DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · No séc. XIII as crianças eram representadas...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
O PAPEL DOS AVÓS NA FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA
Por: Priscila da Silva Marques
Orientador
Prof. Fabiane Muniz
Rio de Janeiro
2014
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
O PAPEL DOS AVÓS NA FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Terapia de Famílias
Por: . Priscila da Silva Marques
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente à Deus por
mais esta conquista, agradeço ao meu
esposo querido, que é o meu parceiro,
amigo e incentivador nas realizações
dos meus sonhos e objetivos.
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DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia primeiramente à
Deus, a minha querida vó Maria Tereza
Gomes e ao meu avó Sebastião Nogueira
da Silva (in memória) , que foram a minha
fonte de inspiração na constituição deste
trabalho, ao meu esposo, aos meus pais
ao meus irmãos, a minha orientadora
Profª Fabiane pela paciência, aos meus
amigos que colaboraram direta e
indiretamente e a todas as famílias que
guardam a memória viva de sua história
através dos nossos avós .
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RESUMO
A presente monografia abordada tem por título: O papel dos avós na
família contemporânea. Tal temática é permeada pela relação histórica deste
segmento com as transformações da família ao longo dos anos em novos
arranjos familiares, nos quais os avós estão inseridos, tendo os seus papéis
redefinidos dentro destas novas dinâmicas familiares. Abordaremos, os
objetivos do trabalho, a importância da relação intergeracional no seio na
família, o confronto entre gerações e o caminhar de ambas na troca de
experiências e aprendizado
Primeiramente no capítulo I, abordaremos a história da família, da
família medieval até a família moderna e contemporânea, acompanhando as
mudanças estruturais e sociais. No capítulo II introduziremos os avós no
âmbito familiar, sua importância na transmissão da história, a visão que se
tinha dos avós e visão que se tem hoje, sua transformação e posição diante
dos novos arranjos familiares. No capítulo III, analisaremos as relações
intergeracionais e sua importância na família, nos laços de afinidade e nas
trocas de conhecimento em ambas as gerações.
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METODOLOGIA
A metodologia empregada na confecção deste trabalho foi a pesquisa
biblbiográfica e webgráfica, a artigos, teses de mestrado, estudos , pesquisas,
sites de família e revista. Tendo como referência teórica principal, a autora
Maria Amalia Faller Vitale, dentre outros autores.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...........................................................................................08.
Cap I - UM BREVE HISTÓRICO DA FAMÍLIA ..........................................09
1.1 DA FAMÍLIA MEDIEVAL A FAMÍLIA MODERNA..................................10
Cap II – OS AVÓS DE ONTEM E DE HOJE .............................................22
2.1 A POSIÇÃO DOS AVÓS NAS NOVAS DINÂMICAS FAMILIARES .....26
Cap III – RELAÇÕES INTERGERACIONAIS ............................................32
3.1 AVÓS E NETOS NA CONTEMPORANIEDADE .................................36
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................41
REFERÊNCIAS ........................................................................................42
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INTRODUÇÃO
A presente monografia tem como o tema O papel dos avós na família
contemporânea, e tem como objetivos: Analisar a evolução das
transformações da família, tendo como principal foco os avós diante destas
mudanças e novos arranjos familiares. Tendo em vista os possíveis conflitos
entre gerações levando em consideração os papéis dos membros familiares.
Analisar as transformações e rearranjos familiares ao longo dos anos e discutir
de que forma isto influenciou na posição e papel dos avós dentro da família
contemporânea. Discutir as novas dimensões familiares, decorrentes de
transformações ocorridas nas famílias. Refletir as relações intergeracionais, a
importância dos avós na transmissão da memória familiar..
Os motivos que me levaram a escolha deste tema foi o fato de ter tido
muita influência na minha educação dos meus avós maternos, o que para mim
ficava muitas vezes confuso o papel dos pais e dos meus avós, a autoridade
de um e de outro. Afinal, a quem obedecer? Fato que sentia que nem mesmo
eles sabiam. Meus avós não sabiam seus limites e os meus pais não sabiam
limitá-los, o que gerou muitos conflitos familiares. Diante desta experiência,
esta vivência na infância, hoje me inspira e aguça a curiosidade em estudar o
tema e sua relevância na família e na sociedade.
Considerando as transformações ocorridas ao longo dos anos na
sociedade brasileira e conseqüentemente refletindo na estrutura familiar , o
estudo deste tema torna-se relevante , pois os avós fazem o ele entre
gerações e trazem consigo modelos de estrutura familiar e lidam com os
novos modelos de família da atualidade. Diante desta dinâmica, a função dos
avós na família também sofrem transformações, tornando-se necessário
estudar de que forma essas transformações repercutem na família com um
todo e na vida dos avós atuais.
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CAPÍTULO I
UM BREVE HISTÓRICO DA FAMÍLIA
O CONCEITO
Iremos iniciar a nossa viagem pela história da família, iniciando pelo
século XVII. Segundo Aries (1975) A família no século XVII era vivida em
público, não havia privacidade. As pessoas viviam misturadas, adultos com
crianças, patrões com empregados. As casas estavam o tempo todo abertas
aos visitantes. O mesmo lugar que moravam, trabalhavam, na havia divisões
nas moradias, não havia cômodos, tudo aconteciam no mesmo ambiente. As
compartimentalizações só vieram a ter nas casas depois do Séc. XVIII, não
havia privacidade nas famílias. Não havia um sentimento de família, havia um
sentimento de linhagem que era muito diferente do sentimento familiar. A
Linhagem era apoiada na divisão de patrimônio. O grupo familiar se confundia
com a prosperidade do patrimônio e a honra do nome. As famílias eram
conhecidas por seus sobrenomes, estes eram dados de acordo com o que
possuíam ou cultivavam, os cultivadores de maças se chamavam Os
Macieiras, os cultivadores de azeitonas se chamavam Os Oliveiras, os de pêra
se chamavam Os Pereiras. O sentimento de família era ligado ao governo e a
vida dentro de casa. O sentimento de família, a noção de intimidade no lar veio
acontecendo aos poucos. O reconhecimento da infância e o interesse por ela
trouxeram este sentimento.
Até o século XIV a criança era representada nas figuras apenas com
o menino Jesus. No séc. XIII as crianças eram representadas nas pinturas em
meio a cenas públicas, no meio do povo, no colo da mãe mamando, nos
preparativos para caça, Junto com os adultos em atividades, brincando e etc.
Na idade média não existia o sentimento de infância. A criança não era tratada
nas suas particularidades e no seu desenvolvimento. A infância era
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considerada apenas uma pequena transição para fase adulta e rapidamente
superada. Em razão disso os adultos não tinham pudor na frente das crianças,
elas presenciavam cenas de sexo, palavrões, bebedeiras, guerras, enfim
situações e ações escabrosas. As estórias e contos infantis não remetiam a
inocência e não possuíam nenhum tipo de censura. Quando as crianças
passavam da fase de alto nível de mortalidade já eram inseridas no mundo dos
adultos e não haviam mais diferenças entra eles.
1.1 - Da família medieval para a família pós moderna
Entre os séc. XVI e XVII houve muitas mudanças na família, a
principal delas são as atitudes para com as crianças. Segundo Aries (1975) a
família transformou-se profundamente na medida em que modificou suas
relações internas com a criança.
Na Inglaterra as crianças eram conservadas em casa até os sete
anos ou nove anos de idade, quando atingiam esta idade meninos e meninas
eram colocados em outras famílias para aprenderem serviços domésticos
pesados e servi aquela família. Elas permaneciam lá até os seus 14 ou 18
anos. As sua famílias de origem também recebiam crianças estranhas em suas
casas para lhe servirem, eles acreditavam que eram melhor servidos por
crianças estranhas do que as dos seus próprios lares. Para eles, elas estavam
aprendendo as boas maneiras.
Esta prática era extremamente normal, eram consideradas como um
método de aprendizagem. Existiam literaturas a respeito deste fato, que eram
considerado como um serviço, ou um servidor. Este deveria saber servir à
mesa, arrumar as camas e acompanhar o seu mestre. Esta função pode ser
comparada hoje como a de um secretário e não era definitiva, mas sim um
estágio ou seja um período de aprendizado.
Diante disto como forma de educação o serviço doméstico se
confundia com a aprendizagem. Havia um mestre que transmitia os seus
conhecimentos a uma outra criança que não era seu filho mas sim de outra
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família, os conhecimentos práticos e os valores dos ser humano. Este
costume era praticado em todas as classes sociais.
