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1ª ediçãoRio de Janeiro-RJ / Campinas-SP, 2015
Bianca Briones
DESCOMPASSO INFINITO DO
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1Clara
I’m forced to fake
A smile, a laugh, every day of my life
My heart can’t possibly break
When it wasn’t even whole to start with.*
— Kelly Clarkson, “Because of You”
Quantas vezes o coração aguenta ser partido? Quantas vezes é pre-
ciso que ele seja despedaçado para podermos considerar a chance de
desistir? Quando é aceitável se resignar e parar de lutar? Quantas vezes
é preciso ser forte e enfrentar aquilo que nunca imaginamos passar?
A verdade é que, por mais que as pessoas gostem de dizer que tudo
passa, um coração partido nunca mais será uma unidade. É possível pe-
gar os pedacinhos e colá-los um a um, mas a maioria não se encaixará
direito ou ficará sobreposta. Isso quando não faltarem pequenas lascas,
que nos deixarão para sempre com a sensação de ter nos perdido pelo
caminho.
O porta-retratos com a foto em que estamos meus filhos, meu ma-
rido e eu está em minhas mãos. A imagem é tão vívida quanto a lem-
brança do que encontrei no e-mail dele mais cedo.
Uma lágrima cai sobre o vidro e toco a superfície, passando os de-
dos pelo rosto do Maurício. Eu sabia que estávamos em crise, mas nunca
imaginei que chegaríamos a esse ponto.
* “Eu sou forçada a fingir/ Um sorriso, uma risada, todos os dias da minha vida/ Meu coração não pode quebrar/ Quando não estava inteiro para começar.”
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Já não lembro direito por que abri seu notebook. Ah, eu ia enviar
um e-mail para Branca, uma das minhas amigas. Sobre o que era mesmo?
É difícil pensar em banalidades quando o chão se abre debaixo dos
nossos pés.
Os últimos sete anos se passam como um flash de lembranças amar-
rotadas. Os bons momentos se sobrepõem aos ruins. Deve ser natural
procurar o lado bom quando o mau quer te engolir.
Eu tinha apenas dezenove anos quando engravidei do Maurício e
nos casamos. Não era o que eu queria, mas eu já havia parado de fazer
planos e tentar entender a vida, e casar com o pai dos gêmeos que eu
esperava era a coisa certa a fazer.
Como vou explicar para os meus filhos o que está acontecendo? Eles
mal completaram seis anos.
Sei que parece fraqueza, mas queria voltar no tempo e não ter en-
contrado nada, porque não dá para esquecer agora. O tom dos e-mails,
as fotos do Maurício sem roupa... Não sei nem o nome da pessoa com
quem ele se comunicava, porque o e-mail era angel-qualquer-coisa e o
Maurício a chamava de “amore”, exatamente como me chamava no início
do relacionamento. Ele dizia que o último encontro tinha sido ótimo
e que mal podia esperar pelo próximo.
Não deu tempo de ver muita coisa. Maurício chegou do mercado
com Pedrinho e David. Fechei o notebook com um estrondo. Pedrinho
fez uma brincadeira a respeito, que não lembro agora, e Maurício me
olhou, tentando disfarçar o choque. Ele soube na hora o que eu havia
encontrado.
Então ele foi para o quarto dos meninos e depois disse que os dois
dormiriam na casa do meu pai, porque eu estava com crise de enxaqueca
e precisava ficar um pouco em silêncio. Eu beijei meus filhos, não o contra-
disse e entrei no banho. Precisava chorar onde eles não pudessem me ver.
Quando saí, todos haviam partido. Eu estava sozinha. Dentro e fora
de mim.
Maurício voltou duas horas depois. Talvez ele precisasse de um tem-
po para inventar uma desculpa. Ou talvez eu precise de um tempo para
aceitar tudo isso...
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Ele tentou falar comigo, mas eu não quis ouvir. Não. Não quis saber
de desculpas. Não quis saber de justificativas. Não se justifica o injusti-
ficável.
