dissertação de mestrado Maroneze
Transcript of dissertação de mestrado Maroneze
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
BRUNO OLIVEIRA MARONEZE
Um estudo da nominalização no Português do Brasil
com base em unidades lexicais neológicas
São Paulo
2005
2
BRUNO OLIVEIRA MARONEZE
Um estudo da nominalização no Português do Brasil
com base em unidades lexicais neológicas
Dissertação apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Filologia e Língua Portuguesa. Área de Concentração: Lexicologia e Terminologia Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ieda Maria Alves
São Paulo
2005
3
FOLHA DE APROVAÇÃO
Bruno Oliveira Maroneze
Um estudo da nominalização no Português do Brasil com base em unidades lexicais
neológicas
Dissertação apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Filologia e Língua Portuguesa. Área de Concentração: Lexicologia e Terminologia Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ieda Maria Alves
Aprovado em:
Banca Examinadora
Prof. Dr. ____________________________________________________________________
Instituição: ____________________ Assinatura: ___________________________________
Prof. Dr. ____________________________________________________________________
Instituição: ____________________ Assinatura: ___________________________________
Prof. Dr. ____________________________________________________________________
Instituição: ____________________ Assinatura: ___________________________________
4
DEDICATÓRIA
A meus pais, Álvaro e Sueli, e meus irmãos, Roberta e André, com amor e gratidão.
5
AGRADECIMENTOS
À minha família, pelo apoio e incentivo que sempre me dedicaram;
À Prof.ª Dr.ª Ieda Maria Alves, que me proporcionou a magnífica oportunidade de ingressar
na carreira acadêmica, pela excelente orientação e imenso apoio em vários momentos de
minha vida acadêmica e pessoal;
À Prof.ª Dr.ª Maria Aparecida Barbosa, que me acompanha desde o início do curso de
graduação, pelas reflexões que me tem me proporcionado em suas aulas, bem como pelas
valiosas sugestões na Banca de Qualificação;
Ao Prof. Dr. Luiz Carlos de Assis Rocha, pelo valioso envio de material bibliográfico e pelas
importantes sugestões na Banca de Qualificação;
À Prof.ª Dr.ª Teresa Vallès, pelas indicações bibliográficas e pelo auxílio “virtual”;
A todos os integrantes e ex-integrantes do grupo TermNeo, alunos de graduação, pós-
graduação e docentes, pela amizade e apoio ao longo desses mais de seis anos;
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, pela concessão da bolsa de
mestrado e pelo apoio financeiro para a realização desta pesquisa;
E a todos os amigos e professores que, de uma forma ou de outra, contribuíram para a
realização deste trabalho.
6
RESUMO
MARONEZE, Bruno Oliveira. Um estudo da nominalização no Português do Brasil com
base em unidades lexicais neológicas. 2005. Dissertação (mestrado em Filologia e Língua
Portuguesa). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2005.
Tendo em vista que a análise de unidades lexicais neológicas tem muito a contribuir
para os estudos de formação de palavras, procuramos, neste trabalho, com base nos modelos
teóricos de Bybee (1988) e Langacker (1987, 1991) descrever um aspecto da formação de
palavras no português brasileiro: os chamados nominais (substantivos abstratos derivados de
verbos). Abordamos as tendências e restrições de uso de cada sufixo nominalizador
(enfatizando -ção, -mento, -agem, -da e -nc(i)a) bem como da chamada derivação regressiva.
Também descrevemos certas características semânticas (polissemia, especialização semântica
etc.), sintáticas (exigências sintáticas, uso de verbos-suporte etc.) e discursivas (emprego em
textos mais ou menos formais, mecanismos de coesão textual etc.) desse tipo de formação.
Em seguida, buscamos mostrar como os sufixos nominalizadores e os nominais são descritos
nos dicionários de língua do português brasileiro. A partir de uma base de dados de formações
neológicas coletadas em textos jornalísticos entre os anos de 1993 e 2000, analisamos cerca
de 170 nominais neológicos, com a finalidade de verificar se tais formações obedecem às
tendências e restrições de uso descritas, e se é possível detectar tendências novas. Observamos
que: o sufixo -ção, o mais freqüentemente empregado, tem se unido a verbos da segunda
conjugação, fenômeno não-atestado em períodos anteriores da língua; os sufixos -ção e -agem
vêm apresentando conotações familiares ou jocosas, com destaque para o chamado -ção
iterativo; as formas -nça e -ncia vêm adquirindo conotações divergentes, o que pode apontar
para que não mais sejam analisadas como formas alomórficas do mesmo sufixo; entre outras
observações. Por fim, propusemos uma forma de descrever esses nominais neológicos, a ser
utilizada no Dicionário de Neologismos do Português Brasileiro Contemporâneo (Década de
90).
7
ABSTRACT
MARONEZE, Bruno Oliveira. A study of the nominalization in Brazilian Portuguese base
don neological lexical units. 2005. Master Dissertation. Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
Bearing in mind that the analysis of neological lexical units has much to contribute to
word-formation sdudies, we attempt, in the present work, based on the theoretical models of
Bybee (1988) and Langacker (1987, 1991), to describe an aspect of Brazilian Portuguese
word-formation: the so-called nominals (abstract nouns derived from verbs). We address the
usage tendencies and restrictions of each nominalizing suffix (with emphasis on -ção, -mento,
-agem, -da and -nc(i)a), as well as the so-called “regressive derivation”. We also describe
certain characteristics of this kind of word-formation, such as: semantic (polysemy, semantic
specialization etc.), syntactic (valency, support-verbs etc.) and discursive (text formality,
textual cohesion etc.). Then, we attempt to show how the nominalizing suffixes and the
nominals are described in Brazilian Portuguese dictionaries. Based on a neologism database
collected from journalistic texts published between 1993 and 2000, we analyze about 170
neological nominals, in order to verify if these formations follow the above described usage
tendencies and restrictions, and if it is possible to detect new tendencies. We have observed,
among other minor characteristics, that: the suffix -ção, the most frequent nominalizing
suffix, can be combined with second-conjugation verbs, a phenomenon attested only very
recently in the Portuguese language; the suffixes -ção and -agem have presented colloquial or
playful connotations, especially the so-called iterative -ção; the forms -nça and -ncia are
being used with diverging connotations, which can indicate that they should not be analyzed
as allomorphic forms of the same suffix. Finally, we propose a way of describing these
neological nominals, to be used in the Dicionário de Neologismos do Português Brasileiro
Contemporâneo (Década de 90) (Dictionary of Neologisms of Contemporary (90’s) Brazilian
Portuguese.
8
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO................................................................................................................11
1.1. ALGUMAS HIPÓTESES ...................................................................................................................11
1.2. METODOLOGIA .............................................................................................................................12
1.3. ORGANIZAÇÃO DESTA DISSERTAÇÃO ...........................................................................................13
2. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS .....................................................................................14
2.1. CONCEITOS DE NEOLOGIA, FORMAÇÃO DE PALAVRAS, NOMINALIZAÇÃO .....................................14
2.1.1. Neologia e neologismo........................................................................................................14
2.1.2. Formação de palavras ........................................................................................................15
2.1.2.1. Importância dos estudos de neologia ......................................................................................... 15 2.1.3. Modelos teóricos de formação de palavras ........................................................................17
2.1.4. Nominalização ....................................................................................................................22
2.1.4.1. Conceito de nominalização........................................................................................................ 22 2.1.4.2. Trabalhos sobre o fenômeno da nominalização no português do Brasil .................................... 24 2.1.4.3. A nominalização no modelo de formação de palavras de Bybee............................................... 26
2.2. A NOMINALIZAÇÃO NO ÂMBITO DOS DEMAIS PROCESSOS MORFOLÓGICOS ...................................29
2.2.1. Maneiras de expressão de categorias gramaticais .............................................................29
2.2.2. Diferenças entre flexão e derivação ...................................................................................30
2.2.3. A nominalização nos vários pontos do continuum..............................................................31
2.2.3.1. Expressão lexical ....................................................................................................................... 32 2.2.3.2. Expressão sintática .................................................................................................................... 32 2.2.3.3. Expressão gramatical livre......................................................................................................... 32 2.2.3.4. Expressão derivacional.............................................................................................................. 33
2.3. A NOMINALIZAÇÃO POR SUFIXAÇÃO ............................................................................................33
2.3.1. Restrições ao emprego dos sufixos .....................................................................................39
2.3.1.1. Sufixo -ção ................................................................................................................................ 41 2.3.1.2. Sufixo -mento ............................................................................................................................ 42 2.3.1.3. Sufixo -agem ............................................................................................................................. 44 2.3.1.4. Sufixo -da .................................................................................................................................. 45 2.3.1.5. Sufixo -nc(i)a ............................................................................................................................ 46 2.3.1.6. Derivação regressiva ................................................................................................................. 47 2.3.1.7. Outras restrições de ordem diversa............................................................................................ 48
2.3.2. Algumas características lingüísticas dos nominais ............................................................49
2.3.2.1. A Semântica dos nominais ........................................................................................................ 49 2.3.2.2. A Sintaxe dos nominais ............................................................................................................. 51 2.3.2.3. Nominais e discurso .................................................................................................................. 52
9
2.3.2.4. O sufixo “-ção iterativo” ........................................................................................................... 53
3. A NOMINALIZAÇÃO NOS DICIONÁRIOS..................................................................55
3.1. NOMINAIS EM DICIONÁRIOS DE LÍNGUA........................................................................................56
3.1.1. Macroestrutura ...................................................................................................................56
3.1.1.1. Inserção dos nominais ............................................................................................................... 56 3.1.1.2. Inserção dos sufixos nominalizadores ....................................................................................... 58
3.1.2. Microestrutura ....................................................................................................................62
3.1.2.1. As definições dos sufixos nominalizadores e dos nominais ...................................................... 62 3.1.2.2. A explicitação da etimologia ou da formação dos nominais...................................................... 64 3.1.2.3. A apresentação das exigências sintáticas dos nominais ............................................................. 65 3.1.2.4. As remissões dos verbos para os nominais correspondentes e vice-versa ................................. 67 3.1.2.5. A explicitação das colocações em que os nominais participam................................................. 68
3.2. OS NOMINAIS NO MODELO DO DICTIONNAIRE EXPLICATIF ET COMBINATOIRE..............................68
4. ANÁLISE DOS NOMINAIS NEOLÓGICOS ..................................................................71
4.1. DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA E DA ESTRUTURA DO DICIONÁRIO................................................71
4.2. DESCRIÇÃO DOS NOMINAIS PRESENTES NA BASE..........................................................................74
4.2.1. Nominais com o sufixo -ção ................................................................................................74
4.2.2. Nominais com o sufixo -mento ............................................................................................78
4.2.3. Nominais com o sufixo -agem .............................................................................................81
4.2.4. Nominais com o sufixo -da..................................................................................................83
4.2.5. Nominais com o sufixo -nc(i)a ............................................................................................84
4.2.6. Nominais formados por derivação regressiva ....................................................................86
4.3. MODELO DE VERBETE...................................................................................................................87
4.3.1. Apresentação em ordem alfabética.....................................................................................88
4.3.2. Apresentação do verbete do sufixo .....................................................................................90
4.4. GLOSSÁRIO DOS NOMINAIS NEOLÓGICOS PRESENTES NA BASE.....................................................92
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................102
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................106
ANEXOS ...........................................................................................................................109
1. NOMINAIS FORMADOS COM O SUFIXO -ÇÃO ...................................................................................109
2. NOMINAIS FORMADOS COM O SUFIXO –MENTO..............................................................................152
3. NOMINAIS FORMADOS COM O SUFIXO -AGEM ................................................................................163
3.1. Substantivos não-nominais formados com o sufixo -agem ..................................................170
4. NOMINAIS FORMADOS COM O SUFIXO -DA .....................................................................................177
4.1. Substantivos não-nominais formados com o sufixo –da ......................................................179
10
5. NOMINAIS FORMADOS COM O SUFIXO -NC(I)A ...............................................................................186
5.1. Substantivos não-nominais formados com o sufixo -nc(i)a..................................................189
6. NOMINAIS FORMADOS POR DERIVAÇÃO REGRESSIVA ....................................................................190
11
1. INTRODUÇÃO
A criação de novas unidades lexicais reflete mudanças tanto na estrutura da língua
como na sociedade e na cultura que a utilizam. Dessa forma, fazem-se necessários estudos
sistemáticos de observação e descrição das novas unidades lexicais. O presente estudo aborda
um aspecto específico desse fenômeno mais amplo: os substantivos formados a partir de
verbos por meio da utilização de determinados sufixos.
O interesse por este tema surgiu ainda durante a graduação, quando realizamos
pesquisas no âmbito da Iniciação Científica, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Ieda Maria Alves.
O estudo dos neologismos nos possibilitou refletir sobre vários aspectos da formação de
palavras em português, e o tema escolhido para esta dissertação representa apenas um dentre
eles.
1.1. Algumas hipóteses
A partir de observações prévias dos dados, pudemos elaborar algumas hipóteses que
guiariam nosso trabalho.
A primeira delas é que a concorrência entre os vários sufixos nominalizadores não é
aleatória, ou seja, cada um deles apresenta tendências e restrições de uso de ordem fonológica,
morfossintática, semântica e talvez mesmo discursiva.
Em segundo lugar, também observamos que os dicionários e as gramáticas muitas
vezes não descrevem tais tendências e restrições de maneira satisfatória. Da mesma forma, os
substantivos deverbais (ou nominais, termo usado nesta Dissertação; cf. 2.1.4.1) apresentam
características semânticas, sintáticas e discursivas específicas, cujas descrições nos
dicionários também não são satisfatórias.
Assim, foi possível notar que o fenômeno da nominalização ultrapassa a morfologia,
apresentando decorrências em outros níveis de descrição lingüística.
Esta Dissertação nasceu, portanto, a partir dessas considerações, mas também a partir
da necessidade de se elaborar o Dicionário de Neologismos do Português Brasileiro
Contemporâneo (Década de 90) (descrito mais detalhadamente no capítulo 4). Portanto, uma
das preocupações deste trabalho foi descrever os nominais neológicos sob a forma de verbete,
visando a sua integração nesta obra.
12
1.2. Metodologia
Faz-se necessário, ainda, descrever a metodologia utilizada. Como fonte de dados, foi
utilizada a Base de Neologismos do Português Contemporâneo do Brasil, integrante do
Projeto Observatório de Neologismos Científicos e Técnicos do Português Contemporâneo
do Brasil (Projeto Integrado de Pesquisa CNPq n.º 550520/2002-3, coordenado pela Prof.ª
Dr.ª Ieda Maria Alves). Esta Base é constituída por unidades lexicais neológicas extraídas dos
jornais O Globo e Folha de S. Paulo e das revistas IstoÉ e Veja nos anos entre 1993 e 20001.
Utilizando-se o método de coleta por amostragem, são analisados quatro periódicos por mês,
um em cada semana: O Globo (primeiro domingo do mês), IstoÉ (segunda semana), Folha de
S. Paulo (terceiro domingo) e Veja (quarta semana). A Base conta com 13.572 unidades
lexicais neológicas, que constituem mais de 24.600 ocorrências. Desse total, cerca de 1% são
formas nominalizadas: cento e doze formações com o sufixo -ção (cf. 4.2.1), trinta formações
com o sufixo -mento (cf. 4.2.2), treze formações com o sufixo -agem (cf. 4.2.3), cinco
formações com o sufixo -da (cf. 4.2.4), sete formações com o sufixo -nc(i)a (cf. 4.2.5) e 4
derivações regressivas (cf. 4.2.6).
São consideradas como neológicas as unidades lexicais que não estão incluídas no
corpus de exclusão, o conjunto de dicionários da língua geral que serve de parâmetro para a
determinação do caráter neológico, ou não-neológico, de uma unidade lexical. Assim,
integram o corpus de exclusão os seguintes dicionários:
� FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. 2
ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. 1 ed. 1975 (para o corpus correspondente ao
período de 1993 a 1999);
� ___. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3 ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1999. 1 ed. 1975 (para o corpus coletado em 2000);
� WEISZFLOG, Walter. Michaelis: moderno dicionário da língua portuguesa. São
Paulo: Melhoramentos, 1998. (para o corpus coletado a partir de 1999).
1 O Projeto não se encerrou nesse ano: os dados coletados a partir de 2001 estão sendo registrados em outra base
de dados, que não foi utilizada no presente trabalho.
13
Integram também o corpus de exclusão os vocabulários ortográficos publicados pela
Academia Brasileira de Letras, que apresentam na macroestrutura um grande número de
unidades lexicais que não integram outros repertórios:
� ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulário ortográfico da língua
portuguesa. Rio de Janeiro: Bloch, 1981 (para o corpus correspondente ao período de
1993 a 1997);
� ___. Vocabulário ortográfico da língua portuguesa. 2 ed. Rio de Janeiro: Academia,
1998. 1 ed. 1981 (para o corpus coletado a partir de 1999);
� ___. Vocabulário ortográfico da língua portuguesa. 3 ed. Rio de Janeiro: Imprensa
Nacional, 1999. 1 ed. 1981 (para o corpus coletado em 2000).
1.3. Organização desta Dissertação
A presente Dissertação está organizada em quatro capítulos (descontando-se esta
introdução): no capítulo 2, “Considerações teóricas”, apresentamos as conceituações de
neologia, nominalização e substantivo deverbal, com as quais trabalharemos durante o
restante do trabalho. Também procuramos situar a nominalização em relação a outros
processos morfológicos e elaborar uma espécie de tipologia dos fenômenos de nominalização.
Ainda no capítulo 2, abordamos especificamente um dos tipos de nominalização, a
nominalização por sufixação. Procuramos analisar os diferentes sufixos que desempenham
essa função e descrever suas diferenças morfológicas, sintáticas e semânticas.
Em seguida, o capítulo 3 procura analisar como os nominais são descritos pelos
dicionários de língua. No capítulo 4, após descrevermos os nominais presentes na Base,
buscamos elaborar os verbetes que integrarão o Dicionário de Neologismos do Português
Brasileiro Contemporâneo (Década de 90). Por fim, encerramos a Dissertação com um
capítulo de conclusão, onde tentamos mostrar em que medida o estudo dos neologismos pode
contribuir para o entendimento dos processos de formação de palavras do Português
Brasileiro.
14
2. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS
2.1. Conceitos de neologia, formação de palavras, nominalização
Apresentamos inicialmente os conceitos básicos que abordaremos no restante do
trabalho.
2.1.1. Neologia e neologismo
As unidades lexicais de uma língua constituem um inventário ilimitado, em
permanente renovação: certas palavras caem em desuso, surgem outras, de acordo com as
necessidades. Para isso, as línguas são dotadas de mecanismos que possibilitam aos seus
usuários a criação de novas unidades lexicais.
Uma nova unidade lexical (ou seja, uma unidade lexical criada em determinado
momento, que não existia anteriormente) recebe o nome de neologismo. Segundo Alves
(1990: 5), “[a]o processo de criação lexical dá-se o nome de neologia. O elemento resultante,
a nova palavra, é denominado neologismo.”
Dessa forma, o neologismo é caracterizado por ser “novo”. Entretanto, o conceito de
“novo” é sempre relativo a algo mais “velho”. Faz-se necessário, pois, estabelecer um critério
para a caracterização de uma unidade lexical como “nova” ou “velha”. O procedimento
adotado para o presente trabalho baseia-se no princípio metodológico do “corpus de
exclusão”, já descrito na Introdução (cf. 1.2).
Alves (1990), seguindo Guilbert (1975), reconhece cinco principais tipos de neologia:
a) Neologia fonológica;
b) Neologia sintática;
c) Conversão;
d) Neologia semântica;
e) Neologia por empréstimo.
A neologia sintática compreende os processos de derivação e composição, tratados nas
gramáticas tradicionais como processos de formação de palavras.
15
2.1.2. Formação de palavras
A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB – cf. Ferreira, 1986: XVI) e, a partir
dela, a literatura gramatical tradicional, se refere à neologia sintática com a denominação de
processos de formação de palavras:
Chama-se formação de palavras o conjunto de processos morfossintáticos
que permitem a criação de unidades novas com base em morfemas lexicais.
Utilizam-se assim, para formar as palavras, os afixos de derivação ou os
procedimentos de composição. (Dubois et al.2 apud Cunha e Cintra 1985: 83)
Assim, são basicamente dois os processos de formação de palavras: a derivação e a
composição3. São classificados no âmbito dos processos morfológicos, que incluem a flexão.
Neste trabalho, ambas as designações (neologia sintática e formação de palavras) serão
usadas indistintamente.
Dentre os tipos de neologia, o que receberá maior ênfase no presente trabalho será a
neologia sintática, por ser a mais relevante para o estudo da nominalização. A conversão
também será tratada, embora de forma mais superficial.
2.1.2.1. Importância dos estudos de neologia
Os estudos de neologia são encarados de maneiras distintas, dependendo da
perspectiva teórica ou da finalidade a que esses estudos se propõem. Do ponto de vista das
teorias conhecidas pela designação genérica de “gerativismo”, o conceito de neologismo não
se faz necessário. Essa problemática é muito bem resumida por Alves (2000: 98-9):
Segundo a óptica gerativista, a integração de um significado ou de uma
unidade lexical ao acervo não coloca nenhum problema particular: a criação lexical
é simplesmente representada pelo fato de que as classes lexicais constituem listas
abertas (Delesalle e Gary-Prieur, 1976, p. 12-8). Pierre Corbin (1982, p. 157)
2 DUBOIS, Jean et al. Dictionnaire de Linguistique. Paris: Larousse, 1973. 3 Algumas gramáticas incluem ainda outros processos, como a formação acronímica, que não serão tratados no
presente trabalho, por não serem relevantes para o fenômeno da nominalização.
16
comenta, a esse respeito, que o conceito de neologismo não se justifica, pois as
unidades lexicais construídas regularmente e seus empregos regulares não têm
idade, a não ser a das regras segundo as quais foram geradas. Palavras empregadas
recentemente sempre estiveram na língua, tanto quanto as regras que as formaram.
Estabelecendo, assim, uma analogia entre os níveis sintático e lexical, Corbin
declara que, do ponto de vista da competência, as primeiras datações atribuídas aos
neologismos podem ser conferidas, igualmente, às frases que formulamos,
provavelmente nunca geradas antes.
Entretanto, há muitos autores (inclusive alguns de formação gerativista) que não só
admitem o conceito de neologismo, como enfatizam sua importância para os estudos
lingüísticos. Uma primeira observação que se pode fazer é que a formação de palavras (ou
seja, a neologia) só pode ser adequadamente descrita por intermédio de seu produto, o
neologismo. Sobre isso afirma Barbosa (1996: 77):
/.../ À oposição entre processo e produto pode-se fazer corresponder a
distinção entre neologia e neologismo: se neologia é o processo que pode ser
definido em termos de uma tipologia, o neologismo é o produto que, depois de
passar por aquele processo, pertence a uma tipologia de neologia. Com efeito, de vez
que a neologia é o processo pelo qual a mudança lingüística provoca o aparecimento
de formas de significante e significado novas – não ainda encontradas na língua ou
num determinado conjunto de enunciados –, ela deve poder ser estudada ao nível de
suas conseqüências, de seus resultados, isto é, dos neologismos. (grifo nosso)
Portanto, para muitos autores, o estudo dos neologismos é fundamental para a
compreensão dos processos de formação de palavras.4
Outro aspecto muito importante do estudo dos neologismos é que estes apresentam
características psicolingüísticas, sociolingüísticas e pragmáticas que merecem ser descritas.
Mesmo não sendo o objeto do presente estudo, convém lembrar que o surgimento de um
neologismo está em geral estreitamente ligado a necessidades sociais. Uma dessas
necessidades é a nomeação de conceitos novos, comum nas ciências e nas técnicas, de onde
4 Ainda assim, alguns desses autores não admitem a validade de certos tipos de neologismos. Sobre isso, há o
trabalho de Lehrer (1996), que procura argumentar a respeito da importância do estudo dos chamados
“neologismos criativos”.
17
surge a necessidade dos estudos sobre a neologia terminológica. Nesse setor, Cabré (1993:
449) apresenta três vertentes distintas do estudo dos neologismos:
a) la vertiente lingüística: el sistema permite la adopción de recursos para
denominar las novedades;
b) la vertiente cultural: la neología refleja la evolución, la idiosincrasia y el
estado de desarollo técnico y cultural de una sociedad;
c) la vertiente política: para asegurar la pervivencia de una lengua como
lengua de cultura, la sociedad que la utiliza debe disponer de denominaciones que
garanticen la aptitud de dicha lengua para todas las necesidades expresivas y
comunicativas de sus hablantes.5
Portanto, além de sua importância para os estudos lingüísticos, os neologismos
também são importantes do ponto de vista cultural e até mesmo político.
O presente trabalho enfoca os neologismos sob o ponto de vista lingüístico, mas sem
deixar de lado esses outros aspectos aqui apontados. Como afirma Alves (2000: 126), “em
uma língua, as criações neológicas constituem uma evidência inequívoca de vitalidade,
essencial para suprir as necessidades e as condições de comunicação desse idioma”.
2.1.3. Modelos teóricos de formação de palavras
Com o objetivo de compreender melhor o mecanismo de formação de palavras,
descrevemos sucintamente o modelo teórico que melhor contribuiu para o nosso entendimento
da formação de palavras em geral e a nominalização em particular, sem no entanto nos
preocuparmos em argumentar a favor de sua validade ou adequação.
5 a) a vertente lingüística: o sistema permite a adoção de recursos para denominar as novidades;
b) a vertente cultural: a neologia reflete a evolução, a idiossincrasia e o estado de desenvolvimento técnico e
cultural de uma sociedade;
c) a vertente política: para assegurar a sobrevivência de uma língua como língua de cultura, a sociedade que a
utiliza deve dispor de denominações que garantam a aptidão de tal língua para todas as necessidades expressivas
e comunicativas de seus falantes. (tradução nossa)
18
O modelo a que nos referimos é o proposto por Bybee (1988, retomado em Vallès,
2004), que é bastante semelhante ao de Langacker (1987 e 1991). Este modelo parte de uma
série de pressupostos, muito bem descritos por Vallès (2004, p. 67):
(i) Els mots que formen part del lexicó tenen diversos graus de fixació (lexical
strength), que es deu fonamentalment a la token frequency dels mots. Els mots amb
un grau alt de fixació són de més fàcil accés, serveixen de base en les relacions
morfològiques i tenen una autonomia que els fa més resistents al canvi i els
predisposa a ser independents des del punt de vista semàntic.
(ii) Els mots del lexicó estan interrelacionats mitjançant conjunts de connexions
lèxiques entre els trets fonològics i semántics idèntics o similars. Les connexions
fonològiques i semàntiques paral·leles formen relacions morfològiques.
(iii) Els conjunts de mots que tenen patrons de connexions semàntiques i
fonològiques similars es reforcen mútuament i creen generalitzacions emergents que
es poden descriure com a esquemes. La productivitat dels esquemes és una
conseqüència directa de la type frequency.6
O primeiro e o terceiro pressupostos buscam integrar o uso da língua com a
representação lexical. É o segundo pressuposto que reflete a concepção teórica da estrutura do
léxico. Para Bybee, o léxico é organizado como uma rede de semelhanças: as unidades
lexicais apresentam uma série de semelhanças nos dois planos: o semântico e o fonológico. O
seguinte gráfico (inspirado em Bybee, 1988) pode ilustrar melhor:
6 (i) As palavras que fazem parte do léxico têm diversos graus de fixação (lexical strength), que se deve
fundamentalmente à token frequency das palavras. As palavras com um alto grau de fixação são de mais fácil
acesso, servem de base nas relações morfológicas e têm uma autonomia que as faz mais resistentes à mudança e
as predispõe a serem independentes do ponto de vista semântico.
(ii) As palavras do léxico estão inter-relacionadas mediante conjuntos de conexões léxicas entre os traços
fonológicos e semânticos idênticos ou semelhantes. As conexões fonológicas e semânticas paralelas formam
relações morfológicas.
(iii) Os conjuntos de palavras que têm padrões de conexões semânticas e fonológicas semelhantes se reforçam
mutuamente e criam generalizações emergentes que podem ser descritas como esquemas. A produtividade dos
esquemas é uma conseqüência direta da type frequency. (tradução nossa)
19
Observe-se que entre as unidades lexicais gato e gatos há muitas semelhanças no
plano fonológico; o mesmo ocorre entre mesa e mesas. Já entre mesas e gatos a única
semelhança é o fonema /s/ final.
No plano semântico, as semelhanças poderiam ser assim representadas:
Como se pode ver, entre gato e gatos, há semelhança total no significado lexical, mas
gatos apresenta, ainda, o significado de plural. Entre mesa e mesas, as semelhanças são as
mesmas. Já entre mesas e gatos, a única semelhança é o significado de plural.
Dessa forma, pode-se entender a segmentação de morfemas como uma
correspondência entre as semelhanças no plano fonológico e semântico simultaneamente: o
fonema /s/, que é a semelhança fonológica entre as unidades gatos e mesas, corresponde à
semelhança semântica “plural” entre o mesmo par.
As semelhanças podem ser totais, como nos exemplos apresentados, ou parciais, como
nos casos de alomorfia: entre gatos e mares, por exemplo, há um fonema que não tem
semelhança com nenhum outro:
20
Entretanto, a semelhança semântica é suficiente para que se perceba que se trata de um
morfema de plural.
Note-se que as semelhanças devem ser tanto fonológicas quanto semânticas;
semelhanças fonológicas que não apresentam semelhanças semânticas correspondentes são
enfraquecidas e tais unidades lexicais não são sentidas como relacionadas pelos falantes. É o
caso da série de verbos em -ceber: receber, conceber, perceber. Embora a semelhança
fonológica entre tais verbos seja grande, a semelhança semântica é nula.
No entanto, há casos de semelhanças fonológicas e semânticas bastante fortes, mas
que não são tradicionalmente considerados morfemas segmentáveis. É o caso do par casa /
casebre, por exemplo. Nesse par, o elemento cas- está presente em ambos, e com o mesmo
significado. Porém, embora cas- esteja presente também em outras unidades lexicais (como
casarão, casinha etc.), o elemento -ebre não se repete em nenhuma outra unidade lexical da
língua. Dessa forma, a análise tradicional não tem classificado o par casa / casebre como
pertencendo à mesma família de palavras.
O modelo de Bybee possibilita um tratamento interessante para esses casos. Como
mostrado anteriormente, no tratamento da alomorfia, nem todos os fonemas precisam
estabelecer relações com outros. Dessa forma, em casebre, apenas o elemento cas- seria
relacionado com outra unidade lexical:
Assim, o modelo dá conta da relação existente entre as unidades lexicais casa e
casebre, sem a necessidade de postular a existência de um morfema -ebre que só existiria em
uma única unidade lexical.
21
Até aqui, o modelo de Bybee foi descrito sob o ponto de vista da representação das
relações entre unidades lexicais. Resta ainda mostrar como esse modelo dá conta da criação
lexical.
O terceiro pressuposto mencionado anteriormente (p. 18) afirma que os “conjuntos de
palavras que têm padrões de conexões semânticas e fonológicas semelhantes se reforçam
mutuamente e criam generalizações emergentes que podem ser descritas como esquemas”. Ou
seja, várias unidades lexicais que compartilham semelhanças semânticas e fonológicas
formam um esquema abstrato que serve de modelo a outras formações.
Um exemplo: como mostrado anteriormente, o par gatos e mesas possui semelhanças
fonológicas (o fonema /s/ final em gatos e mesas) e semânticas (ambos têm o traço de plural
em seu significado). Se esse fosse o único par em que isso acontecesse, não seria suficiente
para gerar um esquema. Porém, a correlação entre o fonema /s/ final e o traço semântico de
plural ocorre em um número incontável de substantivos da língua portuguesa. Dessa forma,
cria-se um esquema correlacionando o fonema /s/ final ao significado de plural.
Nesse ponto, o modelo de Bybee se mescla com as idéias de Langacker (1987, 1991).
Esse autor criou uma representação para esses esquemas, parcialmente inspirada no conceito
de signo de Saussure, em que o pólo semântico é representado em maiúsculas, e o pólo
fonológico em minúsculas, separado por uma barra inclinada. Para simbolizar a unidade entre
ambos os pólos, usam-se os colchetes. Portanto, a representação do esquema pode ser
sistematizada assim: [PÓLO SEMÂNTICO / pólo fonológico].
No exemplo mencionado anteriormente, o da marcação do plural na língua portuguesa,
o esquema ficaria assim representado: [... PLURAL / ... s].
Assim, a partir de pares já existentes em que há correlação entre o plano fonológico e
o semântico, gera-se um esquema, que passa a ser aplicado para formar pares ainda não
conhecidos pelo falante, como ninja / ninjas. Curiosamente, o esquema se aplica até mesmo a
unidades lexicais inexistentes: se se perguntar a um falante do português qual é o plural do
substantivo *hujina, a resposta será *hujinas, mesmo se for uma seqüência fônica inexistente
na língua.
É fácil estender o mesmo raciocínio para a formação de palavras. Um exemplo da
prefixação: o conhecimento de formas como supercivilização, super-homem, supermercado,
supermodelo etc. permite generalizar o seguinte esquema: [... QUALIDADES SUPERIORES ... /
22
super-...]. A partir daí, o esquema pode ser aplicado para formações neológicas como
supercampeão, superjogo etc.
Como se pode perceber, nesse modelo não há diferenças significativas entre a flexão e
a derivação. Isso reflete a concepção de Bybee (expressa em Bybee 1985) que será abordada
mais adiante, em 2.2.
2.1.4. Nominalização
Apresentamos até aqui concepções gerais sobre a estrutura do léxico e a formação de
palavras. Nesta seção, descreveremos o conceito de nominalização e, após realizar uma
revisão da literatura sobre nominalização no português do Brasil, mostraremos como o
modelo de Bybee apresentado no item anterior pode ser aplicado a alguns fenômenos que
ocorrem no processo de nominalização.
2.1.4.1. Conceito de nominalização
A nominalização pode ser definida, em sentido amplo, como “a criação de um
substantivo a partir de qualquer categoria que não seja substantivo” (Rocha, 1998: 125).
Assim, podem-se criar substantivos a partir de verbos ou de adjetivos, como exemplifica
Rocha (1998: 125-6). Para o Autor, no entanto, a nominalização lato sensu parece incluir
apenas casos de derivação sufixal (incluindo aí a “derivação regressiva”); isso não está
explicito no texto, mas deduzimos que o Autor não classificaria como nominalização lato
sensu casos de conversão, como o poder (a partir de verbo) e o normal (a partir de adjetivo);
da mesma forma, não se incluiriam aí casos de conversão a partir de outras classes
gramaticais, em sentenças como:
(1) O “eu” é um pronome pessoal.
Em tais sentenças, vale lembrar a afirmação de Bechara (2004: 141): “Toda palavra,
parte da palavra ou toda unidade lingüística de maior extensão – a oração e o texto inclusive –
considerada materialmente, como “objetos substantivos” vale por um substantivo, na
metalinguagem.”
23
Dessa forma, por ser um uso bastante sistemático (aplica-se a toda palavra ou unidade
de maior extensão) e específico (apenas na metalinguagem), não se faz necessário englobar
tais casos na nominalização lato sensu.
Fenômeno um pouco diferente ocorre com adjetivos. A conversão de adjetivo a
substantivo é descrita em Bechara (2004: 145), onde recebe o nome de substantivação:
Certos adjetivos são empregados sem qualquer referência a nomes
expressos como verdadeiros substantivos. A esta passagem de adjetivos a
substantivos chama-se substantivação /.../
Nestas substantivações, o adjetivo prescinde do substantivo que o podia
acompanhar, ou então é tomado em sentido muito geral e indeterminado, não
marcado, caso em que se usa o masculino /.../:
O bom da história é que não houve fim.
O engraçado da anedota passou despercebido.
O triste do episódio está em que a vida é assim.
Também bem conhecido é o uso substantival do infinitivo verbal, em sentenças como
(2) Caminhar faz bem.
(3) Recordar é viver.
Esses dois últimos fenômenos (a substantivação do adjetivo e o uso substantival do
infinitivo) poderiam ser considerados no âmbito da nominalização lato sensu.
Já a nominalização stricto sensu consiste na formação de substantivos apenas a partir
de verbos; mais ainda, apenas na formação de substantivos abstratos com um significado
específico:
A nominalização stricto sensu é um fenômeno morfológico que consiste na
formação de nomes a partir de verbos. Em outras palavras, podemos dizer que, dado
um verbo, é possível prever a existência de um nome abstrato, derivado, sufixado,
correspondente, com o sentido de ‘ato, processo, fato, resultado, estado, evento ou
modo de X’, (Gunzburger, 1979), sendo X o verbo que constitui a base do processo
(consagrar/consagração, julgar/julgamento, contar/contagem, etc.). (Rocha, 1999:
5)
24
Desse modo, não se considera nominalização stricto sensu a formação de substantivos
como caçador, figurante, dormitório etc., por não possuírem o sentido de “ato, processo, fato,
resultado, estado, evento ou modo de X”.
No presente trabalho, o termo nominalização será empregado na acepção estrita de
Rocha (1999). Porém, em 2.2.3, será abordado um conceito um pouco mais amplo de
nominalização, para incluir não só fenômenos derivacionais, mas também lexicais e sintáticos;
em seguida, em 2.3, a partir de Basílio (1980), discutiremos brevemente o significado do
substantivo “formação”, nessa definição.
Também há certa confusão terminológica a respeito de como denominar o resultado do
fenômeno de nominalização. Poder-se-ia usar o mesmo termo (nominalização) para o
processo e para o produto, a exemplo de substantivos como construção (como será descrito
em 2.3.2.1). Foi essa a solução que utilizamos em Maroneze (2004). Entretanto, a polissemia é
muitas vezes indesejável, por gerar ambigüidades.
A expressão substantivo deverbal também pode causar confusão, primeiro porque
alguns autores (como Cunha e Cintra, 1985: 102) a utilizam para se referir apenas aos
substantivos resultantes de derivação regressiva; segundo, porque, mesmo se entendermos
deverbal como “derivado de verbo” em sentido amplo, o termo englobaria substantivos como
caçador, figurante e dormitório, já tratados anteriormente, e excluídos da conceituação de
nominalização.
O termo que vem sendo preferido na literatura (Rocha 1998: 127, Rocha 1999, Basílio
et al. 1993: 373) é nominal, que apresenta a desvantagem de ser também um adjetivo, com o
significado de “referente ao nome”, como em concordância nominal, regência nominal etc.
Entretanto, por ser o termo já relativamente consagrado, e por acreditarmos que não deva
causar ambigüidade, será o termo usado no presente trabalho.
2.1.4.2. Trabalhos sobre o fenômeno da nominalização no português do Brasil
O fenômeno da nominalização, embora não tenha sido extensivamente analisado, foi
objeto de importantes trabalhos em relação ao português do Brasil. O primeiro trabalho
importante sobre o tema de que temos conhecimento é a obra de Basílio (1980). Nessa obra,
aqui referida muitas vezes, a Autora objetiva desenvolver, para a língua portuguesa do Brasil,
25
uma descrição do léxico sob o enfoque das teorias gerativistas7. Nessa proposta, o capítulo IV
da obra, intitulado justamente “O fenômeno da nominalização em português”, trata da
aplicação de vários conceitos teóricos do gerativismo na descrição desse fenômeno. A esse
trabalho voltaremos a nos referir especialmente para a análise da chamada derivação
regressiva, em 2.3.1.6.
Essa mesma Autora orientou uma série de trabalhos que abordam a nominalização sob
pontos de vista variados. Mencionamos aqui alguns deles 8 , como Gunzburger 9 (1979),
Barreto 10 (1984), Gamarski 11 (1984), Azevedo 12 (1991), Meyer 13 (1991), Albino (1993).
Alguns desses também serão referidos aqui.
Basílio ainda retoma o tema, porém não de maneira tão detalhada, em obras
posteriores, como Basílio (1987) e Basílio (2004). Entretanto, também deve ser mencionado o
estudo de Basílio (1996), no âmbito do projeto “Gramática do Português Falado”, em que a
Autora busca relacionar o emprego de nominais ao grau de formalidade do discurso.
Outra contribuição importante para o estudo da nominalização no português é
representada pelos trabalhos de Rocha (1998 e 1999). O Autor, também discípulo de Basílio,
aborda a questão em algumas páginas de seu livro (Rocha, 1998), mas seu trabalho mais
importante nesse setor é o artigo “A nominalização no português do Brasil” (Rocha, 1999).
Esse artigo, largamente citado no presente trabalho, é uma descrição bastante extensa de
vários aspectos do fenômeno, como características semânticas, algumas restrições ao emprego
7 Vale lembrar que esta foi uma das primeiras obras no Brasil a abordar o léxico desse ponto de vista. 8 Todas essas referências foram mencionadas em Albino (1993). 9 GUNZBURGER, Maria Lúcia Guerra. Previsibilidade semântica em nominais correspondentes a verbos
intransitivos. 1979. Dissertação (mestrado em Lingüística). Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro,
1979. 10 BARRETO, Beatriz C. Nominalização no texto dissertativo: um estudo dos padrões sintáticos. 1984.
Dissertação (mestrado em Lingüística). Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro, 1984. 11 GAMARSKI, Léa. A derivação regressiva: um estudo da produtividade lexical em português. 1984. Tese de
doutorado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1984. 12 AZEVEDO, João Luiz Ferreira de. A questão do agente nas construções nominalizadas no discurso escrito em
português. 1991. Dissertação (mestrado em Lingüística). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
1991. 13 MEYER, Rosa Marina de Brito. A complementação da forma nominalizada deverbal sufixal e a conceituação
do complemento nominal. 1991. Tese de doutorado. Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro, 1991.
26
dos sufixos, uma análise a respeito do -ção iterativo14 (cf. 2.3.2.4) e um estudo sobre a
correlação entre o emprego de nominais e o tipo de discurso.
Todas as obras mencionadas nesta seção têm em comum o fato de partirem da
perspectiva da linha gerativista. Este trabalho, embora aproveite muitas contribuições dessa
corrente, parte de uma perspectiva diversa, como descrito em 2.1.4.3, a seguir. Daí a razão
pela qual certas afirmações desses trabalhos são aqui revistas e, por vezes, contestadas.
2.1.4.3. A nominalização no modelo de formação de palavras de Bybee
O modelo de formação de palavras de Bybee, anteriormente descrito, possibilita
interessantes análises do fenômeno da nominalização. Nesta seção, apresentamos algumas
delas, deixando outras para as seções 2.3.1 e 4.2, sobre as restrições ao emprego dos sufixos
nominalizadores.
Em primeiro lugar, a exemplo do par casa / casebre, mencionado em 2.1.3, existem
nominais que parecem apresentar um elemento sufixal, porém tal elemento não é recorrente
em outros nominais. É o caso, por exemplo, de comentário e tentativa (exemplos de Basílio
1980). Poder-se-ia, como em casebre, mostrado anteriormente, analisar tais casos
relacionando apenas o radical ao verbo primitivo:
Porém, nesse caso, não parece irrelevante o fato de -ário ser um sufixo empregado em
várias outras formações da língua, com um significado relativamente próximo do de
comentário. Além disso, nada há no modelo de Bybee que impeça que o mesmo sufixo se
uma a substantivos e a verbos, desde que se possa estabelecer relações semânticas e
fonológicas entre os substantivos sufixados. Portanto, outra análise possível seria (com dois
exemplos quaisquer para mostrar a relação):
14 Talvez a primeira análise desse fenômeno do ponto de vista morfológico.
27
Outra conseqüência desse modelo para o estudo da nominalização seria a possibilidade
de se relacionar nominais irregulares ou eruditos a seus verbos correspondentes, mesmo
quando o sufixo não é facilmente depreendido:
(A linha tracejada indica que a semelhança fonológica é apenas parcial.)
O nominal regular correspondente a conectar seria conectação; porém, a forma
existente na língua portuguesa é conexão. Outros exemplos semelhantes seriam os pares
sugerir / sugestão e persuadir / persuasão. Como se pode perceber, o modelo de Bybee
possibilita representar a correlação entre as formas mesmo quando uma delas é irregular ou
semi-regular. Porém, tais correlações não são suficientes para gerar esquemas, como será
discutido posteriormente (p. 28).
O modelo de Bybee possibilita ainda outro tipo de análise, que pode ser chamada de
“falso sufixo”, exemplificada com a lexia adição:
A semelhança fônica entre as lexias atuação e adição é grande; porém, enquanto
atuação é um derivado sufixal “legítimo” a partir do verbo atuar, o mesmo não pode ser dito
28
em relação a adição.15 Poder-se-ia concluir, assim, que se trata de um caso de semelhança
fônica sem semelhança semântica correspondente, a exemplo de conceber, perceber e
receber, anteriormente mencionados.
Porém, não parece ser esse o caso. A lexia adição apresenta semelhanças inegáveis
com outras lexias formadas com o sufixo -ção: é um substantivo abstrato, pode figurar em
construções com verbos-suporte (como efetuar uma adição) e apresenta o traço semântico de
“ação”. Acrescente-se a isso o fato de possuir um verbo semanticamente relacionado (embora
morfologicamente derivado), que é o verbo adicionar. Parece, portanto, razoável analisar o -
ção de adição como sendo o mesmo sufixo nominalizador de atuação, por exemplo. Casos
semelhantes seriam confecção, refeição, seleção, tradição (com o sufixo -ção) e aumento,
alimento, elemento, experimento (com o sufixo -mento).
Os pares “verbo / nominal” formados com o mesmo sufixo concorrem para a criação
de esquemas abstratos, como descrito anteriormente (p. 27). Assim, poder-se-ia representar os
esquemas dos sufixos -ção e -mento da seguinte forma:
[AÇÃO DE V / V-ção]
[AÇÃO DE V / V-mento]
No entanto, nem todos os pares “verbo / nominal” contribuem para a formação de tais
esquemas. Alguns deles, como o par sugerir / sugestão, mencionado anteriormente,
apresentam um padrão de formação que não se repete em outros pares da língua; além disso,
apresentam alterações fonológicas ad hoc, geralmente heranças de outros períodos históricos
da língua portuguesa, mas que são muito irregulares para formarem esquemas. Isso pode ser
percebido claramente quando se estudam as formações neológicas: apenas os esquemas
formados a partir dos padrões mais recorrentes são empregados em tais formações.