Não havia lugar para a escola nessa transmissão através da
aprendizagem direta de uma geração a outra. De fato, a escola, a escola
latina, que se destinava apenas aos clérigos, aos latinófones aparece como um
caso isolado, reservado a uma categoria muito particular. E a escola era na
realidade uma exceção , e o fato de mais tarde ela ter-se estendido a toda a
sociedade não justifica descrever através dela a educação medieval: seria
considerar a exceção como regra. A regra comum a todos era aprendizagem.
Mesmo os clérigos que eram enviados à escola muitas vezes eram confinados
como os outros aprendizes a um clérigo, um padre, às vezes a um prelado a
quem passavam a servir. O serviço fazia tão parte da educação de um clérigo
quanto a escola. No caso dos estudantes muito pobres, ele foi substituído
pelas bolsas dos clérigos: vimos que essas fundações foram a origem dos
colégios do Ancien Régime.
De acordo com o exposto a transmissão de conhecimentos entre as
gerações era realizada pela participação familiar das crianças na vida dos
adultos. As crianças viviam misturadas ao cotidiano dos adultos. Nas escolas
elas não eram separadas por faixa etária, não havia esta preocupação de
segregação das crianças.
As cenas da vida quotidiana constantemente reuniam crianças e
adultos ocupados com seus ofícios como, por exemplo, o pequeno aprendiz
que prepara as cores do pintor ou a série de gravuras dos ofícios de Sttradan,
que nos mostra crianças em ateliês com companheiros mais velhos.
Resumindo, em toda parte, brincando, trabalhando ou jogando, as crianças se
misturavam com os adultos. Acreditava-se que assim elas aprendiam a viver,
através do convívio e o contato com o mundo dos adultos.
Devido ao fato das crianças serem separadas de suas famílias de
origem desde muito cedo na Idade Média, e irem para outra família, ela não
poderiam nutrir um sentimento existencial profundo por aquela criança, isto
não significava que elas não as amassem. As famílias que recebiam crianças
estranhas acabavam apegando-se a elas não pelo fato delas contribuírem
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mas pelo apego que acabavam gerando. A família era considerada, mas pelo
seu aspecto social e moral do que sentimental. Nesta época histórica na
família não existia sentimentalmente.
A partir do séc. XV, começou a existir de forma lenta e profunda uma
transformação no que diz respeito a realidade e sentimentos da família. Um
fato que contribuiu bastante para essas transformações foi a escola. Como foi
dito anteriormente, na Idade Média a educação o conhecimento e
aprendizagem era passado pelos adultos em famílias que não eram as suas.
Aos poucos a educação passou a ser fornecida pela escola. A escola não
mais era exclusiva dos clérigos, mas passou a ser um instrumento normal para
o começo na vida social, na transição da vida de criança para a vida de adulto.
Essa evolução correspondeu a uma necessidade nova de rigor moral da parte dos educadores, a uma preocupação de isolar a juventude do mundo sujo dos adultos para mantê-la na inocência primitiva, a um desejo de treiná-la para melhor resistir às tentações dos adultos. Mas ela correspondeu também a uma preocupação dos pais de vigiar seus filhos mais de perto, de ficar mais perto deles e de não abandoná-los mais, mesmo temporariamente, aos cuidados de uma outra família.(ARIES, 1975, p.221).
A entrada da criança na escola em substituição aos antigos modelos
de aprendizagem possibilitou uma maior aproximação da família e das crianças
e aflorou o sentimento de infância que antes era inexistente. A família passou a
se concentrar em torno da criança, porém ela desde pequena era separada
dos seus pais para estudar em uma escola distante, apesar que no século XVII
haviam discussões das vantagens de se mandar as crianças para o colégio e
muitos defenderem a educação em casa com um preceptor acreditando-se em
maior eficácia.
O afastamento que as crianças viviam agora não era mais como
antes, não durava tanto tempo como quando elas era aprendizes. Elas não
ficavam internas no colégio, moravam numa pensão particular ou ficavam na
casa do mestre. A relação entre a criança e sua família estava cada vez mais
se estreitando, os mestres entreviam para dificultar essas visitas, muitas vezes
as mães projetavam as visitas escondidas. As crianças mais ricas não saiam
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sozinhas de casa eram sempre acompanhadas de alguém, geralmente era o
seu preceptor, ou um criado, estudante mais velho ou quase sempre seu irmão
de leite.
A educação no século XVII insistia no dever dos pais escolherem os
colégios para os seus filhos e também de um preceptor, quando a criança
vinha dormir em sua casa , os pais supervisionavam seus estudos, repetindo
as lições. O sentimento da família com relação a criança era mais próximo do
nosso, este sentimento nasceu juntamente com o surgimento da escola, ou
seja o hábito de educar dentro de uma escola.
Entretanto, mesmo com essa aproximação da família com a criança, o
fato de alguns colégios manterem elas afastadas dos seus pais, ainda
incomodava e não seria tolerado por muito tempo por eles. Começou a surgir
um esforço dos pais para multiplicar as escolas a fim de aproximá-las das
famílias e manter os filhos perto de si. Houve uma proliferação de escolas, e
isto incomodou a alguns contemporâneos, pois substituía as antigas formas de
educação, ou seja, a aprendizagem. Diante deste fenômeno, observa-se uma
total transformação da família, agora ela passava a se concentrar na criança, e
passou a existir uma relação mais sentimental dos pais e dos filhos. As
pinturas passaram a representar a família em torno do casal e das crianças.
É necessário salientar que a escolarização, que trouxe como
conseqüência o sentimento familiar não afetou a todos. Existiam ainda uma
grande quantidade de crianças, que continuaram sendo educadas pelas
antigas práticas da aprendizagem. Também existiam meninas que eram
mandadas para pequenas escolas ou conventos, a maioria eram educadas em
casa ou mandadas para casas de outras pessoas, geralmente uma parenta ou
vizinha. Infelizmente a escolaridade para as meninas não foi difundida antes do
século XVIII e início do século XIX. Durante muito tempo as meninas foram
educadas pela prática dos costumes, em casas alheias mais do que pela
escola.
A escolarização para os meninos começou primeiro nas camadas
médias da hierarquia social. A alta nobreza e os artesãos permaneceram
atrelados as antigas formas de aprendizagem. Na classe de artesãos e
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operários, a aprendizagem subsistiria até nossos dias. Os jovens nobres no
final de seus estudos viajavam para Itália e à Alemanha, eles iam para cortes
ou casas estranhas para aprender suas línguas, boas maneiras e os esportes
de cavalaria, fato que remetia a antiga tradição.
Com o surgimento das Academias, esta tradição foi se extinguindo no
século XVII, era a substituição de uma educação mais prática para uma mais
especializada e mais teórica.A escola cresceu na ampliação dos seus efetivos,
no aumento do número de unidades e em sua autoridade moral, substituindo
por completo os antigos modelos de aprendizagem. A base escolar foi
definitivamente estabelecida em nossa civilização moderna. O tempo foi o fator
importante para consolidar, prolongar e estender a escolaridade.
Diante disto surgiu sob uma nova forma os problemas morais da
família. Um fato que evidenciou isto foi o antigo costume de beneficiar apenas
um filho em detrimento de outro, geralmente era os mais velho.O poder
patriarcal também intervia nas uniões, pois quando se tratava de casamento,
não havia contestamentos, do poder dos pais nessa questão.Os casamentos
arranjados eram uma forma de perpetuação e manutenção do patrimônio. Este
costume se perpetuou no século XVIII, para evitar o fim do patrimônio, cuja
proteção não se baseava mais na linhagem, porém contrariamente era mais
ameaçado por uma maior mobilidade de riqueza. Os privilégios que os filhos
primogênitos possuíam ou o filho escolhido para desfrutá-las, foi a base social
da família do fim da Idade Média até o século XVII, tendo fim no século XVIII.
Com o passar do tempo, precisamente na segunda metade do século XVII, os
moralistas educadores passaram a contestar esta prática, segundo eles, esta
prática prejudicava a equidade , repugnava um sentimento de favoritismo
familiar.
