DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

71

Transcript of DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

Page 1: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA
Page 2: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA MÓDULO I

Prof.º Dr . Nuno Alves Correia de Melo

AEDI - UFPA

2018

UN

IVER

SID

AD

E FED

ERA

L D

O P

ARÁ

A

SSES

SOR

IA D

E ED

UC

ÃO

A D

ISTÂ

NC

IA

Page 3: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

Prezado(a) aluno(a)

Esta disciplina encontra-se dividida nas seguintes Unidades Didáticas:

Unidade 1 – Introdução

Apresenta as definições e conceitos básicos da ecologia, para direcioná-los a uma compreensão mais profunda sobre a ecologia amazônica no decorrer do curso.

Unidade 2 – A Floresta Amazônica

Esta unidade descreve as principais características do ecossistema florestal amazônico e seus principais ecótonos, juntamente com a discussão dos principais fatores que interagem com a floresta.

Unidade 3 – As Águas da Região Amazônica

Esta unidade aborda o conhecimento da diversidade dos recursos hídricos da bacia amazônica, com os seus diversos tipos de água. Englobando também a fauna e flora que interagem e são afetadas pela variação do nível da água.

Unidade 4 – Biodiversidade

Apresenta noções básicas sobre a biodiversidade, ou seja, a diversidade biológica da maior região de floresta tropical do planeta. Diversidade da flora e da fauna neotropical, conceito de megadiversidade. Unidade 5 – Interações Tróficas e Ciclagem de Nutrientes

Trata das interações tróficas realizadas pela fauna e pela flora, além dos processos de ciclagem de nutrientes na floresta e nos rios da região Amazônica.

Unidade 6 – Exploração Humana na Amazônia

Descreve os principais impactos causados na floresta e nos rios pela ação antrópica ao longo de gerações.

Você terá a oportunidade de pesquisar, analisar, discutir, dentro de cada nível, as maneiras distintas de se estudar ecologia. Esperamos que, com os conhecimentos que serão adquiridos e/ou atualizados nesta disciplina, você enriqueça a sua atuação profis- sional dando-lhe um novo significado.

Bons estudos.

Nuno Filipe Alves Correia de Melo

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

APR

ESEN

TA

ÇÃ

O D

A D

ISC

IPLI

NA

Page 4: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

1 – Introdução 6 1.1 – Definições 8 1.1.1 – Espécie ou Organismo 8

2 – A Floresta Amazônica 11 2.1 – As Formações Vegetais 12 2.1.1 – As Florestas de Terra Firme 13 2.1.2 – As Florestas Abertas na Terra Firme 14 2.1.3 – Formações Vegetais Abertas Inundadas 15 2.2 – Ecologia Da Floresta 16 2.2.1 – A Auto-Sustentabilidade da Floresta 16 2.2.2 – A Floresta Amazônica Está Morrendo? 17

3 – As Águas Da Região Amazônica 20 3.1 – Tipos De Águas 21 3.1.1 – Águas Brancas 21 3.1.2 – Águas Pretas 22 3.1.3 – Águas Claras 22 3.2 – Os Grandes Rios Amazônicos 23 3.2.1 – O Amazonas 23 3.2.2 – O Rio Negro 24 3.2.3 – O Rio Madeira 24 3.2.4 – O Rio Tapajós 24 3.2.5 – O Tocantins 25 3.3 – As Áreas Alagáveis 25 3.3.1 – A várzea 26 3.3.1.3 – A Fauna da Várzea 29 3.3.2 – O Igapó do Rio Negro 30 3.4 – Igarapés E Pequenos Rios Amazônicos 30 3.5 – Lagos Amazônicos 31 3.6 – Região Costeira 34 3.6.1 – Estuários 34 3.6.2 – Manguezais 35

4 – Biodiversidade 40 4.1 – Mas Afinal o Que é Biodiversidade? 40 4.2 – A Dinâmica da Biodiversidade 40 4.3 – A Diversidade Neotropical 42

5 – Interações Tróficas e Ciclagem de Nutrientes 45 5.1 – Interações Tróficas 45 5.1.1 – Neutralismo 45 5.1.2 – Mutualismo 45 5.1.3 – Competição 45 5.1.4 – Inibição 46 5.1.5 – Comensalismo46 5.1.6 – Mimetismo 46

4

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

SUM

ÁR

IO

Page 5: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

5.2 – Ciclagem de Nutrientes 47 5.2.1 – Ciclo da Água 48 5.2.2 – Ciclo do Carbono 50 5.2.2 – Ciclo do Nitrogênio 50 5.2.4 – Ciclo do Fósforo 51 5.2.5 – Ciclo do Enxofre 52

6 – A Exploração Humana Na Amazônia 54 6.1 – Impactos Antrópicos 54 6.1.1 – Impactos nos Ecossistemas Terrestres 54 6.1.2 – Impactos nos Ecossistemas Aquáticos 55 6.2 – A Perda da Biodiversidade na Amazônia 61 7 – Referências 65

5

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

SUM

ÁR

IO

Page 6: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

1 – Introdução Prezados alunos, esta unidade possui como objetivo o conhecimento dos conceitos introdutórios e

elementares da Ecologia, para direcioná-los a uma compreensão mais profunda sobre a ecologia amazônica no decorrer do curso.

O homem tem-se interessado pela ecologia, de uma forma prática, desde os primeiros tempos da sua história. Na sociedade primitiva, cada indivíduo, para sobreviver, precisava ter um conhecimento concreto de seu ambiente, isto é, das forças da natureza, das plantas e dos animais que o rodeavam. A civilização começou, de fato, quando o homem aprendeu a servir-se do fogo e de outros instrumentos para modificar o seu ambiente. Para a humanidade no seu conjunto é mesmo mais necessário do que nunca possuir um conhecimento inteligente do ambiente em que vive, condição de sobrevivência da nossa complexa civilização, uma vez que as leis da natureza fundamentais não foram revogadas; apenas a sua natureza aparente e as relações quantitativas se foram alterando à medida que a população humana foi aumentando e se expandiu o poder do homem para alterar o ambiente (ODUM, 1988).

Tal como todos os aspectos do conhecimento, a ciência ecologia teve, ao longo da história, um desenvolvimento gradual, embora espasmódico. As obras de Hipócrates, Aristóteles e outros filósofos da cultura grega, contêm material de natureza ecológica. Entretanto, os gregos não tiveram uma palavra para designá-la (ODUM, 1988).

Mas afinal, vocês sabem o que é Ecologia? Qual a origem

da palavra Ecologia? A que áreas ela está intimamente

relacionada? Como está subdividida?

A palavra ecologia, deriva da palavra grega oikos, que significa “casa” ou “lugar onde se vive”, e logia, que significa “estudo”. Em sentido literal, a ecologia é o estudo dos organismos em sua casa. Foi proposta pela primeira vez pelo biólogo alemão Ernest Haeckel, em 1869. Antes disso, muitos grandes homens do renascimento biológico dos séculos XVIII e XIX, tinham contribuído para o tema, embora a designação de “ecologia” não fosse ainda utilizada (ODUM, 1988).

Ao longo dos tempos, foram feitas muitas definições sobre a palavra ecologia:

Ernest Haeckel (zoólogo alemão) em 1870: “Por ecologia, entendemos como um conjunto de

conhecimentos em relação à administração da Natureza - a investigação de todas as relações do animal com seu ambiente inorgânico e orgânico”.

Burdon-Sanderson (1890): Elevou a Ecologia a uma das três divisões naturais da Biologia: Fisiologia – Morfologia – Ecologia

Elton (1927): “História natural científica”. Andrewartha (1961): “O estudo científico da distribuição e da abundância de seres vivos”. Odum (1963): “A estrutura e a função da Natureza”. Ricklefs (1980): “Estudo do meio ambiente enfocando as interrelações entre os organismos e seu meio

circundante”.

No nosso curso, utilizaremos a definição elaborada por Krebs (1972):

“Ecologia é o estudo científico dos processos que regula-

mentam a distribuição e a abundância de seres vivos e as

interações entre eles, além do estudo de como esses seres

vivos, em troca, intercedem no transporte e na transfor-

mação de energia e matéria na biosfera (ou seja, o estudo

6

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 7: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

do planejamento da estrutura e função dos ecossistemas)

(Figura 01).”

Figura 01 – Diferentes interações do sistema natural e a sua relação com os seres vivos dentro do bioma terra. Fonte: (www.educacional.com.br/home.asp).

O principal objetivo da ecologia é entender os princípios de operação dos sistemas naturais e prever suas reações às mudanças.

Para se entender ecologia e a sua importância na vida moderna, é necessário que esta ciência seja considerada não isoladamente, mas relacionada com as outras áreas da biologia (Figura 2A) e também com outras ciências (Figura 2B).

Assim como todas as ciências, a Ecologia necessita adotar subdivisões. Para isso faz uso da teoria dos sistemas. Um sistema é um conjunto cujos elementos unem-se por meio de propriedades calcadas na interação, na interdependência e na sensibilidade a certos mecanismos reguladores, de tal modo que formam um todo unificado (ODUM, 1988).

Desse modo, precisamos caracterizar primeiramente a hierarquia ecológica, para que possamos compreender os processos que serão apresentados no decorrer do nosso curso, além de alguns conceitos fundamentais que serão aplicados.

1 Caso queira ler mais a respeito de definições sobre Ecologia, ler: Odum, 1988; Pinto-Coelho, 2002.

7

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 8: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

B)

Figura 02 – Interações entre a ciência Ecologia e as demais áreas da Biologia (A) e com outras ciências (B).

É importante que se perceba que a hierarquia ecológica inclui elementos funcionais e estruturais que, quando combinados, definem o sistema ecológico e fornecem um meio de selecionar um conjunto de indicadores representativos das características chaves do sistema. Todos os sistemas ecológicos têm elementos da composição e da estrutura que surgem através dos processos ecológicos. As condições características dependem da função ecológica, chave mantenedora, que por sua vez produz elementos adicionais à composição e à estrutura. Se as ligações entre processos que se desenvolvem e os elementos da composição e estrutura se quebram, então a sustentabilidade e integridade estão em risco e a recuperação pode ser difícil e complexa (Figura 03).

1.1 – Definições 1.1.1 – Espécie ou Organismo É o conjunto de indivíduos semelhantes, que podem se intercruzar, e originar descendentes férteis (pelo

menos potencialmente). O conceito de espécie não é só taxonômico. Cada espécie de organismo é também uma unidade

evolutiva, pois se os membros que a compõem são capazes de se reproduzirem e originar descendentes, todos eles apresentam caracteres em comum. Exemplos: Homo sapiens (homem), Daphnia gessneri (pulga d´água), Sotalia fluviatilis (boto tucuxi), Euterpe

oleracea (açaí).

1.1.2 – Habitat Lugar onde uma espécie (ou mais de uma) vive. Nesse local os organismos encontraram, além do abrigo

das intempéries do meio físico e de eventuais ameaças biológicas (predação), alimento e poderão se reproduzir.

1.1.3 – Nicho Ecológico Unidade mais íntima da distribuição de uma espécie.

8

A)

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 9: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

1.1.4 – População Conjunto de indivíduos da mesma espécie que vivem em um território, cujos limites são em geral

delimitados pelo ecossistema no qual essa população está presente. Todas as espécies estão estruturadas em unidades populacionais. Como exemplo dessas unidades, temos:

Exemplos: Panthera onca (onça) da ilha do Marajó; Eudocimus ruber (Guará) da ilha dos Guarás; Bertholletia excelsa (Castanha do Pará) do Baixo Amazonas.

1.1.5 – Comunidade ou Biocenose As populações de organismos que vivem em uma determinada área geográfica, formam uma assembléia

na qual cada espécie encontra-se adaptada a um nicho ecológico em particular.

1.1.6 – Ecossistemas É um complexo sistema de relações, entre os componentes bióticos e os componentes abióticos,

representado pelos fatores físico-químicos. Diferentes organismos cumprem diferentes papéis no funcionamento dos ecossistemas (Figura 02).

1.1.7 – Biosfera Compreende todos os ecossistemas da terra, ou seja, a camada da Terra que contem vida.

Figura 03– Fluxo de energia no ecossistema. Fonte: adaptado de wps.prenhall.com/esm_christopherson_ geosystems_5/0,6339,390931-,00.utf8.html.

Agora que você já se familiarizou com a hierarquia ecológica (espécie, população, comunidade e ecossistema), passemos às dicas de estudo que serão fundamentais para o seu aprendizado.

Dicas de Estudo: - Faça todos os exercícios propostos, pois eles serão solicitados de forma seqüencial e também para lhe

ajudar na construção do seu conhecimento; - Procure complementar seu estudo com as leituras recomendadas, além de se atualizar com jornais,

revistas e programas de televisão; - O seu tutor ou tutora estará sempre ao seu alcance. Você poderá o contatar sempre que necessitar de

auxílio. - Questione sempre, procure criar e acrescentar informações novas ao conteúdo apresentado. Este é um

9

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 10: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

passo importante para que você exercite sua independência didática.

Após realizar o estudo desta unidade, responda às questões propostas para complementar seu aprendizado. Assim que terminar de resolver as questões propostas, envie para o seu Tutor no prazo de 5 dias.

1) Utilizando uma situação à sua escolha, caracterize a ciência Ecologia, como uma das ciências que tenha a seu cargo a responsabilidade da manutenção da humanidade. Utilize 10 linhas para a sua resposta.

2) Cite no mínimo cinco (5) exemplos de como a ciência Ecologia, pode estar ligada á sua área de trabalho.

Envie suas respostas a seu tutor!

10

ATIVIDADE 01

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 11: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

2 – A Floresta Amazônica Esta unidade tem como objetivo a apresentação das principais características do ecossistema florestal

amazônico e seus principais ecótonos, juntamente com a discussão dos principais fatores que interagem com a floresta. AflorestaAmazônica é o maior sistema florestal do planeta, ultrapassando os limites das fronteiras políticas de vários países e ocupando as bacias de rios gigantescos, como a do Rio Orinoco e a do próprio Rio Amazonas. Esta floresta avança pelos seus afluentes e penetra ao norte nos territórios da Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa, alcançando o Atlântico, passando pelo delta do Amazonas, recobrindo parte do nordeste do Maranhão. Ao sul invade os Estados de Tocantins e Mato Grosso, com a região de planalto, e por tanto de cerrado, na forma de matas de galerias (mata de beira de rio). A oeste é encontrada até os pés dos Andes, em terras bolivianas, peruanas, equatorianas e colombianas. A área de abrangência da Amazônia Legal perfaz uma superfície de aproximadamente 5.217.423 km2 o que corresponde a cerca de 61% do território brasileiro. Além destas “divisões”, a floresta amazônica ainda engloba 38% (1,9 milhões de km²) de florestas densas; 36% (1,8 milhões de km²) de florestas não densas; 14% (700 mil km²) de vegetação aberta, como cerrados e campos naturais, sendo 12% da área ocupada por vegetação secundária e atividades agrícolas (Ambiente Brasil, 2006) (Figura 04).

A Amazônia tem características marcantes que tornam sustentável tamanha vastidão verde. Nesse contexto, pode-se destacar a extraordinária continuidade das florestas, e da grandeza de sua rede pluvial. Ela sustenta aos mais variados tipos de ecossistemas, mesmo analisando regiões e altitudes diversas. Uma característica marcante desta floresta é a grande variabilidade encontrada nas terras amazônicas, a qual pode ser destacada pelos rios, plantas e animais.

A floresta amazônica encontra-se hoje, mais do que nunca, no foco de discussões relacionadas ao desenvolvimento sustentável, pois, esta se configura como uma das poucas áreas com grande reserva de madeiras tropicais do planeta. Esta floresta abriga um vasto patrimônio biológico sob a forma de milhões de espécies de organismos. Ela também regula o ciclo hidrológico da maior bacia hidrográfica do mundo (bacia amazônica), e de todo um continente sul-americano, fornecendo cerca de 20% de toda a água doce que chega aos oceanos com a descarga dos rios amazônicos. No entanto, atualmente, esta floresta está desaparecendo rapidamente devido à expansão dos impactos de natureza antrópica, o que é evidenciado através da expansão agrícola e da retirada indiscriminada de madeira em diversos países Amazônicos.

Shubart (1983) afirmou que infelizmente, o que se tem observado é que as tentativas de implantação da agricultura na Amazônia, principalmente as monoculturas, se avaliadas pelo critério da sustentabilidade ao longo do tempo, não têm sido bem sucedidas.

Figura 04 – Região Amazônica. Fonte: www.gtz-amazonia.org/ portugues/contexto. htm.

11

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 12: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

Onde estaria o “celeiro do mundo” antevisto por Hum-

boldt e Bonpland no início do século XIX?

AAmazônia como floresta tropical, apresenta-se como um dos ecossistemas mais complexos e sensíveis que se conhece. Todos os elementos (clima, solo, fauna e flora) estão tão estreitamente relacionados entre si, visto que não se pode considerar nenhum deles como principal. Diante disso, se requer soluções mais diferenciadas para sua utilização. As pressões que se delineiam sobre os recursos naturais e os espaços desta imensa região tornam urgente, a formulação de políticas públicas bem fundamentadas, que garantam a obtenção de um equilíbrio entre conservação da natureza e produção econômica sustentada.

A Amazônia é muitas vezes identificada com a área coberta de florestas, da bacia de drenagem do rio Amazonas. Embora haja realmente uma grande superposição, estabelecendo, uma relação entre a bacia de drenagem daquele rio e as paisagens reconhecidas como Amazônicas, estas ultrapassam vários limites geográficos, em áreas fora do campo de atuação do rio Amazonas, localizadas na zona Bragantina (nordeste do estado do Pará), no Oeste do estado do Maranhão, no Amapá, na Guiana Francesa, Suriname, Guiana e na Venezuela.

Considera-se a Amazônia como uma unidade paisagística natural, constituindo um domínio

morfoclimático e fitogeográfico bem definido.

Entende-se por domínios morfoclimáticos, grandes áreas

nucleares poligonais com padrões de relevo, clima, dre-

nagem, solos e vegetação que lhes são peculiares. Esses

domínios são separados de outros domínios não por lim-

ites bem definidos, mas sim por largas faixas transiciona-

is complexamente compartimentadas (SHUBART, 1983).

A Amazônia representa um grande domínio morfoclimático, caracterizado por grandes extensões de terras baixas, distribuídas entre planícies de inundação, tabuleiros de vertentes convexizadas, morros baixos mamelonares e relevos residuais; a drenagem é perene. A vegetação é constituída predominantemente pela floresta tropical pluvial em suas diversas formas, comportando, porém uma diversidade considerável, que está relacionada com os aspectos da topografia regional, dos solos e do clima atuante na região, e certamente também com as mudanças climáticas pelas quais passou a região no Período Quaternário2.

2.1 – As Formações Vegetais

A posição equatorial em que a floresta Amazônica se encontra, resultou numa entrada constante de energia solar, acompanhada por um abastecimento quase permanente de massas de ar úmidos, com ausência de estações frias, e raramente secas, e sem uma amplitude térmica muito proeminente. Estas são as principais características que possibilitaram o aparecimento desta vasta e densa floresta. Na região da periferia da floresta, mais precisamente nos estados de Rondônia, Acre e parte do Amazonas, existe o fenômeno da “friagem”. Este fenômeno consiste na penetração da massa de ar tropical atlântico na Amazônia no período de inverno do hemisfério sul, provocando uma diminuição brusca de temperatura.

Em geral, a Amazônia recebe imenso aporte pluvial de 1600 a 3600 mm por ano, fazendo exceção aos campos de Boa Vista, em Roraima. As temperaturas médias variam entre 24 e 28ºC. A matéria orgânica em decomposição no ambiente, provinda em sua maior parte da serrapilheira da floresta é um dos principais “inputs” de nutrientes para toda a teia alimentar da floresta e das águas amazônicas, o que pode resultar numa elevada produtividade destes ambientes.

2 Para saber mais sobre histórica geológica na região Amazônica, leia Sioli (1991) pág. 15 e Salati et al., (1998) pág. 103.

12

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 13: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

A Amazônia é caracterizada por grandes extensões de florestas densas (Figura 05), com uma grande diversidade Florística, grande biomassa, sendo genericamente denominada de floresta tropical úmida ou floresta tropical pluvial. Esta floresta é comumente conhecida como a “Hiléia”, denominada assim por Von Humboldt no início do século XIX, no entanto, as formações vegetais da Amazônia são muito mais variadas do que esta generalização sugere (SHUBART, 1983).

Figura 05 - A “hiléia” amazônica Fonte:

www.escolavesper.com.br/images/flor

esta.jpg

A distribuição da vegetação é em grande parte controlada por fatores climáticos, podendo destacar a transição entre a floresta e o cerrado no Brasil Central que está correlacionada com um aumento na duração da estação seca, que é de no máximo 3 meses na Amazônia e de 5 a 6 meses no Brasil Central. Nesse contexto, a distribuição da vegetação também está relacionada com os fatores edáficos e as atividades humanas, que representa um dos grandes entraves para a conservação da floresta.

O clima na região amazônica é quente e úmido apresentando variações segundo a quantidade total de precipitações e a duração da estação seca, ao longo de toda a bacia. Assim que no Noroeste da Amazônia ocorrem as mais altas precipitações, distribuídas uniformemente durante todo o ano. Já ao longo de um corredor mais seco que liga os campos de Roraima ao cerrado no Brasil Central, passando pela região de Santarém, a precipitação anual total situa- se entre 1500 a 1750 mm, ocorrendo uma estação seca de 3 meses. Porém estas variações são muito pequenas para determinar diferenças

marcantes na vegetação da Amazônia. Algumas observações indicam que nas áreas com maiores níveis de umidade encontram-se mais epífitas e plantas herbáceas no sub-bosque das florestas de terra firme (SHUBART, 1983).

Diante disso os fatores do solo, sobretudo as condições de drenagem e, em menor escala, a disponibilidade de nutrientes, assumem maior importância na Amazônia como controle da distribuição das formações vegetais.

De uma forma simplificada, a vegetação da Amazônia pode ser dividida em vegetação dos terrenos holocênicos, freqüentemente inundados, e na vegetação de terra firme, isto é, dos terrenos mais antigos que o Holoceno, que se encontram pelo menos a alguns metros acima do nível mais alto dos rios amazônicos (Shubart, 1983). Por outro lado, podem-se distinguir os diversos tipos de florestas, com o dossel contínuo das formas de vegetação aberta, representados por campos, campinas, cerrados, etc.

2.1.1 – As Florestas de Terra Firme O termo “terra firme” se aplica à todas as florestas que não são sazonalmente inundadas pela cheia dos

rios, diferenciadas assim das florestas de Várzea e Igapó. Elas ocupam cerca de 80% da área da Amazônia. Nesse ecossistema ocorrem diversos tipos de florestas, são:

• A Floresta Alta, com grande biomassa, estendendo-se por grandes áreas do planalto Amazônico, dos

escudos cristalinos e dos terraços pleistocênicos, apresentando, dentro de relativa homogeneidade fisionômica, algumas variações florísticas.

• A Floresta de Cipó, com uma ampla área de distribuição no Tocantins, e aparentemente correlacionada com uma compactação do horizonte B do solo, que dificulta o enraizamento e causa problemas de deficiência hídrica nos meses mais secos; é caracterizada por grande abundância de cipós, que ocupam as clareiras de árvores caídas;

• A Savana, de áreas de transição para o cerrado do Brasil Central, com biomassa média e boa penetração de luz, muitas árvores caducifólias;

13

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 14: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

• A Floresta de Bambu, encontrada principalmente no Acre, sendo caracterizada pela dominância de várias espécies deste vegetal;

• AFloresta de Campina (campinarana), também conhecida por caatingaAmazônica, mata relativamente baixa, com predominância de árvores finas, que ocorre sobre podzol hidromórfico ou regossolo de areia branca; ocorre em pequenas manchas em quase toda a Hiléia; este tipo de associação de solos e vegetação constitui a principal fonte de águas ricas em ácidos húmicos e fúlvicos, que formam os rios de água preta autóctones da Amazônia;

• As Florestas Serranas ou de Neblina ocorrem nas áreas elevadas; e sempre são floristicamente muito interessantes.

2.1.2 – As Florestas Abertas na Terra Firme Estes ecossistemas são encontrados em diversas áreas da região amazônica. Estas florestas possuem

extensão variável, porém não alcançando muitos hectares, o que as configura como verdadeiras “ilhas” dentro da Hiléia. Essas formações vegetais são muito diversas entre si, tanto no quis diz respeito a sua fisionomia quanto a sua composição florística, refletindo a diversidade de fatores envolvidos em sua formação.

Além destes pequenos e complexos ambientes ocorrem ainda, grandes áreas de campos e de cerrados que se estendem pelo Leste do território de Roraima, Sudeste da Venezuela e Sul da Guiana e do Suriname, com penetrações pelo Norte do Pará. A grande extensão destes campos, cerca de 100.000 km2 contínuos, asseguram-no uma categoria com domínio morfoclimático próprio, conhecido como Roraima-Guianense.

Entre os diversos fatores que contribuíram para a ocorrência de diversos tipos de vegetação na Amazônia, destacam-se: os fatores edáficos, localmente desfavoráveis ao desenvolvimento de florestas, além das condições climáticas que se apresentam desfavoráveis, devido a baixas precipitações anuais, ou a uma estação seca mais prolongada e por último a influência antrópica pode ter sido importante em algumas situações, por meio de intensas derrubadas e queimadas repetidas durante a estação seca, principalmente para a construção de pastos. Estes fatores continuam presentes na atualidade, tornando-se difícil determinar quais estavam na origem e quais deles são conseqüência (SHUBART, 1983).

Um fato que caracteriza grande parte dos solos Amazônicos é a capacidade de reter a umidade para o período do ano no qual a evapotranspiração de uma floresta excederia a precipitação. Isto pode acontecer sob várias condições.