Voltaremos a essa questão ainda em 2.3.1, para tratar das restrições ao emprego dos sufixos.
15 Poder-se-ia argumentar que adição é derivado do verbo adir, como afirma o dicionário Houaiss; porém, tal
verbo é praticamente inexistente no português brasileiro contemporâneo, o que faz com que adição não seja mais
sentida como um derivado sufixal. Cf. Hay (2001) para uma análise de lexias derivadas que passam a ter uma
freqüência maior do que suas correspondentes primitivas.
29
2.2. A nominalização no âmbito dos demais processos morfológicos
Nesta seção, trataremos de situar a nominalização no quadro dos demais processos
morfológicos, apresentando alguns aspectos desse fenômeno que se revelam extrapolando o
âmbito da morfologia.
Em primeiro lugar, descrevemos o continuum dos processos morfológicos proposto
por Bybee (1985), para em seguida situarmos a nominalização nos vários pontos desse
continuum.
2.2.1. Maneiras de expressão de categorias gramaticais
Bybee (1985: 11) apresenta três maneiras principais pelas quais se combinam
elementos semânticos para formar expressões lingüísticas. São elas: a expressão lexical, em
que dois ou mais elementos semânticos são expressos por um único morfema lexical; a
expressão flexional, em que cada elemento semântico é expresso por um morfema, mas estes
se unem numa única lexia; e a expressão sintática, em que os elementos semânticos são
expressos por unidades totalmente separadas e independentes.
Entre a expressão lexical e a flexional encontra-se a expressão derivacional, que é
muitas vezes restrita e idiossincrática como a lexical, mas na qual há dois ou mais morfemas
distintos, como na flexional; e entre a expressão flexional e a sintática, encontra-se o que a
autora chama de gramatical livre, ou seja, morfemas dependentes, clíticos, partículas etc., que
não são livres como na expressão sintática, mas não chegam a formar uma única lexia com o
morfema lexical.
Portanto, o continuum pode ser assim esquematizado:
lexical - - - derivacional - - - flexional - - - gramatical livre - - - sintática
maior grau de fusão ----------------------------------------------- menor grau de fusão
(Bybee, 1985: 12)
O que determina se uma categoria gramatical será expressa como lexical ou como
sintática são a relevância semântica e a generalidade lexical.
30
A relevância semântica refere-se a quanto um elemento semântico afeta ou modifica o
significado de outro. Quanto maior a relevância, mais próximo o elemento estará da expressão
lexical:
If two meaning elements are, by their content, highly relevant to one
another, then it is predicted that they may have lexical or inflectional expression, but
if they are irrelevant to one another, then their combination will be restricted to
syntactic expression.16 (Bybee, 1985: 13)
A generalidade lexical, por sua vez, se refere à possibilidade de aplicação de
determinado elemento. Quanto mais geral, mais próximo o elemento estará da expressão
sintática:
By definition, an inflectional category must be applicable to all stems of the
appropriate semantic and syntactic category and must obligatorily occur in the
appropriate syntactic context. In order for a morphological process be so general, it
must have only minimal semantic content. If a semantic element has high content,
i.e. is very specific, it simply will not be applicable to a large number of stems.17
(Bybee, 1985: 17)
2.2.2. Diferenças entre flexão e derivação
Entender os processos gramaticais dessa forma possibilita uma interessante solução
para o problema das diferenças entre flexão e derivação.
Sobre esse problema, muito já foi escrito, mas há poucas conclusões definitivas.
Câmara Jr. (1984: 81-82), em texto clássico sobre o assunto, afirma que a derivação é de
“caráter fortuito e desconexo”, não constitui “um quadro regular, coerente e preciso”, e existe
16 Se dois elementos significativos forem, por seu conteúdo, altamente relevantes um ao outro, então é previsto
que eles tenham expressão lexical ou flexional, mas se forem irrelevantes um ao outro, então sua combinação
será restrita à expressão sintática. (tradução nossa) 17 Por definição, uma categoria flexional deve ser aplicável a todos os radicais da categoria semântica e sintática
apropriada, e devem obrigatoriamente ocorrer no contexto sintático apropriado. Para que um processo
morfológico seja assim tão geral, ele deverá ter apenas um conteúdo semântico mínimo. Se um elemento
semântico tiver um alto conteúdo, ou seja, se for muito específico, simplesmente não vai ser aplicável a um
grande número de radicais. (tradução nossa)
31
a “possibilidade de opção, para usar ou deixar de usar o vocábulo derivado”. Na flexão, por
outro lado, “há obrigatoriedade e sistematização coerente”, e ela “é imposta pela própria
natureza da frase”. A derivação forma um novo vocábulo, e “para cada vocábulo há sempre a
possibilidade /.../ de uma derivação”; na flexão, “não está na nossa vontade introduzir um
novo termo no quadro existente”.
Revisitando esse texto clássico, Rocha (1998, cap. 9) analisa mais detalhadamente
cada aspecto da flexão em português e afirma (embora não desenvolva essa idéia) que, “[d]e
fato, se observarmos bem, chegaremos à conclusão de que não há diferença de essência entre
a derivação e o que a G[ramática] T[radicional] chama de flexão” (Rocha, 1998: 207).
Essa idéia parece-nos acertada, e está de acordo com a proposta de Bybee (1985), já
mencionada anteriormente. Para esta autora, a distinção entre flexão e derivação é uma
questão de grau:
[I]t can be shown that derivational morphology is transitional between
lexical and inflectional expression, and that the differences that can be observed
between inflectional and derivational expression are just more prominent instances
of the differences identifiable among the inflectional categories.18 (Bybee, 1985: 82)
Dessa forma, adotamos, com Bybee, a posição de que a derivação e a flexão integram
um continuum, e que a maior ou menor proximidade a uma delas está relacionada aos
fenômenos de relevância semântica e generalidade lexical.
2.2.3. A nominalização nos vários pontos do continuum
Como mencionado anteriormente (cf. 2.1.4), a nominalização stricto sensu, na acepção
de Rocha (1999), parece englobar apenas fenômenos morfológicos (ou seja, derivacionais, do
ponto de vista do continuum aqui descrito). Porém, o próprio autor dá indicações de aspectos
da nominalização que fogem ao âmbito derivacional.
18 Pode ser mostrado que a morfologia derivacional está na transição entre expressão lexical e flexional, e que as
diferenças que podem ser observadas entre a expressão flexional e a derivacional são apenas casos mais
proeminentes das diferenças identificáveis entre as categorias flexionais. (tradução nossa)
32
2.2.3.1. Expressão lexical
Em primeiro lugar, podem-se considerar como formas de expressão lexical da
nominalização casos de supletivismo (Rocha, 1999: 6), como o par querer / vontade. Em
alguns casos, mesmo havendo um nominal derivado, este não cabe em certos usos, como no
seguinte exemplo de Rocha (1999: 6):
Foi necessário aguardar duas horas na fila, mas essa espera foi muito
boa, porque o médico ...
Ou seja, mesmo existindo a forma aguardo para significar a ação de aguardar, esta não
caberia nessa sentença. Esse fenômeno será ainda abordado em 2.3.2.1, sobre a semântica da
nominalização.
2.2.3.2. Expressão sintática
O extremo oposto da expressão lexical, ou seja, a expressão sintática da
nominalização, seria representada por perífrases como (4) (comparado à nominalização
morfológica (5)):
(4) Estou incomodado com o fato de João ter ido ao cinema sem me avisar.
(5) Estou incomodado com a ida de João ao cinema sem me avisar.
2.2.3.3. Expressão gramatical livre
A expressão gramatical livre, ou seja, por meio de morfemas dependentes, pode ser
exemplificada por casos de conversão: o poder, o dever etc.
Observe-se que esses exemplos parecem ser um pouco diferentes dos exemplos (2) e
(3), em 2.1.4.1 (transcritos aqui novamente):
(2) Caminhar faz bem.
(3) Recordar é viver.
Em (2) e (3), tem-se um emprego substantival do infinitivo, porém os verbos
caminhar, recordar e viver têm, cada um deles, um nominal correspondente
morfologicamente derivado: caminhada, recordação e vida. Já em poder e dever, o mesmo
não ocorre.
33
É curioso que isso aconteça com os verbos ditos modais: saber, dever, poder, querer,
entre outros. Outro fato curioso é que dois desses quatro verbos modais apresentam também
nominais relacionados semanticamente, mas não morfologicamente: dever / necessidade,
querer / vontade.
O motivo pelo qual isso acontece foge ao escopo do presente trabalho. Cabe apenas
aventar uma hipótese: o emprego substantival desses verbos pode ter se originado de
construções semelhantes às sentenças (2) e (3) e, por ter se tornado muito freqüente, passou a
ser sentido pelos falantes como a forma “padrão” de se nominalizar tais verbos.
2.2.3.4. Expressão derivacional
Por fim, a expressão derivacional da nominalização é exemplificada, evidentemente,
pelos casos de nominalização morfológica, como desenvolvimento (de desenvolver), ligação
(de ligar) etc., e é o tema principal desenvolvido no presente estudo.
Apenas a expressão flexional da nominalização não está presente em português.
Entretanto, voltaremos a essa questão nas considerações finais, para procurar argumentar que
a nominalização apresenta certas características que a aproximam da flexão.
2.3. A nominalização por sufixação
Até aqui, tratamos do fenômeno da nominalização de uma forma ampla, porém já com
certa ênfase na nominalização por sufixação. Nesta seção, apresentaremos os principais
sufixos nominalizadores da língua portuguesa, mostrando suas diferenças e restrições de
emprego e outras características sintáticas e semânticas dos nominais.
Os principais sufixos nominalizadores são descritos por várias gramáticas da língua
portuguesa. Mencionamos aqui apenas duas, as mais recentes e mais citadas.
A gramática de Cunha e Cintra (1985: 96-7) apresenta a seguinte tabela de sufixos
formadores de substantivos a partir de verbos:
SUFIXO SENTIDO EXEMPLIFICAÇÃO
-ança
-ância
-ença
ação ou o resultado dela, estado
lembrança, vingança
observância, tolerância
descrença, diferença
34
-ência anuência, concorrência
-ante
-ente
-inte
agente
estudante, navegante
afluente, combatente
ouvinte, pedinte
-(d)or
-(t)or
-(s)or
agente, instrumento da ação
jogador, regador
inspetor, interruptor
agressor, ascensor
-ção
-são ação ou o resultado dela
nomeação, traição
agressão, extensão
-douro
-tório lugar ou instrumento da ação
bebedouro, suadouro
lavatório, vomitório
-(d)ura
-(t)ura
-(s)ura
resultado ou instrumento da ação, noção
coletiva
pintura, atadura
formatura, magistratura
clausura, tonsura
-mento
a) ação ou resultado dela
b) instrumento da ação
c) noção coletiva
acolhimento, ferimento
ornamento, instrumento
armamento, fardamento
Como se pode perceber, os sufixos são agrupados de acordo com as classes
gramaticais das lexias primitivas e derivadas, e não de acordo com o significado. Ao
contrário, a gramática de Bechara (2004: 358) agrupa os sufixos baseando-se no significado,
bem como nas classes gramaticais:
I – Principais sufixos formadores de substantivos:
/.../
2) Para a formação de nomes de ação ou resultado de ação, estado,
qualidade, semelhança, composição, instrumento, lugar:
a) Derivados de verbo:
-ame: gravame
-ção, -são: coroação, perdição, compreensão, ascensão
OBSERVAÇÃO: Há de se atentar para a correta grafia de -ção e -são.
-mento: casamento, descobrimento
-ura, -dura, -tura: feitura, mordedura, formatura
35
-ança (-ancia), -ença (-encia): mudança, esperança, parecença, abundância,
convalescença (ou convalescência)
-ata: passeata
-ada: estada (estadia na norma de Portugal)
-ida (verbos da 2.ª e 3.ª conjugações): acolhida, partida
-agem: vadiagem
-ário: lapidário
Comparando ambas as listas, pode-se perceber que a segunda é mais completa, pois
inclui todos os sufixos que têm o significado de ação da primeira lista, e mais alguns. Porém,
torna-se necessário apresentar algumas considerações.
Em primeiro lugar, há sufixos que são bastante marginais na formação de nominais.
São tão pouco freqüentes que não têm “força” para gerar esquemas (como descrito em 2.1.3)
e, dessa forma, por vezes nem sequer são sentidos como sufixos pelos falantes, e também não
são empregados em formações novas (como será mostrado posteriormente, no capítulo 4). É o
caso do sufixo -ame e, de certa forma, também dos sufixos -ário, -ata e -ura (e variações).
Os sufixos -ança, -ancia, -ença e -encia são, na verdade, formas alomórficas de um
mesmo sufixo (porém cf. 2.3.1.5 e 4.2.5). A vogal inicial (a ou e) é, na verdade, a vogal
temática do verbo correspondente (a vogal da terceira conjugação apresenta-se sob a forma
alomórfica /e/: desistir / desistência). A forma com o -i- é semi-erudita, enquanto a forma em
-ça é derivada por via popular. Optamos aqui por representar esse sufixo por -nc(i)a, seguindo
Basílio (1996).
Os sufixos -ada e -ida também são, na verdade, um único sufixo, -da, acrescido da
vogal temática do verbo correspondente (a vogal da segunda conjugação apresenta-se sob a
forma alomórfica /i/: bater / batida). Talvez não seja um mero acaso o fato de esse sufixo
coincidir com a forma feminina do particípio. Também há casos em que o nominal apresenta
a forma masculina do particípio, mesmo se esta for irregular: mandar / mandado, pedir /
pedido, dizer / dito. Rocha (1999) opta por considerar os sufixos -da e -do como variantes
alomórficas de um mesmo sufixo. Voltaremos a essa questão em 2.3.1.4.
Além dos sufixos elencados por Bechara (2004), existem ainda outros, também pouco
freqüentes, tais como -mo (acrescentar / acréscimo), -ia (garantir / garantia) e -io
(raciocinar / raciocínio). Tais sufixos, assim como -ame, não têm “força” para gerar
esquemas e, por isso, não são empregados em formações neológicas.
36
Dessa forma, os sufixos mais empregados nos nominais são -ção e -mento. Porém, é
importante ainda destacar um tipo de formação de nominais bastante freqüente em português:
a chamada derivação regressiva.
A derivação regressiva consiste em retirar a parte final de um verbo e acrescentar-lhe
uma vogal temática nominal. As gramáticas tradicionais costumam dar interpretações
interessantes a esse fenômeno. Assim, lemos em Cunha e Cintra (1985: 102): “[a derivação
regressiva] consiste na redução da palavra derivante por uma falsa análise da sua estrutura”.
Ou seja, analisa-se o verbo chorar, por exemplo, como sendo derivado, por meio da
terminação -ar, de um substantivo primitivo e, dessa forma, cria-se choro.
Bechara (2004: 370) apresenta explicação semelhante, porém acrescenta um novo
dado:
Intimamente relacionada com a derivação temos a formação regressiva ou
deverbal, que consiste em criar palavras por analogia [grifo nosso], pela subtração
de algum sufixo, dando a falsa impressão de serem vocábulos derivantes: de atrasar
tiramos atraso, de embarcar, embarque; de pescar, pesca; de gritar, grito.
Analisar a derivação regressiva como a aplicação de um processo de analogia não é
algo novo, e merece um destaque. A idéia é que, a partir de pares como telefone / telefonar,
silêncio / silenciar, data / datar, em que o substantivo é primitivo em relação ao verbo,
formam-se, por analogia, embarque de embarcar, grito de gritar e pesca de pescar (para ficar
nos exemplos dados por Bechara).
Como se pode perceber, em muitos casos fica difícil saber qual é a forma primitiva.
Lemos em Cunha e Cintra (1985: 103):
Nem sempre é fácil saber se o substantivo se deriva do verbo ou se este se
origina do substantivo. Há um critério prático para a distinção, sugerido pelo
filólogo Mário Barreto: “se o substantivo denota ação, será palavra derivada, e o
verbo palavra primitiva; mas, se o nome denota algum objeto ou substância,
verificar-se-á o contrário.” (De gramática e de Linguagem, II, Rio de Janeiro, 1922,
p. 247.) Assim: dança, ataque e amparo, denotadores, respectivamente, das ações de
dançar, atacar e amparar, são formas derivadas; âncora, azeite e escudo, ao
37
contrário, são formas primitivas, que dão origem aos verbos ancorar, azeitar e
escudar.
O critério de Mário Barreto, aqui citado por Cunha e Cintra (1985), se tornou
praticamente um critério-padrão. Porém, embora possa dar conta da maioria dos casos do
ponto de vista etimológico, há que se considerar a relevância teórica de se saber a
direcionalidade da derivação. É o que faz Basílio (1980: 73-4):
Neste trabalho, afirmaremos, seguindo Jackendoff, que as correspondências
de traços sintáticos e semânticos em pares Nome / Verbo (doravante N / V) devem
ser consideradas como distintas do processo morfológico da formação de nomes
deverbais; afirmaremos, por outro lado, que a direcionalidade do processo
morfológico é irrelevante no fenômeno da nominalização. Assim, o termo
“nominalização” deverá cobrir não apenas nomes deverbais, mas também nomes
morfologicamente básicos associados a verbos. Mais especificamente, a
nominalização consiste num processo de associação lexical sistemática entre nomes
e verbos. [grifos nossos]
Cabe, aqui, retomar o conceito de nominalização apresentado em 2.1.4, para ser
reformulado à luz da idéia agora apresentada. Naquela seção, apresentamos o conceito de
Rocha (1999: 5), aqui retomado: “[a] nominalização stricto sensu é um fenômeno
morfológico que consiste na formação de nomes a partir de verbos”.
Deve-se entender, portanto, a expressão “formação de nomes a partir de verbos” não
no sentido histórico, puramente morfológico, de que há um verbo original e, a partir dele, se
forma um substantivo. Se se seguir a idéia de Basílio (1980), deve-se entender o fenômeno da
nominalização como apenas uma associação entre substantivos e verbos, independentemente
de qual deles é anterior na língua.
Tal posição é plenamente compatível com o modelo de estrutura do léxico de Bybee,
anteriormente descrito, que postula apenas uma rede de correspondências lexicais, sem que
seja necessário saber qual lexia é anterior ou posterior. Segundo as palavras da Autora:
/.../ What are represented as affixation rules in other models are in this
model patterns of connections /…/
38
I am suggesting, then, that what are usually thought of as morphological
rules do not have a representation that is independent of the lexical items to which
they are applicable. Rather, rules are highly reinforced representational patterns or
schemas /…/19 (Bybee, 1988: 13-5)
Assim, retomando o problema da derivação regressiva, pode-se representá-la no
modelo de Bybee da seguinte forma:
Há ainda outra possibilidade de análise: Rocha (1998: 185-7) propõe analisar a
derivação regressiva como um caso de derivação sufixal em que o sufixo é, na verdade,
“zero”:
Considerando-se o problema exposto sob a perspectiva da padronização
sufixal, não está correto dizer que em patrulha, melhora, desmate etc. não há sufixo.
Há, sim, o sufixo zero, razão por que os casos estudados no presente item devem ser
enquadrados como derivação sufixal, ou, se quisermos, como derivação sufixal zero
ou implícita (por oposição à derivação sufixal explícita). Em face do exposto, não
faz sentido falar-se em derivação regressiva. (Rocha, 1998: 187)
Porém, parece que tal análise se justifica apenas pela necessidade de coerência teórica
interna; o próprio Autor a justifica “sob a perspectiva da padronização sufixal”, ou seja,
apenas para que todos os tipos de nominalização sejam considerados como empregando
19 /.../ O que são representados como regras de afixação em outros modelos são neste modelo padrões de
conexões /.../
Estou sugerindo, portanto, que o que são geralmente pensados como regras morfológicas não têm uma
representação que seja independente dos itens lexicais aos quais são aplicáveis. Ao invés disso, as regras são
padrões ou esquemas fortemente reforçados /.../ (tradução nossa)
39
sufixos. Em determinadas correntes teóricas, essa característica faz-se importante; porém, na
abordagem aqui proposta, não julgamos necessária a postulação de um “sufixo zero”.
2.3.1. Restrições ao emprego dos sufixos
Após havermos exposto os vários sufixos empregados nos nominais, passamos a
descrever alguns fatores que condicionam seu emprego.
A pergunta que se faz ao se observar a grande variedade de sufixos nominalizadores
da língua portuguesa é a seguinte:
Dado um verbo (V) qualquer, é possível prever qual será a forma do
substantivo (N) a ele relacionado?
A partir de uma primeira observação dos nominais, a resposta parece ser “não”. Não
parece haver nenhuma propriedade gramatical ou semântica que exija que o nominal
relacionado a colocar seja colocação (e não colocamento) e que o relacionado a casar(-se)
seja casamento (e não casação), apenas para ficar nos dois sufixos mais freqüentemente
empregados. Dessa forma, o falante teria à sua disposição os seguintes esquemas (já descritos
em 2.1.4.3), os quais seriam aplicados indiferentemente a cada nominal encontrado:
[AÇÃO DE V / V-ção]
[AÇÃO DE V / V-mento]
No entanto, uma observação mais criteriosa revela uma série de tendências mais ou
menos fortes (algumas inclusive que parecem ser obrigatórias). Antes de apresentá-las,
porém, faremos algumas considerações teóricas a respeito de como e por que essas tendências
existem.
Tomemos um exemplo: pode-se notar que os nominais que apresentam o sufixo -ção
mas que têm como correspondentes verbos da segunda conjugação são quase sempre de
formação irregular. Alguns exemplos: receber / recepção, compreender / compreensão, obter
/ obtenção, suceder / sucessão. Embora a semelhança fônica seja suficiente para que o falante
perceba se tratar do mesmo sufixo, tais irregularidades não são capazes de gerar esquemas (cf.
2.1.4.3, anteriormente). Portanto, o esquema [AÇÃO DE V-ER / V-ção] não existe, o que impede
a existência de pares como crescer / cresceção, resolver / resolveção etc.
Outra tendência interessante é relacionada aos verbos terminados pelo sufixo -izar:
com tais verbos, a preferência é pelo sufixo -ção: autorizar / autorização, industrializar /
40
industrialização, valorizar / valorização etc. A partir da alta recorrência de pares desse tipo,
gera-se o esquema [AÇÃO DE V-IZAR / V-iza-ção].
Como se pode facilmente observar, esse último esquema é, na verdade, um
“subesquema” do esquema mais abrangente [AÇÃO DE V / V-ção]. Com isso, poder-se-ia
perguntar: se os falantes têm à sua disposição os esquemas gerais [AÇÃO DE V / V-ção] e
[AÇÃO DE V / V-mento], por que eles prefeririam utilizar um esquema mais específico?
Em outras palavras: se ambos os esquemas gerais (os sufixos -ção e -mento)
estivessem igualmente disponíveis para a formação de nominais a partir de verbos em -izar,
esperar-se-ia que existisse igual número de nominais em -ização e em -izamento, ou, pelo
menos, que essas quantidades refletissem a proporção geral de emprego desses sufixos na
língua como um todo. Porém, o que se encontra é o emprego exclusivo do sufixo -ção (ou
seja, do subesquema [AÇÃO DE V-IZAR / V-iza-ção]).
Langacker (1991: 48) propõe uma explicação para essa questão:
When a speaker has a notion to express, how does he choose among the
symbolic resources at his disposal? The likelihood of a given structure being
invoked appears to correlate positively with both entrenchment and specificity. As a
consequence, a familiar lexical item is generally used in preference to a novel
expression when the two are equally appropriate: the former is well-entrenched (by
definition) and more specific than any schema which may be activated to construct a
novel alternative. For example, because the word elevator is readily available, we
have no reason to coin a term like hoister or lifter to name this type of object.
Suppose, however, that a novel word is required. In this event a low-level schema,
because of its greater specificity, is more likely to be invoked than a more abstract
structure of comparable entrenchment. If the opposite were true, we might expect
the attested instantiations of a pattern to be distributed randomly through the space
of possibilities defined by the highest-level schema; but instead we normally find
them concentrated in certain regions /…/. This is the basis for the traditional view
that analogy is a major determinant of new formations. In our terms, it suggests that
novel instantiations are most commonly sanctioned by subschemas representing
local rather than global generalizations.20
20 Quando um falante tem uma noção a expressar, como ele escolhe entre os recursos simbólicos à sua
disposição? A probabilidade de uma dada estrutura ser invocada parece se correlacionar positivamente com
enraizamento [entrenchment] e especificidade. Conseqüentemente, um item lexical familiar é em geral usado
41
O problema das restrições ao emprego dos sufixos traz importantes questionamentos
teóricos, tais como os apontados aqui, e ainda outros, que fogem ao escopo deste trabalho.
Com essas reflexões em mente, passamos agora a enumerar algumas dessas tendências:
2.3.1.1. Sufixo -ção
O sufixo -ção é o mais freqüentemente utilizado nos nominais portugueses. Aplica-se
a verbos de todas as três conjugações; porém, com os verbos da segunda conjugação, somente
se apresenta em nominais irregulares, em que a forma recupera a raiz latina (porém cf. 4.2.1).
Muitos nominais em -ção da terceira conjugação e alguns da primeira também apresentam
essa característica.
O dicionário Aurélio (e em certo sentido também o dicionário Houaiss; cf. 3.1.1.2),
afirma que o sufixo é, na verdade, -ão (sem o fonema /s/ inicial), para englobar aí nominais
como arranhão e puxão. Essa análise não nos parece adequada, porque esses nominais
apresentam características gramaticais diferentes das dos demais nominais em -ção (como o
gênero, por exemplo).
Exemplos de nominais com -ção:
- Com verbos da primeira conjugação: citar / citação, educar / educação (sem
irregularidades na base); adotar / adoção, nadar / natação (com irregularidades na base);
preferencialmente a uma expressão neológica quando ambos são igualmente apropriados: o primeiro é bem-
enraizado [well-entrenched] (por definição) e mais específico do que qualquer esquema que possa ser ativado
para construir uma alternativa neológica. Por exemplo, como a palavra elevador já está disponível, não temos
motivo para cunhar um termo como subidor ou erguidor para nomear esse tipo de objeto. Suponha-se,
entretanto, que uma palavra nova seja exigida. Nesse caso, um esquema de baixo nível [low-level schema],
devido à sua maior especificidade, tem maior probabilidade de ser invocado do que uma estrutura mais abstrata
de enraizamento comparável. Se o oposto fosse verdadeiro, poderíamos esperar que as instanciações atestadas de
um padrão fossem distribuídas aleatoriamente pelo espaço de possibilidades definido pelo esquema de nível mais
alto; mas, ao invés disso, normalmente as encontramos concentradas em certas regiões /.../. Essa é a base para a
visão tradicional de que a analogia é um determinante principal de novas formações. Em nossos termos, isso
sugere que as instanciações neológicas são mais comumente sancionadas por subesquemas que representam
generalizações locais, mais do que globais.
42
- Com verbos da segunda conjugação: conceder / concessão, perceber / percepção
(todos com irregularidades na base);
- Com verbos da terceira conjugação: definir / definição, nutrir / nutrição (sem
irregularidades na base); dirigir / direção, sugerir / sugestão (com irregularidades na base).
O sufixo -ção é o único utilizado com verbos que apresentam os sufixos -izar e -ficar.
Parece haver mesmo uma tendência a nominalizar com -ção qualquer verbo terminado em -
i[C]ar (em que C representa qualquer consoante): abominar / abominação, agitar / agitação,
complicar / complicação, motivar / motivação. Tal tendência, apontada por Rocha (1999: 22),
pode ser descrita, à maneira de Langacker, como um esquema: [AÇÃO DE V-I(C)AR / V-i(C)a-
ção].
Há ainda outra tendência importante, que pode ter interessantes conseqüências
teóricas: os verbos derivados de bases terminadas em -mento (mesmo que, nesses casos, -
mento não seja considerado um sufixo) são preferencialmente nominalizados com -ção:
alimentar (de alimento) > alimentação
experimentar (de experimento) > experimentação
movimentar (de movimento) > movimentação
regulamentar (de regulamento) > regulamentação
segmentar (de segmento) > segmentação
(Nos exemplos apresentados, apenas em movimento e regulamento pode-se considerar
que há verdadeiros sufixos.)
Esse tema será retomado a seguir, em 2.3.1.2.
O sufixo -ção ainda apresenta um aspecto semântico que não pode ser desprezado, o
chamado “-ção iterativo”, analisado em 2.3.2.4.
2.3.1.2. Sufixo -mento
O sufixo -mento também se une a verbos de todas as três conjugações. É importante
mencionar que, nos verbos da segunda conjugação, a vogal temática /e/ passa a /i/. 21
Exemplos de nominais com -mento:
21 Rio-Torto (1998: 26 passim.) afirma que essa neutralização das vogais temáticas das segunda e terceira
conjugações se deve ao fato de que “os temas verbais seleccionados pelo sufixos são os de Particípio Passado”,
43
- Com verbos da primeira conjugação: acompanhar / acompanhamento, apagar /
apagamento;
- Com verbos da segunda conjugação: agradecer / agradecimento, sofrer / sofrimento;
- Com verbos da terceira conjugação: ferir / ferimento, seguir / seguimento.
Os verbos formados pelo sufixo -ecer (freqüentemente verbos parassintéticos) são
exclusivamente nominalizados com -mento: entristecer / entristecimento, envelhecer /
envelhecimento. Novamente aqui (cf. Rocha, 1999: 22), parece haver também uma tendência
a utilizar -mento com todos os verbos terminados em –e[s]er (em que [s] representa a
consoante /s/, independentemente de sua representação escrita): agradecer / agradecimento,
conhecer / conhecimento, crescer / crescimento.
Albino (1993: 41) aponta, ainda, que -mento é o sufixo preferido para nominalizar
verbos parassintéticos, não apenas os formados por en-X-ecer. O Autor não apresenta
exemplos, mas não fica difícil encontrar alguns: aprofundar / aprofundamento, aproveitar /
aproveitamento, encaminhar / encaminhamento, encerrar / encerramento, esclarecer /
esclarecimento, transbordar / transbordamento. Novamente, é possível postular a existência
de um esquema: [AÇÃO DE V(PARASSINTÉTICO) / V-mento].
Ainda em Albino (1993: 41), encontra-se referência ao trabalho de Gamarski (1984),
que demonstra que verbos freqüentativos em -ear e -ejar são quase que exclusivamente
nominalizados com -mento: bombeamento, sucateamento, gotejamento (exemplos de Albino).
Outra tendência do emprego de -mento, paralela à última apontada para o sufixo -ção,
manifesta-se com os verbos derivados de bases terminadas em -[ç]ão:
acionar (de ação) > acionamento
congestionar (de congestão) > congestionamento
equacionar (de equação) > equacionamento
posicionar (de posição) > posicionamento22
Possivelmente essas duas últimas restrições estejam relacionadas com o fato de se
evitar repetições de morfemas na mesma lexia, mesmo que esses morfemas não sejam mais
já que, nessa forma verbal, ocorre a mesma neutralização. Essa interessante hipótese não será, no entanto, objeto
de maior análise neste trabalho. 22 O dicionário Aurélio (Ferreira, 1999) registra apenas cinco exceções a essa restrição: acondicionação,
adicionação, colecionação, desproporcionação e inficionação, todas lexias de baixa freqüência.
44
segmentáveis sincronicamente. Foi-nos sugerido pelo Prof. Dr. Paulo Chagas de Souza, em
comunicação pessoal, que esse fenômeno pode ser comparado ao fenômeno fonológico
conhecido como “Optimal Contour Principle” (OCP), que é uma tendência universal de se
evitar repetir fonemas em seqüência. Neste trabalho, limitamo-nos apenas a apontar essa
idéia, não nos detendo em desenvolvê-la.
É importante, ainda, referir-nos a um último aspecto dos sufixos -ção e -mento: Basílio
(1993: 27) afirma que os verbos derivados tendem a ser nominalizados com -ção e os
primitivos, com -mento:
Ao tentarmos verificar se algum fator morfológico estaria ligado à
produção relativa de ocorrências de -ção e -mento, encontramos os seguintes
resultados. Mais de 60% das formações em -ção ocorrem sobre bases derivadas e,
portanto, menos de 40% sobre bases primitivas. Já com -mento sucede exatamente o
contrário, em proporções ligeiramente maiores: cerca de 65% das formações em -
mento são em bases primitivas, ficando apenas cerca de 35% para as bases
derivadas. Devemos, pois, concluir que as bases derivadas favorecem a utilização de
-ção e as bases primitivas favorecem -mento.
A Autora apresenta os números, mas não as lexias propriamente ditas. Por isso, não é
possível verificar as ocorrências; porém, essa hipótese pode ter sido mascarada devido ao alto
emprego dos sufixos -izar e -ficar, já apontados anteriormente (cf. 2.3.1.1) como de emprego
exclusivo com o sufixo -ção.
2.3.1.3. Sufixo -agem
Este sufixo, ao contrário dos anteriormente apresentados, não se une exclusivamente a
verbos, mas também a substantivos, podendo apresentar outros significados, como noção
coletiva (folhagem, ramagem) e qualidade (ladroagem, malandragem). Porém, quando se une
a verbos, é exclusivamente com verbos da primeira conjugação, possivelmente devido a uma
convergência entre a vogal temática verbal e a vogal inicial do sufixo: contar / contagem,
lavar / lavagem, listar / listagem, passar / passagem, filmar / filmagem.
Rio-Torto (1998: 31) parece sugerir, en passant, que este sufixo seria, na verdade,
apenas -gem, e a vogal -a- seria, de fato, a vogal temática:
45
/.../ é imperativo contrariar as descrições erróneas que as gramáticas
escolares fazem dos sufixos verbais, nas quais a vogal temática ora é correctamente
omissa do corpo do sufixo (-mento, -ção, -nte), ora aparece indevidamente nele
incorporada (-ante, -ente, -inte, -ada, -agem) /.../
Preferimos analisar o fenômeno como um caso de crase entre a vogal temática e a
vogal inicial do sufixo, como fazem os dicionários analisados (cf. 3.1.1.2).
Além dessa restrição de ordem morfológica, -agem ainda apresenta uma tendência de
ordem semântica: aplica-se quase exclusivamente a verbos de ação (raras vezes a verbos de
estado), em geral indicadores de operações. Basílio (198423 apud Rocha, 1999: 19) afirma,
ainda, que a grande maioria dos nominais em -agem são formados a partir de “verbos que se
referem basicamente a uma ação efetuada por um agente sobre um objeto específico”.
Exemplos: esmaltar / esmaltagem, ladrilhar / ladrilhagem, carimbar / carimbagem, modelar /
modelagem.
2.3.1.4. Sufixo -da
Como afirmado anteriormente (cf. 2.3), o sufixo -da é idêntico à desinência de
particípio, e Rocha (1999) considera o sufixo -do como seu alomorfe. Basílio (1996: 26)
afirma que “a ocorrência de -da é condicionada a verbos de movimento”: sair / saída, entrar /
entrada, subir / subida, chegar / chegada, partir / partida. Ora, a forma -do não apresenta a
mesma tendência: pedir / pedido, chamar / chamado. Dessa forma, talvez seja mais adequado
considerar ambos como sufixos diferentes, e não formas alomórficas de um mesmo sufixo.
O sufixo -da aparece ainda em muitas construções24 acompanhado do verbo-suporte
dar (dar uma olhada, dar uma lida, dar uma estudada etc.). É uma construção tipicamente
coloquial, e que pode também ser empregada sem o verbo-suporte, como mostra Rocha
23 BASÍLIO, Margarida. Relevância do fator semântico na descrição de processos de formação de palavras: um
estudo das formas X-agem em português. In: Encontro Nacional de Lingüística, 7, 1984. Rio de Janeiro: PUC, p.
96-101, 1984. 24 Em tais construções, não cabe jamais o sufixo -do, o que pode ser considerado mais um argumento contra a
análise de que sejam duas formas alomórficas.
46
(1999: 18): “Apenas com uma olhada a pessoa pode adivinhar...”. A respeito dessa
construção, há o recente estudo de Scher (2004).
2.3.1.5. Sufixo -nc(i)a
As duas formas desse sufixo, -nça (popular) e -ncia (erudita), podem se aplicar a
verbos das três conjugações, com a ressalva de que a vogal temática verbal /i/ se torna /e/. Nas
segunda e terceira conjugações, a forma popular -ença é rara. Alguns exemplos:
- Com verbos da primeira conjugação: confiar / confiança, liderar / liderança (forma
popular); ignorar / ignorância, tolerar / tolerância (forma erudita);
- Com verbos da segunda conjugação: crer / crença (forma popular); ocorrer /
ocorrência, sobreviver / sobrevivência (forma erudita);
- Com verbos da terceira conjugação: diferir / diferença (forma popular); desistir /
desistência, insistir / insistência (forma erudita).
Basílio (1993: 26) afirma que “o sufixo -nc(i)a é usado sobretudo com verbos
estativos, em especial os que apresentam contrapartes adjetivas em -nte”. De fato, pode-se
observar que a maioria dos exemplos mostrados aqui apresentam tais contrapartes: confiante,
ignorante, tolerante, crente, sobrevivente, diferente, desistente, insistente. Apesar disso, não
nos parece adequado analisar os nominais em -nc(i)a como formados a partir dos adjetivos em
-nte com o acréscimo do sufixo -ia, pelo motivo de que há tanto lexias em -nte sem o
correspondente em -nc(i)a (navegante, por exemplo) como lexias em -nc(i)a sem o
correspondente em -nte25 (cobrança, por exemplo). Ao invés disso, é preferível analisar tais
sufixos como semanticamente relacionados, a exemplo dos sufixos -ismo e -ista.
25 Curiosamente, há mais exemplos desse segundo tipo quando o nominal termina na forma -nça, do que quando
termina em -ncia. No caso dos nominais em -ncia, há vários casos de correspondentes adjetivais em -nte
dicionarizados, porém de baixíssima freqüência (anuência / anuente, ocorrência / ocorrente etc.). As
implicações teóricas dessa constatação não serão aqui largamente desenvolvidas, mas isso pode sugerir a
hipótese de que as duas formas seriam, na verdade, sufixos distintos. Quanto a isso, cf. também a seção 4.2.5.
47
2.3.1.6. Derivação regressiva
Por fim, deve-se ainda ressaltar as restrições ao emprego da derivação regressiva. A
primeira observação que se pode fazer é que há apenas muito raros casos de nominais
regressivos a partir de verbos das segunda e terceira conjugações. Basílio (1980: 78), de uma
amostra de cento e dezoito nominais formados por derivação regressiva, encontra apenas três
relacionados a verbos da segunda conjugação (vender / venda, escolher / escolha e perder /
perda) e um relacionado a um verbo da terceira conjugação (fugir / fuga).
Esse dado remete a outro fenômeno morfológico da língua portuguesa: o fato de que, a
partir de um substantivo primitivo, só é possível formar um verbo se este for da primeira
conjugação (exceto se for utilizado o sufixo -ecer):
Os verbos novos da língua formam-se em geral pelo acréscimo da
terminação -ar a substantivos. Assim:
esqui-ar radiograf-ar (a)doç-ar (a)frances-ar
nivel-ar telefon-ar (a)fin-ar (a)portugues-ar
/.../
Das outras conjugações apenas a 2.ª possui um sufixo capaz de formar
verbos novos em português. É o sufixo -ecer (ou -escer) /.../ (Cunha e Cintra, 1985:
99-100)
Pode-se notar facilmente a relação entre esses dados e a análise apresentada em 2.3
para a derivação regressiva: a alta freqüência das correspondências entre substantivo (não-
derivado) e verbo em -ar gerou um esquema que passou a se aplicar também em sentido
contrário, ou seja, de verbo em -ar para substantivo. Assim, quando um falante adquire um
novo par substantivo / verbo em -ar, ele apenas aplica o esquema e estabelece a
correspondência, sem que seja importante saber o que foi criado primeiro.
Por fim, apresentamos mais um dado que corrobora essa análise: Gamarski (198426,
apud Albino, 1993: 42-3), comparando casos em que um verbo possui dois nominais
correspondentes, um regressivo e outro sufixado, afirma que os regressivos tendem a
apresentar uma semântica de “visão abstrata ou resultado concreto”, enquanto os sufixados
26 GAMARSKI, Léa. A derivação regressiva: um estudo da produtividade lexical em português. 1984. Tese de
doutorado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1984.
48
apresentam uma semântica de “ação”. A partir dessa afirmação, pode-se observar como o
modelo de Bybee dá conta da relação entre semântica e morfologia: os substantivos que
reforçam a correspondência substantivo / verbo em -ar mencionada anteriormente são em
geral concretos (âncora / ancorar, perfume / perfumar etc.), enquanto os que reforçam a
correspondência verbo / substantivo sufixado (como a maioria dos tratados nesta dissertação)
designam ação abstrata.
Ou seja, como o substantivo primitivo tem apenas uma interpretação concreta, seu uso
reforça a associação entre “interpretação concreta” e “ausência de sufixo”, gerando um
esquema; este será aplicado ao substantivo derivado regressivo, que dessa forma, é associado
à “interpretação concreta”.
2.3.1.7. Outras restrições de ordem diversa
As restrições anteriormente apresentadas relacionam-se ao uso de determinados
sufixos, mas muitas vezes não são suficientes para explicar a inexistência de determinado
nominal. Há ainda outros motivos pelos quais não se formam certos nominais. Rocha (1999)
apresenta os seguintes:
a) Bloqueio paradigmático: não se forma um novo nominal com um sufixo diferente,
mas com exatamente o mesmo significado de outro já existente (porém, pode-se
formar um novo nominal com significado distinto, como no caso de ligação e
ligamento);
b) Verbos usados na linguagem coloquial (como botar, cutucar etc.) em geral não são
nominalizados, já que a nominalização é mais característica de discursos mais
formais (cf. 2.3.2.3);
c) Muitos falantes não criam nominais por acreditar que isso romperia com a língua
padrão;
d) Certos verbos, devido a seu uso semântico e sintático, não admitem nominais. São
os verbos de ligação, os verbos auxiliares e alguns verbos que indicam aspecto;
e) Por fim, há a chamada inércia morfológica, ou seja, nos casos em que a forma é
perfeitamente possível na língua, apenas ainda não foi criada.
Os motivos (c) e (e) podem muitas vezes estar relacionados.
49
2.3.2. Algumas características lingüísticas dos nominais
Apresentamos aqui apenas alguns apontamentos a respeito das características
sintáticas, semânticas e discursivas dos nominais. Dedicamos também uma seção ao chamado
“-ção iterativo”.
2.3.2.1. A Semântica dos nominais
Os nominais apresentam, por definição, o significado abstrato de “ato, processo, fato,
resultado, estado, evento ou modo de X” (cf. 2.1.4). Num primeiro momento, poder-se-ia
pensar que os vários sufixos nominalizadores estariam relacionados a determinadas nuances
de significado. Um exemplo: nos casos em que a um verbo correspondem dois ou mais
nominais formados com sufixos diferentes, cada um desses nominais apresenta determinado
significado: ligação apresenta o significado mais abstrato de “ação de ligar”, enquanto
ligamento tem o significado concreto de “instrumento que liga”. Dessa forma, poder-se-ia
concluir que o sufixo -ção estaria correlacionado a um significado mais abstrato, enquanto o
sufixo -mento teria um significado concreto.
Tal correlação não se sustenta a partir de uma análise mais criteriosa: há casos em que
parece ocorrer exatamente o contrário, como o par recepção / recebimento, em que o nominal
com o sufixo -mento tem significado mais abstrato. Em outros casos, ainda, os nominais
parecem ser sinônimos quase que absolutos, como lavação / lavamento / lavagem.
Dessa forma, pode-se falar em casos de especialização semântica, em que um nominal
se especializa em um significado mais concreto do que outro, porém isso não tem relação com
o emprego de determinado sufixo. Sobre isso, é relevante a observação de Bechara (2004:
357): “[a]o lado dos valores sistêmicos associam-se aos sufixos valores ilocutórios
intimamente ligados aos valores semânticos das bases a que se agregam, dos quais não se
dissociam”.
Ou seja, não é possível isolar o significado do sufixo, sem levar em consideração o
significado da base e do nominal resultante. Pode-se, entretanto, falar em restrições
semânticas ao emprego dos sufixos, como apresentado em 2.3.1.
Essas especializações semânticas também podem ocorrer sem que haja dois nominais
para o mesmo verbo, gerando, assim, uma polissemia. Por exemplo, estabelecimento pode
50
significar “ação de estabelecer”, mas também o lugar onde funciona determinada instituição
(estabelecimento comercial, estabelecimento de ensino).
Existe um tipo de especialização semântica bastante estudado, conhecido como
polissemia sistemática ou regular. Apresjan (1974: 16) define-o da seguinte forma:
Polysemy of the word A with the meanings ai and aj is called regular if, in
the given language, there exists at least one other word B with the meanings bi and
bj, which are semantically distinguished from each other in exactly the same way as
ai and aj and if ai bi, aj and bj are nonsynonymous.27
Muitos nominais apresentam casos de polissemia sistemática. Por exemplo:
• ação / objeto ou resultado da ação: construção, assinatura, dança, pintura,
composição, pesca, compra...
• ação / local da ação: entrada, parada, saída, escavação...
• ação / sujeito da ação: vigia, guarda, consolo...
Nos casos em que há dois ou mais nominais para o mesmo verbo, em geral um deles
se especializa em um desses significados (como nos exemplos mencionados anteriormente,
ligação / ligamento e recepção / recebimento). Nos demais casos, a polissemia “ação / objeto
ou resultado da ação” parece ser a mais freqüente.
