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DESAFIOS DO PLANEJAMENTO DA DEMANDA EM UM MERCADO
MOVIDO À INOVAÇÃO
Estudo de caso de um dos segmentos que mais cresce no setor de cosméticos
Bárbara Correia Maciel
Gabriela da Silva Ventura
Projeto de graduação apresentado ao Curso de
Engenharia de Produção da Escola Politécnica,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do
título de Engenheiro.
Orientador: Lino Guimarães Marujo
Rio de Janeiro
Março de 2018
iii
Maciel, Bárbara Correia
Ventura, Gabriela da Silva
Desafios do planejamento da demanda em um mercado
movido à inovação - Estudo de caso de um dos segmentos
que mais cresce no setor de cosméticos/ Bárbara Correia
Maciel, Gabriela da Silva Ventura – Rio de Janeiro/ Escola
Politécnica, 2018.
XI, 96 p.: il.; 29,7 cm
Orientador: Lino Guimarães Marujo
Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/
Curso de Engenharia de Produção, 2018.
Referências Bibliográficas: p. 93-96
1. Planejamento da demanda de produtos inovadores
2. Inovação no mercado atual 3. Mercado de cosméticos
I. Marujo, Lino Guimarães II. Universidade Federal do
Rio de Janeiro, UFRJ, Curso de Engenharia de Produção
III. Desafios do planejamento da demanda em um mercado
movido à inovação
iv
AGRADECIMENTOS
BÁRBARA MACIEL
Ao chegar no fim dessa trajetória, não poderia deixar de agradecer àqueles que
sempre estiveram do meu lado e que mais me apoiaram, mesmo nos momentos mais
difíceis: meus pais, Suzana e Gilberto. Obrigada por me darem todo o suporte, pelo
carinho de sempre, e por não terem me deixado desistir. Sem vocês por perto, eu
certamente não chegaria tão longe.
Obrigada a todos os amigos que tornaram essa jornada mais agradável, me deram
todo o apoio e compartilharam comigo dos momentos mais especiais. Dentre eles, um
agradecimento especial à minha dupla Gabriela que, muito mais do que uma parceira
de trabalho de final de curso, se tornou uma amiga para toda a vida.
À minha família, que sempre acreditou em mim e me impulsionou a fazer o melhor.
Um agradecimento especial à minha saudosa avó Maria, que sempre sonhou em ver a
sua neta engenheira e me deu todo o carinho do mundo enquanto esteve aqui.
Agradeço ao orientador Lino por toda a confiança no potencial deste trabalho, pelos
ensinamentos e pela paciência em todo o processo.
Por fim, obrigada a todos os professores e funcionários da Escola Politécnica da
UFRJ que contribuíram para a minha formação.
v
AGRADECIMENTOS
GABRIELA VENTURA
Primeiramente gostaria de agradecer aos grandes mestres que influenciaram a
minha escolha até aqui: ao professor Márcio, que na quinta série dizia que eu seria
engenheira e eu sempre acreditei; ao professor Rodrigo Villard, que despertou em mim
um deslumbramento pela matemática que carrego comigo até hoje; ao professor Guto,
que me tirava o sono com as questões impossíveis de geometria. Muito mais do que o
conteúdo que ensinavam, me inspiraram a descobrir o que eu realmente gostava de
fazer e facilitam o caminho.
Minha sincera gratidão aos meus pais, Silvia e Antônio, que me viam do tamanho
dos meus sonhos, dando tudo o que podiam pela minha educação. A minha avó, Sonia,
a quem eu agradeço o cuidado e carinho de todos esses anos e que até hoje é o meu
porto seguro. Ao meu padrasto, Jerry, pelo suporte dado na minha formação e às
minhas irmãs, Jeovana e Julia, que sempre acreditaram em mim.
Agradeço também aqueles que fizeram dessa jornada uma diversão, aos meus
amigos do bloco F, que levarei para a vida. Agradeço pelas conversas às 10h no
Anjinho, pelos almoços nas tias, pelas tardes de estudo regadas a risadas, mas também
cheias de conhecimento (“chegarás tarde, sairás tarde; chegarás cedo, mas não
saberás a hora que sairás”). Desde o primeiro trabalho de métodos em Cordovil
estivemos justos, passando por Irajá, Coelho Neto, Ramos até Rio Comprido. Sentirei
saudades.
Agradeço, em especial, pelo presente que o Fundão me deu, minha dupla nesse
trabalho, na “Lore” e na vida, Bárbara Maciel (famosa “Babs”). Muito mais que amiga
(friends) sou uma admiradora da profissional e pessoa incrível que você é. Ao nosso
orientador, Lino Marujo, que nos guiou brilhantemente na elaboração desse material,
que aqui se junta aos demais professores que marcaram esses cinco anos, em especial:
Antônio Meirelles, Jonas Knopman e Adriano Proença. Meus sinceros agradecimentos.
Por último, mas não menos importante, meus agradecimentos a Deus, pelas infinitas
possibilidades que nos oferece a cada dia, pelo potencial criativo que colocou em cada
um de nós, para realizarmos tudo aquilo que sonhamos. Como no dia de hoje, em que
um ciclo se fecha, conto com ele para todos os ciclos que ainda estão por vir.
vi
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte
dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção.
