Drake Chronicles 0.1 - Corsets and Crossbows - Alyxandra Harvey

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A Drake Chronicles E-Novella in Letters

0.1 - Corsets and Crossbows

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Rosalind Wild acha que é hora dos Helios-Ra dar

plena adesão e reconhecimento aos descendentes do sexo feminino da sociedade, afinal é 1816 e é hora de abrir espaço para novas tradições. Quando Rosalind interrompe uma trama para assassinar o líder da Helios-Ra, ela vê uma oportunidade de provar o seu valor. Mas ela nunca esperaria que o assassino fosse alguém tão irresistível e fora dos limites. Escrito como uma série de cartas para uma confidente próxima, este emocionante conto dá um vislumbre dos primórdios da sociedade Caça Vampiros como visto através dos olhos da resoluta ancestral de Hunter Wild.

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Cara Evangeline,

Eu ainda não posso acreditar que você está presa nesse país, enquanto a temporada em

Londres está indo bem no seu caminho. É horrivelmente injusto. Eu escreveria uma carta, com

palavras duras para a sua mãe se eu achasse que iria fazer algum bem. Não posso acreditar que ela

prefira se enterrar no país em vez de dançar valsa e ir à ópera. Não que eu tenha dançado valsa ainda,

é claro, já que não recebi permissão. Não tema, eu tenho intenção de dançar antes de a temporada

terminar, marque minhas palavras. As senhoras em Almack’s podem engasgar com sua limonada

quente e estúpidas regras antiquadas.

Eu sou uma debutante agora e fiz a minha reverência à rainha e tudo que isso implica. E eu

não tropecei no meu treino e cai no meu traseiro... Tenho medo que a distinção ainda pertença a você

apenas. Considerei tropeçar em Meredith, mas não parecia esportivo. Ela dificilmente é feita de

material resistente.

Por favor, me diga que você ainda está trabalhando para convencer seus pais.

O seu pai não deveria estar tomando o seu assento no Parlamento? Não é isso que os Condes

fazem quando estão velhos demais para ter algum divertimento? Certifique-se de dizer ao seu irmão

mais velho o que eu disse na próxima vez que vir ele. Ele se tornou inteiramente muito indigesto.

Mamãe reservou outro encontro com a costureira, Madame Blanche, embora eu estive

naquele banquinho, sendo usada como uma almofada de alfinetes glorificada por horas agora. Horas. Eu poderia ter escrito um romance ou dominado a arte de fazer renda, o que eu ainda acho confuso a

propósito, pelo tempo que esta mulher levou para desenhar e costurar um vestido que mamãe

aprovasse para o baile familiar. Posso tentar me esconder na cobertura lilás hoje. Quão bom é ser

um caçador de vampiros se não se pode fazer indisponível para a tortura?

Sei que Eleanor ficaria horrorizada com minha menção de um assunto tão delicado, por

escrito, mas verdade seja dita, ultimamente ela tem ficado bastante horrorizada com tudo o que faço. Você acharia que ninguém na família Wild nunca entrou para a Helios-Ra antes. Papai está fora de si

com orgulho e mamãe se enfeita como um pavão cada vez que as mulheres se reúnem para o chá

mensal. Ninguém mais tem filhas que assumiram o chamado com exceção de você, e não pense por

um minuto que não é por isso que sua mãe deseja mantê-la presa na casa de campo com nada além

de ovelhas e porcos-espinhos como companhia. Então, minha aborrecida e com sorriso afetado prima

Eleanor pode mostrar um pouco de apoio. Ela poderia ter ingressado, se ela quisesse. Não é minha

culpa que ela ache tudo tão terrivelmente chocante e perturbador. Ela realmente desmaiou na semana

passada quando viu a estaca presa em meu tornozelo. Você pode imaginar? Ainda assim, ela me fez

um favor, eu suponho. Eu deveria ter escondido melhor. Ainda estou tentando encontrar uma

maneira de esconder um arco, mas da última vez que tentei esconder um na minha frasqueira, o

mordomo perguntou se eu estava escondendo um pato lá.

Espero que você tenha lembrado o nosso código ou o parágrafo inteiro terá feito nenhum

sentido. Eu não sou uma tola, afinal de contas, apesar do que o meu primo poderia pensar. Eu nunca

colocaria em risco a sociedade ou o nosso trabalho.

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Mas se eu não vir um vampiro logo, juro que vou fazer algo drástico.

Talvez eu devesse me esgueirar para Vauxhall Gardens uma noite. Todo mundo está sempre

cochichando sobre os acontecimentos de lá, como os caminhos levam a jardins escuros, desertos e

grutas e mulheres são atraídas não por ne’er-do-wells1. Certamente um dos ne’er-do-wells pode estar

um pouquinho vampiresco?

Isso parece bom plano. Se eu não vir uma presa ou lábio manchado de sangue até esta altura,

na próxima semana, vou tomar o assunto nas minhas próprias mãos. Afinal, o que adianta todo o

nosso treinamento, toda a esgrima e livros de história e ginástica em um espartilho sangrento, se eu

nunca ficar cara-a-cara com um vampiro? Eu não vou ser um ornamento para a Liga.

Eu quero ser útil.

Todo o meu amor,

Rosalind

1ne’er-do-well – uma pessoa que não tem boas intenções – um rogue. Uma pessoa sem valor.

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Cara Evangeline,

Isso não saiu exatamente como planejado.

Por favor, não me repreenda sobre ser precipitada, acredito que estou inteiramente de acordo.

Mas eu faria tudo de novo, se tivesse a chance.

E eu não sou uma completa tola, eu não iria para o Vauxhall Pleasure Gardens, sozinha. Não

como Senhorita Rosalind Wild, de qualquer forma. Mas Robbie, Robbie pode ir a qualquer lugar que

ele escolher, não pode? Ele vai ser um alter ego mais útil, eu posso dizer. E ele pode carregar um

arco em um saco e ninguém pensaria em questioná-lo.

Você vê, eu pedi, oh bem, já posso ver a sua expressão enquanto escrevo isto, eu roubei um

par de calças, uma camisa, um colete e um casaco do primo Justin. Ele nunca vai sentir falta deles,

ele me ultrapassou no Natal e não parou desde então. Ele pode muito bem ficar maior do que papai

se continuar assim. Não posso imaginar o que ele está comendo. E de qualquer maneira, ele está

fora, em Eton e não se importaria no minimo. Não entendo como ele e Eleanor podem estar

relacionados. Você pode imaginar tê-la como uma irmã? Sempre criticando e franzindo os lábios. E

ela usa batom agora, você sabia? Mesmo que ela negue veementemente, eu reconheço batom quando

vejo. A boca de ninguém é daquela cor, a menos que tenha ido comer sementes de romã. E ela odeia

romãs, porque podem manchar os dedos e os seus vestidos preciosos.

Mas, estou divagando.

Eu tinha um disfarce muito bom, se eu posso dizer. Até passei por um de seus irmãos nos

portões para Vauxhall e ele não me deu uma segunda olhada. Fiquei muito orgulhosa de mim mesma

e considerei contratar-me para a Coroa como uma espiã. Acho que eu daria uma espiã muito

arrojada. Napoleão não me veria chegando.

Admito que eu fiquei um pouco menos confiante até o final da noite.

De qualquer forma, paguei vários guinéus para o cocheiro me levar para o jardim e esperar

por mim e não dizer uma palavra aos meus pais (Além disso, eu lembrei a ele sobre as gavetas de

renda que encontrei em uma das almofadas na semana passada). Certamente esta tudo bem; um

pouco de chantagem e suborno, dadas às circunstâncias. Qualquer um faz o que deve quando é um

Caça Vampiros.

Mamãe e papai pensaram que eu ia visitar Beatrix para ajudá-la a praticar a sua reverência, já

que ela vai ser apresentada à Rainha no próximo mês, embora ela ainda não esteja saindo. Alguma

coisa sobre o pai dela salvar o cão spaniel favorito da Rainha ou algo assim. Pobre Beatrix, ela não

tem utilidade para a Corte, reverências e sociedade polida, mas seu pai vai conseguir mantê-la

reconhecida pelas boas ações. É um teste para ela.

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Era meia-noite quando finalmente desci a rua principal, lanternas iluminadas nas árvores,

como fadas borboletas em casulos. Era tão lindo, a orquestra tocando, casais dançando, os pratos de

morangos e presunto circulando nos caixas pagos. Vi várias pessoas que eu conhecia, mas não podia

dizer Olá, é claro. Posso dizer que o Lord Harrisford estava sussurrando para Juliette Thornton,

enquanto eles valsavam e ela estava corando. Eles formam um casal fofo e eu espero que ele se

declare em breve. E a valsa era adorável, todos os giros arrebatadores e bainhas esvoaçantes. Eu

simplesmente mal posso esperar para dançar. Mas você já sabe isso.

Deixei os pátios populares que nós duas visitamos o suficiente para saber que nada

escandaloso acontece por lá. Todas as histórias realmente interessantes ocorrem nos bosques e

florestas e Druid’s Lane. Eu não preciso te dizer que eu vi nosso primo Francis levando duas

mulheres que pareciam um pouco menos do que decentes para os carvalhos. Uma delas até piscou

para mim! Eu teria amado tirar o meu disfarce, só para ver a expressão no rosto de Francis. Em vez

disso eu me escondi nos arbustos, até que eles fossem embora.

E então eu tive que me esconder novamente quando vi Percy andando com seus amigos. Não

é nenhum segredo mamãe achar que ele seria um partido brilhante para mim. Sua mãe foi famosa

com sua idade, você sabia? Ela empalou um vampiro no café da manhã de seu casamento, mas ela

deu o crédito ao seu novo marido. Acho que eu gostaria de manter o crédito para mim. Isso faz de

mim uma pessoa terrivelmente perversa, o que você acha? Pensando bem, não se atreva a responder

a isso, Evangeline Plum.

O problema é que Percy é tão mortalmente maçante que temo que eu possa bocejar de tédio

cada vez que estivermos juntos. Não creio que este seja um bom partido para marido, não é?

E acho que ele levaria o crédito para si, assim como seu pai fez.

De qualquer forma, é o suficiente, é inteiramente deprimente.

Andei mais de uma hora até que meus pés doessem e eu estivesse entediada. Eu tinha perdido

a queima de fogos e o equilibrista e os bosques estavam cheios de risos e gemidos e nada de mortos-

vivos sedentos de sangue.

Cuidado com o que você pede.

Você acha que eu já devia saber isso por agora.

Ouvi um som diferente dos outros e um que eu nunca tinha ouvido antes em toda minha vida

e espero nunca mais ouvir de novo. Era uma espécie de assobio, seguido por grunhidos, como

alguém que está sendo golpeado repetidamente e com força. Eu tinha certeza de que estava ouvindo

um vampiro atacar um folião desavisado. Era para isto que eu tinha treinado.

Você vai pensar menos de mim se eu te disser que eu hesitei? E que o meu coração pulou

totalmente uma batida e minha respiração tremeu em uma forma menos heroica?

No entanto, eu gosto de pensar que me recuperei. Alcancei a minha estaca (que é muito mais

fácil de esconder em sua bota quando esta está seguramente coberta por calças. Além disso, em sua

bolsa, quando você realmente tem uma). Arrastei-me através das samambaias e arbustos. Você tem

que admitir que eu sou bastante furtiva quando quero ser, e eu definitivamente queria ser. Vampiros

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têm audição extremamente boa, eu não preciso lhe dizer que o elemento surpresa continua sendo a

nossa melhor arma. Você pode simplesmente ouvir o Professor agora?

Então lá estava eu, debruçada em um arbusto à beira de uma loucura deserta, todos os pilares

de pedras quebradas e estátuas de mármore sem cabeça envolto em hera. Poderia ter sido bela e

assustadora, se meus dentes não estivessem martelando na minha cabeça e as palmas das mãos

manchando com suor. Porque no meio dessa loucura, sob um farol quebrado de vidro azul, havia um

vampiro.

Não, na verdade, dois vampiros.

Eu não tinha interrompido um vampiro se alimentando de alguma vítima infeliz, mas dois

vampiros em algum tipo de disputa. O professor estava sempre dizendo para não correr. Eu posso te

dizer que é muito, muito mais fácil dizer do que fazer. Eu não tinha ideia de quão forte poderia ser o

instinto físico de fugir, ou como nauseante é a descarga de adrenalina em suas veias e barriga. Eu

quase deixei minha estaca cair. Apenas a voz do papai no meu ouvido, gritando: “Um caçador nunca

deixa cair sua estaca!”, me fez agarrá-la mais apertado.

Arrastei-me mais perto, tão perto como eu poderia conseguir, e então joguei minha estaca tão

forte quanto podia. Foi rápido e preciso, e presa nas costas do vampiro.

Ele não virou cinzas.

Eu deveria ter usado um arco e flecha.

É muito difícil jogar uma lasca de madeira forte o suficiente para furar uma caixa torácica, eu

devia saber. Tenho a intenção de tocar no assunto na próxima reunião.

