Diretrizes
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SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
EDUCAÇÃO CONTEXTUALIZADA
PARA A CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO:
Fundamentos para a construção de Diretrizes
Político-pedagógicas do município de Juazeiro - BA
- Setembro de 2013 -
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FICHA TÉCNICA
Prefeito
Isaac Cavalcante de Carvalho
Secretário de Educação
Clériston Andrade
Assessoria
IRPAA
Revisão
Diagramação
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FICHA TÉCNICA
EQUIPE DA SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
Superintendência de Gestão:Lucinete Alves Silva
Diretoria de Gestão Escolar:Maria Sônia do Nascimento Passos
Gerência de Gestão escolar:José Expedito Félix
Superintendência Administrativa:Mary Adriana dos Santos Evangelista
Diretoria de Gestão de Pessoas:Carlos Emilio Passos da Silva
Diretoria Administrativa:Alfredo Ferreira
Diretoria Financeira:Jorge Duarte
Superintendência Pedagógica:Luzanilde Oliveira Aguiar
Diretoria de Ensino Fundamental EJA e Educação Especial:Cristine
Hermenegildo Santos
Gerente de Ensino Fundamental EJA e Educação Especial:Gerlane Fernandes
Silva
Diretoria de Educação Infantil:Miranery Amorim de Souza
Diretoria de Valorização do Professor e Formação continuada: Carliane de
Oliveira Silva
Gerente de Valorização do Professor e Ensino Fundamental: Iêda de Masseno
Diretora da Escola de Formação de Juazeiro: Rosêmar Duarte Motta
ASSESSORES DE FORMAÇÃO CONTINUADA
Aline dos Santos Almeida SouzaAnailma Gomes dos SantosAna Cecilia dos Reis DiasCleia Barreto de F. MedeirosGeysa Gabrielle SantosJeane da Costa ChavesLeia N.Araújo FrançaLindsay Santos Amaral BatistaLindalva G.Cavalcante de SouzaLucimar Oliveira de SouzaLucineide Barbosa da SilvaMarcia Souza do NascimentoMariana de Castro FonsecaMary Simone da Paixão de Araújo SilvaMichelinne Cunha Souza
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Nadycley de Souza CoelhoNeide dos Santos BarbosaPaula Solange Batista AraújoPaulo Marcos Ribeiro VianaSandra Cavalcante de Lopes de MirandaSimone Melo dos SantosTaciane Passos de CastroTatiane Cabral FernandesTaciana Roberta C.de Alencar
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EQUIPE DO IRPAA
Coordenação Geral: Ademilson da Rocha Santos
Coordenação Administrativa: Harald Schistek
Coordenadora Institucional: Lucineide Martins.
EIXO EDUCAÇÃO
Alaíde Régia Sena Nery de Oliveira
Edineusa Ferreira Souza
Edileuza Silva Rocha
José Moacir dos Santos
Maria da Graças Cavalcante de Oliveira
CONSULTORIA PEDAGÒGICA
Adelaide Pereira da Silva
Ana Célia Silva Menezes
Lucineide Martins (colaboração)
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PREFEITURA MUNICIPAL DE JUAZEIRO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO
EDUCAÇÃO CONTEXTUALIZADA
PARA A CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO:
Fundamentos para a construção de Diretrizes
Político-pedagógicas do município de Juazeiro - BA
Setembro de 2013
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CARTA À COMUNIDADE EDUCATIVA
Temos a grata satisfação de oferecer à comunidade educativa do
município do Juazeiro, Fundamentos para a construção de Diretrizes
Político-pedagógicas de Educação Contextualizadas para a Convivência
com o Semiárido. Elegemos quatro eixos temáticos que entendemos estarem
na base de um trabalho na perspectiva da construção da contextualização da
educação escolar: I - Gestão Educacional, II -Formação Continuada, Currículo
Contextualizado e Material Didático contextualizado.
O município do Juazeiro é o berço do movimento pela educação para a
convivência com o Semiárido, tendo sediado os primeiros encontros nos quais
se analisava e denunciava o isolamento da educação escolar em relação às
questões da realidade local, o desprezo pela cultura do povo; enfim, a
descontextualização da educação escolar e ao mesmo tempo, foi sendo
anunciada, uma nova concepção na qual fossem contempladas as
especificidades da região semiárida, mas também e, principalmente, as
potencialidade que essa região comporta em detrimento das irregularidades
nas precipitações pluviométricas. Nasce daí o movimento organizado em prol
da educação contextualizada para a convivência com o Semiárido fortalecendo
o movimento de construção do paradigma de convivência com o Semiárido.
O município do Juazeiro, mediante a Secretaria municipal de Educação,
ao optar em trabalhar a proposta de Educação Contextualizada para a
Convivência com o Semiárido, dá um salto qualitativo na direção da inclusão
desta temática na política de educação do município, atendendo à demandas
de educadores, gestores e setores da sociedade civil organizada que
avançaram construindo um novo fazer pedagógico, contribuindo na reinvenção
da educação no Semiárido.
Como a educação é um processo dinâmico e assim esperamos que
continue sendo, temos consciência de que com essa iniciativa estamos apenas
abrindo caminhos para que essa ação se efetive como política publica no
Sistema Municipal de Ensino do juazeiro, na rede publica. Procuramos
contemplar informações úteis que interessam diretamente tanto à gestores/as
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como professores/professoras e movimentos sociais que são parceiros na
concepção e operacionalização destas diretrizes. Enfim,convidamos todos e
todas, a empenharem esforço no sentido na construção da pratica pedagógica
contextualizada com os pés no chão do Semiárido.
Juazeiro-BA,.......,.........2013
SEDUCSecretaria de Educação e Esporte
IRPAA Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada
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SUMÁRIO
PARTE I - EDUCAÇÃO PARA A CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO
EDUCAÇÃO E CONVIVÊNCIA: Notas introdutórias
EDUCAÇÃO CONTEXTUALIZADA: CONSTRUÇÕES CONCEITUAIS
Semiárido Brasileiro
Juazeiro no contexto do Semiárido
Educação Contextualizada
A Cidade e o Campo no Semiárido brasileiro
A CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO COMO ELEMENTO
ARTICULADOR DO PROCESSO POLÍTICO-PEDAGÓGICO
Eixos Temáticos para Formação com Educadores/as
Natureza
Cultura
Trabalho
Sociedade
PEDAGOGIA DE PROJETOS COMO POSSIBILIDADE METODOLÓGICA
NO TRABALHO EDUCATIVO
PARTE II - DIRETRIZES DA EDUCAÇÃO CONTEXTUALIZADA NA
PERSPECTIVA DA CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO BRASILEIRO
MARCOS LEGAIS DA EDUCAÇÃO CONTEXTUALIZADA.
DIRETRIZES DA EDUCAÇÃO CONTEXTUALIZADA NO MUNICÍPIO DE
JUAZEIRO:
Gestão Educacional
Formação Continuada
Currículo Contextualizado
Material Didático contextualizado
LISTA DE SIGLA
REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA
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PARTE 1
EDUCAÇÃO PARA ACONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO
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EDUCAÇÃO E CONVIVÊNCIA: Notas Introdutórias
A Educação escolar no Semiárido brasileiro tem sido tema na pauta dos
Movimentos Sociais do Campo, de universidades e instituições de pesquisa e
de muitos dos Sistemas de Ensino nessa região. Um esforço coletivo que se
materializa mediante pesquisas, produção teórica e no exercício de uma
pratica pedagógica contextualizada, construindo uma nova práxis no sentido de
qualificar a educação escolar para contribuir na construção do projeto de
desenvolvimento sustentável1 do Semiárido.
Entendemos que esta construção deve se dá desde a escola, lócus
privilegiado de formação humana, de forma a operar mudanças radicais no
modo de pensar e de agir dos/as semiaridianos/as; ensejando aos(às)
estudantes o aprendizado da valorização da cultura, da solidariedade, da
sabedoria do povo; construindo uma visão critica e positiva da região e um
sentimento de pertencimento informado pelo conhecimento do lugar, situando-
se nele com capacidade de intervir criando e recriando as condições materiais
de convivência com o Semiárido no enfrentamento da produção da existência,
apesar da vulnerabilidade do clima.
Construindo, a partir do desvelamento das
potencialidades locais, as condições de garantia de
segurança hídrica e de soberania e segurança alimentar,
rompendo com a lógica de combate à seca e com o
clientelismo que humilha, exclui ou inclui para expropriar e
explorar, escravizando os sujeitos.(SILVA,2011,p.33).
1
Desenvolvimento Sustentável - processo de desenvolvimento em que as necessidades das gerações atuais são satisfeitas sem comprometer as possibilidades de atender às necessidades das gerações futuras, mediante a preservação e conservação dos recursos naturais (Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento) Disponível em http://www.infoescola.com/geografia/desenvolvimento-sustentavel .
Acessado em 25 de janeiro de 2013
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Nessa direção, consideramos que a contribuição da escola na
construção do projeto de desenvolvimento do Semiárido, integra o esforço
maior de promoção da qualidade social da educação e requalifica a função
social da escola no atual momento histórico assumindo papel de fundamental
importância nessa construção em interação com as entidades da Sociedade
Civil Organizada e com outras instituições publicas governamentais. Um novo
projeto de desenvolvimento do Semiárido só se efetiva num esforço coletivo no
qual toda a sociedade esteja comprometida, que todos os segmentos no
campo e na cidade, estejam trabalhando, igualmente na mesma direção.
Para tanto, as instituições precisam sofrer profundas mudanças, pois
foram criadas para servir a alguns grupos privilegiados. Por isto para a
efetivação de um novo projeto de desenvolvimento da região do Semiárido em
todas as dimensões, uma nova cultura deve ser construída, nova concepção de
desenvolvimento, nova compreensão sobre este lugar, novas subjetividades,
desejos sonhos e utopias a serem perseguidas. E neste sentido, a escola tem
um papel fundamental.
A Convivência com o Semiárido, segundo o IRPAA, é um processo de
descoberta que nos leva à construção de um modo de vida onde a produção se
dá dentro do contexto ambiental e climático, respeitando os saberes e a cultura
local, utilizando tecnologias e procedimentos apropriados, possibilitando assim
uma boa qualidade de vida e permanência na terra.
A partir da década de 1990 no contexto de organização da Articulação
do Semiárido Brasileiro (ASA-BRASIL)2 a educação contextualizada para a
Convivência com o Semiárido ocupa centralidade nas atenções de várias
entidades da Sociedade Civil Organizada e de instituições governamentais,
especialmente universidades publicas, secretarias de educação, educadores e
educadoras, que unindo forças buscam
2 Rede formada por, aproximadamente,700 organizações da sociedade civil que atuam na gestão e no desenvolvimento de políticas de convivência com a região semiárida. Sua missão é fortalecer a sociedade civil na construção da sustentabilidade da vida no Semiárido. .Fonte:http://www.asabrasil.org.br/Portal/Informacoes.asp. Acessado em 28 de janeiro de 2013
.Fonte:http://www.asabrasil.org.br/Portal/Informacoes.asp. Acessado em 28 de janeiro de 2013.
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“(...) construir diretrizes norteadoras para políticas
públicas de educação para convivência com o Semiárido
brasileiro, visando com isso alcançar um objetivo maior
que é o de contribuir para que a educação escolar
produza e fortaleça um saber que favoreça a melhoria das
condições de vida das populações dessa região”.
(Diretrizes da Educação para Convivência com o Semi-
Árido Brasileiro, I CONESA, 2006, p.03 e 05).
A Rede de Educação do Semiárido Brasileiro (RESAB)3, ao longo dos
últimos 13 (treze) anos vem fomentando o debate nas esferas municipal,
estadual e federal sobre esta temática e sugerindo proposições de políticas de
educação nessa perspectiva, a serem formuladas com a participação de
educadores/as articulando experiências de educação escolar e não escolar
num movimento dialógico que privilegie o conhecimento das tecnologias sociais
de convivência com Semiárido.
Neste movimento o município de Juazeiro, situado ao norte do estado da
Bahia, região central do território onde está localizado o Semiárido Brasileiro,
através da Secretaria Municipal de Educação, se insere de diferentes formas:
na promoção de seminários, encontros, colóquios e participação em diferentes
eventos sobre a temática, na aquisição de materiais paradidáticos sobre a
convivência com o Semiárido, no apoio a seus/suas docentes em Cursos de
Pós-Graduação em Educação Contextualizada para a Convivência com o
Semiárido, ou fazendo parcerias com entidades da sociedade civil organizada,
que vêm contribuindo na construção do paradigma da Convivência com o
Semiárido.
Trazer para dentro da escola o movimento de construção de um novo
olhar para o Semiárido brasileiro significa repensar a escola em todas as suas
3 Articulação política regional que envolve instituições públicas governamentais e entidades da Sociedade Civil Organizada, educadores e educadoras que atuam em educação escolar e não escolar no Semiárido Brasileiro com a finalidade de propor e avaliar políticas públicas em educação e promover ações que possam contribuir com a melhoria da qualidade da educação e dos Sistemas de Ensino e, consequentemente, contribuir para com o desenvolvimento sustentável dessa região.
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dimensões desde a gestão, à formação docente, os materiais didáticos, à
relação com a comunidade na qual a escola está inserida. Enfim, a prática
pedagógica contextualizada tendo como ponto de saída e de chegada o chão
do Semiárido, referencia o diálogo com outros saberes tanto locais como
globais.
Com o propósito de consolidar políticas públicas apropriadas à realidade
local atendendo à demanda da Educação para a Convivência com o Semiárido
a SEDUC alia sua experiência à do IRPAA, a partir de 2009, para realizar a
formação continuada de professores e professoras tendo como principal
objetivo inserir, na educação escolar, o debate da Convivência com o
Semiárido. Este trabalho motivou a tomada de decisão, pelas autoridades
municipais, no sentido de se avançar, inserindo a Educação contextualizada
para a Convivência com o Semiárido na Política de Educação do município de
forma a garantir a sua abordagem em todas as escolas públicas do Sistema
Municipal de Ensino.
Para tanto, mesmo tendo ciência de que é o Plano Municipal de
Educação o instrumento maior, no qual as intencionalidades das políticas da
educação municipal devem estar garantidas; assim como nas normas
emanadas do Conselho Municipal de Educação; a Secretaria de Educação de
Juazeiro avançou nessa direção, elaborando Fundamentos para a construção
de Diretrizes Político-pedagógicas, baseadas no princípio da contextualização
e que deverão orientar a prática pedagógica nas escolas. Afinal, é no chão da
escola e, mais especificamente, nas salas de aula, onde se processam todas
as mudanças, transformações, invenções e reinvenções na educação escolar.
Por esta razão os Projetos Político-pedagógicos (PPP´s), e toda orientação
neste sentido, devem resultar de um esforço coletivo com a participação dos/as
profissionais que atuam diretamente com os sujeitos da aprendizagem que são
os/as educandos/as. Esta é a lógica que orienta a Secretaria Municipal de
Educação do Juazeiro e, inclusive, justifica a parceria com o IRPAA, entidade
que integra a Rede de Educação do Semiárido Brasileiro e que vem
colaborando na construção da proposta de Educação para a Convivência com
o Semiárido, com uma rica produção de materiais paradidáticos regionalizados.
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Consolidar a Educação Contextualizada para a Convivência com o
Semiárido em toda rede municipal de ensino do município de Juazeiro
potencializará ainda mais as ações desenvolvidas pela Secretaria de Educação
- SEDUC, que desde 2009 gerencia Programas e Projetos em parceria com o
Ministério de Educação – MEC, Instituto Ayrton Sena, Fundação Abrinq,
UNICEF e outras instituições com a finalidade de contribuir para o avanço da
aprendizagem qualitativa, com vistas a ampliar os diversos resultados que vem
alcançando nas diversas áreas: Gestão Escolar, Valorização do Professor e
Formação Continuada, Controle Social, Qualidade da Educação Escolar nas
Diversas Modalidades (Educação Infantil, Ensino Fundamental, Educação de
Jovens e Adultos – EJA, Educação Especial).
As ações desenvolvidas pela SEDUC buscam integrar-se aos
Programas desenvolvidos por outras Secretarias do município: Saúde,
Esportes e Assistência Social com vistas a alcançar transformações mais
concretas em nível sócioeducacional. São diversos resultados nos diferentes
campos, a exemplo do fortalecimento da Gestão Escolar com a implementação
das autonomias Administrativa, Financeira e Pedagógica; Aumento progressivo
da proeficiência média dos alunos do ensino fundamental, com base na
alfabetização; melhoria do ambiente escolar; valorização das manifestações
culturais; melhor atuação do professor com perfil pesquisador; espaços de
convivência e aprendizagens ampliados com diversos Projetos (Recreação,
Musicalidade, Leituras, Meio Ambiente, Alfabetização e Inclusão de Jovens e
Adultos...); do bom desenvolvimento das ações de Educação Inclusiva:
consolidando conquistas na relação família, professores, escola; crescimento
do IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica; e outros.
Destaca-se também os mecanismos de avaliação e acompanhamento
de dados da educação no município de Juazeiro, que permitem o diagnóstico
exato da situação do aluno, promovendo, dessa forma, a possibilidade de
intervenção em tempo real - o GERIS (Gerenciamento dos Indicadores de
Sucesso) e o SAEJ (Sistema de Avaliação Educacional de Juazeiro) que são
as ferramentas principais que hoje norteiam, por exemplo, a formação do
professor e a criação de programas pedagógicos.
