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IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação
Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013
ISSN: 1981-8211
DISCURSO DIRETO E HIPOSSEGMENTAÇÕES: RELAÇÕES POSSÍVEIS?1
Giordana TICIANEL (UEM)
Introdução
Abaurre (1988, 1991), Silva (1991), Cunha (2010) e Capristano e Ticianel (em
preparação), quando estudaram a aquisição da escrita e, mais especificamente, a
segmentação de palavras, observaram uma tendência: em produções textuais infantis, há
uma maior quantidade de hipossegmentações no contexto do discurso direto. Esse fato
poderia ser explicado, pois, segundo Abaurre (1991, p. 213), quando produzem essa forma
do discurso relatado, as crianças, por estarem “(...) provavelmente baseadas na hipótese de
que os diálogos, mesmo quando escritos, devem estar próximos da pronúncia das próprias
personagens (...)”, segmentariam menos as palavras e, portanto, as hipossegmentariam
mais. Já que a delimitação de palavras na fala não é realizada por meio de espaços em
branco, uma exclusividade da escrita.
Nesta pesquisa, também analisamos essa questão, observando se existiria, de fato,
alguma relação entre o discurso direto e as hipossegmentações. Por hipossegmentação,
compreendemos a ausência de espaços em branco que resulta na junção de duas ou mais
palavras (Cf. Abaurre (1988, 1991), Capristano (2007), Chacon (2009), Tenani (2010),
Silva (1991), dentre outros), como nos mostra o exemplo abaixo, no qual o escrevente une
o pronome “ele” ao verbo “disse”:
Figura 1 - Hipossegmentação2
1 Este artigo apresenta resultados iniciais da Iniciação Científica em andamento “Discurso direto e
hipossegmentação: é possível estabelecer relação?” (PIC/UEM: 9489/2012), desenvolvida sob orientação da
Prof. Dr. Cristiane Carneiro CAPRISTANO (UEM). 2 Leitura preferencial: “Ele disse”.
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Como já mencionado, observou-se essas segmentações não convencionais em um
contexto específico, o discurso direto (doravante, DD). Segundo Authier-Revuz (1991), no
DD, o enunciador, utilizando suas próprias palavras, relata outra situação de enunciação,
seja por meio da escrita ou da fala. Entretanto, no momento em que reproduz o discurso do
outro, o enunciador o transpõe integralmente, sem a necessidade de alguma alteração
sintática.
Para utilizar esse recurso de forma convencional na escrita, utilizam-se alguns sinais
gráficos, como os dois pontos, travessão e aspas, mas nem sempre esses elementos
aparecem. Geralmente, o que mais identifica o discurso direto é a presença de um verbo
elocucional (“falar”, “perguntar”, “dizer”, dentre outros), que pode aparecer tanto antes,
quanto depois, da fala relatada (AUTHIER-REVUZ, 1991).
Nesta pesquisa, voltamos nosso olhar para o DD produzido com base em uma
história em quadrinhos, e mais especificamente, para as ocorrências de hipossegmentação
observadas nesse contexto. Com um objetivo comparativo, analisamos também essas
ocorrências nos momentos de narração, que denominamos Outros Contextos (doravante,
OC). Observemos a presença desses dois contextos (DD e OC) e as ocorrências de
hipossegmentação na produção textual abaixo:
3Figura 2 - (Escola Privada I - Suj. 08)
4
3 Notar que a sigla abaixo dos exemplos das produções textuais, corresponde às escolas que fizeram parte do
corpus da pesquisa (a saber, Escola Pública I e II e Escola Privada I e II). A abreviação Suj. (sujeito), seguida
de um número, corresponde ao escrevente dessa produção textual.
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Na figura 2, estão destacados em azul os trechos caracterizados como OC,
momentos no qual são apresentadas as características dessa narração, além da introdução
das falas dos personagens, feitas por meio do uso de verbos elocucionais. Na sequência
desses verbos, sublinhados em verde, estão os momentos de DD. As ocorrências de
hipossegmentação estão circuladas e são observadas nos dois contextos de análise.
Em produções textuais como essa, investigamos se o aumento das
hipossegmentações, em enunciados de escreventes do terceiro ano (antiga segunda série),
poderia ter relação com a presença do discurso direto. Adicionalmente, observamos as
estruturas mais hipossegmentadas nos dois contextos, DD e OC, com o intuito de
apresentarmos um olhar inicial qualitativo sobre os dados. Nosso material são produções
textuais de alunos do terceiro ano do ensino fundamental, de duas escolas de ensino privado
e duas de ensino público, da cidade de Maringá (PR). Fato que também possibilitou uma
análise da relação discurso direto/hipossegmentação levando em consideração o contexto
de ensino público e privado.