Ele, pelo menos, deu um uivo e um gratificante passo para trás. Foi apenas o suficiente para o

segundo vampiro conseguir uma vantagem, lutando para se libertar, se aproximar e empurrar a estaca

através do osso, músculo e, finalmente, coração. Cinzas voaram como o pólen de dente-de-leão sob o

luar. O vampiro restante se ergueu e eu tropecei para trás. Seu cabelo era escuro e caiu sobre a testa,

sobre os olhos tão pálidos como a neve. A ferida sangrenta varreu em sua bochecha esquerda, e mais

sangue floresceu como uma rosa vermelha sobre a camisa de linho branco, em seu lado direito. Sua

gravata estava rasgada, mas o seu colete de seda tinha botões de prata. Ele era claramente um

vampiro cavalheiro.

Um vampiro cavalheiro, Evangeline.

Ninguém nunca nos falou sobre isso. E ele era muito bonito, mesmo que eu não conseguisse

ver seu rosto corretamente. Eu poderia simplesmente dizer. É apenas uma observação. Não é como

se eu estivesse por perto para olhá-lo.

Você deve saber que eu girei na primeira oportunidade e fugi, mesmo quando ele gritou:

“Espere! Volte!”, e tentou me seguir. Ele teria sido mais rápido do que eu, claro, mas estava ferido e

eu consegui me perder na multidão antes que ele pudesse me alcançar.

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Agora que estou segura, você tem que admitir, é uma história bastante emocionante. Talvez

eu devesse estar escrevendo romances góticos. Poderia ter sido romântico se eu não estivesse vestida

como um menino.

E se ele não fosse um dos mortos-vivos, é claro.

Todo o meu amor,

Rosalind

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Cara Evangeline,

Quanto mais eu penso nisso, mais fico confusa. Por que nunca ninguém mencionou vampiros

cavalheiros? Foi-nos dito repetidas vezes que eles são selvagens, cruéis e medonhos e tem uma

higiene questionável.

Evangeline, ele não era medonho.

O que isso significa? O que você acha? O que mais eles poderiam estar escondendo de nós?

Alegadamente, para nossa própria proteção, embora eu não possa pensar porque precisamos ser

protegidas da beleza. Você pode? Eu temo que se eu puxar esse pequeno fio, o nó inteiro vai se

desenrolar.

Eu sei que Eleanor me dizia para deixar as coisas serem, que este não é meu problema. Mas

eu sou parte da sociedade, não sou? Sou uma Caçadora de Vampiros. Como posso fazer o meu

trabalho se eles estão escondendo informação vital de nós? E só as mulheres é que estão sendo

tratadas assim. Eu encurralei Justin. Ele é um mentiroso terrível, eu soube imediatamente. Ele estava

em casa para o aniversário da tia Ana e admitiu (finalmente) que é só para as meninas que são

contadas estas meias verdades perigosas e condescendentes. Ele diz que é porque somos mais

suscetíveis aos encantos de um vampiro.

Absurdo, Evangeline.

Essas mentiras e omissões convenientes nos colocam todas em perigo, qualquer que seja seu

raciocínio antiquado. E se você lembrar, o primo Andrew foi o único que foi morto seguindo alguns

rabos de saias em um beco. Eles se esqueceram de nos contar essa parte de seu assassinato, como ele

morreu com as calças para baixo em torno de seus tornozelos. Não quero chocá-la, mas aí está.

Mesmo a Liga não pode ser totalmente confiável.

O que devemos fazer agora? Um vampiro não pode ser confiável só porque ele tem traços

finos, e um caçador não pode ser confiável, mesmo quando ele é da família. Eu juro que não vou

ficar calada sobre isso. É muito importante.

Eu também prometo querida Evangeline, trazer à tona segredos da sociedade.

Hoje à noite, na verdade.

Os Winterson’s estão tendo o seu baile anual. É sempre uma multidão, eu tenho certeza que

não vou ser notada. Vou simplesmente esgueirar-me para o escritório do Lord Winterson e ver o que

posso descobrir. Certamente, sendo o chefe da organização, ele deve manter alguns itens importantes

em sua casa? Se não, acho que terei de tentar pesquisar os Helios-Ra na casa da cidade, mas você e

eu sabemos que vai ser quase impossível.

Não importa. Esta noite é “a” noite. Eu posso senti-lo.

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Sua prima,

Rosalind

PS: Eu realmente deveria parar de fazer tais declarações inflamatórias. Isso nunca acaba bem.

Perdoe a minha caligrafia incerta, ainda estou frágil pela adrenalina e o champanhe. E minha

primeira valsa. Quem poderia ter imaginado que os maçantes dos Winterson’s, poderiam

providenciar tanto divertimento? Nem sei por onde começar. Eu posso ouvir você rangendo os

dentes, Evie, mas você simplesmente tem que ser paciente comigo. Preciso organizar meus

pensamentos, se for tirar algum sentido disto.

Chegamos modernamente atrasadas, como sempre. Mamãe não quis saber de fazermos uma

aparição antes da meia-noite. A rua estava positivamente entupida de carruagens e o salão de baile

embalado com várias centenas de convidados no seu mais fino traje. Eu nunca vi tantas plumas e

turbantes de penas. Espero que essa tendência em particular desapareça rapidamente, é bastante

angustiante. Pense em todas essas avestruzes e pavões carecas.

E admito, eu me escondi entre as samambaias em vasos até que Percy foi para a sala de cartas

para jogar whist2. Provavelmente não muito satisfeito comigo, mas foi eficaz. Eu não posso suportar

ferir seus sentimentos, seus olhos estão sempre tão tristes. Mas ele tem um verdadeiro comboio de

debutantes rindo e bajulando em cima dele, com certeza uma delas vai consolá-lo adequadamente.

Porque eu não vou casar com ele. Não importa o que os meus pais dizem. Ou seus pais. Ou

mesmo Percy. Não serei vendida pelo maior lance.

Especialmente não agora.

Esperei até que o champanhe tivesse começado a fazer todos um pouco mais altos do que o

necessário e os casais foram escapando para encontrar cantos escuros antes que eu fizesse o meu

caminho para cima, para os quartos da família. Além disso, eu tinha perfeitamente tempo quando eu

não tinha intenção de perder a valsa. Era simples o suficiente evitar o acompanhante que mamãe

tinha escolhido para mim. E eu estava bem preparada, até derramei vinho de morango no meu

vestido para que eu tivesse uma desculpa credível se precisasse de uma. As fofocas e mães viúvas

podem ser tão assustadoras como qualquer vampiro. Desafio você a encontrar uma criatura mais

arrepiante do que Lady Kirkwood. Não se incomode mesmo em considerar, não há sequer tal animal. Ela fez os homens crescidos chorarem em público com quase nenhum esforço. Eu sempre pensei que

ela daria uma Caçadora admirável.

Voltando ao baile. Fui para o andar de cima com bastante facilidade. Esperava que a casa dos

Winterson’s fosse mais vigiada, para ser honesta com você. Mas eu suponho que eles nunca

suspeitaram por um momento que uma debutante podia ser inteligente o bastante para causar

qualquer dano. E sem dúvida a casa da cidade é prodigiosamente bem protegida contra os vampiros,

eu nunca vi uma coleção assim de espadas e bastões de caminhada com adagas retráteis. (Quero

dizer, alterar um dos meus guarda-sóis em linhas semelhantes. É uma alteração bastante interessante

e, certamente, seria de grande utilidade.)

2 Whist- é um jogo de origem inglesa, e foi o jogo de cartas mais popular do mundo nos séculos XVIII e XIX.

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Eu podia ouvir a orquestra tocando uma quadrilha, e o zumbido barulhento de uma centena de

conversações que estavam acontecendo ao mesmo tempo. Não havia passos, nem cintilação das

chamas das velas, nada. Eu não tinha medo ao pensar que estava sozinha. Na verdade, eu ainda não

podia aceitar que não estava.

Encontrei o estúdio com poucos incidentes e foi exatamente como você poderia ter imaginado

que fosse: espaçoso, com uma mesa de carvalho maciço, decanters3 de prata e garrafas de caro

conhaque, fileiras de livros e curiosidades. Eu me senti bastante ousada me esquivando através das

sombras e abrindo todas as gavetas. Não achei nada de importante até a última gaveta, que estava

trancada. Esses grampos novos que você providenciou são brilhantes, Evie. Eu abri a tranca com

pouca dificuldade.

Havia algumas anotações lá dentro, uma abotoadura de gravata de diamante, e outras

bugigangas, mas nada relacionado à Sociedade. Confesso que não sabia o que estava procurando. Eu

só estava desconcertada assim por saber que nosso primo morreu em circunstâncias diferentes do que

fomos levadas a acreditar. Tudo parece tão sinistro e suspeito. E excessivamente dramático.

Foi nesta hora que decidi abandonar a minha busca e retornar para o salão de baile antes de

ser descoberta. Não havia sentido em prejudicar a minha reputação irrevogavelmente... uma leve

sensação de inquietação. Mesmo eu não sendo tão irresponsável.

Eu estava no alto da escada quando ouvi vozes masculinas. Duas vozes, uma mais velha e

vagamente familiar, embora ainda não pudesse reconhecê-la, a outra jovem e impaciente. Escorreguei entre um armário e uma urna de bronze enorme cheia de penas de avestruz. Retiro o que

disse sobre a tendência de penas, elas podem dar um esconderijo mais conveniente. Prendi a

respiração enquanto a conversa se transformava em uma argumentação silenciosa. Eu tinha que me

esforçar para ouvir, então não posso ter certeza se ouvi todas as palavras corretamente.

Mas eu tenho certeza da maioria.

— É muito cedo — a voz mais velha estalou.

— Você vem dizendo isso há semanas. Eu não tenho tempo para mimar você, se você foi

covarde comigo.

— Eu não fiz tal coisa — ele parecia ofendido — Então vamos começar com isso. Eu sou o

único que sofreu uma emboscada em Vauxhall, se você se lembra. Você mal manchou suas finas

mãos.

Evie! Certamente este é o mesmo homem que eu vi em Vauxhall!

— Não acho que você compreende o que estou fazendo. É traição.

— É problema seu, não meu. Não estou quebrando qualquer juramento.

— Bem, você não é um Caçador, é? Eu sou.

3http://bloglepic.files.wordpress.com/2011/12/decantador-vinho.jpg

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Um suspiro irritado se seguiu. — Você vai me ajudar a eliminar Winterson ou não?

— Shhh. Você está louco, dizendo isso em voz alta?

— Cansei de suas desculpas e lamentações.

— E eu da sua arrogância garganta-ou-nada.

Sua voz baixou ainda mais até que eu tive que me inclinar até quase cair aos seus pés. —

Outro incentivo para não adiar ainda mais, você não acha?

Levei um momento para perceber que eles tinham se afastado completamente. Fiquei no

corredor, mas eu não podia ouvir os passos ou farejar um rastro de perfume ou a fumaça do charuto. Eu não tinha como acompanhá-los. Foi como se tivessem desaparecido totalmente. Voltei para

baixo, porque não sabia mais o que fazer. As pessoas devem ter pensado que fiquei louca, eu olhava

fixamente para cada cavalheiro que passava. Justin me acusou de ser vesga como um pirata.

Eu estava na parte interna das portas e não pude ver ninguém olhando nervoso ou reservado. Eu suspirei; descontente.

— Senhorita Wild, posso ter o prazer desta valsa?

Dante Cowan, Lord Thornwood e o filho do Conde de Dunrowan, tinham surgido atrás de

mim, e estavam tão perto que eu podia sentir o comprimento de seu corpo quase tocando o meu.Ele

estava tão perto que quando eu pulei e rodopiei, lhe dei uma cotovelada no estômago. Eu não queria,

mas ele me surpreendeu! E o salão estava diabolicamente lotado.

Mencionei quão bonito ele é? Eu mal me lembro dele antes de ele seguir o seu Grand Tour,

mas agora que voltou do Continente, há um ar sobre ele, algo misterioso e escuro nos seus olhos

cinzentos. Ele tem um sorriso distante que faz você se perguntar sobre o porquê ele realmente está

sorrindo.

— Eu digo! — Justin levantou seu monóculo. Você sabia que ele te leva para dar uma volta

vestindo coletes rosa com listras? Ele se acha elegante agora. — Você já foi devidamente

apresentada?

— Sim. — certo ou errado eu menti e não me arrependo por isso. Eu também esmaguei o pé

de Justin sob a sola do meu sapato de dança.

Dante abriu seu sorriso torto para mim e estendeu o braço para me levar para a pista de dança.

— Não aqui. — Puxei-o para trás de um par imponente num canto distante. — Eu

tecnicamente não tenho permissão para dançar a valsa ainda.

— Não vou desistir de você. — Sua mão foi a minha cintura e me puxou.