Meu peito ainda dói. Sinto como se alguém enfiasse os dedos dentro
dele e arrancasse meu coração. O ar queima a cada inspiração.
Achei que eu estava protegida com Maurício. Nunca pensei que sen-
tiria uma dor tão intensa outra vez.
Fecho os olhos.
Não deixe que o passado retorne, Clara. Lide com uma dor de cada vez,
repito para mim mesma, enterrando novamente o passado e me focando
na dor atual.
Não consigo refletir direito. Não consigo entender.
É inevitável pensar em minha mãe. Será que foi isso o que ela sentiu
ao descobrir que meu pai tinha outra mulher? Será que ela chegou a ter
tempo de processar tudo antes do acidente de carro que lhe tirou a vida?
A breve conversa que tive com meu pai, mais cedo, volta aos meus
pensamentos.
— Não se preocupe. Vou resolver tudo isso.
Não sei o que ele quis dizer. Não há como resolver.
Meu pai pensa que tudo está ao alcance de suas mãos e que qual-
quer problema pode ser resolvido com uma ordem ou pagando a pessoa
certa. Se ele soubesse como está longe da verdade...
Desde pequena eu aprendi que ele era assim. Quando ele se casou
com Eva, quatro meses depois da morte de minha mãe, acreditei que
ele tinha feito isso por achar que eu precisava de uma nova mãe, mas
tudo o que eu queria era a verdadeira. Ainda quero. Ela diria as palavras
certas agora.
Tento não pensar nisso, não quero mais chorar. Passo a mão no rosto
e ouço Branca brigando com Zeus, meu cachorro da raça samoieda, na
garagem.
Quando ela soube o que aconteceu, saiu do trabalho e veio para cá.
Ela é advogada, assim como Bernardo, seu irmão, que passou no exame
da Ordem há pouco. Ambos trabalham com o pai deles, o tio Túlio,
que não é meu tio de verdade, apesar de nos conhecermos desde sempre.
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Nossas famílias eram vizinhas e nossas mães engravidaram pratica-
mente juntas. Branca e eu nascemos no mesmo dia: 1º de junho.
— Sai, cachorro. Sai da minha frente! — Ela nunca o chama pelo
nome, é apenas “cachorro”, às vezes “dog” ou qualquer outra coisa. Ani-
mais não são exatamente o forte dela.
Eu sei que deveria ter ido abrir a porta para ela e que Zeus, apesar
de dócil, não deixa as pessoas passarem pela garagem sem tentar der-
rubá-las no chão. Ele não tem culpa. É seu comportamento padrão. Ele
é supercarinhoso, mas suas patas são pesadas e sua força de vontade é
inquebrável, diferentemente do vidro que Branca estava segurando. O
estrondo de algo se chocando e estourando no chão, seguido do pala-
vrão da minha amiga, é o suficiente para me tirar da letargia e me fazer
descer as escadas do sobrado e correr para a garagem.
— O que aconteceu? — pergunto ao abrir a porta da sala.
— Esse urso matou Jose Cuervo — Branca choraminga. — Ainda
bem que eu trouxe duas. — Ela abraça a outra sacola como se sua vida
dependesse disso e olha feio para o pobre Zeus, que está quietinho no
canto da garagem, como se não fosse com ele. Ele não se digna nem a
virar a cabeça para nós.
Corro para dentro e pego pano, pá e vassoura. Amo meu cachorro,
mas sei que é questão de segundos para ele largar a pose majestosa e cair
de boca na tequila que escorre pelo chão. Uma vez, ele abriu a porta da
sala quando eu estava no banho e rasgou com os dentes uma garrafa de
dois litros de Coca-Cola. Ficou completamente alucinado.
— Por que você demorou? — Branca questiona, sabendo que eu es-
tava chorando pela traição.
Dou de ombros e ela não diz nada. Coloca a sacola na mesa e todos
os itens do famoso Kit Apaga Ex que ela inventou há vários anos e foi
atualizando com o passar do tempo. A última vez que o usamos foi quan-
do ela se separou, há mais ou menos um ano, e sei que o que estou vi-
vendo a faz lembrar de coisas que a incomodam.
