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DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO DE UM PROTÓTIPO DE SEMEADORA DE FLUIDO-SEMENTE' FRANCISCO EDUARDO DE CASTRO ROCHA 2 , JOSÉ MÁRCIO DA CRUZ 3 , PETER JOHN MARTYN 4 e VICENTE WAGNER DIAS CASAU s RESUMO - Foi desenvolvido um protótipo de semeadora, apropriado para semeadura de sementes pe- quenas (de I a 5 mm diâmetro) e que utiliza um fluido não-newtoniano (pastoso) como veículo condu- tor de sementes e como fonte inicial de umidade. Sementes de alface, cebola e mostarda foram mistu- radas ao fluido em diferentes níveis de concentrações para posterior avaliação do espaçamento entre sementes. O equipamento permitiu diferentes distribuições de sementes, podendo atender às necessida- des de plantio de cada cultura. Termos para indexação: mecanização, alface, cebola, mostarda. DEVELOPMENT AND EVALUATION OF A FLUID DRILL PROTOTYPE ABSTRACT - A drill prototvpe, for sowing small seeds (1 to 5 mm in diameter) using a non-Newto- nian fluid as a seed carrying medium and also as an initial source of moisture has been developed. In evaluating the performance of the machine, seedsof lettuce, onion and mustard were mixed with the fluid at different concentrations. The equipment has allowed different seed distributions, achieving crop sowing requirements. Index terms:mechanization, sowing, lettuce, onion, mustard. , INTRODUÇÃO O sistema de produção de hortaliças no Brasil caracteriza-se pelo uso intensivo de mão-de-obra e pela exploração de pequenas áreas. O custo e a di- ficuldade de obtenção de mão-de-obra especializa- da, bem como a inexistência de máquinas e equi- pamentos para hortaliças, principalmente aquelas destinadas ao plantio e colheita, são alguns dos fa- tores que têm limitado o desenvolvimento da oleri- cultura. Em determinadas regiões do país, como a Su- deste, importante centro produtor e consumidor de hortaliças, pode-se verificar o incremento anual da área de produção. pelo censo agropecuário de 1980 (Fundação IBGE 1983, 1984a, b, c, d), verifi- ca-se que a produção de hortaliças dessa região foi de 2.518.644 t, em uma área de 225.533ha. Ainda, Aceito para publicação em 20 de agosto de 1986. Trabalho baseado na Tese de Mestrado do primeiro au- tor, Universidade Federal de Viçosa, 1985. 2 Eng.vAgr., M.Sc., EMBRAPA/Centro Nacional de Pes- quisa de Hortaliças (CNPH), Caixa Postal 07.0218, CEP 70000 Brasílía, DF. 3 Eng.-Agr., Profv-Adj., Dep. de Eng. Agr íc. Univ. Fed. de Viçosa, CEP 36570 Viçosa, MG. 4 Engv- Agr., Prof.-Adj., Dep. de Eng. Agríc., Univ. Fed. de Viçosa, Viçosa, MG. Engv-Agr., Prof.- Tit., Dep. de Fitot., Univ. Fed , de Vi- çosa, Viçosa, MG. verifica-se pelo censo que nesse período foram uti- lizadas apenas 603 máquinas para o plantio, o que demonstra a carência de equipamentos no setor hortícola, em conseqüência, principalmente, da grande deficiência de tecnologia na área de mecani- zação, o que tem forçado a importação de máqui- nas, as quais nem sempre funcionam a contento nas nossas condições (Filgueira 1972). A semeadura é uma etapa relevante dentro do sistema de produção de hortaliças, uma vez que es- tá diretamente ligada ao estabelecimento do stand e, conseqüentemente, poderá comprometer seria- mente a produtividade. Poucos são os equipamentos encontrados no co- mércio capazes de semear satisfatoriamente, redu- zindo práticas como transplantio e desbaste. Essa dificuldade decorre do tamanho, geralmente pe- queno, e da forma irregular de grande parte das se- mentes de hortaliças (Harriot 1970). Diversas técnicas e máquinas têm sido desenvol- vidas visando melhorar a eficiência de semeadura e reduzir os custos de produção. Recentemente ini- ciou-se o desenvolvimento de semeadoras que utili- zam fluidos não-newtonianos (pastosos) como veí- culo condutor de sementes e como fonte inicial de umidade. Esses fluidos podem ser preparados a partir de produtos à base de amido, celulose, resi- na sintética e outros. Pesq. agropec. bras., Brasflia, 22(4):401-409,abr.1987.

