DIFICULDADES ENCONTRADAS POR PROFESSORES E ALUNOS NA PRÁTICA · DIFICULDADES ENCONTRADAS POR...
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DIFICULDADES ENCONTRADAS POR PROFESSORES E ALUNOS NA PRÁTICA
DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO CONTEXTO ESCOLAR: retomada de valores,
intencionalidade e ressignificação da disciplina
Autor: Leonildo Domingos Joaquim de Souza1
Orientadora: Rosângela Aparecida Mello2
Resumo
O presente artigo tem como objetivo analisar as dificuldades e os problemas encontrados em relação à estrutura física, à organização pedagógica nas aulas práticas de Educação Física, vivenciadas pelos professores e alunos dessa disciplina no âmbito escolar para propor algumas ações que contribuam em direção às possíveis soluções. Realizou-se pesquisa no Colégio Estadual Antonio Francisco Lisboa, na cidade de Sarandi-Pr., em 2011 e os sujeitos da pesquisa foram os alunos das 7ª e 8ª séries do período da tarde e alguns professores de Educação Física do Colégio. Optou-se como encaminhamento metodológico uma revisão bibliográfica levantando as informações sobre o assunto na literatura. Bem como, foi realizada, junto aos alunos e professores da disciplina de Educação Física, observações, coleta de dados, debates e comparações desses dados, elencando então os problemas de maior prioridade para a partir disto, organizar as ações possíveis. A proposta se justifica em função da condição precarizada do trabalho do professor, o desconhecimento sobre o que é educação física e o desinteresse dos alunos em apreender novos conhecimentos. As ações em relação a isto, quais sejam, as discussões com professores e alunos, as tentativas de melhorias no espaço físico e valorização da educação física por meio do conteúdo jogos, foram bastante satisfatórias. Especialmente em relação a este último - os jogos, realizou-se a pesquisa e confecção da peteca, com o envolvimento e a participação da maioria dos alunos, o que causou grande motivação a todos.
Palavras-chave: Educação Física Escolar; Docência; Valorização da Educação Física; Cultura Corporal.
1 Especialista em Treinamento Desportivo/natação e professor de Educação Física da Rede Estadual e Municipal.2 Doutora em Fundamentos da Educação e professora de Educação Física da Universidade Estadual de Maringá.
1 Introdução
Falar sobre a Educação Física e as atividades que fazem parte do seu
cotidiano, discutir os problemas e as dificuldades que são vivenciados no
desenvolvimento de suas atividades, é um grande desafio, pois ela é uma disciplina
que tem mudado sua linha de pensamento e a cada dia, procura buscar e legitimar a
sua importância e seu real valor na sociedade, principalmente dentro do ambiente
escolar, procurando estar envolvida com um ensino de qualidade e buscando
sempre realizar aulas com conteúdos envolventes e atraentes.
Temos visto professores desiludidos por não atingirem seus objetivos por causa das condições da escola. Existe uma influência determinante nas condições de trabalho na seleção de conteúdos e na organização da própria tarefa pedagógica. Conclui o autor3 que os professores devem lutar por condições de trabalho adequadas ou próximas a essa situação, mas nunca deixarem de trabalhar com as condições de trabalho que possuem, pois o conformismo é o nosso maior inimigo. (Mattos e Neira, 2007, p. 23)
Apesar de enfrentar diariamente grandes dificuldades dentro do espaço
escolar, os profissionais da educação procuram realizar suas atividades dando o
melhor de si, mas nem sempre isto é viável, pois para a realização de uma boa aula,
para a aprendizagem acontecer com empenho e entendimento, não basta somente
envolvimento dos profissionais, é necessário também ter condições dignas de
trabalho, constante aperfeiçoamento profissional, materiais e instalações adequadas
e acima de tudo, valorização e motivação profissional.
Este envolvimento, não deve ser somente do profissional que está dentro da
sala de aula, mas também daqueles da qual depende o bom andamento da
educação, os quais são os pedagogos, os diretores, profissionais de apoio, chefes
de núcleos, secretários de educação, governos, enfim, todos que fazem parte da
educação e que deveriam olhar e buscar na base os problemas e as possíveis
soluções para esses problemas, pois se algo não ocorre corretamente à culpa não é
unicamente de uma pessoa, como muitos acreditam que o culpado seja o
“professor”, mas sim de toda uma estrutura da qual depende a educação.
3 Mauro Gomes de Mattos. Vida no trabalho e sofrimento mental do professor de educação física na escola municipal: implicações no seu desempenho e na sua vida pessoal. I Tese de doutorado, FEUSP, 1994.
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O que se percebe, é que o profissional de educação, no caso o professor,
quer condições dignas de trabalho, não para ter “regalias”, mas lidar com condições
próximas das ideais que sejam voltadas para o retorno aos alunos, ou seja, para que
o educando possa experimentar e vivenciar atividades com dignidade, para que
possa receber e experimentar o maior número de atividades e conteúdos realizáveis,
conteúdos estes com quantidade e qualidade suficiente para ajudar em seu
desenvolvimento como pessoa, focando sempre no desenvolvimento e melhoria da
aprendizagem. Para que isto aconteça, várias questões devem ser observadas
como nos aponta Mattos e Neira:
A Educação Física tem o seu espaço de ação e sua forma peculiar de desenvolver os seus conteúdos, portanto, parece-nos impossível o desenrolar de um bom trabalho em áreas que restrinjam o movimento dos alunos. A área lança mão do movimento como seu mais forte componente. Locais de risco ou espaços pequenos demais devem ser evitados. (2007, p. 22).
Ainda os autores Mattos e Neira, colocam que:
um dos caminhos para inserir a Educação Física dentro do currículo escolar e colocá-la no mesmo grau de importância das outras áreas do conhecimento é através da fundamentação teórica, da vinculação das aulas como os objetivos do trabalho, da não improvisação e, principalmente, da elaboração de um plano que atenda às necessidades, interesses e motivações dos alunos. (2007, p. 25).
Diante disto, o papel do profissional de Educação Física vai além de apenas
ensinar a jogar, que já foi ultrapassado há muito tempo, mas de tentar preparar para
a vida, mas uma preparação com fundamentação, atividades embasadas para levar
o aluno a sair do senso comum e entender o mundo a sua volta com uma visão mais
crítica, assim como preconiza a SEED-PR:
As discussões e as práticas fundamentadas na Cultura Corporal possibilitam a problematização de questões importantes para o desenvolvimento crítico do aluno e a desnaturalização de alguns conceitos como, por exemplo, o de que a competitividade individualista, dos tempos atuais, é inata ao ser humano. O ser humano é entendido, aqui, como social, histórico, inacabado e, portanto, em constante transformação. Essa compreensão exige da
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Educação Física uma abordagem teórica que contextualize as práticas corporais, relacionando-as aos interesses políticos, econômicos, sociais e culturais que as constituíram. (2006, p. 11).
Sabemos que o ser humano está em constante modificação e a cada
momento mais conhecimento é produzido e na Educação Física também não é
diferente, pois a cada momento surge algo novo relacionado à cultura corporal, e
aquilo que aprendemos parece não ter fim. Acerca disto, a escola e inclusive a
Educação Física passa a ter pela frente grandes dificuldades, pois os profissionais
não sabem como estabelecer o que ensinar para os educandos e o que selecionar
como sendo importante ou não, estabelecendo o que deve ser ensinado e o que
deve ser deixado de lado. Com a mudança constante na sociedade, com os avanços
e acessos cada vez mais rápidos as informações, como estabelecer nos dias de
hoje, o que realmente é importante e aquilo que não é dentro do espaço escolar
para levar o educando a adquirir uma aprendizagem com qualidade?
Este artigo tem por finalidade apresentar os resultados das atividades
desenvolvidas sob a égide do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE,
trabalho este cujo objetivo central fora a detecção de dificuldades encontradas na
docência das aulas de Educação Física no contexto escolar que afetam direta ou
indiretamente no desenvolvimento das atividades e na aprendizagem dos alunos, e
foi elaborado na sua etapa conclusiva, objetivando apresentar sinteticamente as
atividades realizadas durante o processo de formação continuada.