Pode-se questionar se a polissemia regular se manifesta como uma derivação de
sentido a partir de um significado original, ou se o nominal já apresenta essa polissemia desde
o momento de sua criação. De acordo com o modelo de Bybee, não é absurdo pensar em
nominais que já “nascem polissêmicos”, pois é possível relacioná-los a nominais polissêmicos
já existentes. Em outras palavras, os nominais podem ser criados já polissêmicos por analogia
a nominais polissêmicos existentes.28
27 A polissemia da palavra A com as acepções ai e aj é chamada regular se, na dada língua, existir ao menos uma
outra palavra B com as acepções bi e bj, semanticamente distintas entre si exatamente da mesma maneira que ai e
aj e se ai e bi, aj e bj forem não-sinônimas. (tradução nossa) 28 Essa afirmação é corroborada pela existência de certos neologismos polissêmicos, como cabeamento (cf. cap.
4 e anexos). Não desenvolveremos esse tema no presente trabalho.
51
Ainda em relação aos aspectos semânticos, há nominais que se especializam tanto em
determinada acepção que acabam por perder a acepção original de “ação”. É o caso, por
exemplo, de desmanche, que designa uma oficina clandestina, e não a ação de desmanchar.
Caso semelhante se dá com verbos polissêmicos em que apenas uma das acepções
apresenta um nominal correspondente. Por exemplo, segurar pode significar “amparar,
impedir que caia” ou “tornar seguro” (entre outras acepções). Porém, o nominal segurança se
relaciona apenas à acepção “tornar seguro”, como em “a segurança dos cidadãos”.
2.3.2.2. A Sintaxe dos nominais
A primeira questão que merece ser tratada em relação à sintaxe dos nominais é quanto
à distinção entre “interpretação nominal” e “interpretação verbal” (nos termos de Basílio,
1980). Um exemplo:
a. A ferida inflamou
b. A inflamação da ferida preocupou o médico (sentido verbal)
c. A inflamação está doendo (sentido nominal) (Basílio, 1980: 80)
Tal distinção está relacionada à conservação da função predicadora do verbo no
nominal correspondente: o nominal inflamação em (b) é predicador, enquanto em (c) é apenas
um argumento. Em Basílio (1996), a Autora passa a denominar tais funções pelos termos
“função gramático-textual” e “função semântico-designadora”:
/.../ considera-se como função gramático-textual de um processo de
formação a nominalização do verbo para fins de enquadramento do mesmo numa
estrutura nominal e como função semântico-designadora a utilização da semântica
de um verbo para fins de designação de uma entidade. Em consequência, a função
gramático-textual corresponde a nominalizações deverbais predicadoras, enquanto a
função designadora corresponde a nominalizações que funcionam apenas como
argumentos (conferir Meyer, 1991). (Basílio, 1996: 23)
Os nominais em função gramático-textual tendem a apresentar estrutura argumental
semelhante à de seu verbo correspondente, como mostram os seguintes exemplos (os
colchetes marcam os argumentos que se equivalem nas construções com verbos e
substantivos):
52
(6a) [O candidato] discursou ontem na televisão.
(6b) O discurso [do candidato] foi aplaudido.
(7a) João recebeu [o prêmio].
(7b) O recebimento [do prêmio] foi festejado com alegria.
O argumento do substantivo, sempre regido de preposição, recebe o nome de
complemento nominal na gramática tradicional.
Há um tipo de construção em que o nominal desempenha a função de predicador,
porém, por ser gramaticalmente um substantivo, precisa de um “suporte verbal” para fornecer
os traços de tempo, modo e aspecto à sentença. Um exemplo:
(8) Os filhos fizeram uma visita ao pai
O verbo fazer, em (8) não tem propriamente um significado predicativo; é o nominal
visita que seleciona os argumentos “os filhos” e “ao pai”. O verbo fazer, nesse tipo de
construção, é conhecido como verbo-suporte.
Ainda outros exemplos:
(9) O pai recebeu a visita dos filhos.
(10) Os governantes têm a obrigação de respeitar a população.
(11) O repórter fez perguntas ao entrevistado.
2.3.2.3. Nominais e discurso
Vários estudos têm mostrado as relações entre nominalização e discurso (e também
texto). Observe-se, por exemplo, a afirmação de Rocha (1999: 29), de que “[o]s autores que
tratam do assunto são acordes em afirmar que o discurso formal é mais favorável ao emprego
de nominais do que o discurso informal”. No mesmo estudo, o Autor mostra que o texto
dissertativo é mais favorável ao emprego dos nominais do que o texto narrativo, numa
proporção de 3 para 1.
Albino (1993) levanta a hipótese de que o sufixo -mento tenderia a ocorrer mais em
textos com maior grau de formalidade. Também Basílio (1996) busca observar esse aspecto,
mostrando que, na língua falada, também é predominante o uso de nominais em situações
mais formais.
53
Outra característica relacionada ao aspecto textual-discursivo é o emprego de
nominais com a função de anáfora. Trata-se de um importante recurso de coesão textual.
Basílio (2004: 41) exemplifica com o seguinte parágrafo:
O presidente eleito decidiu indicar pessoas de sua confiança para as
posições-chave do governo. A decisão terá implicações complexas.
Como se pode observar, o nominal decisão retoma anaforicamente toda a idéia contida
no período anterior.
2.3.2.4. O sufixo “-ção iterativo”
Cabe ainda mencionar aqui um aspecto muito curioso do uso do sufixo -ção, que ainda
não foi tratado satisfatoriamente na literatura: o uso desse sufixo na formação de substantivos
que apresentam a idéia de ação iterada. Rocha (1999: 24) dá os seguintes exemplos:
Parem com essa bateção de porta!
Não suporto a xingação de professores todo dia.
Mas que chamação irritante!
Há uma colação generalizada na aula de Geografia.
Vocês têm que parar com essa faltação de aula.
Trata-se de um uso bastante comum na linguagem falada coloquial, que por vezes
concorre com a reduplicação, como em
Não suporto o xinga-xinga de professores todo dia.
O sufixo -ção iterativo apresenta características gramaticais diferentes de -ção
empregado de maneira neutra. A primeira delas, mais evidente, é que aquele não observa as
mesmas restrições do que este. Por exemplo, aplica-se normalmente a verbos da segunda
conjugação, como no seguinte exemplo de Rocha (1999: 25):
O candidato precisa parar com essa prometeção, senão ele vai se dar
mal.
Além disso, todas as formações com esse sufixo são regulares. Basta comparar
natação com nadação, neste exemplo (também de Rocha, 1999: 25):
Luísa, pára com essa nadação o dia todo!
Rocha (1999) apresenta uma série de restrições de várias ordens (fonológicas,
morfológicas e semânticas) ao uso de -ção iterativo. Descrevemo-las brevemente:
54
- não se aplica a formas já consagradas com o -ção neutro (preparação, realização
etc.);
- não se aplica a verbos monossilábicos (crer, vir, ler etc.);
- não se aplica a verbos típicos da linguagem formal (incumbir, presidir, decair etc.);
- não se aplica a verbos que indicam estado (existir, possuir etc.);
- não se aplica a verbos atributivos (pesar, medir, custar etc.);
- não se aplica a verbos terminados em -cionar, -cinar e -ciar;
- não se aplica a verbos terminados em -ecer.
Dentre essas restrições, parece-nos que as duas últimas, especialmente, não são tão
rígidas (talvez sejam possíveis formas como colecionação, agradeceção, ofereceção).
Pode-se perguntar se seria este um caso de dois sufixos homonímicos, ou apenas de
um único sufixo com um uso diferenciado. A posição de Rocha (1999) é clara:
Para finalizar, torna-se imprescindível frisar que o -ção iterativo e o -ção
neutro são um único sufixo, pois ambos apresentam o mesmo aspecto formal – a
criação de formas nominalizadas a partir de verbos –, e o mesmo sentido básico de
‘ato, efeito, fato, estado, processo, evento, modo ou resultado de X’. A diferença
entre eles está na “semântica de segundo grau”, uma vez que as formas com o -ção
iterativo, além de possuírem o significado próprio das formações nominalizadas,
apresentam extensão de sentido, que é a idéia de repetição. (Rocha, 1999: 28)
Embora a distinção semântica seja nítida, não há claramente diferenças funcionais
entre o -ção iterativo e o -ção neutro, o que torna arriscado analisá-los como homonímia.
Entretanto, há grandes diferenças quanto às restrições de emprego, o que traz mais
controvérsias à análise. Neste trabalho, optamos por considerá-los como acepções diferentes
de um mesmo sufixo, mas sem deixar de notar que outras análises são possíveis.
Procuramos, nesse capítulo, trazer uma série de apontamentos teóricos relacionados à
nominalização. Buscamos conceitualizar a nominalização no âmbito geral da formação de
palavras e também no âmbito dos processos morfológicos de maneira ampla. Por fim,
restringindo-nos à nominalização por sufixação e à derivação regressiva, buscamos analisar as
condições de emprego de cada processo para, por fim, apresentarmos algumas características
sintáticas, semânticas e discursivas dos nominais, bem como do sufixo -ção iterativo.
55
3. A NOMINALIZAÇÃO NOS DICIONÁRIOS
No capítulo anterior, descrevemos uma série de características dos nominais. Neste
capítulo, procuramos mostrar como tais características são apresentadas nos dicionários de
língua.
Os diferentes tipos de dicionários descrevem os nominais por diversos ângulos:
enquanto os chamados “dicionários de língua (geral)” procuram definir as lexias e explicitar
seus usos, os dicionários etimológicos indicam as origens das lexias no tempo, e os
dicionários de regência nominal descrevem os tipos de argumentos exigidos pelos nominais,
entre outros. Para mostrar as maneiras pelas quais os nominais são descritos, analisaremos os
seguintes dicionários de língua geral:
• FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Novo Aurélio Século XXI. 3.ª ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1999, 1.ª ed. 1975. (Doravante Aurélio)
• WEISZFLOG, Walter. Michaelis: Moderno dicionário da língua portuguesa. São
Paulo: Melhoramentos, 1998. (Doravante Michaelis)
• HOUAISS, Antônio e VILLAR, Mauro. Dicionário Houaiss da língua portuguesa.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. (Doravante Houaiss)
• BORBA, Francisco da Silva. Dicionário de usos do português do Brasil. São Paulo:
Ática, 2002. (Doravante DUP)
As citações dos dicionários foram extraídas de suas versões eletrônicas, com exceção
do DUP, não disponível em formato eletrônico. Por isso, a formatação das citações pode não
corresponder à dos dicionários impressos.
Nesses dicionários analisaremos principalmente os seguintes aspectos:
A. Macroestrutura:
a) A inserção dos nominais na nomenclatura do dicionário;
b) A inserção dos sufixos nominalizadores na nomenclatura do dicionário;
B. Microestrutura:
a) As definições dos sufixos nominalizadores e dos nominais;
b) A explicitação da etimologia ou da formação dos nominais;
c) A apresentação das exigências sintáticas dos nominais;
d) As remissões dos verbos para seus nominais correspondentes e vice-versa;
e) A explicitação das colocações em que os nominais participam.
56
Por fim, compararemos os verbetes analisados ao modelo de verbete do Dictionnaire
Explicatif et Combinatoire (Mel’čuk et al., 1995), inexistente em português, que apresenta um
padrão formal bastante completo para a descrição do léxico.
3.1. Nominais em dicionários de língua
Analisaremos, em primeiro lugar, a inserção dos nominais nas macroestruturas dos
dicionários e, em seguida, as microestruturas dos verbetes em que eles são descritos.
3.1.1. Macroestrutura
3.1.1.1. Inserção dos nominais
Nos dicionários de língua portuguesa, os nominais são apresentados como entradas
autônomas, ou seja, existem verbetes independentes para os nominais e para os verbos
correspondentes. Uma alternativa para esse modo de apresentação seria indicar o nominal
dentro do verbete do verbo correspondente, como fazem muitos dicionários em outras línguas.
Compare-se, por exemplo, o verbete eschew (“evitar”), em um dicionário de língua inglesa:
es·chew (es chōō´) vt. [ME eschewen < Anglo-Fr eschuer < OFr eschiver
<OHG sciuhan, to fear: akin to SHY1] to keep away from (something harmful or
disliked); shun; avoid; abstain from ―es·chew|al n. (Neufeldt e Guralnik, 1997:
463)
Como se pode perceber, a nominalização eschewal é apresentada ao final do verbete
do verbo eschew, com a única indicação de que se trata de um substantivo. A explicação para
isso é dada na introdução do dicionário:
It has been the purpose of the editors to include as run-in entries in boldface
type only those words one might reasonably expect to encounter in literature or
ordinary usage, and then only when the meaning of such derived words can be
immediately understood from the meanings of the base word and the affix. /.../
When a derived word has a meaning or meanings different from those which can be
57
deduced from the sum of its parts, it has been entered in a block of its own,
pronounced, and fully defined /.../.29 (Neufeldt e Guralnik, 1997: xvi)
Essa última frase explica por que outros nominais, como perception, têm entradas
separadas independentes.
Esse procedimento economiza espaço físico no dicionário, além de explicitar ao
consulente qual é o nominal relacionado a cada verbo. Porém, dificulta a busca pela lexia
derivada, especialmente se o consulente não for falante nativo da língua em questão, já que
ele tem de supor a forma primitiva; o consulente estrangeiro também teria o trabalho adicional
de procurar o significado do sufixo. Essa prática lexicográfica é muito utilizada na língua
inglesa (por exemplo, em dicionários como o American Heritage, e inclusive bilíngües, como
o Dicionário Essencial Europa-Oxford), e também em diversas outras línguas, como o russo e
o grego clássico.
Como tratado anteriormente (cf. 2.2.3.3), a conversão é um processo utilizado na
formação de vários nominais, principalmente a partir de verbos modais. Os dicionários não
entram em consenso para decidir se estes são casos de polissemia ou de homonímia. Por
exemplo, o Aurélio, o Houaiss e o DUP apresentam estes verbos em entradas únicas, com
indicação de mudança de classe gramatical no corpo dos verbetes. Já o Michaelis considera a
existência de duas entradas para dever (dever1 para o verbo e dever2 para o substantivo),
fazendo o mesmo com poder e ser, mas trata os verbos saber e querer como polissêmicos,
com indicação de mudança de classe gramatical no corpo dos verbetes. Como ambos os
dicionários afirmam utilizar o critério etimológico para distinguir lexias homonímicas, não
deveriam em princípio diferir nestes casos.
O problema da inserção dos nominais nos dicionários acaba esbarrando em outro
problema maior, o da escolha das entradas de maneira geral. Muitas vezes os dicionários não
explicam claramente quais foram os critérios utilizados. Uma importante exceção é o DUP,
que claramente explicita que o “conjunto das entradas foi estabelecido a partir de um corpus
29 Foi intenção dos editores incluir como subentradas em negrito apenas aquelas palavras que se espera encontrar
na literatura ou no uso comum, e apenas quando o significado de tais palavras derivadas possa ser imediatamente
compreendido a partir dos significados da palavra-base e do afixo /.../ Quando uma palavra derivada tiver um
significado ou significados diferentes daqueles que possam ser deduzidos da soma de suas partes, ela foi
colocada em um verbete próprio, indicada sua pronúncia, e inteiramente definida /.../. (tradução nossa)
58
da língua escrita em prosa no Brasil a partir de 1950” (Borba, 2002: v). Dessa forma, se
alguma lexia presente nos outros dicionários não consta no corpus, não está inserida no DUP.
Um exemplo é a nominalização querença, a partir do verbo querer, que, embora presente no
Aurélio e no Michaelis, é de baixíssima freqüência, e não consta no DUP.
Outro ponto importante é a presença de determinado nominal no dicionário sem que o
verbo correspondente esteja também presente. Isto não foi detectado nos dicionários
analisados (exigiria uma leitura exaustiva que se torna inviável), mas em princípio pode
acontecer, especialmente no DUP (se o nominal constar no corpus, mas o verbo, não). Isto é
relativamente comum em dicionários terminológicos, em que os substantivos têm a
preferência dos autores.
3.1.1.2. Inserção dos sufixos nominalizadores
A inserção de afixos nos dicionários de língua é importante para que o consulente
possa relacionar lexias diferentes formadas pelos mesmos processos, bem como compreender
o significado de lexias neológicas criadas com o afixo.
Todos os principais sufixos nominalizadores estão presentes nos dicionários
analisados, com exceção do DUP, que opta por não registrar senão lexias.
a) Sufixo -agem
O sufixo -agem é apresentado em duas entradas diferentes no Aurélio; as diferenças
entre ambas são duas: primeiro, os étimos diferentes; segundo, a definição de -agem2
apresenta o acréscimo do traço semântico “coleção”:
-agem 1. [Do lat. -agine, do acus. de -ago, ĭnis.] Suf. nom. 1. = 'ação' ou
'resultado de ação': voragem (< lat.), imagem (< lat.).
-agem 2. [Do provenç. -atge ou do fr. -age.] Suf. nom. 1. = 'ação' ou
'resultado de ação'; 'coleção': vadiagem, aprendizagem; folhagem, plumagem.
(Aurélio)
Acreditamos que o motivo pelo qual o dicionário Aurélio separe as acepções seja a
diferença de etimologia; mas os dicionários Michaelis e Houaiss também afirmam usar o
59
critério etimológico e, no entanto, apresentam este sufixo numa única entrada. Este último
dicionário ainda indica as diferentes etimologias no corpo da definição:
-agem suf (lat - aticum, através do fr - age) Exprime a idéia de coleção
(criadagem, folhagem), ato (lavagem, sondagem), estado (aprendizagem).
(Michaelis)
-agem suf. provindo 1) do fr. -age (suf. formador de subst. de base verbal
ou nominal), às vezes provç. -aitge, masculinos (em port., tb. de início masc.), do
lat. -atìcu-, em emprt. de várias épocas a partir do sXIV /.../; 2) vernaculização
fecunda do mesmo suf. em conexão com um sem-número de v. da 1ª conj. (de tal
modo que o a inicial passou a ser vivido como a vogal temática dessa conj.) /.../ -
casos em que funciona como indicador de ação, estado, resultado da ação do v. de
orig.; 3) vernaculização do mesmo suf. em um sem-número de subst., sem
necessariamente serem o resultado de uma ação verb. e indicando, por vezes, sentido
coletivo /.../ 4) oriundo da term. lat. -go,ìnis, como em imagem (imágo,ìnis),
voragem /.../; conexo com -ático, -ádego, -ádigo e -ágio (Houaiss)
b) Sufixo -ção
O dicionário Aurélio apresenta uma entrada para o sufixo -ção, mas remete para outro
sufixo, -ão3, para com isso abarcar também nominais como arranhão e puxão (cf. 2.3.1.1). Já
o Michaelis apresenta apenas o sufixo -ção:
-ão 3. [Do lat. -iōne (do acus. do lat. -io, ōnis ).] Suf. nom. 1. = 'ação' ou
'resultado da ação': arranhão, puxão. [Equiv.: -ção, -ição, -(s)são: nomeação (<
lat.); absolvição; extensão (< lat.), agressão (< lat.).]
-ção . [Do lat. -tione (do acus. do lat. -tio, ōnis < -t-, do part. pass., ou
supino, + lat. -io, ōnis .] 1. V. -ão3. (Aurélio)
-ção suf (lat tione) Forma substantivos derivados de verbo e que
exprimem a idéia de ação: cotação (de cotar), rendição (de render), fundição (de
fundir). (Michaelis)
O dicionário Houaiss apresenta -ção, -ão e -ação, cada um com várias acepções e
etimologias indicadas no texto da definição. Indica também casos de sinonímia entre os
sufixos, remetendo -ção para -ão e -ação, e também -ação para -ão. Porém, não entra em
60
consenso quanto à natureza destes sufixos: considera -ação como elemento de composição,
enquanto -ção e -ão são descritos como terminações. Não transcrevemos os verbetes aqui por
serem demasiado longos e detalhados.
c) Sufixo -mento
Da mesma forma, o dicionário Aurélio apresenta, além do sufixo -mento, a entrada -
imento, remetendo-a para -mento, enquanto os dicionários Michaelis e Houaiss apresentam
apenas uma entrada. O Michaelis ainda usa a indicação de homonímia para diferenciar mento1
(substantivo) de -mento2 (sufixo).
-imento. 1. Equiv. de -mento.
-mento . [Do lat. -mēntum , i.] Suf. nom. 1. = 'ação ou resultado da ação';
'coleção': ferimento; fardamento. [Equiv.: -imento: aparecimento, corrimento,
crescimento.] (Aurélio)
-mento 2 suf (lat mentu) Formador de substantivos deverbais que
indicam ação ou efeito: adensamento, aportuguesamento. (Michaelis)
-mento suf. 1) de orig. lat. vulgar -mentu, formador de substantivos der. de
verbos, tornado extremamente fecundo, com as term. -amento em verbos da 1ª conj.
e -imento em verbos da 2ª e 3ª conj. /.../ (Houaiss)
d) Sufixo -nc(i)a
Os três dicionários apresentam dois pares de sufixos: -ância e -ência, -ança e -ença,
ao invés de considerá-los como um único sufixo (ou mesmo como dois sufixos -ncia e -nça).
O Aurélio e o Michaelis fazem remeter -ância e -ência para, respectivamente, -ança e -ença,
mas não há nenhuma remissão entre estes últimos:
-ança . [Do lat. -antĭa, por via popular.] Suf. 1. nom. = 'ação' ou 'resultado
da ação', 'estado': matança, vingança. [Equiv.: -ância, -anço: mendicância;
recuanço.]
-ância . [Do lat. -antĭa, por via semi-erudita.] 1. V. -ança.
-ença . [Do lat. -entĭa , por via popular.] Suf. 1. = 'ação ou resultado da
ação'; 'qualidade': 'estado': parecença, querença. [Equiv.: -ência: abrangência.]
-ência . [Do lat. -entĭa , por via semi-erudita.] 1. Equiv. de -ença. (Aurélio)
61
-ança suf (lat antia) Junta-se a radicais verbais para formar substantivos
que designam ato ou o seu feito, estado, objeto sobre que recai a ação, aumento,
coletividade: mudança, cobrança, lembrança, confiança, criança, festança,
vizinhança.
-ância suf (lat antia) Forma erudita ou literária do sufixo ança. Como
este, forma substantivos verbais, com os mesmos significados que ele, a que ajunta
uma idéia geral de persistência ou habitualidade: elegância, vigilância etc. Figura em
palavras tomadas do latim, pelo que aparece umas vezes com radical diferente do
radical do verbo português correspondente: vigilância (lat vigilare, port vigiar).
-ença suf (lat entia) Elemento a que se pode dar o sentido geral de ato,
estado ou qualidade: diferença, doença, mantença.
-ência suf (lat entia) Tem os mesmos sentidos de ença: falência,
violência. (Michaelis)
Já o Houaiss indica, nas definições dos sufixos, as suas várias relações entre si,
fazendo também várias remissões:
-ança suf. das orig. da língua, formador de subst. abstratos oriundos de v.
da 1ª conj. /.../; a evolução para o port. dá -ança, mas a f. culta -ância passou tb. a
ser us. a partir do Renascimento, daí gerando-se uma situação em que, a priori, é
impossível ao usuário saber qual a que se impôs pelo uso, ocorrendo, em
conseqüência, não raro, casos em que os dois suf., com o mesmo sentido, concorrem
(constança/constância) /.../
-ância suf. formador com o suf. -ia de subst. abstratos oriundos de v. da 1ª
conj. a partir do Renascimento, em alternância com -ança (ver, onde se diz de sua
orig.) /.../
-ença suf. das orig. da língua, formador de subst. abstratos oriundos de v.
outros da 1ª conj.; como no caso de -ança (ver), ocorreu o desenvolvimento da f.
culta paralela -ência (ver), gerando por vezes divergentes (tipo
pertença:pertinência) /.../
-ência suf. formador de subst. abstratos oriundos de v. outros que da 1ª
conj.; como no caso de -ância e -ança, este é a f. culta paralela de -ença, que, a
partir do Renascimento, se difunde de tal arte que de certo modo estanca a
fecundidade de -ença /.../ ver -ância (Houaiss)
62
3.1.2. Microestrutura
A microestrutura de um verbete é em geral bastante complexa, com vários elementos
importantes para a descrição da lexia. Dentre estes, destacamos alguns que são mais
relevantes para a descrição dos nominais.
3.1.2.1. As definições dos sufixos nominalizadores e dos nominais
De maneira geral, os nominais são definidos através de uma expressão bastante fixa:
“ato ou efeito de V”, em que V é o verbo relacionado:
desmatamento. [De desmatar + -mento.] S. m. Bras. 1. Ato ou efeito de
desmatar; desflorestamento. (Aurélio)
desmatamento s.m. (a1958 cf. MS10) ato ou efeito de desmatar /.../
(Houaiss)
Esse tipo de definição é baseada em traços gramaticais, e tem a desvantagem de forçar
o consulente a procurar o significado do verbo. Por essa razão, o DUP a evita:
visita. [Dev. de visitar.] S. f. 1. Ato ou efeito de visitar; visitação. /.../
(Aurélio)
visita Nf /.../ 1 encontro por compromisso social ou afeição /.../ (DUP)
trans.mis.são sf (lat transmissione) 1 Ato ou efeito de transmitir;
transferência (de coisa, direito ou obrigação). /.../ (Michaelis)
transmissão Nf /.../ 1 transferência; mudança /.../ (DUP)
No verbete do verbo correspondente, encontramos uma definição paralela à do
substantivo:
visitar V /.../ 1 fazer visita; ir ver por compromisso social ou afeição
(DUP)
63
transmitir V /.../ 2 passar para outro; transferir (DUP)
No entanto, ao se evitar a definição morfológica, muitas vezes é necessário recorrer a
definições sinonímicas (como mostrado nos exemplos acima), que também forçam o
consulente a procurar o verbete do sinônimo.
Os sufixos nominalizadores são definidos através da explicitação dos traços
semânticos e gramaticais que eles acrescentam às bases. O dicionário Aurélio indica apenas os
traços, acrescidos de exemplos, enquanto o dicionário Michaelis escreve um parágrafo
explicativo (juntamente com os exemplos):
-mento . [Do lat. -mēntum , i.] Suf. nom. 1. = 'ação ou resultado da ação';
'coleção': ferimento; fardamento. /.../ (Aurélio)
-ença suf (lat entia) Elemento a que se pode dar o sentido geral de ato,
estado ou qualidade: diferença, doença, mantença. (Michaelis)
Não há homogeneidade entre as definições dos sufixos do Michaelis. Por exemplo, a
definição de -ença começa com “elemento”, enquanto a de -ança começa com um verbo:
-ança suf (lat antia) Junta-se a radicais verbais para formar substantivos
que designam ato ou o seu feito, estado, objeto sobre que recai a ação, aumento,
coletividade: mudança, cobrança, lembrança, confiança, criança, festança,
vizinhança. (Michaelis)
Já o dicionário Houaiss, ao concentrar-se nos traços históricos, descreve todas as
várias etimologias do sufixo, e traz numerosos exemplos. Tais verbetes constituem uma
verdadeira descrição histórica de cada sufixo, mas os traços semânticos e gramaticais são
mostrados de maneira confusa. Por exemplo, no verbete -mento, a única informação
gramatical apresentada é que ele forma substantivos derivados de verbos, tanto na acepção 1
quanto na acepção 2:
64
-mento suf. 1) de orig. lat. vulgar -mentu, formador de substantivos der. de
verbos, tornado extremamente fecundo, com as term. -amento em verbos da 1ª conj.
e -imento em verbos da 2ª e 3ª conj. (exemplificados, não exaustivamente, a seguir,
em a, b e c): a) abafamento, amontoamento, aporrinhamento, (seguem mais 81
exemplos) 2) com semelhante tipo de form. - isto é, subst. conexos com verbos, há
uns quantos como puros cultismos, isto é, latinismos cujos v. não se representam em
port. (ou se representam por outros cog.): adimplemento (ad + im +
pleo,es,évi,plétum,plére 'encher' + -mentum) (seguem mais 40 exemplos) (Houaiss)
3.1.2.2. A explicitação da etimologia ou da formação dos nominais
Muitos nominais foram formados ainda em latim, e dessa forma podem ser, sob certo
aspecto, considerados lexias primitivas em português; é o caso de recepção, por exemplo.
Muitas dessas apresentam irregularidades (cf. 2.3.1.1) mas, outras vezes, somente a indicação
da etimologia nos dicionários é que permite diferenciar entre esses dois casos.
A etimologia, informação ausente do DUP, é o primeiro elemento apresentado pelos
dicionários Aurélio e Michaelis. Ambos indicam o étimo latino quando a lexia é originária do
latim, e a segmentação morfológica quando é de formação vernácula. O dicionário Houaiss
faz o mesmo, apenas colocando a etimologia no final:
recebimento. [De receber + -imento.] /.../ (Aurélio)
re.cep.ção sf (lat receptione) /.../ (Michaelis)
recebimento s.m. /.../ ETIM receber com alt. da vogal temática -e- > -i- + -
mento
recepção s.f. /.../ ETIM lat. receptìo,ónis 'ação de receber' (Houaiss)
Quanto às etimologias dos sufixos, os dicionários as apresentam da mesma maneira
que as etimologias das demais entradas, com exceção do Houaiss, que apresenta um nível de
detalhamento muito grande nesse aspecto (cf. 3.1.2.1 anteriormente).
Chama a atenção o fato de, como mencionado anteriormente (cf. 3.1.1.2), o dicionário
Aurélio diferir dos outros dicionários ao apresentar o sufixo -agem em duas entradas
diferentes, marcando uma diferença etimológica: um é originário do latim, o outro é originário
do francês ou do provençal. Os demais dicionários não entram em consenso quanto à
65
etimologia desse sufixo. A solução mais interessante é a do Houaiss, que indica três étimos:
francês -age (como o Aurélio), provençal -aitge (como o Aurélio) e latim -aticu- (como o
Michaelis).
3.1.2.3. A apresentação das exigências sintáticas dos nominais
Muitos nominais possuem exigências sintáticas semelhantes às do verbo
correspondente, como mostrado em 2.3.2.2. Apresentamos aqui outro exemplo, extraído de
Luft (1999: 7-8):
(13) O rapaz colocou os livros na estante.
(14) Foi rápida a colocação dos livros na estante.
Os dois complementos verbais de colocar em (13) estão presentes como
complementos nominais de colocação em (14). Os dicionários indicam com bastante clareza
as exigências sintáticas dos verbos, já na explicitação da classe gramatical. Exemplificamos
com navegar:
navegar [Do lat. navigare.] V. t. d. 1. Percorrer (o mar e, p. ext., a
atmosfera ou o espaço cósmico) em navio, embarcação, aeronave, astronave ou
outro veículo: "Os asteques, segundo as últimas revelações das ciências etnológicas,
descendem dos fenícios, que nas suas esguias trirremes, e olhando a pálida estrela
polar, navegaram todos os mares" (Eça de Queirós, Cartas Familiares e Bilhetes de
Paris, p. 132) /.../ (Aurélio)
navegar v. (sXIV cf. FichIVPM) 1 int. conduzir embarcação ou aeronave
em segurança, entre pontos determinados <n. pelo rio Amazonas> <n. sobre o
Atlântico> /.../ (Houaiss)
na.ve.gar vtd (lat navigare) vti e vint 1 Viajar pelo mar ou pelos grandes
rios: Navegar pelo Atlântico, pelo Amazonas. Apenas uma vez navegamos. /.../
(Michaelis)
O dicionário Aurélio, além de indicar a classe gramatical (verbo transitivo direto e
circunstancial, verbo bitransitivo), ainda coloca entre parênteses, na definição, uma indicação
66
do tipo de complemento exigido (“o mar...”); todos os três dicionários também escolhem
exemplos e abonações claros o bastante para ilustrar as exigências sintáticas.
Entretanto, nos três dicionários, não há indicações tão explícitas a respeito das
exigências sintáticas dos nominais:
navegação [Do lat. navigatione.] S. f. 1. Ato ou efeito de navegar. /.../
(Aurélio)
navegação s.f. (1385 cf. Desc) 1 ato de navegar <avistaram terra após um
mês de n.> /.../ (Houaiss)
na.ve.ga.ção sf (lat navigatione) 1 Ato de navegar. /.../ (Michaelis)
Os dicionários não trazem nem mesmo exemplos ou abonações, com raras exceções:
abrimento [De abrir + -mento.] S. m. 1. Ação ou efeito de abrir; abertura:
abrimento da boca. (Aurélio)
colocação s.f. (1608 cf. VascSit) ato ou efeito de colocar(-se) 1 tomada
(física) de posição; situação <não gostei da c. daquele quadro sob a janela> /.../
(Houaiss)
a.ta.que sm (de atacar2) 1 Ação ou efeito de atacar; assalto, investida.
/.../ 3 Acusação, agressão, injúria, insulto, ofensa: Os ataques da imprensa ao
governo. (Michaelis)
Uma importante exceção é o DUP, que, ao pretender “fornecer elementos de avaliação
das propriedades sintático-semânticas do léxico” (Borba, 2002: vi), procura registrar com
bastante precisão os traços sintáticos dos nominais (bem como de todas as lexias presentes no
dicionário). Exemplificamos com o verbete colocação:
colocação Nf �[Abstrato de ação] [Compl1: de+nome.±Compl2:
em+locativo] 1 ação de pôr /.../ (DUP)
67
Como se pode observar, as exigências sintáticas do substantivo são descritas
esquematicamente entre colchetes, em itálico: há dois complementos, o primeiro com a
preposição de, e o segundo (opcional, como indicado pelo sinal ±), com a preposição em.
Ainda são indicadas as categorias exigidas (nome e locativo, respectivamente).
3.1.2.4. As remissões dos verbos para os nominais correspondentes e vice-versa
Muitas vezes o consulente necessita saber qual é o nominal relacionado a determinado
verbo, especialmente para produzir sentenças em que se exija sintaticamente um substantivo
ao invés de um verbo. Não se encontraram nos dicionários analisados remissões explícitas (do
tipo V.) dos verbos para os nominais correspondentes. Entretanto, alguns nominais aparecem
nos textos das definições dos verbos. Uma rápida busca na letra A do Aurélio revelou alguns
exemplos:
abotoar /.../ 6. Ter abotoamento; fechar-se /.../.
achacar /.../ 1. Ter achaques; adoecer, enfermar-se /.../.
acomodar /.../ 6. Ter lugar, ou acomodações para /.../.
admirar /.../ 7. Ter ou sentir admiração a si mesmo /.../.
afeiçoar /.../ 2. Ter ou tomar afeição, estima, amor /.../.
agourar /.../ 2. Fazer agouro /.../.
aguar /.../ 7. Ter aguamento (a cavalgadura) /.../. (Aurélio)
As remissões dos nominais para os verbos correspondentes também não são explícitas.
Aparecem implicitamente nas etimologias (cf. 3.1.2.2, anteriormente), quando a lexia foi
formada em português:
en.che.ção sf gír (encher+ção) /.../ (Michaelis)
Tais remissões também aparecem muito freqüentemente por meio das definições (cf.
3.1.2.1, anteriormente).
68
3.1.2.5. A explicitação das colocações em que os nominais participam
Os dicionários da língua portuguesa indicam as colocações das lexias basicamente de
duas formas: diretamente, por meio de subentradas, ou indiretamente, nos exemplos e
abonações:
visita . [Dev. de visitar.] S. f. 1. Ato ou efeito de visitar; visitação. /.../
Receber visita. 1. Ser visitado. (Aurélio)
visita s.f. /.../ ato ou efeito de visitar (algo ou alguém); visitação /.../ <aos
domingos fico em casa, nunca faço v.> (Houaiss)
visita Nf � [Abstrato de ação] /.../ [±Compl: a+nome locativo] /.../ 6
vistoria, verificação: Fizemos uma completa visita ao mesmo [banco de sangue] e
verificamos que [...] não há espaço nem mesmo para aumentar o quadro do pessoal
(CRU) (DUP)
Um tipo bastante freqüente de colocação que se constrói com base em nominais são as
construções com verbos-suporte, já descritas em 2.3.2.2. Registrar todas essas colocações
num dicionário seria tarefa demasiado ampla, a ser tentada possivelmente apenas em
dicionários específicos (como um dicionário de colocações, por exemplo). Além disso, deve
haver critérios claros para distinguir entre essas construções e combinatórias livres entre
verbos e substantivos. Por isso, poucas construções desse tipo aparecem nos dicionários de
língua.
3.2. Os nominais no modelo do Dictionnaire explicatif et combinatoire
O Dictionnaire Explicatif et Combinatoire (Mel’čuk et al., 1995) é um “dicionário
idealizado”, que pretende apenas servir de orientação teórica, já que cada um de seus verbetes
ocuparia pelo menos uma página. Enquanto dicionário teórico, seu modelo de verbete pode
trazer importantes reflexões para a elaboração de outros dicionários. Procuraremos analisar o
tratamento que o DEC propõe aos itens já mostrados nos outros dicionários.
Uma definição do DEC já indica todas as exigências sintáticas da lexia. Por exemplo,
uma possível definição de colocação, seguindo este modelo, seria
69
Colocação de X em Y (por Z) = ação de Z colocar X em Y,
indicando o número de argumentos e a relação destes com os argumentos do verbo
relacionado. Além disso, outras informações sintáticas (como as diversas maneiras pelas quais
os argumentos se realizam) são indicadas numa tabela.
As funções lexicais são um mecanismo bastante rico para a expressão de diversas
relações entre lexias. Dentre as diversas funções lexicais propostas em Mel’čuk et al. (1995),
várias são úteis para uma descrição correta dos nominais. Mencionamos as seguintes:
Verbalização (V0): relaciona um nominal ao verbo correspondente. Por exemplo:
V0(colocação) = colocar.
Funções de verbos-suporte: indicam qual é o verbo-suporte utilizado com o nominal.
Por exemplo, na expressão Oper(visita) = fazer [ART ~], a função Oper indica que a lexia
visita funciona como objeto do verbo-suporte, e a expressão entre colchetes explicita o uso do
artigo em fazer uma visita.
O DEC não apresenta em sua microestrutura espaço para a explicitação da etimologia
da lexia, nem prevê a inserção de afixos em sua nomenclatura.
Os dicionários da língua portuguesa, de maneira geral, procuram tratar os nominais da
mesma forma como tratam os demais substantivos. A falta de critérios, problema já bastante
trabalhado, é evidente no tratamento dos homônimos e, também, na escolha das entradas de
maneira geral.
Os sufixos nominalizadores são descritos de maneira bastante satisfatória, embora
existam certas incoerências e discordâncias de um dicionário para o outro, além do fato de
cada dicionário enfatizar determinadas características em detrimento de outras. Quanto às
definições, o DUP segue um formato diferente, mas que não parece ser superior aos demais.
O formato do DUP é, sim, superior na explicitação das exigências sintáticas dos
substantivos, ao apresentar com clareza e rigor o número de argumentos e seus traços
semânticos.
70
O fenômeno dos verbos-suporte ainda não foi suficientemente explorado na língua
portuguesa, fato que se reflete nos dicionários. É preciso primeiramente compreender melhor
esse fenômeno, principalmente em relação à natureza semântica dos verbos-suporte.
O modelo do DEC pode ser aproveitado numa série de aspectos, principalmente no
formalismo das funções lexicais e em sua clareza ao explicitar as relações entre verbos e
substantivos. Também os dicionários de regência nominal descrevem os nominais enfocando
determinados aspectos sintáticos que precisam ser estudados num trabalho posterior.
A partir das reflexões apresentadas neste capítulo, procuraremos elaborar os verbetes
para os nominais do Dicionário de Neologismos do Português Brasileiro Contemporâneo, em
4.3.
71
4. ANÁLISE DOS NOMINAIS NEOLÓGICOS
Neste capítulo, trataremos de analisar os nominais neológicos presentes na Base de
Neologismos do Português Contemporâneo do Brasil, visando descrevê-los a partir das
considerações teóricas tratadas no capítulo 2; em seguida, a partir de algumas considerações
expostas no capítulo 3, elaboramos os verbetes dos nominais que integrarão o Dicionário de
Neologismos do Português Brasileiro Contemporâneo (Década de 90); por fim, apresentamos
algumas considerações a respeito da aplicabilidade desse tipo de verbete em alguns tipos de
dicionários.
4.1. Descrição da metodologia e da estrutura do Dicionário
Os nominais neológicos aqui analisados foram extraídos da Base de Neologismos do
Português Contemporâneo do Brasil, integrante do Projeto Observatório de Neologismos
Científicos e Técnicos do Português Contemporâneo do Brasil (Projeto Integrado de Pesquisa
CNPq n.º 550520/2002-3). Esta Base foi construída ao longo de vários anos, por uma equipe
de alunos de Iniciação Científica da qual fizemos parte nos anos de 1999 a 2002, sob a
coordenação da Prof.ª Dr.ª Ieda Maria Alves. A metodologia de sua construção já foi descrita
na Introdução desta Dissertação (cf. 1.2).
A partir dos dados coletados e sistematizados nessa Base, está sendo elaborado o
Dicionário de Neologismos do Português Brasileiro Contemporâneo (Década de 90). Tal
dicionário, que conterá cerca de 3.000 entradas, refletirá as proporções dos processos de
formação de palavras encontrados na Base. Dessa forma, o número de entradas do Dicionário
será assim distribuído:
Ocorrências na Base % de ocorrências na
Base
Entradas no
Dicionário
Composição por
coordenação
804 6% 178
Composição por
subordinação
2293 17% 507
Conversão 12 0% 3
72
Derivação
parassintética
6 0% 1
Derivação prefixal 3983 29% 880
Derivação regressiva 4 0% 1
Derivação sufixal 1308 10% 289
Estrangeirismo 2351 17% 520
Formação
sintagmática
1724 13% 381
Neologia semântica 483 4% 107
Truncação 309 2% 68
Outros 294 2% 65
TOTAL 13572 100% 3000
Ainda obedecendo às proporções da Base, o número de derivados prefixais e sufixais
de cada prefixo ou sufixo também será proporcional ao número total da Base; por exemplo, o
prefixo não- apresenta 444 ocorrências na Base, o que corresponde a 11% do total de
formações prefixadas; dessa forma, 11% do total das formas prefixadas que constarão do
Dicionário serão formações com o prefixo não-.
Transcrevemos aqui a tabela de formas sufixadas, por ter relação com o presente
trabalho. Em negrito estão os sufixos nominalizadores. A relação de todos os neologismos
formados com tais sufixos encontra-se no Anexo.
Sufixo Ocorrências na Base
% de ocorrências na
Base
Entradas no
Dicionário
-ista 151 12% 33
-ismo 126 10% 28
-ano 119 9% 26
-ção 112 9% 26
-ado 66 5% 15
-eiro/a 56 4% 12
-ar 49 4% 11
73
-izar 47 4% 10
-(i)dade 33 3% 7
-mento 30 2% 7
-da 29 2% 6
-agem 28 2% 6
-dor 28 2% 6
-ês 23 2% 5
-vel 21 2% 5
-nte 20 2% 4
-ice 19 1% 4
-ão 18 1% 4
-mor 17 1% 4
-ico 16 1% 4
-ico 16 1% 4
-ete/-ette 15 1% 3
-esco 15 1% 3
-ólogo 15 1% 3
-ório 15 1% 3
-ria 13 1% 3
-aço 13 1% 3
-óide 11 1% 2
-ário 11 1% 2
-inho/a 10 1% 2
-ódromo 10 1% 2
-ino 10 1% 2
-cracia 9 1% 2
-al 9 1% 2
-ncia 6 0% 1
-ato 6 0% 1
-ito 6 0% 1
74
-crata 5 0% 1
-mente 5 0% 1
-ficar 5 0% 1
-eta 4 0% 1
-eca 3 0% 1
-ica 3 0% 1
-nça 3 0% 1
-ia 3 0% 1
-ivo 3 0% 1
4.2. Descrição dos nominais presentes na Base
Antes de tratar propriamente da elaboração dos verbetes, descreveremos os nominais
neológicos tendo em vista as considerações tratadas no capítulo 2.
4.2.1. Nominais com o sufixo -ção
Este sufixo está entre os sufixos mais freqüentes da Base, e é o que mais forma
nominais neológicos (cento e doze ao todo). Nesse ponto, as formações neológicas se
conformam às formações já assentadas na língua: tal sufixo é também o mais freqüente em
nominais consagrados (cf. Rocha, 1999: 26). Isso mostra que, de fato, como já tratado no
capítulo 2, o esquema [AÇÃO DE V / V-ção] é construído a partir das formações já
consagradas, mas em seguida passa a aplicar-se também na formação de lexias neológicas.
Outro fato curioso é que esse esquema é tão forte, no português brasileiro moderno,
que vem sendo aplicado até mesmo em um caso que rompe com uma das restrições apontadas
em 2.3.1.1: a impossibilidade de se unir a verbos da segunda conjugação. Observe-se este
exemplo:
Avenida Club. Popular, Popular, o Avenida Club. Vá com os amigos, sem
formalidades mas sem grandes expectativas. O som varia de acordo com o tipo de
show da noite, nesse clube que - os que têm a palavra club em seu nome - nada tem
75
a ver com o conceito de babado e <ferveção> que passou a caracterizar o circuito na
cidade. (FSP, 19-jun-94)
A lexia ferveção, a partir do verbo ferver, é o único exemplo de sufixo -ção unido a
verbo da segunda conjugação existente na Base. Também se pode notar que ferveção é
relacionada a uma acepção bastante específica do verbo ferver, qual seja, “agitar-se, excitar-
se, animar-se”. Para a acepção de “produzir ebulição”, há o nominal fervura. Esse fenômeno
foi mencionado anteriormente, em 2.3.2.1.
