Design Para Necessidades Essenciais Projeto de Captacao e Filtragem de Agua de Chuva

download Design Para Necessidades Essenciais Projeto de Captacao e Filtragem de Agua de Chuva

of 26

description

Design para necessidades essenciais: projeto de captação e filtragem de água de chuva Completo

Transcript of Design Para Necessidades Essenciais Projeto de Captacao e Filtragem de Agua de Chuva

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    Design para necessidades essenciais: projeto de

    captao e filtragem de gua de chuva

    Design for essential needs: project of capturing and filtration of rain water

    Chiminazzo, Sirlei; Bacharela em Design de Produto; UCS Universidade de Caxias do Sul

    [email protected]

    Resumo

    Os problemas ambientais e sociais do mundo atual so a principal motivao para este

    projeto, o qual est fundamentado na sustentabilidade ambiental e social, necessidades

    essenciais e design permacultural. Tem como bases referenciais as bioconstrues e a

    arquitetura verncula, para torn-lo vivel e acessvel. Outro importante propsito deste

    trabalho rever as prioridades do design, incentivando a adoo de atitudes crticas, ticas e

    responsveis. O principal objetivo suprir a necessidade vital de abastecimento de gua para

    os trabalhadores do MST, com a concepo de cisternas para captao e filtragem de gua da

    chuva, em razo de sua condio de vida apontar a urgncia na soluo deste problema.

    Palavras Chave: design; necessidades essenciais e projeto de cisternas.

    Abstract

    The environmental and social problems of the todays world are the main motivation for this

    project, which is founded in environmental and social sustainability, permaculture design and

    essential needs. Its references are bioconstructions and vernacular architecture, to make it

    feasible and affordable. Another important purpose of this work is to review the priorities of

    design, encouraging the adoption of critical, ethical and responsible attitudes. The main

    objective is to supply the vital need for water provision for the workers of the MST, with the

    design of cisterns to capture and filter rainwater, because of their living conditions points to

    the urgency in solving this problem.

    Keywords: design; essential needs and cisterns project.

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    Introduo

    O objetivo deste trabalho desenvolver um projeto de cisternas para captao e

    filtragem da gua da chuva, para atender a uma das necessidades essenciais dos trabalhadores

    do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

    Para se buscar contribuies conceituais, foram feitas abordagens sobre

    sustentabilidade ambiental e social, devido aos problemas ambientais e sociais estarem se

    tornando cada vez mais graves. Sobre isso, sero apresentados apontamentos de Manzini

    (2008), o qual adverte que preciso cuidar para que as atividades humanas no contrariem os

    princpios da justia e da responsabilidade em relao ao futuro.

    Sero tratados temas como necessidades essenciais e o papel do design (PAPANEK,

    1977) para que se revejam prioridades da profisso, estimulando a escolha de atitudes crticas,

    ticas e responsveis, que no promovam o consumo irresponsvel.

    A permacultura ser apontada como um dos caminhos para a criao de ambientes

    humanos sustentveis, ecologicamente corretos e economicamente viveis (MOLLISON,

    1997), que supram suas prprias necessidades, no explorem ou poluam e que sejam

    sustentveis em longo prazo. A associao do design com esses conceitos e princpios mostra-

    se como uma inovadora fonte de inspirao para o presente projeto.

    Por fim, objetivando atender necessidades dos trabalhadores do MST, sero

    apresentadas as anlises das visitas ao assentamento em Sananduva (RS) a ao acampamento

    em Passo Fundo (RS), onde se procurou conhecer sua filosofia e modo de vida, para ento

    propor solues para seus problemas mais urgentes. Foi selecionada como necessidade

    prioritria, a de captao e potabilizao da gua de chuva, para a qual a proposio de um

    projeto de cisterna pretende viabilizar uma resposta.

    Sustentabilidade ambiental e social

    A introduo do termo desenvolvimento sustentvel confirmou que a promessa de

    um bem-estar (baseado na continuidade do modelo de desenvolvimento dos pases ricos e na

    emulao desse modelo para os pases pobres) no poderia mais ser sustentada, pois excedia a

    capacidade de recuperao dos ecossistemas e estava exaurindo o capital natural (Manzini,

    2008). Para ele, o uso insensato de recursos renovveis (pesca e energia solar); o uso de bens

    no renovveis (reduo de reservas e acmulo de lixo) e a emisso de nocivas substncias no

    meio ambiente, estranhas natureza tm mostrado que o caminho que estvamos seguindo

    no conduziria ao desenvolvimento que almejvamos.

    As pesquisas rumo sustentabilidade tm como base dois princpios (MANZINI,

    2008): a resilincia (capacidade de um ecossistema de tolerar uma atividade que o perturba

    sem perder seu equilbrio) e o capital natural (recursos no renovveis), que em conjunto

    com a capacidade sistmica do ambiente de reproduzir recursos renovveis, devem ser

    avaliados como um todo, referindo-se tambm riqueza gentica. Esses fundamentos devem

    ser complementados por outros, de cunho social e tico: sustentabilidade social, em escala

    mundial ou regional, em que as atividades humanas no contrariem os princpios da justia e

    da responsabilidade em relao ao futuro, considerando a atual distribuio e a futura

    disponibilidade de espao ambiental.

    Alm disso, o princpio de justia proclama que cada pessoa tem direito ao mesmo

    espao ambiental e o princpio de responsabilidade em relao ao futuro determina que se

    deve garantir s geraes futuras ao menos a mesma quantidade e qualidade de recursos

    ambientais que temos hoje a nosso dispor, profere o autor. Vale salientar que preciso

    garantir isso no apenas s pessoas, mas tambm, a todas as espcies no humanas.

    Para Papanek (1977), a funo primordial do designer baseia-se em solucionar

    problemas e este tem de saber melhor que outros quais so os problemas existentes. Assim, os

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    profissionais devem refletir se o projeto em que atuam est a favor ou contra o bem social. H

    mais necessidades bsicas alm de alimentos, abrigo e vesturio. Dentre os muitos exemplos

    de projetos para o mundo real, ele prope possibilidades para os pases menos

    desenvolvidos e salienta que a maioria de suas necessidades deve ser resolvida in loco.

    Centrais eltricas, instalaes para armazenar de alimentos, equipamentos para a depurao

    da gua etc. so algumas das sugestes de projetos apontadas pelo designer (1977).

    Consumo e necessidade

    Enquanto para muitos, o anseio de consumo adquirir bens e servios que supram

    suas necessidades, para outros, o sonho de consumo consumir o mnimo possvel.

    O consumo pode tornar-se alvo de generalizaes imprudentes, preconceitos e

    suposies precipitadas. Para no cair nessa cilada, Rocha (in Douglas e Isherwood, 2004),

    revela trs aspectos do consumo: o hedonista, o moralista e o naturalista. O hedonista

    considera o consumo essencial felicidade e ao sucesso profissional ou pessoal das pessoas.

    Na viso moralista, o consumo responsabilizado por diversos problemas da sociedade,

    sendo considerado ftil e superficial. J o consumo naturalista pode atender a necessidades

    fsicas ou responder a desejos psicolgicos, o que o torna natural e universal.

    No entanto, o consumismo pode ter origens emocionais, sociais, financeiras e

    psicolgicas, as quais, juntas, levam as pessoas a gastarem o que podem e o que no podem

    com a necessidade de suprir a indiferena social, a falta de recursos financeiros, a baixa auto-

    estima e a perturbao emocional (LOPES, s.d.). Sintomas psicolgicos esto ligados ao

    consumo e nem sempre se relacionam apenas com a aquisio de bens, mas tambm

    frustrao ou solido. Alm disso, o hbito de consumir em excesso pode comprometer o

    equilbrio emocional e o oramento familiar.

