Domício proença filho
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Araçatuba
Jean Oliveira
Ouso cotidiano e até a in-ternet ajudam a formar alíngua de um povo. As-
sim, ela se torna uma ‘entidade’sempre em construção. Esta é opi-nião do doutor em Letras DomícioProença Filho, que é membro daABL (Academia Brasileira de Le-tras).
Em entrevista exclusiva à Fo-lha da Região , ele fala sobre a im-portância das mais diversas influên-cias para a formação dos códigos es-critos e falados de comunicação.Proença Filho ocupa a Cadeira 28da Academia.
BIOGRAFIAEle é bacharel e licenciado
em Letras Neolatinas pela antigaFaculdade Nacional de Filosofia daUniversidade do Brasil, com espe-cialização em Língua e LiteraturaEspanhola. Seu trabalho literário émarcado por pesquisas sobre a lin-guagem e também por obras emprosa e em verso. Leia trechos daentrevista:
Como o senhor percebe arelação dos jovens, na atuali-dade, com a arte de escrevere com a leitura?
Há um número significativode jovens que se dedica à produ-ção de textos literários. Tenho in-formação de que muitos veiculamseus textos pela internet. A publica-ção por editoras encontra as dificul-dades de sempre, em função dasregras do mercado. Existe, entre-tanto um razoável de volume de li-vros com a coparticipação dos auto-res ou por eles financiados. A leitu-ra envolve dois espaços: o texto in-formativo e o texto de literatura, acrônica, o conto, o romance e opoema. Agilizado pela mesma in-ternet enfrenta a concorrência.
E quais são as conse-quências?
O texto literário vem perden-do lugar de centro, diante da forteconcorrência de outras formas delazer, mas ainda atrai a juventude,quando atende a expectativas doseu imaginário, como é o caso, porexemplo, das histórias de "HarryPotter", do "Senhor dos Anéis"...
O senhor é otimista em re-lação à formação de leitorespelas escolas brasileiras?
Sou. A escola é, nesse caso, aagência cultural por excelência. Oimportante é evitar imposições evalorizar a motivação, deixandoaos alunos as opções de escolha.
O senhor gosta de traba-lhar a linguagem em suasobras, principalmente emsuas articulações enunciati-vas, e em seus desdobra-mentos históricos. Como osenhor vê o uso da línguapelo brasileiro. É um povoque conhece sua língua?
A língua é a linguagem deuma comunidade. Na sua condi-ção de sistema de signos integra-dos, é aprendida e internalizadagradativamente pelos seus usuá-rios. É o povo que faz a línguaque utiliza. Nesse sentido, o povobrasileiro conhece a língua que fa-la. A maioria dos falantes, por ou-tro lado, não se dá conta das múl-tiplas e várias possibilidades que onosso idioma põe à nossa disposi-ção para dizermos de nós mes-mos, do outro, do mundo, da nos-sa relação com o outro e com omundo, com a consciência da ade-quação da fala à situação de fala.Nesse sentido, a escola ainda umavez tem um papel fundamental.
Como o senhor percebe arelação do brasileiro com a Lín-gua Portuguesa?
O brasileiro tem perfeita no-ção de que se trata do seu princi-
pal meio de comunicação.
Muitos jornais têm traba-lhado em parcerias com esco-las para formação de leitorespara o futuro. Como o senhoravalia estas iniciativas?
Com muito otimismo. A as-sociação da escola com a mídiapode levar a excelentes resultadosnessa direção.
De que forma a ABL temajudado no incentivo à forma-ção de leitores e, principalmen-te, escritores?
A ABL põe à disposição dopúblico dois excelentes centrosde leitura: a biblioteca acadêmicaLúcio de Mendonça, que abrigaas obras de todos os seus integran-tes, e a moderníssima bibliotecaRodolfo Garcia, com um amplo evariado acervo. Promove tambémciclos de conferências semanais,ao longo de cada ano, centradosem manifestações literárias e cul-turais, transmitidas on line pela in-ternet. Quanto aos escritores, dis-tribui, anualmente, inúmeros prê-mios literários e, pela internet, noâmbito do Twitter, concursos deredação de textos.
Alguns autores de blogstêm reivindicado o status deescritores. Como o senhor vêesta demanda?
Com naturalidade. Se os blo-gs envolverem dimensão literária,eles conduzirão, possivelmente, àcaracterização de uma nova e es-pecífica forma de manifestaçãode literatura que poderá, inclusi-ve, conduzir à mudança de signi-ficação do que atualmente se en-tende por este último conceito. Aliteratura, como a língua, acompa-nha a dinâmica da Cultura emque ambas se inserem.
Em sua obra "A Lingua-gem Literária",o senhor afirmaque não existe uma "gramáti-ca normativa" para o texto lite-rário. E este preceito tem sidocitado por jovens escritores pa-ra também reinventar a escritapela internet.Até que ponto es-te fenômeno é nocivo para aformação dos novos leitores?
O texto literário tem caracte-rísticas específicas. Assim entendi-do, abre-se livremente à criação eà invenção. A escrita vinculada aotexto não literário não se enqua-dra nessa configuração. As redu-ções e simplificações da internetvinculam-se ao uso da língua co-mo tal. Constituem um código ela-borado a partir dela. Descodificar"abçs" como "abraços" ou "bjs" co-mo "beijos", torna-se possível por-que "abraços" e "beijos" antece-dem, no universo linguístico do fa-lante, aquelas formas simplificado-ras. Assim consideradas, estas for-mas de representar graficamenteas palavras dificilmente repercuti-rão na formação de novos leito-res. Quando muito, se o modis-mo se estender e perdurar, surgi-rão leitores familiarizados com es-sa modalidade de codificação.
‘É o povo que faz a
ENTREVISTA
O retorno
língua’O membro da ABL (Academia Brasileira de Letras)
Domício Proença Filho concede entrevista àFolha da Região e reflete sobre os modismos na internetcomo fontes renovadoras da linguagem escrita e falada
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D1 Araçatuba, quarta-feira, 19 de janeiro de 2011