Posso compreender agora, por que as antigas viúvas fazem tanto barulho sobre a valsa. Não é

que elas temam que nós vamos ficar tontas com o giro e cair em um monte de anáguas. É que ela

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proporciona uma oportunidade de chegar tão perto de um homem jovem e charmoso que se pode ver

a maneira como seu cabelo enrola sobre seus ouvidos, a forma exata de suas maçãs do rosto, a

sensação de seu ombro sob a mão.

E quando o homem é Dante Cowan, há um perigo de fato.

Eu não quero ser como as outras debutantes, obviamente bajulando sobre ele e com um

sorriso afetado quando passa, mas ele me faz sentir... caleidoscópica. Será que ainda faz sentido? Eu

não me lembro se conversamos muito, porque ele nos guiou para as portas francesas e para a varanda

deserta. Ele me atraiu ainda mais perto, até uma brisa não poder passar entre os nossos corpos. Foi

extremamente chocante que ele o fizesse, é claro. E, claro, eu deixei. Ele não tomou liberdades, só

nos manteve girando até que eu estava rindo, com tonturas e sem fôlego.

— Você derramou vinho em seu vestido — ele disse suavemente.

Eu olhei para a mancha perto do meu joelho. Eu tinha me esquecido dela. Ele deve possuir

uma visão extremamente boa para ter notado isso. — Vai ser lavado. — eu dei de ombros.

— A maioria das meninas sairia desmaiando ou correndo para perto das senhoras mais

próximas, chorando para limpar.

— Eu não sou como a maioria das meninas — eu declarei.

— Não, eu deveria dizer que não.

Queria perguntar-lhe se queria dizer isso como um elogio, mas eu estava meio com medo da

resposta. E eu sei, eu sei, eu deveria ter me concentrado no fato de que alguém estava conspirando

para matar o líder da Sociedade Hélios Ra. Eu gosto de pensar que sou talentosa o suficiente para me

preocupar com a valsa ao mesmo tempo.

— Há uma empregada lá em cima, se você quiser que ela lave o local. — Ele parecia muito

sério, de repente, seus olhos queimavam.

— A empregada está lá embaixo, na verdade, e a mancha já secou. E não importa.

A música terminou cedo demais e ele inclinou-se sobre a minha mão como se fizesse uma

reverência. Eu sei que isso vai soar estranho, Evie, mas eu poderia jurar que ele se inclinou e me

cheirou. E seu rosto ficou duro; sua mandíbula apertada. Foi muito breve, mas eu vi.

Mas estou convencida de que é apenas a Caçadora em treinamento falando. Certo?

Desconfortável. Eleanor pode realmente estar certa sobre alguma coisa? Esqueci como ser

uma garota normal?

Preocupadamente a sua,

Rosalind

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Cara Evangeline,

Estou tão dividida, mal posso me acalmar o suficiente para escrever isto.

Você iria imaginar que após o treinamento que sofremos, e devo destacar que nós

arrebentamos, podia-se esperar uma pequena medida de confiança. Mesmo o traço mais básico de

confiança em nosso bom senso e inteligência, se nada mais.

Lamento dizer, que não é assim.

Eu suponho que você já sabe isso, com a sua mãe inventando todo o tipo de atividades no

campo para mantê-la longe de Londres e dos Caçadores. E eu posso entender isso, eu realmente

posso. Ela é sua mãe, e, claro, ela vai se preocupar. O fato de que ela se preocupa igualmente com

todos os seus irmãos fala bem da sua personagem, creio.

Mas isso é diferente. Meu pai deveria saber melhor. É diabolicamente injusto. Passei uma

longa noite sem dormir tentando determinar o melhor curso de ação a respeito da conversa

sussurrada no baile dos Winterson’s. Eu não o levo levemente, nem o nosso dever para com a Liga, e

espero a mesma consideração. Assassinato é ruim o suficiente, mas o assassinato do traidor do líder

do Helios Ra por um colega novato é abominável. Cabe a todos nós sermos vigilantes, para levar a

sério o nosso juramento. Cabe a todos nós ficarmos em guarda, para levarmos o nosso juramento a

sério. Para levarmos uns aos outros seriamente.

Você vê onde isso vai dar, tenho certeza.

No momento em que o sol nasceu eu estava convencida de que devia dizer tudo ao meu pai. Uma coisa é procurar vampiros em Vauxhall Gardens ou pegar um em um beco escuro depois da

ópera, mas outra coisa completamente diferente é desvendar uma conspiração em uma Sociedade que

mal te reconhece (embora eu queira transformar isso para minha vantagem. Mais sobre isso mais

tarde, eu te garanto). Eu não sou tão irresponsável para achar que devo fazer tudo sozinha.

Encontrei meu pai na mesa, comendo ovos escalfados

4 e torradas e lendo o jornal, recém-

chegado e cheirando a tinta queimada e papel. Ele ergueu os olhos para sorrir para mim antes de

voltar para sua leitura. — Bom dia, lindinha.

— Bom dia, papai. — Esperei até o lacaio trazer um pote de doce de chocolate para a mesa e

voltar a uma distância discreta. Eu abaixei minha voz. — Eu preciso falar com você, senhor.

— Não vou aumentar a sua mesada, Rosie. Você tem mais do que suficiente para suas

necessidades.

4Ovos levemente cozidos.

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17 17

Foi um ato de vontade não rolar os olhos para ele, Evie. Por que é que eles sempre acham que

queremos mais dinheiro para os vestidos e enfeites? Eu prefiro comprar um novo jogo de punhal,

embora não seja quase tão hábil com elas como você é.

— Não preciso de mais dinheiro. — Assegurei-lhe tão calmamente quanto podia.

Ele franziu a testa. — Você não está esperando correr com a sua carruagem através do

parque com alguns ne’er-do-well5 novamente, não é? Você deve aprender a se comportar com

alguma dignidade, minha menina.

Honestamente, Evie. Pais.

— Papai, por favor. Trata-se de algo que eu ouvi no baile dos Winterson’s na noite passada.

— Fofocas de salão de baile? — ele questionou.

Eu balancei minha cabeça. — Não, dois homens conversando em voz baixa fora do escritório

do Senhor Winterson.

Ele colocou o jornal para baixo, franzindo a testa mais atentamente. — O que você estava

fazendo lá em cima?

— Caçando. — eu respondi com orgulho.

— Você não quer me dizer que você estava perseguindo um vampiro pelos quartos

particulares na casa da cidade dos Winterson, não é?

Tive que virar meus olhos naquele momento. — Não, papai, é claro que não.

— O que então? E não pense que nós não estaremos discutindo tal comportamento insolente,

mocinha.

Insolente? Eu estava indo furtivamente. Heroica, mesmo. Bah.

— Havia dois homens discutindo sobre o Senhor Winterson. Um deles era um Caçador, o

outro não. — eu disse a ele.

— Quem eram eles?

— Eu não sei. Não vi seus rostos, apenas os ouvi falar sobre a remoção do Lord Winterson,

papai. Eles querem matá-lo.

Esperei uma reação. Esperava um suspiro ou a cor desaparecer de seu rosto. Talvez ele

derrubar sua xícara de café em sua agitação.

Eu era mais enfática, não esperava que ele risse. Meu próprio pai, mente.

5Ne’er-do-well - uma pessoa que não tem boas intenções – um rogue. Uma pessoa sem valor.

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— Oh, Rosie, você entendeu mal, eu tenho certeza.

— Eu não o fiz.

— Não é incomum, docinho. Por que, quando eu tinha sua idade eu estava convencido que a

nossa governanta era um vampiro. Eu quase a estaquei na despensa quando ela foi armazenar ovos.

Olhei para ele, ofendida. — Você não acredita em mim?

— Caçadores levam os seus juramentos para com a Liga e um com o outro com muita

seriedade.

— Eu sei disso. — mexi o açúcar em meu chá com mais força do que era estritamente

necessário.

— E como o líder da Ordem, o Lord Winterson é particularmente bem guardado.

— Eu sei o que ouvi — eu insisti teimosamente.

— Uma conversa sussurrada tarde da noite, quando você bebeu champanhe e dançou com

jovens homens que eu não aprovei. — ele olhou incisivamente para mim então e eu sabia que ele

estava se referindo a Dante Cowan. — Não é evidência suficiente para descartar graves acusações

de assassinato e traição?

— Mas...

— Deixe estar, Rosalind. Você só vai nos envergonhar e a esta família se você continuar.

— Eu não irei!

— Não se lembra do verão passado, quando você jogou o Lord Hallbrook na lagoa?

Fiz uma careta. — Como eu ia saber que ele tinha tapado seu dente com um diamante. Foi

uma afetação ridícula e toda a cola que o mantinha no lugar não podia ser boa para a constituição. E parecia uma presa.

— Você quase matou um nobre do reino por afogamento em nosso viveiro de peixes.

— Isso é diferente! Eu...

— Esqueça, Rosalind. Eu estou ordenando como seu pai e o mais velho na Liga que você,

deixe isto para trás.

Eu abri minha boca para protestar, mesmo quando eu estava lutando contra as lágrimas

queimando nos meus olhos. Se tivesse chorado então ele nunca me levaria a sério novamente. Mas

eu queria, Evie. Eu realmente queria. Meu próprio pai sendo condescendente comigo e não

acreditando em minhas capacidades de Caçadora. O incidente com o Lord Hallbrook aconteceu há

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quase um ano. Estou destinada a sofrer por isso até estar de cabelos grisalhos e enrugada como

custard6 ensopado?

Antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, no entanto, minha mãe entrou na sala de

café em seu melhor vestido de dia, com renda na bainha. Papai olhou para mim em advertência e

depois sorriu para ela.

— Bom dia, meu amor. Você vai sair em visita hoje?

Mamãe sentou ao lado dele, aceitando uma xícara de café. — Vou percorrer as livrarias hoje;

querido. Com Beatrix e sua mãe. — acrescentou ela, para meu benefício.

— Excelente. Talvez você possa levar Rosalind com você. Ela esta claramente entediada e

precisa de algum tipo de diversão.

— Eu estava indo treinar hoje, papai. Com as adagas de arremesso.

— O seu tempo será mais adequado na companhia de sua mãe. — disse ele severamente.

Isto, Evie, é porque a minha mira com os punhais não está melhorando no ritmo que eu

gostaria. Não havia nada a ser feito, naquele momento. Passei o dia com Beatrix, pelo menos, isso

foi agradável. Ela raramente sai fora para a sociedade. Ela está se tornando uma reclusa, assim como

sua irmã mais velha. Mas ela parece feliz, mais feliz do que eu já a vi em qualquer baile ou musical. Contei-lhe tudo, é claro. E ela, pelo menos, como você, acreditou em mim. Ela prometeu escrever

cartas para os seus contatos e fazer qualquer pesquisa que eu possa precisar. Ela não é estritamente

de uma família de Caçadores, é claro, mas é decididamente inteligente e seu irmão esteve às margens

da Liga desde que voltou de viagem ao estrangeiro em seu décimo nono aniversário. Eu sei que você

não gosta particularmente dele, mas ele pode ser útil.

Na verdade, eu não sei onde eu estaria sem amigos tão leais. Porque está em nossas mãos

agora, Evangeline.

Estamos por nossa conta.

Sua amiga,

Rosalind

6Custard – sobremesa feita com ovos, açucar e leite. Um tipo de pudim que pode ser batido, fervido ou congelado. http://www.newscientist.com/blog/lastword/uploaded_images/070829_colour_custard-742173.jpg

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Cara Evie,

Você vai rir.

Eu tive a noite mais emocionante e não havia um único vampiro no lugar para ser encontrado.

A alvorada apenas se desdobra pela cidade, como lilás e pétalas de peônia espalhadas pelo

céu. A névoa paira baixo entre as árvores do Hyde Park e posso apenas imaginá-la à deriva sobre o

rio Tâmisa. Os pássaros estão cantando aos quatro ventos e os cisnes são como fantasmas

procurando as lagoas do parque. Mesmo os gatos nas vielas parecem gordos e satisfeitos. Você me

acha fantasiosa. Eu me sinto como se estivesse acordada pela primeira vez na minha vida e não

posso me imaginar agora voltando a adormecer.

Admito que a noite não tenha começado tão promissora. O musical foi horrível, mamãe

vibrou, porque não havia solteiros para me lançar em cima, e papai me olhava cada vez que eu

tentava me mexer na minha cadeira. Fiquei muito contente, quando eles decidiram ir a um jantar

privado com os amigos e me deixar em minha própria companhia. Fizeram-me prometer

solenemente que iria ficar em casa.

Ha.

Eu prometi, é claro, mas não fiz tal coisa. Não sou tão facilmente manipulável. Embora eu

não tivesse um plano. Eu me vesti como Robbie novamente, apenas por segurança. Nunca se sabe,

afinal de contas. Contratei um coche na rua e disse-lhe para dirigir lentamente através de Grosvenor

Square. Aconteceu de eu saber que o jantar privado que os meus pais estavam frequentando era um

assunto Hélios Ra na casa Honeychurch, e que o Lord Winterson compareceria. Eu não estava

inteiramente certa de o que estava procurando. Parecia improvável que um assassino iria escolher

uma festa em uma casa lotada no meio da noite com tanta gente indo para lá e para cá do lado de fora

da janela. Para não falar que eu tinha que me esconder do nosso próprio cocheiro, que esperava

debaixo de um dos lampiões novos a gás. Ainda assim, acho que eu pensei em me familiarizar com

as carruagens e os brasões dos convidados. Nós temos tão pouca informação, qualquer coisa ainda

pode ser útil.