    Para avaliar o que seriam necessidades, nos referimos a Papanek (1977). Ele aponta

    que a funo essencial do designer consiste em resolver problemas e este deve atuar a favor

    do bem social, alegando ainda que ele atende mais facilmente a necessidades e desejos

    passageiros, descuidando-se das necessidades verdadeiras dos homens. Em uma era de

    produo em massa, afirma Papanek, quando tudo tem que ser planejado e desenhado, o

    design se tornou o instrumento mais poderoso de que se serve o homem para configurar suas

    ferramentas, seu meio ambiente, a sociedade e a si mesmo.

    Para Manzini imprescindvel que se reconhea que os limites do planeta tornaram-se

    evidentes e isso representa um profundo e poderoso fator de transformao (2008, p. 20). E

    nessa percepo, para alm da questo dos problemas ambientais, preciso que a humanidade

    repense o modo como se relaciona com o mundo em que vive. E um dos principais

    comportamentos a expressar essa relao o consumo.

    Considerando a atual situao de nosso planeta e a natureza calamitosa das

    transformaes em andamento, segundo ele, pode-se perguntar: qual foi o papel efetivo dos

    designers at agora? Lamentavelmente a resposta que, em termos gerais, eles ainda so parte

    do problema. Entretanto, este pode no ser um destino inevitvel. Designers podem e devem

    tornar-se parte da soluo. E isso possvel porque no cdigo gentico do design est

    inscrito que sua razo de ser melhorar a qualidade do mundo. E a partir deste ponto que

    devemos reiniciar, revendo qual a qualidade do mundo que o design, seguindo sua

    profunda misso tica, deveria promover (MANZINI, 2008, p. 16).

    Nesse sentido, designers podem ter uma funo muito especial, por lidarem com

    interaes cotidianas dos seres humanos e seus artefatos. E so essas interaes, junto com a

    esperana de bem-estar associadas a elas, que devem mudar rumo sustentabilidade.

    Todos ns estamos envolvidos com questes de ecologia, e uma das formas de

    enfrentar os problemas levantados por um meio ambiente a deteriorar-se, na viso de Papanek

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    (1995) fazer algo em nvel individual ou familiar: usar menos gua nas caixas de descarga,

    separar e reciclar o lixo, instalar a energia solar nas casas e praticar a preservao sempre que

    possvel. H uma dimenso ecolgica e ambiental em todas as aes humanas e cada

    profissional pode fazer a sua parte, refletindo sobre como o seu trabalho afeta o meio

    ambiente. Esses tempos ameaadores para a Terra requerem no s paixo, imaginao,

    inteligncia e trabalho rduo, mas essencialmente, um sentido de otimismo disposto a agir

    sem plena compreenso, mas com f no efeito de pequenos atos individuais sobre o cenrio

    global (PAPANEK, 1995, p. 27). Problemas podem existir em nvel mundial, mas s cedem

    com aes descentralizadas, locais e escala humana.

    Design permacultural

    Os australianos Bill Mollison e David Holmgren introduziram a permacultura nos anos

    1970, e buscaram princpios ticos universais surgidos no seio de sociedades indgenas e de

    tradies espirituais, orientados na lgica bsica do universo de cooperao e solidariedade.

    A permacultura um sistema de design para a criao de ambientes humanos

    sustentveis (MOLLISON, 1991, p. 13). Designa tambm o conceito de cultura permanente,

    pois, para sobreviver, as culturas precisam de base na agricultura e tica quanto ao uso da

    terra. A criao de sistemas ecologicamente corretos e economicamente viveis, que supram

    suas prprias necessidades, no explorem ou poluam e que sejam sustentveis em longo prazo

    o foco da permacultura. Usando as caractersticas das plantas e animais, combinadas com os

    atributos naturais dos terrenos e construes, ela visa produzir um sistema de apoio vida,

    ocupando a menor rea possvel. Podemos iniciar a transformao a partir de onde vivemos,

    adotando atitudes como: reduo do consumo de energia; uso do transporte pblico ou diviso

    do uso do carro; armazenamento da gua dos telhados em cisternas; participao da produo

    ou compra de alimentos plantados de forma responsvel e outros, sugere Mollison.

    Segundo Holmgren (2007, p. 8), a tica atua como freio aos instintos de

    sobrevivncia e a outras aes pessoais e sociais em benefcio prprio, que tendem a

    direcionar o comportamento humano em qualquer sociedade. Para Mollison (1991), as

    formas pelas quais podemos promover a tica so:

    O cuidado com a Terra significa o cuidado com todas as coisas, vivas ou no (solos,

    florestas, micro-habitats, animais e gua). Pressupe atividades inofensivas e reabilitantes,

    conservao ativa, uso de recursos de forma tica e frugal e estilo de vida correto.

    O cuidado com as pessoas, de modo a suprir necessidades bsicas, como

    alimentao, abrigo, educao, trabalho satisfatrio e contato humano saudvel.

    A partilha justa significa que, tendo suprido as necessidades bsicas e projetado

    sistemas da melhor maneira possvel, pode-se auxiliar outros no alcance desses objetivos.

    Os princpios de design permacultural so inerentes a qualquer projeto, em qualquer

    clima e escala, aponta Mollison (1991), e resultam de disciplinas como: ecologia, conservao

    de energia, paisagismo e cincia ambiental. So, em resumo:

    Localizao relativa: cada elemento (casa, tanque, horta e outros) situado em

    relao a outro, para que se auxiliem mutuamente.

    Cada elemento efetua muitas funes. Por exemplo, um tanque pode ser utilizado

    para irrigao, prover gua aos animais, para o cultivo de plantas aquticas, etc.

    Cada funo importante apoiada por muitos elementos. A gua, alimentao e

    energia deveriam ser supridos de duas ou mais formas.

    Planejamento eficiente do uso de energia para a casa e assentamentos.

    Predomnio do uso de recursos biolgicos sobre o uso de combustveis fsseis.

    Reciclagem local de energias (humanas e combustveis).

    Utilizao e acelerao da sucesso natural de plantas (stios e solos favorveis).

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    Policultura e diversidade de espcies benficas (sistema produtivo e interativo).

    Utilizao de bordas e padres naturais para um melhor efeito.

    Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST

    Diante do objetivo que orienta este projeto, de atender necessidades dos trabalhadores

    rurais sem terra, que vivem em acampamentos e assentamentos do MST, cabe apresentar uma

    sntese histrica do movimento, em seus 26 anos de existncia.

    Conforme a publicao MST Lutas e Conquistas (SECRETARIA NACIONAL DO

    MST, 2010), o Brasil um dos pases com maior concentrao de terras e os maiores

    latifndios do mundo e, desde meados do sculo XX, nas diferentes regies do pas, contnuos

    conflitos e eventos formaram o campesinato.

    No final dos anos 1970 ressurgem as ocupaes de terra e a dcada de 90 testemunhou

    importantes lutas camponesas pela reforma agrria no pas. Desde 2002 o modelo agrrio-

    exportador se acentuou e dividiu o territrio brasileiro em monoculturas e pecuria extensiva.

    Entretanto, mesmo sem um real processo de reforma agrria, em 26 anos o MST organizou

    mais de 1,5 milhes de acampados1 e assentados em 23 estados e no Distrito Federal.