Sob esse enfoque, colocou-se em ação a implementação prática em busca
de problemas enfrentados pela disciplina, tanto no desenvolvimento das aulas
teóricas, como principalmente no desenrolar das aulas práticas, através de debates
em sala com apresentação de textos com conceitos e significações relacionados à
Educação Física, Cultura Corporal, Ambiente Escolar, Problemas Encontrados no
Âmbito das Atividades desta Disciplina, além de sair a campo no interior do colégio
para coleta de dados e informações dos principais problemas enfrentados pela
Educação Física. Trabalhou-se com a confecção de materiais para vivências de
outras atividades da cultura corporal, trabalho este desenvolvido com alunos das 7ª
e 8ª séries do ensino fundamental. Some-se ao trabalho desenvolvido diretamente
com os alunos, o ministério de uma palestra para os funcionários e professores do
estabelecimento atendido pelo projeto de implementação em uma reunião
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pedagógica, com o intuito de mostrar o que é a disciplina de Educação Física e seu
papel dentro do ambiente escolar. Assim, foi realizada uma proposta de trabalho
visando à superação das seguintes situações problemas: “O que fazer para que a
disciplina de Educação Física seja mais fundamentada e valorizada no sistema
educacional, com mais qualidade no âmbito escolar? Será provável resolver os
problemas básicos encontrados pelos alunos na hora de irem para a prática de
Educação Física, como falta de material, falta de espaço físico e número de turmas
maior do que o espaço comporta? De quem é esta responsabilidade? O que fazer
para que as aulas de Educação Física se tornem motivantes e de qualidade,
deixando de lado, o fazer pelo fazer? Com pequenas mudanças na metodologia e na
utilização de alguns reparos no espaço escolar, será que ocorrerão melhorias na
qualidade das aulas de Educação Física? Estes são, em resumo, os pontos
discutidos na implementação e serão demonstrados no presente artigo.
Os temas abordados para inserir as discussões sobre os problemas
encontrados na docência da disciplina de Educação Física e implementar este
trabalho com os alunos foram: significado e papel da Educação Física; valorização
da Educação Física no contexto escolar; problemas encontrados nas estruturas
físicas e organizacionais da disciplina; ambiente escolar e a realização de atividades
da cultura corporal, neste caso, o conteúdo escolhido foi o jogo da peteca.
Para alcançar os objetivos propostos, buscou-se fundamentação teórica na
pedagogia crítica-superadora, seguindo as Diretrizes Curriculares do Estado do
Paraná.
2 Desenvolvimento
2.1 Dificuldades e Problemas Encontrados na Docência da Educação Física
Entende-se a escola como o espaço do confronto e diálogo entre os
conhecimentos sistematizados e os conhecimentos do cotidiano popular. Essas são
as fontes sócio-históricas do conhecimento em sua complexidade. (Diretrizes
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Curriculares, 2008). De acordo com o Coletivo de Autores: “a apresentação do saber
na escola se dá num tempo organizado sob a forma de horários, turnos, jornadas,
séries, sessões, encontros, módulos, seminários etc. Tempo que é organizado nos
limites dos espaços físico-pedagógicos: salas de aula, auditórios, recreios cobertos,
bibliotecas, quadras, campos etc.” (1992, p.30).
Krug citando Witter também esclarece que: “a escola é um microorganismo
que reflete o mundo exterior e seus problemas, mas que, por seus objetivos e por
sua especificidade, também gera problemas peculiares que, por vezes, se projetam
para além de seus muros” (2008, p.01).
Este autor também constata que, o que se percebe é que a maioria dos
professores de Educação Física da rede pública estão insatisfeitos com as
condições de trabalho, principalmente relacionados à falta de espaço físico
adequado à prática da Educação Física e inclusive, com a falta de materiais para
trabalhar. Krug ainda cita que:
Essas duas deficiências de infra-estrutura das escolas (falta de local e material) fazem com que os professores de Educação Física enfrentem enormes dificuldades para o desenvolvimento de uma prática pedagógica de maior qualidade. Enfatiza4 que a falta de materiais e espaço físico disponíveis para a realização das atividades são fatores que interferem negativamente na prática pedagógica dos professores de Educação Física. (2008, p. 02).
Continua elencando alguns fatos que vem acometendo os professores e os
nomeia como mal-estar docente. Um deles está relacionado com as condições
difíceis de trabalho e outro está relacionado com o descontentamento salarial. Isto,
segundo o autor, faz com que o professor se sinta minimizado, provocando um
sentimento de mal-estar, gerando alienação e frustração, o que leva a interferir na
qualidade do ensino.
O Coletivo de Autores, também faz menção a estas questões quando
apresentam o seu livro:
Temos em mente um professor sufocado pelas limitações materiais da
4 Hugo Norberto Krug. Rede de auto-formação participada de desenvolvimento do profissional de Educação Física, 2004. Tese de Doutorado em Ciência do Movimento Humano – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2004.
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escola, pelos baixos salários, pela desvalorização de sua profissão e do seu trabalho, mas sempre esperançoso em transformar sua prática, sedento do saber, inquieto por conhecer e suprir o que não lhe foi propiciado no período de sua formação profissional. (1992, p. 17).
Além do citado, outros fatores que ocorrem no âmbito escolar, podem
interferir na qualidade do ensino, como coloca Aquino apud Krug (2008, p. 03), que
“há muito tempo os distúrbios disciplinares deixaram de ser um evento esporádico e
particular no cotidiano das escolas brasileiras para se tornarem, talvez, um dos
maiores obstáculos pedagógicos dos dias atuais”.
Outro problema que pode interferir nas aulas de Educação Física e na
qualidade do ensino, segundo Krug (2008), está relacionado à insatisfação com o
relacionamento dos professores com seus pares, devido aos atritos de opiniões, ao
surgimento de inimizades, e a formação de grupos isolados de professores que
rejeitam outros colegas, ou seja, as famosas ‘panelinhas’. Assim, cita vários autores
que discutem esta questão:
A hostilidade na educação é manifestada através de inimizades que surgem entre os docentes prejudicando sua vida profissional. A hostilidade é comum na vida humana, mas não podemos deixar que chegue a afetar a saúde psicológica do professor. O ambiente hostil é prejudicial ao ambiente escolar. (Mosquera apud Krug, 2008, p.03).
E ainda ao comentar Gatti (2000), Krug faz o seguinte destaque:
Os professores são profissionais que tem dificuldades de consolidar estruturas de carreira para a categoria bem como de perceber bons níveis salariais. Assim, nestas condições, a autora salienta que, aliada a uma outra dificuldade, a da clareza do papel do professor na sociedade atual, tem-se configurado uma situação de condições precárias de profissionalização dos professores e conseqüentemente uma desvalorização social crescente. (2008, p. 04).
O que é percebido dentro do espaço escolar, é que apesar do sucateamento
dos materiais, das instalações, do difícil relacionamento dos profissionais da
educação e das constantes desmotivações enfrentadas no dia a dia desses
profissionais, dentro de suas limitações, grande parte deles ainda tentam realizar um
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bom trabalho e acabam, apesar de enfrentar certos sofrimentos, “vestindo a camisa”
da escola onde desenvolvem suas atividades. Apesar de todas essas dificuldades,
pensam no desenvolvimento de seus alunos, o que acaba injetando certa dose de
ânimo nas suas atividades e faz com que esses profissionais passem por cima de
grande parte das dificuldades, e apesar dessas limitações, façam a diferença dentro
do meio escolar.
Ramos; Spgolon apud Krug (2008, p.04), comentam que “a valorização
profissional é de certo modo um incentivo, para qualquer profissional trabalhar com
satisfação. Pesquisas mostram que profissionais satisfeitos apresentam resultados
significativos e de qualidade, ao contrário, profissionais insatisfeitos não evoluem”.
Apesar disso, Gatti apud Krug expõe que: “o peso da desvalorização social
faz-se presente e, com certeza, afeta o clima de trabalho dos professores”.
Essas questões se fazem presentes na Educação Física que além da
desvalorização profissional que acontece em várias áreas, segundo aponta Silva
citado por krug (2008), há também o desprestígio da disciplina de Educação Física
perante a sociedade.
Existem muitos profissionais empenhados com suas atividades e que
desenvolvem bons trabalhos. Imagine se esses profissionais estiverem motivados e
se forem cada vez mais valorizados. Os resultados seriam cada vez melhores. O
que não dá para entender é que acontece justamente o contrário. O que existe é
uma constante desmotivação, uma crescente desvalorização que vem a cada ano
aumentando e sobrecarregando esses profissionais com obrigações cada vez
maiores. Grande parte dessas obrigações, nem deveriam ser assumidas por eles,
pois deveriam fazer parte e serem resolvidos por outros segmentos da sociedade. O
que se percebe pelo comportamento da sociedade em geral, é que a
responsabilidade pela resolução de todos os problemas que são gerados por esta
sociedade é da escola, ou seja, seria a educação escolar que deveria resolvê-los.
Assim, quando se trata dos principais problemas que surgem nesta sociedade,
parece que o grande culpado são os profissionais da educação.
Mas não é dessa forma. O que acontece é o seu contrário, os problemas
sociais é que interferem nas questões escolares.
Segundo Tonet:
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não é de se admirar que a educação, assim como todas as outras dimensões sociais, esteja em crise. Não só nos países periféricos, mas, embora de modos diferentes, também nos países centrais. Afinal, o mundo todo está em crise. Há algumas décadas ele vem sendo sacudido por intensas, amplas e profundas transformações que, tendo seu epicentro na economia, se espraiam por todas as dimensões sociais. (2007, p.23).
Assim, a precarização das condições de trabalho do professor é resultado
de uma sociedade em crise.
