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AVALIAÇÃO DO MODELO SWAT NA SIMULAÇÃO DA
VAZÃO EM BACIA AGRÍCOLA DO CERRADO
INTENSAMENTE MONITORADA.
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Nº52
Kássia Batista de Castro
Orientador: Prof. Dr. Henrique Llacer Roig
Co-orientador:. Dr. Jorge Enoch Furquim Werneck Lima
Brasília – DF
2013
Universidade de Brasília – UnB
Instituto de Geociências - IG
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
AVALIAÇÃO DO MODELO SWAT NA SIMULAÇÃO DA VAZÃO EM
BACIA AGRÍCOLA DO CERRADO INTENSAMENTE MONITORADA
Kássia Batista de Castro
Orientador: Prof. Dr. Henrique Llacer Roig
Co-Orientador: Jorge Enoch Furquim Werneck Lima
Dissertação de Mestrado apresentada à
Banca Examinadora do Instituto de
Geociências Aplicadas (Geoprocessamento
e Análise Ambiental) da Universidade de
Brasília, como exigência para obtenção do
título de mestre em Geociências.
Brasília-DF
Março 2013
iii
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
Instituto de Geociências
AVALIAÇÃO DO MODELO SWAT NA SIMULAÇÃO DA VAZÃO EM
BACIA AGRÍCOLA DO CERRADO INTENSAMENTE MONITORADA
Kássia Batista de Castro
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________________
Prof. Dr. Henrique Llacer Roig
Presidente
_____________________________________________________________
Prof. Dr. Luciano Soares Cunha
Membro Interno
_____________________________________________________________
Prof. Dr. Abelardo Antônio de A. Montenegro
Membro Externo
Brasília, março de 2013
iv
AGRADECIMENTOS
A Deus, por todas as oportunidades e objetivos alcançados. Aos meus pais, Adio e
Rose, por todas as lições, valores repassados, afeto e apoio em todos os momentos da minha
vida e aos meus irmãos Adisson e André e primas Selma e Geise, pelo suporte familiar.
Ao meu orientador, Dr. Henrique Roig, primeiramente pela oportunidade, por ter me
recebido de braços abertos e principalmente por todo o conhecimento repassado, pela enorme
paciência e tempo dedicados ao aprimoramento do trabalho e ao meu de forma particular, e
por acreditar na realização desse projeto. E ao Dr. Jorge Werneck por disponibilizar os dados
necessários a essa pesquisa, e mais que isso, por fazer parte deste trabalho como colaborador e
incentivador, por todo apoio e ensinamentos e pelo tempo despendido para o avanço da
pesquisa.
A CAPES pelo auxilio financeiro durante o período do mestrado e aos projetos
Estudos Hidrológicos e Sedimentológicos em Bacias Experimentais e Representativas do
Semiárido e do Cerrado e Geração de Valores de Referência de Parâmetros do Modelo SWAT
Adequados ao Bioma Cerrado, aos quais esse trabalho se insere.
A Dr. Adriana Reatto e a Marisa Prado, pelos ensinamentos e primordialmente por
acreditar e investir no meu crescimento intelectual, criando a possibilidade de novos
caminhos. Ao Dr. Éder Martins pela grande contribuição científica agregada ao meu
conhecimento durante o período da iniciação acadêmica e pelas oportunidades dadas, que
possibilitaram avanços futuros, e aos amigos Denilson Passo e Vinícius Vasconcelos por todo
o aprendizado adquirido.
Aos professores e colegas do grupo de modelagem hidrológica do PTARH, que
possibilitaram grande troca de conhecimento. Aos professores do Instituto de Geociências e
aos colegas que adquiri ao longo desses dois anos, principalmente ao Paulo Henrique,
Gervásio, Carlos, Maria Elisa, e de forma singular ao Leandro, Jimena e Sara por toda a ajuda
prestada em sanar dúvidas e dificuldades no decorrer do processo de modelar.
Aos colegas de trabalho da Gerência de Geotecnologia da Conab, primordialmente ao
Tarsis Piffer pela compreensão durante o período de finalização do mestrado. E por fim, aos
meus grandes amigos Alane Fontes, Carolina Pereira, Karen Castro, Fernanda Souza e Thiago
Santana por todos os momentos de descontração, pelas experiências compartilhadas e por
todo o carinho. E de forma especial para a amiga inseparável, Larissa Ane, presente em todos
os momentos, obrigada pela amizade sincera, apoio e companheirismo.
v
Aos meus pais, por toda dedicação e por
acreditarem e me ensinarem que o estudo
é capaz de vencer muitos obstáculos.
vi
"Nossa recompensa se encontra no
esforço e no resultado. Um esforço total é
uma vitória completa." (Mahatma
Gandhi).
vii
AVALIAÇÃO DO MODELO SWAT NA SIMULAÇÃO DA VAZÃO EM
BACIA AGRÍCOLA DO CERRADO INTENSAMENTE MONITORADA
Autor: Kássia Batista de Castro
Orientador: Henrique Llacer Roig
Co-Orientador: Jorge Enoch Furquim Werneck Lima
RESUMO
A modelagem hidrológica é uma importante ferramenta de apoio a gestão e a tomada de
decisões sobre o uso do solo e da água. O objetivo deste trabalho foi avaliar a aplicabilidade
do modelo SWAT em uma bacia agrícola típica do bioma cerrado, intensamente monitorada.
A bacia selecionada para este estudo, foi a bacia do Alto Rio Jardim, com área aproximada de
105 km², situada na porção sudeste do Distrito Federal. Trata-se de uma bacia experimental,
com grande volume de dados medidos, que está inserida na Rede cooperativa de Bacias
Experimentais formada pela UFPE, UFRPE, UFAL, UFS, UnB, EMBRAPA Cerrados
financiada pela Chamada Pública MCT/FINEP/CT-Hidro 01/2010. A série histórica (julho de
2006 a junho de 2008) utilizada neste trabalho compreende os dados de uma estação
fluviográfica, quatro estações pluviográficas localizadas dentro da bacia e uma estação
climatológica distante cerca de 30 km da bacia. Foram também utilizados dados de solos
levantados na área. As etapas metodológicas consistiram na: 1 - seleção e carga dos dados no
banco de dados do SWAT; 2- definição das sub-bacias e das Unidades de Resposta
Hidrológica (HRU's); 3 - análise de sensibilidade; 4 - calibração do modelo; e 5 - Simulação,
validação do modelo e análise estatística. Foram geradas cerca de 6 sub-bacias e 628 HRU´s.
A simulação hidrológica através do modelo SWAT não conseguiu representar a realidade de
forma satisfatória sem a calibração dos parâmetros mais sensíveis no modelo.A análise de
sensibilidade identificou 10 parâmetros em consonância com outro estudos realizados no
Brasil para series diárias. A calibração foi realizada para um ano de dados diários, onde os
testes de eficiência de Nash e Sutcliffe (ENS) e o coeficiente de determinação (R²),
corresponderam a 0,60 e 0,66, valores superiores aos considerados satisfatórios para a
calibração diária, deste modo a calibração do modelo apresentou boa representatividade da
vazão diária da bacia. Já para a validação os valores de ENS e R2 foram respectivamente de -
0,8 e 0,66, não sendo satisfatórios. De uma forma geral, apesar de algumas limitações nos
resultados obtidos, principalmente na fase de validação do modelo, dependendo da
informação necessária para a gestão dos recursos hídricos, após a calibração, o SWAT
demonstrou ser uma ferramenta passível de utilização para a simulação de vazões diárias na
bacia do alto rio Jardim.
Palavras-chave: Modelagem hidrológica, bacia experimental, dados medidos.
viii
EVALUATION OF THE SWAT MODEL IN THE OUTPUT OF AN
INTENSIVELY MONITORED AGRICULTURAL WATERSHED OF
CERRADO
Autor: Kássia Batista de Castro
Orientador: Henrique Llacer Roig
Co-Orientador: Jorge Enoch Furquim Werneck Lima
ABSTRACT
The hydrologic modeling is an important support tool in the management and the decision
making process on the use of the soil and water. The goal of this work was to evaluate the
applicability of the SWAT model in a typical agricultural basin of the “Cerrado” biome,
intensively monitored. The selected basin for this study was the Upper Jardim River Basin,
which covers an area of approximately 105 km², situated Southeastern Federal District. It is a
research watershed, with a great amount of measured data, which is inserted in Cooperative
Network of the Research Basins formed by UFPE, UFRPE, UFAL, UFS, UnB, EMBRAPA
Cerrados funded public call MCT/FINEP/CT-Hidro 01/2010. The historical period (July/2006
to June/2008) used in this study comprises data from a flow station, four pluviographic
seasons localized within the basin and one weather station about 30 km apart watershed. Data
of soils collected in the area were also used. The methodological steps consisted in 1- Seletion
and loading of the data in SWAT database ; 2-definition of the sub-basins and of the HRU’s;
3- Sensitivity analysis; 4- Calibration of the model; 5- Simulation, validation and statistic
analysis. Were generated about 6 subbasin and 628 HRU's. The model SWAT was not able to
satisfactorily simulate the outputs without the calibration of the most sensitivities parameters
being done. The sensitivity analysis identified ten parameters in consonance with other
studies realized in Brazil for daily periods. The calibration was done for a year of daily data,
Nash and Sutcliffe efficiency tests (ENS) and the determination coefficient (R²) corresponded
to 0,60 and 0,66, higher values than satisfactory for daily calibration, therefore the model
calibration showed good representativeness for daily output of the basin. Yet for the
validation ENS and R² values were respectively -0,8 e 0,66, not being satisfactory. Generally,
although some limitations on the results obtained, mainly in validation phase of the model,
depending on the information required to management of water resources, after the
calibration, the SWAT model has proven to be a toll capable of use for simulating daily
streamflows in the upper Jardim river basin.
Key words: Hydrologic modeling, research watershed, measured data.
ix
LISTA DE SIGLAS, ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
Alpha BF - Constante de recessão do escoamento de base
ArcGIS - Nome de um grupo de programas informáticos e que constitui um Sistema de informação
geográfica
Arc-SWAT - Ferramenta da interface SWAT e Arcgis
ARS - Serviço de Pesquisas Agrícolas
Biomix - Eficiência do revolvimeto biológico
Blai - Índice do potencial máximo de área foliar
CA - California
Canmx - Armazenamento máximo do dossel
Ch_K2 - Condutividade hidráulica do canal principal
Ch_N2 - Coeficiente de rugosidade de Manning
CH101 - Estação Pluviográfica Chácara 101
CH121 - Estação Pluviográfica Chácara 121
CH23 - Estação Pluviográfica Chácara 23
cm - centímetros
CN - Curva Número
CN2 - Curva Número para a condição de umidade antecedente II
cp - calor específico a temperatura constante (MJ٠kg-1ºC-1)
COEA - Índice de Eficiência de Nash e Sutcliffe Alterado
CPAC - Embrapa Cerrados
CV - Coeficiente de variação
Cx - Cambissolo
DF - Distrito Federal
E - profundidade da taxa de evaporação (mm٠dia-1)
Ea - quantidade de água evapotranspirada no dia i (mm)
ei - constante pré-definida que é alterada
ei, e1, e2, ep - referem-se ao conjunto de P parâmetro
- pressão de saturação de vapor do ar na altura z (kPa)
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
ENS - Índice de Eficiência de Nash e Suticliffe
Epco - Fator de compensação de água pelas plantas
Esco - Fator de compensação de evaporação do solo
Esco - Fator de compensação de evapotranpiração do solo
ESRI - Environmental Systems Research Institute
x
EUA - Estados Unidos da America
ez - pressão de vapor da água na altura z (kPa)
fi - fração de cada parâmetro
Fx – Plintossolo
G - densidade do fluxo de calor para o solo (MJ٠m-²٠dia-1)
GIS/SIG - Sistema de Informação Geográfica
GLUE - Generalized Likelihood Uncertainty Estimation
GWDelay - Tempo de retardo da água subterrânea (dias)
GWqmn - Limite entre a profundidade de água em aquífero raso e a superfície
GWRevap - Coeficiente "revap" de água subterrânea
Gx - Gleissolo
h-1 -
hora
Hnet - saldo da radiação (MJ٠m-²)
HRU - Hidrology Response Units (Unidades de Resposta Hidrológica)
Ia/ λS - Perdas Iniciais
IBGE - Intituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPH - Modelo do Instituto de Pesquisas Hidráulicas
j - refere-se a um ponto Hipercubo Latino.
kg - quilogramas
km - quilometros
kPa - Kilopascal
LA -Latossolo Amarelo
LH -Latin Hypercube (Hipercubo Latino)
LH-OAT - Junção entre os métodos Latin Hypercube e One-Factor-At-a-Time
LV - Latossolo Vermelho
LVA - Latossolo Vermelho-amarelo
m - metros
M(.) - refere-se às funções do modelo
m² - metro quadrado
m³ - metro cúbico
MCM - Markov Chain Monte Carlo
MDE - Modelo Digital de Elevação
MG - Minas Gerais
MJ - Milijoule
mm - milímetros
MT - Mato Grosso
xi
NRCS - National Resources Conservation Service (Serviço de Conservação dos Recursos Naturais)
OAT - One-Factor-At-a-Time
ºC - graus Celsius
P - Precipitação em mm e
PBIAS - Percentual de tendência
PARASOL - Parameter Solutions method
PR - Paraná
PSO - Particle Swarm Optimization
Q - volume do escoamento superficial ou chuva excedente em mm
Qsurf - quantidade de escoamento superficial no dia i (mm)
gwQ - quantidade de água que retorna ao curso d´água no dia i devido ao escoamento sub-superficial
(mm)
R² - Coeficiente de Determinação
ra - resistência da difusão da camada do ar
rc - resistência a copa das plantas
Rchrg_Dp - Fração de água percolada para o aquífero profundo
Rday - quantidade de água precipitada no dia i (mm)
Revapmn - Profundidade em aquífero profundo para que haja "revap"
RGB - Intervalo espectral do visível (Red-Green-Blue)
RQ - Neossolo Quartzarênico
RSR - Razão entre o erro padrão médio e o desvio padrão das observações
S - capacidade máxima de retenção de água dos solos.
s - segundo
SC - Santa Catarina
SCS - Serviço de Conservação do Solo
SHE - Modelo Sistema Hidrologico Europeu
SHP - Shapefile (Formato de arquivo utilizado pelo ArcGis)
SICAD - Sistema Cartográfico do Distrito Federal
Slope - Declividade média
Slsubbsn - Comprimento da declividade média (m)
SMAP - Modelo Soil Moisture Accounting Procedure
Sol_Alb - Albedo do solo úmido
Sol_Awc - Capacidade de água disponível no solo (mm h-1
)
Sol_K - Condutividade hidráulica saturada dos solo (mm h-1
)
Sol_Z - Profundidade da camada de solo (mm)
SSARR - Modelo StreamFlow Sinthesis and Reservoir Regulation
xii
SSQ - Soma dos Quadrados dos Resíduos
SSQR - Soma dos Quadrados dos Resíduos Ranqueda
SUFI2 - Sequential Uncertainty Fitting
Surlag - Coeficiente de retardo do escoamento superficial (dias)
SW0 - quantidade inicial de água no solo no dia i (mm);
SWAT- Soil and Water Assessment Tool
SWt - quantidade de água no solo da camada da zona radicular simulada no tempo t (mm)
t - duração do ciclo hidrológico simulado (dias)
TERRACAP - Companhia Imobiliária de Brasília
UFAL - Universidade Federal de Alagoas
UFPE - Universidade Federal de Pernambuco
UFRPE - Universidade Federal Rural de Pernambuco
UFS - Universidade Federal de Sergipe
UnB - Universidade de Brasília
USDA - Depertamento de Agricultura dos Estados Unidos
UTM - Universal Transversa de Mercator
wseep - quantidade de água que percola da camada simulada para a camada inferior, no dia i (mm);
- vazão observada
- vazão simulada
-média da vazão observada e
- média da vazão simulada
γ - constante psicrométrica (kPa٠ºC-1)
Δ - inclinação da curva pressão de saturação de vapor pela temperatura, ∂e/∂T
λ - uma constante de proporcionalidade da abstração inicial em relação à capacidade máxima de água
dos solos
λE - fluxo de calor latente (MJ٠m-²٠dia-1)
ρar - densidade do ar (kg٠m-³)
xiii
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 1
1.1 Objetivos ....................................................................................................................................... 4
1.1.1 Objetivos Específicos ............................................................................................................. 4
1.2 Organização da Dissertação .......................................................................................................... 4
2. ESTADO DA ARTE .......................................................................................................................... 6
2.1 Ciclo Hidrológico .......................................................................................................................... 6
2.2 Modelos Hidrológicos ................................................................................................................... 7
2.3 Modelos Distribuídos .................................................................................................................. 10
2.4 SWAT ......................................................................................................................................... 11
2.5 Equacionamentos ........................................................................................................................ 15
2.5.1 Equação do Balanço Hídrico ................................................................................................ 15
2.5.2 Método Curva Número ......................................................................................................... 16
2.5.3 Equação de Penman Monteith .............................................................................................. 20
2.6 Análise de Sensibilidade ............................................................................................................. 21
2.6.1 Método LH-OAT (Latin Hypercube - One-Factor-At-a-Time) ........................................... 22
2.7 Calibração ................................................................................................................................... 24
3. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................................. 28
3.1 Características Fisiográficas da Área de Estudo ......................................................................... 28
3.2 Modelo Conceitual ...................................................................................................................... 35
3.3 Aplicativos e Organização da Base ............................................................................................. 36
3.4.1 Modelo Digital de Elevação ................................................................................................. 38
3.4.2 Solos ......................................................................................................................................... 38
3.4.3 Características físicas dos solos ........................................................................................... 39
3.4.4 Uso do solo ........................................................................................................................... 42
3.4.5 Reclassificação dos dados de Uso e Ocupação da terra ....................................................... 44
3.4.6 Estações Climatológicas ...................................................................................................... 45
3.4.7 Dados Climáticos ................................................................................................................. 47
3.4.8 Dados de Vazão .................................................................................................................... 50
3.5 Etapas de Execução ..................................................................................................................... 51
3.5.1 Discretização da Bacia ......................................................................................................... 53
3.5.2 Definição das HRU's ............................................................................................................ 54
3.5.3 Entrada de Dados Climático ................................................................................................. 55
3.5.4 Período de Aquecimento ...................................................................................................... 58
xiv
3.5.5 Simulação ............................................................................................................................. 59
3.5.6 Análise de Sensibilidade ...................................................................................................... 59
3.5.7 Calibração e Validação ......................................................................................................... 61
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................................................................... 63
4.1 Modelo Digital de Elevação ........................................................................................................ 63
4.2 Mapa de Uso ............................................................................................................................... 63
4.3 Processamento dos dados de entrada .......................................................................................... 67
4.4 Simulação .................................................................................................................................... 72
4.5 Análise de Sensibilidade ............................................................................................................. 76
4.6 Calibração ................................................................................................................................... 81
4.7 Validação ..................................................................................................................................... 89
5. CONCLUSÃO ................................................................................................................................ 104
ANEXO ............................................................................................................................................... 118
xv
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Distribuição das regiões hidrográficas brasileiras e a localização do bioma cerrado. ............. 2
Figura 2: Ciclo Hidrológico (Fonte: Mendonça, 2009). .......................................................................... 7
Figura 3: Relação do escoamento superficial e da chuva do Método CN (SCS) ( adaptado de Neitch et
al., 2005a).............................................................................................................................................. 18
Figura 4: Procedimento de Calibração para Fluxo, Sedimentos e Nutrientes (adaptado de Santhi, 2001
e Moriasi, 2007). ................................................................................................................................... 26
Figura 5: Localização da Bacia Experimental do Alto Rio Jardim. ...................................................... 28
Figura 6: Rede de Drenagem e Modelo Digital de Elevação da Bacia Experimental do Alto Rio
Jardim. ................................................................................................................................................... 29
Figura 7: Geologia da Bacia Experimental do Alto Rio Jardim. ........................................................... 30
Figura 8:Domínio Poroso e domínio Fraturado da Bacia Experimental do Alto Rio Jardim. .............. 31
Figura 9: Mapa de Solos da Bacia do Alto Rio Jardim ......................................................................... 32
Figura 10: Textura dos Solos da Bacia Experimental do Alto Rio Jardim. .......................................... 34
Figura 11: Modelo conceitual da Bacia do Alto Rio Jardim. ................................................................ 36
Figura 12: Fluxograma metodológico para a elaboração do mapa de uso e ocupação da Bacia do Alto
Rio Jardim ............................................................................................................................................. 42
Figura 13: Localização das estações climatológica da Embrapa Cerrados e das estações pluviométricas
localizadas na bacia do alto rio Jardim. ................................................................................................. 46
Figura 14: Série pluviométrica da Bacia do Alto Rio Jardim (Lima, 2010). ........................................ 47
Figura 15: Gráficos das séries históricas climatológicas. A)Umidade; B) Radiação Solar; C)
Velocidade do Vento D) Temperatura. ................................................................................................. 49
Figura 16: Localização das estações fluviográficas da Bacia do Alto Rio Jardim (Lima, 2010). ......... 50
Figura 17: Séries de vazão da Bacia do Alto Rio Jardim (Lima, 2010). ............................................... 51
Figura 18: Fluxograma Metodológico. MDE - Modelo Digital de Elevação; HRU – Unidade de
Resposta Hidrológica; LH - Hipercubo Latino; OAT - One Factor at a Time. ..................................... 52
Figura 19: Distribuição espacial das estações pluviográficas por sub-bacia. ........................................ 56
Figura 20: Distribuição anual da chuva na bacia do Alto Rio Jardim (Lima, 2010). A) Estação CH23;
B) Estação CH101; C) Estação CH121; D) Estação Laurentino ........................................................... 57
Figura 21: Modelo Digital de Elevação gerado para a bacia do Alto Rio Jardim. ................................ 63
xvi
Figura 22: Mapa de uso da Bacia do Alto Rio Jardim .......................................................................... 64
Figura 23: Sub-bacias, seus respectivos exutórios e hidrografia gerados pelo modelo SWAT para a
Bacia Experimental do Alto Rio Jardim. .............................................................................................. 68
Figura 24: Classes de declividade da bacia do Alto Rio Jardim geradas a partir do MDE obtido por
interpolação (topo to raster) dos dados topográficos das cartas 1:10.000. ............................................ 69
Figura 25: HRU's (Unidades de Resposta Hidrológica) geradas pelo SWAT. ..................................... 71
Figura 26: Balanço hídrico simulado pelo SWAT para o período de 2006 a 2008. .............................. 72
Figura 27: Gráfico comparando a vazão observada (Lima, 2010) e simulada no período de 2006 a
2008 em relação a precipitação para o mesmo período. ........................................................................ 74
Figura 28: Gráfico mostrando a os dados de vazão simulada X vazão observada para a estação no
exutório da bacia do Rio Jardim simulados.......................................................................................... 75
Figura 29: Análise de sensibilidade, ranking da sensibilidade pelo método LH-OAT. ....................... 76
Figura 30: Análise de Sensibilidade, sensibilidade média dos parâmetros de acordo com método LH-
OAT....................................................................................................................................................... 78
Figura 31: Gráfico da vazão observada (Lima 2010) e simulada no período de 2006 a 2007. ............. 82
Figura 32: Gráfico da vazão observada (Lima, 2010) e simulada no período de 2006 a 2007 (dados
calibrados). ............................................................................................................................................ 85
Figura 33: Gráfico de dispersão dos dados observados e simulados no período de 2006 a 2007 (dados
sem calibração). ..................................................................................................................................... 87
Figura 34: Gráfico de dispersão dos dados observados e simulados no período de 2006 a 2007 (dados
calibrados). ............................................................................................................................................ 87
Figura 35: Balanço hídrico simulado pelo SWAT para o período de 2006 a 2007 (dados calibrados). 89
Figura 36: Gráfico da vazão observada (Lima, 2010) e simulada no período de 2007 a 2008 (sem
calibração). ............................................................................................................................................ 90
Figura 37: Gráfico da vazão observada (Lima, 2010) e simulada no período de 2007 a 2008, intervalo
de validação do modelo (dados validados)............................................................................................ 92
Figura 38: Gráfico de dispersão dos dados observados e simulados no período de 2007 a 2008. ........ 93
Figura 39: Gráfico de dispersão dos dados observados e simulados no período de 2007 a 2008 após a
calibração. ............................................................................................................................................. 94
Figura 40: Gráfico de dispersão dos dados observados e simulados no período de 01/07/07 a 30/10/07
(Evento 1) após a calibração. ................................................................................................................ 95
Figura 41: Gráfico de dispersão dos dados observados e simulados no período de 01/02/08 a 22/02/08
(Evento 2) após a calibração. ................................................................................................................ 95
xvii
Figura 42: Gráfico de dispersão dos dados observados e simulados no período de 06/03/08 a 03/04/08
(Evento 3) após a calibração. ................................................................................................................ 96
Figura 43: Gráfico de dispersão dos resíduos dos dados no período de 2006 a 2007 (dados calibrados).
............................................................................................................................................................... 97
Figura 44: Gráfico de dispersão dos resíduos dos dados no período de 2007 a 2008 (dados validados).
