneiros (1999) reconhecia que cem mil mquinas era um nmero signifi-
catio, mas chamaa a ateno para o fato de que sero beneficiadas cerca
de seis mil escolas, que representam apenas 13,4% do unierso de 44,8 milestabelecimentos, que recebero 15 ou 20 computadores, muito pouco para
800 ou mais alunos por escola.
Passados seis anos, embora reconheamos a importncia do Proinfo
no processo de informatizao do sistema pblico de ensino, possel e-
rificar, pelos dados da Tabela 3, que ainda no atingimos esses nmeros e, a
partir das duas ltimas colunas da Tabela 2, que precisamos aanar muitono que se refere disponibilizao de acesso a tais recursos tecnolgicos nos
estabelecimentos de ensino, tarefa no eclusia do Proinfo.
Ao buscar posseis articulaes entre o Proinfo e outras polticas
pblicas, questo fundamental racionalizao das erbas pblicas e efi-
ccia de seus resultados, Cysneiros relata que, embora o Proinfo represente
um aano em relao a outras polticas educacionais anteriores na rea,
algumas falhas so identificadas, como a ausncia de articulao com os
demais programas de tecnologia educatia do MEC, especialmente com o
deo escola, a ista grossa para considereis diferenas regionais [...] e com
outros como educao especial (1999).
Ao reiterar que, mais do que acesso, o conteto contemporneo
demanda reflees e aes que contemplem a forma como se d esse pro-
cesso, outro elemento a ser destacado, em razo da importncia de qualquerprograma relacionado informtica educatia, refere-se especificamente
capacitao docente. Em suas diretrizes, o Proinfo pre a capacitao do
professor no sentido de prepar-lo para o ingresso em uma noa cultura,
redimensionando o papel do professor na formao do cidado deste sculo
(Brasil, 2003a, p. 7).
Pode-se detectar na ideia de ingresso numa noa cultura que as
diretrizes ignoram o conteto de imerso tecnolgica a que todos os indi-
duos esto submetidos em diferentes intensidades, portanto j participantes
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desse conteto, no propondo elementos que apontem para a necessidade
de emerso do modelo tradicional, eleando cada indiduo a uma dimenso
de produtores e emissores de sentido e de significados nos ambientes em
que atuam.
Dentre os objetios apresentados, possel destacar a tendncia
de reproduo eistente nas concepes tradicionais de educao, quando
pre a preparao de professores para saberem usaras noas tecnologias
de informao de forma autnoma e independente, possibilitando a incor-
porao das noas tecnologias eperincia profissional de cada um isando
transformao de sua prtica pedaggica (Brasil, 2003a, p. 8).
Ao analisar esse objetio, emos que o termo usar remete a uma
ideia de passiidade, reduzindo o professor a utilizador de uma tecnologia
que dee ser incorporada a sua eperincia, no reconhecida como fomenta-
dora de noas incias. Da mesma forma, quando se mencionam os termos
autonomia e independncia, pressupe-se liberdade para criar noas
formas de fazer, no somente na transformao de prticas pedaggicas,processo que no depende somente das tecnologias, mas na potencializao
e enriquecimento de tais atiidades, como preisto na lei da Reconfigurao
da Cibercultura.
A fim de conhecer como se d a atuao do Proinfo e quais as atii-
dades que prope, em 2004 realizamos um reconhecimento das iniciatias
do NTE de Passo Fundo, deidamente detalhado no Aneo 2,i Com isso,
erificamos que alguns elementos fundamentais formao docente na so-ciedade contempornea ainda merecem especial ateno no programa, tais
como: o desenolimento de propostas de formao horizontais, colaboratias
e contetualizadas que considerem todos os sujeitos do processo educacional;
a utilizao e opo pela filosofia do software lire como elemento base para
o rompimento da lgica broadcaste da dependncia tecnolgica e cultural; a
amplificao de aspectos que priilegiem a dimenso autoral dos professores
em formao a fim de que possam reconhecer-se como agentes responseis
pelo processo de apropriao crtica das TRs.
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Fundo de Universalizaodos Servios de Telecomunicaes
O Fundo de Uniersalizao dos Serios de Telecomunic