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DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO DE UM PROTÓTIPODE SEMEADORA DE FLUIDO-SEMENTE'

FRANCISCO EDUARDO DE CASTRO ROCHA 2, JOSÉ MÁRCIO DA CRUZ3,

PETER JOHN MARTYN4 e VICENTE WAGNER DIAS CASAUs

RESUMO - Foi desenvolvido um protótipo de semeadora, apropriado para semeadura de sementes pe-quenas (de I a 5 mm diâmetro) e que utiliza um fluido não-newtoniano (pastoso) como veículo condu-tor de sementes e como fonte inicial de umidade. Sementes de alface, cebola e mostarda foram mistu-radas ao fluido em diferentes níveis de concentrações para posterior avaliação do espaçamento entresementes. O equipamento permitiu diferentes distribuições de sementes, podendo atender às necessida-des de plantio de cada cultura.Termos para indexação: mecanização, alface, cebola, mostarda.

DEVELOPMENT AND EVALUATION OF A FLUID DRILL PROTOTYPE

ABSTRACT - A drill prototvpe, for sowing small seeds (1 to 5 mm in diameter) using a non-Newto-nian fluid as a seed carrying medium and also as an initial source of moisture has been developed. Inevaluating the performance of the machine, seedsof lettuce, onion and mustard were mixed with thefluid at different concentrations. The equipment has allowed different seed distributions, achievingcrop sowing requirements.

Index terms:mechanization, sowing, lettuce, onion, mustard.

,

INTRODUÇÃO

O sistema de produção de hortaliças no Brasilcaracteriza-se pelo uso intensivo de mão-de-obra epela exploração de pequenas áreas. O custo e a di-ficuldade de obtenção de mão-de-obra especializa-da, bem como a inexistência de máquinas e equi-pamentos para hortaliças, principalmente aquelasdestinadas ao plantio e colheita, são alguns dos fa-tores que têm limitado o desenvolvimento da oleri-cultura.

Em determinadas regiões do país, como a Su-deste, importante centro produtor e consumidorde hortaliças, pode-se verificar o incremento anualda área de produção. pelo censo agropecuário de1980 (Fundação IBGE 1983, 1984a, b, c, d), verifi-ca-se que a produção de hortaliças dessa região foide 2.518.644 t, em uma área de 225.533ha. Ainda,

Aceito para publicação em 20 de agosto de 1986.Trabalho baseado na Tese de Mestrado do primeiro au-tor, Universidade Federal de Viçosa, 1985.

2 Eng.vAgr., M.Sc., EMBRAPA/Centro Nacional de Pes-quisa de Hortaliças (CNPH), Caixa Postal 07.0218,CEP 70000 Brasílía, DF.

3 Eng.-Agr., Profv-Adj., Dep. de Eng. Agr íc. Univ. Fed.de Viçosa, CEP 36570 Viçosa, MG.

4 Engv- Agr., Prof.-Adj., Dep. de Eng. Agríc., Univ. Fed.de Viçosa, Viçosa, MG.Engv-Agr., Prof.- Tit., Dep. de Fitot., Univ. Fed , de Vi-çosa, Viçosa, MG.

verifica-se pelo censo que nesse período foram uti-lizadas apenas 603 máquinas para o plantio, o quedemonstra a carência de equipamentos no setorhortícola, em conseqüência, principalmente, dagrande deficiência de tecnologia na área de mecani-zação, o que tem forçado a importação de máqui-nas, as quais nem sempre funcionam a contentonas nossas condições (Filgueira 1972).

A semeadura é uma etapa relevante dentro dosistema de produção de hortaliças, uma vez que es-tá diretamente ligada ao estabelecimento do stande, conseqüentemente, poderá comprometer seria-mente a produtividade.

Poucos são os equipamentos encontrados no co-mércio capazes de semear satisfatoriamente, redu-zindo práticas como transplantio e desbaste. Essadificuldade decorre do tamanho, geralmente pe-queno, e da forma irregular de grande parte das se-mentes de hortaliças (Harriot 1970).

