DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - repositorio.ufu.br · uberlÂndia, (data da defesa) dissertaÇÃo de...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL N o 115 ESTUDO NUMÉRICO E EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO DE PAINÉIS DUPLOS TRELIÇADOS PREENCHIDOS COM CONCRETO MOLDADO NO LOCAL DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA

    FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA CIVIL

    No 115

    ESTUDO NUMRICO E EXPERIMENTAL DO

    COMPORTAMENTO DE PAINIS DUPLOS

    TRELIADOS PREENCHIDOS COM CONCRETO

    MOLDADO NO LOCAL

    BENCIO DE MORAIS LACERDA

    UBERLNDIA, (data da defesa)

    DISSERTAO DE MESTRADO

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA

    FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA CIVIL

    Bencio de Morais Lacerda

    ESTUDO NUMRICO E EXPERIMENTAL DO

    COMPORTAMENTO DE PAINIS DUPLOS TRELIADOS

    PREENCHIDOS COM CONCRETO MOLDADO NO LOCAL

    Dissertao apresentada Faculdade de Engenharia Civil da

    Universidade Federal de Uberlndia, como parte dos requisitos para a

    obteno do ttulo de Mestre em Engenharia Civil.

    Orientador: Profa. Dra. Maria Cristina Vidigal de Lima

    Co-Orientador: Profa. Dra. Vanessa Cristina de Castilho

    Uberlndia

    2013

  • A Deus, por ter me dado fora,

    paz, sabedoria e inteligncia.

    Aos meus pais, pelo amor,

    exemplo de vida e educao.

  • AAGGRRAADDEECCIIMMEENNTTOOSS

    Agradeo, em primeiro lugar, a Deus, pelo dom da vida, por me conceder sabedoria e inteligncia

    necessria realizao desse trabalho.

    Aos meus pais, pelo total apoio e incentivo para a concretizao da pesquisa estando sempre ao meu

    lado.

    CAPES, pela bolsa de mestrado concedida para a realizao dessa pesquisa.

    Premon Indstria de Pr-Moldados, pelo apoio pesquisa e fornecimento dos painis duplos

    treliado pr-moldados de concreto.

    minha orientadora, professora Maria Cristina, pelas ideias, incentivo e grande envolvimento na

    pesquisa.

    minha co-orientadora Vanessa Cristina e ao professor Francisco Gesualdo, por ter me ajudado

    durante realizao dos ensaios e fornecido informaes importantes para a realizao da

    modelagem numrica no ANSYS.

    Aos meus amigos Mrio Srgio Samora, Mohammed Adel, ngela Arruda, Cristiane Pires, Thiago

    Ribeiro e Monise Ramos, pelo incentivo e apoio necessrio para a concluso da pesquisa.

    Aos funcionrios da Faculdade de Engenharia Civil, secretaria, tcnicos pela colaborao direta ou

    indireta realizao desse trabalho.

    Universidade Federal de Uberlndia e Faculdade de Engenharia Civil por fornecerem a

    estrutura necessria realizao dessa pesquisa.

  • LACERDA, B. M. Estudo numrico e experimental do comportamento de painis duplos

    treliados preenchidos com concreto moldado no local. Dissertao (Mestrado), Faculdade de

    Engenharia Civil, Universidade Federal de Uberlndia, 2013. 180 p.

    Resumo

    Diante do amplo cenrio de crescimento do setor da construo civil, novos processos construtivos

    esto sendo empregados para obras de pequeno e mdio porte, como o caso de sistemas formados

    por painis duplos treliados pr-moldados de concreto preenchidos com concreto moldado no

    local. Este estudo buscou investigar experimentalmente e numericamente os fatores que interferem

    na resistncia ao cisalhamento da interface entre concretos moldados em diferentes idades. Os

    modelos foram submetidos ao cisalhamento direto e cisalhamento na flexo. O programa

    experimental consistiu no ensaio de 26 modelos submetidos ao cisalhamento direto com a largura

    do concreto de preenchimento variando de 7 cm, 9 cm e 13 cm, possuindo interfaces lisas e rugosas

    alm, de diferentes resistncias compresso do concreto de preenchimento. Tambm foram

    ensaiadas duas vigas de 3 m de comprimento sob cisalhamento na flexo. Na modelagem numrica

    foram utilizados elementos finitos slidos, elementos de barras e elementos de contato com anlise

    no linear fsica dos materiais envolvidos. Os resultados do estudo do comportamento dos modelos

    sob cisalhamento direto mostraram que a presena da armadura que cruza a interface, a resistncia

    compresso dos concretos envolvidos, a rugosidade e a menor relao entre a largura da regio de

    preenchimento de concreto e da regio de concreto pr-moldado melhoram o comportamento do

    elemento estrutural. Em geral, os modelos de interfaces lisas deslizaram na ordem de 10-2

    mm,

    enquanto os modelos de superfcies rugosas ficaram na ordem de 10-3

    mm. Numericamente, houve

    um ganho na resistncia cisalhante de 36,61% ao elevar a resistncia compresso na regio de

    preenchimento do concreto de 20 MPa para 28,4 MPa, para os modelos de interfaces lisas. Quanto

    contribuio da armadura, os modelos com trelia e sem estribos resistiram 71 % da fora de

    ruptura dos modelos com todas as armaduras. Esse ndice reduziu para 40 % para os modelos com

    apenas estribos e sem trelia. As vigas sob cisalhamento na flexo se comportaram como modelos

    monolticos, sem deslizamento de interface e apresentaram fissuras distribudas nas regies de

    concentraes dos estribos sob grandes deformaes.

    Palavras-chave: modelagem numrica, painis duplos treliados, cisalhamento direto,

    cisalhamento na flexo, anlise no linear.

  • LACERDA, B. M. Numerical and experimental study of the behavior of double panels lattice filled

    with concrete cast in place. Master's Thesis, School of Civil Engineering, Federal University of

    Uberlndia, 2013. 180 p.

    Abstract

    In front of a large growth scenario in the civil construction industry, new constructive processes are

    being used for construction of small and medium size structures, as is the case of systems formed by

    double precast concrete panels lattice filled with concrete cast in place. This study aimed to

    investigate experimentally and numerically, the factors that affected the shear strength on the

    interface between concrete cast at different ages. The models were subjected to a direct shear and

    shear in bending. In experimental program was tested 26 models subject to a direct shear taking into

    account different widths of concrete filling as 7 cm, 9 cm and 13 cm, with smooth and rough

    interfaces, as well as different the concrete of compressive strength. Also were tested two beams

    with 3 m of span under shear in bending. In numerical modeling were used finite solids elements,

    bar elements and contact elements with physical nonlinear analysis. The models results under direct

    shear showed that the reinforcement amount which crosses the interface, the concrete compressive

    strength, the interface surface and a lowest ratio between the widths of the filling region of concrete

    and precast concrete improves the behavior of the structural element. In general, the models with

    smooth interface slided in the order of 10-2

    mm while the rough surfaces models were in the order

    of 10-3

    mm. Numerically, there was a gain in the shear strength of 36,61% by increasing the

    compressive strength of the filling concrete region's of 20 MPa to 28,4 MPa for smooth interface

    models. The models with truss and without stirrups resisted 71% of the breaking strength of models

    with all reinforcement. This rate dropped to 40% for the models with stirrups and without truss

    connection. The beams under shear in bending behaved as the monolithic models without sliding

    interface and presented cracks distributed in the region of concentrations of the stirrups under large

    deformations.

    Keywords: numerical modeling, double panels lattice, direct shear, shear in bending, nonlinear

    analysis.

  • SSMMBBOOLLOOSS,, AABBRREEVVIIAATTUURRAASS EE SSIIGGLLAASS

    Letras romanas

    swA rea da armadura transversal que atravessa a interface;

    As rea do ao;

    bint largura da interface;

    N fora axial;

    F fora externa;

    Fmd valor mdio da fora de compresso ou de trao acima da ligao;

    fcc resistncia compresso mdia do concreto em corpos de prova cilndrico;

    fcd resistncia de clculo compresso do concreto;

    fck resistncia caracterstica compresso do concreto;

    ctf resistncia trao do concreto;

    fyd resistncia de clculo do ao;

    fy resistncia de escoamento do ao;

    Icom momento de inrcia da seo homogeneizada;

    lv distncia entre pontos de momentos nulos e mximos na pea;

    w distncia de separao entre as superfcies ou abertura de fissuras;

    Rc resultante das tenses de compresso;

    Rt resultante das tenses de trao;

    h altura total da pea de concreto;

    zc,loc distncia entre a resultante das tenses normais Rc e Rt

    Sc,loc momento esttico em relao ao CG da seo;

    V fora cortante;

    Letras gregas

    coeficiente de minorao;

    deslizamento relativo entre superfcies;

    coeficiente de reduo de resistncia;

  • fator de correo que leva em conta a densidade do concreto;

    sw taxa geomtrica da armadura transversal;

    tenso de cisalhamento transmitida pela interface;

    c tenso de coeso entre as interfaces de concreto

    Sd tenso de cisalhamento solicitante de clculo;

    u tenso mxima de cisalhamento;

    n tenso normal;

    coeficiente de atrito interno;

    coeficiente relativo fora axial

    Sub-ndices gerais

    c concreto; coeso

    d clculo;

    e efetivo;

    hor horizontal;

    int interface;

    k valor caracterstico;

    loc local;

    n nominal;

    pr pr-moldado;

    s ao; solicitante

    u ltima;

    Siglas

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas;

    ACI American Concrete Institute;

    CEB Comit Euro-International Du Bton;

    FIP Fdration Internationale De La Prcontrainte;

    FIB Fdration Internationale Du Bton;

