E. Travassos Palavras Que Consomem

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Words that consume: a contribution to the analysis of cocos-de-embolada ---que as palavras me consomem Chico António2 Elizabeth TI'Hvassos Abslr({(;/ The lInalysis 01' some ellt'i()lJ,~ \()('idi/,illion,~ ()(TIII'J'inp; in Lhe cocos-de- embolada leeI me to t'aise tlH' h.vJH1!ll(',~is lha! 1IIl' ('()(jllci!'os (lhose who sing cocos) resot'f to "e1}('halllin;.(' jll'U('I'SS('S ilJ tlH'ir sunl-!: dllels. By "cnchantmenl" - a sJip]H'I''y IHII'd - I 111('011) 111('n<'li\illion of lhe perfor- ma tive aspects o!" lhe SlIllg \\<1I'd li,\' 11)(' ('IH111('il'Os, in Il1eir atLempts to slIpplanL their rival Sill!-!:('I'S.'I\> IH'/.dll 1111'11.vIHJtIH'I.;is[l'sling, J nnaJyzcd tvvo cocos-de-emho/rlda 1'(\Sj)('('liu'I,\ SlIlIg 11)'Cilc!lill1l,ill!lO anel Gcnllllo J'v1ousil1ho 1Iml tJy ()liI\() 1ll'tll'o IIIIII l'ili;':II<II'i. I al.s() IH,illl('d ollllhal U1e "vord alll(lf'/,({çâll illdi<'<lI(',~ illlpol'lillll <I~pt'('ls 01' 111('pOl'lics o!" embo/a- da thal should 1)(' flll'llll'l' i!l\('sli;':iJll'll. TII('!'('I'!)I't', IÚllm\illp; VliÍ,.io de Amlradp, I SIII.(I-('('SIII1;11 li 11l'II('I' IllIdl'!'sll!I!dilll.( 01' ('U('OS, as IIlU('!J as of olheI' ?!:t'llrt'S 01' Sllllg IUII'II',\', sll(lItld I'l'sl 011 111(' illl<'gr,l!ioll 01' rnrJllaJ analysis \ri/lllhl' Sllld,\ 01'1111' ('tJ(/III'iI'lIs' \IJIIIl'S 111)(1('osIIJOlop;y. Introdução AeYII'IJ!'I!s Coco, ('1111101:11111. 11111111'1'111:1111, ('11('1111111111('(11, Gl'l'aldo \lo!lsil,11I1 (' (:lIl'Ililllhili!io. ()IIII IJ \1(lrio 111' P('lll'O (' ,\ nd I'ade, l'ilip;llílri. omo é de conhecimento geral, Mário de Andrade quis chamar seu livro sobrc música popular Na pancada do ganzá. A escolha do verso homenageava Chico AntÔnio e, por extensão, todos os cantadores que conhecera na viagem de pesquisa, realizada entre 1928-29. Também se sabe, mas comenta-se menos, que lhe agradava a palavra "pancada" no título não só porque remetia à pulsação dada pelo chocalho de flandres. Ela evocava também certas propriedades da poética dos cocos que ele vi- nha estudando, conforme sugere o trecho de uma carta endereçada a Ma- nuel Bandeira: "...pretendo [...] terminar os estudos pra escrever no ano que vem o Pancada, que Fica delicioso assim rabicó, Pancada, loucura, tolice, divinização""J. Mário avançou o quanto pode no estudo do extenso corpus que reunira. Muita coisa foi anunciada, mas ficou sem desenvolvimento. , No coco "Jurupan.â", Chico Anlônio canwva: "Que as palavras me consóme/Prá cantá com ./oana GOme/Com fiinidito Ganzál" Citado em: Andrade, Mário de. Os cucus (Introd. e nolas de Oneyda Alvarenga). São Paulo: Duas Cidades; Rrasllia: INL, Fundação Nacional Pró-Memória, 1984. O verso foi lembrado por Antônio Ren- lo de Araúio Lima em depoimento sobre o enconlro de Mário com Chico Antônio no Engenho Bom Jardim (RN). (Chico Anlónio, o herói com caráter. Dir. Eduardo EscoreI. Embrafilme; Tele-Ciue Maruim, L983). ALVAl\ENGA, Oneyda. Música popular brasileira. Porlo Alegre: Globo, 1982. p. 7. (carlade22/o4!J933). 5 ,. In'lllu/d, 11." ''''''''11110111'111''

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Beth Travassos

Transcript of E. Travassos Palavras Que Consomem

  • Words that consume:a contribution to the analysis ofcocos-de-embolada

    ---que as palavras meconsomem

    Chico Antnio2

    Elizabeth TI'Hvassos

    Abslr({(;/The lInalysis 01' some ellt'i()lJ,~ \()('idi/,illion,~ ()(TIII'J'inp; in Lhe cocos-de-embolada leeI me to t'aise tlH' h.vJH1!ll(',~is lha! 1IIl' ('()(jllci!'os (lhose whosing cocos) resot'f to "e1}('halllin;.(' jll'U('I'SS('S ilJ tlH'ir sunl-!: dllels. By"cnchantmenl" - a sJip]H'I''y IHII'd - I 111('011)111('n IH'/.dll 1111'11.vIHJtIH'I.;is[l'sling, J nnaJyzcdtvvo cocos-de-emho/rlda 1'(\Sj)('('liu'I,\ SlIlIg 11)'Cilc!lill1l,ill!lO anel GcnlllloJ'v1ousil1ho 1Iml tJy ()liI\() 1ll'tll'o IIIIII l'ili;':II

  • Postumamente, e em obras sucessivas, os leitores viram apare-cer os (~OCOsanotados por Mrio de Andrade e as anlises que propst.IJor illf'rivel que parea, os estudos sobre cocos so ainda escassos naaLuaIidude! Alm de Altimar PimenteP e Alofsio Vilela6, a equipe COOl'-denada por Maria lp;nez e Marcos Ayala7 preencheu lacunas com amplitiorlaspalavras-aal'lcduspOrtI0s,!
  • falam de magia. Quando a palavra aparece na prosa dos estudiosos, indi-ca o deslumbramento "esttico", provocado pela vcrve dos emboladores.No jongo, diferentemente, fala-se de feitio, magia, mironga ou mandingapara indicar efeitos extraordinrios do canto, como o de imobilizar e calaros jongueiros rivais. Ora, os versos dos emboladores so frequentementeconsiderados "doidos", sem sentido ou vulgares. Ouvi repentistas comen-tarem que embalar encadear versos velozes com montonas rimas em eseespreenchidas por slabas ritmadas ("pa-1'a-pa-pa..."). Emboladorcsconfirmaram isso: "Os colegas da profisso de viola tm que se habituar afalar melhor l...] A gente canta embolada. Esses poetas de viola faz os versomais colocado."I~ Ouvi um embolador dizer, com tranquilidade, que seurepente "no presta[va]" e, de outro, que "tanto faz[ia] cantar certo comoerrado". Eles tentavam me explicar, assim, que os critrios do J'epentismo,feitos ao som da viola, no se aplicam poesia que cantam.

