Design de Interiores e aspectos lúdicos em hospitais infantis

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INSTITUTOS SUPERIORES DE ENSINO DO CENSA Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Design de Interiores Design de Interiores e aspectos lúdicos em hospitais infantis Um estudo de campo do Hospital Federal da Lagoa Juliana Peixoto Rufino Gazem de Carvalho Paula Felix Araujo Monografia apresentada ao Curso de Pós- Graduação Lato Sensu em Design de Interiores dos Institutos Superiores de Ensino do CENSA como requisito para obtenção da certificação de Especialista em Design de Interiores. Orientador: Alber Neto, M.Sc. Campos dos Goytacazes 2015

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"Design de Interiores e aspectos lúdicos em hospitais infantis: um estudo de campo do Hospital Federal da Lagoa" é uma monografia apresentada ao Curso de Pós- Graduação Lato Sensu em Design de Interiores dos Institutos Superiores de Ensino do CENSA como requisito para obtenção da certificação de Especialista em Design de Interiores. Design; Design de Interiores; Arquitetura; Arquitetura de Interiores; Arquitetura Hospitalar; Saúde Pública; Pediatria; Hospital; Aspectos Lúdicos; Hospital Federal da Lagoa; Aquário Carioca.

Transcript of Design de Interiores e aspectos lúdicos em hospitais infantis

  • INSTITUTOS SUPERIORES DE ENSINO DO CENSA Curso de Ps-Graduao Lato Sensu em Design de Interiores

    Design de Interiores e aspectos ldicos em hospitais infantis

    Um estudo de campo do Hospital Federal da Lagoa

    Juliana Peixoto Rufino Gazem de Carvalho

    Paula Felix Araujo

    Monografia apresentada ao Curso de Ps-

    Graduao Lato Sensu em Design de Interiores

    dos Institutos Superiores de Ensino do CENSA

    como requisito para obteno da certificao de

    Especialista em Design de Interiores.

    Orientador:

    Alber Neto, M.Sc.

    Campos dos Goytacazes

    2015

  • autorizada a reproduo e divulgao total ou parcial deste trabalho

    em qualquer meio convencional ou eletrnico, para fins de estudo e pesquisa, desde que os autores e orientador sejam devidamente citados e referenciados.

    Como referenciar este trabalho:

    CARVALHO, Juliana Peixoto Rufino Gazem de; ARAUJO; Paula Felix. Design de Interiores e aspectos ldicos em hospitais infantis: um estudo de campo do Hospital Federal da Lagoa. 2015. 88 f. Monografia (Ps-Graduao Lato Sensu em Design de Interiores) - Institutos Superiores de Ensino do CENSA (ISECENSA), Campos dos Goytacazes, 2015. Orientador: Alber Neto.

    Como contactar autores e orientador: Juliana Peixoto Rufino Gazem Carvalho [email protected]

    Paula Felix Araujo [email protected]

    Alber Neto [email protected]

    Catalogao na fonte pelos Institutos Superiores de Ensino do CENSA

    Carvalho, Juliana Peixoto Rufino Gazem de

    Design de Interiores e aspectos ldicos em hospitais infantis: um estudo de campo do Hospital Federal da Lagoa / Juliana Peixoto Rufino Gazem de Carvalho; Paula Felix Araujo; orientador: Alber Neto. Campos dos Goytacazes, RJ, 2015.

    88 f.: il.

    Monografia (Ps-Graduao Lato Sensu) Institutos Superiores de Ensino do CENSA, Ps graduao Lato Sensu em Design de Interiores.

    1. Design de Interiores. 2. Sala de quimioterapia. 3. Aspecto ldico. 4. Hospital. 5. Pediatria. I. Neto, Alber. II. Institutos Superiores de Ensino do CENSA. III. Ttulo.

    CDD 729

  • JULIANA PEIXOTO RUFINO GAZEM DE CARVALHO

    PAULA FELIX ARAUJO

    Design de Interiores e aspectos ldicos em hospitais infantis

    Um estudo de campo do Hospital Federal da Lagoa

    Esta monografia foi julgada e aprovada para a obteno da certificao de

    Especialista em Design de Interiores no Curso de Ps Graduao Lato Sensu em

    Design de Interiores dos Institutos Superiores de Ensino do CENSA.

    Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 5 de maro de 2015.

    ORIENTADOR

    Prof. Alber Francisco dos Santos Neto, M.Sc. Institutos Superiores de Ensino do CENSA

    BANCA EXAMINADORA

    Prof. Alber Francisco dos Santos Neto, M.Sc. Institutos Superiores de Ensino do CENSA

    Prof. Luciano Falco da Silva, D.Sc. Instituto Federal Fluminense

    Profa. Luiz Claudio Gonalves Gomes, M.Sc. Instituto Federal Fluminense

    Profa. Mariana Cristina Sala Oliveira Reis, Esp. Institutos Superiores de Ensino do CENSA

  • Dedicamos a todos os pequenos, que se tornaram

    gigantes diante de momentos de dor e sofrimento

    decorrentes de tratamentos oncolgicos. E com

    garra no desistem de seus sonhos, dando-nos

    exemplo de superao e nos provando o quanto

    so fortes.

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus, pela vida, pela sade e por ter permitido a realizao deste trabalho.

    s nossas famlias, pelo incentivo e motivao de sempre.

    Aos nossos companheiros por nos apoiarem em momentos de desespero.

    Ao corpo docente da Ps Graduao por nos ajudar a agregar conhecimentos, e em especi-al, ao nosso orientador, professor M.Sc. Alber Neto por toda ajuda e pacincia.

    equipe tcnica do Hospital Federal da Lagoa, principalmente ao Alexandre Leite, pela visita guiada e enfermeira chefe (L. B. L. M.) do Aqurio Carioca pela entrevista con-cedida.

    todos os membros da banca que aceitaram o convite para participar da concluso desta nossa etapa.

    E a todos que, direta e indiretamente, contriburam positivamente para a realizao deste trabalho.

  • AMANH FICO TRISTE... AMANH!

    HOJE NO... HOJE FICO ALEGRE!

    E TODOS OS DIAS, por mais amargos que sejam, eu digo:

    AMANH FICO TRISTE, HOJE NO...

    Anglica Silva (Vencedora contra o cncer)

  • RESUMO

    Tendo em vista o confinamento, mesmo que por algumas horas, vivenciado por cri-anas e adolescentes em hospitais, quando submetidos a tratamentos evasivos como a qui-mioterapia, e as consequncias traumticas para este tipo de pblico ao ser tratado de ma-neira incorreta, este trabalho possui o objetivo de apresentar um complemento arquitetni-co que deve ser utilizado simultaneamente aos procedimentos mdicos para a cura da do-ena. Isto consiste na compreenso ldica de projeto de interior em ambiente hospitalar. Para isto, foi analisado atravs de estudo de campo, o projeto Aqurio Carioca, implanta-do no Hospital Federal da Lagoa, no Rio de Janeiro/BR, cuja anlise foi baseada nos prin-cipais aspectos arquitetnicos em conjunto com os elementos do Design de interiores co-mo: iluminao, cor, som dentre outros. A ludicidade utilizada na sala de quimioterapia teve como objetivo amenizar os efeitos do confinamento ao longo do tratamento. So dis-postos aos usurios jogos, televiso, livros, DVDs e outros atrativos fsicos que podem ser utilizados enquanto as medicaes so aplicadas, alm da possibilidade de conhecer e tro-car experincias com outros pacientes de idades semelhantes. Aps a realizao do estudo de campo, caracterizado pela visita tcnica, uma entrevista e observaes diretas feitas pelas autoras, pode-se analisar que o Design proposto, em conjunto com o investimento em aspectos ldicos propcios a divertir os enfermos e lev-los ao mundo da imaginao, so capazes de tornar o ambiente mais tranquilo e descontrado, inclusive para funcionrios. Os pacientes, por sua vez, se permitem a uma fuga momentnea da realidade, gerando, por consequncia, a diminuio do tdio e da tristeza de estarem confinados. Portanto, a prin-cipal concluso deste trabalho refere-se ao modo de projetar um hospital infantil, que deve ser pensado principalmente de fora para dentro, provocando sensaes ldicas ao pblico alvo, desde o primeiro olhar para a fachada, devendo essa ludicidade ser tratada como es-pinha dorsal de um projeto de hospital peditrico.

    Palavras-chave: Design de Interiores, Sala de quimioterapia, aspecto ldico, hospital, pe-diatria

  • !

    ABSTRACT

    Bearing in mind confinement, even for a few hours, experienced by children and teenagers in hospitals, when exposed to invasive treatments, such as chemotherapy, and traumatic consequences this kind of public suffers when being treated mistakenly, the present paper has the goal of presenting an architectonic complement that must be used simultaneously with medical procedures in order to help in the disease healing process. It consists of the playful comprehension of interior design projects in hospital environment. To accomplish that, the project Aqurio Carioca (Carioca Aquarium), which was implemented at the Hospital Federal da Lagoa (Lagoon Federal Hospital), in Rio de Janeiro/BR, was analyzed through field study. Its analysis was based on the major architectural aspects together with interior design elements, such as: lighting, color, sound and so on. The playfulness used in the chemotherapy room had the objective to soften the confinement effects throughout the treatment. Gaming, television, books, DVDs and other attractive gadgets are available for the users; they all can be used while the medication is being applied. Besides, they have the opportunity to exchange experiences with and get to know other patients of the same average age. After completing the field study, which consisted of: a technical visit, an interview and direct observations made by the authors, it was possible to analyze that the design proposed, together with investments in playful elements that intended to amuse the sick and take them to the imagination world, are capable of making the ambient more peaceful and serene, casual and relaxed, even for the hospital staff. The patients, on their turn, let themselves escape momentarily from reality, consequently reducing the boredom and sadness of being confined. Therefore, the major conclusion of this study refers to the way of designing a children's hospital, which should be thought mainly from the outside in, what causes playful sensations to the target audience since their first look at the faade. This playfulness should be treated as the backbone of a childrens hospital project.