A capacidade de armazenamento de umidade por volume de solo pode ser muito baixa, como é o caso dos solos muito arenosos. Em outras situações é o espaço disponível para o enraizamento que é pequeno. Mesmo que o material constituinte do solo armazene muita água por unidade de volume, a quantidade total armazenada seria insuficiente para a demanda de uma floresta na estação seca. Se durante a estação de chuvas o lençol freático sobe até um ponto próximo da superfície, isto pode limitar o desenvolvimento das raízes em profundidade. Se houver um abaixamento considerável do lençol freático durante a estação seca, então as raízes curtas não alcançam a água, e a quantidade de água disponível na camada enraizada será insuficiente para manter uma floresta. Esta condição ocorre freqüentemente em solos arenosos muito profundos na terra firme, onde atuam fatores como a permeabilidade, sobre os quais se desenvolvem campinas amazônicas, que são as formações vegetais capazes de tolerar a ausência de água.

Os principais tipos de formações abertas de terra firme da Amazônia são os campos ou cerrados e as campinas Amazônicas.

• Os Campos de Terra Firme ou Cerrado Amazônico são semelhantes a diversas formas de cerrado

do Brasil Central, sendo caracterizados por pequena biomassa, grande dominância de gramíneas, ciperáceas e plantas de baixo porte. As plantas lenhosas são representadas por arbustos, permitindo grande penetração de luz ao estrato herbáceo. Estes campos são freqüentemente submetidos à ação do fogo nos meses secos. Há evidências de que alguns destes campos sejam de origem antrópica, combinados com os fatores climáticos e solos ligeiramente limitantes para a floresta. É o caso dos campos do Amapá, dos campos de terra firme do

14

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 15: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

Sudeste da Ilha de Marajó, dos campos situados entre Praínha e Monte Alegre, na margem esquerda do Baixo rio Amazonas.

• As Campinas Amazônicas são encontradas em solos arenosos, regossolos de areia branca ou podzolos hidromórficos, e geralmente são de pequena extensão. Ao contrário dos campos, quase não ocorrem gramíneas nas campinas. Os arbustos e árvores pequenas formam pequenos grupos, entre os quais aparecem manchas de areia branca, desprovidas de vegetação. A vegetação herbácea é constituída de algumas ciperáceas, orquídeas terrestres, bromeliáceas e Liquens. Geralmente há grande abundância de plantas epífitas. As Campinas não sofrem a ação do fogo.

2.1.3 – Formações Vegetais Abertas Inundadas As formações vegetais abertas e inundadas mais importantes, são os campos de alagados, que ocorrem

em diversas áreas como, a leste da Ilha de Marajó, a leste do Estado do Amapá, em suas planícies costeiras, e no Baixo rio Amazonas, nas várzeas entre Parintins e a foz do rio Xingu, bem como nos terraços holocênicos ligeiramente acima do nível d’água, entre Oriximiná e Faro, ocorrem áreas expressivas de campos de alagados. São caracterizados pela presença de diversas espécies de gramíneas e quase ausência de ciperáceas. Há poucos arbustos ou árvores.

Os campos alagados da Ilha do Marajó e também os do Amapá, são seguramente de origem edáfica. Os terrenos holocênicos são submersos por até 2 m de águas pluviais durante vários meses; os solos têm uma textura muito pesada e são mal estruturados; quimicamente, apresentam Na+ e Mg++ do complexo de troca, o que representa uma condição adversa para a vegetação. Em locais onde a submersão é menos prolongada e o solo tem uma composição mais equilibrada de cátions aparecem arbustos esparsos e buritizeiros.

Nesse contexto, o clima quente e úmido da Amazônia é um dos fatores preponderantes para formação da floresta tropical úmida. Onde o clima torna-se marginal, apresentando menor precipitação anual e maior número de meses relativamente secos, os fatores edáficos, principalmente as condições de drenagem, tornam-se muito importantes na formação de enclaves de campos e cerrados na área da Hiléia. A atividade humana, a pecuária e a exploração madeireira pode contribuir de forma significativa para o inicio do processo de savanização nas áreas mais secas, pelo menos para manter e aumentar as áreas de campo de origem edáfica (figura 06).

As variações climáticas determinam o tipo de vegetação das grandes regiões fisiográficas da Terra. Desse modo, a destruição da floresta Amazônica pode e deve afetar o clima, como já está acontecendo.

Segundo Shubart (1983), o que acontece é que existe uma relação sistêmica entre o clima e a vegetação, caracterizada por um estado de equilíbrio dinâmico. No caso da floresta Amazônica, sua influência neste equilíbrio é especialmente importante porque, a recirculação da água dentro da própria região não é desprezível em relação à água importada sob a forma de vapor do Oceano Atlântico. Esse equilíbrio é atingido progressivamente: a maior umidade do solo propicia o crescimento de vegetação mais densa, esta faz aumentar o tempo de residência da água na região através da reciclagem mais intensa do vapor d’água, devido à maior evapotranspiração; com mais água disponível a

Figura 06 – Savanização no Pará. Fonte: www.unb.br/ib/zoo/grcolli/alunos/daniel/p

aginaprincipal.html

vegetação pode se desenvolver mais ainda, e assim por diante, até que se atinja o estado estacionário. Portanto, pode-se afirmar que a destruição da floresta certamente faria o equilíbrio dinâmico atual

retroceder a um estado inicial, caracterizado por menores precipitações anuais, o que representaria uma modificação do clima.

15

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 16: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

2.2 – Ecologia da Floresta Para um bom entendimento do funcionamento da floresta, como ela se renova e como ela se modifica sob

diversas condições, faz-se necessário considerá-la como um sistema ecológico, do qual as árvores constituem apenas uma parte integrante de um todo. A floresta apresenta também as mais variadas formas de vida como protozoários, fungos, pequenos e grandes animais, sendo que alguns destes organismos são vitais para o bom funcionamento do ambiente. Alguns microrganismos presentes no solo realizam uma função essencial para a existência da floresta, a decomposição da matéria orgânica (os galhos e troncos mortos, os cadáveres e excrementos dos animais maiores) reciclando assim os nutrientes minerais indispensáveis ao crescimento da floresta.

Os fatores relacionados ao ambiente físico constituem parte igualmente importante do ecossistema florestal. Como foi discutido anteriormente, as características físicas e químicas dos solos e os fatores climáticos determinam a distribuição dos tipos de vegetação da Amazônia. Estes fatores abióticos estão direta ou indiretamente envolvidos com a fotossíntese, que é o processo pelos quais as plantas captam a energia solar essencial para manter o funcionamento de todo o. ecossistema.

Segundo Shubart (1983), o conceito de ecossistema é essencialmente funcional. Assim, ele é deliberadamente vago quanto a limites físicos, podendo ser considerados como ecossistemas desde a d’água acumulada numa bromélia, com sua comunidade biótica característica, até um lago, um trato de floresta. Não faz sentido, portanto, a tentativa de se classificar os ecossistemas na escala de uma grande região. O conceito é útil quando se trata de compreender as relações entre estrutura e função de um segmento particular da paisagem, como por exemplo, um trato da floresta de terra firme.

2.2.1- A Auto-Sustentabilidade da Floresta As zonas tropicais apresentam condições ótimas para a realização de processos como a fotossíntese,

Há, portanto, um potencial elevado de produção de matéria orgânica na região, estimado em torno de 8 (oito) toneladas de carbono fixado por hectare por ano (equivalente a 20 toneladas de matéria seca por hectare por ano).

A biomassa da floresta, também é muito grande, da ordem de 500 toneladas por hectare, expressa em peso seco, o que é equivalente a 200 toneladas de carbono por hectare. Esta biomassa é constituída em sua quase totalidade pelas plantas, especialmente pelas árvores e plantas lenhosas. A biomassa animal representa uma fração muito pequena da biomassa total, sendo da ordem de algumas dezenas de kg/ha (peso fresco) para os vertebrados, e de algumas centenas de kg/ha (peso fresco) para os invertebrados, sobretudo insetos.

No entanto, estas características levaram a uma grande especulação promissora em relação ao potencial agrícola da região. A substituição dessas florestas aliada à prática de queima na região amazônica e à decomposição dessa biomassa libera para a atmosfera, carbono, sobretudo na forma de CO2, que é o principal gás responsável pelo efeito estufa. Aumentos anuais segundo alguns estudos já verificados, calculam um aumento de cerca de 0,4% na concentração de CO2, e de aproximadamente 1% na de CH4 (metano) na atmosfera, esses valores poderiam contribuir para um aumento da temperatura anual média da Terra em torno de 2,5ºC, até o ano de 2100.

Paradoxalmente, a Amazônia tem representado um verdadeiro desafio agrícola, permanecendo até hoje entre as regiões mais atrasadas do mundo em termos de desenvolvimento da agricultura, este fato está ligado a diversos fatores tais como: históricos, sociais e econômicos que são relevantes para a compreensão global do problema, porém observando-se do ponto de vista ecológico podemos encontrar a melhor explicação para esta situação, que reside principalmente no fluxo de energia e na reciclagem de materiais, especialmente nutrientes minerais essenciais ao crescimento das plantas, que é uma das funções básicas dos ecossistemas. Estes ciclos biogeoquímicos, como, são chamados, apresentam características muito diferentes entre si, dependendo dos elementos ou substâncias envolvidas.

Fatores que contribuem para o elevado potencial de produtividade primária na Amazônia: a água, gás carbônico e energia solar, são abundantes e de certa forma externos ao sistema. A água e o gás carbônico têm ciclos biogeoquímicos do tipo gasoso, isto é, a atmosfera ou a hidrosfera representam grandes reservatórios

16

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 17: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

destas substâncias, que circulam livremente sob a forma gasosa. O mesmo, aliás, é o caso do nitrogênio, o principal elemento na composição das proteínas, e que constitui 79% da atmosfera. O N2 gasoso da atmosfera é incorporado à biomassa através da fixação biológica realizada por diversas bactérias do solo, algumas em simbiose com raízes de plantas, ou por algas cianofíceas e também através das chuvas, na forma de amônia e nitrato. No solo o nitrogênio encontra-se geralmente sob a forma de nitrato (NO3+), que é assimilável pelas plantas. O nitrato pode perder-se para o sistema por lixiviação ou erosão do solo, ou então, sob condições anaeróbicas, ele pode ser reduzido a N2 gasoso por diversas bactérias no processo de denitrificação (SHUBART, 1983).

Ao contrário, a classe dos microelementos, aqueles que ocorrem somente em quantidades relativamente pequenas na composição dos organismos e são elementos essenciais à vida, tais como: o fósforo, o potássio, o cálcio, o magnésio, entre os mais importantes, tem ciclos biogeoquímicos do tipo sedimentar, isto é, as rochas e os sedimentos são os principais reservatórios. Estes elementos podem ser considerados como fatores internos ao sistema, pois existem em quantidades mais ou menos limitadas, resultantes de circunstâncias geológicas muito anteriores ao estado atual do sistema, e tendem sempre a se perder para o sistema pelos processos de erosão e lixiviação dos solos, sendo levados pelos rios em direção aos oceanos. O retorno destes micronutrientes é feito na escala de tempo histórica, em quantidades muito pequenas, através de cinzas vulcânicas, aerossóis, poeira etc. que se precipitam sobre as florestas diretamente ou, mais freqüentemente, dissolvidas na água da chuva.

Apenas na escala de tempo geológico, através dos processos orogenéticos, ocorre o retorno destes nutrientes em quantidades apreciáveis. Estas relações são bem exemplificadas na Amazônia. Os terrenos antigos dos escudos cristalinos encontram-se quase totalmente erodidos e profundamente lixiviados, o mesmo acontecendo com os terrenos do planalto Amazônico, formados por sedimentação de detritos provenientes dos escudos. Ao contrário, as várzeas férteis, são resultado, de um ciclo de erosão nos Andes geologicamente recente, e de deposição nas planícies de inundação da depressão Amazônica, o que constitui um processo geológico muito ativo atualmente.

Anualmente caem ao solo cerca de 8 t/ha, peso seco, de folhas mortas, galhos, flores e frutos. Há um aporte de minerais ao solo através de uma quantidade ainda desconhecida de troncos mortos e através da água de lavagem das folhas e caules. O aporte de minerais ao solo pela decomposição dos detritos orgânicos é bastante considerável em relação às quantidades existentes no solo. Por outro lado, as quantidades de minerais armazenadas na biomassa são também muito significativas em comparação com as reservas do solo. Como a biomassa da floresta não está diminuindo com o tempo, é de se concluir que a floresta está absorvendo todos estes nutrientes minerais, fechando assim o ciclo. Esta conclusão é confirmada pelas análises de água da maioria dos igarapés e inclusive do rio Negro. São águas muito puras quimicamente, tendo sido comparadas com uma água destilada com impurezas. De fato, um cálculo revelou que a quantidade de minerais que sai da bacia do rio Negro por meio de suas águas é igual à quantidade que chega à mesma área com as chuvas. (Shubart, 1983)

“Na Amazônia a floresta não vive do solo, mas sobre o

solo. Realmente, ela quase vive de si mesma...”.

2.2.2 – A Floresta Amazônica Está Morrendo? Por ser de tamanha importância para a humanidade este ambiente sempre foi alvo de afirmações

curiosas a seu respeito. “Quem nunca ouviu falar da Amazônia como sendo o “Pulmão” do mundo?”, ou “A floresta está morrendo deve ser explorada antes que se acabe” ou “que a floresta Amazônica está morrendo, sufocada literalmente pelo estrangulamento ocasionado pelos cipós”, este tipo de informação errônea e muitas vezes sensacionalista é amplamente difundido pela imprensa e com auxilio dos meios de difusão atuais correm bem mais rápido. Normalmente baseiam-se em visões equivocadas da realidade ou representam o interesse de algum grupo.

Uma das idéias mais difundidas atualmente afirma que a floresta estaria envelhecendo, nos quais suas árvores mais antigas estariam sendo destruídas de dentro para fora consumidas pelos agentes de deterioração

17

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 18: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

da madeira, geralmente a partir do cerne, este fato baseia-se no elevado número de árvores ocas encontradas na floresta atualmente, estas árvores seriam substituídas por outras mais adaptadas, desta forma, a composição específica da floresta estaria constantemente se modificando. Assim as áreas de preservação não garantiriam a flora para as futuras gerações, somente a intervenção do homem, através de diferentes sistemas de manejo florestal, permitiria a continuidade da floresta.

Este tipo de informação utiliza conhecimento cientifico de uma maneira distorcida a fim de justificar as diversas formas de manejo, limitando-se ao mesmo tempo, e discordando das idéias mais atuais e progressistas que se baseia no uso múltiplo das florestas, que abrange desde o manejo florestal econômico nas florestas de rendimento até a preservação de amostras significativas dos ecossistemas florestais em áreas de elevado interesse científico, turístico ou outros.

Para esclarecer tal situação, consideremos as seguintes verdades. Árvores são seres vivos, desta forma seguindo um ciclo natural; nascem, crescem, reproduzem-se, envelhecem e morrem. Assim a queda de imensas árvores, principalmente durante tempestades com fortes ventos, é natural. As clareiras que se abrem com a queda são também parte importante dos diversos acontecimentos que ocorrem neste ambiente e fundamental para seu equilíbrio e renovação, pois se cria:

• Uma nova entrada de luz na floresta; • Esta maior incidência de radiação modifica o microclima local; • Trazendo a diminuição da competição de raízes das árvores mortas e a decomposição dos troncos e

folhas das mesmas, aumentam temporariamente a disponibilidade de nutrientes minerais.

floresta

Tais condições são ideais para o crescimento repentino de plantas pioneiras e de árvores pertencentes à Estas condições propiciam o desenvolvimento rápido de uma série de plantas; tanto as pioneiras, as

de crescimento rápido e que normalmente são as primeiras a colonizar uma determinada região, como as de futuras árvores emergentes da floresta madura.

Normalmente são plantas que dispersam suas sementes por meio de animais permanecendo em latência muitas vezes até as condições se tornarem favoráveis ao desenvolvimento. Dentre as plantas pioneiras as mais conhecidas são as imbaúbas do gênero Cecropia (Figura 07).

Para colonizar a clareira aberta é necessário que a árvore portadora de sementes esteja a uma distância tal que permita, ao mesmo tempo, a dispersão de sementes até a clareira e o escape dos predadores e parasitas.

O fato da ocorrência das clareiras serem completamente

aleatórias no tempo e no espaço constitui assim mais um

fator de manutenção de heterogeneidade da floresta, pois

nenhuma das espécies dependentes de clareiras tem a pos-

sibilidade de prever a ocorrência de clareiras, de tal modo

a poderem adaptar correspondentemente sua época de

frutificação em detrimento das demais espécies.

A floresta tropical é muito heterogênea modificando-se no espaço e no tempo, sua composição florística pode ser alterada em poucas décadas, de forma completamente aleatória e imprevisível. Porém, em nenhum momento, pode-se considerar que este fato esteja associado ao envelhecimento da floresta, Neste imenso “mar verde”, em condições naturais tudo parece estar em equilíbrio. As grandes árvores ocas são “novos” habitats para aves e morcegos e as que caem cria condições para surgimento de outras e renovação como já foi visto.

18

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 19: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

Figura 07 – Espécie de vegetação pioneira. Cecrópia. Fonte: botit. botany.wisc.edu/courses/img/bot/401/Mag- noliophyta/Magnoliopsida/Hamamelidae/Cecropiaceae/Cecropia/Cecropia%20sp%20KS%20.jpg

PARA SABER MAIS

Para conhecer um pouco mais sobre a floresta Amazônica, leia a revista: Amazônia: Recursos Naturais e História. Ciência e Ambiente. V.31. www.ufsm.br/ cienciaeambiente

Para responder às atividades, utilize papel de tamanho A4, com letra arial 12 e remeta seus resultados a seu tutor!

1) Desde a caracterização da “Hiléia Amazônica” por Humboldt, que cientistas procuram determinar os principais fatores que podem influenciar na manutenção da complexa estrutura da Floresta Amazônica. Que fatores em sua opinião podem ser os mais importantes na manutenção da estrutura florestal Amazônica. Responda em cinco linhas.

2) Pesquise sobre de que forma a destruição da floresta tropical amazônica, pode influenciar nas condições climáticas. Elabore uma resenha de uma página sobre o assunto.

3) Se a maior parte dos solos da Amazônia é de fertilidade tão baixa, como podem eles suportar uma floresta tão exuberante? Eis o paradoxo Amazônico! Responda em no máximo 10 linhas.

19

ATIVIDADE 02

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 20: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

3 – As Águas da Região Amazônica

Esta unidade tem por objetivo levar o aluno ao conhecimento da diversidade hidrobiológica da bacia amazônica. Apresentando os principais tipos de fauna e flora. Na região amazônica, a água é um dos fatores preponderantes na paisagem, o que é evidenciado através de um grande número de rios de grande porte, os quais se ressaltam nessa paisagem, e também pelos inúmeros pequenos rios e igarapés, que contribuem para a formação dos rios gigantescos da região (Figura 08).

Essa região possui uma complexa e densa rede de igarapés, o que é verificado em poucas áreas do Figura 08 – Pôr-do-sol no rio Negro. Foto do autor. planeta. Porém, a respeito desse vasto sistema aquático, verifica-se que os corpos de água não são de natureza uniforme, se encontrando, portanto, diferenças significativas em relação à sua morfologia de leitos, e às suas características químicas e biológicas (JUNK, 1983).

Dentro desse contexto, os lagos amazônicos, que possuem uma vasta rede em toda a região e que acompanham os grandes rios, são típicos para as áreas alagáveis, várzeas e os igapós, mas não estão presentes de forma significativa nas áreas não-inundáveis, ou seja, a terra firme, onde igarapés e pequenos rios caracterizam e se destacam na paisagem amazônica.

Na região, rios com água barrenta ocorrem com o mesmo nível de significância que os rios de água preta ou cristalina. Enquanto alguns rios são caracterizados por apresentarem um fraco regime de correntezas (baixo regime dinâmico), outros se caracterizam pelo fato de apresentarem corredeiras e cachoeiras ao longo de seu percurso, se estabelecendo, portanto, um alto regime dinâmico desses corpos d’água. Rios com alta disponibilidade de nutrientes, grande quantidade de plantas, peixes e pássaros aquáticos são tão comuns quanto os rios com baixa disponibilidade, onde raramente se encontra uma quantidade diversa e significativa de organismos (JUNK, 1983).

Para um bom entendimento desta diversidade segundo Junk (1983), é necessário não somente descrever os aspectos biológicos das águas Amazônicas, mas também discutir as condições geográficas, geológicas, hidrológicas e hidroquímicas da região como um todo, pelo fato da água e das áreas de terra adjacente se influenciarem de forma mútua, e somente em conjunto dão origem à paisagem Amazônica. O Entendimento do ecossistema como um todo é a base para um aproveitamento sustentável dos recursos hídricos, que, desde o início do processo de ocupação da região pelos Europeus, tiveram um papel determinante para ele, sabendo que no futuro estes recursos serão de grande valia para a implementação de projetos que visem o desenvolvimento econômico e social da região. O desconhecimento das inter-relações entre os mais variados sistemas como os corpos d’água, a terra e a floresta na Amazônia podem promover um planejamento errôneo e em conseqüência disso uma destruição do equilíbrio ecológico regional, o que pode resultar em conseqüências desastrosas tanto para o ambiente quanto para o próprio Homem.

Por que as águas Amazônicas têm tantas cores diferentes? Para a análise deste paradigma, temos que considerar as seguintes características dos rios, como por

exemplo: o rio Tapajós tem suas águas transparentes e de coloração verde-azuladas, enquanto que a água do Amazonas é branca, apresentando, portanto, aspecto barrento (Figura 09).

Nas áreas de encontro dos rios, ambos se misturam de uma maneira similar, verificando de forma nítida o encontro das águas. Em relação à coloração, as águas transparentes são denominadas de águas claras, enquanto que as águas barrentas são denominadas águas brancas. Na foz do rio Negro é possível verificar uma

20

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 21: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

área de mistura semelhante. No entanto, a água do Negro é de coloração preta e de natureza cristalina. Isto é explicado pelo fato de que terrenos rochosos ou arenosos dão origem a águas límpidas, enquanto

que os terrenos aluviais ou argilosos são capazes de tingir as águas com tonalidades amarelas ou oliváceas. Uma classificação muito utilizada atualmente foi proposta para as águas amazônicas por Harald Sioli

(1965), sendo que ele as classificou em relação à sua coloração e à natureza físico-química destas, em águas brancas, águas pretas e águas claras.

Figura 09 – Encontro das águas do rio Negro e do Rio Solimões. A) Imagem de satélite. Fonte: mygeo.info/ wallpaper/misr_rio_negro_864.jpg. B) Fotografia Aérea. Fonte: www.brasilien.de/ReiseService/reiseangebote/ amazonas/sehenswuerdigkeit/manaus.asp.

3.1 – Tipos de Águas

3.1.1 – Águas Brancas Vários rios da região Amazônica, como o próprio Amazonas, o Purus, o Madeira e o Juruá, têm suas

bacias de drenagem com origem na região Andina e pré-Andina. Nesse contexto, os processos erosivos atuantes na região andina são muito intensos dando origem a uma elevada carga de sedimentos, o que promove a coloração branca das águas (Figura 10). Em áreas com baixo regime dinâmico (áreas de baixa correnteza), os sedimentos são facilmente depositados e o parâmetro ambiental, transparência da água, aumenta de forma considerável, enquanto que em outras áreas, a correnteza invade as áreas adjacentes ao rio, recebendo novos materiais para carregar que devido à alta dinâmica do corpo d’água, ficam por um elevado período, em suspensão. Em áreas localizadas às proximidades da cidade de Manaus, um litro de água do Amazonas contém cerca de 0,1 g de sedimentos (JUNK, 1983).

A região Andina e pré-Andina é formada na sua maioria por sedimentos do cretáceo, sendo estes de natureza alcalina e relativamente ricos em sais minerais. Isso se reflete na composição química da água, que é quase neutra (pH 6,5 a 7), contendo quantidades relativamente altas de sais minerais em solução - (ca 60-70 µS.cm-1/20°C) nas proximidades de Manaus.

A quantidade percentual de cálcio e magnésio é relativamente grande em comparação com as de sódio e potássio. Este é um padrão característico para a maioria das águas do mundo inteiro, pois a água branca possui na sua composição um percentual de metais alcalinos e alcalino-terrosos correspondentes aos valores médios encontrados em escala mundial. A quantidade total de sais minerais, porém, corresponde a somente um terço deste valor.

Devido a estas características químicas, mesmo quando as águas se apresentam transparentes ou de coloração variando Figura 10 – Rio de água branca. Fonte: www.

brasildasÁguas2_arquivos\ brasildasaguas_diario

_mostra.htm 21

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 22: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

de esverdeada a marrom, Sioli (1965) classifica estas águas como branca, pelo fato de que todos os seus sedimentos estão propensos à deposição, não havendo, no entanto, modificações de suas propriedades originais.

3.1.2 – Águas Pretas Os rios de coloração preta, ao contrário dos de água branca, não transportam material em suspensão

em grandes quantidades. Estes rios geralmente nascem nos escudos arqueados das Guianas e do Brasil Central ou nos sedimentos terciários da bacia Amazônica, que tem um relevo suave e pouco movimentado (de baixo regime dinâmico), onde os processos de erosivos são pouco intensos e reduzidos ainda pela densa mata pluvial. Consequentemente, a carga de sedimentos é baixa e os rios são transparentes. Devido à falta de um aporte significativo de cálcio e magnésio oriundos dos processos erosivos, na maioria das formações geológicas, as águas são de natureza ácida (JUNK, 1983).