![Page 16: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/16.jpg)
Considerar a caminhada desenvolvida pela SEDUC viabilizou o
processo de formação continuada com a assessoria do IRPAA envolvendo
professores/as, gestores/as das escolas tanto urbanas como as do campo,
além de técnicos/as da Secretaria de Educação e a equipe da EFEJ numa
metodologia participativa que resultou na construção do presente documento -
Fundamentos para a construção de Diretrizes Político-pedagógicas - que,
espera-se, seja orientador das ações nesta área tanto à nível do Sistema de
Ensino como das unidades escolares.
O trabalho de sistematização das propostas de diretrizes - matrizes
deste documento - se deu mediante um trabalho coletivo estruturado em sete
plenárias distribuídas em sete núcleos, de forma a contar com a maior
participação possível de professores/as e garantir a diversidade das sugestões,
material que subsidiou a elaboração do presente documento.
Finalmente, consideramos serem as proposições deste documento,
parâmetro para a organização da prática pedagógica contextualiza e, portanto,
base para o diálogo entre os conteúdos da Base Nacional Comum do Currículo
e os saberes construídos no enfrentamento cotidiano da produção da
existência bem como a gestão da educação no nível do Sistema Municipal de
Ensino e das Unidades Escolares.
Neste documento dedicamos uma reflexão sobre a Educação do
Campo considerando, inclusive, a interface com a educação para a convivência
com o Semiárido e por entendermos que, estando numa região semiárida,
estas duas abordagens devem ser tratadas de forma articulada evitando
dualidade, quando se tratar de escolas do campo. Porém reafirmamos a
necessidade de regulamentação no Sistema Municipal de Ensino, das normas
emanadas do Conselho Nacional de Educação sobre a Educação do Campo.
Finalmente, entendendo a Educação Contextualizada para a
Convivência com o Semiárido como dimensão do projeto de desenvolvimento
sustentável dessa região, reiteramos a importância deste documento enquanto
o instrumento estratégico na construção da educação que pensa seu lugar
numa perspectiva de envolvimento social e emancipação dos sujeitos. A
educação escolar não resolve os históricos problemas estruturais, mas pode
![Page 17: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/17.jpg)
contribuir fortalecendo as propostas alternativas de viabilidade da vida nessa
região.
O presente documento está organizado em duas partes. A primeira
Educação para a Convivência com o Semiárido (Parte I), estruturada em
três capítulos: 1- Educação contextualizada: construções conceituais, 2 - A
convivência com o semiárido como elemento articulador do processo político-
pedagógico e 3 - A pedagogia de projetos como possibilidade metodológica no
trabalho educativo. Esta parte apresenta uma fundamentação conceitual e
teórico-metodológica da educação contextualizada para a convivência com o
semiárido.
A segunda parte Diretrizes da Educação Contextualizada na
perspectiva da Convivência com o Semiárido (Parte II) está estruturada em
dois capítulos: 1- Marcos Legais da Educação Contextualizada e 2-Diretrizes
da Educação Contextualizada no município de Juazeiro. Traz uma discussão
sobre os fundamentos legais e proposições diretivas da ECSA para o município
de Juazeiro-BA. Ambas as partes estão precedidas por uma introdução que
situa a temática central deste documento - Educação e Convivência: Notas
Introdutórias -; resgatando suas origens e a intencionalidade do município de
Juazeiro em assumi-la como um dos paradigmas orientadores da sua política
educacional.
![Page 18: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/18.jpg)
EDUCAÇÃO CONTEXTUALIZADA: construções conceituais
É preciso construir uma nova visão sobre esse lugar;
o que esse lugar pode nos oferecer, inclusive quais
são suas limitações, seus potenciais. É preciso o
menino saber a história do Semiárido porque a
História do Semiárido é a História do Brasil. Saber,
por exemplo, por que o Rio São Francisco é também
chamado de rio dos currais (...) (Edineusa)
O Semiárido Brasileiro
A discussão em torno da educação contextualizada nos remete
necessariamente a um determinado contexto. A reflexão aqui construída faz
referência à região semiárida, uma vez que o município de Juazeiro situa-se
nela. Assim, nos parece oportuno trazer algumas informações que ajudem a
situar este texto no seu contexto específico.
O Semiárido Brasileiro (SAB) é um território de muitas
cartografias. Desde as primeiras décadas do século XX
que sua área territorial tem sido revista e, revelado que, a
cada delimitação, surge uma compreensão de quem é
esse território, sua natureza e, especialmente, atender
aos diferentes interesses econômicos e políticos para seu
desenvolvimento. (SCHISTEK&CARVALHO, 2011, p.17)
Ainda segundo SCHISTEK&CARVALHO (2011, p.18), as delimitações
do SAB sempre se pautaram pelos critérios pluviométricos, ou seja, pelos
índices de chuvas, mas em 2005 definiu-se uma nova delimitação calcada em
três critérios: o da Precipitação Pluviométrica (média anual inferior a 800 mm),
o do Índice de Aridez (de até 0,5), e o do Risco de Seca (maior que 60%).
![Page 19: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/19.jpg)
Atualmente4 o SAB abrange uma área de 980.133,079 km² e
compreende 1.135 municípios de nove estados do Brasil: Alagoas, Bahia,
Ceará, Minas Gerais (a parte semiárida que compreende as regiões Norte e o
Vale do Jequitinhonha), Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e
Sergipe. Assim esta região representa 11,53% do território nacional,
abrangendo 56,46% do Nordeste.
Segundo o Censo Demográfico realizado pelo IBGE em 2010 no
Semiárido, vivem 22.598.318 milhões de pessoas, destacando-se que mais de
8 milhões (38,03%) pertencem à zona rural, onde se encontra a população
mais empobrecida com índices de qualidade de vida muito abaixo da média
nacional. Representa 11,85% da população brasileira ou 42,57% da população
nordestina.
Sua densidade demográfica de 23,06 hab/km² não parece alta quando
comparada com a média nordestina que é de 28 hab/km². Contudo, tomando
por base outras regiões semiáridas no mundo é o mais populoso, segundo a
ASA5.
Destacam-se entre as características climáticas da região as
temperaturas médias elevadas, a alta evapotranspiração (evaporação potencial
de até 3.000 mm/ano) e precipitações médias anuais inferiores a 800 mm,
extremamente irregulares e concentradas, gerando os períodos de chuvas e
longas estiagens, segundo dados da EMBRAPA (in: GNADLINGER, 2011).
A vegetação com predominância de Caatinga é uma expressão do
clima, onde ocorrem diferentes tipos de espécies, bem como de outros fatores
geoambientais, representados pelo relevo, solo, subsolo e outros aspectos
característicos, os quais enriquecem e embelezam este lugar. A Caatinga é
formada por revestimento baixo de vegetação arbustivo/arbórea com folhas
4
Fonte: www.insa.gov.br/censosab, com base nos dados do IBGE 2010. Acessado em 31/07/2013.5 Fonte: www.asabrasil.org.br/Portal/Informacoes.asp?COD_MENU=105, acessado em janeiro de 2013.
![Page 20: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/20.jpg)
miúdas e hastes espinhentas adaptadas para conter os efeitos de uma
evapotranspiração muito intensa.
A diversidade biológica, principalmente na flora, as várias formas de
manifestações culturais e até mesmo os diferentes microclimas, fazem do
semiárido brasileiro uma região extremamente rica e com grande potencial
para o desenvolvimento. Além disso, encontramos um grande número de
espécies vegetais com propriedades medicinais cujos valores farmacêuticos
são conhecidos e importantes para as populações locais. Tais espécies
carecem pesquisas e estudos sobre a interação do conhecimento popular e
científico no uso das plantas medicinais.
As frutas nativas existentes na caatinga possuem um grande potencial
econômico, pois agregando valor ao produto, transformadas em geleias, doces,
compota, sucos, passas; representam uma excelente fonte de renda para as
famílias do semiárido. A Caatinga, única no mundo, é um dos biomas mais
ricos e seu conhecimento é fundamental e prioritário para o debate da
Educação para a Convivência com o Semiárido Brasileiro. As escolas precisam
incluir nos seus currículos e dar atenção especial a este debate.
O bioma caatinga apresenta grande potencial de produção de forragem,
constituindo na maioria das vezes, a principal fonte de alimentação animal na
região semiárida do nordeste brasileiro, além de ser um potencial econômico
ainda pouco valorizado e estudado. Espécies como o pau ferro, a catingueira a
favela, o mandacaru, o xiquexique, o mororó e o juazeiro que podem ser
utilizadas como opção alimentar, especialmente para caprinos e ovinos. Entre
as espécies de potencialidade frutífera, destacam-se o umbu, o maracujá do
mato, araticum, o murici e o licuri. Há também diversas plantas medicinais,
entre elas podemos destacar a umburana de cheiro, a aroeira, a baraúna, o
pinhão, marmeleiro, o angico e o sabiá.
Nos aspectos sócio-históricos enfatizamos que o Semiárido nordestino
foi colonizado pela expansão dos currais de gado bovino. Os hábitos
produzidos foram ligados à prática de criação extensiva de boi, que só
contribuiu para a desertificação e para o aumento da aridez6. Após a invasão
6 Ver mais em: A Formação Histórico- Geográfica do Semiárido Brasileiro. Texto de SCHISTEK, Harald e CARVALHO, Luzineide Dourado. In Edmerson dos Santos Reis, Luciana
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portuguesa as culturas nativas começaram a ser destruídas em detrimento dos
novos hábitos dos portugueses, que nada conheciam sobre a região.
Com a expansão da exploração das terras do litoral para produção de
cana de açúcar, ainda no século XVII, surgiu a demanda de produtos de
origem animal como a pele, a carne e a força do gado que era usada no
funcionamento dos engenhos e no transporte em geral. Por causa da
produção de cana, o gado teve que avançar rumo às terras do interior onde
eram localizados grandes currais nas proximidades dos rios, o que conferiu ao
Rio São Francisco o título de Rio dos Currais. Todas essas terras usadas para
a criação do gado pertenciam às famílias de Garcia D´Ávila (da casa da torre) e
a de Antônio Guedes de Brito (da casa da ponte). Conforme CAMAROTE,
2010, Pag. 21.
Com a decadência da cana de açúcar e a ausência dos proprietários,
deu-se espaço para um novo contingente que passou ocupar cada vez mais as
terras. As áreas não povoadas tornavam-se devolutas, ou seja, as terras
voltavam a pertencer à coroa de Portugal. Depois da proclamação da
república, àqueles que conseguiram os títulos também passaram a ter
determinados poderes por serem os donos da terra conferindo aos “coronéis”,
poderes absolutos. Às pessoas que trabalhavam nas fazendas era concedida
permissão para criar as cabras nas áreas de pouca fertilidade. Além da figura
do coronel, as áreas não regulamentadas foram ocupadas por posseiros, o que
deu origem ao atual sistema de fundo de pasto.
“Como em todo o país, a terra do Semi- Árido foi objeto
de cobiça e fonte de poder nos quinhentos anos de
história desde a colonização européia. Tomada à força
dos povos indígenas, foi sucessivamente utilizada para
extração e plantio do que interessava à metrópole, e
depois para a pecuária extensiva... o privilégio, por
doação real, e depois imperial, criou nos detentores do
solo a mentalidade de que a terra seria um direito
da Silva Nóbrega e Luzineide Dourado Carvalho (orgs.). Educação e Convivência com o Semiárido: reflexões por dentro da UNEB. Juazeiro-BA: UNEB-DCH-III/UNEB/NEPEC-SAB/MCT/CNPQ/INSA/ Selo Editorial RESAB, 2011.
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exclusivo. Assumiam para si uma parcela do poder
real/imperial, com sua fonte presumidamente divina.
Assim, os indígenas, quando “amansados”, os plebeus,
portugueses ou não, e os negros, quando liberados da
escravidão, não tinham direito à posse ou propriedade da
terra. Não tinham recebido esse “poder”. Por isso, deviam
contentar-se em “viver em terras alheias, viver de favor,
ser morador”. (POLETTO, 2001 p. 13)
Esse é um trecho da história que não podemos deixar de considerar.
Observemos que dele resultam todas as relações de trabalho, de produção e
de sentimento que se tem em torno do semiárido.
Segundo Gonçalves (1997) o modelo de colonização aqui instalado,
preocupado apenas com o acúmulo de riquezas, implantou nesta região um
modo de produção inadequado ao clima e à própria cultura dos nativos. Um
exemplo disso é a criação extensiva do gado bovino.
Antes do “homem-branco” chegar à região do rio Opara –
pois era assim que os “nativos” nomeavam o atual o Rio
São Francisco – ela era habitada por índios de diversas
tribos, grupos e nações: Amoipiras, Tupinambás, Caetés,
Gês, Ocrens, Tamaquiús, Paiaiás, Macarás,
Sacragrinhos, etc. Estes povos, provavelmente já haviam
desenvolvido formas adequadas de manejar a natureza,
diante das particularidades climáticas. Mas destas tribos,
grupos ou nações, sobraram apenas múltiplas frações
misturadas a outras tantas frações de outras raças,
etnias, grupos, nações, etc., que compõem as feições dos
vaqueiros que vieram povoar a região, a partir dos currais
de Garcia D’Ávila (GONÇALVES, 1997: 13-34)7.
7 Proposta Político- Pedagógica de Curaçá :2002, p. 43. Ver também sobre este assunto os trabalhos de Harald Schistek, pesquisador do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA).
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Foi uma mudança brusca e violenta na cultura dos índios, os quais, sem
saídas, se “adaptavam“ facilmente ao trabalho de vaqueiros, complementado
pelo cultivo de roças, pela caça e pela pesca. A violência sofrida pelos
indígenas, não se referia apenas à mudança nos hábitos de produção e
sobrevivência. Os índios foram forçados a assumir um novo conjunto de
valores, bem como a se desfazer de suas crenças em detrimento de uma
forma de vida que não lhes era comum e que para eles não tinham qualquer
significado.
Era o processo de educação que se dava pela imposição de
determinados saberes que à Corte Portuguesa interessavam. Era preciso
instrumentalizar os nativos com a “ cultura portuguesa” para que estes lhes
pudesse servir de escravos. Como ainda não havia escolas (no ano de 1500) a
educação se dava pela“transmissão e indução de cultura”8 no convívio das
gerações novas com as mais velhas. Com a invasão, não só dos portugueses,
mas também dos espanhóis, franceses e outros, a forma de vida dos índios, já
habitantes do Brasil, foi violentamente alterada pelo domínio das tecnologias e
hábitos dos portugueses, impondo aos nativos a condição de dominados e
explorados,
induzindo os índios a uma atitude geral de aprender com
os portugueses. Assim, a língua portuguesa, a religião
cristã, o uso de roupas de linho e algodão, passaram a
ser adotados pelos indígenas. Os índios, sem se
matricular em “escola” alguma, viraram “alunos”. E os
portugueses, sem diploma nem sala de aula, viraram
professores dos adultos, dos jovens e das crianças índias.
(MONLEVADE,2000, in: IRPAA 2002)
Segundo Monlevade esse processo “educacional desescolarizado”
vigorou de 1500 a 1550. Somente em 1551 inicia-se a educação escolar no
8 Segundo Monlevade (2000), por transmissão entendemos aquilo que se passa do patrimônio cultural de uma geração para outra. Por indução entendemos o que se cria de novo no contato das gerações
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Colégio Meninos de Jesus, o qual tinha como reitor Manoel da Nóbrega,
também superior da recém fundada cidade de Salvador. O colégio era
freqüentado por crianças portuguesas e filhos dos índios.“Curumins
amansados da região” e vinte meninos “órfãos”, vindos de Lisboa para serem
cuidados e educados pelos Padres e para constituírem uma maioria branca na
comunidade escolar” (MONLEVADE, Op.cit.)
A finalidade da escola naquela época era de ensinar a ler e escrever,
estudar gramática, latim, retórica filosofia, num caráter missionário, onde todos
os ensinamentos e valores estavam voltados ao cristianismo, no sentido de
legitimá-lo.
Desde então, a escola se destinava a interesses minoritários. A servir a
interesses de uma sociedade de privilégios e violências contra a maioria da
população. E é também resultado dessa história a visão decadente em torno
do semiárido, da qual decorre, principalmente, a prática assistencialista que foi
forjada pelas elites, que não exitaram em explorar a situação dos pobres e
miseráveis nas épocas de “seca” como desculpa para atrair recursos para a
região que, como sabemos; não eram destinados àqueles que mais
necessitavam e sim serviam para sustentar a produção / criatório (de bois) dos
latifundiários.
![Page 25: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/25.jpg)
Juazeiro no contexto do Semiárido
[Colocar numa caixa de texto] – INSERIR IMAGEM RELACIONADA (de ontem
e de hoje)
A história do povoamento e colonização do semiárido, bem como suas
características físicas e culturais se entrelaça à história de Juazeiro.
Um dos fenômenos naturais que se destacam na região é o rio São
Francisco com forte influência na construção da identidade cultural do povo
dessa terra. Foi às margens do Velho Chico9, que se instalaram os primeiros
currais de gado de Garcia D'avilas, vindos da Casa da Torre litoral baiano. A
povoação do Semiárido e também do município de Juazeiro-BA, decorre desse
evento. Ao longo do Rio São Francisco, foram sendo criadas as fazendas, os
vilarejos, e posteriormente se constituíram as cidades10. O rio São Francisco
divide os estados da Bahia e Pernambuco, fator que contribui para a integração
das duas cidades vizinhas, Juazeiro-BA e Petrolina-PE, nos aspectos
geográficos, econômicos, históricos e sociais.