DESAFIOS DO PLANEJAMENTO DA DEMANDA EM UM MERCADO MOVIDO À
INOVAÇÃO
Estudo de caso de um dos segmentos que mais cresce no setor de cosméticos
Bárbara Correia Maciel
Gabriela da Silva Ventura
Março/2018
Orientador: Lino Guimarães Marujo
Curso: Engenharia de Produção
Em um contexto no qual a inovação possui papel cada vez mais relevante como
diferencial competitivo na realidade estratégica das empresas, o processo de
planejamento da demanda aparece como fator crítico para o correto dimensionamento
e o futuro sucesso de um produto ou serviço inovador. Assim, o presente estudo busca
compreender o processo de lançamento de produtos inovadores no mercado, bem como
o conceito de inovação em si, entendendo como uma organização pode se estruturar
para aprimorar sua cadeia e se tornar mais adaptável a um mercado tão volátil e
dinâmico.
Palavras-chave: Planejamento da Demanda, Inovação, Lançamento, Estratégia,
Marketing, Cadeia de Suprimentos
vii
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of
the requirements for the degree of Industrial Engineer.
DEMAND PLANNING CHALLENGES IN A INNOVATION DRIVEN MARKET
Case study of one of the fastest growing segments in the cosmetics industry
Bárbara Correia Maciel
Gabriela da Silva Ventura
Março/2018
Advisor: Lino Guimarães Marujo
Course: Industrial Engineering
In a context which innovation plays an increasingly important role as a competitive
differential in the strategic reality of most companies, the demand planning process
appears as a critical factor for the correct design and future success of an innovative
product or service. Thus, the present study seeks to understand the process of launching
innovative products in the market, as well as the concept of innovation itself,
understanding how an organization can structure itself to improve its chain and become
more adaptable to such a volatile and dynamic market.
Keywords: Demand Planning, Innovation, Launch, Strategy, Marketing, Supply Chain
viii
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 12
1.1. MOTIVAÇÃO ................................................................................................ 12
1.2. OBJETIVOS GERAIS ................................................................................... 12
1.3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................... 13
1.4. METODOLOGIA ........................................................................................... 13
2. PANORAMA ATUAL DO MERCADO ................................................................. 14
2.1. A IMPORTÂNCIA DA INOVAÇÃO ................................................................ 14
2.2. EM QUE CONSISTE UMA INOVAÇÃO? ...................................................... 15
2.2.1. Inovação disruptiva ............................................................................. 18
2.2.2. Inovação incremental .......................................................................... 20
2.3. A CADEIA DE SUPRIMENTOS E OS PRODUTOS INOVADORES ............. 22
3. PLANEJAMENTO DA DEMANDA ...................................................................... 27
3.1. DEFINIÇÃO .................................................................................................. 27
3.2. PRINCIPAIS MÉTODOS .............................................................................. 32
3.2.1. Quantitativos ........................................................................................ 32
3.2.2. Qualitativos .......................................................................................... 33
3.3. PRINCIPAIS INDICADORES ........................................................................ 36
3.3.1. Assertividade da previsão .................................................................. 36
3.3.2. Ruptura de fornecimento .................................................................... 38
3.3.3. Giro lento e estoque obsoleto ............................................................ 39
4. ESTUDO DE CASO ............................................................................................ 41
4.1. EMPRESA ESCOLHIDA............................................................................... 41
4.2. TENDÊNCIAS ATUAIS DO SEGMENTO ..................................................... 44
4.3. A INOVAÇÃO COMO PILAR DO NEGÓCIO ................................................ 49
4.4. CONTEXTO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS ............................................. 51
4.5. UNIDADE DE NEGÓCIO ANALISADA ......................................................... 56
4.6. PRODUTO ESCOLHIDO .............................................................................. 58
4.6.1. Concepção do produto........................................................................ 58
4.6.2. Análise da concorrência ..................................................................... 62
4.7. ESTRATÉGIA DE LANÇAMENTO ............................................................... 66
4.8. MÉTODO DE PREVISÃO UTILIZADO ......................................................... 69
4.9. RESULTADOS ............................................................................................. 74
4.10. PROPOSTAS, IDENTIFICAÇÃO DE PROBLEMAS E SOLUÇÕES .......... 78
4.10.1. Desenvolvimento operacional versus janela de lançamentos ......... 78
4.10.2. Scorecard estratégico ......................................................................... 79
ix
4.10.3. Análise de cenários ............................................................................. 83
4.10.4. Priorização de clientes ........................................................................ 85
4.10.5. Estratégias de escoamento ................................................................ 86
4.10.6. Racional para tradução em abordagem quantitativa ........................ 87
4.11. PLANO DE AÇÃO ..................................................................................... 90
5. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 91
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 93
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Ciclo de vida de produto inovador ................................................................ 16
Figura 2: Criação e entrega de valor ........................................................................... 18
Figura 3: Sistema dinâmico das organizações ............................................................ 21
Figura 4: Matriz de compatibilidade entre tipo de produto e cadeia de suprimentos ... 25
Figura 5: Matriz do tipo de tecnologia de produto relacionada à inserção no mercado 27
Figura 6: Esquema do processo de S&OP .................................................................. 28
Figura 7: Esquema do processo de planejamento da demanda em operações .......... 29
Figura 8: Métodos de previsão de demanda ............................................................... 31
Figura 9: Processo padrão detalhado de planejamento da demanda .......................... 32
Figura 10: Efeito chicote ............................................................................................. 37
Figura 11: Nível de serviço logístico ........................................................................... 39