Diversas técnicas e máquinas têm sido desenvol-vidas visando melhorar a eficiência de semeadura ereduzir os custos de produção. Recentemente ini-ciou-se o desenvolvimento de semeadoras que utili-zam fluidos não-newtonianos (pastosos) como veí-culo condutor de sementes e como fonte inicial deumidade. Esses fluidos podem ser preparados apartir de produtos à base de amido, celulose, resi-na sintética e outros.

Pesq. agropec. bras., Brasflia, 22(4):401-409,abr.1987.

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•F .E. DE C. ROCHA et al.402

Torna-se ne cessano que o fluido tenha viscosi-dade de aproximadamen te jz = 0,04 Nm-2s (Ward1981), para se conseguir maior uniformidade nadispersão das sementes, mantê-Ias em suspensão eevitar injúrias mecânicas durante a operação demistura (fluido e semente) e de semeadura (Finch--Savage 1984, (Ghate et al. 1981). De modo geral es-tas semeadoras trabalham com dispositivos mecâni-cos geradores de pressão, ar comprimido, ou bom-bas que possuem movimentos do tipo peristálico,capazes de fazer a distribuição da mistura fluido--semente (Hiron et alo 1978, Shaw et alo 1981). Es-se tipo de equipamento é mais indicado para se tra-balhar com sementes pequenas e de forma irregu-lar, pré-germinada ou não e com a mistura fluido--semente enriquecida com micro-nutrientes e fun-gicidas (Ghate et al. 1981).

O esquema do protótipo, projetado e montadono Laboratório do Departamento de EngenhariaAgrícola da Universidade Federal de Viçosa, éapresentado nas Figs. 1, 2, 3 e 4 e nas Figs. 5, 6, 7e 8 constam detalhes de preparo e de operação doequipamento.

Objetivou-se , neste trabalho, avaliar um protóti-po de semeadora de fluido-semente de hortaliças.

A _

MATERIAL E MÉTODOS

Dimensionamento e montagem do protótipo

o protótipo apresenta as seguintes dimensões:1.730 mm de comprimento, 1.220 mm de altura máxima,620 mm de largura máxima e pesa 27,5 kg com o tanquevazio e foi montado da seguinte maneira:

Rodas (Fig. 1 e 5) - Foram utilizadas duas rodas debicicleta, pneus 660,4 x 38.1 x 50,8 mm (26" x 1 1/2" xx 2") sendo a roda traseira a acionadora do sistema de ex-trusão. Optou-se por essas rodas por serem leves e facil-mente encontradas no comércio.

Chassi (Fig. 3 e 4) - Foi projetado e construído comcanos galvanizados de 19 mm (3/4"), para suportar os es-forços exigidos pelo peso do tanque com a mistura e paradispor adequadamente os componentes mecânicos doequipamento.

Reservatório (Fig. 1 e 5) - Foi construído 'com tuboPVC de 200 mm de diâmetro, 270 mm de altura e com ofundo cônico, montado em chapa galvanizada n? 24 comcapacidade para dez litros e distribui aproximadamente67 ml de fluido por metro.

O reservatório é fixado em sua posição de trabalho,por meio de dois suportes semi-anelares, um fixo e outromóvel (S), montados em ferro chato de 25 x 4 mm, parapermitir a retirada do reservatório em operações de abas-tecimento e limpeza.

FIG. 1. Vista lateral da semeadora de fluido-semente (legenda, vida Fig. 2).

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A . Roda de bicicleta

B - Roda dentada [catraca de bicicleta)C • Roda dentada (coroa de bicicleta)

D - Corrente de roletesE - EsticadoresF - Pinhão do eixo horizontal

G - Coroa do eixo verticalH - Parafuso

I • ÊmboloJ . Tanque

K • Dispositivo de pressão (mola)

L . Manivela

M - Bico extrusor

FIG.2. Vista superior da semeadora de fluido-semente.

