Desinteresse e problemas de interpretação no ensino de História: Professor, o quê fazer?
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Universidade Nove de Julho - Uninove
Diretoria de Educação
Curso de Licenciatura em História
Avaliação 3 – Atividade Final
6º semestre A - manhã
Emerson Feliciano Mathias
2013
Desinteresse e problemas de interpretação no ensino de
História:
Professor, o quê fazer?
Parte II - Análise
Introdução
O desinteresse dos alunos pelo ensino de História é um dado que chama atenção
na educação pública e também na privada. Por que esse desinteresse? Por que os alunos
acham desnecessário? Pouco interessante? Muitos fatores podem ser citados para
podermos analisar esse quadro, porém iremos focar em um problema muito grave, a má
interpretação de textos apresentada pela maioria dos alunos. Na educação percebemos
que problema chama problema, pois, qual seria a razão desse grande analfabetismo
funcional? Poderíamos listar uma quantidade significativa de prováveis problemas que
levaram ao quadro que temos no ensino, mas neste trabalho vamos analisar como
professores o que podemos fazer dentro da sala de aula para minorar essa situação.
O que percebemos por meio das entrevistas com os alunos foi o alto índice de
desinteresse, pouco interessante e desnecessário relacionados na pergunta; O que
acham sobre o que estudam na escola? O porcentual foi de 58%, e quando perguntados
sobre se tem hábitos de leitura o índice foi de 59%. Esses números são preocupantes e
devem ser analisados com muita atenção por todos os agentes envolvidos com a
educação na escola. Podemos relacionar ainda, a falta ou pouca leitura de pais e
familiares dos alunos, o tempo excessivo de acesso à internet (88%), e a dificuldade de
relacionar acontecimentos atuais com a História (35%). Justifica-se ainda a dificuldade
apresentada pelo professor Ataíde França no que se refere à metodologia para tentar
transmitir o conteúdo didático apresentado, falta-lhe um pouco de paciência com os
alunos que apresentam dificuldades de interpretação. Como percebemos em sua
entrevista; “Deparo com alunos de ensino médio quase analfabetos, e isso dificulta
muito.”1 Levamos ainda em consideração a estrutura física apresentada pelo colégio
(biblioteca com poucos livros, laboratório de informática precário, sem recursos áudio
visuais) também como um dos fatores que prejudicam o processo ensino-aprendizagem
e dificultam o trabalho docente referente ao tema apresentado.
1 Entrevista com professor de História Ataíde França. Local - Colégio Modelar. Dia 31/10/2013.
Reflexão sobre o tema
A dificuldade apresentada pelos alunos no ensino de História é devido a diversos
fatores. Portanto, nosso foco é o desinteresse e a dificuldade de compreensão e
interpretação de textos devido à má formação na escola básica. Esses alunos chegam ao
Ensino Médio com problemas gravíssimos, quase ou totalmente sem saber ler, enfim
analfabetos funcionais. Segundo CAIMI (2006), os professores reclamam da falta de
atenção, desinteresse, passividade, alunos que desafiam sua autoridade, irreverentes e
bagunceiros. Percebemos que esta visão em alguns docentes é reducionista e
excludente, pois, não leva em consideração o real motivo ou motivos que levam os
alunos a se comportarem desta maneira. Não podemos generalizar, mas diversos alunos
pela dificuldade na leitura e interpretação de textos acabam se desinteressando e não
entendendo o que é a História e sua importância para seu cotidiano. O aluno não
entende e não consegue relacionar o passado com o presente, entender conceitos
históricos e muito menos contextualizar diferentes épocas.
No que respeita às estatísticas nacionais sobre o desempenho escolar,
têm-se índices extremamente preocupantes. Considerando-se o
domínio da leitura e da escrita, elemento fundamental para a
aprendizagem de qualquer componente curricular, e especialmente da
história, as pesquisas apontam que 22,2% dos estudantes da 4ª série se
encontram praticamente em situação de analfabetismo. A avaliação do
SAEB evidencia que, no Brasil, 59% dos estudantes da 4ª série do
ensino fundamental ainda não desenvolveram as competências básicas
de leitura, uma vez que possuem a compreensão de textos simples,
mas não de textos jornalísticos ou de informações contidas em tabelas,
(...). (CAIMI, 2006:19)
Devemos como docentes tentar identificar os problemas referentes ao ensino-
aprendizagem de História. Se o aluno não aprende, não gosta, acha inútil para sua vida,
no mínimo temos que identificar as razões para definir novas metodologias de ensino
para esses alunos que demonstram dificuldades de interpretação. “Um dos bordões mais
citados atualmente, presença invariável nos manuais de pedagogia, mostra que, o
professor deve partir do que o aluno quer aprender, levando em conta os seus
interesses.” (CAIMI, 2006:22). A utilização de recursos áudio visuais, filmes,
documentários, visitas a museus, aulas com dinâmica e jogos, contribuiriam para
minorar esse problema grave. “Se fosse considerado de modo apropriado e com
seriedade pelo professor, tal postulado poderia contribuir para fazer da aula um espaço
de curiosidade, envolvimento, questionamento, dúvida, enfim, de efetivo interesse pelo
conhecimento.” (CAIMI, 2006:23).