Foi tão maçante como ver túmulos. Sentei-me, pelo menos, duas horas, sozinha, à deriva de

cima para baixo pela rua com o meu arco apoiado na janela, até o cocheiro reclamar e eu deixá-lo

parar na esquina. Eu ainda podia ver a porta da frente, mas, na verdade, eu estava me sentindo um

pouco inútil. Estava prestes a bater no teto para que ele soubesse que poderia sair da praça, quando

as rodas começaram a girar, no inicio devagar, depois pegando muita velocidade. Gritei para ele, mas

não obtive resposta. O carro guinou para o lado com os cavalos correndo a galope, alarmados para a

mancha de paralelepípedos da rua em que nós estávamos. Estava começando a me perguntar se eu

deveria estar preocupada.

E então enfiei a cabeça para fora da janela.

Definitivamente, eu deveria estar preocupada.

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Os cavalos corriam freneticamente, as rédeas caídas inutilmente sobre o banco onde o

cocheiro deveria estar sentado.

Onde, contudo ninguém estava sentado. Em vez disso, o cocheiro estava deitado em um

monte na calçada. E as lágrimas dele, Evie. Há definitivamente algo mal acontecendo.

A carruagem balançava e rangia com um entusiasmo perturbador. Eu nunca entendi a

propensão para acidentes de carruagens até agora. Os cavalos estavam loucos, como se tivessem sido

cutucados com uma vara afiada. Não demoraria muito para que entrassem em conflito com outra

carruagem, já que a rua estava bastante movimentada. Ou pior ainda, eles poderiam atropelar um

guarda noturno e como eu iria me explicar então, sozinha e em calças masculinas?

Foi uma benção dupla, quando os cavalos pularam a calçada e foram direto para o parque,

com a intenção, estou certa, de me chocar em alguma árvore complacente. O barulho súbito da

carruagem balançando tinha praticamente me feito morder a língua fazendo com que a minha cabeça

ficasse limpa.

Então eu me pendurei para fora da janela como qualquer heroína gótica digna de um

romance.

Realmente, o que mais eu podia fazer? Ajuda não vinha e eu não tive paciência para esperar

por ela, independentemente. E eu não gostaria de quebrar os dentes, ou a minha cabeça totalmente,

quando a carruagem finalmente caísse de seu eixo ou quebrasse uma roda. Pendurada para fora da

janela era muito fácil; mas, me contorcer o suficiente para agarrar o telhado era menos simples. Eu

estava extremamente grata por estar usando calças. Eu teria tombado nos arbustos se estivesse

vestindo um espartilho e um vestido de seda longo. Como eu estava, tinha um bocado de folhas de

carvalho e um tapa no rosto dado por uma árvore lilás.

Eu finalmente cheguei até o teto. Era surpreendentemente alto e desorientador, com o

empurrão do vento, o ranger das rodas, e o barulho de cascos. Eu mal conseguia levantar minha

cabeça enquanto agarrava o teto como um besouro em um vidro. Não podia ver muito, exceto as

árvores arremessadas quando eu passava.

Um homem a cavalo, de repente andava ao lado da carruagem. Seu chapéu tinha caído e as

capas de seu casaco voavam como asas de um corvo. — Você está louco? — Ele gritou. — Volte

para dentro!

Eu avancei para frente, a visão embaçada pelo ar correndo em minhas pálpebras. Eu estava ao

alcance do banco quando o homem saltou de seu cavalo e caiu com um baque debaixo de mim. Ele

estava alcançando as rédeas quando tropecei, caindo dura no assento. A garrafa de Gin do cocheiro

rolou, batendo no pé do homem. Ele puxou as rédeas, gritando instruções para os cavalos. Eles

finalmente pararam, de repente, o suficiente para que a carruagem derrapasse de lado começando

uma paragem lenta, se encostando a uma árvore de carvalho. Bolotas choveram sobre as nossas

cabeças. Os cavalos bufaram e pisotearam. Eu estava ofegante, meu coração como um martelo de

ferreiro batendo com grandes golpes contra a minha caixa torácica. Senti tonturas, meus joelhos

surpreendentemente fracos. Sentei-me com um baque.

— Caramba! — ele piscou para mim e então se curvou. — Senhorita Wild.

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Dante Cowan.

Claro.

Eu sei que você vai pensar que sou uma desmiolada quando eu disser que meu primeiro

pensamento foi que ele não gostaria de namorar uma louca como eu.

— Você está machucada? — Perguntou ele, passando as mãos por meus braços, os olhos se

arrastando em cima de mim.

— Lord Thornwood. — resmunguei, tentando não me inclinar sob o seu toque. Ele me faz

sentir positivamente desenfreada. — Você me perdoe se eu não fizer reverência.

— Acho que nós poderíamos dispensar títulos, não é? — disse ele secamente, aparentemente

convencido de que eu não tinha nenhum osso quebrado ou uma contusão. — Vendo como você é

obviamente insana.

— Desculpe?

Ele sorriu e não havia nada alegre nisso. Era escuro, perverso e afiado como qualquer adaga

que eu poderia ter libertado na minha pessoa. Eu poderia ter estacado um vampiro com a ponta da

mesma. Sua voz não era mais suave. — Que diabos você está fazendo numa carruagem em fuga no

meio da noite no Hyde Park, sozinha e vestindo calças obviamente grandes demais para você?

— Uma... brincadeira. Eu estava fazendo uma brincadeira e deu errado.

— Estou quase com medo de imaginar que brincadeira pode exigir que você coloque em

risco sua própria vida.

— É complicado...

— Eu tenho certeza que é. Você poderia ter sido morta, Rosalind.

Tentei um sorriso radiante. — Estou perfeitamente bem, obrigada.

— Você não deveria desmaiar ou chorar?

— Qual seria a utilidade disso? — perguntei intrigada. Honestamente, rapazes.

Seu sorriso se tornou torto e encantador. Tentador e pecaminoso como creme de chocolate. Na verdade, se tivesse sido isso, teria me dado uma dor de barriga.

— O que você estava realmente fazendo, Rosalind?

Eu quase lhe respondi, me inclinando ligeiramente quando ele o fez. Perigoso, esse sorriso.

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Escalei para fora do assento e fui para o chão, só para colocar um pouco de espaço entre nós. Não confio em mim plenamente. Há algo sobre ele, algo que faz a minha cabeça rodar. Eu verifiquei

os cavalos em busca de lesões, sentindo os seus olhos em mim o tempo todo.

— Eles não parecem mal. — eu disse, batendo uma mão na lateral. Ele estava suado e quente,

mas não se encolheu ou pulou para longe de mim. Na verdade, seu companheiro estava afastado

mastigando alegremente a grama. O próprio cavalo de Dante indo até se juntar a eles.

— Você teve muita sorte. — disse ele calmamente, inclinando-se para prender as rédeas de

seu cavalo na parte de trás da carruagem.

— Eu sei. — respondi, subindo de volta para me sentar ao lado dele. — Graças em grande

parte a você.

Ele balançou a cabeça. — Eu não conheço ninguém que pensaria em rastejar para o teto.

Dei de ombros. — Eu não poderia apenas sentar lá.

— Não, eu suponho que você não podia.

As estrelas estavam espessas e grilos cantavam na grama alta. Névoa pendurava entre os

galhos, como fumaça. Seu cabelo estava desgrenhado da perseguição, sua gravata torta. Poderíamos

ter estado sozinhos no mundo, exceto pelos ruídos suaves de animais de hábitos noturnos e com os

aromas das damas da noite exuberantes. Acho que ele poderia ter me beijado então, mas eu arruinei

inteiramente o momento.

— O cocheiro! — exclamei de repente.

Ele se afastou e eu gosto de pensar que ele estava um pouco decepcionado. — Então você

tinha um.

— Sim. — estremeci. — Eu o perdi de vista quando os cavalos se desgovernaram e ele estava

do lado da estrada em uma pilha. Espero que ele não esteja seriamente ferido. — tentei agarrar as

rédeas dele. — Apresse-se.

Ele não iria abrir mão do controle da carruagem, mas ele incitou os cavalos a uma caminhada,

guiando-os para fora do gramado e voltando para a rua. Haveria buracos terríveis na grama quando

viesse a luz. — Acho que você tem algo a me dizer sobre essa brincadeira. — disse ele

incisivamente.

— Não é nada demais — insisti.

— Rosalind.

— O quê?

— Você percebe, não é, que se o seu cocheiro foi derrubado da carruagem, provavelmente

foi uma ação deliberada?

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— Talvez ele tenha sido assaltado. Talvez.

Ele não parecia convencido. — Ou ele pode ter sido dirigido a você. Alguma vez você pensou

que, está se pavoneado sem proteção de qualquer tipo?

Eu pisquei para ele. — Não há razão para pensar assim. — eu disse.

Mesmo que houvesse qualquer razão para pensar assim.

Na verdade, eu estava terrivelmente convencida de que iria chegar à Câmara Municipal da

cidade e ouvir gritos ou o vigia noturno com seu apito. Talvez o assassino tivesse apenas me querido

fora do seu caminho para completar seus planos malignos. Eu não poderia dizer isso a Dante, é claro,

ele é um cavalheiro, afinal, e não tem noções de tais coisas. O pior que ele iria se preocupar é com

ladrões, não importa sobre os tipos de criaturas que nos foram ditas.

Estou feliz de informar que a Câmara Municipal estava iluminada e cheia de música e risos,

com pouquíssima atividade suspeita a recomendá-lo. Nisso pelo menos, eu não falhei.

Mesmo o cocheiro estava relativamente bem, com apenas uma cabeça dolorida e uma testa

ferida. Ele concordou com Dante que deve ter sido um ladrão que o empurrou por algumas moedas,

mas ele não conseguia se lembrar claramente. Ele achava que poderia ter sido um homem, bem

vestido. Ele deve ter uma velocidade sobrenatural para evitar os outros inúmeros cocheiros na

estrada.

Você vai me perdoar se eu pular para a conclusão mais óbvia.

Um vampiro, claro. E talvez mesmo de Vauxhall! Eu não acho que está fora do reino do

possível.

Dei ao cocheiro moedas extra, mas ele ainda se recusava a me levar para casa. Ele murmurou

algo sobre ir direto para o primeiro botequim que pudesse encontrar fora de Mayfair. Eu não acho

que ele estará nas vizinhanças novamente por algum tempo. Dante muito gentilmente se ofereceu

para me levar para casa, mesmo que ele só tivesse o seu cavalo. Aceitei a mão enluvada e ele me

puxou na sela diante dele. Ele me embalou muito suavemente contra o peito e a pequena viagem para

casa foi curta demais. O sol estava começando a deixar uma fraca cicatriz no céu acima dos prédios e

das árvores quando Dante se precipitou para fora de sua montaria.

— Não seria bom para você eu ser visto. — explicou ele, empurrando-me para a árvore no

limite da nossa rua. As aves estavam começando a cantar a partir das chaminés. O primeiro dos

servos apareceria em breve, e as entregas começariam a chegar na porta traseira.

— Pode entrar sem acordar a família? — Ele me perguntou.

— Claro. — zombei. Ele realmente sabia que eu poderia fazer.

— Isso não acabou. — ele me prometeu suavemente. — Eu tenho a intenção de descobrir

todos os seus segredos, Rosalind.

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Estremeci um pouco mesmo estando quente, o ar de verão se aglomerando entre as casas. Ele

fechou a distância entre nós e em seguida colocou a boca sobre a minha. Esmaguei a frente do seu

casaco em minhas mãos, beijando-o de volta. Juro que eu poderia ter ficado ali até que a neve viesse,

com seus lábios nos meus, suas mãos no meu cabelo, o peito pressionado contra o meu.

Foi perfeito. E muito cedo. No momento em que o sol enviou suas primeiras flechas de luz,

ele já estava galopando pela estrada e fora de vista.

Você acha que isso significa que ele está me cortejando agora? Devo chamá-lo de meu

namorado? Eu não quero perguntar a ele, mas a curiosidade é enlouquecedora.

Volte para casa logo, Evie.

Tenho a sensação de que vou precisar de você desesperadamente.

Atenciosamente,

Rosalind

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Cara Evangeline,

Eu nunca me senti assim antes.

