Doutrina Quimerista da Alta Poesia - perse.com.br · luz solar. E a água ficou tão quente que...
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Capa
Ilustração
Fábio Lima de Mello
Miolo
Revisão
Fábio Lima de Mello
Projeto Gráfico
Fábio Lima de Mello
Digitalização e Diagramação
Fábio Lima de Mello
Obra Registrada na Biblioteca Nacional: N° 633.588
Mello, Fábio Lima de – 1976 - (?)
1. Poesia Brasileira
1ª IMPRESSÃO – 2014
Agradecimentos
À minha amada esposa Adriana Nascimento Melo; às lindas filhas
Ingra Letícia Andrioli de Melo, Laís Nascimento Melo e Lívia Nascimento
Melo; à afetuosa e indispensável Tia Bernadete Lima de Melo. Aos amigos e
parceiros literários Emmanuel Guimarães Lisboa, Roberta Villa, Ângelo
Macedo de Oliveira, Vinícius Gonçalves de Andrade e Cesar Magalhães
Borges.
À memória de José Nascimento Paulo, José Lima de Melo (o Tio Buda)
e Nair Lima de Melo (avó materna).
O Poeta e Sua Obra
“O que supões que seja a criação?
O que supões que possa satisfazer a alma, se não a possibilidade
de andar em liberdade e sem qualquer superior?”
Walt Whitman
26 de setembro de 1976, céu plúmbeo, 6h25m, Vila Mariana, São Paulo,
Brasil. Abandonando as estrelas, adentro ao orbe Terra para o alívio de minha
genitora. Fórceps me arrancando de brandas águas placentárias. Vida dura
pela frente. Criança desnorteada se encantando com tudo. Garoto esquisito
que roía tijolinhos de barro e achava doce o sabor das formigas. Tendência ao
isolamento dentro da própria cabeça.
14 anos de idade. Amores à vista e fascínio por filmes de ficção
científica. Adolescência acanhada. Vontade não sei de onde de fazer poesia.
Tremendo apreço por música, pintura, escultura, história em quadrinhos. Artes
que me nutriam os sonhos; alicerces à estruturação do artista que agora se
apresenta.
Dos 20 aos 30 coisa de louco. Escolas literárias e filosóficas investigadas
a fundo. Drogas, religiões, álcool, engajamento político, noções sobre história,
ciências, geografia... cigarros queimados entre planos malucos. Múltiplas
experiências em busca de mim mesmo, um poeta desde sempre inconformado,
ateu, evolucionista, desobediente e transgressor.
2014. Feliz por romper com todos os convencionalismos possíveis.
Encontro em mim o deus que procurava. Faço e aconteço buscando sempre a
justa medida. Prospero por reverência a vida que tenho e por amor aos meus
semelhantes: família e uns poucos amigos. Lucidez assegurada. Seguem
pequenos abalos.
A presente obra materializa o exercício revigorante de um artífice que
aprendeu a abrandar seu desespero no labor das mais augustas e quiméricas
fantasias. Composta por três tomos, seu ponto de partida – “A Configuração
do Lamento” – deflagra a alma do bardo das quimeras numa descida sinistra
às regiões caóticas dos seres sombrios. Na segunda parte – “Ecos de Serafins” –
encontra-se o menestrel arrebatado por eflúvios carnais, num êxtase
corpóreo-sensorial que culmina no terceiro livro – “De Minha Gaita os
Favônios Assoprados” –, um panegírico ao cosmos, à natureza, a Darwin e sua
magnífica teoria evolutiva, a qual capitaneia o autor em sua odisseia ateísta,
expansiva e libertária. No mais, é mister da crítica especializada que
interprete, compreenda ou desvirtue a essência quimerista destas folhas
lúgubres, concupiscentes, radioativas, vaporosas. Guardo comigo o enigma
indecifrável.
Gênese Quimerista
“Essa matéria, que agora está aí como pó e cinza, não tardará, uma vez
dissolvida na água, a se tornar cristal; ela brilhará como metal, depois soltará faíscas elétricas, exteriorizará com sua tensão galvânica uma força assaz
potente para decompor as combinações mais resistentes, para reduzir terra a metal; ela se metamorfoseará por si mesma em planta e animal, e de seu seio
cheio de mistérios se desenvolverá aquela vida, da qual a perda vos perturba tão angustiosamente, em razão de vossa natureza limitada.”
Arthur Schopenhauer
No princípio, era uma colossal esfera d’água borbulhando à infusão da
luz solar. E a água ficou tão quente que correntes de massa ígnea deram a
costurar artérias por todo o novíssimo corpo cósmico. E veio o tempo em que as
ramificações de fluido efervescente absorveram o calor da esfera. As águas,
por sua vez, à medida que resfriavam, formavam cristalinos continentes de
gelo, os quais, se deslocando para o perímetro do globo, impeliam o magma
escaldante para as bordas. Naquele ponto o planeta era uma magnífica
redoma glacial com um coração em chamas ardendo em seu núcleo.