    Procedimentos metodolgicos

    A pesquisa teve como objetivo conhecer o modo de vida dos acampados e assentados,

    identificar suas necessidades e coletar dados para este projeto. Para isso, foram realizadas trs

    visitas a campo: no dia 16 de abril deste ano, aos assentados de Trs Pinheiros, em Sananduva

    (RS); no dia 30 de abril, aos acampados de Passo Fundo (RS) e no dia 1 de novembro, nova

    visita aos acampados de Passo Fundo para apresentar o esboo do projeto. Neste dia tambm

    foi visitado o Instituto EDUCAR PARA VIVER, em Ponto (RS), que promove a formao

    de tcnicos em agropecuria com habilitao em agroecologia.

    Visando buscar bibliografia e dados sobre o MST, no dia 7 de maio, foi efetuada visita

    ao IEJC (Instituto de Educao Josu de Castro) em Veranpolis (RS) cuja entidade

    mantenedora o ITERRA (Instituto Tcnico de Capacitao e Pesquisa da Reforma Agrria),

    vinculado ao MST.

    Para adquirir conhecimento prtico em permacultura, no dia 25 de setembro foi

    visitada a ecovila de permacultores de So Francisco de Paula (RS).

    No dia 9 de agosto vistamos a Estao de Tratamento de gua (ETA) CORSAN,

    com o propsito de conhecer seu sistema de purificao da gua.

    E, no dia 15 de outubro foi apresentado o projeto Vigilncia Ambiental de Bento

    Gonalves, com o intuito de buscar mais informaes sobre desinfeco de gua.

    Como meio de abordagem, foi realizada pesquisa qualitativa, a qual, segundo Baxter

    (2000), pode ser feita individualmente ou em pequenos grupos, na casa de algum, para que

    se obtenha um clima relaxado, facilitando-se a discusso. Nesse mtodo, o objetivo obter a

    percepo aprofundada da necessidade de mercado de um pequeno nmero de consumidores

    (BAXTER 2000, p. 167). Participaram cinco assentados e dois acampados do MST, e sua

    faixa etria situa-se entre 21 e 45 anos. O mtodo projetual foi baseado em Bonsiepe (1984).

    O modelo de entrevista aplicado foi o semi-estruturado, por permitir: a otimizao do

    tempo disponvel; a seleo de temticas de aprofundamento; um tratamento mais sistemtico

    dos dados; a introduo de novas questes conforme a conversao e uma maior flexibilidade

    1 Os trabalhadores acampados vivem de modo itinerante, em barracas, cujas condies so rudimentares e

    improvisadas, at o momento do assentamento. Participam das ocupaes de terra e dos protestos sociais. Os

    assentados so os indivduos ex-acampados que j conquistaram a terra. Para isso, h critrios como o tempo de

    estada no acampamento; necessidade ou sorteio. Participam das manifestaes em apoio aos acampados.

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    ao se explorar as questes. Nesse procedimento, foi feito registro fotogrfico e por escrito,

    simultaneamente entrevista (Apndice 1).

    O grau de escolaridade dos participantes compreende o ensino fundamental e mdio e

    so de classe baixa. Os entrevistados esclareceram dvidas e responderam a todas as questes.

    Tem-se conscincia de que o ideal como fonte de coleta de dados seria conhecer o

    maior nmero possvel de acampamentos e assentamentos, para que se evitem generalizaes.

    Todavia, em razo da carncia de tempo disponvel para tal, acredita-se que as amostragens

    colhidas sejam de importante valia para o conhecimento do estilo de vida e das necessidades

    dessas comunidades. De qualquer forma, no negligencivel que a proposta de soluo de

    um problema cotidiano possa fazer diferena para esses indivduos em particular, e para

    quaisquer outros que se encontrem em situaes semelhantes.

    Anlise e coleta de dados

    O levantamento de dados obtidos pela pesquisa em visitas a campo, anlise das

    entrevistas e documentao fotogrfica, tornou possvel identificar os principais problemas,

    que levaram s seguintes constataes:

    1) O acampados necessitam de habitaes desmontveis, fceis de transportar e

    resistentes intemprie. O material dessas construes deve ter preo acessvel, para se fazer

    reparos sempre que necessrio.

    2) As condies so extremamente precrias (Fig. 1); no h saneamento bsico, nem

    gua encanada (Fig. 2). A gua supostamente potvel no tratada e nem analisada

    regularmente, o que pode provocar uma srie de prejuzos sade.

    3) Os acampados utilizam fogo a lenha (Fig. 3), a gs ou fogo de cho (Fig. 11), de

    modo precrio, o que causa desconforto fsico e limitaes quanto a combustvel.

    4) As barracas no possuem isolamento trmico e a lona plstica frgil (Fig. 4),

    sendo que, em dias quentes ou frios, isso pode causar doenas respiratrias.

    5) A comunidade no dispe de um local apropriado para tomar banho (Fig. 5), alm

    de no contar com o aquecimento da gua, o que tambm pode atrair gripes e resfriados.

    6) O sanitrio precrio (Fig. 6), o que pode gerar doenas por contaminao.

    7) A lavagem das roupas feita em tanque improvisado (Fig. 9), causando desconforto

    e problemas de coluna.

    8) Em dias chuvosos a secagem das roupas torna-se um problema (Fig. 10).

    Fig. 1: vista do acampamento. Fig. 2: fonte de gua para beber. Figura 3: fogo a lenha.

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    Fig.4: interior de barraca. Fig. 5: rea para banho. Figura 6: o sanitrio. Figura 7.

    Figura 8. Figura 9: lavagem das roupas. Figura 10.

    As fotos que seguem mostram casas pr-existentes de assentamentos e uma casa

    padro do INCRA em Passo Fundo (RS) e em Sananduva (RS).

    Fig. 11: casa de Passo Fundo. Figura12: casa de Sananduva. Figura 13: casa padro INCRA.

    Fonte: fotos do autor.

    9) Quase todos os assentados tm problemas com o abastecimento de gua: ou porque a

    nascente foi contaminada por agrotxicos, ou porque tm dificuldades em encontrar gua.

    Isso poderia ser resolvido com a instalao de cisternas para captao de gua da chuva.

    Apresentao dos resultados

    Tendo como base a anlise e coleta de dados, com especial ateno no que concerne a

    necessidades essenciais, podemos apresentar algumas possibilidades de projeto:

    a) Cisterna para a captao da gua da chuva e filtro de gua para torn-la potvel; b) Moradias desmontveis com materiais alternativos e reciclveis; c) Cpsula mvel para banho, com o uso de aquecimento solar ou por meio do

    aproveitamento do calor gerado pelo fogo a lenha em dias frios e nublados;

    d) Projeto de forno/fogo solar hbrido;

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    e) Sistemas de canteiros mveis para produzir alimentos (design permacultural); f) Sanitrio mvel ecolgico baseado nos conceitos da permacultura;

    Briefing

    O desenvolvimento de um produto deve partir de uma inteno e esta deve ser

    delimitada por uma srie de quesitos, que orientem o foco do projeto. O sucesso de um novo

    produto depende da elaborao de um bom, claro e objetivo briefing.

    O produto que se pretende desenvolver tem como foco atender necessidade de

    abastecimento de gua para os acampados e assentados do MST. Considerando que a gua

    uma das necessidades vitais, tem-se como finalidade elaborar o projeto de cisternas para a

    captao de gua da chuva e armazenamento; e sistema de filtragem da gua, para torn-la

    potvel. Deve ser ecologicamente correto e economicamente vivel.

