Do alto dos meus olhos

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1 Do alto dos meus olhos Frederico Eymard Sobre Frederico Eymard Frederico Eymard Ewald Rezende residente em Belo Horizonte, atua na área cultural e é uma pessoa bastante comunicativa. Apresenta uma enorme pluraridade artística, realiza desde composições a pinturas. É dramaturgo e escritor nato. No que diz respeito a produção audiovisual Frederico já participou de programa na Rede Jovem de Cidadania, exibido na Rede Minas. Eymard posta alguns de seus trabalhos no blog: http://fredericoeymard.blogspot.com/

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Título: Do alto dos meus olhos Autor: Frederico Eymard Ano:2010

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1 Do alto dos meus olhos Frederico Eymard

Sobre Frederico Eymard

Frederico Eymard Ewald Rezende residente em Belo Horizonte, atua na área

cultural e é uma pessoa bastante comunicativa. Apresenta uma enorme pluraridade

artística, realiza desde composições a pinturas. É dramaturgo e escritor nato. No

que diz respeito a produção audiovisual Frederico já participou de programa na

Rede Jovem de Cidadania, exibido na Rede Minas. Eymard posta alguns de seus

trabalhos no blog: http://fredericoeymard.blogspot.com/

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2 Do alto dos meus olhos Frederico Eymard

Deixa as injúrias a tempo...

Perdoa, auxilia e cala

A rosa envolve de aroma

O vento que a despetala

Meimei

Dedicado aos amigos, funcionários e pacientes do Hospital-Dia.

Maria de Fátima Ferreira, Fernanda Monducci, Paulo de Andrade, Cinara de

Araújo, Helena Galvão, Edmundo Caetano, Aída Caetano, Mauro Bargas, Flávia

Fleury, Fernando Antônio, João Abdalla, Rogéria Abalen Dias, Daniela Dinardi,

Wellerson Durães de Alkmim, Ana Paula Gil, Domingos Frederico, Washigton da

T.O., Paulo Marques, Wellington Assis, Ronise Lopes Moreira, Helena, Eloísa e

Solange do Centro de Convivência, Hercília Oliveira, Ana Denise Gomes

Emmermacher, Regina Capanema de Almeida e todos que acreditam na beleza

das palavras.

Belo Horizonte

Outubro de 2010

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3 Do alto dos meus olhos Frederico Eymard

A LUA E A SERPENTE

Ou a gente se salva ou agente se perde

ou a gente fica alva ou a gente fica lerda

Ou a gente bota alma ou o pente fica fino

um dia faz falta outro dia desafino

um dia é alto outro vira pedra

ou a gente se salva ou a gente se perde

ou a mente fica alta ou agente se arrepende

ou a semente cresce alta ou a serpente se arrebente

ou a gente vira gente ou o tempo fica quente

ou a gente se salva ou a gente se perde

não existe metade nessa seiva cinza verde

ou a lua alta ou baixa vertente

ou pântano doente ou lua crescente

ou a gente se salva ou a gente se entende

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4 Do alto dos meus olhos Frederico Eymard

ADÁGIO E LANTERNA

Os ventos que me acompanham

São os mesmos que te banham

Na escura doçura da vida

Meu amor minha cor meu suor

Metrópoles dentro de minha caixa de fósforos

Os ventos que te banham

São os mesmos que irrigam a lua

E a mente dos poetas esquecidos

Pelas planícies empedernidas de teu coração

Outras estrelas e ostras piso

Mostro o lado cor de rosa

Da face oculta da lua

Vento aos ventos que te banham

E sopro por dentro de tua rocha

Caverna e lanterna

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5 Do alto dos meus olhos Frederico Eymard

Alguém decretou o inferno

É impossível

Tomar consciência de certas coisas

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6 Do alto dos meus olhos Frederico Eymard

Alta alma

Nas nebrumas da vida

Autônomo pulsar

Quase quasar divino

Peregrino lume

Estreitas vias

Recém saído das cavernas

Ainda no terceiro milênio

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7 Do alto dos meus olhos Frederico Eymard