Na sequência, apresentaremos o material e a metodologia de análise dos dados, os
resultados e suas hipóteses, além das principais conclusões obtidas. Buscando, desse modo,
entender se de fato existiria relação entre a produção de discurso direto e as ocorrências de
hipossegmentação.
1. Material e metodologia
Para o desenvolvimento da pesquisa foram realizadas, inicialmente, coletas de
produções textuais em quatro escolas da cidade de Maringá; duas de ensino público e duas
de ensino privado, como já adiantado. Essas coletas foram autorizadas pelo comitê de ética
da Universidade Estadual de Maringá (UEM) (COPEP/UEM – CAAE:
07983213.0.0000.0104), além de terem sido autorizadas pelos pais ou responsáveis dos
alunos, mediante a assinatura do TCLE (termo de consentimento livre e esclarecido).
4 Leitura preferencial: “Era uma vez, uma bruxinha # chamada bruxinha boa. Ai, # apareceu alguma coisa
estranha. # Ai, ela viu que era um elefante. # Ai, ela gritou: “Socorro, um elefante!” # Ai, ela perguntou: “O
que você quer?”# Ai, o elefante chamado Fofucho deu # um beijo na bruxinha boa. # Ele disse: “Um beijo”.
Ai, eles se # tornaram grandes amigos. Fim.”
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As coletas foram realizadas durante as aulas, no período matutino ou vespertino,
para isso a princípio, cada um dos alunos recebeu uma cópia da história em quadrinhos
abaixo:
Figura 3 – História em quadrinhos
Após a leitura, realizada pela pesquisadora, os alunos foram convidados a recontar
oralmente a história, e, na sequência, foi solicitado que a escrevessem. Os 143 textos
recolhidos constituíram nosso corpus de pesquisa (82 da escola pública e 61 da escola
privada).
De posse desse material, seguimos uma metodologia para buscarmos resposta a
questão: existiria uma relação quantitativa entre a produção de discurso direto e as
hipossegmentações? Para isso, primeiramente, atribuímos uma leitura possível às
produções textuais, necessária, pois as crianças apresentam oscilações em sua escrita em
relação à segmentação, à ortografia, à pontuação e a outros aspectos. Para exemplificar esse
fato apresentamos a produção textual abaixo, recolhida do corpus:
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Figura 4 - (Escola Pública I - Suj. 11) 5
Neste exemplo notamos dificuldades na atribuição de leitura, relacionadas,
principalmente: a delimitação de espaços em branco (destacadas em azul), a distribuição
das letras nas palavras (destacadas em verde) e a ausência de pontuação. Mesmo assim,
utilizando como base o texto fonte (a história em quadrinhos), conseguimos atribuir leitura
as produções textuais.
O passo seguinte foi à identificação dos trechos de DD em oposição aqueles de OC,
pois a maioria das crianças não marca essa forma do discurso relatado de maneira
convencional em sua produção, isto é, utilizando dois pontos, travessão, aspas, mudança de
linhas e, algumas delas também não utilizam os verbos elocucionais. No entanto, é
importante destacar que, apesar desse fato, elas não deixam de produzi-lo, como ilustra o
exemplo abaixo:
Figura 5 - (Escola Pública I - Suj. 06) 6
5 Leitura preferencial: “A feiticeira e o elefante # Um dia ela, a bruxa, estava sozinha. # E de repente, a bruxa
viu alguma coisa, # e a bruxa descobriu que era um elefante. # E a bruxa perguntou: “o que que você quer?”.
E o elefante: # “eu quero te dar um beijo”. E depois do beijo # o elefante falou: “um beijo”.
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No exemplo acima, estão destacados em verde os trechos de DD. Percebemos que o
que possibilita a sua identificação é o fato de conhecermos o texto base para essa produção
textual (a história em quadrinhos), mesmo não existindo nenhuma marca gráfica
convencional de DD (travessão, aspas ou uso de verbos elocucionais). Depois dessa etapa,
passamos a análise quantitativa dos dados.
Para a análise quantitativa, primeiramente, realizamos a contagem das palavras não
envolvidas em hipossegmentação em oposição às palavras envolvidas em
hipossegmentação, nos contextos DD e OC, contrastando o ensino privado/público.