E foi então que aconteceu a grande explosão molecular. E passaram a
existir as rochas e os metais. Da rigidez das pedras que não se sustentavam fez-
se o barro que, de úmido, gerou o limo. E assim eclodiram os microrganismos na
consubstanciação de toda a biodiversidade dos reinos elementares. Estava
fundada a Terra – sem qualquer indício de um deus criador.
Índex
Tomo I - A Configuração do Lamento ou Versificações do Macabro
A Tábua de Belphegor 12 Neurastenia 13 Ossos do Ofídico 14
Feitiço Para Alcançar a Fortuna 15
Nosferatu 16
Das Profundezas 17
Pela Morte Enamorado 19
Algolagnia do Aqueronte 21
Zombaria dos Zumbis 22
Escatologia 23
Cronofagia 24
Tromboses Trombetas Trovões 25
Tomo II - Ecos de Serafins ou Lira dos Pecados Purificantes
Picadeiro de Tristezas 27
Amá-la 28
Hercúlea Ereção 29
Bárbara e Felizberto 30
Bem Plena 31
Da Última Vez em que Morri (no ano de 1852) 32
Ecos de Serafins 33
Até que o Amor Aconteça 34
Everest 35
Cardiopatia Silente 36
Lágrimas de Parafina 37
Auspicioso Amor Pagão 38
Tépidas Paixões Abruptas 39
Tomo III - De Minha Gaita os Favônios Assoprados
Rodamoinho 41
Fanatismo 42
O Nada 43
Panegírico de Pã 44
Silfos Eólicos 45
A Morte do Lenhador 46
Nadalém 47
Mosquito Infinito 48
Sutra do Suprassumo 49
Forma e Matéria 50
O Sol da Sala 51
Hermetismo 52
A Espiral Magnética do Tempo 53
Conserto Grosso, em Ré Maior 54
Da Natureza dos Répteis 55
Voai 56
Vértice Vórtice Vertigem 57
Santo Darwin 58
Galápagos 59
Biofilia 60
Arte que Parte de Mim 61
Da Lúgubre Natureza Carcomida ou Soneto Desconsertado 62
Monumentalismo 63
Micromanifesto do Ser Inda Pensante 64
Ignição Cognitiva 65
Da Leveza da Alma 66
Poema Edifício 67
Astro Mutante 68
Profissão: Oficial de Usinagem Evolucionista 69
Fungo Amorfo 70
Remodelagem 71
Império Estelar 72
Excêntricos Estros Excelsos 73
Árvore Apolínea 74
Da Arte de Ser Mosca Entre Libélulas 75
Quimera
s. f. (gr. khimaira). 1. Monstro da mitologia grega, híbrido de dois ou
mais animais. Tem duas cabeças (leão e cabra). Sua cauda pode ser
uma serpente ou um dragão. 2. Criação absurda da imaginação;
fantasia, utopia, sonho. 3. Coisa impossível, irrealizável: absurdo.
12
A Tábua de Belphegor
“Ao monstruoso Ron Perlman.”
Belphegor, pai supremo dos depravados humanoides;
Preceptor dos andrógenos cenobitas androides;
O diabo das luxuriosas corrupções anímicas;
O leviatã das malignas torrentes cataclísmicas...
Belphegor, tua arte é a derradeira expressão do sofrimento;
Teu selo, o labirinto que traz a configuração do lamento
Na simbologia hedionda dos cáusticos infernos,
Lacerantes são os martírios da tábua de teus cadernos...
13
Neurastenia
“A Edgar Allan Poe.”
O estresse excruciante que te esmaga
É como a bactéria abrindo a chaga
Na desfibrada carne malsã
De um corpo que sucumbe ao triste afã
A paranoia que ao intelecto destrói
É o cupim que, insurrecto, corrói;
É a pane que te põe em polvorosa
Na paupérrima existência pavorosa
A depressão, que apressada te pressiona,
É o surto epiléptico que te joga à lona;
É o tétano titânico no ferro dos sentidos;
É o berro vulcânico de teus sonhos retorcidos.
14
Ossos do Ofídico
“A Arnaldo Antunes.”
A cobra
Quebra
A cabra
Fere
E põe febre
Na lebre
Hipnotiza
Neutraliza
A rã
Obscena
Envenena
A maçã.
15
Feitiço Para Alcançar a Fortuna
“A Eduardo Franzi de Lima, o Madeira.”
Pegar sete sementes de jaca;
Embrulhar em pelos pubianos de macaca;
Recobrir com bosta fresca de vaca;
Isolar com baba gelada de paca;
Enrolar em fios de grande e venenosa aranha;
Mergulhar num caldeirão borbulhante de banha;
Pôr pra secar no pico da mais alta montanha
Formado o casulo, arrebentar com uma marreta;
Juntar os cacos e jogar em fétida lama preta;
Esperar até que tudo se derreta;
Dar três pulos; evocar o capeta;
Dançar para ele imitando um besouro;
Correr para o meio da mata; aguardar o estouro
Eis que estás bem rico, com incontável tesouro.