    O objetivo deste projeto resolver o problema de abastecimento de gua de boa

    qualidade nessas comunidades. Como requisitos, o produto deve ser de fcil construo e

    montagem; utilizar materiais resistentes intemprie; baixa variedade de materiais, alm levar

    em conta o descarte final; materiais ecolgicos, naturais e de preferncia, do prprio lugar. A

    mo-de-obra tambm dever ser do prprio local.

    Os usurios so pessoas que vivem em acampamentos e assentamentos, de ambos os

    sexos, de todas as idades, de classe social baixa. O processo de fabricao ser definido

    conforme os materiais selecionados.

    O projeto ser apresentado ao INCRA, FUNASA - Fundao Nacional da Sade

    (rgo do Ministrio da Sade) e aos Ministrios da Agricultura e do Meio Ambiente, com o

    objetivo de se obter recursos financeiros para viabiliz-lo e distribu-lo para os usurios.

    Anlise sincrnica

    Foram feitas anlises de filtros de gua e cisternas existentes no mercado, para conhecer

    as diferentes propostas e modelos, para posterior analogia.

    Figura 14: modelos de filtros de diferentes tecnologias existentes no Mercado. Fontes:

    14.1) http://queluzdebaixo.olx.pt/vendo-filtro-purificador-de-agua-iid-18387253

    14.2) http:// http://www.submarino.com.br/produto/34/21633196/filtro+de+agua 14.3) http://pt.efeitoverde.com/Product-207-Filtro%2Bde%2B%25E1gua.html

    14.4) http://www.europa.com.br/noticias/index.asp?idNews=31

    14.5) http://www.jcrefrigeracoes.com.br/?cat=10

    http://www.submarino.com.br/produto/34/21633196/filtro+de+aguahttp://pt.efeitoverde.com/Product-207-Filtro%2Bde%2B%25E1gua.htmlhttp://www.europa.com.br/noticias/index.asp?idNews=31http://www.jcrefrigeracoes.com.br/?cat=10

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    Figura 15: cisternas de vrias formas, capacidades e materiais. Fontes: 15.1) http://todaoferta.uol.com.br/comprar/cisterna-em-polietileno-3000lt-P2RPTHJEZX#rmcl 15.2) http://www.jardin-garantia.es/recuperacion-agua-lluvia/contenedores-de-agua.html 15.3) http://www.fomezero.gov.br/noticias/desenvolvimento-social-investe-r-54-milhoes-no-semi-arido 15.4) http://www.sempresustentavel.com.br/hidrica/minicisterna/minicisterna.htm 15.5) http://www.jardin-garantia.es/recuperacion-agua-lluvia/contenedores-de-agua.html 15.6) http://www.informativosbc.com.br/novidades/acqualimp1.htm

    Figura 16: filtros de gua de chuva. Fontes:

    16.1) http://www.ecocasa.com.br/produtos.asp?it=1212

    16.2, 16.3, 16.4 e 16.5) http://www.jardin-garantia.es/recuperacion-agua-lluvia/filtros-para-el-agua-de-

    lluvia.html

    16.6) http://www.sempresustentavel.com.br/hidrica/minicisterna/filtro-de-agua-de-chuva.htm

    Anlise de materiais

    Para a qumica Maria Anita Scorsafava (Instituto Adolfo Lutz - So Paulo) as funes

    mais bsicas que um filtro de gua eficiente deve ter so a reteno de impurezas e reduo da

    quantidade de cloro na gua e esto presentes na maioria dos filtros do mercado.

    Filtragem com Minerais: tem como maior objetivo reter impurezas. Simples e

    eficiente, faz bem sua funo. Minerais dispostos dentro do filtro criam uma peneira que

    impede a passagem de impurezas.

    Filtragem com Carvo Ativado: o principal objetivo diminuir drasticamente a

    quantidade de cloro na gua e evitar contaminao atravs de bactrias. O carvo ativado

    absorve o cloro, deixando a gua pura e sem gosto.

    Filtragem com Membrana Oca: retm bactrias e protozorios que possam ter

    contaminado gua, atravs de uma fibra microporosa do tamanho de milhares de vezes

    menores que um fio de cabelo.

    Filtragem com Raios Ultravioleta: alta tecnologia que visa matar bactrias e vrus

    presentes na gua, que, para isso, exposta a uma lmpada ultravioleta.

    ndice pluviomtrico

    De acordo com Carpenedo (2007), a anlise da precipitao pluvial ocorrida no Rio

    Grande do Sul no perodo de 1976 a 2005, mostra que na metade Norte ocorrem os maiores

    volumes anuais de chuvas quando comparados com a metade Sul. Ao Norte o volume de

    http://www.jardin-garantia.es/recuperacion-agua-lluvia/contenedores-de-agua.htmlhttp://www.sempresustentavel.com.br/hidrica/minicisterna/minicisterna.htmhttp://www.jardin-garantia.es/recuperacion-agua-lluvia/contenedores-de-agua.htmlhttp://www.informativosbc.com.br/novidades/acqualimp1.htmhttp://www.ecocasa.com.br/produtos.asp?it=1212http://www.sempresustentavel.com.br/hidrica/minicisterna/filtro-de-agua-de-chuva.htm

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    chuvas pode ultrapassar 1900 mm anuais, enquanto que na metade Sul, algumas regies

    apresentam volumes inferiores a 1400 mm.

    Figura 17: Regime anual de chuvas no Rio Grande do Sul de 1976 a 2005. Fonte:

    http://www.ufrgs.br/srm/novo/publicacoes/CBAGRO%20%202007_Camila_artigo%20

    Regime%20de%20chuvas%20no%20RS.pdf

    Referenciais

    Arquitetura verncula

    Segundo Papanek, desde meados do sculo XX que antroplogos, arquitetos e

    historiadores vm mostrando cada vez mais interesse pela arquitetura verncula. Muitas

    construes, antes nunca estudadas a srio, tm sido documentadas atravs de fotografias e

    descries escritas da chamada arquitetura sem arquitetos. O que resumidamente pode

    definir arquitetura verncula, afirma o autor, o respeito pela tradio, pela perfeio e o uso

    de materiais e mtodos locais, sendo que, tudo isto pode ser afetado pelo clima, ambiente,

    aspectos culturais e sociais, esforos estticos e contextos familiares e urbansticos.

    Figura 18. Alguns exemplos de arquitetura verncula em diferentes locais do mundo. Fonte:

    http://www.casosdecasa.com.br/index.php/2010/03/arquitetura-vernacular-mais-em-moda-do-que-nunca/

    Bioconstruo

    Bioconstruo definida por Prompt (2008) como a construo de ambientes sustentveis atravs do uso de materiais de baixo impacto ambiental, pela adequao da

    arquitetura ao clima local e pelo tratamento de resduos. Um ambiente sustentvel satisfaz as

    necessidades de moradia, alimentao e energia e garante tambm s geraes futuras os

    mesmos direitos de suprimento de suas necessidades. So os sistemas construtivos que

    respeitam o meio ambiente durante a fase de projeto e de construo (na escolha dos materiais

    e tcnicas adequadas) e ao longo do uso do edifcio (eficincia energtica e tratamento

    adequado dos resduos). Podem ser feitas com pedras, terra, palha e madeira, todos

    provenientes do prprio local.

    http://www.ufrgs.br/srm/novo/publicacoes/CBAGRO%20%202007_Camila_artigo

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    Construes em cob

    Cob, segundo Prompt, uma tcnica de construo com terra muito antiga e

    amplamente utilizada em diferentes lugares do mundo, que permite usar muita criatividade e

    liberdade, pois consiste em ir moldando a casa como se fosse uma grande escultura.

    Materiais: argila, areia e palha.

    Ferramentas: p, enxada, ps e mos.