A história de Juazeiro é cantada e contada por diversas vozes, dentre
elas
conta-se que, em determinado ponto da margem direita
do rio São Francisco, existia uma árvore frondosa e de
muita sombra – um pé de juá. Os boiadeiros a
transformaram em ponto de descanso, chamando o lugar
de Passagem do Juazeiro. Aí se cruzaram os acessos
9 Expressão popular de teor afetivo que expressa o orgulho do povo ribeirinho pelo Rio São Francisco.10 Para maiores informações sobre o povoamento às margens do São Francisco, consultar: Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco - Inventário de Conhecimento
do Patrimônio Material . Ministério da Cultura – IPHAN. Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão.://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=1324. Acessado em 19 de junho de 2013.
Ver Também sobre essa temática, Schistek e Carvalho. A formação Histórica e Geográfica do Semiárido Brasileiro.In:REIS;CARVALHO;NOBREGA(orgs). Educação para a Convivência com o Semiárido: Reflexões por dentro da UNEB. UNEB/Departamento de Ciências Humanas – Campus III/UNEB/NEPEC/CNPQ//INSA/Selo Editorial RESAB,2011.p.14-53.
![Page 26: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/26.jpg)
fluvial e terrestre, caminho natural de bandeirantes,
servindo de ligação entre Sul, Nordeste e Norte do país.
Juazeiro foi criado em 1833, sendo que desde 1596 seu
território já era percorrido pelo bandeirante Belchior Dias
Moreira. Em 1706, chegada a Missão São Franciscana
para catequizar os índios da região. Eles construíram um
convento e capela com uma imagem da Virgem que de
acordo com a lenda local, teria sido encontrada por um
índio em uma gruta. Juazeiro foi elevada a categoria de
Vila e posteriormente comarca, tornando-se cidade em 15
de julho de 1878 pela Lei nº 1.814.11
A cidade de Juazeiro ficou conhecida também como o centro cultural da
região, pois, desde os finais do século XIX, registram-se as diversas
modalidades de práticas culturais, ao longo da sua história e que permanecem
na memória do seu povo, como as artes cênicas, danças, etc., o cultivo da
música, o desenvolvimento de uma imprensa local e, mais tarde, também, a
apreciação do cinema, que ficaram guardadas como marcas significativas
presentes na vida local (RODRIGUES,2009, p.161-162.)
Nas três primeiras décadas do século XX, Juazeiro é uma pequena
cidade, mas tem um pujante e crescente desenvolvimento econômico e
cultural, notadamente pela localização geográfica, entreposto de passagem
entre as regiões, Nordeste e Sudeste, o qual se transforma, não apenas em via
de intercâmbio comercial, mas também em grande centro cultural como foi
assinalado acima, que recebe pessoas dessas regiões, de várias localidades
do país e, inclusive, do exterior. Nesse período, já funcionava a ferrovia, que
dava acesso à capital baiana, e a hidrovia, que proporcionava o transporte de
mercadorias entre as diversas cidades ribeirinhas do vale do rio São Francisco
subindo até o Estado de Minas Gerais (CUNHA, 1950 e 1978; e DOURADO,
1973 in:RODRIGUES,2009, p.162-163)
11 Histórico de Juazeiro http://www.juazeirodabahia.blogspot.com.br/
![Page 27: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/27.jpg)
Durante muito tempo a cidade de Juazeiro foi conhecida como "A
Princesinha do Vale" por ser o porto de chegada e saída dos vapores (barcos),
que viviam carregados de diversos tipos de mercadorias e, sobretudo de
passageiros que contavam com o rio como principal via de transporte. Hoje, o
transporte é realizado basicamente por via rodoviária, tendo a Ponte Presidente
Dutra como principal elo entre o Norte e o Sul do país, sendo importante
estrategicamente para a integração do Brasil.
Classificada como Polo de Desenvolvimento a partir do surgimento dos
perímetros irrigados, alentados pela CODEVASF12, após a construção da
Barragem de Sobradinho, grande quantidade de recursos públicos foi investida
no Polo Irrigado de Juazeiro e Petrolina. Estes investimentos, se por um lado
atraíram o capital privado e aumentaram a produção de riquezas, por outro,
geraram um crescimento desigual do ponto de vista social e econômico,
aglomerando multidões de boias frias, que vivem em bairros pobres
desestruturados e trabalhando sem terem os mínimos direitos respeitados.
Segundo dados do Plano de desenvolvimento territorial do Sertão do São
Francisco, Juazeiro é um dos municípios que possui maior presença de
imigrantes devido às oportunidades de trabalho oferecidas pelas atividades
econômicas locais, entre elas, agricultura irrigada.
Juazeiro conta com um Distrito Industrial do São Francisco (DISF), com
diversas indústrias que geram muitos empregos diretos e indiretos. Juntamente
com Petrolina – PE se tornou um grande centro produtor de frutas tropicais que
abastece o mercado interno e são exportadas para vários países. A
hortifruticultura irrigada desponta com uma significativa produtividade das frutas
(uva, manga, banana, goiaba e melancia), com maior destaque para a manga e
a uva. A região passou a ser reconhecida nacional e internacionalmente pela
qualidade na produção de vinhos.
12 A Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco é uma empresa pública, vinculada ao Ministério da Integração Nacional, que promove o desenvolvimento e a revitalização das bacias dos rios São Francisco e Parnaíba com a utilização sustentável dos recursos naturais e estruturação de atividades produtivas para a inclusão econômica e social. Com a Lei Nº 12.196, sancionada em 14 de janeiro de 2010, passa a atuar também nos vales dos rios Itapecuru e Mearim, no estado do Maranhão.
![Page 28: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/28.jpg)
Outro aspecto a se considerar é a beleza e a riqueza cultural desse
lugar, fruto da mistura de diferentes povos, indígenas, quilombolas,
pescadores, ribeirinhos. Juazeiro tem uma forte influência da cultura africana,
sendo evidente nos grupos de capoeira e samba de véio e diversas produções
e manifestações culturais, tais como, Penitentes, Carrancas, Nego D' água e
outros.
Em divisão territorial datada de 1988, Juazeiro é constituído de oito
distritos: Salitre, Abóbora, Carnaíba do Sertão, Itamotinga, Junco, Juremal,
Massaroca e Pinhões. Assim permanecendo em divisão territorial datada de
200713. O município é constituído por diferentes contextos: rural (ribeirinho, a
realidade da caatinga ou área de sequeiro) e urbano (as periferias e centro),
compondo um cenário plural e diverso, onde as pessoas estabeleceram
interação de vida e intervenção através do trabalho, conforme a dinâmica
oferecida pelo ambiente.
As populações que vivem na região de sequeiro vivem da agropecuária,
do extrativismo e agricultura de sequeiro ou a agricultura dependente de chuva.
Aquelas que estão mais próximas de uma área com água permanente,
dedicam-se à agricultura irrigada.
Na área de Sequeiro destacam-se
as comunidades de Fundo e Feche de Pasto [que] são
formações socioeconômicas que configuram um modelo
singular de uso e posse da terra cuja expressão social vai
além de sua importância produtiva. Construíram
historicamente, um modelo de vida particular no
Semiárido baiano, onde os costumes, alicerçados nas
relações de parentesco e compadrio, criaram regras
consensuais e orientam o uso comum de terras para
criação de gado de pequeno porte articulado com o uso
individual de parcelas dispersas, onde plantam e residem.
(GERMANI e OLIVEIRA, 2008 p. 16)
13 Histórico de Juazeiro http://www.juazeirodabahia.blogspot.com.br Acessado em
![Page 29: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/29.jpg)
Os Fundos de Pasto estão tradicionalmente associados à pecuária
extensiva via o pastoreio da vegetação natural da caatinga. Esse modo de
exploração dos recursos naturais funcionou durante vários séculos, mas, hoje,
tornou-se mais raro no Sertão do Nordeste brasileiro, onde, geralmente, o
espaço foi apropriado e cercado individualmente (SABOURIN,1996). Em
Juazeiro são 28 comunidades com áreas de uso coletivo.
Os Pescadores representam grupos de homens e mulheres que vivem
da pesca artesanal ao longo do Rio, enfrentando grandes dificuldades, que
tanto têm ameaçado a convivência desses trabalhadores. A ameaça é também
para a manutenção de um estilo de vida que se contrapõe aos grandes
empreendimentos pesqueiros representados, principalmente (criação de peixes
em cativeiros).
As Ilhas também se destacam como pontos turísticos e lazer, a exemplo
da Ilha do Rodeadouro, a 12km do Centro de Juazeiro, uma das mais
frequentadas Ilhas da região, com praias de areias alvas e excelentes para
banho. Com uma razoável infraestrutura, a ilha possui barracas onde os
visitantes podem degustar os mais variados pratos da região. Ao longe, é
avistada a Ilha do Massangano, habitada por remanescentes de Quilombos,
que vivem da agropecuária e da pesca.
No que se refere à educação o sistema municipal de ensino conta com
123 escolas, com uma matrícula de aproximadamente 27.000 (vinte e sete mil)
estudantes e conta com, aproximadamente 2.000 (dois mil) profissionais do
magistério, entre professores gestores e outros, no atendimento a essa
população 14. Na cidade há algumas instituições de ensino superior , a
Universidade do Estado da Bahia (UNEB), pública estadual, a Universidade
Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), pública federal, e a Faculdade
São Francisco de Juazeiro (FASJ), privada além de várias faculdades de
14 Fonte : http://www.upb.org.br/uniao-dos-municipios-da-bahia/informativos-e-noticias/index.php?id=12336#sthash.Rr09eGiJ.dpuf.Acessado em 15 de junho de 2013
![Page 30: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/30.jpg)
ensino a distância como a FTC (Faculdade de Tecnologia e Ciências), e a
UNOPAR (Universidade do Norte do Paraná) e a UNIDERP-ANHANGUERA.
![Page 31: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/31.jpg)
Educação Contextualizada
Em princípio, toda educação é contextualizada, ou seja; tem um
contexto de referência, remete à pessoas, espaços (lugares) e tempos,
aspectos culturais, costumes, etc. Há sempre referências que amparam,
sustentam as narrativas, intencionalidades cimentadas por ideologias,
vontades, ainda que distantes ou estranhas ao chão mais próximo dos sujeitos
usuários dessas mensagens. E, sendo assim, alheia à realidade na qual os
sujeitos estão inseridos, ela se apresenta descontextualizada em relação a
esse contexto mais próximo, a essa cultura, à história dos sujeitos construída
no enfrentamento da produção da existência.
Dessa forma, quando se diz que a educação escolar no Semiárido
brasileiro é descontextualizada, o que se pretende chamar a atenção é para o
fato de que os materiais didáticos historicamente destinados às escolas dessa
região negligenciaram a realidade desse lugar ou, quando a ela se referem a
desenham sob uma visão de miséria, pobreza, de rudeza das pessoas e sem
perspectiva de vida. Retratada assim, para quem nunca esteve nessa região a
ideia que fica a partir de certas abordagens estereotipadas e, muitas vezes
carregadas de preconceitos, é de que nesse lugar não há possibilidades de
produção da vida. Isto não significa dizer que não se enfrenta grandes
dificuldades, especialmente nos momentos de grandes estiagens e naquelas
comunidades que não estão organizadas em algum coletivo na construção do
paradigma da convivência com semiárido. A realidade se impõe e, em certos
momentos a situação é mesmo desoladora.
A seca é um fenômeno natural e inevitável, portanto, incompatível e, a
não ser que aconteçam grandes mudanças climáticas no planeta que venham
a provocar mudanças radicais no clima da região, esse fenômeno vai ocorrer
sempre e suas consequencias geram de fato, grande sofrimento. Nesse
momento, as imagens e o discurso veiculados sobre as consequencias da seca
no Semiárido retratam exatamente o que está ocorrendo e isso não pode ser
desconsiderado quando, na educação contextualizada para a convivência com
![Page 32: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/32.jpg)
o Semiárido, o conhecimento da realidade com todas as suas peculiaridades é
objeto de estudo na escola.
Porém, a educação escolar precisa problematizar esse fato, inclusive
apontando as diferentes alternativas ou tecnologias de convivência com o
Semiárido, construídas pela população, tendo a natureza como sua maior
mestra. Apontar, inclusive que os problemas crônicos da Semiárido são muito
mais de ordem política do que climática. O que tem sido questionado por quem
se empenha na construção do paradigma da convivência é a forma como esta
questão tem sido tratada na escola. As históricas políticas hídricas de combate
à seca15 sem problematização, os estereótipos que são construídos sobre o
Semiárido e sobre as pessoas, a secundarização das potencialidades locais e
da cultura de convivência que vem sendo construída, resgatando saberes
históricos, criando e recriando, estratégias de convivência com o Semiárido
e,assim, desmistificando o paradigma de combate à seca.
Neste sentido, contextualizar a educação escolar no Semiárido brasileiro
é muito mais que apenas tomar aspectos naturais e culturais desse lugar como
objetos de estudo. É problematizar essa questão, refletindo, por exemplo,
sobre os porquês do Estado ainda não ter criado as condições de
enfrentamento dos períodos de estiagens minimizando as consequências deste
fenômeno.
O professor Josemar da Silva Martins – Pinzoh - (2006, 2011) tem
chamado a atenção para a questão da contextualização do currículo no
Semiárido brasileiro destacando que tem se perpetuado, inclusive nos livros
didáticos, a reprodução da cultura colonialista. Ou seja, as narrativas, assim
como as imagens construídas sobre essa região materializam a visão do
dominador, portanto, do colonizador, seja o europeu ou as elites locais que
falam como expectadores, de uma realidade que pouco conhecem. Falam de
fora e escrevem para (enviam) e não o fazem a partir do lugar e da concepção
dos sujeitos que aí vivem.
15 O paradigma do “combate à seca” orientou durante décadas as políticas do Estado destinadas à região Nordeste, sobretudo as políticas desenvolvidas pela SUDENE..
![Page 33: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/33.jpg)
A “educação contextualizada”, portanto, beneficiando-se
ainda das contribuições de Freire e das experiências da
Educação Popular, parte do princípio de que, para romper
com a “situação colonial de descontextualização” é
preciso fazer a educação se vincular à vida, tratar dos
temas, da cultura, dos saberes, dos sentires dos diversos
sujeitos implicados nos processos de educação. É
preciso, portanto, que os sujeitos reais, onde quer que
estejam, com suas diferenças culturais, sociais, de credo,
com suas verdades diversas, possam participar do
processo educativo legitimamente, e que a educação
tenha este universo específico como seu manancial de
produção de conteúdos, de novos saberes, e de produção
de sentido para o próprio ato pedagógico (MARTINS,
2011, p.67-68)
Concebendo por esta ótica, contextualizar educação escolar no
Semiárido é problematizar essas visões veiculadas há séculos e apontar as
diferentes possibilidades de produção da vida. É resgatar a Historia dos povos
do Semiárido, as suas heranças incrustadas nos saberes que orientam a
construção dos jeitos de viver nesse lugar considerando as suas
especificidades e elucidando a diversidade de possibilidades. É desvendar
aspectos da história que vem sendo contada a partir dessa matriz construída
sob o estigma da colonização e veiculada pelos vencedores, (MARTINS (op.cit.
p.47-48) e que se reproduz nos processos pedagógicos como verdades, a
partir da ótica da elite dominante e conforme os seus interesses. No entanto é
importante destacar que as classes subalternas (GRAMSCI) sempre, desde os
primeiros momentos de nossa História, resistiram de diferentes formas e que
nesse momento constroem sob outra ótica, um projeto de desenvolvimento
fundado na sua cultura. O paradigma da convivência com o Semiárido,
materializa essa reação intervindo diretamente na formulação de políticas
publicas referenciadas nas condições materiais dadas e na cultura e neste se
inscreve a proposta de educação para a convivência com o Semiárido.
![Page 34: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/34.jpg)
Contextualizar educação escolar no Semiárido brasileiro é também
resgatar a identidade dos povos dessa região, opacizada no secular processo
histórico de uma colonização incorporada à cultura das elites dirigentes e, de
certa forma, influenciando o imaginário coletivo. Por esta razão, desconstruir
essas visões não parece ser um processo fácil já que implica reconstruir uma
cultura secular, reaprender a ler o mundo sob a ótica dos que vivem e
trabalham/produzem a vida no Semiárido e, neste aprendizado, compreender
criticamente as intencionalidades das visões estereotipadas, operando um
rompimento com as narrativas hegemônicas sobre a região e sobre as pessoas
e construindo contra-hegemonia, embasada em outras leituras da realidade do
Semiárido e na cultura desse lugar
Com base nesse entendimento é que a RESAB traz a
perspectiva da Educação para a Convivência, sendo o
princípio da convivência universal, mas não
universalizante, pois carrega em si o fundamento de que
cada lugar é singular e essa singularidade precisa ser
respeitada em toda e qualquer prática educativa que
paute no desenvolvimento integral e sustentável das
pessoas e do lugar que habitam ( REIS,2011,p.131)
Neste sentido, é importante registrar que, embora estejamos tratando de
uma região - o Semiárido – esse princípio, como acima anunciado deveria ser
observado na prática educativa em qualquer região brasileira.Pois o estigma da
colonização expresso nas narrativas hegemônicas se incrusta na cultura
brasileira não apenas numa região, e historicamente vem sendo reproduzidos
nos livros didáticos que são feitos nos grandes centros, geralmente no Sudeste
e destinados, igualmente, à todas as regiões do Brasil.Mesmo quando os
movimentos organizados reagem à padronização dos textos e narrativas nos
livros didáticos, mesmo assim nas propostas alternativas acabam prevalecendo
as do sul ou sudeste.e sendo assim, esse material reproduz a lógica da
![Page 35: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/35.jpg)
descontextualização, fazendo “perdurar o mimetismo
pedagógico”(MARTINS,op.cit,p.49-50).