O desinteresse dos alunos está diretamente ligado a diversos fatores sociais,
porém, como observamos na pesquisa realizada com os alunos o baixo índice de leitura
realizada por eles e também pelos membros de suas famílias é muito preocupante e deve
ser analisado profundamente pela escola. Este problema eleva ainda mais o
analfabetismo funcional, dificultando o processo de ensino-aprendizagem de História.
Referente à responsabilidade da escola nesse processo a partir da década de 1950,
Freitas diz:
As crianças no momento do ingresso eram submetidas ao teste de
verificação de maturidade para a leitura e para a escrita. Aquelas que
eram consideradas imaturas eram indicadas para as chamadas séries
preliminares; aquelas que eram consideradas maduras eram
encaminhadas para as séries regulares. Por suposto, essa divisão
visava dar a cada turma um tratamento específico conforme o
potencial diagnosticado. (...) Independentemente das “verificações de
maturidade” o programa era sempre idêntico, de modo que o regime
de avaliação tomava por iguais crianças que a própria estrutura da
escola nomeara desiguais. (...) A história social da educação no Brasil
tem capítulos que, mesmo quando inseridas no escopo de iniciativas
consistentes, revelam um enredo de triste desfecho para o aluno pobre.
(FREITAS, 2009:159-60).
A escola nesse contexto nasce excludente, não leva em consideração a
diversidade cultural, étnica e social do aluno, acarretando e ampliando as dificuldades e
os problemas vistos até hoje na escola. “(...) A lógica da exclusão apoia-se na lógica das
classes. (...) Classificar é, portanto, uma forma de organização ou de raciocínio que
coloca os iguais, os que têm o mesmo critério – em um mesmo lugar, em uma mesma
caixa. (MACEDO, 2005:18).
Importante citar esse aspecto da exclusão, pois, o problema de interpretação de
texto e posteriormente o desinteresse pelo ensino de História por parte dos alunos, foi
possivelmente agravado durante essas décadas até nossos dias, devido a esse método de
admissão. Ainda hoje reproduzimos de certa forma esse processo excludente quando
não identificamos esses problemas com nossos alunos, e quando identificamos temos
dificuldade e infelizmente alguns docentes não se disponibilizam a pensar em novas
metodologias que possam mudar essa situação.
Uma metodologia que poderia ser implantada para que os alunos pudessem
entender os conceitos, a temporalidade e os sujeitos históricos seria a utilização dos
textos interligados com sua vida cotidiana, com a vida de sua família. Por exemplo,
sobre o tema ditadura o professor poderia utilizar-se de entrevistas feitas pelos alunos
com seus pais, avós, tios, entre outros, fazendo perguntas referentes a esse período e
direcionadas para o texto dado em sala. Dessa forma o aluno pode compreender-se
como um agente na história, facilitará o entendimento de temporalidade e conceitos
históricos. “(...) o trabalho do historiador implica a exigência de traduzir nas linguagens
de hoje e significado passado das palavras e, através delas, das realidades expressas (...)
o significado dos conceitos atuais deve ser redefinido se pretendemos traduzir o passado
através deles.” (PROST, 1996:141-142 apud MONTEIRO, 2007:138). Junto a isso a
utilização de filmes, documentários, documentos (jornais, revistas, etc.), pode auxiliar o
docente na difícil tarefa de contornar o grave problema de leitura apresentada por
muitos alunos.
O reconhecimento do professor como autor do seu texto de saber,
mesmo que essa autoria esteja inserida num contexto de autonomia
relativa, como afirma Chevallard (1991), implica o reconhecimento da
sala de aula como um espaço de ação e produção de saberes, onde há
possibilidades de criação, dúvidas, incertezas, situações inesperadas e
desconcertantes. Essas devem ser administradas de forma rápida pelo
professor, com conhecimentos tácitos, que muitas vezes, tem
dificuldade para identificar. (PERREUNOUD, 1993:105-11 apud
MONTEIRO, 2007:115).