De acordo com Castilho; Charão; Ligabue apud Krug, 2008, p.04, “a
desvalorização do professor é um processo antigo, pois com o passar do tempo esta
categoria foi tendo uma mutação, ou seja, aconteceu uma defasagem salarial, uma
desvalorização profissional, e quem mais sofre são os profissionais da rede pública
de ensino.” Ainda sobre estas questões, outros pesquisadores como Darido e
Sanches Neto, apud Machado colocam que:
Em função das precárias condições que os professores e alunos tem para a realização e vivência dos conteúdos, o professor contempla em suas aulas somente conteúdos possíveis de serem trabalhados de acordo com estas condições oferecidas. Esse modelo, algumas vezes chamado de recreacionista, embora não seja um nome muito adequado, aconteceu por duas razões principais: primeiramente, porque o discurso acadêmico passou muitos anos discutindo o que não fazer nas aulas de Educação Física, e não apresentando propostas viáveis e exeqüíveis para a prática; e outro fator diz respeito à falta de políticas públicas que facilitem de fato o trabalho do professor, como condições de trabalho, espaço, material adequado, políticas salariais e, principalmente, apoio às ações de formação continuada. (2007, p.06).
E Machado então, afirma:
Ainda nos dias de hoje, esta prática pedagógica vem sendo utilizada por alguns profissionais, os quais, muitas vezes, se encontram desmotivados e descomprometidos com a função pedagógica da Educação Física enquanto disciplina curricular, negando assim o direito dos alunos de vivenciarem os diferentes conteúdos que fazem parte desta disciplina e negando o compromisso e a importância da área para a formação do cidadão/aluno. (2007, p.7).
Muitos defendem que os profissionais da educação tem que ser criativos,
devem estar empenhados com suas atividades, mas acabam se esquecendo que
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para uma atividade dar bons resultados, depende de vários fatores e de vários
segmentos comprometidos e voltados para aquela atividade. Criatividade e
improvisação tem certo limite e o profissional de educação consegue ir até
determinado ponto, pois a qualidade e bons resultados, depende de vários fatores e
do bom funcionamento de todas as partes que envolve a educação e não somente
do professor, como se ele fosse o “culpado de tudo” ou o “salvador da pátria”.
Improvisação e sucateamento na maioria das vezes não geram bons resultados.
Segundo nos relata Tonet, é fácil entender que:
na medida em que a matriz do mundo, que é o trabalho, está em crise, à educação não poderia deixar de participar desta crise. Como, porém, esta crise rebate na educação? Das mais variadas formas, mas, sinteticamente, em primeiro lugar, revelando a inadequação da forma anterior da educação frente às exigências do novo padrão de produção e das novas relações sociais; constatando que as teorias, os métodos, as formas, os conteúdos, as técnicas, as políticas educacionais anteriores já não permitem preparar os indivíduos para a nova realidade. Em segundo lugar, levando à busca, em todos os aspectos, de alternativas para esta situação. Em terceiro lugar, imprimindo a esta atividade, de modo cada vez mais forte, um caráter mercantil. Isto acontece porque, como consequência direta de sua crise, o capital precisa apoderar-se de modo cada vez mais intenso, de novas áreas para investir. A educação é uma delas. Daí a intensificação do processo de privatização e de transformação desta atividade em uma simples mercadoria. Não é preciso referir as consequências danosas que este processo traz para o conjunto da atividade educativa. (2007, p. 28).
Gatti apud Krug (2008, p. 04), destaca “que as péssimas condições de
trabalho, os salários aviltantes, as relações interpessoais ruins e a desvalorização
profissional, são fatores, entre outros, de perturbação dos docentes, bem como de
comprometimento da qualidade do ensino, sem dúvida nenhuma”.
Krug citando Esteves e Mattos, que dizem:
Que a docência é uma das profissões que mais causa desgastes psicológicos, emocionais e físicos. Assim, este trabalho que poderia ser uma fonte de realização pessoal e profissional torna-se penoso, frustrante e todas as situações novas que poderiam servir como uma motivação passa a ser uma ameaça temida e, portanto, evitadas. (2008, p. 04).
Segundo krug (2008) grande parte dos professores de Educação Física
investigados por ele manifestaram algumas conseqüências do mal-estar docente,
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onde já pensaram em abandonar a profissão; já utilizaram o absenteísmo como
forma de reação para acabar com a tensão derivada do exercício docente; e não
refletem sobre as suas ações. Discutindo a pesquisa de Dunham, Krug coloca em
destaque que, segundo este autor:
para aprender a reduzir o mal-estar docente o professor deve aceitar a possibilidade da existência dessa situação nos seus colegas e nele próprio, compreender o significado dos sintomas, identificar os potenciais fatores que podem estar a contribuir para essa situação, identificar as estratégias de coping que utiliza no trabalho e fora dele e desenvolver programas personalizados para redução desses sintomas. (2008, p. 05).
Outro problema encontrado pela disciplina de Educação Física no ambiente
escolar, segundo Machado (2007), está relacionado com a falta de um programa que
aponte o mínimo necessário a ser trabalhado nos diferentes conteúdos em cada
série do ensino fundamental, assim:
Este programa mínimo é claro, deverá ser muito flexível e deixar muitas opções, para atender principalmente à falta ou à existência de locais e materiais específicos para a prática de Educação Física. [...] Por não termos na disciplina de Educação Física um programa de conteúdos num grau de complexidade crescente para cada série de ensino, o professor determina o que ensinar. [...] Muitas vezes esta ação pedagógica se dá de forma individualizada, desarticulada e descomprometida, dos demais colegas da área até mesmo daqueles que atuam na mesma escola. [...] No entanto, algumas vezes este mesmo profissional fica de mãos atadas em função das precárias condições de trabalho que lhe é oferecida, limitando-se a trabalhar de acordo com as possibilidades da estrutura física e materiais específicos existentes em sua escola para desenvolver as atividades. (2007, p.3).
Segundo a compreensão da autora, para intervir em uma realidade, precisa-
se antes de tudo, conhecê-la.
No entanto, o que realmente preocupa, é que diante disto tudo citado por
todos estes estudiosos, depara-se nos dias de hoje, com situações sem mudança
alguma, onde continuam os discursos e os estudos, mas na prática, na ação do dia
a dia não se altera quase nada. Não se consegue avançar, nem criar uma
expectativa de melhora, mas a cada momento gera-se mais angústia e o sentimento
cada vez mais de mãos atadas e percebe-se que mais uma vez precisa reinventar a
roda, que mais uma vez inicia-se o ano letivo como termina o anterior ou até mesmo,
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pior, pois com mais escassez de materiais, porque aqueles existentes tiveram um
desgaste maior ou foram acometidos de danos, perdendo-se o que existia, quadra
mais danificada e com a chegada de outras atividades impostas pelos segmentos da
educação perde-se alguns dos espaços existentes e utilizados pela disciplina.
A cada reunião pedagógica de início de ano letivo, acomete os profissionais
de educação a mais desgaste emocional, a mais estresse e mais desilusões, pois
percebe-se que a cada dia a educação é mais sucateada, vem menos investimentos
do governo para o setor educacional (pelo menos o que se sabe é que o
investimento que chega para a escola é muito irrisório pelo tanto de atividades que
ela precisa desenvolver para melhorar a qualidade na aprendizagem; incluindo aí a
parte de melhoria de infraestrutura que não contemplam nossas escolas; materiais
escassos; equipe de apoio humano para dar suporte para os diversos problemas
apresentados pelos discentes, entre outros), e o que tudo indica e parece bem claro,
é que os segmentos envolvidos com a educação, não estão preocupados com a
qualidade e o nível de aprendizagem no interior das escolas.
Segundo o site publicado em 04/01/2011, coloca que:
Investimento na educação básica será 13,7% maior em 2011. Valor do Fundeb por aluno deve ser de R$ 1.722 contra R$ 1.414 em 2010. O Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais de Educação) vai receber uma verba 13,7% maior em 2011. A receita total deve ser de R$ 94,48 bilhões – em 2010, esse valor foi de R$ 83,09 bilhões. O valor total destinado ao Fundeb será composto pela arrecadação dos Estados, municípios e do Distrito Federal – R$ 86.68 bilhões. O complemento de R$ 10%, ou R$ 8,66 bilhões, será de responsabilidade da União. (HTTP://noticias.r7.com/educacao/noticias/ pág. 1-2).