Se estamos reclamando por uma educação que parta das
particularidades locais, referenciada na realidade dos sujeitos concretos, tal
educação planejada, fora e com outras referências, ela é descontextualizada
em relação ao lugar do qual estamos falando e no qual operamos a produção e
reprodução social da vida.
Assim, a escola enquanto lugar, por excelência, de apropriação do
conhecimento historicamente sistematizado e de produção de novos
conhecimentos, tem um papel fundamental no sentido de criar as condições
para que os/as educandos/as conheçam efetivamente seu lugar e sobre este
possam se posicionar. Um processo que se dá numa pratica pedagógica,
necessariamente contextualizada, mediante a qual os sujeitos da
aprendizagem possam desenvolver habilidades para acessarem, informações
que possibilitem uma formação intelectual qualificada para uma intervenção
política na sua própria realidade. Que permitam situarem-se no local e ao
mesmo tempo no contexto mais amplo do país e do mundo. Pois a Educação
Contextualizada para a Convivência com o Semiárido não deve ser localista
produzindo isolamentos, mas deve qualificar os sujeitos para o bem viver seja
no local ou fora deste, e isto exigem mais do que conhecer aspectos materiais
da realidade na qual está inserido. Exige isso e muito mais, exige a construção
de outra lógica, pautada no sentimento de pertencimento, mas com a plena
consciência de estar no mundo e com o mundo como ensina Paulo Freire. Por
isso, um dos pressupostos da educação contextualizada para a convivência
com o Semiárido é a construção da compreensão da relação
campo/cidade/campo,local/global/local com espaços interdependentes.
É nessa perspectiva que a Rede de Educação do Semiárido Brasileiro
(RESAB) vem construindo e concebendo a educação escolar no Semiárido
brasileiro. Uma proposta de educação que contemple os diferentes processos
formativos que se constituem a partir das múltiplas dimensões da realidade na
qual a escola está inserida,contemplando também as experiências educativas
não escolar; práticas pedagógicas diversas, construindo novas visões e
![Page 36: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/36.jpg)
concepções de mundo. E nesse processo, desmitificando concepções
equivocadas. Portanto com intencionalidades explicitadas na prática
pedagógica já que, como ensina Freire à educação não é neutra. Ancorada
nessa visão,
A primeira intencionalidade da contextualização da
educação escolar no Semiárido Brasileiro é construir,
desde a escola, uma visão plural desse lugar,
descortinando as suas especificidades e potencialidades
tanto no que se refere às possibilidades naturais e
culturais ou históricas como do ponto de vista do
conhecimento, dos saberes que as pessoas produzem no
enfrentamento do dia a dia, construindo diferentes formas
de viver nessa região. Nessa direção, a educação
contextualizada tem um papel político fundamental que é
o de desmistificar a ideia de Semiárido historicamente
disseminada, sobre o lugar e sobre as pessoas,
problematizando e ressignificando essa visão mediante a
leitura crítica de mundo (SILVA, 2011, p. 31-32)
Trata-se de refazer o caminhar da formação escolar no Semiárido
Brasileiro, nos processos de apropriação do conhecimento historicamente
elaborados, identificando a sua pertinência no Semiárido, compreendendo o
seu significado e descortinando aquilo que foi omitido nas informações
veiculadas ou que foi tratado de forma equivocada. Elucidar a História desse
lugar problematizando os aspectos que a formataram a História que foi contada
e passada de geração em geração encortinando as potencialidades do lugar e
desenhando, em lugar da boniteza, com fala Freire, a feiúra. Destacando,
assim, muito mais os envergonhamentos dos quais sempre fala o professor
Josemar da Silva Martins (2006), quando fundamenta a importância da
contextualização da educação no Semiárido Brasileiro
A educação contextualizada na perspectiva da convivência com o
![Page 37: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/37.jpg)
Semiárido se propõe a dar visibilidade às potencialidades da região bem como
à sabedoria do povo que, apesar das dificuldades e limitações impostas pelas
condições climáticas e, sobretudo, políticas, está constantemente criando e
recriando novas maneiras de viver nesse lugar. Em síntese, a contextualização
do currículo escolar no Semiárido é concebida como uma ruptura ao histórico
processo de ensino e de aprendizagem simplificado e obsoleto, isolado no
espaço físico da escola, materializado na repetição de conteúdos fragmentados
em cada disciplina, sem problematização e descolados da realidade na qual os
sujeitos estão inseridos. A contextualização político-pedagógica da educação
exige um redimensionamento de toda a prática pedagógica. Desde a
concepção e fundamentos histórico-filosóficos da educação ao tratamento
metodológico dos componentes curriculares. Para tanto, professores/as, assim
como a escola, enquanto instituição necessita de qualificação permanente,
aprendendo e ensinando novos fazeres pedagógicos na perspectiva apontada
por Silva
Nesse sentido, a educação contextualizada, para alcançar
êxito, exige qualificação permanente mediante formação
continuada dos educadores e educadoras no repensar de
sua prática pedagógica, no tratamento dos conteúdos
curriculares, nas relações internas, especialmente no que
se refere à gestão, na interação com a comunidade,
ressignificando os conteúdos na leitura da realidade.
Enfim, exige repensar o papel da escola, dando-lhe outro
sentido, ou resgatando a sua função social e recolocando
o seu lugar na construção de um novo entendimento
sobre a sociedade e sobre o papel dos sujeitos na
construção histórica. Para isso, o currículo tem de ser
redimensionado e a prática pedagógica, qualificada numa
nova perspectiva ( SILVA. op.cit.,p.30-31).
É a partir deste entendimento e do compromisso de romper com a
descontextualização do currículo que afirmamos a importância de uma
![Page 38: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/38.jpg)
educação que, “com os pés no chão” (Martins, 2006) da realidade contribua na
formação de cidadãos e cidadãs ativos/as16. Para tanto, é de fundamental
importância que na pratica pedagógica contextualizada privilegie os
conhecimentos historicamente sistematizados pela humanidade nas diferentes
áreas de conhecimento, como instrumentos básicos no diálogo entre a ciência
e o saber popular ou senso comum. Estes, assim tratados, informam a
construção do conhecimento pertinente.
O Conhecimento pertinente deve enfrentar a
complexidade. Complexus significa o que foi tecido junto;
de fato há complexidade quando elementos diferentes são
inseparáveis constitutivos do todo (como o econômico, o
político,o sociológico,o psicológico, o afetivo, o
mitológico); e há um tecido interdependente interativo e
inter-retroativo entre o objeto de conhecimento e seu
contexto as partes e o todo, o todo e as partes e as partes
entre si. Por isso a complexidade é a união entre a
unidade e a multiplicidade (MORIN,2000. p.38).
O currículo contextualizado, como afirma Reis (2011, p.109) “precisa ser
compreendido como um campo de transgressões e insurgências
epistemológicas não limitantes ao contexto, mas sempre chegando ou partindo
deste.” Nesta perspectiva é possível estabelecer a comunicação/interação dos
diferentes saberes: locais e globais, os chamados conhecimentos científicos e
os saberes populares ou senso comum, sem promover os equívocos de, na
pratica pedagógica, afirmar verdades absolutas, acabadas inquestionáveis;
mas construir a compreensão de que as verdades são relativas e depende da
concepção do narrador, das intencionalidades político-ideológicas, do espaço-
tempo em que os fatos ocorrem. Como ensina Santos (2000, p.52.), “é o lugar
16 Cidadania Ativa na compreensão de Maria das Vitórias Benevides,significa: ”participação popular, transformação e controle sobre o poder, ou os poderes, em vários níveis e instância.In: Cidadania Ativa Referendo,Plebiscito e Iniciativa Popular.(1991)
![Page 39: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/39.jpg)
que dá conta do mundo”. Dizendo de outra forma, é a partir da compreensão
do local que se pode compreender o mundo. O local na proposta de educação
para a convivência com o Semiárido se refere à comunidade, ao município, à
região. Mas não significa, em hipótese alguma o isolamento no local, a
educação contextualizada não constrói cercas impermeáveis, não limita o
mundo aos horizontes do lugar. O diálogo de saberes, nessa perspectiva, é
necessário na construção do conhecimento. Bueno (2010)17
A Cidade e o Campo no Semiárido brasileiro
A interface cidade/campo deve ser uma preocupação de todos/as
educadores e educadores/as tanto nas escolas da sede do município quanto
nas escolas do campo especialmente no atual momento, considerando que o
desenvolvimento das tecnologias vem encurtando a distância entre esses
espaços e, inclusive, influenciando significativamente a visão de mundo das
pessoas que vivem no campo: os hábitos, a forma de se vestirem e até nos
hábitos alimentares. È de fundamental importância trabalhar na escola a
interdependência entre o campo e a cidade destacando a contribuição de cada
um desses espaços na produção da vida a partir das condições materiais que
comporta cada um em especial. Ou seja, tanto o campo precisa da cidade
como a cidade precisa do campo, numa relação de interdependência e não de
subordinação.
Assim, a relação campo/cidade é um componente fundamental no
currículo escolar, independente da localização da escola, seja no campo ou na
cidade. Tomar o campo como objeto de estudo, dependendo da forma como
for abordado na pratica pedagógica, pode ser uma boa estratégia para
problematizar certos equívocos na compreensão sobre a vida no campo,
desmistificando a ideia de inferioridade desse lugar ou das pessoas aí
residentes em ralação às cidade; ou que o campo interessa apenas àqueles
que vivem do e no campo e que os camponeses são pessoas ignorantes.
Resgatar a contribuição dos povos do campo na construção de formação social
17 Professor Rovilson José Bueno. Palestra proferida por ocasião do I Seminário de Educação Contextualizada para a Convivência com o Semiárido. Campina Grande PB, no período de 30 de maio à 02 de junho de 2010.
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brasileira é reconstruir a história contada durante séculos sob a visão das
elites, resgatando o papel dos verdadeiros protagonistas.
A educação do campo deve compreender que os sujeitos
possuem história, participam de lutas sociais, sonham, têm
nomes e rostos, lembranças, gêneros, raças e etnias
diferenciadas. Cada sujeito individual e coletivamente se
forma na relação de pertença à terra e nas formas de
organização solidária.. Portanto, os currículos precisam se
desenvolver a partir das formas mais variadas de
construção e reconstrução do espaço físico e simbólico, do
território, dos sujeitos, do meio ambiente (MUNARIM,2011,
p.11)
É importante registrar que quando se trata de escolas do campo o
projeto político-pedagógico deve ser construído com base nos princípios da
educação do campo. Portanto temos que ter presente sempre que a Educação
Contextualizada para a Convivência com o Semiárido, no campo, contempla
também, os princípios da educação do campo, não havendo necessidade de
separação entre uma e outra abordagem como muitas vezes tem acontecido. A
proposta de Educação Contextualizada empreendida pela RESAB, ao remeter
às especificidades e potencialidades locais, convida educadores/as e
educandos/as uma imersão no contexto, como já anunciado, dialogando com
os fatos e os fenômenos da realidade local e com os saberes aí produzidos. Se
a escola está no campo, as questões da vida no campo são, necessariamente,
objetos de estudo nesta proposta, inclusive a abordagem das questões
nacionais relativas ao campo como a Questão Agrária e nesta, com destaque
especial para a Reforma Agrária, trabalhadas sob os pressupostos da
contextualização e, portanto, observados os elementos do contexto do campo
como referência, ponto de partida na construção do conhecimento nas escolas
do campo.
![Page 41: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/41.jpg)
Contexto é o conjunto de elementos ou de entidades,
sejam elas coisas ou eventos, que condicionam, de um
modo qualquer, o significado de um enunciado, ou seja,
que permitem a um sujeito dotado de consciência,
construir um entendimento, um sentido sobre uma coisa
ou evento com os quais entra em contato. O contexto é,
portanto, uma forma de habitat; é um meio e define uma
ecologia. Evidentemente, em se tratando de mundo
humano este meio, este habitat e a ecologia aí implicada,
dizem respeito à cultura, à linguagem, às formas de
comunicação humanas e ao regime de signos que rege
esta comunicação, e não apenas às coisas físicas e
palpáveis (MARTINS, 2006. p. 44).
Seja no campo ou na cidade, por mais interessante que sejam as
questões locais tomadas como objetos de estudo, o tratamento destas
especificidades não deve nunca promover o isolamento no local ilhando os
sujeitos, mas trabalhar a relação cidade/campo/cidade e local/global. No
Semiárido Brasileiro como em outras regiões afastadas de grandes centros
urbanos, a maioria das escolas está localizada nas áreas fora do perímetro
urbano. Nestas, o projeto político-pedagógico, como já anunciado, deve está
fundamentado nos princípios da Educação do Campo tratados em interação
com os princípios da Educação para a Convivência com o Semiárido,
atentando para as suas especificidades pedagógicas e particularmente, para
as questões políticas do projeto da educação do campo que nasce vinculada à
luta dos movimentos sociais do campo, concebidas como parte de outro projeto
de campo e de desenvolvimento.
Um projeto que denuncia as contradições da sociedade capitalista e
anuncia um novo projeto de sociedade, de homem e de mulher. Neste sentido,
resgata o conceito de campo e de camponês e anuncia também as estratégias
de construção do paradigma da educação do campo em contraponto à
educação rural. Como afirma Caldart (2004).
![Page 42: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/42.jpg)
O movimento inicial de Educação do Campo foi o de uma
articulação política de organizações e entidades para a
denuncia e luta por políticas publicas de educação no e
do campo, e para mobilização popular em torno de um
outro projeto de desenvolvimento . Ao mesmo tempo tem
sido um movimento de reflexão pedagógica das
experiências de resistência camponesa constituindo a
expressão e, aos pouco o conceito de Educação do
campo (CALDART, 2004,p.19-20).
Trata-se não mais de uma educação pensada para os camponeses sem
a sua participação, mas uma educação dos/as camponeses/as (CALDART,
op.cit. p.28), porque formulada, pensada com a sua participação e parte
integrante do seu projeto de emancipação cidadã. Neste sentido, a Educação
do Campo integra o conjunto de direitos que estão na pauta de luta desses
sujeitos, por uma sociedade mais justa, mais igualitária e especialmente,
pertinente. Uma sociedade, como se tem anunciado, economicamente justa e
ecologicamente sustentável18. (Pois é especialmente no campo onde estão se
acirrando as contradições do projeto capitalista de desenvolvimento, predador
da natureza e cada vez mais explorador e expropriador das classes
subalternas (GRAMSCI, 2002,p.135). Portanto, trata-se de uma educação que
vem “desenhando a identidade” (CALDART, 2004, p.151) do camponês como
sujeito político. Rompe, com a cultura secular de desprezo pela cultura dos
povos do campo19 que os sujeita a uma educação domesticadora, vinculada à
modelos perversos de desenvolvimento, concentradores de terra e de renda e
produtor permanente de novas exclusões. Um exemplo dessa realidade é a
18 Sustentável – referente ao processo de desenvolvimento em que as necessidades das gerações atuais são satisfeitas sem comprometer as possibilidades de atender às necessidades das gerações futuras mediante a preservação e conservação dos recursos naturais.19 Povos do campo – diferentes comunidades camponesas – assentados, agricultores familiares em geral, ribeirinhos, extrativistas, assalariados no campo, indígenas, quilombolas, meeiros, pequenos posseiros, atingidos por barragens,quilombolas, povos das águas e das florestas,etc.
![Page 43: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/43.jpg)
questão da educação escolar na região do Semiárido que apesar das políticas
de inclusão dos últimos anos, o analfabetismo nessa região ainda representa o
maior índice em relação ao país e à outras regiões, sendo a maior
concentração no campo.
Nessa região embora se saiba que as cidades são caracteristicamente
rurais, a sua população, como no Brasil, em geral, está concentrada nos
chamados perímetros urbanos, no entanto, a grande maioria das escolas,nos
municípios do interior, está situada no campo. Sendo assim as políticas
públicas de educação, na maioria dos Sistemas de Ensino deve ter o campo
como o principal contexto/referência para a formulação das políticas
educacionais. O importante é que se estamos tratando de educação nas
escolas do campo respeitemos a identidade das pessoas que aí vivem
construindo o sentimento de pertencimento de forma que as pessoas
aprendem a valorizar a sua cultura enquanto camponês e no caso em pauta,
um camponês do Semiárido Brasileiro, resgatando aspectos fundamentais da
identidade das pessoas e, consequentemente, da escola do campo
A identidade da escola do campo é definida pela sua
vinculação às questões inerentes à sua realidade,
ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos
estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na
rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e
nos movimentos sociais em defesa de projetos que
associem as soluções exigidas por essas questões à
qualidade social da vida coletiva no país ( Resolução
n°01/2002/ CEB/MEC).