............................................................................................................................................................... 97
Figura 45: Balanço hídrico simulado pelo SWAT para o período de 2007 a 2008 após o período de
calibração/validação. ............................................................................................................................. 99
Figura 46: Gráfico de dispersão dos dados observados e simulados no período de 2006 a 2008 (dados
calibrados e validados). ....................................................................................................................... 100
Figura 47: Distribuição da demanda evaporativa do solo em profundidade (Adaptado de Neitsch et al.,
2005b). ................................................................................................................................................ 120
Figura 48: Influência do parâmetro Surlag e do tempo de concentração na fração do escoamento
superficial liberado (adaptado de Neithsch et al. 2005b). ................................................................... 122
xviii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Classificação da sensibilidade dos parâmetros (Lenhart et al., 2002). .................................. 22
Tabela 2: Classificação dos resultados por índice de eficiência para a modelagem com o SWAT para
estimativas mensais (Adaptado de Moriasi et al., 2007). ...................................................................... 27
Tabela 3: Valores médios dos parâmetros de solos medidos (Lima, 2010). ......................................... 40
Tabela 4: Valores de Condutividade Hidráulica Saturada (Lima, 2010). ............................................. 41
Tabela 5: Valores de CN adaptados de Setzer e Porto (1979), Sartori (2004) e Lima (2009). ............. 45
Tabela 6: Parâmetros e limites utilizados para a análise de sensibilidade. ........................................... 60
Tabela 7: Área das classes de uso da bacia do Alto Rio Jardim. ........................................................... 70
Tabela 8: Área das classes de solo da bacia do Alto Rio Jardim (Adaptado de Reatto et al., 2000). ... 70
Tabela 9: Valores de referência para o balanço hídrico (Lima 2010). .................................................. 73
Tabela 10: Variação dos valores (inicial e final) para os parâmetros utilizados na calibração e o
método de variação. .............................................................................................................................. 83
Tabela 11: Valores de ENS para o período de calibração e validação com o SWAT em bacias do
Distrito Federal. ..................................................................................................................................... 98
Tabela 12: Estatística descritiva dos dados de vazão observados e simulados. .................................. 102
xix
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Trabalhos utilizando o SWAT no Brasil para a estimativa do fluxo de água. ..................... 13
Quadro 2: Grupo de Solos Hidrológicos da Bacia do Alto Rio Jardim (adaptado de Sartori 2004). .... 39
Quadro 3: Reclassificação dos tipos de uso para a inserção no SWAT. ............................................... 44
Quadro 4: Imagens de cada classe de uso presente na Bacia do Alto Rio Jardim................................. 66
Quadro 5: Classificação da análise de sensibilidade média dos parâmetros (Lenhart et al., 2002). ..... 78
Quadro 6:Parâmetros mais sensíveis para a simulação do SWAT no Brasil. ....................................... 80
1
1. INTRODUÇÃO
A água é um recurso natural indispensável à origem e manutenção da vida, está
associada as mais diversificadas demandas humanas como, uso doméstico, agrícola,
industrial, comercial, científico, alimentício, hospitalar, turístico, navegação, pesca, lazer,
abastecimento energético e também para a condução e tratamento do esgoto. A utilização e
preservação dos recursos hídricos são de indiscutível importância e mais que isso uma
necessidade para a continuidade e conservação do planeta e uma dívida para a sobrevivência
das futuras gerações (Oliveira, 2000; Dowbor, 2001; MMA, 2005).
Bem de consumo final ou intermediário, a água é um bem natural finito e sua
disponibilidade diminui gradativamente devido ao crescimento populacional, à expansão das
fronteiras agrícolas e à degradação do meio ambiente (Perry & Vanderkelein, 1996; Cech,
2009, Tucci 2009).
O desequilíbrio entre a demanda e a disponibilidade de água tem levado à necessidade
de se desenvolver uma gestão dos recursos hídricos mais eficiente, que tenha como referencial
a compreensão da água enquanto um recurso natural, escasso, fundamental à vida e ao
desenvolvimento, devendo ser tratada como um bem público, de uso comum a todos e um
recurso de alto valor social, ecológico e econômico (Silva, 2004).
Para Setti et al. (2001) os problemas de escassez hídrica no Brasil decorrem,
fundamentalmente, da combinação entre o crescimento exagerado das demandas localizadas e
da degradação da qualidade das águas. Esse quadro é conseqüência dos desordenados
processos de urbanização, industrialização e expansão agrícola. Sendo da agricultura a maior
demanda por água no país, especialmente a irrigação, com quase 69% da demanda das vazões
efetivamente consumidas (Setti et al., 2001; ANA, 2005).
Dentro deste contexto, para uma gestão adequada dos recursos hídricos é
imprescindível a utilização de bases de dados confiáveis. No entanto, frequentemente estas
são insuficientes ou não existem. Neste caso, uma alternativa é a aplicação de modelos
matemáticos que possam estimar o comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica.
Entendendo esta necessidade, os órgãos de fomento criaram um edital (Chamada
Pública MCT/FINEP/CT-Hidro 01/2010) específico para o estabelecimento de Redes, com
vistas a buscar soluções para esta problemática. Neste âmbito, foi criada a Rede cooperativa
de Bacias Experimentais formada pela UFPE, UFRPE, UFAL, UFS, UnB, EMBRAPA
Cerrados e outros parceiros nos estados de atuação dos projetos. A REDE tem como objetivo
desenvolver, de forma sistematizada e conjunta, metodologias apropriadas para o
2
aprimoramento e a difusão de técnicas para a manutenção dos ambientes e melhor
aproveitamento dos recursos de água e solo. Será avaliado o potencial das bacias
experimentais para suporte aos usos múltiplos de recursos hídricos e aumento da oferta, bem
como à gestão da produção agrícola. As atividades da UnB e EMBRAPA cerrados estão
focadas nas bacias do bioma Cerrado, em especial no DF.
O bioma cerrado ocupa uma área correspondente a aproximadamente 24% do
território brasileiro e por se localizar em zona central e de elevada altitude em relação às
demais regiões do país, desempenha papel fundamental na produção e distribuição de recursos
hídricos para oito das doze grandes regiões hidrográficas brasileiras (Figura 1).
Desde a década de 1970 esse ecossistema vem sendo ocupado de forma acelerada,
com destaque para o crescimento dos centros urbanos e o desenvolvimento da agricultura
(Menezes, 2009; Lima 2010; ZEE, 2012a).
Figura 1: Distribuição das regiões hidrográficas brasileiras e a localização do bioma cerrado.
3
Inserido neste bioma, o Distrito Federal apresenta importância singular, abrigando
nascentes de três importantes bacias hidrográficas do país, Tocantins, São Francisco e Paraná
(ZEE, 2012b). A configuração de sua rede hídrica é consideravelmente modesta, e com uma
forte sazonalidade, onde a estação seca é bastante severa, com duração de quatro a seis meses
(Ecoplan, 2012 - Plano de Gerenciamento Integrado de Recursos Hídricos do DF -
PGIRH/DF). Este fato leva, necessariamente, a uma avaliação contínua de sua capacidade de
prover a demanda de recursos hídricos (Albuquerque 1999, ADASA, 2012). Outro fato
importante é a evolução do padrão do uso e ocupação do DF, que se deu de forma rápida e
desordenada, caracterizado por uma região de adensamento populacional na região da Bacia
do Paranoá (Menezes et al., 2012) e entorno e pela expansão agrícola na região da bacia do
Rio Preto (UNESCO, 2000 e 2002; Ecoplan, 2012, ZEE, 2012a).
De acordo com Frota (2006) a produção agrícola na bacia do Rio Preto no DF vem
utilizando sistemas de irrigação, por meio de pequenos barramentos e captação direta nos
mananciais superficiais, feitos pelos produtores. Esses sistemas, que não estão inseridos em
um processo planejado de aproveitamento da água e a maioria não dispõem de outorga do
direito de uso da água e de licenciamento ambiental para operar, têm sido responsáveis pela
retirada de água dos mananciais maior que a capacidade de suporte dos mesmos, provocando
sobrexploração, degradação ambiental e conflitos sócioambientais pelo uso d’água.
A bacia do alto rio Jardim é uma das mais importantes sub-bacias da bacia do rio
Preto. Trata-se de uma bacia essencialmente agrícola, com o cultivo de grãos como feijão,
soja, milho e sorgo, e algodão, cítricos e café, e com destaque para a criação de gado e aves
(Lima, 2010). Por este motivo, ela foi escolhida como uma das Bacias Experimentais do DF
que em conjunto com a Bacia do Sarandi e Descoberto compõem as áreas de estudo da Rede.
Estas bacias são umas das poucas bacias do DF instrumentadas, com disponibilidade de
dados para aplicação de modelos e posterior validação.
Neste contexto, a REDE de Bacias Experimentais, adotou o SWAT (Soil and Water
Assessment Tool) como modelo a ser aplicado nas bacias estudas. Trata-se de um programa
que trabalha como uma interface vinculada a um software de GIS (ArcGis ou GRASS) e é um
modelo de base física, semidistribuído, computacionalmente eficiente e apesar de exigir
grande quantidade de dados para entrada no modelo, o conjunto de dados necessários para a
realização da simulação a que se dispõe esse trabalho foram levantadas por Lima (2010) e
disponibilizados pelo autor para a realização do mesmo. A hipótese para esse trabalho se
baseia na premissa de que a utilização de modelos para representar a realidade é uma
4
importante ferramenta para o estudo de áreas onde não existem informações hidrológicas e
que os resultados gerados podem dar subsídio para o entendimento dos processos e para a
tomada de decisões sobre o uso do solo e da água nessas regiões. A aplicabilidade de um
modelo dito distribuído, ou no caso do SWAT semidistribuído, permite que os resultados
simulados sejam ajustados em relação aos observados, propiciando a análise da variabilidade
do processo de forma segmentada. Assim, a hipótese desse trabalho é que o modelo SWAT é
capaz de simular de forma eficiente os processos hidrológicos ocorrentes na bacia do alto rio
Jardim, e que prováveis discrepâncias nos resultados serão minimizadas por meio de
calibração e posteriormente validados.
1.1 Objetivos
Avaliar a aplicabilidade do modelo SWAT na simulação da vazão em bacia
experimental de uso predominantemente agrícola, inserida no Bioma Cerrado e intensamente
monitorada.
1.1.1 Objetivos Específicos
Identificar quais são os parâmetros mais relevantes e significativos para a
aplicação do modelo SWAT na bacia de estudo;
Calibrar e validar o modelo SWAT para a simulação da vazão em uma bacia
agrícola do Cerrado e intensamente monitorada;
Avaliar se o modelo obtido é capaz de reproduzir adequadamente o
comportamento do ciclo hidrológico na bacia.
1.2 Organização da Dissertação
Este trabalho foi estruturado em cinco capítulos, no decorrer do texto são abordadas e
aprofundadas as idéias anteriormente descritas, afim de se chegar até os objetivos almejados.
Os propósitos a que se dispõe cada um deles são explicitados sucintamente abaixo.
O capitulo dois traz uma sucinta revisão da literatura sobre temas relacionados a
modelagem hidrológica e especificamente ao modelo SWAT e suas aplicações,
principalmente acerca de sua utilização em bacias hidrográficas brasileiras, para embasar as
etapas subsequentes. O terceiro capítulo aborda quais foram os dados utilizados e como
foram obtidos, abrange as etapas e procedimentos empregados para a execução do trabalho e
os programas necessários para desempenhar tais atividades.
5
O capítulo quatro apresenta os resultados obtidos para cada etapa desenvolvida, as
respostas de saída da modelagem com o SWAT, e uma análise desses resultados, visando a
compreensão dos processos representados pelo modelo e sua relação com o comportamento
real da bacia.
O quinto e último capítulo expõe as conclusões sobre o trabalho e relaciona algumas
sugestões para a sua continuidade em uma oportunidade futura.
6
2. ESTADO DA ARTE
Este capítulo compreende o referencial teórico utilizado para embasar o conhecimento
a cerca dos processos empregados para a realização dos objetivos determinados.
2.1 Ciclo Hidrológico
O ciclo hidrológico é um fenômeno global de circulação da água entre a superfície da
terra e a atmosfera, gerado primordialmente pela ação da energia solar atrelada ao movimento
gravitacional e a rotação da terra, sendo caracterizado como um sistema fechado se observado
a nível global (Silveira, 2009).
Trata-se de um processo dinâmico que representa os diferentes caminhos que a água
pode percorrer e se transformar ao longo do tempo. Ele integra três partes do sistema que
compõem a Terra: a atmosfera, onde é encontrada principalmente água no estado gasoso; a
hidrosfera, representando a água na fase líquida ou sólida na superfície do planeta; e a
litosfera, abrangendo todos os tipos de águas subterrâneas (CHOW, 1964).
Os processos hidrológicos ocorrem em duas direções, uma onde o fluxo de água
ocorre na forma de vapor como resultado dos fenômenos de evaporação e transpiração, no
sentido superfície-atmosfera, e o outro no sentido atmosfera-superfície, constituído pelas
precipitações, onde a transferência de água pode acontecer em qualquer um dos três estados
físicos (Silveira, 2009).
A água é transformada em vapor pela energia solar que atinge a superfície terrestre, e
pela transpiração dos organismos vivos sobe para a atmosfera, onde esfria progressivamente
dando origem às nuvens, tais massas de água retornam para a Terra sob a ação da gravidade, e
em forma de precipitação, constituindo assim o Ciclo Hidrológico (Figura 2), configurado
pelo permanente movimento da água no planeta (Setti et al., 2001).
7
Figura 2: Ciclo Hidrológico (Fonte: Mendonça, 2009).
Conforme exemplifica a figura, o ciclo hidrológico é constituído pelas seguintes fases,
precipitação, que corresponde à água que cai da atmosfera sobre a superfície terrestre.
Escoamento, caracterizado pelo movimento de deslocamento da água na superfície da Terra,
podendo ser superficial ou subsuperficial. Infiltração, que abrange a porção de água que
penetra no solo. Percolação, que consiste no movimento de água dentro do perfil do solo.
Evaporação, processo de transformação da água em estado líquido para a fase gasosa. E a
Transpiração, processo de perda de vapor d’água pelas plantas (Uzeika, 2009).
2.2 Modelos Hidrológicos
Um modelo pode ser considerado como uma representação simplificada da realidade,
auxiliando no entendimento dos processos que envolvem esta realidade, de maneira geral, um
modelo é um sistema de equações e procedimentos compostos por variáveis e parâmetros
(Rennó & Soares, 2000).
O modelo nada mais é que a representação do comportamento de um sistema, esse por
sua vez se trata de qualquer estrutura, esquema ou procedimento real ou abstrato que num
8
determinado tempo de referência se inter-relaciona com uma entrada, causa ou estímulo de
energia ou informação, e uma saída, efeito ou resposta de energia ou informação (Dooge,
1973; Tucci 1998).
Os modelos matemáticos de simulação permitem uma grande flexibilidade por
possibilitarem que um sistema qualquer seja representado matematicamente em modelos
computacionais, além de possibilitar a análise no nível de detalhamento requerido (Azevedo
et al., 1997).
Um modelo hidrológico pode ser definido como uma representação do fluxo de água e
seus constituintes sobre alguma parte da superfície e/ou subsuperfície terrestre. Estes modelos
podem descrever a distribuição espacial da precipitação, as perdas por interceptação,
evaporação, o movimento da água no solo causado pela infiltração, percolação, entrada e
saída de água subterrânea, o escoamento superficial, subsuperficial e nos canais de
escoamento, ou apenas representar parte dessas variáveis, dependendo do tipo de modelo e a
que ele se dispõe (Rennó & Soares, 2000), como por exemplo modelos chuva-vazão.
A modelagem hidrológica se caracteriza como uma ferramenta que possibilita a
representação de processos hidrológicos. Assim sendo, algumas de suas vantagens principais
estão relacionados à previsão de condições diferentes das observadas, prever situações
futuras, por vezes reproduzir o passado e dar suporte ao processo de tomada de decisão
(Machado, 2002; Tucci, 1998). Além do ganho obtido com as previsões, tem-se a vantagem
do baixo custo e da rapidez do processamento.
De modo geral e considerando a natureza de cada modelo, as principais limitações da
modelagem hidrológica estão relacionadas as condições quantitativas e qualitativas dos dados
hidrológicos, as dificuldades de formular matematicamente alguns processos, e a
simplificação do comportamento espacial de variáveis e fenômenos. A dificuldade de se
modelar uma bacia devido a heterogeneidade dos processos envolvidos tem propiciado o
desenvolvimento de um grande número de modelos que se diferenciam em função dos dados
utilizados , discretização, prioridades da representação dos processos e dos objetivos a serem
alcançados (Tucci, 1998).
A escolha do modelo apropriado para determinado estudo de caso, irá depender de
uma série de fatores específicos para sua aplicação. Deve-se observar em primeira análise
qual o objetivo de seu uso, o que se deseja do modelo, em seguida devem ser considerados a
quantidade e disponibilidade dos dados, a precisão requerida, a existência de corpo técnico
9
capacitado para utilizar e interpretar as saídas do modelo, o tempo gasto com a modelagem e a
existência de equipamentos com capacidade para o processamento (Lima, 2010).
De acordo com Beven (1989), a aplicação de um modelo deve considerar a
possibilidade de inter-relação entre os processos estudados em escalas detalhadas, a relação
entre a escala de previsão do modelo e as aferições de campo utilizadas, bem como as
relações entre as equações do modelo e os processos físicos, e por fim, as incertezas nas
previsões do modelo.
Segundo Dooge (1986), deve-se considerar a utilização de modelos de base física que
considerem a variabilidade espacial dos diversos parâmetros e ou desenvolver modelos
realísticos na escala da bacia onde o efeito global da variabilidade espacial e dos parâmetros
seja parametrizado, assim, pode-se prever o comportamento de uma bacia com maior
precisão.
Autores como Singh (1995), Viessman Jr. & Lewes (1996) e Tucci (1998) abordam os
diferentes tipos de modelos em diversas classes de acordo com suas especificidades. Os
modelos podem ser classificados sob diferentes aspectos, como, geração, forma de
representação dos dados, tipologia das variáveis aplicadas na modelagem, forma como se
estabelecem as relações entre as variáveis, existência de relações espaciais e dependência
temporal (Lima, 2010). Assim, os modelos são classificados como:
Empíricos: ajustam os valores calculados aos observados sem considerar os
processos físicos envolvidos;
Físicos: incluem tecnologias análogas e princípios de semelhança aplicados a
modelos de pequena escala;
Matemáticos: representam o sistema com base em proposições matemáticas;
Dinâmicos: envolvem mudanças e interações ao longo do tempo;
Estáticos: examinam os processos sem considerar o fator temporal;
Conceituais: consideram os processos físicos em suas funções;
Estocásticos: inserem o conceito de probabilidade em suas formulações;
Determinísticos: seguem uma lei definida, oposta a das probabilidades, um
mesmo dado de entrada irá gerar a mesma saída;
Contínuos: os fenômenos representados são contínuos no tempo;
Discretos: as mudanças de estado se dão em intervalos discretos;
Concentrado: não considera a variabilidade espacial;
10
Distribuídos: suas variáveis e parâmetros dependem das características de
temporalidade e espacialidade.
A classificação dos modelos hidrológicos é possível porque muitos modelos
compartilham das mesmas similitudes estruturais e pressuposições (Christofoletti, 1999).
2.3 Modelos Distribuídos
O grau de representação das variações espaciais e temporais nos parâmetros de entrada
e saída talvez represente a propriedade mais importante de um modelo hidrológico. Pode-se,
então, diferenciar entre um modelo concentrado e um modelo distribuído. Enquanto, nos
modelos concentrados, assume-se que os parâmetros e variáveis variam somente com o
tempo, define-se modelos distribuídos como aqueles em que os parâmetros e variáveis variam
tanto no espaço quanto no tempo (Santos, 2002).
Um modelo pode ser designado concentrado quando sua escala é equivalente a escala
do processo, a totalidade da bacia hidrográfica. Quando os elementos utilizados possuem
menor magnitude que a escala dos processos físicos, esse é considerado um modelo
distribuído (Devantier & Feldman, 1993).
Para Beven (1985) a utilização de modelos distribuídos se enquadra potencialmente
para previsão de fenômenos, principalmente previsão dos efeitos de uso da terra, previsão dos
efeitos de localização espacial das variáveis de entrada e saída, previsão do movimento de
poluentes e sedimentos e para a previsão de resposta hidrológica não monitorada, onde os
dados estão disponíveis para modelos concentrados.
De acordo com Tucci (1998) de forma pragmática nenhum modelo é puramente
distribuído, já que são utilizadas discretizações numéricas que de alguma maneira tornam um
modelo distribuído em concentrado numa pequena subdivisão.
Os modelos distribuídos não garantem necessariamente melhores resultados do que
alguns modelos semiconceituais concentrados, mas permitem realizar com melhor
embasamento a modificação das características do sistema, o que é praticamente impossível
através dos modelos semiconceituais, devido ao excesso de empirismo e da característica
concentrada de sua formulação (Tucci, 1998).
Os modelos distribuídos, agregados à modelos digitais de terreno e ao
geoprocessamento, têm buscado melhorar a representatividade espacial e temporal do
comportamento das diferentes partes da bacia, sujeitas a diferentes ações antrópicas (Tucci,
1998). A integração do SIG com modelos hidrológicos e sua aplicação em bacias
11
hidrográficas permite a realização de numerosas operações, como o projeto, calibração,
simulação e comparação entre modelos, permite ainda subdividir a bacia em áreas
homogêneas (Calijuri et al., 1998).
De acordo com Rennó & Soares (2000) a discretização espacial de bacias
hidrográficas possui dois tipos de abordagem, uma onde a divisão é realizada em partes
denominadas objetos, caso de modelos que utilizam a divisão de sub-bacias, onde geralmente
a discretização é realizada com base nos canais naturais e nos caminhos de escoamento da
bacia, estes são designados modelos semidistribuídos. Na outra a discretização é baseada na
divisão do espaço em campos contínuos, formando uma grade regular, em que cada campo
corresponde a uma célula, permitindo dessa forma um maior nível de detalhe.
São considerados como modelos semidistribuídos, entre outros os modelos Stanford
IV, IPH do Instituto de Pesquisas Hidráulicas, Curva Número, SSARR, SMAP, SHE e o
modelo SWAT, estes são assim designados por limitar a discretização espacial a uma área
determinada.
2.4 SWAT
O Soil and Water Assessment Tools (SWAT) é um modelo em escala de bacia
hidrográfica desenvolvido no Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA),
Serviço de Pesquisas Agrícolas (ARS), criado para predizer o impacto de práticas de manejo
da terra e água, produção de sedimentos e agroquímicos em bacias hidrográficas complexas
com variados solos e condições de uso da terra (Neitshet al., 2005a).
Desde sua criação no começo da década de 90, o modelo vem sofrendo contínuas
revisões e expansões de suas capacidades. É um modelo de base física, computacionalmente
eficiente e capaz de realizar simulações contínuas por longos períodos de tempo (Neitsch et
al., 2005a; Gassman et al., 2007).
O modelo SWAT foi desenvolvido com capacidade para desenvolver simulações de
escoamento superficial, percolação, fluxo lateral e subterrâneo, evapotranspiração, neve e
fluxo de rede de drenagem, análises em reservatórios, ciclo hidrossedimentológico, aspectos
climáticos, temperatura do solo, crescimento vegetal, nutrientes, pesticidas e bactérias,
práticas agrícolas e aspectos de qualidade da água (Neitsch et al., 2005a; Dhar, 2009).
Para descrever a relação entre as variáveis de entrada e saída o SWAT necessita de
dados específicos de clima, propriedades do solo, topografia, vegetação e práticas de gestão
do uso da terra ocorrentes na bacia. Os processos físicos associados ao movimento da água e
12
dos sedimentos, crescimento de plantas, ciclagem de nutrientes e outros, são modelados
diretamente pelo SWAT por meio destes dados de entrada (Neitsch et al., 2005a). Para a
execução rigorosa das equações, os dados de entrada necessários são bastante detalhados
(Bekiaris et al., 2005).
Para simular os processos hidrológicos de uma bacia hidrográfica o SWAT possui
duas divisões principais. A primeira é a fase da terra do ciclo hidrológico, que controla a
quantidade de água, sedimentos, nutrientes e pesticidas carregados para o canal principal em
cada sub-bacia. A segunda divisão é a fase de água ou encaminhamento do ciclo hidrológico,
que pode ser definida pela propagação da água, sedimentos, e outros através da rede de canais
da bacia para a saída (Neitsch et al., 2005a).
O SWAT tem mostrado ser uma ferramenta eficiente para a avaliação dos recursos
hídricos e para problemas de fontes de poluição não pontuais em uma ampla gama de escala e
condições ambientais em todo o globo (Gassman et al., 2007). Inúmeros trabalhos já foram
produzidos utilizando o SWAT em diferentes localidades e para diversas aplicações (Conan et
al., 2003; Gassman et al., 2003; Pikounis et al., 2003; Bekiaris et al., 2005; Govender &
Everson, 2005; Bracmort et al., 2006; Dabele et al., 2006; Hu et al., 2007; Santhi et al., 2006;
Setegn et al., 2008; Redcliffe et al., 2009; Betrie et al., 2011).