    Keywords: Interior Design, Chemotherapy Room, Playful aspect, hospital, pediatrics.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Localizao do hospital.....................................................................................48

    Figura 2 Hall de elevador ................................................................................................50

    Figura 3 Porta de um dos quartos.....................................................................................51

    Figura 4 Corredor do andar da pediatria..........................................................................51

    Figura 5 - Sala de espera para pacientes e acompanhantes ................................................52

    Figura 6 - Estante com brinquedos doados ........................................................................52

    Figura 7 - Balco de trabalho da equipe de enfermagem....................................................53

    Figura 8 - Televiso com moldura em formato de peixe ...................................................53

    Figura 9 - Cadeira para acompanhante e para o paciente receber a medicao .................54

    Figura 10 - Maca para paciente receber a medicao ........................................................55

    Figura 11 - Parede de um dos andares voltados para pacientes adultos..............................56

    Figura 12 - Vista dos quartos do hospital. Imagem capturada da cobertura do edifcio.....56

    Figura 13 - Vista para o Cristo Redentor ...........................................................................57

    Figura 14 - Vista para a Sociedade Hpica Brasileira ........................................................57

    Figura 15 - Vista superior do jardim ..................................................................................58

    Figura 16 - Vista de um dos caminhos existentes no jardim ..............................................58

    Figura 17 - Fachada da Avenida Lineu de Paula Machado.................................................59

    Figura 18 - Detalhe para o prdio principal........................................................................60

    Figura 19 - Vista do anexo da fachada referente rua Oliveira Rocha..............................60

  • Figura 20 - No prdio principal, sobre o pilotis, letras antigas identificando-o..................61

    Figura 21 Prdio principal................................................................................................62

    Figura 22 Sala de consultas..............................................................................................64

    Figura 23 Vista lateral esquerda do hospital....................................................................70

    Figura 24 Vista Lateral direita do Hospital......................................................................70

    Figura 25 Hospital iluminado durante a noite..................................................................71

    Figura 26 Hospital iluminado artisticamente...................................................................71

    Figura 27 Hospital em formato de Telfase.....................................................................72

    Figura 28 Implantao do hospital e as curvas dos sheds................................................73

    Figura 29 Vista interna do hospital..................................................................................73

    Figura 30 Vista interna de outro ponto do hospital..........................................................74

    Figura 31 Vista externa do auditrio do hospital.............................................................74

  • LISTA DE APNDICES

    APNDICE A Transcrio da entrevista com L. B. L. M., enfermeira chefe.

  • 61

    SUMRIO

    1 INTRODUO ...................................................................................................14 1.1 Definio da situao problema ............................................................................14

    1.2 Problema de pesquisa ............................................................................................16

    1.3 Objetivos ...............................................................................................................16

    1.4 Justificativa da relevncia do trabalho ..................................................................16

    1.5 Delimitao ...........................................................................................................17

    1.6 Caracterizao da pesquisa realizada ....................................................................17

    1.6.1 Da natureza ..............................................................................................................17

    1.6.2 Do problema ............................................................................................................18

    1.6.3 Dos objetivos ...........................................................................................................18

    1.6.4 Das tcnicas .............................................................................................................19

    2 REVISO DA LITERATURA PERTINENTE AO TRABALHO ................21 2.1 O Design ................................................................................................................21

    2.2 O Design de interiores ...........................................................................................23

    2.3 O Design em ambientes hospitalares ....................................................................25

    2.3.1 Iluminao .............................................................................................................26

    2.3.2 Cor .........................................................................................................................27

    2.3.3 Som .......................................................................................................................28

    2.3.4 Aroma ...................................................................................................................28

    2.3.5 Textura ..................................................................................................................29

    2.3.6 Forma ....................................................................................................................29

    2.3.7 Controle e automao.............................................................................................29

    2.4 Hospital enquanto Ambiente Confinado................................................................30

    2.5 Pblico infantil ......................................................................................................35

    2.6 Aspectos Ldicos...................................................................................................40

    3 DESENVOLVIMENTO: ESTUDO DE CAMPO DO HOSPITAL FEDERAL DA LAGOA (RIO DE JANEIRO, RJ) ..............................................................46

    3.1 Metodologia .............................................................................................................46

    3.2 Sobre o Hospital Federal da Lagoa .........................................................................47

    3.3 O estudo de campo ..................................................................................................48

    3.4 Consideraes finais sobre o estudo de campo .......................................................62

  • 4 CONSIDERAES FINAIS .............................................................................67 5 SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS ............................................76

    REFERNCIAS ..................................................................................................77 APNDICE...........................................................................................................82

  • 14

    1. INTRODUO

    1.1. Definio da situao problema

    No Brasil, considerando as enfermidades mais graves, pode-se dizer que o cncer

    infantil uma das primeiras causas de mortes em crianas de 1 a 18 anos, quando analisa-

    das todas as regies. Isso se d por ser ocasionado por um crescimento desordenado de

    clulas que atingem rgos e tecidos, podendo ser causados por fatores internos ou exter-

    nos ao organismo. Sendo assim, pesquisas indicam que de 1% a 3% dos tumores malignos

    que acometem a populao, ocorrem em faixa etria infanto-juvenil e, por ano, so estima-

    dos mais de 9 mil casos novos de cncer em crianas e adolescentes (INCA, 2014;

    SOBOPE, 2014).

    Segundo o INCA (2014), as formas de tratamento variam entre cirurgia, radiote-

    rapia, quimioterapia, transplante de medula ssea ou a combinao de dois ou mais trata-

    mentos, sendo esses utilizados para pessoas de todas as faixas etrias, o que gera privao,

    confinamento e intensidade de dores iguais entre crianas, adolescentes e adultos. Porm,

    para esse pblico mais jovem, esses traumas durante todo o processo de descoberta e cura

    da doena so considerados mais delicados, por privarem a criana e adolescente a terem

    experincias propriamente infantis, como bem explicado por Oliveira et al (2008):

  • 15

    A doena impede a criana de desenvolver as atividades regulares de seu dia-a-dia e provoca, muitas vezes, sensaes de dor, desconforto e mal-estar. A hospitalizao leva a criana necessidade de afastar-se do seu lar, sua escola, seus amigos, enfim, sua vida cotidiana, para ingressar em um ambiente completamente novo, com pessoas estranhas, imersas em uma rotina alheia ao seu modo de vida e um aparato teraputico cuja fina-lidade desconhecida para ela. (OLIVEIRA, 2008. p. 231)

    Armond (1996) relata que ao encontrarem-se doentes, h uma desestruturao

    enorme no mundo da criana e do adolescente, justamente pelo afastamento do convvio

    escolar e atividades paralisadas. A vivncia hospitalar penosa e estranha para os jovens pacientes.

    Com o objetivo de amenizar essa experincia na vida de pessoas to novas, exis-

    tem evidncias que aspectos ldicos, quando trabalhados em hospitais, tendem a ajudar

    nesse perodo de dor vivenciado por eles.

    A presena de jogos, msicas, livros, aparelhos de televiso tendem a ser um

    complemento teraputico que ajuda a dissipar os impactos dos procedimentos que so rea-

    lizados. Os aspectos ldicos em geral funcionam como um exerccio de autocontrole que

    os tornam indispensvel ao indivduo. Podem ser tambm um escape para impulsos preju-

    diciais, bem como um restaurador de energia. Permitem a evaso da vida real e uma imer-

    so em um mundo de fantasia, que proporciona a amenizao da dor fsica e psicolgica do

    paciente (ARMOND, 1996; SILVA, 2003; HUIZINGA, 2000).

    Portanto, em conformidade com esta situao problema, neste trabalho de conclu-

    so de curso h a preocupao de evidenciar os meios como os aspectos ldicos podem ser

    trabalhados em interiores de hospitais e influenciar os pacientes infantis. Para tanto desen-

    volve-se este trabalho utilizando o Hospital Federal da Lagoa, na cidade do Rio de Janeiro,

    como objeto de estudo.

  • 16

    1.2. Problema de pesquisa

    Em concordncia com o supracitado, se apoiando nas evidncias que apon-

    tam que ambiente ldico auxilia no tratamento de crianas, endossa-se a discusso

    por meio da seguinte questo:

    Qual a percepo dos pblicos envolvidos sobre um hospital que possui aspectos ldicos trabalhados em seu interior?

    1.3. Objetivos

    O objetivo geral deste trabalho construir uma compreenso mais ampla da di-menso ldica em ambientes hospitalares e como esta pode vir a contribuir na otimizao

    do tratamento de pacientes infantis.

    Para tal, so objetivos especficos:

    x Apesentar uma compreenso da dimenso ldica em projetos de interiores;

    x Analisar por meio de estudo de campo a interao e a percepo dos pblicos do Hospital Federal da Lagoa quanto aos aspectos ldicos do mesmo;

    x Pontuar como um ambiente que trabalha aspectos ldicos pode auxiliar a recuperao de pacientes infantis.

    1.4. Justificativa da relevncia do trabalho

    A justificativa para o desenvolvimento esta fundamentada em trs importantes ar-

    gumentos:

    x Tem aderncia ao Curso de Ps-Graduao Lato Sensu em Design de In-teriores: o trabalho aborda o conforto e a recuperao de pacientes infantis em

  • 17

    hospitais. Para tanto, conduz esta abordagem a partir da dimenso ldica em projetos de interiores;

    x Dialoga com polticas pblicas: o tema aqui discutido encontra-se em desta-que no pas, principalmente aps o Ministrio da Sade ter elaborado o Plano Nacional de Humanizao (PNH) chamado HumanizaSUS (2004), que visa nortear as prticas de ateno e gesto em todas as instncias do SUS. Neste plano, foi destacada a importncia de investir em financiamento de projetos pa-ra melhorar a ambientao de alguns setores do hospital como: salas de conver-sa, espaos de conforto, alm de investir em moblia adequada, comunicao visual etc.

    x Atua em oportunidades locais e possui desdobramento global: ao pensar na grande incidncia de doenas que afetam as pessoas de modo geral, no Brasil e no mundo, tornam-se relevantes projetos que invistam em melhorar a qualidade de bem estar do paciente durante tratamentos traumticos, como contra o cn-cer. E assim, mesmo um estudo conduzido a partir de um hospital localizado na cidade do Rio de Janeiro pode vir a auxiliar projetos futuros em outras cidades.

    1.5. Delimitao

    A pesar de abordar aspectos de sade pblica e recuperao de pacientes, este tra-

    balho se restringe a discutir os temas exclusivamente por meio da contribuio dos aspec-

    tos ldicos aplicados no interior de hospitais.

    1.6. Caracterizao da pesquisa realizada

    1.6.1. Da natureza

    Trata-se de uma pesquisa aplicada. Inicialmente, delimita-se uma condio e re-vela-se uma demanda de total relevncia social; em seguida, com o desenvolvimento do

  • 18

    trabalho tem-se como resultado um constructo conceitual que visa auxiliar projetos futuros

    que abordem a dimenso ldica (MARCONI e LAKATOS, 2007).

    1.6.2. Do problema

    Lanou-se mo de uma abordagem qualitativa. Assim, considerando as caracte-rsticas deste tipo de abordagem, (I) buscou-se a visitao de ambientes correlatos quele

    da proposta de projeto e (II) considerou-se o comportamento dos indivduos que se relaci-

    onam com esse tipo de ambiente (CRESWELL, 1994). Pode-se destacar ainda que aborda-

    gem qualitativa se relaciona estreitamente com a rea de Design:

    A [abordagem qualitativa] ajuda a revelar oportunidades sociais, polti-cas, econmicas e culturais das pessoas e permitir que descrevam os obs-tculos com suas prprias palavras. Pesquisas qualitativas so valiosas para analisar e mapear a dinmica do relacionamento entre pessoas, lugares, objetos e instituies. Isto possvel porque esses fenmenos do mundo social tendem a estar relacionados internamente (ou seja, so mutuamente dependentes e so partes uns dos outros).