Segundo informações coletados no site ESTADÃO.COM.BR/Educação,
apesar da ampliação dos últimos anos, os gastos do Brasil com educação (menos
de 5% do PIB) não são suficientes para ampliar o acesso ou a qualidade, metas do
novo Plano Nacional de Educação (PNE). Este valor é distante daquele
indispensável ao financiamento das necessidades, diz o comunicado Financiamento
da educação: necessidades e possibilidades. Pelos números do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea, houve uma ampliação real do gasto em
educação realizado pelas três esferas de governo no período de 1995 a 2009,
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saindo de R$ 73,5 bilhões para R$ 161,2 bilhões - um crescimento real de 119,4%
em 15 anos, equivalente a 5,9% ao ano. Também houve aumento dos gastos em
comparação com o PIB, saindo de 4% para cerca de 5% no mesmo período. Para o
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea, a política de financiamento deveria
ser precedida pelo planejamento de ações envolvendo a vasta comunidade
engajada com educação. Ainda neste documento, consta que:
O número de escolas disponíveis no sistema chega próximo a 180 mil. Além disso, na educação básica estão empregados cerca de dois milhões de professores – dos quais 1,6 milhão na rede pública. No ensino superior, são quase 340 mil docentes – 120 mil em instituições públicas. Este aparato físico e humano se faz acompanhar da distribuição de alimentos e refeições, livros e materiais didáticos, de serviços de transporte escolar e do acesso aos meios digitais de aprendizagem e à internet para alunos da rede pública da educação básica. (www.estadao.com.br, 2011).
Com os dados acima sobre a educação, entende-se porque a educação no
Brasil “anda a passos de tartaruga”. Não que não haja investimentos, mas os
mesmos não são suficientes para atender com qualidade todas as necessidades
básicas para o bom funcionamento e andamento das instituições educacionais
públicas do nosso país. Desta forma observa-se que apesar dos aumentos ocorridos
nos investimentos, esses não conseguem acompanhar a demanda com gastos e
manutenções dos espaços escolares.
2.2 Comprometimento da Educação Física com o Sistema Educacional
O que subsidia a Educação Física na Educação Escolar é justamente o
estudo, a análise, a crítica e a consciência do movimento humano dentro da história.
Mas o que aconteceu e o que vem acontecendo com esta disciplina dentro do
sistema Educacional, parece que é o oposto. Aulas sem significação, sem
intencionalidade, sem fundamentação alguma, atividades totalmente fora dos
princípios da cultura corporal, enfim, atividades sem objetivos, sem metodologia
apropriada para tentar atingir uma meta que corresponda a uma disciplina escolar.
O que realmente preocupa, são as atitudes presenciadas pelos alunos 13
dentro do espaço escolar, onde é percebido que eles querem é o não fazer nada, ou
seja, o não aprender, o não buscar conhecimento. Será que os métodos e conteúdos
devem ser mudados para atingir os objetivos estabelecidos pela disciplina ou o que
mudou realmente foram às intencionalidades da sociedade que aí está posta? Os
verdadeiros culpados por estes descasos são os alunos, são os profissionais da
educação ou são os objetivos estipulados pela sociedade atual? Ou será que a
sociedade mudou demais e a escola e a Educação Física não acompanharam essas
mudanças? Ouve-se falar que o homem influencia e é influenciado por
determinações da realidade que o cerca e da realidade onde vive. Será que esta
influência que vem se dando junto aos alunos não é uma influência negativa
provocada pelos meios de comunicação e até mesmo pelos avanços tecnológicos
(onde são usados de forma indevida), levando eles a não pensarem e a não
analisarem de forma crítica o que está acontecendo a sua volta? Será que esta
proporção atingida não tem uma intencionalidade real por parte da sociedade que
está posta? A intenção aqui não é achar um culpado por este comportamento, mas
tentar colaborar para uma saída à esta situação que vem afetando os alunos,
denegrindo a imagem da Educação Física e inclusive, piorando a qualidade do
ensino na esfera escolar.
Será que estas mudanças estão relacionadas com aquilo que O Coletivo de
Autores (1998) coloca, ou seja, que se esquece do ponto chave que é o ser humano
historicamente criado e culturalmente desenvolvido de uma maneira integral e
único? Segundo as Diretrizes Curriculares:
O conceito de Cultura Corporal tem como suporte a idéia de seleção, organização e sistematização do conhecimento acumulado historicamente, acerca do movimento humano, para ser transformado em saber escolar. Esse conhecimento é sistematizado em ciclos e tratado de forma historicizada e espiralada. Isto é, partindo do pressuposto de que os alunos possuem um conhecimento sincrético sobre a realidade, é função da escola, e neste caso também da Educação Física, garantir o acesso às variadas formas de conhecimentos produzidos pela humanidade, levando os alunos a estabelecerem nexos com a realidade, elevando-os a um grau de conhecimento sintético. (2008, p. 45).
Muito se tem refletido, tentando definir o que realmente seja a Educação
Física, qual o seu campo de conhecimento e atuação e os seus referentes
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conteúdos e matérias de ensino no contexto escolar. Toda expressão e produção
humana advêm do contexto cultural onde o indivíduo está inserido e das suas
experiências vivenciadas, experimentadas, articuladas, selecionadas, analisadas por
eles. Segundo o Coletivo de Autores (1992, p.50), a “Educação Física é uma prática
pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza formas de atividades expressivas
corporais como: jogo, esporte, dança e ginástica, formas estas que configuram uma
área de conhecimento que podemos chamar de cultura corporal”.
Quando se fala em focar a educação no envolvimento do aluno, centrando
seu aprendizado nas suas experiências, interesses, expectativas e necessidades, a
grande preocupação é a de que os alunos na atualidade querem cada vez menos
estudar, pesquisar, refletir. Dá a impressão que estão sem objetivos, perdidos e que
é cada vez mais vantajoso não fazer nada, não aprender, porque aprender requer
muito sacrifício e parece que não estão afim desse sacrifício, estão acomodados, ou
ainda não aprenderam a estudar e a buscar o caminho para esta aprendizagem (aí
entra mais uma vez o papel do profissional de educação). Está bastante
preocupante a situação atual do horizonte escolar.
Para frisar o que foi dito acima, transcrevo o texto de Michel Aires de Souza
publicado em 19/07/2009 no site http://filosofonet.wordpress.com. Esta transcrição
se deve ao fato de profunda identificação com o que o autor denuncia:
O governo culpa os professores pela má qualidade do ensino, mas não en-xerga o verdadeiro problema e tenta resolvê-lo com receitas prontas e aca-badas. O governo se exime da culpa e diz que o problema está na formação dos professores. Desde então tem feito esforços para dar uma melhor for-mação aos professores através de cursos e de uma prática reflexiva nas HTPCs. Para o governo, os problemas educacionais são constantemente reduzidos a questões que podem ser resolvidas no âmbito do indivíduo, do esforço pessoal do professor. O professor é visto como o Messias da educa-ção; é um ser dotado de inesgotável força de vontade que deve estar per-manente disposto a se superar no cumprimento de sua missão. O importan-te é que cada um faça sua parte para que a educação melhore. O que o go-verno ainda não enxergou, por miopia, é que os problemas da educação são problemas políticos, sociais e culturais. São vários os fatores que levam o aluno a um déficit de aprendizagem. Citaremos apenas alguns deles: Pri-meiro, é um problema de política pedagógica, pois institui a progressão con-tinuada, que em termos práticos torna-se progressão automática. O aluno perde a motivação para aprender, pois sabe que não precisará fazer esfor-ços para passar de ano. O professor torna-se impotente diante dessa situa-ção e perde sua autoridade, pois a nota que ele aufere do aluno não tem va-lor. Em consequência disso, a indisciplina se institucionaliza. A escola torna-se o local do encontro, da amizade, do namoro, da sociabilidade, mas quase nunca do ensino. Outro problema ligado à progressão continuada é fato de as crianças chegarem ao final do primeiro ciclo sem saber ler e escrever ou