Estes rios apresentam em suas áreas de captação, enormes florestas inundáveis (igapós) e o material orgânico produzido pela floresta, tais como folhas, galhos etc., cai na água e decompõe-se. Vários produtos de decomposição são solúveis e de coloração marrom ou avermelhada (ácidos húmicos e fúlvicos), provocando colorações escuras, típicas dos rios de água preta (Figura 11). Além dos igapós, os vastos areais (podsolos) nas áreas de captação do rio Negro e de outros rios de água preta, também contribuem significativamente, para a produção de substâncias húmicas. Elas têm caráter ácido, baixando ainda mais o pH, que pode atingir valores próximos de 2, como encontrado por Melo (1998), sendo este valor extremamente baixo para as águas naturais.

Estes rios apresentam em suas áreas de captação, enormes florestas inundáveis (igapós) e o material orgânico produzido pela floresta, tais como folhas, galhos etc., cai na água e decompõe-se. Vários produtos de decomposição são solúveis e de coloração marrom ou avermelhada (ácidos húmicos e fúlvicos), provocando colorações escuras, típicas dos rios de água preta (Figura 11).

Além dos igapós, os vastos areais (podsolos) nas áreas de captação do rio Negro e de outros rios de água preta, também contribuem significativamente, para a produção de substâncias húmicas. Elas têm caráter ácido, baixando ainda mais o pH,

Figura 11– Rio de água preta. Foto do autor

naturais.

que pode atingir valores próximos de 2, como encontrado por Melo (1998), sendo este valor extremamente baixo para as águas

Estas águas são muito pobres em sais minerais. A condutividade elétrica em ambientes de água preta pode chegar somente a 8 µS.cm-1 /20ºC. Isso corresponde à água destilada com algumas impurezas. Ao contrário da água branca, a percentagem de sódio e potássio é superior à percentagem de cálcio e magnésio.

3.1.3 – Águas Claras Os rios que apresentam a cor de suas águas esverdeadas e

transportando uma pequena quantidade de materiais em suspensão, são chamadas águas claras (Figura 12). Um dos principais representantes é o rio Tapajós, que tem sua foz em frente à cidade de Santarém. A análise química mostra uma heterogeneidade relativamente grande destes rios e principalmente dos igarapés em relação ao pH e à condutividade elétrica (JUNK, 1983).

Os igarapés de águas claras, que nascem nos sedimentos terciários da bacia Amazônica ou aqueles que nascem nos sedimentos cretáceos depositados acima do escudo do Brasil Central, são ácidos e extremamente pobres em sais minerais, apresentando baixas concentrações

Figura 12 – Rio de água clara. Fonte:

www.tracaja-e.net/ 24802.htm

22

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 23: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

de cálcio e magnésio. No entanto, os que nascem na faixa carbonífera ao norte e ao sul do Baixo Amazonas são neutros, e relativamente ricos em sais minerais em solução, com alta percentagem de cálcio e magnésio.

Muitas vezes ocorrem várias formações geológicas na área de captação, permitindo uma sobreposição das influências químicas, uma variação enorme dos parâmetros hidroquímicos e uma transição entre água clara e água preta e água branca. Os valores de pH podem variar entre 4,5 e mais de 7, enquanto que a condutividade elétrica varia entre 6 µS e mais que 50 µS.cm-1 /20ºC. Normalmente o sódio e o potássio são os metais freqüentes, porém, em certas áreas também cálcio e magnésio podem dominar.

Esta classificação das águas Amazônicas é muito gen-

eralizada e simplificada. A concentração de substâncias

húmicas, por exemplo, é bem mais alta no início da época

chuvosa do que na época seca, porque as primeiras chu-

vas transportam as substâncias húmicas acumuladas na

terra durante a seca dentro dos igarapés. Por isso, a colo-

ração da água de muitos igarapés neste período é mais

escura. Rios de água clara podem transportar durante a

época chuvosa grande quantidade de material em sus-

pensão e parecem turvos (JUNK, 1983).

3.2 – Os Grandes Rios Amazônicos

3.2.1 – O Amazonas O “poderoso” Amazonas tem origem nas geleiras de

Yarupa, nosAndes peruanos, amaisde 5.000 metrosdealtura, e percorre 7.200 km até chegar ao mar. Durante sua descida, o rio troca de nome 7 vezes e recebe milhares de afluentes, muitos com mais de 2.000 km de extensão (Figura 13). O rio Amazonas nasce como Apurimac e percorre 800 km nos Andes peruano até se encontrar com o rio Mantaro, quando passa a se chamar rio Ene. Com este nome, o Amazonas percorre um pouco menos de 150 km até se encontrar com o rio Perene. A partir desta confluência passa a se chamar rio Tombo, por cerca de outros 150 km, até se encontrar com o rio Urubamba, formando então o rio Ucayali. Este percorre mais de 1.500 km até a confluência com o rio Marañón e, neste trecho, começa a ser margeado por uma continua área alagada, que vai acompanhá-lo até a sua foz. Após a

Figura 13 – Mapa da bacia Amazônica. Fonte: www.geocities.jp/acaradisco55/Bi/rio-amazo-

nas.gif.

confluência com Marañón, o rio passa a se chamar Amazonas e mantém este nome até a confluência com o rio Javari, na fronteira com o Brasil, onde passa a se chamar rio Solimões. Ao longo do território peruano e colombiano o rio Amazonas percorre 2.969 km. No Brasil, o rio principal mantém o nome de Solimões até a sua confluência com o rio Negro, quando volta a se chamar Amazonas, e percorrendo um total de 2.921 km em território brasileiro até à Sua foz. Antes de alcançar o mar o rio Amazonas atravessa uma região com uma infinidade de ilhas e margeadas por extensas planícies alagáveis, que pode ser definida como um delta interno. As ilhas são extremamente planas e foram formadas pela deposição de sedimentos trazidos dos rios. A altura máxima é de 20 m, existindo terraços de 15-16m, 10-12m e 4 m. Esta parte mais alta é também a mais antiga, datando do Plioceno (de 3,3 a 2,7 milhões de anos). Tanto as ilhas quanto as planícies costeiras apresentam extensas áreas sujeitas a inundações pluviais e tidais, com lagos e rios meandrados. Depois de atravessar o delta interno as águas continentais se misturam com as do Oceano Atlântico, formando o estuário Amazônico propriamente dito (BARTHEM, Com. Pes.).

23

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 24: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

3.2.2 – O Rio Negro O rio Negro nasce na região pré-andina da Colômbia e corre ao encontro do Solimões, logo abaixo da

cidade de Manaus, para formar o poderoso rio Amazonas. Em seu curso, percorre 1.700 quilômetros, quase a distância de São Paulo a Salvador. Da nascente à foz, a viagem dura um mês e meio. Na longa jornada, a água carrega folhas e outras matérias orgânicas que a tingem de âmbar. Ele é um dos três maiores rios do mundo; o fluxo de água que passa por seu leito é maior do que o de todos os rios europeus reunidos e, no Brasil, perde apenas para o Amazonas. Tem quilômetros de largura e mais de mil ilhas que se agrupam em dois arquipélagos: O de Anavilhanas situado próximo de Manaus, e o de Mariuá, no médio rio Negro, na região de Barcelos. São os maiores arquipélagos fluviais do mundo. O nível das águas depende da estação do ano. Entre o ponto mais baixo da seca e o mais alto da cheia, a variação é de 9 a 12 metros. Dessa diferença resultam paisagens incrivelmente diversas. Na cheia, o rio invade a floresta por muitos quilômetros. Na seca, surgem as praias e emergem ilhas de areia branca, às vezes tão fina que parece talco.

3.2.3 – O Rio Madeira O Rio Madeira é um rio da Bacia do rio Amazonas, banha os Estados de Rondônia e do Amazonas. É

um dos afluentes do Rio Amazonas. Tem extensão total aproximada de 1.450 Km. É um rio importante, devido sua hidrovia, cujo treco navegável vai da sua foz até à cidade de Porto Velho, numa extensão de cerca de 1.060 km. É um rio economicamente importante pelo escoamento de grãos do Mato Grosso, que são transportados pela hidrovia até o rio Amazonas, quando então ganham o mundo.

3.2.4 – O Rio Tapajós

Afluente da margem direita do Rio Amazonas, nasce do encontro dos rios Juruena e Teles Pires na divisa dos Estados do Pará, Amazonas e Mato Grosso. Com 1.992 km de extensão, entre seus principais afluentes está o Rio Arapiuns. Suas águas de coloração azul-esverdeada constituem-se em atração turística. Devido às diferenças de composição, densidade e temperatura, as águas do Tapajós não se misturam com as águas do Amazonas, provocando o fenômeno conhecido como “encontro das águas”, que pode ser visto em frente à cidade de Santarém.

3.2.5 – O Tocantins

Formado pelos rios Maranhão e Paraná, nasce na serra do Pireneus, em Tocantins. Às proximidades do município de Marabá, encontra-se com o rio Araguaia, e segue o seu curso até desaguar na baía do Marajó, formado o estuário do Rio Pará, às proximidades de Belém. Pelo canal de Tagipuru comunica-se como o Rio Amazonas. Seus principais afluentes pela margem direita são os rios Manuel Alves da Natividade, Sono, Manuel Alves Grande e Farinha; e pela margem esquerda são os rios Santa Teresa, Itacaiúnas e Araguaia (seu maior afluente). Uma das principais características do rio Tocantins é a presença de inúmeras barragens ao longo do seu curso, sendo a principal o reservatório de Tucuruí, o maior reservatório da Amazônia.

PARA SABER MAIS Para conhecer um pouco mais sobre rios e igarapés, acesse o site: www.amazonialegal.com.br/textos/rios/Rios_Igarapes.htm

24

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 25: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

3.3 – As Áreas Alagáveis As áreas alagáveis são definidas como aquelas em que existem pulsos periódicos de inundação. Esses

sistemas são associados às florestas inundadas e as à área de várzea (Figura 14). Sob o ponto de vista ecológico,

são áreas que recebem periodicamente o aporte lateral das águas de rios, lagos, da precipitação direta ou de lençóis subterrâneos, influenciando de forma significativa a comunidade de animais aquáticos existente no ecossistema. Nesse contexto, os lagos de várzea e igapós, por sua riqueza de nutrientes, apresentam grandes quantidades de macrófitas aquáticas, cujos frutos, folhas e sementes, são utilizados pelos peixes para sua alimentação, servindo também de alimento para algumas espécies de herbívoros silvestres.

Figura 14 – áreas alagáveis. Fonte: http://bernard107.chez-alice.fr/ varzea/pcvarzea.htm.

Sob o ponto de vista sócio-econômico, estas áreas apresentam grandes potencialidades como a exploração pesqueira e o desenvolvimento de empreendimentos agropecuários. Contudo, estas potencialidades não estão sendo aproveitadas em sua plenitude, devido à falta da implementação de estudos que visem um melhor aproveitamento do ecossistema.

Na Amazônia, os grandes sistemas de rios das regiões tropicais da América do Sul são constituídos por extensas áreas alagáveis, sendo a planície aluvial variando de 20 a 100 km. Estas áreas estão associadas aos grandes rios da e ocupam um total de 300.000 km2, sendo que o complexo Solimões/Amazonas inunda periodicamente cerca de 200.000 km2 (Junk 1993), representando o maior sistema hidrológico do planeta. A alta pluviosidade (índice de chuvas), característica dos trópicos, e o degelo anual do verão andino favorecem uma densa rede de drenagem que, associada às grandes extensões de terras baixas, causam inundações periódicas nas margens de rios e igarapés (riachos) (JUNK, 1983; JUNK et al., 1989).

Nos rios Solimões-Amazonas e seus afluentes o pulso (isto é, a periodicidade) de inundação é monomodal (ou seja, de um único tipo, ou modo): a flutuação do nível da água é lenta e mostra um ciclo anual previsível de períodos de cheia (época de nível de água mais alto) e período de seca (época de nível da água mais baixo). A amplitude (ou seja, a diferença do nível de um rio na seca e na cheia) média é alta, mas pode mudar ao longo do curso de um rio, principalmente se esse rio for o rio Amazonas. Na região próxima a Iquitos, no Equador, varia de 12 a 18 metros, enquanto que nas proximidades de Manaus essa amplitude varia de 8 a 15 m, e no curso mais baixo, próximo a Santarém, de 4 a 6 metros. Isso tudo quer dizer que as áreas no período da seca estão emersas, durante a cheia chegam a estar a 10 metros de profundidade.

As implicações decorrentes da regularidade desse padrão de inundação são de extrema importância ecológica uma vez que determina no ambiente a existência de uma fase aquática e uma terrestre. Plantas e animais que vivem nesses ambientes precisaram desenvolver estratégias de sobrevivência para se adaptarem a mudanças tão drásticas.

As alterações dos níveis e de circulação das massas de água foram caracterizadas por Junk et al., (1989) como pulso de inundação, e consideradas como a força que dirige e mantém em equilíbrio dinâmico o sistema rio-planície de inundação (planícies de inundação são áreas periodicamente inundadas pelo alagamento lateral de rios e lagos, e/ou pela precipitação ou subida das águas). O importante papel desempenhado pela flutuação do nível da água na manutenção da estrutura e funcionamento dos sistemas rios-planícies de inundação permite afirmar que a análise do regime hidrológico dos rios associados a esses ecossistemas, é importante para a interpretação de seus processos ecológicos.

A flutuação do nível das águas e a descarga dos grandes rios da bacia amazônica influenciam diretamente

25

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 26: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

a velocidade da água, profundidade dos ambientes aquáticos e a área superficial da planície de inundação. Os resultados dessas alterações estão associados às mudanças nas características limnológicas, no balanço dos processos de produção e respiração e nos padrões de ciclagem de nutrientes dos vários habitats da planície.

Nesse contexto, um ecossistema de relevante importância para a região amazônica são as florestas alagadas (Figura 15), que ocupam de 5 a 10% da área da Amazônia e se apresentam de diversos tipos, distinguindo-se as matas de várzea, que estão situadas nas planícies de inundação dos rios de água branca, sendo, portanto, ricas em material sedimentável; e as matas de igapós, que são inundadas pelos rios de água clara e preta.

Na paisagem amazônica, é comum, ainda, a presença das matas dos terraços de inundação dos afluentes menores, que, estando acima do nível máximo das enchentes anuais dos grandes rios, são inundadas intermitentemente, sendo que por pouco tempo estas são inundadas pelas enxurradas ocasionais causadas pelas chuvas intensas que precipitam na região.

Na área de influência das marés, que no rio Amazonas é verificado de forma pouco intensa até as proximidades do município de Óbidos-PA, a mais de 1.000 km do oceano, encontram-se matas que estão sob a influência do ciclo diário de cheias e vazantes. Ao longo da zona costeira é comum verificar a presença de grandes manguezais, que são inundados pela água do mar, ou por massas d’água com salinidades de menores, em áreas adjacentes ao estuário. Ao longo dos rios, nas proximidades do estuário, ocorrem as várzeas de maré, inundadas diariamente pela água doce represada pelas marés. Há ainda as matas quase permanentemente alagadas, próximas a nascente de água, ou em outras situações especiais. Estas matas pantanosas são localmente conhecidas também como igapós.

3.3.1 – A Várzea

Figura 15 – Floresta inundada. Fonte: www.amazonian-fish.co.uk/images /for- est2.jpg

A várzea do rio Amazonas representa um complexo sistema de inúmeras ilhas, diques marginais, lagos, canais, furos, paranás, etc., quevariampermanentementeem relação à sua forma eao seu tamanhoemdependência do nível da água (Figura 16). O conjunto dos ambientes que compõem a várzea do rio Amazonas detém uma largura com dimensões de até 100 km. As oscilações anuais do nível de água modificam profundamente o aspecto da paisagem (Figura 17), o que faz com que este ambiente sazonalmente seja modificado.

Figura 16 - Corte transversal do vale do rio Amazonas, mostrando as depressões onde se formam os Lagos de Várzea (adaptado de SCARDA, 2004).

26

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 27: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

Figura 18 – Variação do nível de oxigênio em lagos de várzea e no rio solimões, na RDSM. www.canalciencia. ibict.br/pesquisas/pesquisa.php?ref_pesquisa=72.

27

O rio permanentemente deposita em algumas áreas sedimentos enquanto que em outras áreas ele erode suas margens, principalmente durante o regime de cheias. Com isso, grandes porções de terra ao longo das margens, das ilhas e dos diques marginais caem na água juntamente com árvores de grande porte.

Nas áreas em que o rio deposita sedimentos, a modificação morfológica do ambiente propicia o aparecimento de praias e ilhas. Nesse contexto, a deposição anual de sedimentos pode asfixiar as árvores, o que resulta na morte da vegetação.

O ambiente de várzea pode ser modificado pelo rio através da consistência fina e macia dos sedimentos, sendo que somente em algumas áreas o regime dinâmico das águas faz com que ocorram pedras no leito do rio, como caso do Amazonas, nas proximidades de Manaus e Manacapuru. Estas pedras podem ser lateritas, incrustação vermelho-marrom com alta concentração de óxido de ferro. A água do Amazonas apresenta-se relativamente rica em sais minerais e nutrientes, sendo que com a subida do rio a água adentra nos paranás e lagos de várzea, cobrindo-os completamente durante as

Figura 17 – A várzea. A) período da seca; enchentes máximas. O solo da várzea contém uma alta percentagem

B) período da cheia. Fonte: earthobser- de minerais de natureza argilosa, sendo estes, portanto, férteis e com

vatory.nasa.gov/Study/ LBA/Images/var- alta capacidade de intercâmbio de íons (Ildita e Montmorilonita),

zea_comparison.jpg enquanto que os solos da terra firme são compostos de material de natureza arenosa e caolinítica, que é de baixa fertilidade.

A água que drena da terra firme é pobre em sais minerais e a da várzea é ácida. Elas se misturam com a água do Solimões. Nesse contexto, processos abióticos e bióticos também são capazes de modificar a composição química da água, o que ocasiona em diferenças consideráveis entre diferentes lugares na várzea e durante o ciclo do ano.

De acordo do Junk (1983), a forte correnteza do rio provoca turbulências que garantem uma aeração permanente da água até o fundo. Porém, quando a água fica parada na várzea, é observada uma forte redução do oxigênio principalmente nas camadas abaixo de 3 a 4 m de profundidade. Isso porque a produção de oxigênio pelo fitoplâncton é reduzida devido à falta de luz, enquanto uma grande quantidade de material orgânico inundado está sendo decomposto por bactérias e fungos que consomem o oxigênio disponível. A alta temperatura de 30°C acelera estes processos. Por isso a água tem até um cheiro ruim, de gás sulfídrico.

Uma determinada quantidade de oxigênio dissolvido na água é necessária para colonizar um biótipo, e o fundo dos lagos de várzea, geralmente não é colonizado, nem por aqueles organismos mais adaptados às variações de oxigênio, pois durante grande parte do ano, a condição anóxica é um fator limitante para os organismos que quiserem colonizar a região profunda dos lagos (Figura 18).

Muitos animais, entretanto, mostram adaptações às baixas concentrações de oxigênio na água, o que permite a sobrevivência mesmo em condições precárias. Isso pode ser bem demonstrado pelos peixes. Várias espécies possuem órgãos respiratórios adicionais às guelras. O pirarucu (Arapaima gigas) usa a bexiga natatória modificada como tipo pulmão, respirando ar atmosférico. Muitos bagres, como o tamoatá (Callichthys spp.), acari-bodó (Plecostomus spp.), coridoras (Corydoras spp.) etc., engolem ar e absorvem o oxigênio pelo trato digestivo.

A pele de algumas espécies de peixes é muito fina e facilita a absorção de oxigênio pela superfície do corpo. Algumas espécies, como por exemplo, o tambaqui

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 28: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

(Colossoma macropomum) e a sardinha (Triporthe spp.), desenvolvem grossos lábios para facilitar o aproveitamento da camada superficial da água, que é mais oxigenada.

Um grande número de espécies de peixes da Amazônia é capaz de viver em condições tão precárias, que outros, de áreas temperadas, não conseguem suportar. Mesmo assim, às vezes podem ocorrer grandes mortalidades de peixes por asfixia, principalmente durante as friagens, que ocorrem 1 a 2 vezes por ano, em junho ou julho, com duração de 2 a 4 dias. Friagens são as passagens de grandes quantidades de ar frio da região polar sul. Durante estes períodos, além das temperaturas mais baixas (até 17°C em Manaus), ocorrem ventos e chuvas fortes, a água dos lagos é misturada, mal oxigenada e o gás sulfídrico sobe à superfície. Não é o frio que mata os peixes, mas a falta de oxigênio.

3.3.1.2 – A Vegetação da Várzea Nas áreas mais elevadas da várzea, estão localizadas árvores, capazes de suportar inundações durante

alguns meses, sem morrer. Elas começam a brotar quando a água está baixando, florescer e dar frutos quando a água está subindo. Os frutos caem na água, que os distribui ao longo do processo de inundação.

No pico da enchente estas árvores perdem as folhas e começam a brotar novamente na próxima baixa das águas. Há também árvores que não perdem as folhas durante a cheia e arbustos que até continuam com as folhas verdes durante meio ano de inundação. A árvore mais impressionante e característica da várzea é a sumaúma (Ceiba petandra), que cresce até 40 a 50 m de altura com diâmetro de tronco acima de 2 m e enormes raízes laterais em forma de tábuas (sapopemas), com 5 m acima do solo (Figura 19).

As macrófitas aquáticas são também típicas das áreas de várzea. Algumas são flutuantes e podem cobrir áreas de vários quilômetros quadrados. Amaior parte desta vegetação é formada por capins aquáticos e mostra por isso um aspecto de prado flutuante, descendo os rios, sendo inclusive um perigo para a navegação.

Acompanhando as mudanças do nível de água estão as plantas flutuantes, ficando sempre expostas ao máximo da radiação solar necessária para a fotossíntese. A mesma estratégia mostra a famosa Victoria amazonica (antigamente, vitoria-regia), que é enraizada no chão, porém deixa flutuar suas enormes folhas na superfície da água, que na parte anterior dessas folhas, são cobertas por inúmeros espinhos, que podem machucar os menos avisados.

Uma parte desta vegetação, dependendo do nível das águas, é arrancada e levada pela correnteza para dentro dos rios, que em

Figura 19 – Sumaúma, com as raízes lat- erais (sapopema). Fonte: www.pbase.com/

pierbase/image/41758277

certas épocas transporta inúmeras ilhas flutuantes de plantas aquáticas em direção à sua foz. Quando a água baixa a maior parte desta vegetação seca nas margens dos rios, lagos e praias e morre. Em seu lugar começam a crescer outras plantas que passaram pela cheia em forma de sementes na lama, e depois de poucas semanas as praias secas são novamente cobertas pela vegetação. O crescimento destas plantas é estimulado pela vegetação aquática em decomposição que atua como adubo vegetal. As plantas terrestres terminam o seu ciclo vegetal em poucos meses durante a seca, dão flores e frutos e morrem quando a água vem sendo substituída novamente por plantas aquáticas (JUNK, 1983).

De acordo com Junk (1983) e Sioli (1991) este ciclo anual de plantas aquáticas e terrestres na mesma área baseia-se em crescimento rápido e altas taxas de reprodução. Isso significa também alta produção de material vegetal e grande mortalidade devido à seca ou inundação, respectivamente. O pré-requisito para esta produção alta, são nutrientes em quantidades suficientes, que estão à disposição das plantas ou dissolvidos na água ou na forma de sedimentos que são anualmente levados na várzea pelo Solimões durante a cheia. Por isso a várzea é comparável a um grande transformador biológico; recebe nutrientes inorgânicos do Amazonas, transforma-os, através de plantas com energia solar, em matéria orgânica e os devolve, em parte, na forma de plantas aquáticas, troncos de árvores, folhas, material orgânico dissolvido etc., novamente ao Amazonas.

28

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 29: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

Figura 20 – Seca na Amazônia, ano de

3.3.1.3 – A Fauna da Várzea Os pulsos de inundação, com as flutuações do nível de água também têm efeito importante para a

fauna da várzea. Animais aquáticos têm condições de vida favoráveis durante a cheia, enquanto que os animais terrestres são ameaçados pela subida da água.

Diante de todas essas alterações no ambiente, muitos animais possuem adaptações morfológicas, anatômicas, fisiológicas e/ou etológicas que facilitam a sobrevivência durante a fase precária e permitem a colonização rápida das áreas à disposição na fase favorável.

A estas estratégias de sobrevivência pertencem migrações verticais e horizontais. Muitas espécies de peixes, o peixe-boi e as tartarugas se retiram com a baixa das águas dentro do leito do rio para passar a seca e voltam, com a subida da água, novamente para a várzea, onde encontram alimentação e proteção contra inimigos. Mesmo assim, a mortandade de peixes pode ser grande em anos com uma seca pronunciada, como a que aconteceu em 2005 (Figura 20), quando os organismos aquáticos, principalmente os peixes não saem a tempo, as saídas são bloqueadas e os lagos de várzea secam quase totalmente. Animais aquáticos de pequeno porte são os mais atingidos, por não serem capazes de migrar a longas distâncias.

Da mesma forma os animais terrestres enfrentam quando o rio está subindo. Muitos migram para a copa das árvores da mata inundável, onde ocorre uma tremenda luta de sobrevivência, pois inúmeros organismos esperam esse momento para um banquete, até a água baixar e os animais sobreviventes poderem voltar ao chão. Inúmeras espécies de organismos morrem afogadas, mas antes elas depositam ovos ou estágios permanentes que são resistentes à água e desenvolvem-se outra vez durante a próxima seca. Este é um tipo de estratégia de sobrevivência não somente em animais terrestres, mas também em muitos pequenos animais aquáticos, como é o caso de muitas espécies de zooplâncton, de esponjas, etc.

Para substituir rapidamente as perdas sofridas durante a fase

2005. Fonte: www.unicamp.br/unicamp/ unicamp_ hoje/ju/outubro2005/ju- 306pag6-7.html

desfavorável, os animais têm adaptações, como os ciclos de vida curtos e altos de reprodução: por exemplo, grande número de ovos ou reprodução assexuada na maioria dos pequenos invertebrados.