Zeus entra devagar, passa por Branca, parada na sala de jantar, e deita
na poltrona favorita do Maurício, colocando a cabeça confortavelmente
no braço do móvel e virando o focinho na direção do rack de mármore.
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Ver meu cachorro tomar essa atitude significa muito para mim, como
se ele soubesse o que estou passando e me confortasse do jeito dele.
Ou é isso, ou ele está tentando me dizer que é o novo macho alfa da
casa.
Branca estreita os olhos e tenta me ler. Era fácil quando éramos mais
novas e antes de tudo mudar comigo. Agora ela só sabe o que eu lhe
mostro. Com o tempo, adquiri a capacidade de sorrir mesmo que o caos
impere dentro de mim. E, por mais que as pessoas nos amem, não é fá-
cil enxergar além do que mostramos, quando estamos determinados a
fingir que está tudo bem.
— Não sei o que te dizer, porque deve estar doendo pra cacete. E eu
sei que vai ficar tudo bem, afinal... — Ela não precisa completar as reti-
cências, porque eu sei que está falando de si mesma. — Mas é uma merda
dizer isso. Quando eu estava mal e o Bernardo me falou isso, eu dei um
chute na canela dele. Com força. — Ela abre a porta da garagem para
terminar de descarregar o carro. — Você não está pensando em voltar
com ele, né? Porque eu não vou concordar. Não vou me opor... Quer
dizer, eu vou me opor e vou te xingar, mas no fim a vida é sua. Ah, uma
ova, eu discordo totalmente.
— Nem falei com ele — respondo, colocando a sacolinha com os
cacos de vidro no lixo.
Branca vai e volta do carro e para ao lado da mesa sobre a qual colo-
cou as sacolas. Ela me analisa, batendo o salto do sapato no chão, fa-
zendo um barulho seco. Eu a observo por alguns instantes.
Ela está incomodada com o silêncio e eu me pergunto quanto seu
divórcio ainda mexe com ela. Ela passa a mão pelo vestido nude para
tirar os pelos do Zeus.
Eu me distraio, observando-a. Branca tem ombros largos e peitos
grandes, que chamam atenção em qualquer lugar, porém o quadril é
estreito, e ela tem uma encanação enorme com isso, apesar de eu achar
que ela está encucando por pouco.
Quando ela abre a boca para falar, o telefone toca e eu corro para
atender.
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— É só dizer uma palavra e eu mato o filho da puta. — É impossível
não sorrir ao ouvir as palavras de Rafael. Mesmo que eu não reconhe-
cesse sua voz, só ele começaria uma conversa assim.
Rafael é casado com Viviane há dois anos. Ela soube da notícia por-
que me ligou para contar a última proeza da Priscila, sua filha, bem na
hora em que eu descobri a traição do Maurício. Vivi foi a primeira pes-
soa para quem contei, porque eu estava soluçando tanto que não tinha
como esconder.
Não fiquei surpresa pelo Rafa saber. E não ficaria nem se toda a fa-
mília e os amigos já estivessem sabendo. Se tem algo que aprendi é que
aqui a gente conta mesmo tudo uns para os outros. É como se tivéssemos
um código secreto — quando acontece algo com um, todos precisam
ajudar. Pode parecer meio invasivo para quem não conhece essa dinâ-
mica, mas somos assim. Eu mesma só não fui à casa do Rafa, naquela
noite tensa anos atrás, porque meus filhos eram pequenos, mas todos
os outros foram para apoiar a Vivi.
Eu a conheço desde que éramos pequenas, porque nossas famílias
também são amigas, mas me aproximei do Rafael depois que eles se ca-
saram. O Rafa tem uma capacidade incrível de ler as pessoas, e captou
num piscar de olhos o que a morte tinha me causado. Ele não tem noção
nem da metade, mas eu o deixo pensar que tem. Eu era uma criança, e
muito do que sinto em relação à perda da minha mãe é pelo que eu ima-
gino que teria sido a vida com ela. Ele sabe como era a vida com a irmã
e os pais. Sabe exatamente o que foi tirado dele. Eu só tenho uma ideia.