Sempre rolei os olhos para aquelas meninas que suspiram e vibram e não param de falar de

seus belos alfinetes de gravata ou o comprimento arrojado de suas costeletas. Não tenha medo, eu

não tenho nenhuma intenção de vibrar, mas temo que eu realmente deva lhe dizer sobre Dante ou

então certamente vou estourar. No interesse de não encontrar pedaços de sua amiga mais querida por

todo o sofá, eu te imploro para me segurar. Acho que eu poderia falar com Eleanor, ela certamente

sabe sobre essas coisas, mas seria insuportável. Além disso, é seu dever como uma verdadeira amiga. Então, você vê; você deve simplesmente suportá-lo.

Esta manhã, o vestíbulo estava cheio de flores. Havia pelo menos três dúzias de rosas, todas

de Percy, pobre coitado. É como comparar leite com uísque. Havia também tulipas, de algum

homem que está mais interessado no meu dote. Os caçadores de fortuna estão nesta temporada com

alguma falta de sutileza. Eles quase perguntam quantas ovelhas a propriedade de papai pode

suportar.

Todas essas flores poderiam muito bem ter sido feitas de papel ao lado do presente de Dante. Eu admito, no começo achei o vaso de porcelana chinesa um pouco estranho. Mais estranho ainda o

fato de que parecia haver um galho saindo dela, sem nenhuma flor para ser encontrada em qualquer

lugar. Após uma observação mais atenta, no entanto, pendia um broto verde pálido da ponta do

galho. A nota explicava que era uma rara orquídea roxa, pronta a florescer em breve. Depois ele

voltaria a ser um galho. Mas se eu a mantivesse na estufa depois regasse fielmente, havia a promessa

de que iria florescer algumas vezes por ano durante muitos anos. É delicioso não? Mal posso esperar

para vê-la. Eu a coloquei no peitoril da janela da minha cama.

Eu esperava que ele viesse me chamar à tarde, mas nunca o fez. Percy, é claro, era

perfeitamente pontual e perfeitamente educado, ele e mamãe estavam tão satisfeitos um com o outro

que eu considerava fortemente escalar para fora da janela. Especialmente quando mamãe lhe

prometeu a minha primeira dança no baile da família.

Procurei por Dante no Hyde Park até que eu tive uma cãibra no pescoço, e Beatrix me

perguntou se estava pensando em entrar para o circo como contorcionista. Ele não estava na ceia de

Taylor, que foi um desfile interminavelmente longo e maçante de lagostas, geleias e linguas de

cordeiro. Eu, particularmente, comi o pudim.

Ele não estava no teatro também, e eu usei meus óculos de ópera para ver cada membro da

plateia não desprezível. (Na mesma nota, devemos considerar o recrutamento da viúva Dewbury para

nossas fileiras. Ela possui habilidades estranhas quando se trata de fofoca. Além disso, Lady

Mayford poderia muito bem ser um vampiro. Ou então ela deveria falar com sua empregada sobre a

aplicação exagerada do pó facial. Vale a pena uma investigação mais aprofundada.)

A noite não era toda frivolidade. Lord Winterson esteve presente e eu pude ver quem entrava

e saia de seu camarote durante os intervalos, mas infelizmente sem suspeitos ainda. Vou ter de me

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esforçar mais. Estava me sentindo um pouco desapontada quando os entretenimentos da noite tinham

acabado e eu estava nas minhas roupas de dormir, admirando a minha brevemente - orquídea sem

uma única palavra de seu doador, até os grilos fizeram uma pausa em seu ritual de orquestra

abruptamente o suficiente para me fazer olhar para fora da janela, para os jardins.

Para Dante.

Ele ficou sobre as lajes, ousado devo dizer, sorrindo para mim. O luar tocou-lhe o lenço

branco na camisa, como se ele fosse brilhante. Ele era toda a luz e as sombras movediças.

Puxei para abrir minha janela e me debrucei. —Você está maluco? — sussurrei.

Ele se curvou de maneira extravagante, profundamente, seu cabelo escuro desgrenhado

caindo sobre a testa. — Tal poesia, minha senhora.

— Silêncio! Meus pais vão te ouvir.

Ele se endireitou, ainda sorrindo. — Todas as janelas estão escuras.

Inclinei-me mais para fora, torci o pescoço para dar uma olhada. Satisfeita, virei para ele. —

Espere aí. — eu disse. Eu nem sequer me preocupei com chinelos ou uma vela, em vez disso corri

escada abaixo, deslizando pelo corrimão e cai no jardim com meus pés descalços. Felizmente as

pedras estavam ainda quentes do sol e a brisa estava pesada com o verão. Eu não podia vê-lo em

qualquer lugar. Segui o caminho em torno de um bosque de avelã retorcida e roseiras. Ele se afastou

do abraço do velho carvalho, com tal graça deliberada e calculada, quase não o vi passar. Eu só sabia

que estava sendo puxada de repente para as sombras com esvoaçantes fitas de renda. Ele me prendeu

contra o tronco coberto de musgo, a mão sobre minha boca para me calar, seus olhos verdes

impossivelmente mais verdes, mais até que as folhas de carvalho.

Eu tinha que tentar fortemente não ceder a minha formação e chutá-lo. Flerte é mais difícil do

que parece.

— Perdão. — ele murmurou tão perto que eu podia sentir o cheiro de licor de cereja em seu

hálito. Ele aliviou a mão. — Eu não queria que você ficasse surpreendida e gritasse, nos delatando.

— Eu sou feita de mais fibra do que isso. — zombei.

— Sim, eu esqueço. Você gosta de sentar em tetos de carruagens em fuga. — ele brincou. —

Uma menina deve ter um hobby, depois de tudo.

Eu poderia tê-lo empurrado, se quisesse. Talvez fosse por isso que eu não o fiz. Sou sempre

do contra, como você sabe. Mas naquele momento eu estava contente em ficar onde estava; apertada

entre uma árvore antiga e um belo rapaz, de sobrecasaca cinza escuro. Havia bolotas sob nossos pés

e o luar derramava como chuva entre os ramos. Meu estômago estava cheio de beija-flores

esvoaçantes; delicado, frenético, e fazendo cócegas. Seu sorriso era torto e solene.

— Rosalind. — ele disse suavemente. — Eu nunca conheci uma garota como você.

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Ele não foi o primeiro a dizê-lo, mas foi definitivamente o primeiro a dizê-lo com um toque

de reverência. Ele fez minha garganta inchar um pouco, por ser olhada assim desta forma. Estou

muito acostumada a ser acusada de ser turbulenta e obstinada e teimosa. Sou todas essas coisas,

orgulhosamente, mas é bom às vezes ser encarada como se você fosse mais preciosa do que qualquer

debutante com blushes de donzela. Acho que nós duas sabemos que eu nunca tive domínio no truque

de corar. Mas ele não se importava, Evie. Ele gosta de mim como eu sou. Posso simplesmente dizer.

— Minha mãe teria aceitado Percy. — eu disse-lhe baixinho. Eu não queria jogos e não

queria que ele o ouvisse em outro lugar como verdade, quando certamente não é. Eu tenho lido

muitos romances para permitir um mal-entendido.

— E você aceitaria isso? — balancei a cabeça. Ele se inclinou para mais perto, a sua grande

mão espalmada sobre o tronco descascando sob minha cabeça. — Então eu não devo me preocupar

com esse covarde. — Ele estava tão perto agora que seus lábios se moviam sobre os meus quando ele

falou, de forma tão leve que eu poderia ter imaginado. — E você me aceitaria?

— Sim. — eu disse, porque simplesmente não havia outra resposta.

E então ele estava me beijando e simplesmente não havia nenhum pensamento.

Ele levou seu tempo, provando lentamente, tão lentamente. Beijei-o de volta com insistência,

correndo minha língua sobre seu lábio inferior. Ele me puxou para frente, para que eu pudesse sentir

os botões de prata presos nos bolsos de seu casaco em minhas costelas. Sua boca percorreu

lentamente, como se me provasse, como se eu fosse uma sobremesa deliciosa que ele tinha roubado

da melhor cozinha do palácio real. Ele beijou a minha mandíbula e ao longo do meu pescoço

inclinando minha cabeça para trás, levando um punhado de meu cabelo na mão e puxando-o de suas

presilhas. Eu tive que segurá-lo firme nos ombros, amassando seu fino casaco. Eu teria derretido de

outra forma, senti meus joelhos fracos.

Nós nos afastamos, ofegantes. Não havia nada, mas seus olhos, as maçãs do rosto graves, e

sua boca séria. E então ele me soltou.

— Você é muito boa para mim. — disse ele com pouco mais que um sussurro, antes de passar

através da árvore lilás e pular para cima do muro do jardim de pedra. Ele ficou lá por um longo

momento, seu olhar queimando dentro de mim. Então, ele se inclinou e foi embora.

Sua vertiginosa,

Rosalind

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Cara Evangeline,

A noite começou praticamente como eu tinha planejado.

O que significa, é claro, que não precisa terminar como o planejado.

Escapei sorrateiramente depois do baile em Middleton vestida com a minha calça e camisa

emprestadas. Juro que tive mais a oportunidade de usá-los que qualquer um dos meus vestidos finos. Mesmo Beatrix não me reconheceu imediatamente. Ela teve um bom começo quando subiu no carro

alugado e me encontrou descansando em minhas botas e colete. Vou dar-lhe crédito por não gritar,

mas ela jogou uma bolsinha em minha cabeça quando percebeu que era eu rindo a distância, na luz

da lanterna. Sua bolsinha era extraordinariamente pesada com todas essas revistas e livros, que

insiste em carregar com ela em todos os lugares. Mas, uma vez que essa é parte da razão pela qual eu

a estava levando sob a minha confiança, não vou reclamar.

Paguei ao cocheiro da carruagem generosamente desta vez, com o dinheiro do meu último

pingente para nos levar rumo à estrada da cidade e para a casa Winterson, escondida atrás daquela

árvore olmo para que não fosse imediatamente óbvio e ainda tivesse uma boa visão da porta da frente

e do beco. Parece bobagem, uma vez que é menos do que uma caminhada de dez minutos da minha

casa para a deles, mas nós sentimos que seria melhor nos escondermos na carruagem. O parque

estava cheio de coches e eu não tive tempo de classificá-los todos por fora, enquanto nós

espionávamos a casa de um conde. Além disso, estava chovendo. Você sabe como Beatrix se sente

sobre a chuva. Eu não ficaria surpresa se ela se mudasse para o Egito um dia, ou para algum lugar

igualmente exótico e quente. Mas hoje tudo que eu tinha para oferecer a ela era uma carruagem com

almofadas desgastadas e o cheiro de gim e perfume de rosa.

Vigiamos a casa Winterson durante uma hora inteira antes de as velas serem acesas na sala da

frente. Elas devem ter sido apagadas em algum jantar ou ocasião, onde pelo menos tinham a

segurança dos números. Era tarde da noite quando todos já haviam procurado os seus leitos e até

mesmo os cavalos estavam dormindo.

Meu pai vai ouvir mais de minhas advertências. Ele não está sendo cooperativo sobre todo o

assunto. Eu até paguei um varredor de rua para entregar uma carta anônima ao Lord Winterson

advertindo-o da conspiração contra sua vida.

Nada.

Não notei nenhum aumento da segurança, sem guarda-costas, e nem um único Bow Street

Runner7 à espreita nas proximidades. No entanto, eu sei que pelo menos ele leu minha carta, porque

a notícia se espalhou. Ele nem sequer levou a sério, especialmente desde que papai lhe disse que

tinha a certeza que eu a enviei. Dizer que papai está descontente é um eufemismo. Nunca o vi ficar

nesse determinado tom violeta antes. Ele me criticou por meia hora inteira antes de mamãe lhe dar

um conhaque e ordenar que parasse de colocar sua saúde em risco. Parecia como se seu coração

7Espécie de vigilante particular.

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estivesse em perigo de parar. Mesmo o lacaio parecia preocupado, demorando para sair da sala de

estar.

Evie, meu pai me acusou de envergonhá-lo e fazer uma piada do nome Wild e da própria

Liga. Eu acho a maior injustiça. Só tentei ser um trunfo para a Liga, ser uma boa Caçadora. Mas eles

não querem nada disso. Eles querem que nós reverenciemos e valsemos e façamos um bom

casamento e apareçamos em ocasiões especiais como curiosidades. Eles realmente não querem que

sejamos valiosas no esforço de guerra. Não quando os faz parecer menos úteis, menos onipotentes.

Não sei o que fazer. Não pode continuar assim. Eu não vou ter nossos dons desperdiçados,

Evie. Seria uma vantagem ter Caçadores do sexo feminino. Pense nos lugares que podemos ir que os

homens não podem! Pense na fofoca que ouvimos, os sussurros de fim de noite, o olho de águia de

matronas com certas filhas de idades casadoiras.

Tudo isso poderia ser uma arma. Será uma arma. Vou mostrar a ele.

Beatrix contou-me histórias enquanto esperávamos, sobre as sociedades secretas para

senhoras. Ela está convencida de que certos salões literários parisienses eram realmente as

sociedades de mulheres que afetam a mudança política nos bastidores. Ela me contou sobre algumas

tribos na África, onde as mulheres se reúnem para cerimônias secretas e as sacerdotisas de Bona

Dea8 na Roma antiga, que se reuniram para rituais proibidos aos homens! E as amazonas, é claro,

que lutaram com espadas contra os guerreiros, como Hércules.