Na formulação dos Projetos Político-pedagógicos, os aspectos da
realidade local, identificados mediante diagnósticos conduzidos pela escola,
são indicadores do planejamento escolar seja na cidade ou no campo. As
escolas do campo, por séculos relegadas à segundo plano, devem agora ser
trazidas para o centro do debate das políticas estaduais e municipais de
educação e assim, como já anunciado, é possível trabalhar a dimensão da
![Page 44: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/44.jpg)
Convivência com o Semiárido na proposta de Educação do Campo, quando se
tratar de escolas do campo, ou trabalhar a educação do campo na proposta de
Educação para a Convivência com o Semiárido, dependendo da filosofia da
escola, seus objetivos e metas, em conformidade com os objetivos e as metas
do Plano Municipal de Educação( PME) e com as normas do Conselho
Municipal de Educação.
Chamamos a atenção para o conceito de escola do campo, conforme
previsto no artigo 1º do Decreto 7.352/2010. Este Decreto define escola do
campo, não apenas aquela localizada fora do perímetro urbano, mas também,
aquela que mesmo localizada na cidade a população escolar é
predominantemente oriunda do campo. Neste caso, o Conselho Municipal de
Educação deve baixar normas orientando a elaboração do PPP desta escola,
de forma a considerar as características da população e o seu contexto de
origem, a cultura camponesa e os saberes populares.
![Page 45: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/45.jpg)
A CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO COMO ELEMENTO
ARTICULADOR DO PROCESSO POLÍTICO-PEDAGÓGICO
Se se pretende transformar a realidade, é necessário
compreender o cotidiano e a trama diária de relações,
emoções, perguntas, socialização e produção do
conhecimento que se cria e se recria continuamente.
Antonino Condorelli
A Educação Contextualizada para a Convivência com o semiárido tem
como um de seus pilares o compromisso com a aprendizagem significativa20.
Ou seja, aquela, como ensina Moreira (1997) “em que o aprendiz é um
perceptor ativo, capaz de criar representações, de fazer transferências, de
compreender criticamente”. Na aprendizagem significativa o sujeito não é
apenas um mero receptor, mas um perceptor. Para tanto, o êxito nesse
processo depende do conhecimento que a pessoa já traz( ou conhecimento
prévio) e também da relevância dos novos conhecimentos.
Paulo Freire, durante toda a sua vida, ao questionar a educação
bancária, nos ensinou a ajudar na construção de aprendizagens significativas,
considerando a leitura de mundo do sujeito. A rigor, trata-se de considerar os
processos cognitivos. No caso da educação contextualizada para a
Convivência com o Semiárido, consideramos que no diálogo entre os
conhecimentos científicos e as informações que o sujeito tem do seu mundo,
as suas concepções e visões de mundo e informações sobre a realidade e no
caso a realidade do Semiárido) são as bases de uma aprendizagem que tenha
sentido na vida dos sujeitos que trabalham e vivem nessa região .
Um processo de ensino e de aprendizagem que ajuda as pessoas a
pensarem seu lugar, a compreenderem as relações micro e macro sociais nas
20 Sobre aprendizagem significativa consultar, entre outros, Moreira, M.A., Caballero, M.C. e Rodríguez, M.L. (orgs.) (1997). Actas del Encuentro Internacional sobre el Aprendizaje Significativo. Burgos, España. pp. 19-44
![Page 46: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/46.jpg)
quais estão envolvidas, e a superarem a criarem as condições necessárias
para sua existência. É também nesta perspectiva que apontamos o trabalho
formativo a partir de eixos temáticos como metodologia que melhor possibilita
uma formação integrada na qual a dimensão política e a pedagógica se
articulam, favorecendo a construção de um conhecimento que qualifica,
potencializa e amplia a intervenção pedagógica do educador.
Assim, podemos apontar quatro EIXOS que, num processo pedagógico
contribuem para melhor percepção acerca do ambiente diverso que é o
semiárido enquanto realidade na qual a prática educativa está inserida:
natureza, cultura, trabalho e sociedade.
Trabalhados de forma articulada e problematizadora estes temas
viabilizam a construção de conhecimentos acerca dos aspectos naturais,
climáticos e físicos desta região, bem como das variadas e múltiplas formas de
relações materiais e imateriais que caracterizam sua dimensão cultural. Outro
elemento importante na tecitura de novo fazer pedagógico são as formas de
produção e apropriação das condições materiais de existência e as múltiplas
relações sociais que orientam o conviver das pessoas. Articular, portanto, estas
dimensões como campos integrados do conhecimento, amplia a visão sobre as
peculiaridades e particularidades da região semiárida, contribuindo no
fortalecimento do que chamamos de paradigma da convivência. Uma
construção nascida no movimento da Sociedade Civil organizada no
enfrentamento da construção de alternativas de produção da existência na
região semiárida. Portanto no trabalho de produção de novas visibilidade sobre
o Semiárido, desvelando a suas potencialidades.
Substituir o cone por circulo
CONVIVÊNCIA COM OSEMIÁRIDO
SOCIEDADE
NATUREZA
CULTURA
TRABALHO
![Page 47: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/47.jpg)
A convivência com o semiárido enquanto elemento articulador da
proposta de Educação Contextualizada, parte da concepção de que existem
diversas dimensões da vida e estas se diferenciam e tomam contornos
particulares devido à multiplicidade dos elementos físicos, políticos,
econômicos, sociais, culturais e ambientais, dispostos no meio ambiente do
Semiárido.
No que se refere à escola é imprescindível que ela se reconheça dentro
desse meio e perceba qual o seu papel num conjunto mais amplo de
discussões. Só assim poderemos construir propostas educativas onde o
contexto sociocultural dos educandos e das educandas, seja elemento que
direciona e conduz as ações pedagógicas, invertendo a lógica que até então
ratificou o discurso de que a escola precisava adequar-se à realidade.
Estes eixos, somente didaticamente separados, articulados numa
proposta de Educação para a Convivência com o Semiárido podem contribuir
nas discussões pedagógicas dando um novo sentido à práxis educativa
estabelecendo um vínculo permanente da escola com o meio em que está
inserida (o Semiárido), contribuindo na compreensão e intervenção do homem
e da mulher na construção e transformação da sociedade. Nessa direção
Educação Contextualizada para a Convivência com o Semiárido, é o eixo
articulador dos quatro eixos temáticos que tratamos, a seguir, embora,
trazendo alguns pontos que julgamos significativos nessa reflexão, não uma
reflexão acurada em termos conceituais, mas aspectos pontuai
EIXOS TEMÁTICOS
NATUREZA NO SEMIÁRIDO
A discussão da natureza no semiárido nos remete a um processo de
ressignificação dos conhecimentos historicamente produzidos e socializados
sobre os aspectos naturais dessa região bem como sobre suas populações.
Com isso demarcamos que nossa reflexão não minimiza a concepção de
![Page 48: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/48.jpg)
natureza; a entendemos, sobretudo, a partir da relação indissociável entre os
aspectos naturais e os socioculturais.
É a partir deste entendimento que Álamo Pimentel (2002) afirma que o
Semiárido é um ecossistema socioeducativo, um espaço de aprendizagens no
qual ocorrem, cotidianamente, processos formativos na interação entre ser
humano e natureza.
É nesta dimensão, onde a relação
homem/mulher/natureza faz o esboço material da ideia
de convivência, que a complexidade se instala, desafia os
sujeitos à promoção de um novo modo de vida e, porque
não dizer, um novo modo de organização social, numa
perspectiva bio-antropossocial. A vida, nas suas mais
diversas configurações ambientais, desafia homens,
mulheres e as suas formações sociais a uma coexistência
regida pelos princípios da reciprocidade, da aceitação e
do cuidado com o outro reconhecido em sua legitimidade
enquanto outro da partilha, aquele como quem cada uma
das partes da convivência estabelece laços de
complementaridade e interdependência. (PIMENTEL,
2002 p.145).
Esta compreensão de que Meio Ambiente/Natureza não é composto
apenas dos elementos naturais: fauna, flora, solo, climas, etc, como durante
anos se trabalhou na escola, mas, que o aspecto da Natureza se caracteriza
pelos elementos chamados de “naturais”, como também daqueles que
definimos como “sociais” é um aspecto conceitual que incorporamos nesta
perspectiva pedagógica da contextualização para convivência com o semiárido.
Segundo a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) define a
Educação Ambiental como sendo
(...) os processos através dos quais os indivíduos e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
![Page 49: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/49.jpg)
habilidades, atitudes e competências voltados para a
conservação do meio ambiente, bem do uso comum do
povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade. (Lei nº 9.795,art.1º).
Cabe ainda ressaltar que este processo pedagógico escolar sobre o
meio ambiente requer formação adequada dos educadores e a inserção desta
temática na proposta pedagógica da escola, uma vez que ainda segundo a lei
a educação ambiental será desenvolvida como uma prática educativa
integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino
formal” (Cap. II. Art. 10). Infelizmente o que comumente encontramos são
atividades soltas e festivas em torno desta temática; o que devido seu caráter
esporádico, fragmentado e desarticulado de um processo continuo e
permanente de produção de conhecimento e formação de atitudes e posturas,
causa mais malefícios do que Benefícios à formação básica dos educandos e
das educandas.
Outro elemento que queremos trazer nesta reflexão é a necessidade de
mudarmos nossa perspectiva frente a esta questão. Para se garantir um
ambiente saudável e equilibrado e principalmente reverter o desgaste
ambiental que vive todo o planeta, não se pode partir da lógica da adoração da
natureza. É preciso construir um processo individual e coletivo, onde homens e
mulheres possam de forma intencional e organizada, intervir no seu meio
natural e social, sentindo-se componentes interdependentes.
É preciso reconhecer que o ambiente se constrói e reconstrói a cada
momento. São as características físicas, culturais, históricas, sociais que fazem
dos vários cantos do Brasil, lugares singulares e diversos. O semiárido
brasileiro é um desses lugares diferentes. Portanto, conhecer as características
que tornam o semiárido uma região particular é o primeiro passo, para a
formação de um novo sentimento que precisa ser criado, a fim de desfazer os
pré-conceitos que foram colocados pela visão distorcida acerca dessa região.
A intenção principal dessa discussão no contexto do semiárido é poder
problematizar as relações estabelecidas entre as pessoas e o espaço natural e
![Page 50: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/50.jpg)
social em que vivem e contribuir para que as mesmas, assumam uma nova
postura com relação a seu lugar e que nessa busca do (re)conhecimento de si (
como sujeito histórico) e do lugar ( como reflexo dessa história), possam intervir
e transformar a ambos.21
Ao propormos, portanto, a reflexão sobre Meio Ambiente e Natureza, na
ótica da Convivência com o semiárido, no município de Juazeiro, entendemos
ser esta uma possibilidade para melhor se refletir e estudar as diversas e
variadas realidades (comunidades rurais, comunidades urbanas, regiões de
agricultura de sequeiro, regiões de agricultura irrigada, regiões com rios
permanentes, regiões com altos e baixos índices pluviométricos etc ) deste
município. O foco aqui estabelecido é que em qualquer espaço do Semiárido
Brasileiro (SAB) e especialmente no semiárido juazeirense o princípio
orientador da educação, seja a Convivência com o Semiárido que deverá
preparar os sujeitos da ação educativa para uma maior compreensão do
ambiente e dos fenômenos naturais desse ambiente, com vistas ao
aproveitamento das potencialidades e da construção das novas possibilidades
diante das problemáticas encontradas.
CULTURA NO SEMIÁRIDO
A cultura nesta proposta de contextualização é um dos quatro eixos a
partir dos quais propomos que seja desenvolvido o processo pedagógico.
Neste sentido apostamos mais numa discussão pedagógica do que sociológica
do tema. Palavra de origem latina (colere) que significa cultivar, criar, tomar
conta, cuidar; cultura significava o cuidado dos homens com a natureza. Hanna
Arendt, apud Chauí, assinala que,
(...) cultura significando cuidado, cultivo, amanho, se
estende ao cuidado com os deuses, isto é culto e com os
monumentos do passado. Fundamentalmente, escreve
ele, cultura era a relação dos humanos com a natureza
21 Referencial Curricular paras as escolas do Semiárido, IRPAA 2001.
![Page 51: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/51.jpg)
para torná-la habitável para os homens. Significava além
disso, cultivo do espírito para a verdade e a beleza,
inseparáveis da natureza. (CHAUÍ, 2006 P.12)
O significado ou concepção impressa ao termo cultura vai adquirindo
diferentes sentidos nos diferentes períodos históricos, de acordo com o modo
de organização sociopolítica e econômica das sociedades.
Ainda conforme Chauí (op.cit.), no final do século XVIII cultura passa a
ter duas significações: uma mais no campo intelectual e artístico com forte
influência burguesa e uma outra marcada pela relação com a história. Esta,
caracterizada pela articulação dos modos de vida de um determinado grupo
social, é concebida como o campo das formas simbólicas produzidas pelo
trabalho ou como resultante das determinações materiais econômicas sobre as
relações sociais.
Em sentido antropológico, não falamos em Cultura, no
singular, mas em culturas, no plural, pois a lei, os valores,
as crenças, as práticas e instituições variam de formação
social para formação social. Além disso, uma mesma
sociedade, por ser temporal e histórica, passa por
transformações culturais amplas e, sob esse aspecto,
antropologia e História se completam, ainda que os ritmos
temporais das várias sociedades não sejam os mesmos,
algumas mudando mais lentamente e outras mais
rapidamente. (...) Se, porém, reunirmos o sentido amplo e
o sentido restrito, compreenderemos que a Cultura é a
maneira pela qual os humanos se humanizam por meio
de práticas que criam a existência social, econômica,
política, religiosa e intelectual (CHAUÍ,op.cit,p.375 e 376).
Entendemos a cultura como um elemento que perpassa todas as
dimensões da vida humana. Assim sendo, estaremos considerando a
diversidade cultural, local e global, a produção cultural, os costumes, os
![Page 52: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/52.jpg)
dialetos, os valores, a religiosidade, as histórias contadas pelo povo, os
saberes populares entre outros como elementos culturais. A Cultura não é algo
dado, mas o resultado de toda a criação de homens e mulheres, que se faz nas
relações interpessoais e com o meio, ou seja, com as demais pessoas no e
com o ambiente (natural e sociocultural).
O conhecimento e reconhecimento das culturas locais e universais nos
seus aspectos e características diversas ajudarão a compreender que toda
construção sociocultural se dá a partir das diferenças e das especificidades de
cada pessoa de cada lugar. “A cultura é a base da territorialização que define
o local como identidade Sociocultural”. (MACEDO, 2004. p: 25).
Numa tentativa de uma aproximação maior com o que entendemos ser a
diversidade cultural de Juazeiro, tomemos como elemento de ilustração deste
debate os Congos de Juazeiro (BA).22 Este grupo cultural, marcadamente
religioso, nos seus rituais reaviva os vínculos identitários que os distinguem
enquanto grupo diferenciado, uma vez que consideramos a existência desse
tipo de religiosidade em muitos lugares do Brasil (NETO, 2011 p.155).
Ao lado do Congado, o bumba-meu-boi, a procissão de Bom Jesus dos
Navegantes, a festa dos santos reis, o São Gonçalo do Mulungu, o samba de
véio do Rodeadouro, a festa de Iemanjá, a festa dos caretas, as vaquejadas,
entre outras manifestações culturais, contribuem para a produção do que
podemos chamar identidade cultural dessa região. Aqui nos interessa indagar:
como a escola, trabalha este elementos numa perspectiva epistemológica? Em
que medida estas “festas” são reconhecidas pela escola como processos de
produção da identidade juazeirense.E como entendemos que a identidade
(como a cultura) não é algo dado, mas em dinâmica construção? Podemos
ainda indagar como estes processos de produção da identidade estão se
dando? Em que medida esta produção e manifestação cultural pode ajudar a
22 O congo de Juazeiro é um grupo religioso que preserva o culto a nossa senhora do rosário, historicamente ligado ao povo negro em várias regiões do Brasil. O grupo sai em cortejo pelas ruas de Juazeiro no dia da festa de Nª Srª do Rosário, (último domingo de outubro), no dia de finados e nos dias em que são convidados a visitar algumas casas do município (NETO, 2001 p.155)
![Page 53: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/53.jpg)
compreender como as relações sociais, econômicas e políticas que veem se
constituindo no contexto do semiárido?
A produção da cultura no semiárido se deu a partir de hábitos, práticas,
costumes, crenças e tecnologias trazidas de outros lugares e introduzidas
nesta região. A cultura dos primeiros habitantes desse lugar foi dizimada,
cedendo lugar a uma cultura dominante que se instalou desconsiderando as
particularidades e especificidades de um contexto climático, geográfico
existente. Com o processo de colonização, diferentes elementos foram
acrescentados, outros brutalmente arrancados. As pessoas que aqui já viviam
(os povos nativos ) foram retiradas da convivência com o seu ambiente para
serem escravizadas, e nesse processo de luta e resistência para garantir a sua
identidade enquanto povo, milhares foram mortos. Ainda neste processo foi
acrescida a cultura africana, onde centenas de pessoas foram arrebatadas do
seio da sua terra para serem escravizadas, e até hoje esta escravização se
manifesta nas mais diferentes formas e atitudes por todas as partes desse
país. O semiárido, é o espaço mais marcado pelos processos de colonização e
aculturação de seu povo.