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chegar ao ensino médio, analfabetos funcionais, sendo incapazes de inter-pretar um texto. Isso ocorre porque o aluno não consegue aprender novas competências por causa de déficits de aprendizagem em séries anteriores. O aluno sente dificuldade de desenvolver novos esquemas mentais e co-nhecimentos necessários exigidos. Dessa forma, ele não consegue assimi-lar os conteúdos e habilidades necessários para seguir em frente. Segundo, o problema da educação é também um problema estrutural. A escola pública no Brasil tem um modelo arquitetônico prisional. Michel Foucault, filósofo Francês, já havia estudados os males que este tipo de arquitetura causa ao indivíduo. Para ele, este tipo de arquitetura é uma arquitetura de esquadri-nhamento, da observação, da disciplina, do controle, cujo único objetivo é controlar os indivíduos criando seres dóceis e serviçais ao mercado de tra-balho. O aluno da escola pública vive numa prisão. A falta de comprometi-mento nos estudos, a desmotivação, a falta de interesse do aluno é em boa parte criada por esta estrutura prisional, onde as aulas tornam-se monóto-nas e chatas. Falta a escola pública uma estrutura material para que o aluno goste de estudar, como áreas verdes, quadras, equipamentos, salas de es-tudo, salas de teatro, salas de vídeo, salas de ginástica, biblioteca, materiais para uso em sala de aula, etc. Um ambiente agradável com uma estrutura impecável é imprescindível para que o aluno aprenda.Terceiro, o problema da educação é também social. Os problemas educacionais refletem as con-tradições da própria sociedade. Na base da educação há uma família geral-mente carente material e intelectualmente. Pobreza, fome, falta de trabalho e falta de perspectiva são fatores que minam a educação. O Brasil é um das dez maiores economias do mundo, mas em indicadores sociais ela está ao lado de Botsuana e Moçambique: 30 milhões vivem em estado de miséria; 80 milhões não conseguem consumir as 2240 calorias mínimas exigidas para uma vida normal; 60% dos trabalhadores no Brasil ganham até um sa-lário mínimo. 50% da riqueza concentram-se nas mãos de 10% da popula-ção que ganham mais de dez salários. São Paulo, a cidade mais rica do Brasil, não foge a estes dados. O subemprego é uma realidade da grande maioria das famílias paulistas: faxineiras, camelos, lavadores de carro, pe-dreiros, pintores, eletricistas ocasionais são comuns. Tais pessoas apresen-tam baixo nível de consumo e renda e baixo nível educacional sendo inca-pazes de acompanhar seus filhos e dar uma boa assistência a eles. Quarto, é um problema de política salarial e de valorização do professor. Os baixos salários, o descaso, o desrespeito, a imposição de políticas pedagógicas; tudo isso somado têm reflexos na educação. Os bons salários de alguns grupos de funcionários públicos, como os de juízes, promotores e políticos é provocado pelo subdesenvolvimento de outros grupos, como o de professo-res. Para que alguns grupos possam receber melhores salários e acumular patrimônios outros grupos necessitam ser explorados e sacrificados. O acesso aos benefícios está desigualmente repartido. Em consequência dos baixos salários e dos descasos com a classe, o professor perde a motiva-ção, não tem prazer em dar aulas, resigna-se, não fazendo um bom traba-lho. Quinto, é um problema cultural, pois a sociedade não faz cobranças à escola. Nas escolas públicas não há colegiados, não há conselhos, não há grêmios escolares. As desvalorizações por parte da sociedade brasileira em relação ao saber e ao conhecimento têm reflexos em toda estrutura educa-cional. Uma sociedade que não valoriza o conhecimento é uma sociedade sem história, sem memória. A participação da sociedade como um todo nas questões educacionais deve ser o cimento que constrói a nossa cultura, que defende as sociedades locais, que preserve nossa memória e consciência contra as ameaças de grupos, de ideologias e de interesses políticos. A par-ticipação da comunidade na escola é imprescindível para melhorar a quali-dade do ensino e para gerar a consciência política e reflexiva sobre os fatos. Como vimos, o problema da educação não pode ser resolvido no âmbito do microcosmo da escola e do esforço individual de cada um. O governo reduz o problema da educação em termos operacionais, ao voluntarismo. “Escola da família”, “amigo da escola”, “escola para todos” são termos que nos mos-
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tram que cabe a comunidade e as professores resolver os problemas da educação. As idéias vinculadas à TV de um professor esforçado, voluntario-so, feliz, decidido a resolver os problemas da educação não condiz com a realidade. Educação não é auto-ajuda. Os problemas educacionais não po-dem ser resolvidos apenas no âmbito do individuo, da comunidade e do es-forço pessoal do professor. O problema da educação é antes de tudo um problema político e social.
Além desta situação mais ampla e determinante o profissional de Educação
Física tem que dar conta da especificidade da Educação Física e de seus
problemas.
Por isso, procurei refletir sobre a necessidade da Educação Física na escola,
pois acredita-se que a formação da cultura da atividade física na sociedade passa,
também, pelo espaço escolar.
Dentro de um projeto mais amplo de educação do Estado do Paraná, entende-se a escola como um espaço que, dentre outras funções, deve garantir o acesso aos alunos ao conhecimento produzido historicamente pela humanidade. Neste sentido, partindo de seu objeto de estudo e de ensino, Cultura Corporal, a Educação Física se insere neste projeto ao garantir o acesso ao conhecimento e à reflexão crítica das inúmeras manifestações ou práticas corporais historicamente produzidas pela humanidade, na busca de contribuir com um ideal mais amplo de formação de um ser humano crítico e reflexivo, reconhecendo-se como sujeito, que é produto, mas também agente histórico, político, social e cultural. (Diretrizes, 2008, p.49).
Segundo Machado (2007, p.2), “a disciplina de Educação Física, como parte
integrante do processo educacional, tem o compromisso de estar articulada com o
projeto político pedagógico da escola e comprometida com uma transformação
social que ultrapasse os limites da mesma”. E ainda:
O projeto político pedagógico “é um instrumento teórico-metodológico, que sistematiza todas as ações da escola podendo ser alterado por não ser definitivo, podendo ser aperfeiçoado no decorrer de toda a caminhada, a qual dependerá dos envolvidos no processo, do objeto de estudo e do contexto no qual está inserido, buscando a transformação da realidade.” (Vasconcellos apud Machado, 2007, p.02).
A autora também aponta que quem determina a linha mestra de todas as
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ações coletivas da escola é o projeto político-pedagógico, então os professores de
Educação Física ao elaborarem o planejamento da disciplina, devem estar
comprometidos com o processo educacional, devendo com isto estabelecer de
forma clara e coerente, as ações que serão adotadas com seus alunos no dia-a-dia
através de sua ação pedagógica.
Segundo trata as Diretrizes:
A Educação Física é parte do projeto geral de escolarização e, como tal, deve estar articulada ao projeto político-pedagógico, pois tem seu objeto de estudo e ensino próprios, e trata de conhecimentos relevantes na escola. Considerando o exposto, defende-se que as aulas de Educação Física não são apêndices das demais disciplinas e atividades escolares, nem um momento subordinado e compensatório para as ‘durezas’ das aulas em sala. (2008, p. 50).
O que é vivenciado dentro da escola pelos profissionais da educação, é que
a Educação Física não é vista enquanto componente curricular, e nem mesmo como
uma disciplina, mas como uma atividade à parte dentro da escola. Grande parte dos
alunos tem em mente ainda, que a Educação Física não ensina conteúdos
sistematizados e é simplesmente uma atividade onde vão para praticar algum
esporte ou realizarem algum tipo de atividade física sem dar ênfase realmente a
algum tipo de aprendizagem, principalmente de cunho cognitivo. Pensam ainda que,
a Educação Física é extremamente prática e as demais disciplinas é que cuidam da
parte teórica.
Percebe-se ainda hoje, que tanto os alunos como os profissionais das
demais disciplinas, tratam a Educação Física não como uma disciplina inserida e
comprometida com a educação dentro do espaço escolar, mas como uma disciplina
de apoio, ou seja, desvinculada das questões de aprendizagem e sim, voltada mais
para a recreação. Ela é compreendida como uma disciplina de cunho
compensatória, ou seja, a Educação Física seria utilizada para relaxar, brincar,
extravasar e dar vazão as tensões provocadas pelas disciplinas, onde os alunos
trabalham e cansam sua parte cognitiva.
Para compreender o que foi dito acima, deve-se voltar na história e assim,
observar qual era o papel da Educação Física. Segundo Mello (2009), a Educação
Física se torna historicamente necessária, como conhecimento sistematizado na
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escola, ao aparecerem os problemas da sociedade consolidada. Sob estas
condições, a preocupação com um “corpo” forte, saudável, disciplinado se torna
presente nos discursos educacionais. A “educação do corpo” se vê difundida como
essencial para livrar a nova sociedade de muitos dos seus males. A Educação
Física, no seu início, além de valorizada por suas bases científicas e de ter suma
importância enquanto higienizadora num momento em que a sociedade era
produtora de enfermidades, contribuía então para a formação do caráter,
disciplinando a vontade, pois era necessário apaziguar os ânimos, formando o
cidadão cada vez mais responsável por si e, pela manutenção da ordem social. No
Brasil este quadro se confirma, principalmente nas décadas de 1970, período da
ditadura militar. Neste período também se colocava a formação de atleta e o desvio
da atenção dos problemas políticos e sociais. Nesse viés, apresenta um conceito de
Educação Física pelas demais áreas da educação, muito defasado. Esses
profissionais das demais disciplinas ainda não conhecem o papel e importância da
Educação Física para o desenvolvimento dos alunos, inclusive para auxiliar no
desenvolvimento desses alunos nessas outras áreas do conhecimento, como é o
caso de matemática, português, história, geografia, entre outras.
De acordo com Machado (2007):
Enquanto prática pedagógica, a Educação Física, tem o compromisso de garantir a participação, a inclusão de todos os alunos nas aulas, independente de suas possibilidades e limitações corporais, propiciando assim a vivência destes alunos nas diferentes manifestações da cultura corporal, experiências estas que vão contribuir significativamente na formação do aluno/cidadão. (p.02).