Pense nas possibilidades! Não envia um arrepio delicioso de potencial para sua coluna? Eu

me pergunto como podemos fazer algo semelhante. Certamente há realmente talento e inteligência

suficiente entre você, Beatrix e eu para fazer a diferença. Existem outras filhas da Liga, talvez elas

possam gostar da chance de colocar para fora seus dons latentes, se lhes fosse oferecido? Admito que

não consigo parar de pensar nisso.

Foi um longo tempo antes de os Winterson’s voltarem para casa e o mordomo abrir a porta e

o cocheiro levar os cavalos e a carruagem para fora da rua e para os estábulos. A luz das velas viajou

no andar de cima e foi apagada e, finalmente, a casa ficava nas sombras cinzentas enevoadas de uma

noite de verão de Londres. O cocheiro da nossa própria carruagem estava muito calado, sem dúvida,

adormecido em seu poleiro, o que nos servia bem. Nós não tínhamos nenhum desejo de perguntas

embaraçosas. Eu só queria ter certeza que Lord Winterson estava seguro, para familiarizar-me com a

sua casa à noite, e para ver onde o perigo podia espreitar. Eu já estava bastante desconfiada da sebe

de teixos junto à entrada de serviço. Uma família de quatro pessoas poderia confortavelmente se

esconder lá sem ninguém saber. Certamente, um assassino pode usá-lo para se proteger?

Beatrix finalmente adormeceu. Tínhamos compartilhado mais de uma garrafa de xerez entre

nós para nos manter quentes e você sabe como ela é rapidamente afetada. Sua cabeça estava

inclinada em um ângulo muito alarmante, então eu sinalizei para a próxima carruagem passando e

acordei-a para enviá-la a sua casa. Ela teria protestado, tenho certeza, mas estava muito tonta e

confusa, e quando recuperou suas faculdades habituais, o coche contratado já havia se afastado em

direção a sua casa. Não havia sentido em nós duas ficarmos desconfortáveis e acordadas, não tão

perto do amanhecer, quando as ruas estavam repletas com servos e nobres. Certamente um deles

podia ser confiável para vir em socorro de Lord Winterson. Eu não posso esperar fazer tudo sozinha.

8“Boa Deusa" - é uma deusa romana da fertilidade e virgindade, especialmente venerada pelas matronas romanas.

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E certamente não sob estas condições deploráveis. Meu próprio pai está agora reduzido a ranger os

dentes sempre que me vê. Nunca diga que eu não tenha me sacrificado para o bem da Liga.

Admito que eu estava me sentindo orgulhosa e um pouco triste quando uma sombra saiu da

sebe de teixos da qual eu originalmente havia suspeitado. Eu não teria visto ele se eu não estivesse

observando aquela direção em particular. Estava tão escuro e as névoas começaram a envolver as

vielas. Mas as sebes farfalhavam e não havia vento.

E então a porta dos criados abriu, ainda que não houvesse ninguém lá. Ninguém discernível,

de qualquer forma.

Vampiro.

Nada mais pode se mover tão rápido, como se ele não estivesse lá.

A luz só queimava a esquerda do corredor, o andar de cima estava apagado. Ele estava muito

perto do quarto do Winterson. Eu não tinha tempo de correr e detê-lo. Eu nem sequer realmente tinha

tempo para pedir ajuda. Então fiz a única coisa que conseguia pensar, dadas às circunstâncias. Saí do

carro e peguei uma grande pedra do tamanho da palma da minha mão que estava ancorando uma

grande samambaia da urna de bronze de algum vizinho amável.

Joguei o mais forte que podia. Houve a quebra muito gratificante de uma janela inferior e o

vidro brilhante do peitoril caiu sobre as roseiras. O cocheiro acordou de repente com um "Oi!" Mas

eu já estava de volta para dentro, no assento gasto. Velas foram acesas na casa e na casa ao lado

também. Havia um rosto pálido em uma janela, os olhos queimando. Eu não estou exagerando. Podia ver claramente, Evie. A maneira como ele olhou para baixo e diretamente para mim, como se

pudesse me ver pela janela da carruagem.

E eu podia vê-lo. Ele escorregou para fora da janela e jogou-se para o telhado como um

acrobata.

— Vá. — gritei para o cocheiro que me atendeu de boa vontade, não querendo ser uma

testemunha quando a nobreza descontente começasse a sair de seus quartos em suas roupas de

dormir.

Porque eu conhecia aquele rosto, Evie, mesmo correndo ao longo dos telhados ao lado do

carro.

Eu estava certa. Vampiro.

Também?

Dante Cowan.

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Cara Evangeline,

Lamento ter terminado a última carta de forma tão abrupta. Eu sei que você ficou aborrecida,

mas não pude ordenar corretamente os meus pensamentos. Ainda não posso, verdade seja dita. Parece inacreditável que Dante Cowan seja um vampiro. Ele é filho de um Conde, pelo amor de

Deus! E ninguém mencionou que ele morreu. Na verdade, ele valsou habilmente demais para um

das legiões de mortos-vivos sugadores de sangue. Eu me pergunto agora o que aconteceu com ele em

sua Grande Viagem. Dizem que uma viagem muda um homem, mas eu tenho certeza que não se

referem a este tipo de transformação.

Oh, Evie, eu gostava dele. Prefiro achar que poderíamos fazer um acordo com ele. Pareceu-

me que poderia fazer uma oferta e que eu teria aceitado. Poderíamos ter passeado em Rotten Row, no

Hyde Park, assistido os acrobatas de cavalos no Anfiteatro Astley, beijado sob a lua, as mãos

escondidas debaixo da mesa do jantar. Agora nada disso pode ser possível. Não. Eu não posso ser

sentimental ao pensar e ficar de mau humor. Ele é o que é.

Oh, mas ele é encantador e bonito e tem um sorriso malicioso que faz com que meus joelhos

tremam. Fez meus joelhos tremerem, eu diria.

Vampiros fazem o meu estômago pular, depois de tudo.

Certo?

Inferno e danação.Quando tudo ficou tão malditamente complicado? Não posso nem me

sentir vingada por interrompeu um ataque contra o chefe da Helios-Ra. Não posso ir até papai com

esta prova de que o Lord Winterson está em perigo. Eu só tenho que dizer sobre Dante Cowan para o

papai me trancar no meu quarto pelo resto da temporada. Ele pensaria que fiquei completamente

louca, mais ainda do que já acha.

Mal sei o que pensar. Eu queria que você estivesse aqui. Mas talvez o melhor seja que você

não esteja contaminada por essa loucura. Não precisa me censurar por isso, estou perfeitamente

justificada. Você e eu sabemos que se eu continuar com isso, estarei arruinada.

Fiz meu juramento para a Liga, para defender a humanidade contra os vampiros, depois de

tudo. E Dante é um vampiro.

Conheço o meu dever.

Rosalind

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Cara Evangeline,

Devo estar perdendo a cabeça.

Sei que você vai concordar. Saí de casa pouco antes do pôr do sol, alegando outro passeio

com Beatrix. Se nossas mães alguma vez discutissem algo além de vestidos de seda e solteirões

elegíveis, suas filhas estariam em sérios problemas. Como é, ambas estavam distraídas demais.

Ironicamente, minha mãe notou meu tête-à-tête9 com Dante. Talvez ela saiba que estou saindo por aí,

mas prefira fazer vista grossa. Ele é filho de um Conde, afinal, e faria um genro credível a seus

olhos, tão bom quanto Percy. Se ela ao menos soubesse a verdade.

Pedi dinheiro emprestado a Justin sem dizer-lhe para que e depois aluguei uma carruagem de

novo, não querendo que nossa carruagem de família fosse reconhecida na rua do lado de fora dos

alojamentos de um solteirão. Um Caçador sem uma reputação não é Caçador absolutamente. De que

outra forma eu conseguiria admissão para as salas de visitas e salões de baile que incham com

fofocas todas as noites? Tenho de pensar à frente. Tenho de planejar e preparar e fazer o meu dever.

Esta é a ladainha que passou pela minha cabeça enquanto retumbávamos pelas estradas, cocheiros

gritando com uma doce menina que saiu da calçada sem olhar, cães latindo, cavalheiros rindo e

levantando seus chapéus para finas damas.

Tudo parecia tão comum. Apenas outra tarde de verão em Londres. Atrás das janelas da Praça

Grosvenor e dos bairros anexos, mulheres estavam tomando banho com sabão de pétala de rosa,

criadas estavam aplicando ferros quentes para cachos ou esfregando manchas das anáguas.

Manobristas estavam preparando coletes de seda e inspecionando gravatas. Mordomos estavam

repreendendo cozinheiros franceses, governantas estavam correndo com seu trabalho, garotas

estavam sonhando com a valsa.

Exceto que atrás de uma janela, a janela acima da porta da minha carruagem, um vampiro

dormia.

Admito que eu me sentei na carruagem por um tempo excessivamente longo. O cocheiro

bateu no telhado impacientemente. — Senhorita, você está bem?

— Muito bem, obrigada. — Deslizei para fora porque não havia mais nada a ser feito. — Por

favor, aguarde na esquina.

Ele me olhou com malícia, pensando que sabia exatamente o que eu estava fazendo. Eu sabia

perfeitamente que era inaceitável para uma dama visitar um homem, sem falar que era em seu

alojamento de solteiro. Mas medidas desesperadas foram pedidas, Evangeline. E eu tinha um véu

puxado para baixo do meu pequeno chapéu de equitação para obscurecer minhas feições. Usava um

vestido de dia de musselina com pregas, minha bolsinha de veludo favorita guardava três estacas

finas, e eu tinha uma balestra amarrada às minhas costas sob meu manto. Era muito desconfortável,

mas não iria chamar ainda mais atenção para mim mesma com calças. Eu não sabia a maneira de

contornar a casa e estava certa que o proprietário me reconheceria como um intruso. Era quase hora

9

Francês: conversa particular.

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do jantar, afinal, sem sombras nas quais me esconder.

Fui pela viela e dei a volta para os fundos. Os cavalariços estavam ocupados com os cavalos,

as criadas estavam na cozinha ou entregando chá e biscoitos por toda a casa. Deslizei em uma

entrada lateral e subi apressada pelas escadas dos fundos, com cuidado para manter o meu rosto

escondido. Meu coração estava batendo como tiros de canhão contra a barricada de minhas costelas.

Eu me sentia doente.

Mas estava bastante determinada a pôr fim em Dante Cowan. Então talvez meu pai pudesse

se orgulhar de mim e eu pudesse reclamar meu lugar de direito dentro da Liga. Que importância

tinha se Dante invadia cada pensamento meu, se ele me fazia aquecida por toda parte e com falta de

ar. Sensibilidades não têm lugar na vida de um Caçador.

Andei pelo corredor, imaginando que porta me conduziria a ele. As arandelas de parede

estavam bem polidas, o piso varrido. Podia sentir o cheiro de óleo de limão, ouvir os passos de

alguém descendo pelas escadas. Todas as portas pareciam iguais.

Eu me virei em meu calcanhar, franzindo a testa. Esta era a tentativa mais patética e

facilmente frustrada de livrar o mundo do mal. Uma das portas abriu-se e rodopiei para enfrentá-la.

— Hey, amor, quem você está procurando?

Reconheci Jared Peabody, mesmo com seu cabelo amarrotado e sua gravata torta. Havia

barba por fazer em seu queixo e um copo de vinho tinto pendendo negligentemente de seus dedos.

Clareei a garganta e tentei disfarçar minha voz tornando-a rouca. Eu provavelmente soava

como se estivesse ficando doente com um caso de garganta ruim. — Senhor Cowan.

Suas sobrancelhas levantaram com surpresa. — Ele não costuma pedir uma prostituta. — Eu

dificilmente podia me ofender ao ser considerada uma mulher de vida fácil. De qualquer forma, o

que importava agora? — Bastardo sortudo tem um jeito com as mulheres, mesmo as de fantasia. —

Ele esvaziou o copo com um suspiro pesaroso exagerado. — Ah, bem, o que é um Baronete para o

filho de um Conde, eh? Ele está por ali, ao lado do salão verde.

Ele me observou ir embora. Fui lentamente, fingindo brincar com o laço da minha bota.

Esperei até que ouvi sua porta fechar antes de parar na frente dos cômodos de Dante. Tentei a

maçaneta, mas estava trancada, como esperado. Ele era um vampiro, não um idiota.

Apressei-me até o salão e saí para a sacada estreita. Providência estava finalmente sorrindo

para mim, pois os quartos tinham vista para os fundos da casa e Dante tinha sua própria sacada, a

nem um metro de distância. Tive que descartar meu manto e amarrar minhas saias em nós em ambos

os lados para liberar minhas pernas. Pendurei minha bolsinha firmemente contra um ombro e minha

balestra sobre o outro.

