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Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestrado em Arqueologia, realizada sob a orientação científica da Professora Doutora Catarina Tente e coorientaçãodo do técnico superior do Laboratório de Arqueociências da DGPC Carlos Pimenta. 1 1 Versão corrigida e melhora após defesa pública.

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Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção

do grau de Mestrado em Arqueologia, realizada sob a orientação científica da

Professora Doutora Catarina Tente e coorientaçãodo do técnico superior do Laboratório

de Arqueociências da DGPC Carlos Pimenta.1

1 Versão corrigida e melhora após defesa pública.

Aos meus pais que sempre me deram liberdade de escolha.

AGRADECIMENTOS

Para a realização desta dissertação de mestrado muitas pessoas contribuíram, às

quais não posso deixar de dizer o meu muito obrigada.

A Zooarqueologia foi-me apresentada pela primeira vez do ponto de vista

prático durante as escavações arqueológicas realizadas em São Gens (Celorico da Beira,

Guarda). Isto tenho de agradecer à Sílvia Casimiro e à Prof. Dra. Catarina Tente, que

vendo o meu interesse por esta área, me propôs realizar um estágio curricular no LARC,

e que desde então e até à realização desta dissertação, como orientadora científica, se

mostrou sempre prestável, portadora de bons conselhos, pronta a preparar e a construir

bons investigadores.

Na impossibilidade de trabalhar com macrofaunas, tive o meu primeiro contacto

com as microfaunas durante o estágio curricular realizado no LARC, no último ano da

Licenciatura.

Neste contexto tenho de agradecer ao Carlos Pimenta, responsável pelo meu

estágio e posteriormente meu coorientador, que desde este primeiro momento me

recebeu sempre com grande simpatia, entusiasmo e paciência por me abrir as portas

para o estudo das microfaunas, partilhando comigo algum do seu conhecimento, sem a

sua orientação a realização desta dissertação não teria sido possível. Tenho ainda de

agradecer ao LARC por me ter recebido em ambas as ocasiões com grande à vontade,

permitindo a utilização dos equipamentos que tornaram possível o estudo do material

aqui apresentado, bem como a todos os seus investigadores, que sempre me trataram de

forma cordial ao longo do moroso período de estudo das microfaunas, e, de uma forma

geral à DGPC.

Neste seguimento tenho de agradecer ao Prof. Dr. António Faustino de

Carvalho, pela disponibilidade dos materiais ostelógicos correspondentes às

microfaunas provenientes da Pena d´Água aqui estudados e pelo facto de se ter

mostrado sempre disponível para me ajudar e esclarecer no que fosse necessário do

ponto de vista arqueológico, como arqueólogo responsável pela escavação, e logístico

durante a preparação das amostras para estudo.

À Dra. Liliana Póvoas, investigadora do Museu Nacional de História Natural e

da Ciência, a quem foi inicialmente pedido para estudar este material, por me ter cedido,

sem reservas, as amostras ainda por estudar, por me ter instruído nas práticas

laboratoriais necessárias para o tratamento deste tipo de amostras e por se ter mostrado

disponível para me auxiliar sempre que necessário, do ponto de vista científico. Neste

sentido tenho ainda de agradecer de um modo geral, ao Museu Nacional de História

Natural e da Ciência por me ter recebido, permitindo aí realizar uma parte significativa

do meu trabalho que tornou possível a realização desta dissertação e, em particular, a

todos os técnicos do Departamento de Mineralogia, Geologia e Paleontologia do Museu

(Sr. João Paulo Lopes, Drs. César Lopes e Bruno Ribeiro) pelo bom acolhimento e por

todo o apoio que me prestaram durante a preparação das amostras de sedimento, tendo-

se mostrado sempre disponíveis a ajudar no que fosse necessário e, claro, ao Wilamy

Rita, também técnico do Museu, que me ajudou a realizar as primeiras lavagens de

sedimento.

Tenho ainda de agradecer ao CSIC por me ter recebido nas suas instalações em

Madrid e permitir a utilização dos equipamentos que tornaram possível a realização das

fotografías dos restos odontológicos apresentadas na Sistemática desta dissertação, e

neste contexto à Dra. Marta Moreno García e ao Carlos Pimenta pela ajuda e boleia.

Não esquecendo todo o trabalho que foi realizado antes de mim, tenho de

agradecer a todos os investigadores que se dedicam a esta arqueociência e sobretudo

àqueles cujo conhecimento contribuiu de algum modo para a realiazação desta

dissertação, e ao LARC por todo o esforço e trabalho que tiveram ao criar aquela que é

hoje uma coleção osteológoca de referência, que permite a muitos investigadores

esclarecer as suas dúvidas.

Um obrigado ainda ao Pedro, por ter aturado com a sua paciência de santo os

meus momentos de maior stress quando a escrita não saía a feição, por reler os meus

textos e por me ouvir lê-los em voz alta vezes e vezes sem conta.

Por último, mas não menos importante – bem pelo contrário – tenho de

agradecer aos meus pais, principais responsáveis pela realização deste trabalho, na

medida que puserem à minha disposição desde sempre todos os meios financeiros

necessários à minha educação e me deixaram sempre seguir com os meus sonhos e

vontades, apoiando-me incondicionalmente nas minhas escolhas.

A vocês devo aquilo que sou!

AS MICROFAUNAS DO ABRIGO DA PENA D´ÁGUA (TORRES NOVAS):

PROPOSTA DE METODOLOGIA PARA O ESTUDO DE MICROFAUNAS EM

CONTEXTOS ARQUEOLÓGICOS

MARTINA SOFIA GONÇALVES MONTEIRO

RESUMO

PALAVRAS-CHAVE: Arqueologia; Neolítico Antigo; Ação Antrópica;

Micromamíferos; Espécies comensais (Mus).

O Abrigo da Pena d'Água localiza-se na freguesia da Chancelaria, concelho de

Torres Novas, distrito de Santarém. Trata-se de um abrigo sob rocha situado na base da

escarpa conhecida na região por Arrife da Serra d'Aire.

As escavações realizadas entre 1992 e 1997 permitiram constatar a existência de

ocupação humana no local durante todo o Neolítico e ocupações esporádicas desde o

Epipaleolítico até à Época Moderna (Carvalho, 1998).

Na presente dissertação são alvo de estudo os restos osteológicos

correspondentes aos micromamíferos recolhidos nos níveis de ocupação humana

datadas do Epipaleolítico e Neolítico Antigo. Pretende-se, através da sua análise e a

partir da metodologia de estudo aqui proposta, caracterizar a distribuição dos

micromamíferos identificados na área envolvente do Abrigo da Pena d'Água, tendo em

conta as alterações ambientais e ecológicas aqui ocorridas após a introdução da

agricultura no início do Neolítico Antigo e compreender o seu significado

paleoclimático. Foi possível constatar que a introdução da agricultura na área da Pena

d´Água teve como consequência a introdução de novas espécies de roedores,

nomeadamente Mus, e, a redistribuição de espécies de roedores já existentes,

nomeadamente Microtus cabrerae, devido as alterações causadas por esta prática no

meio natural.

ABSTRACT

KEYWORDS: Archaeology; Early Neolithic, Anthropic action; Small mammals;

Commensal species (Mus).

The Pena d’Água rock-shelter is located in the village of Chancelaria,

municipality of Torres Novas, district of Santarém. This archaeological site is situated

on an escarpment known as Arrife da Serra d'Aire.

Between 1992 and 1997 were carried out archaeological excavation that showed

evidence of occupation during the Neolithic and some sporadic occupations in the

Epipaleolithic to the Early Modern Period (Carvalho, 1998).

This master dissertation is about the study of osteological remains of small

mammals (micro-fauna) of the archaeological record of Epipaleolítico and Neolithic

occupations.

The principal aim is to characterize the micro-fauna distribution in this levels

and try to characterize and understand the ecological and environmental changes

resulting from the introduction of agriculture in the early Neolithic.

ÍNDICE

LISTA DE ABREVIATURAS

0. NOTAS INTRODUTÓRIAS ……………………………………….… Pág. 1

0.1. OBJETIVOS ………………..…………………………..…...……… Pág. 5

0.2. ESTADO DA ARTE ………………………..………...…..………… Pág. 7

CAPÍTULO I: O ABRIGO DA PENA D´ÁGUA E O SEU CONTEXTO

1. O sítio arqueológico …………………………………………………... Pág. 10

1.1. Contextualização geográfica ……………………………………...… Pag. 12

1.1.1. Implatação e exploração dos recursos animais …………………… Pág. 12

1.1.2. O coberto vegetal e as práticas agrícolas ……………………….… Pág. 15

1.2. Contextualização arqueológica …………………………..…………. Pág. 19

1.2.1. Crono-estratigrafia …………………………………..……………. Pág. 19

1.3. Contextualização cultural: a Neolitização ………………………….. Pág. 23

CAPÍTULO II: AS AMOSTRAS E AS MICROFAUNAS

2. Amostras estudadas ……………………………………………......….. Pág. 25

3. Metodologia de estudo …………………………………….………….. Pág. 27

4. Taxonomia ……………………………………………...…………….. Pág. 36

4.1. Sistemática ……………………………………………………..…… Pág. 38

4.1.1. Micromamíferos …………………….…………………………….. Pág. 38

4.1.1.1. Ordem Soricomorpha …………………………….…………...… Pág. 38

4.1.1.2. Ordem Rodentia ………………………...…………………….… Pág. 42

CAPÍTULO III: DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5. Processos deposicionais – Agentes tafonómicos ………….…........….. Pág. 62

6. Processos pós-deposicionais ……………………………………...…... Pág. 64

6.1. Estado das amostras ……………...…………………………………. Pág. 68

7. Distribuição espacial dos restos analisados ………………………..…. Pág. 70

8. Significado paleoecológico, paleoambiental e paleoclimático das espécies

identificadas durante o Epipaleolítico e o Neolítico Antigo ………………..…... Pág. 73

CONCLUSÃO ……………………………………………...…………… Pág. 78

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ……………....……………….…. Pág. 83

ANEXOS

ANEXO 1: TABELAS

LISTA DE ABREVIATURAS

LARC: Laboratório de Arqueociências

CSIC: Consejo Superior de Investigaciones Cientificas

RI: Restos Identificáveis

NI: Não Identificáveis

NMI: Número Mínimo de Indivíduos

NRD: Número de Restos Determinados

NRDa: Número de Restos Determinados anatomicamente

NRDt: Número de Restos Determinados taxonomicamente

ND: Não Determinados

NTR: Número Total de Restos

M1: Primeiro molar superior

M2: Segundo molar superior

M3: Terceiro molar superior

Pm4: Quarto pré-molar superior

M1: Primeiro molar inferior

M2: Segundo molar inferior

M3: Terceiro molar inferior

Pm4: Quarto pré-molar inferior

1

0. NOTAS INTRODUTÓRIAS

O Abrigo da Pena d'Água (Torres Novas) é um sítio arqueológico de grande

importância para o conhecimento do período Neolítico da Estremadura e do atual

território português, na medida em que é o único contexto que preserva uma

estratigrafia que apresenta uma sequência crono-cultural extensa e uma boa conservação

dos restos materiais e orgânicos exumados (Carvalho, 1998). Constitui, assim, o único

sítio arqueológico conhecido até ao momento em Portugal detentor de uma sequência

estratigráfica contínua desde o Neolítico Antigo Cardial até ao Neolítico Final e, o único

identificado na vertente Atlântica Ocidental que permitiu reconhecer indicadores

indiretos da ocorrência de práticas agrícolas e pastoris durante o Neolítico Antigo

(Carvalho 2003b e 2008, Póvoas, 1998; Figueiral, 1998; Valente, 1998). O sítio revelou

ainda uma sequência sedimentar Holocénica com aspetos interessantes para o estudo da

evolução das associações microfaunísticas, e sobretudo de micromamíferos, durante o

período de transição entre o final do Epipaleolítico e o início do Neolítico Antigo

(Póvoas, 1998).

É do ponto de vista zooarqueológico que esta dissertação se insere no estudo do

sítio arqueológico do Abrigo da Pena d'Água, tendo como objeto os restos osteológicos

microfaunísticos recuperados nos níveis estratigráficos correspondentes às ocupações do

Epipaleolítico e do Neolítico Antigo.

A Zooarqueologia, surge como disciplina auxiliar da Arqueologia durante os

anos 40 do século XX como consequência da aplicação de conceitos como

“funcionalismo” e “contexto” à Arqueologia e beneficia do novo entendimento do

comportamento humano que surge neste período, não apenas meramente artefatualista,

mas sobretudo de compreensão da adaptação do Homem ao meio ambiente e animal,

pondo em destaque o papel que os animais desempenharam nesta adaptação (Reitz &

Wing, 1999). Mas é durante o surgimento da Nova Arqueologia que esta disciplina se

desenvolve, assumindo um papel determinante na compreensão da formação de

contextos faunísticos em sítios arqueológicos, adquirindo uma perspetiva sobretudo

tafonómica (Reitz & Wing, 1999). Neste contexto surgem dois conceitos com objetivos

distintos no estudo de faunas provenientes de contextos arqueológicos: a

Zooarqueologia, que se dedica ao estudo de restos osteológicos animais de proveniência

2

arqueológica no sentido de reter informação de tipo antropológico (comportamento do

Homem) e a Arqueozoologia, que dá prioridade à componente biológica dos restos

osteológicos com a finalidade de estudar a evolução das espécies representadas através

dos elementos osteológicos fósseis (Reitz & Wing, 1999). Neste sentido ao longo desta

dissertação optamos pelo termo Zooarqueologia.

A Zooarqueologia como área de investigação que se dedica ao estudo dos restos

osteológicos de origem animal provenientes de contextos arqueológicos (Moreno-

García et al, 2003), aborda diferentes tipos e dimensões de restos faunísticos, para o

trabalho em questão, tratando-se de um estudo microfaunístico, são apenas abordados os

restos faunísticos de menores dimensões, denominados de microfaunas.

Embora esta dissertação se dedique à criação de uma metodologia de estudo de

restos osteológicos de microfaunas provenientes de contextos arqueológicos, importa

clarificar que apenas foram alvo de estudo os restos odontológicos, mandíbulas e

maxilares com dentes inclusos, por serem aqueles que se encontram em maior

abundância nas amostras estudadas e por constituírem restos diagnósticos a nível

taxonómico, de espécies de micromamíferos e dentro deste grupo as correspondentes às

Ordens Rodentia (roedores) e Soricomorpha (insectívoros), por serem as únicas que se

encontravam representadas nas amostras analisadas.

Todavia, estas duas Ordens de micromamíferos integram um conjunto de

espécies, que pelas suas características adaptativas a diferentes biótopos e habitats, nos

permitem reconhecer eventuais alterações ambientais registadas ao longo da sequência

cronológica aqui estudada, tivessem sido elas de origem natural ou provocadas pela

ação antrópica devido ao desenvolvimento da agricultura e da pastorícia na área em

redor do abrigo.

Após esta nota há a necessidade de esclarecer algumas noções básicas dos

grupos abordados, nomeadamente microvertebrados e micromamíferos.

O grupo dos microvertebrados engloba todos os animais vertebrados de menores

dimensões. Estes distribuem-se pelas Classes: Amphibia (anfíbios), que compreende as

Ordens Anura (sapos e rãs) e Caudata (salamandras e tritões) (Ferrand de Almeida,

2001); Reptilia (répteis), que, neste contexto, incluí as espécies de menor dimensão

distribuídas pela Ordem Squamata – Famílias Emydidade e Bataguridae (cágados),

Amphisbaenidae (cobra-cega), Gekkonidade (osgas), Lacertidae (lagartos e lagartixas),

3

Anguidae (licranço ou cobra-de-vidro), Chamaleonidae (camaleão), Scincidadae

(cobras-de-pernas) e Colubridae (serpentes) (Barbadillho, 1999); Aves, considerando as

aves pertencentes às espécies de menores dimensões que, no essencial estão

concentradas na Ordem Passeriformes (excluindo algumas espécies de corvídeos); e

Mammalia, representada pelas espécies que integram os Mamíferos de menores

dimensões denominados de micromamíferos, que incluem as Ordens Soricomorpha

(insectívoros) (Gállego & López, 1982), Chiroptera (morcegos) (Sevilha, 1986),

Rodentia (roedores) (Mitchell-Jones et al 1999; Gállego & Alamany, 1985) e algumas

espécies pertencentes à Ordem Carnívora, tais como pequenos Mustelídeos (doninha e

arminho).

Embora o termo "micromamíferos" não possua valor taxonómico, este é

amplamente utilizado na literatura científica deste tipo para mencionar os Mamíferos

pretendentes às Ordens, Famílias e Géneros em que a maioria das espécies possui uma

dimensão reduzida. Esta denominação geralmente inclui insectívoros, morcegos e

roedores, embora algumas espécies de roedores de maior dimensão como o castor, a

marmota e o ouriço-cacheiro não estejam incluídos neste grupo (López-García, 2008,

pp. 119). O mesmo sucede com os Lagomorfos (coelhos e lebres).

O estudo dos restos osteológicos de micromamíferos provenientes de contextos

arqueológicos é imprescindível para a caracterização ambiental, climática e ecológica

de assentamentos arqueológicos, sobretudo de períodos mais recuados. Constituem-se

como óptimos indicadores paleoecológicos, paleoambientais e paleoclimáticos, por

serem organismos bastante sensíveis à alteração de fatores como a temperatura, a

humidade e do coberto vegetal (Sése, 2011). Devido ao seu reduzido tamanho, altas

taxas de reprodução e baixa mobilidade são altamente sensíveis a mudanças climáticas,

ambientais e ecológicas, permitindo compreender estas variações ao longo do tempo

num determinado sítio arqueológico (Chaline, 1972). Por último, em contextos

sedimentares antigos, estes são ainda indicadores bioestratigráficos muito precisos,

sobretudo no caso roedores, permitindo estabelecer uma cronologia relativa para os

depósitos onde se encontram (Chaline, 1972).

A partir do seu estudo é ainda possível retirar conclusões relacionadas com a

ação antrópica. A existência e/ou ausência ou a diminuição drástica da representação de

determinados microvertebrados num contexto arqueológico, poderá estar diretamente

relacionada com a ação antrópica ocorrida nesse local.

4

A intervenção humana no meio natural, sobretudo a partir do desenvolvimento

da agricultura e da pastorícia, teve profundas implicações na paisagem, originando

variações na distribuição espacial das comunidades de micromamíferos (Mateus et al,

2002). A introdução da agricultura, tal como o desenvolvimento das rotas comerciais,

traduziram-se numa sucessão de introduções involuntárias de microvertebrados que, no

caso dos roedores, teve consequências profundas, quer ao nível da competição

estabelecida com as espécies autóctones, quer da relação oportunista/comensal das

atividades humanas. O ratinho-doméstico (Mus domesticus), o rato-preto (Rattus rattus)

e a ratazana-castanha (Rattus norvegicus), são exemplos disso (Mateus et al, 2002).

Neste sentido a Zooarqueologia assume um papel incontornável para o

conhecimento do passado zoogeográfico dos animais.

Por último, tendo em conta que o estudo microfaunístico é um processo bastante

complexo, quer pela diversidade de Taxones existentes, quer devido às alterações

morfológicas sofridas pelos mesmos ao longo do tempo, a Zooarqueologia, necessita

recorrer a análises cada vez mais aprofundadas nos diferentes ramos das Ciências

Naturais (Biologia, Ecologia, Genética, etc.). É no conhecimento da Biologia e dos

requisitos ecológicos das espécies atuais que residem bases imprescindíveis para

interpretar os vestígios que nos chegam do passado (Cabral, 2005; Palomo & Gisbert,

2007).

5

0.1. OBJETIVOS

A seguinte dissertação de mestrado tem como objetivo principal propor uma

metodologia para o estudo de restos osteológicos de microfaunas provenientes de

contextos arqueológicos.

Através desta proposta metodológica e a partir da identificação das espécies

existentes nas amostras sedimentares analisadas, pretende-se caracterizar as associações

de micromamíferos (roedores e insectívoros) provenientes dos níveis do Epipaleolítico e

Neolítico Antigo do Abrigo da Pena d'Água. Desta forma aspira-se igualmente perceber

se os taxones identificados correspondem a um tipo de zona biótica específica e, deste

modo chegar à compreensão do seu significado paleoecológico, paleoclimático e

paleoambiental, e caracterizar a sua distribuição na área envolvente ao Abrigo da Pena

d'Água, verificando se o aparecimento/desaparecimento de determinadas espécies de

micromamíferos se prende com alterações climáticas e/ou ambientais, com a existência

de pressão antrópica ou devido a relações de competição com outros micromamíferos.

Os micromamíferos sendo animais muito sensíveis a condições meteorológicas

precisas, a ocorrência de alterações climáticas força-os a migrar para outras áreas.

Devido às suas necessidades energéticas e fisiológicas concertas, à grande diversidade

de espécies existentes, que se traduzem em relações complexas de competição, possuem

faixas geográficas de distribuição muito limitadas, habitando biótopos específicos. Estas

características fazem com que este grupo de animais seja uma ferramenta muito útil no

momento de aferir características climáticas e de vegetação dos depósitos arqueológicos

em que aparecem (López-García, 2008, pp. 119).