Um capítulo do Tratado de Varet De I’ éducation , publicado em 1666, fala da igualdade que se deve ter entre as crianças . Há uma desordem que se introduziu entre os fiéis e que não fere menos “a igualdade que os pais e as mães devem aos seus filhos. Essa desordem se resume no fato de os pais pensarem apenas no estabelecimento daqueles que, pela condição de seu nascimento ou pelas qualidades de sua pessoa, lhes agradam mais.”(Eles lhes “agradavam” porque serviam melhor ao futuro da família. Trata-se da concepção de uma família como uma sociedade independente do
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sentimento pessoal, como uma “ casa”.)” As pessoas temem que, se dividirem igualmente seus bens entre seus filhos, não possam aumentar como queriam o brilho e a glória da família.(ARIES,1974, p.224)
O filho mais velho não poderia usurfluir das vantagens concebida a
ele pelos seus pais se seus irmãos mais novos tivessem as mesmas
vantagens que ele. Era necessário colocar os seus irmãos em uma condição
inferior, para que não pudessem disputar com o seu irmão mais velho. Este
costume começou a ser contestado no final do século XVII e início do século
XIX pela opinião pública, poucos eram os chefes de famílias e nobres usavam
o costume de beneficiar apenas um dos filhos. Passou a existir uma respeito
pela igualdade entre os filhos, passou a surgir um movimento gradual da
família-casa em direção à família sentimental moderna.
Tendia-se agora a atribuir à afeição dos pais e dos filhos, sem dúvida tão antiga quanto o próprio mundo, um valor novo: passou-se a basear na afeição toda a realidade familiar. Os teóricos do infeio do século XIX, entre os quais Villéle, consideravam essa base demasiado frágil; eles preferiam a concepção de uma “casa” familiar, uma verdadeira empresa independente dos sentimentos particulares; haviam compreendido também que o sentimento da infância estava na origem desse novo espírito familiar, do qual suspeitavam. Por essa razão, tentaram restaurar o direito da primogenitura, derrubando assim toda tradição dos moralistas religiosos do Ancien Régime.(AIRES, 1975, p. 226).
Os avanços do sentimento da família seguem os avanços da vida
privada, da intimidade doméstica. Este sentimento não cresce quando a casa
está muito aberta para o exterior: ele necessita de um mínimo de segredo.
Durante muito tempo, a vida cotiadiana e suas condições não permitiam esta
intimidade necessária a família, longe do mundo exterior. O afastamento das
crianças, sendo enviadas para outras casas, como aprendizes, e a entrada de
crianças estranhas em suas próprias casas, foi um grande obstáculo para o
desenvolvimento do sentimento familiar. Porém o surgimento da escola e
consequentemente a volta das crianças para suas casas, trouxe maior
sentimento de afeto na família, mesmo assim estava muito longe da família
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moderna e de sua forte vida interior; a sociabilidade antiga, não compatível
com esse tipo de família, ainda existia.
No século XVII , se constituiu no equilíbrio entre as forças sociais e as
forças familiares, que não conseguiram sobreviver aos progressos familiares
da intimidade, talvez conseqüência dos avanços técnicos. Neste século a
sociedade na França era uma sociedade de clientelas hierarquizadas, onde os
pequenos se uniam aos maiores. Existia toda uma rede de contatos
quotidianos ,sensoriais, advindos da formação desses grupos.
Este fato para nós se entende em uma quantidade grande de visitas,
encontros, conversas e trocas. As atividades sociais , eram sempre coletivas,
assim como divertimentos, não se destinguiam em atividades separadas como
hoje, portanto não havia separação da vida profissional da vida privada e a
vida mundana e social. Era extremamente importante naquela época, manter
as relações sociais com o grupo onde se havia nascido e através da boa
comunicação e bom uso dessas relações elevar sua posição dentro deste
grupo. Para essa sociedade obter êxito na vida não era sinônimo de fortuna,
dinheiro, mas era obter uma posição mais honrosa, onde todos se conheciam,
se viam, se ouviam e quase todos os dias se encontravam. Para a sociedade
daquela época a reputação tinha muito valor. Segundo Mueller(2009) para
atingir tais valores, as pessoas não deveriam se contentar com sua condição,e
para elevá-la elas se sujeitavam a uma polida e detalhada disciplina social,
através dos códigos de civilidade. Para obter sucesso e ser admirado, a
pessoa devia ser amável, agradável em sociedade. Dependo das amizades
que uma pessoa possuía, isto estava relacionado a sua reputação, dependo da
amizade, poderia perder sua reputação. A amizade era uma relação muito
íntima e valorizada. Por isso a conversação ganhava uma grande importante.
As pessoas deveriam saber conversar, não podiam falar de qualquer
assunto. A conversação deveria saber respeitar a conviniência, respeitar as
regras. Deveriam ser evitados assuntos domésticos, familiares, ou muito
pessoais e as mentiras auto-elogiosas.
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Observareis como primeiro ensinamento jamais discutir ou falar sobre coisas frívolas entre pessoas importantes e doutas, nem sobre questão ou sobre coisas melancólicas como feridas, enfermidades, prisões, processos, guerra e morte.Não digas vossa opinião a não ser que vo-la peçam, mesmo que sejais o mais razoável.Não vos intrometais em corrigir as imperfeições dos outros, tanto mais que isso cabe aos pais, mães e senhores. Não faleis antes de ter pensado no que quereis dizer. .(AIRES, 1975, p. 230).
A conversação era considerada uma arte, não inferior as demais,
como a dança ou o canto por exemplo. Existiam livros sobre a arte da
conversação, ela era considerada uma virtude.as pessoas liam para se
tornarem bem educadas, finas e agradáveis. Este tipo de comportamento não
era novo. Ele remontava a uma sociedade na qual a comunicação era exercida
através da aprendizagem, quando não havia escolas e quando a escrita ainda
não ocupava um lugar importante, a aprendizagem era marcada pela prática.
Nota-se que este tipo de comportamento tenha resistido em uma sociedade
que tinha progredido mentalmente, devido o surgimento da escola. Havia uma
ambigüidade entre sociedade tradicional e sociedade moderna.
Nas famílias burguesas do século XVIII, o fato que assumiu o centro
dos discursos era a “nuclearização” e a interdição a masturbação, a visibilidade
e conseqüentemente a preocupação. Nessa época, o pecado carnal, era visto
com o problema da carne que vai se transfigurando em um problema do corpo,
passando a ser observado pela medicina, ou seja o corpo doente. A
urbanização e o forte crescimento industrial demandavam e justificavam a
“normalização dos hábitos”. Passou a existir um empenho no controle social e
da circulação da informação, fato que acabou de interditar os escritos
pornográficos, que estavam vinculados a aos atos de políticos, pois as
prostitutas aproveitavam para relatar alguns atos de seus clientes. O problema
da sexualidade no século XVIII, portanto não estava associado ao ato em sim
e nem as orgias, mas a tramitação das informações e influências: “ao poder”.
No final deste século, o controle do corpo já estava nas mãos do médico, que
demonstrava os perigos físicos e sexuais, principalmente estes, com relação
aos perigos emanados dos desejos sexuais das crianças. O problema da
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carne, ou seja a sexualidade, simplificou-se a medida que o controle do corpo
foi passado para as mãos do médico, o qual ensinou o controle do contato
físico: quem, quando, onde e como se toca. Com isso as interdições da
sexualidade passaram a ser responsabilidade do médico e da família, os pais
instauraram inspeções corporais nos seus filhos. Mueller(2009) nos diz que o
corpo pelo qual os pais eram responsáveis, teria de ser conhecido e desvelado
com o objetivo de controlar os impulsos sexuais das crianças.
Contraditoriamente, o crescimento da sexualidade tornou-se um grande
problema, os corpos se tornaram mais próximos e expostos, assim com os
espaços também, devido as várias inspeções em camas, roupas, aspectos
físicos, e etc.