    Mas Mrio de Andl'ade descreveu a embalada de Chico Antniocomo alguma coisa prxima de um transe (e o prprio Chico se disse "con-sumido pelas palavras", o que corrobora aquela impresso). Ele ficava ton-

    lh ' j ' t ' ,'" J" Eto, segundo Mrio, para que o verso e salsse an as ICO, surrea . ra oque acontecia no Boi Thngo, quando Chico Antnio cantava sua jornadarfiea e o duelo com o Maior13. Era no mnimo intrigante, o coqueiro falardo duelo como fato real. Mentia ou no distinguia acontecimentos reais eimaginadosH? "A encantao exercida pelo cantador [...] - disse Mrio, em1944 - deriva da funcionalidade intransigentemente social dos assuntos, etalvez ainda mais do estado dc bebedeira causado por esta msica aindamais intransigentemente medicinal"15, parafraseando o que j havia afir-mado em 1929: "O canto dele exerce a funo das encantaes primitivas,canto de todos num rito de dinamogenias bellfazejas."w

    Alosio Vitela, por sua vez, testemunhou o assombro que causavaXico Torec Bola (ateno ao nome, que comentarei posteriormente), can-

    ta dor dc vida acidentada e morte violenta, que tambm se gabava de tercantado eom o diabo:

    I meia noite a cantoria de Torce Bola tornava-se prodigiosa e asua voz atingia a tonalidades surpreendentes. O povo admirava-seprofundamente desta transformao e dizia que era o co que vi-nha chegando para

  • vezes o que est dizendo. Este era o caso do cantador Chico Ant-nio, "alltogether too ilogical in itselr', como j falaram do chins[.,.]Porm mesmo o surrealismo de Chico Antnio no eranenbummilagr'e de repentismo no. Se sujeitava a processos sistematiza-dos fatais, do mecanismo da subconscincia c da no conscinciacultivadas, enumeraes, associaes de imagens, de ideias feitas,dices estereotipadas Jigadas sem lgica inteleetuaPO

    Os custos da explicao eram altos, pois pressupunham descon-tinuidade entre "mentalidades" civilizada e primitiva e a supremacia daprimeira no terreno da "lgica intelectual", Esses pressupostos, quc a antro-pologia, nas dcadas seguintes, se encarregou de contestar, ampararam aexplicao de feitiarias c supersties populares, no BrasiL Mrio levou-ostambm para a potica, caixa de ressonncia em que repercutiam as par-ticularidades tnico-nacionais e histricas. As determinaes da mentali-dade primitiva e sua permanncia na mentalidade dos setores popularesno Brasil explicariam, ento, o "mundo mirifico de milagrosas imagens"~l,de Chico Antnio, prova de que existem processos sistematizados de cantarsob domnio da "subconscincia", Idiossincrticos e excepcionais, os (auto)encantamentos do coqueiro seriam, ainda assim, socialmente funcionais,na medida cm que socializavam "dinamogenias benfazejas",

    Minha hiptese no tem como premissas a fratura entre menta-lidades civilizada e primitiva, nem a antinomia entre indivduo e so-ciedade. Parto, inversamente, da ideia de que no s a observao decausaUdades e o raciodnio lgico informam as aes humanas, emquaisquer sociedades e civilizaes - incluindo o Ocidente moderno quetanto preza pela inspeo do mundo naturalizado e objetivado. Da mes-ma maneira, levo em conta que outras dimenses da lngua, alm dareferencial, subjazem atividade da fala. Inspiro-me na proposta do an-troplogo Stanley J. Tambiah~2 de incorporar, s anlises do ritual, umapragmtica da linguagem, na tentativa de superar os dilemas da aparen-te inacionalidade das aes e palavras "mgicas", Mas meu problemano o das ritualizaes, e sim o de verificar em que medida aspectosperformativos (que integram a dimenso pragmtica) so relevantes napoesia cantada- e no apenas falada ou escrita -, mais precisamente noscocos. Espero, dessa forma, mostrar que nos cocos-de-embolada aquelesaspectos alcanam um rebuseamento mpar.

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    :w ANORADE, Mrio.ta). op. cit., p. 84-85.

    21 Idcm,ibidem,p.85.22 TAMBIAH, Stanley. J. op. eit.

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    Ao falar de processos de encantamento nos cocos-de-emboladarefiro-me a determinadas modalidades de elaborao musical da palavra:que explicam as tolices e loucuras recorrentemente apontadas como traoscaraetersticos do gnero. Devemos ter em mente que o hbitat da embo-lada a feira, as praias e os terreiros das casas de trabalhadores, O cantodo embolador no est inv,estido de autoridade estrutural; por outro lado,seu poder' excede o dos "ritos orais" das pessoas comuns, por exemplo, ode prevenir a ocorrncia de coisas indesejadas exclamando-se "vira essaboca pra l!". Pois os cocos so cantados, e se quisermos entender o queos cmboladores dizem, e porque dizem daquele modo, preciso levar emconta as regras precisas de uso da IIngua que eles se obrigam a seguir.

    Embolada e amarrao

    Entre os muilos termos que circulam na extensa rea onde se pra-ticam var-iedades de cocos, dois so importantes para as anlises queapresentarei adiante: embolada e amarra~~o. Apio-me na interpretaodo primeiro termo por Mrio de Andradc e aponto a necessidade de exa-me detido do segundo, exame (llle ainda est por se fazer.

    A polissemia do termo "embolada" conhecida. A palavra designa(a depender do contexto): 1. um tipo de desafio cantado ao som de pandei-ros ou dc ganzs; sinnimo de coco-dc-embolada; 2. um tipo de estrofecantada pejo solista, intercalada ao refro coral, com versos agrupadosem oitavas, o primeiro c o quinto mais curtos (tetra ou pentasslabos) queos demais (setisslabos); melodicamente, apresenta "notas rebatidas" eperfil descendente; sua frequncia alta no coco-de-embolada~5; 5. umgn:ro de cano popular urbana, em voga entre os auos 1910 e 1950,basicamente, com representao na fOllografia comercial; formalmente,apresenta as estrofes do tipo embolada, um refro e sustentao harmni-ca do canto que oscla entre tnica e dominante, s vezes com passagempela subdominante. A cano popular de gnero embolada, com arranjo

    23 "A crnboladi! uo IImu forma musical, apenas o nome das estrofes sol istas na~ cu(]-esnordestinasdeorigcmcoreogrfica.F.umprocessodetimJ"osoIonessascantigi!se no compreendc, pois o refro" In: ANDRADE, Mrio de. Dicionrio musical brasi-leiro. 01" dI., p. 199. "...[A] forma mais comum \lu cmboladu nordestina: trs J"l'dondi-lhas maiores precedidas de um semiverso, de quatro s!1abas. s ve~cs a emboladapohca duplicada. Ento acrcscenta mais qnatro versos exatamerllc construdoscomo essa quadra, ou ellto com o semiverso tambm completado nas suas sete sfhr-bas. Musicalmente o processo da embalada consiste numa linl'a de andarncnto rpido,onde nbundam as notas rebatidas, c conlrnidi! num 'pcrpetuum mobile', 'movimentoperptuo' em seucolcheias. O compasso no 2-4 usnal"(ldem, ibidcm, p. 200),

    "

  • rtmico-harmnico (3), est sempre nos marcos da tonalidade. J no coco-de-embalada ao som de pandeiros e ganzs (1) so outros modos (almdos modos maior e menor do sistema tonal) que orientam os torneios davoz, de modo que estes apresentam, em geral, o stimo grau abaixado, oquarto grau elevado, e o terceiro grau oscilando entre maior e menor. Ocanto pode ser quase [alado. No cabe neste momento especular sobre asrelaes genticas entre dana do coco, coco-de-embolada e embolada-cano. possvel qoe os dois ltimos lenham se desprendido da danacoletiva, cristalizando-se em idiomas musicais distintos.

