DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO … novos acordos internacionais, bem como pesquisas em...
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1
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
FACULDADE INTEGRADA AVM
O PAPEL DO PROFESSOR DE MODA DO ENSINO SUPERIOR
VISANDO A PRÁTICA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Por: Bárbara Becker de Souza
Orientadora Mônica Ferreira de Melo
Rio de Janeiro
2014
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
FACULDADE INTEGRADA AVM
O PAPEL DO PROFESSOR DE MODA DO ENSINO SUPERIOR
VISANDO A PRÁTICA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Docência do
Ensino Superior.
Por: Bárbara Becker de Souza
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos os professores que
fazem de seu trabalho um instrumento
vivo para mudança da realidade, em
especial à professora e pesquisadora
Lilyan Berlim pelo legado que está
construindo para moda brasileira e por
sua disponibilidade em ensinar e
dialogar com todos aqueles
interessados em sua pesquisa.
4
RESUMO
A partir deste trabalho, iremos investigar qual o papel do professor de
moda do ensino superior na formação de seus alunos para prática do
desenvolvimento sustentável na sociedade. Apresentaremos os conceitos de
desenvolvimento sustentável, o panorama atual da moda brasileira e
internacional e seus prejuízos tanto na esfera ambiental quanto na esfera
social. Mostraremos algumas soluções da moda sustentável que já estão em
prática. Abordaremos modelos positivos e problemáticos do ensino no Brasil e
no mundo, elucidando as demandas contemporâneas do ensino através de
acordos internacionais pelo desenvolvimento sustentável e através da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Através da análise dos dois
primeiros capítulos, iremos propor direções para a atuação do professor de
moda para que, junto com a instituição e os alunos, possa fazer do
desenvolvimento sustentável, ao invés de uma utopia, uma realidade que
atravessa as barreiras do ambiente universitário.
5
METODOLOGIA
Pesquisa bibliográfica em “Moda e Sustentabilidade: Uma reflexão
necessária”, de Lilyan Berlim, 2012; “Sociedade e Meio Ambiente: a Educação
Ambiental Em Debate”, de Loureiro et al, 2010; “Desafios Modernos na
Educação”, de Pedro Demo, 1993, entre outros.
Pesquisa webgráfica de teses e dissertações acadêmicas acerca dos
temas: sustentabilidade, moda sustentável e novas práticas de ensino.
Análise dos projetos político pedagógicos dos cursos “Design de Moda”
e “Negócios da Moda” da Universidade Anhembi Morumbi, de São Paulo.
Pesquisa webgráfica em sites diversos sobre os temas citados acima,
bem como coleta de dados (estatísticas, rankings) a partir dos mesmos e
pesquisa webgráfica de palestras sobre educação no site do YouTube.
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 07
CAPÍTULO I - DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA MODA 09
CAPÍTULO II – NOVOS PARÂMETROS PARA EDUAÇÃO 23
CAPÍTULO III – O PAPEL DO PROFESSOR DE MODA 36
CONCLUSÃO 49
BIBLIOGRAFIA 51
ÍNDICE 56
7
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, no Brasil, vêm se democratizando o acesso ao
Ensino Superior. Cresce a quantidade de vagas, cursos presenciais e à
distância, programas de financiamento e iniciativas governamentais para
possibilitar o estudo em diversas regiões do país.
É no ensino superior que o estudante tem a oportunidade de
desenvolver pesquisas em diferentes áreas do conhecimento, a possibilidade
da abertura de portas da carreira profissional e entra em contato com a gama
de atividades que seu ramo oferece.
Se entra em questão o “futuro profissional”, devemos levar em conta,
antes de mais nada, o contexto em que se dará esse “futuro”: como será o
sistema educacional em vinte ou trinta anos? Que uso estaremos fazendo e
quem terá acesso às tecnologias da informação? Que modelos de produção e
consumo de bens e serviços estarão disponíveis? Como lidaremos com nossos
recursos naturais, frente a prevista escassez de alguns deles? Com que
modelos de relações humanas iremos lidar?
A preocupação individual com um trabalho satisfatório e uma renda
digna face a competitividade do mercado de trabalho pode fazer com que esse
estudante perca a perspectiva da coletividade, do bem-estar comum e da
importância de seu trabalho para construção de um mundo mais justo,
sustentável e solidário.
O sistema da moda abrange diversos processos, desde agricultura,
8
passando por confecção, beneficiamento, marketing e comércio, e a indústria
têxtil é um dos três setores mais importantes da economia mundial, no qual a
produção e venda de peças do vestuário é a principal atividade. (Berlim, 2012.).
Infelizmente, os modelos industriais e econômicos atuais degradam o
meio ambiente, esgotam recursos naturais, exploram seres humanos e
promovem o consumo cego e desenfreado, convencendo o ser humano de que
ele é aquilo que possui.
O estudante de moda deve estar ciente dessa realidade e questionar
se sua atuação profissional irá corroborar para continuação dos modelos
atuais, ou se deseja trabalhar para a transformação da sociedade em prol do
bem estar comum.
O professor de moda, por sua vez, tem que buscar os melhores meios
de instrumentalizar seus alunos para atuação profissional, compreendendo e
questionando a realidade.
Estar a par das transformações na educação e na moda, buscar
alternativas para os modelos de ensino tradicionais que já não respondem aos
problemas do século XXI, criar laços de confiança com os alunos e estar
disposto a ouvi-los, incentivar a pesquisa e a autonomia são algumas atitudes
que demonstram que o professor está atento às demandas contemporâneas
dos estudantes.
Seu empenho e interesse em fazê-lo poderão determinar a qualidade e
compromisso socioambiental da geração dos futuros profissionais da moda.
9
CAPÍTULO I
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA MODA
As questões sobre a preservação do meio ambiente tornaram-se
problema de ordem mundial após a segunda metade do século XX.
São revistos, desde então, uma série de hábitos e valores que viemos
praticando desde a Revolução Industrial. Se inicialmente a preservação
ambiental era o tema principal, hoje diversos outros aspectos, principalmente o
social, são levados em consideração quando se fala de uma transformação
global para um futuro melhor.
Discute-se o que é, de fato, “desenvolvimento” - e que ele não se
baseia apenas no sucesso econômico -, se é possível que todos seres
humanos tenham uma qualidade de vida digna e de que maneira podemos
interferir ou substituir o modelo econômico, industrial e político que criamos,
tendo em vista solucionar ou amenizar os danos ambientais e problemas
sociais que dele se originaram. A moda é um dos componentes desse modelo.
10
1.1 - Conceitos e acordos internacionais
No ano de 1972, na Suécia, acontece a Conferência de Estocolmo
realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), oficializando a
discussão e elucidando-a como um problema global.
Surgem novos acordos internacionais, bem como pesquisas em
diferentes áreas do conhecimento e constantes mudanças de paradigmas
sociais. Elaborado pelo Relatório Brundtland de 1987, o conceito de
“desenvolvimento sustentável” é definido como um sistema de desenvolvimento
que “procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias
necessidades.”(http://pt.wikipedia.org/wiki/Desenvolvimento_sustent%C3%A1v
el, acessado em 03/04/2014)
Gerada pela Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
o Desenvolvimento de 1992 (Rio-92), a Agenda 21 (documento do programa de
ação global para o desenvolvimento sustentável) diz que o desenvolvimento
sustentável é construído sobre três pilares integrados. São eles:
desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e proteção ambiental.
Essa elaboração reconhece a complexidade e o inter-relacionamento
de questões como: pobreza, degradação ambiental, problemas urbanos,
saúde, violação dos direitos humanos, etc.
A Agenda 21 estabelece o “Princípio dos 3R's” - Reduzir, Reutilizar e
Reciclar, que tem por fim a diminuição ou a não geração de resíduos quando
possível, visando poupar os recursos naturais e conter o desperdício. São
assim definidos:
11
● Reduzir: consumir menos produtos e escolher aqueles com
menor potencial de geração de resíduos que tenham maior durabilidade.