Claro que isso não faz doer menos, porque eu sei que a minha vida teria
sido bem diferente se eu não tivesse perdido minha mãe tão cedo.
— Oi, Rafa — é tudo o que consigo responder enquanto Branca se
abana do outro lado da sala. Sorrio e sei que foi essa a intenção dela.
Só Deus sabe como Vivi aguenta essa doida fazendo tantas brincadeiras
sobre o marido dela e dizendo que ele é o mestre supremo da paudu-
recência.
— É só dizer. E pode ficar tranquila que a Vivi disse que aprova —
ele cita sua mulher e sua voz ganha um tom mais profundo.
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O amor desses dois sempre me fez suspirar. Até vê-los passar por tan-
tas dificuldades para ficar juntos, eu tinha colocado na cabeça que amor
assim só existia em livros, mas aí veio a vida e me jogou tudo na cara.
Há amor verdadeiro, sim. Eu é que nunca vivi um. Se o que eu tive
com o Maurício fosse verdadeiro, não teria terminado desse jeito, não
é? Ou estou sendo ingênua?
Talvez eu esteja mesmo. Maurício e eu tínhamos uma relação mor-
na. Era seguro estar com ele.
— Não precisa se envolver, tá? Eu vou resolver tudo — digo para
Rafael.
— Tem certeza?
— Tenho.
— A Vivi me disse que a Branca vai dormir aí. A gente tá aqui para
o que você precisar, Clara.
— Eu sei. Eu também. Mas... relaxa — digo a palavra que já se tornou
marca registrada do Rafa e ele ri.
— Ok. Se cuida. Beijo.
Ele desliga e Branca volta a me encarar. Ela suspira e levanta a gar-
rafa de tequila.
— Vou buscar os copos.
Branca vai e volta com copos, sal e limão. Além de sorvete, chocolate
e uma sacola lilás de papel.
Enquanto isso, vou ao banheiro. Passo pelo espelho sem olhar, cos-
tume adquirido desde... muito tempo atrás. Lavo as mãos, fecho a tor-
neira e sinto um desejo desconhecido de olhar para mim. Levanto a
cabeça e lá estou eu. A mulher traída. A mãe de dois meninos lindos. A
dona de casa. A filha que perdeu a mãe. Olho dentro dos meus olhos
perdidos. Castanhos. Meu rosto está vermelho, também pelo pranto de
horas. Pareço a rena do nariz vermelho. Bernardo implicava comigo
quando criança e me chamava de Rudolph.
Quero entender o que aconteceu. Suspiro e toco meu rosto rechon-
chudo. Eu me afasto um pouco e vejo meu corpo cheio, tão acima do
peso. Os cabelos castanhos escorridos, caindo sem corte até o meio das
costas.
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Estou em algum lugar daquela aparência, sem saber exatamente onde.
Mordo o lábio inferior, contendo as lágrimas. Quando isso aconteceu?
Quando deixei de reconhecer a pessoa que habita em meu reflexo? Há
muito tempo...
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BERNARDOAll I want is nothing more
To hear you knocking at my door
‘Cause if I could see your face once more
I could die as a happy man I’m sure.*
— Kodaline, “All I Want”
ACORDO E ME espreguiço. Sento na cama e olho para o relógio no criado- -mudo. Cinco da manhã.
Observo a estátua do Big Ben ao lado do abajur e suspiro, afastando o desejo de retornar para Londres. Há três anos voltei em definitivo, terminei a graduação em direito aqui e há poucos meses passei no exa-me da Ordem dos Advogados.
Mesmo cada vez mais estabelecido no Brasil, meus pensamentos recorrem a Londres como uma fuga. Balanço a cabeça. Não sou mais o cara que foge.
Dou um meio-sorriso ao perceber que meu corpo está desperto e ansioso por uma hora de corrida.