No Brasil o modelo também vem sendo largamente empregado como observado nos
trabalhos de Prado (2005), Neves et al. (2006), Santos et al. (2006), Adriolo et al. (2008),
Mercuri et al. (2009), Paim & Menezes (2009), Uzeika (2009), Bonumá et al. (2010), Durães
(2010), Marchioro et al. (2011), Carvalho Neto (2011), Carvalho Neto et al. (2011),
Fernandes et al. (2012) e Malutta (2012).
No Quadro 1 é apresentada uma relação com artigos e dissertações que utilizaram o
SWAT no país com enfoque para a estimativa das componentes do ciclo hidrológico mesmo
que atreladas a produção de sedimentos, de forma geral os trabalhos objetivam a modelagem
do fluxo de água em diferentes bacias brasileiras com características diferenciadas.
13
Quadro 1: Trabalhos utilizando o SWAT no Brasil para a estimativa do fluxo de água.
Autor Trabalho Ano
Machado Simulação de escoamento e de produção de sedimentos em uma microbacia
hidrográfica utilizando técnicas de modelagem e geoprocessamento 2002
Machado et al. Simulação de escoamento em uma microbacia hidrográfica utilizando técnicas de
modelagem e geoprocessamento 2003
Baldissera Aplicabilidade do modelo de simulação Hidrológica SWAT
(SoilandWateAssessment tool), para a bacia Hidrográfica do rio Cuiabá/MT. 2005
Santos et al. Simulação com modelo SWAT das condições hidrológicas e de produçao e
transporte de sedimentos na bacia do rio Apucaraninha - PR 2006
Baltokoski Modelo SWAT2005 aplicado às sub-bacias dos rios Conrado e Pinheiros-Pato
Branco-PR 2008
Lopes Análise da produção de água e sedimentos em microbacias
experimentais com o modelo SWAT 2008
Lopes et al. Análise da produção de água e de sedimento em uma microbacia experimental com
a aplicação do modelo SWAT 2008
Lino et al. Análise da vazão da bacia hidrográfica do Rio Preto com o modelo SWAT 2009
Lubitz Avaliação da aplicação do modelo hidrológico SWAT à bacia do ribeirão
Concórdia-Lontras-SC 2009
Maluta et al. Aplicação do modelo SWAT no gerenciamento de bacias hidrográficas: Bacias-
escola na região norte catarinense 2009
Souza et al. O modelo SWAT como ferramenta para a gestão de recursos hídricos: avaliação de
vazões de outorga na bacia hidrográfica do Altíssimo Rio Negro 2009
Blainski Aplicação do modelo hidrológico SWAT (SoilandWaterAssessment Tool) para a
simulação da perda de solo e da disponibilidade hídrica em uma bacia hidrográfica
não instrumentada
2010
Lelis & Calijuri Modelagem hidrossedimentológica de bacia hidrográfica na região sudeste do
Brasil, utilizando o SWAT 2010
Blainski et al. Modelagem e simulação do uso do solo e as alterações no Ambiente 2011
Ferrigo Utilização do modelo SWAT na estimativa de produção de sedimentos na bacia do
córrego Capão Comprido no Distrito Federal 2011
Uzeika et al. Use of the Swat Model for Hydro-Sedimentologic
Simulation in a Small Rural Watershed 2012
Lelis et al. Análise de Sensibilidade e Calibração do Modelo Swat Aplicado em Bacia
Hidrográfica da Região Sudeste do Brasil 2012
Andrade et al. Simulação hidrológica em uma bacia hidrográfica representativa dos Latossolos na
região Alto Rio Grande, MG 2013
14
Carvalho (2010) utilizou o modelo SWAT para estimar a produção de sedimentos na
sub-bacia do Ribeirão Rodeador, uma das sete sub-bacias contribuintes ao lago do Descoberto
- DF. Os resultados deste estudo demonstraram que o modelo utilizado sem calibração não foi
capaz de reproduzir a produção de sedimentos na Sub-Bacia Hidrográfica de forma
satisfatória, tendo subestimado os valores finais. Para a estimativa de fatores como
escoamento superficial, produção de água e evapotranspiração o modelo apresentou melhor
desempenho.
Para a sub-bacia do Córrego Capão Cumprido, contribuinte da bacia do Rio
Descoberto, Ferrigo et al. (2012) realizou a simulação da carga de sedimentos calibrado
apenas pelos dados de vazão, através do SWAT, para um período de vinte e um anos, usando
para a calibração da vazão os anos de 2000 a 2005, utilizando os dados médios mensais,
obteve para essa análise um ENS de 0.69. A validação da modelagem foi efetuada para os
anos 2006/2007, 2007/2008 e 2008/2009, com índice de Nash e Sutcliffe respectivamente de
0.84, 0.55 e 0.81. Utilizando os mesmos parâmetros para a estimativa das cargas de
sedimentos o modelo simulou 1334, 8 toneladas, enquanto que os dados observados
apresentam cargas de 1552,7 toneladas, tendo a modelagem sido considerada satisfatória para
esse estudo.
Salles (2012) aplicou o modelo para a bacia hidrográfica do ribeirão Pipiripau, para a
simulação da vazão na bacia, o modelo foi calibrado manualmente, em relação à vazão média
mensal observada em um período de dez anos (1989 a 1998) e depois validado com uma série
independente (1999 a 2008). Após a calibração do modelo os resultados obtidos indicaram um
bom ajuste entre a vazão média mensal simulada pelo modelo SWAT e os dados observados.
A simulação da vazão média mensal também foi satisfatória no período selecionado para
validação do modelo com índice de Nash e Sutcliffe (ENS) de 0,79, índice de Nash e Sutcliffe
alterado (COEA) de 0,65, o qual considera a média mensal inter-anual, e percentual de
tendência (PBIAS) de 21,49%, e a razão entre o erro padrão médio e o desvio padrão das
observações (RSR) de 0,49. Esses resultados demonstram que o modelo SWAT simulou, de
forma satisfatória, as vazões médias mensais do ribeirão Pipiripau, após um período de
calibração.
O modelo SWAT possui aplicabilidade comprovada para auxiliar gestores ambientais
em práticas de conservação do solo e água em bacias hidrográficas. Diante de estudos
promissores com a utilização do modelo SWAT em diversos locais do mundo, esse modelo
15
torna-se um suporte para resultados e fundamentação científica, motivando discussões e
propostas de soluções aos problemas ambientais em bacias hidrográficas (Uzeika, 2009).
2.5 Equacionamentos
O SWAT incorpora algumas das equações mais comuns para realizar a simulação
hidrológica do fluxo. Não se trata de um simples modelo, mas sim de um agregado de vários
modelos pré-existentes que foram aprimorados e utilizados para a simulação de cada uma das
etapas do processo (Carvalho, 2010).
Segundo Neitsh et al. (2005a) a fase da terra do ciclo hidrológico simulado pelo
SWAT é baseado na equação do balanço hídrico, que é a força responsável por tudo que
ocorre na bacia hidrográfica. Para o calculo de estimativa do escoamento superficial o SWAT
fornece os métodos do CN (Curva Número) e o método de infiltração de Green e Ampt, e
para o cálculo da evapotranspiração o modelo disponibiliza os métodos de Penman Monteith,
Priestley-Taylor e o método de Hargreaves.
Para esse trabalho o método adotado para estimar o escoamento superficial foi o
método Curva Número e para a simulação da evapotranspiração a equação utilizada foi a de
Penman Monteith, que serão abordadas nas seções 2.5.2 e 2.5.3, respectivamente. As demais
equações realizadas pelo modelo para estimar o fluxo da água podem ser encontradas em
Neitsh et al. (2005a).
2.5.1 Equação do Balanço Hídrico
O modelo SWAT usa como base para a simulação do ciclo hidrológico a equação do
balanço hídrico. Dada pela seguinte equação (Eq.1):
0
1
( )t
t day surf a seep gw
i
SW SW R Q E w Q
Eq.1
Onde:
SWt é a quantidade de água no solo da camada da zona radicular simulada no tempo t (mm);
SW0 é a quantidade inicial de água no solo no dia i (mm);
t é a duração do ciclo hidrológico simulado (dias);
Rday é a quantidade de água precipitada no dia i (mm);
Qsurf é a quantidade de escoamento superficial no dia i (mm);
Ea é a quantidade de água evapotranspirada no dia i (mm);
wseep é a quantidade de água que percola da camada simulada para a camada inferior, no dia i (mm);
16
gwQ é a quantidade de água que retorna ao curso d´água no dia i devido ao escoamento sub-superficial
(mm).
2.5.2 Método Curva Número
O método da Curva-Número (CN), desenvolvido pelo Serviço de Conservação do Solo
(SCS), foi objeto de estudo de mais de vinte anos de observações entre as relações de chuva e
escoamento em pequenas bacias rurais nos Estados Unidos (Neitsch et al., 2005a).
O modelo determina a quantidade de chuva que infiltra no solo ou no aquífero e a
quantidade de chuva que escoa superficialmente numa determinada região em função do uso e
ocupação do solo e do grupo de solos hidrológicos (Zhan & Huang, 2004).
O método do número da curva de escoamento superficial ou simplesmente método do
CN permite estimar a precipitação excedente resultante de uma determinada chuva para uma
área conhecida de drenagem (Sartori, 2004).
De acordo com Menezes (2009) o modelo estima o número da curva de escoamento
superficial e com este a porção da precipitação que resultará em escoamento superficial,
através de informações como uso e ocupação e umidade antecedente dos solos.
Originalmente foi elaborado para áreas rurais, mas com o seu aprimoramento, o
método se difundiu, ganhou credibilidade e passou a ser aplicado em áreas urbanas de
diversos países (Gonçalves, 2007).
É um método que permite estimar o valor da distribuição e o volume do escoamento
superficial, seu modelo matemático possui dois módulos, onde primeiramente é realizada a
separação do escoamento e posteriormente a propagação do mesmo (Menezes, 2009).
A equação para o escoamento superficial é dada por (Eq. 2):
Eq. 2
Onde:
Q é o volume do escoamento superficial ou chuva excedente em mm;
P é a Precipitação em mm e;
S é a capacidade máxima de retenção de água dos solos.
É necessário que se realize o calculo das perdas iniciais (Ia), que se refere a altura de
chuva precipitada, até o inicio do escoamento superficial, essas perdas são constituídas pela
interceptação, retenção em infiltrações e depressões, até a saturação da camada superficial do
17
solo (NRCS, 1997). Como essas variáveis raramente são conhecidas, há a seguinte relação
proposta pelo SCS:
Ia = λS
Onde:
S é a capacidade de retenção máxima da água dos solos e;
λ é uma constante de proporcionalidade da abstração inicial em relação à capacidade máxima de água
dos solos.
Ponce e Hawkins (1996) comentam que para justificar a equação, o SCS utilizou
dados obtidos de diversas pequenas bacias hidrográficas dos Estados Unidos, dos quais em 50
% dos pares de valores encontraram λ variando de 0,095 a 0,38. Citam também que valores
variando de 0,0 ≤ λ ≤ 0,3 têm sido documentado em diversos estudos realizados para vários
locais dos Estados Unidos. O SCS adotou um valor médio λ = 0,2 que é o padrão do método
recomendado para projeto.
De acordo com os princípios adotados pelo SCS, não existe precipitação efetiva até
que as perdas iniciais sejam integralmente satisfeitas (Gonçalves, 2007). Isso quer dizer que, a
ocorrência de escoamento superficial está condicionada a:
P >Ia
Onde:
P representa a precipitação ocorrida desde o início e;
Ia representa as perdas iniciais.
O SCS considera que a precipitação efetiva pode ser calculada pela seguinte equação
(Eq. 2):
Para P > 0,2S Eq. 2
Para o calculo da Precipitação excedente (Eq. 2.1):
Para Ia > 0,2S Eq. 2.1
De acordo com Sartori (2004) para o cálculo do escoamento direto Q a partir de uma
conhecida precipitação P, há necessidade de uma estimativa média para a variável
desconhecida S. Com este propósito, visando uma aplicação mais prática da equação da
precipitação excedente, foi elaborado pelo SCS o número da curva de escoamento superficial,
o CN.
18
O CN é um parâmetro adimensional e os valores encontram-se tabelados de acordo
com a combinação do grupo hidrológico do solo com o tipo de cobertura e tratamento da
terra, ambos associados a uma condição de umidade antecedente do solo (Gonçalves, 2007).
O CN representa uma curva média de infiltração que separa a parte da precipitação que
escoará superficialmente. O número de cada curva está relacionado com a capacidade de
retenção máxima dos solos (S), dado por (Eq. 3):
para precipitação em mm Eq. 3
Resolvendo a equação para CN tem-se (Eq. 3.1):
para precipitação em mm Eq. 3.1
Segundo Gonçalves (2007) os valores do CN retratam as condições do solo, variando
desde uma cobertura muito permeável (limite inferior, valor = 0) até uma cobertura
completamente impermeável (limite superior, valor = 100). Observa-se, contudo, a existência
de condições teóricas extremas de S,ora tendendo ao infinito, ora sendo nulo (Figura 3).
Figura 3: Relação do escoamento superficial e da chuva do Método CN (SCS) ( adaptado de Neitch et
al., 2005a).
19
A variabilidade nos resultados de CN está vinculada a intensidade e duração da chuva,
precipitação total, condições de umidade do solo e densidade de cobertura, tais causas de
variabilidade são chamadas coletivamente de condição de umidade antecedente e são
divididas em três classes, onde I para condições de seca, II condições intermediárias e III para
condições mais úmidas, para expressar a dispersão quantitativamente é utilizada a umidade
antecedente do solo indicada pela precipitação de cinco dias anteriores (NRCS, 1997).
Segundo Gonçalves (2007) a condição de umidade antecedente do solo foi usada como
um parâmetro representativo da variabilidade natural de umidade. Desse modo, a
variabilidade do CN depende do volume precipitado num período de 5 a 30 dias antecedente a
uma determinada chuva, considerando o período de seca a estação úmida distintivamente.
Tendo em vista tal fato, o SCS definiu três condições de umidade antecedente de solo:
Condição I: Limite inferior da umidade ou limite superior para o S. O SWAT considera a
condição I como o ponto de murcha dos solos.
Condição II: Condição de umidade média aplicada para as tabelas de CN.
Condição III: Limite superior da umidade ou limite inferior para o S. Esta condição é
considerada como sendo a capacidade de campo do solo.
De acordo com o NRCS (1997) componentes de uma mesma unidade de solos com
características físicas semelhantes tenderão a se comportar de maneira similar em relação ao
escoamento superficial quando expostos a determinada precipitação.
A partir deste pressuposto os solos dos Estados Unidos foram divididos em quatro
grupos hidrológicos, estes são determinados conforme a transmissão da água pela camada de
solo com a menor condutividade hidráulica saturada e a profundidade de qualquer camada de
acordo com profundidade. Levando em consideração a taxa de transmissão de água, textura,
quantidade de matéria orgânica, estrutura e grau de inchamento quando saturados (Sartori,
2004). Assim os solos são classificados como:
Grupo A: Compreende os solos com baixo potencial de escoamento, contendo alta taxa de
infiltração uniforme quando completamente molhados, consistindo principalmente de areias
ou cascalhos, ambos profundos e excessivamente drenados. Estes solos têm uma alta taxa de
transmissão de água (taxa mínima de infiltração: > 7,62 mm/h).
Grupo B: Compreende os solos contendo moderada taxa de infiltração quando
completamente molhados, consistindo principalmente de solos moderadamente profundos a
profundos, moderadamente a bem drenados, com textura moderadamente fina a
20
moderadamente grossa. Estes solos possuem uma moderada taxa de transmissão de água (taxa
mínima de infiltração: 3,81-7,62 mm/h).
Grupo C: Compreende os solos contendo baixa taxa de infiltração quando completamente
molhados, principalmente com camadas que dificultam o movimento da água através das
camadas superiores para as inferiores, ou com textura moderadamente fina e baixa taxa de
infiltração. Estes solos têm uma baixa taxa de transmissão de água (taxa mínima de
infiltração: 1,27-3,81 mm/h).
Grupo D: Compreende os solos que possuem alto potencial de escoamento, tendo uma taxa
de infiltração muito baixa quando completamente molhados, principalmente solos argilosos
com alto potencial de expansão. Pertencem a este grupo, solos com uma grande permanência
do lençol freático, solos com argila dura ou camadas de argila próxima da superfície e solos
expansivos agindo como materiais impermeabilizantes próximos da superfície. Estes solos
têm uma taxa muito baixa de transmissão de água (taxa mínima de infiltração: 0 - 1,27 mm/h).
2.5.3 Equação de Penman Monteith
A equação de Penman Monteith possui base física e é obtida através de representações
simplificadas do fluxo de calor latente e sensível a partir de uma superfície úmida associada a
equação do balanço de energia a uma superfície (Collichon & Tassi, 2010). Essa equação
considera os valores de radiação solar, umidade relativa, velocidade do vento e temperatura,
calculada pela seguinte expressão (Eq. 4):
Eq.4
Onde:
λE é o fluxo de calor latente (MJ٠m-²٠dia-1);
E é a profundidade da taxa de evaporação (mm٠dia-1);
Δ é a inclinação da curva pressão de saturação de vapor pela temperatura, ∂e/∂T;
Hnet é o saldo da radiação (MJ٠m-²);
G é a densidade do fluxo de calor para o solo (MJ٠m-²٠dia-1);
ρar é a densidade do ar (kg٠m-³);
cp é o calor específico a temperatura constante (MJ٠kg-1ºC-1);
é a pressão de saturação de vapor do ar na altura z (kPa);
ez é pressão de vapor da água na altura z (kPa);
γ é a constante psicrométrica (kPa٠ºC-1);
rc é a resistência a copa das plantas;
ra é a resistência da difusão da camada do ar.
21
Tucci (1998) afirma que os métodos mais utilizados para a estimativa da
evapotranspiração potencial são os métodos de Thornthwaite e o método de Penman
Monteith. O primeiro , apesar das grandes limitações e por vezes subestimar os resultados, é
frequentemente empregado por utilizar apenas a temperatura. O segundo é o mais
recomendado, exige mais informações climáticas, que nem sempre estão facilmente
disponíveis, mas como a variabilidade espacial e temporal da evapotranspiração não é tão
grande, se comparada a da precipitação, esses dados podem ser utilizados de estações que se
situam fora da bacia.
2.6 Análise de Sensibilidade
A sensibilidade é medida como a resposta de uma variável de saída a mudança de um
parâmetro de entrada. Quanto maior a mudança na resposta de saída, maior a sensibilidade
(White & Chaubey, 2005). A análise de sensibilidade avalia como diferentes parâmetros
podem influenciar numa saída prevista, os parâmetros identificados como mais sensíveis são
geralmente utilizados para calibrar o modelo (White & Chaubey, 2005).
De acordo com Lenhart et al. (2002) para que a calibração seja realizada de maneira
coerente é necessário que se tenha claro entendimento de todos os parâmetros de entrada e os
processos representados no modelo. A acurácia dessas predições irão depender do quão bem
definidas são as estruturas do modelo e de como esses parâmetros são determinados (Duan et
al., 1994).
A delimitação dos intervalos para a variação dos parâmetros é extremamente
importante para definir a sua sensibilidade no modelo. Os limites de variação devem ser
definidos de acordo com a realidade do parâmetro para a bacia estudada, caso contrário,
parâmetros que não são sensíveis podem apresentar alta sensibilidade e parâmetros que são
realmente importantes podem ser desconsiderados por apresentarem baixa sensibilidade, o
que implica posteriormente numa calibração que irá desconsiderar os critérios físicos da
bacia, fugindo da realidade do local.
A substituição convencional por uma porcentagem fixa dos valores iniciais, apresenta
uma problemática. Por um lado, se a resposta do modelo para a variação do parâmetro é não
linear, então os resultados irão depender de como os valores iniciais são escolhidos, porque
um menor valor inicial leva a uma menor variação e um maior valor inicial a uma maior
variação. Por outro lado, se o valor inicial do parâmetro é localizado próximo ao limite
22
superior ou inferior do intervalo de variação definido, a variação pode conduzir a valores não
admissíveis para além dos intervalos definidos (Lenhart et al., 2002).
Os resultados obtidos na análise de sensibilidade apresentam quais são os parâmetros
mais representativos para o modelo, o que irá indicar quais parâmetros devem ser utilizados
na calibração, que irão responder com maior impacto quando alterados. Nesse sentido,
Lenhart et al. (2002) classificou os modelos de acordo com a sua sensibilidade, utilizando os
valores médios obtidos na análise (Tabela 1).
Tabela 1: Classificação da sensibilidade dos parâmetros (Lenhart et al., 2002).
Classe Índice Sensibilidade
I 0,00 ≤ |I| ≤0,05 Baixa
II 0,05 ≤ |I| ≤0,20 Média
III 0,20≤ |I| ≤ 1,00 Alta
IV |I| ≥ 1,00 Muito alta
Van Griesven (2006) avaliou a sensibilidade dos parâmetros de acordo com o ranking
final da análise considerando maior efeito aos valores com rank1e menor sensibilidade para
aqueles com o valor igual ao número de parâmetros utilizados na análise.
Os métodos de análise de sensibilidade podem ser de análise local e global. Os
métodos que utilizam a análise local dispõem a tendência do modelo em um dado ponto do
espaço amostral, ou seja, para um determinado cenário de controle (Saltelli et al., 2000). Já os
modelos que utilizam o método global são capazes de abranger todo o espaço amostrado,
sendo estes, processos analíticos mais complexos. Para a análise de sensibilidade, o modelo
SWAT utiliza a combinação do Latin Hypercube (LH) e o One-Factor-At-a-Time (OAT)
(Neitsch et al., 2005a).
2.6.1 Método LH-OAT (Latin Hypercube - One-Factor-At-a-Time)
Este método combina a robustez da amostragem Hipercubo Latino, que assegura que a
gama completa dos parâmetros foram sujeitas a amostragem, com a precisão de um design
OAT, assegurando que as alterações na saída de cada execução do modelo podem ser
atribuídas ao parâmetro que foi alterado sem haver ambiguidades (Griensven et al., 2006).
O método do Hipercubo Latino foi desenvolvido usando como base a simulação de
Monte-Carlo, diferenciando-se deste pela utilização de um método que realiza a amostragem
estratificada permitindo uma estimativa mais eficiente das estatísticas dos parâmetros de
23
saída. O método subdivide a distribuição de cada parâmetro em “N” intervalos, cada qual com
a probabilidade de ocorrência igual a 1/N. Os valores aleatórios dos parâmetros são gerados
de forma que cada série é amostrada apenas uma única vez, então, o modelo é executado “N”
vezes com a combinação aleatória dos parâmetros (Griensven, 2007).
Para o método OAT, somente os parâmetros de entrada são alterados durante os loops
que o modelo realiza na análise. Em cada rodada apenas um parâmetro é modificado por vez,
dessa forma com as mudanças no resultado em cada rodada o modelo pode encontrar a
solução para as ambiguidades que são atribuídas ao parâmetro de contribuição que foi
alterado (Griensven, 2007).
De acordo com Griensven et al. (2006) o método LH-OAT opera por loops, cada loop
começa com um ponto LH, em torno de cada LH ponto j, um efeito parcial Si,j para cada
parâmetro ei é calculado como porcentagem (Eq. 5):
Eq. 5
onde:
M(.) refere-se às funções do modelo, fi é a fração de cada parâmetro ei (uma constante pré-definida)
que é alterada, ei={e1, e2+...+ ep} refere-se ao conjunto de P parâmetro, e j refere-se a um ponto
Latin Hypercube. O efeito final é calculado como sendo a média desses efeitos parciais para cada ciclo
e para cada ponto Latin Hypercube, consequentemente N ciclos.
O número de simulações realizadas pelo LH-OAT é calculado por (Eq. 6):
NS = N * (P + 1) Eq.6
O resultado de cada simulação da análise de sensibilidade pode ser comparado com o
output produzido pelo modelo da variável de interesse do usuário ou com dados observados.
Quando o resultado é comparado com o output produzido pelo modelo, os valores podem ser
comparados com a média ou com valores limites de referência como a vazão mediana, ou
vazão mínima. Quando o resultado é comparado com dados observados utilizam-se as funções
objetivo Soma do Quadrado dos Resíduos (SSQ) e a Soma do Quadrado dos Resíduos
Ranqueada (SSQR) (Salles, 2012).
24
2.7 Calibração
A calibração ou estimativa de parâmetros é o ajuste dos parâmetros do modelo,
situação fictícia, para uma condição ideal, situação real (Lopes, 2008). Para Tucci et al.
(2007), a calibração é uma técnica de otimização na qual os valores dos parâmetros de um
modelo hidrológico são modificados pelo usuário ou através de uma técnica numérica, com o
objetivo de encontrar uma boa concordância entre os valores calculados (simulados) e os
valores observados das variáveis de saída (por exemplo, a vazão nos rios).