    Ao examinar com profundidade um fenmeno, um universo inteiro de re-laes vem tona, j que outros fatos tendero a situar-se em algum pon-to intermedirio do mapa de relaes. (IDEO, 2010, p. 22, grifo nosso)

    1.6.3. Dos objetivos

    Uma vez que este trabalho propicia maior familiaridade com um fenmeno reple-

    to de variveis, busca entendimento por meio de uma determinada tica (Design de Interio-

    res), considera as necessidades do comportamento humano, alm de demandar anlise de

  • 19

    exemplos externos que estimulem a compreenso, tem-se uma pesquisa exploratria. Este tipo de pesquisa , portanto, justificado pela complexidade do fenmeno, e pelo fato de no

    pretender ser um estudo definitivo, buscando revelar nuances e caminhos para o desenvol-

    vimento de futuras pesquisas (GIL, 2002).

    1.6.4. Das tcnicas

    O presente trabalho foi estruturado por meio de documentao indireta (MAR-CONI e LAKATOS, 2007). Assim, com pesquisa e anlise de fontes secundrias (princi-palmente por meio de livros, artigos, dissertaes, teses e websites oficiais que hospedem as obras perfiladas e/ou que abordem os temas centrais ou temas correlatos), situou-se o

    trabalho no tempo e espao no item denominado definio da situao problema e constru-iu-se os alicerces conceituais na reviso de literatura pertinente pesquisa.

    No item 3 deste trabalho, intitulado de desenvolvimento, versando com a natureza aplicada do trabalho, foi realizada documentao direta pela tcnica de estudo de campo no Hospital Federal da Lagoa. Otani e Fialho (2011, p. 40) dizem que:

    [Este] elaborado em campo aberto, junto natureza e sociedade. Me-lhor ser dizer que feito no terreno, junto do objeto de estudo.

    Pode ser empregado em estudos que visam avaliar aes ou interferncias realizadas no mbito social.

    [...] Basicamente, a pesquisa e desenvolvida por meio da observao dire-ta das atividades do grupo estudado e de entrevistas com possveis infor-mantes para levantar suas explicaes e interpretaes do que ocorre no [objeto de estudo].

  • 20

    Serra (2006) diz que este tipo de estudo comum na Arquitetura e no Design. Em

    vez de adotar mtodos estatsticos, o pesquisador busca por meio de critrios claramente

    definimos extrair o mximo de um objeto de estudo. Assim, mostra-se as configuraes

    deste objeto, como evoluiu e qual o seu desempenho. Pode-se complementar ainda com

    Marconi e Lakatos (2007) que versam que o estudo de campo visa mais do que encon-

    trar uma resposta definitiva formalizar relaes entre variveis.

  • 21

    2. REVISO DA LITERATURA PERTINENTE AO TRABALHO

    2.1. O Design

    As definies para o Design so empregadas de diversas formas em funo dos di-

    ferentes contextos em que a rea se encontra. Um dos principais fatores que contribuem

    para que o Design no tenha uma nica definio a multidisciplinaridade, que, mesmo

    concorrendo para o enriquecimento e solidez da rea, favorece o surgimento de diversos

    pontos de vista. Pode-se afirmar que o Design uma rea complexa e que tem como prin-

    cipal papel beneficiar a sociedade (BONI et al, 2014).

    Embora tenha se originado na arte, o Design se fundamentou no surgimento das in-

    dstrias. No entanto, hoje deve ser entendido como um ato mais racional que artstico de-

    vido sua dimenso e sua funo em prol do benefcio humano (BONI et al, 2014).

    Conforme Martins (2004), o termo design no tem uma traduo definida para o portugus, mas est diretamente ligado noo de projeto, em seu sentido mais amplo.

    Tem como caracterstica processual o desenvolvimento ou redesenho de objetos e/ou men-

    sagens, que atendam a fatores sociais, econmicos e estticos de acordo com o projeto.

    Para Ascar (2008) o Design uma atividade relativamente recente dentre os estudos

    cientficos e tem como caracterstica principal a interdisciplinaridade por estar sempre mediando campos aparentemente opostos. No entanto, ainda conforme sugere este autor,

    design possui muitas definies. Esta palavra empregada muitas vezes como uma quali-

  • 22

    dade particular de determinados conjuntos de objetos. No h um conceito fechado do que

    seja o Design.

    O International Council of Societies of Industrial Design (ICSID), rgo internaci-

    onal oficial da atividade, definiu em 1957, ano de fundao do rgo, o termo Design e divulgada, em 1959, no Primeiro Congresso em Estocolmo:

    Um desenhista industrial uma pessoa que se qualifica por sua formao, seus conhecimentos tcnicos, suas experincias e sua sensibilidade visual no grau de determinar os materiais, a estrutura, os mecanismos, a forma, o tratamento superficial e a decorao de produtos fabricados em srie por meio de procedimentos industriais. (ICSID, 2014)

    Passados os anos de atividades do ICSID, a definio do termo em questo evoluiu

    e passou por algumas adaptaes. As responsabilidades do profissional se ampliaram,

    agregando conceitos de sustentabilidade e ecologia, uma vez que o designer deve atentar a todo o ciclo de vida, no apenas do produto, mas de todo o sistema em que est inserido,

    com o objetivo de garantir a valorizao da vida (DE ARRUDA et al, 2009).

    Para Schneider (2010), no possvel, atualmente, definir com preciso o conceito

    de Design, em funo de diversos fatores, como a historicidade, aplicao e abrangncia da

    rea. Desde o Renascimento o ramo de atuao dos designers vem se alterando. Antes era restrito concepo de formas aos objetos. Hoje, sua ampliao abrange reas da inform-

    tica, processos, servios e outros.

    Vianna et al (2012), no livro Design Thinking traduz como principal funo do de-signer promover bem-estar na vida das pessoas. Para isso, preciso identificar os reais problemas e solucion-los de maneira mais efetiva, ou seja, transformar ideias em solues

    tangveis. Deve, no entanto, abord-los sob diversas perspectivas e ngulos, priorizar o

    trabalho colaborativo entre equipes multidisciplinares e atravs de olhares e interpretaes

    diversificadas sobre a questo, encontrar solues inovadoras.

  • 23

    Os conceitos apresentados por diversos autores tornamse elementares para o en-tendimento do Design como um processo em (constante) transformao, que tem se adap-

    tado s necessidades sociais e tecnolgicas.

    2.2. Design de Interiores

    A humanizao de ambientes busca promover aos usurios conforto fsico e psico-

    lgico. A Associao Brasileira de Designers de Interiores (ABD, 2014) defende que mui-

    tas variveis influenciam em um projeto de interiores na busca de solues criativas e den-

    tre elas a mais importante refere-se natureza da utilizao do espao. Considera que exis-

    tem, ainda, fatores prticos a serem observados como acessibilidade, iluminao, acstica,

    conforto trmico, armazenamento de materiais e adornos, entre outros. E, ainda acrescenta

    que fundamentais so as questes associadas sade, conforto, segurana, durabilidade e

    certas necessidades especiais inerentes a cada Cliente.

    A forma bsica de um espao, os elementos arquitetnicos presentes, a cor, os re-

    vestimentos, os mveis etc. sempre vo interferir no resultado final de um projeto. Design

    no simplesmente desenho: o resultado de um processo de criao. Gurgel (2008)

    concluiu que h design em tudo aquilo que, para ser projetado, criado, necessitou, em seu processo criativo, da utilizao, de modo consciente, de determinadas ferramentas de pro-

    jeto. Estas ferramentas, pode-se dizer so os elementos de design (GURGEL, 2008).

    Dentre os conceitos que rodeiam o design, existe um no livro da mesma autora, Projetando Espaos (2005), que se encaixa perfeitamente a este projeto:

    Chamamos de design a arte de combinar formas, linhas, texturas, luzes e

    cores para criar um espao ou objeto que satisfaa trs pontos fundamen-

    tais: a funo, as necessidades objetivas dos usurios e a utilizao coe-

    rente e harmnica dos materiais. (GURGEL, 2005, p.25)

  • 24

    comum confundir decorador, designer de interiores e arquiteto. Garibaldi Rizzo faz alguns esclarecimentos quanto s definies, atribuies legais e responsabilidade civil,

    de cada profissional, que tem levado a graves problemas. No entanto, h uma delimitao

    importante entre os profissionais, notadamente quanto atribuio legal e responsabilidade

    tcnica (RIZZO 2013).

    O decorador aquele profissional formado (ou no) em um curso de curta durao

    ou um autodidata. Suas atribuies so muito restritas, pois seu conhecimento sobre v-

    rios componentes de uma obra nulo. Sua funo restringe-se escolha de acessrios, m-

    veis ou cores sem que altere fisicamente a obra. No pode interferir no ambiente nem

    mesmo no detalhamento de mobilirios cuja atribuio do designer de interiores (RIZZO 2013).

    O designer de interiores, alm das atribuies do decorador tem a funo de ela-borar o espao coerentemente, seguindo normas tcnicas de ergonomia, acstica, trmico e luminotcnica alm de ser um profissional capaz de captar as reais necessidades dos cli-

    entes e concretiza-las atravs de projetos especficos. Porm seu trabalho restringe-se a ambientes internos, o profissional habilitado para atuar em projetos de interiores, auxili-

    ando o arquiteto a resolver os espaos da edificao de forma a atender melhor as necessi-

    dades do cliente, para complementar o fechamento da obra (RIZZO 2013).

    O arquiteto e sua formao se do atravs dos cursos de arquitetura e urbanismo a

    qual permite que atue em vrias reas como: estudo e planejamento de projetos, execuo

    de desenho tcnico, elaborao de oramento, padronizao, mensurao e controle de

    qualidade, execuo de obra e servios tcnicos (RIZZO 2013).

    De acordo Gurgel (2005), o projeto de interiores envolve um profundo estudo so-

    bre o perfil da empresa e da imagem que ela pretende transmitir, alm de ter como uma de

    suas prioridades a viabilizao da praticidade, da funcionalidade e do conforto na execuo

    das tarefas, tanto para o bom desempenho dos profissionais que ali trabalham como para a

    satisfao dos visitantes, que neste caso em questo so os pacientes hospitalares e familia-

    res.

    Uma das primeiras propostas de criao de um modelo conceitual da influncia do

    ambiente nas respostas emocionais dos clientes foi apresentada por Russell e Mehrabian,

    psiclogos ambientais que reconheceram que estmulos fsicos, presentes em um determi-

  • 25

    nado ambiente, conjuntamente com a personalidade dos consumidores, influenciam dire-

    tamente estados emocionais de um indivduo e, por consequncia, no seu comportamento.