    PCI Precast Concrete Institute

  • SSUUMMRRIIOO

    CAPTULO 1 INTRODUO ...................................................................................................... 11 1.1 Consideraes preliminares ...................................................................................................... 11 1.2 Painis duplos treliados ........................................................................................................... 12 1.3 Justificativa da pesquisa ............................................................................................................ 16 1.4 Objetivos ................................................................................................................................... 16

    CAPTULO 2 REVISO BIBLIOGRFICA ................................................................................ 17 2.1 Consideraes iniciais ............................................................................................................... 17

    2.2 Mecanismos de transferncia por contato entre superfcies ...................................................... 17 2.2.1 Transferncia pela armadura transversal interface .......................................................................... 19 2.3 Resistncia ao cisalhamento na interface entre concretos ........................................................ 20

    2.3.1 Fatores que influenciam a resistncia ao cisalhamento na interface entre concretos ................................. 22

    2.3.2 Classificao da superfcie quanto rugosidade ............................................................................... 23

    2.4 Tenses cisalhantes na interface de elementos fletidos ............................................................ 24 2.5 Resistncia tenso cisalhante na interface de elementos fletidos ........................................... 27

    2.5.1 Conforme a ABNT NBR 9062:2006 .............................................................................................. 27

    2.5.2 Conforme o PCI ........................................................................................................................ 28 2.5.3 Conforme a FIB MC 2010 ........................................................................................................... 31

    2.6 Modelo de atrito-cisalhamento .................................................................................................. 34 2.7 Estudos sobre transferncia e resistncia ao cisalhamento ....................................................... 36

    2.7.1 Ensaios realizados por Hofbeck, Ibrahim e Mattock (1969) ................................................................ 36 2.7.2 Ensaios realizados por Hawkins e Mattock (1972) ............................................................................ 38 2.7.3 Ensaios realizados por Bass, Carrasquillo e Jirsa (1989) .................................................................... 43

    2.7.4 Ensaios realizados por Loov e Patnaik (1994) .................................................................................. 49 2.7.5 Ensaios realizados por Arajo (1997) ............................................................................................. 53

    2.7.6 Ensaios realizados por Kabir (2005) .............................................................................................. 58 2.7.7 Ensaios realizados por Banayoune et al. (2008) ............................................................................... 64 2.8 Equaes de transferncia do esforo de cisalhamento ............................................................ 74

    CAPTULO 3 PROGRAMA EXPERIMENTAL........................................................................... 77 3.1 Introduo ................................................................................................................................. 77 3.2 Painis duplos treliados sob cisalhamento direto .................................................................... 77 3.3 Painis duplos treliados sob cisalhamento na flexo .............................................................. 80

    3.4 Materiais constituintes .............................................................................................................. 81 3.4.1 Concreto .................................................................................................................................. 81 3.4.2 Ao ......................................................................................................................................... 82

    3.5 Frmas e Concretagem .............................................................................................................. 83 3.6 Metodologia de ensaio .............................................................................................................. 84

    3.6.1 Ensaio dos painis duplos treliados sob cisalhamento direto.............................................................. 84 3.6.2 Comparao entre os resultados experimentais dos modelos sob cisalhamento direto .............................. 86 3.6.3 Ensaio dos painis duplos treliados sob cisalhamento na flexo ......................................................... 88

    3.6.4 Comparao entre os resultados experimentais dos modelos sob cisalhamento na flexo .......................... 89

  • CAPTULO 4 MODELAGEM NUMRICA................................................................................. 91

    4.1 Consideraes gerais sobre a modelagem numrica ................................................................. 91 4.2 Breve reviso terica sobre o mtodo dos elementos finitos .................................................... 91 4.3 Conceitos relativos no linearidade ........................................................................................ 92

    4.3.1 No linearidade fsica ................................................................................................................. 94 4.3.2 Comportamento no linear fsico do ao ......................................................................................... 94

    4.3.3 Comportamento no linear fsico do concreto .................................................................................. 95 4.4 Elementos finitos utilizados na modelagem numrica .............................................................. 97 4.5 Modelos constitutivos para anlise no linear fsica no ANSYS ............................................ 101 4.6 Discretizao dos modelos estruturais formados de painis duplos treliados

    sob cisalhamento direto ........................................................................................................... 104

    4.7 Consideraes sobre a aplicao do carregamento e condies de contorno dos modelos

    numricos sob cisalhamento direto ......................................................................................... 106

    4.8 Anlise dos resultados numricos dos modelos estruturais formados de painis duplos

    treliados sob cisalhamento direto .......................................................................................... 108 4.8.1 Influncia das condies de contorno na resistncia ao cisalhamento direto ......................................... 108 4.8.2 Influncia da rugosidade da interface e da resistncia do concreto moldado no local na resistncia ao

    cisalhamento direto .................................................................................................................. 112 4.8.3 Influncia da variao da largura interna da regio de preenchimento do CML na resistncia ao

    cisalhamento direto .................................................................................................................. 116 4.8.4 Influncia do efeito de pino na resistncia ao cisalhamento direto ...................................................... 119

    4.9 Anlise de tenses e quadro de fissurao dos painis duplos treliados sob

    cisalhamento direto ................................................................................................................ 121

    4.10 Discretizao das vigas formadas por painis duplos treliados sob cisalhamento

    na flexo ................................................................................................................................ 126 4.11 Consideraes sobre a aplicao do carregamento e condies de apoio das vigas sob

    cisalhamento na flexo .......................................................................................................... 127

    4.12 Anlise de tenses e quadro de fissurao das vigas sob cisalhamento na flexo ................ 128

    CAPTULO 5 ANLISES DOS RESULTADOS ....................................................................... 135

    5.1 Introduo ............................................................................................................................... 135 5.2 Anlise dos resultados dos modelos sob cisalhamento direto ................................................. 135

    5.3 Resistncia ao cisalhamento dos modelos sob cisalhamento direto ....................................... 144 5.4 Fora de ruptura e deslizamentos superficiais relativos nas ligaes das vigas sob

    cisalhamento na flexo ............................................................................................................ 152

    5.5 Resistncia ao cisalhamento das vigas sob cisalhamento na flexo ....................................... 153

    CAPTULO 6 CONCLUSES ..................................................................................................... 161

    6.1 Consideraes finais e Concluses ......................................................................................... 161

    6.2 Sugestes para trabalhos futuros ............................................................................................. 164

    Referncias ....................................................................................................................................... 165

    Apndice A ...................................................................................................................................... 169

  • Captulo 1 Introduo 11

    CCAAPPTTUULLOO 11

    IINNTTRROODDUUOO

    1.1 Consideraes preliminares

    Diante do amplo cenrio de crescimento da construo civil no pas, observa-se o

    aumento de pesquisas e inovaes tecnolgicas de sistemas estruturais para otimizao

    dos processos construtivos.

    Um sistema estrutural que est sendo cada vez mais empregado nos projetos de obras de

    grande e de pequeno porte so as estruturas formadas por componentes pr-moldados de

    concreto. O uso de elementos pr-moldados tem demonstrado gerar rapidez na execuo

    de obra, diminuio de frmas e interao da estrutura com outros tipos de sistemas

    estruturais.

    De acordo com a ABNT NBR 6118:2007, durante as etapas de construo e de servio

    (utilizao da edificao) nas estruturas de concreto, devem ser atendidas as exigncias

    que garantem a qualidade estrutural tais como: resistncia estrutural, desempenho em

    servio e durabilidade das estruturas.

    Segundo El Debs (2000), a pr-moldagem em concreto consiste em um processo

    construtivo em que parte da obra moldada fora de seu local definitivo de utilizao.

    De acordo com a ABNT NBR 9062:2006, elementos pr-moldados so aqueles

    previamente moldados fora do local de utilizao definitiva da obra. Elementos pr-

    fabricados so elementos produzidos em escalas industriais com rigoroso controle de

    qualidade. As principais diferenas entre elementos estruturais de concreto pr-moldado

    e elementos de concreto moldados no local, segundo El Debs (2000), consistem nas

    facilidades de manuseio e transporte dos elementos pr-moldados alm das facilidades

    de montagem e execuo das ligaes destes elementos para formar a estrutura. Essas

    ligaes, de acordo com Migliore Junior (2005), governam os aspectos econmicos da

    obra por influenciarem na estabilidade da estrutura, alm de garantir a sua rigidez.

    Segundo Arajo (2002), quando os elementos pr-moldados de concreto so

  • Captulo 1 Introduo 12

    preenchidos com concreto moldado no local, estes elementos recebem o nome de peas

    compostas (de seo parcial). A ABNT NBR 9062:2006 define elemento estrutural de

    seo parcial como elementos de concreto interligados por meio de moldagem distinta,

    e que atua como pea nica, submetida a efeito de aes impostas aps a sua

    solidarizao. Um exemplo da utilizao de peas compostas pode ser vistas no

    emprego de pontes, cuja laje da ponte de concreto moldado no local e suas vigas de

    sustentao so elementos de concreto pr-moldados.

    As peas de seo parcial so utilizadas por reduzirem o consumo de frmas e

    escoramentos e uma opo para peas com menor peso, viabilizando o transporte na

    montagem. Recentemente elas esto sendo empregadas no cenrio da construo civil

    como painis duplos treliados, foco principal deste trabalho, em obras de pequeno

    porte. No entanto, embora este trabalho investigue o comportamento desses painis

    duplos treliados, importante saber que no est restrito somente a esta aplicao e

    pode ser utilizado em painis de maiores dimenses. Sabe-se que alguns parmetros

    referentes s suas propriedades mecnicas ainda so desconhecidos. Estes parmetros

    servem de referencial tcnico para a elaborao de um projeto bem sucedido.