Levou algumas manobras, mas finalmente fui capaz de ficar sobre o parapeito de ferro do

salão e balançar minha outra perna por cima da outra sacada, até que eu estava escarranchada em

ambas. Meu vestido estava preso em meus quadris, meu rosto vermelho com o esforço, e eu estava

grunhindo como uma porca no seu jantar. Estou profundamente contente que ninguém olhou para

cima para me ver lá. Preciso treinar mais duramente para tal circunstância no futuro!

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Eu estava finalmente em segurança sobre a outra sacada, meus músculos do braço tensos.

Descobri que não sou nem um pouco afeiçoada a alturas. Estava levemente tonta por um instante e

meus joelhos se sentiam estranhos, como geleia.

As portas da sacada de Dante tinham sido decoradas com painéis de vidro em algum

momento, mas agora estavam cobertas com madeira escura. Quebrei a fechadura embora tenha

levado várias tentativas. As portas rangeram ligeiramente quando se separaram e eu fui envolta em

grossas, escuras cortinas de veludo. Espiei dentro com muito cuidado, vi o mobiliário habitual

agrupado em torno da lareira, o relógio na cornija, o lavatório feito de mogno e com toalhas limpas

de linho penduradas. Havia a porta de entrada e então outra porta, fechada e trancada, levando para o

quarto.

Tudo estava quieto. Não era o quieto habitual, quando você sabe que alguém está em casa

mesmo que eles não estejam sendo indisciplinados de qualquer forma. Isto era diferente. Você vai

me achar dramática, mas a qualidade do silêncio era diferente quando havia um ser humano dentro

sem um coração batendo, sem fôlego de qualquer tipo. Calafrios percorreram ao longo da minha

espinha, como camundongos capturados na despensa.

Arrombei a fechadura do quarto com um grampo de cabelo e ela foi mais complacente do que

a fechadura da sacada tinha sido. Dentro, tudo eram sombras escuras. As cortinas eram ainda mais

grossas e presas perto da parede e outro conjunto de brocado pesado, cor de ameixa pendia da cama

de dossel. Ele criara uma espécie de caverna, segura e privada. Não era o suficiente para impedir a

entrada de um Caçador experiente, mas então, ninguém tinha um vislumbre de suspeita de que ele

era qualquer coisa além de um cavalheiro mimado em casa, vindo de suas viagens ao exterior. Ele

ficou fora a noite toda e dormiu o dia inteiro, com certeza, mas assim fazia a maioria dos outros. Era

fácil o suficiente não ser notado, desde que um deles fosse visto nos bailes e festas certas. Arrastei-

me ainda mais perto e abri as cortinas, afrouxando os pingentes de prata.

Dante estava ali, estendido de costas, sem camisa. Seu peito era pálido como a luz das

estrelas. Um braço estava jogado sobre a testa, como se temesse a luz do sol mesmo em seu sono

profundo. Seu cabelo caía em cachos suaves sobre o travesseiro branco e havia uma ligeira cicatriz

em sua garganta, geralmente escondida por seu colarinho engomado e gravata. Eram pontos de

perfuração, já brilhantes, como se tivessem curado anos atrás. Eu sabia que eram mais recentes do

que isso.

Não era culpa dele, você sabe. Ele é uma vítima, tão certamente quanto é um monstro.

A estaca estava pesada em minha mão.

Poderia ter ajudado se ele fosse feio de alguma forma, se sua boca fosse cruel ou ele cheirasse

a repolho cozido. Sua boca era perversa, sensual. E ele cheirava a sabão de sândalo.

Muito injusto.

Você vai me achar desonrosa, mas eu não queria matá-lo, Evangeline. Eu sou fraca.

Ele mentiu para mim. Ele espreita na noite e bebe das donzelas até secar e ainda assim eu... o

amo. Há uma só maneira de curar tal aflição, como uma doença. Você deve cortar a enfermidade de

seu corpo, como um parasita. Não deve ser permitido afundar em sua carne e seus ossos e alterar seu

próprio eu.

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Não deve.

Passei tanto tempo indecisa e fascinada por sua beleza obscura como um cérebro de ervilha

que nunca percebi o ajuste do sol. Não houve nenhuma mudança na luz, nenhum alongamento de

sombras para me avisar. O quarto estava protegido demais para isso.

Havia apenas um vampiro adormecido acordando repentinamente, quase louco de fome.

Isso não é um exagero, Evangeline. Por um longo momento eu não o reconheci. Seus olhos

ficaram prateados, suas presas se afiaram e brilharam. Ele estava faminto e eu estava lá no meu lindo

vestido como um bolo em uma bandeja de sobremesa. Ele se levantou da cama e eu tropecei para

trás, dedo no gatilho do arco. Houve o barulho de metal e o rangido da estrutura da cama enquanto

ela protestava contra o peso dele. Ele atirou-se para mim, rosnando.

Mas nunca me tocou.

As correntes em um dos pulsos dele, escondidas sob a borda do travesseiro, que até então eu

não tinha notado, o prenderam como uma mariposa em uma placa. E eu era a chama.

Ele quase choramingou com sede. Lágrimas queimaram meus olhos. Ele estava sofrendo,

Evie, e sofrendo intensamente. Ninguém jamais menciona essa parte. Mas eu não vou esquecer. Não

poderia, nem se tentasse. Alguma força interior o fez ficar imóvel, tão repentinamente quanto havia

explodido em movimento. A mudança foi vertiginosa. Assim como o rouco, quase terno no tom de

sua voz. — Rosalind?

Eu assenti bruscamente.

— Rosalind, sua tola, vá para casa!

Levantei meu queixo. — Certamente não.

Ele rosnou novamente e se lançou para a mesa lateral, correntes de ferro chacoalhando.

Levantou uma jarra com as duas mãos e bebeu com avidez. Como você deve saber, não era vinho. O

cheiro de sangue era acobreado, perturbador. Ele o bebeu como se fosse o mais fino conhaque, a

mais quente cidra com especiarias no mais frio dia. Apesar de mim mesma, fiquei intrigada e acendi

uma das velas. O assobio do pavio pegando e a explosão de luz o fez levantar os ombros, como um

animal protegendo sua matança. Quando tinha se fartado, a jarra estava vazia e pegajosa. Ele jogou-a

de lado, limpando a boca. Quando se virou para olhar para mim de pé na piscina de luz de velas,

havia ódio por si mesmo em seus olhos, agora apenas cinza e não prata.

— Você não deveria estar aqui. — ele disse.

— Eu sei. — concordei.

— Você veio me matar? — Ele abriu bem os braços, expondo seu peito nu. Eu podia ver a

linha de suas costelas, os músculos se movendo sob a pele. — Vá em frente, então.

Ele estava zombando de mim. Ou dele mesmo. Eu não estava exatamente certa de qual.

— O que faz você pensar que eu não vou te matar onde você está? — exigi suavemente.

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Ele pareceu divertido. — Rosalind, você não é o tipo de estacar um homem desarmado,

vampiro ou não.

Que se dane, ele estava certo. Eu não sabia o que fazer, embora devesse ter sido

dolorosamente claro. Em vez disso, era apenas doloroso.

— Já que você não vai me estacar, poderia me soltar.

Estreitei meus olhos. — Eu prefiro você como você está.

Ele deu um meio sorriso. — Por favor.

Inclinei a cabeça, curiosa apesar de mim mesma. — O que você faria se eu não estivesse

aqui?

— Sabia que você viria. — ele admitiu. — Mas eu me acorrento todas as manhãs, apenas no

caso. Avisei a governanta e as criadas para não me perturbarem, mas não posso confiar em sua

discrição. Não quando eu acordo. Eu não sou... seguro.

— Como você se liberta todas as noites?

— A chave está ali na borda do lavatório. — Eu não tinha percebido o segundo lavatório,

completo com pincel de barbear e espelho. — Uma vez que eu fico... bêbado... posso alcançá-la, mas

prefiro não me contorcer se não precisar. O senhorio não vai ficar satisfeito se eu quebrar outra

cama.

Olhei-o com cautela e estendi a mão para arrancar a chave de ferro do prego. Ela balançou em

uma fita branca. Segurei-a, considerando.

— Acho que não. — eu disse finalmente, afundando em uma cadeira e cruzando meus

tornozelos recatadamente. Enrolei a fita de seda em volta do meu pulso. — Eu acho, meu senhor. — Enfatizei seu título mordazmente. — Que eu preferiria algumas respostas suas.

Ele me observou cuidadosamente, como se eu fosse o perigo. — E você acreditaria nessas

respostas, Rosalind?

— Vamos ver, eu devo?

— Responda minha pergunta antes. — Ele se sentou na beira da cama, sorriu perversamente.

— Deram-lhe a tatuagem de Helios-Ra?

Estreitei meus olhos. — Imploro seu perdão, como você sabe sobre a Liga? Ou nossas

marcações, aliás? — Ainda me irritava que porque eu era uma mulher eles tinham se recusado a dar-

me a marca do sol que todos os outros Caçadores recebiam quando faziam seus juramentos.

Ele leu minha expressão corretamente. — Não deram, não é? É claro que não. Disseram-lhe

por quê?

— Algum disparate sobre os perigos se eu casasse com alguém de fora da Liga. — respondi,

irritada.

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Ele bufou, igualmente irritado. — E nunca ocorreu a ninguém que os homens de Helios-Ra se

casam com mulheres que não são de uma família da Liga ou sangrento tempo todo?

— Exatamente! — É de admirar que eu o ame, Evie? — Mas esposas não devem fazer

perguntas. — acrescentei acidamente. Arqueei uma sobrancelha para ele, tentando parecer mais

controlada do que eu realmente estava. — Agora eu realmente preciso insistir, senhor, que você me

conte como sabe tanto sobre nós?

Ele cruzou os braços, olhando remoto e aristocrático. A luz da vela fez adagas em suas maçãs

do rosto. Ele poderia ter sido feito de luar e de mármore. — Eu nasci em uma família de Caçadores,

Rosalind.

Olhei-o boquiaberta. — Impossível. Não há tantas famílias em Londres que nós não, pelo

menos, conhecemos pelo nome.

— Passei a maior parte da minha juventude com o povo da minha mãe na Escócia. — ele

explicou. — Eles são Caçadores, não meu pai, o Conde. Ele não sabe nada sobre isso.

Exalei com força, a mente girando. — Dificilmente posso acreditar nisso. Por que você nunca

veio a Londres e se juntou a sociedade? Eles têm uma casa aqui afinal de contas, para os membros.

Bem, para os membros homens. — acrescentei amargamente.

— Eu ia dizer justamente isso. — ele confirmou. — Eu tinha planejado vir para a cidade com

todo tipo de pompa e circunstância.

— O que aconteceu?

— Fui para a França na minha Grande Viagem. — ele respondeu secamente. — E escolhi

um beco particularmente ruim para tropeçar muito tarde da noite.

— Mas você sobreviveu.

— Se você pode chamá-lo assim.

— É por isso que você nunca fez seu juramento.

Ele assentiu bruscamente. — E por que minha mãe me expulsou de sua casa e me mandou

desaparecer.

Eu estava tentando não sentir compaixão e simpatia por ele, mas falhando miseravelmente.

Eu tinha abaixado meu arco sem sequer perceber. — O que seu pai disse?

— Meu pai acha que tivemos uma discussão. Minha mãe permanece na Escócia e se recusa a

visitar a cidade enquanto eu estiver aqui. Meu pai está perplexo, mas acha a vida mais fácil sem a

minha mãe e então não está questionando muito qualquer um de nós. Esta brecha familiar lhe

convém.

Compaixão ou não, eu não podia perder meu foco completamente. — Estou triste por você, é

claro. — eu disse. — Mas isso dificilmente pode desculpar você por tentar matar o Lord Winterson.

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Ele bufou. — Eu salvei sua vida miserável.

— Não acredito em você.

Ele passou a mão pelo cabelo. — Você devia. Você é a única pessoa que poderia.

— Explique para mim então. — Eu não estava convencida, mas precisava ouvir o resto de sua

história.

— Um dos Caçadores é um traidor.

Essa parte eu podia atestar. Tinha ouvido muito durante o baile enquanto me agachava atrás

do armário no topo das escadas.

— Você não parece chocada. — ele comentou.

— Não estou. Continue.

— Esse traidor contratou um vampiro para assassinar Winterson, assim culpando cada

vampiro da cidade e enviando a Liga para o caos. — Ele sorriu solenemente, sem um pingo de

humor. — Seria um banho de sangue.

— E quem é esta pessoa?

— Não posso dizer. Ele esconde seu rosto. Eu reconheceria seu cheiro, acho, mas ainda

tenho que cruzar com ele em um ambiente singular. Bailes e teatros são... lotados demais. O cheiro

de sangue e pele quente é desconcertante. — Suas presas alongaram e eu nem tenho certeza de que

ele notou.

Eu notei. Levantei o arco novamente em advertência. Ele curvou a cabeça, como qualquer

nobre na corte.