    Todavia, ainda h. outras variantes da palavra embolada. Em Igua-pe, no litoral cearense, o coquista Raimundo Cabral chama de "embola-do" e "cmbolamento" os versos do solista na dana do COC024.Raimundocontou ao pesqu isador Ninno Amorim sua iniciao como coquista quecanta e no apenas dana. Repare-se em sua fala a associao muito n-tima entre enlbolar, "dizer uns cocos" e "embalar uns cocos":

    ...eu s era danador. Mas ai ele [Mestre Paulino] viu que eu encos-tei, fiquei encostado dele [sic] e nos ensaio quando ele embalavaeu acompanhava o embolamento dele. Ai ele disse: "- rapaz, comcerteza essc cara vai dar um bom embolador!"[...! Da eu comeceia prestar a ateno e quando ele disse assim: "- agora ngo vocdiga uns dois cocos que eu cantei pra voc, pra ver se voc d prumbom mesmo" [...J A eu comecei a embolar, embalei assim uns qua-tro coco, ai ele se agarrou comigo e gritou: "- eu num t dizendoque o ngo era bom!"Z5

    Embalar um termo tcnico da potica dos cocos. "Bola", "bolada"e "rebolar" so palavras que se repetem amide no canto do coquista ouembolador, principalmente quando ele toma como tema o prprio ato decantar, o que frequente26.

    Oh tat, olha coquro,Na bolada americana,

    24 AMORIM, Ninno. A brincadeira do coco no Cear: um estudo dos saberes, das j)er-formaoces e dos rituais. In: XllI Congresso Brasileiro de Folclore, Fortale:;m-CE,)8 e ~~ de setembro de 2007. p. 7. Disponivel em http://www.overmundo.com.br/lmHco/a-brincadeira.do-coco-no-ceara#-banco-15476. Acesso em: 7 maL 2010.

    25Idem,ibidem,p.g.z6 Ver: TRAVASSOS, Elizabeth. O avio brasileiro: anlise de uma embnlada. In: MA-

    TOS, C.; Travassos, 1".e MEDEIROS, F. (Orgs.). Ao encontro da pl1lavra cantadl1.poesia, mtsica e voz. Rio de Janeiro: 7 Letras/ CNPq, ZOOI,p. 99-103.

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    I

    Si Ocsprito nu m m'i nganaEu tambm sei o bol!h tat, bolada num,Bolada num, bolada nutro,Atirei cum bola srtaNum jgo de rebol!27

    Que dizer dessa estrofe? Mrio, ao iniciar a inspeo do vocabul-rio tcnico da potica dos cocos, comenta:

    Embolada vem de "bola", palavra muito confusa na terminologiado cantador nordestino, e cujo sentido mais perceptvel : jeitopotico-musical de cantar. O cantador nordestino fala constan-temente na "minha bola" pra englobar tudo o que corresponde maneira pessoal dele cantar.28Mas a forma exemplar mais tpica do emprego desse sentido de"bola" est na conhecidissima e variadssima quadra: "Rebola bolalVoc diz, que d, que dl Voc diz que d na bolalNa bola voc nod!" Esta quadra, conhecida muito aqui no sul tambm, ou ns noa compreendemos ou tomamos "bola" no sentido do dicionrio sen-,tido objetivo, de coisa que ocupa lugar no espao. Ora, em nadase relaciona com bola de bilhar ou qualquer outra bola rodvel, ano ser na provocao da imagem de "rebolar", oriunda da palavra"bola", empregada no sentido de cachola, cabea: "Voc est sofren-do da bola". E evidentemente desta bola, cabea, ntelecto, que sefixou o sentido da palavra dos cantadores nordestinos.Zg

    Bola , em suma, tino, cabea; por extenso, o jeito de cantar. Bola-da so versos que o solista lana, e que sero respondidos pelos parceiros-rivais. Rebolar revirar a mente, realizar operaes mentais em busca daspala" raso Nesse sentido, Xico Torce-Bola devia ser mesmo temvel. Dar nabola, por sua vez, talvez equivalha ao "dar uma pisa" dos repentistas, asurra em versos que faz e desfaz a glria dos cantadores. O embolador defama "caba danado, cabo da bola malina" (cabra da bola maligna), comonos versos de coco que Mrio anotou na Paraibaw. Quem fala de embolada,porlanto, fala de debates cantados que exigem agilidade mental.

    27 ANDRADE, Mrio de. Os cocos (Intrnd. e notas de Oneyda Alvarenga). op. cit., p.IIO.28 Idem. Dicionrio musical brasileiro. op. cit., p. 199. Ver tambm ANDRADE, Mrio.

    Vida do C(lfIladnr (Edio critica de Raimunda de Brito Batista). Oj). cit., p. 67-68.2g ANDRADE, Mrio de. Dicionrio musical brasileiru. op. cit., p. 119-200.5 Idem. Os cucos (Introd. e notas de Oneyda Alvarenga). op. cit., p. 212.

    "

  • Embolar, ainda segundo Mrio, "processo de cantar [...] e forma[...] que no s puxam pelo tino, mas puxam pela lngua tambm"!. Eleobservava, seguido por Oneyda, que a embolada tem dico complica-da pelo alto ndice de repetio de sons e andamento movido. De fato,os emboladores adoram trava-lnguas, uma de suas tcnicas recorren-tes. As dificuldades de articulao desviam o foco da ateno do ouvintedo significado semntico para o valor sonoro das palavras, ao ponto dealgumas delas soarem quase estrangeiras. A embolada por excelnciaprovoca um zig-zag entre som e sentido, o que evoca duas conotaes re-levantes do termo, ligeireza e obscuridade. As palavras na embolada noficam liberadas inteiramente de sua funo referendal, mas seus sonsreverberam nos sons semelhantes das palavras contguas, mais intensa-mente do que na fala. Se a embalada tambm embalada, como disse umembolador com quem conversei, o processo se intensifica. Pode ser queele se referisse duplicao do tempo interno na estrofe, relativamenteao do refro, que ocorre em um sem nmero de embaladas. Ou acelera-o do andamento no decorrer da cantiga, que tambm pode acontecer.

    Foram esses aspectos que chamaram a ateno de Mrio. Ele re-lacionou o fato de Chico Antnio girar at ficar tonto e gostar de cantar"esquentado" ao carter "surrealista" dos versos do coqueiro:

    No canta nunca sentado e no gosta de cantar parado. Formaos respondedores, dois trs, em fila, se coloca em ltimo lugare uma ronda principia entontecedora, apertada, sempre a mes-ma. Alm dessa ronda, indu Chico Antnio vai girando solu'e simesmo. Ele procura de fato ficar tonto porque, quanto mais girae mais tonto, mais o verso da embolada fica sobrerrcalista, umsonho luminoso de frases, de palavras soltas, em dico magn-fica. Poemas que nenhum Aragon j fez to vivo, to convincentec maluco. prodigioso,52

    Entende-se, ento, que embolar uma tcnica do verso cantado,que pe em relevo a relao entre tino e lingua, pensar e vocalizar. Nafala e em vrios tipos de canto, percebemos os rgos fonadol'es comoferramentas que acionamos para a transmisso de significaes e afe-tos. Na embolada, entretanto, tudo se passa como se a rapidez da lnguaacelerasse tambm a mente, produzindo um estado de hiperatividadeverborrgica. Vejamos agora outro aspecto do canto dos emboladores.