    1.2 Painis duplos treliados

    O painel duplo treliado constitudo de duas placas de concreto pr-moldado com

    espessura da ordem de 3 a 3,5 cm e altura de 25 cm. As placas so interligadas por meio

    de uma armao treliada eletrossoldada, cuja distncia entre as placas variam conforme

    a exigncia do projeto (Figura 1.1).

    Figura 1.1 Detalhe do painel duplo treliado

    Fonte: Autor

    Trelia

    Pr-moldado

  • Captulo 1 Introduo 13

    Algumas das vantagens de se utilizar este sistema estrutural em obras, com base na

    publicao de El Debs (2000) so: maior velocidade de produo da obra; reduo no

    consumo de concreto; diminuio de gasto com armadores e carpinteiros, uma vez que o

    painel serve como frma; reduo significativa de madeira e de escoramentos; reduo

    de resduos gerados durante a etapa construtiva, o que garante maior economia de custos

    quanto limpeza da obra. Conforme alguns fabricantes produtores dos painis

    treliados pr-moldados de concreto, a sua montagem pode ser feita pelos prprios

    trabalhadores da obra.

    Porm, os elementos formados por painis duplos treliados possuem limitao quanto

    forma, por exemplo, o caso de peas curvas e ao tamanho, pelo fato da montagem ser

    manual, pois, uma pea de maior peso dificultaria o processo.

    A ligao dos painis duplos treliados feita com a utilizao do concreto moldado no

    local, por ser uma ligao mais simples de se executar. De acordo com Arajo (2002),

    deve ser feita uma avaliao quanto ao comportamento dessas ligaes, na interface dos

    concretos, uma vez que, por possurem caractersticas e idades diferentes, podem

    influenciar no seu comportamento mecnico, como por exemplo, na transferncia de

    esforos de cisalhamentos na interface.

    Outro parmetro que pode influenciar no comportamento mecnico do sistema a

    largura entre os painis, a resistncia caracterstica compresso (fck) do concreto

    moldado no local utilizado para realizar a ligao, alm da rugosidade superficial dos

    painis pr-moldados.

    De acordo com Acker (2002), os fabricantes de elementos pr-moldados adotam uma

    variao de sees transversais e padronizam as outras dimenses da pea. Esta

    padronizao permite aos projetistas selecionarem qual a pea mais adequada a ser

    empregada na obra, respeitando limites de comprimento, largura e capacidade de

    carregamento.

    Os painis pr-moldados apresentam em sua fabricao, espessuras fixas, porm, a

    altura e a sua largura apresentam dimenses variadas. A concretagem de cada uma das

  • Captulo 1 Introduo 14

    faces dos painis duplos ocorre em um intervalo de 24 horas aps a concretagem da

    face anterior.

    Para avaliar os benefcios econmicos do emprego desse sistema estrutural, deve ser

    feito levantamento de custos que envolvem desde o processo de fabricao at o destino

    final na obra, o que inclui as etapas de transporte e solidarizao da pea em seu local

    definitivo de utilizao. De acordo com El Debs (2000), os elementos pr-moldados

    que so solidarizados por meio do preenchimento de concreto moldado no local, so

    definidos como elementos pr-moldados de seo parcial.

    Os elementos estruturais formados por painis duplos treliados de concreto vm

    ganhando espao no setor da construo civil e so comumente empregados em escadas,

    pontes, cortinas, obras comerciais e residenciais. Esses elementos podem ser designados

    por: painis duplos em cortina (Figura 1.2a), pr-pilares (Figura 1.2b), pr-baldrames

    (Figura 1.2c) e pr-vigas (Figura 1.2d), sendo considerados como elementos de seo

    parcial. Aps a solidarizao, o comportamento estrutural influenciado pela

    transferncia de esforos cisalhantes em sua interface. Com a solidarizao do painel

    duplo treliado pode ocorrer retrao diferencial e fluncia no concreto pr-moldado e

    concreto moldado no local, uma vez que, possuem idades e caractersticas diferentes. A

    aderncia entre as superfcies de contato um parmetro importante a ser investigado,

    pois, influencia na transferncia de esforos de cisalhamento em sua interface.

    Figura 1.2 Aplicao de painis duplos em cortinas, pilares baldrames e pilares a) Painis duplos em cortina

    b) Pr-pilares

    c) Pr-baldrames

    d) Pr-vigas

    Fonte: Autor

  • Captulo 1 Introduo 15

    De acordo com El Debs (2000), uma seo considerada composta (Figura 1.3), no

    caso de no ocorrer deslizamentos relativos entre as peas na superfcie da interface.

    Figura 1.3 Transferncia de cisalhamento horizontal na interface da seo composta sem deslocamento

    a) Viga de seo composta

    b) Viga sem deslocamento relativo

    Fonte: Adaptado de El Debs (2000)

    Caso haja deslocamento relativo da viga (Figura 1.4), pelo fato dos concretos possurem

    caractersticas diferentes, o efeito da maior retrao do concreto moldado no local

    colabora para que ocorra deformao ao cisalhamento na interface da ligao. Em

    ambos os casos, devem ser levados em considerao na anlise da seo composta, os

    diferentes mdulos de elasticidades do material.

    Figura 1.4 Transferncia de cisalhamento horizontal na interface da seo composta com deslocamento

    a) Viga de seo composta

    b) Viga com deslocamento relativo

    Fonte: Adaptado de El Debs (2000)

    Moldado no local Pr-moldado

    Fora

    Moldado no local Pr-moldado

    Fora

    Transferncia de cisalhamento

    Transferncia de cisalhamento Deslocamento entre concretos

  • Captulo 1 Introduo 16

    1.3 Justificativa da pesquisa

    Apesar dos elementos formados da associao de concreto pr-moldado e concreto

    moldado no local serem utilizados com frequncia nas obras, existem poucos

    referenciais tcnicos quanto ao seu comportamento estrutural. Observa-se que, neste

    tipo de associao h uma transferncia de esforos cisalhantes pela interface e pouco se

    conhece sobre sua resistncia mecnica.

    Existem vrios trabalhos cientficos relacionados ao tema, porm, nestes trabalhos seus

    estudos baseiam-se no comportamento do cisalhamento direto na interface dos

    elementos que so constitudos de sistemas estruturais mistos como, por exemplo, lajes

    de concreto e vigas de ao e estruturas de vigas de concreto moldado no local e lajes

    pr-moldadas de concreto. No entanto, no existem trabalhos cientficos mais

    detalhados sobre o comportamento estrutural das edificaes que utilizam os painis

    duplos treliados. Entende-se que aps a anlise de comportamento estrutural do objeto

    em estudo, este trabalho pode oferecer parmetros importantes ao meio tcnico.

    1.4 Objetivos

    O objetivo geral estudar o comportamento estrutural de painis duplos treliados pr-

    moldados de concreto por meio de modelagem numrica e anlise experimental, a fim

    de entender se estes componentes comportam-se de forma monoltica.

    Os objetivos especficos consistem em:

    a) Analisar a resposta estrutural na interface do painel duplo treliado preenchido com

    concreto moldado no local, levando-se em conta, a variao da largura do concreto de

    preenchimento, a resistncia compresso dos concretos e a rugosidade na interface da

    ligao;

    b) Avaliar o comportamento mecnico de duas vigas formadas por painel duplo

    treliado pr-moldado de concreto preenchido com concreto moldado no local

    submetidas flexo.

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 17

    CCAAPPTTUULLOO 22

    RREEVVIISSOO BBIIBBLLIIOOGGRRFFIICCAA

    2.1 Consideraes iniciais

    Este captulo apresenta, de forma resumida, o fenmeno de transferncia de esforo

    cisalhante em interfaces de concreto armado, suas propriedades mecnicas e

    classificao das superfcies de contato. Em seguida, apresentado o mecanismo de

    resistncia de tenses de cisalhamentos em elementos fletidos. Ao final, so mostrados

    resultados de trabalhos experimentais sobre cisalhamento direto em peas de concreto

    armado tais como blocos, vigas e painis sanduches, alm de equaes relativas

    transferncia do esforo cisalhante.

    2.2 Mecanismos de transferncia por contato entre superfcies

    A transferncia do esforo cisalhante na superfcie de contato entre dois materiais de

    concreto ocorre pela aderncia e pode ser dividida em:

    a) Aderncia por adeso

    Trata-se do primeiro mecanismo a ser mobilizado na interface entre as peas de

    concreto quando h esforo cortante. Este mecanismo depende do tipo de superfcie:

    lisa ou rugosa.

    Nas estruturas de vigas de concreto armado, Leonhardt e Mnnig (2008) explicam que a

    aderncia por adeso ocorre devido iterao entre o ao e a nata de cimento por uma

    ao de colagem. Essa interao depende da rugosidade e da limpeza da superfcie das

    armaduras.

    b) Aderncia por atrito

    Aps o rompimento do mecanismo de adeso, a resistncia da interface da pea pode

    ser garantida pelo atrito existente entre as superfcies de contato. Isto ocorre quando h

    um deslizamento pequeno na interface da pea devido existncia de tenses

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 18

    transversais. Essas tenses transversais surgem devido aplicao de presses entre os

    materiais (Figura 2.1).

    De acordo com Leonhardt e Mnnig (2008), as presses nas peas de concreto armado

    podem ocorrer devido s foras externas, pela retrao ou pela expanso do concreto na

    pea. O coeficiente de atrito pode variar de 0,3 a 0,6 dependendo da rugosidade

    superficial do ao. Essa parcela de transferncia de esforos na interface por atrito

    diretamente influenciada pela rugosidade da superfcie. Dessa forma, a rugosidade um

    fator importante a ser considerado na resistncia por atrito.