Sistema de transmissão e mecanismo de extrusão damistura (Fig. 1 e 5) - São formados pelos seguintes com-ponentes: catraca de bicicleta de 22 dentes, correntes deroletes, roda dentada de 46 dentes, engrenagem de eixohorizontal de onze dentes, engrenagem de eixo vertical de16 dentes (peças de diferencial de Opala, satélite e plane-tária), parafuso com rosca de perfil quadrado, de uma en-trada e passo de 5 mm (peça de torno de bancada) e umêmbolo (I) formado de três partes: parte superior, porcacom dimensões compatíveis às dimensões e perfil do para-fuso. A parte mediana, elemento de ligação entre as par-tes superior e inferior, é constituída por quatro suportesde ferro chato de 310 x 35 x 4 mm, aos quais é fixado umdisco de chapa de ferro preta n? 18, com 180 mm de diâ-metro. A parte inferior é uma peça feita com chapa gal-vanizada n? 24, com formato tronco-cônico. A basemaior da peça fica voltada para cima e é fechada por umdisco de chapa de ferro preta, também n? 18 e 180 mmde diâmetro. Na junção entre a parte mediana e inferiordo êmbolo existe um retentor para evitar o extravazamen-to da mistura. As relações de transmissão entre a roda ma-tara e o êmbolo permitem uma redução de velocidade de1:0,33.

Bico extrusor (Fig. 1 e 5) - Constituído por uma peçaacoplada à extremidade inferior do tanque e formada por:uma curva PVC de 45 graus, um tubo PVC rosqueado com19 mm de diâmetro e 40 mm de comprimento e um bicoplástico com rosca e redução de 19 para 5 mm (encontra-do facilmente no comércio para acoplar mangueira à tor-neira).

N - Sulcador

o -Dispositivo de fechamento do sulcoP - Alavanca manualQ - RabiçaA - Cabo de açoS - Suporte sem i-anelar do reservatório

Sistema de abertura dos sulcos (Fig. 1) - É formadopelos seguintes componentes: haste do sulcador, de verga-lhão liso de 8 mm de diâmetro e 400 mm de comprimen-to, com a peça ativa (N) em forma de cunha e soldada emsua base. A haste é montada num suporte articulado, aco-piado às extremidades do eixo da roda dianteira, de ma-neira que seu movimento permite que o sulcador acompa-nhe as irregularidades do terreno. Ainda faz parte do siste-ma o dispositivo de fechamento do sulco, composto porduas peças, confeccionadas com ferro chato de 250 x 25 xx 4 mm. As duas peças são articuladas à haste do sulcador,de tal modo que se movimentam independentemente,durante a operação de fechamento do sulco.

Preparo da mistura fluido-semente

Para os testes de avaliação do protótipo foram utiliza-das sementes de alface, cebola e mostarda. Para cada espé-cie trabalhou-se com dez concentrações diferentes deaproximadamente: 500, 1000, 1500, 2000, 2500,3000,3500, 4000, 4500 e 5000 sementes por litro de fluido, asquais permitiram verificar o espaçamento médio resultan-te dessas misturas e avaliar a distribuição de espaçamentos(Tabelas 1, 2, 3 e 4).

A quantidade de sementes de cada espécie foi determi-nada, considerando-se' o peso médio de cem sementes emcada espécie, utilizando-se uma balança eletrônica "Mar-te", série "S",

O fluido foi preparado a partir do amido de milhocomercial (maizena), misturado à água, na proporção de

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Cada tratamento foi aplicado a uma linha de 25 me-tros e as medições foram efetuadas, aleatoriamente, emquatro seções de um metro, assim que ocorreu a emergên-cia das plântulas.

A avaliação da distribuição de espaçarnentos seguiumetodologia utilizada por (Ward 1981), a qual dividide adistribuição de espaçamentos em três classes: espaçamentoaceitável, para distâncias entre sementes de 0,5 a 1,5 vezo espaçamento médio; sementes juntas, para distância en-tre sementes inferior a 0,5 vez o espaçamento médio; fa-lha no semeio, para distância entre sementes superior a1,5 vez oespaçamento médio.

Ainda com relação ao método de análise da distribui-ção de espçamentos (Ward 1981)" somente considera ocoeficiente de variação (CV) para a classe de espaçamen-tos aceitáveis em virtude da importância da mesma e porser aquela que apresenta menor percentagem de variação,quando se utiliza essa técnica.

F.E. DE C. ROCHA et al,

80 g por litro. Consecutivamente, a solução de amido foiaquecida por um período de 20 minutos, suficiente paraocorrer o entumescimento, ou seja, a gelatinização da so-lução de amido. Após esse procedimento, deixou-se ofluido resfriar naturalmente e preparou-se a mistura dofluido-semente por meio de uma batedeira doméstica, ti-po planetária, operação que pode ser feita manualmente.