Ainda no tema sobre a ditadura, o trabalho com jornais alternativos seria de
grande valia. Uma aula com textos sobre a ditadura, entrevistas de alunos com pessoas
que viveram nesse período, somados a pesquisa com jornais da época ajudariam muito o
aluno no entendimento do texto e tornaria a aula mais interativa, interessante e rica.
Podemos e devemos utilizar esse método em diversos temas históricos onde o contexto
pode ser trabalhado e comparado com o cotidiano dos alunos, família, trabalho e lazer.2
2 Para exemplificar, podemos utilizar os textos de Temas da Historiografia Brasileira para elaborar aulas;
SEVCENKO, Nicolau. As faces ocultas da I República: modos de representação do negro na literatura.
HERSCHMANN, Micael; PEREIRA, Carlos Alberto Messeder. O Imaginário Moderno no Brasil. In: A
Invenção do Brasil Moderno: medicina, educação e engenharia nos 20 e 30. CUNHA, Marcos Vinicius
da. A Escola contra a Família. ALBUQUERQUE JR. Durval M. Operando o Nordeste: da região que
tem um flagelo a ser extirpado no diagnóstico do discurso da seca à região como estrutura estagnada no
diagnóstico do discurso do planejamento, entre outros. Podemos utilizar a metodologia citada adequando
e/ou mudando temas e textos dentro da grade curricular referente aos anos do fundamental II e do Ensino
Médio.
“(...) A história é um organismo: o que está antes condiciona o que vem depois; assim, a
partir do presente, da Contemporaneidade e suas características, seus problemas, deve-
se remontar para trás (...)”. (CAMBI, 2006:37).
Como já foi dito, precisamos como professores identificar e administrar
situações inesperadas em sala de aula. Apesar das dificuldades que nos é imposta nas
escolas, como, falta de estrutura física, problemas de relacionamento com direção,
coordenação e outros docentes, dificuldades em se implantar projetos interdisciplinares,
entre outros. “(...) os professores ocupam uma posição estratégica no interior das
relações complexas que unem as sociedades contemporâneas aos saberes que elas
produzem e mobilizam com diversos fins.” (TARDIF, 2003:33).
Conclusão
Podemos discorrer sobre os inúmeros problemas da educação brasileira, mas não
é possível pensar em educação e especificamente em Ensino de História para alunos que
não sabem ler. Essa situação é alarmante e como verificamos por meio das entrevistas
esse quadro tende a aumentar. Vemos índices alarmantes de desinteresse e desgosto pela
leitura, teatro, música, em detrimento da internet, televisão e outras atividades que não
colaboram para o processo de alfabetização desses alunos com esse déficit. Esses alunos
não conseguem relacionar os acontecimentos atuais com a História, conforme pesquisa
realizada. Em contrapartida os professores demonstram pouca ou nenhuma disposição
ou conhecimento para lidar com essa situação. Mesmo bem intencionados, falta uma
metodologia adequada e melhores condições pedagógicas e estrutura física nas escolas
para que os professores possam desenvolver seu trabalho de maneira satisfatória. Os
estágios serviram para percebermos as dificuldades que enfrentaremos referente à
estrutura física das escolas e de relacionamento com todo seu quadro de funcionários,
bem como, metodologias utilizadas pelos professores que acompanhamos que são
pertinentes e que poderemos utilizar em nossa carreira docente e, sobretudo, aquelas que
infelizmente em sua maioria não são adequadas e que não dão certo. Portanto, nesse
aspecto podemos saber o que não vamos fazer e o professor que não vamos ser e as
estratégias e metodologias que não iremos utilizar.
Portanto como docentes precisamos assumir uma educação reflexiva para
estabelecermos condições de analisar, entender e executar novas metodologias que
ajudem a minorar a falta de interesse pelo ensino de História provavelmente estimulado
pelo analfabetismo funcional.
Referências Bibliográficas
CAIMI, Flávia Eloísa. Por que os alunos (não) aprendem História? Reflexões sobre o
ensino, aprendizagem e formação de professores de História. Revista Tempo, v.11 nº
21. Universidade de Passo Fundo – RS. 2006.
CAMBI, Franco. História da Pedagogia. São Paulo: Editora Unesp, 2006.
FREITAS, Marcos Cezar de e BICCAS, Maurilane de Souza. O desenvolvimento como
meta e como mistificação___________História Social da Educação de Brasil (1926-
1996). São Paulo: Cortez, 2009.
MACEDO, Lino de. Ensaios Pedagógicos: Como construir uma escola para todos?
São Paulo: Artmed, 2005.
MONTEIRO, Ana Maria Ferreira da Costa. Professores de História: entre saberes e
práticas. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007.
TARDIF, Maurice. Saberes Docentes e Formação Profissional. São Paulo: Editora
Vozes, 2003.