Esta autora ainda coloca que:
Cabe aos professores a partir destas diretrizes, organizarem os conhecimentos, ou seja, os conteúdos de Educação Física que serão trabalhados, considerando o nível dos alunos, o interesse dos mesmos quanto as diferentes manifestações da cultura corporal nas diferentes faixas etárias, a realidade social em que a escola está inserida, as condições físicas adequadas que se tem a disposição para a prática pedagógica, entre outros, não tornando assim as aulas de Educação Física repetitiva ano após ano, muitas vezes nem mesmo aumentando o grau de complexidade. (p.02).
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Percebe-se com isto é que a Educação Física escolar não está cumprindo
seu papel formativo e informativo, pois este papel já foi conquistado há mais de uma
década e parece que não surtiu efeito no interior da maioria das escolas e que
houve mudanças na teoria, mas a prática na realidade continua a mesma, ou seja,
aulas ministradas sem embasamento algum e na maioria das vezes, desprovido de
conhecimento científico ou simplesmente, a prática pela prática. Sem contar com o
esforço de tentar mudar a cara da Educação Física dentro desse espaço, onde não
se procura desmistificar os conceitos errôneos e taxativos já enraizados que
denigrem a imagem da disciplina. Parece que é mais fácil deixar como está a
imagem denegrida da Educação Física do que tentar dar outro rumo e outro sentido
para as aulas, buscando realmente valorizar e mostrar qual é o papel e os objetivos
verdadeiros da existência desta matéria no âmbito escolar.
2.3 Ressignificação e Valorização da Educação Física
2.3.1 O Que é Educação Física?
A disciplina de Educação Física, atualmente costuma ser vista, por quem
não a conhece a fundo, como uma prática que privilegia o ato físico voltado
simplesmente e exclusivamente à aprendizagem esportiva. Porém, quem a conhece
na sua profundidade, sabe que ela transforma e que produz mudanças de
comportamento. Além disto, ela deve ser abordada como uma ação planejada e
estruturada, que se utiliza da Cultura Corporal fazendo uso de várias linguagens,
como o esporte, a dança, o jogo, a brincadeira e a atividade psicomotora para
produzir aprendizagem. (Gonçalves, 2009).
Segundo o Coletivo de Autores (1992), “Educação Física é uma prática
pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza formas de atividades expressivas
corporais como: jogo, esporte, dança, ginástica, formas estas que configuram uma
área de conhecimento que podemos chamar de cultura corporal”.
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Ainda conceituando Educação Física, Coletivo de Autores (1992), coloca
que “ela é compreendida como uma disciplina do currículo, cujo objeto de estudo é a
expressão corporal como linguagem”.
Já segundo Gonçalvez (2009):
A Educação Física se utiliza do corpo como instrumento e canal de aprendizagem. A criança se utiliza da linguagem corporal muito antes de qualquer outro tipo de comunicação, por isso, utilizar-se desta via de aprendizagem, que é o seu corpo em movimento, pode ser um facilitador e motivador para aprender.
A Educação Física se utiliza de vários recursos que agem como agente
motivador e ao mesmo tempo, cria condições desafiadoras, colocando a criança
diante de situações-problema. (Gonçalves, 2009).
Com muitas discussões e lutas, a Educação Física vem avançando e
conquistando seu espaço dentro do sistema escolar desde as décadas de 1980 e
1990, com a elaboração do Currículo Básico, dos PCN´s (que apesar de ter muitos
pontos negativos, veio também para que a Educação Física refletisse suas ações) e
atualmente as Diretrizes Curriculares, onde teve como base alicerçada no Currículo
Básico e se fundamenta na pedagogia histórico-crítica5. Com isto, a Educação Física
ganha uma outra roupagem e busca novos caminhos para fortalecer e estruturar a
disciplina principalmente no contexto escolar. Segundo o levantamento histórico feito
por Mello:
Durante a ditadura militar a esta ‘atividade’, obrigatória em todos o níveis de ensino e estimulada aos trabalhadores em geral, era atribuída a função de ocupar o tempo dos estudantes e trabalhadores colaborando para desviá-los das discussões econômicas e políticas. Com o processo de redemocratização, disciplinas escolares como Educação Moral e Cívica, Organização Social e Política Brasileira, Estudos de Problemas Brasileiros e a Educação Física, distribuídas em todos os níveis de ensino, são questionadas e perdem o sentido. Questionado também são os programas de atividades físicas oferecidas à população em geral e, a grande ênfase dada aos esportes e às competições esportivas, em detrimento à resolução dos graves problemas de miséria vividos pela maioria do povo brasileiro. Para os professores de Educação Física, este contexto deu origem ao que se chamou de ‘crise de identidade’. (2009, p. 16).
5 Embora, nesta proposta, a Educação Física não apareça como conteúdo da escola.21
Historicamente, segundo Mello (2009), até o final dos anos de 1970, o
conteúdo da Educação Física esteve pautado no paradigma das ciências biológicas,
voltadas para a aptidão física, higiene e formação moral do trabalhador. A partir da
década de 1980, ela entra no processo que ficou conhecido como “crise de
identidade” e começa a manifestar preocupações com a resolução desta crise.
Neste momento, muitos pesquisadores passam a discutir a especificidade do seu
conhecimento, a sua legitimidade e a sua obrigatoriedade, fundamentados em
algumas vertentes teóricas das ciências humanas, tecendo críticas diversas à
sociedade capitalista.
O movimento crítico que ganhava corpo no interior da Educação Física no final da década de 1980, paulatinamente perde espaço para as tendências pedagógicas que intencionalmente ou não, estão mais próximas das orientações do novo ordenamento político e econômico da sociedade brasileira e do capitalismo em geral. (Mello, 2009, p.11).
Ainda a autora (2009), afirma que:
Para entender a implementação da Educação Física na escola, faz-se necessário reconhecer que a educação não é um fenômeno social isolado, mas é parte da totalidade social construída historicamente pelos seres humanos. E, à medida que a sociedade se transforma, modifica-se também a forma da educação. ( p.14).
Assim, afirma que “a Educação Física tal qual conhece-se hoje, expressa de
alguma maneira, a forma como os seres humanos se relacionam no modo societário
capitalista.” (Mello, 2009, p.10).
Como coloca as Diretrizes (2008, p. 51), “pensar a Educação Física a partir
de uma mudança significa analisar a insuficiência do atual modelo de ensino, que
muitas vezes não contempla a enorme riqueza das manifestações corporais
produzidas socialmente pelos diferentes grupos humanos”.
Segundo as Diretrizes (2008), o que visa neste estudo é superar formas de
atuação dentro do espaço escolar, com o propósito de ir além, sem negar o que
precedeu, mas com a intenção de analisar, de criticar, de reorientar ou até mesmo
transformar aquelas formas de aulas que vinham acontecendo. Com isto, procura-se
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possibilitar aos alunos o acesso a várias formas de conhecimento, como é o caso da
cultura corporal criada historicamente, não se esquecendo do contexto político,
econômico e social que estão vinculados, como aponta Machado:
A Educação Física ao longo dos anos, assim como a educação formal, esteve sempre atrelada aos interesses da classe dominante, atendendo as exigências e necessidades de cada época. Sendo assim, no decorrer de seu processo histórico, vem sofrendo constantes modificações, inclusive no suporte teórico que a sustenta, na concepção que se tem da mesma enquanto disciplina curricular, nos objetivos traçados e nos meios utilizados para alcançar as metas a que se propõe. Várias são as influências que a Educação Física vem sofrendo desde sua implantação como disciplina curricular obrigatória, até os dias atuais. (2007, p.4).
Nesse sentido, Bracht apud Mello (2009, p. 18) preocupado em levantar os
problemas que mais afligem os professores de Educação Física, aponta em seus
primeiros escritos certa “negligências” da área em relação à sua legitimidade nos
seguintes termos: “o professor de Educação Física não soube, até o momento,
articular nada além de ‘altos brados de indignação’ e um discurso, na maioria das
vezes, teoricamente inconsistente, isto quando não se apega ou faz um discurso
‘legalista’, confundindo legalidade com legitimidade”.
O mesmo autor (2009) ainda coloca que “legitimidade significa que há bons
argumentos para que um ordenamento político seja reconhecido como justo e
equânime, um ordenamento merece reconhecimento. Legitimidade significa que um
ordenamento político é digno de ser reconhecido”.
Segundo Bracht apud Mello (2009, p. 19), o significado de legitimar a
Educação Física é “apresentar argumentos plausíveis para a sua permanência ou
inclusão no currículo escolar, apelando exclusivamente para a força dos
argumentos, declinando dos argumentos da força. Esta legitimação precisa integrar-
se e apoiar-se discursivamente numa teoria da Educação.” Segundo o Coletivo de
Autores:
Pode-se afirmar que uma disciplina é legítima ou relevante para essa perspectiva de currículo quando a presença do seu objeto de estudo é fundamental para a reflexão pedagógica do aluno e a sua ausência compromete a perspectiva de totalidade dessa reflexão. (1992, p.29).