Foi, portanto, neste contexto de colonização em meio a essa mistura
de etnias que fomos constituindo o que temos hoje como cultura do povo do
semiárido. Estamos diante de uma diversidade de culturas, produzidas aqui e
em outros espaços, que no diálogo com o ambiente natural vão se
ressignificando e tomando novas formas.
Nas escolas, principalmente as do semiárido, pouco se aprende sobre
as histórias de vida das pessoas, dos lugares, hábitos, tradições, condições
climáticas, e tantos outros elementos culturais dessa região. Entendemos que
a força política e pedagógica da tradição é paradoxal, pois ao tempo em que
ela representa uma tradição em termos de reprodução de uma identidade
performativa das relações sociais, apresenta-se também como espaço de
identidades múltiplas e dispersas (NETO, 2011). É importante que a escola
tenha portanto, uma postura problematizadora diante do que denominamos
cultura/ tradição.
![Page 54: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/54.jpg)
Os parâmetros Curriculares Nacionais apontam a cultura como um
elemento fundamental a ser considerado nos processos pedagógicos, visto
que, a construção do conhecimento é um processo cultural. Atentar para as
dimensões culturais que envolvem as práticas sociais, e, sobretudo, que as
dimensões culturais não devem jamais ser descartadas ou desqualificadas,
pois respondem a padrões de identificação coletivos que são importantes. Eles
são o ponto de partida do debate e da reflexão educacional.
“Para viver democraticamente em uma sociedade plural é
preciso respeitar os diferentes grupos e culturas que a
constituem. A sociedade brasileira é formada não só por
diferentes etnias, como por imigrantes de diferentes
países. O grande desafio da escola é investir na
superação da discriminação e dar a conhecer a riqueza
representada pela diversidade etno cultural que compõe o
patrimônio sociocultural brasileiro, valorizando a trajetória
articular dos grupos que compõem a sociedade”.
(Parâmetros Curriculares Nacionais: p27).
A escola não pode deixar de socializar os conhecimentos
acumulados pela humanidade, estes são pré-requisitos para entendermos a
atual história, nossas origens. Precisamos compreender, por exemplo, como se
fundou esta região, o semiárido, o município de Juazeiro. Tudo isso são fatores
que contribuem na produção da mudança numa determinada região.
Trabalhar a educação a partir dos princípios da contextualização
requer,sobretudo, reconhecer os processos culturais desenvolvidos pelos
grupos sociais e incluí-los na proposta curricular, não apenas para reafirmá-los,
mas sobretudo para promover a tematização, a problematização e buscar, a
partir da cultura, construir processos de emancipação e transformação social.
![Page 55: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/55.jpg)
TRABALHO
A discussão aqui proposta sobre trabalho nos remete a duas questões
iniciais. A primeira é à própria concepção de trabalho a partir da qual
construímos esta reflexão e a segunda é sobre a dimensão formativa do
trabalho. Com isto estamos afirmando nosso reconhecimento acerca da
relação indissociável trabalho-educação.
Consciente de que está é uma discussão complexa e profunda
assumimos o limite deste texto no que se refere à profundidade e abrangência
do tema. Faremos, portanto, um recorte a partir das questões acima
explicitadas, uma vez que o propósito desta reflexão é tão somente explicitar a
partir de qual entendimento teórico consideramos o trabalho um eixo temático
importante para a compreensão da proposta de educação contextualizada na
perspectiva da convivência com o semiárido (ECSA).
A construção ou entendimento teórico sobre o trabalho tem se
modificado ao longo da história. Podemos inclusive afirmar que cada contexto
histórico apresenta as suas condições de organização da produção e define as
relações de trabalho vivenciadas pelas pessoas daquela sociedade. Estas
formas diversas de se organizar o trabalho produzem, obviamente, diferentes
concepções deste fenômeno.
Ao longo dos tempos homens e mulheres vem agindo sobre a natureza
e transformando-a em vista da garantia do atendimento das suas
necessidades. Assim, as condições e possibilidades da existência humana são
produzidas pelos próprios humanos e neste processo de produzir tais
condições as pessoas evoluem, interagem, criam relações. Este é, sem dúvida,
um processo essencialmente de aprendizagem. Portanto, o princípio formativo
é inerente ao trabalho. Dermeval Saviani afirma que o trabalho é a essência do
homem
Os homens aprendiam a produzir sua existência no
próprio ato de produzi-la. Eles aprendiam a trabalhar
trabalhando. Lidando com a natureza, relacionando- se
uns com os outros, os homens educavam- se e educavam
![Page 56: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/56.jpg)
as novas gerações. A produção da existência implica o
desenvolvimento de formas e conteúdos cuja validade é
estabelecida pela experiência, o que configura um
verdadeiro processo de aprendizagem. (SAVIANI p. 03)
Este entendimento de que o próprio ato de produzir sua existência
(trabalho) é um processo constante e dinâmico de aprendizagem e de
educação uma vez que o conhecimento produzido é assimilado pelas gerações
mais novas, expressa uma concepção. Entendemos trabalho enquanto práxis
humana, material e simbólica através da qual homens e mulheres criam as
condições de sua existência. Trata-se, portanto de uma concepção fundada no
materialismo histórico.23
Esta concepção de trabalho nos permite pensar no caráter educativo do
trabalho. Segundo Kuenzer (2008) a partir desta concepção de trabalho foi
sendo construída, a categoria princípio educativo24.
Compreendida enquanto proposta pedagógica
determinada pelas bases materiais de produção em cada
etapa de desenvolvimento das forças produtivas, para
formar os intelectuais necessários ao desenvolvimento
das funções essenciais decorrentes das formas históricas
de divisão social e técnica do trabalho. (KUENZER, 2008
p.55)
23 O materialismo histórico é uma abordagem metodológica ao estudo da sociedade,da
economia e da história que foi pela primeira vez elaborada por Karl Marx e Friedrich Engels
(1818-1883). O materialismo histórico procura as causas de desenvolvimentos e mudanças na sociedade humana nos meios pelos quais os seres humanos produzem coletivamente as necessidades da vida. As classes sociais e a relação entre elas, além das estruturas políticas e formas de pensar de uma dada sociedade, seriam fundamentadas em sua atividade econômica. Fonte: pt.wikipedia.org/wiki/Materialismo_histórico. Visitado em 10/02/2013.24 O trabalho como princípio educativo origina-se na Escola Unitária, idealizada por Gramsci (SAVIANI, p.159)
![Page 57: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/57.jpg)
Ao pensar, aqui, a relação entre trabalho e educação queremos pensá-la
na perspectiva da convivência com o Semiárido, ou melhor dizendo, na
perspectiva da educação contextualizada para a convivência com o semiárido.
A contextualização do ensino como proposto neste documento, contribui na
superação da relação dicotômica (trabalho e educação) e ajuda a pensá-la
dialeticamente no sentido de potencializar esses dois processos, a partir da
dimensão pedagógica.
Fazemos isso ao trazer para a escola e para o currículo a discussão das
formas históricas de produção da vida das pessoas desta região, discutindo as
potencialidades e viabilidades produtivas, tecnológicas, culturais e sociais que
favorecem o enfrentamento e a superação das especificidades climáticas e das
limitações historicamente construídas pelo modelo político-econômico imposto
pelas oligarquias que hegemonicamente controlam as políticas públicas,
sobretudo nas áreas produtivas e educacionais condenando a região ao
subdesenvolvimento ou a um desenvolvimento dependente.
Esta relação indissociável também é fortalecida quando o currículo
incorpora como formas de saberes, os conhecimentos construídos pelas
classes populares, no campo e na cidade e os colocam como interlocutores no
processo de construção de um saber emancipador comprometido com a
formação de intelectuais necessários ao desenvolvimento das funções
essenciais à organização produtiva e social dessas mesmas classes.
Assim, é deste lugar conceitual (materialismo histórico dialético) que
entendemos a questão do trabalho e reconhecemos sua dimensão educativa
ao abordá-lo pedagogicamente também nesta perspectiva material (formas de
trabalho) histórica, reconhecendo que esta é uma construção humana e
dialética, compreendendo seu caráter dinâmico e a possibilidade de sempre se
construir novas relações produtivas. Relações mais humanas, solidárias, a
serviço de um outro modelo econômico que supere o capitalismo.
![Page 58: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/58.jpg)
SOCIEDADE
“Devemos sempre libertar as imagens e enunciados do
passado, temas que o constituíram, os conceitos que o
interpretaram, de seu sentido obvio, problematizando-os.”
(Albuquerque Jr.)
A sociedade é uma construção que acontece na tecitura cotidiana da
vida das pessoas ao longo das gerações e em cada lugar, com características
peculiares, construindo modos de viver e de se relacionar, formas de
religiosidade e de produção material das condições de existência, conforme as
descobertas e redescobertas que vão se dando a cada necessidade satisfeita,
formas de organização da vida familiar, política, escolar, etc.. Essa forma
própria de interagir com os indivíduos e com o ambiente é o que, do ponto de
vista dos cientistas sociais se denomina de cultura e cultua é história,ou seja,
tudo que os homens e mulheres construíram e constroem, o que não é natural,
não é dado, mas feito pelos humanos.
É a cultura que vai formatando, ao longo dos tempos, cada sociedade,
amalgamada por uma compreensão de mundo que se diferencia em cada
cultura, podendo ser modificada com as transformações da sociedade, embora
saibamos que a cultura não se transforma facilmente e nem em curto prazo. No
entanto, se a História é feita pelos homens e mulheres, ela pode ser
transformada, recontada, mas se conserva sempre na memória coletiva as
dizibilidades, relações e feitos do passado. Esse é o processo de construção
da sociedade, mediada pelo trabalho.
Estamos falando aqui, especificamente de sociedade civil, como
conceituada por Gramsci que, segundo Bobbio (1995, p.49), a compreende
como “lugar da formação do poder ideológico distinto do poder político
estritamente entendido, e dos processos de legitimação da classe dominante”.
Sem aprofundar a discussão teórica sobre o conceito de sociedade civil, nosso
![Page 59: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/59.jpg)
objetivo aqui é desenhar de forma sucinta, o perfil da sociedade no Semiárido
com a finalidade de situar a instituição escola e seu papel na formação do
cidadão e da cidadã semiaridienses. Importante ressaltar que por mais diversa
que seja essa ou outra região brasileira, os grupos sociais que aí se formaram
são parte da sociedade brasileira, pois o Semiárido integra a Região Nordeste,
como já anunciado neste documento, que ocupa uma área de 1,5 milhão de
km2, equivalente a 19,5% do território nacional.
De acordo com o Ministério da Integração Nacional, o Semiárido
brasileiro abrange uma área de 969.589,4 km² correspondendo a 61,9% do
território nordestino e com uma população de, aproximadamente 22 milhões de
habitantes.Portanto, estamos falando de uma parte significativa da sociedade
brasileira, com todas as especificidades que esta região comporta. Podemos
citar entre os elementos básicos da cultura nacional, a língua, por exemplo,
falada por quase todos os grupos sociais, em todo o território nacional, com
exceção de algumas tribos indígenas. Este é um elemento comum na
sociedade brasileira. Ou seja, devemos ter sempre presente que as
especificidades da sociedade no Semiárido não a isolam da formação social
brasileira. Essa é uma das preocupações da RESAB quando adverte que a
Educação para a Convivência com o Semiárido não é localista, não deve
produzir isolamentos no local, por mais que se valorize a cultura do lugar. Ela é
o ponto de saída e de chegada, na construção do conhecimento, como já
anunciado neste documento.
Assim como a língua, muitos outros traços da sociedade brasileira estão
presentes em todas as regiões, constituindo a identidade do povo brasileiro.
Portanto, não estamos falando de grupos isolados, mas de parte de uma
mesma formação social e que o ambiente e as condições materiais de
existência (contexto socioambiental),as relações, especialmente de poder, que
foram se estabelecendo, propiciaram um aprendizado, construindo uma cultura
nesse território com características muito peculiares. Tais características se
manifestam nos traços de personalidade, jeitos de viver, relações
interpessoais, interação com a natureza, formas de produção e reprodução
social da vida, as representações do mundo e das coisas no mundo. Ou seja,
![Page 60: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/60.jpg)
na relação dialética homem/sociedade/natureza, as pessoas constroem e
moldam a sociedade e esta as constrói motivando a formação de certos
comportamentos e atitudes tão peculiares que formatam os grupos sociais
nesse território e dar características identitárias.
Considerando o fato de a sociedade no Semiárido brasileiro, a partir de
1500, ter nascido sob o jugo do colonialismo, passando pela longa história do
escravismo e do coronelismo, este ainda remanescente sob diferentes
manifestações, podemos pensar, a partir das diferentes análises,de muitos
autores de antes e de hoje, historiadores, sociólogos, antropólogos, literatas,
e educadores como Lispector(1998),Graciliano Ramos(1963), Bursztyn,(2008),
Albuquerque Junior(2007, 2011); Martins, (2006), Roberto Marinho da Silva
2008); José de Souza Silva(2010); entre tantos outros, que, o que foi sendo
escrito e divulgado, conceituado sobre esse lugar e sobre as pessoas, foi
construído sob estereótipos.
Discursos e imagens construíram um desenho que resultaria, como
amplamente conhecido, sempre à serviço dos grupos dominantes que se
utilizam da fragilidade das condições de vida das pessoas, especialmente nas
grandes estiagens, para a consolidação e perpetuação relações de dominação.
Essas imagens são fruto de julgamentos superficiais sobre a realidade do semi-
árido e dos interesses políticos das elites locais que explicavam a miséria, a
fome e o atraso como produtos de condições naturais adversas, do clima, da
terra e da formação de sua gente (SILVA, 2003, p.361).
Embora não se possa concluir que a construção do imaginário coletivo
possa ser obra exclusivamente de imposição de uma classe ou grupo sobre
outro, pois como afirma Lenski (apud CARNEIRO, 2010.p.3), “as culturas
ultrapassam seus criadores”, a verdade é que já está amplamente
consensuado que a concepção de Semiárido e da sociedade semiaridiense,
desenhados, conforme a visão e os interesses do colonizador e dos seus
seguidores enquanto classe dominante, parece ter sido uma eficaz estratégia
para garantir a reprodução das relações de poder (de dominação) de
subordinação de determinado grupo dirigente por muito tempo nessa região e
que ainda persiste, porque emaranhada na cultura, sob diferentes
![Page 61: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/61.jpg)
manifestações e que nesse momento histórico a sociedade civil organizada faz
uma releitura, problematiza e aponta novos horizontes. Como anuncia o
professor e pesquisador Durval Muniz de Albuquerque Jr.,
A história precisa deixar de ser apenas um discurso sobre
o passado ou sobre o futuro, para se debruçar sobre o
presente, descobrindo este presente como multiplicidade
espaço temporal, pensando os vários passados que se
encontram em nós e os vários futuros que se pode
construir. (ALBUQUERQUE Jr.1996 p.311)
Entre os conceitos que foram formulados está o da noção de combate à
seca, construída a partir das iniciativas de políticas hídricas governamentais,
ideia que se plantou na cultura do Semiárido, assim como a ideia de
impossibilidade de produção da vida nesse lugar cuja saída para a
sobrevivência era o êxodo. Ainda nessa direção também foi sendo plantada a
compreensão de que o povo nessa região é um povo atrasado sem “cultura”
(para anunciar a defasagem na educação escolar) em contraposição ao
morador de outros centros, especialmente das cidades do sul e do sudeste,
visto como o mais culto de bom trato mais versátil, portanto, mais educado e
com melhores condições de “subir na vida”. Esse estereótipo não ficou apenas
nas narrativas e nas relações opressor/oprimido, foi incorporado à cultura,
fazendo as pessoas sentirem-se envergonhados de serem desse lugar,
principalmente se residem no campo, anulando, nos sujeitos o sentimento de
pertencimento como traço fundamental de sua identidade,de pertencimento à
sociedade semiaridiense.
O comportamento e as atitudes dos sujeitos foram, assim, ao longo dos
tempos, sendo moldados pelas mentes áridas como as nomeia José de Sousa
Silva.
Pior do que a aridez das terras é a aridez das mentes. Em
países e regiões, como o Brasil e o Semiárido Brasileiro
![Page 62: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/62.jpg)
(SAB), com uma experiência colonial, a colonização
cultural transcendeu à colonização territorial, alienou
mentes e domesticou corações. Gerado para viabilizar a
dicotomia superior-inferior, o discurso colonial normalizou
relações assimétricas de poder e naturalizou violências,
desigualdades e injustiças. Legitimado pela ideia de
progresso, o discurso justificou a conquista do Novo
Mundo. (SILVA. 2010, p.2)
A sociedade civil organizada, nos últimos anos vem reagindo contra as
visibilidades e dizibilidades históricas sobre o nordeste semiárido e sobre o
povo, construindo outra visão de mundo, homem, de mulher, de sociedade e,
especialmente de desenvolvimento. Centenas de entidades reunidas no grande
coletivo ASA-BRASIL,vêm fazendo uma nova leitura, desconstruindo
estereótipos, enquanto resgatam saberes, fazeres e valores encortinados nos
projetos de desenvolvimento para a região .Assim ASA-BRASIL representa, do
ponto de vista sociológico, a manifestação da sociedade no semiárido no
cenário publico como sujeito coletivo.Este novo cenário está sendo construído
na ressignificação de certos elementos da cultura tradicional, pela ação
concreta das pessoas comuns.