● Reutilizar: usar novamente um material, tenha ou não uma função
diferente da inicial.
● Reciclar: transformar um produto em outro por meio de processos
industriais ou artesanais.
O Instituto Akatu, ONG brasileira criada em 2000 em prol do Consumo
Consciente, sugere a inclusão de mais um “R” que deveria ser praticado antes
dos 3R’s acima, o “Repensar”: refletir sobre os seus atos de consumo e os
impactos que eles provocam sobre você mesmo, a economia, as relações
sociais e a natureza.
É importante lembrarmos que um futuro onde uma população mundial
de mais de sete bilhões de habitantes viva em total harmonia com a natureza
sem nela interferir é algo irreal e direcionarmo-nos para este objetivo pode
colocar-nos em um caminho equivocado.
Segundo Loureiro et al. (2010), não deixaremos de produzir ou de
consumir, e não é preciso acabarmos com os centros urbanos para haver uma
mudança socioambiental. Ou seja, as mudanças ocorrerão gradualmente
dentro das possibilidades atuais, porém com uma mudança de sistema.
Precisamos, sim, repensar a indústria, a economia e o planejamento
urbano e rural, fazendo uso das tecnologias atuais e do conhecimento
científico. Precisamos, ainda, cobrar por políticas públicas que regulamentem e
fiscalizem a prática do desenvolvimento sustentável na iniciativa privada em
prol de seu crescimento.
Na base de todas essas questões, devemos repensar, sobretudo, a
ética nas relações humanas. Desses mais de sete bilhões de habitantes, o
autor aponta que “20% da humanidade consomem aproximadamente 75% de
tudo o que é produzido no planeta”. (Loureiro et al, 2010, p. 79)
12
Essa afirmação é nada mais do que o reflexo da economia e política
globais, e suas consequências, por vezes, são censuradas ou tratadas com
indiferença pela população e pela maioria das iniciativas privadas que colocam
a lucratividade acima de quaisquer valores éticos.
1.2 - A realidade econômico-industrial da moda
No Brasil, a indústria da moda representa cerca de 5,5% do PIB
industrial brasileiro. O faturamento do ano de 2012 foi de US$ 58,4 bilhões, de
acordo com dados da Associação Brasileira de Indústria Têxtil e de Confecção
(ABIT). (http://www.texbrasil.com.br/texbrasil/SobreSetor.aspx?tipo=15&pag
=1&nav =0&tela=SobreSetor, acessado em 03/04/2014).
Somos o quarto maior exportador de algodão no mundo e o quinto maior
produtor, com uma estatística de 1,64 milhões de toneladas para safra de 2013
segundo dados do site da Abrapa. (http://www.abrapa.com.br/
estatisticas/Paginas/producao-mundial.aspx, acessado em 03/04/2014)
Apesar da relevância do setor para economia e para sociedade
brasileira, a preocupação com o modelo do desenvolvimento sustentável
caminha muito lentamente em comparação a países como Inglaterra,
Alemanha e Estados Unidos.
Dessas questões, daremos aqui uma atenção maior aos aspectos
sociais e à possibilidade da transformação através da atuação social, por via de
13
uma educação fundada em valores éticos e novas formas do pensar. Apesar
disso, ressalta-se, mais uma vez, a necessidade de se integrar os três pilares
do desenvolvimento sustentável citados acima (desenvolvimento econômico,
desenvolvimento social e proteção ambiental).
Marcas de moda, indústrias têxteis e de confecção, instituições de
ensino e os consumidores, de maneira geral, têm pouca ou nenhuma
informação sobre o tema da sustentabilidade na moda e sobre sua emergência.
Algumas das consequências desse desconhecimento são: o aumento
de importações de produtos de vestuário da China; o não cumprimento (e
fiscalização) dos direitos trabalhistas nas fábricas; a falta de qualidade de vida
dos trabalhadores menos assalariados; a falta de incentivo econômico à
produção de fibras ecológicas; a corroboração com o modelo econômico e
industrial atual; o contínuo crescimento dos centros urbanos; a devastação do
meio ambiente; os maus tratos animais, entre outras.
Segundo Rodrigues et. al. (2006, apud Berlim, 2012, p. 27), mais de
um quarto da produção internacional de vestuário é, atualmente, produzida na
China. Um dos grandes motivos para o crescimento do setor nesse país é o
aumento da produção do poliéster, a fragilidade das leis trabalhistas (e
fiscalização das leis existentes), bem como o grande investimento em
infraestrutura e logística que permite um volume de produção competitivo no
mercado internacional.
Embora a indústria brasileira siga em crescimento de vendas e
empregatício, as preocupações com o mercado chinês são constantes, visto
que é praticamente impossível competir com o mesmo.
De acordo com o documento “Monitor ABIT”, da Associação Brasileira
da Indústria Têxtil e de Confecção, as importações de têxteis sem fibra de
14
algodão oriundas da China cresceram de 3 bilhões e 320 milhões de dólares
em 2012 para 3 bilhões e 518 milhões de dólares no ano de 2013. Enquanto
isso, em 2013 as exportações caíram em 1,4% e a produção de vestuário teve
uma queda de 2,66% em relação a 2012.
(http://www.abit.org.br/adm/Arquivo/Servico/040958.pdf, acessado em
28/03/2014)
Mesmo os profissionais de diversos setores da cadeia têxtil que não
passam por situações extremas como a citada acima carecem de qualidade de
vida e expectativa de crescimento profissional. Por esse motivo, o professor de
moda Paulo André Ferreira de Souza afirma que o setor têxtil é uma “fonte de
empregabilidade dúbia”.
Nota-se que o crescimento de 38% na geração de empregos no ano de
15
2013 (em relação ao ano anterior) apontado no documento Monitor ABIT não
necessariamente é um dado comemorativo para a moda sustentável.
Souza (2008) aponta que é responsabilidade da indústria prover
condições dignas de trabalho a seus empregados através do acesso à saúde
(muitos estão sujeitos a contaminações químicas, poluição sonora e doenças
advindas do trabalho repetitivo e monótono, como depressão e stress) e
acesso à educação. Além disso, a localização da indústria deve levar em conta
a redução da migração aos centros urbanos (que sofrem com o aumento da
violência, da poluição e da desigualdade social).
Mas como podemos falar de “moda sustentável” se a moda parece
depender da obsolescência programada para existir? Girar as engrenagens da
indústria, fazendo o consumidor acreditar que o que ele possui é “velho” e o
que ele deseja é sempre aquilo que não tem, é uma das faces da moda que
parece defini-la. Nessa linha de pensamento, o sucesso do desenvolvimento
sustentável seria o fim da moda. Porém, antes de ser consumo, moda é
comportamento.
1.3 - Moda sustentável: uma realidade possível
Lilyan Berlim é coordenadora do curso de pós-graduação em
Design de Moda com foco em Sustentabilidade da Unilassalle Niterói/RJ e em
seu livro “Moda e Sustentabilidade – uma reflexão necessária” (2012),
desconstrói a suposta dicotomia entre esses dois conceitos, o de “moda” e o de
16
“sustentabilidade”:
Não se pode simplesmente condenar a moda ao caos do
capitalismo, pois (...) antes do capital existe o sujeito e
sua identidade. A moda foi criada por esse indivíduo, o
mesmo que provocou a revolução dos últimos duzentos
anos. (BERLIM, 2012, p. 141)
Moda é construção de identidade. Essa identidade mesma que pode
ter como valor a responsabilidade socioambiental, que pode praticar um
consumo consciente e questionar aquilo que o mercado lhe oferece, que pode
se valer dos meios de comunicação para difundir esses valores e buscar, com
outros indivíduos, os rumos de uma sociedade mais inclusiva e igualitária, ética
e informada.
É justamente essa face imaterial da moda que torna possível sua
aliança com o desenvolvimento sustentável.