Testes experimentais

Os testes experimentais foram feitos em condições delaboratório, utilizando-se os três tipos de sementes e decampo, utilizando-se semente de cebola.

Para os testes em condições de laboratório preparou-seo protótipo de forma que o bico extrusor ficasse direcio-nado para a lateral, posição que evitou a danificação do fi-lete pela roda traseira. Assim, a distribuição foi deixadasobre uma faixa de papel poroso, que permitiu a visualiza-ção das sementes, e as medições foram efetuadas tão logoocorreu a secagem do fluido. Cada tratamento foi aplica-do em uma faixa de 25 metros e mediram-se, aleatoria-mente, em quatro pedaços de um metro, o número de se-mentes por metro e o espaçamento entre as sementes.

Para os testes de campo foram preparados dez cantei-ros numa área de 10 x 25 metros, utilizando-se uma enxa-da rotativa, e semeadas duas linhas por canteiro. Nessaetapa, o protótipo foi preparado de modo que o bico ex-trusor ficasse posicionado na mesma direção que o eixolongitudinal do equipamento, uma vez que o sulco foi fe-chado tão logo ocorreu a distribuição.

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1 _

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Princípio de funcionamento do protótipo

o protótipo desenvolvido (Fig. 1 e 7) é desloca-do manualmente. O movimento da sua roda trasei-ra (A) é transmitido ao mecanismo de extrusão damistura, através de um sistema de transmissão por

----------------r

I!

COTAS EMmm

F IG. 3. Vista lateral do chassi e detalhe do comando do sistema de sulcagem.

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DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO DE UM PROTÓTIPO

125 195 295

405

185 125 225

FIG.4. Vista superior do chassi ';

FIG.5. Componentes da semeadora de fluido -semente.

corrente (D) e de rodas dentadas: catraca (B) e co-roa (C). A tensão da corrente é mantida por meiode esticadores (E), utilizados em bicicletas comodispositivo de mudança de marchas. A coroa é fi-

xada ao eixo principal (F) de acionamento do me-canismo de extrusão da mistura. Através de um jo-go de coroa e pinhão, o movimento do eixo hori-zontal (F), é transmitido para o eixo vertical (G)que é solidário ao parafuso (H). Ao girar o para-fuso aciona o êmbolo (I), que se desloca dentro doreservatório (J), comprimindo a mistura fluido--semente, forçando-a a passar pelo bico extrusor(M), indo até ao fundo do sulco, onde é deposita-da. O movimento do êmbolo cessa tão logo a suaparte inferior se aproxima do fundo do reservató-rio. Para que a máquina não seja travada brusca-mente em seu deslocamento, na extremidade infe-rior do parafuso foi feito um rebaixamento encai-xando-se ali, uma mola de fraca compressão, de talmodo que o parafuso possa continuar ainda por al-gum tempo em seu movimento de rotação.

Para fazer o êmbolo retornar à sua posição ini-cial, faz-se uso de uma manivela (L), com engateadaptável à extremidade do eixo principal do me-canismo de extrusão.

Para o fechamento do sulco, a máquina possuium dispositivo (O) feito de chapa e acoplado à has-te do sulcador. O dispositivo de fechamento dosulco é articulado de modo que pode ser levantadoou abaixado no momento desejado mediante oacionamento de uma alavanca (P), fixada à lateralda rabiça (Q) do lado direito da máquina. Um ca-bo de aço (R) liga a alavanca ao dispositivo de fe-chamento do sulco.

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a distribuição pode ficar descontínua e não unifor-me. Esses problemas são inerentes às característi-cas deste equipamento, cujo funcionamento ba-seia-se na transmissão do movimento entre a rodamotora e o êmbolo do mecanismo de extrusão damistura. Portanto, torna-se ncessário procurar des-locar o equipamento a uma velocidade constante,em torno de 1 m/s, que é uma velocidade normalde trabalho, à nível de campo, para semeadorasmanuais.

F.E. DE C. ROCHA et alo

FIG.6. Abastecimento do reservatório com a misturafluido-semente.

A roda traseira em sua passagem sobre o sulcofechado, promove uma pequena compactação.

