E Não Era Apenas Um Lavrador

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E não era apenas um lavrador De todas as qualidades que meu pai possuía, todos os serviços e atividades que ele executava, havia uma especial. Naqueles tempos, tudo era mais difícil, médicos, remédios, hospitais, enfim, numa área rural nos rincões do estado do Paraná, alguém para aplicar uma injeção era algo muito difícil de se encontrar. Dessa forma, o dono da farmácia onde meu pai sempre comprava remédios, incentivou-o a aprender como se aplicava injeções, segundo meu pai, ele relutou em princípio, mas os argumentos do homem eram muito convincentes e a realidade era um reforço e tanto. Assim, meu pai passou a ser aplicador de injeções na fazenda onde morava. Eu não era nascido ainda, mas meu pai me conta que as vezes faziam fila na casa dele para aplicar injeção, conta que tinha as mais variadas agulhas, cada uma para um remédio específico. E assim, enquanto morou na fazenda, meu pai acumulava as funções de colono, aplicador de injeção e na época de colheita ajudava a carregar os vagões na estação de trem. Depois que nos mudamos para São Paulo, essa intensidade de aplicações diminuiu. Meu pai saía cedo para o trabalho e chegava muito tarde, logo não havia tempo para aplicar injeções nos vizinhos, mas ainda assim, continuava aplicando injeções nos membros da família. Lembro-me de ver a forma como se preparava para aplicar injeções, parecia um ritual religioso. Pegava o estojo, retirava a tampa e colocava ao contrário, depois colocava uma espécie de suporte, enchia a tampa com álcool, colocava a seringa e agulhas dentro do estojo com água e depois acendia o álcool para esterilizar os componentes. Depois aspirava o medicamento e aplicava.

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texto dissertativo enaltecendo as qualidades de uma pessoa sempre dedicada a ajudar os seus.

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E não era apenas um lavrador

De todas as qualidades que meu pai possuía, todos os serviços e atividades que ele executava, havia uma especial.

Naqueles tempos, tudo era mais difícil, médicos, remédios, hospitais, enfim, numa área rural nos rincões do estado do Paraná, alguém para aplicar uma injeção era algo muito difícil de se encontrar. Dessa forma, o dono da farmácia onde meu pai sempre comprava remédios, incentivou-o a aprender como se aplicava injeções, segundo meu pai, ele relutou em princípio, mas os argumentos do homem eram muito convincentes e a realidade era um reforço e tanto. Assim, meu pai passou a ser aplicador de injeções na fazenda onde morava.

Eu não era nascido ainda, mas meu pai me conta que as vezes faziam fila na casa dele para aplicar injeção, conta que tinha as mais variadas agulhas, cada uma para um remédio específico. E assim, enquanto morou na fazenda, meu pai acumulava as funções de colono, aplicador de injeção e na época de colheita ajudava a carregar os vagões na estação de trem.

Depois que nos mudamos para São Paulo, essa intensidade de aplicações diminuiu. Meu pai saía cedo para o trabalho e chegava muito tarde, logo não havia tempo para aplicar injeções nos vizinhos, mas ainda assim, continuava aplicando injeções nos membros da família.

Lembro-me de ver a forma como se preparava para aplicar injeções, parecia um ritual religioso. Pegava o estojo, retirava a tampa e colocava ao contrário, depois colocava uma espécie de suporte, enchia a tampa com álcool, colocava a seringa e agulhas dentro do estojo com água e depois acendia o álcool para esterilizar os componentes. Depois aspirava o medicamento e aplicava.

Essas lembranças reforçam ainda mais o amor e orgulho que eu sinto por essa pessoa maravilhosa que eu chamo de Pai.