A preocupação sobre o impacto da indústria da moda no meio
ambiente data dos anos 60, quando se falava dos poluentes químicos vindos
da tinturaria e estampagem e algumas empresas passaram a produzir o
algodão cru. Já no final dos anos 80, atenta-se para produção de algodão e
surgem as primeiras culturas de algodão orgânico e peças de vestuário
ecológicas, pois o impacto ambiental causado por essas peças era reduzido.
Atualmente, as empresas de moda que adotam a filosofia da
sustentabilidade o fazem por acreditarem nos benefícios dessa prática a longo
17
prazo, não apenas por uma questão de marketing. As vantagens econômicas
se mostram presentes, seja por a empresa encontrar eficiência operacional, por
previnir exposições negativas da marca (e assim ter mais chance na concessão
de crédito), por criar vínculo e credibilidade com seus clientes e por antecipar-
se nas regulamentações pró-sustentabilidade, gerando inovações competitivas
no mercado.
Citaremos a seguir alguns caminhos possíveis que já estão em prática
em diversos segmentos do sistema da moda.
Graças aos avanços na indústria e engenharia têxtil, novos tecidos e
métodos de produção vêm sendo introduzidos no mercado. Eles colaboram
para o desenvolvimento sustentável pela redução de poluentes no processo
produtivo, pela reciclagem de matéria-prima, pela maior durabilidade, pela
redução de matérias-primas ou resíduos na confecção, pela redução os
processos caseiros de lavar e passar e/ou por serem criados sem testes em
animais e não serem de origem animal.
Algodão orgânico: exige uma produção especializada. Utiliza adubo
orgânico para o plantio, exclui organismos transgênicos, contribuem para o
meio ambiente e para saúde dos trabalhadores envolvidos no plantio. De modo
geral, o algodão orgânico é cultivado por pequenos e médios produtores e
comercializada dentro do modelo do fair trade (comércio justo) que veremos
adiante. A certificação do algodão orgânico é feita pelo Instituto Biodinâmico.
Para produção de tecidos ecologicamente corretos, o tingimento
dessas fibras pode ser feito com corantes naturais ou através do plantio do
algodão colorido: tons de bege, verde e marrom; ou manter a cor natural que é
o algodão branco.
Como já citado acima, o Brasil é um dos principais produtores de
18
algodão no mundo, o que torna possível o contínuo crescimento do plantio do
algodão orgânico. Para isso, contudo, deve haver demanda comercial, suporte
técnico, incentivo fiscal, crédito financeiro e capacitação dos agricultores.
Fibra de bambu: há dois tipos de fibra de bambu: a chamada “linho de
bambu” e a viscose de bambu. Essa segunda fibra é a mais comum e, para ser
produzida, passa por um processo altamente prejudicial ao meio ambiente por
utilizar químicos como o Óxido de Amina. O bambu é abundante em países
asiáticos e nasce mesmo sem ser reflorestado após o corte, o que por alguns é
considerado o único aspecto ecológico de sua utilização na indústria têxtil.
Fibras de PET: a reciclagem do politereftalato de etila já é uma
realidade na indústria têxtil brasileira. As vantagens da reciclagem são o
reaproveitamento total de garrafas e embalagens (que levariam cerca de cem
anos para se decomporem na natureza) para serem novamente matéria-prima
a se transformar em fio têxtil; a redução do consumo de energia e de poluentes
na produção reciclada; e a geração de renda para catadores autônomos e
cooperativas que fornecem o material para indústria.
Há cada vez mais pesquisas sobre fibras orgânicas, redução de
poluentes e do consumo de energia na indústria. É válido lembrar que lidar
apenas com as dimensões biológicas e soluções tecnológicas – fundamentais
para o desenvolvimento sustentável -, é apenas parte da questão, uma vez que
as dimensões socioeconômicas e políticas são componentes igualmente
determinantes dos problemas que enfrentamos. Reforçamos aqui os três
pilares do desenvolvimento sustentável já citados acima: desenvolvimento
econômico, desenvolvimento social e proteção ambiental.
Parcerias com ONGs: as parcerias com ONGs podem se dar de
diversas maneiras: marcas de moda que contratam serviços de uma
comunidade (como, por exemplo, da Coopa Roca), cursos de moda que
acontecem em ONGs dentro de locais desfavorecidos, inserção comercial de
19
mercadorias produzidas em regiões pobres num mercado de maior
movimentação econômica, etc.
Ciclo planejado (“do berço ao berço”): os designers de moda
pensam o ciclo de um produto desde sua criação até a venda e relação do
consumidor com este produto. O que acontece após seu descarte é uma
preocupação nova.
Em contrapartida ao atual modelo de fabricação e descarte, “do berço
ao túmulo” (“from cradle to grave”), o arquiteto americano William McDonough
e o químico alemão Michael Braungart desenvolveram o conceito “do berço ao
berço” (“from cradle to cradle”), onde um produto deve ser pensado
ciclicamente, eliminando o conceito de “lixo”.
Diferente do processo de reciclagem, o produto “do berço ao berço”
demanda um planejamento desde sua concepção para que não haja, no
reaproveitamento de matéria-prima, geração de poluentes, desperdício ou
qualidade inferior no produto seguinte.
Slow Fashion (moda “devagar”): proposto por Kate Fletcher (apud
Berlim, 2012, p. 54), o princípio do Slow Fashion opõe-se ao atualmente
praticado “Fast Fashion” (moda rápida) que contempla a produção rápida e
excessiva através da constante substituição desnecessária de produtos de
moda. O Slow Fashion se baseia no consumo responsável e contra a
padronização de estilos da Fast Fashion.
Co-design (ou design participativo): o consumidor participa
ativamente da criação do produto que irá adquirir, criando assim um maior
vínculo com este produto e prevenindo um descarte prematuro. Outra
vantagem do design participativo é a adaptação das peças para pessoas com
necessidades especiais.
20
Fair-trade (ou “mercado justo”): é um modelo de comércio que tem
atuações amplas. É adotado principalmente em comunidades/cooperativas
prejudicadas com a competitividade frente às grandes corporações. Pode-se
promover capacitações voltadas para produção, comércio e/ou marketing. A
atividade primordial no Fair-trade é o contato entre produtor e comprador
baseado em valores de transparência e respeito mútuos.
Também estão sendo pensadas – ou retomadas dando novo
valor/status - práticas de consumo, como as que seguem:
Brechós: os brechós no Brasil foram, por muito tempo, tidos apenas
como alternativas de consumo para população desfavorecida ou então locais
para figurinistas encontrarem roupas de época para teatro, cinema, etc. Há
alguns anos, a imagem dos brechós vêm sido remodelada com o surgimento
de brechós de luxo, brechós especializados e brechós online. As tendências
“vintage”, a procura por peças originais, a possibilidade de lucrar renovando o
guarda-roupa (no caso dos brechós online) e a preocupação do consumidor
com o descarte são alguns motivos para o crescimento desse segmento.
Brechós de troca e feiras de troca: as iniciativas de brechós e feiras
de troca exemplificam uma bela mudança no modo de consumir e,
especialmente, de atribuir valor aos produtos materiais. Na maioria das vezes,
esses encontros são organizados por pessoas comuns que acreditam nessa
mudança, sem fins lucrativos ou de marketing.