Portanto, no século XVIII, a idéia predominante da sexualidade infantil era sobre sua não relacionalidade, e sendo as crianças autoeróticas, os pais se isentavam de se deparar com seus próprios desejos.(MUELLER, 2009, p.3)
Contudo a família nuclear moderna corresponde as mudanças dos
desdobramentos do poder para igreja, médicos e pais da alma e do corpo, e,
também, pela industrialização e crescente urbanização. Com a divulgação dos
incestos, no final do século XIX, inverteu as idéias predominantes até então,
sobre a responsabilidade dos pais pelos corpos dos filhos e as inspeções.Os
pais neste momento deveriam se distanciar dos corpos dos filhos , pois os
próprios pais eram alvos da curiosidade sexual dos seus filhos. Este fato
causou um choque nos padrões morais do século XIX, porém trouxe a
possibilidade de tratar melhor dos assuntos ligados a sexualidade e, com isso,
os controles da masturbação foram relaxados. No caso da famílias do
proletário, em meados do século XIX , as idéias os assuntos e campanhas,
vinculadas as classes mais baixas eram diferentes das voltadas às camadas
mais altas e era controlado e focalizado o controle da natalidade e a interdição
livre da união. Há cem anos atrás estas preocupações com o proletariado eram
diferentes, pois as famílias pobres estavam profundamente aderidas às
práticas matrimoniais existia uma natural religiosa restrição à quantidade de
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filhos. Portanto, o que estaria sucedendo é que o ato de se casar estava ligado
a vida em comunidade das aldeias e as formas aceitas para as transições
patrimoniais. Entretanto com o incremento do proletariado urbano,
desapareceram os motivos que sustentavam os casamentos e o controle de
natalidade desapareceu. Acompanhando a urbanização, as variações
econômicas e as novas formas de trabalho necessitavam de uma população
igualmente flutuante e os casamentos seguiram essa lógica.
Com tudo, a urbanização formalizou a organização dos movimentos
sociais, consolidou uma forma de desapego que o Estado entendeu como uma
ameaça. Este iniciou campanhas para a valorização das uniões, ou seja, dos
casamentos, da intimidade. Os quartos separados, de sexos separados, de
camas individuais, de famílias em casa separadas com no mínimos dois
quartos e etc. As campanhas apresentavam ideais contraditórias ao que antes
era veiculado há menos de cem anos, quando havia um controle anti-
masturbação, onde os pais deveriam realizar as inspeções, tal controle era
realizado pela proximidade e pela possibilidade de visualização do ato proibido.
Em síntese, do século XVII (o isolamento permeada pela sociedade e essa fonte de uma elevada pressão, na qual a criança era instrumento a ser modelado para o avanço familiar) até o século XIX (o isolamento e o resguardo familiar da invasão e da pressão social), nota-se a transformação dos preceitos morais, como incremento da privacidade, polimento dos hábitos sociais, surgimento dos manuais de civilidade e melhoria das condições de higiene . a casa-família perdeu o seu caráter de lugar público, e, não sem motivo, que justamente nessa época surgiram os clubes e cafés(os PUBs- public houses). A vida profissional e a vida familiar forma progressivamente delimitadas, como coloca Ariés: “ Somos tentados a crer que o sentimento da família e a sociabilidade não eram compatíveis e só se podiam desenvolver à custa um do outro.” .(MUELLER, 2009, p.4)
No início do século XX a família passou por uma nova transformação de
valores, após a II Guerra Mundial: A emancipação sexual (surgimento da
pílula). Hintz (2001) nos descreve que a mulher passa a controlar a procriação
de formar mais segura, obtendo maior liberdade sexual, o que possibilitou
conquistar novos espaços fora de casa e conseqüentemente possibilitando sua
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entrada no mercado de trabalho e sua liberdade econômica. Neste momento a
sexualidade é percebida de uma outra forma.
A sexualidade passa a ser percebida com maior naturalidade e a questão da fidelidade torna-se um compromisso compartilhado pelo casal, porém com mais possibilidades de serem rompida por ambos os cônjugues, tornando as uniões menos duradouras. As relações entre pais e filhos modificam-se, havendo uma maior possibilidade de diálogo entre as gerações, com expressões de afeto mais explícitas.(HINTZ, 2001, p.11)
O surgimento desses novos valores colidem historicamente com a
antiga cultura. Primeiramente com a entrada da mulher no mercado, a família
não mais nuclear, tem o marido e a esposa fora de casa trabalhando. Terceiros
passam a entrar na família para cuidar dos afazeres domésticos e das
crianças, já que os pais estão fora de casa. Surgem também as creches como
uma forma alternativa para cuidar dos filhos pequenos. Esta preocupação
acaba sendo transferida para os avós, que atribuem a tarefa de cuidar dos
netos enquanto seus pais não estão presente. Hintz (2001) nos relata que a
educação das crianças começa a sofrer interferências externas de terceiros,
positivas ou negativas, o que pode se configurar em uma fonte de conflitos. A
casa passa a ser mais aberta para as mudanças, ou seja a empregabilidade de
terceiros, a presença dos avós e as creches ( na impossibilidade dos outros
fatores) o que nos remete ao século XVII, a casa como um local de trabalho,
porém a casa-família se rendeu a violência e fechou-se novamente.
Esse novo “isolamento” da casa-família pode ser notado pelos aparatos cotidianos:a) o cuidado com quem adentra a residência ou o condomínio,cercas, sistemas de vigilância, porteiros, interfones, câmaras, etc.b) a transformação da casa em unidade autônoma como local de lazer e trabalho, com a implementação das diversas utilidades comunicacionais e domésticas (internet, televisão, home theater, piscina, churrasqueira, salão de festas) e dos estoques de comida (freezer). (MUELLER, 2009, p.5)
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A família pós moderna que esta se desligando de tantos resquícios
dos últimos séculos, ao tentar se defender das forças sociais e mazelas ,
busca investir e se esforçar para que a casa assuma funções seculares, com o
privado (resguardo) e o público (trabalho). Em relação aos séculos passados a
diferença é a abertura das relações e menores idealizações e resignação
frente ao destino, fato que pode ser notado na ampliação da capacidade de se
permitir fazer escolhas.
CAPÍTULO II
OS AVÓS DE ONTEM E DE HOJE
O CONCEITO
Diante das transformações da família ao logo do século, como vimos
no capítulo anterior, a entrada da mulher no mercado de trabalho trouxe
signitivas mudanças na dinâmica familiar. A família pós moderna tem o pai e a
mãe fora de suas casas trabalhando. E agora, com quem ficam as crianças,
algumas famílias deixam em creches, outras contratam babás e tem aquelas
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que deixam com os avós esta missão, tomar conta dos seus filhos até que
chegam do trabalho. Nos focaremos nas famílias que deixam as crianças sob
o cuidados dos avós. A seguir analisaremos a figura dos avós diante destas
transformações.
2. – Os Avós de Ontem e de Hoje
Sem dúvida a figura dos avós faz parte da nossa imaginação, Segundo
Leite (1999) por muito tempo a imagem que se tinha dos avós era de um a
pessoa encurvada, um pouco já debilitada, andando com o apoio de bengalas,
sentados na cadeira de balanço, no caso das avós, cabelos presos com um
coque, vestidos longos, contando histórias e preparando doces para o seus
netos.
Segundo Vitale (2012) Recordamos os avós pela posição que
ocuparam ou ocupam na nossa família e do nosso próprio lugar. Eles são
personagens de uma trajetória, cunhada de inserções sociais, culturais e
relações de gênero. As posições e espaços dos avós se modificaram ao longo
da vida. Os avós trazem um legado importante na família, a memória familiar, a
passagem desta memória de geração a geração. Entretanto segundo Leite
(1999), a imagem que se tem dos avós de hoje já não é a mesma que se tinha
a alguns anos atrás, segundo ele boa parte das pessoas que se tornam avós
nos dias atuais, estão em sua plena maturidade, realizando atividades físicas,
cuidando da aparência e participando ativamente da vida social. Para Vitale(
2012) Os avós que estão à nossa volta ou os que alguns de nós somos hoje
tendem a se distanciar dos modelos guardados em nossas lembranças. Leite
(1999) nos relata que a imagem dos avós mudou consideravelmente nos
últimos tempos.
A avó tradicional era considerada como uma amável e velha senhora
que vivia somente em seu lar. A avó contemporânea por sua vez difere muito
desta imagem tradicional, sendo ativa e envolvida com seus próprios
23
interesses, capaz de assumir as responsabilidades de seu papel porque são
temporários e intermitentes. Leite (1999) ainda afirma que essa avó rejeita as
funções de autoridade e prefere assumir uma postura mais amigável e
calorosa.
Para Marques (2011) os idosos antes ocupavam papeis centrais na
família patriarcal, hoje passam a ocupar papéis periféricos. Apesar deles terem
adquirido uma maior independência e autonomia, houve um afastamento maior
entre os grupos intergeracionais no seio familiar. Antigamente, o idoso tinha
um status e um papel social tanto por razões quantitativas (havia menos
idosos) como qualitativas (a opinião dos idosos era mais ouvida e havia maior
valorização a experiência do que a inovação).