Figura 12: Tipos de estoque ....................................................................................... 41
Figura 13: Faturamento por unidade estratégica de negócio ...................................... 43
Figura 14: Crescimento do mercado mundial de cosméticos ...................................... 45
Figura 15: Preocupação dos brasileiros a respeito dos cuidados com a pele ............. 48
Figura 16: Consumo de produtos cosméticos para a pele .......................................... 48
Figura 17: Nível de serviço por divisão de negócio ..................................................... 54
Figura 18: Fluxograma simplificado da cadeia de suprimentos ................................... 55
Figura 19: Resumo do modelo VRIO .......................................................................... 61
Figura 20: Modelo VRIO aplicado ............................................................................... 61
Figura 21: Principais concorrentes do produto analisado ............................................ 63
Figura 22: Quality Function Deployment ..................................................................... 65
Figura 24: Comparação entre produtos da mesma marca .......................................... 71
Figura 25: Previsão e venda realizada do lançamento ................................................ 72
Figura 26: Alteração na previsão de vendas mês a mês ............................................. 73
Figura 27: Faturamento do lançamento em relação à categoria ................................. 74
Figura 28: Comparação da previsão com o faturado realizado pela categoria como um
todo ............................................................................................................................ 75
Figura 29: Comparação da previsão com o faturado realizado do lançamento ........... 76
Figura 30: Previsão de vendas realizada e dispersão do erro ..................................... 77
Figura 31: Estoque e nível de serviço ......................................................................... 78
Figura 32: Scorecard estratégico - custos operacionais .............................................. 81
Figura 33: Scorecard estratégico - complexidade operacional .................................... 82
Figura 34: Scorecard estratégico - mercado consumidor ............................................ 83
Figura 35: Exemplo de racional construído para previsão de vendas ......................... 88
Figura 36: Previsão de vendas recalculada do Produto S ........................................... 89
Figura 37: Previsão recalculada x Previsão real ......................................................... 90
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Principais diferenças entre categorias de produtos ..................................... 23
Tabela 2: Diferenças entre cadeia de suprimentos eficiente em custos e responsiva . 24
Tabela 3: Aspectos das abordagens qualitativa e quantitativa .................................... 31
Tabela 4: Mercado de cosméticos por zona geográfica .............................................. 45
Tabela 5: Mercado por categoria de produto .............................................................. 47
Tabela 6: Configuração das linhas e volume produzido por fábrica ............................ 52
Tabela 7: Principais diferenças entre as subcategorias .............................................. 57
Tabela 8: Descrição sobre os critérios adotados para comparação das subcategorias
................................................................................................................................... 57
Tabela 9: Quadro padrão para análise de vulnerabilidade do lançamento .................. 59
Tabela 10: Avaliação do Produto S em termos de vulnerabilidade.............................. 59
Tabela 11: Semelhanças e diferenças entre os concorrentes ..................................... 70
12
1. INTRODUÇÃO
1.1. MOTIVAÇÃO
Ponto de partida para decisões tanto de cunho estratégico a longo prazo quanto
operacional, a previsão acerca do quanto será a demanda dos clientes no futuro
possibilita a utilização eficiente da capacidade produtiva de uma cadeia. Independente
do modelo de produção adotado, uma previsão de vendas assertiva é capaz de reduzir
o tempo de reação, evitar perdas de vendas e diminuir os estoques. Valores acurados
e acertados entre todos os stakeholders envolvidos em um processo produtivo é
fundamental para que sejam dimensionados corretamente os aspectos relativos à
produção e à estruturação da cadeia de suprimentos.
Nesse contexto, torna-se ainda mais crítico interpretar a demanda de produtos sem
base histórica, visto que a probabilidade de que haja erros nesse processo é maior.
Mesmo para grandes empresas e multinacionais, nas quais já há o uso de softwares e
modelagens estatísticas sofisticadas para os produtos regulares, a previsão de
demanda para os lançamentos ainda apresenta fortes lacunas em matéria de acurácia,
acarretando diversos problemas que atingem tanto os resultados do negócio quanto das
operações. Em um mercado cada vez mais movido à inovação, a otimização do
processo de planejamento da demanda para novos produtos é uma evidente vantagem
competitiva.
Assim, verificou-se a oportunidade de aprofundar o estudo nesse sentido,
entendendo os principais fatores que constroem a previsão de demanda de um
lançamento e como esse tipo de planejamento impacta a cadeia de suprimentos como
um todo.
1.2. OBJETIVOS GERAIS
Como objetivos gerais do presente estudo, busca-se entender melhor o papel do
planejamento da demanda dentro da realidade operacional e estratégica nas empresas,
analisando seus principais impactos, áreas envolvidas, métodos mais comuns utilizados
e desafios enfrentados. Além disso, procura-se atingir uma maior compreensão do
processo de planejamento de produtos inovadores como um todo, definindo e
categorizando os principais tipos de inovação e entendendo como uma organização
pode se estruturar para aprimorar sua cadeia e se tornar adaptável à consolidação de
lançamentos no mercado.
13
1.3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Especificamente, objetiva-se entender o panorama do planejamento da demanda,
da concepção de marketing e da realidade operacional de lançamentos dentro de uma
empresa escolhida para a realização de estudo de caso, tendo como base análises
decorrentes do cenário atual do mercado no qual ela está inserida. Assim, busca-se o
estudo mais profundo a respeito de um produto inovador recente considerado
estratégico para o portfólio da organização, entendendo como foi realizado seu
dimensionamento de mercado, quais expectativas foram traçadas, que números iniciais
foram calculados e os resultados que foram atingidos, identificando pontos de
alavancagem e propondo melhorias no processo estudado.
1.4. METODOLOGIA
O presente estudo está dividido em introdução, conclusão e três capítulos de
desenvolvimento. Para abordar o tema foi desenvolvida uma pesquisa do tipo
exploratória, com uso de ferramentas de cunho tanto quantitativo quanto qualitativo,
além de um estudo de caso dentro de uma multinacional do setor de cosméticos.