    31 Idem. Vida do cantador(Edio critica de Ramunda de Brito Bati~la). oj). cit., p. 7Z.32Idem,ibidem,p.37z-373.

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    Eles falam tamhm do seu "balamento", conforme registrado porVi/ela na regio de Viosa, e que o folclorista explicou assim:

    O balamento consiste em o cantador, nos cocos que tirava, contarcasos, inventar histrias mentirosas, narrar episdios de valentia,etc. O nome veio da rapidez com que cantado. Ligeiro como umabala, diz o povo, e ap'elidou de balamento este gnero de cocos.53

    Os dicionrios Aurlio e IIOUlliss do balamento como um tipo decoco de Alagoas e registram apenas este significado da palavra, cuja ori-gem afirmam ser desconhcddaH. Mas "o povo" diz que balamento e bala(munio de armas de fogo) esto ligados, e est dicionarizada a palavra"balame" que significa, de acordo com os mesmos dicionrios, grandequantidade de balas. Balamento aparece em versos de coco como sin-nimo de balame: "Corro mais do que o vento/Cartuxera, imbalamentolFuzi mansa de atir", cantava Chico Antnio5, dando exemplo inequvo-co de que balamento significa munio, em versos nos quais o cantadorenaltece as qualidades de sua bola. Ento, h emboladas contando 101'0-tas e ostentando bravura que partem ligeiro como balas e so, provavel-mente, o balame(nto) do embolador. Talvez sejam as boladas do coco Ohtat, olha coqui!ro, citado acima.

    Joaquim Pueirame, do Engenho Mata Verde (Viosa, Alagoas) erao grande mestre do balamento. Mas Vitela no o ouviu cantar, de sorteque as "...amostras dos seus famosos e quase sempre agressivos bala-mentos" ele obteve de terceiros que os recordavam36. Nas estrofes apre-sentadas por Vitela, um narrador valento conta suas proezas na barracae na bodega, onde brigava com os punhos e um "punh". J sabemosque o embolador no tem freios no reconto das suas faanhas. Repare-secomo sua voz categrica, imperativa:

    L no infernoTem um co chamado ColaSe encaixa na minha bolaTudo que eu peo ele dVolto pra trs

    33 VILELA, Aloisio. op. cit., p. 31.34 FERRElRA, Aurlio Buarque de Holanda. Novo dicionrio da Ungua PU!.tugues(l.

    l.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1!J75 e HOUAISS, Antnio e VILLAR, Mauro deSaJJes. Dicionrio Houaiss da lngua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva', 200g.

    35 ANDRADE, Mrio de. 08 cocos (lntrnd. e nnta.s de Oneyda Alvarenga). op. cit., p. 16J.36 VILELA, Aloisio. np. cit., p. 31.

    ,.

  • Vou falar ('-om o Padre EternoPra me livrar do infernoDas unhas do maiorTorno a variE sigo pra as AlagoaEu vou remando a canoaEm direo do PilTamaracVila de Sanla MariaCaixeiro da fregueziaDespache quando eu mandY

    I

    A julgar pelo que afirma Vilela e pelos exemplos que fornece, obalamento de Pueirame era longo, agressivo e gabola.

    Passemos agora a outro termo obscuro do vocabulrio lcnico doscoqueiros e emboladores. Eles distinguem "'coco solto" e"'coco-de-amar-rao". O primeiro tem apenas uma parte, que o solista apresenta ao ini-ciar o (:anto; na sequncia, a mesma parte retomada repetidamente, emdilogo, por ele e pelo coro}6. Ou seja, o soJista faz intervenes breves,sem introduzir versos criados ou agenciados de uma maneira prpria.No segundo, o solista lana estrofes, mais ou menos extensas (quadras,dcimas, oitavas etc.), entre uma e outra repetio do refro. Vejamosalguns dos escassos documentos mencionando "'amarrao". Eles mos-tram que a explicao acima insuficiente. Um deles est n'Os cocos, emuma nota biogrfica sobrc Chico Antnio, escrita por AntOnio Bento deArajo Lima, que diz:

    Tanto gosta de cantar o coco solto (toada quadrada, parcela, cocos desolos pequenos) como o coco de amarrao (embolada). Prefere im-provisar, sem saber o que est dizendo. Me disse mesmo prefere can-tar esquentado, tirando as emboladas rapidamente no momento."

    Em uma de suas acepes, como j vimos, embolada "'um pro-cesso de tirar o solo nessas cantigas [nordestinas) e no compreende [...)

    37Idcm,ibidem,p.33.3B AltimarPimentel, na obra OCQCopraieiro:uma dana de umbigadu. op. ciL.dslin-

    gue coco solto e cooo-de-dois-ps. Neste ltimo, o coco tem somente dois ps, querdizer, dois versos: um o refrao, repetido depois de cada verso Imroduzido pelosolista. A allernAncia estreita e o cantador nao tem mance, por assim dizer, detomar a palavra por muito tempo.

    39 ANDRADE, Mrio de. Os cocos (Introd. e notas de Oneyda Alvarenga). op. cit., p. '57.

    I

    I

    o refro" .0. Trata-se, afinal, de um tipo de amarrao ou simplesmentede um sinnimo de amarrao?

    De acordo com Vilela.I, o coco solto no tem a amarrao que "'ser-ve de intermdio entre o estribilho", podendo ter a forma de quadras oude "'emboladas sem nmero certo de ps"'l\! . Pessoas que ele conheciadiziam, por exemplo, que gostavam dos "'dez ps amarrados" de um certocantador - i.e., da sua maneira de cantar em dcimas. "'A amarrao osolo, a parte que o pocta canta sozinho...""1. Com jeito de quem conhecebem o vocabu l rio do coco - "doutor de borda e capelo na Cultura Popu-lar", segundo Cascudo"" -, ao ponto de no precisar entrar em detalhes,Vilela disse de certo coco que estava "'amarrado em trs", isto , seguidode um terceto. Ento, amarrar ligar versos em sequncias, de acordocom modelos mtrico-musicais conhecidos, sem ser interrompido peJorefro coral ou pela resposta do embolador-parceiro.

    N'Os cocos, encontra-se uma referncia obscu ra amarrao. Otermo indica ai uma parte cantada por solista, localizada, porm, no fi-na] da cantiga (ou do trecho transcrito), como se fosse uma coda. Depoisde vrias estrofes, entremeadas pelo refro "Oh tat ingenho novo", altima vem precedida de um ttuJo: Amarrao (pra acabarj4';. Pena queesta indicao no tenha sido explicada. Seria amarrao aquela estrofefinal, "'pra acabar"?