    Figura 2.1 Transferncia por atrito

    Fonte: Adaptado de Risso (2008)

    c) Aderncia por ao mecnica

    A transferncia de esforos por ao mecnica ocorre quando h deslizamentos relativos

    entre duas superfcies de contato. Esta forma de transferncia ocorre por meio do

    engrenamento mecnico e que forma um dente, quando esses deslizamentos so

    solicitados ao cisalhamento. Nas superfcies rugosas o engrenamento mecnico

    garantido pelo agregado grado que atravessa essa interface conforme mostra a Figura

    2.2.

    Figura 2.2 Transferncia mecnica

    Fonte: Adaptado de Risso (2008)

    Pasta de

    cimento Engrenamento

    dos agregados

    Valor da abertura de fissuras

    Deslizamento relativo entre superfcies

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 19

    Em resumo, ao efetuar a ligao entre concretos, a aderncia por adeso o primeiro

    mecanismo de resistncia que aparece nas superfcies de contatos. medida que a

    solicitao na estrutura se eleva, ocorre um aumento do esforo cortante, que pode gerar

    fissuras na interface de contato seguido de um deslizamento relativo. A partir desse

    momento, a transferncia de esforos garantida pela ao do atrito e pela ao

    mecnica.

    2.2.1 Transferncia pela armadura transversal interface

    Quando ocorre um deslizamento em uma superfcie estando em contato, a armadura

    transversal, existente na interface, colabora na transferncia de tenses de cisalhamento

    por efeito de pino. Segundo Arajo (2002), a resistncia por ao do pino devida

    armadura transversal, geralmente, apresenta valores muito inferiores s parcelas de

    atrito e ao mecnica. Essa armadura transversal tem a funo de aumentar a

    resistncia por atrito entre as superfcies quando aplicada uma fora normal interface.

    Se a superfcie for rugosa, poder ocorrer um afastamento transversal que somado ao

    deslizamento entre as superfcies pode provocar um alongamento da armadura (Figura

    2.3). Ao ocorrer este processo, a resistncia por atrito entre as superfcies de contato

    aumenta devido reao da armadura, criando-se uma tenso normal de compresso na

    interface.

    Figura 2.3 Aumento da resistncia por atrito pela colaborao da armadura transversal

    Fonte: Adaptado de Risso (2008)

    Armadura transversal

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 20

    Arajo (2002) explica que deve ser definida claramente uma interface para peas de

    concreto com alta concentrao de armaduras normais ao plano da interface e

    submetidas a esforos tangenciais. Caso no haja essa preocupao, inmeras fissuras

    inclinadas ao plano de cisalhamento sero formadas (Figura 2.4).

    Figura 2.4 Ruptura na interface do concreto pelo esmagamento das bielas de compresso

    Fonte: Adaptado de Arajo (2002)

    2.3 Resistncia ao cisalhamento na interface entre concretos

    Os primeiros estudos sobre a resistncia ao cisalhamento na interface entre concretos

    foram realizados entre vigas pr-moldadas e lajes moldadas no local. Estes estudos

    foram baseados nas pesquisas de Hanson (1960), alm de ensaios de compresso

    realizados por Kriz e Raths (1965), Birkeland e Birkeland (1966), Mast (1968) e

    Hofbeck, Ibrahim e Mattock (1969).

    Walraven e Reinhardt (1981) realizaram extensivas anlises estatsticas de resultados de

    ensaios de compresso e estudaram a influncia do engrenamento dos agregados na

    resistncia ao cisalhamento em interfaces de concreto. Foram sugeridas equaes que

    fornecessem bons ajustes sobre a transferncia do esforo cisalhante, porm, no foram

    convenientes para serem aplicadas em projetos estruturais.

    Hsu, Mau e Chen (1987) sugeriram uma equao simplificada que poderia ser

    empregada em projetos estruturais, aps estudarem um modelo para a transferncia de

    cisalhamento em planos sem fissurao prvia. Esse modelo foi baseado na teoria de

    Fissuras

    Interface

    Armadura

    transversal

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 21

    biela e tirante de corpos de prova submetidos tenso de cisalhamento direto. Foi

    considerado que no plano no inicialmente fissurado existiram campos de tenses

    uniformes de trao e de compresso. A ruptura por cortante ocorreu aps a formao

    de fissuras inclinadas em relao a esse plano.

    A resistncia ao cisalhamento varia diretamente com a quantidade de armaduras que

    atravessam a interface. Equaes parablicas referentes transferncia do esforo

    cisalhante na interface foram sugeridas por Loov e Patnaik (1994) baseado no relatrio

    de Shaikh (1978).

    Para explicar o mecanismo de transferncia de esforo de cisalhamento na interface,

    Arajo (2002) descreveu que ao aplicar uma presso externa no elemento estrutural,

    surgem foras horizontais paralelas (Fhor) s interfaces. Essas interfaces deslizam umas

    em relao s outras e, dessa forma, provoca trao na armadura transversal. A

    resistncia dessa interface foi avaliada pelo produto dessa fora normal por um

    coeficiente de atrito interno () aparente, conforme mostrado na Figura 2.5.

    Existem fatores que influenciam na resistncia ao esforo de cisalhamento, tais como:

    resistncia do concreto, aderncia por superfcie de contato, rugosidade da superfcie de

    contato, dentes de cisalhamento, armadura que cruza a interface, tenso normal

    interface e ao cclica.

    Figura 2.5 Mecanismos resistentes interface de concreto

    Fonte: Arajo (2002)

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 22

    2.3.1 Fatores que influenciam a resistncia ao cisalhamento na

    interface entre concretos

    Com base em El Debs (2000), Risso (2008) e Sahb (2008) os principais fatores que

    influenciam a resistncia ao cisalhamento da interface entre dois concretos so:

    a) Resistncia do concreto

    O aumento da resistncia dos concretos em contato resulta em maior resistncia da

    interface ao cisalhamento. Sabe-se que em uma pea composta por concretos de

    diferentes idades, a resistncia da interface governada pelo concreto de menor

    resistncia caracterstica (fck).

    b) Aderncia da superfcie de contato

    Peas que apresentam aderncia na superfcie de contato podem possuir um

    comportamento idntico a de um elemento monoltico. A resistncia ao cortante sofre

    uma reduo significativa, caso no haja aderncia na superfcie de contato e, dessa

    forma, o deslizamento da interface ocorre a partir do incio do carregamento.

    c) Rugosidade da superfcie de contato

    Uma superfcie rugosa pode apresentar maior resistncia ao deslizamento na interface

    do que uma superfcie lisa. Isto ocorre devido presena de irregularidades na

    superfcie de contato, o que dificulta o deslizamento. Existem tambm a possibilidade

    da execuo de chaves de cisalhamento na interface dos materiais. Essas chaves

    apresentam funes semelhantes ao de superfcies rugosas, sendo que a diferena est

    na transmisso de cortante nas regies dos dentes.

    d) Armadura que cruza a interface

    Para estados limites ltimos, a resistncia da interface influenciada pela taxa de

    armadura e pela resistncia da armadura transversal, pois, a resistncia ao atrito pode ser

    aumentada devido ao efeito do pino. Para baixas taxas de armaduras, haver pouca

    contribuio em ganho de resistncia ao cisalhamento.

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 23

    e) Tenso normal interface

    Quando existe tenso normal de compresso, ocorre um aumento de resistncia ao

    cisalhamento por mobilizar a transferncia por atrito.

    f) Aes cclicas

    H a reduo da resistncia ao cisalhamento na ocorrncia de alternncia de tenses

    cisalhantes devido s aes repetitivas.

    2.3.2 Classificao da superfcie quanto rugosidade

    A rugosidade um dos principais fatores que influencia na resistncia ao cisalhamento

    entre interfaces de concreto. Segundo El Debs (2000), quanto maior for a rugosidade da

    interface, menor o deslocamento superficial, pois a rea de contato na regio entre os

    concretos maior.

    A ABNT NBR 9062:2006 define rugosidade como salincias e reentrncias originadas

    de processos de moldagem do concreto, a fim de criar irregularidades na superfcie do

    elemento. Pode ser medida pela relao entre as alturas das salincias ou reentrncias e

    a sua extenso. Possui profundidade mnima de 0,5 cm para cada 3,0 cm de extenso.

    A Fdration Internationale De La Prcontrainte (FIP, 1982) estabelece os seguintes

    nveis de rugosidades:

    Nvel 1 Superfcie bastante lisa, obtida do uso de frmas metlicas ou de madeira

    plastificada durante o processo de moldagem;

    Nvel 2 Superfcie que passou por alisamento chegando a um nvel semelhante ao do

    Nvel 1;

    Nvel 3 Superfcie que foi alisada, porm, apresenta pequenas ondulaes devido

    presena de finos do agregado na superfcie;

    Nvel 4 Superfcie executada com rguas vibratrias;

    Nvel 5 Superfcie elaborada por um processo de extruso;

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 24

    Nvel 6 Superfcie texturizada, cujo concreto em estado fresco passou por um

    processo de escovamento;

    Nvel 7 Superfcie com a mesma caracterstica do nvel 6, porm, h uma maior

    intensificao de sua textura;

    Nvel 8 Superfcie devidamente vibrada sem apresentar superfcie lisa ou agregados

    grados expostos;

    Nvel 9 Superfcie com agregados grados expostos pelo jateamento de gua no

    concreto em estado fresco;

    Nvel 10 Superfcie intencionalmente rugosa.

    Devido difcil quantificao e aplicao no projeto a cada um desses nveis, El Debs

    (2000) apresenta a diviso das superfcies nos seguintes casos bsicos:

    a Superfcie lisa: correspondem aos Nveis 1 e 2;

    b Superfcie naturalmente rugosa: correspondem aos Nveis 3 a 6;

    c Superfcie intencionalmente rugosa: correspondem aos Nveis 7 a 10.