O sufixo -ção é o único que pode se unir a verbos formados com os sufixos -izar e -
ficar, como mencionado em 2.3.1.1. Dos cento e doze nominais neológicos em -ção, noventa
e cinco são formados a partir de verbos em -izar, e cinco, a partir de verbos em -ficar. Ao
todo, cem nominais, ou seja, a grande maioria dos formados com o sufixo -ção, estão nesse
caso.30
Curiosamente, muitos desses nominais são formados a partir de verbos não-atestados
ou neológicos: amorfização (de amorfizar), bicicletização (de bicicletizar), fujimorização (de
fujimorizar), historicização (de historicizar), serbificação (de serbificar), correspondendo
todos a verbos não-registrados nem mesmo no dicionário Houaiss. Muitos, ainda, são
formados a partir de nomes próprios: fujimorização (de Alberto Fujimori, ex-presidente do
Peru), peemedebização (da sigla PMDB, Partido do Movimento Democrático Brasileiro),
sarneyzação (do político José Sarney) e wittefibezação (da jornalista Lilian Witte Fibe).
Dessa forma, poder-se-ia analisar -ização como um único sufixo, relacionado a -izar
da mesma forma que, por exemplo, -logo é relacionado a logia (biólogo / biologia), ou -nte é
relacionado a -nc(i)a (cf. 2.3.1.5). Entretanto, os sufixos -izar e -ção são sentidos como
sufixos distintos, o que não corre com -ia, por exemplo.
O modelo de Bybee permite analisar os casos de -ização sem o verbo atestado como se
relacionando diretamente a outro nominal em -ização. Por exemplo:
30 Em dois casos, a primeira vogal do sufixo -ização aparece grafada de outra maneira, mas é fácil perceber que
se trata, de fato, do sufixo -izar. São eles: sarneyzação e wittefibezação.
76
Pode-se também analisar esse fenômeno como um esquema, à maneira de Langacker:
[AÇÃO DE TORNAR(-SE) X / X-iza-ção]
Esse esquema significa que, por exemplo, para indicar a “ação de tornar mensal”,
forma-se mensalização sem que se precise formar mensalizar.
Consideraremos, neste trabalho, os dois sufixos como distintos, apenas relacionados
entre si por meio desse esquema. Porém, talvez não haja grandes diferenças entre uma ou
outra análise. Deixamos a questão para trabalhos posteriores.
Excetuando-se, portanto, os nominais em -ização e -ficação, restam doze. Com
exceção do já mencionado ferveção, todos os demais são derivados a partir de verbos da
primeira conjugação. Entretanto, apenas quatro deles (clausulação, concertação,
exponenciação e teleportação) não são de uso familiar ou jocoso, o que pode indicar que o
sufixo -ção possa estar adquirindo essa conotação. Os casos de exponenciação e teleportação
são interessantes porque, à semelhança de vários nominais em -ização (cf. p. 75,
anteriormente), também se formam a partir de verbos não-atestados; além disso,
exponenciação é uma exceção à restrição apontada por Rocha (1999: 32) de que verbos em -
ciar não receberiam o sufixo -ção.
Dentre os oito nominais restantes, de uso familiar ou jocoso, dois são mais claramente
casos de -ção iterativo (cf. 2.3.2.4):
Em tempo: para acabar com a <tocação> de campainha, Andréa organizou
para essa semana uma tarde de autógrafos no condomínio. Público não vai faltar.
(IE, 17-set-97)
77
Dir-se-á que somos cada vez menos cristãos, cada vez menos católicos.
Mas não perdemos o vício dessa <choramingação> masoquista. (Fernando Pedreira)
(G, 01-out-00)
Outros (como embananação e ensebação) podem ser considerados também como
casos de -ção iterativo, porém essa função já não fica tão clara:
Crimes em novelas costumam ter resolução clara e definitiva. Ao final do
suspense, sempre se sabe quem matou e como. O mesmo não vem ocorrendo com os
crimes que acontecem fora da TV.
O relaxamento da pena de Paula Thomaz e o indiciamento do presidente
Bill Clinton são dois exemplos da mesma <embananação> que ronda a relação nem
sempre óbvia entre o que se torna visível e o que é considerado verdadeiro. (FSP,
18-out-98)
Doris reclama de <ensebação> às 18h (tít.)
Doris Giesse, futura apresentadora do programa de variedade "Aqui Brasil",
que estréia mês que vem no SBT, reclama da <ensebação> entre os personagens de
Andréa Beltrão e Raul Cortag em "Mulheres de Areia", novela das 18h da Globo.
(FSP, 16-mai-93)
Outros ainda, embora possam parecer também casos de -ção iterativo, podem também
ser analisados como simplesmente significando “ação de V”:
"<Montação> é a gíria que sai do universo dos travestis de rua para
significar também um modo mais extravagante, fashion ou caprichado de se vestir",
explica Erika. (V, 01-dez-99)
Ao cair da tarde, é hora da <saração>. Todos no tombadilho ao som de
música animada, com pesos amarrados às canelas, sacodem-se animadamente. Os
exercícios são imprescindíveis. O esforço a bordo é constante e necessário quando o
mar engrossa. (Silvio Ferraz) (V, 23-abr-00)
Nesses dois últimos casos, nota-se bem o fenômeno, já mencionado em 2.3.2.1, em
que um nominal se especializa em determinada acepção: como os verbos montar e sarar já
78
possuem nominais para algumas de suas acepções (montagem e cura31, respectivamente),
criam-se novos nominais para as acepções recentemente criadas.
Os nominais neológicos formados com o sufixo -ção parecem revelar, portanto, que tal
sufixo vem sendo aplicado, de um lado, a verbos formados por -izar e -ficar e, de outro lado,
a verbos que apresentam conotações familiares ou jocosas.
É importante mencionar, ainda, que alguns nominais neológicos podem ser
considerados trocadilhos ou jogos de palavras. É o caso de privadização (trocadilho com
privada e privatização), aquiagorização (referência ao extinto programa de TV “Aqui e
Agora”), entregação (trocadilho com integração e entregar) e massacração (trocadilho com
massacre e sagração da primavera).
4.2.2. Nominais com o sufixo -mento
A Base contém trinta nominais neológicos formados com o sufixo -mento. Desses,
onze também possuem formas paralelas, em geral com o sufixo -ção. São eles: capotamento
(capotagem), carreamento (carreação), desbloqueamento (desbloqueio), desgravamento
(desgravação), dilapidamento (dilapidação), encapsulamento (encapsulação), imbricamento
(imbricação), macaqueamento (macaqueação), monitoramento (monitoração), patenteamento
(patenteação) e rechaçamento (rechaço). Embora alguns desses nominais possam ter sido
criados por desconhecimento da parte do(a) autor(a) do texto, alguns deles parecem se
enquadrar em outras hipóteses explicativas. Em primeiro lugar, há o caso de desgravamento,
que possui uma acepção diferente da de sua forma paralela:
Como o <desgravamento> tarifário permitiu a entrada de produtos e
insumos importados no Brasil, nossas empresas se viram forçadas a um ajuste
obrigatório: entenderam as pressões competitivas adotando modernos processos de
controle de qualidade e de produção, elevando de forma visível sua produtividade e
partindo, de forma decisiva, para uma formidável redução de custos. Isso, apesar de
graves crises institucionais e quadro recessivo-inflacionário. (IE, 23-fev-94)
31 O nominal cura é um caso de supletivismo (cf. 2.2.3.1).
79
O nominal desgravamento especializa-se, portanto, na acepção “livrar de gravame”, e
não na acepção “desfazer uma gravação” (para a qual já existe o nominal desgravação).
Fenômeno semelhante parece ocorrer com rechaçamento. Sua forma paralela é um
derivado regressivo (rechaço); como mencionado em 2.3.1.6, os derivados regressivos
tendem a apresentar uma acepção mais concreta. Talvez para imprimir um significado mais
abstrato, o(a) autor(a) do texto tenha optado por criar rechaçamento:
E, quando se anunciava que Iberê voltaria à cena por meio da publicação de
suas memórias, surge em Porto Alegre o romance "Iberê", de autoria do jornalista e
escritor gaúcho Paulo Ribeiro, que revisita o drama que abalou o artista. Legítima
intenção, considerando-se a visão já formada a respeito, hoje obscurecida pelo
silêncio imposto pelo artista em vida e o puro <rechaçamento> da mídia. (FSP, 21-
set-97)
Em outros casos, algumas tendências descritas em 2.3.1.2 ajudam a explicar a
existência dessas formas paralelas. Os nominais carreamento, macaqueamento e
patenteamento, todos apresentando formas paralelas em -ção, estão perfeitamente adequados
à tendência de se usar -mento a partir de verbos em -ear. Estariam, portanto, mais adequados
do que suas formas paralelas. Análise semelhante pode ser feita para desbloqueamento; como
afirma Gamarski (1984 32 , apud Albino, 1993: 42-3), muitos verbos em -ear produzem
simultaneamente nominais sufixais e regressivos, sendo que, nesse caso, os sufixais são
sempre em -mento.
Outro caso interessante é o nominal encapsulamento, que segue a tendência (também
mostrada em 2.3.1.2) de se nominalizar com -mento os verbos parassintéticos. Portanto, assim
como nos casos anteriormente mencionados, a forma neológica parece mais adequada do que
a forma paralela já consagrada. Assim, apenas as lexias capotamento, dilapidamento,
imbricamento e monitoramento podem ser realmente analisadas como tendo sido criadas por
desconhecimento da forma já consagrada.
Dentre as dezenove lexias neológicas restantes, doze também se encaixam nas
restrições elencadas em 2.3.1.2. São elas: empalidecimento (caso de verbo parassintético em -
32 GAMARSKI, Léa. A derivação regressiva: um estudo da produtividade lexical em português. 1984. Tese de
doutorado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1984.
80
ecer), avistamento, enfeamento, enlutamento, esgorjamento (outros verbos parassintéticos),
cabeamento, imageamento, jateamento, ranqueamento, sucateamento, taxiamento33 (verbos
em -ear) e provisionamento (verbo formado a partir de substantivo em -ão).
Dentre as sete lexias neológicas restantes, há ainda um dado interessante: quatro delas
são formadas a partir de verbos prefixados (desatrelamento, desplacamento, reaparelhamento
e reassentamento). Talvez haja uma tendência a usar -mento para verbos prefixados,
semelhante à tendência de uso com verbos parassintéticos. Também se pode afirmar que o
verbo desplacar, correspondente ao nominal desplacamento, seja um caso de verbo
parassintético, formado por des-X-ar e placa:
Palco de acontecimentos históricos de várias épocas, a Catedral da Sé será
reaberta, em junho do próximo ano, como o mais novo museu da cidade de São
Paulo.
A Cúria Metropolitana teve a idéia de transformar a Sé em um "templo-
museu" durante as obras de reforma da igreja, interditada pelo Contru
(Departamento de Controle do Uso de Imóveis) desde julho de 99 por oferecer risco
de <desplacamento> da abóbada (queda de pedaços de alvenaria). (FSP, 15-out-00)
Por fim, cabe notar que também com -mento há casos (embora bem menos numerosos
do que com -ção) em que o verbo correspondente ao nominal não é atestado: tunelamento (de
tunelar), vuduzamento (de vuduzar).
Pode-se notar, portanto, que os nominais neológicos formados com -mento seguem as
restrições apresentadas em 2.3.1.2, e tendem a não apresentar conotações ou alterações de
significado.
33 Parece razoável incluir o nominal taxiamento como formado a partir de um verbo em -ear, por também
apresentar um significado freqüentativo; também se pode questionar se a restrição seria morfológica (caso em
que -ear seria considerado um sufixo) ou fonológica (caso em que não importaria se o verbo termina em -ear ou
-iar, pois a pronúncia é idêntica). Não investigaremos essas duas análises neste trabalho.
81
4.2.3. Nominais com o sufixo -agem
Dentre os vinte e oito substantivos neológicos formados com o sufixo -agem presentes
na Base, há muitos que não apresentam o significado de “ação de V”. Em brodagem (a partir
do substantivo inglês brother) e tucanagem, o significado presente é o de noção coletiva:
Depois de saber que Tasso não está interessado numa vaga na reforma
ministerial, programada para depois das eleições, FHC agora quer o governador
como presidente nacional do PSDB. A <tucanagem> do Ceará acha que Tasso
aceitará o cargo. E a turma de Covas bate palmas. (IE, 12-jul-00)
Em outros, como marquetagem, peruagem e pistolagem, nota-se um significado que
pode ser descrito como “qualidade de X” ou “modo de agir típico de X”:
/.../ Rubra Rosa e Perla Menescal - rivais em <peruagem> e no amor, já que
disputam as atenções de Demóstenes (José Wilker). (FSP, 01-mai-94)
Em outros casos, o substantivo pode apresentar, em alguns contextos, a noção de
coletivo e, em outros, a noção de “modo de agir”, como em cartolagem:
[coletivo de cartola] Uma velha raposa da <cartolagem> carioca se
convenceu durante a semana de que o futebol, definitivamente, não é mais o mesmo.
- No meu tempo, quando Vasco ou Flamengo perdia de quatro, a diretoria se
indignava, o clube pegava fogo, a torcida protestava, o técnico perdia o emprego, os
jogadores tremiam nas bases. (G, 06-out-96)
[modo de agir típico de cartola] Foi a mais pura manifestação de
<cartolagem>, naquilo que esta palavra embute de pior. Há 23 anos no comando do
futebol mundial, Havelange quebrou sua frieza germânica de uma maneira
desconhecida dos brasileiros. Sem disfarce, revelou autoritarismo, espírito mercantil
e culto à própria personalidade. (IE, 13-ago-97)
No Anexo, incluem-se as fichas de todos os substantivos em -agem; porém, aquelas
que não correspondem a nominais são inseridas em separado.
Há nove substantivos em -agem na Base que são indubitavelmente nominais. Todos
são formados a partir de verbos da primeira conjugação e apresentam claramente o significado
82
de “ação”, como já notado em 2.3.1.3. São eles: alavancagem (de alavancar), arapongagem
(de arapongar), bebericagem (de bebericar), bisbilhotagem (de bisbilhotar), crocodilagem
(de crocodilar), legendagem (de legendar), sexagem (de sexar), xeretagem (de xeretar) e
zeragem (de zerar). Observe-se que cinco desses nominais são de uso informal
(arapongagem, bebericagem, bisbilhotagem, crocodilagem e xeretagem). Também são de uso
informal diversos outros substantivos em -agem que não são nominais (como cafetinagem,
marquetagem, peruagem, veadagem etc.), o que pode apontar para uma tendência do uso
desse sufixo, semelhante à apontada para o sufixo -ção (cf. 4.2.1). Essa tendência pode até
mesmo explicar por que a forma bebericagem foi preferida à já dicionarizada bebericação.
Possivelmente tal tendência derive da alta freqüência de lexias como malandragem.
Além desses nove, há ainda outros quatro substantivos em -agem que podem ser
considerados nominais, embora seus verbos correspondentes não sejam atestados:
discotagem, discotecagem 34 , splintagem e telecinagem35 . Consideramo-los como de fato
nominais, por apresentarem o significado de “ação de V”; além disso, como já mostrado em
4.2.1 e 4.2.2, não é rara a existência de nominais correspondentes a verbos não-atestados.
Há, ainda, um substantivo em -agem cujo contexto indica ter um significado de ação
(e, portanto, seria um nominal), porém o significado exato da unidade lexical permanece
obscuro:
A <catituagem> de Itamar, porém, não deu certo. Meses depois, o governo
americano anunciava que o vencedor da concorrência do JPATS era a Raytheon.
(IE, 13-dez-95)
Portanto, dentre os vinte e oito substantivos neológicos formados por -agem, apenas
treze são verdadeiros nominais, o que revela que esse sufixo vem se tornando altamente
polissêmico; em seu significado nominalizador, vem sendo preterido em favor de -ção e -
mento.
34 Os nominais discotagem e discotecagem parecem estabelecer uma relação sinonímica. 35 O verbo telecinar não é dicionarizado, mas é atestado na Base.
83
4.2.4. Nominais com o sufixo -da
Também este sufixo é altamente polissêmico. Das vinte e nove atestações na Base,
apenas oito podem ser consideradas nominais. As demais vinte e uma têm, em geral, o
significado de coletivo36: companheirada, parentada, peãozada, tucanada; também aparece a
forma alomórfica -aiada: maracutaiada, rataiada, tucanaiada.
Dentre essas oito, há ainda algumas com um significado que parece se aproximar mais
de “modo de ser de X” ou “ação típica de X”. É o caso de euricada (referência a Eurico
Miranda, ex-deputado e “cartola” do Vasco), paulistada e serjada (referência ao ex-ministro
Sérgio Motta):
<Euricada> 1 (tít.)
O Flamengo vai transformar o menino Maílson Ribeiro Matias, 7, em
símbolo de sua disputa com o deputado federal Eurico Miranda (PPB-RJ), vice-
presidente do Vasco, que impediu o pequeno flamenguista de tirar uma foto com o
atacante Romário, anteontem, na inauguração do Centro de Treinamento
Romarinho, no Rio. (FSP, 15-out-00)
"Este torneio virou uma <paulistada>"
Do vice-presidente do Flamengo, Michel Assef, sobre a Taça Rio-São
Paulo. (IE, 12-fev-97)
Enquanto o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, arruma suas
confusões atiçando o PFL, insultando parlamentares ou esbanjando sua imperial
amizade, tudo bem. Por mais barulho que façam, essas <serjadas> têm pouco a ver
com a vida real. Quando ele azucrina as pessoas que usam telefones é que a coisa
fica séria. (FSP, 19-out-97)
Essa acepção é bastante semelhante a outra já descrita para o sufixo -agem (como em
marquetagem e peruagem; cf. 4.2.3). Optamos por não considerar tais casos como nominais.
Dentre os cinco nominais restantes com o sufixo -da, dois aparecem em construções
com o verbo-suporte dar (como descrito em 2.3.1.4):
36 Na verdade, parece mais adequado afirmar que o sufixo indicador de coletivo é, na verdade, -ada, enquanto o
sufixo nominalizador seria -da. Dessa forma, na elaboração do Dicionário, os dois sufixos serão diferenciados.
84
/.../ Shakespeare é de grande força descritiva ao lidar com bala estourando
miolos, gente enterrada viva, morte, estupro e contusões generalizadas. Shakespeare
(vamos dar uma <contornada> nisso que é para evitar possível e conturbador mal-
entendido), Nicholas, para ser mais preciso, de prosa clara e enxuta, evita com muita
inteligência a tentação de cair na esparrela de, só por causa do clima - ah, esse sol,
essa fauna, essa flora, esse Euclides da Cunha, esse García Márquez! -, botar o
turbante tutti-frutti na cabeça e sair por aí sambando e cuecando (a cueca é uma
dança chilena) na exuberância barroca do subcontinente. Antes muito pelo contrário.
(V, 24-set-97)
As larvas vão crescendo, até que num dado momento cortam a cabeça da
formiga. Dada a <guilhotinada>, a mosca está pronta para voar. (IE, 16-jul-97)
Os outros três nominais com o sufixo -da (canetada, desmunhecada e filosofada)
também se originam dessa construção, com o apagamento do verbo-suporte, como também
foi tratado em 2.3.1.4. Observe-se o exemplo de canetada:
O empresário paulista descendente de italianos costuma dizer em um
elétrico português macarrônico que carro importado é um negócio de risco. "Com
uma <canetada>, o presidente pode acabar com a festa". (IE, 26-mai-93)
Pode-se concluir, portanto, que o sufixo -da (quando em sua acepção nominalizadora)
tem sido mais usado, atualmente, em construções com o verbo-suporte dar ou dela derivadas.
Também se observa que apresenta um uso informal, assim como -agem.
4.2.5. Nominais com o sufixo -nc(i)a
Há nove ocorrências do sufixo -nc(i)a na Base, sendo três sob a forma popular -nça e
seis sob a forma erudita -ncia. Chama a atenção imediatamente o fato de que as três formas
em -nça (gastança, governança e roubança) apresentam um significado mais familiar, de
certa forma até pejorativo. Exemplificamos com governança:
85
''Referente ao editorial 'Segundo tempo', de 30/12, no trecho '...Banespa,
uma instituição financeira que só tem causado prejuízos à população e ao Estado...':
não posso calar protesto e indignação face à colocação acima. Injusta e infeliz, no
mínimo.
Não é a instituição que merece ser tripudiada. Responsáveis da cúpula é que
merecem punição. Ou tudo se passou no Banespa por obra e graça do Espírito
Santo?
Não, Folha, o Banespa nunca foi um banco nocivo. Nocivos à sociedade, ao
rincão paulista e à própria nação têm sido alguns 'politiqueiros' de plantão na
<governança> do Estado.''
José Carlos Amadei (Bauru, SP) (FSP, 19-jan-97)
É fácil notar o tom depreciativo do texto. Todos esses três nominais em -nça
apresentam formas paralelas regressivas (gasto, governo e roubo), que não trazem esse tom.
Como os nominais em -ncia não apresentam essa conotação, pode-se aventar a hipótese de
que -nça e -ncia vêm sendo usados, de fato, como dois sufixos distintos37.
Como mencionado em 2.3.1.5, o sufixo -nc(i)a correlaciona-se ao sufixo formador de
adjetivos -nte. Isso também é notado nas formas neológicas: para derivância e refrescância
existem os correspondentes verbais derivar e refrescar, bem como os correspondentes
adjetivais derivante e refrescante. Porém, há dois nominais que não apresentam
correspondentes adjetivais (assumência e flanância), revelando que, mesmo nas formações
neológicas, a correspondência pode não existir.
Porém, há o caso de dois substantivos neológicos em -ncia que possuem
correspondência com adjetivos, mas não com verbos: ex-fumância (de ex-fumante) e
itinerância (de itinerante). Como se pode facilmente notar, seus significados são antes
“qualidade de ADJ” do que “ação de V”. Por esse motivo, não os consideraremos como
nominais.38
37 Isso pode ter interessantes conseqüências para um estudo das conotações que formas eruditas e populares
apresentam na língua portuguesa. É possível que essas diferentes conotações sejam resquícios da origem popular
e/ou erudita dos sufixos. 38 Isso pode ser um argumento a favor da análise, mencionada em 2.3.1.5, de que o sufixo -nc(i)a seria, na
verdade, a união dos sufixos -nte e -ia. Optamos por não desenvolver este argumento no presente trabalho.
86
É muito interessante a criação do nominal assumência a partir de assumir. O nominal
já atestado para tal verbo seria assunção; porém, tal lexia apresenta uma série de
especializações semânticas (cf. 2.3.2.1), na Lógica e na religião católica. Devido a isso, faz-se
necessária a criação de um novo nominal que apresente um significado mais “neutro”.
Nota-se, portanto, que o sufixo -nc(i)a continua sendo usado, embora menos do que
seus concorrentes, especialmente em nominais que apresentam correspondentes adjetivais em
-nte.
4.2.6. Nominais formados por derivação regressiva
Embora a derivação regressiva seja extremamente freqüente em formas já consagradas
na língua, aparece somente em quatro lexias neológicas: agito, aplique, desaninho e despiste.
Como mostrado em 2.3.1.6, os derivados regressivos tendem a apresentar um
significado concreto, ao contrário dos derivados sufixais. Os dados da Base confirmam essa
hipótese: dois dentre os quatro derivados regressivos têm um significado concreto (agito e
aplique).
O nominal despiste é derivado do verbo parassintético despistar; de acordo com a
tendência descrita em 2.3.1.2, o nominal esperado seria em -mento: despistamento. De fato,
esse nominal é atestado, o que pode revelar que a criação de despiste deveu-se a um
desconhecimento por parte do(a) autor(a) do texto. Mas o contexto revela, aqui também, que
despiste parece ter um significado mais concreto do que teria despistamento:
Contra estas tendências, o grupo de Lerner animou-se depois que Brizola,
em uma entrevista ao programa Jô Soares Onze e Meia, do SBT, apontou sua idade
(71 anos) como um dos motivos que o desanimavam a uma nova disputa. Mas isso
pode ser um <despiste>. (IE, 28-abr-93)
Basílio (2004: 44) menciona que a vogal temática -a é usada somente em regressivos
já consagrados, ao contrário das vogais -o e -e; de fato, a Base corrobora tal afirmação. A
Autora ainda acrescenta que a vogal temática -e é bastante comum em verbos prefixados com
re- e des-, o que é corroborado pelo exemplo de despiste, mas não por desaninho.
87
É difícil explicar o motivo de tal processo ser tão raro contemporaneamente. Uma
possível explicação seria a seguinte: em primeiro lugar, os nominais neológicos tenderiam a
ser formados a partir de verbos também criados recentemente (verbos já consagrados em geral
têm nominais também já consagrados); os dois processos mais comuns de criação de novos
verbos são: o uso do sufixo -izar e o acréscimo da terminação verbal -ar. Ora, como já foi
descrito em 4.2.1, os verbos em -izar são nominalizados exclusivamente com o sufixo -ção; e
os verbos formados apenas com o acréscimo da terminação -ar não aceitam a derivação
regressiva, por um motivo óbvio: o nominal teria a mesma forma do substantivo primitivo (cf.
clone / clonar). Por isso, é necessário o uso de um sufixo (no exemplo dado, o sufixo -agem:
clonagem).
Além disso, de acordo com a proposta de Basílio (1980), mencionada em 2.3, a
direcionalidade do processo não é relevante para o fenômeno da nominalização. Portanto,
para alguns verbos, o nominal correspondente seria o próprio substantivo primitivo. Por
exemplo, o nominal correspondente a overchutar (atestado na Base) seria o substantivo
primitivo overshoot.
4.3. Modelo de verbete
Descrevemos nesta seção as reflexões a respeito de qual seria a melhor forma de
descrever os nominais em um dicionário, especificamente o Dicionário de Neologismos do
Português Brasileiro Contemporâneo (Década de 90).
Foram pensadas duas formas básicas de apresentação dos nominais no Dicionário. A
primeira seria a forma tradicional, comum na maioria dos dicionários: a simples apresentação
dos verbetes em ordem alfabética. A segunda maneira seria, ao invés de elaborar um verbete
para cada nominal, elaborar um verbete único para o sufixo e, no interior do verbete, listar os
nominais neológicos atestados com tal sufixo.
Desenvolveremos primeiro algumas reflexões sobre a primeira forma de apresentação
dos verbetes para, em seguida, aproveitá-las na elaboração da segunda forma.
88
4.3.1. Apresentação em ordem alfabética
Nessa maneira de apresentar os verbetes, cada nominal teria sua própria definição.
Poder-se-ia usar, dessa forma, o mesmo modelo de definição dos dicionários de língua (cf.
3.1.2.1): “ato ou efeito de V”, como nos exemplos a seguir:
penalização sf
Ato ou efeito de penalizar.
Se a experiência brasileira vale alguma coisa, a proteção do guarda-
chuva do BNDES para quem perdeu suas apostas no câmbio significará a
<penalização> de quem preferiu não se endividar precisamente porque
achava a aposta arriscada. (FSP, 16-mai-99)
monitoramento sm
Ato ou efeito de monitorar.
"O <monitoramento> pelo Sistema Flash é um instrumento de grande
valor durante uma campanha eleitoral", afirma Kuntz. (IE, 15-mai-96)
No caso específico de dicionários de neologia, o verbo correspondente pode não ser
neológico e, portanto, pode não estar presente na macroestrutura, o que força o consulente a
consultar outras fontes.
Outro problema que se coloca em um dicionário de neologismos refere-se às
formações em que o verbo correspondente não é atestado (cf. 4.2.1):
peemedebização sf
Ato ou efeito de peemedebizar.
PSDB enfrenta agora a <'peemedebização'> (tít.)
Nove anos depois de sua criação e a um ano e quatro meses das
eleições gerais, o PSDB sofre um ''processo de <peemedebização>'', como
admitem o senador José Serra (SP) e o deputado Arthur Virgílio Neto (AM),
secretário-geral do partido. (FSP, 15-jun-97)
89
Embora tal definição não seja totalmente descabida, não contribui muito para
esclarecer o significado do substantivo. Uma solução possível seria trocar o verbo por uma
paráfrase explicativa, como, por exemplo, “ato ou efeito de (um partido político) tornar-se
semelhante ao PMDB”.
Outro ponto importante diz respeito à apresentação das exigências sintáticas dos
nominais (cf. 3.1.2.3). Aparentemente, a solução mais simples é a fornecida pelo modelo do
DEC (Mel’čuk et al., 1995; cf. 3.2): o uso de variáveis na definição, como no exemplo a
seguir:
anualização sf
anualização de X: Ato ou efeito de anualizar X.
Quando nos mudamos para Nova York, em 1994, acertei com a Encol
a <anualização> das prestações. (V, 27-ago-97)
Por fim, também é importante explicitar as construções com verbos-suporte (cf.
2.3.2.2 e 3.2). Aqui, o recurso utilizado pelo DEC (cf. 3.2), as chamadas “funções lexicais”,
não parece ser o mais adequado, pois o consulente teria o trabalho de conhecer os códigos das
funções39. Parece-nos melhor o uso de subentradas, como por vezes ocorre nos dicionários de
língua (cf. 3.1.2.5). Um exemplo:
ranqueamento sm
Ato ou efeito de ranquear.
Para distribuir melhor os atletas e garantir um campeonato mais
competitivo, a Confederação Brasileira de Vôlei fez um <ranqueamento> e
atribuiu aos jogadores brasileiros uma escala que vai de sete a dois pontos.
(IE, 16-out-96)
fazer um ~ ranquear
39 Além do mais, o fenômeno dos verbos-suporte é ainda pouco descrito em português; uma descrição mais
completa se faz necessária, para que se possam explicitar os verbos-suporte de uma forma adequada nos
dicionários.
90
Cabe lembrar que poucos nominais neológicos aparecem em construções com verbos-
suporte; destacam-se os formados com o sufixo -da, como já foi mencionado em 4.2.4.
4.3.2. Apresentação do verbete do sufixo
A segunda forma de se elaborar os verbetes seria definir o significado do sufixo e, em
seguida, listar os exemplos. Uma tentativa é apresentada a seguir:
-ção suf
Une-se a verbos, formando substantivos femininos com o significado
de “ato ou efeito de V”:
O governo foi convencido pelos políticos a não usar mais a expressão
"quebra da estabilidade". Por isso, a palavra é <"flexibilização">. (G, 07-
jul-96)
Em 1997, foi demonstrada a utilização de estados emaranhados para
a <teleportação> de informação (que permite mapear a função de onda de
uma partícula em outra partícula distante). Além disso, algoritmos
recentemente descobertos permitiriam a um computador quântico (baseado
em estados emaranhados) resolver certos problemas muito mais rapidamente
que computadores clássicos. (FSP, 17-dez-00)
As vantagens desse segundo modelo seriam, essencialmente, economia de espaço e a
possibilidade de visualizar todos os substantivos formados com determinado sufixo ao mesmo
tempo. A principal desvantagem seria a impossibilidade de tratar especificidades de cada
substantivo, como suas exigências sintáticas.
Por isso, esse modelo pode ainda ser aperfeiçoado para incluir mais informações.
Poder-se-ia, em primeiro lugar, agrupar os nominais formados a partir de verbos que
apresentam traços gramaticais semelhantes, indicando sua quantidade entre parênteses:
-mento suf designativo de ação ou efeito de V
Com verbos freqüentativos terminados em -ear (10):
91
O governo do Espírito Santo atribui o índice à ação dos grupos de
extermínio - alguns deles com a participação de policiais -, ao tráfico de
drogas e ao <sucateamento> da segurança pública. (FSP, 15-ago-99)
Para chegar também às classes mais pobres, eles estão aplicando um
projeto batizado de ''Mobilização Comunitária''. Além de viabilizar o
<cabeamento> de algumas instituições e de regiões carentes, um grupo de
mobilizadores treinados está fazendo oficinas de apresentação e utilização do
canal nesses locais. (FSP, 21-set-97)
Com verbos parassintéticos (7):
Viagem ao Princípio do Mundo tem um tom nostálgico, como era de
esperar de um filme português. Seu objetivo é questionar o
<empalidecimento> da alma lusitana nestes novos tempos de
desenvolvimento e competição dentro da União Européia. Metidos num carro
novo, numa estrada asfaltada e sem buracos - um padrão de transporte que
ainda é novidade no interior do país -, Manoel e seus três amigos partem
rumo à fronteira com a Espanha. (Angela Pimenta) (V, 25-fev-98)
Com R$ 6 mil foi possível comprar uma máquina de fazer
comprimidos, um misturador de matéria-prima e material para
<encapsulamento>. A farmácia estava montada. Atualmente, produz 125
tipos de remédios. (IE, 15-mai-96)
Com verbos prefixados em re- e des- (4):
Ele /Itamar Franco/ prometeu: /.../ 2) Comandar pessoalmente o
processo de liberação de verbas para o <reaparelhamento> das forças
armadas. (IE, 26-mai-93)
Com outros tipos de verbos (9):
"O <monitoramento> pelo Sistema Flash é um instrumento de grande
valor durante uma campanha eleitoral", afirma Kuntz. (IE, 15-mai-96)
Os físicos, no entanto, sabem que um número ínfimo de fótons
consegue atravessar o espelho. Este fenômeno se chama <tunelamento>
quântico, a propriedade fantasmagórica que as partículas subatômicas têm de
92
saltar uma barreira física como se ela não existisse. (Peter Moon) (IE, 12-
abr-95)
Agrupar os nominais de acordo com os traços do verbo correspondente é uma forma
de, implicitamente, mostrar ao consulente quais são as principais tendências ao emprego do
sufixo.
Pode-se, ainda, acrescentar uma nota explicativa que descreva outras características
dos sufixos. Por exemplo, é importante indicar o gênero do nominal formado com
determinado sufixo (masculino para -mento, feminino para -ção, -nc(i)a e -agem, por
exemplo), e também fazer remissões de um sufixo nominalizador para outro.
Porém, torna-se muito difícil inserir nesse segundo modelo informações como
exigências sintáticas e verbos-suporte, porque tais características são específicas de cada
nominal, independendo, portanto, do sufixo empregado.
A escolha de qual modelo utilizar no Dicionário depende também de qual será o
modelo adotado nos demais verbetes da obra. Como a obra tem como um de seus objetivos
descrever e apresentar a morfologia dos processos neológicos do português brasileiro
contemporâneo, foi feita a opção por apresentar os verbetes dos sufixos (e também dos
prefixos), e não cada lexia individualmente; para obedecer às proporções entre os processos
morfológicos, descritas em 4.1, optou-se por restringir o número de exemplos. Ou seja, como
o sufixo -mento, por exemplo, aparece na Base em trinta lexias neológicas, proporcionalmente
a esse número dever-se-iam apresentar no Dicionário sete verbetes de nominais com o sufixo
-mento. Porém, como se optou por apresentar o verbete do sufixo, resolveu-se que seriam
mostrados sete exemplos com tal sufixo.
Também se optou por incluir, ao final de cada verbete, o número de atestações de cada
lexia ou sufixo, seguido dos anos de atestação e da indicação de registros posteriores em obras
lexicográficas, se for o caso.
Com tais considerações em mente, procedemos à apresentação dos verbetes dos
sufixos, da forma como serão apresentados no Dicionário.
4.4. Glossário dos nominais neológicos presentes na Base
-agem suf designativo de (1) ação ou efeito de V
93
Com verbos de significado familiar ou jocoso (7):
Das 27 mil pessoas que hoje podem consultar o Siafi, 23.781 são do Excecutivo, mas
só 815 tem acesso nível 9, o que permite mais ampla <bisbilhotagem>. O Congesso
tem 1922 senhas, sendo 1640 de nível 9. O judiciário fica com 1387. (G, 04-ago-96)
O coronel também nega que a Abin tenha feito qualquer <xeretagem> sobre o filho
do presidente. "Nem sabia que ele tinha sido citado nesse caso", afirma De Cunto.
(Policarpo Júnior e Consuelo Dieguez) (V, 29-nov-00)
Com outros tipos de verbos (6):
O avanço mais recente nessa área no Brasil é a <sexagem>, que torna possível
escolher previamente o sexo do animal pelo exame dos cromossomos. (V, 12-mai-93)
Nota Une-se a verbos da primeira conjugação, formando substantivos femininos, em geral
abstratos, que apresentam o significado de “ação ou efeito de V”, em que V é o verbo
primitivo. Muitos apresentam conotação jocosa ou familiar. Cf. -ção, -mento, -da, -nc(i)a
Atestado (16) em: 1993-2000
-agem suf designativo de (2) modo de ser ou de agir típico de X
Foi a mais pura manifestação de <cartolagem>, naquilo que esta palavra embute de
pior. Há 23 anos no comando do futebol mundial, Havelange quebrou sua frieza
germânica de uma maneira desconhecida dos brasileiros. Sem disfarce, revelou
autoritarismo, espírito mercantil e culto à própria personalidade. (IE, 13-ago-97)
/.../ Rubra Rosa e Perla Menescal - rivais em <peruagem> e no amor, já que
disputam as atenções de Demóstenes (José Wilker). (FSP, 01-mai-94)
Atestado (8) em: 1993-1997, 1999, 2000
-agem suf designativo de (3) coletivo de X
Cento e sessenta milhões de brasileiros assistem à Copa pela TV, 20.000 torcem na
França e umas poucas dezenas de escolhidos vêem a festa de camarote. Para quem
gosta de futebol, mordomia e tititi, não existe nada melhor. Os convidados, que vão de
graça à tribuna de honra, podem cruzar com presidentes, reis, artistas e a alta
<cartolagem> internacional. (Carlos Maranhão) (V, 01-jul-98)
Atestado (4) em: 1996-2000
agito sm
94
Reunião social de caráter festivo, geralmente entre jovens.
Reúnem-se principalmente para <agitos> (festas em clubes suburbanos) e adoram pichar
muros. (Paulo Mota) (FSP, 16-mai-93)
Derivação regressiva de agitar
Aurélio 1999
aplique sm
Enfeite, em geral feminino, formado por fios de cabelo que são colocados sobre a cabeça.
Xuxa também tem a sua coleção. Só que de <apliques>. Ela não sabe dizer quantos que já
contabiliza, mas para guardá-los precisa de uma grande mala. As "xuquinhas" surgiram no
"Xou", segundo ela, como uma homenagem ao seriado "Jeannie é um gênio". /.../ - Todos
sabem que meu sonho sempre foi ter uma vasta cabeleira. Como não tenho boto os
<apliques>, que me caem bem - confessa. (G, 06-dez-98)
Derivação regressiva de aplicar
Michaelis 1998, VOLP 1999, Houaiss 2002
-ção suf designativo de ação ou efeito de V
Com verbos em -izar (95):
De todos os chutes, o mais provável parece ser a fixação do câmbio, também
conhecida como <dolarização>. (V, 09-jun-93)
Delair Dumbosck disse que a Câmara Comunitária da Barra foi criada porque os
condomínios estavam insatisfeitos com a atuação da associação de moradores. - Eles
eram xiitas, defendiam a <favelização> do bairro e diziam que os moradores dos
condomínios eram ricos. Decidimos, então, criar a Câmara Comunitária - disse
Dumbosck. (G, 03-mai-98)
Desde 1953 ela tem o monopólio da exploração e refino do petróleo. A facilidade só
acabou passado, mas por enquanto a <flexibilização> do monopólio nem arranhou a
estatal - e essa é uma história ilustrativa a respeito do poder político que tem a
Petrobrás. (V, 30-out-96)
Nessa guerra, a <fragilização> do BNDES é a mais nova arma dos que se dedicam a
desmontar o Estado. (FSP, 17-out-99)
95
"Não podemos correr o risco de uma <fujimorização> no País", advertiu Sarney,
numa referência ao presidente do Peru, Alberto Fujimori, que fechou o Congresso
para promover reformas semelhantes às propostas por FHC. (IE, 13-mar-96)
Durante a Guerra Fria, os EUA firmaram-se como potência imperial. Houve até certa
<glamourização> do fenômeno. Reagan qualificava a URSS como "império do mal";
criou-se o programa "Guerra nas Estrelas"; e, nos cinemas, a ficção projetava
batalhas imperiais interestrelares. (FSP, 15-set-96)
O tema foi a <globalização>, essa etapa do capitalismo atual em que as fronteiras
nacionais se dissolvem, a tecnologia dizima milhares de empregos, a especulação
financeira viaja na velocidade da luz, promovendo fortunas da noite para o dia ao
mesmo tempo que fecha fábricas e funde empresas. (V, 28-fev-96)
É importante dizer que a queda do emprego formal não significa necessariamente
desemprego. Está acontecendo um avanço da <informalização> do trabalho e da
terceirização. O nível de ocupação ainda está aumentando, como demonstram os
números deste ano. (FSP, 15-set-96)
A <internalização> da imprevisibilidade e instabilidade financeira internacional
tende a reforçar o viés contracionista da política de ajuste, para sustentar a
credibilidade da "moeda forte" e prevenir os efeitos de eventuais choques externos.
(FSP, 25-ago-96)
Sehmoke quase perdeu sua reeleição em 1991, em parte por causa da posição sobre
as drogas. Hoje em dia, ele a mantém, mas com cautela. Agora, diz que prefere usar o
termo <medicalização> do que "legalização" ou "descriminalização". (Carlos
Eduardo Lins e Silva) (FSP, 06-jun-93)
"Ana Paula já mostrou em ‘Hilda Furacão’ que tem talento. Não precisa provar
nada", afirma Raul Cortez, que contracena com Ana Paula em "Terra Nostra".
A trama a coloca como a mocinha sofredora. Não seria uma espécie de
<mexicanização>? Para Ana Paula, não é só nos dramalhões mexicanos que existem
heroínas românticas e sofredoras. "Na dramaturgia do mundo inteiro há várias
Julianas", diz. (FSP, 19-set-99)
Finalmente, havia uma tendência à cartelização ou <oligopolização> do, com a
criação de barreiras à entrada de novos competidores. (FSP, 18-jan-98)
96
A USP tem resistido vitoriosamente ao processo de politização e <partidarização>
que levou outras universidades à deterioração de seus padrões acadêmicos.
Entretanto, vários fatores têm convergido para distorcer o processo de escolha de
nossas lideranças acadêmicas, sobretudo a do reitor. (José Augusto Guilhon de
Albuquerque). (FSP, 15-ago-93)
Conforme declarou um pouco antes de morrer, aos 95 anos de idade, o economista
inglês Austin Robinson, um colaborador de Keynes, criticando a ênfase em
expectativas racionais e na <matematização> da economia que nem ocorrendo
"nenhum economista é mais perigoso do que o teórico puro sem experiência prática e
uma compreensão instintiva do mundo real... buscando precisão em um mundo de
imprecisão". (Luiz Carlos Bresser Pereira) (FSP, 20-jun-93)
Os saudosistas da massificação industrial e do sindicalismo selvagem referem-se
depreciativamente ao deslocamento da indústria para serviços como sendo uma
<''precarização''> dos empregos. Isso certamente não é verdade no caso de
telecomunicações, informática e finanças, em que os novos empregos são até mais
bem pagos que as ocupações industriais tradicionais. (FSP, 21-set-97)
Os atores que Gramsci mais valorizava - os intelectuais - desempenhariam um papel
estratégico na democracia cosmopolita. Eles atuariam na sociedade civil universal,
assim como os intelectuais de Gramsci atuavam nas sociedades civis nacionais.
Estariam também a serviço de um "Príncipe", com a diferença de que ele não seria
nem um déspota, como no tempo de Maquiavel, nem um partido totalitário, mas sim
um sistema democrático global. E teriam um programa, voltado para os interesses
mais gerais da humanidade: a luta contra as violações dos direitos humanos, contra
as assimetrias internacionais de riqueza e de poder, contra as aberrações do
capitalismo globalizado e contra os particularismos selvagens que estão levando à
<retribalização> do mundo. (FSP, 21-nov-99)
Na <securitização>, a empresa emite de títulos com lastro (garantia) em recebíveis,
ou seja, nas vendas a prazo aos consumidores finais. Para dar mais segurança aos
investidores, os recebíveis são transferidos para uma companhia criada com esse
propósito específico (uma SPC, sigla de ''special purpose company''). (FSP, 19-jan-
97)
97
Na medida do possível, o serviço tem que ser comparado. A <terceirização> é uma
palavra errada, perigosa. Porque toda a empresa é profundamente terceirizada. Não
compra toda a matéria-prima? Isso é terceirizar. Tudo o que você compra é
terceirizar. (Salvatore Morana) (FSP, 01-ago-93)
Após determinar, no dia 6 de agosto, que as cirurgias de neurotripsia e alongamento
peniano devem ser praticadas em caráter experimental, o CFM (Conselho Federal de
Medicina) já definiu a próxima tarefa: regulamentar até o final do ano as cirurgias de
<transgenitalização> (mudança de sexo). Segundo o secretário-geral do conselho,
Antônio Henrique Pedrosa, em debates com vários profissionais a entidade concluiu
que uma parte da população deve ter acesso a esse tipo de cirurgia. ''Muitos se
mutilam para poderem ser operados'', afirmou Pedrosa. (FSP, 17-ago-97)
Mais de 200 casos já foram descritos em revistas médicas, contando histórias -
inacreditáveis - de mães que envenenaram seus filhos de propósito, de crianças que
receberam injeções de insulina (ficando num estado de hipoglicemia e entrando em
coma) ou que sofreram infecções após terem sido forçadas a ingerir fezes.
''É uma forma muito sofisticada de <vitimização>, de abuso contra crianças'', diz o
médico Jayme Murahovschi, diretor clínico do Serviço Paulista de Pediatria, do
Hospital 9 de Julho. (FSP, 18-mai-97)
Com verbos em -ficar (5):
Albee - Fiz uma declaração numa conferência "Gay OutWrite", em San Francisco, há
quatro ou cinco anos. Meu discurso foi sobre à <"guetificação"> na literatura gay.
Comecei por dizer que faço parte de muitas minorias. Pra começo de conversa, sou
do sexo masculino, que é minoritário; sou branco, e os brancos são minoria; vivo nos
Estados Unidos, que é uma minoria; sou instruído, logo, minoria; sou escritor e uma
pessoa criativa, que com certeza constituem minorias; sou agnóstico, e os agnósticos
provavelmente são minoria; e também sou gay. (FSP, 21-jun-98)
Com verbos de significado familiar ou jocoso (5):
Doris reclama de <ensebação> às 18h (tít.)
