Dimensões da alimentação saudável
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Alimentação saudável
Rute Costa
Profª temporária do curso de nutrição da UFRJ/Macaé
Saúde
Saúde- do latim salus (salvação, conservação da vida,
bem-estar) ou sanus (são, o que está com saúde,
aproximando-se mais da concepção grega de ‘higiene’).
O termo ‘saúde’ - declaração positiva da vida e um
modo de existir com equilíbrio, harmonia, não incluindo
em seu escopo o universo da enfermidade.
Saúde
Romano ou grego- conjunto de práticas e hábitos
harmoniosos abrangendo todas as esferas da
existência. Manter um estado de equilíbrio.
A prudência- que evitaria os extremos, nocivos ao
equilíbrio do indivíduo, dos grupos e da sociedade.
Em suma - ‘saúde’, mais que um estado ‘natural’, é
uma definição construída social e culturalmente.
Saúde
Preocupação social com a doença
Populações- XIV a XVII- Pestes e guerras- epidemias que dizimaram a Europa
Indivíduos- industrialização e complexificação do trabalho- XVIII e XIX
Instituições médicas definem normais de viver coletivas e individuais -Medidas de ‘combate’ às doenças -ameaçassem a organização social e a ordem pública.
Ciências médicas- Deslocamento da terapêutica (como arte milenar da cura de seres humanos) para o diagnóstico.
Saúde
Início do sec. XX- a visão de ‘saúde’ como ausência relativa ou total de doença, em coletividades e indivíduos.
Estar em ‘parâmetros de normalidade sintomática’ (definição institucional).
Concepção hegemônica -entre os profissionais de todas as formações ligadas ao saber biomédico, como na sociedade. #Hegemônico.
(LUZ, 2005)
Saúde
Durante a 2ª metade sec. XX- OMS propõe novas definições, de caráter mais abrangente que as veiculadas: “estado de completo de bem-estar físico, mental e social”.
As dimensões em que se insere a vida humana: social, biológica e psicológica.
Ampliar os sentidos que exprimem saúde.
Para Canguilhem (1990) a norma seria sempre individual – não a média de muitos indivíduos, mas sim uma noção limite que definiria o máximo da capacidade de um ser.
Alimentação
O ato de se alimentar - uma prática repleta de sentido no âmbito da vida.
Extrapola a satisfação do instinto da fome.
Apesar de contemplar as necessidades biológicas, o ato de comer- carrega valores simbólicos -aspectos subjetivos como prazer, desprazer, lembranças, solidariedade, alegria ou tristeza (CANESQUI, 2005; DANIEL; CRAVO, 2005).
Alimentação
A alimentação- perspectiva mais ampliada
Nos princípios do chamado Projeto para uma Nova Ciência da Nutrição, Cannon e Leitzmann (2005)- Deve ser capaz de integrar: a biológica, a social e a ambiental.
Deslocar o centro dos seres humanos para a ecosfera onde os humanos vivem.
Transição da exploração, produção e consumo preservação, a conservação e a sustentabilidade.
Incorporaram a dimensão econômica
Alimentação
Lang, Barling e Caraher (2009) - políticas públicas que
integrem promoção da saúde, sustentabilidade
ambiental e justiça social.
Castro, Castro e Gugelmin (2011)- sistematizaram as
dimensões da alimentação em: do direito humano;
biológica; psicossocial e cultural; ambiental e econômica
Alimentação
Direitohumano
Biológica
psicossocial e
cultural
Ambiental
Econômica
Alimentação
Direitohumano
Biológica
psicossocial e
cultural
Ambiental
Econômica
Alimentação
Dimensão do direito humano:
Esse direito se realiza “quando cada homem, mulher e
criança, sozinho ou em companhia de outros, tem
acesso físico e econômico, ininterruptamente, à
alimentação adequada ou aos meios para a sua
obtenção” (ONU, 1999 apud Valente, 2002, p.263). Assumir a alimentação - direito humano é promover, por
um lado, a sua exigibilidade e, por outro, explicitar a obrigação do poder público em garantir seu cumprimento.