Devido o aumento do número de idosos, hoje a idade não é mais
determinante de estatus social: Acredita-se que com o aumento considerável
do número de idosos, diminuiu a importância do papel social do velho; a
juventude ganhou destaque tornando-se saliente o seu papel social e seu
valor: Já o idoso tem um papel sem papel, isto é uma posição social sem
obrigações, fonte do papel atribuído as pessoas.
Para Sayão (2014) colunista em um artigo para a folha de São Paulo,
nos diz que falar sobre os avós é um tema novo, porque desde que a família
começou a mudar e ganhar diversos desenhos e novas dinâmicas, desde que
perdemos as referências sociais rígidas, mas que eram consideradas seguras,
sobre o que é ser homem e o que é ser mulher, desde que os papéis de pai e
mãe passaram a mudar, os avós entraram em crise. Como foi dito
anteriormente, tradicionalmente os avós eram vistos como velhos, e existe um
grupo de avós hoje que não querem ser vistos mais assim ou serem
reconhecidos como tal. Velhos são os bisavós que estão cada vez mais
freqüentes na família contemporânea devido o aumento da longevidade e ,
eles sim com o direito de terem cabelos brancos e agenda livre.
Segundo uma extensa pesquisa francesa, estudiosas da dimensão
geracional , Attias- Donfut e Segalen (1998) relataram que “ os avós , os
grandes esquecidos da sociedade, são as novas figuras familiares do nosso
tempo.” Para as autoras, as separações conjugais, a recomposição familiar, a
24
monoparentalidade, entre outros temas da vida em família, despertam
interesse dos pesquisadores e dos meios de comunicação, enquanto os avós,
apesar de tão numerosos hoje, despertam menor atenção. Diante das
transformações, novos papéis são impostos aos avós.
No entanto, as mudanças dos laços familiares e a vulnerabilidade que atinge as famílias demandam novos papéis, novas exigências para essas figuras, personagens que ganham relevo não só na relação afetiva com os netos, mas também como auxiliares na socialização das crianças ou mesmo no seu sustento, mediante suas contribuições financeiras. No Brasil essa temática tem sido, entretanto, pouco debatida, tanto nos estudos sobre as questões da família contemporânea como naqueles que pesquisam e tratam do envelhecimento.(VITALE,,2012,p.94)
Encontramos vários tipos de avós envolvidos nessa nova dinâmica da
família, Sayão (2011) em seu artigo publicado para folha de São Paulo, nos diz
que há um grupo de avós que pouco tempo tem para com os netos porque
estão muito envolvidos com a própria vida. Há avós inclusive que Tem filhos
com a mesma idade que seus netos, um fato novo e interessante. Há Também
um grupo de avós que gostariam de se envolver com seus netos, mas tem
poucas chances de atuar à sua maneira com as crianças porque os seus filhos
querem evitar interferências externas na educação de suas crianças. Quando
eles precisam da ajuda dos avós com as crianças, deixam orientações
expressas sobre como agir com elas em todas as situações, e sobre como não
agir também. Além desses dois tipos de avós apresentados acima, há ainda
um grupo de avós que acredita ocupar o lugar de seus filhos em relação aos
netos: Ficam boa parte do tempo, cuidam, educam, e etc., porque os seus pais
tem pouco tempo com eles devidos as atividades externas da vida profissional.
Segundo uma pesquisa feita por Leite (1999) com relação aos avós,
demonstrou que eles sabem diferenciar o seu papel do papel dos pais. Os
avós consideraram que eles tem mais paciência com os netos do que tinham
com os filhos. Eles afirmaram que os netos proporcionam alegria para viver e
com quem podem contar na ausência dos filhos renovando-lhes o interesse
25
pela vida. Os avós , relataram que têm menos responsabilidades com os netos
e que estes simbolizam a continuação da família e de seu nome.
Como foi visto anteriormente, cuidar dos netos para alguns avós não é
encarado como um sacrifício, gostam de exercer esta função. Leite (1999) nos
diz que a condição de avós pode oferecer um novo reordenamento de vida, de
várias maneiras. Ele nos diz que primeiramente satisfaz o desejo de
sobreviver, auxiliando assim a nossa própria mortalidade (...). A condição de
avós estimula a revivescência de experiência anteriores de criação dos filhos.
Os avós proporcionam muito afeto aos netos e pouca repreensão
Além de passarem para seus netos experiências sobre sua própria infância e a
de seus filhos. Consequentemente são considerados como bons mediadores
entre as crianças e seus pais. Esta mediação pode se tornar um fato indelicado
quando começa a interferir na educação que os pais dão as crianças, quando
não bem conduzidos pode resultar em vários problemas para a família, pois as
opiniões e consensos só são bem aceitos quando solicitados.
Muitas vezes as crianças ficam no meio do triângulo, com os pais e
avós envolvidas nos conflitos existentes. Como um exemplo deste fato
mencionamos uma situação da criança, mãe e avó. Segundo Leite (1999)
questões não resolvidas entre mãe e filha, numa geração, podem acabar
influenciando no direito desta última exercer o seu papel de mãe. Por outro
lado, a mãe que não consegue se deparar com o fato de já estar em outra fase
do ciclo de vida, qual seja, a de avó, tendo então portanto, esgotado o seu
papel de mãe, quer mesmo assim exercer seu papel materno se realizando no
neto ou neta. Perante a dificuldade na relação desses adultos, uma criança
poderá ser engolfada no meio desses conflitos, ficando imobilizada.
2.1 – A Posição dos avós nas novas dinâmicas familiares
Como vimos anteriormente, para Araújo (2014) a visão que se tinha
dos avós não e mais há de alguns anos atrás retratados nos contos infantis,
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nos contos de fadas, como aqueles velhinhos encurvadinhos que costumam
mimar seus netos com doces, balas e etc. Vimos que os avós da atualidade
são muito diferentes. Dado os avanços da medicina e os ditames da moda, é
muito distante das épocas passadas. Muitos estão ativos na sociedade, no
mercado de trabalho, muitos possuem uma vida pessoal enriquecida de
atividades. A relação avós e netos hoje é uma relação diferente, mas
permanece ainda como uma relação privilegiada. O neto ainda é visto como o
filho com açúcar.
Os avós de hoje vivem mais do que os avós de antes, isto tem
proporcionado uma maior interação deles dentro do âmbito familiar. Estas
transformações nas relações familiares causam mudanças na estrutura da
sociedade, considerando a importância da família como organização de
referência na construção de uma identidade social, segundo Ludwig (2014).
Araújo (2014) nos diz que a família nos dias de hoje é como uma
empresa, a ser gerenciada de forma otimizada, na família empresa os pais
funcionam como os diretores executivos e os avós o conselho. Segundo ele os
avós são como parte importante do que se chama família extensa, mas seu
papel em relação aos netos se alterou consideravelmente na atualidade.
Para Ludwig (2014) a experiência de ser avó não tem mais a mesma
responsabilidade da que foi exigida da relação com os seus filhos , tendo em
vista que aqueles não tem mais a função de educar, mas apenas transmitir
seus conhecimentos e história de vida aos netos, o que torna a relação mais
aberta e despreocupada.
Segundo Vitale (2012), diante das novas relações familiares, como a
fragilidade dos laços conjugais os avós tendem a ser, para os netos, um pólo
de estabilidade familiar.nos períodos de transição , diante das crises familiares,
muitas vezes os avós servem como um ponto tranqüilizador do ponto de vista
das crianças, mas quando eles se somam ao conflito, podem contribuir para o
aumento da tensão familiar.
A respeito disso, as decisões judiciais no Brasil constantemente reconhecem a obrigação avoega, isto é, o pagamento de pensão alimentícia pelos avós aos netos. Entretanto, tal obrigação tem um
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caráter subsidiário ou complementar, ou seja, somente se configura no caso dos pais não terem condições financeiras de arcarem de modo integral com o sustento dos filhos. Assim, os avós complementariam essas necessidades, considerando também as suas possibilidades econômicas.(LUDWIG,2014, p.4, )
Além da obrigação de alguns avós sobre a pensão alimentícia, foi
publicada a Lei nº 12.398 de 2011, a qual alterou o código civil e o Código de
Processo Civil para estender aos avós o direito de visita e a guarda dos netos.
Art. 1.589, parágrafo único do Código Civil:
O direito de visitas estende-se a qualquer dos avós, a critério do juiz,
observados os interesses da criança ou do adolescente.
Art.888, VII do Código de Processo Civil:
A guarda e a educação dos filhos, regulado o direito de visita que, no interesse
da criança ou do adolescente, pode, a critério do juiz, ser extensivo a cada um
dos avós.