    Ainda n'Os cocos encontra-se uma verso de Redondo, sinhd, comvrias estrofes anotadas, algumas com carter de desafio. A verso foicantada por Jos, coqueiro com quem Mrio trabalhou em Natal e quemandou buscar um companheiro para responder os cocos que apre-sentava ao pesquisador (esse companheiro deve ter cantado o refrio ou"coro", conforme consta na transcrio feita por Mrio4!1:

    - Ai, redond', Sinh!- h pueta novo,Dxa dessa suberbia,Cruzl:ro! Santa Maria!

    Coro: Ai, redond', Sinh!Solo: Ai, nesse coco d'imbol!Coro: Ai, redond', Sinh!Solo: Diz, a minina que bunita

    40 Idem. lJiciomirio musicol brasileiro. op. eU., p. 199.41 VILELA, Aloisio. op. cil.42 rdem,ibltlern.p.22.43Idem,ihidclJ1,P.25.44 Apudidcm,ibidem.p.6.45 ANDRADE, Mrio de. Os cocos (lnlrod. e notas deOneyda Alvarenga). op. cil., p. 1111.46 V.a cronlca de 15de janeiro de 1929pubJk~da no Dirio Nacional e reproduzida cm

    ANDRADE, Mrio de. O turista opnndiz (Estabelecimento de texto, introduo enotas de Tel Porto Ancona Lopez). So Pau 10:Duas Cidades; Sttretaria de Cu !lura,Cincia e Tecnologia, 1976. P.239-il40.

  • o perfil meldico das estrofes dado pelas semicolcheias rebati-das, earacteristicas da embalada. Aparcceuma pergunta sobre o trem decarga e, em resposta, a enumerao das estaes por onde ele passa. Emseguida, o cantadoJ' anuncia que vai introduzir "artigo de cincia" e, atocontnuo, menciona a misteriosa amarrao. Um verso de advertncia do tom do trecho: "s fala quando eu mand!". Trata-se, provavelmente,de verso tradicional, acionado para intimidar os rivais. O significado dapalavra amarrao no est claro nesse coco, mas temos pelo menos umindcio de que ela est ligada prerrogativa, reivindicada pelo embola-dor, de exibir seus versos (no caso, sobre "sciena"), de ordenar que oparceiro-rival permanea calado ou cante quando for mandado.

    Encontra-se outra ocorrncia relevante da palavra nllma entrevis-ta que Chico Antnio concedeu a Raimunda de Brito Batista, em 1980,cm Pedro Velho (RN). No relato de seus primeiros passos de emboladorde coco, destacam-se os valores agonistieos que timbram o coco-de-em-balada: os coqueiros batem e apanham em versos; empenham a honracantando. O pai de Chico opunha-se terminantemente vocao do filho.Mesmo assim, prometeu dar-lhe uma surra caso ele apanhasse do canta-dor Z Ful! No mesmo depoimento, Chico rememorou um episdio dosdias em que esteve disposio de Mrio de Andrade, no Engenho BomJardim. De acordo com suas lembranas, ele foi chamado para cantar

    Mi de Deus do Pal"an!- Ai, redond', Sinh!- Eu v-m'imbora dessa terra,nhro,To cedo eu num venho c,Eu v busc meus campinap'a levant meus ti!- Ai, redond', Sinh!- Eu quero que me d licena,Cmn artigo de sciena,E no coco amarrao.E s fala quano eu mand!- Ai, redond', Sinh!47

    47 ANDRADE, Mrio de. OS COCU$(Introd.155-156.

    8

    Sai na rua a namor!Coro: Ai, redond', Sinh!Solo: Eu v m'imLwra, I

    com um certo Chico C1imintino para que o pesquisador os ouvisse. Nose saiu bem, mas Mrio deixou claro que preferia ouvir o improviso deChieo Antnio aos vel'SOSdo Climintino. Eis o que Mrio teria dito ao Cli-mintino, nas palavras de Chieo Antnio: "Moreno, me diga uma coisa, osenh s sabe cantar isso? Isso s. Isso eu num quero, [quero] v home quenem esse caboclo a [referindo-se a Chico Antnio], que t arrancano decima e de ba ixo, di dentro d'gua e de dentro da lama, de dentro de tudo,s soltano a embalada e dando a amarrao." 48

    Chico Antnio estava convicto de que cativara Mrio com versosque "arrancava dc dentro de tudo", "soltando a embolada" e "dando aamarrao". Dar a amarrao, como se v, tcnica to importante qmm-to embolar, c com ela no se confunde. Mas de que tcnica se trata?

    Aloisio Vilela registrou, na regio de Viosa, a forma denomina-da "pagode de entrega", na qual um coco e sua amarrao devem serrepetidos pejo parceiro-rival, mesmo que letra e msica sejam para eJeinteiramente desconhecidos. Disse o autor: "Um cantador tira um cocoque o rival nu oca viu nem a letra nem a msica, mas que obrigado arepetir tudo da mesma forma, fazer a 'amarrao' do jeito que o outrotirou, seno est no couro, como diz o pOVO''49.A explicao no clara,mas indica que o parceiro-rival obrigado a repetir a amarrao de cer-tos cocos. Os exemplos, lamentavelmente, no dissipam nossas dvidas,pois se restringem, geralmente, a uma ou duas estrofes, insuficientespara esclarecer os processos de alternncia entre os cantadores e em,que consiste "repetir tudo da mesma forma".

    Mas nos exemplos apresentados por Vitela aparece um tipo de pa-ralelismo verbal frequente nas emboladas, o quiasmo: "Eu entrei den-tro da rima/Dentro da rima eu entrei/Como eu no tenho rima/No seicorno rimarei/Eu entrei dentro da groza (sicJ/Dentro da groza eu entrei/Como eu no tenho groza/No sei como grozarei"50. Em outros exemplosde amarrao que deve ser repetida, sobressaem as listas de palavras, aforma mais reduzida de paralelismo (gramatical, semntico ou sonoro).

    eumpa-

    Que aqui num posso imbol!Coro: Ai, redond', Sinh!Solo: h eta l, minha minina,Diga a palavra cumo t!

    Coro: Ai, redond', Sinh!Solo: E eta l, minha minina,

    S fala quano eu mand,Eu quero que voc me diga...

    Coro: Ai, redond', Sinh!Solo: o trem de caiga

    Passagro da Amorosa,Quanto vai pra Lagam?

    I

    I

    I

    I- Vai no vai,- Mariea Ll.Sapato, p, chinelo.Corred, xambari, p

    e notas de Oneyda Alvarenga). op. cil., p.

    48 CHICO ANTONIO. Entrevisla com Chico Antnio. In: ANDRADE, Mrio de. Vidado cantador (Edio crtica de Raimunda. de Brito Batista). Belo Horizonte: VillaRica, 1993, p. 186-188.

    4P VILELA, Aloisio. op. cit., p. 22.50 Idem, ibidem,p. 50.

  • Fueiro, canga e mancTrancelim, col, cordo- Vai no vai,- Marica Ll'l

    Ia ver com cmboladas e amarraes, nas quais listas tolas e malucas obe-decem a construes formais rgidas que cxgem no s tino, mas tambmlngua. E a voz, a, no instrumenlO de expresso lrca nem de persuasoargumentativa, mas de produo de boladas, balamentos que se projetam eatrapalham o parceiro-rval.