Por último, pretende-se identificar e compreender os processos deposicionais –

agentes tafonómicos – e pós-deposicionais – agentes diagénicos – que originaram a

acumulação destes restos osteológicos no Abrigo d'Água e condicionaram a sua

preservação desde a sua deposição até à sua recuperação.

A Tafonomia é a ciência que reconstitui os fenómenos que afetaram os restos

esqueléticos animais desde a sua morte, quando este ainda se encontra na biosfera, até à

recuperação do elemento osteológico durante o processo de escavação, ou seja, depois

da sua incorporação na litosfera (Lyman, 2001; Valente, 2000; Moreno García et al,

2003)

6

São vários os fatores tafonómicos que condicionam a conservação dos restos

osteológicos em contextos arqueológicos. Existem fatores de origem natural, animal e

antrópica (Lyman, 2001). Concretamente no que diz respeito às microfaunas os mais

relevantes são os de origem natural, nomeadamente, a acidez dos solos (PH), as

alterações de temperatura e a presença ou ausência de humidade.

A caracterização dos agentes tafonómicos que estiveram na origem da

acumulação destes restos osteológicos será possível através da identificação de marcas

registadas sobretudo nos restos odontológicos, relacionadas com processos de desgaste

(desgaste do esmalte dos dentes devido ao longo período de uso) ou de digestão

(causadas pelos líquidos gástricos existentes no estômago que permitem a digestão dos

alimentos ingeridos). Desta forma, esta acumulação em traços gerais pode ser resultado

da desagregação de dejetos/ regurgitações de predadores que frequentaram o local como

abrigo (Pecharromán, 1993) e/ ou originada pela morte de forma natural de animais que

utilizaram este espaço para o mesmo fim.

Existem diferentes tipos de predadores que incluem micromamíferos na sua

dieta, nomeadamente aves de rapina noturnas e diurnas e pequenos e médios carnívoros,

e que em função do tipo de ingestão e digestão das suas presas, podem ser responsáveis

pela formação de acumulações fósseis de restos destes animais, nomeadamente em

contextos de gruta e de abrigo sob rocha (Andrews, 1990). As aves de rapina noturnas

(sobretudo corujas) são as principais responsáveis por este tipo de acumulações. Devido

ao seu processo de ingestão e digestão (ingestão das suas presas inteiras e posterior

expulsão das partes não digestíveis do seu organismo através de regurgitações) levam à

acumulação de esqueletos na maioria dos casos completos, pelo contrário os pequenos

carnívoros, por possuírem um processo de ingestão e digestão muito destrutivos em

relação aos restantes predadores de micromamíferos, são responsáveis por uma fraca

acumulação de restos osteológicos, que na maioria dos casos possuem um elevado grau

de digestão (López-García, 2008, pp. 119).

As acumulações de restos osteológicos em contextos arqueológicos podem

ainda, embora seja menos frequentemente, ser resultado de armadilhas naturais (onde os

animais morrem de forma natural) (Pimenta et al, 2015) e em raríssimos casos da ação

antrópica (Andrews, 1990).

7

0.2. ESTADO DA ARTE

O Abrigo da Pena d'Água, foi alvo de escavações arqueológicas entre os anos de

1992 e 2000, sob a coordenação do arqueólogo António Faustino de Carvalho,

atualmente docente na Universidade do Algarve.

Os resultados das escavações decorridas entre 1992 e 1997 foram publicados

pelo arqueólogo responsável em 1998 na Revista Portuguesa de Arqueologia (Carvalho,

1998). Neste número foram também publicados outros artigos que abordaram os

resultados de diversos estudos realizados a artefactos e ecofactos recolhidos neste sítio,

nomeadamente cerâmicas2, restos vegetais3, restos macrofaunísticos4 e microfaunístico5.

Após a publicação dos resultados das escavações de 1992-1997, foi publicado um artigo

referente ao estudo das cerâmicas estampilhadas da Idade do Ferro descobertas nos

níveis arqueológicosdo abrigo.6 Por último em 2012, foi publicado o estudo

geoarqueológico do abrigo.7

Apesar do significativo desenvolvimento que a investigação na área da

Zooarqueologia de um modo geral tem conhecido na última década em Portugal,

sobretudo desde a criação do LARC e das suas coleções osteológicas de referência

(Moreno-García et al, 2003), no que diz respeito concretamente ao estudo de restos

microfaunísticos provenientes de contextos arqueológicos, apesar desta arqueociência

2 FERREIRA, Maria Mulize Neves (1998) – “As cerâmicas medievais/modernas do Abrigo da Pena

d'Água (Torres Novas).” Revista Portuguesa de Arqueologia, vol.1, nº2, pp. 97-106.

3 FIGUEIRAL, Isabel (1998) – “Abrigo da Pena d'Água (Torres Novas): a contribuição da antracologia.”

Revista Portuguesa de Arqueologia, vol.1, nº2, pp. 73-80.

4 VALENTE, Maria João (1998) – “Análise preliminar da fauna mamalógica do Abrigo da Pena d'Água

(Torres Novas): campanhas de 1992-1994.” Revista Portuguesa de Arqueologia, vol.1, nº2, pp. 85-96.

5 PÓVOAS, Liliana (1998) – “Faunas de Micromamíferos do Abrigo da Pena d'Água (Torres Novas) e o

seu significado paleoecológico: considerações preliminares.” Revista Portuguesa de Arqueologia, vol.1,

nº2, pp. 81-84.

6 CRAVALHO, António Faustino de (1998) – “Cerâmica estampilhada do Abrigo da Pena d'Água

(Torres Novas): contexto, cronologia e breve enquadramento regional.” In BERNARDES, J. P, org – Sic

memorat. Estudos em homenagem a Teresa Júdice Gamito. Pp. 53-68.

7 SIMÕES, Carlos (2012) – “Estudio geoarqueológico del Abrigo da Pena d'Água (Torres Novas,

Portugal) en el contexto de la Neolitizaciôn de la vertiente atlântica meridional peninsular.” Revista

Estudios de Cuarternario, nº2, pp. 49-69.

8

ser já recorrente em vários países, nomeadamente em Espanha (para uma síntese geral

ver López-García, 2008) e em França (para uma síntese geral ver Chaline, 1972), em

Portugal encontra-se pouco desenvolvida. O fraco incremento de estudos

microfaunísticos em Portugal poderá relacionar-se sobretudo com razões de recolha, por

não se encontrar ainda implementada na maioria das escavações arqueológicas a recolha

de amostras de sedimento para crivagem com água, único meio de recolha de restos

osteológicos de dimensões tão reduzidas.

Até ao presente foram alvo de estudo microfaunístico apenas um número

muitíssimo reduzido de sítios arqueológicos em Portugal. Estes têm sido realizados

sobretudo em contextos arqueológicos de épocas mais recuadas, essencialmente com

ocupações Pré-históricas localizadas em contextos de grutas.

Estes estudos revelaram-se essenciais para a compreensão e caracterização

destes sítios arqueológicos, uma vez que permitiram retirar conclusões relacionadas

com o tipo de ecologia e coberto vegetal existentes e, mais importante, permitiram

através de dados indiretos concluir o tipo de economia aí desenvolvida.

Tendo em conta o facto deste trabalho se dedicar apenas ao estudo de restos de

micromamíferos, abaixo é apresentada uma síntese dos sítios arqueológicos portugueses

nos quais foram analisados restos faunísticos de associações de micromamíferos:

Castro do Zambujal – Torres Vedras – (Storch & Uerpmann, 1976);

Abrigo do Algueirão de Goldra – Loulé – (Antunes et al, 1986; Póvoas et al,

1993; Póvoas, 2001);

Gruta do Caldeirão – Tomar – (Antunes, 1989; Póvoas et al, 1992; Póvoas,

2001);

Castro de Leceia – Oeiras – (Cardoso et al, 1996);

Cidadela Medieval de Mértola – Mértola – (Morales, 1997);

Pena d'Água – Torres Novas – (Póvoas, 1998);

Gruta da Figueira Brava – Setúbal – (Jeannet, 2000);

Abrigo do Lagar Velho – Lapedo – (Moreno-García et al, 2002);

Gruta da Furninha – Peniche – (Brugalet al, 2012);

Bom Santo – Alenquer – (Pimenta, 2013).

Procuro, assim, com este trabalho contribuir de algum modo para o

desenvolvimento do estudo de microfaunas provenientes de contextos arqueológicos, e,

9

acrescentar informação à que foi dada a conhecer por Liliana Póvoas (Póvoas, 1998),

para o caso concreto do Abrigo da Pena d'Água.

10

CAPÍTULO I: O ABRIGO DA PENA D'ÁGUA

1. O sítio arqueológico

O Abrigo da Pena d'Água

localiza-se na zona centro-oeste de

Portugal, na localidade da Rexaldia,

pertencente à freguesia de

Chancelaria, concelho de Torres

Novas e distrito de Santarém.

Trata-se de um abrigo sob

rocha, situado a 120 metros acima do

nível médio das águas do mar, na base

da escarpa de falha, com cerca 30

metros de altura, que separa as serras

do Maciço Calcário Estremenho da

Bacia Terciária do Tejo. Este ponto da

escarpa, conhecida na região por

Arrife da Serra d'Aire, é designado

por Pena d'Água por existirem neste

local pequenas exsurgências

(Carvalho, 1998, pp. 41).

O sítio arqueológico foi descoberto em 1992, aquando da deslocação ao local de

membros da Sociedade Torrejana de Espeleologia e Arqueologia (S.T.E.A) com o

intuito de levar a cabo trabalhos de desobstrução de algumas exsurgências visíveis na

parede do Arrife, e, desse modo verificar a possibilidade de exploração espeleológica

dessas cavidades. O surgimento de fragmentos de cerâmica pré-histórica e de pedra

lascada na terra removida pela retroescavadora utilizada na desobstrução das fissuras,

revelaram a presença de um depósito arqueológico, posteriormente reconhecido pelo

arqueólogo Dr. João Zilhão (Carvalho, 1998, pp. 42).

A observação dos cortes efetuados pela máquina permitiu verificar a ocorrência

de vestígios arqueológicos, resultantes da ocupação humana no local, até uma

profundidade de cerca de 5 metros (Figura 1). Tendo em conta que a área destruída pela

Mapa 1: localização do concelho de Torres Novas

no mapa de Portugal e da freguesia de Chancelaria e

da localidade de Rexaldia no concelho de Torres

Novas (Fonte: pt.wikipedia.org)

11

máquina retroescavadora se localiza na extremidade oriental do abrigo, pode considerar-

se que apenas uma pequena fração do sítio arqueológico foi afetada por esta (Carvalho,

1998, pp. 42).

Figura 1: topografia do Abrigo da Pena d'Água – levantamento realizado pela S.T.E.A em 1992

(Carvalho, 1998,pp. 42).

12

1.1. Contextualização Geográfica

1.1.1. Implantação e exploração dos recursos animais

O ponto da escarpa do Arrife da Serra d'Aire (Figura 2) onde se localiza o

Abrigo da Pena d'Água, contorna a Serra d'Aire ao longo da sua vertente virada ao Tejo,

estendendo-se desde Ourém, a Norte, até Rio Maior, a sul. Possui uma topografia muito

irregular, apresentando como ponto mais elevado o próprio cume da Serra d'Aire,

erguido a 679 metros de altura (Araújo & Zilhão, 1991).

Vis ta

Figura 2: vista do Arrife a partir da planície existente abaixo do Abrigo da Pena d´Água (Fotografia da

autoria de A. F. Carvalho).

No que concerne à implantação na paisagem, o Abrigo da Pena d'Água encontra-

se numa posição de charneira, entre o maciço calcário e o rebordo ocidental da Bacia

Terciária do Tejo. Devido à sua localização entre estas duas realidades geologicamente

distintas, o abrigo integra-se, tal como todo o Arrife, num contexto de ecótono

(Carvalho, 2003a, pp. 137). Se por um lado, o abrigo é sobranceiro à planície do Tejo e

reúne um conjunto de condições favoráveis ao desenvolvimento da agricultura, como a

existência de solos irrigados, devido à proximidade a um dos principais afluentes do Rio

13

Almóada, a Ribeira do Alvorão, por outro lado, é detentor de um bom domínio visual

para Leste e Sul e localiza-se junto a bons acessos naturais à Serra d'Aire, que

facilitavam a existência de pastoreio (Figura 3).

Figura 3: vista para o Vale do Alvorão (Fotografia da autoria de A. F. Carvalho).

Ainda que o abrigo ocupado pelo Homem durante o Neolítico seja atualmente

quase irreconhecível (Figura 4), devido ao derrube da sua pala original, como é possível

constatar nas suas imediações, onde são ainda visíveis grandes blocos de calcário

resultantes da sua queda, a escolha deste local como abrigo prende-se sobretudo com a

existência deste contexto de ecótono, que tornava possível a exploração simultânea dos

recursos espontâneos pelas populações neolíticas e o desenvolvimento da agricultura e

da pastorícia. Localizado junto de solos aráveis e densamente irrigados que permitiam o

desenvolvimento de uma agricultura primitiva nas terras baixas, e próximo da serra que

possibilitava a ocorrência da atividade pastoril nas áreas montanhosas do maciço

(Carvalho, 1998, pp. 43).

14

Figura 4: à esquerda vista da área em escavação desde 1992; à direita vista atual (2014) da área escavada

(Fotografia da autoria de A. F. Carvalho).

A existência de uma economia assente na exploração simultânea de recursos

domésticos e recursos selvagens é comprovada pelo estudo da fauna mamalógica. Ainda

que as principais espécies identificadas para os níveis do Neolítico tenham sido a cabra

e a ovelha domésticas, foram também identificados, embora em menor número, restos

osteológicos pertencentes a animais selvagens, nomeadamente javali e veado (Valente,

1998, pp. 85).

É de salientar, por um lado, o facto de terem sido identificados restos

osteológicos de ovelha e cabra doméstica em todos os níveis do Neolítico, o que

demonstra que a primeira exploração pastoril na Serra d'Aire ocorreu desde o início do

Neolítico Antigo, e por outro lado, o facto de restos osteológicos de veado se

encontrarem também associados a todos os níveis do Neolítico, revelando que a caça

detinha um papel importante na economia neolítica, funcionando como complemento à

pastorícia, embora esta predominasse sobre a caça (Quadro 1) (Valente, 1998, pp. 85;

90).

15

Quadro 1: número de Restos por Taxa identificados em cada uma das camadas arqueológicas escavadas

no Abrigo da Pena d´Água (Valente, 1998, pp. 95).

1.1.2. O coberto vegetal e as práticas agrícolas

A zona onde se insere o Abrigo da Pena d'Água integra-se na zona ecológica

Atlanto-mediterrânea/ Sub-mediterrânea, tendo como principais espécies arbóreas

espontâneas o zambujeiro, o pinheiro bravo, o pinheiro manso, o carvalho e o sobreiro

(Araújo & Zilhão, 1991).

No que concerne ao coberto vegetal espontâneo atualmente existente na área em

torno do abrigo, este é composto sobretudo por espécies rasteiras e arbustivas,

registando-se escassos casos de árvores de grande porte. No que diz respeito à

arboricultura local, esta consiste sobretudo na exploração de laranjeiras e oliveiras,

culturas típicas de zonas de clima mediterrâneo.

A partir do estudo antracológico realizado aos carvões recolhidos durante os

trabalhos arqueológicos desenvolvidos no Abrigo da Pena d'Água, foi possível constatar

que a paisagem envolvente seria, já no Neolítico Antigo, de tipo mediterrâneo, sendo o

coberto vegetal composto sobretudo pela variedade brava da oliveira, o zambujeiro. De

facto foi possível constatar que já durante o Epipaleolítico ou Paleolítico Superior Final,

o coberto vegetal seria de tipo mediterrâneo, uma vez que os resultados verificados para

16

as camadas F e E são em traços gerais muito semelhantes (Quadro 2) (Figueiral, 1998,

pp. 74).

Quadro 2: espécies identificadas a partir dos carvões recolhidos nas camadas arqueológicas datadas do

Epipaleolítico (a cima) e do Neolítico Antigo (a baixo) (Figueiral, 1998, pp. 77).

Através da análise realizada aos 1294 fragmentos de carvões recolhidos nas

camadas arqueológicas B, D, E e F, verificou-se que das 22 espécies identificadas, a

espécie que se destaca por ser aquela que domina em todas as camadas arqueológicas é,

como já referido acima, a Olea europeia (zambujeiro), com percentagens que oscilam

entre os 55% e os 90%, o que evidencia a larga predominância de uma composição

vegetal de tipo mediterrâneo (Figueiral, 1998, pp. 73). Das restantes espécies

identificadas, apenas o Rhamnusalaternus/ Phillyrea sp. (aderno/ lentisco bastardo),

espécie habitual em compostos vegetais da região mediterrânica, é comum a todas as

camadas arqueológicas (Figueiral, 1998, pp. 74)

Os resultados mostram a existência de um espetro vegetal dominantemente de

carácter esclerófilo, adaptável a longos períodos de seca e calor. Apenas foi identificada

17

uma espécie arbórea associada a cobertos vegetais típicos de zonas húmidas, o Fraxinus

excelsior (freixo) (Figueiral, 1998, pp. 75).

É ainda de salientar a identificação de espécies arbustivas, como o medronheiro,

as urzes, as cistáceas e algumas leguminosas (giestas) que testemunham a existência de

áreas de matagal, como as ainda hoje registadas em torno do Abrigo da Pena d'Água, e a

total ausência de carvões pertencentes a pinheiros em todas as camadas arqueológicas, o

que poderá estar relacionado com o declínio dos pinhais durante o Holocénico Médio

devido à expansão da vegetação de carácter esclerófilo, e, muito provavelmente com a

intensificação das atividades humanas a partir do Neolítico, que terão levado à

desflorestação dos pinhais da Estremadura e à expansão do zambujeiro (Figueiral, 1998,

pp. 75 e 76).

A existência de um coberto vegetal de tipo mediterrâneo na área envolvente do

Abrigo da Pena d'Água é também comprovada pelos resultados obtidos do estudo

preliminar realizado a uma fração de restos microfaunísticos provenientes deste sítio

arqueológico (Póvoas, 1998).

Segundo o estudo realizado, os micromamíferos identificados nas amostras

sedimentares recolhidas no Abrigo da Pena d'Água estão representados por cinco

espécies de roedores, dos quais os géneros Apodemus e Mus são os mais frequentes. A

predominância dos murídeos (Apodemus sylvaticus e Mus) face aos arvicolídeos

(Microtus), é característica das regiões de clima e coberto vegetal de tipo mediterrâneo

(Póvoas, 1998, pp. 81).

A predominância dos murídeos permite-nos retirar duas conclusões

determinantes na caracterização da área envolvente ao abrigo: se por um lado o domínio

de Apodemus silvaticus em todas as camadas arqueológicas, a par da percentagem

constante de Eliomys quercinus, são observações que demonstram a existência de

manchas de bosque onde estas espécies encontram os biótopos favoráveis ao seu

desenvolvimento, por outro lado, a presença de Mus, nomeadamente de Mus spretus e

Mus musculus, espécies associadas à expansão da agricultura, a partir da camada Ea,

demonstra a consolidação da neolitização nesta área a partir do Neolítico Antigo

Evoluído (Póvoas, 1998, pp. 83). A presença de ambas as espécies a partir da camada

Ea indica igualmente que a instalação da paisagem agrícola que sustenta a sua

existência terá sido um processo com início numa etapa anterior, o que por seu lado

permite deduzir a existência de práticas agrícolas pelo menos a partir das ocupações

18

humanas registadas na camada Eb-topo, subjacente àquela. Note-se, porém, que embora

a campanha de 1995 tenha sido integralmente consignada à recolha de elementos

carpológicos (através da escavação de um setor neolítico antigo e sua crivagem

sistemática a água), não foi possível até ao momento identificar indicadores diretos de

agricultura neolítica (isto é, sementes de leguminosas ou cereais domésticos).

Por último, a identificação de insectívoros, representados sobretudo pelo género

Crocidura, evidencia a existência de áreas detentoras de biótopos secos de cobertura

vegetal arbustiva, de tipo matagal, habitat onde este Género se desenvolve, e, a baixa

percentagem de Microtus indica uma reduzida extensão das áreas de solos húmidos que

estes arvicolídeos escavam (Póvoas, 1998. pp. 83).

A ocorrência maioritariamente de áreas de bosques é também confirmada pelo

estudo realizado aos restos de mesofauna e de macrofauna recolhidos dos mesmos

níveis arqueológicos da Pena d'Água, o qual, entre outros pontos, revelou uma elevada

ocorrência de javali (Sus scrofa) e veado (Cervus elaphus), no que concerne aos animais

selvagens (Valente, 1998). Ambas as espécies desenvolvem-se preferencialmente em

ambientes de bosque com clareiras, como o registado antracologicamente na área

envolvente do Abrigo da Pena d'Água.

Em suma, as conclusões retiradas dos estudos faunísticos vêm ao encontro dos

resultados verificados pelo estudo antracológico, comprovando a existência na área em

torno do abrigo de áreas arborizadas alternadas por cobertos arbustivos e por clareiras

desflorestadas, e em suma a dominância de um espetro vegetal de carácter esclerófilo

em detrimento dos cobertos vegetais mais húmidos (Figueiral, 1998), o que de um modo

geral está de acordo com as características bioclimáticas típicas do Holoceno Médio.