O primeiro passo de uma calibração é dividir os valores medidos em duas séries
temporais, sendo uma para calibração e outra para validação. Na calibração, os dados de
entrada são ajustados até que se obtenha uma resposta satisfatória de saída. Uma vez realizado
tal procedimento, o modelo é executado usando os mesmos parâmetros de entrada para o
período de validação (Arnold et al., 2000).
O período utilizado para a calibração deve abranger de grandes cheias a estiagens
prolongadas, tendo em vista o objetivo da simulação de séries contínuas de vazão, fornecendo
ao modelo condições de simular adequadamente a maior amplitude possível de vazões
(Durães, 2010).
A calibração pode ser automática realizada usualmente após a análise de sensibilidade,
que gera um conjunto de arquivos com as informações que serão utilizadas no processo de
autocalibração (Griesven, 2007), ou realizada manualmente.
A calibração manual consiste em alterar os valores dos parâmetros de entrada no
modelo para produzir valores simulados que estão dentro de um determinado intervalo dos
dados medidos (Balascio et al., 1998 apud Moriasi et al., 2007).
Os parâmetros são alterados individualmente, então executa-se o modelo para verificar
as mudanças nos valores de saída, o processo é repetido até se chegar a um valor aceitável que
se aproxime dos valores medidos (Neitsh et al., 2005b).
A calibração automática é baseada em algoritmos de otimização, a otimização é a
busca do valor de uma variável ou de n variáveis, que proporcionem o melhor resultado para
uma função dependente destas variáveis, dentro de um objetivo e obedecidas restrições
(Tucci, 1998).
Um procedimento típico para estimar os valores de parâmetros de modelos chuva-
vazão considera a função-objetivo, o algoritmo de otimização e o critério de parada. Uma
função-objetivo é uma medida de desempenho do problema analisado. No caso da calibração
de modelos chuva-vazão, a função-objetivo é uma equação utilizada para calcular uma
25
medida numérica da diferença (erro) entre os resultados do modelo (geralmente um
hidrograma) e os valores observados dessa mesma variável de saída. Dessa forma, o propósito
da calibração automática é encontrar aqueles valores dos parâmetros do modelo que otimizam
(maximizam ou minimizam) a função-objetivo (Bravo et al., 2007).
A calibração manual requer entendimento de detalhes do modelo, que são obtidos
somente depois de anos de experiência com calibração de modelos, além de despender muito
tempo e ser um processo moroso, em contrapartida tem a vantagem de poder incorporar o
conhecimento e experiência do modelador (Duan et al., 1994; Bravo et al., 2007). Já a
calibração automática se destaca por ser um processo rápido, não agregar tanta subjetividade e
implementar processos de otimização.
A calibração do modelo deve seguir uma ordem, primeiro processos hidrológicos,
depois aporte de sedimentos e na sequência qualidade da água (Griesven, 2007). Santhi
(2001) e Moriasi et al. (2007) sugerem que a calibração deve ser realizada sequencialmente
começando pelo escoamento superficial, assim que esse esteja ajustado deve-se passar para o
próximo componente, assim até se calibrar todas as componentes modeladas (Figura 4).
26
Figura 4: Procedimento de Calibração para Fluxo, Sedimentos e Nutrientes (adaptado de Santhi, 2001
e Moriasi, 2007).
Santhi (2001) definiu para a calibração do escoamento superficial e do fluxo de base
valores de 0.60 e 0.65 para os índices de eficiência de Nash e Sutcliffe (ENS) e o coeficiente
de determinação (R²) respectivamente, e considerou que os valores simulados deveriam ser
de aproximadamente 10% dos observados. Os índices de eficiência foram os mesmos para os
demais componentes analisados variando apenas para a porcentagem dos valores simulados
em relação aos observados, para sedimentos foi estipulado 15%, P e K orgânicos 20% e N e P
minerais 25%.
Moriasi et al. (2007) desenvolveu um estudo com os diferentes métodos para análise
da modelagem hidrológica, explicando cada um desses métodos e definindo uma
classificação, que abrange os mais utilizados e os que mais se adéquam para a análise de
27
determinados modelos. De acordo com esse estudo os resultados dos modelos podem ser
classificados conforme a Tabela 2, para o modelo SWAT.
Tabela 2: Classificação dos resultados por índice de eficiência para a modelagem com o
SWAT para estimativas mensais (Adaptado de Moriasi et al., 2007).
Classificação RSR ENS PBIAS
Muito Bom 0,00 ≤RSR≤0,50 0,75<Ens≤ 1,00 PBIAS < ±10
Bom 0,50≤ RSR≤0,60 0,65 <Ens≤ 0,75 ±10 < PBIAS < ±15
Satisfatório 0,60≤RSR≤0,70 0,50<Ens≤ 0,60 ±15 < PBIAS < ±25
Insatisfatório RSR ≥ 0,50 Ens≤ 0,50 PBIAS > ±25
RSR- Razão entre o erro padrão médio e o desvio padrão das observações; ENS- Índice de
Nash e Sutcliffe; Percentual de Tendência-PBIAS.
Os valores definidos por Santhi (2001) e Moriasi et al. (2007), são considerados para
modelos que utilizem dados mensais para a modelagem. Green e Griesven (2008)
consideraram que para uma calibração com dados diários valores de ENS superiores a 0,4 e
R² superiores a 0,5 são considerados satisfatórios para a simulação.
O modelo calibrado deve ser executado com os mesmos parâmetros de entrada para o
período de validação e um ajuste é determinado. Depois do modelo calibrado este deve ser
validado para situações semelhantes as quais se quer aplicá-lo. Os resultados da validação
indicam se o modelo foi capaz de reproduzir a série de dados que foi desconsiderada no
período de calibração (Gassman et al., 2003).
28
3. MATERIAIS E MÉTODOS
Esta sessão inicia-se com a caracterização da bacia do alto rio Jardim, apresentando
sucintamente as principais características fisiográficas e sua relação com fatores (tais como
clima, relevo, solos, usos, geologia, geomorfologia) importantes para a compreensão dos
processos físicos envolvidos no ciclo hidrológico. Também são apresentadas as formas de
obtenção dos dados de entrada e definição dos parâmetros para os dados utilizados na
modelagem hidrológica pelo modelo SWAT. Por último são apresentados os programas e
procedimentos adotados para a execução da modelagem hidrológica na bacia do alto rio
Jardim.
3.1 Características Fisiográficas da Área de Estudo
A bacia experimental do alto rio Jardim está localizada entre as coordenadas
8.261.982,8 e 8.244.719,5S e 216.293,4 e 226.613,2W, ocupa uma área de aproximadamente
105 km², e encontra-se na porção leste do Distrito Federal, inserida na Bacia do Rio Preto, sua
distância em relação ao centro de Brasília é de aproximadamente 50 km (Figura 5).
Figura 5: Localização da Bacia Experimental do Alto Rio Jardim.
29
O rio Jardim é o principal canal tributário da bacia do rio Preto, depois de desaguar no
rio Preto suas águas seguem pelo rio Paracatu até desaguarem no rio São Francisco
(Dolabella, 1996; Spera, 2002). A área total da drenagem na bacia (Figura 6),
é de 104,86 km², dividida em duas bacias principais, a do córrego Estanislau contribuindo
com 49,71 km² e a do rio Jardim com 55,15 km² (Lima, 2010).
Figura 6: Rede de Drenagem e Modelo Digital de Elevação da Bacia Experimental do Alto Rio
Jardim.
O clima na bacia do alto Jardim é característico da região de cerrado. Conforme a
classificação de Köppen é Tropical de Savana com verão chuvoso e inverno seco. Os meses
chuvosos compreendem o período de outubro a março e a estação seca se prolonga desde o
mês de abril até o mês setembro.
30
A precipitação média anual na área varia aproximadamente entre 1.000 e 1.700 mm.
Na estação chuvosa ocorrem 90% do total anual de pluviosidade, com o mês de janeiro
apresentando o maior índice pluviométrico, cerca de 240 mm, já na estação seca a média
mensal da pluviosidade não ultrapassa os 60 mm (Godoy & Lopes-Assad, 2002; Lima, 2010;
Chaves, 2011).
A região de estudo está dentro da faixa intertropical, o que lhe garante um regime
térmico médio do tipo tropical, que oscila entre 19° e 22° C, sendo que no mês mais frio a
temperatura média é inferior aos 18°C (Frota, 2006).
De acordo com o mapeamento desenvolvido por Campos & Freitas Silva (1998) a
bacia do alto rio Jardim se desenvolveu sobre as rochas dos grupos Paranoá, Canastra e
Bambuí (Figura 7). Quanto a Geomorfologia, predominam terrenos planos (53% da área) e
suave ondulados (43%), principalmente na parte oeste da bacia e nas áreas de interflúvios
(Godoy & Lopes-Assad, 2002).
Figura 7: Geologia da Bacia Experimental do Alto Rio Jardim.
31
A hidrogeologia na bacia é representada por dois domínios, um fraturado e outro
poroso (Campos & Freitas Silva, 1998). O primeiro é composto pelas unidades P1, P2 e P4 do
Domínio Poroso (Figura 8) e o segundo pelos sistemas Canastra, Bambuí e Paranoá, incluindo
os subsistemas Q3/R3 e R4, do Domínio Fraturado (Figura 8).
Figura 8:Domínio Poroso e domínio Fraturado da Bacia Experimental do Alto Rio Jardim.
A pedologia da área de estudo foi caracterizada por Reatto et al. (2000), escala
1:50.000 (Figura 9).
32
Figura 9: Mapa de Solos da Bacia do Alto Rio Jardim
33
A maior parte da bacia é composta pelos Latossolos, as principais classes são os
Latossolos Vermelhos (41,19%), Latossolos Amarelos (11,94%), Latossolos Vermelho-
amarelos (23,18%), estando presentes principalmente em áreas de relevo plano a suave
ondulado. Morfologicamente são solos minerais, não hidromórficos e com horizonte B
espesso. Possuem teor de argila, variando entre 38% e 75%, e são solos acentuadamente
drenados a bem drenados, com alta permeabilidade de água (Reatto et al., 2002).
Os Cambissolos representam 16,74% do total da bacia, presentes geralmente em áreas
de relevo suave ondulado com declividades entre 3% e 8%. São solos com baixo grau de
intemperismo, possuem horizonte B insipiente com presença de minerais primários facilmente
intemperizáveis, e seu teor de argila varia entre 46% e 63% (Reatto et al., 2002).
Os Gleissolos (2,30%) são solos hidromórficos que ocupam geralmente as depressões
da paisagem, sujeitas a inundações. Oscilam de imperfeitamente drenado, mal drenado à
muito mal drenado. Com frequência apresentam uma espessa camada escura de matéria
orgânica mal decomposta sobre uma camada acinzentada (gleizada), resultante de ambiente
de oxirredução. São solos pouco desenvolvidos, com presença de lençol freático próximo à
superfície durante a maior parte do ano, e seu teor de argila vaia entre 48% e 53% (Reatto et
al., 2002).
Os Plintossolos estão presentes em 2,43%, são solos minerais hidromórficos, com
séria restrição à percolação de água, frequentemente encontrados em áreas de alagamento
temporário e escoamento lento. Na bacia ocorrem em relevo plano e suave-ondulado, em
áreas deprimidas e nos terços inferiores da encosta onde há importante movimentação lateral
de água. Apresenta um horinzonte com presença de plintita ou petroplintita, possui limitações
em relação a permebilidade. São solos imperfeitamente drenados e com teor de argila em
torno de 25% (Reatto et al., 2002).
Os Neossolos Quartzarênicos constituem 1,99% do terreno da bacia, são solos
profundos, com textura arenosa ou franco-arenosa, constituídos essencialmente de quartzo,
com máximo de 15% de argila e seqüência de horizontes do tipo A-C. Estão relacionadas a
sedimentos arenosos de cobertura e à alterações de rochas quartzíticas e areníticas, sendo
encontrados em relevo plano ou suave-ondulado. Apresentam ainda alta porosidade e se
caracterizam como solos excessivamente drenados (Reatto et al., 2002).
Com relação à textura dos solos (Figura 10) a maior parte da bacia é composta por
solos argilosos, uma porção apresenta solos muito argilosos ou de textura média e há ainda
uma pequena presença de solos arenosos e afloramento de rocha (Lima, 2010).
34
Figura 10: Textura dos Solos da Bacia Experimental do Alto Rio Jardim.
A bacia em estudo está inserida no domínio fisiográfico do cerrado, segundo maior
bioma brasileiro. A bacia do rio Jardim ocupa uma região onde a paisagem natural sofreu
intensas transformações com a ocupação do solo pelas atividades agrícolas, principalmente
durante a década de 80, com a entrada das culturas extensivas e irrigadas (Frota, 2006).
Com a ocupação da bacia do alto rio Jardim pelas atividades agrícolas e pecuárias o
seu cenário natural foi sendo gradativamente substituído. Atualmente a bacia possui quase que
a totalidade de seus usos voltados para a agricultura, restando apenas pequenas porções de
cerrado, campo e matas de galeria margeando o curso dos rios.
35
Historicamente a ocupação territorial da bacia do Rio Preto tem sido reservada para a
implementação da agropecuária, por esse motivo não existe na bacia áreas caracterizadas
como urbanas ou unidades de conservação (Frota, 2006).
O Núcleo Rural Jardim contribui com aproximadamente 26% da produção total do
Distrito Federal. Na bacia do rio Jardim a produção de grãos é a atividade econômica mais
desenvolvida, onde o milho é uma das principais culturas, seguido da soja e do feijão. As
hortaliças também são produzidas em grande escala, assim como a fruticultura, que apresenta
entre os produtos agrícolas mais produzidos a banana, o limão e a manga. A região é a
segunda maior em termos de produção pecuária no Distrito Federal, com destaque para a
avicultura, a suinocultura e a bovinocultura (Frota, 2006).
3.2 Modelo Conceitual
O modelo SWAT necessita discretizar as informações pedológicas. As informações
referente aos mapas (X,Y) são discretizadas por meio das classe de solo ao passo que, os
dados de perfis (Z) em camadas admitindo como limite máximo, a profundidade de 350 cm.
Deste modo, o modelo conceitual para a bacia do alto rio Jardim foi construído tendo como
base os dados pedológicos extraídos da tese de doutorado de Lima (2010).
Foram consideradas três profundidades para as camadas de solos (Figura 11), sendo as
duas primeiras fixas para todos os tipos de solos e a terceira variável em relação à classe de
solo. A primeira camada vai desde a superfície do solo até 30 cm de profundidade. A segunda
camada vai da profundidade de 30 cm até 100 cm. A terceira camada é variável para cada tipo
de solo indo de 100 cm até o limite máximo, como demonstrado abaixo:
Latossolos até 350 cm;
Gleissolo até 200 cm;
Plintossolo até 300 cm;
Neossolo Quartzarênico até 350 cm e;
Cambissolo até 100 cm (não constando para a ultima camada).
36
Figura 11: Modelo conceitual da Bacia do Alto Rio Jardim.
A primeira camada permite aferir o comportamento superficial dos solos, enquanto a
segunda camada é a profundidade do horizonte diagnóstico do solo, onde a partir dela pode se
fazer uma generalização da classe de solo para o perfil (Embrapa, 2006).
Foram utilizados os dados de solos referentes as profundidades 15 cm e 60 cm
levantados por Lima (2010). Para os valores de condutividade hidráulica as medições foram
realizadas até o nível do lençol freático. Dessa forma os dados correspondentes a 15 cm,
foram atribuídos para a primeira camada e os dados de 60 cm para a segunda e terceira
camadas, excluindo o dado de condutividade que para a terceira camada foi agregado o dado
medido até o nível do lençol freático.
3.3 Aplicativos e Organização da Base
A estimativa do ciclo hidrológico foi desenvolvida através de um modelo hidrológico
acoplado a um software de GIS. Para a realização dos diversos processos atrelados a
modelagem foram utilizados os seguintes programas:
ArcGIS 9.3 com a extensão ArcGIS SpatialAnalyst desenvolvido pela
Enviromental Systems Research Institute (ESRI), Redlands, CA, EUA;
37
ArcGISArc-SWAT 9.3.7a, versão 2009, desenvolvido pela Enviromental Stone
em colaboração com Texas A&M SpatialSciencesLaboratory, BlacklandResearch e
Extension Center;
Google Earth, versão 7.0.3.8542, desenvolvido pela Google Company;
Microsoft Office Excel 2007, desenvolvido pela Microsoft para o sistema
operacional Windows ou Macintoch Apple Inc;
SWAT Check, versão 1.0, para o SWAT 2009, desenvolvido pela
Enviromental Stone em colaboração com Texas A&M Spatial Sciences Laboratory,
Blackland Research e Extension Center;
3.4 Parametrização dos Dados de Entrada
As limitações básicas para a utilização de um modelo hidrológico estão atreladas
principalmente a qualidade e a quantidade dos dados hidrológicos, além da dificuldade de
formular matematicamente alguns processos e simplificações do comportamento espacial de
variáveis e fenômenos. Quanto menores o número de variáveis de entrada, maiores serão as
incertezas dos prognósticos, os dados permitem aferir os parâmetros e reduzir as incertezas
dos mesmos na estimativa das variáveis hidrológicas (Tucci, 1998).
De acordo com Tucci (1998) a quantidade e a representatividade das informações para
ajuste e verificação de um modelo hidrológico é fundamental para permitir um resultado de
qualidade, esta é a diferença entre buscar um resultado confiável e estar somente na
magnitude dos dados esperados.
O componente hidrológico do modelo SWAT inclui sub-rotinas do escoamento
superficial, percolação, fluxo lateral sub-superficial, fluxo de retorno do aquífero raso e
evapotranspiração (Neitsch et al., 2005a,b). Para a execução rigorosa das equações, os dados
de entrada necessários são bastante detalhados (Bekiaris et al., 2005).
Para descrever a relação entre as variáveis de entrada e saída, o modelo requer dados
diários de precipitação, temperaturas máxima e mínima do ar, radiação solar, velocidade do
vento e umidade relativa, e dados das propriedades do solo, topografia, vegetação e práticas
de gestão do uso da terra ocorrentes na bacia (Neitsch et al., 2005a). Os processos físicos são
modelados diretamente pelo SWAT através destes dados de entrada (Neitsch et al., 2005a).
O modelo SWAT possui uma base de dados com todas as características necessárias
para realizar as simulações acopladas, porém os dados são referentes a bacias estudadas nos
Estados Unidos, que em grande parte dos casos não se adéquam a outras realidades. No Brasil
38
tais informações são escassas ou de difícil acesso com maior nível de detalhe, em especial
para o cerrado.
Dessa forma, uma das etapas de trabalho é a aquisição e organização dos dados de
entrada necessários para suprir o modelo de acordo com a realidade da bacia analisada, e
dessa forma estabelecer parâmetros adequados para a utilização do modelo, para que a
modelagem possa ser realizada de forma consistente.
3.4.1 Modelo Digital de Elevação
O Modelo Digital de Elevação (MDE) utilizado para a representação espacial da
variação altimétrica da bacia foi gerado por meio de técnica de interpolação a partir das
curvas de nível com distância vertical de 5 metros, pontos cotados e da rede de drenagem
topologicamente corrigida na escala de 1:10.000 disponibilizados pela TERRACAP
(TERRACAP, 2010).
A ferramenta Topo To Raster, disponível do ArcGis 9.3, foi utilizada para a geração
do MDE com um pixel de 15 cm para minimizar os ruídos produzidos no processo. Esta
ferramenta foi projetada especificamente para a criação de modelos digitais de elevação
(DEM) hidrologicamente consistidos. Ela baseia-se no programa ANUDEM desenvolvido por
Hutchinson (1988, 1989, 1996, 2000, 2008). A evolução dos ANUDEM são discutidos em
Hutchinson et al. (2009 e 2011). A versão atual do ANUDEM usado em ArcGIS é de 5,3.
Após a geração do MDE foi realizada uma análise de consistência para remover os
erros oriundos da interpolação e remover os erros das depressões fechadas que interrompem o
escoamento na rede hidrográfica, para garantir que o mesmo esteja hidrologicamente
corrigido. Todas as ferramentas utilizadas estão disponíveis no Arctoolbox do software Arcgis
denominadas Hydrology.
3.4.2 Solos
O mapa de solos utilizado foi o levantamento semidetalhado (escala 1:50000) da bacia
do rio Jardim (Figura 9), realizado por Reatto et al. (2000),onde os tipo de solos existentes
estão descritos no item 3.1. A seguir serão descritas as características dos solos necessárias
para utilizar o SWAT.
39
3.4.3 Características físicas dos solos
O Swat requer uma série de dados a cerca das características físicas dos solos para
poder realizar as simulações hidrológicas. Os parâmetros necessários a simulação são tipo de
solo, profundidade da camada de solo, grupo hidrológico de solo, densidade, porosidade,
condutividade hidráulica saturada, capacidade de água disponível, teor de carbono, areia,
argila, silte e rocha, profundidade de raiz, potencial de fraturamento do solo, albedo e
erodibilidade (Neitsch et al., 2005b).
Para agrupar os solos de acordo com as características hidrológicas foi utilizada a
classificação apresentada por Sartori (2004) para os solos da região sudeste do Brasil. O autor
agrega as classes de solos em quatro grupos hidrológicos distintos (A, B, C e D), sendo que na
bacia não há presença de solos que se enquadrem no grupo C (Quadro 2 ).
Quadro 2: Grupo de Solos Hidrológicos da Bacia do Alto Rio Jardim (adaptado de Sartori 2004).
Classe de Solo Grupo
Hidrológico Características
Latossolo Vermelho-
Amarelo
A
Compreende os solos com baixo potencial de
escoamento, contendo alta taxa de infiltração uniforme
quando completamente molhados, consistindo
principalmente de areias ou cascalhos, ambos profundos
e excessivamente drenados. Estes solos têm uma alta
taxa de transmissão de água (taxa mínima de infiltração:
> 7,62 mm/h).
Latossolo Vermelho
Latossolo Amarelo
Neossolo
Cambissolo B
Compreende os solos contendo moderada taxa de
infiltração quando completamente molhados,
consistindo principalmente de solos moderadamente
profundos a profundos, moderadamente a bem
drenados, com textura moderadamente fina a
moderadamente grossa. Estes solos possuem uma
moderada taxa de transmissão de água (taxa mínima de
infiltração: 3,81-7,62 mm/h).
Gleissolo
D
Compreende os solos que possuem alto potencial de
escoamento, tendo uma taxa de infiltração muito baixa
quando completamente molhados, principalmente solos
argilosos com alto potencial de expansão. Pertencem a Plintossolo
40
Afloramento de rocha
Este grupo, solos com uma grande permanência do
lençol freático, solos com argila dura ou camadas de
argila próxima da superfície e solos expansivos agindo
como materiais impermeabilizantes próximos da
superfície. Estes solos têm uma taxa muito baixa de
transmissão de água (taxa mínima de infiltração: 0 -
1,27 mm/h).
Os dados referentes a densidade, porosidade, capacidade de água disponível, teor de
carbono, areia, argila e silte foram aferidos em campo por Lima (2010). Como o modelo
SWAT discretiza os dados por classe de solos, foi realizada uma análise estatística dos dados
pontuais (Lima, 2010) para cada parâmetro. Na tabela 3 são apresentadas as médias para cada
parâmetro por classe de solo, onde estas foram usadas para a discretização por classe de solo.
Tabela 3: Valores médios dos parâmetros de solos medidos (Lima, 2010).
Parâmetros Camada (cm) LVA LA LV Cx Gx Fx
Porosidade 15 0.57 0.55 0.58 0.56 0.56 0.54
60 0.57 0.58 0.58 0.57 - -
Densidade 15 0.94 1.02 0.94 1.00 0.86 1.00
60 0.96 0.94 0.95 1.00 - -
Disponibilidade
de água no solo
15 0.11 0.12 0.12 0.12 0.14 0.16
60 0.12 0.11 0.13 0.16 - -
Teor de carbono
orgânico
15 1.11 1.31 1.40 1.34 0.81 2.04
60 0.73 1.01 0.86 1.00 - -
Teor de argila 15 57.41 51.96 57.56 49.36 51.59 35.84
60 64.09 50.80 63.21 46.73 63.85 61.47
Teor de silte 15 24.56 20.04 28.43 28.87 28.54 16.33
60 20.87 28.31 24.86 28.26 13.42 9.67
Teor de areia 15 18.03 28.00 14.02 21.77 19.86 47.83
60 15.04 20.88 11.93 25.01 22.72 28.87
LVA - Latossolo Vermelho-amarelo; LA -Latossolo Amarelo; LV - Latossolo Vermelho; Cx - Cambissolo; Gx -
Gleissolo; Fx - Plintossolo.
Para os valores de albedo foi utilizado como referência os valores adaptados de
Baldissera (2005). Os dados profundidade de raiz e teor de rocha, não tiveram valores
41
agregados, e para a informação de potencial de fraturamento admitiu-se um valor de 0,5 que é
o default (valor de referência padrão) do modelo. Para o parâmetro profundidade de raiz
quando não há valor agregado o modelo considera que esta se estende por todo o perfil.