    Posteriormente, estudos aprofundaram essas questes trazendo o conceito de "cenrios de

    servios que possua quatro dimenses ambientais que interferem na qualidade percebida

    do servio que pode ser resumida no seguinte modelo simplificado: as caractersticas fsi-

    cas dos ambientes influenciam algum estado interno do consumidor, que, por sua vez, in-

    fluencia o seu comportamento dentro do cenrio. Funcionrios e clientes reagem s dimen-

    ses fsicas do seu entorno fsico de modo cognitivo, emocional e psicolgico, de maneira

    claramente interdependente (SANZI, 2006).

    2.3. O Design em Ambientes Hospitalares

    Hospital tema deste trabalho est entre as mais complexas edificaes da socieda-

    de contempornea. Alm dos aspectos fsicos comuns as outras construes, esta tem sua

    relevncia, pois se trata de um ambiente de recuperao, onde ocorrem muitos procedimen-

    tos. O estresse fsico e psiclogo so presentes e podem ser fortemente prejudicados se, por

    exemplo, alguns fatores dentro da Arquitetura e Design de Interiores no forem bem resol-

    vidos (RANGEL, 2011).

    Pode-se perceber que devido evoluo cientfica e tecnolgica, os ambientes

    hospitalares vm sofrendo grandes alteraes. Segundo Mezzomo, apud, Horevicz et al (2007) De vinte anos para c, assistimos a um trabalho de total renovao e transformao

    no campo da arquitetura hospitalar no sentido de responder s necessidades do homem

    atual. Desta forma percebe-se que administradores da sade esto, a cada dia, se preocu-

    pado mais com o paciente, na busca de proporcionar ambientes agradveis para estes e

    seus familiares. A imagem clssica de hospital com ambientes frios est se modificando.

    Dentre as formas como a humanizao do espao hospitalar tem se expressado re-

    centemente, pode-se citar a busca por uma ambincia interna e externa o menos instituci-

    onal possvel, a fim de se aproximar o mximo de residncias. Atualmente comum

    observar edifcios com aparncia de hotis, residenciais e temticas (na maioria quando se

    trata de alas peditricas) (CAVALCANTI et al, 2007).

  • 26

    Ao imaginar um ambiente hospitalar logo associado a um local frio, com cheiro

    de ter, com estressante barulho de aparelhos e rudos de macas circulando e mdicos e

    enfermeiros conversando ao redor do paciente. Geralmente esta a sensao que a maioria

    das pessoas tem de um hospital, o que se pode dizer que essa imagem traumatizante

    para qualquer ser humano (VASCONCELOS, 2004).

    Diante estas informaes o Design de Interiores pode se fazer notado, em ambien-

    tes hospitalares, a partir de alguns elementos como:

    2.3.1 Iluminao

    A iluminao e a cor esto constantemente presente nos ambientes. Em ambientes

    hospitalares, seus usos corretos fazem com que funcionrios, pacientes e familiares se sin-

    tam mais confortveis. A iluminao, natural e artificial, determinante em ambientes

    hospitalares, cada uma com objetivos especficos a fim de auxiliar tanto nos procedimentos

    mdicos, quanto aos pacientes fornecendo conforto visual, que pode interferir diretamente

    nas respostas emoes dos usurios (PECCIN, 2012).

    A luz natural proveniente do sol tem total relevncia quando os pacientes fi-

    cam internados e/ou perodo do dia confinado a esse ambiente, com pouco contato com

    exterior do hospital, pois dentre seus principais objetivos, est a sincronia dos mecanismos

    fisiolgicos dos usurios. Alm disso, a viso do exterior representa o elo com o mundo,

    orienta quanto ao tempo, horas e estaes. Vale ressaltar que a presena de raios solares

    (no a exposio) de extrema importncia em tratamentos de sade, principalmente no

    que tange a absoro de Vitamina D (PECCIN, 2012).

    Tanto a iluminao natural quanto a artificial proporcionada por luminrias dis-

    postas no ambiente tm suas importncias para a qualificao de espaos hospitalares,

    principalmente quando o estado fragilizado dos pacientes e sua longa permanncia na insti-

    tuio so considerados. A combinao da iluminao natural com a artificial considera-

    da ideal, de forma a satisfazer tanto os aspectos normativos, que estabelecem as iluminn-

    cias mnimas, quanto aos aspectos qualitativos, que visam o bem estar dos pacientes

    (VASCONCELOS, 2004).

  • 27

    No entanto, preciso ter cuidado ao elaborar um projeto de iluminao, princi-

    palmente quanto intensidade, tamanho e posicionamento. Esses fatores so indispens-

    veis para um bom funcionamento. necessrio tambm considerar o modelo das lumin-

    rias, pois tratando de um hospital, o recomendado optar pelas que obtiver melhores con-

    dies de assepsia. Levando em conta esses fatores, ter-se- um ambiente bem projetado,

    corretamente iluminado, o qual auxiliar o trabalho dos profissionais e a recuperao dos

    pacientes (KOTH, 2013).

    Existe, no Brasil recomendaes segundo a ABNT (Associao Brasileira de

    Normas Tcnicas), atravs da NBR 5413 Iluminncia de interiores, no item 5.3.28

    Hospitais, que direciona os projetistas no momento da elaborao dos projetos nestes seg-

    mentos.

    2.3.2 Cor

    Conforme j citado, cor e luz so elementos do ambiente que esto intimamente

    ligados. A intensidade da luz pode afetar substancialmente o resultado da cor.

    A preferncia e escolha da cor dependem principalmente da localizao geogrfi-

    ca do edifcio em questo, da incidncia de luz natural, da cultura regional, do tamanho do

    espao, das atividades que sero realizadas e da idade dos usurios. Alm disso, o conforto

    trmico pode ser afetado pela cor. Podemos observar pessoas com sensao de frio em

    ambientes que possuem tonalidades frias e de calor em ambientes de tonalidades quentes,

    embora a temperatura seja a mesma (VASCONCELOS, 2004).

    A iluminao, as cores e a humanizao no ambiente hospitalar so considerados

    determinantes para o sucesso e o bom funcionamento dos estabelecimentos de sade, haja

    vista contriburem para melhora do paciente. Portanto, sempre que bem projetado um hos-

    pital ele poder estar ajudando na reabilitao dos pacientes, fazendo com que o espao

    seja agradvel e confortvel (KOTH, 2013).

  • 28

    2.3.3 Som

    A permanncia em ambientes com rudo constante um perigo para a sade de

    qualquer pessoa, pois causa irritao, frustao e causa mau humor. Tambm diminui a

    capacidade de aprendizado e reduz o limiar da dor. A melhora acstica dos ambientes pode

    ser proporcionada pela escolha certa de revestimentos das superfcies e mveis que no

    refletem ou amplificam as ondas sonoras. Carpetes, tecidos, madeira e painis acsticos

    tambm podem proporcionar ambientes quietos e tranquilos (VASCONCELOS, 2004).

    Sons naturais, como os causados pela gua, alm de ter efeito calmante e relaxan-

    te, ajudam a diminuir a intensidade de outros sons indesejveis. O uso de fontes de gua e

    de jardins internos em hospitais tem dado resultados considerveis na recuperao de paci-

    entes por causa dos efeitos visuais e sonoros que causam (VASCONCELOS, 2004).

    2.3.4 Aroma

    O aroma, tanto quanto o som, pode ser positivo ou negativo. , na verdade, uma

    persuaso silenciosa que influencia a mente, o corpo e a sade. O cheiro o mais evocativo

    dos sentidos, tem uma relao muito ntima com o lado emocional, estimula o resgate de

    memrias (GAPPEL, 1991 apud VASCONCELOS, 2004).

    Enquanto os aromas desagradveis aceleram a respirao e o batimento cardaco,

    os cheiros agradveis reduzem o estresse. necessria muita cautela ao se definir o aroma

    de um ambiente de sade. O cheiro de medicamentos e material de esterilizao pode esti-

    mular a ansiedade, o medo e o estresse dos pacientes, enquanto os aromas agradveis po-

    dem reduzir a percepo da dor. As plantas alm de exalar bons aromas, podem purificar o

    ar interno absorvendo toxinas, alegrando o ambiente, tornando-o mais prximo da nature-

    za, uma boa opo para este tipo de ambiente (JONES 1996, apud VASCONCELOS, 2004).

  • 29

    2.3.5 Textura

    Cada material apresenta diferentes caractersticas e propriedades de textura que

    permitem vrias combinaes e diferentes resultados. A escolha personaliza o projeto e os

    materiais empregados devem conter caractersticas compatveis com as necessidades de

    cada ambiente. Portanto, considerar e avaliar as caractersticas dos materiais como durabi-

    lidade, resistncia, manuteno, aspectos trmicos, acsticos e antiderrapantes so funda-

    mentais para um correto funcionamento do ambiente (HOREVICZ et al, 2007).

    2.3.6 Forma

    A forma do espao fsico pode vir a interferir no processo de tratamento dos paci-

    entes hospitalares, ajudando ou inibindo o seu desenvolvimento. Alguns indivduos reque-

    rem privacidade para seus momentos de tenso e alteraes comportamentais, por isso

    quartos individuais so importantes.

    Outro aspecto a considerar o uso de formas variadas num mesmo espao, provo-

    cando estimulao sensorial e criando distrao positiva no ambiente. As formas podem

    ser destacadas pelo uso de cores (HOREVICZ et al, 2007).

    2.3.7 Controle e automao

    Algumas solues arquitetnicas, segundo Malkin ,apud, Horevicz et al (2007)

    podem proporcionar ao paciente a sensao de controle do ambiente, tais como a existncia

    de controladores de interfone, luz, telefone, televiso fcil alcance do paciente, tanto nos

    quartos como nas salas de visitas, aumentam a sensao de segurana e aperfeioam o tra-

    balho da equipe.

    O mesmo autor atravs de pesquisas pode comprovar que o controle do ambiente

    reduz o estresse do indivduo. Somente o fato de este saber da existncia de uma opo,

  • 30

    por mais desprezvel que seja j gera um sentimento mais favorvel e de bem-estar, as con-

    sequncias para os ambientes de sade enormes. Pacientes que podem controlar a tempera-

    tura e a iluminao do seu prprio quarto demonstram menor estresse e apresentam recupe-

    rao mais rpida.

    2.4. Hospital Enquanto Ambiente Confinado

    Para introduzir este tema, primeiramente, necessrio entender melhor a histria

    e evoluo do hospital. Para isso, faz-se necessrio a compreenso do termo, que expli-

    cado pelo Ministrio da Sade (1994), no livro Histria e evoluo dos hospitais como:

    A palavra hospital de raiz latina (Hospitalis) e de origem relativamente recente. Vem de hospes hspedes, porque antigamente nessas casas de assistncia eram recebidos peregrinos, pobres e enfermos. O termo hospi-tal tem hoje a mesma acepo de nosocomium, de fonte grega, cuja signi-ficao tratar os doentes como nosodochium quer dizer receber os doentes. Outros vocbulos constituram-se para corresponder aos vrios aspectos da obra de assistncia: ptochodochium, ptochotrophium, asilo para os pobres; poedotrophium, asilo para as crianas; orphanotrophium, orfanato; gynetrophium, hospital para mulheres; zenodochium, xeno-trophium, refgio para viajantes e estrangeiros; gerontokomium, asilo pa-ra velhos; arginaria, para os incurveis. (MINISTRIO DA SADE, 1994. p. 8)

    Portanto, segundo o mesmo autor, hospital oriundo de pocas remotas, anterio-

    res ao cristianismo e foi desenvolvido por organizaes religiosas. Com os anos, foi con-

    vertido em instituio social como obrigao do Estado de cri-los e mant-los. Sua defini-

    o antiga e atual permanece a mesma, como o local, ou a casa reservada para o tratamento

    temporrio das pessoas doentes.