Em Porto Alegre, a consultora de estilo e psicóloga Helena Soares
organiza periodicamente um encontro onde os participantes levam peças do
guarda-roupa para trocar entre si. Segundo Helena, “primordialmente o
BRECHÓ DE TROCA é espaço de convívio que usa a moda como argumento
para reunir pessoas.” (http://brechodetroca.blogspot.com.br/p/sobre-o-
brecho.html, acessado em 28/03/2014)
21
Aplicativos: O aplicativo Moda Livre é mantido pela Repórter Brasil,
organização de referência na luta contra o combate escravo e na defesa de
direitos sociais e ambientais. O aplicativo faz avaliações com base em
informações e denúncias feitas ao Ministério do Trabalho e Emprego. No site
do aplicativo, há uma frase emblemática que grifaremos a seguir:
Este aplicativo é para quem adora andar bem vestido,
mas não quer que alguém tenha sido explorado para
costurar sua calça ou saia. Afinal, quem nunca ouviu
falar de um caso de trabalho escravo envolvendo
fornecedores de grifes famosas? (https://play.goo
gle.com/store/apps/details?id=br.org.reporterbrasil.modas
emescravos&hl=pt_BR, acessado em 04/04/2014)
O encontro, formal ou informal, das partes interessadas em discutir a
moda sustentável acontece em feiras, colóquios, fóruns online, palestras, etc.,
que possibilitam espaços para discussão de questões da indústria, mercado,
educação.
É fundamental a formação de uma rede de conexões pelo futuro de
uma moda ética e sustentável. Feiras internacionais de moda abraçam eventos
como o Esthetica (Londres), Ethical FS (Paris), The Green Shows (Nova
Iorque), entre outros.
Na internet, blogs, vídeos e sites, especializados ou não, divulgam
informações e conectam pessoas. A importância desses encontros informais
não deve ser subestimada, pois é a partir do despertar do interesse pelo tema
22
que podem surgir pesquisas e iniciativas inovadoras.
No Ensino Superior brasileiro, a moda sustentável enquanto um valor
de base não é ainda consolidada, porém o panorama atual demonstra que a
mudança de currículos e métodos de ensino que reflitam e contribuam para
construção um novo modelo econômico-industrial tornar-se-á uma necessidade
das instituições de ensino e os currículos destas podem se tornar obsoletos
caso não acompanhem essa necessidade.
23
CAPÍTULO II
NOVOS PARÂMETROS PARA EDUAÇÃO
Assim como os hábitos e o sistema de produção e consumo passam
por uma fase de questionamentos e reelaboração, a educação, base formadora
de uma sociedade, também revê suas práticas e prioridades diante dos
problemas que a contemporaneidade nos coloca.
2.1 - O papel social das instituições de ensino superior
Dentro das instituições de ensino, é na esfera da educação superior
que nascem pesquisas específicas para buscar soluções aos problemas atuais,
há trocas e conflitos construtivos entre ideias, sistematização e divulgação do
conhecimento específico e a integração entre instituição de ensino e sociedade
em uma relação mutuamente colaborativa.
Essas atribuições dadas ao ensino superior estão previstas no Capítulo
IV da Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da
24
Educação Nacional. De acordo com o Artigo 43, a educação superior tem por
finalidade:
I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do
espírito científico e do pensamento reflexivo;
II - formar diplomados nas diferentes áreas de
conhecimento, aptos para a inserção em setores
profissionais e para a participação no desenvolvimento da
sociedade brasileira, e colaborar na sua formação
contínua;
III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação
científica, visando o desenvolvimento da ciência e da
tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse
modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio
em que vive;
IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da
humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicações ou de outras formas de comunicação;
V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento
cultural e profissional e possibilitar a correspondente
concretização, integrando os conhecimentos que vão
sendo adquiridos numa estrutura intelectual
sistematizadora do conhecimento de cada geração;
25
VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo
presente, em particular os nacionais e regionais, prestar
serviços especializados à comunidade e estabelecer com
esta uma relação de reciprocidade;
VII - promover a extensão, aberta à participação da
população, visando à difusão das conquistas e benefícios
resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e
tecnológica geradas na instituição.
(Lei nº 9394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. Disponível em: http://portal.mec.gov.br,
acessado em 06/04/2014)
Embora em teoria todos os Projetos Pedagógicos de Curso levem em
conta as direções previstas na LDB nº 9.394, é necessário questionarmos se
ocorre a aplicação prática da teoria.
Além disso, a estrutura da maior parte dos cursos de ensino superior
(principalmente no nível de graduação e curso tecnológico), bem como a
filosofia de ensino, parecem conservar características da segunda metade do
século XX. Vemos o surgimento de novas carreiras e a inclusão de disciplinas
inovadoras, bem como laboratórios de ponta e maior possibilidade de alunos
ingressarem em instituições de ensino, mas se focarmos na estrutura física dos
campi, na dispersão de grupos a partir do sistema de créditos (ver fonte), na
atuação do “professor-palestrante”, nos métodos de avaliação que não
incentivam a produção de conhecimento (mas meramente a apreensão do
conhecido), veremos que falta muito para caminharmos junto com as
demandas do século XXI.
26
Poucos são os cursos superiores de moda que integram de forma
colaborativa os conhecimentos acadêmicos com a comunidade local. O item VI
do artigo acima citado coloca como uma das finalidades do ensino superior
“prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma
relação de reciprocidade;” (Lei nº 9394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional).
O vínculo aluno-sociedade ocorre, na maior parte das vezes, através
do estágio em uma empresa ou em projeto social fora da universidade, mas
vale ressaltar que nesses casos estão em atuação os valores da empresa ou
da ONG; além disso, o aluno aprenderia, nesses casos, a executar as tarefas
que lhe são dadas, não a elaborar e administrar projetos de integração com a
comunidade, conhecimento que poderá lhe ser valioso para sua atuação
profissional.
2.2 - Desmistificando o “tijolo do conhecimento”
No programa “Janelas dos Saberes”, da Universidade Veiga de
Almeida, de 9 de outubro de 2013, o professor de sociologia Pedro Demo dá
uma palestra sobre os desafios da educação contemporânea.
Demo refere-se ao conhecimento como algo em constante
questionamento, o “conhecimento como rebeldia”, e aponta como as
instituições através da pesquisa científica e do debate entre os pesquisadores
(professores e alunos) contribuem somente quando há produção de novos
27
conhecimentos, ao invés da mera produção científica sem inovação, apenas
para a obtenção de títulos de interesse pessoal.
Diz ele, na referida palestra:
Acha-se que o conhecimento é um tijolo que está feito,
fixo, acabado. (...) O conhecimento, quando tem juízo, diz
isso, que tem mil problemas. Só na apostila ele não tem
problema. Na apostila, inclusive, apaga todas as
controvérsias do conhecimento. A apostila não tem
controvérsia. E o conhecimento ele é uma grande
controvérsia. Aliás, o lado bonito, o lado encantador do
conhecimento, é a controvérsia. (Palestra do professor
Pedro Demo para UVA/RJ em 09/10/2013, disponível no
site http://www.youtube.com/watch?v=t8Z0_d7Oc-Q,
acessado em 28/03/2014)
Essa reflexão nos faz pensar que, se o conhecimento é uma
construção contínua e, considerando que o que já foi pesquisado e publicado é
“apenas” material para que se faça algo novo, não cabe ao professor o antigo e
tradicional papel despejar conteúdos para seus alunos sem que lhes instigue a
dúvida, a complexidade de relação entre ideias (convergentes ou divergentes),
a aplicabilidade desses conteúdos para solucionar problemas reais, a crítica, a
autocrítica e o seu poder de agente de transformação social.
O novo lugar do professor é o de um mediador entre os alunos e os
conhecimentos; é ele ser um sujeito que dá ferramentas para o aluno “aprender
28
a aprender” continuamente. Preparar o aluno para solução de problemas que
só se apresentarão no futuro.
Em seu livro “Desafios Modernos na Educação”, Demo (1993) coloca
que o professor que simplesmente repassa o conhecimento sem
instrumentalizar o seu aluno para que este se torne um pesquisador autônomo
pode ser facilmente substituído pelos meios eletrônicos. Assim como, há
alguns anos atrás, poderia ser substituído pelas bibliotecas e grupos de
pesquisa fora das instituições.
Outro pesquisador da educação contemporânea, Donald Finkel, propõe
alternativas como o levantamento e possíveis soluções de questões paras
quais ainda não há respostas, incentivar o debate em grupo, demonstrar seu
processo de pesquisa, discutir com os alunos sobre a sequência de tópicos a
ser seguida. (http://www.princeton.edu/mcgraw/library/sat-tipsheets/mouth-
shut/Teaching-w-Your-Mouth-Shut.pdf, acessado em 16/03/2014).