A boa disposição de nutrientes na várzea reflete-se também na grande quantidade de animais superiores. Os mais vistosos são os pássaros aquáticos, como as diversas espécies de garças, mergulhões, gaivotas, patos etc., que na água baixa se concentram nas poças de água restantes em enormes quantidades. Muito característicos são também as coloridas jaçanãs (Parra jacana) e a anhuma (Palamedea comuta), que chamam a atenção pelo tamanho e o seu grito estridente e característico. Muito freqüentes são também várias espécies de gavião, que se alimentam de peixes ou dos grandes caramujos existentes na vegetação aquática.

A atividade antrópica especialmente a caça, tem provocado uma redução drástica de muitas espécies que eram comuns na várzea, algumas até ameaçadas de extinção. Já no fim do século XIX o grande naturalista José Veríssimo denunciou as matanças tremendas de peixes-bois (Trichechus inunguis) e tartarugas da Amazônia (Podocnemis expansa) e a coleta indiscriminada dos ovos deste quelônio. No início do século passado, milhares de garças foram caçadas por causa da beleza de sua plumagem. Quando a indústria de couro conseguiu curtir as peles de jacarés (Caiman crocodilus e Melanosuchus niger), que existiam em enormes quantidades, o seu número foi reduzido em poucas dezenas de anos, tanto que eles foram colocados junto com o peixe-boi, as grandes tartarugas, as lontras (Lutra enydris) e as ariranhas (Pteronura brasiliensis) na lista dos animais ameaçados de extinção, e atualmente são protegidos pelas leis brasileiras.

Os golfinhos de água doce, o boto (lnia geoffrensis) e o tucuxi (Sotalia fluviatilis) até hoje são ainda freqüentemente encontrados em todos os grandes rios Amazônicos. Isso porque eles têm um papel muito

29

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 30: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

importante na mitologia dos índios, que em parte até os dias atuais está sendo respeitada pelos caçadores e pescadores. Todavia, esta proteção também está diminuindo com o aumento da imigração de pessoas de fora da Amazônia, que não dão crédito a esta mitologia. Além disso, os animais jovens e inexperientes caem freqüentemente nas redes e malhadeiras dos pescadores e se afogam em conseqüência disso. Ainda relativamente freqüente na várzea é a capivara (Hydrochaerus hydrochaeris), que é o maior roedor do mundo, mas é também muito procurada pelos caçadores por sua carne.

3.3.2 – O Igapó do Rio Negro A área de inundação do rio Negro e de outros rios de água preta, o igapó (Figura 21), difere claramente

das várzeas dos rios de água branca. Muitas espécies de árvores ocorrem somente na água branca ou na água preta. A majestosa Sumaúma, que é característica da água branca, falta no igapó do rio Negro, enquanto que a macacarecuia (Jugastrum sp.), freqüente no igapó, falta na várzea do Amazonas. O mais saliente é a falta quase total de grandes quantidades de plantas aquáticas flutuantes no igapó que caracteriza a várzea. Isso se refere ao baixo pH e à falta de nutrientes na água preta. Durante a seca, as praias arenosas são pouco colonizadas por vegetação (JUNK, 1983).

A baixa quantidade de nutrientes também se reflete na baixa diversidade de animais no igapó. Caramujos e mexilhões em geral não ocorrem na água por causa da sua acidez e a falta de calcário, necessário para a formação de suas conchas. Raramente uma garça interrompe a tranqüilidade fascinante do igapó, e o pescador durante a cheia sofre muito até pegar peixe para a alimentação de sua família. Rios de águas pretas têm o apelido de rio faminto por causa disso. Por outro lado, é muito agradável a falta quase total de mosquitos, que nas várzeas são uma praga. As suas larvas na água preta não encontram alimentação suficiente para desenvolver- se em maiores quantidades.

A oscilação do nível de água tem no igapó como na várzea, a mesma influência para a fauna e a flora, que

Figura 21 – Igapó do rio Negro. Fonte: www.ama- zonia.org/ Photos/Erik/45.pt.htm

é a de destacar as espinhosas esponjas de água doce, que ficam nas árvores e podem atingir o tamanho de uma bola de futebol. Elas morrem durante a seca, porém antes produzem estágios permanentes que colonizam novamente o espinhoso esqueleto morto na próxima enchente. De acordo com Sioli (1991) e Junk (1983) as áreas inundáveis de rios com água clara ainda não foram estudadas, mas supõe-se que elas sejam intermediárias entre as várzeas dos rios de água branca e os igapós dos rios de água preta.

3.4 – Igarapés e Pequenos Rios Amazônicos A paisagem da bacia Amazônica é caracterizada pelos inúmeros rios e igarapés. Os mapas do baixo

amazonas e da Amazônia central, mostram que a região, apesar de ter uma topografia essencialmente plana, é recortada por uma complexa rede de rios de tamanhos variados e igarapés (riachos) que drenam platôs de terrenos não sujeitos a inundações periódicas, chamados de terra firme (Figura 22). Essas águas contribuem para a formação das bacias dos maiores rios da bacia amazônica, e apresentam, em seus leitos e em suas margens, ecossistemas bastante diferentes.

A alta taxa de precipitação contribui para que exista uma rede muito densa de igarapés e pequenos rios que transportam a descarga superficial das chuvas. A floresta densa deixa chegar pouca luz à superfície da

30

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 31: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

água e, por isso, as condições para a produção de material vegetal na água, tais como algas e plantas aquáticas superiores, que podem servir como alimentação para animais aquáticos, são muito precárias.

No entanto, a fauna íctica é diversificada e freqüente. A aparente contradição entre a baixa capacidade produtiva da água e a ictiofauna abundante resolve-se, porém, se analisarmos o conteúdo estomacal dos peixes. Nota-se que a maioria das espécies come alimentos não provenientes do próprio igarapé (material autóctone), mas sim da floresta ao longo do leito do igarapé (material alóctone), tais como insetos terrestres, frutos, sementes, pólen, etc. Também a maioria dos outros animais aquáticos vive da floresta, aproveitando a grande quantidade de folhas que caem na água. Este material, porém, pode ser diretamente consumido e digerido por poucos animais superiores. Normalmente as folhas são atacadas por fungos, que por sua vez servem como fonte alimentícia para animais pequenos consumidos por predadores etc. As redes alimentares dentro dos igarapés baseiam-se, principalmente, em material terrestre. Quanto mais largo o igarapé, menor a influência da mata da margem em comparação à área ocupada, menor a quantidade de material orgânico e alimentos à disposição da fauna aquática. Por isso, o volume de peixes em relação à quantidade da água de um rio de terra firme é bem inferior à quantidade de peixes de um pequeno igarapé na mesma região. Os igarapés de cerrado são pouco sombreados e contêm freqüentemente uma flora submersa abundante: plantas que aparentemente são capazes de existir mesmo com baixíssimas concentrações de nutrientes. A sua importância para as redes alimentares ainda não foi estudada.

Figura 22 – Igarapés Amazônicos. A) Igarapé da bacia do rio Negro. Foto do autor; B) Igarapé de terra firme. Fonte: www.amazonian-fish.co.uk/images/Forest_stream3.jpg.

3.5 – Lagos Amazônicos Na terra firme da Amazônia Central, há carência quase completa de lagos fundos, devido aos processos

de sedimentação durante o terciário, que nivelaram a bacia Amazônica, enchendo as depressões existentes. Nos escudos das Guianas e do Brasil Central existem apenas três situados na região montanhosa no alto rio Negro, que ainda não foram estudados. Existem, entretanto, muitos lagos rasos e às vezes temporários no cerrado de Roraima e ao longo dos grandes rios, os lagos de várzea.

A maioria dos lagos amazônicos, segundo a definição clássica de lagos, não deveriam ser considerados lagos verdadeiros, pois a definição diz que “um lago é um corpo d´água sem comunicação direta com o mar ou com o seu rio adjacente”. Os lagos amazônicos, principalmente os de várzea, têm uma conexão periódica com o curso do rio adjacente, durante o período de cheia dos rios, quando ocorre o alagamento lateral, ocupando as áreas alagáveis.

31

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 32: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

A morfologia dos lagos, redondos ou compridos, segundo pesquisa realizada por Jardim-Lima et al., (2005), parece influenciar diferentemente na extensão da área de inundação para o pulso de inundação de 11 m, que caracteriza a região da Reserva de Mamirauá. Lagos redondos apresentam área relativa de inundação maior que os lagos compridos, em função das características geomorfológicas desses corpos de água. Este aspecto, verificado para a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, possivelmente aplica-se a lagos da bacia Amazônica em geral, com igual conformação. Provavelmente lagos de forma comprida têm seus níveis de água fortemente influenciados pela velocidade de corrente que, nessa tipologia, tende a ser mais direcional, isto é, com maior característica de transporte do que de acumulação (JARDIM-LIMA et al., 2005).

Os principais tipos de Lagos Amazônicos são:

a) Lagos de Barragem - São formados quando o rio principal transporta grande quantidade de sedimento

que é depositado ao longo do seu leito. Esta deposição provoca uma elevação do nível de seu leito, causando o represamento de seus afluentes, então transformados em lagos. Estes afluentes são normalmente pobres em aluviões, o que faz com que não acompanhem a elevação do leito do rio principal. Lagos deste tipo são os lagos de terra firme da Amazônia (Figura 23).

Os lagos de terra firme da Amazônia são alongados e muito dendríticos. Foram formados principalmente a partir dos rios de “água branca”, capazes de transportar grande quantidade de aluviões. Podem ter até centenas de quilômetros de comprimento e chegam a 7 km de largura. Entre os maiores lagos de terra firme do Brasil situam-se os lagos Piorini e Eurepecu com 80 e 70 km respectivamente de extensão. Outros exemplos de lagos de terra firme são: lagos Badajós, Anama, Nhamundá, Manacapuru, rio Preto da Eva, Jucuruí, Jari e Juçava.

Existe um grande número de lagos de barragem localizados na baixada litorânea do Amapá entre os rios Amapá Grande e Araguari, na chamada “região dos lagos do Amapá”. Na época das chuvas (janeiro a maio) estes lagos transbordam e suas águas correm toda a planície litorânea, transformando-a em um grande alagado. Por exemplo: lago Novo, Duas Bocas, Comprido, Mutuca, Piratuba e Cajubim.

Figura 23 - Lago de terra firme na planície amazônica: lago de barragem. Croqui feito sobre fotografia aérea trimetrogon (Adaptado de Soares, 1977 apud Esteves, 1998).

b) Lagos de Ferradura ou de Meandros - Os rios maduros (senis) que percorrem planícies e que já atingiram o seu nível de base (ponto limite abaixo do qual a erosão das águas correntes não pode trabalhar, por vezes o próprio nível, do mar), apresentam um curso sinuoso. As sinuosidades apresentadas por esses rios são chamadas de meandros. Em geral encontramos um grande número de lagos ao longo de rios meândricos. Estes lagos são formados através do isolamento de meandros por processos de erosão e sedimentação das margens. Os lagos assim formados são ditos lagos de ferradura, crescente ou de meandro e são, provavelmente, os lagos mais freqüentes no território brasileiro. Estes lagos são especialmente numerosos na região amazônica. Estas

32

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 33: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

Figura 26 – Lago de Várzea (Lago Itaqui). Fon- te: ipam.org.br/programas/manvar/meta1.php

33

regiões apresentam poucas elevações e grande número de rios meândricos, oferecendo, portanto, condições favoráveis à formação de inúmeros lagos em ferradura (Figuras 24 e 25).

Figura 24 – Exemplo de rio de planície de inundação: Rio Juruá (AC), com grande número de meandros e lagos abandonados. Fonte: Rydle, 2006.

Figura 25 – A) Processo de isolamento dos meandros. Fonte: Adaptado de Esteves (1998). B) Conseqüente formação de lagos marginais. Fonte: www.ponce.sdsu.edu/legacy_ tales_seddons_law.html

c) Lagos de Inundação - São encontrados na planície amazônica e no Pantanal de Mato Grosso, onde recebem o nome de “lagos de várzeas” e “baías”

respectivamente. Uma das características principais deste tipo de lagos é a grande variação no nível da água, função da precipitação. Os lagos de várzeas ocorrem nas depressões da planícieamazônica, emlocaisaindanãototalmentecolmatados pelo material transportado pelo rio, no processo normal de formação de várzea (Figura 26). Entre os lagos de várzea,

podem ser citados: lagos do Castanho, Maicá, Redondo, Grande de Maicuru, Itaudema, Grande de Curuaí, lagoa do Poção. Lagos de várzea também podem ser encontrados nas partes centrais de ilhas de aluviões, como no lago dos Reis, na ilha Carneiro, foz do rio Negro; o lago de Piracicaba na ilha Grande do Tapava e o lago Camaleão na ilha de Marchantaria.

Na região amazônica, no período de cheias, os

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 34: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

ecossistemas aquáticos recebem grande quantidade de água, o que resulta no aumento de área e profundidade dos rios e lagos. Neste período ocorre a intercomunicação de vários lagos e rios, formando um único sistema. Já na época da seca, com a queda do nível de água, os diferentes sistemas permanecem isolados, ou se comunicam por canais.

d) Reservatórios – São rios represados pelo homem, para disponibilizar principalmente água potável ou gerar energia elétrica.

Na região amazônica foram construídas várias represas hidrelétricas desde a década de 70 do século passado. As principais são: a hidrelétrica de Tucuruí (Figura 27), a de Curuá-una, a de Balbina e a de Samuel.

Foram construídos reservatórios para obtenção de água potável, como os lagos Bolonha e Água Preta, localizados no Parque Ambiental do Utinga, na região metropolitana de Belém.

Figura 27 – Reservatório de Tucuruí. Fonte: www.brasilviagem.com/pontur/?CodAtr=3091.

3.6 – Região Costeira O litoral brasileiro tem uma extensão de 7.408 km, diversificando-se entre a desembocadura do Rio

Oiapoque-AP (04o52’45”N) e o Arroio Chuí-RS (33o45’10”S) com uma gama de ecossistemas, que varia entre campos de dunas, ilhas, recifes, costões rochosos, baías, estuários, brejos, falésias e baixios. Muitos deles, como praias, restingas, lagunas e manguezais, embora tenham ocorrência constante, apresentam tal variedade biótica que a aparente homogeneidade em suas fácies ecológicas apenas oculta especificidades florística e faunística vinculadas às gêneses diferenciadas dos ambientes em tão longo trecho litorâneo (CIMA, 1991). A riqueza biológica dos ecossistemas costeiros faz com que essas áreas sejam grandes “berçários” naturais, tanto para as espécies características desses ambientes, como para peixes anádromos e catádromos e outros animais que migram para as áreas costeiras durante, pelo menos, uma fase do ciclo de vida.

A fauna e a flora de áreas litorâneas representam significativa fonte de alimentos para as populações humanas. Os estoques de peixes, moluscos e crustáceos apresentam expressiva biomassa, constituindo excelentes fontes de proteína animal de alto valor nutricional. Os recursos pesqueiros são considerados como indispensáveis à subsistência das populações tradicionais da zona costeira, além de alcançarem altos preços no mercado internacional, caracterizando-se como importante fonte de divisas para o País.

3.6.1 – Estuários Os estuários são ambientes de ligação entre as áreas continentais e o oceano adjacente. É a região onde

ocorre a mistura das águas marinhas com a água da drenagem continental, o que resulta na diluição da água salgada pela água doce. Na região amazônica, devido ao seu regime sazonal de chuvas concentradas durante alguns meses, há sabidamente um aumento no nível e vazão dos rios e como conseqüência uma maior diluição

34

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 35: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

da água salgada, fato este que ocorre de forma inversa em períodos de estiagem, ou seja, menor influência dos rios e maior influência das águas marinhas adjacentes.

Esta complexidade e heterogeneidade de acontecimentos são comuns destes ecossistemas, o que o torna tão difícil de ser estudado. Cada estuário está diretamente ligado a estas duas forçantes rio-mar, desta forma, sendo o Brasil um país continental não é difícil concluir que estuários brasileiros apresentem diferenças entre si tendo suas peculiaridades regionais.

De forma didática convencionou-se dividir os estuários em três

regiões (Figura 28), a saber: o Zona flúvio-estuarina – Região com mais influência das

águas continentais, apresentando normalmente características físicas, químicas e biológicas associadas aos rios;

o Zona de mistura – Região de maior mistura entre as “duas” massas de água, apresenta características intermediárias entre o rio e o mar;

o Zona estuarino-marinha – Região que sofre maior influência das águas oceânicas, sendo muitas vezes a mais dinâmica. Suas características físicas, químicas e biológicas estão associadas à região costeira;

Estas divisões não têm limites físicos bem definidos e muitas vezes devido à vazão dos rios ficam mais difíceis de serem notadas. Sabe-se que os estuários são biologicamente mais produtivos do que rios e o oceano adjacente, pois apresentam altas concentrações de nutrientes que estimulam a produção primária.

De acordo com Camargo e Isaac (2003), os estuários tropicais são do ponto de vista físico, áreas tampão entre o mar e os rios. Vários grupos de organismos diádromos realizam deslocamentos através

Figura 28 – Estuário do Rio Mara- canã, dividido em três. Fonte: Bastos,

2006.

dos estuários, ou utilizam estes ambientes de transição durante alguma parte do seu ciclo de vida. A flora e fauna estuarinas apresentam diversas estratégias de adaptação à alta variabilidade diária e sazonal das condições ambientais e de estresse fisiológico que neles opera. São áreas indispensáveis no ciclo de vida de espécies de interesse comercial, os grandes bagres como a dourada (Brachiplatystoma flavicans) e piramutaba (Brachiplatystoma vaillentii) Barthen et al., (1991).

3.6.2 – Manguezais

3.6.2.1 – Definição e distribuição Os manguezais constituem um ecossistema costeiro, de transição entre os ambientes terrestres

e marinhos, característico de regiões tropicais e subtropicais, sujeito ao regime de marés. É constituído de espécies vegetais lenhosos típicos (angiospermas), além de micro e macroalgas (criptógamas), adaptadas à flutuação de salinidade e caracterizadas por colonizarem sedimentos predominantemente lodosos, com baixos teores de oxigênio. Ocorre em regiões costeiras abrigadas e apresenta condições propícias para alimentação, proteção e reprodução de muitas espécies animais, sendo considerado importante transformador de nutrientes em matéria orgânica e gerador de bens e serviços. Segundo Schaeffer-Novelli (1995).

A distribuição dos manguezais brasileiros segundo Cintrön & Schaeffer–Novelli (1981), vai desde o extremo norte, no Amapá (02ºN) até Laguna, litoral Catarinense (28º30’S), cobrindo 1,4 milhões de hectares (10% do total mundial), dos quais cerca de 270.000 ha (19,3% do total brasileiro), ocupam as costas do Pará (Senna, 1993). Os maiores manguezais do litoral brasileiro, incomparáveis a qualquer outro, são os localizados

35

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 36: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

praticamente em uma faixa contínua de 50 a 60 km de largura, ao longo de todo o litoral dos estados do Maranhão, Pará e Amapá (Figura 29 e 30).

Figura 29 – Manguezal. A) Raízes aéreas das Rizophora mangle. Fonte: www.deltadorioparnaiba.com.br/delta_ mangue.htm; B) Bando de Guarás. Fonte: www.ese.ips.pt/abolina/webquests/amazonas/florestaamazonica. html

3.6.2.2 – Flora e adaptações No Brasil as plantas lenhosas, habitantes do manguezal são comumente chamadas de mangue. Nesse

ambiente existem também espécies herbáceas, epífitas, hemiparasitas e aquáticas típicas. Segundo Schaeffer- Novelli & Cintrón, (1986) As angiospermas do mangue do litoral brasileiro pertencem a três gêneros, contando com um total de 6 espécies.

• Gênero Rhizophora: Mangue vermelho, sapateiro ou verdadeiro, encontra-se geralmente nas franjas dos bosques em contato com o mar, ao longo dos canais, na desembocadura de alguns rios ou, nas partes internas dos estuários onde a salinidade não é muito elevada.

As espécies encontradas ao longo do litoral brasileiro são: Rhizophora mangle, da desembocadura do Rio Oiapoque, à latitude da Ilha de Santa Catarina; e R. racemosa e R. harrisonii encontram-se da região norte até o Delta do Rio Parnaíba, no Piauí.

• Gênero Avicennia: Siriúba ou mangue preto ocupa terrenos da zona entremarés, ao longo das margens lamacentas dos rios ou diretamente exposta às linhas de costa, desde que submetidas a intrusões salinas. Essas plantas toleram salinidades intersticiais muito mais altas que os demais gêneros de mangue, chegando a sobreviver em locais com salinidades de 90.

As espécies encontradas em nossos manguezais são: Avicennia germinans, do norte até a desembocadura do Rio Macaé, ao norte do Estado do Rio de Janeiro; e A. schaueriana, ao longo de todo litoral, com seu limite austral coincidindo com o próprio limite sul dos manguezais no Atlântico Sul Ocidental.

• Gênero Laguncularia: Mangue branco ou tinteira, encontrado em costas banhadas por águas de baixa salinidade, às vezes ao longo de canais de água salobra ou, em praias arenosas protegidas.

É um gênero monoespecífico, i.e., possui apenas uma espécie, Laguncularia racemosa, encontrada associada a manguezais ao longo de todo litoral. Merece destaque o fato de ser a única espécie típica de mangue encontrada no Arquipélago de Fernando de Noronha, no único manguezal, na Baía do Sueste.

Dentre as criptógamas associadas aos manguezais Cordeiro-Marino et al., (1992) fazem referência

para as áreas de manguezal do Atlântico Sul Ocidental, a um total de 21 espécies de Chlorophycea, 37 de

36

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 37: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

Rhodophycea e 4 de Phaephycea. Segundo Maciel (1991), podem ocorrer fanerógamas halófitas (Salicornia gaudechodiana,

Chaenopodiacea e Sesuviam portulacastrum, Aisoacea) e criptógamas abundantes, sobre as quais se alimentam caranguejos de diversas espécies.

A maioria das angiospermas consideradas como típicas do manguezal, apresenta reprodução por viviparidade. Esse processo permite que as sementes permaneçam na árvore-mãe até se transformarem em embriões. Essas estruturas, conhecidas pelo nome de propágulos, acumulam grande quantidade de reservas nutritivas, permitindo sua sobrevivência enquanto flutuam por longos períodos de tempo até encontrarem ambiente adequado à sua fixação. O sistema radicular das plantas de mangue é adaptado para sobreviver em sedimentos pobres em oxigênio apresentando extensões radiculares que se projetam acima do sedimento e deste modo a parte subterrânea da planta pode obter oxigênio, dentre essas adaptações radiculares podemos citar os rizóforos, as raízes adventícias ou escoras (extensões que partem do tronco e se desenvolvem em direção ao solo) e os pneumatóforos (extensões radiculares com geotropismo negativo), tais estruturas são dotadas de lenticelas, através das quais se processa o fluxo do oxigênio e gás carbônico, entre a planta e o meio ambiente durante a flutuação das marés.

Os “mangues” têm que ser tolerantes ao sal, apresentando para isso uma variedade de mecanismos fisiológicos, tais como: diluição de sais dentro da célula; redução da concentração de sais através de glândulas secretoras de sal; desenvolvimento de pequenas folhas, pelos armazenadores de água; manutenção da alta absorção de água e as concentrações constantes de sais no interior da célula regulando o turgor; síntese e acumulo de solutos orgânicos que ajudam a manter estável a concentração de sais dentro da célula, e minimização da ação dos sais pela compartimentalização em vacúolos.

Os manguezais são habitadosporum restrito grupodeespéciesunicelularesemacroalgas.As diatomáceas, algas unicelulares, conferem ao sedimento a coloração pardo-amarelada e são excelentes sintetizadoras de matéria orgânica; entre as cianofíceas encontramos os gêneros Oscillatoria e Scytonema, que formam massas escuras na superfície da lama, algumas podem viver como epífitas na superfície de macroalgas. Dentre as macroalgas associadas aos manguezais podemos citar a ocorrência de Caulerpa, Enteromorpha, Cladophoris, Catenella, Caloglossa e Bostrychia.

Os liquens podem ser observados sobre troncos e raízes, podendo ser completamente aderido ao substrato, variando da coloração amarelo-vivo, cinza a branco rosado, muito freqüentes em Rhizophora; podem ser folhosos de cor marrom, cinza-chumbo ou preta, observados principalmente em Laguncularia; e os fruticosos como a barba de velho (Usnea), muitas vezes formando verdadeiras cortinas cinza esverdeadas penduradas nos ramos.

As epífitas encontradas nos mangues são principalmente bromélias e orquídeas, de coloração bem variada, geralmente associada aos ramos e galhos altos das árvores de mangue.

Bactérias e fungos são de grande importância para o ecossistema manguezal, pois se constituem nos principais agentes decompositores de matéria orgânica produzida por todo o conjunto de produtores primários.

3.6.2.3 – Fauna Animais de origem terrestre, marinha e de água doce podem ser residentes, semi-residentes, visitantes

regulares ou oportunistas. A maior parte da fauna dos manguezais é originária de ambientes marinhos – grande quantidade

de moluscos (ostras e sururus), crustáceos (caranguejos, siris e camarões) e peixes. A água doce contribui principalmente com crustáceos (pitu) e peixes. Do ambiente terrestre provem as aves (garças, mergulhões, gaivotas e guarás), répteis (cágados, jacarés e cobras), anfíbios (sapos, rãs ou jias), mamíferos (morcegos, macacos, guaxinins, e capivaras) e insetos (mosquitos-pólvora, mutucas, abelhas, formigas, borboletas).

Os animais dos manguezais podem ser agrupados em função de seu tamanho em: tamanho reduzido, médio ou grande porte; ou quanto ao seu hábito de vida, destacando-se os herbívoros.