19

1.2. Contextualização arqueológica

1.2.1. Crono-estratigrafia

As oito campanhas arqueológicas levadas a cabo no local do Abrigo da Pena

d'Água, entre os anos de 1992 e 2000, permitiram constatar a existência de uma

sequência sedimentar com 2 m de potência estratigráfica incorporando vestígios de

ocupação humana datáveis desde o Epipaleolítico, nos níveis mais antigos (camada F),

até à Época Moderna, nos níveis mais recentes (camada A) (para uma síntese, ver

Carvalho, 1998).

Ao longo dos trabalhos arqueológicos foram exumados artefactos que apontam

para ocupações humanas contínuas durante todo o período do Neolítico, ocupações

esporádicas durante o Epipaleolítico, a Idade do Ferro e a Época Romana, e para

ocupações muito efémeras durante a Época Medieval e Moderna.

Neste contexto foi possível identificar seis camadas estratigráficas distintas,

onde são visíveis os vários momentos de ocupação do abrigo:

Camada A

Corresponde ao nível de derrube da pala do abrigo. É sobretudo constituída

por grandes blocos de pedra, sendo os artefactos muito raros, registando-se apenas

alguns fragmentos de cerâmica de Época Medieval e Moderna, relacionados com

ocupações humanas muito efémeras, talvez resultantes da passagem de pastores ou

caçadores pelo local após o derrube da pala do abrigo (Ferreira, 1998, pp. 97;106), e

escassos restos osteológicos de microfaunas e de macrofauna recente, com deposição

de origem antrópica, tendo em conta a marcas de corte e sinais de classificação que

apresentam (Carvalho, 1998, pp. 48).

Camada B

Corresponde sobretudo ao nível de ocupação do Neolítico Final, embora

ocorram também escassos fragmentos cerâmicos datados da Idade do Ferro e da

Época Romana (designadamente integrados numa lareira datada do início da Era

cristã), o que poderá significar que o topo desta camada serviu de superfície deste

depósito arqueológico durante pelo menos 3 mil anos, desde finais do Neolítico até ao

colapso da pala do abrigo no início da Época Romana. Este nível é caracterizado pela

20

ocorrência sobretudo de cerâmica lisa carenada com esféricos mamilares de pastas

vermelhas, vasos esféricos e hemisféricos e cerâmica estampilhada, no que concerne

as ocupações datadas da Idade do Ferro (Carvalho, 2008, pp.13-14). No que concerne

aos utensílios líticos, há no Neolítico Final uma preferência pela utilização de rochas

locais – quartzo e quartzito – para a produção de utensílios simples em lascas, e de

sílex apenas na produção de lâminas e pontas de seta. Esta camada é datável dos

finais do IV milénio BC, a julgar pelos paralelos obtidos noutros contextos

estremenhos (Carvalho, 1998, pp. 48; 62).

Camada C

Corresponde ao episódio de transição entre o Neolítico Final e o Neolítico

Médio, tendo em conta a ausência dos líticos registados na camada B e a menor

frequência de vasos carenados. Registam-se ainda escassos fragmentos intrusivos de

vasos da Idade do Ferro (Carvalho, 1998, pp. 49).

Camada D

Corresponde ao nível de ocupação do Neolítico Médio. Esta camada encontra-

se subdividida na camada Da, que corresponde ao Neolítico Médio Final, e Db, que

por sua vez corresponde ao Neolítico Médio Inicial. É de notar o reduzido número de

vasos decorados, apresentando como técnica decorativa predominante a incisão,

sobretudo na camada Db, predominando a cerâmica lisa com formas geométricas

simples não carenadas. No que diz respeito aos utensílios líticos em pedra lascada,

são sobretudo utilizas matérias-primas locais — quartzo e quartzito. O sílex apenas é

utilizado para a debitagem de lamelas. Estão ainda presentes micrólitos geométricos.

Datável da 1ª metade do IV milénio BC. (Carvalho, 1998, pp.49; 64).

Camada E

Corresponde ao nível de ocupação do Neolítico Antigo. Encontra-se também

subdividida em camada Ea e camada Eb-topo, ambas correspondentes ao Neolítico

Antigo Evoluído, e na camada Eb-base, correspondente ao Neolítico Antigo Cardial.

As camadas Ea e Eb-topo são caracterizadas pela ocorrência de cerâmica com

decoração impressa e incisa sob o bordo e por utensílios líticos muito semelhantes, no

que concerne à tipologia e técnicas de talhe, com os registados para as ocupações do

21

Neolítico Médio, enquanto que a base da camada Eb-topo é caracterizada pela

ocorrência sobretudo de cerâmica de tipo cardial e por um elevado número de

utensílios em sílex, o maior registado em toda a sequência estratigráfica. Deste

conjunto de realidades estratigráficas há diversas datações de radiocarbono realizadas

sobre carvões, a mais antiga das quais de 6390 ± 150 BP correspondente ao Neolítico

Antigo Cardial (Carvalho, 1998, pp. 49; 67; 70).

Camada F

Corresponde aos níveis de ocupação do Epipaleolítico. Destaca-se a indústria

lítica sobre lascas, algumas lâminas em sílex e a utensilagem macrolítica. Datada por

datação absoluta de 7370 ± 110 BP (Carvalho, 1998, pp. 49; 71).

Os trabalhos arqueológicos desenvolvidos no Abrigo da Pena d'Água revelaram

ser de grande importância para o conhecimento do Neolítico em Portugal, uma que vez

permitiram a elaboração de um primeiro modelo crono-estratigráfico deste período na

Estremadura portuguesa, devido à grande sequência sedimentar escavada e ao elevado

grau de conservação dos artefactos e ecofactos exumados.

Na sequência deste modelo crono-estratigráfico, e tendo em conta a

interpretação realizada por Carvalho (1998), é possível verificar a existência de cinco

fases de deposição de sedimentos, que correspondem a três tramos distintos:

o tramo superior, que corresponde à queda da pala do abrigo (camada A),

e ao qual não está associada nenhuma ocupação contínua;

o tramo intermédio, que corresponde as ocupações contínuas registadas

no abrigo (da camada B à camada E), mais bem conservadas no registo estratigráfico

devido à abundância de artefactos e à acelerada e crescente deposição de sedimentos

registada durante o Neolítico;

o tramo inferior que corresponde à primeira ocupação humana do abrigo

(camada F) que subjaz aos blocos depositados aquando o primeiro episódio de

abatimento da pala do mesmo.

22

Modelo crono-estratigráfico:

Fase 1

Corresponde à camada F e à ocupação datada do Epipaleolítico.

Fase 2

Marcada pelo surgimento da 1ª descontinuidade estratigráfica: primeira fase

de abatimento da pala do abrigo e deposição dos grandes blocos que marcam a

transição da camada F para a camada E. Caracteriza-se pela baixa deposição

sedimentar, o que poderá estar relacionado com a fixação dos solos causada pela

expansão das florestas durante o Holocénico Inicial.

Fase 3

Marcada pela possível introdução da agricultura. Grande aumento do ritmo de

sedimentação de origem argilosa registada nas camadas E a B, provavelmente

relacionado com a desflorestação de origem antrópica para abertura de campos de

cultivo e pastoreio durante o Neolítico Antigo e com a ocupação contínua do abrigo.

Fase 4

2ª Descontinuidade estratigráfica após a formação da camada B, devido ao

provável abandono do Maciço Calcário pelas comunidades Calcolíticas e consequente

fim da exploração agro-pastoril deste território, que por sua vez levou a um novo

desenvolvimento das florestas e fixação dos solos. Fim das ocupações contínuas do

abrigo. Deposições posteriores de vestígios datados da Idade do Ferro e da Época

Romana, resultantes de ocupações esporádicas durante estes períodos.

Fase 5

Abatimento definitivo da pala do abrigo, selando as ocupações anteriores.

Marcada pela ocorrência de ocupações esporádicas durante a Época Medieval e

Moderna.

23

1.3. Contextualização Cultural: A Neolitização

A Neolitização do extremo ocidental peninsular ocorre a partir de cerca de

5.400 B.C., aquando da chegada das primeiras populações portadores do chamado

“pacote neolítico” e de uma cultura material e rituais funerários próprios, que os

distinguia dos grupos mesolíticos então fixados em Muge, no Sado e no litoral

alentejano (ver Carvalho, 2003a, 2003b, 2008 e referências citadas por este autor).

Estas populações seriam, segundo os estudos realizados até ao momento acerca desta

temática, grupos humanos exógenos, originários de outras regiões do Ocidente

mediterrâneo, que chegaram à fachada atlântica peninsular por via marítima, e que se

instalaram ex novo em determinadas regiões, em territórios marginais aos ocupados

pelas populações mesolíticas, onde predominavam condições ambientais de tipo

mediterrâneo e que ofereciam boas condições para o desenvolvimento de uma

economia produtora, criando os chamados "enclaves neolíticos".

No que diz respeito concretamente à Estremadura portuguesa, tendo por base

datações absolutas atualmente disponíveis para o VI milénio a.C., os testemunhos

mais antigos da presença de populações neolíticas até ao momento identificados no

extremo ocidental peninsular, parecem ocorrer nesta região, nas grutas do Caldeirão e

Almonda, no Abrigo da Pena d'Água e no sítio de ar livre do Cerradinho do Ginete

(Carvalho, 2008, pp. 50).

Os primeiros grupos neolíticos que chegaram à Estremadura portuguesa

instalaram-se em territórios despovoados ou marginalmente explorados pelas

comunidades mesolíticas (Carvalho, 2003b, pp. 80). Após o estudo dos vários

contextos arqueológicos identificados na área envolvente do Arrife da Serra d'Aire,

foi possível concluir que este parece ter funcionado como a espinha dorsal da

neolitização na região estremenha, atraindo as primeiras populações neolíticas que

aqui se instalaram por terem encontrado condições geomorfológicas propícias à

instalação de uma economia produtora (Simões, 2012, pp. 52). Uma vez que, e apesar

da precariedade dos resultados da prospeção na planície, todos os assentamentos

humanos datados do Neolítico Antigo se localizam ao longo do Arrife, de forma a

aproveitar as potencialidades oferecidas por esta região de contexto ecótono, em

contacto com dois ambientes ecológicos e geográficos distintos. Houve, assim, a

ocupação sistemática de locais-chave onde se poderia praticar a exploração conjunta e

24

simultânea da serra e da planície (Carvalho, 2003a, pp. 135;142).

Apesar de o Epipaleolítico se encontrar bem documentado na região, tendo

sido identificadas ocupações humanas datadas deste período ao longo do Arrife,

inclusive na Pena d'Água, é de salientar o facto de se ter verificado que não existe

continuidade Mesolítico-Neolítico (Carvalho, 2003a, pp. 135). Em termos

económicos, é visível na transição do Mesolítico para o Neolítico uma tendência

generalizada para a substituição de uma economia assente em partes iguais em

recursos aquáticos e terrestres para uma economia baseada em exclusivo em recursos

terrestres, através da introdução de uma economia produtora na fachada atlântica da

Península Ibérica a partir de meados do VI milénio a.C., a que se fez referência acima

(Carvalho, 2008, pp. 50). Ainda que a caracterização económica do Neolítico Antigo

do Portugal meridional padeça de várias lacunas, devido sobretudo a limitações de

ordem tafonómica e ao facto de até ao momento ainda não ter sido possível identificar

restos carpológicos que comprovem a existência de práticas agrícolas desde o início

do Neolítico Antigo, foi possível verificar através de análises arqueozoológicas de

mamíferos (Valente, 1998; Póvoas, 1998; Carvalho, 2008, pp. 48), o

desenvolvimento da agricultura e da pastorícia desde o início da Neolitização nesta

região.

Relativamente às características residenciais, os assentamentos humanos

identificados em torno do Arrife da Serra d'Aire seriam, segundo os indicadores

económicos-funcionais disponíveis, geralmente de curta duração, uma vez que apenas

foram exumados vasos cerâmicos de pequena dimensão, como é possível verificar no

caso da Pena d'Água, à exceção dos vasos de armazenamento registados no sítio do

Forno do Terreirinho, que indicariam a existência de um habitat de carácter mais

permanente, ou pelo menos de maior duração, que obrigaria ao armazenamento dos

produtos produzidos (Carvalho, 2003a, pp. 135; 143).

Assim, tendo em conta a sua localização em ambiente ecótono, a prática de

caça associada ao pastoreio, o predomínio de rochas locais e o domínio de utensílios

domésticos, é possível afirmar que estes assentamentos praticariam um sistema de

povoamento assente numa estratégia de mobilidade residencial, onde por vezes estão

bem documentadas atividades económicas específicas, como a caça, a recolha e/ou

processamento de vegetais e a pastorícia (Carvalho, 2003a, pp. 135; 150).

25

CAPÍTULO II: AS AMOSTRAS E A MICROFAUNA

2. Amostras estudadas

Para a realização deste estudo foi apenas utilizada uma fração da totalidade dos

sacos de sedimento recolhidos durante as campanhas arqueológicas realizadas entre

1992 e 2000 no Abrigo da Pena d'Água. Foram estudadas no total oito amostras de

sedimento provenientes dos quadrados N29, N30, L29 e L30 e das camadas

arqueológicas F e E, correspondentes às ocupações humanas do abrigo mais antigas

datadas do Epipaleolítico e do Neolítico Antigo. Estas foram recolhidas no decorrer das

campanhas arqueológicas realizadas em 1993 e 1994.

Na figura 5, abaixo apresentada, é possível visualizar a localização destes

quadrados e respetivas camadas arqueológicas na planta geral da escavação.

Figura 5: planta geral da escavação (quadrados escavados à esquerda, camadas arqueológicas em baixo e

linha denteada correspondente ao limite do depósito após ação da retroescavadora (Carvalho, 1998, pp.

45).

26

No quadro seguinte (Quadro 3) é possível verificar os quadrados e respetivas

camadas arqueológicas alvo de estudo neste trabalho.

Cada amostra possuía cerca de 10 Litros de sedimento (entre 7 a 10 Kg de

sedimento), que correspondiam a cada um dos níveis artificiais escavados com cerca de

5 cm de altura por cada camada arqueológica.

As amostras encontravam-se armazenadas em sacos de plástico acompanhados

por etiquetas com a respetiva informação arqueológica (sigla do sítio arqueológico,

quadrado, camada e data da recolha).

Camada Quadrado Data da recolha

L30 F2 16/09/1993

N29 E10 07/10/1993

N30 E1 23/09/1993

N30 E3 07/09/1993

N30 E4 07/10/1993

L29 E1 23/09/1993

L29 E2 24/09/1993

L29 E5 06/09/1994

Quadro 3: quadrados e respetivas camadas arqueológicas das amostras de sedimento arqueológico

analisado.

27

3. Metodologia de estudo

A fim de realizar este estudo foi necessário estabelecer uma metodologia de

estudo, dividida em três fases principais, cada uma delas realizada em locais diferentes:

a primeira fase teve lugar no Museu Nacional de História Natural e da Ciência (Lisboa),

a segunda no Laboratório de Arqueociências (LARC) (Lisboa) e a terceira no Consejo

Superior de Investigaciones Cientificas (CSIC) (Madrid).

A primeira fase do trabalho consistiu no tratamento e na crivagem a água das

amostras de sedimento a fim de recolher os restos osteológicos das microfaunas.

Antes de iniciar a crivagem do sedimento das amostras, este foi pesado e

procedeu-se ao registo manual do quadrado, da camada e da data a que cada um destes

correspondia, bem como do peso e da data do dia em que foi realizado o processamento

da amostra. De seguida o sedimento foi retirado do saco de plástico em que se

encontrava e deitado em dois recipientes plásticos (alguidares) em igual quantidade

(para facilitar a desagregação da argila), aos quais foi anexada uma etiqueta autocolante

com a respetiva informação arqueológica, tendo sido sujeito a um tratamento de

desagregação dos elementos argilosos através de uma solução preparada com água

oxigenada a 120 volumes diluída em água a 20% (1/5 de água oxigenada por cada litro

de solução, num total de 3 litros de solução por cada amostra de sedimento processada).

Durante o processo de desagregação dos elementos argilosos (que durou pelo

menos 48 horas) o sedimento permaneceu no interior de uma câmara de exaustão de

vapores (Figura 6).

Figura 6: à esquerda balança utilizada para pesar os sacos de sedimento; ao centro garrafa da água

oxigenada a 120 volumes utilizada para desagregação dos elementos argilosos; e à direita os alguidares

com sedimento no interior da câmara de exaustão de vapores (Local: Museu Nacional de História Natural

e da Ciência).

28

A metodologia utilizada na crivagem foi a de crivagem com recurso a água

corrente e a duas malhas de crivo. Na primeira fase da crivagem a malha de crivo

utilizada foi de 4 mm para retenção dos elementos de maiores dimensões (fração grossa)

e na segunda fase foi utilizada uma malha de crivo de 0,6 mm para retenção dos

elementos de menores dimensões (fração fina) (Figura 7), que tornou possível a recolha

dos elementos osteológicos de dimensões muito reduzidas (como dentes soltos).

Figura 7: à esquerda malha de crivo de 4 mm utilizada na recolha da fração grossa; à direita malha de

crivo de 0,6 mm utilizada na recolha da fração fina (Local: Museu Nacional de História Natural e da

Ciência).

Após a crivagem do sedimento correspondente a cada amostra os materiais

arqueológicos daí resultantes foram armazenados em tabuleiros metálicos, aos quais foi

anexada uma etiqueta autocolante com a respetiva informação arqueológica, e

colocados numa estufa (marca Memmert) (Figura 8) para secagem dos mesmos a uma

temperatura nunca superior a 40º C, durante cerca de 24 horas.

Após a secagem, os materiais foram armazenados em dois sacos de plástico tipo

zip, um contendo a fração grossa e outro a fração fina, acompanhados por uma etiqueta

autocolante com a respetiva informação arqueológica.

29

Figura 8: tabuleiros metálicos utilizados na armazenagem dos materiais arqueológicos, no interior da

estufa Memmert utilizada para a secagem dos materiais arqueológicos após a sua lavagem (Local: Museu

Nacional de História Natural e da Ciência).

Concluída a crivagem da totalidade do sedimento das amostras deu-se início à

segunda fase do trabalho que consistiu na triagem, análise e estudo dos restos

osteológicos resultantes da crivagem.

Foi realizada uma primeira triagem com o objetivo de separar os restos

osteológicos e os restantes materiais arqueológicos que poderão ocorrer (sementes,

carvões, fragmentos de cerâmica, esquirolas…) dos restos pétreos que passaram na

malha do crivo. Foi analisada uma fração grossa, correspondente a restos faunísticos de

macro e microfauna, a carvões de maiores dimensões e a fragmentos líticos e cerâmicos

(Figura 9), e, uma fração fina, correspondente a microfauna e a carvões de menores

dimensões (Figura 10). No caso da fração fina houve recurso à lupa binocular (Olympus

SZ 60) (Figura 11).

30

Figura 9: elementos arqueológicos retidos na fração grossa: em cima restos faunísticos e carvões de

maiores dimensões; em baixo fragmentos de cerâmica e de líticos (Local: CSIC).

Figura 10: elementos arqueológicos retidos na fração fina: restos faunísticos e carvões de menores

dimensões (Local: CSIC).

Tendo em conta a elevada quantidade do conteúdo das amostras correspondentes

à fração fina e o tempo disponível para realização do estudo, foi necessário adotar uma

metodologia de triagem em que foram apenas triados 250 grs de cada saco com cerca de

1 kg, em vez da totalidade da amostra como aconteceu com as amostras da fração

grossa. O restante conteúdo das amostras foi armazenado em novos sacos de plástico

tipo zip, acompanhados por uma etiqueta com a respetiva informação arqueológica, a

fim de ser sujeito a estudo no futuro.

31

Figura 11: lupa binocular Olympus SZ 60, existente no LARC, utilizada na triagem e análise dos restos

microfaunísticos (Local: LARC).

Os restos osteológicos correspondentes à microfauna separados foram alvo de

uma nova triagem com recurso à lupa binocular, com o intuito de separar os restos

identificáveis (RI) de cada Ordem/ Família, dos restos osteológicos não identificáveis

(NI). Foram apenas separados os restos odontológicos e algumas mandíbulas por serem

aqueles que pelas suas características morfológicas permitem realizar identificações

taxonómicas específicas. Estes são denominados de restos diagnósticos.

Os restos diagnósticos considerados para cada uma das Ordens, Famílias e

Géneros existentes nas amostras foram:

Ordem Soricomorpha – foram separados:

Do Género Crocidura, todas as mandíbulas e dentes isolados exceto

incisivos.

Ordem Rodentia – foram separados:

Da Família Arvicolinae – Géneros Terricola, Microtus e Arvicola todos

os dentes molares superiores e inferiores (M1; M2; M3; M1; M2; M3) isolados e

mandíbulas com dentes inclusos, embora apenas tenham sido considerados os M1 para

realizar identificações ao nível do Género.

32

Da Família Muridae – Géneros Apodemus e Mus, todos os dentes

molares superiores e inferiores (M1; M2; M3; M1; M2; M3) isolados, embora apenas

tenham sido considerados os M1 para realizar identificações ao nível do Género.