2.3 - A sustentabilidade é um novo parâmetro da educação
A Organização das Nações Unidas (ONU) deu os primeiros sinais às
instituições do ensino superior quanto ao seu papel no caminho global para o
desenvolvimento sustentável.
O PRME - Principles for Responsible Management Education ou
“Princípios para Gestão Educacional Responsável” - é uma iniciativa que surge
29
a partir do Pacto Global da ONU que indica direções para prática da
responsabilidade socioambiental nas instituições de ensino superior através de
seis princípios desenvolvidos, tal como os princípios do Pacto Global, segundo
valores internacionalmente aceitos, para serem internacionalmente aplicados.
São eles:
● Princípio 1 – Propósito: desenvolveremos as
habilidades dos estudantes de serem futures geradores
do valor da sustentabilidade para negócios e para
sociedade em geral e para trabalharem por uma
economia global sustentável e inclusiva;
● Princípio 2 – Valores: incorporaremos dentro de
nossas atividades acadêmicas e currículos os valores da
responsabilidade social global conforme apresentadas em
iniciativas internacionais como o Pacto Global das Nações
Unidas ;
● Princípio 3 – Método: criaremos estruturas,
materiais, processos e ambientes que possibilitem
experiências de aprendizagem efetivas para liderança
responsável;
● Princípio 4 – Pesquisa: empreenderemos pesquisas
conceituais e empíricas que contribuam para nosso
entendimento sobre papéis, dinâmicas e impactos das
corporações na criação de valores de sustentabilidade
social, ambiental e econômica;
● Princípio 5 – Parceria: Iremos interagir com gestores
de corporações de negócios para ampliarmos nosso
conhecimento sobre os seus desafios em conciliar a
responsabilidade socioambiental e também para, junto a
eles, explorarmos abordagens para enfrentar esses
30
desafios - interagir com os gestores de negócios e
estender o conhecimento a seus desafios em
responsabilidades sociais e ambientais e explorar,
conjuntamente, abordagens para esses desafios.
● Princípio 6 – Diálogo: Iremos facilitar e apoiar o
diálogo e debate entre educadores, estudantes, pessoas
de negócios, membros do governo, consumidores, mídia,
organizações da sociedade civil e outros grupos
interessados e investidores em questões críticas
relacionadas à responsabilidade social global e à
sustentabilidade. (Principles for Responsible Management
Education. http://www.unprme.org, acessado em
25/03/2014)
Vemos que tais princípios de integração entre universidade e
sociedade, pesquisa voltada para o desenvolvimento sustentável em prol da
sociedade, diálogo aberto e projetos de inclusão são direções em harmonia
com aquelas apontadas acima no artigo 43 da LDB.
Esses princípios e outras direções apontadas para o desenvolvimento
sustentável ser um valor de base no ensino exigem grandes mudanças, que
serão feitas gradualmente e adaptando-as de acordo com as particularidades
de cada instituição.
Uma das medidas tomadas em prol desse objetivo foi a Declaração de
Talloires, no ano de 1990, na França, onde reitores e pró-reitores de
universidades de diversas regiões do mundo se colocaram no dever de pensar
e atuar a contra a degradação ambiental.
Consta nessa declaração que as universidades têm um papel crucial
na educação, investigação, formação de políticas e troca de informação
31
necessárias ao cuidado com o meio ambiente e que é papel dos líderes
universitários mobilizar os recursos internos e externos de suas instituições.
Para tal, declaram ações, das quais ressaltamos:
● criar uma cultura institucional da sustentabilidade –
encorajar todas as universidades a envolver-se na
educação, investigação, formação de políticas e troca de
informação sobre a população, ambiente e
desenvolvimento rumo a um futuro mais sustentável.
● envolver todas as partes interessadas – encorajar
governos, fundações e indústria a apoiar a investigação
interdisciplinar, a educação, o desenvolvimento de
políticas e o intercâmbio de informação em
desenvolvimento ambientalmente sustentável. Expandir o
trabalho com as comunidades locais e as organizações
não governamentais para ajudar a encontrar soluções
para os problemas ambientais.
● colaborar para abordagens interdisciplinares – reunir
professores e gestores universitários com técnicos
ambientais de forma a desenvolver abordagens
interdisciplinares aos currículos e a iniciativas de
investigação, operação e comunicação que suportem um
futuro ambientalmente sustentável. (Declaração de
Talloires. http://talloiresnetwork.tufts.edu/wp-content/uplo
ads/DeclarationinPortuguese.pdf, acessado em
23/03/2014.)
Em 1991, em Halifax (Canadá), representantes da Associação
Internacional das Universidades, da Universidade Unida das Nações e da
32
Associação das Universidades e Faculdades do Canadá reuniram-se com
representantes de universidades de várias partes do mundo para discutir a
questão do meio ambiente dentro das instituições do ensino superior.
Ressaltamos aqui dois pontos dessa Declaração:
● enfatizar a obrigação ética da geração atual para
superar aquelas mal práticas da utilização de recursos e
daquelas circunstâncias difundidas do ser humano que se
encontram na raiz da insustentabilidade ambiental.
● cooperar com todos os segmentos da sociedade e
na perseguição de medidas práticas para conseguir a
revisão e a reversão eficazes daquelas práticas da
corrente que contribuem à degradação ambiental.
(Declaração de Halifax. Consultada em:
http://www.gestiopolis.com/Canales4/fin/universidade.htm,
acessado em 23/02/2014)
Já temos exemplos reais de universidades que colocam em prática
essas e outras direções para o desenvolvimento sustentável.
É o caso da Universidade de Copenhagen (Dinamarca), que funciona
com energia solar, da Universidade de Canterbury (Nova Zelândia), que tem
jardins onde os alunos podem cultivar produtos orgânicos, da Universidade de
Lausanne (Suíça) que descarta restos de alimentos enviando para uma
fazenda próxima, onde são usados como fertilizantes. Na Universidade do
Peru, o descarte de papéis é vendido para uma companhia de reciclagem e os
33
lucros são destinados a bolsas estudantis. Na Universidade de Sussex, no
Reino Unido, estudantes criaram uma lojinha de trocas, onde se pode doar e
levar itens como roupas, livros e utensílios. (http://www.topuniversities.com/
student-info/choosing-university/green-universities, acessado em 28/03/2014)
O UI GreenMetric World University Ranking é um ranking mundial onde
um “medidor verde” classifica as universidades cadastradas de acordo com seu
comprometimento com o meio ambiente, usando critérios como infraestrutura,
uso de energia e água, transporte e educação.
Em 2013, a Universidade de Nottingham, do Reino Unido, classificou-
se em primeiro lugar. Das instituições brasileiras, a Universidade Federal de
Lavras/MG ficou em 42º lugar, a Universidade de São Paulo/SP em 144º e a
Pontifícia Universidade Católica/RJ em 150º. (http://greenmetric.ui.ac.id/,
acessado em 28/03/2014)
Difusor e construtor do pensamento científico, o ensino superior tem
como dever encontrar soluções para que a sociedade adote práticas em prol do
meio ambiente. Para que isso seja possível, o tema não pode ser abordado
dentro dessa modalidade de ensino de forma leviana e nem de forma isolada.
Pensar que, para os alunos e para sociedade, mascarar a abordagem
do desenvolvimento sustentável apenas incluindo uma disciplina dentro do
currículo de cada curso é não estar em sintonia com a filosofia propagada por
esses acordos globais que citamos.
A educação interdisciplinar, a reformulação dos projetos pedagógicos,
a coerência e a continuidade da educação para sustentabilidade, bem como a
mobilização do espaço físico e dos funcionários da instituição, são ações
integradas para o fortalecimento da questão. Não basta – ainda que muitas
mudanças ocorrerão gradualmente - comprometer-se parcialmente.