Fizemos essa opção para que a análise fosse realizada de maneira proporcional e não
comparássemos unidades de medidas diferentes. Na sequência, como acréscimo,
destacamos as estruturas mais hipossegmentadas em ambos os contextos. Por fim,
apresentaremos os resultados obtidos e possíveis hipóteses para explicá-los.
2. Resultados e discussão
Seguindo a metodologia proposta, inicialmente, realizamos a contagem de todas as
palavras das produções textuais, para que pudéssemos identificar quantas não estavam
envolvidas em hipossegmentação e quantas estavam. A primeira contagem que realizamos
foi feita apenas contrastando os contextos DD e OC. Obtivemos o seguinte resultado:
6 Leitura preferencial: “A bruxa está sozinha. # Depois ela viu uma coisa. # “Socorro um elefante!” # “O que
você quer de mim ?” # Smack # “Um kiss””.
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Gráfico 1 - Palavras não
Por meio do gráfico 1, percebemos que
DD, dessas 1393 (91,16%), não estavam envolvidas em hipossegmentação e 135 (8,8%)
estavam. Em OC foram produzidas 5158 pala
em hipossegmentação e 249 (5%) não estavam envolvida
hipótese observada, de que os escreventes hipossegmentariam mais no DD,
produzindo muito mais palavras em OC, o que
possibilidades de “erro”, a maior parte das palavras envolvidas em hipossegmentação
estava localizada no contexto de
Quando analisamos
manteve, mas com algumas parti
0%
20%
40%
60%
80%
100%
DD (1528)
91,16% (1393)
Palavras não envolvidas e envolvidas em
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Palavras não envolvidas e envolvidas em hipossegmentação –
Por meio do gráfico 1, percebemos que as crianças produziram 1528 palavras no
DD, dessas 1393 (91,16%), não estavam envolvidas em hipossegmentação e 135 (8,8%)
estavam. Em OC foram produzidas 5158 palavras, dessas 4909 (95%) estavam envolvidas
e 249 (5%) não estavam envolvidas. Esses resultados confirma
de que os escreventes hipossegmentariam mais no DD,
do muito mais palavras em OC, o que poderia representar mu
, a maior parte das palavras envolvidas em hipossegmentação
contexto de DD.
analisamos esse resultado por contexto de ensino, observamos que
algumas particularidades. Observemos primeiro na escola pública:
DD (1528) OC (5158)
91,16% (1393) 95% (4909)
8,80%
(135) 5% (249)
Palavras não envolvidas e envolvidas em
hipossegmentação - TOTAL
Palavras
envolvidas
hipossegmentação
Palavras envolvidas
em hipossegmentação
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– TOTAL
produziram 1528 palavras no
DD, dessas 1393 (91,16%), não estavam envolvidas em hipossegmentação e 135 (8,8%)
vras, dessas 4909 (95%) estavam envolvidas
Esses resultados confirmaram a
de que os escreventes hipossegmentariam mais no DD, pois, mesmo
poderia representar muito mais
, a maior parte das palavras envolvidas em hipossegmentação
observamos que ele se
na escola pública:
não
em
hipossegmentação
envolvidas
hipossegmentação
IV CONALI
Gráfico 2 - Palavras não envolvidas e envolvidas em hipossegmentação
Nesse contexto de ensino
maior quantidade de palavras envolvidas em hipossegmentação estava no DD
foram produzidas no DD
hipossegmentação. Em contrapartida, em
(6,5%) estavam envolvidas em hipossegmentação.
Nas instituições de ensino particular notamos fato semelhante, mas com uma
peculiaridade em relação ao contexto público:
Gráfico 3 - Palavras não envolvidas e envolvidas em hipossegmentação
0%
20%
40%
60%
80%
100%
DD (923)
90,57% (836)
Palavras não envolvidas e envolvidas em
hipossegmentação
0%
20%
40%
60%
80%
100%
DD (605)
Palavras não envolvidas e envolvidas em
hipossegmentação
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Palavras não envolvidas e envolvidas em hipossegmentação – Escolas Públicas
Nesse contexto de ensino, observamos resultados semelhantes aos gerais, pois
maior quantidade de palavras envolvidas em hipossegmentação estava no DD
foram produzidas no DD, 923 palavras, destas, 87 (9,4%) estavam envolvidas em
contrapartida, em OC foram produzidas 3055 palavras, e destas 199
(6,5%) estavam envolvidas em hipossegmentação.