    Essa construo muito simples, afirma a autora. Primeiro mistura-se argila, areia,

    palha e gua, at que se obtenha uma mistura homognea e plstica, que feita com os ps. O

    prximo passo ir formando bolas com a argila e ento s comear a moldar a casa e, ao

    mesmo tempo, estantes, bancos, nichos e outros.

    Figura 19: Casas de cob, adobe e superadobe (as duas ltimas).

    19.1) http://agricabaz.blogspot.com/2009/11/arquitectura-ecologica.html

    19.2) http://www.travelpod.com/s/photos/the+adobe+resort

    19.3) http://www.ecocentro.org/artigo.do?acao=pesquisarArtigo&artigo.id=20411

    19.4) http://weburbanist.com/2008/11/12/lifesaving-temporary-emergency-shelters-buildings/

    Construes em adobe

    O tijolo de adobe um material de construo muito antigo, afirma Prompt. Consiste em

    um tijolo de barro e palha mesclados, moldado e seco naturalmente. Essa tcnica no utiliza

    nada de cimento e no gasta combustvel na secagem dos tijolos, por no serem queimados.

    Pelo uso da palha na sua composio, garante excelente conforto trmico.

    Essas construes, quando bem feitas, podem durar muitas dcadas e esto sendo cada

    vez mais resgatadas e valorizadas.

    Materiais: areia, argila e palha. Madeira e pregos para a forma.

    Ferramentas: p, enxada, estopa, martelo e serrote.

    Para a construo feito um buraco prximo ao local da obra onde haja solo apropriado.

    Coloca-se gua e terra, amassando-se com os ps at que se obtenha uma mistura

    homognea e plstica, que permita que a massa seja moldvel. Depois de amassado, o barro

    colocado nas formas de madeira. Alm de terra e gua, pode-se utilizar capim cortado, que

    funciona de estabilizador, como uma armao.

    Construes em superadobe

    Superadobe uma tcnica que utiliza sacos com terra comprimida para fazer paredes e

    coberturas e foi criada pelo arquiteto iraniano Nader Khalili nos anos 1980.

    Materiais: saco de rfia em rolo ou sacos reaproveitados, arame farpado e terra local.

    Ferramentas: tubo de 25 cm de dimetro ou balde sem fundo, piles, piles para as

    laterais, martelo de borracha, enxada e p.

    Antes de tudo, para construir com superadobe, ensina Prompt, preciso fazer uma boa

    fundao, que pode ser de pedra, de concreto, de terra compactada e/ou fiadas com areia e

    cimento na proporo 9/1. importante tambm deixar a parede de terra uns 30 cm acima do

    http://agricabaz.blogspot.com/2009/11/arquitectura-ecologica.htmlhttp://weburbanist.com/2008/11/12/lifesaving-temporary-emergency-shelters-buildings/

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    nvel do solo, para no absorver umidade, mantendo-a seca e segura. Aps, comea-se a

    construir as paredes de superadobe, enchendo-se o saco com terra, apiloando-se as camadas.

    Conceito

    O conceito do produto ter como base o design permacultural e design social. O design

    permacultural contemplar os seguintes atributos:

    Design vernculo, abrangendo bioconstruo e uso de materiais e mo-de-obra locais.

    Simplicidade: para proporcionar autonomia (de construo relativamente fcil) e

    dignidade (condio de vida decente aos habitantes do local).

    Localizao relativa: para que se utilize a gravidade e no outros recursos que

    demandem gastos com energia.

    Cuidado com a terra e com todas as coisas, vivas ou no.

    Cuidado com as pessoas, suprindo suas necessidades essenciais.

    Uso eficiente da energia: construes e filtros de barro promovem a troca de calor entre

    o ambiente interno e externo, proporcionado conforto trmico (18 C).

    O conceito de design social providenciar a satisfao da necessidade essencial de

    suprimento de gua para comunidades de baixa renda.

    Gerao de alternativas

    Figura 20: mdulo 20.1 com mini cisterna de 50 litros, funil captador de gua e carrinho para transporte;

    mdulo 20.2 com casulo de tijolos de adobe, cisterna de 1.000 litros, funil e filtro para macro partculas; mdulo

    20.3 com cisterna de 2.000 litros, sistema de filtragem, desinfeco e potabilizao da gua.

    Figura 21: mdulo 21.1 em superadobe com cisterna de 5.000 litros, telhado em aluzinc e sistema de

    filtragem, desinfeco e potabilizao da gua. Mdulo 21.2 em superadobe, com cinco cisternas de 5.000 litros,

    filtro de gua da chuva e telhado vivo.

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    Figura 22: mdulo em superadobe com 2 cisternas de 5.000 litros (polipropileno), telhado de fibras

    vegetais Onduline, calhas de aluzinc, tesouras de madeira local, filtro e encanamentos de PVC.

    Projeto

    A alternativa selecionada foi o mdulo da figura 22, porque o superadobe, conforme

    Soares (2007), tem se mostrado como o modo mais simples de se construir com terra. No

    necessrio fazer testes com o material, nem peneirar a terra, mold-la ou acrescentar-lhe

    palha. As paredes so erguidas muito rapidamente, com uma equipe de pelo menos cinco

    pessoas. Argumentos importantes dessa alternativa: o barro promove a troca de calor entre os

    ambientes interno e externo e a mantm em torno de 18 C; foi aplicado o conceito

    permacultural de localizao relativa (uso da gravidade e no de uma bomba), pois a cisterna

    est localizada acima da superfcie; o telhado arredondado apresenta forma coerente com a

    construo orgnica; as tesouras so confeccionadas com madeira e a mo-de-obra local

    (arquitetura verncula); as cisternas so de polipropileno, um material leve, de superfcie lisa,

    fcil de limpar. Como complemento da potabilizao da gua, sugere-se o filtro de barro com

    vela de cermica tripla ao2, por ser simples, eficiente, barato e cumprir bem sua funo.

    Componentes:

    Fundaes e primeiras trs fiadas de areia e cimento na proporo 9/1.

    Telhado de fibras vegetais Onduline, na cor vermelha.

    Estrutura do telhado com sobras de madeira e cintas de MDF (espessura 3 mm).

    Calhas de PVC.

    Tesouras de madeira local (eucalipto), sendo o pilar central de cerca de 15 cm de

    dimetro e os demais de 7,5 cm de dimetro aproximadamente.

    Cisternas de polipropileno (espessura de 5 mm), com quatro cintas de reforo do

    mesmo material. O processo de produo contar com corte e solda PP.

    2 De acordo com o fabricante (Cermica Stfani), a parede microporosa retm partculas de 0,5 a 1 mcron, o carvo ativado

    retira gostos e odores e a prata coloidal elimina bactrias.

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    Tubulao, joelhos, luvas, registros e filtros com tubos de PVC de 7,5 cm de dimetro.

    Filtros bolsas de malha de polipropileno, para reter partculas de 1 a 2.000 micras.

    Torneiras em PVC.

    Visor de nvel em tubo de PVC cristal; luvas e joelhos em PVC de 2,5 cm de dimetro.

    Outra recomendao importante que se faam anlises qumicas e microbiolgicas

    peridicas da gua (6 em 6 meses) com laboratrios especializados.

    Figura 23: Planta baixa, Corte A-A e Corte B-B do sistema de captao de gua da chuva Casulo Dgua.

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    Figura 24: Vista Superior, Vista Frontal e Vista Lateral do Casulo Dgua.

    Figura 25: modelagem virtual do Casulo Dgua.

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    No Apndice 2 apresentamos:

    A imagem da vista explodida do mdulo.