  • 31

    No passado, os recursos dos hospitais eram escassos, ou seja, apresentavam prec-

    rias condies de conforto e higiene aos seus pacientes. Isto fazia com que somente as pes-

    soas desprovidas de meios de subsistncia frequentassem esse ambiente. O hospital servia

    somente aos pobres. Quem possua mais condio financeira, trava-se em sua prpria re-

    sidncia. Os prprios cirurgies preferiam operar nas casas dos pacientes, devido a ausn-

    cia de recursos dos hospitais (MINISTRIO DA SADE, 1994).

    No Brasil, numa poca no muito distante, os mais favorecidos no procuravam

    os hospitais para ter filhos, por exemplo. As maternidades s eram utilizadas pelos mais

    pobres. Com o passar do tempo, conforme os aparelhos e instalaes hospitalares foram se

    aperfeioando, os mdicos e cirurgies comearam a perceber a necessidade de internao

    dos pacientes para melhor tratamento. A partir deste momento, cresceu tambm a preocu-

    pao com a contaminao dos enfermos, o que levou a descentralizao do hospital, que

    at ento era concentrado. Surgiu o conceito de hospital/jardim, subdividido em pavilhes

    e distribudos em uma ampla rea. Porm, mesmo assim, a contaminao era muito fre-

    quente devido existncia de moscas e poeira que favoreciam o contgio dos pacientes

    devido o acesso fcil. A alternativa adotada foi distanciar cada vez mais os pavimentos, at

    que a arquitetura progrediu, encontrando uma soluo mais eficaz (MINISTRIO DA

    SADE, 1994).

    O Ministrio da Sade (1994) explica que a partir de ento, comearam a surgir

    construes metlicas e de concreto armado que permitiam edificaes mais baratas de

    prdios com muitos pavimentos, os chamados arranha-cus. Iniciou-se a popularizao

    dos elevadores, que foram incrementados. O conceito geral agora era a ideia de simplificar

    e economizar com o transporte vertical, dessa forma o pessoal de servio e o tempo precio-

    so dos tcnicos poderia ser poupado.

    Ainda segundo o Ministrio da Sade (1994), comearam a surgir os hospitais

    com o estilo chamado monobloco, com muitos pavimentos. Estes eram defendidos por

    algumas razes, como as descritas abaixo, que contriburam para dar a esse conjunto hospi-

    talar grande eficincia e economia de funcionamento.

  • 32

    1) Economia de construo e manuteno. 2) Facilidade dos transportes e portanto no movimento do hospital, tanto do pessoal como do material. 3) Concentrao das tubulaes hidrulicas, trmicas, de esgoto, eletrici-dade, etc. 4) Possibilidade de bons servios operatrios, de raios X, radium, de fisi-oterapia e fisiodiagnstico, de laboratrios, etc. 5) Possibilidade de ter na direo de cada servio um tcnico de grande valor, bem remunerado, o que no seria possvel em servios multiplica-dos. 6) Melhor disciplina interna e de vigilncia. 7) Melhores condies de isolamento por pavimento do que em pavilhes dispersos. 8) Maior afastamento do rudo, da poeira e da msca, o que faz nos hotis serem preferidos, apesar de mais caros, os pavimentos mais elevados. 9) Mais ntimo contacto e cooperao do pessoal tcnico. 10) Facilidade de administrao. (MINISTRIO DA SADE, 1994. p. 52)

    H tambm, outros benefcios citados pelo Ministrio da Sade (1994) que fazem

    acreditar que o tipo de hospital em altura tambm o preferido entre os arquitetos, so

    eles:

    x A reduo da rea total, que simplifica e torna mais econmica a constru-o;

    x A rea de terreno necessria para os grandes hospitais enormemente re-duzida;

    x O arejamento tanto mais perfeito quanto mais alto o pavimento; x Varandas floridas e solitrias permitiro aos doentes contato com o exte-

    rior.

  • 33

    Conforme dados do autor supracitado, no Brasil, os primeiros hospitais em estilo

    monobloco que imprimem os conceitos citados a cima foram: Hospital Escola da Faculda-

    de de Medicina, da Universidade de So Paulo, o Hospital Escola da Faculdade de Medici-

    na da Bahia, o Hospital Escola da Faculdade de Medicina de Porto Alegre, o Hospital Es-

    cola da Escola Paulista de Medicina, o Hospital da Santa Casa de Misericrdia da Escola

    Paulista de Medicina, o Hospital da Santa Casa de Misericrdia de Belo Horizonte.

    Segundo Ekstein, citados pelo livro do Ministrio da Sade (1994), os hospitais

    peditricos so aqueles que possuem funo educativa e social das mais acentuadas dentre

    os tipos existentes de hospitais e devem possuir algumas caractersticas principais, como:

    I O hospital de crianas toma uma posio particular, pelo fato de ter responsabilidade especial relativa ao doente. A criana separada da fam-lia, submetida a tratamento, sem poder julgar por si; sua idade a predis-pe a numerosas molstias, cujos riscos aumentam com a permanncia no hospital. II H necessidade de ser dirigido por pediatra, sendo que pode contribu-ir eficazmente para a formao de mdicos e enfermeiras especializadas, assim como no deve ser descurada a assistncia mdico pedaggica. III sempre onerosa a administrao hospitalar para crianas, pois ne-cessita-se de um mdico para 35 a 40 lactentes enfermos, sendo que nos servio de cirurgia deve ser maior ainda o nmero de facultativos. Uma enfermeira para 4 lactentes ou 6 crianas maiores. IV O hospital s pode empregar enfermeiras especializadas e onde h crianas em tratamento demorado, torna-se indispensvel uma professra versada em mtodos especiais de brinquedos, por exemplo, para evitar o hospitalismo. V O tratamento eficaz das crianas e lactentes s possvel, quando se pode dispor de um bom nmero de enfermeiras inclusive para o perodo da noite. Sendo reduzido sse nmero de esforos teraputicos feitos du-rante o dia, poderiam tornar-se nulos. VII So indispensveis sees especiais para tratamento e criao de recm-nascidos prematuros, dos quais depende a luta contra a mortalida-de precoce. O resultado favorvel, obtido com a alimentao de leite de mulher, induz a todo hospital poder dispor de um certo nmero de amas. VIII Tais amas so admitidas, com seus respectivos filhos, que se criam em sees especiais. Pode-se nos grandes hospitais armazenar leite hu-mano para os recm-nascidos.

  • 34

    IX A alimentao infantil exige o estabelecimento de cozinha diettica especial e de lactrio. X Todos os adultos de semelhantes hospitais, deveriam submeter-se pe-ridicamente a exames mdicos, sobretudo verificao de no serem portadores de germes. (MINISTRIO DA SADE, 1994. p. 265)

    A respeito da internao das crianas importante lembrar-se das consequncias

    que isso causa para todos os envolvidos: crianas, famlia e toda equipe de sade. So mui-

    tas as mudanas no contexto pessoal, familiar e social. O diagnstico de uma doena grave

    nelas representa o incio, muito sofrido, permeado por sentimentos ambivalentes de incer-

    tezas, medo, angstias, reaes de incredulidade, esperanas e desesperana, dvidas e

    muitos questionamentos (LEITE et al, 2012; PERINA, 2010; GONZAGA et al, 1998).

    Leite et al (2012) afirma que dependendo da fase em que a criana se encontra,

    essa descoberta leva-a a pensar que sua doena e/ou hospitalizao uma punio por mau

    comportamento ou algum erro cometido. Isso porque seu pensamento fantasioso e egocn-

    trico dificulta o entendimento dos fatos e das situaes vivenciadas.

    Para Perina (2010), o processo de assimilao, integrao e aceitao da nova rea-

    lidade infantil lento e gradual, ocorre de acordo com a personalidade de cada pessoa, da

    dinmica da famlia e da rede de apoio social. As reaes das crianas doena e ao trata-

    mento so diversificadas, dependendo da idade, do diagnstico, do estgio de desenvolvi-

    mento cognitivo e emocional e podem ser demonstradas atravs de manifestaes afetivas

    como raiva, tristeza, frustao, hostilidade e depresso. O medo de morrer gera ansiedade,

    desespero e pnico.

    Sendo assim, pode-se dizer que: um novo momento na vida de todos (PERI-

    NA, 2010 p. 6). Todo o trabalho implica no cuidado da famlia e no conhecimento da di-

    nmica de funcionamento familiar e das reaes diante da dor e do sofrimento. Todos os

    envolvidos sofrem com a desordem da famlia decorrente do adoecimento, mas aos poucos,

    o grupo vai se reorganizando, estabelecendo prioridades, assumindo novos papis, recupe-

    rando o equilbrio que havia sido perdido (PERINA, 2010).

  • 35

    Uma das maiores dificuldades das crianas em enfrentar os dias de internao a

    rotina hospitalar. Geralmente os cuidados com a recuperao da doena so programados,

    assim como os horrios de banho e alimentao, que so rgidos e pr-estabelecidos pela

    instituio, na maioria das vezes, sem levar em conta as necessidades e a rotina que era

    vivenciada pela criana. Sem contar as mudanas, a cada turno, de trabalhadores que nem

    sempre so os mesmos para cada pessoa, o que dificulta, ainda mais, o vnculo e a estadia

    no hospital (LEITE et al, 2012).

    Ainda o mesmo autor lembra a necessidade do cuidado com os acompanhantes e

    familiares durante a permanncia no hospital. So procedimentos bsicos como forneci-

    mento de alimentao e acomodao adequada. preciso de empenho ao mximo dos hos-

    pitais para tentar satisfaz-las.

    A hospitalizao possui muitas restries, controles e cuidados intensivos, que

    acarretam limitaes na liberdade e autonomia, na estruturao das atividades, do tempo e

    do espao. Tudo isso pode causar sensao de aprisionamento e impotncia do paciente

    diante de tantos cercamentos e impossibilidades. Por consequncia, reaes depressivas,

    com manifestaes de choro, tristeza, raiva e agressividade podem ser desenvolvidas. Estas

    reaes acarretam prejuzos que podem ser momentneos ou podem permanecer aps a alta

    do paciente. Quando mantido aps a liberao do hospital, faz com que seja entendido co-

    mo uma doena tambm e precisa ser tratado de forma adequada, para que a criana no

    sofra danos permanentes em sua sade mental (LEITE et al, 2012; PERINA, 2010).