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É preocupante e ao mesmo tempo deve-se refletir sobre a legitimidade da
Educação Física na escola, quando Mello (2009), diz que essa legitimidade é dada
pelas necessidades de manutenção das relações sociais capitalistas e não pela
necessidade de seu conteúdo específico. Pensando nisto, será que a Educação
Física tem força e utilidade dentro do espaço escolar? A autora coloca que os
profissionais de Educação Física tem que ter clareza sobre os objetivos que
almejam com suas práticas sociais e questiona:
Até que ponto a crise de identidade e legitimidade da Educação Física escolar reflete a crise mais ampla pela qual passa a escola pública? Até que ponto a Educação Física é ainda uma disciplina necessária no ambiente escolar considerando os possíveis encaminhamentos para a escola no processo do atual desenvolvimento societário? E ainda, em que medida o professor de Educação Física não é trabalhador sujeito ao mesmo processo de alienação e estranhamento próprios do trabalho abstrato capitalista, cujo conhecimento por ele veiculado se torna não só empobrecido como também desnecessário na escola, do ponto de vista do capital? (Mello, 2009, p.13).
A mesma autora faz mais um questionamento para reflexão sobre o assunto:
“uma perspectiva crítica e revolucionária deve perguntar pela legitimidade da
Educação Física na sociedade capitalista ou pela necessidade histórica de
transformação radical desta sociedade?” (Mello, 2009, p.13).
Segundo o Coletivo de Autores (1992, p. 25): “Uma pedagogia entra em
crise quando suas explicações sobre a prática social já não mais convencem aos
sujeitos das diferentes classes e não correspondem aos seus interesses.” Será que
é por este motivo que a Educação Física não conseguiu seu lugar de destaque na
esfera escolar e até mesmo na sociedade, pois não produziu argumento suficiente e
convincente para provar a sua importância?
Segundo Mello (2009), “este problema não é apenas da Educação Física,
mas de todo o sistema escolar, ao perder a sua especificidade em relação à
transmissão do conhecimento para reforçar comportamentos que colaboram, ou ao
menos não se constituam em obstáculos ideológicos à reprodução da sociabilidade
estabelecida”.
Mello (2009, p.17) reforça que, “sem dúvidas, a manutenção da
obrigatoriedade concede à Educação Física um status de disciplina escolar que,
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sem a citação no texto legal, seria difícil conseguir, haja vista a fragilidade das
nossas justificativas”, mas desloca a questão dos “argumentos” ou do “discurso”
para a compreensão da realidade social.
O Coletivo de Autores coloca que:
É preciso que cada educador tenha bem claro: qual o projeto de sociedade e de homem que persegue? Quais os interesses de classe que defende? Quais os valores, a ética e a moral que elege para consolidar através de sua prática? Como articula suas aulas com este projeto maior de homem e de sociedade? (1992, p.26).
Muitas vezes os profissionais tem bem claro o que querem, mas na maioria
das vezes não depende somente deles, mas o seu entorno. Isso significa que a
Educação Física, está onde está, devido à “n” fatores, pois o fato e os
acontecimentos não dependem e estão onde estão puramente por culpa somente
dos professores, mas devido a toda uma estrutura que está por trás do sistema
educacional, onde envolve família, sociedade, governo, alunos, direção, segmentos
dos mais diversos, espaço físico, investimentos, enfim, é algo de uma grandiosidade
onde não é correto colocar a culpa em alguém e dizer quais são seus interesses,
sendo que esses interesses por mais que sejam objetivos e bem intencionados e
fundamentados, não surtirão efeito se não tiver o envolvimento de todo o sistema
educacional.
Para entender melhor sobre os problemas da Educação Física e da
Educação, deve-se compreender e conhecer melhor sobre a estrutura da sociedade
atual. Para isso Tonet (2007) destaca que é compreensível que a preparação para o
trabalho seja vista como a função essencial da educação, referindo-nos à
sociabilidade capitalista, e deste modo, toda a vida dos indivíduos, em todas as suas
manifestações é, de algum modo, posta sob a ótica do capital. O que não significa
que todos os aspectos, em sua totalidade, estejam subsumidos ao capital. Esta
afirmação significa, apenas, que nenhum aspecto da vida social e individual, hoje,
deixa de ser perpassado pelos interesses do capital. Educar, portanto, seria uma
atividade voltada para a preparação dos indivíduos para a vida social.
O que se percebe no horizonte escolar pelas demais disciplinas, é que
realmente a Educação Física é tida ainda como uma disciplina de apoio para as
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demais, onde se pensa o aluno em dois momentos, um quando as disciplinas ditas
como teóricas trabalham o cognitivo e outro, quando a Educação Física atua,
trabalhando a parte do movimento, ou seja, a preparação física. Dá-se a impressão
que esses profissionais não entendem de educação, pois qualquer aluno que tenha
um problema relacionado à questão de aprendizagem, um bom profissional vai
trabalhar antes de qualquer coisa, para chegar ao problema de aprendizagem,
primeiramente as questões relacionadas ao movimento para depois com isto, chegar
e sanar o problema de aprendizagem. Pois, se o aluno tem um problema de
aprendizagem e lhes privam de fazer atividade física, provavelmente este problema
tem a tendência de se agravar, mas se a ele lhe é dada a oportunidade de fazer
atividade física dirigida com este fim - o de recuperar a aprendizagem - terá um
avanço e um desenvolvimento que o ajudará a resgatar seu déficit na aprendizagem.
Com isto se evita aqueles discursos utilizados pelas demais áreas, que dizem que a
Educação Física é importante na superação dos obstáculos, mas que deveria ser
em contra turno para evitar que os alunos cheguem cansados, suados ou agitados,
preservando-os para o rendimento escolar das demais aulas.
“O que se tem, então, é uma visão de Educação Física concebida pela
dicotomização corpo e mente, na qual, o aluno deve estar constantemente
preparado para assimilar conhecimentos e conteúdos de cunho cognitivo.” (Santos e
Lima, 2007, p.131). Visão esta que precisa ser superada.
3 Conclusão
Na apresentação da Implementação do Projeto Pedagógico, em reunião
pedagógica para os professores e funcionários do Colégio, tendo como tema o
Papel e a Importância da Educação Física dentro do Ambiente Escolar, pode-se
perceber que apesar dos profissionais de educação trabalharem juntos, conviverem
com diversas disciplinas, praticamente desconhecem as demais áreas e sabem de
maneira muito superficial, e em alguns casos, somente o que vivenciaram como
alunos nos bancos escolares, o que realmente essas disciplinas fazem e trabalham.
Diante da pergunta “O Que é Educação Física?”, o que se obteve de
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resposta, foi algo muito simplista e defasado, ou seja, aquele conhecimento que os
presentes tinham quando passaram pelos bancos escolares e que vivenciaram ha
muito tempo atrás, no contato com a disciplina de Educação Física, onde não houve
um acompanhamento ou até mesmo, houve uma falta de interesse em saber a que
“pé anda” a Educação Física, ou seja, o que parece é que não há interesse por parte
dos professores das demais áreas em saber sobre outra disciplina. Se ela está se
desenvolvendo, se está crescendo, se está produzindo conhecimento, se está
acompanhado os avanços da educação e da sociedade, se ela colabora com o
colégio para o desenvolvimento e aplicação da qualidade na aprendizagem dos
alunos, se ela pode contribuir para ajudar outras disciplinas a aplicarem seus
conteúdos de forma amarrada e contextualizada, enfim, o que parece é que a única
coisa que importa é a “minha disciplina” e que as outras não me interessa e não
importa se são importantes e até mesmo se existem ou se deixam de existir. Os
profissionais das demais áreas colocaram que ter aula de Educação Física é
simplesmente “ir para a quadra e jogar bola”, pois desconheciam o papel desta
disciplina dentro do espaço escolar.
Quando se perguntou sobre os “Principais Problemas Enfrentados pela
Educação Física”, grande parte dos presentes se prontificaram em responder, pois
alguns deles correspondiam com que as outras disciplinas também vivenciavam,
onde um dos principais recaem sobre os problemas estruturais do colégio, alguns
dizem que isto não influencia na questão pedagógica, o que discordo plenamente.
Alguns dos presentes colocaram que conhecem a maioria dos problemas
enfrentados pela Educação Física e que se a maioria deles fossem solucionados,
também iria automaticamente resolver alguns problemas enfrentados por suas
disciplinas, como é o caso da estruturação das instalações das práticas da
Educação Física, neste caso, iria resolver o problema da acústica pois, as salas de
aulas próximas a quadra teriam desta forma menos barulho e ruídos, além de não
acontecer a incidência de alunos nas janelas das salas atrapalhando o andamento
das aulas de outras disciplinas. E por fim, foi citado à falta de apoio e investimento
por parte das nossas lideranças das políticas públicas nas escolas e o descaso com
a educação de um modo geral, levando a escola a se tornar um local sem
infraestrutura, sucateado. Foi também mencionado que a escola pública hoje, em
alguns casos, é um local de “depósito de crianças”, sendo assim um local insalubre,
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desestruturado e muito longe de se tornar um local ideal para se aprender
conhecimento científico, ou seja, para receber os alunos com qualidade e até
mesmo um local para se trabalhar com dignidade, onde o tratamento tanto dos
alunos e dos profissionais que ali estudam e trabalham deveria ser de seres
humanos e não tratados como “coisas, números, casos ou dados estatísticos”.