Nas instituições de ensino particular notamos fato semelhante, mas com uma
em relação ao contexto público:
Palavras não envolvidas e envolvidas em hipossegmentação – Escolas particulares
DD (923) OC (3055)
90,57% (836) 93,48% (2856)
9,4% (87) 6,5% (199)
Palavras não envolvidas e envolvidas em
hipossegmentação - Escolas Públicas
Palavras não
em hipossegmentação
Palavras envolvidas
hipossegmentação
DD (605) OC (2103)
92% (557)97,6% (2053)
8% (48) 2,3% (50)
Palavras não envolvidas e envolvidas em
hipossegmentação - Escolas Particulares
Palavras não
envolvidas em
hipossegmentação
Palavras envolvidas
hipossegmentação
Congresso Nacional de Linguagens em Interação
Escolas Públicas
hantes aos gerais, pois a
maior quantidade de palavras envolvidas em hipossegmentação estava no DD. Ou seja,
87 (9,4%) estavam envolvidas em
foram produzidas 3055 palavras, e destas 199
Nas instituições de ensino particular notamos fato semelhante, mas com uma
Escolas particulares
não envolvidas
hipossegmentação
envolvidas em
hipossegmentação
envolvidas em
hipossegmentação
envolvidas em
hipossegmentação
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Novamente, mesmo os escreventes produzindo muito mais palavras em OC (2103),
a maior quantidade, percentualmente, de palavras envolvidas em hipossegmentação foi
observada no DD. A saber, 605 palavras produzidas e 48 (8%) envolvidas em
hipossegmentação. Enquanto isso em OC apenas 50 palavras, (2,3%), estavam envolvidas
em hipossegmentação.
O que chama a atenção nesse resultado é a grande diferença em relação à
quantidade de palavras envolvidas em hipossegmentação no DD e em OC. No ensino
privado notamos que das palavras envolvidas em hipossegmentação, 8% estavam no DD, e
apenas, 2,3% em OC. Esse fato evidencia que para essas crianças a presença do DD é um
fato importante para o aparecimento das hipossegmentações, ainda mais do que na escola
pública, em que o DD também pareceu um contexto relevante para o aumento das
hipossgmentações, mas a diferença em relação à OC foi muito menor (87 (9,4%) palavras
envolvidas em hipossegmentação no DD e 199 (6,5%) em OC).
Poderíamos pensar que essa maior quantidade de ocorrências de hipossegmentação
no DD, no contexto da escola privada, estaria relacionada à presença de alguma estrutura
específica, que poderia ter levado as crianças a hipossegmentarem mais. Por isso, como já
adiantado, observamos, também, as estruturas que os escreventes mais hipossegmentaram
em OC e em DD e nos dois contextos de ensino:
Palavras Hipossegmentadas
Contexto Público
Contexto Privado
DD
Ocorrências:
34 (29,82%)
OC
Ocorrências:
80 (70,17%)
DD
Ocorrências:
22 (45,8%)
OC
Ocorrências:
26 (54,16%)
“oque” = 13 “derrepente” = 17 “oque” = 15 “derrepente” = 12
Tabela 1 - Palavras hipossegmentadas – Contexto público e privado
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Por meio da tabela, percebemos que as estruturas mais hipossegmentadas em DD e
em OC, não diferem nos dois contextos de ensino. A estrutura “oque” foi a mais
hipossegmentada no DD, ela apareceu em grande parte das produções textuais, devido,
principalmente, a pergunta que aparece na história em quadrinhos: “O que você quer de
mim?”. Em OC, a estrutura “derrepente” foi a mais hipossegmentada. Estrutura muito
presente nas narrativas, tem por função iniciar o conflito, por isso foi utilizada por grande
parte dos escreventes. Vale destacar que ambas as estruturas (“oque” e “derrepente”)
aparecem hipossegmentadas, também, em textos de escreventes em contato com a escrita
há muito tempo. Esse fato nos mostra que não parece ser, apenas, uma estrutura em
específico a justificativa para a maior quantidade de hipossegmentações no DD, pois, além
de termos estruturas hipossegmentadas repetidamente tanto em DD quanto em OC, o
contexto parece ser muito relevante para o aparecimento das hipossegmentações, como nos
mostraram os resultados quantitativos anteriores.