Da Família Gliridae – Género Eliomys, todos os dentes pré-molares e

molares superiores e inferiores (Pm4; M1; M2; M3; Pm4; M1; M2; M3).

O critério utilizado é aquele que é habitualmente considerado na bibliografia de

referência (López-García, 2008).

Os restos odontológicos diagonóstico foram então alvo de uma análise

individual à lupa binocular tendo sido divididos por Ordem (Rodentia e Soricomorpha),

Família (Muridae, Arvicolidae e Gliridae), e por elemento anatómico (Pm4; M1; M2;

M3; Pm4; M1; M2; M3), e colocados em pasta adesiva (bostik) organizados em fiadas

paralelas (Figura 12). Esta tipo de organização (em fiadas paralelas no bostik) permitiu

por um lado a referenciação individual de cada dente (ver Tabela 1 em Anexo) e

permitirá se necessário uma fácil revisão do material no futuro, e por outro lado,

mantem os restos odontológicos intactos dado a sua fragilidade. Ao longo deste

procedimento foi realizada a identificação taxonómica, verificada a lateralidade e a

ocorrência de alterações relacionadas com os processos tafonómicos e pós-

deposicionais de cada dente.

Figura 12: restos odontológicos correspondentes à Família Muridae (à esquerda) e Arvicolidae (à

esquerda) organizados no bostik (Local: CSIC).

Durante este processo houve o registo sistemático manual dos resultados obtidos

em três tabelas distintas (ver Tabela 1, Tabela 2, Tabela 3 em Anexo). Uma primeira

onde foram registados todos os M1 correspondentes à Família Muridae existentes em

33

cada amostra (Tabela 1 em anexo), uma segunda onde foram registados por amostra

todos os restos odontológicos e mandíbulas correspondentes a cada uma das Ordens/

Famílias identificadas, tendo sido separados por Taxon e por elemento anatómico

(Tabela 2 em anexo), e, uma última, uma tabela geral onde foram incluídos todos os

resultados da análise e foram tidos em conta os seguintes parâmetros: informação

arqueológica original (quadrado, camada arqueológica, data e fração), Classe, Ordem,

Família, Género, Taxon, identificação anatómica, lateralidade, quantidade e processo

tafonómico quando existente (Tabela 3 em anexo). Estes dados foram posteriormente

introduzidos numa base de dados informatizada (Programa SPSS), para tratamento

estatístico.

A identificação anatómica e taxonómica dos restos osteológicos foi realizada

com recurso a comparações com os esqueletos disponíveis nas coleções de referência

existentes no Laboratório de Arqueociências (Moreno-Garcia et al, 2003; Pimenta &

Moreno-Garcia, 2004), e em alguns casos através da consulta de fontes bibliográficas

específicas mencionadas no texto.

Para atingir algumas determinações específicas, caso do Género Microtus,

tornou-se necessário efetuar medições de parâmetros odontométricos (Figura 13), apesar

de estes se terem mostrado pouco conclusivos dado o estado de conservação dos restos

odontológicos.

Figura 13: medições realizadas num M1 de Microtus (Terricola) duodecimcostatus/ lusitanicus: à

esquerda comprimento total e à direita largura do complexo T4 e T5 (Quadrado L30/ Camada F2) (Local:

CSIC).

34

Para o efeito foi utilizada a Lupa binocular Leica M 165 C com câmara

fotográfica DFC 490 (Figura 14), disponibilizada pelo Centro de Ciencias Humanas y

Sociales (CCHS) do Instituto de História do CSIC, em Madrid, Espanha.

Figura 14: lupa binocular Leica M 165 C, existente no CSIC em Madrid, utilizada na realização das

medições de parâmetros odontométricos e das fotografias ao material odontológico (Local: CSIC).

Após a análise dos restos odontológicos procedeu-se à quantificação do material

faunístico separado em cada uma das amostras: contagem dos restos determinados

(NRD), dos restos não determinados (ND) e da totalidade de restos (NTR). A totalidade

dos restos apenas identificados a nível anatómico (NRDa) foi incluída na totalidade dos

restos não determinados (ND). Não se procedeu à contagem da totalidade de restos

osteológicos existentes em cada amostra devido à elevada quantidade e elevadíssimo

grau de fragmentação dos mesmos, tendo-se optado apenas pela contagem dos restos

odontológicos separados em cada uma das amostras analisadas.

Foi também realizado o cálculo do Número Mínimo de Indivíduos (NMI), com o

intuito de estabelecer a abundância relativa dos Taxones presentes na totalidade das

amostras analisadas, utilizando o elemento odontológico diagnóstico mais frequente e

tendo em consideração a sua lateralidade (Andrews, 1990). O cálculo do NMI permite

conhecer a proporção de indivíduos existentes em cada uma das espécies identificadas,

35

e, é apropriado para casos em que os processos tafonómicos tendem a concentrar os

restos osteológicos, como os causados por armadilhas naturais e pela ação direta de

predadores. (López-García, 2008, pp. 129)

A quantificação faunística além de permitir obter uma noção da quantidade de

restos osteológicos estudados, permite através do NMI compreender a abundância

relativa das espécies identificadas (Valente, 1997, pp. 83).

A última etapa do trabalho consistiu no registo fotográfico dos restos

odontológicos considerados mais relevantes para a ilustração de cada uma das espécies

identificadas, na Lupa binocular Leica M 165 C, com câmara fotográfica DFC 490,

disponibilizada pelo Centro de Ciencias Humanas y Sociales (CCHS) do Instituto de

História do CSIC, de Madrid, em Espanha.

No final da análise os restos odontológicos alvo de identificação anatómica e

taxonómica permaneceram armazenados em caixas de plástico individuais para cada

uma das amostras, acompanhadas por uma etiqueta autocolante com a respetiva

informação arqueológica original (Figura 15).

Figura 15: restos odontológicos de uma das amostras estudadas armazenados nas caixas individuais

(Local: CSIC).

36

4. Taxonomia

Quadro 4: Quadro geral dos Taxones identificados

Classe Ordem Família Género Taxa NRD NMI

Mammalia

Rodentia

Muridae

Apodemus Apodemus sylvaticus 153 85

Mus Mus sp 1 1

Muridae NI 1334 -

NRD Muridae: 154

ND + NRDa Muridae: 1334

NTR Muridae: 1488

Arvicolidae

Microtus

Microtus sp 40 -

Microtus cabrerae 1 1

Microtus arvalis/

agrestis

1 1

Microtus (Terricola)

duodecimcostatus/

lusitanicus

54 15

Microtus NI 400 -

Arvicola Arvicola cf sapidus 5 -

NRD Arvicolidae: 101

ND + NRDa Arvicolidae: 400

NTR Arvicolidae: 485

Gliridae

Eliomys Eliomys quercinus 49 7

Gliridae NI 46 -

NRD Gliridae: 49

ND + NRDa Gliridae: 46

NTR Gliridae: 95

NRD Rodentia: 304

37

ND + NRDa Rodentia: 1780

NTR Rodentia: 2084

Soricomorpha

Soricidae

Crocidura Crocidura sp 15 -

Crocidura russula 21 5

Soricidae NI 70 -

NRD Soricomorpha: 36

ND + NRDa Soricomorpha: 70

NTR Soricomorpha: 106

Total

NRD: 340

ND + NRDa: 1850

NTR: 2190

Legenda:

NMI = Número Mínimo de Indivíduos

NRD = Número de Restos Determinados

ND + NRDa = Não Determinados + Número de Restos Determinados anatómicamente

NTR = Número Total de Restos

38

4.1. Sistemática

O critério utilizado na Sistemática tem por base o manual de Zooarqueologia de

J. Reitz e S. Wing (J. Reitz & S.Wing, 1999).

4.1.1. Micromamíferos

4.1.1.1. Ordem Soricomorpha

A Ordem Soricomorpha possui nas amostras analisadas uma amostragem

muitíssimo reduzida face à Ordem Rodentia, representando apenas 6% do Número Total

de Restos (Gráfico 4).

O material odontológico e osteológico (fragmentos de mandíbula e de maxilar)

além de se encontrar de modo geral em número reduzido, encontrava-se com fraco grau

de conservação, na maioria dos casos muito fragmentado. Deste modo, foram apenas

identificados 106 restos odontológicos e osteológicos correspondentes a esta Ordem

(Quadro 4), entre os quais mandíbulas sem dentes inclusos e incompletas, sendo que

nenhuma delas possuía o côndilo articular conservado, através do qual é possível

realizar identificações a nível taxonómico, fragmentos de maxilares, um deles com P4

incluso e dentes soltos, que por si só à expecção de um Pm4, também não permitiram

identificações ao nível da espécie, apenas ao nível do Género.

Após a análise da totalidade dos restos osteológicos e odontológicos

pertencentes a esta Ordem foi apenas identificada uma Família – Soricidae – e uma

espécie – Crocidura russula.

Sistemática

Ordem: Soricomorpha (Gregory, 1910)

Família: Soricidae (Ficher, 1817)

Subfamília: Crocidurinae (Wagler, 1832)

Género: Crocidura (Wagler, 1832)

Espécie: Crocidura russula (Wagler, 1832)

39

Nome comum: Musaranho-de-dentes-brancos

NMI: 5

Material diagnóstico: Pm4

Figura 16: fragmento de maxilar esquerdo com Pm4 incluso de Crocidura russula em vista labial e

carnial (Quadrado L29/ Camada E1) (Local: CSIC).

Observações morfológicas: o Género Crocidura caracteriza-se por possuir

dentes totalmente brancos, a parte oclusal do incisivo inferior lisa e as duas faces do

côndilo articular completamente fundidas.

Na Península Ibérica existem duas espécies de Crocidura: Crocidura russula e

Crocidura suaveolens. A diferenciação das duas espécies a partir da morfologia dos

dentes é por vezes difícil, incidindo sobretudo na observação de um conjunto de

caracteres odontométricos e das mandíbulas, que no caso de restos provenientes de

contextos arqueológicos, como é o caso dos restos aqui apresentados, nem sempre são

possíveis de observar tendo em conta o estado de conservação dos mesmos.

Neste caso, apesar de não ter sido identificada nenhuma mandíbula completa,

que possuísse o côndilo articular conservado, que permitiria fazer a diferenciação das

duas espécies (López-García, 2008), foi possível verificar em duas das amostras

analisadas que os restos odontológicos e osteológicos identificados de Crocidura

correspondem a Crocidura russula, uma vez que se verificou que as mandíbulas

40

identificadas (Figura 17) apresentam uma maior robustez quando comparadas com as

mandíbulas da coleção de referência do LARC correspondentes a Crocidura

suaveolens, sendo esta robustez uma característica de Crocidura russula.

Figura 17: mandíbulas de Croidura russula (Quadrado L29/ Camada E1) (Local: CSIC).

Para além disso foi utilizado o critério do Pm4, tendo-se verificado que os Pm4

identificados apresentam uma morfologia característica de Crocidura russula –

contorno da parte superior do bordo labial mais anguloso e menos desenvolvido que no

caso de Crocidura suaveolens e Pm4 a terminar à altura da parte média da grande

cúspide do mesmo, sendo esta mais evidente em Crocidura russula que na outra espécie

simpátrica, Crocidura suaveolens (Figura 18).

2

Crocidura russula Crocidura suaveolens

Contorno de la parte superior del

borde labial del parastilo del P4

anguloso, menos desarrollado y que

termina a la altura de la parte media

de la gran cúspide del paracono.

Menor desarrollo del cíngulo.

Contorno de la parte superior del

borde labial del parastilo del P4

circular con un gran desarrollo que

termina a la altura de la parte posterior

de la gran cúspide del paracono.

Mayor desarrollo del cíngulo.

4

Crocidura russula Crocidura suaveolens

En vista oclusal el protocono del P4 se

encuentra al mismo nivel que el borde

lingual de dicho diente.

En vista oclusal el protocono del P4

está ligeramente desplazado hacia el

borde labial, a distinto nivel que el

borde lingual, mostrando en ocasiones

una arista anterointerna.

Figura 18: estudo comparativo do Pm4 que permite diferenciar Crocidura russula de Crocidura

suaveolens (Xavier Calzada, comunicação pessoal).

41

Habitat e distribuição geográfica: o musaranho-de-dentes-brancos é uma

espécie autóctone da Península Ibérica, atualmente amplamente distribuída por toda a

Europa Ocidental. Na Península Ibérica ocorre em todas as regiões, exceto em zonas de

grande altitude (Mapa 2). É uma espécie generalista, que apresenta requisitos de tipo

mediterrâneo e que ocupa áreas preferencialmente com espaços abertos e margens de

bosques com boa cobertura a nível do solo, até 1200/ 1600 metros de altitude, com uma

precipitação anual inferior a 1000 mm e com temperaturas médias acima de 5° C,

aparecendo ainda em zonas de cultivo (Palomo & Gisbert, 2007, pp. 129).

Mapa 2: distribuição atual de Crocidura russula na Península Ibérica (López-García, 2008, pp. 154).

42

4.1.1.2. Ordem Rodentia

A Ordem Rodentia é aquela que se encontra mais representada na totalidade das

amostras analisadas, representando 94% (Gráfico 4) do Número Total de Restos (NTR),

tendo sido identificados 2084 restos odontológicos (Quadro 4).

Os restos odontológicos correspondentes à Ordem Rodentia encontravam-se de

um modo geral na totalidade das amostras analisadas muito fragmentados e, sobretudo

no que concerne ao Género Apodemus num estado de grande fragilidade, possuindo em

muitos casos apenas o esmalte exterior do dente (Figura 19).

Figura 19: à esquerda restos odontológicos de Muridae onde é visível o elevado grau de fragmentação

dos dentes (Quadrado L29/ Camada E5); à direita M1 direito de Apodemus sylvaticus em que apenas se

conservou o esmalte lateral do dente (Quadrado N30/ Camada E3) (Local: CSIC).

No que concerne aos Géneros Microtus, Terricola e Eliomys estes encontravam-

se em reduzido número face ao Género Apodemus (Gráfico 5) e, na maioria dos casos

muito fragmentados, impossibilitando no caso do Género Microtus realizar

identificações a nível específico num grande número de restos odontológicos (ver ND

do Género Microtus apresentados no Quadro 4). Para além do grau de fragmentação, no

caso do Género Microtus os restos odontológicos possuíam em alguns casos concreções

que dificultavam a análise dos triângulos e a sua medição, e como tal impossibilitaram a

identificação da espécie (Figura 20).

43

Figura 20: à esquerda restos odontológicos de Arvicolidae onde é visível o elevado grau de fragmentação

dos dentes (Quadrado L29/ Camada E5); à direita M1 esquerdo de Microtus (Terricola)

duodecimcostatus/ lusitanicus onde é visível a existência de uma concreção em torno do dente (Quadrado

L29/ Camada E2) (Local: CSIC).

Ainda assim, foi possível identificar sete espécies de roedores, agrupadas em três

Famílias – Muridae, Arvicolidae e Gliridae e em cinco Géneros – Apodemus, Mus,

Microtus, Arvicola e Eliomys. A abundância de cada espécie foi calculada através do

Número Mínimo de Indivíduos (NMI), tendo por base o elemento osteológico mais

abundante e a sua lateralidade.

Sistemática

Murídeos

Ordem: Rodentia (Bowdich, 1821)

Família: Muridae (Illiger, 1811)

Género: Apodemus (Kaup, 1829)

Espécie: Apodemus sylvaticus (Linnaeus, 1758)

Nome comum: Rato-dos-Bosques

NMI: 85

Material diagnóstico: M1 esquerdo

44

Figura 21: M1 esquerdo de Apodemus sylvaticus (Quadrado L29/ Camada E1) (Local: CSIC).

Observações morfológicas: a principal característica morfológica de Apodemus

sylvaticus é o M1 possuir uma superfície oclusal baixa com seis cúspides principais

(López-García, 2008, pp. 223), e o facto dos tubérculos anteriores formarem um

conjunto de cinco lóbulos e possuírem dois tubérculos acessórios no lado externo,

principal característica deste Género (Moreno, 2007) e que o distingue do Género Mus.

Para a identificação desta espécie foram tidos em conta os aspetos morfológicos

nos M1 acima descritos.

Habitat e distribuição geográfica: Apodemus sylvaticus encontra-se

amplamente distribuído por toda a Europa possuindo uma distribuição homogénea em

todos os países mediterrânicos. Na Península Ibérica é um dos micromamíferos mais

abundantes encontrando-se presente em todo o seu território (Mapa 3). Atualmente

existem duas espécies de Apodemus na Península Ibérica: Apodemus sylvaticus e

Apodemus flavicollis. Contudo, o segundo ocorre apenas no norte peninsular (López-

García, 2008, pp. 223). Apodemus sylvaticus ocupa quase todos os tipos de habitats

existentes na Península Ibérica, mas sobretudo zonas de abundante e diversificada

cobertura arbustiva ou arbórea, dando preferência a áreas marginais, com cobertura

arbustiva ou arbórea homogéneas, em detrimento das áreas de bosque de grande escala

(Palomo & Gisbert, 2007, pp. 450). A razão do sucesso da sua distribuição em toda a

45

Península Ibérica reside no fato de se adaptar com grande facilidade aos diferentes

recursos alimentares disponíveis em cada momento (Jubete, 2007).

A região do Abrigo da Pena d'Água insere-se na zona de distribuição de

Apodemus sylvaticus, uma vez que a outra espécie deste Género apenas ocorre a norte.

Apodemus silvaticus é a espécie da Ordem Rodentia mais representativo no total

das amostras analisadas representando 45% do Número de Restos Determinados (NRD)

(Gráfico 5). Esta notável representação de Apodemus silvaticus no total das amostras

analisadas deve-se ao facto de este ser o micromamífero mais amplamente representado

em todo território da Península Ibérica.

Mapa 3: distribuição atual de Apodemus sylvaticus na Península Ibérica (López-García, 2008, pp. 224).

46

Género: Mus (Lataste, 1883)

Nome comum: Rato-doméstico/ Rato-das-hortas

NMI: 1

Material diagnóstico: M1 esquerdo

Figura 22: M1 esquerdo de Mus sp (Quadrado L29/ Camada E1) (Local: CSIC).

Observações morfológicas: a diferenciação morfológica dos restos

odontológicos correspondente às duas espécies deste Género é realizada através da

visualização de parâmetros morfológicos existentes no M1 e de parâmetros

odontométricos realizados a partir deste dente, contudo estes parâmetros nem sempre

são visíveis, não sendo nestes casos possível fazer a separação entre as duas espécies.

Tendo em conta que apenas foi identificado um M1 correspondente ao Género

Mus no total das amostras analisadas, não tendo sido possível identificar com certeza a

qual das duas espécies correspondia, optou-se por uma identificação deste resto apenas

ao nível do Género.

47

Habitat e distribuição geográfica: existem duas espécies simpátricas de Mus

na Península Ibérica: Mus musculus e Mus spretus. Mus spretus ocupa zonas de tipo

mediterrâneo sub-húmidas e semi-áridas, uma vez que devido aos seus escassos

requisitos hídricos pode ocupar territórios mais áridos e inacessíveis a outras espécies

de roedores, ainda assim mostra preferência por espaços abertos, áreas de matagal,

ambientes rochosos com alguma vegetação herbácea e áreas de cultivo de cereais,

enquanto que Mus musculus, comummente designado de rato-caseiro, por ser um

animal comensal por excelência, ocupa sobretudo zonas habitacionais ou com presença

do Homem e zonas em redor de campos de cultivo que detenham vegetação herbácea,

evitando os bosques e as áreas extremamente secas (Palomo & Gisbert, 2007).

Ambas as espécies são alóctones da Península Ibérica, tendo colonizado este

território a partir do Neolítico Antigo, encontrando-se associadas à expansão e

desenvolvimento da Neolitização na Europa e por conseguinte na Península Ibérica. A

sua introdução na Península Ibérica está diretamente relacionada com a introdução da

agricultura neste território, ainda que Mus spretus ao contrário de Mus musculus não

seja uma espécie comensal do Homem, contudo habita como referido acima

preferencialmente zonas de cultivo de cereais e espaços desflorestados, os quais foram

sendo criados através das desmatações levadas a cabo a partir do Neolítico Antigo.

Mus spretus é uma espécie silvestre de “exterior”, não florestal, proveniente do

Norte de África, que migrou para a Península Ibérica durante o Neolítico Antigo graças

ao desenvolvimento da navegação no Mar Mediterrâneo, colonizando toda a Europa

Ocidental mediterrânea e sobretudo a Península Ibérica e o Sul de França. As

desmatações crescentes realizadas pelo Homem a partir do Neolítico Antigo para a

criação de campos de cultivo e de pastorícia, tornaram possível a criação de biótopos

favoráveis ao desenvolvimento desta espécie, incapaz de viver em zonas de bosque e,

possibilitaram a sua colonização (Bonhomme & Thaler, 1988).

Por outro lado, Mus musculus como já mencionado acima é uma espécie

comensal, proveniente provavelmente do Próximo Oriente e que migrou para Ocidente

durante o Neolítico Antigo acompanhando o Homem durante a Neolitização, à medida

que este ia desenvolvendo a agricultura e construindo abrigos para guardar os

excedentes produzidos e, que tal como a sua espécie simpátrica colonizou toda a Europa

Ocidental mediterrânea e sobretudo a Península Ibérica e o Sul de França (Bonhomme

& Thaler, 1988).