    Como observado, a rugosidade um fator importante a ser considerado na execuo de

    um projeto bem sucedido, pois influencia diretamente na resistncia da interface entre

    concretos. No entanto, devem ser feitos nos projetos a correta execuo de sua interface

    e definio das tenses de cisalhamento atuantes nessa interface.

    2.4 Tenses cisalhantes na interface de elementos fletidos

    De acordo com El Debs (2000), para calcular as tenses de cisalhamento na interface

    em elementos fletidos, pode-se considerar o estado no fissurado (estdio I), ou, o

    estado fissurado (estdios II e III).

    a) Estado no fissurado

    Para um material homogneo no regime elstico-linear (Figura 2.6), a seguinte

    expresso pode ser utilizada para o clculo da tenso de cisalhamento:

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 25

    int

    ,

    bI

    SV

    com

    locc

    (2.1)

    onde:

    V: fora cortante na seo;

    Sc,loc: momento esttico de Ac,loc em relao ao CG da seo;

    Ac,loc: rea do concreto moldado no local;

    Icom: momento de inrcia da seo homogeneizada, s quais se consideram os diferentes

    mdulos de elasticidades dos concretos;

    bint: largura da interface.

    Figura 2.6 Distribuio de tenses na interface entre concreto pr-moldado e concreto moldado no local

    no estado no fissurado

    Fonte: El Debs (2000)

    onde:

    Rc,loc: resultante das tenses de compresso no concreto moldado no local;

    Rc,pre: resultante das tenses de compresso no concreto pr-moldado;

    Rc: resultante das tenses de compresso;

    Rt: resultante das tenses de trao;

    h: altura total da pea de concreto;

    zc,loc: distncia entre a resultante das tenses normais Rc e Rt;

    As: rea da armadura;

    Tenses Normais Tenses de

    Cisalhamento

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 26

    Ac,pre: rea do concreto pr-moldado;

    Ac,loc: rea do concreto moldado no local.

    Fazendo:

    locc

    comlocc

    S

    Iz

    ,

    , (2.2)

    Substituindo a Equao (2.2) em (2.1), a tenso de cisalhamento pode ser reescrita por:

    int, bz

    V

    locc (2.3)

    b) Estado fissurado

    Quando a linha neutra situa-se no concreto moldado no local (Figura 2.7), caso em que,

    as tenses de compresso esto totalmente acima da interface, a tenso de cisalhamento

    pode ser calculada por:

    intbz

    V

    (2.4)

    Segundo El Debs (2000), o parmetro z (distncia resultante entre as tenses de trao e

    de compresso do concreto) pode ser estimado em 0,85d a 0,9d, onde d a distncia da

    borda comprimida do concreto at o centro de gravidade da armadura.

    Figura 2.7 Distribuio de tenses na interface entre concreto pr-moldado e concreto moldado no local no

    estado fissurado

    Fonte: El Debs (2000)

    Tenses de

    Cisalhamento

    Tenses Normais

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 27

    2.5 Resistncia tenso cisalhante na interface de elementos fletidos

    Os itens a seguir descrevem algumas expresses de normas tcnicas aplicadas em

    elementos estruturais submetidos flexo.

    2.5.1 Conforme a ABNT NBR 9062:2006

    Para peas compostas ou mistas, a Seo 6.3 da ABNT NBR 9062:2006 descreve que

    deve ser levado em considerao, o clculo das tenses existentes na parte pr-moldada

    antes do endurecimento do concreto no processo de fabricao, as propriedades

    mecnicas correspondentes solidarizao da pea pelo preenchimento de concreto

    moldado no local e s propriedades mecnicas do concreto pr-moldado. Outro fator a

    considerar no clculo das tenses de cisalhamento a redistribuio de esforos

    decorrentes da retrao e da fluncia, alm dos esforos de deslizamento da superfcie

    em contato.

    Conforme a ABNT NBR 9062:2006, para calcular a tenso solicitante de cisalhamento

    na interface, deve ser considerado o valor mdio da fora Fmd de compresso ou de

    trao acima da ligao, ao longo do comprimento lv (Figura 2.8) e a largura de interface

    bint:

    intbl

    F

    v

    mdSd

    (2.5)

    A distncia entre os momentos nulos e mximos lv, para uma pea com seo de

    momento negativo, pode ser considerada como um elemento simplesmente apoiado

    (Figura 2.8a) ou um elemento contnuo (Figura 2.8b).

    Figura 2.8 Distncia entre momentos nulos e mximos

    a) elemento simplesmente apoiado

    b) elemento contnuo

    Fonte: PCI (1992) apud El Debs (2000)

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 28

    O valor da tenso de cisalhamento de clculo da Equao 2.5 deve ser menor ou igual

    ao valor ltimo da tenso de cisalhamento u:

    cdctdc

    swyd

    su ffsb

    Af25,0

    int

    (2.6)

    onde:

    fyd: resistncia de clculo do ao;

    fcd: resistncia de clculo compresso do concreto conforme a ABNT NBR

    6118:2007;

    Asw: rea da armadura que atravessa perpendicularmente interface;

    bint: largura da interface;

    s: espaamento da armadura As;

    fctd: resistncia trao de clculo obtido segundo a ABNT NBR 6118:2007, para o

    menos resistente dos concretos em contato;

    s: coeficiente de minorao aplicado armadura;

    c: coeficiente de minorao aplicado ao concreto.

    A ABNT NBR 9062:2006 considera que o coeficiente de minorao , aplicado ao

    concreto e ao ao, vlido para superfcie de ligao spera com rugosidade mnima de

    5 mm a cada 30 mm, cujos valores encontram-se na Tabela 1.

    Tabela 1 Coeficientes de minorao das parcelas resistentes do ao e do concreto

    As/bs (%) s c

    0,20 0 0,3

    0,50 0,9 0,6

    Fonte: ABNT NBR 9062 (2006)

    2.5.2 Conforme o PCI

    A verificao da resistncia ao cisalhamento deve atender a seguinte condio descrita

    no manual PCI (2004):

    huhd FF (2.7)

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 29

    onde:

    hdF : fora horizontal solicitante de clculo, conforme a Figura 2.9;

    huF : fora ltima que atua na interface.

    Rt: resultante de trao das armaduras;

    Rc: resultante de compresso;

    Rc, loc: resultante de compresso na regio do concreto moldado no local, cujo valor de

    0,85fcdAc,loc;

    Ac,loc: rea da pea composta pelo concreto moldado no local.

    Conforme observado na Figura 2.9, a anlise da transferncia horizontal de foras

    cisalhantes na interface deve ser feita nas peas pr-moldadas preenchidas com concreto

    moldado no local. A superfcie de interface deve estar limpa e livre de nata, ou seja, a

    superfcie deve ser lisa. Pode ser necessria, dependendo da magnitude da fora de

    cisalhamento a ser transferida, a construo de uma superfcie intencionalmente rugosa.

    A fora horizontal solicitante de clculo Fhd a ser resistida a fora de compresso, no

    caso de regies sujeitas a momentos positivos, ou de trao, no caso de regies

    submetidas a momentos negativos.

    Figura 2.9 Cisalhamento horizontal em uma seo composta

    Fonte: Adaptado do PCI (2004)

    Seo de momento positivo

    Seo de momento negativo

    Caso 1

    loccct RRR ,

    chd RF

    Caso 2

    loccct RRR ,

    locchd

    RF,

    thd RF

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 30

    Existem trs casos para a realizao do dimensionamento de sees compostas:

    Caso 1 Quando Fhd 0,56bintlv (tenso de 0,56 MPa)

    onde:

    bint: largura da superfcie de interface;

    lv: comprimento horizontal mostrado na Figura 2.8.

    Neste caso, se a superfcie for intencionalmente rugosa, a armadura de cisalhamento

    pode ser dispensada. No manual do PCI (2004), importante notar que no h indicao

    sobre quais casos em que a interface pode ser considerada como intencionalmente

    rugosa. Na falta desta informao pode-se considerar as indicaes propostas conforme

    os nveis estabelecidas pela FIP (1982) e descritas na Seo 2.3.2 deste trabalho.

    Caso 2 Para 0,56bintlv < Fhd < 2,45bintlv

    A condio deste caso aplicvel para as superfcies de interface intencionalmente

    rugosa, cuja amplitude de rugosidade seja at de polegadas ou 6,35 mm.

    Caso 3 Para Fhd > 2,45bintlv

    Quando a fora horizontal solicitante de clculo for maior que 2,45bintlv, necessria a

    colocao de uma armadura ao longo do comprimento lv expressa por:

    ye

    hdsw

    f

    FA

    (2.8)

    onde:

    swA : rea da armadura transversal que atravessa a interface e que se encontra ancorada;

    yf : resistncia de escoamento do ao;

    e : coeficiente efetivo de atrito-cisalhamento;

    : coeficiente de reduo de resistncia, igual a 0,75.

    O coeficiente efetivo de atrito-cisalhamento pode ser calculado por:

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 31

    hd

    ve

    F

    lb

    int

    9,6 (tenso de 6,9 MPa)

    (2.9)

    : Fator de correo que leva em conta a densidade do concreto. Vale 1,0 para concreto

    de densidade normal e 0,75 para concreto de baixa densidade.

    O coeficiente de atrito interno est apresentado na Tabela 2.