    As lstas frequentam muitos gneros cantados, mas operam demodo peculiar nos cocos. Conforme argumentei em outro artigo, as enu-meraes na cano popular so, geralmente, inventrios e genealogias.Esses dispostivos mnemnicos so aconados na produo de um pas-sado, uma lnhagem ou um territro, os quais, por sua vez, afianamas afirmaes identitrias do sujeito da can052. No esse o caso doencadeamento "sapato, p, chinelo, corred, xainbar, p, fueiro, cangae manc, trancelim, col, cordo [sic]", em que as palavras esto dispos-tas trs a trs, conforme rgda regra de assocao semntica'\ gerandoversos agudos. Entre os quatro versos, contendo cada um trs palavras,h paralelismo gramatical e sonoro (-o, -, -o, -). As palavras justa-postas no se lgam a nenhuma sentena e "emergem" no canto como seesse no tivesse sujeito. Esto l, como uma barreira verbal ou mesmoarmas atiradas contra o parceiro-rival. mportante lembrar que, se-gundo informaram a Vilela, essas amarraes tm que ser memorizadasimediatamente, ao serem ouvidas, para serem repetidas.

    Em outras palavras, a amarrao nada tem a ver com listas do tipo"dentes, pernas, bandeiras, bomba ou Brigtte Bardot" (Caetano Veloso,em Alegria, alegria) que, embora soe disparatada, um comentrio dapasagem urbana vista pelos olhos do caminhante da cano. Ali esto os"substantivos-estilhaos da mploso informativa moderna", espelhando a"realidade urbana, mltipla e fragmentra, captada, isomorficamente, pormeio de uma linguagem nova, tambm fragmentra"54. Do mesmo modo,"biboca, garagem, favela, fubanga, maloca, bocada", na cano Ratamahat-ta do grupo Sepultura, um comentrio poltico-socal cido, cuja fora estna "...imagem pan-naconal de opresso e luta" que desenha,"i5.Isso nada tem

    I

    Dois cocos-de-cmbolada

    .I

    I

    Apresentando a seguir dos cocos gravados, espero calar em an-lises ao rs do texto a hiptese de que as maluquices do coco so encan-tamentos, processos potcos inerentes ao desafio, destnados a atingr oparceiro-rival com os recursos da bola-boca. possvel que a amarra-o seja um tpo de estrofe em que esses processos esto concentrados(mas essa ideia carece de evidncia, sendo aqui apresentada a ttulo dehiptese). Os emboladorcs, ao cantarem em desafio, armam-se para en-ft'eotar os parceiros-rvais, lanando contra eles palavras ordenadas emsequncias sonoro-semnticas especificas. So tcnicas de assujeitar oparccro, obrigando-o a repetr uma estrofe complicada que acabou deouvir, tal como a ouvu, antes de lanar sua rplca ("s fala quando eumand!"; e do jeito que eu mand). Ambos obrigam-se, assim, a por prova as respectivas bolas-bocas.

    O primeiro coco, nas vozes de Cachimbnho e Geraldo Mouzinho, rc-cebeu o ttulo Se trava linglla aS$irnnum LP da dupla, edtado em 1983'\6.

    I

    I (Refro dialogado)Mulher nova tem carnhoMenino novo tem manha

    Mulher nova tem carinhoMenino novo tem manha

    5) Idem,ibidem,p.z6.52 'J'RAVASSOS, Elizabcth. Colees de palavras: puliticas patrimoniais e cano po-

    pular. Intersees. Revista de E.ltudos Interdsciplinares, 10(2), Programa de Ps-graduao cm Cincias Sociais, UERJ, Rio de JaIleiro, p. 273-296.

    33 Chambaril, corredor e p so partes comestveis do gado bovino; fuciro, canga emancal partes de mecanismos, como o carro-de-boi.

    34 CAMPOS, Augusto de. A expJoso de Alegria, Alegria. In: CAMPOS, A. (Org.). Ba-lano da bossa e outras bossas. So Paulo: Perspectiva, zo03. p. 133.

    55 AVELAR, Idelber. De Milton ao metal: polltica e msica em Minas. lu: Anai.1 do IVCongresso da Seo Latin() Americana da lASPM. Rio de Janeiro, 2004. J)sponivelem www.hist.puc.cl/historia/iaspm/rio/actasautorzhtml. Acesso em: out. zooS.

    I

    (Segundo refro)Arataca, urubutngaAratu com aratanhaRta arranha, Roque rndoRoque rndo, Rta arranha

    Arataca, urubutinga....

    56 Cachimbinho o nome artstico de Toms Cavalcanti da Silva. nascido emGuarabira (Pil) e quc, de acordo com o site Portal Correio, comeou a cantaraos 1.3anos. Geraldo Mousinho nasceu em Jacara e canta desde os 15 anos.Aos 7.3 anos de idade (em 2008), Cachimbinho foi bencficiado com a aposen-tadoria como Mestre das Artes, concedida graas Lei Canhoto da Paralba.http://www.portalcorreio.eom.br/noticias/matLer.asp?newsld=.34014 Acesso em:mai.l2olO.

  • Mulher nova tem carinhoMenino novo tem manha

    Todo p quer o sapatoTodo ourives quer o ouroToda moa quer namoroToda rata quer o ratoToda gata quer o gatoE a ona s quer montanhaOvo s vai com banhaE menino s com beijinhoToda mulher nova tem carinhoMenino novo tem manha

    Mulher nova tem carinhoMenino novo tem manha

    Arataca. urubulinga....

    Toda moa quer casarTodo rapaz quer tambmPara possuir seu bemPara zelar o seu larReza sabendo rezarTodo caju tem castanhaTodo besouro se assanhaSe catucar direitinhoMulher nova tem carinhoE menino novo tem manha

    I', -Toda munheca tem moDesculpe {...]delicadoMeu trabalho acertadoTodo sul quer o sertoMe preste bem atenoColega no tem faanhaEita! Colega olha a montanhaMeu colega no caminhoMulher nova tem carinhoMenino novo tem manha

    Mulher nova tem carinhoMenino novo tem manha

    Aralaca. urubulinga....

    Pois todo dedo tem unhaTodo mundo quer viverQuem vivo quer comerToda isca .......................Todo ru tem testemunhaQuem vai dar tambm apanhaEu digo ningum se estranhaPode escutar ...............---.Mulher nova tem carinhoE menino novo tem manha57

    O coco apresentado na voz de um dos emboladores; nas repe-ties, comea o jogo de alternancia dos membros da dupla. Logo emseguida, um deles introduz uma parte de sentido obscuro. embora cor-riqueira do ponto de vista formal - so quatro versos setissflabos comrimas cruzadas, que se completam numa sextilha com o coco. As es-trofes que surgem depois so construdas com sentenas paralelas qucexpandem o paralelismo do primeiro refro (mulher nova tem carinho!menino novo tem manha).