34
Outro ponto fundamental é que a instituição de ensino promova
capacitações para os docentes e demais funcionários, renovando
conhecimentos e reforçando os motivos para adoção de ações sustentáveis.
Esses, por sua vez, discutirão os assuntos com os discentes. As capacitações
também podem destinar-se à comunidade em geral, considerando-se o já
facilitador espaço físico das universidades para palestras.
As parcerias com empresas, ONGs, pesquisadores e demais setores
da sociedade, além de promoverem a integração do conhecimento acadêmico
com a sociedade em geral, são ótimas oportunidades para formação de redes
de pessoas interessadas em pensar conjuntamente o desenvolvimento
sustentável para o presente e o futuro.
2.4 - Comunidades de aprendizagem
Se outrora adquirir conhecimento acadêmico era uma atividade a ser
praticada dentro das instituições de ensino ou tendo acesso às grandes
bibliotecas, hoje a realidade é outra.
As chamadas “comunidades de aprendizagem” e o “open source
learning” (aprendizagem em código aberto) estão ultrapassando as categorias
do ensino e revolucionando a maneira com que aprendemos.
No Brasil, a burocracia para obtenção de certificação e equivalência de
uma disciplina cursada no modelo Open Source Learning ainda é um problema
35
a ser contornado.
Instituições de ensino como o Instituto de Tecnologia de Massachusetts,
a Universidade Carnegie Mellon, a Open University, no Reino Unido, já
colocam em prática a iniciativa da educação em código aberto. No Brasil,
temos a UAB - Universidade Aberta do Brasil, sistema integrado por
universidades públicas que oferece diversos cursos mediante seleção prévia
dos estudantes.
Wenger (1998, apud Arruda et. al., 2011) destaca o aprendizado como
um fenômeno que reflete a natureza social do homem, no contexto de suas
experiências de participação no mundo, e alerta para a lacuna do sistema
educacional que, frequentemente, articula o ensino como se o aprendizado
fosse um processo individual e desconectado das demais experiências da vida.
Aponta, assim, que é na perspectiva da valorização do caráter social do
aprendizado e dos aspectos colaborativos envolvidos que as comunidades de
prática podem ser analisadas como promotoras de aprendizagem, enfatizando
que grande parte do dia a dia do indivíduo envolve essas comunidades.
Essas comunidades não são organizadas por um mentor nem são
grupo impostos, mas sim grupos imaginados, identificados após sua formação,
estimulados, cultivados e, por fim, valorizados.
Nesse sentido, o autor recomenda que se pense em formas criativas
de engajar os estudantes em práticas significativas, providenciando meios para
que esses possam criar comunidades de prática, ingressar nas comunidades
de aprendizagem que já existem e/ou ampliar sua interação naquelas em que
já participam. Isso seria uma ação estratégica para alargar o potencial de
aprendizagem e de formação da identidade profissional dos estudantes e,
ainda, incentivar a formação continuada.
36
CAPÍTULO III
O PAPEL DO PROFESSOR DE MODA
O professor do ensino superior tem grande responsabilidade sobre o
futuro da sociedade, pois os futuros profissionais por ele “formados” – e essa
palavra é um indicador do papel do professor: formar, moldar – indicarão
caminhos e valores em empresas, indústrias, comunidades, em seu trabalho
autônomo ou até mesmo enquanto futuros professores.
O aluno, por sua vez, não tem consciência de seu grande potencial de
atuação social e política enquanto cidadão e enquanto futuro profissional de
moda em prol de uma “arquitetura” do bem estar comum.
Se as instituições de ensino superior não mudam a forma de ensinar
moda, se tornam automaticamente coniventes com as condições atuais,
coniventes com o impacto negativo que o sistema da moda está causando.
A professora e coordenadora Lilyan Berlim atua em mais de cinco
universidades no estado do Rio de Janeiro. Diz ela que:
A área acadêmica, base de formação dos profissionais,
ainda é tímida e incipiente de revisão e reciclagem de
conhecimento sobre esses novos cenários e atores. A
informação atualizada é adquirida pelos alunos muito
mais por meio de periódicos, blogs e sites do que em sala
37
de aula. (BERLIM, 2012, p. 147)
3.1 – Ensinar a questionar
Em primeiro lugar, no ensino da moda sustentável, o professor deve se
manter atualizado frente às informações de moda sustentável, práticas e
políticas em prol do meio ambiente e da sociedade, notícias do mercado de
moda internacional e todas outras informações que julgar necessárias para o
exercício de sua profissão.
Nas disciplinas dos cursos de moda, os alunos precisam entrar em
contato com essas informações e também trazê-las às aulas. O debate deve
ser cultivado, bem como palestras, visitas à fábricas e cooperativas, exemplos
em vídeos e reportagens da realidade do sistema de moda atual.
Além de exibir conteúdos, é preciso sensibilizar o aluno para
responsabilidade socioambiental. É preciso internalizar o valor da
sustentabilidade, da ética, da solidariedade, para que esse aluno se aproprie
da filosofia da sustentabilidade.
Essa sensibilização pode ser feita a partir da observação direta da
realidade ou a partir de olhares poéticos, como a obra da artista chinesa Cao
Fei, “Whose utopia” (2006). Essa videoarte se passa na fábrica OSRAM, na
região de Pearl River Delta, local onde a maioria dos trabalhadores são
imigrantes do interior da China.
38
A obra composta de três partes. Na primeira, vemos o cotidiano de
trabalho dentro da fábrica. Na segunda, alguns funcionários apresentam
individualmente seus talentos artísticos (ballet e outras danças, música) dentro
da fábrica. A terceira parte é entitulada “My future is not a dream” (“Meu futuro
não é um sonho”) e mostra os trabalhadores parados olhando para câmera,
enquanto ouvimos uma música de fundo. Abaixo, um snapshot do vídeo:
(http://www.caofei.com/works.aspx?id=10&year=2006&wtid=3,
acessado em 03/04/2014)
O trabalho, segundo Fei, nos permite ver como esses trabalhadores
lidam com suas utopias em uma nova realidade de globalização que está
modificando a região. Ela diz que a utopia deles é também a dela, e a de
muitos outros com esperança, e que espera que essa utopia deixe de ser um
ideal e um dia se torne realidade.
Ensinar a questionar é dar ao estudante uma ferramenta para vida toda.
Ensinar a questionar é deixar claro que, para formação de uma opinião, deve-
se avaliar as diferentes faces de um problema, sua origem, seu contexto, suas
possíveis soluções.
Ouvir os alunos e considerar suas observações é também uma forma
39
de cultivar a autoestima, de lhes mostrar que eles próprios têm a capacidade
de construir conhecimentos inovadores.
Como sujeito crítico, o aluno também tem que aprender a ser autocrítico,
ou seja, aprender a se autoavaliar, ser também alvo de seus questionamentos.
Tal valor, desde que trabalhado junto com a autoestima, poderá fazer com que
sua atuação profissional contribua de forma significativa para sociedade.
Questionar a própria universidade, o professor e os conteúdos das
disciplinas deve ser estimulado. Dessa forma, o aluno poderá compreender a
utilidade e coerência do que está aprendendo e por quê o está fazendo ou
então poderá exigir mudanças em sua instituição de ensino.
A designer de moda, professora e pesquisadora da Chelsea School of
Art and Design e do Goldsmith College (Reino Unido) Kate Fletcher fala em seu
livro “Fashion and Sustainability: Design for Change” como os estudantes
universitários veem a moda sustentável:
Eu não imagino que eles vejam como uma tendência.
Eles veem como um gama de escolhas “sérias” e
opcionais a serem feitas dentro das estruturas de uma
prática já existente, principalmente sobre materiais e
produção, falhando em vê-la como uma maneira diferente
de pensar. (FLETCHER, 2012, apud OBREGÓN, 2012, p.