Os valores de condutividade hidráulica saturada utilizados também foram os valores
medidos por Lima (2010), correspondentes aos valores médios por classe de solo, obtidos
através da aferição em campo para a bacia do alto rio Jardim (Tabela 4).
Para a classe dos neossolos quartzarênicos não havia dados disponíveis obtidos
diretamente da bacia do rio Jardim. Deste modo, os dados utilizados são pertencentes a base
de dados da EMBRAPA, referentes aos solos do cerrado (Lima, comunicação verbal). Foram
então selecionados pontos de áreas com características semelhantes a da bacia, e depois
realizada uma média desses dados para os diferentes parâmetros.
Tabela 4: Valores de Condutividade Hidráulica Saturada (Lima, 2010).
Após a compilação dos dados, foram verificadas as unidades de medidas dos
parâmetros utilizados e estes foram convertidos para as unidades utilizadas pelo SWAT,
quando necessário. Ao final dessa etapa os dados foram inseridos no banco de dados, de
acordo com o padrão de armazenamento da base de dados do SWAT.
Classe
de solos
Profundidade
15 cm 60 cm Lençol Freático
Ks
10-4
m.s-1
CV
(%)
N°
Pontos
Ks
10-4
m.s-1
CV
(%)
N°
Pontos
Ks
10-4
m.s-1
CV
(%)
N°
Pontos
Latossolo-
Vermelho
2.011 223.4 21 1.227 501 18 0.914 84.9 19
Latossolo-
Vermelho -
Amarelo
3.123 51.1 16 1.213 758.7 16 2.005 141.8 16
Latossolo-
Amarelo
7.229 - 1 1.404 - 1 0.519 - 1
Cambissolo 2.484 61.6 8 0.752 126.3 6 0.317 64.6 9
Gleissolo 1.373 - 1 - - - 1.092 - 2
Plintossolo 3.054 - 1 - - - 2.337 - 2
42
3.4.4 Uso do solo
A figura 12, apresenta os procedimentos efetuados para a elaboração do mapa de uso e
ocupação do solo.
Figura 12: Fluxograma metodológico para a elaboração do mapa de uso e ocupação da Bacia do Alto
Rio Jardim
Foram utilizadas as ortofotos referentes ao mapeamento do Distrito Federal para o ano
de 2010, realizado pela TERRACAP (Companhia Imobiliária de Brasília), com resolução
espacial de 1 metro. Para a geração das imagens finais foram utilizadas quatro bandas, sendo
três do intervalo espectral visível (RGB) e uma do infravermelho próximo. Para dar suporte
ao mapeamento foram utilizadas as imagens disponíveis no programa Google Earth. Para
abranger a área total da bacia foram necessárias duas imagens distintas, a primeira recobriu a
porção norte da bacia, correspondente ao período de 06/02/2012, e a outra imagem englobou
o restante da bacia referente ao período de 09/07/2012. Além das imagens, para compor o
banco de dados e auxiliar na geração do mapa de uso da bacia para o ano de 2012, foram
utilizados os vetores de uso e de vegetação também referentes ao Mapeamento do Distrito
Federal para o ano de 2009.
43
Depois de organizada a base de dados, foi definida uma chave de classificação que
melhor se adequasse aos usos existentes na área de estudo e a proposta necessária ao SWAT.
Dessa forma para a área natural foi utilizada a classificação definida por Sano et al. (2010) e
IBGE (1992), e para as áreas antropizadas foi realizada uma adaptação de IBGE (2006) e
Nunes & Roig (submetido).
Como base para o mapeamento foram utilizados os vetores de uso e vegetação
(TERRACAP, 2010), que foram unidos originando um arquivo SHP, este foi recortado em
seguida para um quadrante abrangendo a área da bacia e mais uma porção de áreas
extrapolando o seu limite, esse quadrante foi então sobreposto as ortofotos para a edição e
retificação das classes, realizada visual e manualmente.
Após esse procedimento, realizou-se a verificação do mapa com base nas imagens
disponíveis no Google Earth, para checagem das áreas que permaneciam com os seus usos
inalterados, semelhantes às do mapa de 2009, e das áreas que haviam sofrido alterações no
decorrer do tempo. As áreas que apresentaram novos usos empregados foram retificadas e
vetorizadas novamente de acordo com os limites do novo uso instituído.
Todas as classes presentes no mapa foram revisadas e adaptadas para a nova chave
adotada. O passo seguinte foi a correção topológica, para sanar as inconsistências geradas
durante a vetorização. Depois de terminada a edição e correção topológica do mapa de uso e
cobertura do solo, realizou-se a validação do mesmo em campo.
A validação do mapa em campo ocorreu com auxílio das imagens e de pontos
previamente estabelecidos para checagem. Os pontos foram escolhidos aleatoriamente de
acordo com as áreas que não puderam ser definidas com propriedade unicamente pela
interpretação visual das imagens. Em campo foram coletados pontos com as coordenadas e o
tipo de uso que estava presente naquela localização. A confirmação dos usos em campo foi
realizada para os pontos que já haviam sido estabelecidos, e também para outras áreas da
bacia, que apresentaram diferenças em seus limites, sendo corrigidos manualmente direto no
mapa levado á campo, durante o decorrer da visita. Toda a área de estudo foi visitada para a
aferição.
Os pontos coletados foram plotados no mapa e em seguida as áreas que apresentavam
discrepâncias foram corrigidas, assim como as correções realizadas diretamente no mapa
impresso descritas no campo.
44
3.4.5 Reclassificação dos dados de Uso e Ocupação da terra
Para a realização da modelagem as classes estrada não pavimentada, mineração e solo
exposto, foram unidas por apresentarem um tipo de uso semelhante, pois não existem
informações suficientes dos parâmetros exigidos pelo SWAT, o que inviabilizou a inserção
dessas classes separadamente. Além disso esta classe final ocupa uma pequena área da bacia.
Como o modelo SWAT exige um grande número de informações a cerca das classes
de uso para poder realizar suas iterações, e não existe a disponibilidade de todos esses dados
para a grande maioria das bacias brasileiras, bem como para a bacia em estudo, foi então
necessário realizar uma daptação dos tipos de usos empregados na bacia com as classes
presentes no banco de dados do SWAT. Abaixo segue o Quadro 3, com a reclassificação das
classes de uso para a modelagem de acordo com os dados tabelados no SWAT.
Quadro 3: Reclassificação dos tipos de uso para a inserção no SWAT.
Classes Reclassificação
Savana Parque sem Floresta de Galeria Campo
Savana Arborizada sem Floresta de Galeria Cerrado
Savana Arborizada com Floresta de Galeria Mata de Galeria
Grão Irrigado Milho
Grão Sequeiro Soja
Horticultura Agricultura Intensiva de pequeno porte
Fruticultura Laranja
Cana/Capim Forrageiro cana-de-açúcar
Grama Grama
Pastagem Pastagem
Eucalipto Eucalipto
Fábrica Industrial
Chácara Urbanização de baixa densidade
Loteamento Urbanização de média baixa densidade
Solo Exposto Estrada não pavimentada
Estrada Pavimentada Transporte
Corpos D'água Água
As classes campo, cerrado, mata de galeria e eucalipto foram criadas utilizando como
base as características de outros usos presentes na base de dados do SWAT e tiveram apenas o
valor do parâmetro CN2 alterado, além dos usos de vegetação nativa, alterou-se o CN2 para
45
outras classes de uso (Tabela 5) . Para a classe solo exposto foi criada uma classe empírica,
denominada Estrada não Pavimentada, já que na base de dados não há nenhum uso que se
assemelhe com este, sendo que o que mais se aproxima é a classe transporte, uma vez que não
pode haver duas classes iguais, foi criada uma classe denominada Estrada não Pavimentada
com os valores dos parâmetros similares aos da classe transportes modificados baseado
apenas na expertise prática. Os outros tipos de usos foram somente reclassificados de acordo
com a tabela do modelo, não tendo nenhum valor alterado.
Os valores de CN2 foram alterados de acordo com dados referente as condições
brasileiras sempre que possível, baseado na premissa de que mesmo sendo de regiões
diferentes esses dados se adequaram melhor a realidade da bacia em analise do que os dados
disponíveis na base do SWAT, que pertencem a realidade de bacias dos Estados Unidos. Os
valores de CN, que foram alterados no modelo, foram adaptados dos trabalhos de Setzer e
Porto (1979), Sartori (2004) e Lima (2009) (Tabela 5).
Tabela 5: Valores de CN adaptados de Setzer e Porto (1979), Sartori (2004) e Lima (2009).
Classe de Uso A B C D
Campo 49 69 79 84
Cerrado 39 61 74 80
Mata de Galeria 20 40 49 52
Eucalipto 45 66 77 83
Pastagem 49 69 79 84
Grama 59 67 74 81
Estrada Pavimentada 72 82 87 89
Estrada não Pavimentada 59 74 82 86
Urbanização de baixa densidade 64 75 83 87
Urbanização de média baixa
densidade
68 79 86 89
3.4.6 Estações Climatológicas
Os dados climáticos necessários são dados diários de precipitação, temperaturas
máximas e mínimas do ar, radiação solar, velocidade do vento e umidade relativa. Os valores
para esses parâmetros podem ser lidos a partir de registros de dados observados ou podem ser
gerados pelo modelo (Neitsch et al., 2005a; Neves, 2005; e Neves et al., 2006).
46
Para suprir as informações de dados climáticos que o modelo necessita foram obtidos
dados da estação climática da Embrapa Cerrados e de estações pluviográficas instaladas na
bacia (Figura 13).
Figura 13: Localização das estações climatológica da Embrapa Cerrados e das estações pluviométricas
localizadas na bacia do alto rio Jardim.
A bacia experimental do alto rio Jardim possui uma infraestrutura direcionada ao
monitoramento hidrológico constituída por quatro estações pluviógraficas automáticas, cinco
estações fluviográficas automáticas, nove tubos de acesso para o monitoramento do nível do
lençol freático em cinquenta e seis poços piezométricos (Lima, 2010).
As estações pluviógraficas instaladas na bacia possuem pluviográfos de báscula
automáticos conectados à dataloggers que gravam a precipitação a cada 0,25 mm. O
monitoramento das vazões nas estações fluviográficas da bacia foram realizados com
limnígrafos automáticos com armazenadores de dados, molinete hidrográfico e AVD
Flowtracker para determinação da curva chave da vazão, o intervalo de tempo de obtenção
dos dados foi de 10 minutos (Lima, 2010).
A estação meteorológica da Embrapa Cerrados (CPAC) é constituída por pluviógrafo
com precisão de 0,25mm de lâmina precipitada, com registro total da chuva a cada 10
47
minutos. A radiação é medida no comprimento de ondas do eletromagnético no intervalo de
310nm a 2800nm, com erro de precisão de 1% até 400 W m-2
. Os sensores de temperatura e
umidade são mantidos em abrigo termométrico, sendo que o erro de precisão dos sensores
térmicos é de 0,3 °C, e do sensor de umidade de até 2% quando a umidade é inferior a 90% e
de 3% quando a umidade for superior a 90%. O Tanque Classe A está instalado no centro da
estação, e possui um sensor que registra a altura da lâmina precipitada diariamente e permite o
calculo da lâmina evaporada por diferença (Muller et al., 2007).
3.4.7 Dados Climáticos
A série histórica de dados climáticos utilizada para realizar a simulação hidrológica na
bacia do alto rio Jardim abrange o período de 01/07/2006 a 30/06/2008, sendo os dados de
precipitação extraídos das estações pluviográficas instaladas na bacia e as demais informações
da estação meteorológica da Embrapa Cerrados distante da bacia cerca de 30 km.
Os dados de precipitação pertencem a quatro estações distintas distribuídas dentro da
bacia, como esta começou a ser monitorada recentemente não possui uma serie histórica de
precipitação muito longa, os anos utilizados para esse trabalho vão de 2006 a 2008. O SWAT
geralmente necessita de uma série extensa de dados, o ideal é realizar a simulação com uma
série que possua vinte anos de dados medidos. Como não existe uma estação com uma série
de dados tão consistente na bacia, foi utilizado o período de 01/07/2006 a 30/06/2007 para a
calibração e para a validação o período de 01/07/2007 a 30/06/2008 (Figura 14).
Figura 14: Série pluviométrica da Bacia do Alto Rio Jardim (Lima, 2010).
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Jul-
06
Aug-0
6
Sep
-06
Oct
-06
No
v-0
6
Dec
-06
Jan-0
7
Feb
-07
Mar
-07
Ap
r-0
7
May
-07
Jun-0
7
Jul-
07
Aug-0
7
Sep
-07
Oct
-07
No
v-0
7
Dec
-07
Jan-0
8
Feb
-08
Mar
-08
Ap
r-0
8
May
-08
Jun-0
8
Pre
cip
ita
ção
(m
m)
Ch-121 Ch-23 Ch-101 Laurentino
48
Apesar das simulações com modelos hidrológicos requererem muitos anos de dados,
geralmente não há a disponibilidade dessas informações para períodos tão extensos quando se
estuda pequenas e médias bacias. O período utilizado para a simulação compreende o
intervalo de dois anos, onde a análise se inicia no período de seca e abrange o período das
chuvas, para os dois anos hidrológicos. Tucci (1998) coloca que a representatividade da série
depende dos objetivos que se almejam alcançar, e se configura num importante fator para que
a estimativa dos parâmetros seja confiável para a faixa de valores disponíveis, uma vez que a
extrapolação pode levar a valores tendenciosos.
É necessário para execução do modelo SWAT considerar um período de aquecimento
(warm up), um para a calibração e outro para a validação. Na literatura é possível encontrar
outros trabalhos que utilizaram séries de dados curtas. Blainski & Garbossa (2009), Bonumá
et al. (2010), e Lelis & Calijuri (2010) utilizaram séries temporais de três anos para
simulações com o modelo SWAT. Griesven et al. (2006) utilizaram um período de dois anos
de dados para as bacias do Rio Sandusky, 1998-1999, e do Alto Rio Bosque Norte, 1995-
1996, para a avaliação da análise de sensibilidade. Machado (2002) aplicou o modelo SWAT,
para o biênio 1999-2000, para a simulação do escoamento superficial e produção de
sedimentos na bacia do Ribeirão Marins, em São Paulo. E Lopes & Kobyama (2008) também
realizaram simulação com o modelo SWAT para a analisar o equilíbrio
hidrossedimentológico e as características geomorfológicas em uma microbacia experimental
em Santa Catarina, para um perído de dois anos de dados.
As séries de dados de radiação solar, umidade relativa do ar temperatura e velocidade
do vento pertencem a estação climatológica da Embrapa Cerrados e correspondem ao período
de 01/07/2006 a 30/06/2008. Abaixo seguem os gráficos (Figura 15) com o comportamento
desses parâmetros para o respectivo período.
49
Figura 15: Gráficos das séries históricas climatológicas. A)Umidade; B) Radiação Solar; C) Velocidade do Vento D) Temperatura.
50
3.4.8 Dados de Vazão
Os dados fluviométricos são utilizados para o ajuste e verificação dos parâmetros dos
modelos, portanto se houver tendenciosidade ou inconsistência nestas informações as mesmas
são transferidas para o ajuste e para o prognóstico (Tucci, 1998).
O monitoramento da vazão foi efetuado em cinco estações distribuídas na bacia
(Figura 16). Foram feitas medições em diferentes níveis da água utilizando molinete
hidrométrico e AVD Flowtracker e em cada estação foram instaladas réguas limnimétricas, o
intervalo de tempo de medição nas estações foi de 10 minutos (Lima, 2010).
Figura 16: Localização das estações fluviográficas da Bacia do Alto Rio Jardim (Lima, 2010).
Os dados de vazão compreendem o período de 01/07/2006 a 30/06/2008 (Figura 17),
para as cinco estações ao longo da bacia. Os valores medidos da vazão não são dados de
51
entrada para o modelo, esses compõe a base de dados pois serão utilizados nas fases de
calibração e validação dos resultados.
Figura 17: Séries de vazão da Bacia do Alto Rio Jardim (Lima, 2010).
3.5 Etapas de Execução
Os planos de informação e os dados alfanuméricos necessários para entrada no modelo
são inseridos a partir de uma interface entre o SWAT e o ArcGis® (Di Luzio et al., 2001). A
ferramenta de interface, ArcSWAT, está disponível para download no site do SWAT,
homepage http://swatmodel.tamu.edu/software/arcswat.
As etapas para execução do modelo são apresentadas no fluxograma abaixo (Figura
18).
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100 0
2
4
6
8
10
12
14
jul-
06
ago
-06
set-
06
ou
t-0
6
no
v-0
6
dez
-06
jan
-07
fev-
07
mar
-07
abr-
07
mai
-07
jun
-07
jul-
07
ago
-07
set-
07
ou
t-0
7
no
v-0
7
dez
-07
jan
-08
fev-
08
mar
-08
abr-
08
mai
-08
jun
-08
Pre
cip
itaç
ão (
mm
)
Vaz
ão (
m³/
s)
Ch-121 Ch-23 Ch-101 Laurentino CH95
VC189 Estanislau Jardim mont Jardim Jus
52
Figura 18: Fluxograma Metodológico. MDE - Modelo Digital de Elevação; HRU – Unidade de Resposta Hidrológica; LH - Hipercubo Latino; OAT - One
Factor at a Time.
53
O conjunto de dados espaciais e arquivos de banco de dados necessários precisam
estar preparados antes de executar a interface (Winchell et al., 2010). Inicialmente é
indispensável saber quais dados serão necessários para a aplicação do modelo e organizar uma
base com os dados que serão utilizados. As informações são inseridas no SWAT por meio de
tabelas contendo as características físicas referentes à bacia e os dados espaciais por
intermédio da interface.
Os dados de entrada espaciais para realizar as simulações do modelo são MDE
(Modelo Digital de Elevação), mapa de uso e cobertura do solo e o mapa de solos. Além dos
dados espaciais requeridos, as informações a respeito das propriedades dos solos e das
características do uso da terra, assim como a localização das estações e os dados climáticos
diários também são tabulados para suprir o modelo.
3.5.1 Discretização da Bacia
O modelo digital de elevação (MDE) fornece os valores de altimetria para a área, e
servirá de base para a discretização da bacia em sub-bacias, para a definição da área de
drenagem automaticamente e para a geração do mapa de declividade da bacia. Para o
delineamento do limite da bacia e das sub-bacias o SWAT utiliza ferramentas disponíveis no
Spatial Analyst do ARCGIS, onde são calculados, considerando a altitude, a direção do fluxo
de drenagem, o fluxo de drenagem acumulado, a definição dos limites da bacia hidrográfica, a
rede de drenagem, e respectivas sub-bacias com seus exutórios (Di Luzio et al., 2001, Sales
2012).
A direção de fluxo e fluxo acumulado são gerados através de uma grade regular,
tomando-se por base a linha de maior altitude do terreno. A nova grade numérica gerada
determina a direção de maior altitude de um pixel em relação a seus oito pixels vizinhos.
Assim, ocorre a descrição numérica da direção que a água irá percorrer após atingir cada
pixel, que pode ser representada graficamente por meio da aplicação do código de direção
(Alves Sobrinho et al., 2010).
A delimitação da área da bacia assim como das sub-bacias foi realizada utilizando
somente o MDE, para a definição das sub-bacias o modelo dispõe de duas alternativas, a
primeira através de uma área limite definida pelo usuário e a outra a partir da inserção da rede
de drenagem, que dependendo da escala traz um maior detalhamento e por conseguinte gera
um número maior de sub-bacias, dessa forma foi utilizada a primeira opção que possibilita um
certo controle do número de sub-bacias que serão geradas. Foi então definida uma área limite
54
de 500 hectares, esta área foi adotada depois de testes de tentativa e erro, foi a área que se
aproximou melhor do número de sub-bacias com o exutório compatível com a localização das
estações fluviográficas.
Depois dessa etapa foi definido o ponto de seção de saída da bacia, então foi gerado o
contorno da bacia do alto rio Jardim e as suas sub-bacias, em seguida foram calculados os
parâmetros geomórficos de cada sub-bacia e dos rios bem como a definição de reservatórios
presentes em cada uma, se definido anteriormente, no caso dessa bacia não foi definido
nenhum reservatório.
3.5.2 Definição das HRU's
A área de uma sub-bacia pode ser dividida em unidades de resposta hidrológica
(HRUs). Estas unidades são partes de uma sub-bacia que possuem tipo de solo, declividade e
uso e cobertura da terra exclusivos. As cargas transportadas pelo escoamento são calculadas
separadamente para cada HRU e depois somadas para determinar as cargas totais da sub-
bacia. Se a interação de uma área de uso do solo com outro é importante, a definição das
HRUs não é recomendada, devendo ser substituída pela opção de sub-bacias (Neitsch et al.,
2002).
O mapa de solos e de uso e cobertura juntamente com o mapa de declividade, gerado
com base no MDE, fornecerão as características fundamentais para que o modelo delimite as
HRU’s (Winchell et al., 2010). Antes de entrar com os mapas no modelo é importante inserir
os dados exigidos com as características dos solos e de uso da terra, na base de dados do
SWAT, pois a partir destas informações o modelo irá reclassificar os mapas de acordo com os
dados tabelados.
Em seguida o SWAT gera o mapa de declividade de forma automática, calculado
através da analise da taxa máxima de mudança entre um pixel e seus vizinhos. Deve então ser
definido o número de classes de declividade e o valor de intervalo de cada classe. Para a bacia
foram adotadas três classes de declividade, definidas anteriormente de acordo com as
limitações do MDE, as classes variaram de 0% a 7%, de 7% a 14% e de 14% até o valor
limite (999%), foram adotadas apenas três classes devido as limitações do MDE, como dito
anteriormente, devido a bacia ser predominantemente de relevo suave-ondulado e pelo fato da
última classe ter gerado áreas pequenas, portanto se o número de classes adotado fosse
superior seriam geradas classes com áreas muito pequenas. Depois da reclassificação de todos
55
os dados de entrada é realizada a sobreposição destes planos de informação, para traçar as
áreas das HRU's.
A definição das HRU'S é realizada após a sobreposição dos dados espaciais, neste
passo são determinados critérios para a definição das unidades de reposta hidrológica, onde
podem ser criadas uma ou mais combinações entre solos, uso e declividade. O SWAT possui
três opções para a geração das HRU's, a primeira leva em consideração a combinação entre os
tipos de solos, usos e declividades dominantes, a segunda utiliza a HRU dominante e a
terceira opção considera múltiplas HRU's (Winchell et al., 2010).
Para esse trabalho optou-se pela terceira opção, porém sem eliminar nenhuma
combinação possível em nenhum dos níveis de sensibilidade. Assim para a criação das HRU's
foram mantidos todos os tipos de solo, uso e declividade.
3.5.3 Entrada de Dados Climático
A etapa subsequente foi a inserção das tabelas com os dados de precipitação,
temperatura máxima e mínima, umidade, radiação solar e velocidade do vento. Para esse
trabalho não foi necessário a criação da base de dados para o gerador climático pois as séries
de dados não continham falhas.
A distribuição dos dados pluviométricos foi realizada de forma automática pelo
SWAT, o modelo considera a série de precipitação por sub-bacia, dessa forma ele agrega os
valores de determinada estação a sub-bacia mais próxima, essa relação é estabelecida em
relação a localização da estação pluviográfica e o centróide de cada sub-bacia (Figura 19).
56
Figura 19: Distribuição espacial das estações pluviográficas por sub-bacia.
A distribuição espacial da chuva no Distrito federal apresenta uma alta sazonalidade.
A variabilidade espacial do padrão da precipitação é um importante fator que afeta a precisão
das previsões de vazão, em regiões sem redes pluviométricas densas, a falta de dados
distribuídos de precipitação poderá ser um fator limitante para o desempenho do modelo
(Hernandez et al., 2000; Zhao et al., 2011). Assim foram utilizadas quatro estações
pluviográficas, instaladas dentro da bacia.
Na Figura 20 apresenta-se a distribuição anual da chuva para as quatro estações, para o
período de julho de 2006 a junho de 2008 e a vazão observada no exutório da bacia.
57
Figura 20: Distribuição anual da chuva na bacia do Alto Rio Jardim (Lima, 2010). A) Estação CH23; B) Estação CH101; C) Estação CH121; D) Estação
Laurentino
58
Analisando a figura apresentada é possível perceber a variação espacial da chuva na
bacia, para o período. Essa assertiva se torna evidente quando observados os dados de
precipitação dos quatro gráficos, em uma breve comparação, é perceptível que para as
estações CH23 e CH121, não foram registrados dados de chuva entre o período de fevereiro a
março de 2007, e para as outras duas estações houve um volume considerável de precipitação
(atingindo 56 mm para a estação CH101), que foi devidamente refletido na resposta dos picos
para a vazão.
É possível perceber também que a estação Laurentino apresenta um volume inferior de
precipitação se comparada as outras estações para o ano 2006/2007, onde para as outras
estações existem registros máximos de aproximadamente 80 a 90 mm para a estação
Laurentino a precipitação máxima registrada não é superior à 50 mm. Assim, fica claro que o
uso de apenas uma das estações poderia causar erros nos dados de saída e comprometer os
resultados da modelagem.