Alimentação
A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 047/2003, que inclui a alimentação entre os direitos sociais da Constituição Federal- 2010.
Programa Nacional de Alimentação Escolar (Lei 11.947, 2009) o direito à alimentação escolar, visando a garantir
segurança alimentar e nutricional dos alunos, com acesso de forma igualitária, respeitando as diferenças biológicas entre idades e condições de saúde dos alunos que necessitem de atenção específica e aqueles que se encontram em vulnerabilidade social.
Alimentação
Direitohumano
Biológica
psicossocial e
cultural
Ambiental
Econômica
Alimentação
Dimensão biológica:
os aspectos fisiológicos da alimentação,
o metabolismo dos nutrientes,
os elementos nutricionais e sanitários dos alimentos,
seu potencial de propiciar o desenvolvimento e o
funcionamento plenos do corpo humano e,
de prevenir ou acarretar doenças (dependendo de suas
características nutricionais e suas condições sanitárias).
Alimentação
Dimensão biológica:
Complexidade da questão alimentar na
contemporaneidade.
Nutrição - dimensão historicamente mais valorizada nas
práticas tradicionais de educação alimentar e
nutricional- o ser humano (biológico), secundarizando
seu contexto de vida, sua subjetividade, sua história e
sua inserção em uma coletividade (Cannon &
Leitzmann, 2005).
Alimentação
Direitohumano
Biológica
psicossocial e
cultural
Ambiental
Econômica
Alimentação
Dimensão psicossocial e cultural: compreende os
aspectos simbólicos da relação dos sujeitos e
sociedades com os alimentos e com o ato de se
alimentar, incluindo todos os rituais nele envolvidos.
Os sistemas de valores e escolhas referentes à alimentação
estabelecidos em cada sociedade
Os aspectos subjetivos de cada indivíduo na sua relação com
a comida e com o comer, os sentidos e significados que lhe
são atribuídos.
Alimentação
Dimensão psicossocial e cultural:
A relação das pessoas com o tempo, com o trabalho,
com o corpo, com o significado de saúde, com a
comunicação de massa, com o ato de consumir (aí
incluídos os alimentos), com a comensalidade
(Canesqui & Garcia, 2005; Portilho, 2005; Linn, 2006;
Pollan, 2008).
Alimentação
Direitohumano
Biológica
psicossocial e
cultural
Ambiental
Econômica
Alimentação
Dimensão ambiental:
Reúne os aspectos referentes à sustentabilidade
ambiental dos sistemas alimentares estabelecidos em
cada realidade trata dos impactos ambientais dos
modos de produção, comercialização e consumo dos
alimentos hoje hegemônicos.
Alimentação
Dimensão ambiental:
Abrange, ainda, as possibilidades que práticas não
hegemônicas têm de estabelecer relações sociais e,
também, relações da sociedade com o planeta que
sejam sustentáveis, preservem e promovam a dignidade
humana e a vida em toda a sua expressão (Cannon &
Leitzmann, 2005; Portilho, 2005; Pollan, 2008).
Alimentação
Direitohumano
Biológica
psicossocial e
cultural
Ambiental
Econômica
Alimentação
Econômica:
Abarca duas vertentes.
A primeira enfoca o sistema alimentar com um sistema
econômico e que, no contexto de uma economia de
mercado, “como todos os sistemas econômicos, tem
vencedores e perdedores, sofre instabilidade periódica
e ocasionalmente profunda e é assolado pela mesma
lacuna inerente e irredutível entre o que procuramos e o
que, na verdade, é oferecido” (Roberts, 2009, p.V).
Alimentação
Econômica:
A segunda vertente se refere às relações de trabalho
estabelecidas em todo o sistema alimentar, abrangendo
não somente aquelas que se dão no âmbito da
produção, armazenamento, transporte e comércio de
alimentos, mas também aquelas que ocorrem no âmbito
da produção de refeições coletivas (os programas
públicos de fornecimento de refeições, como, no caso
do Brasil, o PNAE).