Doris Giesse, futura apresentadora do programa de variedade "Aqui Brasil", que
estréia mês que vem no SBT, reclama da <ensebação> entre os personagens de
98
Andréa Beltrão e Raul Cortez em "Mulheres de Areia", novela das 18h da Globo.
(FSP, 16-mai-93)
Filha de médico, pedia ao pai que lhe receitasse calmantes. Mesmo magra, L.
descobriu na adolescência que os remédios para emagrecer também eram uma forma
de afastá-la da realidade. Assim como os xaropes. Aos 18 anos, estava viciada numa
ciranda de álcool, drogas e remédios. Aos 21 anos, casou-se em seguida foi morar no
exterior, onde continuou na <piração>. (IE, 14-mai-97)
Com verbo da segunda conjugação (1):
Avenida Club. Popular, Popular, o Avenida Club. Vá com os amigos, sem
formalidades mas sem grandes expectativas. O som varia de acordo com o tipo de
show da noite, nesse clube que - os que têm a palavra club em seu nome - nada tem a
ver com o conceito de babado e <ferveção> que passou a caracterizar o circuito na
cidade. (FSP, 19-jun-94)
Com outros tipos de verbos (4):
No código atual, o autor do testamento pode estabelecer que certos imóveis ou uma
parcela de dinheiro fiquem bloqueados por um período determinado. A nova
legislação acaba com o que os especialistas chamam de <"clausulação">, só
permitida sob justa causa, o que não é especificado pelo código. "A mudança serve
para evitar que donos de um grande patrimônio na prática vivam na miséria porque
seus bens estão indisponíveis", diz Peluso. (V, 26-nov-97)
Com o significado de “ação repetida” (2):
Em tempo: para acabar com a <tocação> de campainha, Andréa organizou para essa
semana uma tarde de autógrafos no condomínio. Público não vai faltar. (IE, 17-set-
97)
Nota Une-se preferencialmente a verbos da primeira e segunda conjugações, formando
substantivos femininos, em geral abstratos, que apresentam o significado de “ação ou efeito
de V”, onde V é o verbo primitivo. Cf. -mento, -agem, -da, -nc(i)a
Atestado (112) em: 1993-2000
-da suf designativo de ação ou efeito de V
99
/.../ Shakespeare é de grande força descritiva ao lidar com bala estourando miolos,
gente enterrada viva, morte, estupro e contusões generalizadas. Shakespeare (vamos
dar uma <contornada> nisso que é para evitar possível e conturbador mal-
entendido), Nicholas, para ser mais preciso, de prosa clara e enxuta, evita com muita
inteligência a tentação de cair na esparrela de, só por causa do clima - ah, esse sol,
essa fauna, essa flora, esse Euclides da Cunha, esse García Márquez! -, botar o
turbante tutti-frutti na cabeça e sair por aí sambando e cuecando (a cueca é uma
dança chilena) na exuberância barroca do subcontinente. Antes muito pelo contrário.
(V, 24-set-97)
Nota Une-se a verbos de todas as três conjugações, formando substantivos femininos, em
geral abstratos, que apresentam o significado de “ação ou efeito de V”, onde V é o verbo
primitivo. Os substantivos freqüentemente se constroem com o verbo “dar”, formando a
expressão “dar uma X-da”. Cf. -ção, -agem, -mento, -nc(i)a
Atestado (5) em: 1993, 1997, 1998
desaninho sm
Ação ou efeito de desaninhar.
Há cálculos das perdas financeiras do país com o desemprego dos emigrantes. Mas pouco se
fala sobre o drama do desenraizamento familiar e cultural do trabalhador brasileiro no
estrangeiro, sobre o "dilaceramento do <desaninho>", na expressão do escritor português
Miguel Torga, imigrante no Brasil na sua juventude. (Luiz Felipe de Alencastro) (V, 29-jul-
98)
Derivação regressiva de desaninhar
despiste sm
Ação ou efeito de despistar.
Contra estas tendências, o grupo de Lerner animou-se depois que Brizola, em uma entrevista
ao programa Jô Soares Onze e Meia, do SBT, apontou sua idade (71 anos) como um dos
motivos que o desanimavam a uma nova disputa. Mas isso pode ser um <despiste>. (IE, 28-
abr-93)
Derivação regressiva de despistar
100
Aurélio 1999, Houaiss 2002
-mento suf designativo de ação ou efeito de V
Com verbos freqüentativos em -ear (10):
O governo do Espírito Santo atribui o índice à ação dos grupos de extermínio - alguns
deles com a participação de policiais -, ao tráfico de drogas e ao <sucateamento> da
segurança pública. (FSP, 15-ago-99)
Para chegar também às classes mais pobres, eles estão aplicando um projeto batizado
de ''Mobilização Comunitária''. Além de viabilizar o <cabeamento> de algumas
instituições e de regiões carentes, um grupo de mobilizadores treinados está fazendo
oficinas de apresentação e utilização do canal nesses locais. (FSP, 21-set-97)
Com verbos parassintéticos (7):
Viagem ao Princípio do Mundo tem um tom nostálgico, como era de esperar de um
filme português. Seu objetivo é questionar o <empalidecimento> da alma lusitana
nestes novos tempos de desenvolvimento e competição dentro da União Européia.
Metidos num carro novo, numa estrada asfaltada e sem buracos - um padrão de
transporte que ainda é novidade no interior do país -, Manoel e seus três amigos
partem rumo à fronteira com a Espanha. (Angela Pimenta) (V, 25-fev-98)
Com R$ 6 mil foi possível comprar uma máquina de fazer comprimidos, um
misturador de matéria-prima e material para <encapsulamento>. A farmácia estava
montada. Atualmente, produz 125 tipos de remédios. (IE, 15-mai-96)
Com verbos prefixados em re- e des- (4):
Ele /Itamar Franco/ prometeu: /.../ 2) Comandar pessoalmente o processo de
liberação de verbas para o <reaparelhamento> das forças armadas. (IE, 26-mai-93)
Com outros tipos de verbos (9):
"O <monitoramento> pelo Sistema Flash é um instrumento de grande valor durante
uma campanha eleitoral", afirma Kuntz. (IE, 15-mai-96)
Os físicos, no entanto, sabem que um número ínfimo de fótons consegue atravessar o
espelho. Este fenômeno se chama <tunelamento> quântico, a propriedade
fantasmagórica que as partículas subatômicas têm de saltar uma barreira física como
se ela não existisse. (Peter Moon) (IE, 12-abr-95)
101
Nota Une-se a verbos de todas as três conjugações, formando substantivos masculinos, em
geral abstratos, que apresentam o significado de “ação ou efeito de V”, em que V é o verbo
primitivo. Cf. -ção, -agem, -da, -nc(i)a
Atestado (30) em: 1993-2000
-nc(i)a suf designativo de (1) ação ou efeito de V
Na forma -ncia (4):
Dez anos foram necessários para desenvolver uma tecnologia tão revolucionária. Um
tempo que valeu a pena. Skol Ice vai conquistar você pelo sabor, pela personalidade,
pela <refrescância>. Skol Ice. Fabricada através do exclusivo Ice Process. (FSP, 18-
dez-94)
Na forma -nça (3):
Todos querem resolver as injustiças sociais, entretanto nenhum deles aceita fazer isso
com base na <gastança> do dinheiro público. O primeiro consenso (muito parecido,
por sinal, com o dos pensadores neoliberais) é de que o equilíbrio das contas do
Estado é precondição para a criação de empregos e que a educação é motor do
crescimento. Clinton defendeu uma "globalização com feições humanas". (V, 01-dez-
99)
Nota Une-se a verbos de todas as três conjugações, formando substantivos femininos, em
geral abstratos, que apresentam o significado de “ação ou efeito de V”, em que V é o verbo
primitivo. Muitos substantivos em -nc(i)a apresentam adjetivos correspondentes em -nte. Cf. -
ção, -agem, -da, -nc(i)a
Atestado (7) em: 1993-1995, 1997-2000
-nc(i)a suf designativo de (2) estado ou qualidade de Adj
Claro, é a primeira lei da <ex-fumância>. O ex-fumante engorda. No meu caso,
quinze quilos e duzentas, a maior parte dos quais em torno da cintura. Pela primeira
vez na vida, vou ser obrigado a fazer dieta, sob pena de abertura de falência, eis que
só caibo em duas das minhas calças e um dos meus paletós. (G, 04-ago-96)
Nota Une-se a adjetivos em -nte.
Atestado (2) em: 1996, 2000
102
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo principal do presente trabalho foi descrever alguns aspectos do fenômeno
gramatical conhecido como nominalização, a partir de uma série de considerações teóricas e
da análise de lexias neológicas.
Também foi descrita a maneira como os nominais são tratados em dicionários de
língua, com vistas à elaboração dos verbetes do Dicionário de Neologismos do Português
Brasileiro Contemporâneo.
Para a descrição do fenômeno da nominalização do ponto de vista teórico, foram
importantes os trabalhos de Bybee (1985, 1988) e Langacker (1987, 1991), retomados em
Vallès (2004). Tais obras forneceram um excelente embasamento teórico para a compreensão
da nominalização em todos os seus aspectos.
A maneira como os dicionários de língua descrevem os nominais foi utilizada na
elaboração de modelos para os verbetes dos nominais no Dicionário de Neologismos do
Português Brasileiro Contemporâneo. Porém, o modelo escolhido não levou em consideração
uma série de problemáticas como a explicitação das exigências sintáticas e dos verbos-
suporte.
A nominalização é um fenômeno extremamente relevante para os dicionários de
regência nominal. Tais dicionários visam descrever os tipos de argumentos utilizados com
cada substantivo, bem como as preposições empregadas. Muitos (talvez a maioria) dos
verbetes desses dicionários são verbetes de nominais. Nesse tipo de obra, é necessário
explicitar de forma coerente e sistemática as exigências sintáticas dos substantivos, razão pela
qual as reflexões estabelecidas em 4.3.1 são mais interessantes nesse tipo de dicionário.
As restrições ao emprego dos sufixos, apontadas em 2.3.1, não são habitualmente
descritas em gramáticas ou em dicionários. A análise dos nominais neológicos revelou que
algumas dessas restrições não vêm mais sendo seguidas, e outras tendências (como certos
usos conotativos de alguns sufixos) não aparecem descritas em gramáticas, tendo talvez
surgido mais recentemente.
Quanto a isso, pode-se citar a afirmação de Basílio (2004: 42):
Uma das razões para o uso mais freqüente de -ção e -mento em oposição
aos demais processos é o fato de que esses sufixos são semanticamente vazios,
103
enquanto sufixos como -da e -agem apresentam especificações semânticas que
restringem suas possibilidades de combinação com diferentes bases ou radicais.
A análise dos nominais neológicos nos mostra que o sufixo -ção vem ganhando
conotações que contrariam essa afirmação. Tal sufixo parece ser semanticamente “vazio”
apenas quando se une a verbos em -izar; apesar de isso constituir a esmagadora maioria dos
casos, procuramos mostrar em 4.2.1 que é possível, de fato, afirmar que -ção vem formando
substantivos com conotações familiares ou jocosas.
Também cabe mencionar uma característica importante do fenômeno da
nominalização, que pode contribuir para as reflexões sobre as diferenças entre flexão e
derivação. Como apontado em 2.2, de acordo com Bybee (1985), os dois fatores responsáveis
pelo modo como determinada categoria gramatical será expressa (do ponto de vista do
continuum ali descrito) são a relevância semântica e a generalidade lexical: quanto maior a
relevância semântica, mais próximo se está da expressão lexical; quanto maior a generalidade
lexical, mais próximo se está da expressão sintática.
Dessa forma, se se observar apenas as diferenças entre flexão e derivação, notar-se-á
que a expressão flexional tem maior generalidade lexical e menor relevância semântica do que
a expressão derivacional.
A nominalização stricto sensu, como mostrado em 2.2.3, é um fenômeno derivacional.
Porém, pensando nos termos de Bybee (1985), observa-se que tem uma alta generalidade
lexical, ou seja, pode se aplicar a praticamente qualquer verbo. Os próprios nominais
deverbais confirmam isso, pois mostram que o fenômeno da nominalização se aplica mesmo a
verbos que não apresentavam nominal correspondente num momento anterior da língua.
Quanto à relevância semântica, não se pode afirmar que o processo de nominalização
não modifica substancialmente o significado do verbo correspondente: como foi mostrado ao
longo deste trabalho, muitos sufixos, ao se unirem aos verbos, carregam consigo certas
conotações. De qualquer forma, pelo menos em um aspecto, a nominalização se encontra
bastante próxima do fenômeno da flexão, mostrando que, como bem afirma Bybee (1985), as
distinções entre flexão e derivação são antes questões de grau do que de categorias estanques.
Este trabalho não pôde se debruçar sobre uma série de questões, aqui apenas
apontadas, deixando que sirvam de objeto de pesquisa para trabalhos posteriores. Algumas
delas são:
104
• a hipótese, levantada por Rio-Torto (1998: 26-7), de que determinados sufixos
“selecionam” determinadas formas verbais (cf. 2.3.1.2);
• as restrições, apontadas em 2.3.1.1 e 2.3.1.2, de que verbos formados a partir de
substantivos em -ão aceitam apenas -mento e que verbos formados a partir de
substantivos em -mento aceitam apenas -ção podem ser analisadas em comparação
com o fenômeno fonológico conhecido como “Optimal Contour Principle” (OCP);
• a questão a respeito de se considerar as formas -nça e -ncia como variantes do mesmo
sufixo ou como sufixos distintos, ou ainda, como a fusão do sufixo -nte com o sufixo -
ia (cf. 2.3.1.5 e 4.2.5);
• da mesma forma, a dupla possibilidade de se considerar -ização como um único sufixo
ou como a união de -izar e -ção (cf. 4.2.1);
• a indagação a respeito da origem da polissemia nos nominais, ou seja, se os nominais
podem ser criados já polissêmicos, ou se as derivações de sentido ocorrem a posteriori
(cf. 2.3.2.1);
• o sufixo “-ção iterativo” e o -ção empregado de maneira neutra devem ser
considerados sufixos distintos ou trata-se apenas de um caso de polissemia (cf.
2.3.2.4).
Se este trabalho tem alguma contribuição inédita a trazer, esta sem dúvida está nos
dados utilizados na análise: as unidades lexicais neológicas. A Base de Neologismos do
Português Brasileiro Contemporâneo, por ter sido coletada com os devidos rigores de um
método sistemático, pode ser considerada uma amostragem representativa e, embora as
análises que dela se depreendem não possam ser generalizadas para a língua como um todo,
sem dúvida podem nos revelar aspectos importantes.
Por fim, é importante procurar responder à pergunta: por que o falante cria um
nominal?
Essa pergunta toca na motivação da criação lexical de maneira geral. Basílio (1987)
apresenta duas motivações básicas para a criação de novas lexias: “a utilização da idéia de
uma palavra em uma ou outra classe gramatical; e a necessidade de um acréscimo semântico
numa significação lexical básica” (p. 9). Essa proposta é retomada pela autora em Basílio
(1996), em que tais motivações são chamadas, respectivamente, de função gramático-textual
e função semântico-designadora:
105
/.../ considera-se como função gramático-textual de um processo de
formação a nominalização do verbo para fins de enquadramento do mesmo numa
estrutura nominal e como função semântico-designadora a utilização da semântica
de um verbo para fins de designação de uma entidade. Em conseqüência, a função
gramático-textual corresponde a nominalizações deverbais predicadoras, enquanto a
função designadora corresponde a nominalizações que funcionam apenas como
argumentos /.../. (Basílio, 1996: 23)
Essas duas funções não precisam ser encaradas como opostas e mutuamente
excludentes, se levarmos em conta que não há separação rígida entre sintaxe e semântica. O
que parece haver é um predomínio maior da função gramático-textual em nominais
predicadores, e vice-versa. Uma mesma lexia pode desempenhar predominantemente uma ou
outra função, dependendo do contexto.
Como a nominalização é majoritariamente um fenômeno de mudança de classe
gramatical, a função gramático-textual tende a predominar; porém, em muitos casos, como
mencionado ao longo deste trabalho, nota-se que o nominal não constitui simplesmente o
correspondente substantival de um verbo, mas apresenta especializações semânticas,
conotações, diferenças de uso etc. Dessa forma, ao se buscar a motivação por trás da criação
de um nominal, deve-se sempre levar em conta um conjunto de fatores morfológicos,
semânticos, sintáticos e discursivos.
A presente Dissertação espera trazer contribuições para uma melhor descrição dos
sufixos nominalizadores nas gramáticas e nos dicionários, bem como para o estudo dos
processos de formação de palavras.
106
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulário ortográfico da língua portuguesa.
Rio de Janeiro: Bloch, 1981.
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulário ortográfico da língua portuguesa. 2
ed. Rio de Janeiro: Academia, 1998. 1 ed. 1981.
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulário ortográfico da língua portuguesa. 3
ed. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1999. 1 ed. 1981.
ALBINO, J. M. As condições de produção dos sufixos nominalizadores -ção e -mento no
português escrito formal. 1993. 72 f. Tese (mestrado em Lingüística) – Universidade Federal
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1993.
ALVES, Ieda Maria. Neologismo: Criação Lexical. São Paulo: Ática, 1990.
ALVES, Ieda Maria. Um estudo sobre a neologia lexical: os microssistemas prefixais no
português contemporâneo. 2000. 640 f. Tese de livre-docência. Faculdade de Filosofia, Letras
e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.
ALVES, Ieda Maria. Apresentação. Projeto Observatório de Neologismos Científicos e
Técnicos do Português Contemporâneo do Brasil. 2003. Disponível em:
<http://www.fflch.usp.br/dlcv/neo/>. Acesso em: 24 nov. 2004.
APRESJAN, Jurij. Regular polysemy. Linguistics, The Hague, v. 142, p. 5-32, 1974.
BARBOSA, Maria Aparecida. Léxico, produção e criatividade. 3.ª ed. São Paulo: Plêiade,
1996.
BASÍLIO, Margarida. Estruturas lexicais do português: uma abordagem gerativa. Petrópolis:
Vozes, 1980.
BASÍLIO, Margarida. Teoria lexical. São Paulo: Ática, 1987.
BASÍLIO, Margarida et al. Derivação, composição e flexão no português falado: condições de
produção. In: CASTILHO, A. (org.) Gramática do português falado. Vol. 3. São
Paulo/Campinas: FAPESP/UNICAMP, 1993. p. 363-429.
BASÍLIO, Margarida. Formação e uso da nominalização deverbal sufixal no português
falado. In: CASTILHO, A.; BASÍLIO, M. (orgs.) Gramática do português falado. Vol. 4. São
Paulo/Campinas: FAPESP/UNICAMP, 1996. p. 21-29.
107
BASÍLIO, Margarida. Formação e classes de palavras no Português do Brasil. São Paulo:
Contexto, 2004.
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.
BORBA, Francisco da Silva. Dicionário de usos do português do Brasil. São Paulo: Ática,
2002.
BYBEE, Joan. Morphology: a study of the relation between meaning and form. Amsterdam:
John Benjamins, 1985.
BYBEE, Joan. Morphology as lexical organization. In: HAMMOND, Michael e NOONAN,
Michael (orgs.). Theoretical Morphology. San Diego: Academic Press, 1988. p. 119-141.
CABRÉ, Maria Teresa. La terminología: Teoría, metodología, aplicaciones. Barcelona:
Editorial Antártida/Empúries, 1993.
CÂMARA JÚNIOR, Joaquim Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. 14.ª ed. Petrópolis:
Vozes, 1984.
CUNHA, Celso; CINTRA, Luís Felipe Lindley. Nova Gramática do Português
Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Novo Aurélio Século XXI. 3.ª ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1999, 1.ª ed. 1975.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Novo Dicionário Aurélio. 2.ª ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1986, 1.ª ed. 1975.
GUILBERT, Louis. La créativité lexicale. Paris: Larousse, 1975.
HAY, Jennifer. Lexical frequency in Morphology: is everything relative? Linguistics, Berlin,
v. 39, n. 6, p. 1041-1070, 2001.
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2001.
LANGACKER, Ronald W. Foundations of cognitive grammar: Theoretical prerequisites.
Stanford: Stanford University Press, 1987.
LANGACKER, Ronald W. Foundations of cognitive grammar: Descriptive application.
Stanford: Stanford University Press, 1991.
LEHRER, Adrienne. Why neologisms are important to study. Lexicology v. 2, p. 63-73, 1996.
LUFT, Celso Pedro. Dicionário de regência nominal. 4.ª ed. São Paulo: Ática, 1999.
108
MARONEZE, Bruno Oliveira. O tratamento lexicográfico das nominalizações no português
do Brasil. In: CARAMORI, Alessandra Paola (org.) Português ou Brasileiro: que língua é
essa? Anais do VI Enapol. São Paulo: Annablume, 2004. p. 67-76.
MEL’ČUK, Igor; CLAS, André; POLGUÈRE, Alain. Introduction à la lexicologie explicative
et combinatoire. Louvain-la-Neuve: Duculot, 1995.
MORRIS, William (ed.). The American Heritage Dictionary. Boston: Houghton Mifflin,
1982.
NEUFELDT, Victoria; GURALNIK, David (eds.). Webster’s new world college dictionary.
New York: Macmillan, 1997.
RIO-TORTO, Maria da Graça. Morfologia derivacional. Porto: Porto Editora, 1998.
ROCHA, Luiz Carlos de Assis. Estruturas morfológicas do português. Belo Horizonte:
UFMG, 1998.
ROCHA, Luiz Carlos de Assis. A nominalização no português do Brasil. Revista de Estudos
da Linguagem, Belo Horizonte, v. 8, n. 1, p. 5-52, 1999.
SCHER, Ana Paula. As construções com o verbo leve DAR e as nominalizações em -ada no
Português do Brasil. 2004. Tese (Doutorado em Lingüística) – Instituto de Estudos da
Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2004.
VALLÈS, Teresa. La creativitat lèxica en un model basat en l’ús. 2004. 343 f. Tese
(Doutorado em Lingüística) – Institut Universitari de Lingüística Aplicada, Universitat
Pompeu Fabra, Barcelona, 2004.
WHITLAM, John; RAITT, Lia Correia (compls.) Dicionário essencial Europa-Oxford. São
Paulo: Europa, 1998.
WEISZFLOG, W. Michaelis: Moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo:
Melhoramentos, 1998.
109
ANEXOS
1. Nominais formados com o sufixo -ção
Unidade lexical abstratização sf
Contexto E que incluem desde as imagens de um ar feito de carne, um firmamento que
fica dentro, um brilho que reverbera, às tensões entre aberturas e fechamentos, claros e
escuros vocálicos, entre o macio e o bélico, o prosaico da carne e do corpo e o escudo épico, a
erotização (a intumescência, o ventre) e a <abstratização> (distância, tempo, ar) e entre
atropelamentos e corrosões internas e um “a tua volta” no qual “tudo canta”, “tudo
desconhece”.
Veículo Folha de S. Paulo 19-nov-00
Unidade lexical academização sf
Contexto Para quem quiser conhecer o processo cultural brasileiro dos últimos 30 anos,
é fundamental a leitura desse livro sério, comovente e divertido sobre o cineasta Mojica
Marins, escrito a quatro mãos por André Barcinski e Ivan Finotti, num estilo coloquial e
enxuto que lembra o grande escritor paulista Monteiro Lobato.
Trata-se de uma excelente pesquisa que dispensa as notas ao pé de página e a bibliografia, ao
contrário do que tem sucedido com a chatíssima <academização> no mundo editorial
brasileiro.
Veículo Folha de S. Paulo 17-mai-98
Unidade lexical amoralização sf
Contexto Buba expõe a fragilidade da lei e agiliza o processo de <“amoralização”> das
relações entre os personagens de “Renascer”. Ela corrompe a noção de família. (Luís Antônio
Giron)
Veículo Folha de S. Paulo 18-abr-93
Unidade lexical amorfização sf
Contexto Um material amorfo bem comum é o vidro. Apesar de parecer com um cristal,
ele na verdade possui estrutura desordenada.
110
Com a <amorfização>, os átomos deixam de estar enfileirados como soldados em uma parada
e se rendem a uma distribuição aleatória.
Veículo Folha de S. Paulo 17-mai-98
Unidade lexical anualização sf
Contexto Quando nos mudamos para Nova York, em 1994, acertei com a Encol a
<anualização> das prestações. Em meados daquele ano, fui alertado por amigos para o
desastre iminente da Encol. Procurei a construtora. Um diretor, muito amável e sereno, anotou
os dados e disse que meu caso era simples. Reconheceu as dificuldades da empresa e se
prontificou a resolver o problema de uma tacada: em vez de esperar meu apartamento ficar
pronto, em dezembro de 1996, a Encol me entregaria dentro de um mês um apartamento
pronto, no valor do que eu já havia pago.
Veículo Veja 27-ago-97
Unidade lexical aquiagorização sf
Contexto Bomba! Bomba! Guerra de audiência in loco! É a <aquiagorização> da
televisão! Outro dia teve um simples assalto numa farmácia e as emissoras ficaram brigando
na porta pra ver quem entrava primeiro. (José Simão)
Veículo Folha de S. Paulo 20-jun-95
Unidade lexical azaração sf
Contexto Cláudia, amiga inseparável há nove anos, é a parceira mais freqüente nas
incursões aos templos do consumo, onde além de compras acontece a imprescindível
<“azaração”>. O ato de “azarar” pode parecer paradoxal com o romantismo declarado. Mas,
com medo da solidão, os jovens preferem esperar o príncipe encantado acompanhados,
mesmo que por um dia.
Veículo IstoÉ 11-set-96
Unidade lexical banditização sf
Contexto O presidente ficou em silêncio quando a Justiça prendeu a liderança dos sem-
terra. Sei que não foi ele quem mandou prender Diolinda de Souza, mas seu silêncio sinalizou
111
a <banditização> dessa liderança.
Veículo O Globo 05-mai-96
Unidade lexical beija-florização sf
Contexto O humor infantilóide, a <beija-florização> da cenografia, o sorrisinho de
pedro-bó que George Clooney ostenta com e sem a máscara...é um filme constrangedor para
verdadeiros fãs do personagem. Bem, você se pergunta, então por que essa foto aí em cima?
Porque o filme abre uma boa sessão criada pelo SBT aos domingos, sempre às 13h. E se a
sessão inicia com um filme popular de má qualidade, fica a esperança de que as próximas
exibam filmes populares de boa qualidade.
Veículo O Globo 03-set-00
Unidade lexical bicicletização sf
Contexto Duas Rodas: Nova York pode se transformar numa Nova Amsterdam, seu
nome original. Não porque a maconha venha a ser liberada - muito pelo contrário - mas pela
<“bicicletização”> em massa das ruas da cidade, um sonho do prefeito Giuliani. Pesquisas
mostraram que 50% dos nova-iorquinos aceitariam ir para o trabalho de bicicleta - desde que
houvesse faixas exclusivas nas ruas. Há cada vez mais faixas e estacionamentos, já são mais
de cem mil bikes rodando na ilha, e a Prefeitura prepara grande campanha de marketing: mais
bicicletas e menos poluição e barulho - o maior tormento do local.
Veículo O Globo 06-set-98
Unidade lexical bulgarização sf
Contexto A vitória de Franco impediu a submersão da Espanha no bloco marxista, que
resultaria em tirania política e estagnação econômica, como na Bulgária e na Romênia. No
caso chileno, o perigo do Governo Allende seria uma radicalização esquerdista (quase certa à
luz da experiência de outros países em que comunistas assumiram o poder). Em vez da
ameaça espanhola de <“bulgarização”>, teríamos uma ameaça de “cubanização”.
Veículo O Globo 06-dez-98
Unidade lexical cepeização sf
112
Contexto A <cepeização> do Congresso neste momento não interessa a ninguém.
Veículo Folha de S. Paulo 16-jan-94
Unidade lexical choramingação sf
Contexto Dir-se-á que somos cada vez menos cristãos, cada vez menos católicos. Mas
não perdemos o vício dessa <choramingação> masoquista. (Fernando Pedreira)
Veículo O Globo 01-out-00
Unidade lexical clausulação sf
Contexto No código atual, o autor do testamento pode estabelecer que certos imóveis ou
uma parcela de dinheiro fiquem bloqueados por um período determinado. A nova legislação
acaba com o que os especialistas chamam de <“clausulação”>, só permitida sob justa causa, o
que não é especificado pelo código. “A mudança serve para evitar que donos de um grande
patrimônio na prática vivam na miséria porque seus bens estão indisponíveis”, diz Peluso.
Veículo Veja 26-nov-97
Unidade lexical colombização sf
Contexto A <colombização> do Brasil tornaria as metrópoles, hoje assustadoras, em
campos de batalha. A Colômbia tem atualmente uma média de homicídios que é o dobro da
brasileira - e uma taxa de seqüestro vinte vezes maior. (Raul Juste Lores)
Veículo Veja 28-jun-00
Unidade lexical commoditização sf
Contexto Praticamente em dois anos, entretanto, ocorreu uma <“commoditização”> (ou
seja, vulgarização mercantil em larga escala) do que parecia um misto de empregabilidade e
alta cultura. A cena foi descrita num belo ensaio (“The Case of Silicon Valley”) publicado no
número 25 da revista 21*C (http:// www.21c.worldideas.com). Seu ponto de partida é a
divulgação de um anúncio de seleção que pedia “escravos com habilidade em HTML” (a
linguagem com que se montam as páginas da Internet).
Veículo Folha de S. Paulo 20-dez-98
113
Unidade lexical concertação sf
Contexto Será na formação de joint ventures, redes de informação, transferência de
know-how, tecnologia e <concertação> estratégica que se irão distinguir os sistemas
econômicos vencedores. Será, pois, no equilíbrio entre os fatores dinâmicos de progresso da
Europa e da América do Sul que Brasil e Portugal poderão encontrar uma via de
desenvolvimento pujante e sustentada.
Veículo Folha de S. Paulo 20-jul-97
Unidade lexical corporativização sf
Contexto O processo, portanto, reforça a oposição entre os blocos e os torna
incomunicáveis pelos meios democráticos tradicionais. Estimula-se assim, de forma
planejada, a <“corporativização”> do sentimento de solidariedade, por meio do seguinte
antivalor: quem ameaça minha inclusão é aquele que não aceita a universalidade das regras
mercantis de convivência.
Veículo Folha de S. Paulo 21-fev-99
Unidade lexical crapulização sf
Contexto Com “Vale Tudo”, isso é ainda mais evidente. Ao expor a podridão das elites,
a novela funcionou como catarse, purgante moral - e seu efeito foi claramente redentor. Isso
em 89, no momento em que o país ingressava num processo inédito de <”crapulização”>,
capitaneado por Collor e seu bando alagoano, mas sustentado pela elite com sede na avenida
Paulista.
Veículo Folha de S. Paulo 21-set-97
Unidade lexical cronificação sf
Contexto - As conseqüências da falta de preparo dos médicos para diagnosticar e tratar a
dor de cabeça são motivo de solicitação excessiva de exames caros, prescrição de remédios
pouco eficazes, perda de confiança do paciente e baixo índice de retorno aos consultórios.
Tudo contribui para a automedicação e a <cronificação> da cefaléia - alerta Pimenta, titular
do serviço de neurologia do Hospital dos Capuchos e da Clínica Santa Maria de Belém.
Veículo O Globo 04-abr-99
114
Unidade lexical cubanização sf
Contexto A vitória de Franco impediu a submersão da Espanha no bloco marxista, que
resultaria em tirania política e estagnação econômica, como na Bulgária e na Romênia. No
caso chileno, o perigo do Governo Allende seria uma radicalização esquerdista (quase certa à
luz da experiência de outros países em que comunistas assumiram o poder). Em vez da
ameaça espanhola de “bulgarização”, teríamos uma ameaça de <“cubanização”>.
Veículo O Globo 06-dez-98
Unidade lexical culpabilização sf
Contexto Eles são os primeiros a se considerar como indiferentes, desmotivados,
desinteressados, faltosos, indisciplinados, não-esforçados, não-cooperativos, sem iniciativa e
sem criatividade. Na opinião das autoras, estas respostas refletem um julgamento severo e
impiedoso, decorrente de uma <culpabilização> construída e reafirmada ideologicamente
como mecanismo de controle social.
Veículo O Globo 01-fev-98
Unidade lexical desegoização sf
Contexto Foi dessa perspectiva que empreendi as minhas primeiras versões de Rilke, a
maioria delas extraída dos “Novos Poemas”. Ao publicá-las, enfatizei, num estudo
introdutório, o caráter único desses textos em que, segundo Ursula Emde, ocorre “a conversão
de Rilke ao objetivo e ao concreto”, ou, no dizer de Oscar Walzer, uma “<desegoização> da
lírica”, um “lirismo novo, de onde o Eu é ausente, onde o ‘ich’ (eu) é substituído por ‘er’
(ele).” Como assinalei, então, sob o olho sensível e a pena justa do poeta, o inanimado se
anima e o animado se humaniza, por uma sutil translação de categorias.
Veículo Folha de S. Paulo 20-dez-98
Unidade lexical direitização sf
Contexto Situações dessa natureza sempre abrem espaços políticos, de uma parte, para
uma maior <direitização> de governos em crise (no que se refere ao uso da autoridade sem
prévio consenso); de outra (contraditoriamente, como ocorreu na era Collor), permitem uma
legitimação artificial do presidente pela via autoritária, o que Fernando Henrique Cardoso
115
deve buscar sofregamente, pois saiu do pleito presidencial debilitado e ainda mais
comprometido.
Veículo Folha de S. Paulo 18-out-98
Unidade lexical dolarização sf
Contexto A <dolarização> da economia. Está na moda uma versão maluca da fuga de
capitais.
Veículo Veja 12-mai-93
Contexto Se a base do poder de fogo é a capacidade de acumular reservas em moeda
forte, o governo brasileiro tem algum cacife - a <dolarização> aparece como solução possível
e se afirma o consenso de Washington. (Gilson Schwartz)
Veículo Folha de S. Paulo 06-jun-93
Contexto De todos os chutes, o mais provável parece ser a fixação do câmbio, também
conhecida como <dolarização>.
Veículo Veja 09-jun-93
Contexto A equipe dele nega qualquer heterodoxia, tipo choque, congelamento ou
<dolarização>, mas assessor nenhum admitiria que projeta dar um “tranco” na inflação.
Veículo IstoÉ 23-jun-93
Contexto A <dolarização> dispensa toda essa filosofia política. No lugar de negociação
de pactos, uma medida provisória submete a impressão de cruzeiros à existência de lastro em
moeda forte. Outro hipótese é o alongamento da dívida pública, trocando-se a remuneração
incerta em cruzeiros por uma certa, mas adiada, em dólares.
Veículo Folha de S. Paulo 18-jul-93
Contexto Estima-se que haja 50 bilhões de dólares depositados em bancos no exterior, e
muito dólar guardado em baixo do colchão. A <dolarização> fez parte desse dinheiro vir à
luz.
Veículo Veja 11-ago-93
Contexto Amor e terror - A <dolarização> não guarda nenhum parentesco com pacotes
que desabam na madrugada.
Veículo Veja 11-ago-93
Contexto O maior obstáculo para esse rosário de aumentos está naquilo que vem a ser o
116
sinônimo da estabilidade econômica: a <dolarização>.
Veículo Veja 11-ago-93
Contexto Em 1991, Resende defendeu uma forma de <dolarização> da economia e dizia
que “sem credibilidade na moeda, a reorganização da economia fica extraordinariamente
dificultada”. A <dolarização> foi pensada como uma camisa-de-força nas contas do governo e
como o sinal para a sociedade de que os preços poderiam tender à estabilidade.
Veículo Folha de S. Paulo 15-ago-93
Contexto <Dolarização>? Prefixação de preços e salários? A rabanada pode conter um
pouco de cada uma dessas medidas.
Veículo Veja 08-set-93
Contexto A <dolarização> patrocinada pelo presidente Carlos Menem abateu a inflação
e produziu ótimos indicadores econômicos, mas a qualidade de vida do argentino médio
continua ruim.
Veículo Veja 13-out-93
Contexto O plano FHC inclui uma <dolarização> do tipo argentina. Só que ela vem
disfarçada.
Veículo Veja 15-dez-93
Contexto Finalmente, viria a paulada, com a <dolarização> da economia. A dúvida é
saber com que tipo de apoio Fernando Henrique contará para aprová-lo.
Veículo Veja 12-jan-94
Contexto O ministro afirmou que o plano não é recessivo nem uma <dolarização>
disfarçada.
Veículo Folha de S. Paulo 06-mar-94
Contexto O real conviverá com sua prima-irmã URV, que, por seu lado, se norteará pelo
dólar norte-americano. Evitará a <dolarização> direta, dando uma área de manobra para o
governo.
Veículo Folha de S. Paulo 06-mar-94
Contexto No texto acertado ontem, há a análise de que o momento é de fuga de capital
estrangeiro no país e que o processo de <dolarização>, embutido no plano FHC, pode levar o
país a uma crise cambial.
Veículo Folha de S. Paulo 01-mai-94
117
Contexto Quanto valerá 1 real? Que confiança deverá merecer? Amarrado ao dólar,
mereceria a confiança que a moeda americana inspira no mundo. Amarrando-se o real ao
dólar por três ou quatro meses, o que se faz é a <dolarização> da candidatura do senador, não
da moeda. /.../
Veículo Veja 11-mai-94
Contexto Com dois anos no cargo, Menem iniciou o plano de estabilização com base na
<dolarização> da economia - um peso é igual a um dólar norte-americano, mediante lei
federal -, na venda de estatais e na redução drástica das alíquotas das importações.
Veículo Folha de S. Paulo 16-out-94
Contexto Economistas sofisticados como Guillermo Clavo, um cavalheiro no trato
pessoal e um pensador sutil, ou Carlos Rodríguez, um monetarista por formação, mas com
grande senso de medida, sabem que o dia de mudar o atual sistema se equivalem, não é algo
postergável “ad infinitum”. O problema está em como desarmar a bomba que se traduz na
<dolarização> dos contratos.
Veículo Folha de S. Paulo 04-ago-96
Contexto “Deveriam os países em desenvolvimento ter Bancos Centrais?” Schuler
conclui negativamente. Baseou-se numa análise histórica de 155 países classificados em três
grupos: /.../ c) países que usam outros sistemas monetários (juntas de conversão, institutos
monetários, moeda emitida por bancos privados e <“dolarização”>).
Veículo O Globo 06-out-96
Contexto No caso brasileiro, não ocorreu uma <dolarização> tão intensa da dívida
pública.
Veículo Folha de S. Paulo 17-jan-99
Contexto Isso tudo se a <dolarização> - o nosso fantasma de plantão - não for um “fato
consumado”, como defendeu o diretor-gerente do FMI, Michel Camdessus.
Veículo Folha de S. Paulo 16-mai-99
Contexto <Dolarização> na América Latina (tít.)
A forte volatilidade das taxas de juros e do Produto Interno Bruto (PIB) repuseram na ordem
do dia o debate sobre a escolha do regime de câmbio mais eficaz na América Latina. O
presidente argentino, Carlos Menem, avançou na idéia de uma <dolarização> do conjunto
dessas economias.
118
Veículo Folha de S. Paulo 17-out-99
Unidade lexical dunlapização sf
Contexto Surgiu um novo verbo no mundo da reorganização de empresas nos Estados
Unidos: “Dunlapizar”. Vem das práticas de Albert Dunlap (na foto), um garoto nascido num
bairro pobre de New Jersey, ex-oficial pára-quedista formado em West Point, que aos 59
anos, acumulou mais de US$ 100 milhões salvando grandes empresas agonizantes. /.../
Apelido da Serra Elétrica e Rambo de Camisa Listrada, está oferecendo um curso de
<dunlapização> num livro que acaba de ser publicado nos Estados Unidos “Mean business”.
Ele trabalha com as seguintes idéias básicas: 1 - Contrate a equipe certa: 2 - Economize até
nos tostões; 3 - Saiba em que negócio você se meteu; 4 - Arrume uma estratégia.
Veículo O Globo 08-ago-96
Unidade lexical economização sf
Contexto O mundo passou nos últimos anos por uma espécie de apropriação da ecologia
pela economia capitalista. Seria mais uma <economização> da ecologia, mas sim a
ecologização da economia, sem a qual a vida no planeta sofrerá cada vez mais ameaças e
tende mesmo ao desaparecimento.
Veículo Folha de S. Paulo 24-mar-96
Unidade lexical editorialização sf
Contexto Muitos jornalistas condenarão o texto do “Estado”, argumentando que peca
pela <“editorialização”>. É o preço a pagar pela coragem de tirar conclusões, correr riscos.
Veículo Folha de S. Paulo 21-abr-96
Unidade lexical embananação sf
Contexto Crimes em novelas costumam ter resolução clara e definitiva. Ao final do
suspense, sempre se sabe quem matou e como. O mesmo não vem ocorrendo com os crimes
que acontecem fora da TV.
O relaxamento da pena de Paula Thomaz e o indiciamento do presidente Bill Clinton são dois
exemplos da mesma <embananação> que ronda a relação nem sempre óbvia entre o que se
119
torna visível e o que é considerado verdadeiro.
Veículo Folha de S. Paulo 18-out-98
Unidade lexical ensebação sf
Contexto Doris reclama de <ensebação> às 18h (tít.)
Doris Giesse, futura apresentadora do programa de variedade “Aqui Brasil”, que estréia mês
que vem no SBT, reclama da <ensebação> entre os personagens de Andréa Beltrão e Raul
Cortag em “Mulheres de Areia”, novela das 18h da Globo.
Veículo Folha de S. Paulo 16-mai-93
Unidade lexical entregação sf
Contexto Alca 2005, integração ou <entregação>? (tít.)
O mercado caminha para que três blocos tenham a predominância mundial. Um liderado pelos
Estados Unidos, outro pela Alemanha e o asiático pela China. Não creio que tenhamos muita
escolha.
Entramos nessa parada e agora não há espaço para recuos. Vamos discutir uma integração
efetiva, e não uma <entregação>!
Neste momento, a Alca parece um projeto irreversível e não podemos deixar de assumir uma
posição clara e transparente dos interesses que a sociedade brasileira quer preservar.
Veículo Folha de S. Paulo 16-fev-97
Unidade lexical espaguetificação sf
Contexto Conheça alguns novos verbetes /do New Oxford Dictionary of English/
<spaghettification> - o que acontece a alguém que cai num buraco negro
(<espaguetificação>).
Veículo Folha de S. Paulo 20-set-98
Unidade lexical espetacularização sf
Contexto <Espetacularização>? Não podia faltar, já que nada na televisão escapa ao
entretenimento. Ou melhor, a uma reciclagem sob a forma de espetáculo. (Sérgio Augusto)
Veículo Folha de S. Paulo 20-jun-93
120
Contexto Ninguém - a Folha incluída - deu tratamento explicitamente elogioso a Lamia.
Mas a superexposição e a falta de discrição na cobertura acabaram imprimindo sinal positivo
ao personagem. É um subproduto perverso da <espetacularização> do noticiário, inofensiva
em alguns casos, prejudicial na maioria.
Veículo Folha de S. Paulo 16-fev-97
Contexto O primeiro sinal da <espetacularização> da campanha foi o aparecimento, nas
eleições de 1992, do multimilionário Ross Perot, que propunha administrar o país tal qual
uma empresa. Conseguiu 19% dos votos na primeira campanha, à frente do então recém-
criado Partido da Reforma. Cumprindo sua vocação meteórica, hoje não atrai mais que uma
ínfima parcela do eleitorado.
Veículo Veja 27-out-99
Unidade lexical etnização sf
Contexto /.../ O discurso dominante, hoje é o discurso da identidade - identidade cultural,
étnica e nacional. Há uma <etnização> dos conflitos-sérvios versus croatas, russos versus
alemães, minorias húngaras versus maioria romenas, eslavos ortodoxos versus bósnios
muçulmanos, e no fundo, uma retribalização do mundo, dividido entre comunidades
autárquicas, demarcadas segundo critérios lingüísticos, raciais e religiosos.
Veículo Folha de S. Paulo 20-nov-94
Unidade lexical exponenciação sf
Contexto O resultado global da desregulamentação (que, aliás, é irreversível em muitos
aspectos) é a <exponenciação> da instabilidade cambial. O dinheiro corre sem parar, mas
corre em direção a Estados fortes e confiáveis.
Veículo Folha de S. Paulo 01-ago-93
Unidade lexical externalização sf
Contexto Da mesma forma como a depressão assume diversos modos de
<externalização>, a psicanálise também pode ser usada de forma criativa e repensada a cada
novo caso que se apresenta.
DORA TOGNOLLI GUGLIELME
121
São Paulo - SP
Veículo IstoÉ 17-dez-97
Unidade lexical favelização sf
Contexto O preço dessa recusa está aí, à vista de todos: a urbanização selvagem, a
criminalidade em alta, a degradação das grandes cidades. “Grande parte da chamada
urbanização do país, no fundo, é uma <favelização>“, diz o professor gaúcho Tavares dos
Santos.
Veículo Veja 24-abr-96
Contexto O litoral norte de São Paulo, conhecido por suas belas praias, pelas casas que
superam facilmente a cifra de R$ 1 milhão e por reunir, a cada verão, a nata da sociedade
paulistana, está passando por um processo rápido de <“favelização”>. Praias como Juqueí,
Maresias, Barra do Sahy, Toque-Toque e Boiçucanga hoje têm favelas para nenhuma
metrópole brasileira botar defeito. A velocidade de crescimento dessas favelas é assustadora:
enquanto a cidade de São Sebastião, onde se localizam essas praias apresenta um crescimento
anual de 5,4%, favelas mostram aumentos de três dígitos por ano.
Veículo Folha de S. Paulo 20-out-96
Contexto Delair Dumbosck disse que a Câmara Comunitária da Barra foi criada porque
os condomínios estavam insatisfeitos com a atuação da associação de moradores. - Eles eram
xiitas, defendiam a <favelização> do bairro e diziam que os moradores dos condomínios eram
ricos. Decidimos, então, criar a Câmara Comunitária - disse Dumbosck.