5)
40
3.2 – Ensinar a aprender
Como mediadores do conhecimento, os professores devem ser os mais
curiosos por informação, justamente para inspirar seus alunos e demonstrar-
lhes o que é a formação continuada, formal ou informal, e seu diferencial para o
trabalho.
O próprio exemplo do professor que está sempre buscando novos
conhecimentos e discutindo os conhecimentos adquiridos já é uma forma de
incentivar os alunos.
As tecnologias mudarão, a ciência fará novas descobertas e, nesse
sentido, o foco do ensino não deve ser o de “decorar” conhecimentos, pois o
aluno que conclui uma graduação em 5 anos, quando tem seu diploma em
mãos já se depara com uma tecnologia outra.
Por isso ele tem que aprender a ser um pesquisador autônomo. A
universidade dispõe-se a ensinar a pesquisar e a dar valores de base. O senso
crítico (e autocrítico), a importância da formação continuada e a
responsabilidade socioambiental são conhecimentos duradouros que devem
ser a base para aprendizagem de conteúdos.
É certo que as matérias das disciplinas precisam ser trabalhadas nas
aulas e o domínio delas precisa ser exigido dos alunos, mas em uma realidade
de rápidas e inconstantes transformações, é preciso, na base da formação
acadêmica, equipar o aluno pra que ele se adapte à essa incerteza, para que
ele faça questionamentos e transformações e aprenda a resolver problemas a
curto e longo prazo.
41
O professor de Moda que instrumentaliza seus alunos e gera
curiosidade para que busquem o próprio conhecimento, como citamos no
segundo capítulo, deve ter em conta que há uma diversidade alunos em cada
turma, cada qual com seus objetivos.
Logo, é tão importante que estes se instrumentalizem para a vida
acadêmica quanto para a atuação empresarial, ou ainda outras possíveis
atuações profissionais além dessas duas. Oferecer alternativas de atuação
deste futuro profissional é prepará-lo para um mercado de trabalho instável e
em processo de significativas mudanças.
É possível ensinar o aluno a desenvolver uma pesquisa bibliográfica,
por exemplo, para um seminário, congresso ou artigo, ou ensiná-lo a fazer uma
pesquisa de campo que apontará quais os problemas socioeconômicos de uma
região que podem ser modificados através da moda.
É possível também propor que em grupo os alunos façam uma
pesquisa de opinião que poderá ser um indicador de modos de pensar de tal
região e esta poderá levar a uma pesquisa individual sobre como é possível
criar um canal de comunicação que fale da importância do consumo
consciente.
Estar atento às inúmeras fontes de informação e às demandas de
mercado que não são explícitas é um diferencial para o profissional de moda.
42
3.3 – Ensinar a inter-relacionar
Quando se trata de sustentabilidade, a incompreensão do
tema é relevante, mas de uma forma geral, falta ao
professor uma capacitação integrada e interdisciplinar.
(BERLIM, 2012, p. 148)
Conforme exposto no item 2.4 do Capítulo II, algumas universidades
menos visionárias ainda formulam seu método de ensino como se o
aprendizado fosse um processo individual e desconectado das demais
experiências da vida. Não se pode ignorar os problemas da
contemporaneidade e, menos ainda, desperdiçar o potencial das instituições do
ensino superior em solucioná-los.
A inter-relação entre os problemas da realidade e experiências do aluno
fora da instituição de ensino com os conteúdos abordados dentro dela é
fundamental para que haja um vínculo das disciplinas com a vida desse aluno.
Assim, ele estará mais propenso a buscar soluções dentro do meio
acadêmico para os problemas que identifica na sociedade e, ao mesmo tempo,
a ter um papel ativo na sociedade a partir de sua aprendizagem, deste modo
valorizando o seu esforço acadêmico.
Para prática dessa inter-relação, os projetos pedagógicos dos cursos de
moda devem colocas a sustentabilidade no cerne dos currículos da educação
superior (ao invés de adicionarem uma disciplina isolada que trate do meio
ambiente).
Como lembra Lilyan Berlim:
43
A sustentabilidade não pode ser vendida – ela é uma
filosofia a ser percebida. O seu exercício deve estar
intrínseco a toda e qualquer ação, atitude e
comportamento de uma pessoa ou instituição (BERLIM,
2012, p. 63)
Foi o caso dos cursos de bacharelado “Design de Moda” e “Negócios
da Moda” da Universidade Anhembi Morumbi, de São Paulo, onde o
desenvolvimento sustentável deixou de ser tema de poucas e fragmentadas
disciplinas e passou a ser uma direção no projeto pedagógico de ambos
cursos, permeando toda matriz curricular e ainda os projetos de pesquisa e
extensão.
Abaixo, um trecho do projeto pedagógico do curso superior de
Negócios da Moda:
Para enfrentar os contextos contemporâneos de
complexidade, instabilidade e globalidade, o curso de
Negócios da Moda, através de seu projeto pedagógico e
das práticas de ensino e pesquisa, visa preparar os
alunos para o exercício responsável e consciente da
cidadania sobre a sustentabilidade. Estimula e desenvolve
a capacidade reflexiva de forma criativa e inovadora, com
a finalidade de formar gestores, com capacidade de atuar
nos diversos elos da cadeia têxtil e de confecção. (Projeto
Pedagógico do curso de Negócios da Moda da
Universidade Anhembi Morumbi. NAVALON e
44
LEVINBOOK, 2013 p. 16)
Assim como as discussões sobre os problemas do mercado de moda e
modelos socioeconômicos que não são éticos, os recursos que o aluno tem
fora do ambiente acadêmico devem ser valorizados. Todas tecnologias da
informação e da comunicação são ricas fontes de obtenção, divulgação e
construção coletiva de informações e seu uso deve ser incentivado tanto na
sala de aula quanto fora dela.
O aluno precisa ter esclarecido que o conhecimento não acaba quando
ele sai da instituição de ensino para sua casa, ou quando conclui o curso e
recebe seu diploma. O pensamento para o desenvolvimento sustentável deve
fazer parte de sua vida.
3.4 – Ensinar a criar
Uma vez que o aluno tenha desenvolvido senso crítico, compreendido
e se sensibilizado para prática do desenvolvimento sustentável e saiba integrar
as muitas faces da realidade, o professor deve instrumentalizar o aluno para
solucionar problemas, propondo alternativas inovadoras.
Expor iniciativas de sucesso é fundamental para que se crie um
“repertório” de situaçõe
facilidade ele irá criar so
O professor pod
como eles foram resolv
teriam pensado, quais
gerado, etc.
Por exemplo, p
espaço da vitrine para
ambientais que a moda
Bloomingdale’s, em No
de 2011.
(http://www.eco
shop-at-bloomingdales
em 18/03/2014)
tuações. Quanto mais rico o repertório do a
riar soluções.
or pode elaborar perguntas para problemas r
resolvidos e perguntando que outras alterna
quais resultados eles acreditam que essa
plo, para pergunta “como o profissional de mo
para chamar a atenção dos consumidores
moda provoca?” damos o exemplo abaixo de
m Nova Iorque, feita para o evento “The Gree
w.ecouterre.com/the-greenshows-opens-eco
dales-soho/the-greenshows-ecolux-pop-up-sho
45
do aluno, com mais
mas reais, mostrando
lternativas os alunos
essa solução tenha
de moda pode usar o
ores sobre os danos
ixo de uma vitrine da
Green Show” do ano
eco-fashion-pop-up-
shop-3/, acessado
46
Outros exemplos de alternativas de sucesso estão no Capítulo I, no item
1.3 deste trabalho.
A elaboração criativa de novas formas de trabalho, de uma nova lógica
de consumo, de meios de divulgar a filosofia da sustentabilidade, entre outros,
pode ser apoiada por diferentes exercícios e dinâmicas que desenvolvam a
criatividade.