Alimentação
Econômica:
Abarca, por exemplo, questões relativas às condições
objetivas de trabalho; à forma como esses
trabalhadores, atores sociais imprescindíveis no sistema
alimentar, são reconhecidos e valorizados em seu
processo de trabalho; e aos avanços e retrocessos nos
mecanismos legais de proteção dos direitos e da saúde
dos trabalhadores.
Semana de Educação Alimentar - 2013
Levar a autonomia e cidadã dos educados e dos educadores.
Como podemos problematizar as dimensões da alimentação na SEA?
Que atividades podemos propor, para além de uma abordagem restritiva?
Que atividades podemos utilizar para estimular a construção coletiva, um olhar ampliado, uma visão crítica?
Permitir a transversalidade, multidisciplinaridade.
Referências bibliográficas
Enciclopédia Mirador Internacional - São Paulo, Rio de Janeiro; Encyclopedia Britannica do Brasil Publicações Ltda, V. 18, Verbete Saúde, p. 10271-10274.
FOUCAULT, Michel - O nascimento da clínica; Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1977.
FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. 18.ed. Rio de Janeiro: Graal, 2003. LUZ, Madel Therezinha - Natural, Racional, Social - Razão médica e racionalidade
científica moderna; São Paulo, HUCITEC, 2004 (2ª edição revista e prefaciada) LUZ, Madel Therezinha - Novos Saberes e Práticas em Saúde Coletiva - Estudos
sobre racionalidades médicas e atividades corporais. São Paulo, HUCITEC, 2005 (2ª edição)
ROSEN, G. Uma História da Saúde Pública. São Paulo: Editora Unesp, 1994. CANESQUI, Ana Maria; GARCIA, Rosa Wanda Diez. Ciências Sociais e Humanas
nos Cursos de Nutrição. In: CANESQUI, Ana Maria; GARCIA, Rosa Wanda Diez. Antropologia e nutrição: um diálogo possível. 20.ed. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2005b, p.255-274.
CANGUILHEM, George. O normal e o patológico. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1990. 154p.
Referências bibliográficas
CANNON, Geoffrey; LEITZMANN, Claus. The new nutrition science project. Public Health Nutrition. Norway, v.8, n.6, p. 673-694, 2005.
CASTRO, Inês Rugani Ribeiro; CASTRO, Luciana Maria Cerqueira; GUGELMIN, Silvia Angela. Ações educativas, programas e politicas envolvidos nas mudanças alimentares. In: GARCIA, Rosa Wanda Diez; CERVATO-MANCUSO, Ana Maria (Org.). Mudanças alimentares e educação nutricional. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011, p. 18-34.
DANIEL, Jungla Maria Pimentel; CRAVO, Veraluz Zicarelli. Valor Social e Cultural da Alimentação. In: CANESQUI, Ana Maria; GARCIA, Rosa Wanda Diez. Antropologia e nutrição: um diálogo possível. 20. ed. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2005 p.57-68.
LANG, Tim; BARLING, David; CARAHER, Martin. Food policy: integrating health, environment and society. Oxford University Press. Oxford, 2009. 307p.
POLLAN M. In defense of food. New York: The Penguin Press, 2008. PORTILHO F. Sustentabilidade ambiental, consumo e cidadania. Cortez. São
Paulo. 2005.
Referências bibliográficas
ROBERTS P. O fim dos alimentos. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 2009. LINN S. Crianças do consumo: a infância roubada. Tradução Cristina Tognelli.
São Paulo. Instituto Alana. 2006. VALENTE, F.L.S. (Org). Direito humano à alimentação: desafios e conquistas.
São Paulo: Cortez; 2002. BRASIL. Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009. Dispõe sobre o atendimento da
alimentação escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da educação básica; altera as Leis nos 10.880, de 9 de junho de 2004, 11.273, de 6 de fevereiro de 2006, 11.507, de 20 de julho de 2007; revoga dispositivos da Medida Provisória no 2.178-36, de 24 de agosto de 2001, e a Lei no 8.913, de 12 de julho de 1994; e dá outras providências. DOU, Brasília, DF, 2009a.