    2.5. Pblico Infantil

    Para melhor entendimento deste texto, importante conhecer o significado de p-

    blico-alvo, que foi bem definido por Brito (2012) como:

    Pblico-alvo, tambm chamado de Prospect ou Target, o grupo de pes-soas que voc escolhe como clientes principais, so aquelas pessoas para

  • 36

    quem voc dedica sua prtica e as aes de comunicao e marketing da clnica. Ao definir esse pblico, que vai depender de critrios pessoais ou de um estudo de mercado, a clnica deve se esforar ao mximo para criar um ambiente semelhante e atender todas as suas necessidades. (BRITO, 2012. s/n)

    Ou seja, para este pblico que estar voltada toda a estrutura da clnica ou hospi-

    tal. Ainda segundo o mesmo autor, interessante que ele seja definido com base a alguns

    critrios que devem ser bem definidos, como: faixa etria, regio, classe social, poder de

    compra, comportamento ou preferncias. A partir dessas informaes, torna-se fcil criar o

    perfil deste pblico e o plano para atender as suas necessidades (BRITO, 2012).

    A proposta deste trabalho trabalhar com o pblico alvo infantil, mas para isso,

    necessrio compreender que pblico este.

    Segundo a UNICEF (1990), Criana definido como todo o ser humano menor

    de dezoito anos, salvo se, nos termos da lei, for aplicvel, atingir a maioridade mais cedo,

    diferentemente da Lei n 8.069 (1990) que consideram como criana para os efeitos da lei,

    a pessoa at doze anos de idade incompletos, a partir desta idade, a pessoa considerada

    adolescente at atingir dezoito anos de idade.

    Ainda de acordo com a Lei n 8.069 (1990) e UNICEF (1990), direito da criana

    e do adolescente o direito a proteo vida e sade e o Estado tem obrigao de assegu-

    rar a sobrevivncia e o desenvolvimento das crianas.

    previsto na cartilha da UNICEF (1990) que:

    A criana tem direito a gozar do melhor estado de sade possvel e bene-ficiar de servios mdicos. Os Estados devem dar especial ateno aos cuidados de sade primrios e s medidas de preveno, educao em termos de sade pblica e diminuio da mortalidade infantil. Nesse sentido, os Estados encorajam a cooperao internacional e esforam-se

  • 37

    por assegurar que nenhuma criana seja privada do direito de acesso a servios de sade eficazes. (UNICEF, 1990. p. 17)

    Neste contexto, quando trata-se de ambiente hospitalar, o hospital dever obede-

    cer algumas regras previstas na Lei n 8.069 (1990), como:

    x Proceder a exames visando ao diagnstico e teraputica de anormalidades no metabolismo do recm-nascido, bem como prestar orientao aos pais;

    x Manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a permanncia junto me;

    x assegurado atendimento integral sade da criana e do adolescente, por intermdio do Sistema nico de Sade, garantido o acesso universal e

    igualitrio s aes e servios para promoo, proteo e recuperao da

    sade;

    x A criana e o adolescente portadores de deficincia recebero atendimen-to especializado;

    x Incumbe ao poder pblico fornecer gratuitamente queles que necessita-rem os medicamentos, prteses e outros recursos relativos ao tratamento,

    habilitao ou reabilitao;

    x Os estabelecimentos de atendimento sade devero proporcionar condi-es para a permanncia em tempo integral de um dos pais ou respons-

    vel, nos casos de internao de criana ou adolescente.

    Sobre o Direito liberdade, ao Respeito e Dignidade, encontra-se na Lei n

    8.069 (1990) o direito da criana a brincar, praticar esportes e divertir-se, assunto esse

    que ser amplamente discutido no tpico 2.4 deste trabalho, referente a Aspectos Ldicos.

  • 38

    E que ajudam ao desenvolvimento fsico e mental infantil, como o previsto pela UNICEF

    (1990) quando lembra que os Estados reconhecem criana o direito a um nvel de vida

    suficiente, de forma a permitir o seu desenvolvimento fsico, mental, espiritual, moral e

    social. (UNICEF, 1990. p. 7)

    As leis existentes no pas so claras a respeito das crianas, porm Sulzbach

    (2000), em seu documentrio A inveno da infncia prova que na maioria das vezes,

    todos esses direitos legais impostos pelo Estado, no so respeitados e que o mundo trata

    as crianas de forma muito diferente do jeito que deveriam ser tratadas perante a lei.

    As autoras (SULZBACH, 2000) fazem uma reflexo baseada na frase impactante:

    Ser criana no significa ter infncia. Mostram que no mundo contemporneo, o termo

    infncia basicamente ligado deciso de deix-las a brincar, ir escola, ou seja, ser cri-

    ana, porm esse no seria a real inteno do termo.

    Ainda conforme defendido pelas autoras supracitadas, a definio da palavra cri-

    ana foi introduzida no sculo XVIII por um dicionrio francs que utilizava este termo

    como cordial, que era empregado com pessoas de qualquer idade, com inteno de saudar,

    agradar algum ou leva-la a fazer alguma coisa, aps um pedido. J o termo infncia, teria

    sido criado pela modernidade, para designar uma idade de ouro, quando fala-se que a vida

    perfeita, protegida e tranquila, antes de ser tomada pelas exigncias do trabalho. Ou seja,

    a infncia seria uma poca ideal da vida, em que ser criana seria no ter qualquer outro

    compromisso que valem do gozo puro e simples de sua inocncia (SULZBACH, 2000).

    J Sayo (2013) considera que ser criana um fato biolgico, mas o modo como

    ela vive essa etapa da vida, que vai at a adolescncia, depende de muitos e complexos

    fatores, entre eles o modo social de pensar a criana. Outro pensamento importante que

    infncia um termo que, hoje, acaba sendo considerado obsoleto, devido aos muitos com-

    promissos dirios que os pais designam para as crianas. Muitas vezes para compensar a

    falta de tempo deles, j que durante a maior parte do dia, eles esto ocupados com trabalho

    e no com os filhos. A ponto de no criar tempo livre para as crianas realmente desfrutem

    desta idade de ouro da vida.

    Neste texto, utiliza-se o termo criana ligado diretamente ao termo infncia, ou se-

    ja, considera-se que as crianas possuem a infncia ideal.

  • 39

    Segundo afirmao de Montigneaux (2003), o imaginrio povoa o interior da cri-

    ana, que o toma como realidade das coisas. Ou seja, ela dominada por suas emoes e

    seu egocentrismo, que a torna incapaz de racionalizar por deduo, j que sua viso de

    mundo parcial e subjetiva.

    Com o passar dos primeiros anos de sua vida, a criana abandona aos poucos a

    iluso do poder absoluto. Todos os dias vivem novas experincias e algumas das quais

    podero se tornar inevitavelmente em frustraes e angstias, como, por exemplo o medo

    de ser abandonada por seus pais, o medo da morte e a necessidade de ser amada (MON-

    TIGNEAUX, 2003. p. 54).

    Ainda segundo o mesmo autor, a partir do encontro com as provocaes ou difi-

    culdades, que a criana ir encontrar o imaginrio. Esse por sua vez, muitas vezes, desem-

    penha verdadeiras funes teraputicas, ou seja, a criana capaz de criar, em seu mundo

    interior, imagens para suportar alguma frustrao. O imaginrio, ento, torna-se uma vl-

    vula de escape, sendo mecanismo para alvio de suas angstias e tenses acumuladas.

    As aventuras extraordinrias de heris vencedores de drages ou de monstros apavorantes falam bem melhor sua imaginao. A distncia favorecida por um cenrio de sonho lhe permite suportar situaes dra-mticas e se deixar relaxar diante de mensagens que ensinam a dar senti-do sua vida. Quanto mais os elementos da histria so irreais (castelo assombrado, tapete voador...), mais facilmente a criana se reencontrar em seu mundo real. (MONTIGNEAUX, 2003. p. 56)

    O autor supracitado ainda afirma que importante saber que a representao da

    realidade de forma esquemtica e simplificada absolutamente necessria para as crianas,

    pois isso permite organizar o caos existente no seu interior e classificar para si mesma, os

    sentimentos complexos, ambivalentes e contraditrios que sente, de forma mais fcil.

  • 40

    2.6. Aspectos Ldicos

    A palavra ldico, segundo Silva (2003), vem do latim inludere, inlusio, que possui como significado, iluso. Embora Almeida (2003) afirme que essa mesma palavra, em latim ludus e quer dizer jogo. Ao pesquisar em dicionrios brasileiros, outros significa-dos, muitas vezes semelhantes, so encontrados, como nos casos abaixo:

    x Dicionrio Michaelis Ldico se refere a jogos e brinquedos ou aos jogos pblicos antigos.

    x Dicionrio Aurlio e Priberam Ldico relativo a jogo ou divertimento. Que serve para divertir ou dar prazer.

    Essa palavra tem sido discutida por vrias reas do conhecimento como a sociolo-

    gia, filosofia, educao, psicologia entre outras. Alm de ser utilizada de modo indiscrimi-

    nado indicando muitas vezes situaes e episdios da vida cotidiana que envolvem o pra-

    zer, a descontrao, o relaxamento, a esttica, a liberdade, a criatividade dentre outros as-

    pectos (BONETTI, 2006; BEUTER et al, 2010). De modo geral, o ldico pode manifestar-

    se por meio do brinquedo (objeto) ou pela ao de brincar, pelo jogo (como elemento da

    cultura), como divertimento (gerando sentimentos de alegria, prazer, satisfao...), pelas

    atividades de lazer (ir ao cinema, teatro, passear). Desta forma, torna-se comum a utiliza-

    o dos termos jogo, brinquedo, brincadeira, brincar, festa e lazer para substituir a pa-lavra ldico (BEUTER, 2010).

    Para o autor Bonetti (2006), por trs de todos os significados, h uma crena de

    que a palavra ldico restringe-se a fase da vida chamada infncia. Podendo gerar um

    entendimento equivocado de que outras faixas etrias, como adultos e idosos, ou seja, pes-

    soas, teoricamente mais maduras, que so mais preocupadas com as coisas srias, no

  • 41

    podem se entregar a atividades ldicas. Essas, muitas vezes, mal entendidas tambm

    como inteis e improdutivas.

    De acordo com Almeida (2003), quando ligado a criana, o termo ldico nem

    sempre est relacionado simplesmente a uma concepo, muitas vezes ingnua de passa-

    tempo, diverso superficial ou brincadeira vulgar. Este termo tambm referente a educa-

    o ldica, com significado muito mais profundo e que certamente estar presente em to-

    dos os segmentos da vida.