A pesquisa qualitativa se caracteriza, segundo Gerhardt e Silveira (2009), por não
se preocupar com representatividade numérica, mas sim, com o aprofundamento da
compreensão de um grupo social, de uma organização, proporcionando uma melhor
visão e compreensão do contexto do problema. Ainda sobre esse tipo de pesquisa,
Raupp e Beuren (2003) acrescentam que ela descreve a complexidade de um problema,
analisando, compreendendo e classificando as variáveis com os processos dinâmicos
ocorridos, sendo profunda a forma de tratar o fenômeno estudado.
Por outro lado, a pesquisa quantitativa emprega um instrumento estatístico como
base de análise do processo, seja na coleta ou no tratamento dos dados. A pesquisa
quantitativa possui uma maior preocupação com comportamento dos acontecimentos.
Este tipo de pesquisa, para Malhotra (2004) “procura quantificar os dados e,
normalmente, aplica alguma forma de análise estatística”, e se centra na objetividade.
A pesquisa realizada nesse estudo, de caráter, quantitativo-qualitativa se utiliza das
naturezas das outras duas pesquisas citadas anteriormente, ora predominando um tipo,
ora outro, conforme a forma de análise do objeto.
Uma pesquisa do tipo exploratória, por sua vez, consiste em levantamentos
bibliográficos, citações e exemplos que buscam promover o entendimento de
determinado assunto, que pode ser embasado em um estudo de caso, entrevistas com
14
indivíduos considerados referência no assunto ou em pesquisas bibliográficas. Durante
o presente estudo, utilizou-se a pesquisa do tipo exploratória, baseando-se em
pesquisas bibliográficas e nos dados obtidos por meio do estudo de caso.
Para compor o estudo de caso, fez-se uso de dados numéricos e qualitativos obtidos
no campo por parte da própria empresa analisada, combinando-os com análises
relativas ao cenário atual do mercado e estruturando soluções de caráter qualitativo e
quantitativo. Os cálculos e projeções realizados tiveram como ponto de partida as
pesquisas e dados coletados pelos membros da empresa, combinados com o
embasamento teórico e as análises provenientes deste estudo.
2. PANORAMA ATUAL DO MERCADO
2.1. A IMPORTÂNCIA DA INOVAÇÃO
Atualmente, as empresas encontram-se inseridas em um ambiente competitivo cada
vez mais dinâmico. Nesse cenário, o lançamento de novos produtos e a evolução de
linhas já existentes tornou-se peça chave não só no mecanismo de diferenciação em
relação aos concorrentes e estabelecimento de vantagens competitivas claras, mas
também na própria obtenção de um bom desempenho no mercado como um todo. De
acordo com Kotler (1998), o desenvolvimento contínuo de produtos novos é a chave
para a sobrevivência. Utterback (1996) identifica a inovação como determinante central
do sucesso ou fracasso a longo prazo para as empresas de manufatura. Já Clark e
Wheelwright (1993) afirmam que, em um mundo de competição a nível internacional,
com um mercado consumidor sofisticado e um enorme leque tecnologias
frequentemente dramáticas em seus efeitos, as empresas que se encontram
paralisadas em termos de desenvolvimento de produtos não são capazes de prosperar
ou até mesmo de sobreviver.
O ambiente atual, portanto, requer o rápido de desenvolvimento de tecnologias de
produto e de processos, o que leva as empresas à procura pela redução do tempo de
desenvolvimento de produtos e pelo aumento da produtividade em suas pesquisas,
direcionando recursos para tornar o processo de lançamentos robusto frente à sua
concorrência. De acordo com Doll e Vonderembse (1991), o sucesso nesse ambiente
de rápido desenvolvimento de tecnologias, de avanços na tecnologia da informação e
de competição a nível global depende tanto da capacidade de antecipação aos
mercados quanto de respostas rápidas e eficientes com produtos que proporcionem alto
valor a seus consumidores.
15
No entanto, os riscos inerentes à introdução de uma inovação no mercado são muito
altos. Se por um lado há o potencial de obter ganhos financeiros expressivos e market
share definitivo quando se trata de um lançamento bem-sucedido, por outro há a
possibilidade de fracasso na absorção do produto ou serviço pelo mercado, que pode
rapidamente transformar os investimentos aplicados em custos afundados. É cada vez
mais comum observar indústrias de diversos setores que retiram seus produtos de linha
pouco tempo após de seu lançamento no mercado.
Esse contingente de lançamentos mal-sucedidos pode ser resultado de falhas de
concepção dos produtos, pautando-se em visões equivocadas a respeito do mercado
ou do que este espera das empresas. Isso se deve ao fato de que, por mais refinados
que sejam os processos de pesquisa e inovação conduzidos pelas organizações, a
capacidade de inferência acerca dos comportamentos do consumidor em relação às
suas necessidades e em relação à concorrência é limitada. Os investimentos, então,
passam a ser direcionados de forma a obter retornos muito aquém do esperado. Kotler
(1998) afirma que esse fracasso no lançamento de produtos pode levar a uma redução
do período de sucesso dos produtos pela rapidez com que os concorrentes passam a
imitá-los.
Portanto, faz-se necessário entender de que forma é gerenciado o processo de
desenvolvimento de produtos nas organizações atuais, analisando suas principais
dificuldades e mensurando os impactos que um lançamento pode ter na estrutura de
um negócio.
2.2. EM QUE CONSISTE UMA INOVAÇÃO?
O conceito de inovação é amplamente utilizado no contexto empresarial, ambiental
e econômico. Nesse sentido, o ato de inovar significa a necessidade de criar caminhos
ou estratégias diferentes aos meios habituais de se atingir determinado objetivo. Inovar
é, portanto, inventar: sejam ideias, processos, ferramentas ou serviços.