FOLHAS DE OUTUBRO

Fluidos fluídos erosão ruídos

O corpo combalido bate no chão

A mão amortecida bate no céu

Repito a crônica de uma morte acontecida

Pé ante pé esbarro no barro

Quebro o vaso de vasa- barros

Nem é outubro e de cinzas me cubro

Debaixo da névoa outra fé descubro

Tudo que procuro em mim persiste

A alegria vigora debaixo do mar triste

Cambaleio sacoleio disfarço abraço

Palavras que sinonimem

Caio na cilada das grades

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8 Do alto dos meus olhos Frederico Eymard

PÉTALA EROSA

Garça graça

Nuvem núbia dúbia

Brima bruma blusas

Coxas coaxas coágulos

Lobo lodo loto todo

Broto boto toco coto

Cotovelo velo velho novelo

Mamas painas

Nuvens penugens eriçadas arrepiadas

Sangue suor e lágrimas

Redes paredes sede

Gatas gatinhas seda

Vinho cd vídeos

Salas luzes espelhos

Vento ventre vendas perfumes

Luz contra-luz

Núbia penumbra penetra

Ereto barriga em flor

Blusas ligas cabelos pêlos

Vinho champagne buchas

Tochas fogo línguas molhadas

Entradas aberturas alturas

Moço moça poça catarse

Berros urros uivos noitadas

Vinho champagne cereja línguas

Banhos pelos cabelos joelhos

Mamas orgasmos leite lençóis

Gritos prazeres dizeres montanhas

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9 Do alto dos meus olhos Frederico Eymard

Hoje fez um Frederico lindo

E eu não saí de casa

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10 Do alto dos meus olhos Frederico Eymard

INDIZÍVEL

Sombras antecedendo o amanhã

Dilúvio

Novilúnio

Conúbio de estrelas açúcares

Meu peito raia o futuro

Duro

Castigo as rochas com aguas e beijos

Anseio

No seio da Terra o fogo invisível

Indizível

Como as letras deste poema

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11 Do alto dos meus olhos Frederico Eymard

INFÂNCIA

Minha mãe

Costurando cadernos de rascunho caseiros

Papai

Na oficina do factotum e dos foguetes de vara

Papagaios futebol morrim campim

Rua Araripe

Grupo Escolar Barão de Macaúbas

Nídia Solange

a enfermeira que aplicava injeções no bumbum

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12 Do alto dos meus olhos Frederico Eymard

Linda é a noite

Poucos

os que a merecem

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13 Do alto dos meus olhos Frederico Eymard

MENINO CARACOL

Barca

Na estrada do sol

Sem muletas lunetas

Apenas o sol

Ideia quieta

Leme lema acostados

Ao vértice do girassol

Família luz e dia

Mundo disciplina

Reta régua segueta

Na madeira certeira sem bemol

Aprendo o refrão

Estendo sobre a praia

O cosmos no cabelo de areia

Do meu menino em caracol

Sem medo da verdade

Idade da barca

Na estrada

Da linha do sol

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14 Do alto dos meus olhos Frederico Eymard

EXTRÁRIO

O dia é a água da noite

Deus acima de tudo

Na vida escuros e luzes

Gênio amassado no papel social

Marimbondo atacando a cidade deserta

Mar e sonho marisco de luz

Difícil ser extra-terreno

Extra- marinho

Extra- aéreo

Extra ígneo

Estrada aberta no veio do sol

A noite é o pano do dia a dia é a água da noite

Micróbios procurando luz

Desencontros gaze amarrados sorrisos 15

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15 Do alto dos meus olhos Frederico Eymard