Veículo O Globo 03-mai-98
Contexto Aí está retratado e explicado o aumento assustador da <favelização> das
cidades, da violência urbana incontrolável, do desemprego, da arrecadação insuficiente para
as necessidades da saúde, da educação, da previdência e da infra-estrutura.
Veículo Folha de S. Paulo 19-set-99
Unidade lexical ferveção sf
Contexto Avenida Club. Popular, Popular, o Avenida Club. Vá com os amigos, sem
formalidades mas sem grandes expectativas. O som varia de acordo com o tipo de show da
noite, nesse clube que - os que têm a palavra club em seu nome - nada tem a ver com o
122
conceito de babado e <ferveção> que passou a caracterizar o circuito na cidade.
Veículo Folha de S. Paulo 19-jun-94
Unidade lexical fetichização sf
Contexto Hoje em dia, as duas vertentes – a de um “Adorno inescapável” e a de um
“Adorno obsoleto” – convivem estranhamente. Todos concordam com a idéia de que ele é
pessimista e elitista demais, mas todos usam indiscriminadamente o que ele escreveu.
Corre-se o risco, para dizer francamente, de uma <“fetichização”> da obra de Adorno. Isto
significa: 1) referir-se a Adorno sem ter lido direito seus livros, 2) criticá-lo por obrigação e
3), o que é pior, usá-lo como confirmação teórica para antipatias apressadas e estudos
empíricos de sociologia cultural malfeita.
Veículo Folha de S. Paulo 21-dez-97
Unidade lexical ficcionalização sf
Contexto O espantoso mesmo nesse oitocentista é seu realismo, substancialmente
reforçado pelo fato de sua narrativa ser quase integralmente verdadeira, consistindo na
<ficcionalização> de uma história real extraída das memórias de um dos seus participantes,
que aparece com o próprio nome, o capitão Amasa Delano. (Nélson Ascher)
Veículo Folha de S. Paulo 18-abr-93
Contexto Mas não é só via figuração em fuga que Francisco Alvim parece encaminhar,
em “Elefante”, sua consideração do poema e, em particular, do seu método poético, não à toa
se desdobrando esse movimento auto-reflexivo de uma indagação mais geral sobre as relações
entre o poema (convertido, com freqüência, em espaço de ressonância: “Quer ver?/ Escuta”) e
o mundo (daí as vozes e clichês que invadem os seus poemas-minuto), sobre a “realidade”, o
processo de <ficcionalização> próprios à vertente dramatizada de sua poesia, movida
sobretudo por movimentos de miniaturização crítica e por afastamentos e aproximações entre
a sua perspectiva semi-oculta (por vezes perceptível num título, num corte) e as “personae”
(usualmente pouco apreciáveis) que se expõem (com seus imperativos, preconceitos, lugares-
comuns) nos poemas breves.
Veículo Folha de S. Paulo 19-nov-00
123
Unidade lexical financeirização sf
Contexto Nesse transcurso dos 70, esses bancos e empresas (“Bancos não Bancos”)
estimulam o endividamento “fácil” aos países do segundo e terceiro mundos, processo que
culminou entre 79 a 82 na chamada “crise da dívida externa”. /.../ Por outro lado, os bancos e
empresas bancadores desse processo promovem, nesse longo transcurso, o chamado processo
de <“financeirização”>, que constitui nessa medida acumulação financiária e importantes
alterações institucionais e operacionais no mercado financeiro internacional.
Veículo Folha de S. Paulo 04-set-94
Unidade lexical flexibilização sf
Contexto O governo foi convencido pelos políticos a não usar mais a expressão “quebra
da estabilidade”. Por isso, a palavra é <“flexibilização”>.
Veículo O Globo 07-jul-96
Contexto Desde 1953 ela tem o monopólio da exploração e refino do petróleo. A
facilidade só acabou passado, mas por enquanto a <flexibilização> do monopólio nem
arranhou a estatal - e essa é uma histórica ilustrativa a respeito do poder político que tem a
Petrobrás.
Veículo Veja 30-out-96
Contexto Secretário de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, José Gregori também
argumenta que a luta pela estabilidade da moeda é o maior investimento social do Governo.
Gregori reconhece que a crise - “uma preocupação diária” do presidente - poderá desviar ou
adiar metas do Governo. Mas, para ele, o esforço valerá a pena. Ele aposta que, adiante, a
consolidação de um plano de criação de empregos como o Pronaf e medidas de
<flexibilização> do contrato de trabalho, será a vedete de um novo governo.
Veículo O Globo 04-out-98
Unidade lexical fragilização sf
Contexto A queda da relação reservas/dívida pública interna, de 72,4% em julho de 94
para 38,9% em julho de 96, apesar do forte crescimento das reservas de 45,4% no mesmo
período, reflete a <fragilização> de um dos elementos de suporte do “equilíbrio” financeiro
externo da economia.
124
Veículo Folha de S. Paulo 25-ago-96
Contexto Será que a desestruturação do sistema produtivo nacional, a desarticulação de
complexos produtivos estratégicos, a degradação da infra-estrutura básica de apoio à
competitividade sistêmica, a <fragilização> das finanças públicas, derivadas da opção pela
âncora cambial e juros altos na adesão irrestrita ao receituário neoliberal contribuem para a
criação dessas condições?
Veículo Folha de S. Paulo 21-set-97
Contexto Leia os editoriais “Desgaste e tensão política”, sobre <fragilização> de FHC e
incertezas na base governista; e “Um complicador da crise”, sobre atitude de diretor do BC.
Veículo Folha de S. Paulo 17-jan-99
Contexto O fenômeno da guerra fiscal é agora muito mais amplo e daninho, se é que já
não se trata de uma outra guerra, fratricida, em que se acumulam favores e arbitrariedades na
rolagem de dívidas no Senado, na socialização de escândalos ligados a precatórios, na
desarticulação das relações entre órgãos federais e instituições estaduais, nas pressões de
governadores pela revisão de compromissos financeiros já firmados.
Nessa guerra, a <fragilização> do BNDES é a mais nova arma dos que se dedicam a
desmontar o Estado.
Veículo Folha de S. Paulo 17-out-99
Contexto Recorde-se que a crise dos bancos estatais não decorre apenas de desmandos
administrativos e muita corrupção, mas do desequilíbrio econômico promovido pela política
econômica irresponsável adotada ao longo das últimas duas décadas. Sua origem vem da crise
da dívida externa e das finanças públicas dos anos 80, que foi seguida por um processo de
desorganização, <fragilização> e desnacionalização da economia brasileira, intensificado a
partir do governo FHC.
Veículo Folha de S. Paulo 20-fev-00
Unidade lexical fujimorização sf
Contexto Pior: o desamor pelo Legislativo estimula a tentação de buscar arremedos de
democracia, como a <“fujimorização”> que alega preservar algumas das liberdades públicas,
mas dissolve o Parlamento.
Veículo Folha de S. Paulo 19-dez-93
125
Contexto Em discurso escrito pelo jornalista Mauro Santayana, para uma solenidade no
Clube Naval, Itamar diria: “Têm me proposto a <fujimorização>, mas não tenho aceito”.
Veículo Veja 12-jan-94
Contexto O ministro de Justiça Maurício Corrêa é mais um trapalhão deste governo. A
última pessoa que deveria falar sobre <“fujimorização”> no país, e no entanto perdeu uma
grande oportunidade de ficar calado /.../.
Veículo Folha de S. Paulo 16-jan-94
Contexto “Não podemos correr o risco de uma <fujimorização> no País”, advertiu
Sarney, numa referência ao presidente do Peru, Alberto Fujimori, que fechou o Congresso
para promover reformas semelhantes às propostas por FHC.
Veículo IstoÉ 13-mar-96
Contexto Esse fantasma, aliás, sob o rótulo de <fujimorização>, já espantara as noites de
Brasília, semanas atrás. Um grupo de parlamentares jantou com FHC e alguns deles
relataram, depois, aos jornalistas que o presidente dissera ter ouvido sugestões de amigos para
que fechasse o Congresso, como o fez o presidente peruano.
Veículo Folha de S. Paulo 17-mar-96
Contexto Há uma semana, na TV, ele disse que o Congresso é o fórum adequado para
decidir sobre a reeleição. Se defendesse um plebiscito, FHC disse que iriam acusá-lo de
<“fujimorização”>, numa alusão ao presidente do Peru, Alberto Fujimori, que fechou o
Congresso.
Veículo Folha de S. Paulo 20-out-96
Contexto Qualquer proposta “moderada”, em sentido inverso, poderá desestruturar o
processo democrático em evolução no país. Ao contrário do que se pode pensar, a moderação
conciliatória terá a conseqüência extrema de forçar uma ruptura de grande parte da sociedade
com a oposição inserida na ordem constitucional.
Tal situação geraria uma espiral de violências sociais, que seguramente seria alimento de um
caldo de cultura propício à <“fujimorização”> legitimada. Fazer uma oposição conseqüente é,
portanto, base de um duplo compromisso: com o mandato oposicionista e com a própria
democracia.
Veículo Folha de S. Paulo 18-out-98
Contexto Os oposicionistas estão comparando a decisão de Fujimori ao autogolpe que
126
ele deu em 92, quando fechou o Congresso e a Suprema Corte, concentrou poderes em suas
mãos e fez nascer o termo <fujimorização> como sinônimo de autoritarismo. (Gabriela
Máximo)
Veículo O Globo 02-jan-00
Unidade lexical fulanização sf
Contexto Malan - Esse tipo de empreitada demanda uma série de palavras terminadas em
“ão”, que não tenho: ambição, vocação, paixão, dedicação, o sentimento de predestinação,
filiação partidária e votação. Há uma outra coisa. O grau de personalização, de <fulanização>
do debate público no Brasil, é um pouco mais elevado do que eu gostaria. A empreitada
presidencial exige um grau de ataques pessoais que exigem, no nosso sistema político,
resposta no mesmo nível ou alguns decibéis mais alta.
Veículo Folha de S. Paulo 15-out-00
Unidade lexical glamourização sf
Contexto /.../ conta sua luta contra o alcoolismo, critica duramente a imprensa,
responsável pela <glamourização> excessiva do rock”, e fala sobre o disco solo, só com
músicas em inglês, que deverá ser lançado em junho.
Veículo O Globo 27-abr-94
Contexto Chama muito mais atenção um Kurt Cobain morrer do que aquele vizinho do
seu prédio que morreu de cirrose. A <glamourização> do rock parte da imprensa.
Veículo O Globo 27-abr-94
Contexto Durante a Guerra Fria, os EUA firmaram-se como potência imperial. Houve
até certa <glamourização> do fenômeno. Reagan qualificava a URSS como “império do mal”;
criou-se o programa “Guerra nas Estrelas”; e, nos cinemas, a ficção projetava batalhas
imperiais interestrelares.
Veículo Folha de S. Paulo 15-set-96
Contexto Segundo o presidente do Sindicato dos Professores do Paraná (APP -
Sindicato), Romeu Gomes de Miranda, 50, com a Universidade do Professor, o governo
Lerner “num toque de mídia, parte para a <glamourização> da educação.
Veículo Folha de S. Paulo 15-dez-96
127
Contexto Assim, a socialismo idealizado do diretor, a <glamurização> das classes
operárias, ganha aspecto quase religioso.
Veículo Folha de S. Paulo 18-jul-99
Unidade lexical globalização sf
Contexto Em plena era do triunfo neoliberal e da <globalização>, a presença de
Madonna, a mulher mais escandalosa do mundo da música, na Argentina para encarar a maior
heroína nacional, Evita Perón, a venerada mulher do general /.../
Veículo Veja 31-jan-96
Contexto Ao contrário, uma maior projeção externa do país é parte da solução de nossos
problemas, num momento em que a <globalização> da economia internacional é uma
realidade irrefutável e irreversível.
Veículo Veja 31-jan-96
Contexto O tema foi a <globalização>, essa etapa do capitalismo atual em que as
fronteiras nacionais se dissolvem, a tecnologia dizima milhares de empregos, a especulação
financeira viaja na velocidade da luz, promovendo fortunas de noite para o dia ao mesmo
tempo que fecha fábricas e funde empresas.
Veículo Veja 28-fev-96
Contexto A dualidade política foi substituída por um consenso. Uma só superpotência
impôs seu predomínio ao mundo, quase todas as sociedades procuram se aproximar de seu
modelo. Com pouca variação de grau, há uma só receita econômica (o mercado), uma só
fórmula institucional (a democracia), num mundo que tende inevitavelmente à
<globalização>. Pois não se trata de um estanque, mas que se propõe a enquadrar toda
diversidade étnica ou cultural num mesmo modelo já batizado como “fim da História”, desde
que cumpridos os preceitos da livre competição e da técnica.
Veículo Folha de S. Paulo 17-ago-97
Contexto Não é verdade que a <globalização> elimine os vínculos da empresa com seus
países de origem. Em, 1992, O Partido Democrata, nos EUA, venceu as eleições com um
projeto explícito de fortalecimento das empresas norte-americanas.
Veículo Folha de S. Paulo 17-ago-97
Contexto A maior parte (65%) desse acredita que os reflexos da <globalização> da
128
economia serão positivos para seus negócios. Apenas 15% acham que a <globalização>
causará impactos negativos sobre as empresas que representam.
Veículo O Globo 05-out-97
Contexto Diplomacia presidencial é hoje também diplomacia comercial. Desde a
Segunda Guerra, esta é a primeira vez que a agenda interamericana está dominada pela
questão comercial. Trata-se de conseqüência óbvia do fim da Guerra Fria e da aceleração do
processo econômico da <globalização>.
Veículo O Globo 05-out-97
Contexto A secretária de Estado dos EUA, Madeleine Albright, esteve em Pequim, em
abril último e agendou uma festa bem apropriada para esses tempos de <globalização>. Foi
acertada uma dupla inauguração do mega aeroporto de Hong Kong, a mais recente e
capitalista porção da China comunista.
Veículo IstoÉ 17-jun-98
Contexto Vantagens brasileiras na <globalização>. A internacionalização de economias
e mercados mistura benefícios e exigências de reestruturação dos aparelhos produtivos
nacionais que se fazem acompanhar de efeitos sobre a oferta de emprego. É o que acontece no
mundo todo. Antigos sistemas de ocupação de mão-de-obra, baseados na indústria,
desaparecem. Criam-se postos de trabalho sobretudo na área de serviços, com valorização de
competências, porém, que freqüentemente estão longe do que o trabalhador médio pode
oferecer. Problema adicional: a preparação dessa mão-de-obra para novas funções não é coisa
que se resolva no curto prazo. Pois no Brasil temos vantagens que poucos países têm quando
se fala em possibilidades de geração de emprego. Essa potencialidade está em obras de infra-
estrutura social, com habitação e saneamento, e econômica, desde as rodovias, hidrovias e
aeroportos, até a vicejante área do turismo, com hotéis, resorts e parques temáticos.
Veículo Folha de S. Paulo 21-jun-98
Unidade lexical guetificação sf
Contexto Albee - Fiz uma declaração numa conferência “Gay OutWrite”, em San
Francisco, há quatro ou cinco anos. Meu discurso foi sobre a <“guetificação”> na literatura
gay. Comecei por dizer que faço parte de muitas minorias. Pra começo de conversa, sou do
sexo masculino, que é minoritário; sou branco, e os brancos são minoria; vivo nos Estados
129
Unidos, que é uma minoria; sou instruído, logo, minoria; sou escritor e uma pessoa criativa,
que com certeza constituem minorias; sou agnóstico, e os agnósticos provavelmente são
minoria; e também sou gay.
Veículo Folha de S. Paulo 21-jun-98
Unidade lexical haiderização sf
Contexto A ascensão do partido do racista Joerg Haider ao poder na Áustria derrubou o
tabu de que a extrema-direita não é digna de governar. Analistas como o filósofo alemão Peter
Sloterdijk acham que a <“haiderização”> - crescimento do extremismo e da xenofobia - é um
perigo. Na Rússia, um líder enigmático, Vladimir Putin, tira o sono do Ocidente.
Veículo O Globo 06-fev-00
Unidade lexical heterogenização sf
Contexto Um fruto fundamental da desejável <heterogenização> da sociedade israelense
á a possibilidade de construir uma identidade do país que não passe pelo poder dos religiosos.
Veículo Folha de S. Paulo 21-mai-00
Unidade lexical historicização sf
Contexto Mantendo-se sempre fiel ao figurativo em sua obra e preservando certas
conquistas formais do “Novecento”, Adami exprimiu de modo bastante próprio uma visão
quase documental da natureza. Seu duplo afastamento foi, portanto, de natureza física e
conceitual. Sua drástica redução, ou não-participação em mostras, deu-se em um momento de
institucionalização do moderno na arte brasileira e sem dúvida ajudou a retirar visibilidade de
sua importante contribuição para o modernismo. Foi uma saída simultânea à <historicização>
do papel dos modernistas.
Veículo Folha de S. Paulo 19-mar-00
Unidade lexical horizontalização sf
Contexto O profissional horizontal (tít.)
Um aviso de Mario Fleck, presidente da Andersen Consulting no Brasil. Estão em alta no
mercado aqueles profissionais preparados para uma das mais importantes tendências da
130
atualidade: a <horizontalização> dos cargos. Para enfrentar a concorrência, as empresas
vivem agora mudanças organizacionais e ampliam sua integração. “Ninguém funciona
fechado em silos”, diz Fleck. “A organização por setores está sendo substituída pela
organização por processos.” Assim, por exemplo, o novo profissional de atendimento ao
cliente passa a desempenhar funções que, tradicionalmente, dependiam de várias áreas.
Veículo Veja 01-nov-00
Unidade lexical iconização sf
Contexto Seis grandes pinturas inéditas compõem a individual de Dora Longo Bahia,
também integrante da banda Disk-Putas. Dora é raridade, uma roqueira que sabe o que pintar
e como. As telas retratam mulheres mortas num ambiente que sugere um suicídio. Encenam
um ritual de culpa cristã, tentam negar a morte como fim, pela <iconização> da beleza
suicida. /.../
Veículo Folha de S. Paulo 20-nov-94
Contexto Em primeiro lugar é necessário precisar que a <iconização> é uma estratégia
da visão que estabelece relações reconhecíveis visualmente entre os objetos e os seus signos.
Sendo pintor e desenhista, o sistema perceptivo de Almada é predominantemente visual, mas
a sua poesia não é uma mera “poesia de pintor” no sentido menor que esta expressão
geralmente contém. A poesia de Almada é, em vez disso, uma metapoesia que no código
verbal da escrita se inscreve e realiza; que nas palavras encontra os seus materiais de
construção, como fica bem patente em “Invenção do Dia Claro” (1921).
Veículo Folha de S. Paulo 16-nov-97
Contexto Em primeiro lugar é necessário precisar que a <iconização> é uma estratégia
da visão que estabelece relações reconhecíveis visualmente entre os objetos e os signos.
Veículo Folha de S. Paulo 16-nov-97
Unidade lexical ideologização sf
Contexto À esquerda e à direita, a <ideologização> do debate político. Tudo o que não
pudesse ser ideologizado - como a busca da eficiência, modernização das relações trabalhistas
– ia para segundo plano.
Veículo Folha de S. Paulo 25-ago-96
131
Unidade lexical informalização sf
Contexto Pastore, apesar de referendar essa expectativa, baseado nos sinais já
observados de recuperação da atividade econômica, está pessimista em relação ao
crescimento do mundo informal, que já absorve 57% da força de trabalho. /.../ - Encargo
social no Brasil virou tabu. E ele é responsável pela crescente <informalização> do mercado
de trabalho – afirma Pastore.
Veículo O Globo 02-jun-96
Contexto É importante dizer que a queda do emprego formal não significa
necessariamente desemprego. Está acontecendo um avanço da <informalização> do trabalho e
da terceirização. O nível de ocupação ainda está aumentando, como demonstram os números
deste ano.
Veículo Folha de S. Paulo 15-set-96
Unidade lexical instrumentalização sf
Contexto Mezan faz bem em refutar a fácil <instrumentalização> desse conceito, mas
deve-se dizer que as idéias de Ricardo Bernardi (autor do artigo discutido) não mereceriam, a
rigor, a atenção que este livro lhes dedica. (Marcelo Coleho)
Veículo Folha de S. Paulo 06-jun-93
Unidade lexical internalização sf
Contexto A <internalização> da imprevisibilidade e instabilidade financeira
internacional tende a reforçar o viés contracionista da política de ajuste, para sustentar a
credibilidade da “moeda forte” e prevenir os efeitos de eventuais choques externos.
Veículo Folha de S. Paulo 25-ago-96
Contexto /.../ 19) fortalecer o sistema de certificação de qualidade de produtos e
processos, sobretudo na <internalização> de produtos importados; /.../.
Veículo Folha de S. Paulo 17-jan-99
Unidade lexical itamarização sf
Contexto É precipitação diagnosticar que o ministro Fernando Henrique tenha entrado
132
em processo de <itamarização>, aquele que, de pitos em pitos, detonou seus três antecessores.
Veículo Veja 11-ago-93
Unidade lexical lumpenização sf
Contexto Não só o governo e o país vão passar por dificuldades extremas no próximo
período. A oposição também. E isso ocorrerá não só porque o agravamento da crise
aumentará a exclusão e a violência, que não nos favorecem, mas também porque a miséria -
<“lumpenização”> e desemprego - sempre gera condições favoráveis às soluções “fáceis” e
“rápidas” (leia-se mais autoritárias), tão ao gosto de setores das camadas médias e das elites
conservadoras ou tecnocráticas da sociedade.
Veículo Folha de S. Paulo 18-out-98
Unidade lexical massacração sf
Contexto Para isso, mistura curiosamente, catarse e distância brechtiana, une e divide a
platéia em momentos alternados e simultâneos, e não barateia o custo existencial e social do
gozo, para que a <massacração> da primavera das uvas, no fim, não se confunda com os
massacres calados de cada dia.
Veículo Folha de S. Paulo 18-ago-96
Unidade lexical matematização sf
Contexto Conforme declarou um pouco antes de morrer, aos 95 anos de idade, o
economista inglês Austin Robinson, um colaborador de Keynes, criticando a ênfase em
expectativas racionais e na <matematização> da economia que nem ocorrendo “nenhum
economista é mais perigoso do que o teórico puro sem experiência prática e uma compreensão
instintiva do mundo real... buscando precisão em um mundo de imprecisão”. (Luiz Carlos
Bresser Pereira)
Veículo Folha de S. Paulo 20-jun-93
Contexto Esta última (hipótese atomística), ao privilegiar cegamente conceitos como
homogeneidade, divisibilidade, independência, reversibilidade do tempo e repetitividade dos
eventos, abriu o caminho para a <matematização> ou a formação.
Veículo Folha de S. Paulo 21-abr-96
133
Unidade lexical maternalização sf
Contexto Fernanda Montenegro - “Desde o início ficou acertado que não haveria
<maternalização> da criança, que na realidade já tinha deixado de ser uma criança”. (Celina
Cortes).
Veículo IstoÉ 11-fev-98
Unidade lexical medicalização sf
Contexto Sehmoke quase perdeu sua reeleição em 1991, em parte por causa da posição
sobre as drogas. Hoje em dia, ele a mantém, mas com cautela. Agora, diz que prefere usar o
termo <medicalização> do que “legalização” ou “descriminalização”. (Carlos Eduardo Lins e
Silva)
Veículo Folha de S. Paulo 06-jun-93
Contexto “A chamada <medicalização> da vida é um instrumento de engenharia.”
(Moacyr Scliar)
Veículo Veja 28-mai-97
Unidade lexical medicinização sf
Contexto “É por isso que nós não usamos a palavra legalização da droga, e sim
<medicinização>, diz o médico Seidenberg”.
Veículo Veja 31-jan-96
Unidade lexical mensalização sf
Contexto O impacto será duplo. Pela <mensalização> e pelo aumento real do salário-
mínimo. Como nossos parlamentares não se preocuparam com as receitas, o desequilíbrio
financeiro será inevitável. (Luiz Carlos Mendonça de Barros)
Veículo Folha de S. Paulo 18-jul-93
Unidade lexical mercantilização sf
Contexto O professor Emir Sader, 56, que orienta teses na pós-graduação da Faculdade
de Sociologia da USP, não vê outro panorama senão o da “<mercantilização> chegando em
134
cheio ao sistema educacional”. /.../
Para ele, um exemplo simbólico e um “momento decisivo” dessa situação foi a atitude de
Roberto Leal Lobo, que renunciou ao cargo de reitor da USP para se dirigir à Universidade de
Mogi das Cruzes, particular, “ganhando os tubos”.
Veículo Folha de S. Paulo 21-mai-00
Unidade lexical mexicanização sf
Contexto Para o vice-presidente do Citibank, Álvaro Souza, a tendência da
<mexicanização> existe caso se combinem fatores negativos. Seria preciso não só Governo
brasileiro ser incompetente para administrar a economia e contornar os atuais desequilíbrios,
como o país ser prejudicado por decisões externas (taxa de juros desfavorável, por exemplo). -
Os problemas do Brasil existem, têm que ser gerenciados e não são camufláveis. O Brasil tem
que fazer a privatização, as reformas e há um desequilíbrio das contas públicas. Mas tem US$
60 bilhões de reservas. O México quando pediu água, estava com reservas negativas –
afirmou.
Veículo O Globo 02-fev-97
Contexto A pergunta é: o que Silvio Santos vai fazer com o elenco que contratou para
novelas que não davam mais de 6 pontos no Ibope, audiência de Os Ossos do Barão? A
resposta: teleteatros populares. Entre os primeiros estão No Amor Não Tem Reprise e Do
Destino Ninguém Foge, escritos pela mexicana Marisa Garrido, que, como os títulos sugerem,
contam histórias lacrimogêneas de paixões malsucedidas. Algumas das estrelas da emissora,
como Irene Ravache, Jussara Freire, Jandira Martini e Joana Fomm, comandaram na semana
passada um levante contra a ruindade dos textos. Na quarta-feira, a situação já estava
contornada. As gravações começam no próximo dia 3. As atrizes ficaram satisfeitas com
pequenas modificações nas falas. Talvez tenham assistido também a algum capítulo de Por
Amor, da Globo, e descobrido que, em matéria de <mexicanização>, a novela das 8 da Globo
é insuperável.
Veículo Veja 29-out-97
Contexto “Ana Paula já mostrou em ‘Hilda Furacão’ que tem talento. Não precisa provar
nada”, afirma Raul Cortez, que contracena com Ana Paula em “Terra Nostra”.
A trama a coloca como a mocinha sofredora. Não seria uma espécie de <mexicanização>?
135
Para Ana Paula, não é só nos dramalhões mexicanos que existem heroínas românticas e
sofredoras. “Na dramaturgia do mundo inteiro há várias Julianas”, diz.
Veículo Folha de S. Paulo 19-set-99
Unidade lexical miamização sf
Contexto A Câmara americana do Comércio está tendo dificuldade em trazer 200
empresários americanos para duas rodadas de negócios em São Paulo, em novembro e janeiro.
É que a <miamização> de Nova York não deixa. Os vôos estão lotados de brasileiros em
viagens de férias e sacoleiros.
Veículo Veja 30-out-96
Unidade lexical mineirização sf
Contexto Afinal, a Fiat está investindo US$ 2,1 bilhões até o ano 2000 num megaprojeto
que incluía construção de mais uma fábrica de motores no Estado e o lançamento de outro
carro mundial, além do Palio. A montadora desenvolve ainda um amplo processo de
<“mineirização”> de seus fornecedores.
Veículo IstoÉ 12-jun-96
Unidade lexical miserabilização sf
Contexto A depressão alimentou certas idéias econômicas de “subconsumo” ou
“superprodução”, que o marxismo via como resultado inevitável do capitalismo, o qual, pela
<miserabilização> crescente dos trabalhadores, iria levar à revolução socialista.
Veículo O Globo 03-mai-98
Unidade lexical mitologização sf
Contexto O “barrismo” que talvez ameaçasse a poesia de Manoel de Barros já não
ameaça no 13º livro do poeta - este nobre “Livro sobre Nada”. O risco do barrismo, alusão
tanto ao seu sobrenome como à proclamada vocação as sua poesia de ser um “apogeu do
chão”, de fato não é pequeno: talvez a insistência num certo élan adquirido, alguma
<mitologização>, até involuntária, das referências, um ou outro neologismo de consistência
duvidosa.
136
Veículo Folha de S. Paulo 20-out-96
Unidade lexical monetização sf
Contexto O programa propõe a <monetização> da dívida interna (pagamento com
dinheiro impresso) acompanhada da criação de uma nova moeda (“assegurada a conversão da
poupança em termos favoráveis”) e imposição de rígido controle monetário. Essa proposta
permitiria ao governo negociar em posição favorável o resgate dos títulos públicos, já que o
programa admite o “não-pagamento parcial da dívida, assegurada a poupança”.
Veículo Folha de S. Paulo 20-mar-94
Unidade lexical montação sf
Contexto <“Montação> é a gíria que sai do universo dos travestis de rua para significar
também um modo mais extravagante, fashion ou caprichado de se vestir”, explica Erika.
Veículo Veja 01-dez-99
Unidade lexical multilateralização sf
Contexto Até lá, os peritos da OMC estarão esmiuçando as garantias oferecidas para a
<multilateralização> de suas práticas de comércio nas duas mãos. Entre outras salvaguardas, a
desistência da idéia chinesa de botar cabresto na Internet... Questões sensíveis do tipo
dumping, pirataria, poluição, trabalho escravo, arsenal nuclear e Taiwan livre terão de ser
aclaradas até maio. (Joelmir Beting)
Veículo O Globo 02-abr-00
Unidade lexical normatização sf
Contexto O presidente da ANVS diz que há muito a ser feito pela <normatização> desse
setor. Segundo ele, um dos primeiros passos foi dado no dia 17 de janeiro, quando o
Ministério da Saúde editou a portaria de número 5, publicada no “Diário Oficial da União”.
Veículo Folha de S. Paulo 20-fev-00
Unidade lexical obreirização sf
Contexto Leôncio ingressou no PCB aos 19 anos e um ano depois já era eleito para o
137
Comitê Central. Em 1928, representou o partido no 6º Congresso da Internacional Comunista,
em Moscou, e no ano seguinte foi enviado a Buenos Aires para discutir a formação de uma
aliança com Luis Carlos Prestes.
Em 1933, porém, foi expulso do Comitê Central, com outros intelectuais, durante a campanha
de <“obreirização”> do PCB.
Veículo Folha de S. Paulo 19-set-99
Unidade lexical oligopolização sf
Contexto O óleo de soja é outro exemplo de <oligopolização> recente. Hoje os grupos
Ceval (Soya), Cargill (Liza) e Sadia controlam 48% do abastecimento interno, com preços
que subiram, acima da inflação, 18% no ano passado.
Veículo Folha de S. Paulo 20-mar-94
Contexto Finalmente, havia uma tendência à cartelização ou <oligopolização> do setor,
com a criação de barreiras à entrada de novos competidores.
Veículo Folha de S. Paulo 18-jan-98
Unidade lexical orientalização sf
Contexto Goethe, a partir daí, abre-se para a “literatura do mundo”, para a absorção
clássico-germânica de tradições e culturas muito férteis, porém minoritárias, e quase
esquecidas, como a da poesia islâmica e, sobretudo, persa. O “Divã Ocidental-Oriental” passa
a ser percorrido por toda uma <orientalização> fascinante, que Haroldo, muito justamente,
entende como o resultado de uma ampla tradução, desencadeada a partir dessa estranha
experiência pessoal.
Veículo Folha de S. Paulo 17-ago-97
Unidade lexical ortnização sf
Contexto O novo negociador da dívida externa brasileira, André Lara Resende, tem se
notabilizado como um pensador da estabilização da economia brasileira. Em 1984, Resende
propôs a <ortnização>, a indexação total da economia.
Veículo Folha de S. Paulo 15-ago-93
138
Unidade lexical otenização sf
Contexto André sempre tinha insights brilhantes. Bacha ia elaborando o que se chamava
de <“otenização”> da moeda.
Veículo Veja 26-jul-95
Unidade lexical panzerificação sf
Contexto Nos últimos anos de sua vida, Müller apurou seu verso de maneira cada vez
mais compacta, cristalina, movido pela aceleração do processo histórico, diante de um
horizonte intelectual cada vez mais hostil a sua própria experiência. Na busca desta concisão,
reduzia as sentenças a uma ossatura rochosa, sob as quais parece fluir uma corrente interna de
pulsões. As palavras mal acompanham a velocidade desta redução a um núcleo de verdade.
Uma das características deste eu lírico é sua blindagem diante da colonização progressiva da
imaginação pelos mídias. Esta <panzerificação>, como tema da espera subjetiva, representa a
própria curva negativa contemporânea, petrificação de todas as energias e reversão de uma
transformação social conseqüente.
Veículo Folha de S. Paulo 21-jun-98
Unidade lexical partidarização sf
Contexto A USP tem resistido vitoriosamente ao processo de politização e
<partidarização> que levou outras universidades à deterioração de seus padrões acadêmicos.
Entretanto, vários fatores têm convergido para distorcer o processo de escolha de nossas
lideranças acadêmicas, sobretudo a do reitor. (José Augusto Guilhon de Albuquerque).
Veículo Folha de S. Paulo 15-ago-93
Contexto Folha - Na prática, o que resultou disso tudo?
Benito - Foram jogados 150 parlamentares contra a CPI. Este número chega facilmente a 250
ou 300. Criou-se um clima muito difícil, que pode ser revertido, mas nesta semana a CPI se
partidarizou. E aí fica muito difícil ter clima para julgar e cassar.
Folha - O que o sr. quer dizer com <partidarização>?
Benito - O que todo mundo disse no congresso. O senador Bisol foi vice na chapa do Lula. O
deputado Aloísio Mercadante (SP) é do PT. Eles se reúnem em sua casa para preparar um
documento deste porte sem que os outros participem. Parece que se quer provar o que Lula
139
disse: que há 300 picaretas no Congresso.
Veículo Folha de S. Paulo 05-dez-93
Unidade lexical patologização sf
Contexto Duvido que Nabuco concordasse com essa <patologização> da dualidade.
Leitor de Pascal e dos moralistas franceses do “grand siècle”, que instalavam a divisão no
mais fundo da alma, ele não via nada de anormal na idéia de uma personalidade dilacerada
por impulsos contraditórios. O tipo humano ideal, para Nabuco, seria provavelmente o do
indivíduo capaz de manter essa dialética interna, deixando aberta a ferida e evitando com isso
as duas banalizações, a nacionalista, que restabelece a unidade com sacrifício do universal, e a
cosmopolita, que a restabelece em detrimento do particular.
Veículo Folha de S. Paulo 19-nov-00
Unidade lexical peemedebização sf
Contexto PSDB enfrenta agora a <‘peemedebização’> (tít.)
Nove anos depois de sua criação e a um ano e quatro meses das eleições gerais, o PSDB sofre
um “processo de <peemedebização>”, como admitem o senador José Serra (SP) e o deputado
Arthur Virgílio Neto (AM), secretário-geral do partido.
Veículo Folha de S. Paulo 15-jun-97
Unidade lexical piração sf
Contexto Conta já haver atenções especiais, por parte de alguns comandos, diante a da
previsão de ocorrências políticas de origem militar, em um ou outro ponto de exaltação maior.
Ocorrências à maneira das protagonizadas, anos atrás, pelos capitães bolsonacos - fatos mais
para a <piração>, sem conseqüências grandes, mas perturbadores e, nunca se sabe, às vezes
prenunciadores.
Veículo Folha de S. Paulo 17-mar-96
Contexto Filha de médico, pedia ao pai que lhe receitasse calmantes. Mesmo magra, L.
descobriu na adolescência que os remédios para emagrecer também eram uma forma de
afastá-la da realidade. Assim como os xaropes. Aos 18 anos, estava viciada numa ciranda de
álcool, drogas e remédios. Aos 21 anos, casou-se em seguida foi morar no exterior, onde
140
continuou na <piração>.
Veículo IstoÉ 14-mai-97
Unidade lexical planetarização sf
Contexto Ora, a cibercultura, terceiro estágio da evolução, preserva a universalidade
dissolvendo a totalidade. Ela corresponde ao momento em que nossa espécie, pela
<planetarização> econômica, pela densificação das redes de comunicação e de transporte,
tende a formar uma única comunidade mundial, ainda que essa comunidade seja - e quanto! -
desigual e conflituosa. Única em seu gênero no reino animal, a humanidade reúne toda sua
espécie numa única sociedade. Mas do mesmo golpe, e paradoxalmente, a unidade de sentido
é rompida, talvez porque ela comece a se realizar praticamente, pelo contato e pela interação
efetiva.
Veículo Folha de S. Paulo 15-nov-98
Unidade lexical precarização sf
Contexto A aplicação dos preceitos neoliberais não só resolveu a crise do Estado, como
também recriou e ampliou focos de recrudescimento da miséria social em quase todos os
países: maior desemprego, <precarização> do mercado de trabalho e drásticos cortes nos
gastos públicos sociais.
Veículo Folha de S. Paulo 04-set-94
Contexto Os saudosistas da massificação industrial e do sindicalismo selvagem referem-
se depreciativamente ao deslocamento da indústria para serviços como sendo uma
<“precarização”> dos empregos. Isso certamente não é verdade no caso de telecomunicações,
informática e finanças, em que os novos empregos são até mais bem pagos que as ocupações
industriais tradicionais.
Veículo Folha de S. Paulo 21-set-97
Contexto É lamentável que a mesma capacidade de gerar argumentos positivos a respeito
da situação do emprego no Brasil não resulte na contenção do processo de desestruturação do
mercado de trabalho nos anos 90 (desemprego, desassalariamento e <precarização> das
relações e condições de trabalho). Exemplo disso são as cinco teses do discurso oficial
reproduzidas no debate do desemprego, mas que não encontram aderência na realidade do
141
emprego nacional.
Veículo Folha de S. Paulo 16-nov-97
Contexto Em segundo lugar, recusa-se a redução selvagem da jornada de trabalho, na
qual o que predomina é o trabalho em tempo parcial involuntário e a <precarização>, com a
adoção de uma regulação visando melhor distribuir socialmente o tempo de trabalho
disponível.
Veículo Folha de S. Paulo 18-jan-98
Contexto Este, entretanto, é resultado da lógica destrutiva do capital, dado que, quanto
maior é a racionalidade do universo das empresas, mais intensa é a irracionalidade societal,
estampada no imenso desemprego estrutural, na <precarização> do trabalho, na degradação
do meio ambiente, na exacerbação da sociedade do desperdício, do supérfluo e do descartável.
Veículo Folha de S. Paulo 18-jun-00
Unidade lexical privadização sf
Contexto Do artista plástico Fernando Zarif, ao telefone: “Não agüento mais essa
<privadização> do Brasil”.
Veículo Folha de S. Paulo 15-ago-99
Unidade lexical quimioterização sf
Contexto /.../ Já as verrugas plantares aparecem na planta dos pés. Elas se tornam planas
devido à pressão sofrida. Nestes casos, indica-se a <quimioterização> com ácidos específicos
e imunoterapia com vacinas para aliviar a defesa imunológica.
Veículo O Globo 02-fev-97
Unidade lexical regionalização sf
Contexto O curioso é que a rede que se preocupou em globalizar a informação agora
também se interessa em dar uma cor local ao trabalho. “<Regionalização> para nós significa
produzir notícias internacionais através de uma perspectiva regional.”
Veículo IstoÉ 17-jun-98
Unidade lexical retribalização sf
142
Contexto /.../ O discurso dominante, hoje é o discurso da identidade - identidade cultural,
étnica e nacional. Há uma etnização dos conflitos-sérvios versus croatas, russos versus
alemães, minorias húngaras versus maioria romenas, eslavos ortodoxos versus bósnios
muçulmanos, e no fundo, uma <retribalização> do mundo, dividido entre comunidades
autárquicas, demarcadas segundo critérios lingüísticos, raciais e religiosos.
Veículo Folha de S. Paulo 20-nov-94
Contexto Os atores que Gramsci mais valorizava – os intelectuais – desempenharia um
papel estratégico na democracia cosmopolita. Eles atuariam na sociedade civil universal,
assim como os intelectuais de Gramsci atuavam nas sociedades civis nacionais. Estariam
também a serviço de um “Príncipe”, com a diferença de que ele não seria nem um déspota,
como no tempo de Maquiavel, nem um partido totalitário, mas sim um sistema democrático
global. E teriam um programa, voltado para os interesses mais gerais da humanidade: a luta
contra as violações dos direitos humanos, contra as assimetrias internacionais de riqueza e de
poder, contra as aberrações do capitalismo globalizado e contra os particularismos selvagens
que estão levando à <retribalização> do mundo.
Veículo Folha de S. Paulo 21-nov-99
Unidade lexical saração adj
Contexto Ao cair da tarde, é hora da <saração>. Todos no tombadilho ao som de música
animada, com pesos amarrados às canelas, sacodem-se animadamente. Os exercícios são
imprescindíveis. O esforço a bordo é constante e necessário quando o mar engrossa. (Silvio
Ferraz)
Veículo Veja 23-abr-00
Unidade lexical sarneyzação sf
Contexto A <sarneyzação> é o conhecido jogo de cena do pacto social, com churrascos,
caravanas de apoio, reuniões entre lideranças mais ou menos representativas e medidas
ttípicas que não impedem a deterioração progressiva do quadro. Aprova-se a indexação total e
a estratégia do ‘deixa estar para ver como é que fica’, prossegue. (Gilson Schwartz)
Veículo Folha de S. Paulo 18-jul-93
143
Unidade lexical securitização sf
Contexto A meu ver, existe uma forma convergente, que usa o próprio mercado para
alcançar simultaneamente os três objetivos: a ressecuritização das moedas podres e
<securitização> das demais dívidas. (Joaquim Elói Cirne de Toledo).
Veículo Folha de S. Paulo 06-jun-93
Contexto Contudo, o presidente da Caixa Econômica Federal, Sérgio Cutolo, acha que a
transformação em títulos desses créditos com o FCVS - a chamada <securitização> - é
positiva e vai permitir que os títulos sejam usados como garantia para empréstimos captados
no Brasil e no exterior.
Veículo O Globo 02-jun-96
Contexto Wald também acha importante a abertura de formas alternativas de
financiamento para incentivar empreendedores a entrarem em negócios que exijam recursos
mais vultosos, como construção de hidrelétricas. A legislação só prevê a possibilidade de
<securitização> das receitas futuras. Na prática, significa que os concessionários poderão
lançar no mercado papéis que comprovem a compra futura de seus serviços e o valor que
receberão por eles.
Veículo IstoÉ 12-jun-96
Contexto O tamanho do rombo vai ser a diferença entra a valorização dessas ações
comparadas com o custo destes títulos. No caso da <securitização> da dívida agrícola, o
verdadeiro rombo será a diferença entre a variação do preço mínimo dos produtos agrícolas
mais 3% ao ano - que será pago pelo agricultor - e o custo de capitação do Tesouro, que ficará
no mínimo em correção monetária de 11% ao ano.
Veículo O Globo 07-jul-96
Contexto Na <securitização>, a empresa emite de títulos com lastro (garantia) em
recebíveis, ou seja, nas vendas a prazo aos consumidores finais. Para dar mais segurança aos
investidores, os recebíveis são transferidos para uma companhia criada com esse propósito
específico (uma SPC, sigla de “special purpose company”).
Veículo Folha de S. Paulo 19-jan-97
Contexto O que sustenta o aumento das emissões de debêntures – as autorizadas em 97
já somam R$ 1,5 bilhão e as em estudo, mais R$ 3 bilhões – é o processo de <securitização>
das dívidas de grandes empresas, segundo analistas de mercado.
144
Veículo Folha de S. Paulo 16-mar-97
Unidade lexical serbificação sf
Contexto Alexander Broz /.../. Meu pai morreu em 1980 e quatro anos depois começou
uma forte <“serbificação”> nas estruturas de poder, em especial no Exército.
Ou seja, os sérvios começaram a acumular postos importantes, em detrimento dos outros
grupos étnicos, como croatas e eslovenos, por exemplo.
Veículo Folha de S. Paulo 18-set-94
Unidade lexical serialização sf
Contexto É o caso de Machado de Assis. O normal seria ele usar a imprensa apenas para
fazer croniquetas de pacto com o leitor. Mas, ele usou a <serialização>, a publicação dos
romances em folhetim, para outra coisa, inclusive redefinir capítulos e a própria dicção.
Veículo Folha de S. Paulo 04-jul-93
Unidade lexical sociologização sf
Contexto Herdeira de uma tradição tenaz, a geografia continua querendo ser uma, mas
ainda se exerce mais freqüentemente de forma bifurcada, mesmo se os exageros de uma certa
<sociologização> barata ou de um ecologismo bisonho, utilizando dois caminhos fáceis,
buscam, favorecidos pela moda, impor-se como modelo, ainda que cientificamente ineficaz.
Veículo Folha de S. Paulo 16-jul-00
Unidade lexical tabloidização sf
Contexto “Em primeiro lugar, há o que se chama de <“tabloidização”> da grande
imprensa”. Os jornais sensacionalistas nos EUA são tablóides. Aos poucos, o jornalismo de
prestígio vem aderindo a partes do estilo e conteúdo dos tablóides e seu público o condena,
embora se sinta atraído por isso.
Veículo Folha de S. Paulo 18-set-94
Contexto Muito se discute sobre a <tabloidização> do jornalismo mundial, o doentio
interesse pelo lado oculto da celebridade que a mídia insiste em perseguir e revelar. Para uns,
é aventura suicida. Outros acham que a exploração de escândalos e de fatos chocantes é
145
inevitável conseqüência da tirania do marketing, sempre em busca de um atalho para o gosto e
o bolso de um tipo de leitor cada vez mais numeroso.
Veículo O Globo 01-mar-98
Unidade lexical teenagização sf
Contexto A <‘teenagização’> da cultura (tít.)