Tais leis foram criadas, pois é inegável a realidade que se apresenta
atualmente, as relações familiares estão cada vez mais fragilizadas e
transitórias, muitas vezes tornam-se descartáveis, como se fosse um produto
que se consome e descarta. Em face desta realidade, a pessoa pode ter
durante toda a sua vida diversos tipos de relacionamentos familiares,
considerando a possibilidade de separação, divórcio, rompimento da união
estável, recasamento, e etc relata Ludwig (2014).
Quando ocorrem separações conjugais ou as famílias estão na condição de monoparentalidade, é freqüente pelo menos um dos avós assumir – temporariamente ou não – parte das responsabilidades atribuídas às figuras parentais. Muitas vezes, isso pode gerar entre avós e pais a formação de um par educacional ou provedor mediado, por suas condições culturais e socioeconômicas. Nessas ocasiões, mesmo para os segmentos médios, tende a haver uma diminuição da renda na rede familiar. Em situações mais extremas, filhos e netos voltam temporária ou definitivamente para a casa dos pais-avós. (VITALE, 2012, p.103)
A separação dos pais, o costume de deixar os filhos com os avós
pode causar um conflito na relação entre os pais e os avós da criança. Um
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exemplo desta situação é quando os pais da criança vêem nos avós “babás”
sempre disponíveis,não levando em consideração que estes também tem sua
vida própria, necessidades de trabalho ou de aproveitar o tempo livre cuidando
dos seus próprios interesses. Os avós também por sua vez, ao desejarem um
contato maior com seus netos, podem não respeitar o direito que os próprios
pais tem de educar a sua maneira seus filhos, sem interferências externas,
ressalta Cecchi (2012).
Além disso existem hoje também, uma geração de avós em situação
monoparental e divorciados que, em muitos casos, estão recasados ou
formando novas famílias. Novos arranjos, novas convivências incluem
igualmente os netos. Acaba existindo nessas novas relações familiares, os
avós emprestados sociais, segundo Vitale (2012).
Além de citarmos uma nova geração de avós podemos também
analisar as diferenças de gênero, entre o que é ser avô e o que é ser avó, e
suas implicações nas novas relações familiares. Segundo nos diz Vitale (2012),
as relações de gênero imprimem um perfil na relação avós-netos. O modelo
paterno se torna mais brando, e cresce os cuidados femininos. Com o
nascimento dos netos os modelos de atenção e vínculo com as crianças são
revisitados, transformados e ou mantidos. Contudo, certamente os avós,
homens e mulheres, dão um sentido diferente a essa relação, conforme suas
experiências familiares e seus relacionamentos sociais de gênero.
No convívio das relações intergeracionais, os avós, especificamente a
mulher, convivem não só com o cuidado das crianças, mas também com o dos
mais idosos da família. A assistência à geração mais nova e ás mais velhas, é
esperada pelas mulheres.
Em famílias de tendências igualitárias, nas classes médias, a tensão
existente entre a mulher- mãe e a mulher-indivíduo tem tendência de continuar
com a mulher-avó, que na maioria das vezes ainda trabalha e possuem seus
desejos e sonhos para essa etapa da vida e, ainda, ajuda no trato com as
crianças da família.
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Essas mulheres procuram conciliar demandas eventualmente contraditórias: Os projetos individuais com as reciprocidade familiares. Esse processo tem implicações sócias e emocionais na vida dessas avós. Em um passado recente em que a mulher não trabalhava, ela era apenas dependente da figura masculina ou, mais tarde, dos filhos; o caminho “natural” que se apresentava era cuidar dos netos, nem sempre na medida desejada. As atenções às crianças estavam, muitas vezes, inseridas em uma lógica de retribuição aos “favores” recebidos dos próprios filhos.(VITALE, 2012, p.101)
Em famílias mais pobres, existe uma grande proporção de mulheres
mais velhas que impossibilitadas de terem uma melhor educação, por
conseqüência trabalham recebendo menor renda. Essas são portanto chefes
de família, provedoras de um grupo familiar que freqüentemente, possuem
poucas pessoas trabalhando ressalta Vitale (2012). Estas avós se constituem
como chefes de família. Quais foram as mudanças para essas avós, qual é a
posição que elas ocupam nos espaços de negociação familiar que envolvem
as crianças ou os jovens. Indaga Vitale (2012).
Devido essas razões, aquela antiga figura da vovozinha sentada na
cadeira de balanço, cabelos brancos, fazendo tricô ou crochê, presente nos
livros infantis, pouco se identifica ao perfil das avós atuais, em todos os
segmentos, possivelmente, levando-se em consideração as mudanças pelas
quais a família passou, em especial a partir da segunda metade do último
século.
Para Vitale (2012), o relacionamento avós-netos tem implicações
ainda nas preferências, que geralmente é desenvolvida ao longo da infância e
se constroem com base diversos aspectos: Freqüência do contato, guarda
temporária ou definitiva, lugar dos netos na frataria ou na rede familiar,
sentimento de afinidade e lealdade familiares, reparações em relação aos
próprios filhos, etc assim como por questões de gênero.
Com relação aos netos, será que também há laços preferenciais entre os avós
e netos influenciados pela questão de gênero? Será que os netos sob este
ponto de vista também escolhem os avós?
Muitas vezes, os objetos pessoais passados de avós para netos não só recaem nos preferidos, sendo também transmitidos por afinidade
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de gênero, por exemplo, da avó para neta. Representam sentimentos positivos em relação aos netos, desejo de proximidade e perpetuação afetiva.(VITALE, 2012, p.102).
Como já vimos anteriormente, está atrelado aos avós a memória
familiar, elemento chave nos processos de identificação e , portanto, na
construção do sentimento de pertencer aos membros de uma determinada
família. Essa dimensão é revelada muito bem quando se pesquisa três
gerações, considerando que por meio dos avós é possível recuperar a história
familiar, social, atingindo cinco ou seis gerações. A transmissão de afeto
dessas histórias familiares se inscrevem, também, no quadro das relações de
gênero, aborda Vitale (2012).
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CAPÍTULO III
RELAÇÕES INTERGERACIONAIS
O CONCEITO
No capítulo anterior podemos identificar a inserção dos avós nas
novas dinâmicas familiares , neste capítulo mergulharemos nos conflitos
vividos entre gerações dentro da família. Veremos como os avós lidam com
essa nova geração, como foi e como está sendo na percepção dos avós estas
relações com seus netos.
3. – Relações intergeracionais
Primeiramente antes de mergulharmos neste capítulo, analisaremos o
que significa a palavra relação. O que entendemos quando ouvimos esta
palavra¿ Segundo Oliveira (2011) “ relação é a conexão entre duas ou mais
coisas, que se chamam termos da relação, sejam eles objetos, pessoas, fatos
ou acontecimentos.” Entretanto , a análise do termo intergeracional significa a
convivência entre duas pessoas que se encontram em diferentes fases da
vida, que se reconhecem e se identificam, de maneira que entendam a
plenitude e especificidade de cada um.
Assim, as relações intergeracionais podem ser entendidas como vínculos que se estabelecem entre duas ou mais pessoas com idades distintas e em diferentes estádios de desenvolvimento, possibilitando
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o cruzamento de experiências e contribuindo para a unidade dentro da multiciplicidade.Os agentes desta prática reúnem características e necessidades muito próprias, facto que enriquece a relação e motiva a continuidade da mesma.(OLIVEIRA, 2011, p.4)
Com base nos conceitos acima, constatamos que as relações
intergeracionais entre avós e netos alcançam a nível teórico, a real perfeição
de definição, identificando-se com um prática bem antiga, desde a civilização,
e permanecendo até os dias atuais, relata Oliveira (2011).
Ao analisar a história das relações intergeracionais, Oliveria (2011)
observou que é possível verificar que nos últimos anos, pela Europa este
fenômeno tem despertado um interesse crescente e uma preocupação geral
para o aumentos de estudos e pesquisas na área. Nos EUA , os estudos
relacionados a este fenômeno alcançou uma grande importância, este fato
impulsionou o desenvolvimento de estudos e pesquisas nos últimos 60 anos.
Segundo Oliveira (2011) as relações intergeracionais seguem uma
linha evolutiva, acompanhando as principais fases históricas e as grandes
mudanças sociais verificadas no mundo.Vamos fazer um breve histórico.