Consideração sobre o funcionamento do equipa-mento

Diversas variações podem ocorrer durante a exe-cução da operação de semeadura. Uma delas con-siste no fato de que, uma vez iniciado o desloca-mento do protótipo, a mistura fluido-semente ficaimediatamente sob pressão e caso ocorram inter-rupções durante o processo, haverá uma defasagementre o deslocamento do equipamento e o fluxoda mistura. Tal situação normaliza-se rapidamentetão logo se reinicia o deslocamento, mas deixacomo conseqüência, pequenos volumes aglomera-dos ao longo da linha de semeadura. Neste caso,quanto maior a concentração de sementes, maiorserá a quantidade de sementes deixadas nestes lo-cais.

É possível ainda ocorrer o inverso: caso aumen-te demasiadamente a velocidade de deslocamento,

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FIG.7. Semeadora de fluido-semente em operação.

FIG.8. Detalhe da sarda do fluido-semente.

Avaliação do protótipo

A avaliação do protótipo é feita utilizando-se asTabelas 1, 2, 3 e 4, as quais mostram a distribuiçãodos espaçamentos entre sementes. Comparando-seos resultados dos espaçamentos médios de semente

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DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO DE UM PROTÓTIPO

TABELA 1. Distribuição de espaçamentos de sementes de alface, em laboratório.

Concentraçãode sementes

por litro

Espaçamentomédio!E (rnrn)

Número deobservações

EspaçamentosAceitáveis2

0,5' 1,5E Superior a Inferior aaceitáveis aceitáveis

% (aE ±CV) < O,5E > 1,5E% %

48 (0.98E ± 0.31 ) 32 2044 (0.81E ±0.25) 32 2436 (1.00E ± 0.24) 44 2039 (0.85E ± 0.29) 38 2337 (0.88E ± 0.28) 40 2341 (0.82E ± 0.32) 42 1735 (0.93E ± 0.26) 37 2832 (0.80E ± 0.34) 46 2244 (0.93E ± 0.33) 37 1937 (0.89E ± 0.29) 32 31

500100015002000250030003500400045005000

130956026242024201716

314166

154170202171198233214

Espaçamento médio referente ao-número total de dados (E).

2 Distribuição dos espaçamentos dentro da faixa dos aceitáveis,onde:

Xa=--

E

x = média na faixaCV = coeficiente de variação na faixa.

TABELA 2. Distribuição de espaçamentos de sementes da cebola, em laboratório.

Concentraçãode sementes

por litro

Número deobservações

Espaçamentomédio!E (mm)

EspaçamentosAceitáveis2

0,5-1,5E Inferior a Superior aaceitáveis aceitáveis

% (aE ±CV) < 0,5E > 1,5E% %

52 (0.95E ± 0.33) 31 1723 (1.01E ±0.30) 47 3046 (1.02E ± 0.25) 34 2035 (0.86E ± 0.37) 40 2537 (0.85E ±0.33) 40 2352 (1.03E ± 0.29) 30 1835 (l.llE ±0.22) 41 2444 (0.86E ± 0.36) 34 2230 (0.90E ± 0.20) 45 2529 (1.15E ±0.20) 50 21

500100015002000250030003500400045005000

138824739302421171311

294981

106149164193283282340

Espaçamento médio referente ao número total de dados (E).

2 Distribuição dos espaçamentos dentro da faixa dos aceitáveis,onde:

Xa=--

E

x = média na faixaCV = coeficiente de variação na faixa.

Pesq. agropec. bras., Brasília, 22(4) :401-409, abr. 1987.

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TABELA 3. Distribuição de espaçamentos de sementes de mostarda, em laboratório.

Concentraçãode sementes

por litro

Espaçamentomédio!E Irnrn)

Número deobservações

EspaçamentosAceitáveis2

0,5 -1,5E Inferior a Superior aaceitáveis aceitáveis

% (aE + CV) < 0,5E > 1,5E% %

40 (0.95E ± 0.29) 40 1736 (0.90E ± 0.24) 40 2449 (0.90E ± 0.31) 33 1845 (0.90E ± 0.29) 33 2241 (1.05E ± 0.24) 40 1944 (0.94E ± 0.34) 35 2138 (1.10E ±0.23) 41 2147 (0.82E ± 0.29) 31 2243 (1.02E ± 0.28) 37 2035 (1.05E ± 0.20) 44 21

500100015002000250030003500400045005000

129823835212421171411

3047

101119192171200237287327

Espaçamento médio referente ao número total de dados (E).