Diante do que foi apresentado, pode-se perceber que tanto a disciplina de
Educação Física quanto as demais áreas passam por diversos problemas dentro do
ambiente escolar, onde alguns deles são semelhantes às diversas áreas e outros
são específicos, e o que tem em comum e unanimidade, é que eles estão longe de
serem resolvidos e que com isto, a cada dia vão se agravando mais, o que faz surgir
outros por não terem sido solucionados os principais deles.
Após o embate e apresentação do papel e da importância da Educação
Física dentro do ambiente escolar para os presentes, pode-se perceber que os
mesmos ficaram satisfeitos com a apresentação, pois grande parte não conhecia o
papel da Educação Física e que realmente ela tem uma contribuição muito grande
dentro da escola, para ajudar na questão da aprendizagem e também na melhoria
da qualidade de ensino para os nossos alunos. Disseram também que a
apresentação teve um bom embasamento e que apesar do tempo usado para a
realização ter sido um pouco prolongado (o que foi necessário e previsto para
apresentar todo o conteúdo programado), foi feito com conhecimento e com muita
clareza, e que este tipo de atividade deveria ser realizada mais vezes para que
pudessem ter um maior conhecimento das diversas áreas que trabalham para o
mesmo fim, qual seja, o da melhoria da qualidade da aprendizagem dos nossos
alunos.
Já o material teórico trabalhado com os alunos, não foi de grande proveito,
pois eles não demonstraram muito interesse em buscar conhecimento, em
pesquisar, em prestar atenção naquilo que não está diretamente ligado com as
situações momentâneas do seu cotidiano. Na idade que eles se encontram, seus
objetivos e focos de atenção estão voltados para outras atividades, outras ações e
não estão interessados em conteúdos, em aprendizagem, enfim, estão muito
distante dos focos apresentados e trabalhados pela escola.
Nas perguntas realizadas sobre O Que é Educação Física? Sobre os
Problemas Encontrados pela Educação Física? Sobre o Que é Escola? Sobre o Que
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São Conteúdos Estruturantes? Sobre o Que é Cultura Corporal?, não conseguiu-se
obter nenhuma resposta convincente, plausível e com embasamento. Quando um ou
outro aluno respondia, geralmente a resposta vinha acompanhada de dúvida e com
pouco conhecimento, sempre de uma forma muito simplista e sem argumentação.
Após estes questionamentos, passou-se uma apostila com os conceitos e
conhecimentos sobre os assuntos citados acima para discussão em sala de aula,
mas apesar de ter ocorrido a explicação, assim mesmo, pode-se perceber que
poucos prestaram atenção e que houve pouco aproveitamento neste tipo de
atividade, pois percebe-se um interesse muito abaixo do normal nesta faixa etária
por assuntos relacionados a escola e a aprendizagem de conteúdos desenvolvidos
pelas disciplinas de um modo geral.
Quando saíram a campo para coletar dados referentes aos problemas
encontrados pela Educação Física dentro do ambiente escolar, aí obteve-se uma
maior participação e envolvimento por parte dos alunos, onde saíram em grupo e
elencaram uma série de problemas enfrentados pela Educação Física, ou seja,
enfrentados por eles na hora de irem para as aulas práticas. Esses problemas foram
elencados, discutidos e após isso, foi feito um relatório e entregue para a direção do
colégio para tomarem ciência dos fatos e na medida do possível, tentarem
solucionar os mais viáveis e de responsabilidade do próprio colégio. Nesta fase do
projeto, o maior obstáculo encontrado foi em relação ao transtorno que o colégio
vinha enfrentando com a obstrução das verbas em função de problemas de ordem
administrativa vivenciado pela equipe diretiva. Com a retenção das verbas, muitas
atividades dentro do colégio deixaram de acontecer, inclusive a concretização e
finalização do projeto do PDE. Com este acontecimento, aqueles problemas
poderiam ser resolvidos, acabaram ganhando mais um, pois com a falta de dinheiro
dentro do colégio, foi inviável realizar a implementação do projeto de acordo com o
planejado e as atividades não puderam ser finalizadas como o esperado.
Apesar de nem tudo ocorrer como o esperado, à busca por atividades da
cultura corporal, neste caso, a peteca, pôde ser realizada e teve uma repercussão
muito boa, pois teve uma aceitação e envolvimento bastante grande.
Os discentes envolvidos no projeto pesquisaram na internet, foi coletado o
material teórico necessário e em grupos de oito pessoas, realizou-se a produção de
petecas. Os envolvidos tiveram que confeccionar a sua peteca após realizarem
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pesquisa na internet no ambiente informatizado do colégio e assistirem um vídeo na
TV pendrive. Os componentes de cada grupo deveriam confeccionar uma peteca
para cada integrante e duas para doarem para o colégio. Após o término dessa
etapa, as petecas confeccionadas e doadas pelos alunos participantes do projeto
seriam colocadas em exposição para visitação do público escolar.
Concluída esta parte, partiu-se para as atividades práticas com a realização
de alguns processos pedagógicos para a aprendizagem e manuseio do jogo de
peteca. Realizou-se alguns exercícios e depois em círculos, fez-se o bate e rebate
da peteca, onde puderam experimentar o material produzido por eles, onde
observou-se a eficiência do material produzido e foi corrigido algumas eventuais
falhas. Em alguns casos, material utilizado para confeccionar a peteca era de
qualidade inferior e algumas petecas abriram, sendo necessário refazê-las. Neste
momento os alunos perceberam o problema e debatendo, analisaram que deveriam
utilizar material com qualidade melhor, pois desta forma a peteca ficaria mais
resistente e duraria mais.
Após o término desta etapa, selecionou-se alguns alunos para ministrarem
uma oficina de confecção de peteca na semana cultural. Os alunos do projeto
ensinariam os demais alunos interessados pela atividade. Nesta fase do projeto,
ocorreu um fato importante. Começou-se a oficina somente com quatro alunos e
após esses alunos terem confeccionado suas petecas e saírem para o pátio para
brincarem com elas, tivemos uma surpresa. Neste momento começou a aparecer
alunos querendo aprender a confeccionar a peteca e o grupo quase não deu conta
de atender a tantos. Por sorte e empenho de todos, conseguiu-se alcançar os
objetivos desta etapa e atendendo a demanda. Esta fase foi muito gratificante, pois
os alunos saiam satisfeitos e felizes com sua peteca pronta para jogarem no pátio.
Na fase seguinte, que seria a de revitalização do espaço e confecção da
rede para jogar peteca, não tiveram a mesma sorte, porque com o corte das verbas
do colégio, não puderam comprar as ferramentas e nem os materiais que seriam
usados para preparar o local para fazer o campo de peteca e nem confeccionar a
rede usada no jogo. Assim mesmo, fez-se a prática com algumas ferramentas que o
colégio possuía para tentar revitalizar algum local, onde começaram a limpá-lo para
que os alunos vivenciassem na prática, como é difícil preparar e cuidar de algum
local para que pudessem usar nas aulas práticas de Educação Física. Neste
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momento, surgiu o que realmente era esperado. Alguns alunos começaram a
reclamar que “era difícil”, que “não era obrigação deles” fazerem aquilo, que não
eram “escravos”, que “quem deveria fazer este tipo de atividade era a direção”. Após
esses questionamentos e desabafos, os alunos foram encaminhados para a sala de
aula, onde foi feito um debate e mostrou-se que realmente eles estavam certos e
que eles deveriam observar mais as atividades a sua volta e cobrar mais empenho
das autoridades competentes e não assumirem obrigações que não eram deles.
Diante dos acontecimentos, pode-se observar que alguns alunos não se
interessam pela maioria das atividades do colégio, que não tem muito interesse em
buscar novos conhecimentos, que querem fazer somente aquilo que sabem. Tudo
para eles parece difícil e sem muita motivação. Um dos maiores problemas
encontrado, foi o de ensinar aqueles que realmente não querem aprender, ou seja,
se negam em aprender. O mais difícil é obrigar alguém a aprender. A escola perdeu
o seu papel, que é o de levar conhecimento para quem vem buscá-lo. O que parece
é que os alunos estão vindo para a escola para realizar todo o tipo de atividade,
menos o de buscar conhecimento científico, o de buscar aprendizagem, o de
realmente ter o objetivo de passar pela escola e aprender. Parece que este objetivo
não existe mais e muitos nem sabem porque estão ali.
4 Referências
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