— E o vampiro que ele contratou? — incitei.

— Eu o matei. — ele respondeu sombriamente. — Não vou deixá-lo, ou o Caçador desonesto,

começar uma guerra.

— Em Vauxhall. — murmurei. — Você o estacou em Vauxhall.

Ele encontrou meus olhos. — Então foi você.

— Sim.

— Você é mais do que imprudente. — ele disse.

— Como estou provando com cada segundo que eu sento e ouço você.

Seu sorriso foi torto desta vez, e íntimo. Calor formigou na minha barriga. Eu abanei a estaca

para ele novamente. Ele riu antes de ficar sério novamente. — Eu pretendia levar o Caçador para

uma armadilha, para ele se revelar e ainda manter Winterson seguro. Eu só poderia fazer isso

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fingindo pelo menos tentar assassinar Winterson. Mesmo assim, o traidor é mais esperto do que eu

gostaria. Ele enviou alguém mais para fazer o mesmo trabalho.

Levantei-me tão regiamente e confiantemente quanto poderia. — Então devo detê-lo.

— Você não pode detê-lo sozinha, Rosalind. Nem mesmo você.

Odiei que ele provavelmente estivesse certo.

— Se você me soltar, eu posso ajudá-la. — Seus olhos cintilaram como ferro.

Inclinei minha cabeça. — Você poderia me drenar até secar bem aqui em seu fino tapete.

— Você poderia colocar uma flecha através do meu coração antes das algemas estarem

soltas.

— Eu poderia.

Mas eu sabia que não iria. Eu confiava nele, apesar de tudo. Não me julgue severamente

demais, Evie.

Eu me aproximei dele cautelosamente, a chave balançando da fita no meu pulso. — Quando

nós vamos?

— Esta noite.

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Caríssima Evangeline,

Esta é a última carta que vou escrever.

Você dificilmente irá acreditar no que estou prestes a lhe contar. E esperançosamente, você

não deverá acreditar em quaisquer rumores que com certeza irá ouvir. Não acho que você alguma

vez iria acreditar que sou uma traidora, mas eu odiaria arriscar tal coisa. Muitos irão amaldiçoar o

meu nome como é. Ninguém iria acreditar na verdade mesmo se fossem eles a ouvi-la. Exceto você.

Ninguém deve saber o que estou prestes a divulgar. Nem a Liga, nem meus amigos, e nem minha

família.

O baile anual de verão dos Caçadores foi realizado ontem à noite na casa sede de Helios-Ra.

Você terá ouvido falar tudo sobre isso até agora. Começou como uma grande celebração pródiga.

Dante e eu estávamos vestidos em nossos melhores. Ninguém jamais teria nos imaginado qualquer

coisa além de outro casal elegante cortejando através de valsas e champanhe. Mesmo em um baile de

Caçadores, ninguém suspeitou que os grampos de cabelo que eu usava eram de ébano e afiados até

perfeitas pontas mortais. Eles vão insistir em me ver como uma criança teimosa e nada mais, eu vejo

isso agora.

O baile prosseguiu como os bailes fazem até que todos estavam corados de tanta bebida.

Dante e eu rondamos os arredores da pista de dança e, eventualmente, fizemos nosso caminho para o

lado de fora. Não lhe direi quantos casais estavam em um estado chocante nos jardins traseiros.

Absolutamente ninguém nos notou.

No entanto, nós notamos uma única luz queimando no sótão.

Foi estranho o suficiente nós termos reparado. A casa estava tão lotada, a orquestra e a

tagarelice tão alta que alguém mal conseguia ouvir os próprios pensamentos, sem falar de um

tumulto nos alcances mais distantes da casa da cidade. Pegamos as escadas dos fundos o mais rápido

que pudemos. A porta no topo do patamar estava trancada. Passos rastreados por meio da poeira

grossa a nossos pés. Eu não conseguia ouvir absolutamente nenhum som, mas Dante parecia seguro

que estávamos na parte certa do sótão. Ele quebrou a fechadura com uma única torção afiada. A

porta se abriu e nós rastejamos para dentro. Não precisávamos ter nos incomodado com o

subterfúgio.

Lord Winterson estava de pé no meio da sala, mão entrelaçada. Ele se virou para olhar para

nós, acenando graciosamente. A porta se fechou atrás de nós e quando girei ao som, um guarda

enormemente musculoso estava ali olhando ameaçadoramente. A parede do fundo tinha cruzes

pintadas e alho pendurado, como se fossem ramos perenes na época de Natal. Admito, eu fiquei

perplexa. Isto dificilmente parecia uma tentativa de assassinato contra Winterson.

As narinas de Dante se alargaram enquanto farejava o ar. — Você.

Lord Winterson sorriu friamente.

— Você. — Dante repetiu. — Você me contratou para te matar?

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Agora eu estava ainda mais confusa.

— O que, na terra, é isto? — Exigi.

— Srta. Wild, eu lamento que você tenha se envolvido neste assunto. Assumo que você é a

pessoa que escreveu aquela carta tocante avisando-me da mentira e violência contra a minha

pessoa?

— Er... sim.

— E ainda agora você está com um vampiro.

— Deixe-a ir. — Dante assobiou.

— Eu não entendo. — eu disse de mau humor. Suponho que eu deveria estar mais assustada,

mas para ser honesta, só senti grande aborrecimento. Como se todo mundo soubesse o enredo da

história, menos eu. E você sabe como me sinto sobre fazer papel de boba.

— Não, você não iria, iria? — Winterson disse com desdém. — Eu sabia que havia um

vampiro em nosso meio, você vê. Eu o contratei para me assassinar para que eu pudesse eliminá-lo.

Mas toda vez que eu chegava perto, algo o afugentava. Você. — Ele pareceu triste. A luz brilhou do

diamante em seu anel de ouro de Helios-Ra. — Você tinha tanto potencial e agora se deixou seduzir.

Eu queria dar uma pancada em sua cabeça com sua própria bengala. — Dante não fez nada

errado. — declarei em tom ressonante.

— Ele é um vampiro, sua garota tola.

— Um que pensou que estava salvando a sua vida.

— Bobagem, ele teria acabado comigo se tivesse a chance. E agora ele será o entretenimento

da noite, um triste conto de advertência para deslumbrar a geração mais jovem. — Havia uma pilha

de correntes no canto.

— Como o inferno, eu acho que não. — Dante retrucou.

— Mas você precisa morrer, certamente você vê isso. Você é uma abominação, garoto.

— Você é a abominação. — eu disse acaloradamente.

Winterson olhou de relance para seu guarda-costas. — Amordace-a.

Ele deu um passo em minha direção, mas eu já estava saltando no ar. Pousei a alguma

distância, grampo de cabelo na minha mão.

O guarda-costas pestanejou. — Damas não deveriam fazer isso.

Ele era mais forte que eu, o que era dolorosamente óbvio. Poderia ter esmagado meu crânio

como um melão com uma mão. Mas eu era mais rápida. Rodopiei e saltei ao redor dele até sua

respiração sair em bufadas e ele ficar vermelho de suor. — Aqui, agora, sem mais jogos.

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Na outra extremidade do sótão, Winterson levantou sua bengala e uma estaca afiada sacudiu

da parte inferior. Dante dançou para fora do caminho. A chama da vela tremulou. O retorno

descendente da bengala apanhou o peito de Dante, cortando através do seu paletó e através da pele

abaixo. Sangue pingou sobre o assoalho. Outro golpe, e ele tropeçou, caindo de joelhos tão

rapidamente que a vela tombou.

A chama pegou as cortinas rasgadas e corroeu o tecido fino. Outra fileira de cortinas pegou

quase imediatamente e a madeira apodrecida do peitoril da janela começou a arder. Fumaça

derramou no aposento e eu tossi. Em pouco tempo não haveria nenhum ar restando para respirar.

Arremessei um vaso descartado no vidro, quebrando-o em pedaços. Fumaça e chamas lamberam

para o lado de fora, beijando o telhado. Alguém abaixo nos jardins gritou.

— Temos que sair daqui! — gritei.

— Vá! — Dante gritou de volta, apertando sua ferida sangrando. Era perto demais de seu

coração e o enfraquecia. — Não espere por mim.

Eu o ignorei, é claro. Homens são tão bobos às vezes.

Winterson passou empurrando por mim e antes que eu percebesse o que ele estava prestes a

fazer, ele e seu guarda-costas estavam a salvo no patamar. A porta se fechou e ouvi o arranhão

sinistro de algo sendo empurrado contra ela para nos trancar. Lord Winterson pretendia que

morrêssemos naquele sótão.

Eu não tinha nenhuma intenção de ceder a ele. Usei um cabideiro para quebrar as outras

janelas, tossindo a fumaça preta para fora dos meus pulmões. Dante se arrastou para a borda da

janela e espiou para fora. Convidados estavam derramando das portas, entrando em pânico em seus

sapatos finos de seda e sobrecasacas de brocado.

— Não posso nos tirar daqui nesta condição. — ele disse enquanto eu me agachava ao lado

dele e tentava respirar ar limpo.

— Eu posso nos tirar.

— Você não pode me carregar, Rosalind. — ele disse. — Mas você pode me curar.

Eu o encarei.

— Por favor. — ele sussurrou.

Meus dedos tremeram, mas estendi meu pulso para ele. Ele agarrou-o como se fosse uma fina

massa recheada com creme de morango. Seus lábios estavam quentes na minha pele, a picada das

presas foi rápida. A dor logo desapareceu e uma espécie de prazer tirou minhas forças. Ele bebeu e

bebeu, fazendo sons ávidos. Este momento era mais perigoso do que qualquer Conde louco por

poder com uma estaca no meu coração. Dante poderia me beber até secar, poderia ceder à luxúria de

sangue e acabar comigo aqui. Ninguém saberia. Eu seria parte das cinzas da casa queimada, um

fragmento de seda e osso para os inspetores descobrirem.

— Dante.

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Ele engoliu lentamente, como um glutão provando um bom vinho. E então se afastou.

Fumaça flutuava entre nós, obscurecendo a chama de seus olhos. E então seus braços estavam

à minha volta e ele estava arremessando-me através da janela aberta, atirando-me para cima em

direção ao telhado. Balancei pelo ar, o choque disso comprimindo meus pulmões. Aterrissei duro no

telhado e escorreguei e poderia ter caído inteiramente se ele não tivesse seguido, agarrando meu

braço e levantando-me até ficar de pé. As telhas já estavam quentes sob nossos pés. A fumaça comia

as estrelas.

— Depressa. — ele incitou, e nós corremos, pulando para o telhado da casa ao lado.

Nós finalmente alugamos uma carruagem e estamos agora mesmo em nosso caminho para as

docas e depois para a Espanha talvez, ou o Novo Mundo. Quem pode dizer? Sei o que você deve

estar pensando. Mas Dante é um bom homem. E eu o amo. Não há mais lugar aqui para nós.

Nenhum de nós jamais será aceito. Já estamos ouvindo boatos sobre Dante, o filho do Conde, que

virou vampiro e destruiu com fogo uma casa cheia de Caçadores.

Ninguém vai acreditar em nós sobre o Lord Winterson. Ele tem dito ao mundo que eu tentei

matá-lo porque me apaixonei por um vampiro e queria provar isso a ele. Você sabe que isto não é

verdade. Mas pense no escândalo. Eu nunca poderia remover a desonra em mim e apenas iria

prejudicar a minha família se eu tentasse. Nós paramos apenas para plantar uma carta incriminatória

na mesa de Lord Winterson a respeito de detalhes do incêndio. Também enviamos um bilhete

anônimo para os Bow Street Runners. Depois que eles terminarem com ele, Winterson não deve

estar apto para liderar os Helios-Ra. É o melhor que posso fazer. Posso ser capaz de retornar um dia,

mas não ofereço muita esperança. Por favor, diga a minha família para não se preocupar.

E verdadeiramente, eu tenho tudo que preciso. Estou usando um vestido de seda manchado de

sujeira e fuligem e nunca me senti mais bonita. Não tenho um centavo em meu nome e nunca me

senti mais rica.

Só sei que eu te amo e penso em você carinhosamente e muitas vezes. Não tema por mim.

Com amor sempre,

Rosalind Cowan

Fim

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Série Drake Chronicles

Corsets and Crossbows, # 0.1 (Distribuido)

Lost Girls, # 0.5

Hearts at Stake, # 1 (Distribuido)

Blood Feud, # 2 (Distribuido)

Out for Blood, # 3 (Distribuido)

A killer First Date, # 3.5 (Distribuido)

Bleeding Hearts, # 4 (Distribuido)

A Field Guide to Vampire: Annotated by Lucy Hamilton, # 4.5 (Distribuido)

Blood Moon, # 5 (Distribuido)

Blood Prophecy, # 6

Rulling Passion, # 1.3

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Sobre a Autora

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Créditos After Dark Tradução

Hay Nichole

DL

Revisão inicial

Catarina

Revisão Final

Jessica Dias

Leitura Final e Formatação

Hay Nichole

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