No período da 2º Guerra Mundial (1940-1959), evidenciou-se
profundas alterações sobre a estrutura e o funcionamento da família. Existiram
duas fases distintas: o decorrer do conflito e o pós- guerra. Estes períodos
reuniram condições para que os avós ocupassem um lugar de destaque,
enquanto sustento do modelo de família extensa.
Nos anos 60, ocorre a generalização do modelo de família nuclear
isolado e a anulação da posição dos avós. Há um aumento da taxa de
natalidade e de casamentos, agregado a conjectura que se vivenciava
promoveu o modelo de família nuclear e colocou os avós para o segundo
plano, afastando-os.
Nos anos 70, ocorre uma redefinição e revalidação do papel dos avós.
Em virtude das diversas alterações registradas no seio da família, tais como: O
crescente número de divórcios; o aumento do número de gravidez na
adolescência e do número de famílias monoparentais, e o aumento das
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atividades femininas, contribuíram para a generalização da idéia de que os
avós seriam os únicos salvadores da família.
Nos anos 80, diante das dificuldades que as famílias enfrentam, como:
o aumento de mulheres trabalhando, o aumento do número de idosos
dependentes e ao agravamento das dificuldades econômicas, o papel dos
avós continua a destacar-se como peça fundamental para a sobrevivência
destes enquanto célula base, assim como dos seus membros, enquanto
pessoa e ser humano.
Nos anos 90, afirma-se a existência de um modelo familiar aberto
para as relações entre avós e netos e que alerta para as vantagens deste
convívio.
Em suma, do tal como foi referido anteriormente, constatamos que as relações intergeracionais se encontram estreitamente relacionadas com as alterações de que a sociedade tem sido alvo e com as mudanças que surgiram no seio da família, tendo alcançado gradualmente maturidade teórica suficiente para ser objeto de estudo.(OLIVEIRA,2011, p.6)
Atualmente, este tema tem-se tornado num tema dominante nas
pesquisas relacionadas aos avós, promovendo a existência de estudos
focados especificamente no papel dos avós ou que abordam apenas a
perspectivas dos netos em relação aos seus avós.Oliveira ( 2011)
“O aproximar de diferentes gerações deve ser levado em conta não só o factor
cronológico, mas também os estilos de vida, os valores, a memória, entre outro
aspecto”.(OLIVEIRA, 2011 ,p.7)
Verificamos neste entrelaçamento, que a transmissão de saberes não
é linear, as duas gerações possuem conhecimentos distintos, o que pode
possibilitar o surgimento de uma história em comum, a partir das experiências
que cada um possui, funcionando como uma vida dupla, ambos ensinam e
ambos aprendem. Na construção desta relação de troca de conhecimentos, a
afetividade e o contato se tornam dois elementos importantes, pois o grau de
afetividade sentido por cada um membro familiar, consolida o sentimento de
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pertencimento e reflete a real função da família e da relação entre os seus
componentes, Oliveira (2011).
Entretanto para que haja essa troca, precisa haver um contato entre
essas gerações, estimulado, mediado e controlado pelas gerações
intermediárias (pais e netos), neste momento vemos como a família é
importante. Todos os membros contribuem para a manutenção para a
manutenção das relações intergeracionais. A maneira como cada grupo se
entrega nesta relação possibilita um crescimento físico, social e emocional de
ambos, o que provoca um impacto enorme no seu desenvolvimento,
relacionamento e conhecimento pelas novas ou mais velhas gerações. Porém
apesar de estes fatos estarem comprovados, esta prática esta perdendo o
valor e condenada a inexistência. Geralmente é do conhecimento de todos
que tanto a primeira infância , como a velhice associam-se a uma séria de
limitações encontradas na família, a solução para a sobrevivência,
subsistência e continuidade, ressalta Oliveira (2011).
A permanência destes dois grupos na família, permite-lhes confrontarem-se e complementarem-se, de modo a estabelecer e aumentar a solidariedade familiar, que atua como modificador potencial das relações sociais, reduzindo a hipótese de solidão e marginalização. Esta enquanto parte crucial para o modelo familiar, “ estreita os laços afetivos do agregado, aumenta substancialmente a segurança material e psicológica de cada um dos seus elementos e confere-lhes maior eficácia social; a sua ausência enfraquece a família no seu todo” (BARATA, 2010: 177), prejudicando toda a sociedade e não apenas aqueles que dela carecem.(OLIVEIRA, 2011, p.8)
Nos texto de Vitale (2012) ela nos descreve a vida familiar, como nos
a conhecemos hoje, como o convívio e o confronto entre gêneros e gerações.
Ao longo do percurso da vida a condição de ser avô ou avó se modificam:
aqueles belos anos de ser avós podem ser tornar os anos mais difíceis de
suas vidas. Na maioria das vezes o nascimento dos primeiros netos podem ,
correspondem a uma etapa de suas vidas em que estão mais dispostos,
gozam de saúde, estão na vida ativa, o que depende, é óbvio, das inserções
sócio econômicas, que estruturaram sua trajetória. Geralmente esses anos se
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tornam os anos das descobertas, das brincadeiras e dos prazeres de serem
avós. Mas tarde esta situação pode inverter: o apoio do braço de um neto pode
se tornar o amparo do avós idosos. E quem define esta acontecimento na vida
dos avós¿ Vamos ver o que Vitale(2012) nos diz.
O ser avô (bisavô) é um acontecimento definido pelos filhos(ou netos). Como ressaltam Attias-Donfut e Segalem (1998), os avós assim se tornam, não importa em que momento do cilco de vida, sem que tenham – acrescento, pelo menos, em princípio- uma palavra a dizer. Por exemplo, uma filha adolescente, ao ter seus bebê, pode tornar-se mãe, com menos de 40 anos, uma avó- sem falar nas jovens bisavós. Aí já estão dados os limites e as possibilidades no desempenho deste papel. A chegada de um neto faz também emergirem novas identidades familiares e traz consigo um elemento de reconhecimento e diferenciação na trama familiar, sinalizando ainda o suceder das gerações.(VITALE, 2012,P.98)
3.1 – Avós e netos na contemporaneidade
Atualmente, na sociedade contemporânea, as relações
intergeracionais tem sido modificadas pelo o aumento da expectativa de vida,
bem como a maior permanência dos jovens em casa: crianças e jovens
tendem a conhecer e a conviver mais com os seus avós e bisavós. Existe
frequentemente, quatro gerações numa mesma família. Um fato que vale
enfatizar é que essa convivência não apaga, contudo os contornos e
confrontos geracionais, nos relata Vitale (2012).
Araújo (2014) nos diz que o diálogo entre avós e netos é muito mais
constante agora do que antes. As crianças da contemporaneidade, são abertas
ao novo, como eram as crianças em outras épocas, mas devido ao avanço
tecnológico, as crianças de hoje são precoces na construção do próprio
conhecimento. Elas se tornam interlocutores bem atraentes para os mais
velhos. Avós aprendem com seus netos e netos aprendem com seus avós.
A relação avós-netos produz trocas afetivas e cognitivas muito interessantes. Com o pulo de uma geração, mas, no nosso tempo, um pulo enorme, avós e muitas vezes mesmo os bisavós, que são testemunhas vivas das raízes das crianças, descrevem a elas o mundo tão diferente de muitos anos atrás, contam como eram e o que
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faziam os pais quando crianças. Os netos se espantam ao ouvir falar de um mundo sem internet, sem TV, etc. Avós dão para a para criança a noção da continuidade da existência e netos trazem para eles a antecipação do futuro. Avós se surpreendem com a habilidade do pequenos jogos eletrônicos.(ARAÚJO, 2014, p.1-2)
Marques (2011) relata que as relações intergeracionais podem ser
solidárias, proporcionando afeto e atenção em certos momentos vitais, quando
existe compreensão entre gerações e os jovens são educados para praticá-las,
fomentando assim a interação das diferentes idades.Segundo ele a “casa da
avó” representa o poder dos idosos sobre as gerações descendentes. Esse
poder é exteriorizado de diversas formas, de um auxílio financeiro até a
realização de pequenas ações do cotidiano familiar.
Vitale (2012) ressalta através de Barros (1987) que as várias gerações
podem oferecer, ao mesmo tempo, idéia de continuidade e de mudança que se
concentram geralmente na figura dos avós,enquanto elemento intermediário
entre dois momentos mas afastados da vida familiar: o passado, reelaborado
nas lembranças de sua infância, o presente e o futuro personificado pelas
gerações dos filhos e netos e nos projetos e expectativas relativos a eles.