    Tabela 2 Valores recomendados dos coeficientes atrito-cisalhamento

    Tipos de Interface Recomendado e Mximo

    Concreto concreto, moldados

    monoliticamente 1,4 3,4

    Concreto concreto pr-

    moldados, com superfcie rugosa 1,0 2,9

    Concreto concreto 0,6 2,2

    Concreto ao 0,7 2,4

    Fonte: PCI (2004)

    De acordo com a Tabela 2, para interface concreto concreto pr-moldado, com

    superfcie rugosa, o valor do coeficiente de atrito interno vale =1,0. Substituindo este

    valor na Equao 2.9 encontra-se a equao para este tipo de interface:

    hd

    ve

    F

    lb int

    29,6 (2.10)

    2.5.3 Conforme a FIB MC 2010

    A Seo 6.3.4 da Fdration Internationale du Bton (FIB, 2010), explica o

    procedimento de projetos de ligaes e adota a seguinte expresso para avaliar a

    resistncia ao cisalhamento da ligao:

    ccccyswNyswcu ffff )( (2.11)

    Esta expresso composta por trs parcelas. A primeira parcela corresponde tenso de

    adeso entre as duas partes de concreto, a segunda parcela corresponde contribuio

    Atrito

    Efeito de pino

    Adeso

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 32

    do atrito entre a armadura e o concreto e a ltima parcela corresponde o efeito de pino

    da armadura que atravessa a interface.

    onde:

    c: tenso de adeso entre as duas partes de concreto expressa por:

    mctc f , (2.12)

    mctf , : resistncia mdia trao do concreto dada por:

    3/2

    , 3,0 ckmct ff

    sw : taxa geomtrica da armadura que atravessa a interface expressa por:

    001,0int

    hb

    Aswsw

    u: tenso mxima de cisalhamento;

    n:tenso de compresso normal devido s foras externas aplicadas

    perpendicularmente ao plano da interface;

    bint: largura da interface;

    h: altura da seo de interface;

    : corresponde a um coeficiente relativo fora axial expressa por:

    cdc

    sd

    fA

    N

    onde Nsd a fora axial de clculo que age na interface de concreto;

    fcd: resistncia de clculo compresso do concreto;

    Ac: rea da interface de concreto dada por:

    hbAc int (2.13)

    fcc: resistncia compresso mdia do concreto em corpos de prova cilndrico.

    Os fatores e consideram que a armao ou a ligao esto sujeitas a foras axiais e

    de flexo. Dependendo da rugosidade da interface, da ancoragem das armaduras os

    seguintes valores podem ser adotados:

    0,1y

    sw

    f

    (2.14)

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 33

    onde:

    sw : tenso na armadura;

    yf : resistncia de escoamento do ao.

    Para superfcies rugosas = 0,5 e = 0, quando a superfcie for lisa = 0 e = 1,5

    Dois tipos de aspereza da superfcie de ligao so considerados conforme mostram as

    Tabela 3 e Tabela 4.

    Tabela 3 Tipos de aspereza para superfcie lisa segundo CEB-FIP MC 90

    Categoria 1 (lisa)

    I Superfcies lisas obtidas pelo lanamento do concreto em frmas metlicas ou de

    madeira

    II Superfcies alisadas com alguma ferramenta para torn-la lisa, de forma a ficar idntica

    a (I)

    III Supefcies com pequenas ondulaes

    IV Superfcie feita por frmas deslizantes ou rguas vibratrias

    V Superfcies feitas por extruso

    VI Superfcie com textura feita pela escovao do concreto fresco

    Fonte: CEB-FIP MC 90 (1993)

    Tabela 4 Tipos de aspereza para superfcie rugosa segundo CEB-FIP MC 90

    Categoria 2 (rugosa)

    I Igual a classe VI da categoria 1, porm, com textura aparentando ter sido escarificada ou

    raspada para obter rugosidade

    II Superfcie bem compactada, sem estar texturizada, com agregado grado exposto, mas

    firme na matriz de concreto

    III Superfcie de concreto jateada para exposio do agregado grado

    IV Superfcie com dentes

    Fonte: CEB-FIP MC 90 (1993)

    Assim, e obedecem s categorias das superfcies mostradas na Tabela 3 e na Tabela 4,

    cujos valores encontram-se na Tabela 5.

    Tabela 5 Valores dos coeficientes e segundo CEB-FIP MC 90

    Coeficientes Superfcie

    Categoria 1

    Superfcie

    Categoria 2

    0,2 0,4

    0,6 0,9

    Fonte: CEB-FIP MC 90 (1993)

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 34

    2.6 Modelo de atrito-cisalhamento

    Uma hiptese da aplicao do conceito do atrito-cisalhamento, segundo o Precast

    Concrete Institute (PCI, 2004), que a superfcie de concreto ir fissurar sempre de

    forma no controlvel quando em contato com outra superfcie.

    A ductilidade pode ser alcanada pelo uso de armadura de reforo que atravessa essa

    interface, de modo que a tenso desenvolvida pelo reforo gera uma fora normal a

    fissura. Esta fora normal, combinada com o atrito da superfcie, aumenta a resistncia

    ao cisalhamento.

    A Seo 11.6 do American Concrete Institute (ACI 318, 2008) descreve que o modelo

    do atrito-cisalhamento pode ser aplicado onde for apropriado considerar a transferncia

    de cisalhamento atravs de um plano, tal como uma fissura potencial, na interface

    composta de diferentes materiais ou na interface entre dois concretos moldados em

    idades diferentes.

    Quando o cisalhamento age ao longo de uma face fissurada, ela desliza uma em relao

    outra. As irregularidades da superfcie fissurada foram a separao da superfcie

    oposta em contato.

    Aps o surgimento da fissura na interface, essa separao continuar at que haja o

    escoamento da armadura de reforo (ACS) que a atravessa.

    Uma fora de trao surge (ACSfy) na armadura de reforo devido s deformaes no

    plano de cisalhamento causado pelo deslizamento superficial (Figura 2.10). Esta

    armadura proporciona um travamento na interface fissurada.

    O cisalhamento ento resistido pelo atrito das superfcies de contatos, pelas salincias

    e pela armadura de reforo que atravessa a interface. Esta fora de trao na armadura

    de reforo gera uma fora de atrito (ACSfy) paralela ao plano de cisalhamento.

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 35

    Figura 2.10 Idealizao do modelo atrito-cisalhamento

    Fonte: Adaptado do ACI318 (2008)

    Conforme a Seo 11.6.2 do ACI318 (2008) descreve que embora o concreto possua

    uma boa resistncia no cisalhamento direto, haver sempre uma ruptura decorrente de

    uma regio de falha. A formao da fissura no concreto deve ser combatida pelo

    emprego de uma armadura transversal a qual funcionar como uma resistncia ao

    deslocamento relativo. Quando a armadura transversal perpendicular ao plano

    cisalhante, a fora cisalhante nominal (Vn) pode ser expressa por:

    yswn fAV (2.15)

    onde:

    swA : rea da armadura transversal necessria para combater a fora ltima cisalhante

    (Vu), dada por:

    y

    usw

    f

    VA (2.16)

    : coeficiente de valor 1;

    yf : resistncia de escoamento do ao;

    : coeficiente de atrito interno.

    Plano de cisalhamento

    Deslizamento

    Armadura

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 36

    2.7 Estudos sobre transferncia e resistncia ao cisalhamento

    Nas sees seguintes sero apresentados alguns resultados de ensaios experimentais

    encontrados na literatura tcnica relativos transferncia e resistncia ao cisalhamento

    direto, alm do cisalhamento por flexo. Os fatores observados nos estudos tcnicos

    analisados foram: resistncia compresso do concreto, tenso de escoamento da

    armadura transversal, pr-fissurao do plano de cisalhamento, efeito do pino, entre

    outros.

    2.7.1 Ensaios realizados por Hofbeck, Ibrahim e Mattock (1969)

    Hofbeck, Ibrahim e Mattock (1969) analisaram experimentalmente o comportamento da

    transferncia de cisalhamento direto em 38 modelos de concreto armado com ou sem

    prvia fissurao ao longo do plano de cisalhamento.

    Os principais objetivos deste estudo foi verificar a influncia dos seguintes fatores na

    resistncia ao cisalhamento:

    a) Taxa e tenso de escoamento da armadura transversal;

    b) Efeito de pino da armadura transversal de costura;

    c) Resistncia do concreto compresso;

    d) Pr-fissurao ao longo do plano de cisalhamento.

    Uma armadura adequada foi necessria para que a ruptura dos modelos ocorresse ao

    longo do plano de cisalhamento. A superfcie de cisalhamento tinha dimenses de 254

    mm 127 mm (Figura 2.11) e os estribos envolviam as armaduras longitudinais.

    Todos os modelos apresentaram fissurao prvia no plano de cisalhamento com

    exceo da Srie 1 e os modelos 6.1 e 6.2. A fim de eliminar o efeito da contribuio de

    pino da armadura na resistncia ao cisalhamento, os modelos da Srie 6 foram ensaiados

    com a colocao de luvas de borrachas flexveis de 50 mm de comprimento envolvendo

    as armaduras transversais no plano de cisalhamento.

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 37

    Figura 2.11 Modelo de cisalhamento direto ensaiado por Hofbeck, Ibrahim e Mattock (1969)

    Fonte: Hofbeck, Ibrahim e Mattock (1969)

    As Sries 2, 4 e 5 foram ensaiadas com pr-fissurao no plano de cisalhamento, onde

    se manteve fixo o dimetro dos estribos e variou-se a quantidade de estribos entre os

    modelos da srie. A Srie 3 foi ensaiada mantendo fixo a quantidade de estribos e

    variando a seo da armadura transversal entre modelos.

    O aumento do dimetro dos estribos elevou a tenso mxima de cisalhamento. O mesmo

    aconteceu quando aumentou-se a quantidade de estribos em uma mesma srie.

    Foi observado que o deslizamento relativo dos modelos com a existncia de um plano

    pr-fissurado (Sries 2, 3, 4, 5 e modelos 6.3 e 6.4), em todas as etapas de carregamento

    do ensaio, foi maior do que os modelos que no eram pr-fissurados (Srie 1 e modelos

    6.1 e 6.2) no plano de cisalhamento.