48

Mapa 4: distribuição atual de Mus spretus na Península Ibérica (Madureira & Ramalhinho, 1981, pp.

241).

Mapa 5: distribuição atual de Mus musculus na Península Ibérica (Madureira & Ramalhinho, 1981, pp.

235).

49

Arvicolídeos

Género Microtus

Este Género agrupa um grande número de roedores de pequena dimensão,

vulgarmente conhecidos como ratos-toupeiros. O critério morfológico que os caracteriza

é a presença do complexo T4-T5 do M1 ser fechado. Todas as espécies deste Género,

bem como as do Sub-género Terricola, possuem molares de crescimento contínuo,

como tal não apresentam raízes, e um esmalte distinto, comummente denominado de

esmalte tipo “Microtus”, por ser mais largo na metade mesial que na distal dos

triângulos oclusais dos molares (López-García, 2008, pp. 195).

Família: Arvicolidae (Gray, 1821)

Género: Microtus (Schrank, 1798)

Espécie: Microtus cabrerae (Thomas, 1906)

Nome comum: Rato-de-cabrerae

NMI: 1

Material diagnóstico: mandíbula direita com M1 e M2 inclusos.

Figura 23: mandíbula direita de Microtus cabrerae com M1 e M2 inclusos (Quadrado L29/ Camada E2)

(Local: CSIC).

50

Observações morfológicas: em termos morfológicos Microtus cabrerae

caracteriza-se pelo elevado tamanho e largura do M1 e pelo facto de todos os triângulos

serem fechados.

Habitat e distribuição geográfica: Microtus cabrerae é descendente do fóssil

Microtus brecciensis e constituí o único representante deste Género na Península

Ibérica. É uma espécie endémica da Península Ibérica. A sua distribuição atual

encontra-se fragmentada muito provavelmente devido à pressão antrópica exercida

desde o Neolítico após a introdução da agricultura, que levou à redução das populações

de Microtus cabrerae causada pelo desaparecimento progressivo do seu habitat em

determinadas zonas (López-García, 2008, pp. 194). Atualmente em Portugal encontra-se

apenas a Sul (Mapa 6). Ocupa exclusivamente áreas de clima mediterrâneo detentoras

de cobertura herbácea que se mantenha verde ao longo de todo o ano e com um nível

freático elevado, tais como juncais, gramíneas perenes, margens de ribeiras temporárias,

solos alagados ou margens de cursos de água permanentes (Palomo & Gisbert, 2007,

pp. 430; Cabral, 2005).

Mapa 6: distribuição atual de Microtus cabrerae na Península Ibérica (López-García, 2008, pp. 195).

51

Espécie: Microtus arvalis/ agrestis (Linnaeus, 1761)

Nome comum: Rato-do-campo

NMI: 1

Material diagnóstico: M1 direito

Figura 24: M1 direito de Microtus arvalis/ agrestis (Quadrado N29/ Camada E10) (Local: CSIC).

Observações morfológicas: existem duas espécies simpátricas deste Micortus

na Peninsula Ibérica: Microtus agrestis e Microtus arvalis. Microtus agrestis

caracteriza-se por possuirno M1 seis triângulos fechados (três no complexo posterior e

três no complexo anterior) e por os triângulos T4/ T5 e T6/ T7 possuírem uma elevada

assimetria e alternância, característica que o distingue de Microtus arvalis. Contudo,

devido à grande semelhança existente entre os M1 destas duas espécies, a maioria dos

autores cita-as como Microtus arvalis/ agrestis, não fazendo a distinção entre as duas

espécies (López-García, 2008, pp. 198).

Neste caso optou-se também por manter a designação Microtus arvalis/ agrestis

por não ter sido possível diferenciar com certeza a qual das duas espécies correspondia

o M1 identificado, ainda que tendo em conta a atual distribuição das duas espécies no

52

território da Península Ibérica, é mais provável tratar-se de Microtus agrestis (ver Mapa

7 e 8).

Habitat e distribuição geográfica: Microtus agrestis ocupa atualmente uma

franja da Península Ibérica que se estende desde os Pirenéus até a Galiza e desde esta

zona até ao Sul de Portugal, na zona de Lisboa (Mapa 7). Ocupa preferencialmente

espaços abertos com pouca ou nenhuma pressão de pastoreio, húmidos com rios ou

zonas encharcadas nas proximidades, próximos de bosques e detentores de erva em

abundância (Palomo & Gisbert, 2007, pp. 435). Por seu lado, Microtus arvalis embora

possua uma distribuição geográfica semelhante a Microtus agrestis (Mapa 8), é uma

espécie mais generalista, com uma distribuição que se estende mais para Sul e que

ocupa múltiplos habitats desde pastos e prados, a boques, desde que não muito cerrados,

dando preferência a espaços abertos e pouco húmidos, evitando as zonas encharcadas e

com vegetação alta (Palomo & Gisbert, 2007, pp. 437).

Mapa 7: distribuição atual de Microtus agrestis na Península Ibérica (López-García, 2008, pp. 203).

53

Mapa 8: distribuição atual de Microtus arvalis na Península Ibérica (López-García, 2008, pp. 203).

Sub-género Terricola

As características morfológicas que diferenciam o Género Microtus do seu Sub-

género Terricola são a presença no M1 de um triângulo aberto em T4 e o triângulo T4 e

T5 formarem o chamado rombo “pitymiano” (López-García, 2008, pp. 211).

Atualmente existem na Península Ibérica duas espécies simpátricas deste Sub-

género: Microtus (Terricola) duodecimcostatus e Microtus (Terricola) lusitanicus.

Família: Arvicolidae (Gray, 1821)

Género: Microtus (Schrank, 1798)

Sub-género: Terricola (Fatio, 1867)

Espécie: Terricola duodecimcostatus/ lusitanicus (Sellys-

Longchamps, 1839)

Nome comum: Rato-toupeiro/ Rato-toupeiro-mediterrânico

54

NMI: 15

Material diagnóstico: M1 esquerdo

Figura 25: M1 esquerdo de Microtus (Terricola) duodecimcostatus/ lusitanicus (Quadrado N30 / Camada

E4) (Local: CSIC).

Observações morfológicas: a diferenciação morfológica destas duas espécies é

complicada contudo, Microtus (Terricola) duodecimcostatus apresenta no M1 o

triângulo T6 aberto e com uma disposição quase simétrica e em paralelo com o

triângulo T7, formando um segundo rombo “pitymiano”, enquanto que Microtus

(Terricola) lusitanicus apresenta no M1 o segundo rombo pitimiano (com disposição

simétrica e em paralelo do triângulo T6 com T7) relativamente isolado da parte anterior

do dente (López-García, 2008, pp. 211). Além dos parâmetros morfológicos é ainda

possível realizar alguns parâmetros odontométricos no M1 que permitem separar as duas

espécies, nomeadamente: a relação do comprimento máximo do M1 com o comprimento

máximo do rombo “pitymiano”, obtido na diagonal entre o T4 (4ª triângulo) e o T5 (5ª

triângulo) na face interna do esmalte.

Contudo, no caso de restos odontológicos provenientes de contextos

arqueológicos esta separação nem sempre é possivel, tendo em conta o grau de

conservação destes restos, nem sempre possuem os triângulos completos. Neste sentido,

55

neste caso optou-se igualmente por identificar os M1 correspondentes a este Sub-género

mantendo o nome das duas espécies simpátricas, uma vez que foram identificadas

características morfológicas correspondentes às duas e, na impossibilidade de realizar

parâmetros odontométricos conclusivos nos M1, optou-se por não fazer a separação das

duas espécies.

Habitat e distribuição geográfica: Microtus (Terricola) duodecimcostatus é

uma espécie endémica da Península Ibérica, encontrando-se em grande parte do

território do quadrante peninsular sul (Mapa 10). Ocupa zonas de clima mediterrâneo,

com altitudes que vão desde o nível do mar até aos 3000 m de altitude, detentoras de

espaços abertos, tanto naturais como agrícolas, comsolos húmidos, fáceis de escavar e

com abundante cobertura herbácea. Por sua vez, Microtus (Terricola) lusitanicus,

também uma espécie endémica da Península Ibérica, distribui-se pelo quadrante

peninsular norte (Mapa 11), em zonas que vão desde o nível do mar até 200 m de

altitude, sendo que a sua ocorrência é condicionada pela existência de solos macios e

húmidos com uma densa cobertura vegetal (Palomo & Gisbert, 2007, pp. 423/425).

A zona ocupada pelo Abrigo da Pena d'Água localiza-se numa zona de simpatria

das duas espécies do Sub-género Terricola (Mapa 9).

Mapa 9: distribuição de Microtus (Terricola) duodecimcostatus e de Microtus (Terricola) lusitanicus na

Península Ibérica, e a zona de simpatria entre as duas espécies (Adaptado por Santos, 2009, a partir de

Madureira, 1984, Mitchell-Jones et al. 1999, Cotilla & Palomo, 2007, Mira e Mathias, 2007).

56

Mapa 10: distribuição atual de Microtus (Terricola) duodecimcostatus na Península Ibérica (López-

García, 2008, pp. 215).

Mapa 11: distribuição atual de Microtus (Terricola) lusitanicus na Península Ibérica (López-García,

2008, pp. 215).

57

Género Arvicola

A principal característica morfológica que define este Género, além da sua

grande dimensão, é que o facto da parte posterior do M1 ser precedida por três triângulos

fechados. Por outro lado, o Género Arvicola possui um esmalte mais espesso que o

Género Microtus.

Atualmente, na Península Ibérica existem duas espécies de Arvicola: Arvicola

sapidus e Arvicola terrestris (López-García, 2008, pp. 217).

Família: Arvicolidae (Gray, 1821)

Género: Arvicola (Miller, 1908)

Espécie: Arvicola cf sapidus (Miller, 1908)

Nome comum: Rato-de-água

Devido ao elevado grau de fragmentação

dos cinco restos odontológicos identificados

correspondentes a este Género, não foi possível

calcular o Número Mínimo de Indivíduos nem

realizar uma identificação segura ao nível da

espécie, contudo pode considerar-se tratar-se de

Arvicola sapidus, uma vez que a área onde se

encontra o Abrigo da Pena d'Água insere-se na

zona de distribuição deste Arvicola (Mapa 12),

sendo que a outra espécie deste Género, Arvicola

terrestris, embora ocupe grande parte da Europa

não se encontra representado na parte central e sul

da Península Ibérica, fixando-se apenas

exclusivamente no norte de Espanha (Mapa 13)

(López-García, 2008, pp. 218). Para além disto,

nos restos odontológicos analisados não foram

identificadas as características morfológicas de Arvicola terrestris.

Figura 26: fragmento de M1 esquerdo de

Arvicola cf sapidus (Quadrado N30/

Camada E3) (Local: CSIC).

58

Observações morfológicas: morfologicamente Arvicola sapidus diferencia-se

de Arvicola terrestris por possuir no loop anterior do M1 no lado lingual um ângulo

agudo junto à extremidade interior, enquanto que Arvicola terrestris no loop anterior do

M1 possui um contorno arredondado. Além disso, Arvicola sapidus possui o esmalte

mais espesso na parte distal dos triângulos que na parte mesial, ao contrário do que

acontece com Arvicola terrestris, que possui o esmalte mais espesso na parte mesial dos

triângulos que na parte distal (López-García, 2008, pp. 217).

Habitat e distribuição geográfica: Arvicola sapidus é uma espécie endémica

da Península Ibérica, distribuindo-se por todo o seu território (Mapa 12). É um roedor

semi-aquático que vive associado a cursos ou massas de água estáveis, com abundante

vegetação herbácea ou matagal nas margens, dando preferência a solos brandos, como

prados húmidos e charcas, que lhes permitem escavar facilmente tocas (Ventura, 2007).

Mapa 12: distribuição atual de Arvicola sapidus na Península Ibérica (López-García, 2008, pp. 220).

59

Mapa 13: distribuição atual de Arvicola terrestris na Península Ibérica (López-García, 2008, pp. 220).

Glirideos

Os Glirideos caracterizam-se morfologicamente pela existência de raízes

molares braquidontes e por possuírem molares com uma superfície oclusal côncava

atravessada por sulcos transversais, separados por vales (lofodontos), em que é quase

impossível distinguir as cúspides (López-García, 2008, pp. 225).

Família: Gliridae (Thomas, 1897)

Género: Eliomys (Wagner, 1840)

Espécie: Eliomys quercinus (Linnaeus, 1766)

Nome comum: Leirão ou Rato-dos-pomares

NMI: 7

Material diagnóstico: M2 direito

60

Figura 27: M1 direito de Eliomys quercinus (Quadrado L29 / Camada E1) (Local: CSIC).

Observações morfológicas: morfologicamente os molares de Eliomys quercinus

caracterizam-se por possuírem uma superfície oclusal côncava em que as cristas

principais atravessam o dente em sentido lábio-lingual destacando as cúspides

principais (López-García, 2008, pp. 226).

Habitat e distribuição geográfica: Eliomys quercinus encontra-se em quase

toda a Europa. Na Península Ibérica ocupa a generalidade do seu território desde o nível

do mar até níveis superiores a 1500 m de altitude (Mapa 14) (Palomo & Gisbert, 2007,

pp. 392). É uma espécie generalista capaz de habitar numerosos habitats terrestres e

arbóreos. Apresenta uma grande variação morfológica em tamanho, que diminui com o

aumento da altitude, na cor e nas características biológicas (Palomo & Gisbert, 2007,

pp. 393). Encontra-se frequentemente associado a zonas pedregosas, de matagal, a

campos desflorestados, diferentes tipos de bosque, sobretudo bosques caducifólios

pouco densos, e é ainda frequente em zonas rurais.

61

Mapa 14: distribuição atual de Eliomys quercinus na Península Ibérica (Fonte: López-garcìa, 2008, pp.

228).

62

CAPÍTULO III: DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Após realizada a análise dos restos odontológicos e os osteológicos passíveis de

identificação importa agora expor determinados pontos considerados relevantes para a

caracterização do depósito microfaunístico fóssil em questão.

5. Processos deposicionais – agentes tafonómicos

Existem dois principais tipos de agentes tafonómicos responsáveis pelos

processos deposicionais de restos faunísticos em contextos arqueológicos, um de origem

animal e outro de origem antrópica (o Homem) (Andrews, 1990).

Uma vez que não foram identificadas marcas nos restos osteológicos aqui

analisados que pudessem relacionar a sua deposição com a atividade humana e tratando-

se de amostras microfaunísticas, em que apenas em raras exceções a sua deposição se

encontra relacionada com agentes de origem antrópica, podemos afirmar que o agente

tafonómico responsável por esta acumulação é de origem animal.

Assim a nível tafonómico a composição dos Taxones identificados nas amostras

analisadas sugere que a sua presença neste contexto estará relacionada com dois

processos tafonómicos:

Acumulação originada por predadores, através da desagregação de

dejetos e/ ou regurgitações, que frequentaram o local como abrigo. Micromamíferos,

como os roedores e os insectívoros, são as presas que maioritariamente integram o

regime alimentar de predadores como as aves de rapina diurnas e noturnas e os

carnívoros de pequena e média dimensão, que em função do tipo de ingestão e digestão

das suas presas, são potenciais responsáveis pela acumulação de restos osteológicos de

microfaunas em depósitos arqueológicos (Andrews, 1990; Pecharromán, 1993).

Acumulação originada pela morte natural destes animais no interior do

abrigo. Muitos microvertebrados procuram refúgio no interior de grutas e abrigos

naturais acabando por aí morrer de forma natural.

Nomeadamente, Apodemus sylvaticus tem por hábito procurar refúgio no interior

de grutas ou abrigos naturais como a Pena d'Água. Também Eliomys quercinus procura

refúgio nestes contextos para hibernar nos meses de Inverno.

Contudo, para este caso em concreto, podemos considerar que a acumulação

destes micromamíferos embora possa ser resultado destes dois processos tafonómicos,

63

se deve sobretudo à ação de predadores, muito provavelmente aves de rapina noturnas,

sobretudo corujas ebufos, principais responsáveis por acumulações deste tipo em

contextos arqueológicos (Pecharromán, 1993).

Isto porque por um lado, foram sobretudo identificados restos osteológicos

correspondentes a roedores, sendo estes as principais presas deste tipo de aves noturnas.

Sendo que, efetivamente, em alguns casos podemos considerar que os restos

odontológicos de roedores analisados possuem vestígios relacionados com processos de

digestão embora pouco agressivos, típicos do processo de ingestão e digestão pouco

destrutivo destas aves de rapina (ingestão das suas presas inteiras e posterior expulsão

das partes não digestíveis do seu organismo através de regurgitações) (Andrews, 1990;

Pecharromán, 1993). E por outro lado, porque apenas foram registados graus de

desgaste significativos do esmalte num dos restos odontológicos analisados (M1 de

Apodemus sylvaticus – Figura 28), que nos permitui confirmara provável morte de

forma natural deste micromamíferono interior do abrigo por velhice. Embora fosse

visível a existência de exemplares mais jovens e outros adultos, sobretudo no caso dos

restos odontológicos de Apodemus sylvaticus, nos quais em alguns casos são bastante

proeminentes os lóbulos e noutros estes encontram-se já desgastados, de uma forma

geral não foram identificados graus de desgaste significativos, típico de um longo

período de uso.

Figura 28: M1 de Apodemus sylvaticus onde são visíveis maiores e menores níveis de desgaste do esmalte

(Quadrado L29/ Camada E1) (Local: CSIC).

64

6. Processos pós-deposicionais– Diagénese

Após a deposição de um determinado elemento osteológico em ambiente

sedimentar têm lugar uma série de processos que atuam no tecido destes elementos. A

estes processos dá-se o nome de diagénese (Lyman, 2001).

A diagénese pode ser desencadeada por fatores intrínsecos ao osso, tais como a

estrutura molecular e química do osso, a porosidade da sua superfície e o seu tamanho,

mas também por fatores extrínsecos, como o pH do sedimento em que foi depositado, a

presença ou ausência de água/ humidade, a existência de variações de temperatura e a

ação bacteriana (Lyman, 2001).

Assim, além dos agentes tafonómicos de origem animal e antrópica acima

mencionados, que atuam na formação de registos faunísticos fósseis, existem ainda

agentes tafonómicos de origem antrópica, animal e natural que afetam estes registos

após a sua deposição, estes denominam-se de agentes pós-deposicionais (Lyman, 2001;

Valente, 2000).

Os agentes pós-deposicionais de origem antrópica e animal apresentam-se para o

caso das microfaunas sobretudo como agentes perturbadores das deposições originais.

Nos restos osteológicos aqui analisados a perturbação provocada por agentes de

origem antrópica é visível através do estado carbonizado em que alguns elementos

odontológicos se encontram, sobretudo nos Géneros Apodemus, Eliomys e Crocidura

(Figura 29).

Figura 29: restos odontológicos correspondentes aos Géneros Apodemus (à esquerda) (Quadrado N30/

Camada E1), Crocidura (ao centro) (Quadrado N30/ Camada E3) e Eliomys (à direita) (Quadrado L29/

Camada E1) carbonizados (Local: CSIC).

65

O fogo é utilizado pelo Homem para várias finalidades, como iluminação, para

aquecimento, na confeção de alimentos, na defesa contra animais ferozes, entre outras

finalidades ligadas à esfera ritual e simbólica. Se o fogo for efetuado sobre depósitos

faunísticos fósseis pode deixar a sua marca sobre estes.

A outra possibilidade que pode ser apresentada como a causa do estado

carbonizado destes dentes é a sua exposição aos fogos florestais de ordem natural,

recorrentes nas florestas mediterrânicas, ou a partir do Neolitico Antigo causados

intencionalmente pelo Homem com o intuito de desflorestar e criar campos de cultivo.

A coloração que o osso exibe revela a intensidade e duração da exposição deste

ao fogo, correspondendo a diferentes etapas de intensidade térmica. No caso dos

elementos odontológicos da Pena d'Água identificados com marcas de fogo, estes

revelam ter estado em contacto com o fogo durante um período de tempo prolongado,

causado por uma combustão de alguma intensidade térmica, pois possuem uma

coloração negra uniforme, causada pela carbonização do colagénio do osso (Stiner et al,

1995).

Por último, os agentes de origem natural consistem em fenómenos físicos,

químicos e biológicos que atuam sobre a superfície do osso alterando a sua composição

física. Destacam-se os fenómenos erosivos – vento e circulação de água; fenómenos

químicos próprios do sedimento – pH ácido; e biológicos – atividade de invertebrados

(Micróbios) incorporados no sedimento e nas raízes (Jans, 2003).

Um dos principais fenómenos erosivos que se pensa poder ter condicionado a

conservação dos restos osteológicos e odontológicos aqui alvo de estudo foi a ação da

água proveniente da nascente sazonal existente junto à parede do abrigo e, que escorre

sazonalmente pela zona escavada (Póvoas, 1998). Esta terá causado alterações físico-

químicas substanciais nos restos, comprometendo a sua conservação. Como já

mencionado foi identificada uma quantia significativa de restos odontológicos,

sobretudo no caso dos murídeos, em que apenas subsistiu o esmalte do dente, tendo

desaparecido toda a dentina (Figura 30). O esmalte sendo a parte do dente mais

resistente sobreviveu à ação erosiva da água.