A ideia de inovação, no entanto, não deve ser restrita apenas à invenção de novos
produtos, serviços ou tecnologias, mas também ao valor ou conceito de determinado
fator ou tarefa, como o modo de organizar uma empresa, por exemplo. Atualmente, a
inovação pode ser considerada um sinônimo de adaptação e, para que as empresas
possam obter resultados e continuar na busca por vantagens competitivas, as inovações
são essenciais para que possam se moldar às mudanças que acontecem nas estruturas
sociais e econômicas.
16
O processo de trazer novos produtos ou processos ao mercado é descrito por Clark
e Wheelwright (1993), que definem as etapas nesse fluxo como a transformação de
ideias e conceitos em protótipos (por meio de um projeto de engenharia), o teste e
refinamento desses protótipos e a preparação e entrega do projeto formulado para a
operação comercial ou industrial. Além disso, o lançamento de um novo produto, seja
ele uma ideia totalmente original, a implementação de uma nova tecnologia ou a
adaptação a uma demanda ou necessidade do mercado, está necessariamente
associado a um ciclo de vida. Tal ciclo possui quatro fases distintas: introdução,
crescimento, maturidade e declínio.
Figura 1: Ciclo de vida de produto inovador Fonte: Ciclo de vida de produtos e serviços1
O gráfico acima ilustra como a entrada de um novo produto no mercado evolui com
o tempo, em um comportamento considerado padrão para uma vasta gama de produtos.
Primeiramente, existe a fase de introdução no mercado, cujo objetivo é gerar
experimentação. Segundo Slack et. al (2009), na fase de introdução o volume de vendas
é baixo, as mudanças no projeto são muito frequentes e há poucos concorrentes ativos.
Essa fase é seguida pelo crescimento, que consiste em um período de crescimento
rápido das vendas e da concorrência, abrindo espaço para a imitação e para a
padronização do produto. Após esse período, segue-se um período de maturação, ou
estabilização, em que as vendas se mantêm em um volume alto e estável, com
concorrentes bem definidos e alguns tipos dominantes dentro do mesmo projeto. O
processo é finalizado em um rápido declínio, causado pela saturação do mercado, pela
massificação do produto ou pelo lançamento de um item considerado superior.
1 Disponível em: https://www.brandme.com.br/2-ciclo-vida/. Acesso em junho, 2017.
17
A fase inicial do processo, no entanto, pode ocorrer em um ciclo anterior ao
lançamento do produto em si, que consiste no processo de desenvolvimento por meio
da pesquisa. Essa fase não se encerra necessariamente quanto o produto ou serviço
atinge seus consumidores finais, mas também pode abranger o comportamento pós-
venda e até mesmo o gerenciamento da logística reversa. Ao longo do seu ciclo de vida,
um produto é passível de sofrer diversas mudanças em seu projeto, acrescentando
novas funções ou mudanças incrementais e aprimorando suas características. No
entanto, aos poucos, a tendência é que sejam selecionadas algumas características que
mais se adequam ao produto e às necessidades do mercado, constituindo o que pode
ser chamado de projeto dominante. Segundo Utterback (1996), o surgimento desse
projeto é resultado direto das interações entre as opções técnicas e as preferências do
mercado ao longo de um intervalo de tempo.
O cenário competitivo atual posiciona a variável de tempo de lançamento de novos
produtos como crítica ao bom desempenho das organizações. Além de representar uma
vantagem inicial clara em relação à concorrência, tornar-se pioneiro em um lançamento
pode traçar definitivamente os rumos dos desenvolvimentos futuros que vão levar a um
projeto dominante.
Também é possível analisar o processo de desenvolvimento de produtos sob a ótica
de uma concepção de Marketing, que evidencia a criação de valor. Segundo Kotler
(1998), qualquer negócio visa entregar valor ao mercado e obter lucro. Duas visões de
processo de entrega de valor podem ser identificadas nesse sentido: uma tradicional,
que foca apenas na fabricação de algo e na venda (production-push, por meio da qual
as empresas adotam uma postura de empurrar os seus produtos ao mercado) e em uma
visão nova, que coloca o marketing como fundamental ao início do processo de
planejamento, e não apenas na fase pós-fabricação.
Em um mercado competitivo como o atual, a visão tradicional mostra-se obsoleta.
Em vez do enfoque puro na entrega do produto a mercado por si só, é necessária uma
sofisticação nas empresas ao se compreender como parte de uma sequência de criação
e de entrega de valor, envolvendo fases como a escolha inicial do valor, a entrega ao
mercado-alvo e a sua comunicação, o que requer, inicialmente, ações estratégicas de
marketing e finalmente, ações táticas de marketing.
18
Figura 2: Criação e entrega de valor Fonte: Lanning & Michaels, citados por Kotler (1998)
Essa nova visão, portanto, consiste em uma abordagem demand-pull, que considera
as forças do mercado como determinantes para o lançamento de novos produtos.
Assim, dentro da lógica da entrega de valor, o desenvolvimento de produtos consiste na
primeira etapa na fase para alcançar os mercados-alvo. Esse processo é construído de
forma distinta e depende de características particulares a cada organização. Torna-se
evidente, portanto, a importância que o processo de lançamentos e de implementação
de inovações tem em um patamar estratégico dentro de uma empresa.
Nesse sentido, pode-se até mesmo perceber uma tendência no mercado no sentido
de mudar o seu discurso institucional, de forma a orientar-se inteiramente pela
satisfação dos clientes. Ao desenvolver-se um produto, as transformações caminham
em um sentido orientado pelo mercado (salvo alguns casos extremamente específicos).