• Fauna de Tamanho Reduzido: minúsculos habitantes de água e do sedimento composta por

37

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 38: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

microcrustáceos (copépodas e cladóceras); nemotóides, oligoquetas, poliquetas, rotíferas, moluscos, larvas de camarões, de caranguejos, de peixes e de insetos.

• Fauna de Médio e Grande Porte: variam de poucos milímetros e dezenas de centímetros. Muitos moluscos vivem enterrados na lama (sururus, taiobas e mariscos em geral) ou se fixam às raízes do mangue, como as ostras. Existem ainda os teredos (turus), conhecidos como perfuradores de madeira. Herbívoros: na sua grande maioria insetos, caranguejos e siris.

• Fauna Associada: são animais que habitam os manguezais em algumas fases do seu ciclo de vida, dos quais podemos citar os camarões (Adultos: mar aberto; larvas e jovens / fase de crescimento - nos manguezais), os pitus( Adulto: água doce; primeiros estágios de vida nos manguezais); e os que utilizam os recursos dos manguezais, como as aves que utilizam o mangue como verdadeiro santuário para reprodução, além de se alimentarem de peixes e crustáceos e fertilizar os ambientes através de seus dejetos, enriquecendo a produtividade do ambiente; os anfíbios, répteis e mamíferos, como fonte de alimento, refúgio e ritual reprodutivo. Os peixes podem passar toda sua vida no manguezal, apenas uma fase desta, ou ainda, fazer migrações diárias de acordo com a maré ou então, realizar migrações mensais, semestrais, anuais para reprodução (sardinhas, tainhas, curimãs, carapebas, camorins ou robalos, anchovas, bagres, linguados e outros).

Figura 30 – Imagens do Manguezal. A) Manguezal inundado. Fonte: do autor; B) Amor do mangue. Fonte: Carlos Gondim; C) Revoada de Guarás. Fonte: Carlos gondim; D) Ucides cordatus. Fonte: cienciahoje.uol. com.br/controlPanel/materia/view/1460

3.6.2.4 – Zonação As diferentes espécies vegetais de mangue estão distribuídas no manguezal em zonas, em relação à

linha d’água. Esse tipo de distribuição é chamado de Zonação. A zonação das espécies de mangue é variável de

38

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 39: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

um manguezal para outro, devido às peculiaridades ambientais de cada local; como salinidade, marés, tipo de substrato e o grau de energia do local, ou seja, se o local é ou não protegido da ação de ondas, marés e rios.

Em geral, Rhizophora ocupa os locais mais próximos ao mar, margens de rios e locais lamosos, pois seus rizóforos permitem que esse tipo de mangue resista mais que os outros à alta energia e ao sedimento lamoso, sem ser arrancado.

Já Laguncularia sp. e Avicennia sp., acupam locais mais afastados dos rios e do mar, locais estes de topografia geralmente mais elevada, com sedimento mais seco e mais arenoso. Esses locais são mais protegidos das ondas e da força dos rios (menor energia). Conocarpus sp, quando encontrado associado aos manguezais, ocupa a zona posterior do mesmo, na transição para a terra firme, em substratos mais elevados e arenosos, com salinidades baixas.

Após realizar o estudo desta unidade, responda às questões propostas para complementar seu aprendizado. Assim que terminar de resolver as questões propostas, envie para o seu Tutor no prazo de 10 dias.

Para responder às atividades, utilize papel de tamanho A4, com letra arial 12. 1) Você deve ter lido na imprensa, sobre a grande seca na região Amazônica no

ano de 2005! Será que essa seca foi a maior já registrada para a região? Pesquise sobre o assunto, e descreva a sua opinião em até 10 linhas.

2) O Parque ambiental de Belém está com os seus lagos em estado adiantado de eutrofização. Quais as principais causas da eutrofização? Como o lago pode estar recebendo aportes de nutrientes? Elabore um plano de manejo para o Parque do Utinga, contendo: introdução, justificativa, descrição da área e metodologia. O plano deve conter no máximo 10 páginas

39

ATIVIDADE 03

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 40: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

4 – Biodiversidade

Esta unidade tem por objetivo levar o aluno ao conhecimento da biodiversidade, ou seja, a diversidade biológica da maior região de floresta tropical do planeta.

4.1 – Mas Afinal O Que É Biodiversidade?

A palavra biodiversidade é bem recente e foi acrescentada ao vocabulário científico em meados dos anos 80 do século passado, tornando-se um conceito de fácil utilização, que veio a denominar o mais importante tratado multilateral sobre a conservação da biosfera, ou seja, a Convenção sobre a Diversidade Biológica.

O entendimento mais comum do conceito de biodiversidade está relacionado com o número de espécies existentes em um determinado espaço ou categoria sistemática (gênero, família, etc.), como sendo a diversidade biológica ou a diversidade das formas de vida dos autores pré-modernos.

Também chamada de Diversidade Biológica, a Biodi-

versidade é definida pela Convenção sobre a Diversidade

Biológica que foi, então, tratada como a variabilidade de

organismos vivos de todas as origens, compreendendo,

entre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e de-

mais ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de

que fazem parte; abrange também a variabilidade dentro

de espécies, entre espécies e de ecossistemas (Artigo 2 da Convenção sobre Diversidade Biológica).

Pela sua dimensão espaço-temporal, a biodiversidade é difícil de definir, pois estamos lidando com dois canais de informação da aritmética das espécies. O primeiro canal é o número de espécies em um determinado local (riqueza específica) e o outro é o número de indivíduos da espécie presente neste local (abundância relativa). Existem muitos índices de diversidade e propostas de novos índices surgem a todo o momento na literatura.

Mas a compreensão e, principalmente, a medição da biodiversidade estão baseadas no conceito de espécie, pois as funções dos ecossistemas são por ela realizadas e esta por sua vez apresenta propriedades particulares em seus genótipos específicos.

4.2 – A Dinâmica da Biodiversidade A diminuição da biodiversidade está relacionada com os processos de redução dos habitats, resultando,

portanto, na redução da variabilidade genética. Os fatores que determinam quantas espécies se organizam para compor uma comunidade ou quais mecanismos regulam o número de espécies presentes em um lago ou em uma ilha são as grandes interrogações que os biólogos se colocam para o entendimento da biodiversidade. O conjunto hierárquico das questões abaixo, ajuda a compreender a distribuição das espécies:

• Como cada população individual é regulada, isto é, qual a amplitude da taxa de nascimentos, morte,

emigração e imigração dos indivíduos? • Até que nível cada população é regulada e/ou dependente do comportamento de cada indivíduo? • De que maneira e como as espécies interagem como mutualistas, competidoras ou na relação predador-

presa? • Como a cadeia alimentar determina a estrutura de uma comunidade, isto é, a extinção de uma

determinada espécie afeta a existência de outras espécies? • Como as mudanças ambientais globais afetam os organismos, do nível individual ao nível do

ecossistema?

40

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 41: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

Várias teorias gerais foram construídas para responder as questões acima e os biólogos tropicais tentaram aplicar alguns dos conceitos aceitos para explicar, com pontos de vista conflitantes, porque as florestas tropicais contêm o maior número de espécies.

Atualmente, se sabe que as mudanças climáticas, pela qual o planeta vem passando ao longo de sua evolução, trouxeram alterações importantes na região onde hoje a floresta tropical amazônica se encontra. Durante o Pleistoceno a alternância entre climas secos e frios com climas tropicais úmidos, criou uma instabilidade na região. O Pleistoceno é uma época do Quaternário, típica pelas glaciações ocorridas. O período glacial Pleistoceno (1,7 milhões a 10 mil anos atrás) foi iniciado com profundas mudanças climáticas, sendo que os registros de rebaixamento do mar são os marcos mais evidentes. O último rebaixamento do nível do mar terminou à 10.000 anos, marcando o início do Holoceno. Durante o Pleistoceno, na região amazônica, houve alternância entre savanas e florestas (SALATI et al., 1998).

Segundo Salati (op. Cit.) é justamente esta instabilidade que tornou a Amazônia a região de maior biodiversidade do planeta. Os animais e plantas adaptados ao clima tropical úmido sobreviveram em algumas áreas apropriadas, os refúgios do Pleistoceno, cercados por um ambiente hostil. O recuo progressivo do clima seco e frio colocou à disposição destes organismos, áreas recentes onde as condições ecológicas eram propícias a uma irradiação adaptativa. Novas espécies evoluíram ocupando, então, os nichos disponíveis. A teoria dos refúgios pleistocênicos foi unanimidade por muitos anos, mas está sendo fortemente contestada.

Foi proposta uma teoria baseada na herbivoria, por Janzen (1970), na qual, o clima úmido e quente favorece o desenvolvimento de insetos herbívoros que forrageiam plantas, sendo que, aparentemente, uma espécie de inseto forrageia somente uma espécie de planta. A herbivoria trouxe como efeito secundário à diversidade de plantas, pois ficaria muito mais difícil para o inseto encontrar um indivíduo da espécie que forrageia, no meio de tantas outras espécies. Vejamos o exemplo:

• Quando uma árvore produz sementes, e estas não possuem agentes dispersores eficientes, há uma

maior concentração destas, e posteriormente o desenvolvimento de plântulas, nas proximidades da planta- mãe, ocorrendo, portanto um menor número de sementes ou plântulas a distâncias maiores da matriz. Como os herbívoros se orientam pela matriz, logo encontram também a grande concentração de plântulas sob a copa da mesma, que serão, então, completamente dizimadas, quando isto não ocorre a própria competição por nutrientes com a planta mãe pode fazê-lo. São aquelas poucas sementes levadas para longe por algum animal ou pelo vento que têm algumas chances de escapar do ataque dos herbívoros ou de doenças, e, germinar em algum lugar favorável quanto às condições de luz e de solo, poderão atingir o dossel da floresta.

Logo, segundo Shubart, (1983) a competição, a predação pelos herbívoros e as doenças criam um vazio

em torno de uma árvore, que pode então ser ocupado por outras espécies. Quanto mais eficientes forem os predadores, tanto em sua mobilidade no espaço e no tempo entre diferentes árvores que estejam produzindo sementes, quanto em sua capacidade de destruir plântulas que estejam crescendo juntas, maiores serão as distâncias esperadas entre os indivíduos de uma espécie, e maior número de espécies deverá ocorrer na região. Nas latitudes médias a ocorrência anual de um inverno rigoroso reduz drasticamente as populações de insetos, diminuindo assim a pressão dos herbívoros sobre as plantas, o que resulta em florestas de baixa heterogeneidade.

Assim, a grande biodiversidade amazônica é uma estratégia para escapar do forrageio, onde as plantas se diversificaram dificultando a predação pelos insetos.

Nesse contexto, e de acordo com Salati et al., (1998), a teoria dos nichos foi proposta por Asthon e Richards, na qual, o grande número de nichos disponíveis para as plantas é que propiciou a alta diversidade das florestas tropicais. Por sua vez, as plantas formaram outros nichos que são ocupados por espécies animais que, são capazes de favorecer outras relações numa longa cadeia, onde animais e plantas estabelecem relações coevoluídas, como as intricadas cadeias alimentares, as relações entre polinizador e planta, dispersores e sementes etc. A teoria de nichos é uma intricada rede hierárquica onde um nicho incentiva a existência de outro em uma longa rede de dependência mútua.

Mas, nenhuma teoria alcançou sozinho, o poder de síntese suficiente para explicar esta biodiversidade.

41

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 42: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

Ainda estaremos por alguns anos nos apoiando em diversas explicações, muitas vezes conflitantes, para explicar o porquê do grande número de seres vivos co-habitando nas florestas tropicais.

4.3 – A Diversidade Neotropical

O número de espécies que existe no planeta ainda não é conhecido. Sabe-se que foram descritas cerca de 1.750.000 espécies, porém estima-se que a diversidade global varie de 3.653.000 a 111.655.000. Com base no que é conhecido, na Amazônia vivem cerca de 10% dessa diversidade (LEVINSHON & PRADO, 2002). Existem dezessete países no mundo considerados “megadiversos” pela comunidade científica. São nações que reúnem em seu território imensas variedades de espécies animais e vegetais. Sozinhas, detêm cerca de 70% de toda a biodiversidade global. Normalmente, a “megadiversidade” aparece em regiões de florestas tropicais úmidas. É o caso de países como Colômbia, Equador, México, Indonésia e Malásia. Nenhum deles, porém, chega perto do Brasil. O país abriga aproximadamente 20% de todas as espécies animais do planeta. A variedade da flora também é impressionante. De cada cinco espécies vegetais do mundo, uma está presente no Brasil. A explicação para tamanha abundância é simples. Os 8,5 milhões de quilômetros quadrados do território brasileiro englobam várias zonas climáticas, entre elas a equatorial do Norte, a semi-árida do Nordeste e a subtropical do Sul. A variação de climas é a principal mola para as diferenças ecológicas. O Brasil é dono de sete biomas (zonas biogeográficas distintas), entre eles a maior planície inundável (o Pantanal) e a maior floresta tropical úmida do mundo (a Amazônia).

A Região Amazônica é a grande responsável por boa parte da riqueza natural do país. Com 5,5 milhões de quilômetros quadrados, possui nada menos que um terço de todas as espécies vivas do planeta. No Rio Amazonas e em seus mais de 1.000 afluentes, estima-se que haja quinze vezes mais peixes que em todo o continente europeu. Apenas 1 hectare da floresta pode trazer até 300 tipos de árvore. A floresta temperada dos Estados Unidos possui 13% do número de espécies de árvores da Amazônia. A Floresta Amazônica é considerada a grande “caixa-preta” da biodiversidade mundial. Há estimativas que indicam existir mais de 10 milhões de espécies vivas em toda a floresta, mas o número real é incalculável.

A diversidade de espécies que ocorrem no Brasil é a maior do mundo para as plantas superiores, peixes de água doce e mamíferos; a segunda para anfíbios; a terceira para aves e a quinta para répteis. São cerca de 50.000 espécies de vegetais, 425 de mamíferos (dos quais 172, endêmicos), 427 anfíbios (366 endêmicos), 1.300 espécies de aves (263 endêmicas), 371 répteis (260 endêmicos), aproximadamente 3.400 espécies de peixes de água doce descritas, mas a diversidade deve ficar em 9.000 e uma estimativa de 10 a 15 milhões de insetos (LEWINSHON, et al., 2005).

Para os vegetais superiores, novos cálculos apontam um crescimento de 260 mil para algo em torno de 500 mil espécies estimadas no planeta. Mas mesmo com tudo isso, novas espécies são descobertas todos os dias e outras desaparecem sem que se tome conhecimento de sua existência. Muitas dessas espécies estão se extinguindo pela destruição que o progresso leva a seus habitats.

Mas com tudo isto, para se ter uma idéia real do grau do desconhecimento sobre a Amazônia, sua região mais rica em biodiversidade da Amazônia, foi descoberta recentemente. Um estudo recém-concluído por pesquisadores de cinco universidades brasileiras, que será publicado no segundo semestre na forma de uma enciclopédia natural, mostra que no Alto Juruá lá está a região de maior biodiversidade da Amazônia, provavelmente do planeta. Ou seja, lá está a maior concentração de espécies numa mesma área. Ela supera com folga outras regiões de Floresta Amazônica, como Cacaulândia, em Rondônia, Pakitza e Tambopata, no Peru, tidas até agora como campeãs em variedades de seres vivos na Amazônia, que é, por sua vez, a maior extensão de mata para a sobrevivência de espécies animais e vegetais do planeta (RYDLE, 2006).

O Alto Juruá, no Acre, ostenta uma elevada diversidade de organismos (Figura 31). Tudo isso num ambiente já alterado pelo homem, sendo que, segundo os cientistas, foi exatamente a ocupação humana (em baixa escala, é claro) que deu ao Alto Juruá a exuberância que exibe hoje (CAMPOS, 2006).

Estudos recentes (BALÉE, 1988, 1992a; GOMEZ-POMPA, 1971, 1972) afirmam que a manutenção e

42

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 43: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

43

mesmo o aumento da diversidade biológica nas florestas tropicais, estão relacionados intimamente com as práticas tradicionais da agricultura itinerante dos povos primitivos. A regeneração da floresta úmida parece ser em parte, conseqüência das atividades do homem primitivo. O uso de pequenas áreas de terra para a agricultura e seu abandono após o decréscimo da produção agrícola, são semelhantes à produzida pela destruição ocasional das florestas por causas naturais. Esse tipo de atividade pode ainda ser visto em muitas áreas tropicais, onde um padrão de mosaico pode ser encontrado, com a ocorrência de grandes porções de floresta úmida primária e porções de floresta perturbada de diferentes idades a partir do momento de seu abandono. Vários estudos dessa série de sucessões já existem e, em muitos casos, tendem a concordar que a agricultura itinerante tem sido um meio natural para usar as propriedades regenerativas da floresta úmida em benefício do homem (GOMEZ- POMPA, 1972).

A explicação dos pesquisadores para tamanho volume de vida é surpreendente. Ao contrário das demais regiões estudadas na Amazônia, todas elas paraísos intocados com acesso restrito, os arredores do alto curso do Rio Juruá são habitados. Ocupada desde o século XIX por caboclos

Figura 31 – Diversidade de espé- que vivem dos seringais, a região tem aproximadamente 8.000 moradorescies no Alto Rio Juruá. Fonte: Ry- isolados em pequenos vilarejos no meio da mata. Esse seria um dos motivosdle (2006). de tamanha variedade. Os cientistas acreditam que reviravoltas ambientais e climáticas são fatores determinantes para a riqueza biológica. Isso porque elas rompem a hegemonia de espécies mais fortes, dando espaço para que outras formas de vida prosperem. No Alto Juruá, as pequenas alterações na natureza causadas pelo homem também fazem o papel de pequenas catástrofes naturais (RYDLE, 2006).

“A presença humana no Alto Juruá acaba tendo um efeito

parecido com o de enchentes e tempestades”, diz a antrop-

óloga Manuela Carneiro da Cunha, professora da Uni-

versidade de Chicago e uma das coordenadoras do inven-

tário da região.

Se essas hipóteses vierem a ser comprovadas, e muitos estudos recentes apontam nessa direção, é inevitável repensar o conceito de “florestas naturais” e sua modalidade de conservação através de unidades de conservação onde se proíbe a ação da agricultura itinerante como ainda hoje é praticada por populações indígenas e outras tradicionais: seringueiros, ribeirinhos, caiçaras, etc. Além disso, torna-se necessário resgatar os sistemas tradicionais de manejo ainda hoje praticados por essas populações, pois essas técnicas têm contribuído significativamente para a manutenção da diversidade biológica em florestas tropicais (DIEGUES, 2000).

AINDA RESTA MUITO A DESCOBRIR Existem muitos grupos de organismos tropicais ainda desconhecidos, como

bactérias, protozoários, fungos, vermes, plantas. Mesmo novas espécies de animais superiores como os répteis, as aves ou os mamíferos continuam sendo descobertos em nossos dias.

Entre 1982 e 1993 foram descritas 172 novas espécies de mamíferos, 28 espécies de morcegos, 23 espécies de insetívoros e 86 espécies de roedores.

A grandiosidade dos números da biodiversidade amazônica pode nos

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 44: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

levar a pensar que a sua preservação deve ser defendida pelo mesmo cacoete ideológico que nossa sociedade capitalista credita a tudo aquilo que é grande, é rico, é sofisticado, portanto, superior. A superioridade vem acompanhada de idéias de quantidade (riqueza), em detrimento da qualidade. A par os recifes de corais tropicais, a floresta tropical é realmente o ecossistema onde a vida se desdobrou em um maior número de formas e os seres vivos criaram as cadeias mais sofisticadas de relações dependentes inter-específicas.

Após realizar o estudo desta unidade, responda às questões propostas para complementar seu aprendizado. Assim que terminar de resolver as questões propostas, envie para o seu Tutor no prazo de 5 dias.

Para responder à atividade, utilize papel de tamanho A4, com letra arial 12. 1) O Trichechus inunguis (Peixe-boi amazônico) foi altamente explorado no início

do século passado. Como você salvaria essa espécie da extinção? Elabore um plano de manejo para a espécie. O plano deve conter: introdução, justificativa, descrição da área e metodologia. Deve ser redigido em no máximo 10 páginas.

44

ATIVIDADE 04

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 45: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

5 – Interações Tróficas e Ciclagem de Nutrientes

5.1 – Interações Tróficas Esta unidade tem por objetivo levar o aluno ao conhecimento das interações tróficas realizadas pela

fauna e pela flora, além dos processos de ciclagem de nutrientes na floresta e nos rios da região Amazônica. Em condições naturais nenhum organismo vive isolado. Devendo este estar interagindo com ambiente físico no qual ele vive, assim como com os organismos de sua e de outras espécies. Pois o ambiente é um sistema integrado e altamente complexo denominado de “sistema ecológico” ou “ecossistema”.

Um ecossistema constitui um nível de organização da matéria viva, que inclui tanto as populações quanto o ambiente, em uma interação dinâmica. Onde estes exercem pressões e influências uns sobre os outros, através de diversos processos ecológicos, como relações tróficas, relacionadas a diversos fatores ecológicos, que são qualquer meio capaz de interferir nos seres vivos, pelo menos durante uma fase de seu desenvolvimento.

Estes fatores ecológicos podem ser de origem abiótica, como fatores climáticos, edáficos, químicos ou de origem biótica, relativos às interações intra e interespecífica entre as populações naturais. Juntos eles formam uma rede tremenda de canais de diferentes tamanhos, através dos quais os nutrientes e a energia fluem. Existe uma imensa teia complexa de interações. Os Ecólogos reconhecem seis tipos principais de interações de espécies:

5.1.1 – Neutralismo É onde duas espécies não têm nenhuma interação; um boto cor-de-rosa e um lagarto poderia ser um

exemplo de neutralismo.

5.1.2 – Mutualismo É um tipo de relação simbiôntica onde duas espécies de organismos vivem juntas e beneficiam da

interação. Muitas destas relações existem na floresta tropical. Por exemplo, todas as orquídeas dependem de fungos chamados mycorrhizas em algum momento durante o seu ciclo de vida (Figura 32). Os fungos crescem nas raízes e ajudam a planta na captação de nutrientes. Os fungos se beneficiam quando eles ingerem alguma comida produzida pela fotossíntese da planta. Outro exemplo de mutualismo está entre a fruta de algumas plantas e pássaros que comem frutas. A fruta provê nutrição para o pássaro e em retorno o pássaro dispersa as sementes da planta, carregado com passagens de sementes pelo sistema digestivo do pássaro.

Algumas formigas provêem outro exemplo de uma relação mutuamente benéfica. Como as formigas trazem as folhas para o seu ninho, as formigas mastigam as folhas até formarem uma pasta, elas então liberam uma gota ou duas de material fecal na pasta, após isso um fungo cresce nesta massa, sendo que o fungo é a comida exclusiva das formigas. Esta estratégia é a mesma utilizada pelos

Figura 32 – Exemplo de mutualismo por micorrizas. Fonte: http://www.cdcc. sc.usp.br/ ciencia/artigos/art_20/co- lombia.html.

cupins na criação de uma nova colônia, a rainha fecundada leva um “pouco” do fungo de sua antiga colônia e deve cuidar deste, já que sua sobrevivência depende dele não havendo como substituí-lo, se o fungo sobreviver a nova colônia existirá caso contrário a pretendente a nova rainha morrerá.

5.1.3 – Competição Dentro de um ecossistema acontece quando mais de uma espécie estiver buscando o mesmo recurso

limitado. Alguns cientistas acreditam que é esta idéia de competição que é responsável pelo alto grau de diversidade de espécies em áreas relativamente pequenas dentro do ecossistema de floresta tropical. Ao longo desta mesma linha, competição pode ter causado também especialização. Por exemplo, espécies semelhantes

45

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 46: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

extraíram diferenças leves forrageando áreas. Em um estudo feito para provar tal teoria, foram utilizadas quatro espécies de pássaros, comedores de formiga do mesmo gênero, que se alimentavam a alturas diferentes do chão com uma pequena sobreposição. Essa especialização permitiu certas espécies se adaptassem a um nicho ecológico particular, quer dizer eles só desenvolveram por tensões evolutivas para ser o mais apto a viver em um nicho particular.

Indivíduos da mesma espécie ou de espécies diferentes podem competir por recursos escassos do ambiente. A luz necessária para a fotossíntese nem sempre é facilmente acessível às plantas do sub-bosque da floresta, sombreadas pelas árvores mais altas. No decurso do processo evolutivo estas plantas desenvolveram adaptações fisiológicas ou comportamentais que lhes permitem sobreviver por longo tempo com pouca luz, ou então crescer rapidamente quando uma clareira natural, resultante da queda de uma árvore, permite a entrada de luz suficiente.

Os tecidos mais velhos, sobretudo as folhas, acumulam substâncias químicas tóxicas (os chamados “compostos secundários”) que repelem de vários modos os herbívoros, especialmente em situações onde uma folha representa um “investimento energético elevado”.

5.1.4 – Inibição É um mecanismo, fisiológico ou mecânico, para qual a flora e fauna desenvolveram para se proteger

melhor. Por exemplo, algumas folhas de plantas têm espinhos minúsculos chamados trichomas que podem empalar lagartas ou outros herbívoros imprudentes. Algumas outras desenvolvem um real armazenamento elaborado de substâncias químicas para lidar com herbívoros. Alcalóides, componentes fenólicos e taninos, todos servem para proteger uma planta de predadores de folhas. Animais também desenvolveram eficientes toxinas com intuito de inibir ações seus predadores, tais como diversos invertebrados como insetos (vespas), Aracnídeos (Caranguejeiras e escorpiões) e diversos vertebrados como as cobras.