    I

    No o caso dos versos que se repetem como um segnndo refro,que no obedecem a esse padro de construo. e parecem destinados amostrar que "se trava J(ngua assim", como promete o Utulo. O que per-mite suspeitar que se trata de uma amarrao a semelhana com aque Vilela apresentou, citada acima. Por terem sido gravadas em disco,percebe-se melhor como elas,.se situam relativamente s demais par-tes da cantiga. TraLa-se de um segundo refro obrigatrio. Nele, as pala-vras so importantes, dar'o; mais importante ainda o modo como socantadas, como se a voz fosse um instrumento sonoro'>8: o trava-Hnguaexibe uma sequncia de ataques consonantais com insistente repetiode vibrmtes, oclusivas ("arataca, urubutingam") e vibrantes fortes emi-tidas com nrase e em tom de urgncia ("RUa arranha, Roque rindo"). Aolongo da execuo, os dois erres de articulao uvular posterior so exa-gerados pOI' um dos emboladorcs, medida tambm que o andamentoacelera. Essa parte (:omea com uma lista de quatro substantivos, todosderivndos de lingua Tupi: aralaca, que uma armadilha para animaispequenos; urubutinga ou urubu-rei; aratu, um crustceo do mangue; earatanha. um camaro de gua doce em Alagoas'l8, Uma armadilha etrs bichos, sendo que dois deles so caados com armadilhas. Mas essapequenn lista no tem conexo com os quatro segmentos paralelos quevm em seguida, duas scntenus ordcnndas em quiasmo. Nessa parte, oque conta so os sons que "arranham".

    Passo agora ao segundo coco, cantado por Olavo Pedro e Pitiguari(Jos Eusbio dos Santos), ambos de Macei, que diz o seguinte:

    t!! cantador:Embiriba, embiribeiraEmbiribeira, embiribaUrtiga-lamearamaTamenrama e urtigaPara cantador ruimSou uma dor de barriga

    2~ cantador:Eu no quero ver fadigaQue a minha volta assimPura cantador I'uimSou uma dor de barriga

    2!!cantador:Sou uma dor de barrigaSou uma dor de barriga

    t~ cantador:Sou uma dor de barrigaSou uma dor de barrigaPara canlador mim

    58 Ik-se no Ensaio sobre a m5ica brasileira: "Ora eu iosisto no valor que o coralpode ter emre ns. Musicalmente isso bvio. Sobretudo com a riqueza em que avoz pode ser concebida instrumentalmente, como puro valor sonoro". (ANDRADE,Mrio de. Ensoio sobrt o m5ico brosileiro. 511.0Paulo: Martins, 1972. p. 31).

    59 FERRF.IRA, Aurlio Buarque de lIolanda. op. cU., p. 14-34-.

    .

  • f'!.cantador:Pa ra cantador ruimSou uma dor de barrigaf() cantador:1~lisa, HiaehueloHiaehuelo, ElisaI
  • sonoros que se desprendem da bola-boca do cantador e que ~leusa CO~O

    balame(nLo)s. No quaisquer palavras, elas no so al~ator1a~ente dIS.~postas, cancetadas por livre associao guiada pelo mco~sc~ente.

    Sua

    disposio regida por uma ordem ro.r~al estrita e sua ernlssao por umestilo vocal igualmente rigoroso e estlhzado. .

    Cantados em notas rebatidas, listas, quiasmos e oulros paralehs-I fi no esl reito es pao tonal da fala, da qual se afastam, po-mos revo ve . El

    rm, ao homogeneizar 118duraes das silabas pela fora do rItmo.. ~.es

    impedem (Iue o discurso se dirija a algum ponto e que revele_um sUJelt~:so a antllese da prosa. Com 118listas retendo o discurso, ,nao h~

    mov [-

    menla em direo a, somenle o movimento da perptua r~lteraca~. .Encantamentos verbais nao so instncias de um slstema 1mgUl~-

    tico divorciado do mundo, que a ele remete graas a convenes que li-gam arbitrariamente sons e significados. A palavra dita ou cantada, cmvirtude das simpatills e correspondncias que a ligam ao mundo, podeatrair conjurar, nfnslal' - em suma, obrigar. Ela suscita ou descarta ascoisa~ representadas, sobrdudo se 11elas se liga por semelhanati~. a em-boladO!' obrigll a urtign-tamearana e a embiriba, convoc~-os para enfra-quecer o par(~eiro-ndv(~rsrl(). A lista "arataca, urubutmg~, arat,~ co~.. ratanha" por slla vez, nao parC(~e uma maldio, mas eXibe o podeafi a z da iorma""~ qU1I1seja, o de travar a lingua, desafiar bolas e bocasec, N- oembocom sons que raspam e urrllnham, batem e explodem. a~

    quer -

    lador atrair o canludor paru 11armadilha para que nela cala, como aratula nha? Quando assumc a forma de listas e quiasmos, o encantamen-e ara .

    " . dvelto do embolador tambm uma armadilha mental qu~ gera agra Mf ustra o" ao prcnder u mente em labirintos de padroes abstratos. O, I" d l d "amarrar" o cocose gundo refro nos dois eX(!mplos ana Isa os, a m e, I h' notizam quemouve(refro) ilustra as tcnkns de encllntamen o, que Ipe prote~em quem (~anln, A rorma encontrada em outros cocos, como,por exemplo, a versfto de Meu baralho dois ouro, gravada pelo grupoRaizes de Arcoverdeu,

    - d I b d nadan!lScoJ\cepi\csml)dcrl1;l.~6\1 VersohreadolLlrhllldus('urres\,nll IIC aS,a aD o : . -n-da IInguII, elll: ~'OUCAULT, M. As palavras e as coisas: um3 arquc~~og::~:~:1 ,'fOrcillS hunulllos SAo 1'111110;Morlllls Fonles, 2001119661. Sobn> magias. .'MAUSS, MII,'e~l. Ln l,rlrt'.ln; Vruvre.f, I. Les fonctions s"dnles du sner.l'afls; 1.1'5F.dlUonsde Mlnult,III(J8. . ft -' antro-

    fi3 MAUSS, Marc('l eJluberl. Georges. KEnsaio sobre a magia. In: Soc~Qlog.uepologia. 197411110:1-1\)031.p. 368. -d' Clarendon Press,

    64 GELL,Alrrcd.AI'tulldagcflcy:an(lI1thropologicalthcory. Oxfm .

    65 ~:~:;~;'Arcoverde- "Baralho dois ouro", CO RalZES de An::(Il)Erde. Selo CavaloMarinho,s.d.

    J6

    I

    I

    I

    I

    Rccapitul.mdo, ento, as propriedades identificadas nos cocos-de-embolada comentados (de Cachimbinho e Geraldo Mouzinho, alavo I}edroe Pitiguari): 1. canto dialogal; contraste entre refro e estrofes, sendo asltimas propicias improvisao e ao debate; 2. presena de um segundorefro fixo; 3. frequentes paralelismos verbais que projetam o discurso so-bre o eixo pamdigmtico; 4. reiteraes fnicas generulizadas, na forma denotas rebatidas simultneas's aliteraes e assonncias; 5. uso "mgico"das palavras, grac1s explorao tanto de sua iconicidade quanto de suaintimid1lde com as coisas; 6. desestabilizao da relao convencionada en-tre som e sentido; 7. ocorrncia de trechos que devem ser repetidos; 8. tomcc1tegrico e imperativo das intervenes do solista (em alguns casos). Dizerque os emboladores cantam versos sem sentido ou doidos, indiferentes aosparmetros de correo e significao vigentes em outros uso dalingua ,possivelmente, outra maneira, mais sinttica, de dizer a mesma coisa.