    Em geral, os modelos pr-fissurados apresentaram menores tenses mximas de

    cisalhamentos dos que os modelos no fissurados (Figura 2.12).

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 38

    Figura 2.12 Tenso mxima de cisalhamento dos modelos ensaiados por Hofbeck, Ibrahim e Mattock

    (1969)

    Fonte: Adaptado de Hofbeck, Ibrahim e Mattock (1969)

    Comparando os modelos no fissurados sem luvas e com luvas, modelos 1.1 A e 1.5 A e

    modelos 6.1 e 6.2, verificou-se que no houve uma contribuio significativa da ao do

    pino no mecanismo de transferncia do cisalhamento. Porm, nos modelos pr-

    fissurados, essa contribuio ficou evidente. Houve uma perda da resistncia de 54,5%

    para o modelo 6.3 e de 30% para o modelo 6.4 quando comparados com o modelo 4.1 e

    4.5 respectivamente.

    2.7.2 Ensaios realizados por Hawkins e Mattock (1972)

    Hawkins e Mattock (1972) deram continuidade aos trabalhos realizados por Hofbeck,

    Ibrahim e Mattock (1969) com a realizao de estudos experimentais sobre a

    transferncia de esforos de cisalhamentos em 28 modelos. Os principais objetivos deste

    estudo foi verificar a influncia dos seguintes fatores na resistncia ao cisalhamento:

    a) Pr-fissurao no plano de cisalhamento;

    b) Taxa de armadura no plano de cisalhamento;

    c) Resistncia do concreto;

    d) Existncias de tenses paralelas e normais no plano de cisalhamento.

    A influncia dos trs primeiros fatores foi estudada por Hofbeck, Ibrahim e Mattock

    (1969) em modelos tipo A submetidos ao cisalhamento direto solicitado por

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 39

    compresso. Para o estudo da existncia de tenses paralela ou normal ao plano de

    cisalhamento, foram realizados ensaios sob cisalhamento direto induzidos por trao

    (Sries 7 e 8), correspondentes ao tipo B e modelos modificados submetidos

    compresso (Sries 9 e 10), correspondentes ao tipo C (Figura 2.13).

    Figura 2.13 Modelo de cisalhamento direto ensaiado por Hofbeck (1969) tipo A, cisalhamento induzido

    por trao tipo B e por compresso tipo C ensaiados por Mattock e Hawkins (1972)

    Fonte: Hawkins e Mattock (1972)

    As dimenses das superfcies de cisalhamento variavam de acordo com o tipo de ensaio

    realizado. Os modelos solicitados compresso possuam 254 mm 127 mm. Os

    modelos submetidos trao tinham superfcies de cisalhamento com dimenses 300

    mm 120 mm e os modelos modificados solicitados compresso possuam superfcies

    de 300 mm 150 mm.

    Nos modelos do tipo A e B, o esforo cortante de intensidade P existia devido ao de

    uma fora concentrada P. Nos modelos do tipo C, a fora concentrada P produzia um

    esforo cisalhante cosP paralelo ao plano de cisalhamento e um esforo normal de

    compresso senP transversal ao plano de cisalhamento, onde corresponde ao

    ngulo formado entre a armadura transversal e o plano de cisalhamento, conforme

    mostrado na Figura 2.13.

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 40

    Os modelos das Sries 7 e 9 no apresentavam fissura prvia, e os modelos das Sries 8

    e 10 apresentavam uma pr-fissurao na superfcie de cisalhamento.

    Nas Sries 9 e 10, foram utilizados os seguintes valores do ngulo : 0o, 15, 30, 45,

    60 e 75. Dessa forma, buscou-se avaliar o efeito da tenso normal de compresso no

    plano de cisalhamento para cada ngulo.

    Durante a realizao dos ensaios, todos os modelos foram submetidos a um

    carregamento monotnico e foram medidos os deslizamentos ao longo do plano de

    cisalhamento.

    Verificou-se que houve um maior deslizamento relativo nos modelos previamente

    fissurados do que os modelos no fissurados no plano de cisalhamento.

    Foi observado que os modelos no fissurados na superfcie de cisalhamento submetidos

    trao (Srie 7) apresentaram menores deslizamentos do que os modelos pr-

    fissurados (Srie 8).

    Isto ocorreu devido pr-fissurao no plano de cisalhamento reduzir a resistncia

    ltima ao cisalhamento (Figura 2.14).

    Figura 2.14 Comparao dos resultados dos modelos tipo B submetidos trao

    Fonte: Adaptado de Hawkins e Mattock (1972)

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 41

    Observou-se que para a mesma variao do ngulo entre a Srie 9 e Srie 10

    submetidas compresso, a Srie 9 apresentou maior resistncia ltima ao cisalhamento

    do que a Srie 10, modelos 10.5 a 10.10 (Figura 2.15).

    Figura 2.15 Comparao dos resultados dos modelos tipo C submetidos compresso

    Fonte: Adaptado de Hawkins e Mattock (1972)

    Nos ensaios de Hawkins e Mattock (1972), todos os modelos romperam por

    cisalhamento para ngulo 0o 45. Para valores de 45 < 75 a ruptura ocorreu

    por compresso.

    As deformaes dos modelos no fissurados foram pequenas at que as fissuras de

    trao, no plano de cisalhamento, atingissem cerca de 60 a 70% de sua resistncia

    ltima. Isto ocorria, quando essas fissuras formavam um ngulo de 45 no plano

    cisalhante dos modelos submetidos compresso.

    Nos modelos de ngulo 30, a ruptura ocorria atravs de uma propagao contnua

    da fissura ao longo do plano de cisalhamento.

    Comparando os resultados das resistncias ao cisalhamento dos modelos de Hofbeck,

    Ibrahim e Mattock (1969) e Hawkins e Mattock (1972), observa-se que os modelos da

    Srie 1 de superfcie no fissurada, submetidas compresso, apresentaram resistncia

    mxima ao cisalhamento u maiores que os da Srie 7, no fissurada de Hawkins e

    Mattock (1972), solicitados por trao (Figura 2.16).

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 42

    Figura 2.16 Comparao dos resultados dos modelos submetidos compresso e trao com superfcies

    no fissuradas

    Fonte: Adaptado de Hawkins e Mattock (1972)

    Essa diferena de resistncia ao cisalhamento no foi observada na comparao das

    Sries 2, 3 e 4 de Hofbeck, Ibrahim e Mattock (1969), solicitados compresso, com os

    da Srie 8 de Hawkins e Mattock (1972), solicitados por trao (Figura 2.17).

    Figura 2.17 Comparao dos resultados dos modelos submetidos compresso e trao com superfcies

    pr - fissuradas

    Fonte: Adaptado de Hawkins e Mattock (1972)

    Diante dos resultados dos ensaios, os autores propuseram uma expresso que avaliasse a

    resistncia ao cisalhamento em um plano fissurado em concreto monoltico. Esta

    expresso composta de uma parcela relativa coeso e a outra devida ao atrito:

    )8,0(38,1 Nyswu fp (2.17)

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 43

    onde:

    cu f 3,0 e MPafp Nysw 38,1

    2.7.3 Ensaios realizados por Bass, Carrasquillo e Jirsa (1989)

    Bass, Carrasquillo e Jirsa (1989) analisaram experimentalmente a capacidade da

    transferncia de esforos de cisalhamentos na interface de concretos moldados em

    idades diferentes. O programa experimental consistia em ensaiar 33 modelos

    submetidos compresso.

    Os principais objetivos do estudo procurava investigar a resistncia e as caractersticas

    fora-deslocamento da interface entre concretos moldados em idades diferentes. Os

    principais fatores investigados no estudo foram:

    a) Preparao da superfcie de interface;

    b) Quantidade de armadura que atravessa a interface;

    c) Comprimento de ancoragem da armadura transversal que atravessa a interface;

    d) Detalhes da armadura transversal em ambos concretos;

    e) Resistncia compresso dos concretos.

    Os modelos foram construdos a fim de simular uma parede moldada contra um pilar de

    concreto. O pilar foi denominado de bloco base e servia de suporte para a moldagem

    da parede, a qual foi denominada de nova parede. O bloco base foi concretado antes

    da moldagem da parede, ou seja, ambos os elementos possuiriam diferentes idades de

    concretagem.

    O bloco base possua largura e altura de 61 cm e comprimento de 107 cm (Figura 2.18).

    A parede possua dimenses de 15,2 cm de largura (modelo 1B) ou 25,4 cm de largura

    (demais modelos) por 46 cm de altura e 107 cm de comprimento. Foram aplicadas

    camadas de silicone com 7,6 cm em cada uma das extremidades da interface, a fim de

    reduzir o efeito da concentrao de tenses nas quinas.

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 44

    Figura 2.18 Detalhes do modelo ensaiado por Bass, Carrasquillo e Jirsa (1989)

    Fonte: Adaptado de Bass, Carrasquillo e Jirsa (1989)

    O detalhe da armao do bloco base est mostrado na Figura 2.19a e o detalhe da

    armao da parede est mostrado na Figura 2.19b. O cobrimento de concreto das

    armaduras para o bloco base foi de 3,8 cm e para a parede de 1,9 cm.

    Figura 2.19 Detalhamentos das armaduras do bloco base e da parede

    a) Detalhamento do bloco base b) Detalhamento da parede

    Fonte: Adaptado de Bass, Carrasquillo e Jirsa (1989)

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 45

    Em relao construo do bloco base, as armaes longitudinais possuam 35,8 mm de

    dimetro e os estribos 9,5 mm de dimetro.