Sentido da vida se esvazia com a desvalorização da experiência no mundo contemporâneo
(subt.)
O que importa agora é pensar os efeitos disto que estamos chamando de <“teenagização”> da
cultura ocidental. O primeiro que me ocorre é o seguinte: todo adulto (biologicamente
falando, digo, sem querer ofender ninguém) sente uma certa má consciência diante de sua
experiência de vida. Se a regra é viver com a disponibilidade, a esperança e os anseios de
quem tem 13, 15 ou 17 anos, que fazer da seletividade, da desconfiança e até mesmo da
consolidação de um certo perfil existencial mais definido, inevitáveis para quem viveu 40 ou
50 anos?
Veículo Folha de S. Paulo 20-set-98
Unidade lexical telematização sf
Contexto Em linhas gerais, na primeira parte, “A Engenharia do Laço Social”, Lévy
busca entender os mecanismos que estão por trás desse processo que podemos chamar de
<telematização> da sociedade contemporânea. O que ele propõe, em suma, é o
estabelecimento de um novo contrato social em que as recentes “tecnologias da inteligência”
favoreçam a constituição de uma nova humanidade. Dito de outra maneira, Lévy busca
entender as redes telemáticas atuais sob a perspectiva da mercadoria, construindo aí uma
possível passagem para um saber coletivo, democratizado e altamente sofisticado. Na segunda
parte, “O Espaço do Saber”, discute-se justamente a emergência desse novo espaço,
confrontado a outros três, ligados a disposições e a momentos sociais distintos (a terra, o
território, e o espaço das mercadorias).
Veículo Folha de S. Paulo 21-jun-98
Unidade lexical teleportação sf
146
Contexto Rumo à <teleportação> e à nanotecnologia. (tít.)
/.../
A nova física quântica só foi desenvolvida mais de 20 anos após a formulação da hipótese de
Planck. /.../ Da nova física quântica resultaram o transistor, o laser e diversos outros
dispositivos que acabaram por propiciar a emergência da era da computação e da
nanotecnologia.
Veículo Folha de S. Paulo 17-dez-00
Contexto Teletransporte.(subtít.)
Em 1997, foi demonstrada a utilização de estados emaranhados para a <teleportação> de
informação (que permite mapear a função de onda de uma partícula em outra partícula
distante). Além disso, algaritmos recentemente descobertos permitiriam a um computador
quântico (baseado em estados emaranhados) resolver certos problemas muito mais
rapidamente que computadores clássicos.
Veículo Folha de S. Paulo 17-dez-00
Unidade lexical terceirização sf
Contexto <Terceirização> era uma palavra que não existia. Adotamos decisões
heterodoxas, heresias de marketing, mas visando o fluxo de caixa, a rentabilidade e o retorno.
Veículo Folha de S. Paulo 02-mai-93
Contexto Coselli contrariou manuais de administração e surpreendeu diante da onda de
<terceirização> e enxugamento.
Veículo Folha de S. Paulo 16-mai-93
Contexto Coselli contrariou manuais de administração e surpreendeu diante da onda de
<terceirização> e enxugamento. (Maristela Mafei).
Veículo Folha de S. Paulo 16-mai-93
Contexto Há o desemprego conjuntural, fruto da estagnação dos últimos anos, mas
também o tecnológico, o transbordamento de trabalhadores migrantes, a expansão da
informalidade e a <terceirização>. (Gilson Schwartz).
Veículo Folha de S. Paulo 16-mai-93
Contexto A adoção do plano Prever permitiu a renovação sem traumas dos quadros
funcionais da empresa e facilitou o processo de <terceirização>, no qual a Riocell é pioneira
147
no país.
Veículo IstoÉ 26-mai-93
Contexto Em assistência técnica, quando ninguém ainda falava em <terceirização>, a
Computécnica já prestava serviço de assistência a PC’s de terceiros e investia no
aperfeiçoamento de sua equipe técnica para no futuro, atender aos novos rumos do mercado.
Veículo IstoÉ 26-mai-93
Contexto Na medida do possível, o serviço tem que ser comparado. A <terceirização> é
uma palavra errada, perigosa. Porque toda a empresa é profundamente terceirizada. Não
compra toda a matéria-prima? Isso é terceirizar. Tudo o que você compra é terceirizar.
(Salvatore Morana)
Veículo Folha de S. Paulo 01-ago-93
Contexto Pelo menos 2 das 7 cidades recém-emancipadas na região de Campinas (a 99
Km de São Paulo), Saltinho e Holambra, estão investindo em <terceirização>. O objetivo é
reduzir gastos com a máquina administrativa. Entre os serviços que passaram do setor público
para o privado estão a coleta de lixo, o transporte urbano, a segurança, o saneamento de água
e esgoto e a pavimentação de estradas e ruas.
Veículo Folha de S. Paulo 05-dez-93
Contexto Os administradores descobriram também as virtudes da <terceirização>: a
produtividade aumenta significativamente quando as mulheres quebram as castanhas em casa,
a ponto de compensar o gasto com transportes.
Veículo Folha de S. Paulo 19-dez-93
Contexto A <terceirização>, a racionalização de processos, a informatização e a
automação são alguns dos fenômenos recentes que explicam o estímulo limitado do
crescimento industrial sobre a mão-de-obra.
Veículo Folha de S. Paulo 19-dez-93
Contexto No sistema financeiro, um jovem universitário treinado em algum curso de
pós-graduação, na boa técnica norte-americana, mesmo sem experiência, pode ingressar no
mercado com um salário de US$ 10.000, enquanto o “boy” que o serve no escritório ou a
faxineira de turno ganham salário mínimo e rodam mais do que pião nas “empresas”
prestadoras de serviços de apoio (fenômeno que ganhou status com o nome pomposo de
<terceirização>).
148
Veículo Folha de S. Paulo 02-jan-94
Contexto Vecchi diz que as máquinas foram fabricadas em sistema de <terceirização>.
Veículo Folha de S. Paulo 01-mai-94
Contexto Com pouco dinheiro e nenhuma tecnologia, descobriu há 20 anos que sua saída
era a <terceirização> da produção.
Veículo IstoÉ 16-ago-95
Contexto Para José Atílio Vanin, da FUVEST, outra fatia da legião dos com-canudo
encontrará caminho na abertura de deus próprios negócios. “Quem tiver uma boa bagagem
contará com melhores condições porque a <terceirização> é o caminho”, diz.
Veículo IstoÉ 15-nov-95
Contexto A Siga era uma empresa especializada em computadores de grande porte na
<terceirização> de serviços na área de informática.
Veículo Folha de S. Paulo 25-fev-96
Contexto O Globo – O maior risco da globalização é o excesso de concentração. É
possível reverter isso?
Duplas – É muito difícil, principalmente quando se atesta a queda nos preços dos produtos,
como é o caso dos computadores. Mas aí a <terceirização> e o franchising aparecem como
alternativas paralelas e no caminho contrário ao da concentração.
Veículo O Globo 05-mai-96
Contexto É importante dizer que a queda do emprego formal não significa
necessariamente desemprego. Está acontecendo um avanço da informalização do trabalho e
da <terceirização>. O nível de ocupação ainda está aumentando, como demonstram os
números deste ano.
Veículo Folha de S. Paulo 15-set-96
Contexto O tão decantado aumento da produtividade que deveria compensar a
sobrevalorização cambial e estimular as exportações é eminentemente espúrio, devendo-se,
em grande parte, ao desemprego industrial e à <terceirização>.
Veículo Folha de S. Paulo 25-set-96
Contexto Para evitar o sucateamento de sua estrutura, durante o período de quarentena
da marca, o grupo recorreu à <terceirização>. /.../ Segundo o Code, a <terceirização> da
produção daria margem de crescimento de outras empresas no mercado até a possível volta da
149
Kolynos.
Veículo IstoÉ 01-jun-97
Contexto Comprei uma casa num bairro nobre de Nova Friburgo. Estranhei a ausência
total de correspondência, apesar de ter trocado o endereço junto ao banco, ao cartão de crédito
etc. Até mesmo a conta telefônica não chegou até o dia do vencimento. Procurei alguns
vizinhos para saber o porquê desta demora do carteiro e descobri que não havia carteiro. Fui
até a agência central dos Correios da cidade e falei com o supervisor-geral, que me informou
que existe uma deficiência no número de carteiros e que nem todos os bairros eram servidos
pelos correios, que não podiam contratar novos profissionais. Ponderei que o correto seria a
<terceirização> do serviço. Ele me aconselhou a alugar uma caixa postal. A propagando do
correio diz: “Sua correspondência chega aonde você estiver.” Menos na minha rua, apesar de
ter nome, a casa ter número e ficar dentro da área urbana da cidade.
Veículo O Globo 02-ago-98
Unidade lexical titularização sf
Contexto Lula - Não concordo, por uma razão: o governo confunde assentamento com
<titularização> da terra. É diferente. Uma coisa é você assentar aqueles que estão lutando pela
terra, outra coisa é você pegar as pessoas que já estão na terra há 30 anos e dar um título.
Veículo IstoÉ 12-fev-97
Unidade lexical tocação sf
Contexto Em tempo: para acabar com a <tocação> de campainha, Andréa organizou para
essa semana uma tarde de autógrafos no condomínio. Público não vai faltar.
Veículo IstoÉ 17-set-97
Unidade lexical transgenitalização sf
Contexto Após determinar, no dia 6 de agosto, que as cirurgias de neurotripsia e
alongamento peniano devem ser praticadas em caráter experimental, o CFM (Conselho
Federal de Medicina) já definiu a próxima tarefa: regulamentar até o final do ano as cirurgias
de <transgenitalização> (mudança de sexo). Segundo o secretário-geral do conselho, Antônio
Henrique Pedrosa, em debates com vários profissionais a entidade concluiu que uma parte da
150
população deve ter acesso a esse tipo de cirurgia. “Muitos se mutilam para poderem ser
operados”, afirmou Pedrosa.
Veículo Folha de S. Paulo 17-ago-97
Contexto A cirurgia de Jéssica foi realizada no Hospital Universitário São José pelos
médicos Cesário Almada e Otto Chaves. Trata-se de uma técnica conhecida como
<transgenitalização> e foi desenvolvida há cerca de trinta anos. Não há mutilação. A parte
cavernosa do pênis é transformada nos pequenos e grandes lábios da genitália feminina, e a
pele do membro masculino é invertida, formando o canal vaginal.
Veículo Veja 01-dez-99
Unidade lexical tribunalização sf
Contexto Designado relator dessa ação direta de inconstitucionalidade em 13 de junho,
Jobim só submeteu, no início deste mês, aos outros dez ministros do Supremo, o pedido de
liminar pela suspensão de dispositivos da lei. A ação foi arquivada, por decisão unânime.
O ministro justifica o atraso pelo acúmulo de processos, nega motivação política e diz existir
uma tentativa generalizada de partidos e entidades civis de “politização da Corte” ou ainda de
“<tribunalização> da política”.
Veículo Folha de S. Paulo 16-nov-97
Unidade lexical urverização sf
Contexto O livro busca uma posição equilibrada num tema em que esquerda e direita
sempre radicalizaram oposições. Procura uma objetividade que justifica o uso de métodos
estatísticos para avaliar a legitimidade das receitas do FMI. Essa legitimidade, preocupação
central do livro, é traduzida em dois fatores básicos, externo e interno. Externamente, coloca-
se a questão da adequação de um modelo de estabilização, por exemplo um “Plano Carnaval”
(época também mais provável para a <urverização> do ministro FHC.). Internamente,
entretanto, a legitimidade do modelo depende de um grau de implementação mais ou menos
satisfatório. Ou seja, para ser legítimo (ter sucesso) um modelo de estabilização deve ser
teoricamente correto e satisfatoriamente implementado.
Veículo Folha de S. Paulo 02-jan-94
151
Unidade lexical vampirização sf
Contexto Nesse sentido é que o super-8 revela-se o espaço ideal para o florescimento de
um talento muito particular, em que a experiência do cinéfilo obsessivo é transformada,
cotejada com o cotidiano e em seguida reconvertida em filme.
Esse é, sobretudo, o sentido da construção de “O Vampiro da Cinemateca”: uma tentativa de
chegar ao filme-vida, à perfeita indiferenciação entre arte e existência.
Experiência necessariamente frustrada, já que implica a <vampirização>: a passagem de uma
dimensão a outra (do filme à vida e vice-versa) significando, ela própria, dilaceração e agonia.
Veículo Folha de S. Paulo 16-nov-97
Unidade lexical variolização sf
Contexto A erradicação de uma das piores pestes remonta a uma vaca. A varíola deixava
bexigas e cegueira, e no seu auge, no século XVIII, matou 60 milhões de europeus, em sua
maioria crianças. A <variolização>, uma prática de 2000 anos que consistia em inocular os
pacientes com variedades da doença, era tão bizarra – e mortal – que chegava a ser pior que a
própria moléstia. Na China, os médicos amassavam cascas de feridas de varíola e as sopravam
nas narinas de pessoas saudáveis, sujeitando-as a outras infecções.
Veículo Veja 23-dez-98
Unidade lexical vitimização sf
Contexto A violência afeta as populações periféricas em todo o mundo, não é uma
exclusividade de São Paulo. O lugar da <vitimização> e exclusão social é o lugar da
violência.
Para o sociólogo, enquanto a impunidade permitir a existência do arbítrio policial e do crime
organizado, os homicídios continuarão em patamares elevados.
Veículo Folha de S. Paulo 21-jul-96
Contexto Mais de 200 casos já foram descritos em revistas médicas, contando histórias –
inacreditáveis – de mães que envenenaram seus filhos de propósito, de crianças que
receberam injeções de insulina (ficando num estado de hipoglicemia e entrando em coma) ou
que sofreram infecções após terem sido forçadas a ingerir fezes.
“É uma forma muito sofisticada de <vitimização>, de abuso contra crianças”, diz o médico
152
Jayme Murahovschi, diretor clínico do Serviço Paulista de Pediatria, do Hospital 9 de Julho.
Veículo Folha de S. Paulo 18-mai-97
Contexto Durante a sessão de violência, a mulher não tem mais o que temer – o pior já
está ocorrendo. É a catarse, para os dois. Passada a explosão, começa a fase da tranqüilidade
doentia, em que a <vitimização> da mulher se completa: o parceiro faz juras e promessas, e
ela, por não ter condições psicológicas de não acreditar, finge que acredita. Não é raro que
uma mulher submetida a anos de abuso acelere a fase da pancadaria para chegar logo à fase da
lua-de-mel. Somente quando a agredida se sente completamente sem saída, pode ocorrer-lhe
matar o companheiro agressor. Nesse momento, com medo de si mesmas, muitas procuram
ajuda. (Dorrit Harazim)
Veículo Veja 01-jul-98
Unidade lexical wittefibezação sf
Contexto Mas a grande vitoriosa dessa dança de cadeiras na Globo sintomaticamente não
saiu do lugar. Lillian Witte Fibe continua lá, firme e sisuda, ao lado de William Bonner no
“Jornal Nacional”. Mais do que isso, o que se vê hoje na Globo é, com a licença da expressão
pedregosa, uma espécie de <“wittefibezação”> das demais apresentadoras. E isso, salvo
engano, pode melhorar o jornalismo da emissora.
Veículo Folha de S. Paulo 16-mar-97
Unidade lexical zoação sf
Contexto E é inspirado no grito de guerra de Buffer que nasceu o divertido jogo “Ready
2 rumble boxing” (Playstation), que, como mostra o título, é sobre boxe. “Ready to rumble”,
porém, não é um jogo muito realista, daqueles que realmente simulam ao máximo a sensação
de luta. Ele é muito mais uma <zoação> em cima do violento esporte.
Veículo O Globo 05-mar-00
2. Nominais formados com o sufixo –mento
Unidade lexical avistamento sm
Contexto “É a maior onda de <avistamento> nos últimos 30 anos”, diz o ufólogo
Ubirajara Rodrigues, presidente do Centro Brasileiro de Pesquisa de Discos Voadores.
153
Veículo Folha de S. Paulo 18-ago-96
Unidade lexical cabeamento sm
Contexto A colunista Patrícia Kogut tem boas novas para os moradores de Ipanema. No
próximo Domingo, dia 13, a Net Rio lança seus serviços no bairro com uma verdadeira festa
na praia. Na página 22, ela conta os detalhes do projeto e antecipa os próximos lugares do Rio
que serão contemplados com o <cabeamento>.
Veículo O Globo 06-out-96
Contexto Para chegar também às classes mais pobres, eles estão aplicando um projeto
batizado de “Mobilização Comunitária”. Além de viabilizar o <cabeamento> de algumas
instituições e de regiões carentes, um grupo de mobilizadores treinados está fazendo oficinas
de apresentação e utilização do canal nesses locais.
Veículo Folha de S. Paulo 21-set-97
Contexto O Rio não cobra nenhuma taxa pelo uso do subsolo da cidade para a colocação
de <cabeamento> de fibras ópticas, segundo informou a Secretaria Municipal de Obras.
Veículo Folha de S. Paulo 16-abr-00
Unidade lexical capotamento sm
Contexto A causa determinante do acidente foi o desvio de direção para a esquerda, por
motivo que não se pode precisar materialmente, resultando na colisão do veículo contra o
meio fio deste lado da pista (canteiro central), o que resultou numa subseqüente derivação
para a direita, em processo de derrapagem, até o impacto com o meio-fio direito, vindo,
seqüencialmente, colidir a sua região frontal esquerda contra a mureta de concreto
existenteneste lado da pista (viaduto). Este impacto gerou uma força resultante (de reação), a
qual fez que o veículo girasse (cerca de 180º), adentrasse no talude adjacente, onde
experimentou tombamento seguido de sucessivos <capotamentos>.
Veículo Folha de S. Paulo 17-ago-97
Unidade lexical carreamento sm
Contexto Mesmo os que advogam a fixação de um limite estreito de emendas para cada
parlamentar alertam para a importância de coibir essas janelas, que nada mais são que o
154
estabelecimento de rubricas que entram no orçamento apenas para, no futuro, justificar o
<carreamento> de recursos para projetos não contemplados na proposta original.
Veículo Folha de S. Paulo 20-abr-97
Unidade lexical desatrelamento sm
Contexto É legítimo direito de outros veículos optar por engajar-se nesta ou naquela
candidatura e, ao fazê-lo, estão amparados pela liberdade de expressão consagrada na Carta de
88. Mas a Folha continua a sustentar que o exercício de um jornalismo de fato independente e
crítico pressupõe um drástico <desatrelamento> em relação a grupos, partidos e candidaturas.
Veículo Folha de S. Paulo 15-out-00
Unidade lexical desbloqueamento sm
Contexto A CPI deve encerrar seus trabalhos dentro de trinta dias. Apesar do barulho
inicial, nem seus integrantes mais ativos acreditam que possa haver alguma novidade até lá.
Espera-se um relatório pífio, ainda mais depois das restrições que o Supremo Tribunal Federal
lhe impôs. Os senadores estão impedidos de analisar as contas bancárias, os extratos
telefônicos e o imposto de renda dos investigados. Na semana passada, o STF tomou mais
uma decisão contrária à CPI, ao autorizar o <desbloqueamento> dos bens do ex-dono do
banco Marka, Salvatore Cacciola. O banco sumiu, mas o dinheiro reapareceu.
Veículo Veja 25-ago-99
Unidade lexical desgravamento sm
Contexto Como o <desgravamento> tarifário permitiu a entrada de produtos e insumos
importados no Brasil, nossas empresas se viram forçadas a um ajuste obrigatório: entenderam
as pressões competitivas adotando modernos preocessos de controle de qualidade e de
produção, elevando de forma visível sua produtividade e partindo, de forma decisiva, para
uma formidável redução de custos. Isso, apesar de graves crises institucionais e quadro
recessivo-inflacionário.
Veículo IstoÉ 23-fev-94
Unidade lexical desplacamento sm
155
Contexto Palco de acontecimentos históricos de várias épocas, a Catedral da Sé será
reaberta, em junho do próximo ano, como o mais novo museu da cidade de São Paulo.
A Cúria Metropolitana teve a idéia de transformar a Sé em um “templo-museu” durante as
obras de reforma da igreja, interditada pelo Contru (Departamento de Controle do Uso de
Imóveis) desde julho de 99 por oferecer risco de <desplacamento> da abóbada (queda de
pedaços de alvenaria).
Veículo Folha de S. Paulo 15-out-00
Unidade lexical dilapidamento sm
Contexto A privatização constitui o mais vergonhoso <dilapidamento> de recursos
públicos. Aloysio Biondi, infelizmente, tem sido voz isolada a denunciar as marmeladas e
maracutaias realizadas pelo atual governo. O Proer, escandaloso favorecimento a bancos
quebrados, provocou pouca indignação.
Veículo Folha de S. Paulo 16-fev-97
Unidade lexical empalidecimento sm
Contexto Viagem ao Princípio do Mundo tem um tom nostálgico, como era de esperar
de um filme português. Seu objetivo é questionar o <empalidecimento> da alma lusitana
nestes novos tempos de desenvolvimento e competição dentro da União Européia. Metidos
num carro novo, numa estrada asfaltada e sem buracos - um padrão de transporte que ainda é
novidade no interior do país -, Manoel e seus três amigos partem rumo à fronteira com a
Espanha. (Angela Pimenta)
Veículo Veja 25-fev-98
Unidade lexical encapsulamento sm
Contexto Um corretivo simples e direto seria fornecer a enzima ADA às células T
deficientes, através de injeções na corrente sangüínea. Mas os primeiros pesquisadores
descobriram que a enzima pura e simples sobrevive por apenas alguns minutos no sangue.
Eles, então, tentarão fornecê-la através da transfusão de glóbulos vermelhos normais ao
paciente. A idéia era que a célula podeeria proteger a enzima encapsulando-a. Mas, apesar de
repetidas transfusões de glóbulos vermelhos se mostrarem mais eficazes do que simples
156
injeção de enzimas, elas não podem fornecer ADA suficiente para impedir o acúmulo de
subprodutos tóxicos. Mesmo assim, o <encapsulamento> mostrou ser uma boa idéia.
(Kenneth W. Culver, trad. Clara Allain).
Veículo Folha de S. Paulo 16-mai-93
Contexto Com R$ 6 mil foi possível comprar uma máquina de fazer comprimidos, um
misturador de matéria-prima e material para <encapsulamento>. A farmácia estava montada.
Atualmente, produz 125 tipos de remédios.
Veículo IstoÉ 15-mai-96
Unidade lexical enfeamento sm
Contexto Do mesmo modo que somos culpados pelo <enfeamento> dos arredores de
Brasília, pelos surgimentos das miseráveis cidades-satélites, nós que somos sempre lua,
nordestino, mãe da loucura, dos estados anormais e das marés. (Marilene Felinto).
Veículo Folha de S. Paulo 16-mai-93
Unidade lexical engenheiramento sm
Contexto Antes de Dolly, os direitos humanos e o direito à vida já estavam sendo
minados pelos direitos de propriedade sobre células, sangue e tecidos desde que John Moore
perdeu seu processo para reaver a propriedade de suas próprias células em 1990; que a
Systemix Inc. conseguiu patentear, em 1991, células da medula sem qualquer manipulação ou
<engenheiramento>; e que as autoridades americanas tentaram patentear células de índios do
Panamá, Ilhas Salomão e Papua-Nova Guiné.
Veículo Folha de S. Paulo 16-mar-97
Unidade lexical enlutamento sm
Contexto Maria Helena - Por conta das ocorrências psicossomáticas. As manifestações
mais frequentes são os distúrbios de sono e de alimentação. Depende do grau de
<enlutamento>. Do que afeta no cotidiano. Alguns enlutados não conseguem mais trabalhar.
Outros, apresentam distúrbio de atenção e memória. Há pessoas que ficam suscetíveis a
acidentes. Crianças podem apresentar problemas na escola.
Veículo IstoÉ 14-abr-99
157
Unidade lexical esgorjamento sm
Contexto Apenas para encerrar um assunto ignorado, o do massacre no presídio do
Róger, em João Pessoa (PB). De acordo com o leitor Sérgio Spellmann, o laudo oficial,
assinado pelo legista Genival Veloso de França, informa que os oito presos tiveram suas
cabeças esmigalhadas, foram vítimas de <esgorjamento> (espécie de corte na garganta) e
tiveram os olhos vazados com golpes de estilete.
Veículo Folha de S. Paulo 21-set-97
Unidade lexical imageamento sm
Contexto Técnicas de <imageamento> (tomografia por emissão de pósitrons e outras),
que apontam aumento de atividade cerebral ligadas a atividades específicas da percepção,
estão mostrando como e quais os locais do cérebro funcionam quando e enquanto nós vemos.
Veículo Folha de S. Paulo 02-mai-93
Contexto Para checar os resultados, os pesquisadores também fizeram imagens do
cérebro por meio de aparelhos de ressonância magnética.
Eles usaram uma das técnicas de ponta da medicina - o chamado “<imageamento> funcional
por ressonância magnética’’ (fMRI) - ou seja, a capacidade de observar algo acontecendo
dinamicamente dentro do cérebro.
Um cérebro em atividade tem, por exemplo, um fluxo de sangue 25% maior _ou seja, é um
alvo ideal para o imageamento funcional.
“Usando fMRI”, diz Naccache, “nós fomos capazes de replicar esse fenômenos e precisar a
sua resolução espacial, confirmando que o córtex motor foi afetado pelo processamento dos
números percebidos inconscientemente”.
Veículo Folha de S. Paulo 15-nov-98
Contexto Michal Neeman utiliza o <imageamento> (obtenção de imagens) por meio de
ressonância magnética para estudar os fatores que controlam o espalhamento dos tumores. Ela
estuda especialmente um fator de crescimento que estimula a vascularização dos tumores (a
procura desses por vasos sanguíneos neoformados), favorecendo seu crescimento.
Veículo Folha de S. Paulo 17-dez-00
158
Unidade lexical imbricamento sm
Contexto Agora bem, se a “transformação” do céu em “eclipse” apresenta uma
possibilidade interpretativa segura do título, por outro lado, tal implicaria não menos uma
redução do <imbricamento> poético desses dois termos antinômicos, que não está à altura de
seu acerto. A meu ver, o enunciado “céu-eclipse” não deve ser reduzido em termos
teleológicos que tais, porque isso acarretaria a disfuncionalização de sua mais importante
atribuição, a de estabelecer um quociente de irisação metafórica para lá dos conteúdos
simbólicos antes esboçados.
Veículo Folha de S. Paulo 19-set-99
Unidade lexical jateamento sm
Contexto Não há, é claro, lugar para um homem como ele na política americana de hoje
– e foi apenas exercendo sua vontade poderosa que Adams conseguiu criar um lugar tão
grandioso para si em sua própria época. Apesar disso, em lugar de os brancos de hoje pedirem
desculpas vãs pelo fato de seus antepassados terem escravizado os antepassados dos negros
americanos, o Congresso deveria contratar alguns escultores munidos de máquinas de
<jateamento> de areia e soltá-los no monte Rushmore, para que pudessem transformar a
imagem do amante da guerra Theodore Roosevelt naquela de um herói verdadeiro, John
Quincy Adams.
Veículo Folha de S. Paulo 15-fev-98
Contexto Entre os serviços especializados a OS nº 203 cita consultoria, instalação de
software, tarefas ligadas à Internet, elaboração de projetos, advocacia, consultoria jurídica,
contabilidade, serviços de transportes, de seleção profissional etc.A exceção alcança também
prestação de serviços especializados na área de construção civil, como administração de obra,
controle de qualidade de materiais, instalação de elevadores, <jateamento> de areia, locação
de equipamentos, topografia e outros.
Veículo Folha de S. Paulo 21-fev-99
Unidade lexical macaqueamento sm
Contexto A percepção de que “aquele tempo acabou” e de que “existe” um vazio,
correlativo ao desmanche do país, encontra voz na poesia que se fez a partir dos anos 70 e 80.
159
(É de se notar que existem semelhanças, coincidentes, e não mero <macaqueamento>, entre a
L=a=n=g=u=a=g=e Poetry EUA, anos 80 poesia da linguagem do pulmão, lang, com os
textos dos dispersos autores brasileiros.
Veículo Folha de S. Paulo 18-mai-97
Unidade lexical monitoramento sm
Contexto “O <monitoramento> pelo Sistema Flash é um instrumento de grande valor
durante uma campanha eleitoral”, afirma Kuntz.
Veículo IstoÉ 15-mai-96
Contexto O novo modelo de medicação foi criado pela Universidade de Estocolmo, na
Suécia. Além do Chile, o equipamento já foi usado na Argentina. Os testes custarão R$ 18
mil, enquanto a rede de estações de <monitoramento> está orçada em R$ 1,5 milhão.
Veículo O Globo 03-nov-96
Unidade lexical patenteamento sm
Contexto Em pouco tempo seremos obrigados a pagar “royalties” pela sua fabricação
(chá de carqueija), porque não respeitamos as regras da biotecnologia e do <patenteamento>.
Veículo Folha de S. Paulo 16-jan-94
Unidade lexical provisionamento sm
Contexto Além da estimativa de R$ 8 bilhões para a dívida, existe uma outra parcela
significativa do passivo que não entrou nas provisões feitas por vários fundos. A confiança
em um desfecho favorável para o caso foi o motivo para um <provisionamento> menor.
Veículo Folha de S. Paulo 17-set-00
Unidade lexical ranqueamento sm
Contexto Para distribuir melhor os atletas e garantir um campeonato mais competitivo, a
Confederação Brasileira de Vôlei fez um <ranqueamento> e atribuiu aos jogadores brasileiros
uma escala que vai de sete a dois pontos.
Veículo IstoÉ 16-out-96
Contexto Madame Natasha tem horror a música. Ela socorre as vítimas do
160
anarcoglotismo. Concedeu mais de suas bolsas de estudos à professora Rosângela Lopes
Lima, coordenadora de avaliação da pró-reitoria de assuntos acadêmicos da Universidade
Federal Fluminense, pela seguinte pérola:
Veículo Folha de S. Paulo 19-dez-99
Unidade lexical reaparelhamento sm
Contexto Nada se diz sobre o <reaparelhamento> dos quadros e recursos da Receita
Federal que, no estado comatoso em que está, é praticamente incapaz de fazer o que quer que
seja.
Veículo Folha de S. Paulo 02-mai-93
Contexto Ele /Itamar Franco/ prometeu: /.../ 2) Comandar pessoalmente o processo de
liberação de verbas para o <reaparelhamento> das forças armadas.
Veículo IstoÉ 26-mai-93
Contexto A empresa tem de oferecer atendimento mecânico, socorro médico e até o
<reaparelhamento> da Polícia Rodoviária. Nos Estados Unidos, a concessionária instala
cabines telefônicas pela rodovia e guincha os carros até o acostamento. E só. Por oferecer
esses serviços, as empresas brasileiras aumentaram o valor do pedágio em 5%. (Maurício
Lima)
Veículo Veja 25-ago-99
Contexto Governo da Colômbia
- Apoio internacional para lutar contra o tráfico
- Financiamento da guerra pelos EUA
- <Reaparelhamento> da Força Aérea
Veículo Folha de S. Paulo 20-ago-00
Unidade lexical reassentamento sm
Contexto O Brasil vive um momento de grandes definições e de <reassentamento> dos
seus valores. Questionamos desde o papel do Estado na sociedade – e em cima desse
questionamento avançamos no processo de privatização de setores da maior relevância – até o
papel das polícias militares nos grandes centros.
Veículo Folha de S. Paulo 20-abr-97
161
Unidade lexical rechaçamento sm
Contexto E, quando se anunciava que Iberê voltaria à cena por meio da publicação de
suas memórias, surge em Porto Alegre o romance “Iberê”, de autoria do jornalista e escritor
gaúcho Paulo Ribeiro, que revisita o drama que abalou o artista. Legítima intenção,
considerando-se a visão já formada a respeito, hoje obscurecida pelo silêncio imposto pelo
artista em vida e o puro <rechaçamento> da mídia.
Veículo Folha de S. Paulo 21-set-97
Unidade lexical sucateamento sm
Contexto A cenografia deste teatro de vícios é o <“sucateamento”>. O <sucateamento> é
diferente da miséria crônica. Nele, o pouco que havia fica destruído por uma quebra do pacto
tradicional. A passagem de Collor foi uma revolução em marcha-a-ré. “Alagoas não existe”,
foi o refrão que todos repetiram. Alagoas é uma maquete do país. Desconstruídos.
Veículo Folha de S. Paulo 17-out-93
Contexto Esta evolução no volume de recursos aplicados nega afirmação quanto a um
suposto processo de <“sucateamento”> de nossas universidades federais. A proposta de
emenda constitucional reafirma o compromisso deste Governo com o ensino público e
gratuito, o que deveria afastar também os temores de uma suposta política de “privatização”
do ensino
Veículo O Globo 07-abr-96
Contexto Como o senhor vai resolver o problema do Senador, um sujeito sério e
superlativamente chato? /.../ O Brasil passou por um processo de <sucateamento> da opinião
pública. Foi uma coisa planejada e realizada, que produziu a geração do vácuo, para quem a
política é coisa chata. Ele pode parecer um ET, mais isso sucede porque fala a sério.
Veículo Folha de S. Paulo 17-nov-96
Contexto O <sucateamento> da Telebrás afetou tremendamente a qualidade dos
serviços. De acordo com padrões internacionais, aceita-se que 6% das chamadas não sejam
completadas em horários de pico. Nos dois grandes centros urbanos brasileiros, São Paulo e
Rio de Janeiro, esse índice às vezes passa de 30%.
Veículo Veja 29-jul-98
162
Contexto O governo do Espírito Santo atribui o índice à ação dos grupos de extermínio -
alguns deles com a participação de policiais -, ao tráfico de drogas e ao <sucateamento> da
segurança pública.
Veículo Folha de S. Paulo 15-ago-99
Unidade lexical taxiamento sm
Contexto O Rio de Janeiro inaugurará no ano que vem o segundo terminal de
passageiros, maior do que o atual, com capacidade para dez milhões de passageiros por ano.
Porto Alegre também receberá novo terminal de passageiros, pátio de estacionamento de
aeronaves e pista de <taxiamento>.
Veículo O Globo 03-nov-96
Unidade lexical tunelamento sm
Contexto Os físicos estão criando instrumentos realmente extraordinários para explorar e
manipular o micromundo, desde células e seus componentes até átomos. São pinças ópticas ,
microscópios de <tunelamento> de varredura e de força atômica, armadilhas de laser, lasers
de femtosegundo. (José Reis).
Veículo Folha de S. Paulo 20-jun-93
Contexto Os físicos, no entanto, sabem que um número ínfimo de fótons consegue
atravessar o espelho. Este fenômeno se chama <tunelamento> quântico, a propriedade
fantasmagórica que as partículas subatômicas têm de saltar uma barreira física como se ela
não existisse. (Peter Moon)
Veículo IstoÉ 12-abr-95
Unidade lexical vuduzamento sm
Contexto Araraquara nos fez ver de novo para tomarmos a posição política de defender o
teatro dessa submissão à ditadura do mercado e de defender especialmente o corpo do Teatro
Oficina Uzyna Uzona, porque, quer se queira ou não, nosso corpo de atores e nosso espaço
físico no espaço arquitetônico não se deixam comer por esse <“vuduzamento”>. E é
justamente por isso que estão querendo dobrá-lo. Não temos somente 35 anos de vida, mas
milênios. Acusamos: /.../ 5) acuso, mas desacuso, porque Dionysos não barra ninguém, todos
163
podem ser “desenvuduzados”.
Veículo Folha de S. Paulo 15-dez-96
Contexto O Ministério Público nos intimou a comparecer ao fórum da cidade onde nasci,
Araraquara, para, sete atores, sermos julgados por vilipêndio à eucaristia na encenação de
“Mistérios Gozosos”, de Oswald de Andrade. /.../ O processo de Araraquara não é
provinciano, pois revela um <“vuduzamento”> positivista, chamado hoje nova ordem liberal.
Veículo Folha de S. Paulo 15-dez-96
3. Nominais formados com o sufixo -agem
Unidade lexical alavancagem sf
Contexto Estas modalidades de “proteção” (hedge) abriram um grande espaço para
enorme especulação e para milionários despejarem bilhões de dólares atrás de grandes lucros
(ou prejuízos). Para bancarem suas apostas, usam em grande parte empréstimos bancários. /.../
É o que se chama de <“alavancagem”>-com um empréstimo de US$ 10, por exemplo, pode-
se entrar em um jogo de US$ 100 ou mais. Se a aposta for errada, o risco de bancarrota é uma
forte possibilidade.
Veículo Folha de S. Paulo 17-abr-94
Contexto Pelo cálculo de especialistas brasileiros, com US$ 1 milhão um espectador
pode movimentar cerca de US$ 10 milhões, o que no puro economês é chamado de
<“alavancagem”>. (Carlos José Marques e Octávio Costa)
Veículo IstoÉ 15-mar-95
Contexto <Alavancagem> - Até três anos atrás, identificava, na linguagem dos
banqueiros, a operação de tomar dinheiro na praça para aplicar em investimentos próprios.
Veículo Veja 29-mar-95
Contexto Só para ter uma idéia da capacidade de <alavancagem> da Previ, por exemplo,
basta comparar seu patrimônio com o orçamento anual do BNDES para investir em projetos
industriais: são 8 bilhões contra 14 bilhões.
Veículo IstoÉ 11-out-95
Contexto Se a ênfase do “Programa de Desestatização” de Collor foi sobre a “eficiência
produtiva” e o “repasse de ganhos aos consumidores”, o programa de privatização de FHC se
incorpora numa estratégia mais ampla de “retomada de crescimento” e de “recuperação do
164
investimento”. A <alavancagem> proviria de investimentos privados na infra-estrutura de
energia, transporte e telecomunicações.
Veículo Folha de S. Paulo 20-out-96
Contexto Em economias como as asiáticas, construídas sobre elevados níveis de
<alavancagem> (com relação de dívidas/capital próprio superior a 4/1), essa combinação de
juros altos, maxidesvalorizações cambiais e queda da demanda agregada potencializa as crises
bancárias, provocando o auto-encolhimento do crédito e o consequente agravamento da
inadimplência, que desemboca em deflação generalizada dos ativos financeiros e imobiliários,
o que, por sua vez, realimenta o círculo vicioso das bancarrotas.
Veículo Folha de S. Paulo 18-jan-98
Contexto Os financiamentos contratados no início deste ano significam um
comprometimento de R$ 2,3 bilhões em recursos do Proex, a serem liberados ao longo deste e
dos próximos anos.
Na balança comercial haverá uma <alavancagem> de US$ 11,1 bilhões em exportações, diz
Naegele.
Veículo Folha de S. Paulo 15-mai-98
Contexto Em operação conhecida como <alavancagem> no jargão econômico, o
consórcio procura obter os recursos adicionais no mercado financeiro. Ou seja, vai contrair
uma dívida.
A <“alavancagem”>, substitui o uso de recursos próprios pelos sócios nacionais ou capital de
investimento na compra futura de uma estatalO primeiro passo da operação de
<“alavancagem”> é a obtenção de um empréstimo-ponte . Ou seja, de um dinheiro que fica à
disposição para o sinal dado na compra da estatal. Caso saia vencedor, o consórcio utiliza esse
empréstimo para iniciar o pagamento da empresa adquirida.
Veículo Folha de S. Paulo 17-mai-98
Contexto Nessa época de dificuldades, que conselho o senhor daria a um jovem que
acaba de entrar para a diretoria de um banco? Vidigal: Fique no banco. Trabalhe na sua casa e
procure não se meter em coisas que nada têm a ver com banco. Outra coisa: não acredite em
palavras novas. Agora vivem falando em <alavancagem>. Quem trabalha com alavanca é
oficina de automóvel. O que se chama de <alvancagem> é, em primeiro lugar, endividamento
acima da capacidade de pagamento. Em geral, é também a velha operação de tomar
165
emprestado aqui para emprestar mais adiante. O nome disso é bicicleta. Não tem nada de
novo. Seu resultado final também é conhecido: chama-se inadimplência.
Veículo O Globo 04-out-98
Contexto Agora, predomina a <“alavancagem”> (uso de crédito nos bancos para gerar
novas oportunidades de captação de recursos financeiros). A bolha está mais profundamente
amparada em operações entre as próprias instituições financeiras.
No final dos 80, a crise produziu um excesso de oferta no lado real da economia. Agora, o
castelo de cartas está armado em grande estilo no interior dos circuitos financeiros. O
exemplo dessa <alavancagem> recente é o episódio do Long-Term Capital Management: com
apenas US$ 4 bilhões, a turma do Nobel de economia alavancou operações penduradas em
US$ 116 bilhões de dívidas.
Veículo Folha de S. Paulo 18-out-98
Unidade lexical arapongagem sf
Contexto A reportagem “O terror da <arapongagem>“ (Istoé 1259), ao mostrar o clima
de denuncismo que tomou conta de Brasília, lembra, para os mais velhos, os dias na
Alemanha que antecederam a ascensão do nazismo.
Veículo IstoÉ 24-nov-93
Contexto A volta do SNI
Planalto prepara um novo centro de <arapongagem>.
Veículo Veja 01-mar-95
Contexto O governador Cristovam também gosta de se alimentar de informações
produzidas na velha <arapongagem> policial. VEJA teve acesso a 123 relatórios feitos por
uma equipe de quarenta policiais militares que formam o braço secreto da PM de Brasília, a
PM-2. Nos documentos, constata-se que a polícia secreta do governador se encarrega de
espionar reuniões de sindicatos petistas e até encontros de cúpula do próprio PT.
Veículo Veja 25-set-96
Contexto Quanto à reportagem “Papo de araponga” (ISTOÉ 1409), quem sugeriu que o
GDF estaria privilegiando um deputado nas licitações de obras públicas foram os arapongas,
não eu. Os autores tentam insinuar que eu teria “intimidade” com <arapongagem>, por ter
tido acesso a alguns destes relatórios.
166
Veículo IstoÉ 16-out-96
Contexto EM DOIS anos de investigações, a Polícia Federal reuniu evidências de que a
escuta clandestina que expôs as entranhas da privatização do Sistema Telebrás foi executada
pela Abin, a Agência Brasileira de Inteligência (sic), sucessora do velho SNI.
Desmontou-se um dos pilares da versão oficial, sustentada pelo general Alberto Cardoso,
chefe da <arapongagem>.
Veículo Folha de S. Paulo 17-dez-00
Unidade lexical bebericagem sf
Contexto Derivau Ferreira de Souza comanda este simpático curso de coqueteis e
drinques que acontece às segundas-ferias no Ficus Bar, entre muita <“bebericagem”> e
salgadinhos.
Veículo Folha de S. Paulo 16-mar-93
Unidade lexical bisbilhotagem sf
Contexto Exaurida a <“bisbilhotagem”>, o leitor brasileiro terá caminhado para poupar o
ex-presidente da punição política e histórica que ele merece, porque já lhe terá crucificado a
intimidade. (Eugênio Bucci)
Veículo Folha de S. Paulo 16-mai-93
Contexto Das 27 mil pessoas que hoje podem consultar o Siafi, 23.781 são do
Excecutivo, mas só 815 tem acesso nível 9, o que permite mais ampla <bisbilhotagem>. O
Congesso tem 1922 senhas, sendo 1640 de nível 9. O judiciário fica com 1387.
Veículo O Globo 04-ago-96
Contexto Depois de ter a polícia secreta funcionando a todo o vapor desde o início do
governo, e produzindo relatórios com uma frequência quase diária, o governador mostrou-se
indignado e decidiu extinguir a sua polícia secreta. Os agentes serão destacados para o
policiamento de rua e os tais relatórios de <bisbilhotagem>, enviados para um arquivo
público.
Veículo Veja 25-set-96
Unidade lexical crocodilagem sf
167
Contexto Tremenda <crocodilagem>. O sujeito estuda, tira 10 e sai uma notícia
informando que ninguém conseguiu o êxito que ele sabe ter alcançado. Com tanta gente
prometendo sem entregar, o estudante entrega sem prometer e é subestimado.
Veículo Folha de S. Paulo 19-dez-99
Unidade lexical discotagem sf
Contexto Eu estava fazendo <“discotagem”> na Danceteria, uma casa noturna em Nova
York, e a Madonna estava sempre lá, dançando. (Mark Ramins)
Veículo Folha de S. Paulo 16-mai-93
Contexto O clube que ajudou a fazer fama da zona leste, pela <“discotagem”> do DJ
Badinha e pelo ótimo esforço reabriu suas portas depois de uma reforma. (Sinopse / Clubes)
Veículo Folha de S. Paulo 18-jul-93
Unidade lexical discotecagem sf
Contexto Enquanto a turma do piercing aguarda as diabruras do vocalista Keith Flint -
aquele que traz reluzentes argolas nas orelhas, nariz e língua -, as <discotecagens> do DJ
Marky Marky, as experimentações do Otto e Arnaldo Antunes e o drum’n’bass do inglês Roni
Size esquentam a noite que promete muito barulho e um esquema de iluminação alucinante.
Veículo IstoÉ 12-mai-99
Unidade lexical legendagem sf
Contexto Durante o mês de dezembro as grandes redes norte-americanas de TV exibiram
seus especiais musicais e jornalísticos, deixando de apresentar episódios inéditos desses
seriados. É o que os americanos chamam de ‘‘preemption’’, quando um episódio inédito deixa
de ser exibido por causa de outro evento.
Para piorar, nas semanas do Natal e do réveillon foram reapresentados lá nos EUA episódios
especiais sobre as datas produzidos em outros anos.
Com isso, o canal foi obrigado a exibir reprises aqui no Brasil, já que os episódios são
exibidos no Brasil com um ‘‘gap’’ mínimo de três semanas em relação aos EUA.
Essa diferença é imposta nos contratos e, só depois que um episódio vai ao ar nos EUA é que
ele é liberado para o Brasil. Após isso ainda é necessário um tempo para a importação,
168
tradução e <legendagem>.