    Ainda segundo o autor:

    Por exemplo, uma criana que joga bolinha de gude ou brinca de boneca com seus companheiros no est simplesmente brincando e se divertindo; est desenvolvendo e operando inmeras funes cognitivas e sociais; ocorre o mesmo com uma me que acaricia e se entretm com a criana, com um professor que se relaciona bem com seus alunos ou mesmo com um cientista que prepara prazerosamente sua tese ou teoria. (ALMEIDA, 2003. p.14)

    Sobre o exemplo citado acima, diz-se que fazem parte da educao ldica a partir

    do momento que combinam e integram as relaes funcionais ao prazer de se adquirir co-

    nhecimento e a expresso de felicidade que manifestada na integrao com os semelhan-

    tes (ALMEIDA, 2003).

    Quando relacionado ao jogo, sentido literal da palavra, na realidade, esse propor-

    ciona a criana uma evaso da realidade e a leva a uma imerso no mundo do faz-de-

    conta. O ato de jogar capaz de absorver inteiramente o jogador (SILVA, 2003).

    Atualmente comum que os pais estejam sobrecarregados com trabalhos dirios e

    preocupaes, deixando de proporcionar a seus filhos um ambiente familiar com uma vi-

    vncia de alegria, de participao e de comunicao afetiva. Sem foras e/ou coragem de

    estar ao lado dos filhos, brincar ou proporcionar formas de divertimento sadio. Criando

  • 42

    vcuo familiar que pode ser o principal motivo de muitas crianas encontrarem no jogo a

    fuga do mundo real (ALMEIDA, 2003).

    Sobre o significado de jogo, ligado ao termo ldico, Huizinga (2000) diz:

    H uma extraordinria divergncia entre as numerosas tentativas de defi-nio da funo biolgica do jogo. Umas definem as origens e fundamen-to do jogo em termos de descarga da energia vital superabundante, outras como satisfao de um certo "instinto de imitao", ou ainda simplesmen-te como uma "necessidade" de distenso. Segundo uma teoria, o jogo constitui uma preparao do jovem para as tarefas srias que mais tarde a vida dele exigir, segundo outra, trata-se de um exerccio de autocontrole indispensvel ao indivduo. Outras vem o princpio do jogo como um impulso inato para exercer uma certa faculdade, ou como desejo de do-minar ou competir. Teorias h, ainda, que o consideram uma "ab-reao", um escape para impulsos prejudiciais, um restaurador da energia dispen-dida por uma atividade unilateral, ou "realizao do desejo", ou uma fic-o destinada a preservar o sentimento do valor pessoal etc. (HUIZINGA, 2000. p.5)

    O autor relata ainda que a semelhana entre todas as hipteses consiste todas par-

    tirem do pressuposto que deve haver alguma espcie de finalidade biolgica para o jogo,

    no sendo exatamente o prprio jogo. Na verdade, as teorias tendem a se complementar,

    sendo de fcil aceitao, sem que gerasse grande confuso de pensamento.

    Garcia (2004) explica que atravs de brincadeiras que as crianas comunicam-se

    at que aprendam a linguagem oral e escrita. Aps esse aprendizado, ela diminui a capaci-

    dade de simbolizar, como fazia anteriormente atravs da arte e brincadeiras. Ao ocorrer

    essa mudana, pode haver uma grande perda e bloqueio do crivo racional, j que atravs

    do ldico que a criana se manifesta. Durante as atividades ldicas, elas so capazes de

    simbolizar e expressar aquilo que sente, alm de questionar o mundo e lidar melhor com o

    conflito, sendo capaz de resolv-lo.

  • 43

    O ldico, muitas vezes ligado arte, capaz de ajudar as crianas a se expressa-

    rem espontaneamente perante a realidade. conhecendo novos objetos, ambientes, expe-

    rimentando coisas novas, ou seja, fazendo arte que elas conseguem comear a resolver

    pequenos problemas, fato importante ligado diretamente ao seu desenvolvimento psquico,

    mental e fsico (GARCIA, 2004).

    atravs dessa capacidade de desenvolvimento dita anteriormente que as crianas

    tornam-se capazes de adaptar-se ao desconhecido e com o seu amadurecimento, ser capaz

    de enfrentar a realidade e enfrentar situaes que demandem a capacidade de ser suscet-

    vel ao estresse e s mudanas, ser flexvel, ter relacionamentos interpessoais etc (GAR-

    CIA, 2004. p.12).

    A arte e o ldico, representado pelo jogo, so capazes de facilitar a expresso de

    sentimentos atravs de outros tipos de expresses que no sejam palavras. Aspectos ldi-

    cos como desenhos, pinturas, modelagens, utilizao de cores e materiais diferentes podem

    ser utilizados de modo a ajudar a expresso e transposio de um sentimento. Deste modo

    possvel dizer que os aspectos ldicos tambm circunscrevem a expresso humana e po-

    dem ser captados pelos sentimentos humanos como: algo a ser visto, ouvido, tocado, chei-

    rado, saboreado etc (BEUTER et al, 2010; GARCIA, 2004).

    Trazendo essas anlises para o territrio hospitalar, Moura et al (2011) lembra do

    quanto pacientes hospitalizados tornam-se vulnerveis ao desenvolvimento de problemas

    psicolgicos que englobam a depresso, a ansiedade e as tenses sofridas por eles. E lem-

    bra ainda da importncia de se inserir atividades ldicas no processo de humanizao como

    forma de cuidado, para que auxilie a minimizar a ansiedade, sofrimento e dor decorrente

    hospitalizao.

    Beuter et al (2010) demonstra o seu pensamento sobre aspectos ldicos em:

    [...] o ldico pode manifestar-se na expresso subjetiva do cuidado de en-fermagem atravs do sorriso, do carinho, da ateno, do toque afetivo, do olhar emptico, da conversa atenciosa. Em outras palavras, quando a en-fermeira utiliza o seu corpo para interagir e cuidar do cliente. Ademais, o ldico tambm pode expressar-se na utilizao de suportes materiais, com

  • 44

    os efeitos teraputicos proporcionados por sua ao ldica: revistas, jor-nais, aparelho de televiso, rdio e outros. Consideramos, assim, que o ldico tanto tem sua materialidade em um objeto, como jogo, aparelho de televiso, rdio ou som, quanto manifestado atravs do sorriso, do to-que, do dilogo das pessoas em interao. Em ambas as situaes, ele se territorializa no contexto do cuidado de enfermagem, uma vez que sua es-sncia transcende a qualquer meio material, limitao de tempo ou espa-o. (BEUTER et al, 2010. p. 568)

    Sob a tica do cuidado, Beuter et al (2010) afirma que o ldico configura-se como

    restaurador da sade do paciente hospitalizado, por facilitar a interao, atravs de desen-

    volvimento intra e interpessoal, o que promove a socializao e a comunicao, alm de

    valorizar a criatividade e o culto sensibilidade do enfermo.

    Ainda sobre o ambiente hospitalar, Duarte (2012) mostra que reduzir fatores des-

    conhecidos para as crianas pode ser uma estratgia eficaz de humanizar o tratamento das

    crianas internadas, ou seja, pequenas atitudes ldicas podem diminuir o temor e ajud-las

    a superar o estresse hospitalar.

    Dentre as formas, uma delas a permisso da presena dos pais durante o tempo

    de tratamento, porm como nem sempre isso possvel, uma boa alternativa deixar a

    disposio das crianas os seus objetos preferidos, como cobertores, mamadeiras, brinque-

    dos etc. Em casos de cirurgias, interessante uma boa preparao psicolgica como ativi-

    dades ldicas teraputicas capazes de simular procedimentos cirrgicos para diminuir a

    ansiedade dos jovens pacientes (DUARTE, 2012).

    Ainda segundo o autor, as atividades ldicas e a presena do brinquedo durante a

    internao so capazes de funcionar como vlvula de escape para a situao vivenciada

    pela criana.

    Analisando sob a tica do Design de Interiores, Lewis, apud, Duarte (2012) acon-

    selha a criar painis prximos cama do paciente com desenhos e fotos da famlia da cri-

    ana, para elas manterem as ligaes sociais da representao das pessoas com quem no

    podem conviver durante o perodo de confinamento. Quanto mais personalizado o quarto

    do hospital, mais distante ser o limite entre a casa e o ambiente de tratamento, pois o

  • 45

    quarto se tornar extenso do quarto de casa. Alm dessa funo para o painel, ele possui

    outras como: integrar o paciente ao hospital, fortalecer a identidade, manter conexes com

    as pessoas e lugares queridos, etc.

    Em unidades de tratamento intensivo, LIRA (2011) aconselha algumas medidas

    bsicas para humanizar os ambientes, mas importante lembrar que esses aconselhamentos

    tambm devem ser seguidos para outras reas hospitalares. Dentre as medidas esto:

    1) Revisar o espao fsico destinado a UTI, verificando possibilidade de torn-lo

    mais agradvel, funcional, com iluminao natural, climatizao adequada. Dotar a unida-

    de de equipe multiprofissional, com o recurso de psiclogos, assistentes sociais, terapeutas

    entre outros, para atender pacientes, familiares e equipe que tambm necessita de apoio;

    2) Instituir reunies com os pais / equipe;

    3) Ter uma sala de espera adequada para os familiares;

    4) Um profissional de referncia a quem o paciente ou familiar possa recorrer.

  • 46

    3. DESENVOLVIMENTO: ESTUDO DE CAMPO DO HOSPITAL FEDERAL DA LAGOA (RIO DE JANEIRO, RJ)

    3.1. Metodologia

    Ao iniciar o planejamento e a pesquisa deste trabalho, havia grande interesse em

    se efetuar o estudo de campo no Hospital Municipal Jesus, localizado em Vila Isabel, na

    cidade do Rio de Janeiro. Neste hospital est implantado o projeto Submarino Carioca, ou seja, um espao destinado ao exame que utiliza o Tomgrafo, ambiente este cujo design remete ao fundo do Oceano. O contato para tentar agendar uma visita tcnica foi efetuado

    atravs de mensagem privada na pgina oficial do hospital em um site de relacionamento

    no dia 05 de Julho deste ano, onde foi informado que este tipo de agendamento deveria ser

    feito atravs de e-mail para uma pessoa especfica. Apesar de enviado, este e-mail nunca

    foi respondido, o que levou a novas tentativas fracassadas.

    Sendo assim, novas pesquisas foram feitas at se descobrir o Aqurio Carioca, implantado no Hospital Federal da Lagoa, tambm no Rio de Janeiro. O projeto buscou

    reformar a sala de quimioterapia peditrica, transformando-a em um ambiente ldico, com

    design de interior que remete ao fundo do mar. O objetivo era proporcionar uma alterao no clima hospitalar, para amenizar os impactos do tratamento, no s para os pacientes,

    mas tambm para os familiares e funcionrios do hospital. Enquanto os pacientes recebem

    as medicaes, podem interagir entre eles, jogar, assistir televiso, ler etc.

  • 47

    O contato via telefone foi efetuado na data 14 de Outubro, quando foi informado

    que a visita poderia ocorrer todos os dias entre as 8h e as 13h ou a partir das 17h, sendo

    necessria uma declarao da instituio de ensino solicitando a visita tcnica.