PSICOGRAFIA

Restos de palavras nas poças de chuva

Candeia na noite mal iluminada

Sobras de mim de ti de nós

Palavras pobres sem significado

Acho que o achado está no fundo do armário

No fundo de tudo o baú escuro

Meus olhos se abrem em vertentes colinas

Os arranhões do céu escondem poesias

Vida cor de carne e espelhos

Pudim de estrelas no amanhecer

Acho que cansado remanso no rio

No fundo do leito está o peito das palavras

Ninguém me cala ninguém me entende

A bandeira febril enrola-se sobre a chuva

Tudo que crio é um cacho de uvas

Roubado pelas raposas destruídas do além

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16 Do alto dos meus olhos Frederico Eymard

SIMPLICITUDE

Momento simples

Eletrocutâneo

Simplicidade de choupana

Às margens do corgo límpido de peixes

Presença leve

De pássaros nos ombros

Alegria conformação

Simplicidade de lâmpada

Iluminando metros de rua

Amor

Exílio da dor

Elixir da juventude

Nos dias de sempre sempre novos

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17 Do alto dos meus olhos Frederico Eymard

SOPRO

Para Maria de Fátima Ferreira

Copo-de- leite copo de ar

Taça aquário mostruário

Médio copo dágua média luz

Montai o pequeno templo da rosa

Rosacruz anti-Cosa-Nostra

Ostra pérola pétala e rosa

O sopro contém lindos olhos

Olhai o lírico da capo al fine

Deixai a porta aberta

Muita luz investe o corpo

Reveste copo mostruário

De prura energia que fere

Mostrai os lírios do corpo

A lâmpada ilumina toda a casa

Elimina toxinas anima

Fluidos sobre os campos de cima

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18 Do alto dos meus olhos Frederico Eymard

UMA NOITE DEPOIS DE UMA CONVERSA

Um pássaro na janela

Poesia da boca da moça

Eu posso salvar uma parede

E daí, o que eu vou ganhar?

Bob Dylan disse que a noite é uma conversa

Luz, brilho verde nos olhos

Amo tudo que tenho

O pássaro no horizonte

E eu sou como este pássaro

Olhos quebrados

Roupas limpas

Cantando Love me Tender pra você

Devolvo tudo com beijos

Carícias abraços calor

Viva o mundo dentro de nossos corações

Queria fazer uma canção

Teve outra conversa, com Ester

Quebrando minha cabeça

Te amando até o fim da alma

Nunca nunca mais nos separaremos

Eu e meus amigos minhas amigas

Vento idiota

A simples volta do destino

Doce mulher

Você é uma mulher agora

Vento idiota

Soprando toda vez que você mexe os dentes

Dylan, um gênio

Um papagaio na gaita e na guitarra

E John Fogerty cantando nos altos montes da Califórnia

A chuva corta um dia

Vou viver enquanto brilhar minha luz

E escorpião é um santo

Como Caetano disse:

Seu olhar gótico se instala

Nas veias do meu coração

Pra você entender este poema

Tem que decifrar minha alma

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19 Do alto dos meus olhos Frederico Eymard

Mas eu não vou ousar isso

Todo mundo procura amor

E eu quero o alto do monte da eternidade

Juntinho com meus amigos

Cantando Blowin’ in the wind pra você e para mim

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20 Do alto dos meus olhos Frederico Eymard

VELA

Nova vela

Nem atéia materialista ou espírita

Velha veia poética

Nova vila

Nova vida

Na mente esquecida

Novamente no coração aquecida

Aparecida

Parecida com a velha vela

Renascida

Renovada

Reveladora

Da eterna vela elevada

No leve véu enternecida

Neonascida

Da eterna fonte das velas

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21 Do alto dos meus olhos Frederico Eymard

VOZ-POEMA

Com verso converso

Voz lúdica noitosa

Inverto o inverso

Poesia fina porosa

Livre como passarinho

Gorjeio peito cheio

Das flores tenho as cores

Da imagem o cheiro

Escrevo como quem canta

Sorri e chora

Quem gosta se espanta

Quem não, vai embora

Converso compoema

Componho minha dor

O peito se desata

Luz fogo flor

Respondo à escuridão

Perscruto a luz diurna

Minha voz tenta o verso

Vezes quente vezes noturna