66

Figura 30: M1 de Apodemus sylvaticus em que apenas subsistiu o esmalte do dente (Quadrado L29/

Camada E1) (Local: CSIC).

A decomposição química causada pela ação da água no osso vai provocar a

perda do cologénio levando à sua dissolução, sendo que a velocidade de dissolução

aumenta com a existência de temperaturas elevadas, de pH´s extremos e quanto maior

for o tempo de exposição (Lyman, 2001).

No caso da Pena d'Água sabemos que a exposição dos restos osteológicos à

escorrência de água embora sazonal ocorria pelo menos anualmente, cessando apenas

nos períodos do ano de maior seca (Verão).

Quanto às alterações de temperatura, apesar do concelho de Torres Novas se

encontrar inserido numa região de clima mediterrâneo, é visível a existência de um

microclima de tipo continental devido à proximidade à Serra de Aire e Candeeiros, que

se traduz na existência de temperaturas baixas durante o Inverno e no Verão de

temperaturas bastante elevadas (Araújo & Zilhão, 1991).

Aquando da realização do estudo preliminar das microfaunas da Pena d'Água,

Liliana Póvoas fez referência ao mau estado de conservação dos restos osteológicos por

ela analisados, dando também como causa provável a atividade erosiva causada pela

ação da água da nascente, que terá “lavado” o sedimento e causado a dissolução dos

restos osteológicos (Póvoas, 1998). Também Maria João Valente, que se dedicou ao

67

estudo da macro e mesofauna proveniente deste mesmo sítio, dá conta do mau estado de

conservação destes restos, que se encontravam muito fragmentados, à exceção dos

provenientes da camada C, sendo praticamente impossível observar a sua superfície

original, devido à existência de alterações físico-químicas, também para Valente

causadas pelos movimentos que os materiais sofreram causados pela ação hídrica e pela

ação química da água sobre os restos faunísticos (Valente, 1998).

Apesar disto, os restos odontológicos em que se observou este fenómeno foram

na sua maioria passíveis de identificação. Contudo, este acontecimento condicionou a

quantidade original dos restos depositados dado o elevado nível de fragmentação que

estes apresentavam. Liliana Póvoas refere mesmo que o estado e conservação das

amostras comprometeu a identificação taxonómica dos restos odontológicos (Póvoas,

1998).

Além da ação química causada pela água ocorreu ainda outro tipo de ação

química, para a qual não foi possível identificar a causa, que levou a existência de

concreções em torno de alguns dos restos odontológicos analisados, sobretudo no que

diz respeito aos dentes de arvicolídeos, que em alguns casos não tornaram possível

retirar as medições dos seus triângulos para identificação da espécie correspondente

(caso do Sub-género Terricola como já mencionado acima na Sistemática), não tendo

sido possível proceder a limpeza dos mesmos na câmara de ultra-sons disponibilizada

pelo Museu Nacional da História Natural e da Ciência, sendo estes passíveis de uma

revisão futura.

No que diz respeito aos fenómenos pós-deposicionais de origem biológica, no

conjunto das amostras analisadas apenas foi identificado num dos restos osteológicos

analisados, numa mandíbula de Crocidura russula, marcas de carácter tafonómico

relacionadas com a ação radicular (raízes) (Figura 31).

As marcas de raízes na superfície dos ossos são provocadas pela acidez que as

raízes de algumas plantas possuem, provocando um padrão irregular de dissolução

(Andrews, 1997). As raízes podem ainda causar a fragmentação dos ossos ao atravessa-

los.

68

Figura 31: mandíbula com dentes inclusos de Crocidura russula com marcas relacionadas com a

atividade radicular (Quadrado N30/ Camada E1) (Local: CSIC).

6.1. Estado das amostras

À semelhança do já observado na publicação de 1998 (Póvoas, 1998), os restos

que integram as amostras analisadas apresentam um elevado grau de fragmentação e são

essencialmente compostos por material odontológico.

Deste fator resulta o fato do Número de Restos Determinados (NRD) ser muito

inferior ao Número Total de Restos (NTR) (Gráfico 1).

15,50%

84,50%NTR

NRD

0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% 100,00%

Gráfico 1: Percentagem do NTR face ao NRD

69

Os elementos ósseos do esqueleto pós-cranial encontram-se escassamente

representados e num estado de fragmentação que impede a sua identificação anatómica.

Figura 32: vista geral do material osteológico de umas das amostras estudadas onde é visível o seu

elevado grau de fragmentação (Local: CSIC).

Este facto leva-nos a levantar questões relacionadas com a capacidade de

conservação dos restos osteológicos face aos restos odontológicos.

Por um lado, sabemos à partida que nem todas as partes do esqueleto,

especialmente no caso dos M amíferos, resistem da mesma forma aos processos pós-

deposicionais e aos agentes erosivos, situação que implica diferentes graus de

conservação. Os ossos de estrutura esponjosa, como os que constituem o esqueleto

axial, são menos resistentes que os ossos de estrutura densa, que compõem as

extremidades dos membros (Beherensmeyeer, 1978). Por sua vez, os dentes devido ao

facto de se encontrarem revestidos por esmalte são a parte do esqueleto que melhor se

conserva, uma vez que o esmalte pelas suas características físicas constituiu a parte mais

resistente do esqueleto de um Mamífero (Willson, 1990).

Por outro, partindo do princípio que estes dentes se encontravam inseridos nos

crânios ou nas mandíbulas, ou numa parte do mesmos, aquando da sua deposição, tendo

em conta a fraca representação destes elementos osteológicos, salvo algumas

mandíbulas incompletas e um fragmento de crânio, podemos assumir que ocorreu um

processo de decomposição química destes ossos. Este fator, além de estar diretamente

relacionado com os processos erosivos que aqui tiveram lugar, pode ainda dever-se ao

facto de os dentes analisados corresponderem sobretudo a exemplares juvenis ou sub-

70

adultos, como indicia o escasso grau de desgaste observado nos dentes das Ordens

Muridae e Gliridae analisados nestas amostras, o que faz com os ossos correspondentes

a estes animais, com uma estrutura óssea ainda pouco densa e não completamente

ossificada, sejam mais vulneráveis a estes processos destrutivos (Ioannidou, 2003).

Por último, podemos ainda considerar que os processos tafonómicos e pós-

deposicionais podem ter afetado a quantidade e diversidade original de Taxones

existentes nas amostras, podendo ter chegado até ao momento da escavação apenas os

restos osteológicos mais resistentes.

7. Distribuição espacial dos restos analisados

Quadro 5: distribuição dos restos das espécies identificadas por camada e quadrado

Ocupações Epipaleolítico Neolítico Antigo

Camadas F2 E1 E2 E3 E4 E5 E10

Total: Quadrados L30 N30 L29 L29 N30 N30 L29 N29

Taxas

Apodemus sylvaticus 7 13 42 48 9 3 29 2 153

Mus sp 0 0 1 0 0 0 0 0 1

Muridae NI 76 109 251 292 166 108 276 56 1334

Eliomys quercinus 2 5 7 17 3 3 9 3 49

Gliridae NI 4 12 3 16 - - 11 - 46

Microtus cabrerae 0 0 0 1 0 0 0 0 1

Microtus arvalis/

agrestis

0 0 0 0 0 0 0 1 1

Microtus sp 4 1 8 13 1 0 11 2 40

Microtus (Terricola)

duodecimcostatus/

lusitanicus

4 2 16 16 0 1 12 3 54

Arvicola cf sapidus 0 0 2 2 1 0 0 0 5

Arvicolidae NI 44 14 152 93 30 7 53 7 400

Crocidura russula 0 0 11 10 0 0 0 0 21

Crocidura sp 1 2 0 0 6 1 4 1 15

Soricidae NI - - 23 24 2 7 12 2 70

Total: 142 158 516 532 218 130 417 77 2190

71

Após a quantificação da totalidade de restos analisados em cada uma das

amostras e quadrados aqui alvo de estudo podemos retirar algumas conclusões

relacionadas com a sua distribuição na sequência estratigráfica. Comparando a

totalidade de restos analisados na camada mais antiga – camada F – correspondente ao

Epipaleolítico, com a registada na camada mais recente – camadas E – correspondente

ao Neolítico Antigo, é possível concluir que a camada F possui uma menor

concentração de material osteológico quando comparada com a camada E (Quadro 5;

Gráfico 2 e 3).

Isto pode dever-se ao facto de a camada F possuir um grau de sedimentação

menor do que o registado na camada E. Durante a crivagem do sedimento e triagem dos

restos foi possível visualizar que o quadrado L30/ F2 possuía uma grande quantidade de

elementos pétreos de grande dimensão e uma reduzida quantidade de sedimento em

relação aos quadrados da camada E, sendo este último de uma coloração castanha clara

quando comparado com o sedimento da camada E, de coloração castanho-escuro.

O primeiro ponto, pode estar relacionado com o primeiro momento de

descontinuidade estratigráfica, após a primeira fase de abatimento da pala do abrigo,

traduzindo-se na deposição de blocos pétreos que marcaram a transição entre os níveis

epipaleolíticos – camada F – e o início dos níveis neolíticos – camada E (Carvalho,

1998). O segundo ponto, deve encontrar-se associado à baixa deposição sedimentar

5%

95%

Camada F

Camada E

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Gráfico 2: Distribuição dos restos nas camadas F e E

72

provocada pela fixação dos solos em torno do abrigo devido à expansão florestal

ocorrida durante o Holocénico Inicial, sendo que a partir da camada E é observável

precisamente o fenómeno oposto, havendo uma maior deposição sedimentar de tipo

argiloso, relacionada com a introdução da agricultura na área em torno do abrigo e,

consequentemente com a desflorestação levada a cabo pelo Homem para criação de

campos de cultivo e pastorícia a partir do início do Neolítico Antigo (Carvalho, 1998).

Quando analisado o Gráfico 3, olhando para os quadrados da camada E podemos

concluir por um lado, que os quadrados N29 e N30 possuem uma menor concentração

de restos osteológicos quando comparados com o quadrado L29. Este acontecimento

deve-se certamente ao facto dos quadrados N29 e N30 se encontrarem na proximidade

da escorrência de água proveniente da nascente, ocorrendo uma maior “lavagem” do

sedimento e dissolução dos elementos osteológicos, enquanto que os quadrados L29 por

se encontrarem mais afastados da escorrência, os restos osteológicos foram menos

afetados pelo processo erosivo causado pela água. Durante a crivagem do sedimento e

triagem do material foi possível verificar que o sedimento dos quadrados N29 e N30 era

sobretudo constituído por elementos arenosos, ao contrário do que acontecia no

quadrado L29, em que o sedimento era argiloso, o que revela também a constante

“lavagem” a que o sedimento dos quadrados N29 e N30 esteve sujeito.

7%

23%

25%

10%

6%

19%

4%

6%

N30/E1

L29/E1

L29/E2

N30/E3

N30/E4

L29/E5

N29/E10

L30/F2

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30%

Gráfico 3: Percentagem de restos por quadrado e camada

73

8. Significado paleoecológico, paleoambiental e paleoclimático das espécies

identificados durante o Epipaleolítico e o Neolítico Antigo

Na totalidade das amostras analisadas a Ordem Rodentia é claramente

dominante face à Ordem Soricomorpha (ver Gráfico 4).

As Ordens Rodentia e Soricomorpha são as duas Ordens de microvertebrados

mais referenciadas no registo arqueológico português quando analisadas amostras

microfaunísticas (Cardoso et al, 1996; Storch & Uerpmann, 1976; Antunes, 1989;

Póvoas et al, 1992; Póvoas, 1998; 2001; Antunes et al, 1986; Póvoas et al, 1993;

Póvoas, 2001; Brugal et al, 2012; Morales, 1997; Jeannet, 2000; Pimenta, 2013).

O facto de terem sido identificadas sete espécies de roedores indicia a presença

na envolvente do Abrigo da Pena d'Águade um mosaico de habitats e a existência de

zonas bióticas específicas de cada uma delas. Sendo que, uma grande percentagem são

endémicas da Península Ibérica, nomeadamente Arvicola cf sapidus, Microtus cabrerae

e Microtus (Terricola) duodecimcostatus/ lusitanicus, ou autóctones da Península

Ibérica, nomeadamente Apodemus sylvaticus e Crocidura russula, destacando-se apenas

a introdução do Género Mus, alóctone da Península Ibérica e proveniente no caso do

Mus spretus do Norte de África e no caso da sua espécie simpátrica, Mus musculus, do

Médio Oriente.

A maioria espécies identificadas possui requisitos típicos de zonas de clima de

influência mediterrânea, nomeadamente Apodemus sylvaticus, Mus sp, Microtus

94%

6%

Ordem Rodentia

Ordem Soricomorpha

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Gráfico 4: Distribuição das Ordens Soricomorpha e Rodentia

74

(Terricola) duodecimcostatus/ lusitanicus, Microtus cabrerae, Eliomys quercinus e

Crocidura russula.

Como já mencionado o coberto vegetal existente na área em que se insere o

Abrigo da Pena d'Água é próprio de zonas de clima mediterrâneo (Figueiral, 1998),

sendo que a predominância notória dos murídeos (Apodemus sylvaticus) face aos

arvicolídeos (Microtus, Terricola e Arvicola) (ver Gráfico 5) vem ao encontro desta

realidade, uma vez que é característica das regiões de clima e coberto vegetal de tipo

mediterrâneo existentes no sul da Península Ibérica, como já observado por Liliana

Póvoas no estudo preliminar que realizou (Póvoas, 1998, pp. 81).

As principais espécies identificadas foram Apodemus sylvaticus, com um

número de restos osteológicos determinados muito elevado face aos restantes, seguido

de Microtus duodecimcostatus/ lusitanicus e de Eliomys quercinus (ver Gráfico 5).

Importa referir que no trabalho citado (Póvoas, 1998) a presença do Género Microtus

foi pouco significativa, sendo que os principais Géneros identificados foram Apodemus

e Mus, tendo sido aqueles que sofreram um acentuado aumento nas camadas mais

recentes da sequência estratigráfica.

A predominância de Apodemus sylvaticus reflete a grande abundância desta

espécie autóctone em todos os tipos de habitat da Península Ibérica, constituindo uma

presa muito frequente de diferentes predadores, responsáveis pela sua acumulação em

contextos arqueológicos (Pechorroman, 1993)

Esta predominância de Apodemus sylvaticus em todas as camadas analisadas

(ver Quadro 5), permite-nos retirar algumas conclusões acerca da caracterização da área

envolvente do abrigo, nomeadamente no que diz respeito à existência de manchas de

bosque com boa cobertura arbustiva e arbórea, onde tanto Apodemus sylvaticus como

Eliomys quercinus encontram os biótopos favoráveis ao seu desenvolvimento (Jubete,

2007; Moreno, 2007). Por outro, o facto de Apodemus sylvaticus se encontrar em

dominância face ao Género Mus, sugere que a expansão da agricultura ainda se

encontrava nas primeiras camadas E numa fase muito inicial, sendo ainda pouco

expressiva a existência de campos de cultivo face ao bosque. Embora seja de referir que

Eliomys quercinus além dos bosques e das zonas de matagal com afloramentos

rochosos, como as existentes junto ao abrigo, ocupa ainda campos desflorestados e

zonas rurais, que estariam a emergir na área em torno do Abrigo da Pena d'Água a partir

do Neolítico Antigo.

75

Ainda em relação aos murídeos é de destacar a identificação de um M1 de Mus

sp, uma vez que a ocorrência deste Género encontra-se diretamente relacionada com a

introdução da agricultura na Península Ibérica e com a criação de excedentes por parte

do Homem (Bonhomme & Thaler, 1988). Tanto Mus musculus como Mus spretus são

como referido espécies alóctones da Península Ibérica e a sua introdução e expansão

estão diretamente relacionadas com o desenvolvimento da Neolitização neste território a

partir do Neolítico Antigo (Bonhomme & Thaler, 1988).

Apesar de Mus spretus não ser uma espécie comensal do Homem, como

acontece com Mus musculus, a sua introdução na Península deve-se tal como a da sua

espécie simpátrica à ação do Homem, uma vez que este sendo autóctone do Norte de

África chegou à Península Ibérica devido à expansão da navegação (Bonhomme &

Thaler, 1988). O sucesso da sua distribuição encontra-se indiretamente relacionado com

a introdução da agricultura, uma vez que a desflorestação levada a cabo pelo Homem a

partir do Neolítico Antigo para abertura de campos de cultivo e desenvolvimento da

pastorícia, tornou possível a criação dos biótopos favoráveis ao seu desenvolvimento,

45%

0,30%

0,30%

0,30%

16%

11,70%

1,40%

14,40%

6,20%

4,40%

Apodemus sylvaticus

Mus sp

Microtus cabrerae

Microtus arvalis/agrestis

Microtus duodecimocustatus/…

Microtus sp

Arvicola cf sapidus

Eliomys quercinus

Crocidura russula

Crocidura sp

0% 10% 20% 30% 40% 50%

Gráfico 5: Distribuição do NRD

76

sendo esta uma espécie incapaz de sobreviver em zonas de bosque (Bonhomme &

Thaler, 1988).

Podemos com isto concluir que a introdução do Género Mus na zona geográfica

em que se insere o Abrigo da Pena d'Água foi consequência do desenvolvimento da

paisagem agrícola que terá tido início nos primórdios do Neolítico Antigo, situação que

se encontra refletida desde as camadas mais antigas (E-a e E-b).

No que concerne ao Género Microtus, este encontra-se na totalidade das

amostras analisadas sobretudo representado pelo Sub-género Terricola.

A percentagem de Terricola embora significativa é bastante inferior à registada

para Apodemus, o que indica uma reduzida extensão das áreas com um nível freático

elevado e detentoras de solos brados.

Este Sub-género encontra-se representado pelas espécies Microtus (Terricola)

duodecimcostatus e Microtus (Terricola) lusitanicus. Dada a fragmentação da maior

parte dos dentes hipsodontes destes arvicolídeos, não foi possível efetuar a

diferenciação específica das duas espécies presentes na Península Ibérica, sendo que a

zona do abrigo encontra-se como já referido numa zona de simpatria, podendo ocorrer

ambas. A sua presença, além de refletir a existência de um clima de tipo mediterrâneo,

sugere a existência na envolvente do Abrigo da Pena d'Água de espaços abertos de

origem natural ou antrópica, no caso de espaços agrícolas, com solos brados e húmidos

fáceis de escavar, a que esta espécie se encontra associada (Cotilla & Palomo, 2007;

Mira & Mathias, 2007).

No caso do Género Microtus sobressai o registo de Microtus cabrerae, ainda que

se tenha identificado apenas um resto correspondente a esta espécie, tendo em conta o

facto das suas populações terem vindo a sofrer uma acentuada fragmentação da sua

distribuição na Península Ibérica desde o Neolítico Antigo, devido à pressão antrópica

relacionada coma desflorestação e com a introdução de práticas agro-pastoris, que

levaram em determinadas zonas ao desaparecimento do seu habitat (Cabral, 2005). Esta

espécie ocupa também exclusivamente áreas de clima mediterrâneo, detentoras de

cobertura herbácea que se mantenha verde ao longo de todo o ano, na margem de

ribeiras temporárias (Fernandez-Salvador, 2007), como a existente junto ao Abrigo da

Pena d'Água.

77

Dentro do Género Microtus destaca-se ainda a identificação de um resto

atribuído ao grupo Microtus arvalis/ agrestis. Microtus agrestis, a espécie deste grupo

que ocorre atualmente no nosso território, ocupa espaços abertos, com pouca ou

nenhuma pressão de pastoreio, em zonas húmidas ou encharcadas (Palomo & Gisbert,

2007), pouco expressivas na área em torno do abrigo.

A baixa percentagem do Género Arvicola releva a existência pouco significativa

de solos húmidos e zonas encharcadas a que este roedor semi-aquático vive associado

(Ventura, 2007), embora as margens da nascente de água existente junto ao abrigo fosse

um local propício ao seu desenvolvimento.

Por último, a identificação de insectívoros, nomeadamente do Género

Crocidura, evidencia a existência de áreas abertas e de margens de bosques ou matagais

detentoras de biótopos secos e de cobertura vegetal arbustiva, habitat onde este Género

se desenvolve (López-Fuster, 2007) e corrobora a existência de um clima de tipo

mediterrâneo que lhe é favorável.

78

CONCLUSÃO

A sequência crono-estratigráfica extensa do Abrigo da Pena d'Água revelou a

existência de ocupações humanas contínuas durante todo o Neolítico e ocupações

esporádicas desde o Epipaleolítico até à Época Moderna.

O seu estudo revelou-se de grande importância para a caracterização do processo

de Neolitização na Estremadura portuguesa e atual território português. A partir da sua

sequência sedimentar holocénica foi possível reconhecer indicadores indiretos da

ocorrência de práticas agrícolas e pastoris nesta área geográfica desde o Neolítico

Antigo, tendo por base o estudo das associações de micromamiferos, e, sobretudo a

partir da identificação do Género Mus.