Nesse processo se constrói a noção de convivência com o Semiárido,
um paradigma que se contrapõe, radicalmente, ao paradigma de combate à
seca. Embora seja um exagero se afirmar que as pessoas antes dessa
construção, não conviviam com o Semiárido, pois é o saber dessas mesmas
pessoas que está na base do novo paradigma, o que se pode registrar é mais
do que uma reação ao histórico tratamento das elites dirigentes à realidade
gerada pela escassez de água, o que se verifica e que aqui deve ser
evidenciado é o eficaz processo que qualificação política das pessoas que se
colocam, na cena publica, como sujeitos de sua própria historia,portanto, são
novas relações políticas, sociais pessoais e interpessoais que estão sendo
tecidas Ao mudar a ideia de Semiárido como lugar desprovido de
possibilidades e de pessoas miseráveis, submissas, ignorantes e impotentes
![Page 63: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/63.jpg)
diante da realidade e ao apontarem diferentes maneiras de convivência
considerando as especificidades desse lugar, vão construindo novas formas de
organização social entre iguais, independentes de patrões ou qualquer outro
dirigente. Sob o olhar sociológico e político, isso representa grande mudança.
Pode parecer muito simples essa compreensão, mas, isso implica
desconstruir formas de pensar e de agir; novas formas de relacionamento entre
as pessoas (valorizando a troca de saberes), de organização (redescobrindo a
força da organização coletiva) e de interação com a natureza. Implica, ainda,
construir autonomia e criar mecanismos de resistência no enfrentamento da
questão natural da escassez de água, mas acima de tudo, no enfrentamento
das relações de dominação. Compreender que é possível, independente da
tutoria do senhor (coronel, político, patrão ou outra forma de subordinação),
construir alternativas de produção social da vida, considerando as limitações
Climáticas.
A proposta de Educação Contextualizada para a convivência com o
Semiárido é umas das dimensões dessa construção. A escola precisa se
qualificar para contribuir nesse processo problematizando e descortinando as
viabilidades e ajudando a construir o sentimento de pertencimento e, nesse
processo, construindo uma nova racionalidade. “Os processos coloniais
estiveram sempre amparados por uma racionalidade e por um “discurso
legítimo” para impor um modo supostamente mais correto e mais bonito de
fazer, de pensar, de sentir, de dizer e de viver. E os processos educacionais
foram os principais vetores de distribuição, de internalização e de consolidação
desta cosmovisão exótica ”(MARTINS, 2011, P.49).
Para refazer a trajetória da escola construindo a perspectiva de novo
horizonte na formação de cidadãos e cidadãs semiaridienses, os sistemas de
ensino que fizerem esta opção têm, sob sua responsabilidade, não apenas
construir currículos contextualizados e promover a formação de educadores
sobre a pratica pedagógica contextualizada, mas definir as suas
intencionalidades explicitando os propósitos dessa escolha que implica em
ressignificar o que é ensinado e o como ensinar, vez que é um processo que
não se encerra na escola, mas interessa às famílias e às organizações sociais
![Page 64: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/64.jpg)
em cada comunidade entendidas como partícipes no processo da educação
escolar.É portanto,contribuir na construção de nova trajetória da sociedade
semiaridience.
![Page 65: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/65.jpg)
PEDAGOGIA DE PROJETOS COMO POSSIBILIDADE METODOLÓGICA NO
TRABALHO EDUCATIVO
A Educação para a Convivência com o Semiárido, consiste no
desenvolvimento de ações direcionadas para um novo modo de produção da
vida que une escola e comunidade, saber e necessidade, conhecimento e
desenvolvimento, para provocar mudanças significativas na realidade.
Este processo requer estudos aprofundados, pesquisas, experimentos.
Muitas formas metodológicas contribuem para que o trabalho tenha uma
orientação, um direcionamento lógico. Elegemos como princípio metodológico
norteador da pedagogia de projetos, por entender que a mesma dá uma
dinâmica especial ao processo pedagógico por ser uma metodologia enraizada
no princípio da participação, da autonomia e pró-atividade dos/as
educandos/as, por favorecer a articulação da escola com a comunidade.
Professores e professoras, alunos/as podem realizar diversos projetos coletivos
que vão mobilizar os conhecimentos e temas a serem trabalhados e discutidos,
os quais muitas vezes não se encontram dispostos em nenhum material de
apoio didático-pedagógico.
A pedagogia de Projetos é assumida pela necessidade de desenvolver
uma metodologia de trabalho pedagógico que valorize o educando e o
educador no processo ensino-aprendizagem, tornando-os responsáveis pela
elaboração e desenvolvimento de cada projeto de trabalho. É um processo
educativo desencadeado por uma questão que favorece a análise, a
interpretação e a crítica, como confronto de pontos de vista. A aprendizagem
acontece a partir da interação entre o aprendiz e o objeto de conhecimento,
dentro de um contexto com sentido e significado. Leva educandos/as e
educadores/as a agir com flexibilidade, a acolher a diversidade e a
compreender sua realidade pessoal e cultural, perceber que há diferentes
formas e caminhos para o aprendizado. Acontece a descoberta de outros
espaços de aprendizagem que não estão restritos à escola. Os saberes locais
passam a ganhar mais valor e reconhecimento.
É importante destacar que, aproveitar a experiência social dos/as
![Page 66: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/66.jpg)
educandos/as para discutir aspectos da realidade é possibilitar o confronto
entre as próprias visões de mundo com outras visões de mundo, efetuar trocas
de experiências entre o grupo, fazer análise de suas concepções sob outros
pontos de vista, provocando, assim, o questionamento de suas próprias ideias
e atitudes. É uma maneira de desafiá-los a atuarem como sujeitos ativos de
sua aprendizagem.
A Pedagogia de Projetos visa à ressignificação desse
espaço escolar, transformando-o em um espaço vivo de
interações, aberto ao real e às suas múltiplas dimensões.
O trabalho com projetos traz uma nova perspectiva para
entendermos o processo de ensino/aprendizagem.
Aprender deixa de ser um simples ato de memorização e
ensinar não significa mais repassar conteúdos prontos.
(LEITE, 1996)
A pedagogia de projetos tem sido um instrumento muito importante
neste fazer, por ser uma atividade INTENCIONAL, ou seja, orientada em
direção a um objetivo que dará sentido às atividades que serão desenvolvidas
pelo grupo. Para isso, os grupos envolvidos traçam planos, usam diversos
recursos disponíveis, refletem individual e coletivamente na produção de algo
que terá características diversas, resultando do somatório das características
do grupo.
Os projetos têm como base a PESQUISA, a qual é realizada pelos
professores/as e pelos alunos/as, em parceria com a comunidade, mobilizando
o/a pesquisador/a a interagir com o contexto pesquisado, provocando
movimentos de aprendizagens recíprocas.
O conhecimento, na Pedagogia de Projetos, é percebido de uma forma
diferente, pois parte dos saberes e identidades locais e não está centrado no
professor. Neste caso, o conhecimento está em todos os sujeitos do processo
e, portanto, há possibilidade de que todos ensinem e todos aprendam
coletivamente.
Neste sentido, todo conhecimento é construído em estreita relação com
![Page 67: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/67.jpg)
o contexto em que é utilizado, sendo, por isso mesmo, impossível separar os
aspectos cognitivos, emocionais e sociais presentes nesse processo. Ao
participar de um projeto, o estudante está envolvido em uma experiência
educativa em que o processo de construção de conhecimento está integrado
às práticas vividas.
O desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem através da
Pedagogia de Projetos integra-se à Proposta Curricular da Rede Municipal
de Ensino de Juazeiro DIREITO DE APRENDER cujo objetivo é dar um
direcionamento à prática pedagógica de cada escola, auxiliando os
professores, coordenadores e gestores, na busca por uma educação de
qualidade, onde todos possam aprender aquilo que lhes é de direito.
A Proposta Curricular está fundamentada num currículo por
competências, entendido como uma organização de conteúdos sustentada pelo
entrelaçamento estratégico e didático de teoria, prática e pesquisa, no intuito
de proporcionar ensino e aprendizagem interdisciplinarizados, partindo de uma
problematização necessária, ressignificando a linguagem educativa e,
consequentemente, as práticas curriculares(Secretaria de Educação de
Juazeiro, 2009).
A Educação para a Convivência parte da ideia de que o Semiárido é um
ambiente natural e social onde existem possibilidades de vida diferenciadas.
Mesmo estando embaixo de um mesmo sol, com condições climáticas bastante
semelhantes, nós nos organizemos de várias maneiras e nos portamos
distintamente neste ambiente.
Os quatro pilares da Educação para o Século XXI Aprender a
conhecer, Aprender a fazer, Aprender a conviver e Aprender a ser
traduzem a concepção de que a escola precisa estar comprometida com a
formação integral dos meninos, meninas, jovens e adultos, possibilitando-lhes
aprender e construir novos conceitos, refazendo as formas de proceder e agir
em sociedade, visando o bem-estar coletivo e são os EIXOS NORTEADORES
DA PROPOSTA CURRICULAR DIREITO DE APRENDER.Aprender a conviver
com o clima é uma das condições essenciais na qualificação das condições de
vida no Sertão brasileiro o que significa “conhecer” suas características e as
![Page 68: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/68.jpg)
possibilidades e limites que ele nos proporciona, “refletir" sobre estes e
construir formas de "intervenção" que provoquem as melhorias necessárias.
Por conta desta necessidade, pensamos que a Escola, pode
disponibilizar este conhecimento para que desde criança seja possível
aprender a lidar com as particularidades desta região.
![Page 69: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/69.jpg)
PARTE II
DIRETRIZES POLÍTICO-PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO
CONTEXTUALIZADA NA PERSPECTIVA DA CONVIVÊNCIA COM O
SEMIÁRIDO BRASILEIRO
![Page 70: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/70.jpg)
MARCOS NORMATIVOS DA EDUCAÇÃO CONTEXTUALIZADA.
A contextualização da educação escolar inscreve-se no campo teórico-
metodológico. É a forma como o currículo é trabalhado, como os conteúdos
são operacionalizados sob uma metodologia dinâmica, participativa, evitando o
isolamento nos conteúdos em si e ampliando o espaço da prática pedagógica
para além do espaço físico da escola, operando o diálogo entre os saberes. O
conjunto da legislação e normas da Educação Brasileira tem, ao longo das
ultimas décadas, trazido vários dispositivos que amparam, orientam e
fundamentam esse procedimento, ou seja; a contextualização da educação
escolar. Avança significativamente quando se trata dos segmentos que
comportam certas especificidades como os povos do campo na sua
diversidade, a cultura africana e afro-brasileira, os indígenas e tantos outros
que, inclusive, já conquistaram normas específicas. Para estes foi necessário
que se fizesse uma legislação específica, resultado de lutas históricas e que
representa instrumentos de cobrança da efetivação do direito de cidadania, a
ser assegurado pelo Estado brasileiro.
Independente de especificidades como as anunciadas acima, o currículo
escolar em qualquer nível ou modalidade deve ser contextualizado de forma a
garantir a qualidade social da educação. Para tanto, o Conselho Nacional de
Educação tem aprovado dispositivos normativos que respaldam a
contextualização da educação básica em todos os níveis e modalidades. A
Resolução Nº04/CEB/CNE/2010 que define as Diretrizes Curriculares
Nacionais Gerais para a Educação Básica, traz essa orientação, especialmente
nos artigos 4º, 9º, 10 e 13. Vejamos alguns destes dispositivos em cada um
dos incisos destes artigos que tratam do assunto:
Art. 4º As bases que dão sustentação ao projeto nacional de educação
responsabilizam o poder público, a família, a sociedade e a escola pela
garantia, a todos/as os educandos/as, de um ensino ministrado de acordo com
os princípios de:
![Page 71: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/71.jpg)
X - valorização da experiência extraescolar;....................................................................................................... XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.
Art. 9º A escola de qualidade social adota como centralidade o estudante e a aprendizagem, o que pressupõe atendimento aos seguintes requisitos:
I - revisão das referências conceituais quanto aos diferentes espaços e tempos educativos, abrangendo espaços sociais na escola e fora dela ( grifo nosso);
II - consideração sobre a inclusão, a valorização das diferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade cultural, resgatando e respeitando as várias manifestações de cada comunidade ( grifo nosso);.......................................................................................................VII - integração dos profissionais da educação, dos estudantes, das famílias, dos agentes da comunidade interessados na educação;
VIII(...)
IX - realização de parceria com órgãos, tais como os de assistência social edesenvolvimento humano, cidadania, ciência e tecnologia, esporte, turismo, cultura e arte,
Art. 10º A exigência legal de definição de padrões mínimos de qualidade da educação traduz a necessidade de reconhecer que a sua avaliação associa-se à ação planejada, coletivamente, pelos sujeitos da escola.
§ 1º O planejamento das ações coletivas exercidas pela escola supõe que os sujeitos tenham clareza quanto:
I - aos princípios e às finalidades da educação, além do reconhecimento e da análise dos dados indicados pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e/ou outros indicadores, que o complementem ou substituam;
![Page 72: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/72.jpg)
II - à relevância de um projeto político-pedagógico concebido e assumido colegiadamente pela comunidade educacional, respeitadas as múltiplas diversidades e a pluralidade cultural;
III - à riqueza da valorização das diferenças manifestadas pelos sujeitos do processo educativo, em seus diversos segmentos, respeitados o tempo e o contexto sociocultural;
Art. 13. O currículo, assumindo como referência os princípios educacionais garantidos à educação, assegurados no artigo 4º desta Resolução (grifo nosso), configura-se como o conjunto de valores e práticas que proporcionam a produção, a socialização de significados no espaço social e contribuem intensamente para a construção de identidades socioculturais dos educandos.
§ 1º O currículo deve difundir os valores fundamentais do interesse social, dos direitos e deveres dos cidadãos, do respeito ao bem comum e à ordem democrática, considerando as condições de escolaridade dos estudantes em cada estabelecimento, a orientação para o trabalho, a promoção de práticas educativas formais e não-formais (grifo nosso).
§ 2º Na organização da proposta curricular, deve-se assegurar o entendimento de currículo como experiências escolares que se desdobram em torno do conhecimento, permeadas pelas relações sociais, articulando vivências e saberes dos estudantes (grifo nosso) com os conhecimentos historicamente acumulados e contribuindo para construir as identidades dos educandos.
§ 3º A organização do percurso formativo, aberto e contextualizado, deve ser construída em função das peculiaridades do meio e das características, interesses e necessidades dos estudantes, incluindo não só os componentes curriculares centrais obrigatórios, previstos na legislação e nas normas educacionais, mas outros, também, de modo flexível e variável, conforme cada projeto escolar, e assegurando (Grifo nosso):
I - concepção e organização do espaço curricular e físico que se imbriquem e alarguem, incluindo espaços,
![Page 73: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/73.jpg)
ambientes e equipamentos que não apenas as salas de aula da escola, mas, igualmente, os espaços de outras escolas e os socioculturais e esportivos recreativos do entorno, da cidade e mesmo da região;
.............................................................................................
..........III - escolha da abordagem didático-pedagógica disciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar pela escola, que oriente o projeto político-pedagógico e resulte de pacto estabelecido entre os profissionais da escola, conselhos escolares e comunidade (grifo nosso), subsidiando a organização da matriz curricular, a definição de eixos temáticos e a constituição de redes de aprendizagem;
Como visto acima, esses dispositivos enunciados na Resolução Geral da
Educação Básica, em vigor a partir de 2010 informam a contextualização do
currículo escolar, condição de garantia da qualidade social da educação. Ou
seja, a Educação Básica, em todos os níveis e modalidade deve considerar a
realidade e a cultura local onde quer que se encontre a escola. São princípios
da Educação Nacional.
No Semiárido Brasileiro a Sociedade Civil Organizada avançou neste
sentido construindo, nos últimos 15 anos, uma proposta de Educação
Contextualizada “associada a outra noção: a da convivência com o Semiárido”(
Martins, 2011,p.45) que vai além da simples referência à realidade do lugar e
das pessoas. Ela traz os fundamentos filosóficos, político-sociológicos
emanados do movimento de “contextualização” Esta proposta para que se
efetive, exige sempre que novos conhecimentos sejam produzidos na e sobre a
realidade, partindo dela mas transcendendo, apontando as condições para
transformar a realidade.
A contextualização do currículo escolar no Brasil tem como principal
referência teórica a Pedagogia de Paulo Freire que informa o respeito à cultura
dos sujeitos, os saberes populares, concebendo a educação como ato político
na perspectiva da transformação da Sociedade. Um processo que foi, ao longo
da história, construindo uma cultura da contextualização e que influenciou a
![Page 74: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/74.jpg)
sua inclusão na ordem jurídica. Dessa forma, o primeiro marco legal da
contextualização da educação é a Constituição da Republica Federativa do
Brasil de 1988 a chamada Constituição Cidadã. No seu Art.205 preconiza: “A
educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade (grifo nosso), visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho”.
Neste artigo, a Carta Magna avançou pressupondo a colaboração da
sociedade para com o Estado e a família na promoção da educação como
direito. Neste caso, é possível admitir que a relação com a família e a
sociedade pode se dá mediante diferentes estratégias que podem ser
efetivadas na metodologia da contextualização, avançando em complexidade,
conforme o nível do educando. Em consonância com o que preconiza a
Constituição, a lei ordinária que regulamentou o capítulo III da CF/88), a Lei nº.