3.5.4 Período de Aquecimento
Carvalho Neto (2011) realizou um teste utilizando o modelo SWAT submetendo um
mesmo ano de eventos de precipitação repetido sete vezes, dessa forma constatou que o
modelo comporta-se de forma bastante discrepante no primeiro ano de simulação, para
geração do escoamento superficial e produção de sedimentos, o segundo ano apresenta
resultados intermediários enquanto que os demais anos possuem seus resultados oscilando em
um intervalo bem definido. Dessa maneira, em seu trabalho ele utilizou a duplicação dos três
primeiros anos de dados para o aquecimento do modelo. Assim como Carvalho Neto (2011),
Oliveira et al. (2006) também utilizaram a duplicação dos dados e os três primeiros anos para
o período de aquecimento do modelo.
Lima (2010) observou que para a bacia do alto rio Jardim, o modelo FEFLOW
apresentou problemas para representar as condições iniciais do modelo, para contornar tais
dificuldades foi utilizado um período de dois anos para o aquecimento, compondo uma série
com três anos de dados, sendo os dois primeiros réplicas do ano hidrológico utilizado para a
simulação.
O período de dados utilizado se inicia em 01/07/2006 e se prolonga ate 30/06/2008.
Para que fosse possível utilizar parte da série para o período de aquecimento do modelo, o ano
hidrológico correspondente à 01/07/2006 a 30/06/2007 foi então replicado três vezes, e
59
utilizados para satisfazer as condições iniciais para a simulação. Sendo usados para
comparação com os dados observados apenas o período 01/07/2006 a 30/06/2008.
3.5.5 Simulação
Com todos os dados devidamente inseridos no modelo, após a finalização de todas as
configurações de entrada a próxima etapa do processo é definir e executar o modelo, onde
serão executadas as equações para a simulação dos diversos processos. A simulação para a
bacia foi elaborada com uma série histórica de dois anos ( 01/07/2006 a 30/06/2008), tendo
sido usado um período de aquecimento de três anos anteriores, originando uma série de seis
anos, ressaltando que os três primeiros anos foram desprezados, assim a série utilizada se
refere ao período de 01/07/2003 a 30/06/2008.
3.5.6 Análise de Sensibilidade
Posteriormente a simulação do modelo é realizada a análise de sensibilidade, a qual
define os parâmetros que apresentam maior sensibilidade para as simulações aplicadas pelo
modelo.
A análise de sensibilidade pode ser conduzida com uso dos dados observados ou
utilizando como base os valores simulados pelo SWAT. O SWAT utiliza o método LH-OAT
para identificar os parâmetros mais significativos na modelagem. Foram utilizados os dados
da vazão observada na bacia, referentes ao mesmo período proposto para a calibração
(01/07/2006 a 30/06/2007).
É necessário definir quais serão os limites utilizados para que os dados variem,dessa
forma os limites usados para definir quais dados mais sensíveis para o modelo foram
definidos considerando a variação de alguns parâmetros em campo, referencias de outros
trabalhos e conhecimento empírico.
Existem três métodos no SWAT para definir a alteração dos parâmetros dentro dos
limites estabelecidos, a substituição direta, onde o modelo altera o valor diretamente, por
adição, em que um valor constante é adicionado no valor inicial do parâmetro e por
multiplicação, onde a alteração dos valores é estabelecida variando o valor inicial por
porcentagem. Foram utilizados vinte e um parâmetros que são significativos para a simulação
do fluxo de água.
60
A relação de parâmetros utilizados, os limites máximos e mínimos definidos para a análise
de sensibilidade bem como o método utilizado para cada parâmetro, são apresentados na
tabela 6.
Tabela 6: Parâmetros e limites utilizados para a análise de sensibilidade.
Parâmetros Sigla Limite
Inferior
Limite
Superior
Método
Constante de recessão do escoamento de
base (dias)
Alpha BF 0.0 0.3 Substituição
Eficiência do revolvimento biológico (mm) Biomix 0 1 Substituição
Índice do potencial máximo de área foliar Blai 0.5 10 Substituição
Armazenamento máximo do dossel (mm
H2O)
Canmx 0 20 Substituição
Curva Número para a condição II CN2 -20 10 Multiplicação
Condutividade hidráulica efetiva do canal
(mm h-1
)
Ch_K 0.025 76.0 Substituição
Coeficiente de rugosidade de Manning Ch_N 0.0025 0.065 Substituição
Fator de compensação de água pelas
plantas
Epco 0 1 Substituição
Fator de compensação de evaporação do
solo
Esco 0.01 1.0 Substituição
Tempo de retardo da água subterrânea GWDelay -5 30 Adição
Coeficiente "revap" de água subterrânea GWRevap 0.02 0.1 Substituição
Limite entre a profundidade de água em
aquífero raso e a superfície (mm H2O)
GWqmn -1000.0 1000.0 Adição
Fração de água percolada para o aquífero
profundo
Rchrg_Dp 0.0 0.5 Adição
Profundidade em aquífero profundo para
que haja "revap"
Revapmn 0 500 Substituição
Declividade média (m m-¹) Slope -25 25 Multiplicação
Comprimento da declividade média (m) Slsubbsn -25 25 Multiplicação
Albedo do solo úmido Sol_Alb -25 25 Multiplicação
Capacidade de água disponível no solo
(mm h-1
)
Sol_Awc -68 100 Multiplicação
Condutividade hidráulica saturada dos solo Sol_K -97 2000 Multiplicação
61
(mm h-1
)
Profundidade da camada de solo (mm) Sol_Z -25 25 Multiplicação
Coeficiente de retardo do escoamento
superficial (dias)
Surlag 0.0 0.5 Substituição
Os valores negativos presentes na tabela para o método da multiplicação significam
que o parâmetro pode variar x por cento a menos do valor inicial. Para o parâmetro GWQMN
os limites estabelecidos indicam que o limite entre a profundidade de água no aquífero raso e
a superfície pode oscilar em 1000 mm a mais ou a menos do valor atual.
Depois de definidos os valores limites para cada parâmetro, o usuário pode especificar
de acordo com o parâmetro, em que tipo de uso, solos, declividade, HRU e sub-bacias este
parâmetro pode variar. Foi estabelecido nessa sessão que os parâmetros escolhidos deveriam
variar em todos os tipos anteriormente descritos.
Foram efetuadas 1050 simulações do modelo, com intervalos de 50 para o Latin
hypercube, sendo alterado em 5% o valor de cada parâmetro, em cada ponto dentro de cada
intervalo Latin hypercube sorteado, um por vez, de acordo com o método OAT. A análise de
sensibilidade foi efetuada comparando os resultados com os valores médios simulados e como
foram utilizados os dados observados definiu-se também as função objetivo soma dos
quadrados dos resíduos (SSQ) e soma dos quadrados dos resíduos ranqueada (SSQR) para
apontar quais parâmetros apresentavam maior sensibilidade ao modelo.
3.5.7 Calibração e Validação
Em seguida foi feita a calibração do modelo. O período destinado para a calibração da
modelagem foi de um ano hidrológico referente a 01/07/2006 a 30/06/2007, utilizando os
dados de vazão referentes a estação Jardim Jusante, localizada no ponto exutório da bacia. O
processo de calibração se deu de forma manual, utilizando dados diários, onde cada parâmetro
foi sendo alterado até resultar em uma resposta satisfatória da vazão simulada em relação a
vazão observada.
Para avaliar a eficiência das simulações foram utilizados o índice de Nash e Sutcliffe
(ENS) e o coeficiente de determinação (R²) (Eq. 7 e 8). Os demais testes estatísticos como
razão entre o erro padrão médio e o desvio padrão das observações (RSR), percentual de
tendência (PBIAS) e o índice de Nash e Suticlife alterado que considera a vazão média
mensal inter-anual (COEA), não foram utilizados pois não há um valor de referência que
aponte um valor satisfatório para a calibração com dados diários.
62
Eq.7
Eq.8
Onde:
é a vazão observada;
é a vazão simulada;
é a média da vazão observada e;
é a média da vazão simulada.
Para a validação do modelo foi utilizado o período de 01/07/2007 a 30/06/2008,
usando os mesmos valores, obtidos na calibração, para os parâmetros, e em seguida foram
aplicados os testes de eficiência para avaliar se os parâmetros alterados na calibração foram
capazes de representar a vazão de forma satisfatória também para o período de validação.
63
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Este capítulo traz os resultados obtidos na modelagem, bem como uma análise dos
mesmos, comparando com outros estudos com o mesmo modelo e com demais trabalhos
hidrológicos na área de estudo.
4.1 Modelo Digital de Elevação
O modelo digital de elevação gerado (Figura 21), representa a altimetria para a área da
bacia e arredores, onde a altitude mínima encontrada foi de 885,5 metros e a altitude máxima
chega a 1178,2 metros.
Figura 21: Modelo Digital de Elevação gerado para a bacia do Alto Rio Jardim.
4.2 Mapa de Uso
O mapeamento na bacia resultou em dezenove classes de uso definidas de acordo com
as características de ocupação da bacia e de acordo com a compatibilidade desses usos para a
modelagem (Figura 22).
64
Figura 22: Mapa de uso da Bacia do Alto Rio Jardim
65
Savana Parque Sem Floresta de Galeria: Subgrupo constituído por um extrato graminóide,
integrado por hemicriptófitos e geófitos de florística natural ou antrópica, entremeado por
nanerófitos isolados.
Savana Arborizada Sem Floresta de Galeria: Subgrupo de formação natural ou antrópica,
caracterizada pela presença de fisitofisionomia fanerofítica rala e outra hemicriptofítica
graminóide continua, sujeita ao fogo anual. Sua composição florística apresenta ecótipos
dominantes que caracterizam os ambientes de acordo com o espaço geográfico ocupado.
Savana Arborizada Com Floresta de Galeria: Difere-se do subgrupo anterior por
apresentar Floresta de Galeria sempre margeando os cursos d'água.
Grão Irrigado: Plantação de grãos, com utilização de irrigação por meio de pivô-central.,
Grão Sequeiro: Área destinada ao plantio de grãos sem o emprego de nenhuma prática de
irrigação.
Fruticultura: Área com o cultivo de frutos em geral, principalmente laranja e limão.
Horticultura: Áreas com o cultivo de hortaliças, geralmente com prática de irrigação.
Grama: Área destinada a plantação de grama, com prática de irrigação.
Cana/Capim: Áreas com plantio da cultura de cana-de-açúcar ou capim forrageiro.
Pastagem: Compreende áreas destinadas ao pastoreio do gado, em boas condições ou em
áreas antropizadas, que se encontram no estágio inicial ou em processo de regeneração.
Eucalipto: São áreas públicas ou particulares onde se encontram plantios homogêneos de
eucalipto.
Estradas Pavimentadas: Principais vias de acesso, com recobrimento asfáltico. Foram
mapeadas as principais estradas presentes na bacia, ficando as secundárias ou mesmo algumas
principais incluídas em outras classes.
Estradas Não Pavimentadas: Vias de acesso de terra, sem recobrimento asfático, assim
como a anterior também só foram delimitadas as principais.
Chácara: Grandes áreas parceladas onde há a predominância de seu uso para fins agrícolas e
para o lazer. A classe chácara se refere a sede da chácara, terreno, que pode ser plantado com
gramínea ou apresentar solo exposto.
Fábrica: Áreas destinadas a industrialização de produtos diversos.
Loteamento: Possui características ou são destinados a algum fim urbano porém são
praticados em áreas rurais, o tamanho dos lotes são semelhantes aos encontrados em áreas
urbanas e quase não são mais perceptíveis as práticas rurais.
66
Solo Exposto: Apresenta áreas onde a cobertura vegetal foi removida deixando aparente
qualquer dos horizontes do solo, decorrente de ações diversas.
Mineração: Área de extração de substâncias minerais, destinadas a fins diversos.
Corpos d’água artificiais: Compreende áreas com o uso para consumo doméstico, irrigação
e dessedentação de animais, realizadas em represamentos.
As classes oriundas do mapeamento são apresentadas no Quadro 4:
Quadro 4: Imagens de cada classe de uso presente na Bacia do Alto Rio Jardim
Savana Parque sem Floresta de
Galeria
Savana Arborizada sem
Floresta de Galeria
Savana Arborizada com
Floresta de Galeria
Grão Sequeiro Grão Irrigado Horticultura
Fruticultura Cana/Capim Grama
67
Corpos D'água Eucalipto Pastagem
Chácara Fábrica Loteamento
Estrada não Pavimentada Mineração Solo Exposto
Solo Exposto
Estrada Pavimentada
4.3 Processamento dos dados de entrada
O delineamento automático baseado no MDE gerou sete sub-bacias, tendo como área
mínima 500 hectares, onde a sub-bacia 5 foi criada apenas para receber as vazões das demais
68
sub-bacias, representando o exutório da área de drenagem total de estudo. Isso foi importante
para evitar erros na modelagem, pois as respostas de vazão de todas as sub-bacias devem ser
vertidos em uma sub-bacia específica, e como o exutório da bacia é muito próximo da
confluência dos rios não foi possível a geração de uma sub-bacia com área semelhante a das
demais (Figura 23).
Figura 23: Sub-bacias, seus respectivos exutórios e hidrografia gerados pelo modelo SWAT para a
Bacia Experimental do Alto Rio Jardim.
Após o delineamento da bacia e a definição das sub-bacias, o modelo calcula
parâmetros como, área, declividade média, elevação (média, máxima e mínima), para cada
sub-bacia. A área da bacia foi seccionada em três classes de declividade a partir do MDE
(Figura 24), para que juntamente com os mapas de solos e uso da terra fossem definidas as
HRU's.
69
Figura 24: Classes de declividade da bacia do Alto Rio Jardim geradas a partir do MDE obtido por
interpolação (topo to raster) dos dados topográficos das cartas 1:10.000.
A maior parte da bacia possui uma baixa declividade, sendo considerado como relevo
plano a suavemente ondulado (Embrapa, 2006), ocupando uma área de 80,5 % da bacia,
presente na classe que varia entre 0 e 7%. Representam 14,9% da área a declividade que
oscila entre 7 e 14%, onde seu relevo é caracterizado como suave ondulado a ondulado
(Embrapa, 2006). A menor porção, com 4,6% em área, compreende a classe acima de 14% de
declividade, geralmente presente próximo as margens dos rios, onde o relevo pode ser
considerado ondulado a fortemente ondulado (Embrapa, 2006).
Os mapas de solos e de uso foram reclassificados no modelo, agregando as
informações tabeladas aos planos de informação espacial. Nas Tabelas 7 e 8 são apresentadas
as classes de uso e de solos e suas respectivas áreas em porcentagem.
70
Tabela 7: Área das classes de uso da bacia do Alto Rio Jardim.
Classes Classes Reclassificadas Área (%)
Savana Parque sem Floresta de Galeria Campo 5.5
Savana Arborizada sem Floresta de
Galeria
Cerrado 8.4
Savana Arborizada com Floresta de
Galeria
Mata de Galeria 5.7
Grão Irrigado Milho 1.2
Grão Sequeiro Soja 57.8
Horticultura Agricultura Intensiva de
pequeno porte
1.4
Fruticultura Laranja 1.2
Cana/Capim Forrageiro cana-de-açúcar 0.2
Grama Grama 0.3
Pastagem Pastagem 14.2
Eucalipto Eucalipto 0.9
Fábrica Industrial 0.1
Chácara Urbanização de baixa densidade 1.3
Loteamento Urbanização de média baixa
densidade
0.1
Solo Exposto Estrada não pavimentada 1.5
Estrada Pavimentada Transporte 0.2
Corpos D'água Água 0.1
Tabela 8: Área das classes de solo da bacia do Alto Rio Jardim (Adaptado de Reatto et al., 2000).
Classe de Solo Sigla Área (%)
Cambissolo CX 16.8
Afloramento de Rocha AFLR 0.2
Plintossolo FX 2.4
Latossolo Vermelho LV 41.5
Gleissolo GX 2.3
Latossolo Vermelho Amarelo LVA 23.0
Latossolo Amarelo LA 11.8
Neossolo Quartzarênico RQ 2.1
71
Com a sobreposição das informações de entrada foram geradas as HRU's. Como
nenhum critério de corte foi definido para a exclusão de áreas mínimas, foram criadas 628
unidades de resposta hidrológicas (Figura 25), derivadas da sobreposição entre os oito tipos
de solos, dezessete tipos de uso da terra e das três classes de declividade.
Figura 25: HRU's (Unidades de Resposta Hidrológica) geradas pelo SWAT.
72
4.4 Simulação
A simulação hidrológica da bacia do alto rio Jardim foi realizada para dois anos
hidrológicos, usando dados diários de precipitação. O resultado da simulação foi comparado
aos dados da estação de vazão localizada no ponto exutório da bacia (estação Jardim Jusante),
pelo mesmo período da simulação (01/07/2006 a 30/06/2008). Os dados de saída do modelo
foram integrados no programa SWAT Check para visualização do balanço hídrico anual
gerado (Figura 26).
Figura 26: Balanço hídrico simulado pelo SWAT para o período de 2006 a 2008.
Na Figura 26 representa-se o ciclo hidrológico gerado na bacia por meio da
modelagem com o SWAT. Conforme pode ser observado, a evapotranspiração compõe cerca
de 447,8 mm, o escoamento superficial 141,3 mm, o fluxo lateral 217,7 mm, a percolação
285,7 mm, o fluxo de base 259,0 mm, a recarga para o aquífero profundo 14,3 e ascensão
capilar do aquífero raso 10,00 mm. O CN médio para a bacia ficou em torno de 63.3. Lima
73
(2010) compilou alguns valores medidos que servem como referência para a representação do
balanço hídrico em pequenas bacias do Distrito Federal (Tabela 9).
Tabela 9: Valores de referência para o balanço hídrico (Lima 2010).
Referência Silva e Oliveira
(1999)
Lima 2000 Lima 2010
Ano hidrológico 1996/1997 1998/1999 2007/2008
Bacia hidrográfica Capetinga, DF Capetinga DF Alto Jardim, DF
Área da bacia (km²) 10 10 104.86
Variável mm.ano % mm.ano % mm.ano %
Precipitação 1.744,00 100,00 1.058,73 100,00 1.100,00 100,00
Escoamento superficial 52,50 3,01 15,08 1,42 32,33 2,94
Escoamento de base 444,00 25,46 284,39 26,86 289,89 26,35
Escoamento total 496,50 28,47 299,47 28,29 322,22 29,29
Variação da lâmina de água
no solo
0,00 0,00 -71,77 -6,78 0,00* 0,00*
Evapotranspiração real 1.274,50 71,53 831,03 78,49 777,78 70,71
*Valor não medido.
De acordo com estes estudos pode-se concluir, de maneira geral, que a modelagem
apresentou um valor inferior para a evapotranspiração, quase a metade do valor esperado,
superestimou o escoamento superficial e subestimou um pouco o fluxo de base. O passo
seguinte foi comparar a distribuição temporal da vazão simulada com os dados observados,
conforme o gráfico abaixo (Figura 27).
74
Figura 27: Gráfico comparando a vazão observada (Lima, 2010) e simulada no período de 2006 a 2008 em relação a precipitação para o mesmo período.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100 0
5
10
15
20
25
30
35
40
Pre
cip
ita
ção
(m
m)
Va
zão
(m
³/s)
Ch-101 Observado Simulado
75
De acordo com a figura 27, nota-se que os picos de vazão foram superestimados pelo modelo
em até três vezes, apresentando valores máximos de até 34,19 m³s-1
, onde os picos máximos
observados não ultrapassam 12 m³s-1
. Já o escoamento de base foi subestimado, apresentando
em vários períodos valores iguais a zero, em alguns pontos, durante a estação seca, quando a
vazão mínima observada no mesmo período apresenta um valor de 0,46 m³s-1
. Resultados
semelhantes foram verificados nos trabalhos de Ferrigo (2011) e Salles (2012), que também
trabalharam com bacias agrícolas típicas do bioma cerrado no Distrito Federal.
Foram quantificados os valores do índice de eficiência de Nash e Sutcliffe (ENS) e o
coeficiente de determinação (R²) para avaliar a eficiência da simulação. A modelagem
apresentou um ENS igual a -10,81 e um R² igual a 0,31, valores considerados insatisfatórios
para simulações diárias de acordo com Green e Griesven. (2008). Na Figura 28 apresenta-se a
dispersão dos dados simulados em relação aos dados observados, que demonstra que a
distribuição dos dados não ocorre de maneira proporcional e que os dados simulados estão
sendo superestimados na modelagem.
Figura 28: Gráfico mostrando a os dados de vazão simulada X vazão observada para a estação no
exutório da bacia do Rio Jardim simulados.
y = 2.1303x - 1.2385
R² = 0.3068
0
5
10
15
20
25
30
35
0 10 20 30
Q s
im (
m³/
s)
Q obs (m³/s)
76
Dessa forma, se verifica a necessidade de realizar a calibração do modelo, para que a
simulação da vazão possa representar os dados observados de maneira mais satisfatória. Para
que se pudesse realizar a calibração do modelo, foi realizada anteriormente uma análise de
sensibilidade, que identificou quais parâmetros eram mais significativos para a modelagem e
norteou o processo de calibração.
4.5 Análise de Sensibilidade
A análise de sensibilidade foi realizada no SWAT, pelo método LH-OAT, usando as
funções objetivo Soma do Quadrado dos Resíduos (SSQ), e Soma do Quadrado dos Resíduos
Ranqueada (SSQR), e a vazão média simulada. Os valores obtidos para essa simulação, bem
como os parâmetros mais sensíveis à modelagem, são apresentados no gráfico a seguir
(Figura 29).
Nota: Alpha BF - Constante de recessão do escoamento de base; Biomix - Eficiência do revolvimeto biológico; Blai - Índice do potencial máximo de área foliar; Canmx - Armazenamento
máximo do dossel; CN2 - Curva Número para a condição de umidade antecedente II; Ch_K2 - Condutividade hidráulica do canal principal; Ch_N2 - Coeficiente de rugosidade de
Manning; Epco - Fator de compensação de água pelas plantas; Esco - Fator de compensação de evaporação do solo; GWDelay - Tempo de retardo da água subterrânea (dias); GWRevap -
Coeficiente "revap" de água subterrânea; GWqmn - Limite entre a profundidade de água em aquífero raso e a superfície; Rchrg_Dp - Fração de água percolada para o aquífero profundo;
Revapmn - Profundidade em aquífero profundo para que haja "revap"; Slope - Declividade média; Slsubbsn - Comprimento da declividade média (m); Sol_Alb - Albedo do solo úmido;
Sol_Awc - Capacidade de água disponível no solo (mm h-1); Sol_K - Condutividade hidráulica saturada dos solo (mm h-1); Sol_Z - Profundidade da camada de solo (mm); Surlag -
Coeficiente de retardo do escoamento superficial (dias).
Figura 29: Análise de sensibilidade, ranking da sensibilidade pelo método LH-OAT.
0
5
10
15
20
SSQR SSQ Med
77
O gráfico acima representa o ranking de sensibilidade dos parâmetros, que varia de 1 a
21, onde o valor máximo é o mesmo que o número de parâmetros analisados, sendo que os
valores mais próximos de 1 são considerados como tendo maior sensibilidade (Moriasi et al.,
2007). De acordo com a análise gráfica, é possível notar que os valores das funções objetivo
SSQR e SSQ são muito próximos, já os valores para a vazão média simulada são mais
divergentes. Assim considerando os valores das funções objetivo os parâmetros que
apresentaram maior sensibilidade foram: coeficiente de retardo do escoamento superficial
(Surlag), constante de recessão do fluxo de base (Alpha-BF), condutividade hidráulica
saturada do solo (Sol-K), Limite entre a profundidade de água em aquífero raso e a superfície
(GWQMN), curva número para a condição de umidade II (CN2), condutividade hidráulica do
canal principal (CH-K2), fração de água percolada para o aquífero profundo (Rchrg-DP),
Fator de compensação de evaporação do solo (Esco), capacidade de água disponível no solo
(Sol AWC) e profundidade da camada de solo (Sol-Z). De acordo com a classificação de
Griesven et al. (2006), os seis primeiros parâmetros do ranking são considerados
(considerando os valores dos métodos SSQ e SSQR) como muito importantes, nesse caso,
Surlag, Alpha-BF, GWQMN, Sol-K, CH-K2 e CN2 os demais são considerados pouco
importantes.
No gráfico abaixo (Figura 30), mostra-se a distribuição da sensibilidade média dos
parâmetros de acordo com as funções objetivo e com a média da vazão simulada.
78
Nota: Alpha BF - Constante de recessão do escoamento de base; Biomix - Eficiência do revolvimeto biológico; Blai - Índice do potencial máximo de área foliar; Canmx - Armazenamento
máximo do dossel; CN2 - Curva Número para a condição de umidade antecedente II; Ch_K2 - Condutividade hidráulica do canal principal; Ch_N2 - Coeficiente de rugosidade de
Manning; Epco - Fator de compensação de água pelas plantas; Esco - Fator de compensação de evaporação do solo; GWDelay - Tempo de retardo da água subterrânea (dias); GWRevap -
Coeficiente "revap" de água subterrânea; GWqmn - Limite entre a profundidade de água em aquífero raso e a superfície; Rchrg_Dp - Fração de água percolada para o aquífero profundo;
Revapmn - Profundidade em aquífero profundo para que haja "revap"; Slope - Declividade média; Slsubbsn - Comprimento da declividade média (m); Sol_Alb - Albedo do solo úmido;
Sol_Awc - Capacidade de água disponível no solo (mm h-1); Sol_K - Condutividade hidráulica saturada dos solo (mm h-1); Sol_Z - Profundidade da camada de solo (mm); Surlag -
Coeficiente de retardo do escoamento superficial (dias).