    Perguntas sem resposta

    Gostaria de encenar explicitando as perguntas que permanecemsem resposta. A primeira diz respeito ao termo coco, que ningum duvi-da se tratar de um homnimo do fruto do coqueiro. Na verso que AlosioVilela ouviu de um "velho proprietrio do Distrito de Ch-Prela", os es-cravos fugidos cantavam e sapateavarn quebrando cocos 110quHombo dePai mares. a nome aderiu ao canto e dana e disseminou-se na senzala.A explicao no convence, embora algumas danas afro-brasileiras te-nham o nome do instrumento musical que as anima: tambor, zabumba,zamb, caxambu..,

    Que se trata de canto e dana criados por africanos e seus descen-dentes ningum duvida. A forma vocal de chamada e resposta, a danadc umbigada e os arranjos instrumentais com tambores e outros idiofo-nes so indicios fortes, os mesmos que induziram Edison Carneiro6fi apropor vfnculos genticos entre todas as danas de umbigadas no Brasil,em roda ou em duas filas que se defrontam, conhecidas modernamenteou extintas, do Ioral norte a So Paulo.

    Foram escravos Xico Mouro, Candido Lino, Saturnino Ca e Joa-quim Canrio, da mais antiga gerao de cantadores de que Aloisio Vite-la teve notcia em Viosa. Jos Venerando. era filho da Veneranda, negrade quase cem anos, "retrato vivo daqueles negros bantus que no sculo

    ti6 CARNEIRO. dison. FQlgu~dQS tradicionais. Rio de Janeiro: Inslituto Naciollal doFolclore -Funarle, 1!)82.

  • pussndo foram importados da frica"67. A preta Maria Joana que Mriode Andrade escutou em Olinda era "filha de africanos legitimos", e tinhaidade estimada em 50 anos. Cantava "esplendidamente emboladas, sam-bas, marchinhas de carnaval" com seu "ritmo prodigioso, inconcebfvel,voz de metal, com cor de prata polida, nitida feito alfinete, formidvel deencanto"6l:l. Tenta-se em vo saber sobre eles mais do que alguns versosou uma anedota. Os afrodescendentes disseminaram os cocos que, nuprimeira metade do sculo XX, j haviam contaminado proprietrios deengenho e burgueses citadinos.

    O enraizamento na vida cotidiana das comunidades negras e mes-tias torna possivel expandir um pouco a interpretao das tcnicas dobalamento e da amarrao, luz do que se sabe, atualmente, acerca dojongo. Amarrar, na linguagem jongueira, uma artimanha mgica dosmelhores can(ores de jongos. Diz-se que o jongo fica amarrado quandoalgum entoa um ponto (cantiga) enigmtico que os outros no sabeminterpretar, ou melhor, desatar. Uma aura de competitividade cerca asexibies dos jongueiros que S(~provocam reciprocamente e granjeiamprcstgio com pontos de efeitos eonsidel'ildos extraordinrios. Os cnig-mas so construidos com base em metforas, algumas delas pratica-mente congeladas numa espcie de cdigo que somente os jongueirosexperientes dominam69.

    A ideia do ponto que amarra truduz, em por(ugus, um arco de sen-tidos imbricados nas raizes banhl -kanl) e -ganI) (respectivamenle amar-rar ou pegar, e amarrar). Da primeira proveio encangar, que o objetivodos "feitios de amarre" dos grupos idenlilicados como congos em Cuba:amarrar significa sujeitar 11vontade de li lHa pessoa ou espirito, condu iuOl'liz70. Da segunda proveio gOl/go, o l'eiticeiro, ou aquele quc conhece osfeilios de amarre, como Lambm se diz em Cuba. Afirma o historiadorRobcrt S]enes, num ensaio erudito sobl'e os pontos de jongo e a constitui-o tnico-linguistica do estrato escravo nas fazendas de caf do Sudeste:"...kanga - e suspeito, tambm seu conjunto de metforas - teria tido res-sonncia com muitas pessoas fora da comunidade kongo, porque vem deuma raiz (possivelmente proto~bantu) que deixou derivados espalhadosatras da frica Central, a oriental tanto quanto a ocidental."71

    67 VILELA, Aloisio. op. cll.,]I, 75.68 ANOI\ADE, Mrio de. Os "II/'n.~ (Introd. e J10tas de Oneyda Atvarcnga). op. cil., p. -1-11.6g RIBEIRO, Maria de Lourdes Horges. op. cil. DIAS, Paulo. A outro resta negra.ln: Jancs.

    I. e Kanlor, I. (Orgs.). op. cil. e Feitio das palavras - 11arte dos ponlos de jongo. 0(1. cil.70 ORTIZ, FERNANDO. op. cito71 SLENES, Robert. Eu ~-enho de muilo longe, eu venho cavando: jongueiros cumba

    nasenLalacenlro-a[ricana.op.cit..p.1!lg.

    Portanto, cantos de amarrar so parte de um conjunto de concei-tos centro-africanos.

    O etnlogo africanista Wyatt MacGaffey (citado por Slenes) sus-tenta, ademais, que vige entre populaes de fala bantu uma viso nomi-nalista da lngua. As palavras no so codificaes sonoras ligadas porvnculo em larga medida arbj.trrio a abstraes mentais (significados).Elas no so concebidas como elementos de um sistema divorciado domundo, porque mantm com as coisas "afinidades eletivas". Suspeitoque o mesmo pode ser dito dos procedimentos poticos encontrveis noscocos-de-embalada.

    Com respaldo IUIfilologia africanista, Slenes reladonou a palavrajongo, hipoteticamente, aos vocbulos kikongo n...ngi (ponta, aguilho),nzngo (tiro de fuzil, carga de plvora para fuzil) e locuo nznog myan-nua (tiro, l~ombate com a boca, imilao de tiro de fuzil com a boca).Ligar-se~ia tambm no umbundu songo (bala, ponta de flecha) e ao kim-bundu .ongo (pontada). inevitvel pensar no balamento e nos combatescom ,I boca dos emboladores. Creio, portanto, que h elementos 1ingus-ticos parn associar as arLimanhas de amarrar (J jongo amarra.10 noscocos. As tcnicas poticas, contudo, so diferentes. As charadas no jon-go tm que ser respondidas por uma glosa na qual o jongueiro faz provade que sabe do que se estll falando. A amarrao - se est.i correta minhaideia - um trecho de afronta, intrincado, com listas e trava-lnguas,l~ontendo ameaas e depositando, aos ouvidos do parceiro-rival, uma pi-lha de palavras imantadas de som. Pode-se invocar ainda, a favor dessaassocial,.~110,a tcniea do "desmanche", que inevitvel re]adonar com iIde desatat. o pontou. Isso, pOI'm,ainda necessita mais investigao.

    finalmente, pcrgunto se no estaria na mesma constelao osamba-dllLla do Rec()ncavo llahiano. Veja-se o que di? a pesquisadoraKalnrina Dfiring;

    O samba chula caracterstico, tambm chamado samba-de-viola esamba amarrado, se encontra na antiga regio da cana... (do Re-cncavo Baianoll...] Na outra margem do Rio Paraguau, nos mu-nicfpios de Antnio Cardoso, Santo Estvo e Rafael Jambeiro, achuta chamada de coco e o corrido chamado de chula. O sambase caracteriza por se um samha de desajio [...J. Enlre os sambado-

    72 \'ILEI...\. Aloisio. op. cito e ..\nd de, Mrio de. 05 cocos (Inlrod. e nolas de OneydaAh.arenga).op.cil.

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