9.394/96 - Lei Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) regulamenta
esse dispositivo legal em vários de seus artigos. Vejamos os principais, que
respaldam especialmente a contextualização da educação:
Art. 1º. A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais(grifo nosso)
...................................................................................................
§2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social
Art. 26“Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter
uma base nacional comum, a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar; por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela” (Grifo nosso)
A LDB nestes artigos aponta a contextualização do currículo escolar,
desde o artigo 1º onde define o que é educação e no artigo 26, ao instituir uma
parte diversificada do currículo, apontando para a aproximação com a
![Page 75: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/75.jpg)
realidade local. Neste caso, se há necessidade de justificar a contextualização
do ponto de vista da LDB, esse artigo responde a tal exigência em qualquer
nível e/ou modalidade da educação escolar. Mas é fundamental que se tenha
presente que o fato de, simplesmente elencar conteúdos, ainda que sejam
concernentes às peculiaridades da realidade local, não responde ao que se
vem construindo teoricamente sobre o conceito/concepção de educação
contextualizada. Para que esta se efetive, tem-se que, necessariamente,
remeter a pratica, portanto à metodologia. É na prática pedagógica que a
contextualização se dá.
Art. 28
“Na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de
ensino promoverão as adaptações necessárias à sua adequação às
peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente:
I – conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às
reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural;
II – organização escolar própria, incluindo adequação do
calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às
condições climáticas;
III – adequação à natureza do trabalho na zona rural.”
Como visto acima, esse artigo trata especificamente da educação rural
(cic), portanto da educação do campo, conforme concebida no âmbito do
movimento da educação do campo. Se nos referimos à contextualização do
currículo nas escolas do campo, temos aí um instrumento legal que ampara a
contextualização neste espaço.
Ainda com relação à Educação do Campo o Conselho Nacional de
Educação(CNE) vem aprovando, desde 2001, um conjunto normativo que
respalda a contextualização da educação nas escolas do campo. Entre outros,
destacam -se:Parecer3636/CEB/CNE/2001;Resoluçãonº1/CBE/CNE/2002 e
Resolução nº2/CBE/CNE/2008.
![Page 76: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/76.jpg)
Além destes instrumentos normativos, emanados do CNE, temos a
Resolução N º 04/2010 já anunciada acima, e em 2010 o então Presidente da
Republica, Luiz Inácio Lula da Silva assinou o Decreto Nº 7.552/2010 sobre
educação do campo que é a matriz do Programa Nacional de Educação do
Campo, lançado em Março de 2012.
O parecer 36 e a Resolução número 01, definem as Diretrizes
Nacionais da Educação Básica nas Escolas do Campo e a Resolução nº2/2008
são diretrizes complementares à estas. A Resolução CNE/CEB nº 4, de 13 de
julho de 2010, que “define as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a
Educação Básica, além de trazer vários dispositivos que dão fundamentação
normativa à contextualização como já informado neste documento, instituiu a
Educação do Campo como modalidade específica, nos artigos 35 e 36.
Isto significa avanços em termos normativos porque inclui a Educação
do Campo nas Diretrizes Gerais e destaca, as especificidades do campo. E
ainda, o Decreto 7.352/2010 dispõe sobre a Política Nacional de Educação do
Campo e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA
Esse conjunto normativo respalda a contextualização da educação nas
escolas do campo apontando, inclusive, orientações para a organização do
ensino neste espaço. Nos Sistemas de Ensino localizados no Semiárido
Brasileiro, como já anunciado, os princípios da educação do campo devem ser
trados em articulação com os princípios da Educação para a Convivência com
o Semiárido.
Ainda devem ser considerados outros dispositivos legais e normativos
que, entre outros, tratam de grupos com especificidades, particularmente no
que se refere à relações étnico-raciais: Lei nº 10.639/03 que estabelece a
obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileiras e africanas nas
escolas públicas e privadas do ensino fundamental e médio; Parecer n°03/
CP/CNE/03/2004 e que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para
Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura
Afro-Brasileiras e Africanas; Resolução nº 5, de 22 de junho de 2012 que
define Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena na
Educação Básica.
![Page 77: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/77.jpg)
Todos são dispositivos legais e normativos que amparam/respaldam e
orientam a contextualização da educação fomentando o diálogo com os
fenômenos e fatos da realidade, com a cultura local, com os saberes dos
sujeitos, contemplando, enfim, as especificidades e potencialidades dos
lugares e das pessoas tanto indivíduos como grupos.Embora tratem, na sua
maioria, de segmentos bem específicos, por segmentos, são fundamentos
para a contextualização em qualquer das dimensões da realidade,inclusive por
região, como é ocaso da educação no Semiárido brasileiro.Destacamos que
todos esses dispositivos estão ancorados na própria Lei de diretrizes da
Educação Nacional que já aponta para a construção de prática educativas
contextualizadas.
![Page 78: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/78.jpg)
DIRETRIZES POLÍTICO-PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO
CONTEXTUALIZADA NA PERSPECTIVA DA CONVIVÊNCIA
COM O SEMIÁRIDO BRASILEIRO
As diretrizes da educação contextualizada do município de Juazeiro
foram elaboradas num processo participativo e formativo, conduzido em
plenárias distribuídas em sete núcleos envolvendo aproximadamente 400
professores/as do sistema municipal de ensino. Trata-se, portanto de
orientações legítimas a serem integradas à política pública da educação
municipal. A organização das diretrizes foi feita a partir de quatro eixos
temáticos, articulados pelo princípio da Convivência com o semiárido: Gestão;
Formação Continuada; Currículo Contextualizado e Material Didático
Contextualizado.
Muitas das proposições sugeridas pelos/as educadores/as podem se
constituir em metas a serem incluídas no Plano Municipal de Educação no
momento de sua elaboração/reformulação, uma vez aprovado o Plano Nacional
de educação. No entanto, considerando a importância e urgência deste
documento, elencamos todas as sugestões, embora a operacionalização de
muitas delas, impliquem decisões políticas que extrapolam o campo de
competência no âmbito didático-pedagógico. Assim, ao fazermos constar deste
documento, estamos assumindo a responsabilidade de fazê-las constar nos
documentos que normatizam a educação no município de Juazeiro-BA,
especialmente no Plano Municipal de Educação.
Quanto à metodologia de elaboração destas diretrizes, devemos
destacar que, feito levantamento de sugestões no momento do Seminário
promovido para esse fim, prosseguimos um trabalho de sistematização de
forma a reordená-las em cada um dos eixos que se seguem. Portanto, nessa
organização tomamos a liberdade de fazermos ajustes necessários à melhor
compreensão, sem, no entanto, alterar a intencionalidade contida no texto de
cada diretriz. Este trabalho mais rigoroso se fez necessário para garantir a
objetividade e pertinência de cada uma das Diretrizes propostas. Destacamos
ainda, que, no geral, a maioria das proposições saídas do referido seminário,
![Page 79: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/79.jpg)
são proposições gerais reivindicatórias, para o sistema, seja qual for à
perspectiva filosófica adotada na prática pedagógica.
Gestão educacional
A gestão democrática da educação preconizada na LDB é um dos
pressupostos fundamentais no processo de formulação e de implementação da
educação contextualizada. A Educação para a Convivência com o Semiárido
Brasileiro demanda um esforço coletivo no sentido de se garantir uma gestão
pautada nos princípios da democracia e da autonomia.
É somente mediante uma gestão democrática que pode ser efetivada a
participação da comunidade escolar, abrindo espaço para o diálogo com outros
setores e pessoas da comunidade. Cabe ao/à gestor/a da educação municipal
e escolar, garantir as condições necessárias à efetivação de uma educação de
qualidade; orientando e criando as condições de elaboração e de
implementação das propostas curriculares no município, e dos Projetos
Político-pedagógicos nas escolas. Com este entendimento apontamos as
seguintes proposições que deverão, observados os princípios da educação
nacional, orientar a elaboração e implementação dos Projetos Político-
pedagógicos (PPPs) das escolas do Sistema de Ensino do Município de
Juazeiro.
Com este entendimento apontamos as seguintes proposições/diretrizes25
Construir e/ou reformar os espaços escolares oferecendo condições necessárias para a realização do trabalho pedagógico.
Extinguir o turno escolar intermediário ;
Garantir a implementação integral das propostas contidas no estatuto do magistério, conforme previsto em Lei;
Assegurar o cumprimento do Plano de Cargos e Salários do município, conforme previsto em Lei;
25 A leitura destas proposituras remetem a outra ação: a inclusão destas no Plano Municipal de Educação (PME) por ocasião de sua reformulação/atualização, com a aprovação do PNE.
![Page 80: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/80.jpg)
Oferecer, efetivamente, acompanhamento psicopedagógico nas unidades escolares;
Ampliar o acompanhamento psicológico a professores/as através do NAPS – Núcleo de Apoio Psicopedagógico e Social;
Garantir o acesso à água de qualidade nas escolas, sobretudo as do campo;
Atender as exigências do PNAE sobre a participação da agricultura familiar no fornecimento da alimentação escolar - Leinº11.947/2009;
Assegurar o funcionamento dos Conselhos Escolares e do Conselho Municipal de Educação, oferecendo aos/às Conselheiros/as e à comunidade escolar momentos de formação que qualifiquem sua participação;
Garantir infraestrutura para o funcionamento e implementação dos Grêmios Estudantis;
Garantir no orçamento da Secretaria Municipal de Educação, recursos para implementação de projetos de Valorização da Cultura Regional;
Estabelecer parcerias com órgãos públicos e instituições não governamentais e outros setores da sociedade, que venham contribuir na efetivação da proposta de ECSA ,
Implantar um Sistema de Avaliação e Monitoramento pautado nos princípios da Educação Contextualizada;
Investir na formação dos/as formadores/as na perspectiva da Educação Contextualizada,
Estabelecer parcerias com entidades da sociedade civil organizada que possam contribuir na formação contextualizada na perspectiva da convivência com o semiárido;
Valorizar o professor através de incentivos e premiações, conforme previsto no Prêmio Inovar Mestre, Inovar Gestão;
Garantir, no âmbito da gestão, as condições necessárias para a realização da prática pedagógica contextualizada;
![Page 81: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/81.jpg)
Comprometer o corpo técnico-administrativo no processo de contextualização da educação;
Estabelecer parcerias com entidade da sociedade civil no processo de contextualização do currículo;
Garantir condições de diálogo entre as escolas e pessoas da comunidade que possam colaborar no processo de contextualização do currículo;
Garantir um calendário diferenciado e flexível, conforme as necessidades e peculiaridades locais, conforme artigo 23 da LDB;
Implementar as Diretrizes Operacionais da Educação do Campo inclusive, regulamentando-as;
Realizar, regularmente, de fóruns regionais e municipais sobre leitura e escrita com oficinas e socialização de experiências
Realizar os encontros formativos nucleados e em tempo integral.
Formação continuada
A formação continuada de professores e professoras, na perspectiva da
contextualização precisa considerar primeiramente as abordagens sobre o
semiárido, sua história, especificidades, potencialidades, experiências,
vivências e saberes construídos na produção da existência das populações
deste lugar; de forma a qualificar esses profissionais para uma atuação
mais eficaz. Com este entendimento propomos:
.
Garantir na proposta de formação a discussão do semiárido, trabalhando temáticas como: Convivência com o Semiárido, história do Semiárido e dos povos do semiárido, educação ambiental, saneamento básico, política fundiária, questões urbanas, educação popular, segurança alimentar, políticas hídricas, Tecnologias sociais de convivência com o Semiárido, Cultura e Identidade e outros temas relevantes à proposta de contextualização;
Consolidar a política de formação continuada dos educadores e educadoras do município, considerando a formação em serviço,
![Page 82: Diretrizes](https://reader033.fdocuments.net/reader033/viewer/2022042717/55cf8f60550346703b9bb956/html5/thumbnails/82.jpg)
de acordo com as necessidades pedagógicas diagnosticadas;
Garantir na formação continuada dos educadores e das educadoras, o atendimento às necessidades pedagógicas, potencialidades diagnosticadas, da comunidade, do município e região semiárida.
Garantir um mínimo de 180 horas/ano de formação continuada, considerando experiências de pesquisa, sistematização e divulgação da prática docente;
Implementar a proposta de formação continuada articulada aos PPP’s das escolas e às diretrizes de Educ. do Campo e de Educação Contextualizada para a convivência com o Semiárido;
Assegurar nos processos formativos o intercâmbio de saberes, os princípios da interdisciplinaridade e transversalidade pensadas a partir de uma metodologia do trabalho com projetos.
Garantir na formação continuada, o estudo e aprofundamento teórico-metodológico do processo de contextualização e a produção de material didático.
Currículo contextualizado
O currículo contextualizado na perspectiva da convivência com o
semiárido rompe com a visão tradicional de se reduzir à mera relação de
conteúdos, técnicas e métodos. Ele insere-se numa tradição crítica do
currículo, orientado por questões epistemológicas, políticas e sociológicas.
O currículo entendido aqui está implicado em relações de poder; de
intencionalidades que antecedem sua forma e seu conteúdo. Apostamos
assim, num currículo assentado na dinâmica da vida dos sujeitos da práxis
pedagógica, como espaço de questionamentos/problematizações, e acesso a
saberes que interessam aos sujeitos como ferramentas de entendimento do
seu meio e oportunidade de “pensar” e construir melhores condições de
existência.
Assim, entendendo o currículo contextualizado como espaço de apropriação
e construção de um conhecimento que desvela a realidade semiárida,
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salientando suas potencialidades e discutindo suas fragilidades e/ou
especificidades, apontamos as seguintes proposições.
Assegurar no currículo a inserção da proposta de educação para a convivência com o semiárido, identificando e valorizando o saber popular enquanto matriz de um saber científico necessário à vida das pessoas;
Assegurar eixos temáticos na organização curricular orientados na perspectiva da educação para a convivência com o semiárido;
Garantir pesquisas e estudos sobre os fenômenos naturais, sociais, políticos, econômicos e culturais da comunidade e do seu entorno, exercitando uma postura crítico reflexiva sobre o lugar e o modo como viver e conviver neste.
Assegurar, no currículo e na, pratica pedagógica valores socioculturais (solidariedade, coletividade, participação, democracia, entre outros) como elementos na formação cidadã;
Assegurar a diversidade de tempo e espaços pedagógicos no processo de implementação da prática pedagógica contextualizada;
Garantir atividades de pesquisa, visitas de intercâmbios, bem como a participação dos/as educandos/as em eventos promovidos pela comunidade e/ou organizações locais que discutam a CSA;
Garantir no currículo a articulação entre as disciplinas,
incentivando e exercitando o trabalho interdisciplinar;
Prever, no currículo escolar projetos que contribuam para a melhoria da qualidade de vida da comunidade e contribuir na sua execução em parceria com organizações governamentais e não governamentais;
Assegurar estudos que contribuam no processo de reconhecimento e fortalecimento da identidade cultural das comunidades e povos tradicionais (fundo de pasto, ribeirinhos, quilombolas, ciganos, indígenas, extrativistas)
Garantir a discussão das questões de gênero, geração e etnia numa perspectiva interdisciplinar e transversal;
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Material didático contextualizado
O material didático disponibilizado e acessado pelos/as educadores/as e
educandos/as no semiárido, via de regra, negligenciam a realidade local e
invisibilizam suas práticas. Há uma necessidade e reivindicação permanentes,
sobretudo de educadores/as em terem acesso a livros e outros materiais
didático-pedagógicos que deem suporte à proposta de contextualização do
currículo na perspectiva da Convivência com o semiárido, que apresentem e
discutam cientificamente as especificidades e potencialidades da região. Ou
seja, um material que deve contar, na sua concepção e elaboração com a
colaboração de profissionais das diferentes áreas do conhecimento e
construído no diálogo com o saber popular.
Entendendo, portanto, a importância deste suporte didático no apoio ao
processo ensino aprendizagem, apresentamos as seguintes proposições:
Produzir materiais didáticos com foco no conhecimento do Semiárido fazendo a articulação com questões locais (do município);
(Produzir materiais paradidáticos que tematizem a ECSA, incluindo jogos e vídeos, livros, DVDs, murais, folhetos, banners, pôsteres e outros);
Assegurar, no processo de produção de materiais, a assessoria de instituições com experiência no âmbito da convivência com o semiárido e no campo de produção de materiais;
Produzir documentários sobre a história e questões locais;
Garantir, nas escolas, acervo de materiais contextualizados na perspectiva da educação para a convivência com o semiárido, já produzidos por organizações e instituições governamentais e não governamentais;
Identificar e catalogar a produção bibliográfica existente sobre o Semiárido e a ECSA, assegurando a publicação e circulação nas escolas.
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LISTA DE SIGLAS
ASA-BRSIL – Articulação do Semiárido Brasileiro
CEB - Câmara de Educação Básica
CNE - Conselho Nacional de Educação
CODEVASF – Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco
CONESA – Conferencia Nacional de educação para a convivência com o Semiárido
CP – Conselho Pleno
ECSA - Educação para a Convivência com o Semiárido
IRPAA - Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada
LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação
PME- Plano Municipal de Educação
PNAE- Programa Nacional de Alimentação Escolar
PRONERA – Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária
RESAB - Rede de Educação do Semiárido Brasileiro
SAEJ - Sistema de Avaliação Educacional de Juazeiro
SEDUC- Secretaria de Educação e Esporte
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