Figura 30: Análise de Sensibilidade, sensibilidade média dos parâmetros de acordo com método LH-
OAT.
De acordo com a classificação de Lenhart et al. (2002), que considera a sensibilidade
média dos parâmetros, a sensibilidade para as funções objetivo foram bem semelhantes, já
para os valores médios simulados a diferença foi mais acentuada. O Quadro 5, mostra o grau
de sensibilidade média para cada parâmetro de acordo com cada função utilizada e a vazão
média simulada.
Quadro 5: Classificação da análise de sensibilidade média dos parâmetros (Lenhart et al., 2002).
Parâmetros SSQR SSQ Med
Alpha_Bf Baixa Baixa Média
Ch_N2 Baixa Baixa Baixa
Gwqmn Média Baixa Baixa
Epco Média Média Média
Cn2 Média Média Baixa
Esco Média Média Baixa
0.00
0.20
0.40
0.60
0.80
1.00
1.20
1.40
Alp
ha_
Bf
Ch
_N2
Gw
qm
n
Epco
Cn
2
Esco
Sol_
K
Rev
apm
n
Gw
_Del
ay
Can
mx
Sol_
Z
Sol_
Alb
Slsu
bb
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Sol_
Aw
c
Gw
_Rev
ap
Rch
rg_D
p
Ch
_K2
Bla
i
Slo
pe
Surl
ag
Bio
mix
SSQR
SSQ
Med
79
Sol_K Média Média Média
Revapmn Média Média Baixa
Gw_Delay Média Média Alta
Canmx Alta Alta Baixa
Sol_Z Alta Média Média
Sol_Alb Alta Alta Alta
Slsubbsn Alta Alta Alta
Sol_Awc Alta Alta Média
Gw_Revap Alta Alta Média
Rchrg_Dp Alta Alta Baixa
Ch_K2 Alta Alta Baixa
Blai Alta Alta Alta
Slope Muito Alta Alta Alta
Surlag Muito Alta Muito Alta Alta
Biomix Muito Alta Muito Alta Baixa
Nota: Alpha BF - Constante de recessão do escoamento de base; Biomix - Eficiência do revolvimeto biológico; Blai - Índice do potencial máximo de área foliar; Canmx - Armazenamento
máximo do dossel; CN2 - Curva Número para a condição de umidade antecedente II; Ch_K2 - Condutividade hidráulica do canal principal; Ch_N2 - Coeficiente de rugosidade de
Manning; Epco - Fator de compensação de água pelas plantas; Esco - Fator de compensação de evaporação do solo; GWDelay - Tempo de retardo da água subterrânea (dias); GWRevap -
Coeficiente "revap" de água subterrânea; GWqmn - Limite entre a profundidade de água em aquífero raso e a superfície; Rchrg_Dp - Fração de água percolada para o aquífero profundo;
Revapmn - Profundidade em aquífero profundo para que haja "revap"; Slope - Declividade média; Slsubbsn - Comprimento da declividade média (m); Sol_Alb - Albedo do solo úmido;
Sol_Awc - Capacidade de água disponível no solo (mm h-1); Sol_K - Condutividade hidráulica saturada dos solo (mm h-1); Sol_Z - Profundidade da camada de solo (mm); Surlag -
Coeficiente de retardo do escoamento superficial (dias).
Para a função objetivo SSQR três parâmetros apresentaram sensibilidade média
muito alta (Biomix, Surlag e o Slope), nove parâmetros apresentaram alta sensibilidade, sete
possuem sensibilidade classificada como média e dois parâmetros tem baixa sensibilidade.
Para a função SSQ dois parâmetros possuem sensibilidade muito alta (Biomix e Surlag), sete
parâmetros possuem uma sensibilidade mediana, e três possuem baixa sensibilidade. Os
parâmetros mais importantes encontrados pelas duas funções foram praticamente os mesmos,
modificando-se apenas a classe para alguns. Já para a vazão média nenhum parâmetro foi
classificado com uma sensibilidade muito alta, seis parâmetros foram classificados com alta
sensibilidade, e outros seis com sensibilidade média e nove parâmetros foram caracterizados
com baixa sensibilidade.
As duas formas de avaliar os resultados de sensibilidade dos parâmetros obtiveram
respostas bem diferentes, parâmetros que aparecem como alta sensibilidade segundo a análise
do ranking apresentaram baixa ou média sensibilidade de acordo com a análise da
sensibilidade média dos parâmetros (Alpha-BF, GWQMN e CN2), da mesma forma
80
ocorreram parâmetros com pouca sensibilidade para a primeira análise que apresentaram alta
ou muito alta sensibilidade conforme a segunda análise (Slope, Biomix, Blai e Sol_Alb).
Dessa forma, considerando as duas análises e tendo como referências as classificações
de Griesven et al. (2006) e Lenhart et al. (2002), os parâmetros identificados como mais
sensíveis para a modelagem na bacia do alto rio Jardim foram, Surlag, Alpha-BF, CN2,
GWQMN, Sol-K, CH-K2, Slope, Slsubbsn, Blai e Sol-Alb, sendo que para a sensibilidade
média dos parâmetros foram considerados apenas os parâmetros com muito alta ou alta
sensibilidade nos três métodos empregados.
Fazendo uma breve revisão da literatura, foram extraídos de alguns trabalhos, os
parâmetros mais sensíveis de cada um, que podem ser representativos para análise de
sensibilidade dos parâmetros para a realidade brasileira (Quadro 6).
Quadro 6:Parâmetros mais sensíveis para a simulação do SWAT no Brasil.
Parâmetros mais sensíveis Autores Região
Esco, Alpha-BF, Sol-Z, GW-QMN, GW-
delay, Sol-AWC, Revapmn, Surlag, GW-
revap, CN2
Durães 2010
Sudeste Esco, Sol-AWC, Slope, CN2, Slsubbsn Rocha et al. 2010
Esco, Alpha-BF, Epco, Sol-Z, Canmx, CH-
K2, Sol-AWC, Sol-K, CN2 Lelis et al. 2012
CN2, Alpha-BF, Rchrg-DP, Esco, Sol-Z,
Sol-AWC, Sol-K, Andrade et al. 2013
CH-K2, Slope, Esco, Alpha-BF, Sol-Z,Sol-
K, Sol-AWC, Surlag, CN2, CH-N Baltokoski 2008
Sul
Esco, Alpha-BF, Sol-Z, Canmx, Sol-AWC,
Sol-K, CN2, Slope, Blai, GW-QMN Lopes 2008
Esco, Alpha-BF, CH-K2, Canmx, Sol-
AWC, Sol-K, CN2, Slope, Blai, GW-QMN Bonumá et al. 2010
Esco, Alpha-BF, Sol-Z, Canmx, Sol-AWC,
CN2, Slope, Blai, GW-QMN, Revapmn Garbossa et al. 2010
Esco, Alpha-BF, GW-delay, Surlag, CN2 Lino et al. 2009
Esco, Alpha-BF, Sol-Z, Canmx, Sol-AWC,
Slope, Blai, GW-QMN, Revapmn, Sol-K
Paim e Menezes
2009
81
Esco, Alpha-BF, Sol-Z, Sol-AWC, Blai,
GW-QMN, Revapmn, CH-K2, CN2, GW-
revap
Malutta 2012
Esco, Alpha-BF, Sol-Z, Sol-AWC, Blai,
GW-QMN, CN2, Canmx, Slope, Sol-K Lubitz 2009
Surlag, GW-revap, CN2, Gw-Revap,
Rchrg-DP, Sol-Z. Sarmento 2010
Centro-Oeste
CN2, Alpha_BF, CH-K2, Esco, GW-Delay,
CH-N2, GW-QMN, Canmx, Surlag. Strauch et al. 2011
Alpha_BF, CN2,GW-Delay, GW-QMN,
Gw-Revap, Esco, Slsubbsn. Ferrigo et al. 2012
Esco, Alpha-BF, GW-QMN, Surlag, GW-
revap, CN2, CH-K2, Rchrg-DP, CH-N2,
Revapmn
Salles 2012
Nota: Alpha BF - Constante de recessão do escoamento de base; Biomix - Eficiência do revolvimeto biológico; Blai - Índice do potencial máximo de área foliar; Canmx - Armazenamento
máximo do dossel; CN2 - Curva Número para a condição de umidade antecedente II; Ch_K2 - Condutividade hidráulica do canal principal; Ch_N2 - Coeficiente de rugosidade de
Manning; Epco - Fator de compensação de água pelas plantas; Esco - Fator de compensação de evaporação do solo; GWDelay - Tempo de retardo da água subterrânea (dias); GWRevap -
Coeficiente "revap" de água subterrânea; GWqmn - Limite entre a profundidade de água em aquífero raso e a superfície; Rchrg_Dp - Fração de água percolada para o aquífero profundo;
Revapmn - Profundidade em aquífero profundo para que haja "revap"; Slope - Declividade média; Slsubbsn - Comprimento da declividade média (m); Sol_Alb - Albedo do solo úmido;
Sol_Awc - Capacidade de água disponível no solo (mm h-1); Sol_K - Condutividade hidráulica saturada dos solo (mm h-1); Sol_Z - Profundidade da camada de solo (mm); Surlag -
Coeficiente de retardo do escoamento superficial (dias).
Conforme observado no Quadro 6, os parâmetros mais sensíveis para as bacias não
variam muito, diferenciado-se pouco de uma bacia para outra bacia, independente até mesmo
da região estudada, o que induz a crer que os parâmetros que mais se repetem nos diferentes
estudos, são os que causam um impacto significativo no processo de modelagem nas bacias
brasileiras, para a estimativa do fluxo de água.
No entanto deve-se ressaltar que apesar destas semelhanças, nem sempre os
parâmetros com maior sensibilidade são realmente usados no período de calibração.
Abbaspour (2011) relata que se houver um conjunto de dados que se ajuste as medições,
haverá na realidade um conjunto deles que se ajustarão, assim, diferentes conjuntos de dados
podem produzir respostas semelhantes em relação a descarga observada.
4.6 Calibração
O período correspondente à 01/07/2006 a 30/06/2007, apresentou um NS de -8, 16 e
um R² de 0,43. Na Figura 31 mostra-se o gráfico da vazão observada e da vazão simulada
para esse período.
82
Figura 31: Gráfico da vazão observada (Lima 2010) e simulada no período de 2006 a 2007.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100 0
5
10
15
20
25
30
35
40
01/07/06 01/08/06 01/09/06 01/10/06 01/11/06 01/12/06 01/01/07 01/02/07 01/03/07 01/04/07 01/05/07 01/06/07
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m)
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(m
³/s)
Ch-101 Observado Simulado
83
A calibração do modelo foi realizada para a vazão diária, de forma manual, referente
ao período citado acima (01/07/2006 a 30/06/2007). Os dados observados utilizados para a
calibração correspondem a estação fluviográfica do ponto exutório da bacia (estação Jardim
Jusante). Após a análise de sensibilidade do modelo definiu-se quais os parâmetros seriam
utilizados para a calibração.
O ajuste dos parâmetros foi realizado em etapas de modo que as alterações atendessem
aos valores de referência do balanço hídrico para a bacia (Tabela 10) e representassem de
maneira satisfatória a vazão de saída. Os parâmetros utilizados para a calibração do modelo
foram: armazenamento máximo do dossel (Canmx), curva número para a condição de
umidade II (CN2), coeficiente de retardo do escoamento superficial (Surlag), condutividade
hidráulica saturada do solo (Sol-K), fator de compensação da evaporação do solo (Esco),
profundidade limite de água para o aquífero raso (GW-QMN), tempo de atraso da água
subterrânea (GW-delay), constante de recessão do fluxo de base (Alpha-BF) e fração de
ércolação para o aquífero profundo (Rechrg-DP). A tabela 10, apresenta o valor inicial e final
para cada um dos parâmetros modificados, e o método empregado para a alteração.
Tabela 10: Variação dos valores (inicial e final) para os parâmetros utilizados na calibração e o
método de variação.
Parâmetro Valor Inicial Valor Final Método
CN2 Variável por classe 0.8 Multiplicação (%)
ALPHA-BF 0.048 0.1 Substituição
SURLAG 4 0.01 Substituição
SOL-K Variável por classe 0.5 Multiplicação (%)
CANMX 0 15 Substituição
RCHRG-DP 0.05 0.02 Substituição
ESCO 0.95 0.01 Substituição
GW-DELAY 31 180 Substituição
GW-QMN 0 -1 Substituição
Considerando que o modelo SWAT trabalha como se fosse um conjunto de
reservatórios que operam em sequência, onde o primeiro alimenta o segundo e assim
sucessivamente, buscou-se primeiro adequar os valores para evapotranspiração e o
escoamento superficial, para isso alterou-se o parâmetro Canmx, que controla a retirada da
água do sistema por interceptação pelas plantas e consequentemente altera a
84
evapotranspiração. Neste caso o objetivo da mudança foi aumentar a evapotranspiração
aumentando o valor deste parâmetro. Depois alterou-se o parâmetro CN2, curva número para
a condição antecedente II, de forma a diminuir o escoamento superficial e por conseguinte
aumentar a infiltração, alterou-se também o Surlag, coeficiente de retardo do escoamento
superficial, uma vez que a bacia possui um tempo de resposta rápido para o escoamento
superficial.
Uma vez ajustados estes parâmetros foram modificados os valores dos parâmetros que
influenciam na rotina de água no solo e de água subterrânea. Primeiro alterou-se o valor de
Sol-K, condutividade hidráulica do solo, visando um aumento da água para as camadas mais
baixas do perfil de solo, controlando assim o aumento da água disponível para a percolação e
para o fluxo de base. Com uma maior quantidade de água nas camadas mais profundas do
solo, alterou-se o valor do parâmetro Esco, fator de compensação de evaporação do solo, para
aumentar a demanda evaporativa do solo pelas camadas inferiores. Posteriormente, foram
modificados os parâmetros GW-QMN, limite entre a profundidade de água entre o aquífero
raso e a superfície, GW-delay, tempo de retardo da água subterrânea e Alpha-BF, constante
de recessão do escoamento de base, todos ligados a água subterrânea, o primeiro foi alterado
para ajustar a profundidade da água entre o aquífero raso e a superfície, o segundo foi
modificado em virtude da bacia ter uma resposta mais lenta da água subterrânea para a
descarga no rio e último foi modificado para aumentar o volume de água no fluxo de base,
buscando-se, principalmente, elevar a vazão mínima nos períodos de estiagem. O último
parâmetro modificado foi o RCHRG-DP, fração de água percolada, este foi modificado para
que menos água do fluxo de base ficasse disponível para a recarga do aquífero. Na Figura 32
apresenta-se o gráfico com a vazão observada e a vazão simulada após a calibração da
modelagem.
85
Figura 32: Gráfico da vazão observada (Lima, 2010) e simulada no período de 2006 a 2007 (dados calibrados).
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100 0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
01/07/06 01/08/06 01/09/06 01/10/06 01/11/06 01/12/06 01/01/07 01/02/07 01/03/07 01/04/07 01/05/07 01/06/07
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Ch-101 Observado Calibrado
86
Após calibrado o modelo, pode-se observar que houve uma melhora significativa do
ajuste do fluxo de base, principalmente, no período de seca onde os dados simulados
chegavam a zero. A vazão mínima alcançada pelo modelo depois de calibrado para esse
período, foi de 0,62 m³s-1
, enquanto os dados observados apresentam valor mínimo de 0,92
m³s-1
.
Os valores dos picos também foram ajustados com uma redução considerável dos
eventos extremos simulados quando comparados a primeira simulação (figura 28). Entretanto,
como haviam picos com valores muito altos o ajuste não conseguiu representar a todos com a
mesma eficiência, sendo que alguns picos foram subestimados e outros apesar de
minimizados permaneceram maiores que os observados. Os valores mais altos apresentados
pela vazão observada chegam a 11,48 m³s-1
e para vazão simulada após a calibração atingem
7,70 m³s-1
, enquanto que o valor para o mesmo período antes da calibração era de 34,19
m³s-1
.
A calibração apresentou valor de 0,60 e de 0,66 para o ENS e R² respectivamente. Este
valores são superiores a 0,4 para o ENS e 0,5 para o R², os quais são considerados
satisfatórios por Green et al. (2008), para o caso de uma modelagem com dados diários. Nos
gráficos das Figuras 33 e 34 é apresentada a variação dos dados simulados em relação a
vazão observada antes e depois da calibração respectivamente.
87
Figura 33: Gráfico de dispersão dos dados observados e simulados no período de 2006 a 2007 (dados
sem calibração).
Figura 34: Gráfico de dispersão dos dados observados e simulados no período de 2006 a 2007 (dados
calibrados).
y = 2.3526x - 2.4345
R² = 0.4316
0
5
10
15
20
25
30
35
0 10 20 30
Q s
im (
m³/
s)
Q obs (m³/s)
y = 0.7985x + 0.2332
R² = 0.6552 0.000
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
0 5 10
Q s
im (
m³/
s)
Q obs (m³/s)
88
Nota-se por meio desses gráficos que houve uma melhora significativa entre a
primeira simulação e a última com parâmetros calibrados, principalmente para os picos de
vazão. Pode-se observar também que houve melhor distribuição dos dados em relação à reta
de tendência aproximando de 1.
Garbossa et al. (2011) apresenta uma revisão sobre trabalhos realizados com o SWAT
no Brasil, neste artigo ele apresenta uma compilação com os trabalhos realizados e os valores
estatísticos empregados para as calibrações e validações, bem como o período e o intervalo de
observação (diário, mensal e anual) utilizados.
Os trabalhos realizados com calibração mensal são mais comumente encontrados.
Trabalhos que adotam a calibração de dados diário são menos frequentes. Os trabalhos de
Garrido (2003), Pereira et al. (2005), Paiva & Paiva (2006), Adriolo et al. (2008), Lopes e
Kbyama (2008), Gilbertoni et al. (2009), e Shutz et al. (2010) são algumas das referências que
utilizaram a calibração com dados diários no Brasil. Destes trabalhos, apenas Gilbertoni et al.
(2009) e Shultz et al. (2010) conseguiram valores ENS superiores a 0,4, para o período de
calibração.
Baltokoski (2008) realizou estudos nas sub-bacias dos rios Conrado e Pinheiros nos
municípios de Pato Branco e Maropólis (PR), para avaliar a sensibilidade do modelo SWAT
na predição da vazão e do fluxo de massa de fósforo total, a calibração para o fluxo foi
realizada com dados diários. A modelagem foi realizada para duas estações fluviométricas.
Para a estação PC02 ele encontrou resultados satisfatórios (ENS = 0,61), já para a estação
RP02 a calibração não apresentou uma resposta satisfatória.
Durães (2010) avaliou a caracterização do estresse hidrológico na bacia do Rio
Paraopeba, Minas Gerais, para a simulação do fluxo de água, ele encontrou valores superiores
a 0,75 para o índice de eficiência de Nash e Sutcliffe no período de calibração diária do
modelo.
O resultado do balanço hídrico para o período de calibração apresentou os seguintes
resultados, 576,1 mm do total da chuva foi convertido em evapotranspiração, 58,55 mm em
escoamento superficial, 134,13 mm em fluxo lateral, 361,54 mm em água disponível para
percolação, 354,48 mm em fluxo de base, 10.93 mm em ascensão capilar do aquífero raso, e
7,23 para a recarga do aquífero (Figura 35).
89
Figura 35: Balanço hídrico simulado pelo SWAT para o período de 2006 a 2007 (dados calibrados).
4.7 Validação
Os valores de ENS e R² para o período de 01/07/2007 até 30/06/2008 foram
respectivamente de -45,66 e 0,33. Na Figura 36, são comparados os valores dos dados
observados e os valores iniciais dos dados simulados.
90
Figura 36: Gráfico da vazão observada (Lima, 2010) e simulada no período de 2007 a 2008 (sem calibração).
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100 0
5
10
15
20
25
30
35
40
01/07/07 01/08/07 01/09/07 01/10/07 01/11/07 01/12/07 01/01/08 01/02/08 01/03/08 01/04/08 01/05/08 01/06/08
Pre
cip
ita
ção
(m
m)
Va
zão
(m
³/s)
CH-101 Observado Simulado
91
Como pode ser observado na figura 36, o mesmo ocorrido para o primeiro ano se
repetiu no segundo, o valor simulado apresenta uma subestimação do fluxo de base no
período de seca e uma superestimativa para os valores dos picos, sendo que além disso
apresenta uma superestimativa do fluxo de base para o período de março a maio de 2008. O
valor mínimo registrado para a vazão observada foi de 0,46 m³ s-1
enquanto que para a vazão
simulada foram obtidos valores iguais a zero, para a vazão de pico o valor máximo observado
é de 3,78 m³s-1
e o valor obtido na modelagem atinge 28,9 m³ s-1
.
Foram empregados os mesmos valores dos parâmetros obtidos no período de
calibração para a validação do modelo. Os dados de vazão observados e a vazão simulada
para o período de validação foram comparados (Figura 37). Foi obtido um ENS de -0,84 e um
R² de 0,66. Por meio da análise do gráfico é possível observar que mesmo com a alteração de
alguns parâmetros na calibração, os dados simulados na validação não possuem a mesma
aproximação entre a vazão simulada e observada, comparando-se com o período de
calibração.
Os dados simulados na validação apresentaram uma boa representatividade para o
fluxo de base no período de junho de 2007 a janeiro de 2008, a partir desse período o modelo
não conseguiu retornar o fluxo de base para valores próximos aos observados depois da
recessão dos picos de vazão, e ainda para o período de estiagem que vai de maio a junho de
2008, o fluxo de base foi superestimado. Pode-se notar ainda valores superestimados para os
picos de maneira geral.
O valor mínimo obtido para a vazão simulada, depois de alterados os parâmetros na
calibração, foi um valor de 0,44 m³s-1
, para a vazão de pico o valor máximo encontrado na
modelagem atinge 5,22 m³s-1
. Dessa forma, pode-se afirmar que a validação do modelo não
apresentou valores satisfatórios, de acordo com o proposto para calibração diária, segundo a
literatura, pois obteve um valor de ENS negativo.
92
Figura 37: Gráfico da vazão observada (Lima, 2010) e simulada no período de 2007 a 2008, intervalo de validação do modelo (dados validados).
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100 0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
01/07/07 01/08/07 01/09/07 01/10/07 01/11/07 01/12/07 01/01/08 01/02/08 01/03/08 01/04/08 01/05/08 01/06/08
Pre
cip
ita
ção
(m
m)
Va
zão
(m
³/s)
CH-101 Observado Validação
93
Na Figura 38 é apresentado o gráfico de dispersão para o ano 2007/2008 antes de
aplicada a calibração dos dados e na Figura 39 mostra-se a dispersão para o período de
validação pós-calibração. É notável a melhoria da distribuição dos dados pós calibração,
diminuiu-se os picos de vazão de forma considerável, apesar de ainda haver superestimativa,
também percebe-se uma disposição dos dados em relação a reta de tendência bem mais
coerente.
Figura 38: Gráfico de dispersão dos dados observados e simulados no período de 2007 a 2008.
y = 4.1174x - 2.6312
R² = 0.3305
0
5
10
15
20
25
30
0 5 10 15 20 25 30
Q s
im (
m³/
s)
Q obs (m³/s)
94
Figura 39: Gráfico de dispersão dos dados observados e simulados no período de 2007 a 2008 após a
calibração.
Como o resultado para a validação obteve um ENS negativo e é perceptível por meio
da figura 39 identificar períodos em que o ajuste dos dados simulados aos observados
apresenta uma boa aderência, a série de dados foi seccionada em períodos menores, de
maneira aleatória, e se verificou o índice de eficiência de três períodos distintos para avaliar a
validação por eventos. Foram selecionados os períodos 01/07/07 a 30/10/07 (Figura 40),
evento 1, período que se inicia no período de estiagem e se prolonga até as primeiras chuvas,
01/02/08 a 22/02/08 (figura 41) e 06/03/08 a 03/04/08 (figura 42), respectivamente eventos 2
e 3, ambos períodos onde a precipitação é constante.
y = 1.5561x - 0.3623
R² = 0.6583
0
1
2
3
4
5
6
0 1 2 3 4 5 6
Q s
im (
m³/
s)
Q obs (m³/s)
95
Figura 40: Gráfico de dispersão dos dados observados e simulados no período de 01/07/07 a 30/10/07
(Evento 1) após a calibração.