    O detalhamento das cisternas com as tubulaes.

    O Storyboard do sistema de captao de gua da chuva.

    O Fluxograma do sistema.

    O Esquema de distribuio da gua para os acampamentos do MST.

    Responsveis pelo sistema de captao de gua de chuva: cuidados e manuteno.

    O clculo do potencial de captao de gua de chuva do sistema Casulo Dgua.

    Consideraes finais

    Como se constatou no desenvolvimento e anlise do presente trabalho, incontestvel

    a relevncia do design como instrumento para atuar a favor do bem social, em especial

    quando atende a necessidades essenciais e importantes para promover o bem-estar de

    indivduos e comunidades.

    Testemunhar in loco os problemas e necessidades dos acampados e assentados do

    MST, alm de promover uma maior conscientizao em relao s suas condies de vida,

    desmistificou o conceito que se tinha a respeito, formado por filtros miditicos e, portanto,

    passveis de gerar preconceitos sem conhecimento de causa.

    Nessas duas visitas, observou-se nas duas comunidades um forte esprito comunitrio,

    onde todos lutam pelos interesses do bem comum; e nos indivduos, um brio incomum que

    lhes serve de alento, diante de um modo de vida extremamente frugal. Isso contradiz o que se

    percebe como tendncia nas sociedades contemporneas, onde, paralelamente, podem-se

    testemunhar desequilbrios no apenas ecolgicos, como tambm, segundo Guattari (2002),

    os modos de vida, individual e coletivo, caminham para a deteriorao das relaes

    familiares, domsticas e de vizinhana, tornando-as cada vez menos expressivas.

    Um tema importante como a questo dos limites do planeta adverte para a urgncia em

    desenvolver produtos ecologicamente corretos e socialmente justos, respeitando-se sempre

    aspectos de ordem cultural e local. Dedicar a profisso do design a usos mais valiosos e

    prioritrios uma questo a ser levada em conta.

    Trata-se de um enorme desafio desenvolver projetos com requisitos to limitantes no

    que concerne a recursos financeiros, porm, ao mesmo tempo, de tamanha relevncia no

    mbito social. As necessidades dos acampados so tantas, mas como pde ser verificado,

    oferecem amplas fontes de projetos necessrios, urgentes e, no mnimo, interessantes.

    O projeto do sistema de captao e filtragem de gua de chuva foi apontado como

    prioritrio, por ser essa uma necessidade bsica e vital. factvel e, segundo entrevista com

    assentados, mediante apresentao de projeto, pode-se obter o apoio financeiro do INCRA e

    da Caixa Econmica Federal. E, para oferec-lo a outras comunidades que tambm esto

    sofrendo com a falta de gua potvel, o projeto pode ser tambm apresentado FUNASA3 -

    Fundao Nacional da Sade (rgo do Ministrio da Sade), aos Ministrios da Agricultura e

    do Meio Ambiente e Caixa Econmica Federal para torn-lo realidade.

    3 Em visita ao rgo municipal de Vigilncia Sanitria de Bento Gonalves (RS), foi-nos informado que no interior de nosso

    municpio h muitas famlias que carecem de abastecimento de gua potvel e que, mediante apresentao de projeto,

    podem-se obter recursos financeiros a fundo perdido, atravs da FUNASA.

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    Referncias

    BARBOSA, Lvia; CAMPBELL, Colin. Cultura, Consumo e Identidade. Rio de Janeiro:

    Editora FGV, 2006.

    BAXTER, Mike. Projeto de Produto. Guia prtico para o design de novos produtos. So

    Paulo: Editora Edgard Blnchen Ltda., 2000.

    BONSIEPE, Guy. Metodologia Experimental. Desenho Industrial. Braslia: CNPq/

    Coordenao Editorial, 1984.

    CAMINI, Isabela. Escola itinerante. Na fronteira de uma nova escola. So Paulo: Expresso

    Popular, 2009.

    DAL BIANCO, Bianca. Design em parceria: reflexes sobre um modo de projetar sob a

    tica do design e emoo. 2007. 89 f. Dissertao (Mestrado em Artes e Design) Pontifcia

    Universidade Catlica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 2007. Disponvel em:

    . Acesso em: 12 maio

    2010.

    DOUGLAS, Mary; ISHERWOOD, Baron. O Mundo dos Bens. Para uma antropologia do

    consumo. Rio de Janeiro: Editora UERJ, 2006.

    GUATTARI, Flix. As Trs Ecologias. Campinas: Papirus, 2002.

    HOUAISS, Antnio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionrio Houaiss. Rio de Janeiro: Editora

    Objetiva, 2009.

    LOPES, Patrcia. Consumo compulsivo. [s.d.]. Disponvel em:

    . Acesso em: 16 jun.

    2010.

    MANZINI, Ezio. Design para a inovao social e sustentabilidade: comunidades criativas,

    organizaes colaborativas e novas redes projetuais. Rio de Janeiro: E-papers, 2008.

    MANZINI, Ezio; VEZZOLI, Carlo. O Desenvolvimento de Produtos Sustentveis. Os

    requisitos ambientais dos produtos industriais. So Paulo: Edusp, 2002.

    MOLLISON, Bill. Introduo Permacultura. Austrlia: Tagari Publications, 1991.

    PAPANEK, Victor. Arquitetura e Design: ecologia e tica. Frogmore, St. Albans: Ediciones

    70, 1995.

    PAPANEK, Victor. Disear para el mundo real: ecologia humana y cambio social. Madrid:

    H. Blume Ediciones, 1977.

    SOARES, Andr. Solues Sustentveis. Construo Natural. Pirenpolis, GO: Mais

    Calango Editora, 2007.

    WATSON, Paul. Earthforce: um guia de estratgia para o Guerreiro da Terra. Porto Alegre:

    Tomo Editorial, 2010.

    http://www2.dbd.pucrio.br/pergamum/.../0510312_07_cap_03.pdf

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    CABRAL, Gabriela. Consumismo. Disponvel em:

    Acesso em 11 maio 2010.

    CAVALCANTE, Ruth. Educao Biocntrica um portal de acesso inteligncia afetiva. 2005.

    Disponvel em: Acesso

    em: 19 mai. 2010.

    COSTA, Cristina; ROCHA, Guida; ACRCIO, Mnica. A Entrevista. 2004/2005.

    Disponvel em: Acesso em: 16

    jun. 2010.

    DAL BIANCO, Bianca. Design em parceria: reflexes sobre um modo de projetar sob a

    tica do design e emoo. Dissertao de mestrado. Disponvel em:

    Acesso em: 25 abr.

    2010.

    GIRO, Tarsila. Ecotelhado. Disponvel em:

    Acesso em: 05 set.

    2010.

    HOLMGREEN, David. Os Fundamentos da Permacultura. Disponvel em:

    Acesso

    em: 27 abr. 2010.

    LOPES, Patrcia. Consumo compulsivo. Disponvel em:

    Acesso em: 11 mai. 2010.

    O QUE um briefing. 2007. Disponvel em: Acesso em: 22 jun. 2010.

    PERMACULTURA. 2010. Disponvel em:

    Acesso em: 21 jun. 2010.

    PROMPT, Ceclia. Curso de Bioconstruo. Braslia: MMA, 2008. Disponvel em:

    Acesso em: 05 nov. 2010.

    SECRETARIA NACIONAL DO MST. MST: lutas e conquistas. 2. ed. So Paulo: Secretaria

    Nacional do MST, 2010. Disponvel em:

    .