    De posse da declarao, a visita guiada aconteceu no dia 05 de Novembro, na par-

    te da manh, s 9h 30min, com durao de aproximadamente 1h 30min, sob a superviso e

    acompanhamento do chefe do setor de hotelaria do hospital que ser identificado neste

    trabalho como A. B. L.. Apesar da visita ter ocorrido percorrendo os principais pontos do

    hospital, foi aplicada uma entrevista no Aqurio Carioca enfermeira chefe L. B. L. M.

    Esta entrevista na ntegra est disponvel como apndice (pgina 82) a este trabalho.

    importante relatar que uma vez que no houve submisso de um projeto de pes-

    quisa junto ao Comit de tica da Instituio de Ensino Superior, e mesmo considerando

    os objetivos deste Trabalho de Concluso de Curso, no houve interao e coleta de infor-

    maes de nenhuma espcie com crianas.

    3.2. Sobre o Hospital Federal da Lagoa

    O terreno do Hospital Federal da Lagoa est localizado na regio onde, nos anos 50,

    era habitado pela Favela Hpica. Para a construo do hospital, cerca de mil pessoas tive-ram que ser despejadas do local para o incio da construo em 1951. A criao do hospital

    foi idealizada pelo Instituto Larragoiti e teve seus projetos assinados por cones da arquite-

    tura, como Oscar Niemeyer e Hlio Uchoa e projeto de urbanizao do paisagista Burle

    Marx.

    Em estilo monobloco, a construo foi disposta no centro do terreno, que rodeado

    pelas ruas: Jardim Botnico, Jos Joaquim Seabra, Oliveira Rocha e Avenida Lineu de

    Paula Machado, como pode ser visto na Figura1, a seguir. O prdio principal foi projetado

    com 15.000m divididos em 10 pavimentos, alm do subsolo e anexos nas laterais, totali-

    zando 22.000m construdos. Sua obra foi concluda em 1958 e em 1967 recebeu o nome

    de Hospital da Lagoa. (LEITE, 2014).

  • 48

    Figura 1. Localizao do Hospital da Lagoa.

    Fonte: Google Earth 2000 modificada.

    Atualmente, o hospital pblico, ou seja, atende ao Sistema nico de Sade

    (SUS) e conta com 243 leitos instalados e atende especialidades de mdia e alta complexi-

    dade, com destaque para atendimentos peditricos, neonatal, oncolgicos dentre outros.

    3.3. O estudo de campo

    Para chegar ao hospital, percorreu-se a Avenida Lineu de Paula Machado e logo

    aps a rua Oliveira Rocha onde localiza-se a portaria de acesso geral. Desde ento, pos-

  • 49

    svel observar o entorno, com muros pichados e sujos, contrapondo beleza das rvores

    que encontram-se na calada do objeto de estudo.

    No setor de pediatria do hospital, encontra-se a sala de quimioterapia, ou seja, local

    onde a criana, entendida como pessoa com faixa etria entre 0 a 18anos, com doena on-

    colgica receber a medicao durante um longo perodo de tempo durante o dia. Por se

    tratar de um ambiente relacionado com muita dor e confinamento do paciente, foi implan-

    tado em 2010, pelo Instituto Desiderata, baseado na Poltica Nacional de Humanizao do

    Ministrio da Sade (HumanizaSUS), o projeto Aqurio Carioca. O objetivo deste projeto

    amenizar o impacto do tratamento no s para as crianas que utilizam o Aqurio, mas tambm para familiares e profissionais de sade. Ele consiste em um cenrio, desenvolvido

    pelo designer Gringo Cardia que representa o fundo do mar. Com isso, o ambiente que

    antes era motivo de medo e pavor para muitas crianas, transforma-se em um espao ldi-

    co e acolhedor, como Rouxinol (2014) afirma.

    As crianas em tratamento ficam at oito horas por dia no hospital. Dessa forma, importante ter um espao mais ldico onde possam se divertir e receber um atendimento integral, transformando a ida ao hospital em um momento de menos dor, para pacientes e familiares. O investimento no Aqurio possibilita a unificao do atendimento oncopeditrico dos hos-pitais pblicos. (ROUXINOL, 2014. s/n)

    Portanto, acrescenta-se s informaes supracitadas, descries a partir de obser-

    vaes durante a visita, que sero relatadas abaixo em ordem de visitao:

    x Portaria geral possvel identifica-la facilmente devido a acumulao de pessoas e ambulantes que vendem lanches e guloseimas. Neste local, pedestres

    e automveis tm acesso ao interior do terreno. Desde ento possvel obser-

    var alguma organizao. Os funcionrios so uniformizados com terno e grava-

    ta, alm de muito educados. Logo fazem uma rpida triagem, guiando o visi-

    tante para a recepo desejada.

  • 50

    x Recepo do prdio principal Com aparncia um grande lobby de hotel, a re-cepo possui uma funcionria, alm de seguranas, que indicam o melhor ca-

    minho para a rea desejada. composta de sofs e puffs, formando um lounge. Neste ambiente visualiza-se em primeiro plano os dois elevadores existentes e

    logo atrs, a caixa de escada por onde tem-se o acesso aos 10 andares.

    x Almoxarifado Local organizado com funcionrios dispostos a dar informa-es e ajudar aos visitantes em visitas guiadas.

    x Andar da Pediatria Ao chegar neste pavimento, logo identifica-se qual o p-blico-alvo ao qual se destina. Trata-se de um ambiente com paredes e portas

    identificadas com pinturas infantis que remetem a um zoolgico. Nas fotos

    abaixo so apresentadas imagens feitas no local. Na Figura 2, mostra-se a pare-

    de do hall do elevador, a Figura 3 refere-se a uma das portas dos quartos para

    internao dos pacientes e a Figura 4 retrata o corredor deste andar, com dese-

    nhos pelo caminho.

    Figura 2. Hall de elevador. Fonte: Acervo das autoras

  • 51

    Figura 3. Porta de um dos quartos para internao de pacientes.

    Fonte: Acervo das autoras

    Figura 4. Corredor do andar da pediatria. Ao fundo, a porta do Centro de Tratamento Intensivo

    (CTI) Peditrico. Fonte: Acervo das autoras

  • 52

    x Aqurio Carioca (Sala de quimioterapia) Como o prprio nome j diz, o design do interior deste local faz referncia a um grande aqurio. um ambiente muito co-lorido, com tons fortes de azul, verde, amarelo e vermelho. A forma do mobilirio convencional da sala de espera foi modificada e recebeu tecido com cor forte em amarelo e textura prpria para facilitar a limpeza. Tudo isso para valorizar o aspec-to ldico do local. Nas imagens a seguir so vistas a sala de espera, com o sof em destaque (Figura 5), a estante de jogos e brinquedos (Figura 6), balco da equipe de enfermagem (Figura 7), televiso com moldura de peixe (Figura 8), cadeira para paciente e acompanhante (Figura 9) e maca para paciente (Figura 10)

    Figura 5. Sala de espera para pacientes e acompanhantes

    Fonte: Acervo das autoras

    Figura 6. Estante com brinquedos doados.

    Fonte: Acervo das autoras

  • 53

    Figura 7. Balco de trabalho da equipe de enfermagem, com referncia ao fundo do oceano.

    Fonte: Acervo das autoras

    Figura 8. Televiso com moldura em formato de peixe

    Fonte: Acervo das autoras

  • 54

    Figura 9. Cadeira para acompanhante e para o paciente receber a medicao.

    Fonte: Acervo das autoras

  • 55

    Figura 10. Maca para paciente receber a medicao.

    Fonte: Acervo das autoras

    x Demais pavimentos do hospital Ao contrrio do pavimento da pediatria, os outros pavimentos do hospital, apesar de bem cuidados, no possuem design de interior personalizado. Encontram-se com rodameio em madeira na cor bege e revestimento em pintura, aparentemente, recente na cor verde e quadros que retratam a rea ver-de do terreno, como visto na Figura 11.

  • 56

    Figura 11. Parede de um dos andares voltados para pacientes adultos. possvel visualizar a cor

    verde da parede, o rodameio bege e os quadros que mostram o jardim do hospital. Fonte: Acervo das autoras

    x Cobertura (ltimo pavimento) Deste local possvel visualizar o rico entorno cu-

    jo hospital est inserido. Em um dos lados (vista para Avenida Lineu de Paula Ma-chado) encontra-se a Lagoa Rodrigo de Freitas (Figura 12). Esta a vista que todos os quartos possuem, pois estes esto voltados para este lado da construo. Do ou-tro lado, (vista para rua Oliveira Rocha) possvel ver a paisagem do Cristo Reden-tor (Figura 13) e da Sociedade Hpica Brasileira (Figura 14).

    Figura 12. Lagoa Rodrigo de Freitas, vista dos quartos do hospital. Imagem capturada da cobertura

    do edifcio. Fonte: Acervo das autoras

  • 57

    Figura 13. Vista para o Cristo Redentor.

    Fonte: Acervo das autoras

    Figura 14. Vista para a Sociedade Hpica Brasileira.

    Fonte: Acervo das autoras

  • 58

    x Jardim do hospital O jardim um clssico de Burle Marx, com muita vegetao, predominando o tom de verde escuro. Da cobertura, foi possvel tirar uma fotogra-fia mostrando a vista superior de uma pequena parte do jardim, que inclui um pe-queno lago. (Figura 15). Na Figura 16, possvel visualizar um dos caminhos que existe no jardim, cercado de folhagem e rvores gerando sombra para quem circula.

    Figura 15. Vista superior do jardim.

    Fonte: Acervo das autoras

    Figura 16. Vista de um dos caminhos existentes no jardim.

    Fonte: Acervo das autoras

  • 59

    x Fachada da Avenida Lineu de Paula Machado Esta fachada, Figura 17, que fica de frente para a lagoa Rodrigo de Freitas, imponente contm as rvores e grande parte do jardim de Burle Marx, bem como a construo com cobertura curva, que um anexo ao prdio principal onde est localizado o caf e biblioteca. Ao fundo, encontra-se o edifcio principal, os vidros azuis demarcam salas e principalmente os quartos para internao de pacientes. Na Figura 18, este prdio visto em detalhe.

    Figura 17. Fachada da Avenida Lineu de Paula Machado.

    Fonte: Acervo das autoras

  • 60

    Figura 18. Detalhe para o prdio principal.

    Fonte: Acervo das autoras

    x Fachada da rua Oliveira Rocha Esta vista (Figura 19) a que primeira ao entrar pela portaria geral. Logo em frente ao porto de acesso, possvel observar o anexo existente ao prdio principal, que contm uma placa grande informando o nome do hospital. Ainda nesta fachada, possvel observar no prdio principal, letras antigas que identificam a construo (Figura 20).

    Figura 19. Vista do anexo da fachada referente a rua Oliveira Rocha.

    Fonte: Acervo das autoras