Figura 41: Gráfico de dispersão dos dados observados e simulados no período de 01/02/08 a 22/02/08
(Evento 2) após a calibração.
y = 1.1186x - 0.1618 R² = 0.9365
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
1.1
0.5 0.7 0.9 1.1
Q o
bs
(m³/
s)
Q sim (m³/s)
y = 1.3167x - 0.2939 R² = 0.6994
0.5
1
1.5
2
2.5
3
0.5 1 1.5 2 2.5 3
Q o
bs
(m³/
s)
Q sim (m³/s)
96
Figura 42: Gráfico de dispersão dos dados observados e simulados no período de 06/03/08 a 03/04/08
(Evento 3) após a calibração.
Para todos os eventos analisados os valores para o ENS foram positivos, os valores
foram de 0,68, 0,64 e 0,27 respectivamente para os eventos 1, 2 e 3. Considerando-se o
trabalho de Green e Griesven (2008) os eventos 1 e 2 podem ser considerados como
satisfatórios para a calibração com dados diários, apenas o evento 3 não é considerado
satisfatório O melhor índice ENS e R² foram encontrados para o primeiro evento, para o
período de seca, indicando uma boa representatividade para o fluxo de base.
Esses resultados por evento apontam que o modelo foi capaz de simular com certa
eficiência parte dos eventos de precipitação que ocorreram, mesmo que superestimando e ou
subestimando alguns períodos da série no período de validação.
Nas Figuras 43 e 44 apresenta-se o comportamento dos resíduos dos dados (simulados
- observados), para o período de calibração e validação respectivamente. É possível perceber
claramente que para o período de calibração ocorreram tanto dados que foram superestimados
e subestimados com uma intensidade semelhante, causando uma dispersão dos resíduos
principalmente para o período chuvoso. Já no período da validação não se identifica uma
tendência a subestimação dos dados com altos valores, apenas a superestimativa e grande
dispersão dos resíduos da simulação também para o período chuvoso.
y = 0.9391x + 0.4181 R² = 0.6358
1
1.5
2
2.5
3
3.5
4
4.5
1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5
Q o
bs
(m³/
s)
Q sim (m³/s)
97
Figura 43: Gráfico de dispersão dos resíduos dos dados no período de 2006 a 2007 (dados calibrados).
Figura 44: Gráfico de dispersão dos resíduos dos dados no período de 2007 a 2008 (dados validados).
Garrido (2003) aplicou o modelo SWAT para a bacia do Rio Jequiriçá, na Bahia,
embora não tenha conseguido valores satisfatórios para a calibração e validação, foi
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
jul-06 ago-06 out-06 nov-06 jan-07 mar-07 abr-07 jun-07
Re
síd
uo
s (C
alib
raçã
o)
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
jul-07 ago-07 out-07 nov-07 jan-08 mar-08 abr-08 jun-08
98
observado em seu estudo que o período de validação apresentou resultados inferiores aos
encontrados na calibração. Durães (2010) encontrou valores satisfatórios para a estimativa de
vazão, através da comparação das vazões observadas e simuladas, para o período de
calibração, e para o período de validação considerou que os valores obtidos para a simulação
não foram satisfatórios.
Na tabela abaixo (Tabela 15) são apresentados valores de ENS para os períodos de
calibração e validação de trabalhos que utilizaram o modelo SWAT no DF, para a estimativa
do fluxo de água.
Tabela 11: Valores de ENS para o período de calibração e validação com o SWAT em bacias do
Distrito Federal.
Trabalho Bacia Calibração Validação Dados
Sarmento (2010) Descoberto 0,62 0,34 Diários
Strauch et al.
(2011) Pipiripau
0,79 0,73
Diários 0,83 0,76
0,81 0,69
0,74 0,43
Ferrigo et al.
(2012) Descoberto
0,69 0,84
Mensal - 0,55
- 0,81
Salles (2012) Pipiripau 0,67 0,79 Mensal
Este trabalho Alto Jardim 0,60 -0,84 Diários
Sarmento (2010) utilizou o modelo para análise de incerteza e avaliação dos fatores
que causam influência no modelo. Obteve-se um resultado satisfatório para o período de
calibração mas o mesmo não ocorreu para a validação, usando dados diários.
Strauch et al. (2011) aplicaram o modelo, com diferentes tipos de dados de entrada
para a precipitação, o primeiro de uma estação dentro da bacia, o segundo obtido através da
aplicação de média móvel do primeiro dado, o terceiro inserindo estações localizadas fora da
bacia e o último utilizando imagens do sensor TRMM, visando contornar o problema do uso
de uma só estação, considerando a grande sazonalidade da área. Eles utilizaram a simulação
com dados diários e obteve resultados satisfatórios tanto para o período de calibração como de
validação para todas a saídas obtidas dos diferentes tipos de entrada.
99
Ferigo et al. (2012) utilizaram o SWAT para a estimativa do fluxo de água e
sedimentos em uma sub-bacia do rio Descoberto, e realizaram calibração para o período de
2000 a 2005, e para a validação foram utilizados três períodos, 2006-2007, 2007-2008 e 2008-
2009 . Salles (2012) realizou a calibração e validação do modelo para a predição das vazões
do ribeirão Pipiripau. Ambos utilizaram dados mensais para as estimativas e obtiveram
resultados satisfatórios para a calibração e validação.
O balanço hídrico da bacia para o período de validação estimou que cerca de 620 mm
do total precipitado constitui a evapotranspiração, 36,63 mm o escoamento superficial, 117,34
mm o fluxo lateral, 268,9 mm a percolação, 262,62 mm o fluxo de base, 7,65 mm o ascensão
capilar do aquífero raso, e 5,38 mm vão para a recarga do aquífero profundo (Figura 45).
Figura 45: Balanço hídrico simulado pelo SWAT para o período de 2007 a 2008 após o período de
calibração/validação.
Aplicando-se o valor dos parâmetros alterados para a série histórica completa obteve-
se um ENS de 0,51 e um R² de 0,60. Os valores obtidos para o balanço hídrico para esse par
100
de anos correspondem a aproximadamente, 598,05 mm do total precipitado foi revertido em
evapotranspiração, 47,59 mm em escoamento superficial, 125,74 mm em fluxo lateral, 315,22
em percolação, 308,55 em fluxo de base, 9,02 em ascensão capilar do aquífero raso, e 6,31
para a recarga do aquífero profundo.
A dispersão entre os dados observados e simulados para o período completo
apresentou uma melhora significativa para os altos valores encontrados para os picos na
primeira simulação, embora ainda tenha mantido a tendência de superestimativa dos mesmos,
também apresentou uma melhora no ajuste da distribuição dos pontos em relação a reta de
tendência (Figura 46).
Figura 46: Gráfico de dispersão dos dados observados e simulados no período de 2006 a 2008 (dados
calibrados e validados).
De acordo com Lima (2010) cerca de 1% a 3% do total precipitado é convertido em
escoamento superficial, aproximadamente 25% a 27% resulta no fluxo de base e por volta de
70% do volume precipitado vai para a evapotranspiração. Ele obteve para a mesma bacia em
estudo, no período de um ano (2007/2008) valores de referência para o balanço hídrico
y = 0.8355x + 0.2898
R² = 0.6019
0
2
4
6
8
10
12
0 2 4 6 8 10 12
Q s
im (
m³/
s)
Q obs (m³/s)
101
(Tabela 10). Comparando os dados de Lima (2010) com os valores simulados pela
modelagem com o SWAT para o ano 2006/2007, que apresentou um índice de eficiência
satisfatório, tem-se que a evapotranspiração encontra seu valor 14% abaixo (56%), o
escoamento superficial simulado foi superior 11% (14%), o fluxo de base possuiu um valor
1% inferior (24%) e o escoamento total se apresenta 8% acima (38%), o montante faltante é
considerado como perdas por transmissão na modelagem. Lembrando que o escoamento
superficial é a soma deste com o fluxo lateral, e uma vez que o fluxo lateral é diminuído para
valores mais baixos, ocorre a eliminação dos picos da vazão. O balanço hídrico médio anual
da bacia do rio Jardim aponta que o SWAT representa de forma satisfatória o fluxo de base,
porém tende a subestimar a evapotranspiração e superestimar o escoamento superficial.
Em relação ao valor do CN, o valor médio para a bacia após a calibração e validação
foi de 51,4. Menezes (2009) avaliou o efeito das ações antrópicas no processo de escoamento
superficial na bacia do Lago Paranoá, e para essa estimativa ele utilizou o método CN, para o
ano de 2009 ele obteve valores de CN ponderado, variando entre 44 e 72 para as unidades
hidrológicas estudas dentro da bacia, onde os menores valores de CN se aplicam para uma
área com vegetação nativa preservada, enquanto os valores mais altos são para unidades com
intensa urbanização. Salles (2012) aplicando o modelo SWAT, encontrou um CN médio
anual para a bacia do ribeirão Pipiripau de 62,65. Sarmento (2010) apresenta valores de CN
após a calibração variando entre 25 e 84, para HRU. Os trabalhos de Strauch et al. (2011) e
Ferrigo et al. (2012) não apresentam os valores de CN.
A modelagem com o uso do SWAT é complexa e necessita de uma série de dados, que
muitas vezes não são disponíveis para a realidade da maioria das bacias brasileiras, o uso de
dados de referência são alternativas para a aplicação do modelo, ao passo que essas incertezas
são atribuídas as saídas do modelo. No caso deste estudo a maioria dos dados utilizados foram
obtidos de aferições em campo, porém os dados exigidos relacionados ao uso foram
aproximações realizadas dos dados disponíveis na própria base de dados do SWAT. Esses
dados influenciam diretamente nos cálculos para a evapotranspiração e também para o CN,
que pode ter sido um dos fatores para o resultado da simulação não ter sido satisfatório
mesmo depois da calibração.
Um dos fatores que influenciam a diferença entre os resultados obtidos no período de
calibração e validação é o curto período das séries temporais, principalmente para o período
de calibração, de forma que o ano utilizado nesse período pode não ser significativo para
representar as condições hidrológicas da bacia, primordialmente em relação ao ano de
102
validação do modelo. Na Tabela 12 apresenta-se uma estatística descritiva entre os dados de
vazão observados e simulados na bacia, para o período de calibração e validação.
Tabela 12: Estatística descritiva dos dados de vazão observados e simulados.
Estatística Calibração Validação
Observado Simulado Observado Simulado
Média 1.96 1.78 1.08 1.32
Erro padrão 0.06 0.05 0.02 0.05
Mediana 1.80 1.60 0.98 1.01
Modo 1.44 1.47 - 1.02
Desvio padrão 1.05 1.03 0.46 0.89
Variância da amostra 1.10 1.07 0.21 0.78
Curtose 22.72 4.49 6.02 3.87
Assimetria 3.54 1.71 1.96 1.89
Intervalo 10.57 7.07 3.32 4.79
Mínimo 0.92 0.62 0.46 0.44
Máximo 11.49 7.70 3.79 5.23
Soma 715.05 656.09 396.64 484.62
Contagem 365 365 366 366
Nível de confiança (95.0%) 0.11 0.11 0.05 0.09
De acordo com a tabela, nota-se que a vazão observada no período de calibração é
superior a vazão observada para a validação, isso se dá tanto para o período seco quanto para
o período chuvoso, é possível perceber também que a vazão observada para a calibração
apresenta valores mais altos também para as medidas de dispersão. É possível perceber
também que tanto no período de calibração quanto de validação a vazão simulada
acompanhou a tendência da vazão observada. Isso reafirma a necessidade de um período
maior para a calibração dos dados.
Ressaltando-se que foram desconsiderados da modelagem os reservatórios e a
demanda hídrica associada à irrigação, deve-se lembrar que mesmo se tratando de
barramentos pequenos dentro da bacia, a não consideração dos mesmos bem como da água
destinada a irrigação, geralmente implementada nos períodos de seca, e em áreas pequenas, o
que pode agregar erros para as repostas da modelagem. Lima (2010) aponta que o impacto da
irrigação para o balanço hídrico, no ano hidrológico 2007/2008 foi muito pequeno, cerca de
103
0,75% de decréscimo na evapotranspiração e 0,75% de acréscimo para o escoamento de base
em termos anuais, se tornando significativa nos períodos de estiagem. No caso, a parcela de
água destinada a irrigação representou cerca de 20% da vazão mínima vertida no exutório.
Outro fato importante, é que o modelo só considera a profundidade dos solos até 350
cm, considerando que os solos brasileiros são solos profundos, esse pode ser outro fator que
contribui para embutir erros no comportamento hídrico da rotina de água no solo, e
consequentemente nas respostas de saída do modelo. Lima (2010) monitorou a variação da
profundidade do nível do lençol freático em poços piezométricos dentro da bacia e identificou
que o nível do lençol freático na bacia alcança, em alguns pontos, cerca de 20 metros de
profundidade.
É importante ressaltar que a calibração foi realizada com poucos anos de dados, ao
passo diário e de forma manual, podendo a calibração de forma automática fornecer índices
de eficiência diferenciados. Ferrigo et al. (2012) por exemplo, realizaram a calibração manual
e a calibração automática para a simulação da vazão em uma bacia do Distrito Federal, tendo
a calibração manual apontado um ENS de 0.53 e a calibração automática um NS de 0.69,
demonstrando resultados mais satisfatórios com a realização da calibração automática.
Outra medida a ser tomada para tentar melhorar a eficiência das simulações é realizar
a calibração por sub-bacia, uma vez que existem estações fluviográficas, com dados de vazão
diários.
104
5. CONCLUSÃO
Considerando os objetivos expostos no início do trabalho, foi possível concluir que:
A análise de sensibilidade permitiu a identificação dos parâmetros mais significativos
para a simulação da vazão com o modelo SWAT, e indicou que os parâmetros mais
sensíveis na modelagem na bacia do alto rio Jardim são similares aos encontrados em
outros estudos realizados em bacias na região Centro-Oeste;
Os parâmetros mais sensíveis foram: Surlag, Alpha-BF, CN2, GWQMN, Sol-K, CH-
K2, Slope, Slubbsn, Blai e Sol-Alb;
A simulação hidrológica por meio do modelo SWAT não conseguiu representar a
realidade de forma satisfatória sem a calibração dos parâmetros mais sensíveis no
modelo;
O período de calibração do modelo resultou em um ENS de 0,60 e um R² de 0,66,
valores considerados satisfatórios para a calibração diária;
Não foi possível ajustar de forma satisfatória o modelo no período de validação,
resultando em R² de 0.66 e um ENS negativo;
Mesmo superestimando os resultados das vazões, a modelagem mostrou boa
representatividade para o fluxo de base para o período de junho de 2007 a janeiro de
2008, e conseguiu, mesmo que superestimando a vazão, seguir a tendência da vazão
observada;
Percebeu-se que a vazão observada para o período de calibração é bem superior a do
período destinado a validação, dessa forma pode-se entender que o período da
calibração não é representativo para as características climáticas da bacia,
principalmente para o ano da validação;
O modelo SWAT foi capaz de representar de forma satisfatória o fluxo de base médio
anual para a bacia, no entanto se verificou uma tendência de subestimativa da
evapotranspiração e superestimativa do escoamento superficial, tanto no período de
calibração quanto na validação;
As diferenças encontradas para o balanço hídrico podem estar relacionadas a
deficiência nos dados de entrada para as características de uso e cobertura do solo,
visto que elas impactam de forma direta para os cálculos de evapotranspiração e do
método CN;
105
O fato do modelo só considerar a profundidade dos solos até 350 cm pode ser o fator
que influencia os resultados do balanço hídrico, de modo que uma vez que a água não
tem como infiltrar ela acaba sendo revertida em escoamento superficial
Pode-se considerar que o modelo possui aplicabilidade para a área, se consideradas as
limitações dos dados e processos, bem como os objetivos das simulações, destacando-
se que a modelagem é uma ferramenta de apoio a tomada de decisão e não uma
solução direta para a gestão, de forma que os resultados obtidos não podem ser
considerados como a verdade de campo e os dados aferidos em campo não podem ser
substituídos.
5.1 Recomendações para estudos futuros:
Inserir os reservatórios existentes na simulação;
Incluir as práticas de irrigação na modelagem;
Realizar a calibração do modelo por sub-bacia;
Realizar a calibração automática;
Implementar a análise de incerteza.
106
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABBASPOUR, K.C. 2011. SWAT-CUP2: SWAT Calibration and Uncertainty Programs – a user
manual. Department of Systems Analysis, Integrated Assessment and Modelling (SIAM), Eawag,
Swiss Federal Institute of Aquatic Science and Technology, Duebendorf, Switzerland, 95 p.
ADRIOLO, M. V., SANTOS, I., GIBERTONI, R. C., CAMARGO, A. S. G. 2008. Calibração do
modelo SWAT para a produção e transporte de sedimentos. In: VI Simpósio Brasileiro sobre
Pequenas e Médias Centrais Hidrelétricas. Belo Horizonte – Minas Gerais. Brasil.
ALBUQUERQUE, R. G. de. Recursos hídricos no Distrito Federal. 1999. Estudo nº 003/99.
ASSEL/UDA. Câmara Legislativa do Distrito Federal. Brasília-DF, abril/1999; 30 p.
ALVES SOBRINHO, T. ; OLIVEIRA, P. T. S. ; RODRIGUES, D. B. B. ; AYRES, F. M. 2010.
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118
ANEXO
Segue uma breve descrição, de acordo com Neitsch et al. (2005b), dos parâmetros
relacionados ao fluxo de água, no modelo SWAT, utilizados para a análise de sensibilidade e
calibração.
Alpha-BF
Fator alfa do fluxo de base, valor definido em dias. A constante de recessão do fluxo
de base é um índice direto da resposta do fluxo subterrâneo a mudanças na recarga. Os valores
variam de 0,1 a 0,3 para terrenos com resposta lenta à recarga e de 0,9 a 1,0 para terrenos
com uma rápida resposta.
Biomix
Eficiência do revolvimento biológico, a redistribuição das propriedades de
determinado solo devido à atividade biológica que nele ocorre. A atividade biológica é
significativa em sistemas onde os distúrbios no solo não ocorrem repetidamente. De maneira
geral, na medida em que o manejo do solo muda do plantio convencional para plantio direto
haverá um aumento da atividade biológica. O SWAT considera que o revolvimento biológico
pode ocorrer até 300 de mm profundidade, variando de acordo com o tipo de solo.
BLAI
Índice do potencial máximo de área foliar, parâmetro usado para quantificar o
desenvolvimento foliar durante a fase de crescimento da planta. O índice é calculado
dividindo a área foliar pela área ocupada no terreno, sendo necessário montar campos
experimentais para representar a densidade das plantas ou então a o índice de área foliar
máximo, com valores de séries temporais de no mínimo dois anos.
Canmx
Armazenamento máximo do dossel (mm H2O), este parâmetros faz parte dos arquivos
da HRU. O Canmx é a quantidade máxima de água que pode ser retida no dossel, quando este
está totalmente desenvolvido. O dossel das plantas afeta significativamente a infiltração,
escoamento superficial e evapotranspiração. Quando o escoamento superficial é calculado
pelo método Curva Número a interceptação pelo dossel é agregada as perdas iniciais. A bacia
do Rio Jardim é essencialmente agrícola, mas ainda preserva uma pequena porção com áreas
de vegetação nativa.
CH-K2
119
Condutividade hidráulica efetiva do canal principal, os rios podem ser classificados
em função de sua relação como escoamento de base. O rio que perde água para o subsolo
denomina-se influente, o que recebe água subterrânea é classificado em efluente. E existem
rios que recebem água subterrânea e perdem água, mutuamente, sendo denominados flow-
through stream. Para rios perenes e que recebem constantemente água do escoamento de base
a condutividade hidráulica será igual a zero.
CH-N2
Coeficiente de rugosidade de Manning, valor n de Manning para o canal principal.
CN2
Valor do Curva Número (SCS) para a condição de umidade II. O SCS Curva-Número
é uma função de permeabilidade do solo, uso do solo e condições antecedentes de água no
solo. Os valores de CN são tabelados, e são considerados pelo SWAT para uma declividade
de 5%.
Epco
Fator de compensação para absorver água pelas plantas. A quantidade de água
absorvida em um dado dia é função da quantidade demandada pelas plantas e a quantidade de
água disponível ao longo do perfil do solo. Na medida em que o teor de umidade das camadas
superficiais do perfil diminui, as plantas compensam nas camadas mais profundas. Seu valor
varia de 0.01 a 1.0, quando o valor é próximo de 1, o modelo extrai mais de camadas mais
baixas, e quando esse valor se aproxima de 0, o modelo permite uma menor variação, mais
parecida com a distribuição original.
Esco
Fator de compensação da evaporação do solo. Este coeficiente permite a alteração da
distribuição da demanda evaporativa do solo em profundidade, para considerar o efeito de
capilaridade. Seu valor varia de 0.01 a 1.0, quando o valor é reduzido, o modelo extrai mais
da demanda evaporativa de camadas mais baixas (Figura 47).
120
Figura 47: Distribuição da demanda evaporativa do solo em profundidade (Adaptado de Neitsch et al.,
2005b).
GW-delay;
Tempo de atraso da água subterrânea. A água se move para uma profundidade inferior
do perfil de solo por percolação e entra no fluxo através da zona vadosa antes de iniciar a
recarga do aquífero raso. O atraso entre o tempo que a água sai do perfil de solo e entra no
aquífero raso, irá depender da profundidade do lençol freático e das propriedades hidráulicas
da formação geológica das zonas vadosa e de água subterrânea. Esse tempo de retardo não
pode ser medido diretamente, ele pode ser estimado através de simulações da recarga do
aquífero utilizando valores diversos para o tempo de atraso, e comparado com valores
observados ao nível do lençol freático.
GW-QMN
Profundidade limite de água requerida no aquífero raso, para que ocorra o fluxo de
base. O fluxo de água subterrânea só atingirá a superfície se a profundidade da água no
aquífero raso for igual ou superior ao GW-QMN.
GW-revap
Coeficiente "revap" de água subterrânea. A água pode se mover do aquífero raso para
uma zona insaturada sobrejacente. Nos períodos de estiagem, a franja capilar que separa as
zonas saturada e insaturada irá evaporar no sentido de baixo para cima, e assim, na medida em
que a água evapora da franja capilar, o aquífero reabastece a própria franja capilar. A água
também poderá ser retirada de aquíferos por plantas com raízes profundas, principalmente
121
quando a zona saturada estiver próxima da superfície. Devido ao fato do tipo cobertura
vegetal afetar o balanço hidrológico, os parâmetros que governam o Revap podem ser
alterados de acordo com o tipo de uso do solo. Esse parâmetro deve variar ente 0,02 e 0,20.
Na medida em que os valores de Gw_revap se aproximam de 0, o movimento de água de um
aquífero raso para a zona que contêm raízes é restringido, enquanto valores próximos de 1 a
taxa de transferência do aquífero para a zona radicular aproxima-se as taxas de
evapotranspiração potencial.
RCHRG-DP
Fração de percolação para o aquífero profundo. Fração da percolação da zona de raízes
que recarrega o aquífero profundo. O valor para esse parâmetro deve variar entre 0 e 1.
Revapmn
Profundidade limite no aquífero raso para que possa ocorrer "revap" ou percolação. O
movimento de água de um aquífero raso para a zona insaturada é permitida apenas se o
volume de água no aquífero raso for maior ou igual ao Revapmn.
Slope
Declividade média da rampa, parâmetro calculado a partir do modelo digita de
elevação.
Slsubbsn
Comprimento da declividade média, Lslp, deve ser medido do topo da encosta até o
ponto onde o escoamento começa a se concentrar. Terraços podem alterar essa distância, e
assim, a distância horizontal entre cada terraço é definida como o comprimento da declividade
média. O comprimento da declividade média geralmente é superestimado, e o modelo adota
50 como um valor padrão caso não seja inserido nenhum dado, valor assumido para todas
HRUs dentro de cada sub-bacia.
Sol-Alb
Albedo do solo úmido, razão entre a quantidade de energia refletida por um corpo e a
quantidade de radiação incidente, parâmetro importante no processo de evaporação. O valor
atribuído ao albedo deve ser calculado quando o solo estiver próximo ou na capacidade de
campo.
Sol-AWC
Capacidade de água disponível na camada de solo. A água disponível para a planta,
também referida como capacidade de água disponível, é calculada pela subtração da
quantidade de água na capacidade de campo, pela água presente no ponto de murcha.
122
Sol-K
Condutividade hidráulica saturada. Relaciona a taxa do fluxo de água no solo
(densidade do fluxo) com o gradiente hidráulico. É a medida da facilidade do movimento da
água através do perfil de solo. A condutividade hidráulica saturada, Ksat, é recíproca a
resistência da matriz do solo ao fluxo de água.
Sol-Z
Profundidade entre a superfície do solo e a camada mais profunda.
Surlag
Coeficiente de retardo do escoamento superficial. Em grandes sub-bacias com um
tempo de concentração maior que um dia, apenas uma porção do escoamento superficial irá
alcançar o canal principal no dia em que foi gerado. Assim o SWAT armazena parte do
escoamento superficial, para retardar a entrada de água no canal principal. O Surlag controla a
fração de água disponível que irá abastecer o canal diariamente (Figura 48).
Figura 48: Influência do parâmetro Surlag e do tempo de concentração na fração do escoamento
superficial liberado (adaptado de Neithsch et al. 2005b).