    Acesso em: 13 mar. 2010.

    http://calearth.org/

    http://www.designontherocks.xpg.com.br/storyboard/

    http://i.s8.com.br/images/homeappliances/cover/img6/21633196_4.jpg

    http://kdcs.wordpress.com/2009/07/29/fabricando-tijolos-de-adobe/

    http://maruza.com.br/loja/images/Filtro%20com%20Torneira%20501144.jpg

    http://moda.kiiweb.com/saude/bicicleta-filtro-de-agua/

    http://www.brasilescola.com/psicologia/consumismo.htmhttp://www.pensamentobiocentrico.com.br/content/ed06_art01.phphttp://www.educ.fc.pt/docentes/ichagas/mil/entrevistas.pdfhttp://www2.dbd.pucrio.br/pergamum/.../0510312_07_cap_03.pdfhttp://tarsilagiraoarquitetura.blogspot.com/2009/09/ecotelhado.htmlhttp://www.holmgren.com.au/DLFiles/PDFs/Fundamentos_PC_Brasil_eBook.pdfhttp://www.brasilescola.com/psicologia/consumismo.htmhttp://www.permear.org.br/permacultura/http://www.mma.gov.br/estruturas/sedr_proecotur/_publicacao/140_publicacao15012009110921.pdfhttp://www.mma.gov.br/estruturas/sedr_proecotur/_publicacao/140_publicacao15012009110921.pdf

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/gaiatos/pedreiros-somos-216886_post.shtml

    http://sites.google.com/site/novarealidade2012/survivalismo-1/agua

    http://viagem.hsw.uol.com.br/filtros-de-agua1.htm

    http://viladoartesao.com.br/blog/2008/05/ceramica-materiais-e-tecnicas/

    http://vilajoaodebarro.wordpress.com/2009/06/24/oficina-telhado-verde-%E2%80%93-vila-

    joao-de-barro/

    http://www.911water.com/PhotoGallery.asp?ProductCode=BL

    http://www.agsolve.com.br/noticia.php?cod=1829

    http://www.arq.ufsc.br/arq5661/trabalhos_2005-1/bioarquitetura/superadobe.htm

    http://www.backcountry.com/outdoorgear/Katadyn-Pocket-Water-

    Microfilter/EXT0005M.html?avad=31835_ed8d757

    http://www.comandosbrasil.com.br/loja/index.php?page=shop.product_details&category_id=

    41&flypage=shop.flypage&product_id=247&option=com_virtuemart&Itemid=55

    http://www.ecocentro.org/bioconstruindo/

    http://www.ecocentro.org/menu.do?acao=habitaSuperAdobe

    http://www.ecocentro.org/artigo.do?acao=pesquisarArtigo&artigo.id=20411

    http://www.espiralando.com.br/pagina/links/bioarquitetura_arquivos/tecadobe.htm

    http://www.europa.com.br/noticias/index.asp?idNews=31

    http://www.fazfacil.com.br/artesanato/ceramica.html

    http://www.glicomed.com.br/fw.php/website/produtos/0/0/4

    http://www.grafiberica.com/recuperacion-agua-de-lluvia/depositos-exteriores/contenedores-

    de-agua-lluvia/contenedor-de-agua-redondo.html

    http://www.ieham.org/html/superadobe.pdfhttp://www.jardin-garantia.es/recuperacion-agua-

    lluvia/contenedores-de-agua.html

    http://www.indoorclimbing.com/Portable_Water_Filter.html

    http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/CPATSA/28474/1/OPB130.pdf

    http://www.interiores-pt.com/index.php/artigos/bem-estar/filtro-filtros-agua.html

    http://www.jardin-garantia.es/recuperacion-agua-lluvia/filtros-para-el-agua-de-lluvia.html

    http://www.joag.com.br/images/Cisterna3000Ed.jpg

    http://www.mma.gov.br/estruturas/sedr_proecotur/_publicacao/140_publicacao15012009110

    921.pdf

    http://www.repsol.com/es_es/casa_y_hogar/energia_en_casa/reportajes/reciclate/como_aprov

    echar_agua_lluvia.aspx

    http://www.repsol.com/es_es/casa_y_hogar/energia_en_casa/reportajes/innova_energia/potabi

    lizadores_portatiles.aspx

    http://www.repsol.com/es_es/casa_y_hogar/energia_en_casa/reportajes/innova_energia/potabilizadores_portatiles.aspxhttp://www.repsol.com/es_es/casa_y_hogar/energia_en_casa/reportajes/innova_energia/potabilizadores_portatiles.aspx

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    APNDICE 1

    Como levantamento de campo, primeiramente efetuou-se visita a um grupo de

    assentados do MST, residentes no Assentamento Trs Pinheiros, em Sanaduva, Rio Grande

    do Sul. Em entrevista concedida no dia 16 de abril de 2010, (cinco pessoas: uma mulher e

    quatro homens) responderam s seguintes questes:

    1) De que maneira foi concedida a terra onde vocs esto assentados? R: O atual assentamento Trs Pinheiros, correspondente antiga Granja Trs Pinheiros,

    que produzia sementes e compreendia uma rea de mais ou menos dois mil hectares em vrios

    lugares. Neste, em especfico, de novecentos hectares. Como houve a falncia da Granja em

    1995, a Justia fez empenho com o Banco do Brasil, o Banrisul e o Banco Santander.

    2) Quantas famlias residem neste local? R: Aqui esto assentadas sessenta e quatro famlias.

    3) Antes do assentamento, quanto tempo fica-se acampado? R: Antes de 2007, de seis meses a sete anos, geralmente na beira das estradas.

    4) Como os acampados sobrevivem? R: Arranjvamos servio temporrio nas fazendas prximas (ma). Do dinheiro recebido,

    havia uma pequena contribuio para o grupo dos acampados. A partir de 1999 o INCRA

    fornecia mini cestas-bsicas mensais.

    5) Como foram obtidas as casas? R: Tnhamos nove casas existentes, que esto sendo aproveitadas; trinta em fase terminal

    de construo e dezoito em fase inicial. O INCRA e a Caixa Econmica Federal oferecem

    emprstimo a fundo perdido. Quando o projeto finalizado feita uma vistoria e o assentado

    no pode vender a propriedade adquirida. As casas obedecem a um projeto padro (42 m2, 6m

    x 7m). So construdas pelo sistema de mutiro, onde se contratam pedreiros e os familiares

    fazem o servio de serventes.

    6) Qual a rea destinada a cada famlia? R: Cada famlia possui mais ou menos dez hectares demarcados, numerados e

    documentados. A maioria das famlias tem animais (vacas, galinhas e porcos). Todas tm

    horta.

    7) Como feito o abastecimento de gua? R: Temos dois poos artesianos, pertencentes a Sananduva. A cada dois anos feita a

    anlise da gua. H uma vertente nesta regio, porm, ao fazer anlise, a gua foi reprovada

    por contaminao por agrotxicos, devido lavagem das mquinas agrcolas pelos antigos

    fazendeiros. Estamos cercados por fazendeiros que fazem a aplicao de agrotxicos por

    avio.

    8) Quanto Educao, como as crianas estudam? R: Tnhamos escolas itinerantes em parceria com universidades at a quinta srie (em

    dezembro de 2009 foi suspensa por questes polticas temeridade quanto formao de

    lderes fortes). Temos professores com formao pelo magistrio. Em Porto h uma escola

    de ensino mdio, com nfase em agroecologia. No ITERRA de Veranpolis, os alunos tm

    um tempo de aula na escola e um tempo na comunidade. A Universidade UERS fornecia

    livros e material didtico. No acampamento temos equipes que cuidam as sade (2 Grau

    Tcnico em Sade Comunitria), alimentao, higiene e educao. Usamos a medicina

    alternativa.