Além dessas transmissões de conhecimento entre as gerações não
podemos deixar de considerar o papel dos avós como autoridade. Esta
questão da autoridade é mais forte nas famílias pobres, em que os pais nem
sempre tem condições de assumir a criação dos filhos. Nas classes média e
alta, prevalece o aconselhamento e a amizade, mas não se confunde com
autoridade, por não conter seus elementos essenciais: obediência e hierarquia.
Segundo o relato dos idosos as crianças eram criadas com regras claras e sob
forte autoridade, com as devidas diferenças de papéis e hierarquia
devidamente definidas.Elas não viviam no meio dos adultos, segundo
Marques(2011).
Os avós idosos referem-se a interferência de sua avó em algumas
situações na sua criação e de seus irmãos ao impedir, em certos momentos
castigos impostos pelos seus pais. Esta interposição se tornava natural, pois
todos os agregados moravam próximos - pais, avós, tios, noras e agregados,
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participavam da criação das crianças, fato que não se confundia com as
orientações paternais pois eram muito claras, Marques (2011)
Estudos na área educacional, relatam que as crianças e os idosos se
ajudam mutuamente, as crianças conhecendo realidades diferentes da sua e o
outro usufruindo da vitalidade dos mais jovens. Além disso, o convívio com os
netos, oferece aos avós a oportunidade de por meios de histórias e relatos
familiares dar continuidade as tradições e culturas. Através da experiência de
vida da maioria das pessoas , ouvir histórias dos avós era muito bom. E
interessante destacar que quando os avós têm papel ativo na educação
infantil, esse benefício é potencializado. Os avós por possuírem maturidade,
contribuem ensinando a enfrentar as dificuldades do dia a dia, como brigas na
escola, negativas paternas, planejamento do futuro, discorre Marques (2011).
As interações atuais no seio da família entre netos e avós levam a uma troca de experiência explicada também pela necessidade de adaptação dos idosos frente às demandas que as crianças e adolescentes exigem ou pela necessidade que os pais têm de recorrer aos seus próprios pais para cuidarem de seus filhos enquanto trabalham ou realizam outras atividades.(MARQUES, 2011, p.917)
Em razão das mudanças drásticas na sociedade , após a segunda metade do
século XX, os papéis desempenhados por cada membro dessa instituição
também vêm se modificando.
As alterações de papéis nas famílias vêm se constituindo como novos atores na sociedade e estão demonstrando que continuam substituindo, embora com configurações bastante diferentes daqueles predominantes a décadas atrás (casal com filhos, e o homem como provedor e chefe). Além das mudanças estruturais, as famílias também apresentam desigualdades sociais expressas na cor ou raça, no sexo e na escolaridade do principal provedor e isso se reflete na força política e nas demandas por serviços públicos e privados diferenciados.(MARQUES, 2011, p. 917 )
Devido ao alargamento da expectativa de vida, pode-se passar boa
parte da vida adulta na condição de avós, tio-avós e bisavós. A partir dessas
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razões podemos nos questionar: Quais laços se mentem e se renovam ao
longo do tempo¿ No decorrer do percurso da vida , como se modificam as
condições socioeconômicas e culturais desses avós e quais são os impactos
dessas mutações nos vínculos familiares, em especial com os netos¿
Questiona Vitale (2012).
Diante desta perspectiva, é possível ainda a coexistência de situações
familiares aparentemente incompatíveis. O chamado “ninho vazio” (termo
utilizado para especificar uma das etapas do ciclo de vida familiar) talvez não
expresse adequadamente a realidade familiar atual, pois há na casa,
frequentemente, um ninho pleno com filhos adultos, eventuais netos ou
pessoas mais idosas. Por isso, podem coexistir no mesmo espaço doméstico
os papéis de pais, avós e bisavós, segundo Vitale (2012).
Vitale (2012) ainda ressalta que para as crianças pequenas, os avós
fazem parte de forma significativa do seu mundo: Para os adolescentes,
quando outros grupos se tornam importantes, sua participação e influência
tendem a decrescer. Segundo o ponto de vista dos avós, as condições de
saúde, de renda, de autonomia e, portanto, de sociabilidade tendem a diminuir
à medida que se aprofunda o processo de envelhecimento. Sendo assim há
uma distinção entre avós de crianças pequenas e os adolescentes e jovens
adultos têm vivências distintas. Na medida em que os pólos desse eixo se
transformam, também se modificam as relações intergeracionais.
Um fato que temos observado que tem colocado os avós em destaque
, são as novas dimensões da vida familiar, as mudanças ocorridas no
casamento e a monoparentalidade. Estes fatores colocam mais em evidência
os laços intergeracionais. Nas famílias pobres este fato é mais aguçado: A
vulnerabilidade vivida por essas famílias impede, tanto nos membros mais
jovens como os mais velhos, movimentos em direção a autonomia.
Marques (2011) nos relata que os avós tem percebido bem as claras
mudanças na relação familiar avós e netos, assim como também na relação
pais com filhos. Alguns justificam que essas mudanças, envolvem todo o
contexto mundial e não somente a criação familiar em si. A ampliação do
diálogo na família influencia no questionamento a respeito dos papéis
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exercidos no grupo, algo que não acontecia no passado, pois eram muito bem
aceitos e definidos.
No entanto não é só a família que esta mudando, mas também os
parâmetros que os pesquisadores estão utilizando, estes estão mais voltados
para o processo decisório na família e a imposição dessas decisões aos seus
membros. Como vimos no capítulo anterior, a existência de diferentes arranjos
familiares, conseqüentemente de diversas configurações sócio econômicas
não é recente. A Idea de que a família moderna é predominantemente nuclear
não é mais hegemônica, pois gradativamente vem ocorrendo que a família não
é uma unidade monolítica. Diante dessas mudanças de relacionamento e
função da família, as crianças, adolescentes e jovens não sabem distinguir,
qual é a fonte de autoridade no lar, relata Marques (2011).
Outro ponto a ser levado em consideração, se tratando de relações
entre gerações, é a questão da morte e da doença, geralmente espera-se que
ocorram estes fatos primeiramente nos avós. Quando acontece o contrário,
alguém da família mais novo, por exemplo um jovem ou uma criança, isto
emerge na família como uma injustiça, uma inversão no percurso da vida.
Atualmente estamos vendo em nossa sociedade, os idosos vivendo mais, e a
morte de jovens tem apresentado elevados índices. Além disso , o
envelhecimento em seu processo de aprofundamento e acompanhado pelos
laços afetivos da rede familiar mais próxima e dos vínculos de amizade
desfeitos. Vitale (2012).
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CONCLUSÃO
Diante dos textos apresentados, é possível concluir que os avós de
hoje não possuem as mesmas características físicas e sociais, que possuíam
alguns anos atrás. Devido a longevidade, temos avós que exercem esta
função por mais tempo, avós mais jovens em razão dos seus filhos terem filhos
mais cedo, como por exemplo na adolescência, avós que tem uma vida
independente, ativa, que trabalham, exercer suas atividades sociais, e portanto
não ficam mais em casa, atrelados somente ao cuidados dos netos, por
possuírem suas atividades. Vimos que existem avós que interferem na
educação que os seus filhos dão aos seus netos, gerando um conflito familiar.
Existem os avós que realmente criam seus netos, ou seja, assumem o papel
de pai ou mãe, por questões sócio- econômicas, ou afetivas. Em virtude disto
hoje na lei, o pai ou mãe que não tem condições econômicas de prover o
sustento dos seus filhos, quando comprovado judicialmente, os avós ficam
responsáveis pela pensão alimentícia, e o direito a visitas. Perante esta lei, fica
extremamente claro que a função dos avós, está se transformando e
assumindo novas responsabilidades judiciais. O papel de um mero contador de
histórias, e realizador de todos os mimos de seus netos, se amplia na família
contemporânea. Os novos arranjos familiares, interferem de forma significativa,
no papel dos avós de hoje, estes se relacionam com as gerações mais novas,
através da troca de conhecimento e cultura, ao mesmo tempo se atualizam no
mundo atual, através dos netos. As questões expostas, nos mostraram a
diversidade de relações sociais, lugares, papéis, espaços de negociação,
interesses, sentimentos que envolvem a figura dos avós num mundo familiar
marcado por tantas transformações. Os avós são personagem que estão em
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constante movimento dentro da cadeia de gerações. A herança simbólica por
eles transmitida é recriada ou mantida ao longo de nossas vidas, num
processo contínuo ou descontínuo dos bens simbólicos recebidos.
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