Veículo Folha de S. Paulo 18-jan-98
Contexto Melhor seria deixar o som dessas chamadas em inglês, se bem que as
<legendagens> da Sony também andam péssimas...
Veículo Folha de S. Paulo 18-jun-00
Unidade lexical sexagem sf
Contexto O avanço mais recente nessa área no Brasil é a <sexagem>, que torna possível
escolher previamente o sexo do animal pelo exame dos cromossomos.
Veículo Veja 12-mai-93
Contexto A <sexagem> de aves é um dos mais curiosos enigmas na próspera indústria
de frangos, galinhas, codornas e perus no Brasil. Existem apenas 75 pessoas capazes de
executar esse trabalho. Destas, 72 são descendentes de japoneses. Kawahito faz isso com
agilidade impressionante. É capaz de separar 1000 filhotes por hora, dezesseis por minuto,
com margem de erro de apenas 1%. /.../ A <sexagem> das aves deve ser feita nas primeiras 24
horas porque é por meio dela que os criadores definem o tipo de ração e de tratamento dado a
cada uma. “A separação é essencial para atender às peculiaridades de criação de machos e
fêmeas /.../.”
Veículo Veja 24-abr-96
Unidade lexical splintagem sf
Contexto De acordo com sua carta, é provável que sua queixa seja periodontite. Seus
dentes balançam porque o osso alveolar e outras estruturas de suporte estão sendo
reabsorvidas pelo organismo. Você deve procurar um dentista especialista em gengivas para
fazer uma <splintagem>, que consiste em unir os dentes que estão moles com os saudáveis,
por meio de resina composta ou fio de aço.
Veículo O Globo 06-set-98
Unidade lexical telecinagem sf
Contexto Cenas antigas podem ganhar cara nova com a <telecinagem>. A técnica
possibilita a passagem das imagens registradas em filme de super-8, oito, 16 ou 35 milimetros
169
para fitas de vídeos nos formatos VHS, Super VHS, Betacan ou U-Matic. Slides também
podem ser telecinados. Em São Paulo, a Anatel é uma das empresas que oferecem esse
serviço.
Veículo Folha de S. Paulo 04-set-94
Contexto A exposição ‘‘Flávio Império em Cena’’, que termina hoje no Sesc Pompéia,
exibe a genialidade do artista sem fazer uso de sua modéstia.
Basta acompanhar seu cardápio, dividido em quatro blocos. Artes plásticas: mais de 150
obras, entre desenhos, gravuras, roupas, pinturas e tecidos. Cenografia e figurinos: mais de
600 desenhos de cenários, figurinos e maquetes animadas e 300 fotografias de cenas de peças.
Cinema: <telecinagem> de filmes em super-8. A casa do artista: uma reprodução do ateliê de
Império, no bairro da Bela Vista.
Veículo Folha de S. Paulo 16-nov-97
Unidade lexical xeretagem sf
Contexto Enquanto FHC faz planos de recriar um serviço de <xeretagem> da vida alheia
ao estilo SNI, a Polícia Federal mantém vivo um órgão que já atormentou muito: o Dops.
Veículo IstoÉ 17-mai-00
Contexto <Xeretagem> (tít.)
Está dura a vida das vítimas do tráfico de cadastros das companhias telefônicas. Há poucos
dias uma senhora de São Paulo ligou para uma pizzaria. Antes que dissesse uma só palavra, o
atendente chamou-a pelo nome e, feliz por exibir as virtudes de sua engenhoca eletrônica,
disse-lhe onde morava, com nome de rua e número de apartamento.
Veículo Folha de S. Paulo 17-set-00
Contexto O coronel também nega que a Abin tenha feito qualquer <xeretagem> sobre o
filho do presidente. “Nem sabia que ele tinha sido citado nesse caso”, afirma De Cunto.
(Policarpo Júnior e Consuelo Dieguez)
Veículo Veja 29-nov-00
Unidade lexical zeragem sf
Contexto Tanto a <zeragem> automática das operações bancárias por parte do Banco
Central quanto a entrada de capitais pelo balanço de pagamentos modificam os resultados que
170
se esperaria de taxas de juros elevadas.
Veículo Folha de S. Paulo 18-dez-94
3.1. Substantivos não-nominais formados com o sufixo -agem
Unidade lexical bandidagem sf
Contexto A pobreza vira sinônimo de <bandidagem> e a marginalidade social é
confundida com a marginalidade criminosa. Outro dia, prenderam uma estudante bonita e de
classe média pela “bobagem” de ter seqüestrado uma menina. O fato foi tão inusitado que é
manchete até hoje.
Veículo Veja 26-jun-96
Contexto A violência prospera quando as comunidades se degradam, ... O toque final da
catástrofe é a polícia sumir das ruas ou, pior, virar parte da <bandidagem>.
Veículo Folha de S. Paulo 18-ago-96
Contexto Monakh diz que hoje não é possível desenvolver nenhuma atividade
econômica na Rússia sem contar com uma proteção mafiosa.
Mas acha que os grupos criminosos atuais não conhecem as leis da <bandidagem>. “Na
minha época, os ex-combatentes da guerra do Afeganistão voltaram transformados em feras.
Agora vamos observar a influência da Tchechênia.
Veículo Folha de S. Paulo 20-out-96
Contexto Cinema
A ferro e fogo
Atores se esmeram no inferno da <bandidagem>
/.../ Um filme cabeça daqueles que o cinema brasileiro se desacostumou de fazer, nestes novos
tempos de caça ao público, Os Matadores (em exibição no Rio de Janeiro e em São Paulo)
tem algo mais a oferecer: não é chato e, acima de tudo, tem a coragem que deveria ser a de
todos os diretores estreantes, a de experimentar, nem que seja uma vez na vida. Quase não
tem história para contar, mas casos para evocar nas conversas entre dois marginais de
segunda, Alfredão (Wolney de Assis), um pistoleiro veterano, amargo e grosso, e Toninho
(Murilo Benício), jovem puxador de carros do Rio. Sentados num cabaré na fronteira
paraguaia, ao som de guarânias medonhas e doses de uísque que mais parecem xaropes, que
tomam aos solavancos, eles contam bravatas, dizem inúmeros palavrões e vão deixando a vida
171
passar, sem nenhum sorriso ou alento.
Veículo Veja 27-ago-97
Contexto No plano público, o deputado apoiava todos os projetos de interesse da Umesb.
Na Câmara Legislativa, empenhou-se para aprovar o projeto que permitiu à Umesb emitir
carteirinhas de estudante, o que rendia à entidade cerca de 300.000 reais por ano, dinheiro
cujo destino ninguém conhece e que motivou a abertura de dois processos pela Secretaria de
Educação. Também queria dar à Umesb o direito de emitir passe de ônibus, negócio que
renderia a bolada de 2 milhões de reais ao ano. Luiz Estevão cedeu uma sala, num dos
edifícios de sua propriedade, para a Umesb usar como sede e ganhar ares de entidade
respeitável - ela era chamada de fantasma. Ainda cedia espaço, de 12.000 reais anuais, para
publicidade da entidade na sua rádio OK FM e, em troca, as carteiras vendidas aos estudantes
vinham com o logotipo da emissora no verso. “Eu jamais imaginava isso”, diz o deputado. “É
que político se expõe a todo tipo de gente.” Luiz Estevão tem razão. Nem em delírio se pode
imaginar que é responsável pelos planos de uma quadrilha que terminou por lhe seqüestrar a
filha. Mas também é evidente que sabia que lidava com gente próxima da <bandidagem>.
Veículo Veja 24-set-97
Contexto “Quando eu disse que morava em Jardim Ângela, até a vice-diretora da escola,
que deveria ser um exemplo para quem quer estudar, perguntou como era ‘aquele fim de
mundo’. Tem mauricinho e patricinha que me olham como se eu tivesse <bandidagem>
impregnada na pele. Acho que eles se surpreendem a cada manhã, quando apareço de novo.
Devem pensar que na minha rua só dá cadáver. Para não me chatear, passei a dizer que moro
na região de Santo Amaro, pronto.”
Veículo Veja 03-mar-99
Contexto A CPI do Narcotráfico teve o mérito de revelar para o país conexões do ex-
deputado Hildebrando Pascoal e de seu grupo com o crime organizado no Acre. Desde então,
denúncias e relatórios sobre máfias estaduais têm surgido em profusão. Tratam de esquemas
criminosos no Amazonas, no Piauí, no Mato Grosso e no Espírito Santo, ao que se sabe até
agora.
Desses casos, surge o que seria a estrutura recorrente de infecção da <bandidagem> nos
meandros do Estado. Há um baixo-clero, infiltrado nas polícias e em outros setores
estratégicos, como o Fisco, responsável pelo trabalho de campo - execuções, apreensões,
172
falsificações, cobrança de propina, ocultação de cadáveres, segurança dos chefes, etc. Existe
também um estado-maior, localizado especialmente no Judiciário e no Legislativo, a garantir
a impunidade.
Veículo Folha de S. Paulo 17-out-99
Contexto Las Vegas já nasceu bizarra. Desde que, em 1946, o gângster Bugsy Siegel
emprestou dinheiro da Máfia para construir o primeiro hotel de luxo da cidade, o Flamingo, a
mais efervescente cidade do Estado de Nevada assumiu sua vocação para o espetáculo. Seu
público passou a ser formado por contraventores de todo o planeta. Para lá acorriam
fanfarrões abonados e playboys ávidos por desfrutar as especialidades locais – jogo legal e
sexo farto. Na década de 70, o governo de Nevada percebeu que o negócio era rentável
demais para ficar nas mãos da Máfia: expulsou os gângsteres e abriu espaço para a entrada
das megacorporações turísticas, que transformaram a ex-colônia de férias da <bandidagem>
em uma espécie de filial da Disneylândia.
Veículo Veja 01-dez-99
Unidade lexical bilhetagem sf
Contexto A Embratel informa que realizará rastreamento na área de <bilhetagem>, onde
são registrados todos os dados referentes a ligações efetuadas, e verificará a proveniência das
ligações internacionais reclamadas pela leitora.
Veículo O Globo 05-nov-00
Unidade lexical brodagem sf
Contexto Afiado pelas preciosas horas gastas no (seu) estúdio, e incandescente em cima
de um palco, o grupo tem conquistado seguidores a cada dia, a cada show. E a <brodagem>
ajuda. - O pessoal do Planet e do Rappa tá sempre aqui - conta Alexandre- Trocamos idéias,
armamos parceria, abrimos shows do Planet. É como uma grande família.
Veículo O Globo 08-set-96
Unidade lexical cafetinagem sf
Contexto O que parece estranho é que uma das acusadas de <cafetinagem>, Maria
Bethânia, seja funcionária pública, recebendo 140.000 cruzeiros reais por mês do contribuinte.
173
Veículo Veja 08-set-93
Contexto Nádia é uma das que se revoltaram contra a <cafetinagem> e por isso se tornou
persona non grata em várias boates. (Francisco Alves Filho)
Veículo IstoÉ 12-jul-95
Unidade lexical cafiolagem sf
Contexto Maluf não ajuda porque não faz o bom sujeito, “o humilde”, de que nossa
política está em lotação esgotada. Sua maneira ofende muita gente que concorda com sua
agenda política, que é modernizante, ou seja, contra a <cafiolagem> pelo Estado da economia
brasileira.
Veículo O Globo 03-nov-96
Unidade lexical camelotagem sf
Contexto /Eleitor de César/ Conde é defensor da ordem e admira as obras do prefeito.
Não tolera invasões e considera necessário controlar os camelôs. Concorda com medidas
duras para coibir as invasões e a <camelotagem>. Tem preocupação com a moralidade e
aplaude atitudes do tipo proibição de capas de revista com mulheres nuas nas bancas de
jornal, defendida por César.
Veículo O Globo 04-ago-96
Unidade lexical cartolagem sf
Contexto Sepúlveda Pertence, por sinal, disse que não entende como o Santos depois de
dominar o mundo não se transformou numa potência. E ouviu Pelé falar cobras e lagartos
sobre a <cartolagem> brasileira.
Veículo Folha de S. Paulo 17-mar-96
Contexto Uma velha raposa da <cartolagem> carioca se convenceu durante a semana de
que o futebol, definitivamente, não é mais o mesmo. - No meu tempo, quando Vasco ou
Flamengo perdia de quatro, a diretoria se indignava, o clube pegava fogo, a torcida protestava,
o técnico perdia o emprego, os jogadores tremiam nas bases.
Veículo O Globo 06-out-96
Contexto Na verdade a <cartolagem> da Europa fantasia a impossibilidade de um acordo
174
formal da Coréia do Sul com o Japão. À espera de um impasse, por falta de sintonia entre os
governos rivais dos dois países, o Velho Continente se mantém incrivelmente de tocaia,
prestes a promover uma revolução.
Veículo Folha de S. Paulo 17-nov-96
Contexto Foi a mais pura manifestação de <cartolagem>, naquilo que esta palavra
embute de pior. Há 23 anos no comando do futebol mundial, Havelange quebrou sua frieza
germânica de uma maneira desconhecida dos brasileiros. Sem disfarce, revelou autoritarismo,
espírito mercantil e culto à própria personalidade.
Veículo IstoÉ 13-ago-97
Contexto A derrota de Havelange, por paradoxal que pareça, deve significar a
oxigenação da estrutura do poder local, embora sejam óbvios os passos da <cartolagem>
nacional no sentido de prevenir conseqüências mais graves.
Veículo Folha de S. Paulo 17-mai-98
Contexto Cento e sessenta milhões de brasileiros assistem à Copa pela TV, 20.000
torcem na França e umas poucas dezenas de escolhidos vêem a festa de camarote. Para quem
gosta de futebol, mordomia e tititi, não existe nada melhor. Os convidados, que vão de graça à
tribuna de honra, podem cruzar com presidentes, reis, artistas e a alta <cartolagem>
internacional. (Carlos Maranhão)
Veículo Veja 01-jul-98
Contexto O São Paulo irá ao Maracanã, como manda a lei.
Mas para onde Eurico Miranda mandará o Vasco?
A decisão de não eliminar o Vasco pelo vexame que provocou foi típica da <cartolagem>.
Argumentar que a eliminação era impossível, porque não era prevista no pífio regulamento,
faz parte da encenação, porque todo regulamento tem uma cláusula determinando que os
casos omissos serão resolvidos pelos organizadores.
Veículo Folha de S. Paulo 21-fev-99
Contexto “No ‘CartãoVerde’, apostamos no jornalismo. Não há rabo preso com a
<cartolagem>“, afirma Marco Antônio Coelho Filho, diretor de jornalismo da Cultura.
Veículo Folha de S. Paulo 18-jul-99
Unidade lexical catituagem sf
175
Contexto A <catituagem> de Itamar, porém, não deu certo. Meses depois, o governo
americano anunciava que o vencedor da concorrência do JPATS era a Raytheon.
Veículo IstoÉ 13-dez-95
Unidade lexical cuponagem sf
Contexto A Folha publica hoje cupons que somam CR$1,5 milhão em descontos nas
compras de produtos e serviços. Desse total, CR$ 1,01 milhão se referem aos anúncios de
classificados (concessionárias de veículos e lojas de material de construção) e CR$490 mil
aos de varejo e turismo - setores que registram aumento de 69% no volume de descontos, em
relação ao total veiculado na edição de domingo passado.
O crescente aumento, a cada semana, no valor dos descontos para produtos de varejo e
turismo demonstra que o projeto da <cuponagem> veio para ficar”, afirma Antônio Carlos
Moura, diretor comercial da Empresa Folha da Manhã S/A, que edita a Folha. “O crescimento
evidencia também o grau de confiabilidade no sistema por parte dos grandes anunciantes.
Veículo Folha de S. Paulo 17-out-93
Unidade lexical marquetagem sf
Contexto Mais difícil é entender a adesão à <marquetagem> do professor Roberto
Borges Martins, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica aplicada, o Ipea.
Veículo Folha de S. Paulo 18-jul-99
Contexto Sabe-se que, para muita gente, a política contemporânea se reduz à
<marquetagem>. Foi um golpe de mestre de grande marqueteiro realizar uma reunião de
cúpula sobre a Terceira Via em Florença.
Veículo Folha de S. Paulo 19-dez-99
Contexto No dia 13 de abril do ano passado, FFHH informou o seguinte: “Nos próximos
30 dias será lançado um grande programa de habitação popular para as famílias mais pobres.”
Lançou coisa nenhuma. Era lorota, produto da <marquetagem>, destinada a iludir os pobres,
visto que aos ricos o Governo deu o programa de renda máxima da taxa de juros. Montou-se
um simulacro de programa que atendeu sete mil famílias em todo o país, produzindo uma fila
de 35 mil incautos. (Elio Gaspari)
Veículo O Globo 02-jan-00
176
Unidade lexical peruagem sf
Contexto O gosto questionável de muitas dessas senhoras, ex-primeiras damas, nunca
intimidou a “turma da <peruagem>“, classificação usada por alguns estilistas para definir as
mulheres que fazem parte do círculo próximo ao Planalto.
Veículo IstoÉ 28-abr-93
Contexto Perto da <peruagem> da banda, até Bom Jovi passaria por sério.
Veículo Folha de S. Paulo 16-jan-94
Contexto /.../ Rubra Rosa e Perla Menescal - rivais em <peruagem> e no amor, já que
disputam as atenções de Demóstenes (José Wilker).
Veículo Folha de S. Paulo 01-mai-94
Unidade lexical pistolagem sf
Contexto <Pistolagem>, não. Paraibanos querem o governador afastado do cargo e
respondendo a processo.
Veículo IstoÉ 24-nov-93
Contexto Assutada com a ousadia dos bandidos, que nas últimas duas semanas
executaram duas pessoas, em plena luz do dia, a Polícia Civil de Brasília decidiu investigar a
indústria da <pistolagem> na capital federal. /.../ A <pistolagem> está chegando a Brasília,
cidade que nunca teve história de crimes pagos. Antes só registrávamos acertos de conta entre
pequenos traficantes e vagabundos. O pior é que são crimes de difícil elucidação.
Veículo O Globo 05-mai-96
Unidade lexical tucanagem sf
Contexto O único direito em toda essa história é o dos partidos do reino da <tucanagem>
e das organizações a seu serviço.
Veículo Folha de S. Paulo 16-abr-00
Contexto Depois de saber que Tasso não está interessado numa vaga na reforma
ministerial, programada para depois das eleições, FHC agora quer o governador como
presidente nacional do PSDB. A <tucanagem> do Ceará acha que Tasso aceitará o cargo. E a
turma de Covas bate palmas.
177
Veículo IstoÉ 12-jul-00
Unidade lexical vascanagem sf
Contexto Já imaginou como seria bom nunca mais ter de escrever o nome de Eurico
Miranda? Infelizmente os sócios do Vasco não quiseram assim. E a <vascanagem> continua.
Veículo Folha de S. Paulo 16-nov-97
Unidade lexical veadagem sf
Contexto Com o Projeto Genoma, a Ciência poderá também comprovar se o boiolismo é
um caráter genético hereditário ou se é só <veadagem> mesmo.
Veículo O Globo 02-jul-00
4. Nominais formados com o sufixo -da
Unidade lexical canetada sf
Contexto O empresário paulista descendente de italianos costuma dizer em um elétrico
português macarrônico que carro importado é um negócio de risco. “Com uma <canetada>, o
presidente pode acabar com a festa”.
Veículo IstoÉ 26-mai-93
Contexto Há 21 anos que uma greve de grande porte não era bem-sucedida nos Estados
Unidos. O golpe fatal tinha sido em 1981: apelando para uma lei que proíbe greves no setor, o
presidente Ronald Reagan, de uma <canetada>, pôs na rua 11.500 controladores de tráfego
aéreo. Escaldado, o sindicato preparou-se para a paralisação de agosto como um político em
campanha. Usou as mesmas táticas de marketing para conquistar a opinião pública: seu carro-
chefe era a exigência de que a UPS pusesse fim à prática “insensível e exploradora” dos
contratos de meio período, mais baratos. /.../.
Veículo Veja 27-ago-97
Contexto A preocupação com o patrimônio histórico e cultural é recente no Brasil.
Surgiu no final dos anos 30, quando o então ministro Gustavo Capanema criou uma secretaria
para cuidar do assunto. Formada por modernistas como o arquiteto Lúcio Costa e o escritor
Mário de Andrade, a Sphan deu o primeiro passo ao realizar o tombamento, no âmbito
federal, de uma enorme quantidade de monumentos históricos. Foi o primeiro órgão do
178
gênero em todo o mundo a tombar, de uma só <canetada>, seis cidades inteiras - todas em
Minas Gerais. (Celso Masson)
Veículo Veja 29-jul-98
Contexto De uma só <canetada> o ministro Paulo Renato acabou com todas as
delegacias regionais do MEC. Com isso, os políticos deixam de indicar, pelo menos, mais 26
cargos. Aliás, só com a venda de 81 estatais o governo perdeu o poder de nomear 663
apadrinhados para cargos dos bons.
Veículo Veja 23-dez-98
Unidade lexical contornada sf
Contexto /.../ Shakespeare é de grande força descritiva ao lidar com bala estourando
miolos, gente enterrada viva, morte, estupro e contusões generalizadas. Shakespeare (vamos
dar uma <contornada> nisso que é para evitar possível e conturbador mal-entendido),
Nicholas, para ser mais preciso, de prosa clara e enxuta, evita com muita inteligência a
tentação de cair na esparrela de, só por causa do clima - ah, esse sol, essa fauna, essa flora,
esse Euclides da Cunha, esse García Márquez! -, botar o turbante tutti-frutti na cabeça e sair
por aí sambando e cuecando (a cueca é uma dança chilena) na exuberância barroca do
subcontinente. Antes muito pelo contrário.
Veículo Veja 24-set-97
Unidade lexical desmunhecada sf
Contexto Seguindo a tendência de filmes como Missão Impossível, na transposição do
seriado para o cinema ganha-se em apuro cenográfico, mas perde-se algo do encanto original.
Mais do que um programa para quarentões que se divertiam na infância com as
<desmunhecadas> do Doutor Smith, este Perdidos no Espaço é para seus filhos. (Rubens
Eward Filho)
Veículo Veja 01-jul-98
Unidade lexical filosofada sf
Contexto Lá está ele, Sylvestre Stallone, ator, com sua canastrice impagável, sua
montanha de músculos e suas <filosofadas> de granito.
179
Veículo Veja 11-ago-93
Unidade lexical guilhotinada sf
Contexto As larvas vão crescendo, até que num dado momento cortam a cabeça da
formiga. Dada a <guilhotinada>, a mosca está pronta para voar.
Veículo IstoÉ 16-jul-97
4.1. Substantivos não-nominais formados com o sufixo –da
Unidade lexical banqueirada sf
Contexto A <banqueirada> que é dona da Escelsa está passando a chuva no setor
elétrico, enquanto aguarda um comprador do ramo - estrangeiro provavelmente. A empresa
capixaba comprou na semana passada a Enersul, do Mato Grosso do Sul.
Veículo Veja 26-nov-97
Contexto Veja por que a <banqueirada> anda doida para investir no futebol brasileiro. O
Nations Bank vai gastar com o Vasco 30 milhões de dólares. Mas, até agora, tem negócios
praticamente fechados que totalizam 110 milhões com a marca vascaína. O suíço UBS tem
recursos que podem chegar a 450 milhões de dólares destinados à adoção de clubes no Brasil
e na Argentina.
Veículo Veja 25-mar-98
Unidade lexical boleirada sf
Contexto Na falta de agrados semelhantes, a maioria se satisfaz com as caminhonetes do
tipo off-road, a preferida da <boleirada>. A Pajero, da Mitsubishi, com preço entre 44.000 e
56.000 dólares, enfeita a garagem dos jogadores Bebeto, Romário e Carlos Germano. Júnior
Baiano se defende com a Grand Cherokee, enquanto Emerson se desloca de Toyota Land
Cruiser. A turma da Mercedes-Benz alinha Emerson, Bebeto e Zagallo, enquanto a da BMW
reúne Taffarel, Roberto Carlos e Zé Carlos. A repetição de nomes se justifica: são raros os
jogadores que têm um único carro.
Veículo Veja 01-jul-98
Unidade lexical cacicada sf
180
Contexto ACM rejeita qualquer aliança com os tucanos paulistas e Maciel não descarta
apoiar a reeleição do governador Mário Covas. Sem apoio da <cacicada>, o ex-prefeito de
Presidente Prudente (SP) Agripino Lima (PFL) insiste em correr por fora.
Veículo IstoÉ 12-nov-97
Unidade lexical carrilhada sf
Contexto Num alucinante ritmo de farsa, com vários toques de realismo fantástico,
inauguração e humor soltos e um elenco de primeira - com <carrilhadas> de aplausos à
sensacional performance da dupla protagonista -, incluindo a sempre perfeita Fernanda
Montenegro no papel da Compadecida, Guel Arraes fincou com qualidade uma muito
provável e profícua parceira entre cinema e televisão.
Veículo IstoÉ 13-set-00
Unidade lexical companheirada sf
Contexto Apesar dos 100% empenhados contra o MST pelo pastor Wellington, nos
acampamentos de sem-terra e nos cultos ecumênicos realizados em favor da reforma agrária
sempre está um padre da teologia da libertação, exortando a <“companheirada”> a prosseguir
na luta. (Andréa Barros e Laura Capriglione)
Veículo Veja 02-jul-97
Contexto A deputada boa de briga jamais participou da vida do PT. Mal conhece as
tendências que se batem dentro dele e nunca bebeu uma cerveja no bar com a
<“companheirada”>. Tanta desenvoltura com os inimigos de seus correligionários e tão pouca
intimidade com os aliados rendem-lhe críticas e resistências. (Laura Capriglione)
Veículo Veja 24-dez-97
Contexto Enquanto a chuva fina cai numa fria manhã de maio na região de Fraiburgo,
diante de um quadro-negro alunos e professores cantam músicas que evocam ideais
revolucionários. As letras defendem a famigerada união operária e camponesa e de quebra
ainda criticam a burguesia e o latifúndio. “A classe roceira e a operária ansiosas esperam a
reforma agrária... a grande esperança que o povo conduz, pedir a Jesus pela oração para guiar
o pobre por onde ele trilha e a cada família para não faltar o pão e que ele não deixe o
capitalismo levar ao abismo a nossa nação... <companheirada>, para burguesia não tire o
181
chapéu, mesmo que ela nos prometa o céu, nossa luta não pode parar (sic)”
Veículo IstoÉ 17-jun-98
Unidade lexical cupinchada sf
Contexto O mais provável é que a degola da <cupinchada> de Kojakov tenha sido parte
do preço cobrado por Lebed para aderir a Ieltsin. A primeira prestação da conta já havia sido
paga sob a forma da cabeça do general Pavel Grachev, o corrupto e impopular ministro da
Defesa que Ieltsin fritou num piscar de olhos e substituiu por seu novo queridinho, Lebed.
Veículo Veja 26-jun-96
Unidade lexical euricada sf
Contexto <Euricada> 1 (tít.)
O Flamengo vai transformar o menino Maílson Ribeiro Matias, 7, em símbolo de sua
disputa com o deputado federal Eurico Miranda (PPB-RJ), vice-presidente do Vasco, que
impediu o pequeno flamenguista de tirar uma foto com o atacante Romário, anteontem, na
inauguração do Centro de Treinamento Romarinho, no Rio.
Veículo Folha de S. Paulo 15-out-00
Unidade lexical guruzada sf
Contexto Um erro que não deve ser repetido. Cariocas e paulistas clamam pelas esquinas
inexistentes. Os forasteiros, ilhados em hotéis estéreis e abandonados nos fins de semana,
juntam-se ao coro da nova ortodoxia dos arquitetos ausentes. A condenação é unânime,
endossando a sentença fatal da <guruzada> internacional. (Claudio de Moura Castro)
Veículo Veja 25-nov-98
Unidade lexical maracutaiada sf
Contexto As empreiteiras encheram o cofre de dinheiro durante o ciclo militar e só um
recém-chegado de Marte pode imaginar que as concorrências da época eram imaculadas e só
agora são <maracutaiadas>. (Clóvis Rossi).
Veículo Folha de S. Paulo 16-mai-93
182
Unidade lexical ninguenzada sf
Contexto Em números redondos, metade da população brasileira viveu três décadas sob
o abrigo da correção no patrimônio, na renda, na poupança e, ainda que não integralmente, no
salário, em carteira. A outra metade, <ninguenzada> de 80 milhões, sem emprego fixo e sem
dinheiro no banco, purgou as mesmas três décadas sem correção, sem reposição, sem
proteção. Nos últimos 30 dias do cruzeiro, eles chegaram a perder 2% ao dia.
Veículo O Globo 08-set-96
Contexto E quem é o indigitado que só tem dinheiro na mão e mais nada? O pobre. Ou
como enquadra o IBGE: os brasileiros de baixa renda, perto de 52% da população total. Algo
parecido com 74 milhões de patrícios na estréia do Real (em julho de 1994). Uma
<“ninguenzada”>, assim rotulada por Darcy Ribeiro, sem emprego fixo, sem salário em
carteira, sem patrimônio imobiliário, sem FGTS, sem INSS, sem CUT. Gente sem conta em
banco, sem talão de cheque, sem pré-datado, sem cartão de crédito, sem caderneta de
poupança, sem liquidez rentável.
Veículo Veja 25-dez-96
Contexto E não deu outra. A <ninguenzada> dos não-indexados votou no real em 1994 e
repete a dose em 1998. E o desemprego? Não foi inventado pelo real. Sem a estabilização nos
últimos quatro anos, a inflação indexada, com direito a congelamentos sucessivos, estaria na
bitola anual dos cinco dígitos.
Veículo O Globo 04-out-98
Unidade lexical parentada sf
Contexto Com o nepotismo presente nas raízes da formação do Estado brasileiro, desde
que dom João VI desembarcou no Rio de Janeiro com a <parentada> toda pendurada na
burocracia reinol, o país tem dificuldade em extirpar essa prática condenável. Em dezembro
de 1996, foi feita uma boa tentativa. (Leonel Rocha)
Veículo Veja 27-mai-98
Contexto O destino do capitalismo brasileiro muitas vezes é discutido nas ceias de Natal
- aquelas que reúnem toda a <parentada>. O economista Regis Bonelli, do Ipea, concluiu um
trabalho mostrando que quase 90% dos 300 maiores grupos privados nacionais têm controle
familiar.
183
Veículo Veja 29-jul-98
Unidade lexical paulistada sf
Contexto “Este torneio virou uma <paulistada>“
Do vice-presidente do Flamengo, Michel Assef, sobre a Taça Rio-São
Veículo IstoÉ 12-fev-97
Unidade lexical peãozada sf
Contexto Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, retoma suas funções na Mercedes de
inspetor de qualidade, outro cargo em extinção. “Aprendo muito com o contato com a
<peãozada>“, afirma Vicentinho. “Dentro da fábrica, eles são bem mais pragmáticos.”
Veículo IstoÉ 15-mai-96
Contexto Lá vem ela. E a <peãozada> se alvoroça toda, corre até a grade que limita o
canteiro de obras e começa a gritar: “Boazuuuuda! Gostoooosa!” Entra dia sai dia, é semore
igual: a morena Janaína de Castro, 33 anos, aponta no caminho estreitinho que ficou na
calçada da rua Fernandes Guimarães, no Bairro carioca de Botafogo, e a tigrada que trabalha
nas obras do Metrô larga no chão a britadeira e manda ver: “Boazuuuuda! Gostoooosa!”.
Veículo IstoÉ 11-dez-96
Contexto Não um rodeio qualquer, com a <peãozada> montando em bichos bravos,
como sempre existiu no Brasil, mas um festival cada vez mais calcado nos moldes
americanos.
Veículo Veja 27-ago-97
Contexto Com sinal verde de Pelé e do Ministério do Trabalho, está saindo do forno um
projeto de lei que transforma a profissão de peão de boiadeiro numa atividade igual à do atleta
profissional, com direito a seguro-saúde e participação na renda dos espetáculos. O autor do
projeto é o deputado Jair Meneghelli, que é filho de peão e chamava os operários do ABC de
<peãozada>.
Veículo Veja 29-jul-98
Unidade lexical playboyzada sf
Contexto A entrevista com a playboyzinha Paloma Klysis que entrevista dependentes de
184
drogas a R$ 3 mais um beijo, e quer ensinar à <playboyzada> e aos seus pais a fumarem
maconha juntos para melhor aprendizado, tira a revista e seus responsáveis do rol das pessoas
sérias.
Veículo IstoÉ 12-mai-99
Unidade lexical rataiada sf
Contexto Desde que VEJA publicou na semana passada o produto de grampo telefônico
que “estimular a competição” é sinônimo de montar um consórcio, oferecer duas seguradoras
públicas e um fundo de pensão como sócios e colocar à disposição o BNDES para entrar com
os 400 milhões de reais que faltavam para compor a sociedade. Para ser fiel à trilha sonora da
privatização da Telebrás, chega-se às bordas do novo século com a constatação de que a
<rataiada> e os babaquinhas estão onde sempre estiveram. (Flávio Pinheiro)
Veículo Veja 25-nov-98
Unidade lexical romançarada sf
Contexto Como no “quest” para o Santo Graal, aquela <romançarada> de “quest”, feito
“O Senhor do Anéis”, do Tolkien, e por aí afora. (Ivan Lessa)
Veículo Veja 29-jan-97
Unidade lexical serjada sf
Contexto Enquanto o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, arruma suas confusões
atiçando o PFL, insultando parlamentares ou esbanjando sua imperial amizade, tudo bem. Por
mais barulho que façam, essas <serjadas> têm pouco a ver com a vida real. Quando ele
azucrina as pessoas que usam telefones é que a coisa fica séria.
Veículo Folha de S. Paulo 19-out-97
Unidade lexical tigrada sf
Contexto Lá vem ela. E a peãozada se alvoroça toda, corre até a grade que limita o
canteiro de obras e começa a gritar: “Boazuuuuda! Gostoooosa!” Entra dia sai dia, é sempre
igual: a morena Janaína de Castro, 33 anos, aponta no caminho estreitinho que ficou na
calçada da rua Fernandes Guimarães, no Bairro carioca de Botafogo, e a <tigrada> que
185
trabalha nas obras do Metrô larga no chão a britadeira e manda ver: “Boazuuuuda!
Gostoooosa!”.
Veículo IstoÉ 11-dez-96
Unidade lexical trecaiada sf
Contexto O Paparazzi está de cara nova! O andar de cima virou um salão enorme e tem
até balcão para quem gosta de dar close em pé ou sentado no banquinho. Mudou a cor e a
iluminação, mas o telão continua lá com toda a <trecaiada> fashion e os clipes de dance
music.
Veículo Folha de S. Paulo 18-dez-94
Unidade lexical tucanada sf
Contexto Sua principal dificuldade no momento é decifrar o PSDB. A <tucanada> não
pára de se bicar.
Veículo Folha de S. Paulo 04-abr-93
Contexto Até a folclórica paciência tucana se esgotou com a incapacidade de presidente
da República em governar. É de Mário Covas, campeão de aplausos da última convenção do
PSDB, a demolidora frase: “Hoje eu não se com quem está o controle político deste país, mas
saberei depois da reforma ministerial.” Se a <tucanada> está enfurecida, no camarote da
turma do PFL o festejo corre solto.
Veículo IstoÉ 14-jul-99
Contexto Acuado por denúncias, aliados e queda de popularidade, FHC estaria
abandonando seu lado econômico-pragmático pelas tentações políticas?
Se ouvir a <tucanada>, Mário Covas à frente, o governo vai seguir nessa linha. Se
ouvir a opinião pública, classe média à frente, também. Mas se ouvir BC, parte da Fazenda e
mercado, FHC vai recuar correndo?
No fundo, porém, tudo é bem mais simples: o governo apenas decidiu recuperar o
papel regulador do Estado. Num país de tão ricos e tão miseráveis, já não era sem tempo.
Veículo Folha de S. Paulo 20-ago-00
Unidade lexical tucanaiada sf
186
Contexto E os filhinhos de papai? Tem um candidato que se apresenta como filho do
João Leite Neto. E daí, bocó?! Mostra o que você sabe fazer. A monarquia já acabou bebé. E
tem outros! Sobrinho do Jatene, filho deste, filha daquela. Tem até filho da... Deixa pra lá.
E o PMDB? Descobriram que <tucanaiada> chegou ao poder ficando em cima do
muro. Resolveram fazer o mesmo.
Veículo Folha de S. Paulo 20-ago-00
Unidade lexical turistada sf
Contexto Depois do Ano-Novo, elas ofereceram balas a nativozinhos que recolhessem o
lixo deixado pela <turistada>. (Marcelo Camacho)
Veículo Veja 27-jan-99
Unidade lexical velharada sf
Contexto Não é a garotada quem tem de lutar pelo congelamento das anuidades, mas a
<velharada> quem tem de sair de casa para recuperar a rede pública de
Veículo Veja 14-abr-93
Unidade lexical verdurada sf
Contexto São jovens de classe média na casa dos 20 anos, normalmente estudantes com
trabalho fixo. Não comem carne, não bebem, não fumam, não usam drogas.
Em São Paulo, os “edgers” chegam a 400 e costumam se encontrar nas
<“verduradas”>, shows em que rola muito hardcore – estilo derivado do punk, mas tocado
com mais rapidez e agressividade – regados a carne de soja, broto de bambu e suco de frutas.
Embora alguns neguem o status de movimento organizado, os “straight edges” têm
uma associação, a Self (Straight Edge Life Frame, em inglês algo como modo de vida dos
“straight edges”) e possuem diversas publicações em que tentam explicar por que acham
desnecessário explorar animais.
Veículo Folha de S. Paulo 15-mar-98
5. Nominais formados com o sufixo -nc(i)a
Unidade lexical assumência sf
187
Contexto Parabéns à Fernanda, pela sua <assumência> e coragem. Ficar exposta às
pedradas de uma sociedade preconceituosa não é para um grande homem, nem para uma
grande mulher. É sim para um tremendo cabra-macho. (Fátima Rosato - Brasília - DF)
Veículo IstoÉ 12-jul-95
Unidade lexical derivância sf
Contexto Composições epigramáticas, dos anos 1927 a 1930, em que dominam os
contrastes tímbricos, os saltos melódicos ferindo os registros altos, os “ostinati” rítmicos, as
síncopes de <derivância> jazzística e até algumas ousadas polimetrias – uma angulosidade de
estruturas e um anti-sentimentalismo conceitual que remetem, hoje, inevitavelmente, à
atualíssima obra de Ustvólskaia, a “dama do martelo” russa.
Veículo Folha de S. Paulo 17-dez-00
Unidade lexical flanância sf
Contexto Caetano Veloso deixa nos próximos dias a <flanância> em Salvador e vem ao
Rio pelo batente. /.../ Ele discutirá com Cacá Diegues os detalhes finais da trilha de “Orfeu” -
uma releitura do cineasta para “Orfeu do carnaval”.
Veículo O Globo 01-fev-98
Unidade lexical gastança sf
Contexto Eliseu só tem dois aliados no governo contra a <gastança> social: Yeda e
Britto – este, por sinal, é muito elogiado na Fazenda.
Veículo Folha de S. Paulo 18-abr-93
Contexto Com a economia reluzindo sem inflação e desemprego, o crime em baixa e
nenhum inimigo externo capaz de afrontar a potência americana, Clinton se preparava para
entrar para a História como o administrador de uma época dourada, de prosperidade e paz.
Até seus esforços de valorizar o governo, sem <gastança> excessiva e com sobras no
orçamento, estavam dando certo. (Eurípedes Alcântara)
Veículo Veja 28-jan-98
Contexto Uma década atrás, o Pentágono caiu no ridículo quando se descobriu que tinha
pago 640 dólares por um assento de banheiro. Uma auditoria divulgada na quarta-feira
188
passada mostra que os militares americanos persistem no hábito de pagar caro por
mercadorias baratas. Em apenas um contrato de fornecimento de peças de reposição para
aviões, o Pentágono pagou 6,1 milhões de dólares, três vezes o valor de mercado. Veja outros
exemplos de <gastança> inexplicável:
- 75,60 dólares por um parafuso de 57 centavos
- 714 dólares por uma campainha elétrica de 47 dólares
- 1,24 dólar por uma mola de 5 centavos
Veículo Veja 25-mar-98
Contexto <Gastança> (tít.)
O ministro Paulo Renato encomendou à Universidade de São Paulo moderno software de
administração escolar para distribuir gratuitamente. O governador paulista resolveu
desembolsar 3,2 milhões de reais por um software praticamente igual de uma empresa
particular (Unisys).
Veículo Veja 29-abr-98
Contexto A semana passada juntou na mesma encruzilhada esse Estado e quem deveria
vigiar sua propensão para a <gastança> irresponsável. Os papéis estavam trocados. Vieram à
tona os números com gastos em viagens para o exterior dos oito ministros do Tribunal de
Contas da União, TCU. Só neste ano, um pouco mais de 333.000 reais. Neste momento,
Marcos Vilaça gasta em moeda forte os mais de 15.000 reais que recebeu em diárias para um
périplo pela Finlândia, Ucrânia, Turquia e Grécia. (Flávio Pinheiro)
Veículo Veja 28-out-98
Contexto Nesse tempo todo, usaram-se vários artifícios para evitar a alternativa mais
dolorosa, que era fazer o ajuste fiscal. Um dos caminhos para manter a <gastança> contínua
foi o aumento sistemático de impostos. (Antenor Nascimento Neto)
Veículo Veja 23-dez-98
Contexto Todos querem resolver as injustiças sociais, entretanto nenhum deles aceita
fazer isso com base na <gastança> do dinheiro público. O primeiro consenso (muito parecido,
por sinal, com o dos pensadores neoliberais) é de que o equilíbrio das contas do Estado é
precondição para a criação de empregos e que a educação é motor do crescimento. Clinton
defendeu uma “globalização com feições humanas”.
Veículo Veja 01-dez-99
189
Unidade lexical governança sf
Contexto “Referente ao editorial ‘Segundo tempo’, de 30/12, no trecho ‘...Banespa, uma
instituição financeira que só tem causado prejuízos à população e ao Estado...’: não posso
calar protesto e indignação face à colocação acima. Injusta e infeliz, no mínimo.
Não é a instituição que merece ser tripudiada. Responsáveis da cúpula é que merecem
punição. Ou tudo se passou no Banespa por obra e graça do Espírito Santo?
Não, Folha, o Banespa nunca foi um banco nocivo. Nocivos à sociedade, ao rincão paulista e
à própria nação têm sido alguns ‘politiqueiros’ de plantão na <governança> do Estado.”
José Carlos Amadei (Bauru, SP)
Veículo Folha de S. Paulo 19-jan-97
Unidade lexical refrescância sf
Contexto Dez anos foram necessários para desenvolver uma tecnologia tão
revolucionária. Um tempo que valeu a pena. Skol Ice vai conquistar você pelo sabor, pela
personalidade, pela <refrescância>. Skol Ice. Fabricada através do exclusivo Ice Process.
Veículo Folha de S. Paulo 18-dez-94
Unidade lexical roubança sf
Contexto Um desses ingredientes é seu mal explicado envolvimento com o juiz Nicolau
dos Santos Neto, o Lau-Lau, coordenador da maracutaia na obra do Fórum Trabalhista de São
Paulo, o maior caso de <roubança> de que se tem notícia no país. (Daniela Pinheiro e Rodrigo
Vergara)
Veículo Veja 26-jul-00
5.1. Substantivos não-nominais formados com o sufixo -nc(i)a
Unidade lexical ex-fumância sf
Contexto Claro, é a primeira lei da <ex-fumância>. O ex-fumante engorda. No meu caso,
quinze quilos e duzentas, a maior parte dos quais em torno da cintura. Pela primeira vez na
vida, vou ser obrigado a fazer dieta, sob pena de abertura de falência, eis que só caibo em
duas das minhas calças e um dos meus paletós.
190
Veículo O Globo 04-ago-96
Unidade lexical itinerância sf
Contexto A “flânerie” pelos cais do Sena levou-nos longe, numa <itinerância> típica dos
que sofrem da “doença de Nabuco”. Mas há método nesse desvario: partindo de Camille
Claudel, fomos levados a fazer o elogio da ausência. Em vez de castrá-la, devemos preservar
as sucessivas ausências, que moram dentro de nós como ecos, reminiscências, fantasias de
desejo e antecipações utópicas, convertendo todas essas ausências num sistema de presenças
simultâneas.
Veículo Folha de S. Paulo 19-nov-00
6. Nominais formados por derivação regressiva
Unidade lexical agito sm
Contexto Reúnem-se principalmente para <agitos> (festas em clubes suburbanos) e
adoram pichar muros. (Paulo Mota)
Veículo Folha de S. Paulo 16-mai-93
Unidade lexical aplique sm
Contexto Xuxa também tem a sua coleção. Só que de <apliques>. Ela não sabe dizer
quantos que já contabiliza, mas para guardá-los precisa de uma grande mala. As “xuquinhas”
surgiram no “Xou”, segundo ela, como uma homenagem ao seriado “Jeannie é um gênio”. /.../
- Todos sabem que meu sonho sempre foi ter uma vasta cabeleira. Como não tenho boto os
<apliques>, que me caem bem - confessa.
Veículo O Globo 06-dez-98
Unidade lexical desaninho sm
Contexto Há cálculos das perdas financeiras do país com o desemprego dos emigrantes.
Mas pouco se fala sobre o drama do desenraizamento familiar e cultural do trabalhador
brasileiro no estrangeiro, sobre o “dilaceramento do <desaninho>”, na expressão do escritor
português Miguel Torga, imigrante no Brasil na sua juventude. (Luiz Felipe de Alencastro)
Veículo Veja 29-jul-98
191
Unidade lexical despiste sm
Contexto Contra estas tendências, o grupo de Lerner animou-se depois que Brizola, em
uma entrevista ao programa Jô Soares Onze e Meia, do SBT, apontou sua idade (71 anos)
como um dos motivos que o desanimavam a uma nova disputa. Mas isso pode ser um
<despiste>.
Veículo IstoÉ 28-abr-93