5.1.5 – Comensalismo É uma relação onde uma espécie obtém um benefício das outras espécies e as outras espécies não são

prejudicadas pela relação nem se beneficiam disto. Um exemplo disto na floresta tropical são as inúmeras epífitas, musgos e liquens, que usam os caules de árvores para apoio ou substrato. Por exemplo, muitas bromélias são plantas comensal, embora algumas destas epífitas sejam realmente verdadeiras parasitas, e assim se ocupa de predação (Figura 33).

5.1.6 – Mimetismo Os mecanismos da caça e defesa são dois

importantes fatores no desenvolvimento de qualquer espécie. Em alguns casos as estratégias, tanto para capturar a presa como para defender-se de outro predador, podem utilizar os mesmos elementos. O Mimetismo é um dos mais conhecidos mecanismos sendo utilizado por milhares de espécies. Normalmente confundido com camuflagem, o mimetismo tem “efeito” contrário onde o princípio é a exibição ou desorientação e não a dificuldade de localização. Em outras palavras para determinadas espécies existem mais “vantagens” de serem facilmente detectadas do que passarem despercebidas. Para isso “imitam” outras, tirando

Figura 33 – Exemplo de comensalismo na floresta

algum tipo de proveito disso. Devemos compreender quetropical. Fonte: http://www.amazonair.com/Para/ o mimetismo é uma estratégia evolutiva, onde somente as espécies que a desenvolveram sobreviveram e produziram outras gerações (Figura 34).

Images/118.jpg

46

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 47: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

A B

Figura 34 – Exemplos de mimetismo. A) Aranha (à esquerda) imitando a formiga (à direita). B) Aranha em forma de flor. Fonte A e B: www.projectamazonas.com/galleries.htm.

Essencialmente os fatores ecológicos influenciam na dinâmica das populações, como taxas de mortalidade e natalidade, dispersão e distribuição espacial, sendo esta última determinada pelos padrões de comportamento dos indivíduos às variadas relações com o ambiente. Sendo estes fatores fundamentais na seleção de variáveis que modifiquem o caráter adaptativo das populações em relação aos ecossistemas

Ricklefs (1996) sugeriu que um melhor conhecimento dos processos de interação entre as espécies de uma comunidade conduz a um melhor entendimento dos padrões observados nas suas estruturas.

A vasta quantidade de plantas e espécies animais da Amazônia representam um enorme estoque gênico, o resultado de milhões de anos de evolução. Esta diversidade do ecossistema não significa apenas que existam em número correspondente de nichos ecológicos ocupados, mas também que a circulação geral de nutrientes, passam através de um grande número de espécies e indivíduos.

Distintas espécies de plantas e animais possuem diferentes importâncias quantitativas para e seus papeis dentro do ecossistema, elas estocam e transportam diferentes quantidades de matéria e energia.

Bluntschli observou que enquanto a floresta e a água atuam intrinsecamente juntas elas também dependem uma da outra. Em sua hipótese ele primeiro analisou a circulação da água através do ecossistema Amazônico. Não tendo feito qualquer análise química da água, nem sabendo ou levando em consideração.

Segundo Junk & Furch (1980), a maioria das águas amazônicas são quimicamente quase puras, podendo ser comparadas com água destilada de baixa qualidade. Então podemos concluir que os solos são correspondentemente pobres e não contém quaisquer quantidades apreciáveis de reservas nutrientes. Ocorrem algumas exceções em poucas zonas locais, devida a sua geologia-litologia (Sioli, 1965).

De acordo com Sioli (1984), em um clima úmido como o da hiléia Amazônica, e sobre uma floresta coberta em um estado de clímax, com uma biomassa constante através de um longo período de tempo, todas as substancias solúveis liberadas nos solos por processos de intemperismo, são carreadas e devem aparecer no solo, nascentes e córregos. Então como as águas são quimicamente pobres, logo os solos não devem possuir quantidades apreciáveis de reservas de nutrientes, que são mobilizados pelo intemperismo, dando a entender que os solos são extremamente inférteis.

Em contraste à isto, existe uma exuberante floresta estabelecias nestes solos, conclui-se que uma luxuriosa vegetação pode apenas crescer em um solo fértil. A reposta à este enigma é que a floresta não depende do solo para crescer dele, mas apenas para crescer nele, não utilizando o solo como fonte de nutrientes, mas como meio de fixação, enquanto estiver vivendo em um circulação fechada de nutrientes dentro de substancias vivas.

5.2 – Ciclagem de Nutrientes

De acordo com Miziguchi et al., (1981), os elementos químicos são retirados do ambiente pelos organismos vivos e retomam para o ambiente, através de circuitos naturais, os ciclos biogeoquímicos, que

47

A B

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 48: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

podem ser agrupados em dois tipos básicos:

• Ciclos gasosos - tendo a atmosfera como seus grandes reservatórios (exemplos: nitrogênio, oxigênio); • Ciclos biogeoquímicos sedimentares - os quais são encontrados na natureza no estado sólido em

sedimentos (exemplos: cálcio, fósforo, enxofre).

Os elementos químicos conhecidos são 103 e destes cerca de 40 são necessários à vida, estes nutrientes geralmente se encontram presentes nas rochas matrizes, que são seus depósitos abióticos, e são disponibilizados através do intemperismo, na forma de íons dissolvidos na água ou em gases na atmosfera. (PIJNTO-COELHO, 2002)

5.2.1 – Ciclo da Água A água na biosfera faz parte de um ciclo denominado ciclo hidrológico. Que se constitui, basicamente,

em um processo contínuo de transporte de massas de água do oceano para a atmosfera de desta, através de precipitações, escoamento superficial e subterrâneo e novamente para o oceano. (ESTEVES, 1998).

Acredita-se que a água tenha sido originada no nosso planeta durante o período pré-cambriano a cerca de 4,5 bilhões de anos atrás, através da gradativa cristalização do magma granítico, que corresponde às rochas em fusão existentes ainda hoje no centro da Terra. A água, nos seus vários estados, encontra-se sempre presente em todo o planeta. Não somente nos ecossistemas aquáticos, mas também no solo, no ar (sob a forma de vapor) e em todos os seres vivos, onde representa como no homem adulto, por exemplo, cerca de 70% do peso corporal (MIZIGUCHI et al., 1981).

Um fato interessante é que o volume total da água na Terra permanece constante, estimado em tomo de 1,5 bilhão km3. A maior parte encontra-se nos oceanos constituindo cerca de 97 % de toda a água do planeta, são pois os seus grandes reservatórios naturais. Dos 3% restantes, aproximadamente 2,25% estão localizados nas calotas polares e nas geleiras (na forma sólida), enquanto 0,75% é encontrado como água subterrânea, em lagos, rios e também na atmosfera, como vapor d’água.

A água na natureza obedece a um ciclo que, depende diretamente da radiação solar que fornece toda energia necessária para este ciclo (ESTEVES, 1998) pode ser explicado resumidamente da seguinte forma: o vapor d’água entra na atmosfera principalmente pela evaporação dos oceanos, grandes lagos, rios e pela evapotranspiração da cobertura vegetal. Sob a forma de precipitações (chuva, neve, granizo, etc.) ela retoma à superfície da Terra. Essa precipitação poderá ocorrer na mesma região onde se deu a evaporação ou a milhares de quilômetros de distância, em decorrência da circulação geral da atmosfera. Parte dessa água é rapidamente reevaporada, sendo que do restante uma parte é absorvida pelo solo (onde alimentará o lençol freático) e a outra alcança os cursos d’água, retomando aos oceanos de onde se evapora (MIZIGUCHI et al., 1981) (Figura 35).

Pesquisas recentes demonstram que a atmosfera primitiva da Terra apresentou-se bem diversa, em sua constituição, da atmosfera atual. Nela não existiu oxigênio livre na forma de O2 e sim, hidrogênio (H), hélio (He), metano (CH4), amônia (NH3), gás carbônico (CO2), monóxido de carbono (CO) e água (H20). O que ficou comprovado pela análise espectroscópica das atmosferas de outros planetas do nosso sistema solar, já que a teoria aceita, modernamente, é a de que todos esses astros originaram-se simultaneamente a partir da condensação de uma poeira cósmica de composição semelhante. Acreditasse que, somente a partir dos dois últimos bilhões de anos é que o oxigênio livre se tomou presente na Terra, como nos mostra a primeira prova de sua existência nas camadas de óxido de ferro em depósitos geológicos datados dessa época.

À medida que o oxigênio surgia, ia se transformando em ozônio (03) sob os efeitos das radiações ultravioletas. A camada de O3 assim formada, funcionando como um filtro, foi gradativamente impedindo a passagem das radiações ultravioletas, tornando-se suficiente para permitir o surgimento e o conseqüente desenvolvimento dos organismos (principalmente os fotossintetizantes) fora dos oceanos primitivos, evento este que, numa progressão geométrica, tendeu a aumentar, ainda mais, a concentração de O2 na atmosfera. Atualmente o oxigênio representa cerca de 21 % do total de gases contidos na atmosfera e constitui, também,

48

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 49: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

um importante fator limitante para os organismos, visto que, em altitudes que excedam 4.000 metros o oxigênio torna-se bastante rarefeito.

O ciclo do oxigênio apresenta-se com uma grande complexidade. Além da sua utilização nos processos

respiratórios pelos seres vivos, esse elemento aparece também se unindo a heterogêneos, formando moléculas de água, ou a numerosos outros elementos orgânicos e inorgânicos (MIZIGUSHI et al. 1981).

Figura 35 – Ciclo da água. Fonte: www.editorasaraiva.com.br/biologiacesaresezar/imagens_3.asp#.

5.2.2 – Ciclo do Carbono Miziguchi et al., (1981), explica que, embora o carbono seja encontrado numa grande concentração ao

nível dos minerais e rochas (principalmente em carbonatos), é o gás carbônico (CO2) do ar e aquele que se encontra dissolvido na água que assumem a maior importância para a biosfera. Visto corresponder à única fonte utilizável pelos organismos autotróficos para a síntese da matéria orgânica (principalmente glicídios e, através de outras biosínteses, proteínas e lipídios). O que demonstra que o gás carbônico encontra-se intimamente relacionado com o oxigênio em decorrência da fotossíntese.

A circulação do carbono no planeta é extremamente complexa, envolvendo dois ciclos bem distintos, um em terra e outro nos meios aquáticos (Figura 36).

• Na terra - o carbono da atmosfera (na forma de gás carbônico) é utilizado pelos vegetais na fotossíntese

formando glicídios, assim incorporam o carbono à sua biomassa. A partir deste momento o carbono incorporado pode ser liberado dos vegetais após sua morte através da ação dos decompositores. O carbono assimilado pode ter outro caminho, ser usado como fonte alimentar aos animais, fornecendo a estes, os glicídios vegetais, que serão metabolizados nos tecidos animais para transformação em energia, liberando o carbono (na forma de gás carbônico) de volta para a atmosfera. Segundo Miziguchi et al., (1981) O animal, durante o seu ciclo vital, libera alguma quantidade carbono junto com outros produtos residuais do metabolismo, na forma de urina e fezes. Estes produtos, bem como aquele retido na biomassa do animal, quando da sua morte, sofrerão a ação dos organismos decompositores, tornando possível a volta do elemento à atmosfera.

• Nos ambientes aquáticos – os produtores são componentes do fitoplâncton que assimilam o CO2 dissolvido na água, liberando oxigênio em solução, como resíduo do processo fotossintético. Os consumidores primários (zooplâncton e alguns peixes) consomem o CO2 assimilado na biomassa do fitoplâncton, sob a forma de moléculas orgânicas, utilizando-se também, para respiração, do oxigênio por eles dissolvido na água. Parte

49

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 50: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

do oxigênio não utilizado nos processos respiratórios e parte do gás carbônico produzido podem se dissipar na atmosfera através das superfícies aquáticas.

Embora os organismos e os meios sejam diferentes, os dois ciclos mostram-se bastante semelhantes; porém, nos oceanos e lagos, muitas vezes o material vegetal morto poderá sofrer um processo muito diferente. Acumulando-se em grandes quantidades no fundo, os componentes vegetais, unindo-se a outros resíduos orgânicos, ficam por longos períodos de tempo afastados dos ecossistemas, transformando-se, gradativamente, em carvão e petróleo. Porém, com a erosão ou a combustão destes combustíveis fósseis, o dióxido de carbono é rapidamente reintegrado à atmosfera, indo posteriormente constituir a biomassa dos vegetais ou será novamente carregado pelos cursos da água para os oceanos.

O ciclo do carbono é um dos mais influenciados por atividades antrópicas. As principais formas dessa interferência ocorrem pelas queimas de matéria orgânica (combustíveis fosseis) e pela queima de florestas (Pinto-coelho 2000). Este fato, segundo muitos cientistas pode ter diversas conseqüências para o clima global.

Figura 36 – Ciclo do Carbono. Fonte: www.editorasaraiva.com.br/biologiacesaresezar/imagens_3.asp#.

5.2.2 – Ciclo do Nitrogênio O Nitrogênio apesar de representar aproximadamente 78% dos elementos existentes no ar, maior parte

dos seres vivos não possui a capacidade de utilizá-lo diretamente (Figura 37). Sua assimilação torna-se possível somente quando este já se apresenta incorporado ou fixado a um composto químico (principalmente aminoácido e proteínas) Miziguchi et al., (1981). Segundo Esteves (1998) em nenhum outro ciclo biogeoquímico, os microorganismos têm maior participação do que neste, estando reunidos representantes de praticamente todos os grupos fisiológicos (Autotróficos, heterotróficos, aeróbios, anaeróbios, etc.) que tomam parte em quatro processos básicos:

• Amanificação, • Nitrificação, • Desnitrificação e • Nitrato amonização

Este é um ciclo totalmente gasoso. O modo usual de incorporação do nitrogênio pelas plantas

é sobre a forma de nitrato ou amônia. Sendo que na biomassa o nitrogênio desempenha um papel estrutural

50

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 51: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

de praticamente todas as classes de compostos biogeoquímicos (proteínas, ácidos nucléicos, lipídios, etc.). O nitrogênio retorna ao compartimento abiótico por meio da uréia amônia, ácido úrico, ou por decomposição bacteriana. (PINTO-COELHO, 2000)

Figura 37 – Ciclo do Nitrogênio água. Fonte: www.editorasaraiva.com.br/biologiacesaresezar/ imagens_3. asp#.

5.2.4 – Ciclo do Fósforo Este ciclo é de natureza mais simples e tipicamente sedimentar, pois seus grandes reservatórios são as

rochas e outros depósitos geológicos, estes reservatórios vão gradativamente liberando o fósforo para o meio, onde são utilizados pelos organismos para a síntese de compostos orgânicos, assim é passado adiante através da cadeia alimentar (Figura 38). O retorno do fósforo ao meio se dá através da decomposição dos compostos orgânicos, Miziguchi et al., (1981).

Os vegetais absorvem o fósforo inorgânico na foram de ortofosfato (PO43-). Na maioria dos ecossistemas a quantidade deste elemento é muito baixa, que o torna um fator limitante da produção biológica. A eutrofização dos corpos aquáticos é muitas vezes causada pelo aumento da disponibilidade deste elemento, em geral pelo aporte externo. (PINTO-COELHO, 2002).

51

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 52: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

52

Figura 38 – Ciclo do Fósforo. Fonte: www.editorasaraiva.com.br/biologiacesaresezar/imagens_3.asp#.

5.2.5 – Ciclo do Enxofre O enxofre é um elemento necessário para a vida em pequenas quantidades. Conforme explica Pinto-

Coelho (2002), este elemento possui uma ciclagem mista, sendo determinado pelo seu estado de oxidação do meio. Em condições oxidantes (meio aeróbico) ele encontra-se na forma de sulfatos (SO4-2), que é a fonte biologicamente mais importante da Terra, e é um dos sais mais abundantes do mar, mas em condições redutoras apresenta-se na forma de sulfetos (S2), resultantes da queima de combustíveis fósseis, consistindo em uma das maiores fontes de contaminação.

O enxofre na matéria viva demonstra apresentar, como função básica, a formação de ligações químicas entre as cadeias de polipeptídios (MIZIGUSHI et al, 1981). O enxofre raramente é um fator limitante para as plantas, exceto em solos muito pobres ou em pântanos distantes do oceano (Figura 39).

Parte da matéria orgânica da produção vegetal, com o enxofre, entra na turfa e em sedimentos aquáticos, e eventualmente se converte em carvão e petróleo. Quando a água penetra através de depósitos orgânicos, o sulfato contido na água é transformado em ácido sulfídrico por microorganismos que usam o oxigênio do sulfato. Algumas reações com sais de ferro formam partículas de sulfatos de ferro (mineral amarelo chamado de “o ouro dos tolos”), é assim como o carvão e petróleo é enriquecido com enxofre. (ODUM, 1988).

Quando se queima carvão e petróleo, os sulfatos minerais se combinam com oxigênio para formar gases de enxofre (SO2 e SO3). Quando estes gases se misturam com chuva, formam ácidos de enxofre; em outras palavras, a chuva se torna ácida. Alguns ácidos de nitrogênio contribuem mediante um processo similar. A chuva ácida também retira nutrientes do solo, além de provocar a mortandade de árvores. Os países por onde passam ventos de áreas industriais do mundo estão sendo prejudicados pela chuva ácida. Se a chuva ácida cai sobre pedras calcárias (carbonato de cálcio) ou solos com partículas de sais calcárias, o ácido se neutraliza. Estas áreas são menos afetadas que aquelas que não possuem pedras calcárias. (ODUM, 1988).

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 53: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

Figura 39 – Ciclo do Enxofre. Os caminhos do enxofre são as linhas grossas. As linhas finas representam a energia dissipada nas fontes de calor. H2S, sulfato de hidrogênio. M, microorganismos. Fonte: www.unicamp.br/fea/ortega/eco/iuri25.htm.

O conhecimento dos mecanismos envolvidos nos ciclos biogeoquímicos em ecossistemas tropicais é de grande relevância para o desenvolvimento de estratégias sustentáveis de desenvolvimento humano nessas regiões. Outra característica dos ciclos biogeoquímicos nas zonas tropicais é a alta taxa de renovação da biomassa, aliada uma maior magnitude dos processos de decomposição e de excreção de nutrientes pela biota. (PINTO-COELHO, 2002).

Após realizar o estudo desta unidade, responda às questões propostas para complementar seu aprendizado. Assim que terminar de resolver as questões propostas, envie para o seu Tutor no prazo de 5 dias.

Para responder às atividades, utilize papel de tamanho A4, com letra arial 12. 1) A competição intra e inter-específica pode ter efeitos ecológicos e evolucionários

significativos nos nichos das espécies. Descreva um efeito ecológico e um efeito evolucionário do processo de competição.

2) Alguns nutrientes são limitantes para os organismos aquáticos. Qual a influência do Nitrogênio (N) e do Fósforo (P) para o desenvolvimento da vida aquática?

53

ATIVIDADE 05

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 54: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

6 – A Exploração Humana na Amazônia

Esta unidade tem por objetivo levar o aluno ao conhecimento dos impactos causados na floresta e nos rios pela ação antrópica ao longo de gerações. O homem já ocupa e vem ocupando a Amazônia há séculos (Figura 40), e sua relação com a floresta e peculiaracadagrupoevariadeacordocomanecessidade e interesse que possuem desta região. Os índios, por exemplo, são hábeis no manejo da floresta, apesar de que sua visão sobre a floresta tenha mudado, após o contato com o “homem branco”, visão diferente da compartilhada pelos grandes madeireiros, fazendeiros e operações das agroindústrias, especialmente a soja.

Esta ocupação vem mudando ao longo dos tempos, devido o incentivo de colonização da floresta,

Figura 40 – Ocupação da Amazônia, com destruição

facilitado por incentivos fiscais, créditos agrícolas,da floresta. Foto do autor. financiamento de diversos projetos (muitos dos quais de futuros incertos), entre outros. Acabaram, tendo como conseqüência, a especulação fundiária, sonegação tributária, lavagem de dinheiro, etc. A aberturas de estradas e grandes projetos como as hidrelétricas. O ambiente “responde” com mudanças climáticas e pela degradação da capacidade produtiva dos sistemas, por exemplo, por degradação do solo, poluição das águas, e perda de recursos bióticos, tais como populações comercialmente valiosas de árvores e peixes.

O desmatamento na Amazônia Brasileira está concentrado principalmente em uma faixa que se estende pelo Sul da região, desde o Maranhão até Rondônia. Este setor é comumente denominado “Arco do Desmatamento”. A idéia do “Arco do Desmatamento” é uma proposta apresentada ao Ministério do Meio Ambiente e ao PPG-7 por uma equipe mista do Instituto de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá e da Conservation International do Brasil. Na figura 41, podemos observar as áreas protegidas ao longo do Arco do Desenvolvimento Sustentável. Incluem as unidades de conservação de proteção integral, as unidades de conservação de uso sustentável e as terras indígenas.

A ocupação humana na Amazônia tem uma grande variedade de efeitos sobre o ambiente, e vice-versa, dentre os principais, destacamos os impactos em ecossistemas florestais e nos aquáticos.

6.1 – Impactos Antrópicos

6.1.1 – Impactos nos Ecossistemas Terrestres

6.1.1.1 – Desmatamento Uma das maiores causas para a perda de biodiversidade na Amazônia é o desmatamento, ou seja, a

substituição de florestas com megadiversidade por sistemas ecológicos simples, como as pastagens, dominados por algumas poucas espécies. Estudos demonstram que o desmatamento tal como é feito atualmente, raramente traz benefícios para a população rural, gerando pobreza e conflitos sociais e agrários. Em contrapartida, o desmatamento leva à perda de biodiversidade, do solo, dos recursos hídricos e abre a região para a expansão de incêndios de grandes proporções e de doenças causadas pelo desequilíbrio ambiental.

As queimadas também afetam a formação de nuvens e a química da atmosfera de diversas maneiras, além do efeito estufa. Evitar o desmatamento evita estes impactos, dando assim um valor significativo às atividades que resultam em desmatamento reduzido. A disponibilidade para pagar (WTP) pelos serviços ambientais providos pela floresta representa uma fonte potencial de renda que será discutida no final do presente

54

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 55: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

trabalho. Além do desmatamento, outras atividades resultam também em impactos ambientais e conseqüentemente em perdas de serviços ambientais (FEARNSIDE, 2003).

Dados do satélite LANDSAT, interpretados no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), indicam que a área desflorestada até 2000 totalizou 583,3 X 103 km2, incluindo aproximadamente 100 X 103 km2 de desmatamento “antigo” (pré-1970) no Pará e Maranhão (Fig. 1). A área desmatada é maior que a França (representa 14,6% dos 4 X 106 km2 originalmente florestados, entre os 5 X 106 km2 da Amazônia Legal). Pelo menos 80% das áreas desmatadas estão agora sob pastagens ou sob floresta secundária em pastagens que já foram degradadas e abandonadas (FEARNSIDE, 1996).

A contribuição da perda de floresta a estas mudanças fundamenta a adoção de uma nova estratégia para sustentar a população da região. Ao invés de destruir a floresta para

Figura 41 – Arco do desmatamento, com a local- ização das áreas protegidas. Fonte: Revista Eco 21, Ano XIII, Edição 80, Julho 2003. (www.eco21. com.br)

poder produzir algum tipo de mercadoria, como é o padrão atual, se usaria a manutenção da floresta como gerador de fluxos monetários baseados nos serviços ambientais da floresta, ou seja, o valor de evitar os impactos que se seguem à destruição da floresta (FEARNSIDE, 1997).

6.1.1.2 – Exploração Madeireira A atividade madeireira é uma atividade que vem crescendo de forma significativa nas últimas décadas,

devido à considerável disponibilidade do recurso vegetal quando comparado com outras florestas tropicais. Maiores investimentos na exploração madeireira na Amazônia são prováveis na medida em que as

florestas asiáticas se esgotam. Desde 1993, a demanda para exportação de madeira brasileira variou inversamente com a oferta oriunda do restante do mundo, sobretudo da Ásia, resultando na expectativa de que a pressão sobre florestas amazônicas aumentará dramaticamente no futuro próximo (ANGELO, 1998 apud FEARNSIDE, 2003).

A exploração madeireira facilita o desmatamento porque o dinheiro proveniente da venda da madeira pode ser investido em desmatamento para pastagens (e.g., MATTOS & UHL, 1994). O desmatamento também aumenta porque as estradas de exploração madeireira (especialmente para mogno) conduzem à entrada de colonos e porque os grandes proprietários às vezes desmatam para manter aposse da terra para poder vender a madeira (Figura 42).

Grande parte da exploração madeireira na Amazônia ocorre de forma ilegal, sendo que isto aumenta o impacto da exploração madeireira porque o corte ilegal é feito sem qualquer medida para reduzir seu impacto ou aumentar a sua sustentabilidade, devido ao fato de que muito da madeira ilegal vem de áreas indígenas ou das unidades de conservação. Pois o grande volume de madeira ilegal no mercado toma investimentos em projetos legais de manejo florestal inviáveis economicamente.

Em estudos recentes, publicados no Diário do Pará (2006), mostram que mais da metade da madeira retirada ilegalmente da região não é aproveitada pela indústria. A exemplo do que ocorre com o tráfico de animais silvestres, em que a maioria dos bichos morre antes de chegar ao consumidor, a maior parte das árvores derrubadas na floresta não “sobrevive” até o mercado. Segundo dados do Imazon, o índice de aproveitamento da indústria ilegal é de apenas 42%. O que significa que 58% da madeira é desperdiçada, sendo transformada em serragem ou em pedaços pequenos demais para o mercado. Dados de 2004 do Imazon mostram que 24,5 milhões de m3 de madeira chegaram às serrarias da Amazônia Legal, mas apenas 10,4 milhões de m3 saíram das mesmas processadas para o comércio.