    Os modelos 1A ao 16A, 21A ao 24A, 1B ao 6B e modelo 21B possuam 4 armaduras

    longitudinais e estribos espaados a cada 30,5 cm.

    Os modelos 17A ao 20A e 17B foram armados com 4 armaduras longitudinais e estribos

    espaados a cada 12,7 cm. O modelo 20B foi armado com 6 armaduras longitudinais e

    estribos espaados a cada 12,7 cm.

    Em relao construo da parede, todos os modelos possuam armaes longitudinais

    e transversais (estribos) com 12,7 mm de dimetro, com exceo do modelo 1B, e foram

    armados com 4 armaduras longitudinais. No modelo 1B foram utilizados armaes

    curtas que cruzavam a interface distribuda a cada 30,5 cm ao longo de seu

    comprimento. No modelo 2B foram utilizados estribos simples em forma de U

    invertido. Todos os demais modelos possuam estribos duplos em forma de U

    espaados a cada 30,5 cm, conforme apresentada anteriormente na Figura 2.19.

    Foi estudada tambm a influncia de transferncia ao cisalhamento para diferentes

    superfcies de interface:

    a) Superfcie natural, obtida com a moldagem do concreto sem tratamento de sua

    superfcie;

    b) Superfcie rugosa obtida pelo processo de jateamento com exposio dos

    agregados com amplitude de salincia mxima de 3,2 mm;

    c) Superfcie rugosa com amplitude de 6,35 mm executada com picareta;

    d) Superfcie com 2 chaves de cisalhamento de seo 20,3 cm 20,3 cm e

    profundidade de 2,54 cm cortadas no bloco base.

    Cada um dos modelos foi submetido a 10 ciclos repetitivos de carregamentos. O bloco

    base teve sua movimentao restringida e a fora foi aplicada no plano da interface, por

    meio de dois martelos hidrulicos posicionados em ambas as extremiddes dos modelos.

    Os primeiros 3 ciclos corresponderam a uma fora de 226,8 kN. Depois, foram

    aplicados mais 3 ciclos de carregamentos correspondente a uma fora de 453,6 kN

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 46

    seguidas de mais 3 ciclos, cuja fora foi aplicada de tal maneira que a parede deslocou

    da interface cerca de 2,54 mm. O ltimo ciclo correspondeu a uma fora que deslocou a

    parede 12,7 mm da interface. Os deslocamentos foram monitorados nas extremidades e

    no meio da interface, a fim de detectar translao e rotao da parede em relao ao

    bloco base.

    Em relao ao comprimento de ancoragem das armaduras que atravessaram a interface,

    os resultados mostraram que a tenso de cisalhamento mxima alcanada, dos modelos

    que possuam comprimento de ancoragem de 76,2 mm, foi 30% menor em relao aos

    modelos ancorados em 152,4 mm e 304,8 mm. Isto mostrou que a capacidade de

    transferir esforo cisalhante pela interface, elevou medida em que foi maior o

    comprimento de ancoragem (Figura 2.20).

    Figura 2.20 Tenso-deslocamento da interface para diferentes comprimentos de ancoragem da armadura

    ensaiados por Bass, Carrasquillo e Jirsa (1989)

    a) fc bloco base < fc parede

    b) fc bloco base > fc parede

    Fonte: Adaptado de Bass, Carrasquillo e Jirsa (1989)

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 47

    O efeito das diferentes superfcies de interface na influncia da tenso-deslocamento,

    est mostrada na Figura 2.21.

    Em geral, a interface rugosa obtida por jateamento, mostrou menores deslocamentos

    quando comparadas as outras superfcies. Houve uma reduo significativa da

    influncia da superfcie de interface, na capacidade de transferir esforo cisalhante,

    quando o deslizamento da interface atingiu o valor de 5,08 mm.

    Para valores maiores que 5,08 mm, no h uma clara correlao entre a resistncia ao

    cisalhamento e a superfcie de interface.

    Figura 2.21 Tenso-deslocamento para diferentes tipos de interfaces ensaiados por Bass, Carrasquillo e

    Jirsa (1989)

    a) fc bloco base < fc parede, estribos a cada 12,7 cm

    b) fc bloco base > fc parede, estribos a cada 30,5 cm

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 48

    c) fc bloco base < fc parede, estribos a cada 30,5 cm

    Fonte: Adaptado de Bass, Carrasquillo e Jirsa (1989)

    Em relao ao tipo de estribos utilizados, os resultados evidenciaram que os modelos

    com estribos U aberto tiveram menor resistncia ao cisalhamento do que os modelos

    com estribos U fechados (Figura 2.22). O aumento na capacidade cisalhante dos

    modelos com estribos U fechados foi atribudo ao melhor confinamento do concreto,

    e assim, h uma maior relao de aderncia com os estribos fechados, do que os

    modelos com estribos U abertos.

    Figura 2.22 Tenso-deslocamento de estribos U fechados e abertos ensaiados por Bass, Carrasquillo e

    Jirsa (1989)

    Fonte: Adaptado de Bass, Carrasquillo e Jirsa (1989)

    A Figura 2.23 mostra o comportamento do bloco base relacionada tenso, com o

    deslocamento da interface de vrios modelos e para diferentes superfcies de interface e

    espaamento dos estribos.

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 49

    Figura 2.23 Tenso-deslocamento para diferentes tipos de interfaces e espaamento dos estribos

    ensaiados por Bass, Carrasquillo e Jirsa (1989)

    Fonte: Adaptado de Bass, Carrasquillo e Jirsa (1989)

    Os modelos de interface rugosa com 6,35 mm de salincia tiveram comportamentos

    praticamente iguais em ambos os espaamentos dos estribos. A resistncia ao

    cisalhamento foi maior nos modelos de interface com chaves de cisalhamento com

    estribos espaados a cada 12,7 cm, do que os modelos com estribos espaados a cada

    30,5 cm.

    2.7.4 Ensaios realizados por Loov e Patnaik (1994)

    Loov e Patnaik (1994) estudaram a influncia da taxa de armao na resistncia ao

    esforo de cisalhamento em 16 vigas compostas de concreto de interface rugosa. A

    finalidade do estudo foi fornecer uma nova viso sobre o comportamento da ligao

    rugosa e a capacidade de resistncia ao cisalhamento da interface para grandes taxas de

    armaes.

    Os principais fatores investigados foram:

    a) A influncia da contribuio da armadura na resistncia ao cisalhamento da

    interface com variao da tenso normal ysw f , onde ao mesmo tempo,

    mantm-se uma resistncia do concreto em torno de 35 MPa;

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 50

    b) A influncia na resistncia ao cisalhamento da interface ao variar a resistncia do

    concreto e manter constante o ysw f em torno de 0,8 MPa.

    Para a primeira varivel, as vigas foram ensaiadas com ysw f de 0,4 MPa; 0,77 MPa;

    1,64 MPa; 2,73 MPa; 4,36 MPa; 6,06 MPa e 7,72 MPa. Para o estudo do efeito da

    variao da resistncia do concreto, duas vigas foram ensaiadas com resistncia

    compresso de 19,4 MPa e 48,3 MPa.

    A armao da interface possua dimetro de 9,5 mm e mdulo de elasticidade em torno

    de 200 GPa.

    Foram ensaiados dois tipos de vigas: vigas com flanges de comprimento total (320 cm)

    e vigas com flanges curtos (240 cm), conforme a Figura 2.24.

    Figura 2.24 Modelos de vigas ensaiadas por Loov e Patnaik (1994)

    a) Viga moldada com flange completo

    b)Viga moldada com flange parcial

    Fonte: Adaptado de Loov e Patnaik (1994)

    As vigas numeradas de 1 a 8 foram moldadas com flange ao longo de todo o

    comprimento e as vigas numeradas de 9 a 16 foram moldadas com flanges curtos (240

    cm). No ensaio das vigas, moldaram-se dois tipos de sees transversais em forma de T

    (Figura 2.25). Os estribos possuam dimetro de 9,5 mm e as armaduras longitudinais

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 51

    possuam dimetro de 25,4 mm. Cada uma das sees transversais apresentava quatro

    armaduras longitudinais.

    Figura 2.25 Sees transversais das vigas ensaiadas por Loov e Patnaik (1994)

    a) Seo transversal de largura varivel

    b) Seo transversal de largura constantes

    Fonte: Adaptado de Loov e Patnaik (1994)

    A regio inferior da seo transversal (Figura 2.25a) corresponde ao concreto pr-

    moldado. Esta seo possui dimenso varivel com largura de 15 cm na base, onde sofre

    um estreitamento, e a sua largura termina com valor de 7,5 cm. Os estribos eram em

    forma de L que atravessava a interface. As armaes abaixo da interface eram de

    formato tipo U.

    A seo transversal possua largura constante de 15 cm (Figura 2.25b). Foram armadas

    em formato retangular, tanto para a regio inferior, correspondente ao concreto pr-

    moldado, como para a regio de ligao que cruzava a interface entre o concreto pr-

    moldado e o moldado no local (flange).

    As vigas foram simplesmente apoiadas e o carregamento foi aplicado no meio do vo. A

    armao das vigas foi dimensionada de maneira a no romper por cisalhamento

    diagonal e nem por flexo. A ideia era que elas rompessem devido fora de

    cisalhamento horizontal.

    Para o clculo da tenso horizontal de cisalhamento foi utilizado a seguinte expresso:

    intbI

    QVh

    (2.18)

  • Captulo 2 Reviso Bibliogrfica 52

    onde:

    h : tenso de cisalhamento horizontal;

    V : fora de cisalhamento horizontal;

    Q : momento esttico da regio acima da linha neutra da seo transversal;

    I : momento de inrcia da seo transversal;

    intb : largura da interface.

    Os resultados mostraram que as vigas 1 a 3 e 5 a 8,