Correr me dá o ritmo, a constância e o equilíbrio de que preciso para o meu dia a dia. É o momento em que ajusto os pensamentos e coloco meus objetivos nos eixos. Treinar foi o que devolveu a minha paz.
* “Tudo o que eu quero não é nada além/ De ouvir você bater à minha porta/ Pois se eu pudesse ver o seu rosto só mais uma vez/ Poderia morrer um homem feliz, tenho certeza.”
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Vou para o banheiro e tomo uma chuveirada. Tenho uma reunião importante mais tarde e ainda preciso passar no escritório para discutir alguns tópicos com outros advogados.
Saio do banheiro sem roupa. Moro sozinho desde que voltei para o Brasil, e a única pessoa que dorme aqui de vez em quando é minha namorada, Juliana, que é promotora de eventos e está trabalhando no Rio de Janeiro pelos próximos dias.
Visto a roupa de treino e saio do apartamento. É bem cedo ainda, São Paulo começa a acordar. O ar gelado se choca contra meu corpo e inspiro profundamente. Por mais estranho que possa parecer para algu-mas pessoas, eu adoro tudo isso.
Há uma neblina úmida cobrindo a cidade, porém, segundo a meteo-rologia, hoje vai ser um dia quente. Mas quem pode afirmar com cer-teza? São Paulo é especialista em variação climática brusca.
Caminho rapidamente até o Parque do Ibirapuera e, assim que cru-zo a entrada, começo a correr.
Há algo me perturbando hoje e ainda não sei exatamente o que é. Não sou o tipo de cara que tem maus pressentimentos ou coisas do tipo, mas sinto que tudo está prestes a mudar.
Só que não há como tudo mudar. Há muito tempo aceitei a vida como ela é. Luto pelo que quero, mas não bato o pé nem esperneio se não consigo. Viro a página. Ou pelo menos tento virar. Mas nem sempre dá para esquecer o que eu já li. Inconformismo é coisa de moleque e, por mais que minha irmã adore implicar me chamando assim, deixei de ser um faz muito tempo.
O que eu quis quando era mais novo é coisa do passado, e agora, como homem, aprendi a seguir em frente. Sempre em frente.
O treino tem uma capacidade incrível de colocar meus pensamentos em ordem. Quando corro, enxergo tudo com mais clareza.
Sou prático. A vida é o que é e pronto. Ou sabemos lidar com isso ou nos desgastamos e deixamos de aproveitar o resto.
Depois de uma hora correndo, seja lá o que me incomodava acaba ficando para trás.
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Horas depois, ajeito a gravata, pronto para entrar na reunião. Trata-se de um cliente importante, e é a primeira vez que cuido de um caso des-ses. Meu pai confiou em mim e preciso estar totalmente concentrado.
Pego o celular e me preparo para desligá-lo, a fim de que nada tire minha atenção, quando ele começa a tocar. É Viviane, a pessoa que mais me conhece no mundo.
Viviane e seu irmão, Rodrigo, são meus amigos de infância. Até a adolescência, ele e eu éramos mais próximos, mas, quando o pai deles faleceu, Vivi e eu nos aproximamos mais a cada dia. Passamos por tanta coisa e moramos juntos durante dois anos em Londres, então nossos laços se fortaleceram ainda mais.
Estou parado em frente à sala de reuniões, onde todos já estão à mi-nha espera, mas é a Vivi, e eu nunca vou deixar de atender uma ligação dela.
— Oi, Vivi, tudo bem? — pergunto e, se estiver, já estou preparado para dizer que preciso desligar.
— Bê... — Ela faz um momento de silêncio, e, só de falar meu ape-lido, sei que tem algo por trás de seu tom preocupado. — Lembra aquilo que você vivia dizendo que nunca ia acontecer...? Aconteceu.
Sinto meu coração se contrair e parar no peito por um segundo antes de recomeçar a bater. Ela não precisa dizer mais nada. Suas palavras e sua voz só podem se referir a uma pessoa: Clara.