Ao contrário do que se pensa a madeira das florestas tropicais não é usada apenas, nem em grande parte, para produtos de alto valor, tais como mobília e instrumentos musicais. O Brasil usa madeira tropical para

55

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 56: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

praticamente tudo, inclusive azimbre para concreto, paletas, caixotes, construção, aglomerados e compensados. Substituir esta demanda com madeira oriunda de plantações somente acontecerá se a madeira barata não estiver mais disponível a partir da colheita destrutiva das florestas amazônicas. No momento, as áreas significativas de plantações do Brasil são quase todas manejadas para produção de celulose e carvão em vez de madeira serrada (FEARNSIDE, 1998).

De acordo com Fearnside (2003), dentre os impactos da exploração madeireira, pode se destacar a perda de biodiversidade, inclusive depleção da fauna pela caça, sendo que com o avanço dessa exploração, destrói o habitat de muitas espécies, que chegam a desaparecer por não encontrarem condições favoráveis para sua sobrevivência.

Outro fator relevante resultante da exploração madeireira é a liberação de carbono para a atmosfera em quantidades que excedem em muito o carbono nos troncos removidos. Isto ocorre porque muito da biomassa das árvores colhidas é deixada para trás na forma de galhos, tocos e raízes, e porque os danos colateraisparaárvoresnãocolhidas resultam namorte e decomposição de muitas outras árvores. Com isso, o impacto líquido da exploração madeireira é uma liberação de carbono que tem relação íntima com os fatores climáticos. Além do fato de a biomassa morta é suscetível ao fogo, liberando grandes quantidades de na forma de CO2 emitido por combustão, e que promove o aquecimento global, além do fato de as queimadas trazerem danos irreparáveis à floresta, sendo este o maior impacto gerado pela exploração madeireira (FEARNSIDE, 1998, 2003).

6.1.2 – Impactos nos Ecossistemas Aquáticos

Figura 42 – Exploração madeireira no sul do Pará. Foto do autor.

6.1.2.1 – Represas Hidrelétricas Desde os primórdios da humanidade, o homem tem se preocupado em gerar energia, bloqueando cursos

de água. Um dos primeiros meios de geração de energia foram os moinhos para moer grãos. Atualmente uma das maneiras de se gerar energia é utilizando a força das águas, represando os rios para a construção de usinas hidrelétricas.

As hidrelétricas construídas na região Amazônica, provocaram mudanças na paisagem regional, traduzidas por fortes impactos no ambiente aquático e terrestre (JUNK & NUNES de MELLO, 1987; NUNES de MELLO, 1993).

Na região Amazônica já foram construídas várias Usinas Hidrelétricas, sendo que cada uma das barragens existentes causou impactos ambientais e sociais significantes. O reservatório de 72 km2 de Curuá- Una formado em 1977, foi a primeira “grande” represa na Amazônia brasileira (JUNK & NUNES de MELLO, 1987), seguida pelo reservatório de 2.430 km2 de Tucuruí em 1984 (FEARNSIDE, 1999, 2001), o de 2.360 km2 de Balbina em 1987 (FEARNSIDE, 1989) e o de 540 km2 de SAMUEL em 1988.

Dentre todas as UHE construídas na região Amazônica, Balbina, é considerado um grande fracasso ambiental. Suas emissões de gases do efeito estufa, excedem o que teria sido emitido gerando a mesma quantidade de energia a partir de combustíveis fósseis (FEARNSIDE, 1995). No entanto, Balbina não é um exemplo típico das represas futuras porque a topografia plana e a baixa vazão no local resultaram em uma área de reservatório extraordinariamente grande por unidade de eletricidade gerada. Tucuruí tem 3,3 MW de capacidade instalada por km2 de área de reservatório.

56

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 57: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

Tucuruí emite uma quantidade grande de gases do efeito estufa, embora sejam menos que combustíveis fósseis. Em 1990 Tucuruí emitiu uma quantidade estimada em 7-10 X 106 t de C, equivalente ao C de CO2, ou mais que a cidade de São Paulo (FEARNSIDE, 2002). Estas estimativas são mais altas do que os números oficiais atuais (BRASIL, MCT, 2001) porque os números oficiais omitem as fontes principais de emissões de represas hidrelétricas: CH4 liberado pela água que atravessa as turbinas e o vertedouro, e CO2 liberado da decomposição das árvores que se projetam para fora da água (Figura 43).

Figura 43 – Hidrelétrica de Tucuruí. A) Vertedouro; B) Árvore morta no meio do lago. Fotos do autor.

Dentre os impactos causados pela construção de usinas hidrelétricas – UHE, na região Amazônica podemos citar:

• O alto custo sócio-econômico da obra - Por causa do deslocamento dos atingidos pela construção da barragem. Além dos custos elevados com

a obra. • Perda de Solo - A região amazônica apresenta um relevo pouco acidentado, desta forma, qualquer tipo de represamento

vai inundar uma área enorme. A melhor geração de energia por km2, pertence à UHE de Itaipu com 9 Mw/ Km2, seguida por Tucuruí com 3,3 Mw/km2 e 243.000 ha de área alagada, e Balbina com apenas 0,1 Mw/km2, e a incrível área de 236.000 ha, com cerca de 98% da área coberta por floresta primária;

• Perdas de Plantas e Animais - A floresta tropical sempre úmida é considerada o ecossistema mais rico em espécies no planeta, sendo

a maioria delas ainda desconhecidas para a ciência. Com o alagamento dos reservatórios, uma infinidade de espécies de animais e vegetais acaba sendo perdida, por mais que operações de salvamento sejam realizadas, como foi o caso da operação Curupira em Tucuruí. Estas operações jamais serão capazes de recuperar toda a micro e meso flora e fauna, se detendo apenas nos grandes mamíferos, répteis, anfíbios e aves.

- Para se ter uma idéia da ordem de grandeza das populações de animais silvestres afetadas durante a formação de grandes lagos artificiais na região amazônica, pode-se utilizar os dados da operação Curupira. Ela envolveu aproximadamente 470 participantes, cerca de 100 barcos, helicópteros, equipamentos de rádio comunicação, instalações para triagem. Durante a operação foram capturados e liberados em quatro áreas nas margens do reservatório cerca de 280 mil animais.

- Os “habitats” artificiais novos, não compensam a perda dos “habitats” naturais, pois não existem organismos para ocupar esses nichos, coisa que só provavelmente acontecerá com a adaptação das diferentes espécies que agora estão ocupando os reservatórios.

• Perdas de Monumentos Naturais e Históricos - Não existem monumentos naturais considerados sem par ou de beleza excepcional, mas mesmo assim existem muitos lugares de importância arqueológica em toda a bacia amazônica, muitas das quais não foram

57

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 58: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

suficientemente exploradas, tendo algumas inclusive não foram nem estudadas. • Perda de Recursos Madeireiros - A quantidade de madeira de valor comercial na floresta natural é estimada entre 40 a 60 m3/ha, mas

os problemas técnicos para a retirada de toda essa biomassa vegetal são principalmente de infra-estrutura e organizacionais;

- Mesmo construindo somente algumas das represas planejadas, alguns mil km2da floresta amazônica serão inundados no futuro próximo. A utilização desses recursos madeireiros pode ser considerada um dos grandes desafios técnicos e econômicos da região amazônica;

• Modificações na Hidrologia e Carga Sedimentar - A finalidade da construção de uma represa hidrelétrica é a de aproveitar água de alto desnível em

quantidade constante o ano todo; - Com as alterações do curso do rio, ele passa de lêntico para lótico, alterando o tempo de circulação das

águas. O tempo de retenção da água no lago de Tucuruí durante a enchente é de apenas 2 a 3 semanas, enquanto que o tempo de retenção da água em Balbina é de aproximadamente um ano;

- A redução da correnteza, em virtude da alteração do tipo de circulação, resulta na deposição dos sedimentos dentro dos reservatórios;

- A erosão lateral dos reservatórios pode acelerar mais o seu aterro, se não existir vegetação protetora nas margens;

- Por causa das flutuações do nível da água de poucos metros resultarão em inundação ou seca de centenas de km2 nos reservatórios, por exemplo, a diferença de 4 metros entre a quota 46 m e a quota máxima de 50m de Balbina afeta cerca de 800 km2 de floresta.

• Mudanças florísticas e faunísticas - Mudanças no regime hídrico, influenciam fortemente a flora e a fauna adaptadas a determinadas

flutuações do nível da água e da correnteza; com eventual mudança estes seres vivos podem não conseguir adaptar-se as novas situações criadas. Por exemplo: Espécies resistentes contra inundações periódicas serão substituídas por espécies de áreas não inundáveis;

- Fauna a jusante do reservatório – Peixes que normalmente migram com fins reprodutivos para as áreas mais protegidas e onde alimentos são mais abundantes (cabeceiras dos rios) ficam impedidos de utilizarem tais locais, desta forma fica comprometido seu processo reprodutivo ; Tartarugas,como dito no unidade biodiversidade, normalmente utilizam as praias formadas durante as épocas de seca para desovarem, como as formações destes habitat ficam comprometidos com a construção da barragem fica também comprometida sua reprodução.

- Migrações laterais de numerosas espécies aquáticas, também ficam comprometidas, por ex. peixes, tartarugas, jacarés, peixe-boi, etc., Na Amazônia a migração de animais de caça, da terra firme para as várzeas e igapós é pouco desenvolvida;

- A produção íctica/ha em áreas alagáveis grandes é maior de que em áreas alagáveis pequenas de fertilidade igual, a ictiofauna será modificada abaixo da represa, dentro da mesma e acima dela. Convém lembrar que para estes animais as barragens representam um obstáculo insuperável (Curuá-Una e Tucuruí);

- Os impactos ambientais resultantes deste tipo de empreendimento são proporcionais ao tamanho do projeto. Com o fechamento da barragem, ocorre uma importante mortalidade de peixes, a comunidade sofre profundas alterações, e a quebra de estabilidade ambiental leva a uma diminuição da biodiversidade. O problema poderia ser resolvido em parte pela construção de escadas de peixes; –10 m de diferença, á exceção da de Ilha Grande, no rio Paraná, que chega a 20 m.

• Deterioração da Qualidade da Água - Águas paradas nos trópicos mostram em geral uma hipoxia forte ou até anoxia nas camadas profundas; - A solubilidade de oxigênio na água diminui com o aumento da temperatura, enquanto que os processos

de decomposição que consomem oxigênio se aceleram desta forma os lagos formados possuem grandes quantidades de matéria orgânica que é facilmente degradável, por exemplo:

- Dependendo do tipo de vegetação, em áreas cobertas por floresta amazônica a quantidade de biomassa

58

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 59: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

pode chegar a 600 t/ha. As folhas e os vegetais mais simples (herbáceas e capins) decompõem-se em poucas semanas ou meses; madeira leve necessita alguns anos; madeira dura e pesada pode resistir décadas até centenas de anos debaixo da água. Conseqüentemente, a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) é muito alto durante e pouco depois do represamento, diminuindo nos anos seguintes;

- Os nutrientes liberados em conseqüência da decomposição e lixiviados do solo inundado são usados pelo fitoplâncton, perifiton e macrófitas aquáticas Estes liberam oxigênio para dentro da água, o O2 produzido pelas macrófitas aquáticas flutuantes e emergentes é liberado na sua maior parte para o ar. A formação de gás sulfídrico nas camadas inferiores e uma forte hipoxia são freqüentes em represas tropicais. A mortalidade de peixes que ocorre sempre no começo do represamento é devido a esta falta de oxigênio que é letal para as espécies acostumadas a água corrente e bem oxigenada.

- Além do impacto negativo para a biota, a má qualidade da água afeta as turbinas e as construções, criando gastos elevados de manutenção, por exemplo: após poucos anos de funcionamento, peças das turbinas de Curuá-Una tinham que ser substituídas por causa da corrosão.

O enorme potencial hidrelétrico da bacia Amazônica e o entusiasmo justificado sobre a impressionante

capacidade tecnológica nacional não deveriam resultar numa aceitação total e indiscriminada de todos os conceitos tecnocráticos e na construção precipitada de qualquer reservatório tecnicamente viável. Mesmo diante de todos esses impactos, é sabido ainda que o desenvolvimento de uma região, somente será possível se houver abundância de energia. Essa escassez bloqueará todos os outros fatores de desenvolvimento (NUNES de MELLO, 1993).

Essa escassez de energia já está sendo sentida em algumas regiões do Brasil, inclusive com risco de blecaute de energia elétrica. Por causa disso, alguns empreendimentos hidrelétricos que estavam parados havia muitos anos, estão sendo retomados para que a curto e médio prazo possam entrar em operação e atenuar o déficit de energia do Brasil. Uma dessas UHE é a de Belo Monte, no rio Xingu, que está com os estudos ambientais embargados pela justiça. Mas com previsão de início das obras para início de 2007.

6.1.2.2 – Hidrovias Quando o assunto é transporte na região Amazônica, as hidrovias são apontadas como alternativas de

menor custo do que rodovias e ferrovias. Mas esse baixo custo normalmente traz consigo um alto custo: o ambiental.

As hidrovias propostas para a América do Sul têm severos impactos para as terras habitadas por indígenas, aumentando a pressão econômica sobre eles, destruindo sua cultura tradicional e com ela um bom exemplo de como se pode manejar a floresta. Causando sua expulsão dos territórios ancestrais.

Na Amazônia, a produção de soja, destinada em grande parte para o consumo Europeu, tem custos ambientais, culturais e sociais inaceitáveis. O preço destas mercadorias no mercado não internaliza estes custos, o resultado final deste desenvolvimento é uma maior concentração dos lucros e aumento da pobreza.

Segundo Fearnside (2003) as hidrovias têm impactos ambientais severos. Projetos de infra-estrutura já construídos ou em construção incluem principalmente a hidrovia do rio Madeira. Projetos ainda não construídos incluem a hidrovia do Araguaia-Tocantins, a hidrovia Teles Pires-Tapajós, a hidrovia do rio Capim, a hidrovia Paraguai-Paraná (“hidrovia do Pantanal”) e uma hidrovia na ilha do Marajó. Em 1999, o governador do Estado do Amazonas propôs a construção de uma hidrovia para conectar esse Estado com a bacia do rio Orinoco, na Venezuela. Uma hidrovia no rio Branco é indicada como planejada pelo Ministério dos Transportes (BRASIL, Min.dos Transportes, 1999).

O uso dos rios para a navegação é histórico e pode, em alguns casos, ser necessário, mas a capacidade de suporte de alterações que um sistema hídrico pode sofrer sem causar danos deve ser considerada. Esforços devem ser feitos para se incorporar interesses sociais e ambientais com os econômicos e para se considerar os impactos e benefícios das hidrovias, não apenas localmente, mas em nível da bacia hidrográfica. A participação da comunidade local nos processos de tomada de decisões é, portanto, essencial. Participação não é apenas um

59

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 60: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

conjunto de requerimentos formais, mas uma fonte efetiva de valores de uso sustentável dos rios como meio de transporte, para longo prazo.

6.1.2.3 – Pesca na Amazônia Para a utilização de qualquer recurso natural renovável, existem dois caminhos fundamentalmente

diferentes a seguir: o extrativismo e o cultivo. Em todas as partes do mundo, a exploração de organismos aquáticos é basicamente uma atividade extrativista. Neste tipo de atividade, é de fundamental importância ajustar os níveis de exploração às taxas naturais de reposição das populações a fim de obter, ao mesmo tempo, uma produção elevada e a manutenção do equilíbrio dos estoques, ou seja, executar uma exploração racional (BITTENCOURT, 1991).

A pesca para consumo humano é uma das atividades mais antigas do mundo e da região. Seus produtos são a maior parte, da proteína animal consumida na região Amazônica. Mas a exploração pesqueira na Amazônia tradicionalmente tem sido feita com pouca consideração pela sustentabilidade, favorecidos atualmente pelo advento de novas tecnologias de captura, a pressão continuamente crescente sobre estes recursos tem conduzido a declínios de várias espécies comerciais (BARTHEM, 1992). Um sinal de esperança é o recente advento de movimentos sociais para organizar as populações locais para fazer manejo comunitário, principalmente em lagos de várzea (McGRATH, 2000) e também em reservas de desenvolvimento sustentável, como é o caso da reserva de Mamirauá. Isto envolve o fechamento de alguns dos lagos contra a entrada dos grandes barcos de pesca provenientes dos centros urbanos, e exige apoio oficial para evitar conflitos violentos.

Segundo Bittencourt (1991) é aconselhável manter o esforço de pesca nos níveis atuais, até que maiores informações técnicas e científicas permitam o estabelecimento de um grau de exploração sustentável, que garanta a manutenção e recuperação dos estoques.

6.1.2.4 – Poluição das Águas A poluição das águas amazônicas é decorrente principalmente da exploração mineral, do transporte de

derivados de petróleo e da agricultura intensiva localizados às margens dos corpos d´água. Um dos principais poluentes de águas amazônicas é o mercúrio, usado por garimpeiros, na extração do

ouro. A liberação de mercúrio é proporcional à quantidade de ouro lavrada, sendo tipicamente 1,3 kg de Hg por kg de ouro (PFEIFFER et al., 1989). Segundo Pfeiffer et aI., (1993) cerca de 1.500-3.000 t de Hg foram liberadas no ambiente entre 1976 e 1991.

Essa enorme quantidade de mercúrio, não fica apenas na água, mas atinge também os recursos vivos que nela vivem especialmente os peixes. Isto faz com que os humanos sejam contaminados por mercúrio em decorrência do consumo de peixe.

De acordo com Fearnside (2003), os solos amazônicos contêm quantidades significativas de mercúrio oriundo de fontes naturais, porque o solo na região tem milhões de anos de idade e têm acumulado mercúrio gradualmente por meio de deposição na chuva de poeira oriunda de erupções vulcânicas e de outras fontes ao redor do mundo. O fator que limita a entrada de mercúrio na cadeia alimentícia, que conduz aos humanos, é o ambiente apropriado para conversão do mercúrio elementar em sua forma tóxica (metil-mercúrio). Isto pode acontecer sob condições naturais em rios onde as características químicas da água são apropriadas, especialmente nos rios de água preta (ROULET & LUCOTTE, 1995; SILVA-FORSBERG et al., 1999).

Os solos de floresta inundados por represas hidrelétricas são uma fonte importante de mercúrio. A condição anóxica no na região profunda de um reservatório fornece o ambiente necessário para a metilização do mercúrio, aumentando a concentração por um fator de aproximadamente dez em cada elo na cadeia alimentar desde o plâncton para os peixes até as pessoas que comem o peixe. Estudos realizados na represa de Tucuruí mostraram altas concentrações de mercúrio no cabelo de residentes na beira do lago (LEINO & LODENIUS, 1995; PORVARI, 1995; FEARNSIDE, 1999a). Segundo Kehring (1998) apud Fearnside (2003) em Balbina, mudanças na concentração de mercúrio nos cabelos de mulheres foram datadas através de amostras de fios de cabelo de mulheres com cabelos compridos. Foi revelando um nível baixo de mercúrio, antes do enchimento

60

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 61: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

do reservatório, seguido por uma elevação abrupta após o enchimento, e uma diminuição gradual na medida em que a quantidade de peixe capturada no reservatório diminuiu com o resultado da diminuição da fertilidade da água. Forçando os residentes a comer frango, peixe criado em piscicultura e carne bovina, no lugar de peixe do reservatório.

Já a poluição da água por derramamentos de petróleo pode causar impactos severos, aonde ela por ventura vier a acontecer.

Na região Amazônica, a exploração de petróleo é relativamente recente e limitada em escala, principalmente pela pequena quantidade de pontos exploratórios, embora alguns derramamentos tenham acontecido. Um poliduto (duto híbrido de petróleo e gás) de Urucú para Coarí foi completado em 1998, e o petróleo atualmente é trazido de Coarí para Manaus por balsas, sendo que está sendo construído um duto que vai ligar Coarí a Manaus. Em 1999 um oleoduto quebrou entre o porto e a refinaria em Manaus, resultando em um derramamento no igarapé do Cururú. Um igarapé foi contaminado pelo vazamento de um oleoduto no campo petrolífero do Urucú em 2001. Nas proximidades de Barcarena-PA, uma balsa afundou e lançou uma quantidade de óleo para a baía do Marajó, que só não foi pior, pela rapidez de atuação das entidades ambientais responsáveis.

Vazamentos de petróleo de balsas transportadoras de petróleo na bacia amazônica, e dos transportes fluviais em geral, têm causado uma sucessão de pequenos eventos de poluição de óleo. A poluição por óleo pode ser especialmente prejudicial se os derramamentos de petróleo e seus derivados ocorrerem nas florestas de várzea, onde muitas espécies de organismos aquáticos, especialmente os peixes, da região procriam.

Uma outra fonte importantede poluição das águas são os cultivos intensivos, especialmentea monocultura de grãos, que está avançando velozmente pela floresta Amazônica, em virtude do uso indiscriminado de fertilizantes. Para manter essa cultura intensiva, é necessário utilizar uma grande quantidade desses fertilizantes, que ficam localizados principalmente na camada superficial do solo e por lixiviação são conduzidos para dentro dos corpos d´água, mas também uma quantidade considerável, por infiltração acaba chegando ao lençol freático. Quando ocorre a fertilização excessiva da água por recebimento de nutrientes, principalmente os compostos nitrogenados e o fósforo, podem causar o crescimento descontrolado (excessivo) de algas e plantas aquáticas, num processo que se chama eutrofização. Quando ocorre esse crescimento descontrolado, as conseqüências para o ambiente aquático são visíveis, desde a mortalidade de peixes, em conseqüência da falta de O2 na água, mas também de contaminação por neurotoxinas, que podem causar sérios problemas ao homem.

6.2 – A Perda da Biodiversidade Na Amazônia

A região Amazônica ocupa uma área de cerca de 5 milhões de km2, na qual existe uma variedade incrível de sistemas, entre os quais, a floresta tropical úmida, as campinas, campinaranas, várzeas e outras formas de vegetação características do espaço fitogeográfico, se somando ainda a grandes extensões extra-amazônicas de savanas arbóreas (cerradão), pertencentes ao ecossistema de savanas do Planalto Central Brasileiro. Essa imensa região contém a maior diversidade de espécies do planeta, mas está sendo drasticamente alterada pela ação do homem na floresta e nos cursos d´água.

Segundo Salati et al., (1998), as estimativas de desmatamento feitas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, baseadas em imagens LANDSAT TM, a partir de 1978 até 1996, servem, para demonstrar a extensão dos processos de destruição das florestas tropicais presentes na Amazônia Legal e inferir a perda da diversidade biológica conseqüente.

Durante o período compreendido entre 1978-1988, a taxa anual de desmatamento foi de 20,3 mil km2/ano não uniforme, sendo que na segunda metade da década (1985) houve um pico de desmatamento, intensificado pelo favorecimento econômico na época. Nos anos subseqüentes houve uma diminuição nas taxas anuais de desmatamento. As estatísticas governamentais mostram que o desmatamento tem aumentado, como atestado pelos pontos de queimadas detectados pelos satélites. Dados de desmatamento bruto apurados até agosto de 1996 mostram uma área total desmatada de 517.069 km2. Essa diminuição do desmatamento foi

61

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 62: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

verificada também por alguns órgãos internacionais, que tiveram acesso a algumas imagens da Amazônia, mas só agora com a criação do SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia) é que se poderão realizar estudos, abrangendo a totalidade da área da Amazônia Legal, e com isso ter idéia mais precisa do nível de desmatamento em toda a região. Esta redução pode estar associada à diminuição do crédito agrícola, para financiamento do setor agropecuário. O aumento do desmatamento em algumas áreas da região tem sido creditado à abertura de novas frentes para agricultura pelas populações já instaladas na região e por novos contingentes populacionais que migram de outras regiões do Brasil, especialmente para o cultivo de soja (SALATI et al., 1998).

Ao se analisar detalhadamente as imagens de satélite, o desmatamento ocorrido pelo corte de áreas contínuas é detectado. Para se ter um número próximo do real desmatamento, deve-se somar também o corte seletivo de madeiras de lei, que vem sendo um importante item do desmatamento, pois ocorre a seleção da madeira de lei. Muitas das “clareiras naturais” provocadas pela morte ou queda das árvores, importantes para a manutenção do ciclo sucessório da floresta, são originados pelo corte de madeira.

Dentro de um contexto histórico, a diminuição da diversidade pode ser determinada segundo Salati et al., (1998):

• No século XVII, saiam de Gurupá-PA mais de 20 barcos de carne de peixe-boi. No séc. XVIII já não se enchia sequer um barco com esta carga;

• Chegada à Amazônia de migrantes nordestinos expulsos pela seca e atraídos pelo extrativismo do látex. Durante o ciclo da borracha a biodiversidade, esteve ameaçada pela caça para alimentação dos seringueiros. O peixe-boi, a tartaruga e o pirarucu foram os recursos pesqueiros mais cobiçados e que receberam a maior perseguição;

• Entre 1885-1893 desembarcaram em Belém, mais de 14.600 toneladas de produtos oriundos da pesca, dos quais mais de 11.500 toneladas era de pirarucu seco, com uma média de 1.283 toneladas por ano, o que corresponderia a 2.500 toneladas de pirarucu fresco. Já entre os anos de 1933-1936, a produção média anual de pirarucu seco foi de 563 toneladas ou cerca de 1.130 toneladas de peso fresco.

• Com a chegada do governo militar ao poder em 1964, começou a ocupação da região norte. Com uma série de atos legislativos em 1966 e 1967, iniciou-se a Operação Amazônia que visava “Integrar a Amazônia para não entregar”. E a partir daí se iniciou a terceira “colonização” da Amazônia, que já tinha sofrido com os europeus, depois com os nordestinos e agora com pessoas de todos os cantos do Brasil;

A floresta de terra-firme tornou-se o local ideal para a implantação dos grandes projetos para a Amazônia (colonização, hidroelétricas, mineração e agropecuária). Capoeiras, agrovilas e terras degradadas decorrentes de todo esse processo, começaram a manchar a floresta tropical. Fearnside (1986) calcula que no ano de 1975 desmataram-se 28.593 km2 e, em 1978, 77.171 km2 da Amazônia brasileira. O Brasil, juntamente com a Colômbia e os países da América Central, durante as décadas de 60-70, foram os responsáveis pelo desmatamento de 20.000 hectares anuais de matas amazônicas, cortadas para criação de gado voltado para exportação de carne destinada a hambúrguer, salsichas, congelados enlatados e embutidos, para o mercado americano (SALATI et al., 1998).