A identificação destes indicadores indiretos apenas foi possível graças à

excelente metodologia de trabalho levada a cabo durante os trabalhos de escavação, que

salvaguardou a totalidade dos materiais arqueológicos e permitiu o estudo de restos de

dimensões reduzidas, como os carvões e os restos osteológicos de microfaunas, a partir

da recolha de sedimento para flutuação e craivagem a água. Sendo de salientar o

excelente trabalho de caracterização do sítio que teve por base a existência de uma

abordagem pluridisciplinar através da conciliação das várias Arqueociências,

nomeadamente da Antracologia (Figueiral, 1998), da Zooarqueologia (Valente, 1998;

Póvoas, 1998) e da Geoarqueologia (Simões, 2012).

Importa também referir que a metodologia de crivagem a água do sedimento

utilizada com recurso às malhas de crivo de 4 mm, para recuperação da fração grossa, e

da malha de crivo de 0,6 mm, para recuperação da fração fina, se mostrou eficaz, uma

vez que permitiu a recuperação da totalidade dos restos osteológicos e odontológicos

presentes nas amostras, permitindo inclusive a recuperação de dentes soltos,

nomeadamente de M3 de Apodemus sylvaticus e Pm4 de Crocidura russula e de Eliomys

quercinus.

O estudo das associações microfaunísticas revelou-se de extrema importância

para a caracterização do Abrigo da Pena d'Água porque, para além de ter permitido

reconhecer indicadores indiretos da ocorrência de práticas agrícolas como referido,

permitiu caracterizar a nível climático, ecológico e ambiental o território em torno do

abrigo, a partir da identificação de habitats e áreas bióticas específicas de cada uma das

espécies identificadas.

79

A maioria das espécies identificadas, nomeadamente Apodemus sylvaticus, Mus

sp, Microtus (Terricola) duodecimcostatus/ lusitanicus, Microtus cabrerae e Crocidura

russula, possui requisitos bióticos de influência mediterrânea, revelando a existência de

um coberto de espetro vegetal dominantemente de carácter esclerófilo. Este é

característico de bosques e matagais de ifluência mediterrânea, com boa cobertura

arbustiva e arbórea, intercaladas por zonas de espaços abertos também com boa

cobertura arbustiva, em detrimento do coberto vegetal característico de zonas húmidas.

A existência deste tipo de coberto vegetal é atestada pela predominância de Apodemus

sylvaticus a par de Eliomys quercinus, de Crocidura russula e de Microtus

duodecimcostatus/ lusitanicus, espécies que se desenvolvem em ambientes de bosque,

no caso dos dois primeiros, ou em espaços abertos com solos macios em prados abertos

nas margens de matagais e de bosques no caso dos dois últimos.

A fraca expressão de Microtus arvalis/ agrestis, é explicável pelo facto de este

se distribuir sobretudo a norte, onde ocorre um clima de influência continental e se

desenvolve um espetro vegetal característico de zonas húmidas. O mesmo ocorre com

Arvicola cf sapidus, que se desenvolve sobretudo em zonas encharcadas, que na área

em torno do Abrigo da Pena d'Água teriam uma expressão muitíssimo reduzida.

As conclusões retiradas a partir da caracterização da distribuição das espécies

identificadas vêm confrimar os resultados dos estudos de Antracologia (Figueiral, 1998)

e de Zooarqueologia (Póvoas, 1998; Valente, 1998), realizados em materiais recolhidos

neste mesmo sítio arqueológico.

Contudo, a principal conclusão retiradada caracterização dos micromamiferos

identificados relaciona-se com a intervenção humana no meio natural em torno do

Abrigo da Pena d'Água durante a Neolitização. Esta teve um impacto significativo na

paisagem natural, como consequência direta da introdução da agricultura e

desenvolvimento da pastorícia, tendo implicações ao nível do coberto vegetal,

alterando-o. As alterações causadas por estas práticas originaram variações na

distribuição de determinadas comunidades de micromamíferos, que em alguns casos se

traduziram na diminuição drástica da distribuição de algumas espécies que habitavam

esta área, como foi o caso de Microtus cabrerae, ou, na introdução involuntária de

novas espécies, como foi o caso de Mus spretus e de Mus musculus.

No caso de Microtus cabrerae a intervenção do Homem no meio natural poderá

ter provocado uma redução das populações deste roedor, uma vez que a desflorestação

80

levada a cabo a partir do Neolítico Antigo para a criação de campos de cultivo e de

pastorícia, traduziu-se em muitos casos na destruição do seu habitat e na existência de

uma distribuição atual muito fragmentada. A desflorestação levada a cabo pelo Homem

na área em torno do Abrigo da Pena d'Água é atestada pelo estudo de Antracologia, no

sentido em que não foram identificados carvões correspondentes a pinheiros em

nenhuma das camadas analisadas, o que revela o declínio dos pinhais em benefício dos

zambujais desde o Holocénico Médio, como causa direta da intensificação da

desflorestação para criação de campos de cultivo e de pastorícia a partir do Neolítico

Antigo (Figueiral, 1998).

A criação de campos de pastorícia pode ainda ter levado à diminuição de

Microtus arvalis/ agrestis, a partir do Neolítico Antigo, no sentido em que Microtus

agrestis dá preferência a habitats em que exista pouca ou nenhuma pressão de pastoreio,

que se começava agora a desenvolver na área em torno do abrigo.

Noutros casos, a desflorestação revelou-se determinante na criação de biótopos

favoráveis ao desenvolvimento de determinadas espécies, nomeadamente Mus spretus.

Este, apesar de não manter relações de comensalidade com o Homem, habita sobretudo

zonas de campos abertos e de campos de cultivo de cereais de sequeiro. Esta prática

poderá ainda ter influenciado o desenvolvimento de Microtus duodecimcostatus/

lusitanicus, tendo em conta a sua preferência por habitats onde predominem os espaços

abertos de origem natural ou antrópica.

Em relação aos agentes tafonómicos que levaram à acumulação destes restos

osteológicos no interior do Abrigo da Pena d'Água podemos concluir que o agente

tafonómico responsável pela sua acumulação é de origem animal. Esta acumulação terá

sido originada pela ação de predadores, provavelmente aves de rapina noturnas,

sobretudo bufos e corujas, que frequentaram este local como refúgio ou abrigo e, que

naturalmente aqui depositaram as suas regurgitações que continham os restos das suas

presas, o que deu origem à acumulação de grande parte do conjunto de micromamíferos

estudada.

Não obstante, alguns dos restos aqui depositados podem ainda ser resultado da

morte natural destes animais no interior do abrigo, que lhes servia de refúgio. Tanto

Apodemus sylvaticus, como Eliomys quercinus, têm por hábito frequentar o interior de

abrigos naturais e grutas para procurar abrigo ou para hibernar nos meses de Inverno,

81

especificamente no caso do Eliomys quercinus, embora este panorama para este

contexto em concreto seja pouco provável.

Quanto aos processos pós-deposicionais foram detetados agentes tafonómicos de

origem antrópica numa percentagem reduzida de restos odontológicos dos Géneros

Apodemus, Eliomys e Crocidura, nomeadamente marcas de fogo. Foram também

detetados processos de origem natural, nomeadamente agentes erosivos, como a ação da

água proveniente da nascente sazonal localizada junto ao abrigo. Esta conciliada com as

temperaturas elevadas dos meses de estio, terá causado alterações físico-químicas

substanciais nos restos osteológicos que poderam ter comprometido a sua conservação.

Há ainda a registar processos pós-deposicionais de origem biológica, relacionados com

a atividade radicular da vegetação que terá coberto a superfície daqueles depósitos.

Concluindo, a existência de agentes tafonómicos pós-deposicionais erosivos

(ação da água), bem como as próprias características do sedimento, foram responsáveis

pelo mau estado de conservação em que a amostra faunística aqui alvo de estudo se

encontra. Os fragmentos de restos osteológicos são de dimensões reduzidas, o que não

permitiu identificações ao nível anatómico nem taxonómico. Os restos odontológicos

encontravam-se também estes com um grau de fragmentação significativo, o que

dificultou nalguns casos (sobretudo nos arvicolídeos) a identificação taxonómica.

Devemos assim considerar que os processos tafonómicos pós-deposicionais podem ter

afetado a quantidade e a diversidade original de espécies existentes nas amostras.

Para finalizar, no que diz respeito à distribuição espacial e estratigráfica dos

restos osteológicos podemos concluir que existe uma maior concentração na

generalidade dos quadrados da camada E, correspondente ao Neolítico Antigo, quando

comparados com o quadrado da camada F, correspondente ao Epipaleolítico. Este facto

relaciona-se provavelmente com o efeito/ causa da menor sedimentação registada na

camada F face à camada E. Há igualmente uma acentuada concentração de material

osteológico nos quadrados L29 face aos restantes, o que poderá derivar da circunstância

de os quadrados N29 e N30 se encontrarem na proximidade da escorrência de água e de

o seu sedimento ter sido alvo de uma constante ação erosiva, que provavelmente terá

originado a dissolução dos restos osteológicos que originalmente se encontrariam nestes

quadrados.

O estudo microfaunístico do Abrigo da Pena d'Água não se esgota nesta

dissertação tendo em conta a existência de amostras de sedimento ainda por estudar e de

82

uma grande quantidade de material osteológico anteriormente analisado pela Dra.

Liliana Póvoas que poderá ser no futuro alvo de uma revisão, tendo por base a mesma

metodologia de estudo no que concerne aos métodos de identificação e quantificação

aqui utilizados.

83

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Mammiféres, Nº 6, CNRS, Paris, pp. 3-12.

91

ANEXOS

92

ANEXO 1: TABELAS

93

Tabela 1: Registo dos M1 deMuridae

"As microfaunas do Abrigo da Pena d´Água (Torres Novas): proposta de

metodologia para o estudo de microfaunas em contextos arqueológicos."

2014/2015

Tabela de Registo dos M1 de Muridae

Quadrado:L29 Camada:E1

Espécie Fila M1 Direito M1Esquerdo NI

Apodemus sylv. 1 IIIIIII IIII

Apodemus sylv. 2 IIII IIIIIII

Apodemus sylv. 3 IIII IIIIIII

Mussp 3 I

Apodemus sylv. 4 IIIIII III II

Total: 21 Total: 22 Total: 2

Total: 45

Quadrado: N30 Camada:E1 (c.Ea)

Espécie Fila M1 Direito M1Esquerdo NI

Apodemus sylv. 1 IIIIIII IIIIIII

Total: 7 Total: 6 Total: 0

Total: 13

Quadrado: N30 Camada:E4 (c.Eb)

Espécie Fila M1 Direito M1Esquerdo NI

Apodemus sylv. 1 I II

Total: 1 Total: 2 Total: 0

Total: 3

Quadrado: N30 Camada:E3 (c.Eb)

Espécie Fila M1 Direito M1Esquerdo NI

Apodemus sylv. 1 IIII IIIII

Total: 4 Total: 5 Total: 0

Total: 9

Quadrado: N29 Camada:E10

Espécie Fila M1 Direito M1Esquerdo NI

Apodemus sylv. 1 II

Total: 2 Total: 0 Total: 0

Total: 2

Quadrado:L30 Camada:F2

Espécie Fila M1 Direito M1Esquerdo NI

Apodemus sylv. 1 IIIIII I

Total: 7 Total: 0 Total: 1

Total: 8

Quadrado:L29 CamadaE5

Espécie Fila M1 Direito M1Esquerdo NI

Apodemus sylv. 1 IIII IIIII I

94

Apodemus sylv. 2 III IIIIIII

Apodemus sylv. 3 III IIIIIII

Total: 10 Total: 20 Total: 1

Total: 31

Quadrado:L29 Camada:E2

Espécie Fila M1 Direito M1Esquerdo NI

Apodemus sylv. 1 I II

Apodemus sylv. 2 IIII IIIIIII

Apodemus sylv. 3 IIIII IIIIII

Apodemus sylv. 4 IIIII IIIIII

Apodemus sylv. 5 II IIIIIIIIII

Total: 17 Total: 31 Total: 0

Total: 48

95

Tabela 2: Registo dos restos odontológicos

"As microfaunas do Abrigo da Pena d´Água (Torres Novas): proposta de

metodologia para o estudo de microfaunas em contextos arqueológicos."

2014/2015

Tabela de Registo dos Restos odontológicos

Quadrado: L29 Camada: E1

Ordem: Rodentia

Família: Muridae

Espécie: Mus sp Espécie: Apodemus sylvaticus

Direito Esquerdo Direito Esquerdo Muridae NI

M1: M1: M1: M1: NI: 165

M2: M2: M2: M2: M1: 28

M3: M3: M3: M3: M2: 16

M1: M1:1 M1: 21 M1:21 M3: 10

M2: M2: M2: M2: M2: 23

M3: M3: M3: M3: M3: 8

Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula:

Total:1 Total: 42 Total: 250

Família: Gliridae

Espécie: Eliomys quercinus

Direito Esquerdo Gliridae NI

Pm4: Pm4: 1 Pm4: Pm4: NI: 3

M1: 1 M1: M1: 2 M1:

M2: 1 M2: M2: 1 M2:

M3: M3: 1 M3: M3:

Maxilar: Mandíbula: Maxilar: Mandíbula:

Total: 7 Total: 3

Família: Arvicolidae

Espécie: Microtus (Terricola) Espécie: Microtus sp Espécie: Arvicola cf sapidus Arvicolidae NI

Direito Esquerdo Direito Esquerdo Direito Esquerdo

M1: M1: M1: M1: M1: M1: NI: 152

M2: M2: M2: M2: M2: M2:

M3: M3: M3: M3: M3: M3:

M1: 5 M1: 6 M1: 1 M1: M1: 1 M1:

M2:1 M2: M2: 3 M2: 3 M2: 1 M2:

M3: M3: 4 M3: M3: 1 M3: M3:

Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula:

Total: 16 Total: 8 Total: 2 Total: 152

Ordem: Soricomorpha

Família: Soricidae

Espécie: Crocidura russula

Direito Esquerdo Soricomorpha NI

P4: P4: 1 P4: 1 P4: 1 NI: 23

M1: 1 M1: M1: 3 M1: 1

M2: 2 M2: M2: M2:

M3: M3: M3: M3:

Maxilar: Mandíbula: Maxilar:1 c/ P4 Mandíbula:

Total: 11 Total: 23

96

"As microfaunas do Abrigo da Pena d´Água (Torres Novas): proposta de

metodologia para o estudo de microfaunas em contextos arqueológicos."

2014/2015

Tabela de Registo dos Restos odontológicos

Quadrado: N30 Camada:E1 (c.Ea)

Ordem: Rodentia

Família: Muridae

Espécie: Mus sp Espécie: Apodemus sylvaticus

Direito Esquerdo Direito Esquerdo Muridae NI

M1: M1: M1: M1: NI: 67

M2: M2: M2: M2: M1: 8

M3: M3: M3: M3: M2: 8

M1: M1: M1: 7 M1:6 M3: 2

M2: M2: M2: M2: M2: 14

M3: M3: M3: M3: M3:10

Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula:

Total:0 Total: 13 Total: 109

Família: Gliridae

Espécie: Eliomys quercinus

Direito Esquerdo Gliridae NI

Pm4: Pm4: Pm4: Pm4: NI: 12

M1: M1: M1: 1 M1:

M2: M2: 1 M2: 1 M2: 1

M3: M3: 1 M3: M3:

Maxilar: Mandíbula: Maxilar: Mandíbula:

Total: 5 Total: 12

Família: Arvicolidae

Espécie: Microtus (Terricola) Microtus sp Espécie: Arvicola cf sapidus Arvicolidae NI

Direito Esquerdo Direito Esquerdo Direito Esquerdo NI: 14

M1: M1: M1: M1: M1: M1:

M2: M2: M2: M2: M2: M2:

M3: M3: M3: M3: M3: M3:

M1: M1: 1 M1: M1: M1: M1:

M2: M2: M2: 1 M2: M2: M2:

M3: 1 M3: M3: M3: M3: M3:

Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula:

Total: 2 Total: 1 Total: 0 Total: 14

Ordem: Soricomorpha

Família: Soricidae

Espécie: Crocidura sp

Direito Esquerdo Soricomorpha NI

P4: P4: P4: P4:

M1: M1:1 M1: M1:

M2: M2: M2: M2:

M3: M3: M3: M3:

Maxilar: Mandíbula: 1 c/ P4, M1, M2 Maxilar: Mandíbula:

Total: 2 Total: 0

97

"As microfaunas do Abrigo da Pena d´Água (Torres Novas): proposta de

metodologia para o estudo de microfaunas em contextos arqueológicos."

2014/2015

Tabela de Registo dos Restos odontológicos

Quadrado: L29 Camada:E2

Ordem: Rodentia

Família: Muridae

Espécie: Mus sp Espécie: Apodemus sylvaticus

Direito Esquerdo Direito Esquerdo Muridae NI

M1: M1: M1: M1: M1: 57

M2: M2: M2: M2: M2: 25

M3: M3: M3: M3: M3: 9

M1: M1: M1: 17 M1: 31 M2: 33

M2: M2: M2: M2: M3: 12

M3: M3: M3: M3: NI: 156

Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula:

Total: 0 Total: 48 Total: 292

Família: Gliridae

Espécie: Eliomys quercinus

Direito Esquerdo Gliridae NI

Pm4: 1 Pm4: Pm4: 1 Pm4: NI: 16

M1: M1: 1 M1: 1 M1:

M2: 4 M2: M2: 3 M2: 1

M3: M3: 1 M3: 2 M3: 2

Maxilar: Mandíbula: Maxilar: Mandíbula:

Total: 17 Total: 16

Família: Arvicolidae

Espécie: Microtus (Terricola) Espécie: Microtus sp Espécie: Arvicola cf sapidus Arvicolidae NI

Direito Esquerdo Direito Esquerdo Direito Esquerdo

M1: M1: M1: M1: M1: M1: NI: 93

M2: M2: M2: M2: M2: M2:

M3: M3: M3: M3: M3: M3:

M1: 3 M1: 5 M1: 5 M1: 2 M1:2 M1:

M2: 1 M2: 1 M2: 2 M2: 1 M2: M2:

M3: 3 M3: 3 M3: 2 M3:1 M3: M3:

Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: 1

Microtuscabrerae c/ M1

e M2

Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula

Total: 16 Total: 14 Total: 2 Total: 93

Ordem: Soricomorpha

Família: Soricidae

Espécie: Crocidura russula

Direito Esquerdo Soricomorpha NI

P4: P4: P4: P4: NI: 24

M1: M1: 4 M1: 1 M1: 4

M2: M2: M2: M2:

M3: M3: M3: M3:

Maxilar: Mandíbula: Maxilar: 1 c/ M2 Mandíbula:

Total: 10 Total: 24

98

"As microfaunas do Abrigo da Pena d´Água (Torres Novas): proposta de

metodologia para o estudo de microfaunas em contextos arqueológicos."

2014/2015

Tabela de Registo dos Restos odontológicos

Quadrado: N30 Camada: E4 (c.Eb)

Ordem: Rodentia

Família: Muridae

Espécie: Mus sp Espécie: Apodemus sylvaticus

Direito Esquerdo Direito Esquerdo Muridae NI

M1: M1: M1: M1: M1: 3

M2: M2: M2: M2: M2: 3

M3: M3: M3: M3: M3: 7

M1: M1: M1: 1 M1: 2 M2: 7

M2: M2: M2: M2: M3: 7

M3: M3: M3: M3: NI: 81

Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula:

Total: 0 Total: 3 Total: 108

Família: Gliridae

Espécie: Eliomys quercinus

Direito Esquerdo Gliridae NI

Pm4: Pm4: Pm4: Pm4:

M1: M1: M1: 1 M1:

M2: M2: M2: 1 M2:

M3: M3: M3: M3: 1

Maxilar: Mandíbula: Maxilar: Mandíbula:

Total: 3 Total: 0

Família: Arvicolidae

Espécie: Microtus (Terricola) Espécie: Microtus sp Espécie: Arvicola cf sapidus Arvicolidae NI

Direito Esquerdo Direito Esquerdo Direito Esquerdo NI: 7

M1: M1: M1: M1: M1: M1:

M2: M2: M2: M2: M2: M2:

M3: M3: M3: M3: M3: M3:

M1: M1: 1 M1: M1: M1: M1:

M2: M2: M2: M2: M2: M2:

M3: M3: M3: M3: M3: M3:

Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula:

Total: 1 Total: 0 Total: 0 Total: 7

Ordem: Soricomorpha

Família: Soricidae

Espécie: Crocidura sp

Direito Esquerdo Soricomorpha NI

P4: P4: P4: P4: NI: 7

M1: M1: 1 M1: M1:

M2: M2: M2: M2:

M3: M3: M3: M3:

Maxilar: Mandíbula: Maxilar: Mandíbula:

Total: 1 Total: 7

99

"As microfaunas do Abrigo da Pena d´Água (Torres Novas): proposta de

metodologia para o estudo de microfaunas em contextos arqueológicos."