Muitos dos conhecimentos do universo das Artes Visuais contribuem
para o ensino da moda, pois a arte contemporânea frequentemente explora
uma visão crítica da sociedade e, ainda, a prática artística exige uma
reelaboração do meio ambiente, num processo de desconstrução e
reconstrução.
É interessante constatar que o encontro entre a arte e a moda não se
dá apenas na pesquisa e construção plástica existente em ambas áreas. O
professor de arte e educação da Universidade de Stanford (Estados Unidos)
Elliot Eisner (apud Mae, 2005.) coloca como funções da educação através da
arte: autoexpressão criadora, solução criadora de problemas, desenvolvimento
cognitivo, cultura visual, disciplina, potencializar a performance acadêmica,
preparar para o trabalho.
3.5 – Ensinar a contribuir
Como vimos nos capítulos anteriores, a integração das instituições do
47
ensino superior com a sociedade é uma emergência para concretização da
sustentabilidade e uma finalidade do ensino superior prevista em lei.
Desenvolver e colocar em prática projetos de extensão é também uma
ótima iniciativa para que o ensino da sustentabilidade não se torne uma teoria
utópica e para o futuro, para que os alunos tenham pelo menos uma
experiência real de resolver problemas para os quais, na realidade, muitos
profissionais ainda não têm respostas.
Dois casos bem sucedidos de projetos de extensão são o projeto
Ecomoda, da Universidade do Estado de Santa Catarina, que vem crescendo
desde sua implementação, em 2004, e os projetos interligados Modateca
Ambiental e Modateca Social, da Universidade de Pernambuco.
O Ecomoda promove projetos sociais, eventos, cursos, palestras e
exposições em diversas cidades de Santa Catarina e é uma rede de
informações e conexões.
Em Pernambuco, o Modateca Ambiental atua na região de Caruaru
promovendo ações educativas, enquanto o Modateca Social trabalha pela
inclusão de comunidades carentes no mercado de moda loca, provendo
qualificação da mão-de-obra.
Direcionar projetos de extensão para atuar nas escolas de ensino
fundamental pode ser outra alternativa eficaz, pois muitos alunos das escolas
terão uma escolha de curso superior para fazer e muitas vezes não tem o
conhecimento do que é desenvolvimento sustentável ou da existência de
cursos de moda sustentável.
Ainda, o professor pode incentivar que seus alunos divulguem nas
redes sociais os seus conhecimentos acadêmicos, expandindo os temas
48
debatidos para além do grupo dos estudantes de moda.
Para incentivar os alunos, pode-se fazer um trabalho de no qual os
alunos criem blogs onde publiquem e discutam ideias apontadas na sala de
aula. Esses blogs podem ser abertos a comentários, permitindo que um público
amplo faça parte da discussão.
Ensinar dinâmicas de grupo para os alunos aplicarem em fábricas, em
comunidades carentes, em grupos do projeto de extensão, em cooperativas,
etc. pode ser um diferencial para carreira desses alunos.
As dinâmicas de grupo se destinam a diferentes objetivos, podendo ser
eles: integração, absorção de um conhecimento novo, saber ouvir o outro,
compreender e analisar comportamentos dentro do ambiente de trabalho,
aceitar a diversidade.
Como apontado anteriormente, criar sistemas alternativos de produção
e consumo, desenvolver e acompanhar projetos de integração com a
comunidade são desafios para que a teoria sirva como apoio para prática, e
vice versa, justificando, potencializando e divulgando os conhecimentos
acadêmicos dentro da realidade de cada região.
49
CONCLUSÃO
A moda brasileira tem total capacidade de se tornar sustentável e ética,
uma vez que haja interesse por parte dos profissionais da moda, investidores e
consumidores e apoio cooperativo e inteligente por parte do governo.
Há um longo e indeterminado - porém possível - caminho a percorrer
por parte dos professores, dos profissionais e dos consumidores dos produtos
de moda.
A aliança entre moda e consumo deve passar por uma reestruturação.
As partes envolvidas precisam fazer uso da criatividade para pensar novas
formas de trabalho, novos “produtos imateriais” e lógicas de consumo que não
os já estabelecidos; valorizar e inovar as prestações de serviço (ligadas a
produto, a comportamento ou a negócios); pensar como o afeto e a
restauração vão contra a noção de obsolescência dos produtos e de que forma
a moda pode se valer disso.
Essas e outras mudanças nos colocarão rumo à sustentabilidade
conquanto não as tratemos como mais uma “tendência” para criação de
produtos de moda, pois tal seria rapidamente substituível pela próxima
tendência do mercado.
Para que ocorra uma mudança tão grande desse sistema que envolve
diversas esferas da sociedade será imprescindível a atuação dos profissionais
da educação.
50
Além de enfatizar o tema da sustentabilidade e suas implicações, há
mudanças que dizem respeito às instituições de ensino: seu lugar físico (um
campus sustentável) ou virtual, o envolvimento de todos os indivíduos que
fazem parte da instituição, quais usos a instituição faz da tecnologia hoje
disponível, o envolvimento social, ou seja, se o conhecimento transcende a
academia, o desenho do currículo de cada curso, etc.
Para as instituições do ensino superior, repensar a sua filosofia de
ensino e estar em harmonia com os valores do desenvolvimento sustentável é
garantir sua existência no futuro.
A consolidação de valores éticos, do desenvolvimento sustentável e da
responsabilidade socioambiental em toda e qualquer área do conhecimento
poderá fazer com que todo ser humano entenda seu papel de agente
construtor de uma sociedade ética, crítica e transformadora.
Através de uma visão holística dos alunos e interdisciplinar do ensino,
o professor será aquele com o papel de despertar esse desejo de construção.
51
BIBLIOGRAFIA CITADA
BARBOSA, Ana Mae (Org.). Arte/Educação Contemporânea: Consonâncias
Internacionais. São Paulo: Cortez, 2005.
BERLIM, Lilyan. Moda e Sustentabilidade: uma reflexão necessária. São Paulo;
Estação das Letras e Cores, 2012.
Congresso Nacional. Lei nº 9394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. Brasília-DF: 1996. (Disponível em: http://portal.mec.gov.br, acessado
em 06/04/2014).
DEMO, Pedro. Desafios Modernos na Educação. Petrópolis: Vozes, 1993.
FINKEL, Donald. Teaching With Your Mouth Shut. Nova Hampshire : Heinemann, 2000. In: The Scholar as Teacher. Princeton University: The McGraw Center. Nova Jérsei, s/d. (Disponível em http://www.princeton.edu/mcgraw/library/sat-tipsheets/mouth-shut/Teaching-w-Your-Mouth-Shut.pdf, acessado em 16/03/2014).
FLETCHER, Kate. Fashion and Sustainability: design for change. Laurence
King Publishers. Londres: 2012. In: OBREGÓN, Carolina. Sustainable Fashion
Education: from trend to paradigm? Cumulus Conference. Helsinki: 2012.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTOS 03
RESUMO 04
METODOLOGIA 05
SUMÁRIO 06
INTRODUÇÃO 07
CAPÍTULO I - DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA MODA 09
1.1 - Conceitos e acordos internacionais 10
1.2 - A realidade econômico-industrial da moda 12
1.3 - Moda sustentável: uma realidade possível 15
CAPÍTULO II – NOVOS PARÂMETROS PARA EDUAÇÃO 23
2.1 - O papel social das instituições de ensino superior 23
2.2 - Desmistificando o “tijolo do conhecimento” 26
2.3 - A sustentabilidade é um novo parâmetro para educação 28
2.4 - Comunidades de aprendizagem 34
CAPÍTULO III – O PAPEL DO PROFESSOR DE MODA 36
3.1 – Ensinar a questionar 37
3.2 – Ensinar a aprender 40
3.3 – Ensinar a inter-relacionar 42
3.4 – Ensinar a criar 44
3.5 – Ensinar a contribuir 46
CONCLUSÃO 49
BIBLIOGRAFIA CITADA 51
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 53
WEBGRAFIA 54
ÍNDICE 56