No período dos grandes projetos de desenvolvimento para a região Amazônica, o governo oferecia a infra-estrutura, estradas, aeroportos, telecomunicações e, principalmente, incentivos fiscais e linhas de crédito especiais. Sendo que a Operação Amazônia foi somente o primeiro previsto pelo governo central para a Amazônia brasileira. Posteriormente, vieram a rodovia Belém-Brasília, a transamazônica, os Programas de Integração Nacional, o Polonoroeste, Carajás, Tucuruí e Balbina.

Foram tentativas frustradas de desenvolver uma região

baseadas em escolhas erradas (SALATI et al., 1998).

Este quadro dramático sobre a destruição da biodiversidade não é exclusivo da Amazônia ou vinculado a umprocesso recente deocupação, devendo ser lidoeinterpretadocomo resultado doprocessodedesenvolvimento econômico. No caso da floresta tropical o que assusta é a velocidade em que a perda da biodiversidade está ocorrendo por processos antrópicos. A ecologia e a economia criaram uma base de pensamento interdependente

62

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 63: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

que explica como no atual momento histórico, a pressão antrópica sobre os ecossistemas é a maior responsável pela extinção das espécies. A grande transformação do planeta vem ocorrendo há 300 anos, aceleradamente a partir da revolução industrial. Um dos grandes objetivos da revolução industrial foi alcançado: a terra sustenta um número de pessoas com nível de consumo sem precedentes históricos. O avanço tecnológico facilitou a manutenção de uma superpopulação. Mesmo que a distribuição do consumo de alimentos, o acesso à saúde e aos bens de produção seja díspar entre os países e classes sociais, é fato inegável que a média do tempo de vida tem aumentado na sociedade industrial (SALATI, et al., 1998).

Entretanto, este desenvolvimento, alto padrão de consumo baseado na conversão de combustíveis fósseis em energia, seja em sociedades de orientação capitalista ou socialista, é um redutor da biodiversidade. Na história do estabelecimento do “Homo economicus”, a natureza sempre esteve presente, ora como foco central do fato econômico e acumulação da riqueza, ora como fator secundário desta acumulação (SALATI et al., 1998).

No surgimento da agricultura, uma tecnologia inovadora, significou o fim do acaso na captura de presas e coleta de alimentos. Os grupos humanos se sedentarizaram, a sobrevivência baseava-se em produtividade dos campos aráveis e a riqueza advém da colheita. Entretanto, as técnicas agrícolas ainda eram rudimentares e a produção de um campo estava ligada a fatores ambientais, como qualidade do solo, ciclo de chuvas, ausência de pragas, plantações diversificadas, etc. A natureza, ou melhor, a propriedade do grupo social sobre um ecossistema, continuava sendo o fator determinante da riqueza e centro do sistema econômico (SALATI et al., 2003).

Um ponto importante na história do “Homo economicus” é o surgimento e desdobramento da sociedade industrial. A riqueza advém de produtos industrializados, obtidos através da transformação dos recursos naturais onde a chave é a tecnologia. Carros, produtos eletrônicos, têxteis sintéticos, medicamentos, informática, e mesmo produtos agrícolas, são resultados da tecnologia. A riqueza está sendo gerada à revelia da produtividade de um ecossistema ou da propriedade física de um recurso natural. As nações ou grupos industriais mais ricos no mundo atual não são aqueles que detêm maiores recursos naturais, mas sim os que conseguem transformar a matéria prima (natureza) em bens de consumo, de maneira mais eficiente e competitiva (SALATI et al., 1998).

Até o surgimento da revolução industrial, o desenvolvimento econômico de um povo era um mosaico envolvendo as relações entre os sistemas social e ecológico de cada ecossistema. Retirando sua subsistência e gerando riqueza basicamente através da agricultura e pecuária, os grupos locais dentro de cada ecossistema ou parte desses selecionavam as espécies, segundo valores culturais, sociais e tecnológicos. O conhecimento da natureza, embebido em mitos e tradições associados aos componentes sociais e ecológicos, atuavam como uma pressão evolutiva na seleção das espécies. Nesses sistemas agroecológicos coevoluídos durante séculos, às vezes milênios, em razão da quantidade de combinações entre as variáveis havia maior diversidade de espécies cultivadas do que encontramos atualmente. Fazendeiros trocavam entre si plantas e animais e a estratégia de produção de alimento seria a de plantar, diferentes culturas em locais diversos e tempos alternados, tornando a produção média garantida em razão dessa estratégia.

Os fluxos de energia e matéria, antes diversificados por natureza, tornam-se mais unificados por estratégia econômica. Diferentes ambientes sofrem as mesmas pressões seletivas da agricultura moderna: mesma variedade de grãos, padrões de fertilização, controle de pragas e mecanização. Mercado global, valores globais, organização social global, padrão de consumo global, em detrimento das diferenças regionais, resultam em uma percepção do meio ambiente também mais restrita, com perda de todo tipo de diversidade. A homogeneização dos cultivares, imperativo de uma agricultura moderna onde a especialização da atividade econômica existe, além de reduzir o número de espécies plantadas, diminui o número de espécies associadas: bactérias fixadoras de nitrogênio, fungos decompositores, predadores de pragas, polinizadores, dispersores, plantas invasoras, etc.

Para Salati et al. (1998) durante o processo de desenvolvimento amazônico podemos visualizar uma paisagem composta por fragmentos florestais circundados por áreas com diferentes graus de alteração antrópica. Caso as forças políticas se somem em direção a uma ocupação sustentável dos ecossistemas amazônicos, é necessário termos conhecimento dos fatores limitantes que impedem o uso sustentável dos recursos biológicos deste ecossistema. Após realizar o estudo desta unidade, responda à questão proposta para complementar seu

63

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 64: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

aprendizado. Assim que terminar de resolver as questões propostas, envie para o seu Tutor no prazo de 5 dias.

Para responder à atividade, utilize papel de tamanho A4, com letra arial 12. 1) O projeto da Lei de Gestão de Florestas Públicas (PL 62/05), que regulamenta a

exploração dos recursos florestais em terras da União, de Estados e Municípios está sendo votado no congresso Nacional. Em sua opinião, seria esta a melhor solução para conter o desmatamento na região Amazônica? Por quê? Responda em no máximo 10 linhas.

64

ATIVIDADE 05

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

Page 65: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

AGOSTINHO, A. A.; THOMAZ, S. M.; GOMES, L. C. Conservação da biodiversidade em águas continentais do Brasil. Megadiversidade, v.1, n.1. p.70-78. 2005.

AMAZONAIR. Salto Pará. Figura 32. Disponível em <http://www.amazonair.com/Para/ para1_e.html>. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

AMAZÔNIA LEGAL. Disponível em <www.amazonialegal.com.br/textos/rios/Rios_Ig- arapes.htm>. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

BALÉE, W. “People of the fallow: A historical ecology of foraging in lowland South America.” In Conservation of Neotropic Forests: Working from traditional resource use. NewYork: Columbia Univ. Press. 1992. p.35-57.

BALÉE, W.L. Indigenous adaptation to Amazonian palm forests, Principes. 1988.v.2, n.32, p.47-54.

BARTHEM, R. B. Desenvolvimento da pesca comercial na bacia amazônica e consequên- cias para os estoques pesqueiros e a pesca de subsistência.. In: Aragó, L. E.. (Org.). De- senvolvimento sustentável nos trópicos. Série Cooperação Amazônica, Tomo II. Belém. 1992.v.13, p.489-522.

BARTHEM, R.B.; RIBEIRO, M.C.L.B. & PETRERE Jr., M. Life strategies of some long- distance migratory catfish in relation to hydroelectric dams in the Amazon basin. Biol. Conserv. 1991.v.55, p.339-345.

BERNARD, Brésil: Forêt amazonienne inondable: varzéa. Figura 13. Disponível em <http://bernard107.chez-alice.fr/varzea/pcvarzea.htm>. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

BITTENCOURT, M. M. Exploração dos Recursos Pesqueiros na Amazônia Central: Situ- ação do Conhecimento Atual. In: Efrem Jorge Gondim Ferreira; Geraldo Mendes dos Santos; Elizabeth Lima Mendes Leão; Luiz Antônio de Oliveira. (Org.). Bases Científicas para Estratégias de Preservação e Desenvolvimento da Amazônia. 1 ed. Manaus, Amazo- nas, 1991. v.1, p.321-325.

BRASIL, MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES. Hidrovia Tocantins-Araguaia. Disponív- el em <http://www.transportes.gov.br/STA/DHI/tocara.htm>. 1999.

BRASILIEN DE REISESERVICE. Manaus - Die Eingangstür von Amazônia. Figura 09b, Disponível em http://www.brasilien.de/ReiseService/reiseangebote/amazonas/seh- enswuerdigkeit/manaus.asp. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

BRAZILIAN TRAVEL BUREAU S.A. Lago de Tucuruí. Figura 26. Disponível em <http://www.brasilviagem.com/pontur/?CodAtr=3091>. Arquivo acessado em 22 de ja- neiro de 2006.

BRITO, M. Manguezal. Figura 28a. Disponível em <http://www.deltadorioparnaiba.com. br/delta_mangue.htm.> Acessado em 22 de janeiro de 2006.

65

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

BIB

LIO

GR

AFIA

Page 66: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

CAMARGO, M. E ISAAC, V. J. Ictiofauna Estuarina. In: Os Manguezais da Costa Norte Brasileira. Fernandes, M. E (org.). Maranhão. Fundação Rio Bacanga. 142p. 2003.

CAMPOS, S. Biodiversidade no Alto Juruá. Disponível em http://www.achetudoeregiao. com.br/ANIMAIS/ Biodiversidade.htm Acesso em: 22 de janeiro de 2006.

CHRISTOPHERSON, R. W. Geosystems. Fifth Edition. Figura 03, Disponível em <http:// wps.prenhall.com/esm_christopherson_geosystems_5/0,6339,390931-,00.utf8.html>. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

CIÊNCIA HOJE. O Mangue em Foco. Figura 29d. Disponível em <http://cienciahoje.uol. com.br/controlPanel/materia/view/1460>. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

CIMA, Subsídios técnicos para elaboração do relatório nacional do Brasil para a Confer- ência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Brasília, In: Comissão Interministerial para a preparação da preparação a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, 172p. 1991.

CINTRON, G. & SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Proposta para estudo dos recursos de marismas e manguezais. Relat. Intern. Inst. Oceanogr. Univ. São Paulo. 10: 10-13. 1981.

CONVENÇÃO SOBRE DIVERSIDADE BIOLÓGICA: Conferência para Adoção do Texto Acordado da CDB - Ato final de Nairóbi. Brasília:MMA/SBF, 2000.60p.

CORDEIRO-MARINO, M., BRAGA, M.R.A., ESTON, V.R.,FUJII, M.T. & YOKOYA, N.S. Mangrove macroalgal communities of Latin America: The State of Art and Perspec- tives. In Costal plant communities of Latin America (U. Seelinger, ed.). Academic Press, San Diego, p.51-76. 1992.

DIÁRIO DO PARÁ. 2006. Desmatamento da Floresta Tropical. Fevereiro de 2006.

DIEGUES, A. C. (Org.) Etnoconservação: novos rumos para a proteção da natureza nos trópicos. São Paulo: Hucitec, 2000.

EDUCACIONAL. A Internet na educação. Figura 01, Disponível em <http://www.educa- cional.com.br/home.asp>. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

ESCOLA VÉSPER. Amazônia. Figura 03, Disponível em <http://www.escolavesper.com. br/>. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

ESTEVES, F. A Fundamentos de limnologia. Rio de Janeiro: Interciências/FINP. p.575. 1988.

FALK, E. Fotografiias da Amazônia. Figura 20. Disponível em <http://www.amazonia. org/Photos/Erik/45.pt.htm>. Acessado em 22 de janeiro de 2006. Fávero, P. Peru. Figura 18. Disponível em <http://www.pbase.com/pierbase/peru> Aces- sado em 22 de janeiro de 2006.

FEARNSIDE, P. M. Human Carrying Capacity of the Brazilian Rainforest. New York:

66

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

BIB

LIO

GR

AFIA

Page 67: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

Columbia University Press. 1986.

FEARNSIDE, P. M. Brazil’s Balbina Dam: Environment versus the Legacy of the Phara- hos in Amazonian. Environmental Management. 1989. v.4, n.13, p.401-423.

FEARNSIDE, P. M. Social Impacts of Brazil’s Tucuruí Dam. Environmental Manage- ment. 1999. v.4, n.24, p.485-495.

FEARNSIDE, P. M. Environmental impacts of Brazil’s Tucuruí Dam: Unlearned lessons for hydroelectric development in Amazonia. Environmental Management 2001. v.3, n.27, p.377-396.

FEARNSIDE, P. M. A Floresta Amazônica nas Mudanças Globais. Manaus: INPA. p.134. 2003

FEARNSIDE, P.M. Hydroelectric dams in the Brazilian Amazon as sources of ‘green- house’ gases. Environmental Conservation. 1995b. v.1, n.22, p.7-19.

FEARNSIDE, P.M. Amazon deforestation and global warming: Carbon stocks in vegeta- tion replacing Brazil’s Amazon forest. For. Ecol. Manage. 1996. 80: 21-34.

FEARNSIDE, P.M. Wood density for estimating forest biomass in Brazilian Amazonia. Forest Ecology and Management. 1997. 90: 59-87.

FEARNSIDE, P.M. 1998. Agro-silvicultura na política de desenvolvimento na Amazô- nia brasileira: a importância e os limites de seu uso em áreas degradadas. In.: Gascon, C. & Moutinho, P. (Eds). Floresta Amazônica: Dinâmica, Regeneração e Manejo. INPA. Manaus, AM. pp. 293-312.

FEARNSIDE, P.M. Greenhouse gas emissions from a hydroelectric reservoir (Brazil’s Tucuruí Dam) and the energy policy implications. Water, Air and Soil Pollution. 2002. v.1-4, n.133, p.69-96.

FRAGOSO, M. L. Projeto tracaja-e.net. Figura 11. Disponível em <http://www.tracaja-e. net/24802.htm>. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

GÓMEZ-POMPA, A. Posible papel de la vegetación secundaria en la evolución de la flora tropical. Biotropica, 1971. v.3, p.125-135,.

GOMEZ-POMPA, A.; VAZQUES-YANES, C.; GUEVARA, S. .The tropical rain forest: a nonrenewable resource. Science, v.177, p. 762-765, 1972.

GOULDING M. 1979. Ecologia da pesca no rio Madeira. Manaus, INPA.

GROOMBRIDGE, B. Global Diversity - Status of the Earth’s Living Resources; London; Ed. Chapman & Hall; 614 p. 1992. GTZ. Projeto Conservação das Florestas Tropicais da Amazônia. Figura 04. Disponível em <http://www.gtz-amazonia.org/portugues/contexto.htm>. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

67

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

BIB

LIO

GR

AFIA

Page 68: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

IBICT - Canal Ciência. Pesquisa sobre adaptação de peixes aos seus ambientes. Figura 17. Disponível em http://www.canalciencia.ibict.br/pesquisas/pesquisa.php?ref_pesqui- sa=72. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

IPAM. Manejo de Várzea. Figura 25. Disponível em <http://ipam.org.br/programas/man- var/meta1.php>. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

JANZEN, D. H. Herbivores and the number of tree species in tropical forests. American Naturalist, v.104, p.501-528, 1970.

JARDIM-LIMA, D.; PIEDADE, M.T.F.; QUEIROZ, H.L.; NOVO, E.M.L.M. RENNÓ, C.D. A dinâmica do Pulso de inundação: aplicações de sensoriamento remoto na avaliação da área de águas abertas e morfologia dos lagos de várzea da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - Amazônia Central. Anais XII Simpósio Brasileiro de Sensoria- mento Remoto, Goiânia, Brasil, 16-21 abril 2005, INPE, p. 3069-3076. 2005.

JUNK W.J. Áreas inundáveis - Um desafio para limnologia. Acta Amazonica. 10: 775- 795. 1980 .

JUNK, W. J. As águas da região amazônica. In: SALATI, E. et al. Amazônia: desenvolvi- mento, integração e ecologia. São Paulo: Brasiliense; Brasília. 1983.

JUNK, W.J., BAYLEY, P.B. & SPARKS, R.E. The flood pulse concept in river-floodplain- systems. In Proceedings of the International Large River Symposium- LARS (D.P. Dodge, ed.). Canadian Special Publication in Fisheries and Aquatic Sciences 106:110-127. 1989.

JUNK, W.J.; FURCH, K. Química da água e macrofitas aquáticas de rios e igarapés na Bacia Amazônica e nas áreas adjacentes. Parte I. Acta Amazonica, 1980.v.10, p.611-633.

JUNK, W.J.; NUNES DE MELLO, J. A. S. Impactos ecológicos das represas hidrelétricas na bacia Amazônica brasileira In: Kohlhepp, G & Schrader, A. [eds.] Homem e Natureza na Amazônia. Tubinger Geographische Studien 95. Germany. p.367-385. 1987.

JUNK, W.J.; PIEDADE, M.T. Biomass and primary productivityof herbaceous plant com- munities in the Amazon floodplain. Hydrobiology, v.263, p.155-162. 1993.

KREBS. C.J. 1972. Ecology the experimental analysis of distribution and abundance. Harper International. Edition. New York. 694p.

LEINO, T. & M. LODENIUS. 1995. Human hair mercury levels in Tucuruí area, state of Pará, Brazil. The Science of the Total Environment v.175, p.119-125.

LEWINSOHN, T. M.; PRADO, P. I. Biodiversidade Brasileira: Síntese do estado atual e conhecimento. São Paulo: Contexto Acadêmico, 2002.

LEWINSOHN, T. M. ; FREITAS, A. V. L. ; PRADO, P. I. Conservation of terrestrial in- vertebrates and their habitats in Brazil. Conservation Biology, 2005. v.19, n.3, p.640-645.

MATOS, M. M.; UHL, C. Economic and Ecological Perspectives on Ranching in there

68

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

BIB

LIO

GR

AFIA

Page 69: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

Easthern Amazon. World Development. 1994. v.2, n.22, p.145-158.

MCGRATH, D. G. Avoiding a tragedy of the commons: recent developments in the man- agement of amazonian fisheries.. In: HALL, Anthony. (Org.). Amazonia at the Crossroads: the challenge of sustainable development. 1 ed. London, 2000. v.1, p.171-187.

MELO, N. F. A. C. de. Estrutura de Populações de Cladocera em dois Lagos da Amazônia Central. Dissertação de Mestrado, UFAM/INPA. 95p. 1998.

MESQUITA, D. O. Herpetofauna das Savanas Amazônicas: subsídios para sua preserva- ção. Figura 06, Disponível em <http://www.unb.br/ib/zoo/grcolli/alunos/daniel/paginap- rincipal.html>. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

MIZIGUCHI, Y.; ALMEIDA, J. R.; PEREIRA, L. A. 1981. Introdução à Ecologia. São Paulo. Ed. Moderna. 215p.

MOSS, G.; MOSS, M. Projeto Brasil das Águas. Figura 10. Disponível em <http://www. brasildasaguas.com.br>. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

MYGEO. Geo Desktop Wallpaper. Figura 09a, Disponível em <http://www.mygeo.info/ eng>. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

NASA. Earth Observatory, LBA. Figura 16. Disponível em <http://earthobservatory.nasa. gov/Study/LBA>. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

NUNES DE MELLO, J. A. S. Hidrelétricas na Amazônia e o meio-ambiente. In: Efrem Jorge Gondim Ferreira; Geraldo Mendes dos Santos; Elizabeth Lima Mendes Leão; Luiz Antônio de Oliveira. (Org.). Bases Científicas para Estratégias de Preservação e Desen- volvimento da Amazônia.. 1 ed. Manaus, Amazonas, v. 2, p. 11-16. 1993.

ODUM, E. P. 1988. Ecologia. Rio de Janeiro, Guanabara. 434p.

PESSOA, C. M. C.; RODRIGUES, J. Webquest: Floresta Amazônica. Figura 28b. Dis- ponível em <http://www.ese.ips.pt/abolina/webquests/amazonas/florestaamazonica. html>. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

PFEIFFER, W.C.; LACERDA, L.D.; SOLOMONS, W.; MALM, O. Environmental Fate of Mercury from gold Mining in the brazilian Amazon. Environmental Review. 1993. v.1, p.26-37.

PFEIFFER, W.C.; LACERDA, L.D.; SOUZA, C.M.M.; SILVEIRA, E.; BASTOS, W.R. Mercury Concentrations in inland waters of gold mining areas in Rondônia, Brazil. The Science of the Total Environment, 1989. v.87/88, p.233-240.

PINTO-COELHO, R.M. 2000. Fundamentos em Ecologia. Soc. Ed. Artes Médicas - ART- MED, Porto Alegre (RS). 252 p.

PISCES CONSERVATION LTD. Amazonian Fishes and their Habitats. Figura 14. Dis- ponível em <http://www.amazonian-fish.co.uk>. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

69

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

BIB

LIO

GR

AFIA

Page 70: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

PISCES CONSERVATION LTD. Amazonian Fishes and their Habitats. Figura 21. Dis- ponível em <http://www.amazonian-fish.co.uk>. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

PONCE, V. M. Meandering river in the flood plain of the Rio Meta, Colômbia. Figura 24. Disponível em, <http://www.ponce.sdsu.edu/legacy_tales_seddons_law.html>. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

PORVARI, P. Mercury levels in fish in Tucuruí hydroelectric reservoir and in River Moju in Amazonia, in the state of Pará, Brazil. The Science of the Total Environment, 1995. v.175, p.109-117.

PROJECT AMAZONAS Inc. Aracnids. Foto 33. Disponível em <http://www.projectama- zonas.com/galleries.htm>. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

RICKLEFS, R. E. A economia da natureza. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996. 470p.

RIDLE, C. Biodiversidade no Acre. Figura 23. Disponível em http://www.escolavesper. com.br/biodiversidade_acre.htm>. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

ROULET, M. & LUCOTTE, M. Geochemistry of mercury in pristine and flooded fer- ralitic soils of a tropical rain forest in French Guiana, South America. Water, Air and Soil Pollution, 1995. v.80, p.1079-1088.

SALATI, E.; dos SANTOS, A.; LOVEJOY, T. E. & KLABIN, I.. Por que Salvar a Floresta Amazônica. Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA), Manaus, Amazonas. 108 p. 1998.

SCARDA, F. M. Cultivando tartarugas: implicações da agricultura de praia na conser- vação de populações de quelônios (podocnemis spp.), na várzea do médio rio Solimões, Amazonas, Brasil. Dissertação de Mestrado Programa de Pós-Graduação em Agroecos- sistemas, UFSC. 85 p. 2004.

SCHAEFFER-NOVELLI, Y. & CINTRON, G. Guia para Estudos de Áreas de Manguezal:Estrutura, Função e Flora. São Paulo. Caribbean Ecological Reseach. 1986. v.1 p.1150 p.

SCHAEFFER-NOVELLI, Y. (org. ). Manguezal ecossitema entre a terra e o mar. São Paulo, Caribbean Ecological Research, 64p. .1995.

SENNA, C.. Caracterização Geomorfológica da APA de Algodoal/Maiandeua. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DO QUATERNÁRIO DA AMAZÔNIA, 4, Manaus. Resumos, UFAM, p. 91-92. PICG-281. 1993

SHUBART, H. O. R. 1983. Ecologia e utilização das florestas. In: SALATI, E. et al. Amazônia: desenvolvimento, integração, ecologia. São Paulo: Brasiliense;

SILVA-FORSBERG, M.C.S.; FORSBERG, B.R. E ZEIDEMANN, V.K. 1999. “Mercury contamination in humans linked to river chemistry in the Amazon Basin”. Ambio, 26:

70

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

BIB

LIO

GR

AFIA

Page 71: DISCIPLINA: ECOLOGIA DA AMAZÔNIA

1-14.

SIOLI, H. 1965 Bemerkungen zur Typologie amazonischer Flüsse, Amazoniana, Vol. I fasc. 1(Bd I H. 1): 74–83 p.

SIOLI, H. The Amazon and its main affluents: Hydrology, morphology of the rivers cours- es, and river types. In: The Amazon. Limnology and landscape ecology of a mighty tropi- cal river and its basin. (SIOLI, H. Ed.). Junk Publishers. Netherlands. 580 pp. 1984.

SIOLI, H. Amazônia. Fundamentos da ecologia da maior região de florestas tropicais. 3. Ed. Petrópolis: Vozes, 72p. 1991.

UENO,T & LAKHANA, J.S. Discus Photo Gallery. Figura 12. Disponível em <http:// park10.wakwak.com/~discus/Ev/e-index.html>. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

UNICAMP. Jornal da Unicamp. Figura 19. Disponível em <http://www.unicamp.br/uni- camp/unicamp_hoje/ju/outubro2005/ju306pag6-7.html>. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

USP. Revista Eletrônica de Ciências. Figura 31. Disponível em <http://www.cdcc.sc.usp. br/ciencia/artigos/art_20/colombia.html>. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

UW-Madison. Department of Botany. General Botany. Figura 07, Disponível em <http:// botit.botany.wisc.edu>. Acessado em 22 de janeiro de 2006.

71

ECO

LOG

IA D

A A

MA

ZÔN

IA -

GH

A

BIB

LIO

GR

AFIA