Mesmo em oligopólios, como afirma Carvalho (2000), como o caso de mercado de
resinas e de compostos de polímeros, no qual predomina o poder dos fornecedores
sobre os compradores, houve uma melhoria expressiva na satisfação das necessidades
dos clientes e na percepção das empresas de que era necessário atingir cada vez mais
esse objetivo para tornar-se bem-sucedido no mercado.
Pode-se perceber, portanto, que a concepção a respeito da inovação e da
comunicação com os consumidores atualmente tem ido muito além da simples
promoção de vendas e da propaganda, ou da mentalidade que “empurra” os novos
conceitos desenvolvidos dentro das organizações para um distante mercado
consumidor. A tendência atual é de aproximação, fomentando um processo de inovação
pautado na escolha de valor e culminando em projetos focados no posicionamento
desse valor no mercado-alvo. Dessa forma, a inovação é comunicada de forma mais
próxima, mais palpável aos clientes, e consiste em peça chave para o sucesso e a
diferenciação competitiva dentro do cenário atual.
2.2.1. Inovação disruptiva
19
Dentro do conceito de inovação, é possível identificar uma categoria de produtos e
serviços que possuem características comuns em seu processo de desenvolvimento e
consolidação. Assim, é possível definir como produtos de inovação disruptiva aqueles
que são muito superiores aos concorrentes do mesmo segmento, sendo diferenciados
por tecnologia, ou aqueles que abrem um mercado totalmente novo, atendendo a uma
necessidade que ainda não era mapeada.
O surgimento desses produtos costuma gerar a descontinuação de versões
anteriores e de toda a cadeia relacionada. Esse tipo de inovação muda drasticamente o
mercado e a maneira como as pessoas vivem, dando origem a novos modelos de
negócio e apresentando soluções mais eficientes do que as existentes até o momento.
Em outras palavras, a inovação disruptiva ocasiona a ruptura de um antigo modelo de
negócio e altera as bases de competição existentes.
De acordo com Adner (2002) a tecnologia disruptiva ocorre quando ela consegue
substituir a tecnologia massificada anterior. Inicialmente, é comum que ela possa até
ser vista como algo de menor desempenho em comparação com o que é oferecido no
mercado ou até mesmo julgada inconcebível pelos possíveis clientes. A longo prazo, no
entanto, o potencial de uma inovação disruptiva pode até mesmo tornar algumas
profissões extintas ou criar novas funções. Nesse sentido, Christensen (2003) afirma
que tecnologias disruptivas são capazes de mudar a proposição de valor dominante em
um mercado.
Um bom exemplo atual de inovação disruptiva foi o uso das plataformas de
streaming de música, filmes e séries (como Spotify e Netflix), que reduziram
consideravelmente o uso dos meios anteriores como compra de CDs, download de
músicas e filmes e até mesmo eliminaram em sua totalidade o uso de outros meios
como o aluguel de filmes em locadoras.
Essa categoria de lançamentos é a que apresenta maiores riscos em relação aos
investimentos, visto que é mais difícil prever o valor efetivamente percebido pelos
consumidores. Por se tratarem de produtos de natureza pouco previsível, torna-se mais
complexo dimensionar os reais efeitos que terão no mercado, o que pode rapidamente
levar os investimentos a se tornarem super ou subdimensionados. Quando o benefício
introduzido no mercado não consegue se mostrar decisivo na hora da compra, não
compensando os custos, a inovação perde o sentido.
De acordo com Christensen (2003), as principais explicações para as dificuldades
de adaptação das organizações devido ao surgimento de uma inovação disruptiva no
mercado podem ser resumidas como:
20
• A relação inicial pouco clara e, consequentemente, pouco atraente em
matéria de custo-benefício;
• A dificuldade de adaptar e flexibilizar a tecnologia disruptiva;
• O embasamento das decisões estratégicas apenas na cadeia de valor e no
mercado atuais, sem visibilidade do cenário pós-inovação;
• Os riscos e incertezas inerentes ao projeto, que acabam desencorajando
gestores e investidores.
Assim, é possível perceber que as empresas devem direcionar especial atenção ao
lidar com inovações de caráter disruptivo, visto seu potencial de modificar tanto o
funcionamento interno de uma organização quanto a proposição de valor em um
mercado como um todo.
2.2.2. Inovação incremental
Em outro âmbito, alguns produtos são classificados de acordo com o conceito de
inovação incremental. Estes buscam apresentar alguns benefícios adicionais em
relação a versões anteriores. Por vezes essa a mudança consegue ampliar a demanda
do produto ou simplesmente agregar vantagens competitivas em relação aos
concorrentes diretos e indiretos.
Esse tipo de inovação é mais comum do que o caso disruptivo, já que não precisa
de grandes saltos tecnológicos: as mudanças geralmente são motivadas por pesquisas
com consumidores ou testes para aperfeiçoar a experiência de uso.
A inovação incremental, em grande parte dos casos, busca gerar necessidade de
compra: ou seja, visa a moldar o pensamento de seu mercado consumidor alvo para
entender que um determinado atributo é necessário ao seu dia a dia para solucionar
algum tipo de problema ou suprir alguma lacuna pré-existente. É evidente o poder de
criação desse tipo de necessidades por parte das empresas, especialmente ao
considerar seu funcionamento junto ao mercado como um sistema dinâmico e aberto.
Nesse sentido, as organizações podem ser vistas como um conjunto de elementos
dependentes do fluxo de informações do ambiente externo (mercado consumidor),
necessitando de seus recursos e da absorção de seus produtos por parte do mercado,
ajustando, assim, seu ambiente interno para suprir essas necessidades e funcionar de
acordo com a demanda.