Poderíamos também pensar que pela maior quantidade de ocorrências de
hipossegmentação em OC, tanto na escola pública (80 ocorrências) quanto na privada (26
ocorrências), a hipótese de que as crianças hipossegmentam mais no DD, não se
confirmaria. No entanto, como já mencionado, nossa análise quantitativa é realizada
proporcionalmente, isto é, contrastando sempre a quantidade de palavras envolvidas e não
envolvidas em hipossegmentação em relação à quantidade de palavras produzidas em cada
contexto. A título de exemplo, as 80 ocorrências de hipossegmentação em OC no ensino
público, representam muito menos, percentualmente, do que as 34 ocorrências de
hipossegmentação no DD para as 923 palavras produzidas. Assim, pelo aspecto inicial
qualitativo e principalmente pelos resultados quantitativos, parece existir de fato uma
relação muito estreita entre o discurso direto e as hipossegmentações.
Considerações Finais
Os dados analisados confirmam a hipótese observada por Abaurre (1988, 1991),
Silva (1991), Cunha (2010) e Capristano e Ticianel (em preparação), pois, tanto
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quantitativamente, quanto qualitativamente nas observações iniciais, o DD estava
relacionado às hipossegmentações. Em números percentuais ficou evidente que, mesmo nos
dois contextos de ensino (público e privado), os escreventes produzindo muito mais
palavras em OC, a maior quantidade de palavras envolvidas em hipossegmentação estava
localizada no contexto do DD. Foi na escola particular que o contexto pareceu ainda mais
saliente, principalmente, pela pouca quantidade de palavras envolvidas em
hipossegmentação em OC.
Nosso estudo qualitativo inicial, com base apenas na observação das estruturas mais
hipossegmentadas, também confirmou a hipótese, pois nos mostrou que nos dois contextos
de produção (DD e OC) e nos dois contextos de ensino (público e privado) apareceram
estruturas recorrentes que foram hipossegmentadas. Além disso, o número alto de
ocorrências de hipossegmentação em OC, não inibiu os resultados anteriores, pois eles são
a justificativa da realização da contagem de palavras feitas sempre proporcionalmente ao
contexto de produção (DD ou OC).
A presente pesquisa teve como foco um olhar quantitativo, para dar continuidade,
um olhar qualitativo acerca desses resultados também seria relevante, com o intuito de,
agora, observar se existiriam diferenças na “qualidade” das hipossegmentações no DD, das
hipossegmentações em OC, contrastando novamente os dois contextos de ensino7. Isso
possibilitará um olhar ainda mais aprofundado a respeito da relação que podemos afirmar
ser possível entre o discurso direto e a segmentação de palavras, especificamente, a
hipossegmentação.
Referências ABAURRE, M. B. M. O que revelam os textos espontâneos sobre a representação que faz a
criança do objeto escrito? In: KATO, M. (org.). A concepção da escrita pela criança.
Campinas: Pontes Editores, 1988. P.135–142.
_____. A relevância dos critérios prosódicos e semânticos na elaboração de hipóteses sobre
segmentação na escrita inicial. Boletim da ABRALIN, Campinas, v.11, 1991, p. 203-217.
7 Essa análise será realizada na Iniciação Científica “Discurso direto e hipossegmentação: é possível
estabelecer relação?” (PIC/UEM: 9489/2012) que, como já afirmado, está em andamento.
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AUTHIER-REVUZ, J. Observações no campo do discurso relatado. In:______. Palavras incertas: As não coincidências do dizer. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1991. P.
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CAPRISTANO, C. C. Mudanças na trajetória da criança em direção à palavra escrita. Campinas: Unicamp, 2007, 253p. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada) - Instituto de
Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007.
CAPRISTANO, C. C.; TICIANEL, G. F. Possíveis relações entre discurso direto e hipossegmentações (em preparação).
CHACON, L. Segmentações não-convencionais na escrita de pré-escolares:
entrecruzamentos entre convenções ortográficas e constituintes prosódicos. In:
LAMPRECHT, R. R. (org.) Aquisição da linguagem: estudos recentes no Brasil. Porto
Alegre: Editora da PUC-RS, 2009. P. 282-295.
CUNHA, A. P. N. As segmentações não-convencionais da escrita inicial: uma discussão sobre o ritmo linguístico do português brasileiro e europeu. Pelotas: UFPEL, 2010, 190p. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) - Universidade Federal de Pelotas,
Pelotas, 2010.
SILVA, A. Alfabetização: a escrita espontânea. São Paulo: Editora Contexto, 1991.
TENANI, L. E. A grafia dos erros de segmentação não-convencional de palavras. In:
Cadernos de Educação | FaE/PPGE/UFPel | Pelotas, 2010, p. 247-269.