2014/2015

Tabela de Registo dos Restos odontológicos

Quadrado: N30 Camada:E3 (c.Eb)

Ordem: Rodentia

Família: Muridae

Espécie: Mus sp Espécie: Apodemus sylvaticus

Direito Esquerdo Direito Esquerdo Muridae NI

M1: M1: M1: M1: M1: 6

M2: M2: M2: M2: M2: 7

M3: M3: M3: M3: M3: 7

M1: M1: M1: 4 M1: 5 M2: 16

M2: M2: M2: M2: M3: 11

M3: M3: M3: M3: NI: 119

Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula:

Total: 0 Total: 9 Total: 166

Família: Gliridae

Espécie: Eliomys quercinus

Direito Esquerdo Gliridae NI

Pm4: Pm4: Pm4: Pm4: 1

M1: M1: M1: M1: 1

M2: M2: 1 M2: M2:

M3: M3: M3: M3:

Maxilar: Mandíbula: Maxilar: Mandíbula:

Total: 3 Total: 0

Família: Arvicolidae

Espécie: Microtus (Terricola) Espécie: Microtus sp Espécie: Arvicola cf sapidus Arvicolidae NI

Direito Esquerdo Direito Esquerdo Direito Esquerdo

M1: M1: M1: M1: M1: M1: NI: 30

M2: M2: M2: M2: M2: M2:

M3: M3: M3: M3: M3: M3:

M1: M1: M1: M1: M1: M1: 1

M2: M2: M2: M2: 1 M2: M2:

M3: M3: M3: M3: M3: M3:

Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula:

Total: 0 Total: 1 Total: 1 Total: 30

Ordem: Soricomorpha

Família: Soricidae

Espécie: Crocidura sp

Direito Esquerdo Soricomorpha NI

P4: 1 P4: P4: P4: NI: 2

M1: 2 M1: 3 M1: M1:

M2: M2: M2: M2:

M3: M3: M3: M3:

Maxilar: Mandíbula: Maxilar: Mandíbula:

Total: 6 Total: 2

100

"As microfaunas do Abrigo da Pena d´Água (Torres Novas): proposta de

metodologia para o estudo de microfaunas em contextos arqueológicos."

2014/2015

Tabela de Registo dos Restos odontológicos

Quadrado: N29 Camada: E10

Ordem: Rodentia

Família: Muridae

Espécie: Mus sp Espécie: Apodemus sylvaticus

Direito Esquerdo Direito Esquerdo Muridae NI

M1: M1: M1: M1: M1: 3

M2: M2: M2: M2: M2: 1

M3: M3: M3: M3: M3: 0

M1: M1:0 M1:2 M1: M2: 6

M2: M2: M2: M2: M3: 7

M3: M3: M3: M3: NI: 39

Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula:

Total: 0 Total: 2 Total: 56

Família: Gliridae

Espécie: Eliomys quercinus

Direito Esquerdo Gliridae NI

Pm4: 1 Pm4: Pm4: 1 Pm4:

M1: M1: M1: M1:

M2: 1 M2: M2: M2:

M3: M3: M3: M3:

Maxilar: Mandíbula: Maxilar: Mandíbula:

Total: 3 Total: 0

Família: Arvicolidae

Espécie: Microtus (Terricola) Espécie: Microtus sp Espécie: Arvicola cf sapidus Arvicolidae NI

Direito Esquerdo Direito Esquerdo Direito Esquerdo

M1: M1: M1: M1: M1: M1: NI: 7

M2: 1 M2: M2: M2: M2: M2:

M3: 1 M3: M3: M3: M3: M3:

M1: M1: M1: 1

Microtusarvalis/agrestis

M1: M1: M1:

M2: M2: M2: M2: M2: M2:

M3: 1 M3: M3: 1 M3: M3: M3:

Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula:

Total: 3 Total: 2 Total: 0 Total: 7

Ordem: Soricomorpha

Família: Soricidae

Espécie: Crocidura sp

Direito Esquerdo Soricomorpha

NI

P4: P4: 1 P4: P4: NI: 2

M1: M1: M1: M1:

M2: M2: M2: M2:

M3: M3: M3: M3:

Maxilar: Mandíbula: Maxilar: Mandíbula:

Total: 1 Total: 2

101

"As microfaunas do Abrigo da Pena d´Água (Torres Novas): proposta de

metodologia para o estudo de microfaunas em contextos arqueológicos."

2014/2015

Tabela de Registo dos Restos odontológico

Quadrado: L30 Camada: F2

Ordem: Rodentia

Família: Muridae

Espécie: Mus sp Espécie: Apodemus sylvaticus

Direito Esquerdo Direito Esquerdo Muridae NI

M1: M1: M1: M1: M1: 6

M2: M2: M2: M2: M2: 3

M3: M3: M3: M3: M3: 1

M1: M1: M1:6 M1: 1 M2: 6

M2: M2: M2: M2: M3: 1

M3: M3: M3: M3: NI: 59

Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula:

Total: 0 Total: 7 Total: 75

Família: Gliridae

Espécie: Eliomys quercinus

Direito Esquerdo Gliridae NI

Pm4: Pm4: Pm4: Pm4: NI: 4

M1: M1: M1: M1:

M2: 1 M2: 1 M2: M2:

M3: M3: M3: M3:

Maxilar: Mandíbula: Maxilar: Mandíbula:

Total: 2 Total: 4

Família: Arvicolidae

Espécie: Microtus (Terricola) Espécie: Microtus sp Espécie: Arvicola cf sapidus Arvicolidae NI

Direito Esquerdo Direito Esquerdo Direito Esquerdo

M1: M1: M1: M1: M1: M1: NI: 44

M2: M2: M2: M2: M2: M2:

M3: M3: M3: M3: M3: M3:

M1: 1 M1: 2 M1: M1: M1: M1:

M2: M2: M2: 2 M2: 2 M2: M2:

M3: M3: 1 M3: M3: M3: M3:

Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula:

Total: 4 Total: 4 Total: 0 Total: 44

Ordem: Soricomorpha

Família: Soricidae

Espécie: Crocidura sp

Direito Esquerdo Soricomorpha NI

P4: P4: P4: P4:

M1: M1: M1: M1:

M2: M2: M2: M2:

M3: M3: M3: M3:

Maxilar: Mandíbula: 1 s/ dentes Maxilar: Mandíbula:

Total: 1 Total: 0

102

"As microfaunas do Abrigo da Pena d´Água (Torres Novas): proposta de

metodologia para o estudo de microfaunas em contextos arqueológicos."

2014/2015

Tabela de Registo dos Restos odontológicos

Quadrado: L29 Camada: E5

Ordem: Rodentia

Família: Muridae

Espécie: Mus sp Espécie: Apodemus sylvaticus

Direito Esquerdo Direito Esquerdo Muridae NI

M1: M1: M1: M1: M1: 29

M2: M2: M2: M2: M2: 17

M3: M3: M3: M3: M3: 4

M1: M1: M1:10 M1: 19 M2: 18

M2: M2: M2: M2: M3: 4

M3: M3: M3: M3: NI: 202

Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula:

Total:1 Total: 29 Total: 274

Família: Gliridae

Espécie: Eliomys quercinus

Direito Esquerdo Gliridae NI

Pm4: Pm4: 1 Pm4: Pm4: NI: 11

M1: M1: 2 M1: 1 M1: 1

M2: 2 M2: 1 M2: M2:

M3: M3: M3: M3: 1

Maxilar: Mandíbula: Maxilar: Mandíbula:

Total: 9 Total: 11

Família: Arvicolidae

Espécie: Microtus (Terricola) Espécie: Microtus sp Espécie: Arvicola cf sapidus Arvicolidae NI

Direito Esquerdo Direito Esquerdo Direito Esquerdo

M1: M1: M1: M1: M1: M1: NI: 53

M2: M2: M2: M2: M2: M2:

M3: M3: M3: M3: M3: M3:

M1: 2 M1: 1 M1: 3 M1: 1 M1: M1:

M2: 1 M2: 2 M2: 3 M2: 2 M2: M2:

M3: 4 M3: 2 M3: 1 M3:1 M3: M3:

Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula: Mandíbula:

Total: 12 Total: 11 Total: 0 Total: 53

Ordem: Soricomorpha

Família: Soricidae

Espécie: Crocidura sp

Direito Esquerdo Soricomorpha NI

P4: P4: P4: P4: NI: 12

M1: 1 M1: 1 M1: M1:

M2: M2: M2: M2:

M3: M3: M3: M3:

Maxilar: Mandíbula: 2 s/ dentes Maxilar: Mandíbula:

Total: 4 Total:12

103

Tabela 3: Tabela Geral de registos

"As microfaunas do Abrigo da Pena d´Água (Torres Novas): proposta de

metodologia para o estudo de microfaunas em contextos arqueológicos."

2014/2015

Tabela Geral de Registo

Folha Quad Cam. Data Classe Ordem Fam. Taxon Resto Lado Quant. Observações

1 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Muridea Apodemus

sylvaticus

M1 D 21 A maioria

completos

1 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Muridea Apodemus

sylvaticus

M1 E 21 A maioria

completos

1 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Muridea Mus sp

M1 E 1 Completo

1 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Muridea NI NI NI 2 Muito

fragmentados

1 N30 E1

(c.Ea)

23/09/93 Mam. Rod. Muridea Apodemus

sylvaticus

M1 D 7 A maioria

completos

1 N30 E1

(c.Ea)

23/09/93 Mam. Rod. Muridea Apodemus

sylvaticus

M1 E 6 A maioria

completos

1 N30 E4

(c.Eb)

07/10/93 Mam. Rod. Muridea Apodemus

sylvaticus

M1 D 1 Completo

1 N30 E4

(c.Eb)

07/10/93 Mam. Rod. Muridea Apodemus

sylvaticus

M1 E 2 Completos

1 N30 E3

(c.Eb)

07/10/93 Mam. Rod. Muridea Apodemus

sylvaticus

M1 D 4 A maioria

completos

1 N30 E3

(c.Eb)

07/10/93 Mam. Rod. Muridea Apodemus

sylvaticus

M1 E 5 A maioria

completos

1 N29 E10 07/10/93 Mam. Rod. Muridea Apodemus

sylvaticus

M1 D 2 Completos

1 L30 F2 16/09/93 Mam. Rod. Muridea Apodemus

sylvaticus

M1 D 6 A maioria

completos

2 L30 F2 16/09/93 Mam. Rod. Muridea NI NI NI 1 Muito

fragmentados

2 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Muridea Apodemus

sylvaticus

M1 D 10 A maioria

completos

2 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Muridea Apodemus

sylvaticus

M1 E 19 A maioria

completos

2

L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Muridea NI NI NI 1 Completo

2

L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Muridea Apodemus

sylvaticus

M1 D 17 A maioria

completos

2

L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Muridea Apodemus

sylvaticus

M1 E 31 A maioria

completos

2

N29 E10 07/10/93 Mam. Rod. Muridea Apodemus

sylvaticus

M1 NI 3

2

N29 E10 07/10/93 Mam. Rod. Muridea NI M2 NI 1

2

N29 E10 07/10/93 Mam. Rod. Muridea NI M2 NI 6

2

N29 E10 07/10/93 Mam. Rod. Muridea NI M3 NI 7

2

N29 E10 07/10/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

Pm4 D 1

2 N29 E10 07/10/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys Pm4 E 1

104

quercinus

2

N29 E10 07/10/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M2 D 1

2

N29 E10 07/10/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus (Terricola)

M2 D 1

3 N29 E10 07/10/93 Mam. Rod. Arvicolidae

Microtus

sp

M3 D 1

3 N29 E10 07/10/93 Mam. Rod. Arvicolidae

Microtus

arvalis/

Agrestis

M1 D 1

3 N29 E10 07/10/93 Mam. Rod. Arvicolidae

Microtus (Terricola)

M3 D 1

3 N29 E10 07/10/93 Mam. Rod. Arvicolidae

Microtus

sp

M3 D 1

3 N29 E10 07/10/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura

sp

P4 D 1

3 N29 E10 07/10/93 Mam. Rod. Arvicolidae

NI NI NI 7

3 N29 E10 07/10/93 Mam. Rod. Arvicolidae

Microtus

sp

M3 D 1

3 N29 E10 07/10/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura

sp

P4 D 1

3 N29 E10 07/10/93 Mam. Rod. Arvicolidae

NI NI NI 7

3 N29 E10 07/10/93 Mam. Rod. Arvicolidae

Microtus

sp

M3 D 1

3 N29 E10 07/10/93 Mam. Rod. Muridea

NI NI NI 39

3 N29 E10 07/10/93 Mam. Sor. Soricidae NI

NI NI 2

3 L30 F2 16/09/93 Mam. Rod. Muridea NI M1 NI 6

3 L30 F2 16/09/93 Mam. Rod. Muridea NI

M2 NI 3

3 L30 F2 16/09/93 Mam. Rod. Muridea NI

M3 NI 1

3 L30 F2 16/09/93 Mam. Rod. Muridea NI

M2 NI 6

3 L30 F2 16/09/93 Mam. Rod. Muridae NI

M3 NI 1

3 L30 F2 16/09/93 Mam. Rod. Muridea NI

NI NI 58

4 L30 F2 16/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M2 D 1

4 L30 F2 16/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M2 D 1

4 L30 F2 16/09/93 Mam. Rod. Gliridae NI

NI NI 4

4 L30 F2 16/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

(Terricola)

M1 D 1

4 L30 F2 16/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

(Terricola)

M1 E 2 Completos

4 L30 F2 16/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae NI

NI NI 44

4 L30 F2 16/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

(Terricola)

M3 E 1

4 L30 F2 16/09/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura

sp

Man. D 1 S/ dentes

4 N30 E4 07/10/93 Mam. Rod. Muridea NI M1 NI 3

105

4 N30 E4 07/10/93 Mam. Rod. Muridea NI

M2 NI 3

4 N30 E4 07/10/93 Mam. Rod. Muridea NI

M3 NI 7

4 N30 E4 07/10/93 Mam. Rod. Muridea NI

M2 NI 7

4 N30 E4 07/10/93 Mam. Rod. Muridea NI

M3 NI 7

4 N30 E4 07/10/93 Mam. Rod. Muridea NI

NI NI 81

5 N30 E4 07/10/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M1 E 1

5 N30 E4 07/10/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M2 E 1

5 N30 E4 07/10/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M3 E 1

5 N30 E4 07/10/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

(Terricola)

M1 E 1 Completo

5 N30 E4 07/10/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura

sp

M1 D 1

5 N30 E4 07/10/93 Mam. Sor. Soricidae NI NI NI

7

5 N30 E4 07/10/93 Mam. Rod. Arvicolidae

NI NI NI 7

5 N30 E3 07/10/93 Mam. Rod. Muridea NI

M1 NI 6

5 N30 E3 07/10/93 Mam. Rod. Muridea NI

M2 NI 7

5 N30 E3 07/10/93 Mam. Rod. Muridea NI

M3 NI 7

5 N30 E3 07/10/93 Mam. Rod. Muridea NI M2 NI 16

5 N30 E3 07/10/93 Mam. Rod. Muridea NI

M3 NI 11

5 N30 E3 07/10/93 Mam. Rod. Muridea NI

NI NI 119

5 N30 E3

07/10/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M1 D 1

6 N30 E3

07/10/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M2 E 1

6 N30 E3

07/10/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

Pm4 E 1

6 N30 E3

07/10/93 Mam. Rod. Arvicolidae Arvicola cf

sapidus

M1 E 1

6 N30 E3

07/10/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

sp

M2 E 1

6 N30 E3

07/10/93 Mam. Rod. Arvicolidae NI NI NI 30

6 N30 E3

07/10/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura

sp

M1 D 3

6 N30 E3

07/10/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura

sp

P4 D 1

6 N30 E3

07/10/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura

sp

M1 D 2

6 N30 E3

07/10/93 Mam. Sor. Soricidae NI NI NI 2

6 N30 E1

23/09/93 Mam. Rod. Muridea NI M1 NI 8

106

6 N30 E1 23/09/93 Mam. Rod. Muridea NI

M2 NI 8

6 N30 E1 23/09/93 Mam. Rod. Muridea NI

M3 NI 2

6 N30 E1 23/09/93 Mam. Rod. Muridea NI

M2 NI 14

6

N30 E1 23/09/93 Mam. Rod. Muridea NI M3 NI 10

7

N30 E1 23/09/93 Mam. Rod. Muridea NI NI NI 67

7

N30 E1 23/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M2 D 1

7

N30 E1 23/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M3 D 1

7

N30 E1 23/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M2 E 1

7

N30 E1 23/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M1 E 1

7

N30 E1 23/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M2 E 1

7

N30 E1 23/09/93 Mam. Rod. Gliridae NI NI NI 12

7

N30 E1 23/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

(Terricola)

M1 E 1

7

N30 E1 23/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

(Terricola)

M3 D 1 Completo

7 N30 E1 23/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae NI

NI NI 14

7 N30 E1 23/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

sp

M2 D 1

7 N30 E1 23/09/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura

sp

P4 D 1

7 N30 E1 23/09/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura

sp

M1 D 2

7

N30 E1 23/09/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura

sp

Man. D 1 C/ P4, M1e M2

8 N30 E1 23/09/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura

sp

M2 D 1

8 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Muridea NI

M1 NI 28

8 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Muridea NI

M2 NI 16

8 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Muridea NI

M3 NI 10

8 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Muridea NI

M2 NI 23

8 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Muridea NI

M3 NI 8

8 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Muridea NI

NI NI 163

8 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M1 D 1

8 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M2 D 1

8 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M1 E 2

8 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M2 E 1

8 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys M3 D 1

107

quercinus

8 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

Pm4 D 1

8 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Gliridae NI

NI NI 3

9 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

(Terricola)

M1 E 6

9 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

(Terricola)

M3 E 4

9 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

(Terricola)

M2 D 1

9 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

(Terricola)

M1 D 5

9 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

sp

M2 D 3

9 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

sp

M3 D 1

9 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

sp

M1 E 1

9 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

sp

M2 E 3

9 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Arvicola cf

sapidus

M1 D 1

9 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Arvicola cf

sapidus

M2 D 1

9 L29 E1 23/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae

NI NI NI 93

9

L29 E1 23/09/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura

russula

M1 D 1

9 L29 E1 23/09/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura

russula

M2 D 2

9 L29 E1 23/09/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura

russula

P4 E 1

10 L29 E1 23/09/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura

russula

M1 E 3

10 L29 E1 23/09/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura

russula

P4 D 1

10 L29 E1 23/09/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura

russula

P4 E 1

10 L29 E1 23/09/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura

russula

M1 E 1

10 L29 E1 23/09/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura

russula

Max. E 1 C/ P4

10 L29 E1 23/09/93 Mam. Sor. Soricidae NI NI NI

23

10 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Muridea NI

M1 NI 57

10 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Muridea NI

M2 NI 25

10 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Muridea NI

M3 NI 9

10 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Muridea NI

M2 NI 33

10 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Muridea NI

M3 NI 12

10 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Muridea NI

NI NI 156

10 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

Pm4 D 1

108

10 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

Pm4 D 1

11 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M2 D 4

11 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M1 D 1

11 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M3 D 1

11 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

Pm4 E 1

11 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M1 E 1

11 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M2 E 3

11 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M3 E 2

11 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M2 E 1

11 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M3 E 2

11 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Gliridae NI

NI NI 16

11 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

cabrerae

Man. D 1 C/ M1 e M2

11 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Arvicolacf

sapidus

M1 D 2

11

L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

(Terricola)

M1 E 5

11 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

(Terricola)

M2 E 1

12 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

(Terricola)

M3 E 3

12 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

(Terricola)

M1 D 3

12 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

(Terricola)

M2 D 1

12 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

(Terricola)

M3 D 3

12 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

sp

M1 E 2

12 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

sp

M2 E 1

12 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

sp

M3 E 1

12 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

sp

M1 D 5

12 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

sp

M2 D 2

12 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

sp

M3 D 2

12 L29 E2 24/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae

NI NI NI 93

12 L29 E2 24/09/93 Mam. Sor. Soricidae NI

NI NI 24

12

L29 E2 24/09/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura

russula

M1 E 1

12 L29 E2 24/09/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura

russula

M1 D 4

13 L29 E2 24/09/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura M1 D 4

109

russula

13 L29 E2 24/09/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura

russula

Max. E 1 C/ M2

13 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Muridea NI

M1 NI 29

13 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Muridea NI

M2 NI 17

13 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Muridea NI

M3 NI 4

13 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Muridea NI M2 NI 18

13 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Muridea NI

M3 NI 4

13 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Muridea NI

NI NI 201

13 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M3 D 2

13 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M1 D 2

13 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M2 D 1

13 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

Pm4 D 1

13

L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M1 D 1

13 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M1 D 1

14 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Gliridae Eliomys

quercinus

M3 D 1

14 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Gliridae NI

NI NI 11

14 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

sp

M1 D 3

14 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

sp

M2 D 3

14 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

sp

M3 D 1

14 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

sp

M1 E 1

14 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

sp

M2 E 2

14 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

sp

M3 E 1

14 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

(Terricola)

M1 D 2

14 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

(Terricola) M2 D 1

14 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

(Terricola) M3 D 4

14 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

(Terricola) M1 E 1

14

L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

(Terricola) M2

E 2

14 L29 E5 06/09/93 Mam. Rod. Arvicolidae Microtus

(Terricola) M3 E 2

15 L29 E5 06/09/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura

sp

M1 D 1

15 L29 E5 06/09/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura

sp

M1 D 1

15 L29 E5 06/09/93 Mam. Sor. Soricidae Crocidura Man. D 2 S/ dentes

110

sp

15 L29 E5 06/09/93 Mam. Sor. Soricidae NI NI NI

12