21
Figura 3: Sistema dinâmico das organizações Fonte: Adaptado de Katz & Khan (1987)
Uma inovação incremental, portanto, pode tanto ser natural e decorrente de estudos
que identificam necessidades de mercado, quanto ser criada aos consumidores por
meio de ações que fomentam a existência de um problema antes não percebido. De
forma mais extrema, essas inovações podem até ser impostas ao mercado, como é o
caso da obsolescência programada, que força os consumidores a apostar em um
produto ou serviço novo sem entender devidamente a necessidade que vem atrelada a
ele.
Como exemplo de inovação incremental é possível citar os celulares à prova d’água,
que apresentam claros benefícios ao consumidor (especialmente para grupos focados
em esportes e viagens), mas não estão entre um dos principais motivadores de compra
de um consumidor comum. Essa tecnologia, adaptada de relógios e câmeras
fotográficas, aumentou a vantagem competitiva para um mercado específico, mas não
mudou drasticamente a maneira como as pessoas usam o celular, ou o papel que o
mesmo desempenha no cotidiano.
Por esse motivo, o desempenho dessa gama de produtos está diretamente
relacionado à criação de necessidade, ou apelo de marketing, geralmente
implementado por grandes marcas com alto poder de investimento. Os ciclos de vida
desses produtos são curtos e facilmente copiados pela concorrência. Dessa forma, as
inovações devem ser formuladas de modo a acompanhar a volatilidade e flexibilidade
do mercado. Como principal exemplo de setores onde predomina tal tipo de inovação,
podem ser citados os mercados de tecnologia, automobilístico e beleza, que fazem
lançamentos de linhas ou incrementos em periodicidades regulares, anuais ou até
semestrais.
22
2.3. A CADEIA DE SUPRIMENTOS E OS PRODUTOS INOVADORES
Em um contexto no qual se tornam cada vez mais frequentes e relevantes os
produtos que consistem em inovações (sejam elas disruptivas ou incrementais), é
fundamental entender como adequar a realidade operacional das organizações para
atender às aspirações estratégicas e de marketing.
Atualmente, a tecnologia tem sido aplicada de forma a cada vez mais aprimorar a
performance dentro da cadeia de suprimentos como um todo. O fluxo eletrônico de
dados permite que todas as etapas dentro de uma cadeia se comuniquem e sejam mais
reativas, possibilitando a implantação de manufaturas flexíveis, armazenamento
automatizado e velocidade em logística. As respostas aos consumidores nunca tiveram
a possibilidade de serem tão rápidas, massivas e assertivas.
Paradoxalmente, no entanto, a performance de grande parte das cadeias de
suprimentos nas organizações atuais tem se mantido muito aquém do esperado em
meio a tal cenário de acelerado desenvolvimento tecnológico. A maior parte das
indústrias atuais oscila entre dois extremos, sofrendo com faltas expressivas de alguns
produtos e excessos de produção de outros. Há um desbalanceamento das
necessidades de fabricação devido à falta de acuracidade da previsão da demanda, que
se agrava quando os produtos são de natureza pouco conhecida ou totalmente
inovadora no mercado. Grande parte dos executivos apresenta dificuldade em mapear
quais as reais prioridades de seu negócio de acordo com a natureza da demanda.
Assim, é comum que toda a cadeia de suprimentos seja balizada de acordo com
parâmetros incorretos e expectativas deslocadas em relação à realidade.
Uma primeira classificação que leva a entender a natureza da demanda consiste em
identificar se a base de um determinado produto ou serviço é funcional ou inovadora.
Produtos funcionais são aqueles que satisfazem as necessidades básicas do dia a dia:
são produtos cruzeiro, estáveis, geralmente com margem de lucro e performance
conhecida no mercado. Já produtos inovadores consistem em uma nova proposta para
o mercado (que pode ser totalmente disruptiva ou apenas incremental), possuindo
margens mais altas, porém maior imprevisibilidade, variabilidade e riscos atrelados.
Para cada um desses tipos, existe uma cadeia de suprimentos que se adequa melhor.
As principais diferenças entre as duas categorias de produtos são ilustradas no quadro
abaixo:
23
Tabela 1: Principais diferenças entre categorias de produtos
Fonte: Adaptado de FISHER (1997)
Para produtos funcionais (ou cruzeiro), pode-se perceber que geralmente há um
melhor balanceamento entre demanda e planejamento de produção, o que permite às
empresas que se foquem quase que exclusivamente na otimização para redução de
custos operacionais. Dessa forma, é possível organizar a produção de modo a seguir
um cronograma específico de acordo com softwares de MRP (Manufacturing Resource
Planning), conciliando ordem de produção, fabricação e entrega, mantendo o inventário
em um patamar saudável e maximizando a eficiência da cadeia. O fluxo de informações
entre fornecedores, produtores e distribuidores é essencial para coordenar suas
atividades de modo a atender a demanda previsível ao menor custo.
Essa abordagem, no entanto, deve ser totalmente diferente para o caso de produtos
inovadores. A incerteza quanto à reação do mercado à inovação aumenta
consideravelmente o risco de rupturas de fornecimento ou de excessos de estoque. As
elevadas margens de lucro, apostas de investidores e a importância das vendas iniciais
para estabelecer o mercado aumenta o custo real das faltas de estoque. Por outro lado,
os ciclos de vida mais curtos aumentam o risco de obsolescência e os gastos com
manutenção de estoque extra.