    9) Voltando questo da gua, todas as famlias so servidas pelos poos artesianos? R: H outras famlias que esto sofrendo com a falta de gua. s vezes falta gua.

    Algumas usam a gua da vertente.

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    10) Como vocs vem a possibilidade de um projeto de captao de gua da chuva e o seu armazenamento em pequenas cisternas?

    R: Seria muito til e necessrio, principalmente para aquelas famlias que sofrem com

    a falta de gua. Porm, precisaramos de uma cisterna com trs mil litros ou mais para

    resolver o problema.

    Alm da entrevista, visitamos as casas padro (fornecidas pelo INCRA) em fase final de

    construo de outros quatro assentados.

    Posteriormente, efetuou-se visita a um grupo de acampados do MST, residentes

    (temporariamente) em Passo Fundo, Rio Grande do Sul. No dia 30 de abril de 2010, (duas

    pessoas: uma mulher e um homem) concederam a seguinte entrevista:

    1) Qual a fonte de sustento dessa comunidade? R: Vivemos de doaes e venda do excedente da nossa pequena produo. Alguns

    acampados trabalham na cidade, outros, na rea agrcola. Queremos trabalho, no emprego.

    Plantamos feijo, soja, milho, trigo e cana. Tambm estamos estudando a permacultura.

    2) H quanto tempo vocs esto neste local? R: Desde 14 de novembro do ano passado. Antes, estvamos em Coqueiros. Fomos

    despejados pelo Ministrio Pblico: alegaram problemas ambientais. Deram-nos 8 horas

    para desocuparmos a rea, e isso foi de madrugada, com mulheres e crianas pequenas. Foram

    muito duros.

    3) Quantas famlias esto neste acampamento? R: 100 famlias.

    4) E quando algum da comunidade tem algum problema de sade? Vocs contam com mdicos ou enfermeiros?

    R: Contamos com um profissional, tcnico em sade comunitria.

    5) Como viver sem energia eltrica? R: Como podes ver, usamos velas e candeeiros. Fogo a lenha ou a gs. Ao invs de

    assistirmos televiso, nos reunimos com o grupo para debater assuntos da comunidade.

    Tambm usamos esse tempo para ler.

    6) E quando vocs precisam de transporte, como feito? R: O nico veculo que temos a moto. Contamos com a ajuda de amigos e simpatizantes

    do MST. Emprestam-nos caminhes e outros veculos, se necessrio.

    7) E quanto educao das crianas, como feita? R: Na ciranda infantil, as crianas desenvolvem mais a criatividade que numa escola

    comum. Constroem, por exemplo, o prprio brinquedo. Nos acampamentos, contamos com

    setores (ncleos de base: de 20 a 25 famlias), cada um se responsabiliza pela Educao,

    Segurana, Infra-estrutura, Sade, Alimentao e Higiene. Cada Ncleo tem dois

    coordenadores. Ns lutamos por uma nova sociedade. A monocultura trabalha para a

    exportao. Expulsou os pequenos agricultores do campo e, alm disso, usa sementes

    transgnicas.

    Durante a entrevista, percorreu-se toda a rea do acampamento e informaes

    espontneas foram sendo concedidas. Fotografias foram feitas nas diversas reas: local onde

    tomam banho, onde se lava roupa, sanitrio, pequena fonte da gua que usam para beber, da

    plantao e do conjunto de barracas.

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    Apndice 2

    A vista explodida do Casulo Dgua mostra a montagem dos componentes do sistema.

    Figura 1: Modelagem virtual da vista explodida do sistema de captao de gua da chuva Casulo D'gua.

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    Figura 2: Detalhamento tcnico da cisterna e componentes como tubulaes, filtro de gua da chuva e filtro bag.

    Figura 3: Imagem das cisternas com tubulaes. visor de nvel e detalhe do filtro de gua da chuva.

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    Figura 4: Storyboard da captao at a filtrao e potabilizao da gua.

    Figura 5: Esquema de distribuio da gua para acampados do MST. Casulo D'gua ao centro, com aberturas nos

    dois lados para servir as barracas prximas.

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    Figura 6: Fluxograma do trajeto da gua da captao at o servio.

    Manuteno e cuidados

    Para que haja uma melhor conservao do sistema e cuidados essenciais com a higiene

    e, consequentemente, com a sade, necessrio denominar um responsvel pelo manejo da

    gua, pela limpeza das cisternas e filtros e pela limpeza do telhado e calhas. O responsvel

    pelo manejo da gua ter as funes de:

    Descarte das primeiras guas, pelos registros.

    Aplicao de hipoclorito de sdio (2,5%): 500 ml (meio litro) para 5.000 L, de

    acordo com Artmio R. Jnior, tcnico da Vigilncia Ambiental de Bento Gonalves (RS).

    Aguardar. Desinfeco aps 30 minutos.

    Manter o hipoclorito fora do alcance de crianas e animais domsticos.

    O hipoclorito fornecido gratuitamente pelo Ministrio da Sade.

    O responsvel pela limpeza das cisternas ter as tarefas de:

    Limpar o filtro interno com gua quente.

    Esvaziar e limpar a cisterna (de 6 em 6 meses). Escove e lave as paredes com jatos

    d'gua. Depois de limpa, encha a cisterna com: 1 litro de gua sanitria + 1000 litros de gua

    ou 400 ml de Hipoclorito de Sdio +1000 litros de gua.

    Deixar desinfetar por 2 horas. No usar esta gua (alta dosagem de cloro).

    Esvaziar as cisternas, abrindo o registro inferior. Enxaguar com gua limpa.

    O responsvel pela limpeza do telhado dever lav-lo com gua e escova (de 6 em 6 meses).

  • Design para necessidades essenciais: projeto de captao e filtragem de gua de chuva

    DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1 CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN

    Clculo do potencial de captao

    No clculo de captao4 so levados em conta os seguintes dados:

    I) Precipitao (x)

    Fatores determinantes:

    A quantidade de chuva que cai do cu.

    O ndice anual de chuva do local onde se deseja instalar o sistema.

    O ndice pluviomtrico mede quantos milmetros chove por ano em 1 m.

    II) A rea de Captao (y)

    Superfcie do telhado em que a gua ser captada. Em m - superfcie projetada (y):

    III) Eficincia do telhado (w)

    O material, a porosidade, a inclinao e o estado de conservao afetam a eficincia da

    drenagem do telhado. Supe-se que sejam perdidos 15% da gua que caiu no telhado.

    IV) Eficincia na filtragem (z)

    Um filtro de boa qualidade e em bom estado de conservao envia cerca de 90% de gua

    "limpa" segue para o reservatrio.

    Considerando-se que no norte do estado chove 2.000 mm/ano (x) e o telhado tem uma

    superfcie de 46,81 m (y) e no sul do estado chove 1.500 mm/ano (x) e o telhado tem a

    mesma superfcie (y), procede-se o seguinte clculo:

    X (chuva anual) = 2.000 mm ou 2,0 m

    Y (rea do telhado) = 8,80 m x 5,32 m =46,81 m

    W (eficincia do telhado) = 85%

    Z (eficincia do filtro) = 90%

    Potencial Norte do estado:

    2.0 x 46,81 x 85% x 90% = 71,6 m/ano ou 71.600 litros/ano.

    Potencial Sul do estado:

    1.5 x 46,81 x 85% x 90% = 53,7 m/ano ou 53.700 litros/ano.

    4 Fonte: http://www.engeplas.com.br/agua.html