2 Distribuição dos espaçamentos dentro da faixa dos aceitáveis,onde:

Xa=--

Ex = média na faixa

CV = coeficiente de variação na faixa.

TABELA 4. Distribuição de espaçamentos de plântulas de cebola, em campo.

Concentraçãode sementes

por litro

Número deobservações

Espaçamentomédio!E Irnm)

EspaçarnentosAceitáveis2

0,5 -1,5E Inferior a Superior aaceitáveis aceitáveis

% (aE ±CV) < 0,5E >1,5E% %

64 (1.10E ±0.29) 23 1350 (1.00E ± 0.25) 25 2539 (1.00E ±0.18) 33 2833 (1.00E ±0.26) 40 2733 (1.00E ± 0.39) 40 2743 (0.80E ± 0.32) 30 2849 (0.90E ± 0.29) 31 2046 (0.90E ± 0.28) 32 2266 (1.00E ± 0.37) 19 1550 (1.10E ±0.24) 34 16

500100015002000250030003500400045005000

3501809470504030302020

22243645526472898896

Espaçamento médio referente ao número total de dados (E).

2 Distribuição dos espaçamentos dentro da faixa dos aceitáveis,onde:

Xa=--

E

x = média na faixaCV = coeficiente de variação na faixa.

Pesq. agropec. bras., Brasflia , 22(4):401-409, abr. 1987.

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DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO DE UM PROTÓTIPO 409

de cebola em condições de campo e de laboratório,pode-se verificar que no campo obteve-se maioresespaçamentos médios para cada tratamento. Talfato se deve, principalmente, às condições de solo,com grande incidência de torrões à superfície; aofluido, tipo de goma, que secou em algumas partespor não ter sido coberto completamente; à forma-ção de crosta em alguns locais do leito de semeadu-ra, coincidindo com a emergência e à percentagemde germinação das sementes de cebola, verificadaem condições de laboratório, que atingiu 95%. Adiferença dos resultados pode diminuir à medidaque se amenizem os problemas acima e que o pro-tótipo alcance uma fase mais avançada de desen-volvimento.

Para facilitar o entendimento das tabelas seráexemplificada uma análise: considerando que umprodutor queira plantar cebola, utilizando-se este'equipamento, e deseja trabalhar com espaçamentomédio de 25 mm entre sementes. Neste caso, pode-rá tomar como base a Tabela 2, com valores reaisde distribuição, sendo assim, deverá misturar apro-ximadamente 3.000 sementes por litro de fluido.No entanto, ainda deseja saber se a distribuiçãode sementes é uniforme. Para essa informação, se-guindo-se na linha grifada, pode-se verificar que52% dos espaçamentos encontrados durante o se-meio, variaram de 0,5 a 1,5.E (espaçamento mé-dio), ou seja de 12 a 36 mm, classe dos espaçamen-tos considerados como aceitáveis; 30% inferiores a0,5.E, ou seja inferiores a 12 mm, considerada clas-se das sementes juntas, e que provavelmente neces-sitarão de desbaste, dependendo das condições decampo (desenvolvimento e acúmulo de plantas);e 18% superiores a 1,5.E, ou seja superiores a36 mm, considerada classe das falhas no semeio.De modo geral, a classe de percentagem de falhasno semeio é sempre menor que as outras duas clas-ses.

CONCLUSÕES

1. A velocidade média de deslocamento do pro-tótipo de 1m.s -1, combinada com a relação detransmissão de 1 :0,33, diâmetro interno do bicoextrusor de 0,005 m e viscosidade do fluido de

.0,045 N.m -2, proporcionou distribuição satisfató-ria da mistura fluido-semente.

2. Quanto maior o número de sementes por li-tro de fluido, maior o número de sementes por me-tro e menor o espaçamento entre sementes.

3. O protótipo, mostrou que, na faixa de 2000a 5000 sementes por litro, consegue-se uma distri-buição de espaçamento de aproximadamente 80%sem falhas, considerando-se as sementes com espa-çamentos aceitáveis e as sementes juntas, inde-pendente dos três tipos de sementes utilizadas.

4. Para uniformizar o stand de plantas, possivel-mente, necessitará de um pequeno desbaste.

5. O deslocamento deve ser contínuo e unifor-me, para evitar acúmulos da mistura fluido-semen-te na linha de semeadura.

6. O protótipo é leve, de fácil manuseio e de fá-cil construção.

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