É fundamental, portanto, que se consiga reagir rápido. O mais importante nesse
cenário é o fluxo de informações que mostra os primeiros números de venda e os sinais
do mercado como resposta ao produto, não apenas dentro da cadeia de suprimentos
como para os produtos cruzeiro, mas sim do mercado consumidor para a organização
como um todo. As decisões críticas no âmbito de estoques e capacidade não dizem
24
respeito, portanto, à minimização de custos, mas sim a respeito de onde posicionar os
estoques e como balizar a produção de forma a reagir a tempo à demanda incerta.
Fornecedores devem ser escolhidos pela sua rapidez e flexibilidade, por exemplo, e não
somente pelo preço. Abaixo é possível visualizar as principais diferenças em relação a
decisões chave tomadas em cada tipo de cadeia de suprimentos.
Tabela 2: Diferenças entre cadeia de suprimentos eficiente em custos e responsiva
Fonte: Adaptado de FISHER (1997)
Para assegurar-se de que estão sendo tomadas as medidas corretas em matéria de
dimensionamento operacional, é imprescindível para as organizações a compreensão
da natureza de seu portfólio de produtos. Os itens de comportamento imprevisível e de
características diferenciadas no mercado devem ser tratados de acordo com a
abordagem responsiva, enquanto aqueles para os quais se conhece a curva da
demanda e que tem relativa estabilidade em seu posicionamento devem ser balizados
de acordo com a lógica de otimização em custos.
Dessa forma, para cada tipo de produto há uma cadeia de suprimentos mais
adequada, seja ela responsiva ou eficiente em custos. Ao posicionar os produtos em
uma matriz de comparação entre natureza da demanda e características da cadeia de
suprimentos, é possível perceber que há regiões de combinação ideal, conforme gráfico
a seguir. A maior parte das empresas eventualmente encontra-se no primeiro quadrante,
o que significa que operam com uma cadeia de suprimentos eficiente para produtos
25
inovadores. No entanto, cabe ressaltar que, para qualquer empresa com produtos
inovadores, os retornos sobre os investimentos em responsividade da cadeia são muito
maiores do que aqueles em eficiência.
Figura 4: Matriz de compatibilidade entre tipo de produto e cadeia de suprimentos
Fonte: Adaptado de FISHER (1997)
De acordo com Fisher (1997), para cada dólar que uma empresa nesse cenário
investe em aumentar a responsividade da cadeia, isso geralmente impacta em um
decréscimo de mais de um dólar em custos com rupturas de fornecimento e
gerenciamento de obsoletos. Para um produto inovador típico, com margens de
contribuição2 que oscilam em 40% e um nível de ruptura de em média 25%, a perda em
lucro e em aumento de despesas por conta de rupturas de fornecimento isolada é muito
expressiva (40% x 25% = 10%), representando 10% das vendas, um montante que
supera o lucro antes de impostos.
Assim, percebe-se que o ganho financeiro de reduzir as rupturas e excesso de
estoque é tão alto que os investimentos em responsividade da cadeia, para o caso de
produtos inovadores, representa um retorno expressivo. Esse fato, no entanto, tem sido
descoberto aos poucos pela maior parte das empresas. A mesma lógica, no entanto,
não se aplica aos produtos funcionais: para uma margem de contribuição de 10% e uma
2 A margem de contribuição é o preço menos os custos variáveis, dividido pelo preço e é expressa em %. esse tipo de margem ilustra o aumento nos lucros decorrente do aumento de vendas que resulta em menos rupturas e é uma boa forma de rastrear melhorias no gerenciamento de estoques.
26
média baixa de ruptura de 1%, a contribuição perdida em matéria de lucros e de
despesas totais representa apenas 0,1% das vendas: tal montante não compensa os
investimentos significativos necessários à implementação de uma cadeia
verdadeiramente responsiva.
A busca por redução de custos por meio da eficiência da cadeia é bastante racional
no contexto empresarial. No entanto, a imprevisibilidade da demanda de produtos
inovadores exige uma cadeia de suprimentos que responda rapidamente às respostas
do mercado. Para tal, é necessário ter um colchão de capacidade que seja capaz de
absorver as flutuações na produção. Similar ao colchão de capacidade, deve-se ter um
alto estoque de componentes e/ou produtos acabados. Além disso, são necessários
investimentos que visem a minimizar o lead time do produto, de forma a permitir
respostas rápidas aos acontecimentos. A escolha dos fornecedores também é
essencial: devem-se ser priorizados os com maior agilidade, flexibilidade e qualidade.
Outro ponto interessante é utilização do design modular, a fim de adiar ao máximo a
diferenciação do produto.
Outro aspecto relevante é a tendência nas empresas de declarar altas taxas de erro
algo inaceitável. Todavia, a imprevisibilidade é inerente aos produtos inovadores.
Segundo Fisher (1997), quando se trata de produtos inovadores, a incerteza precisa ser
aceita como algo positivo. Isso porque, se a demanda do produto fosse previsível, isso
indicaria que ele provavelmente não era suficientemente inovador para gerar altas
margens de lucro. Isto é, risco e retorno estão ligados em inovação: quanto mais
inovador o produto, maior a margem de lucro e maior a incerteza da demanda. Ou seja,
as maiores margens de lucro são, usualmente, provenientes dos produtos mais
inovadores e acompanhadas dos maiores riscos na demanda.
O primeiro passo para o sucesso das empresas em inovação é, portanto, aceitar a
sua imprevisibilidade. A margem de erro média para produtos inovadores varia entre
40% e 100%. No entanto, há algumas práticas que podem reduzir os erros. Uma delas
é encontrar quais informações podem ser utilizadas como drivers da demanda. Outra, é
aumentar a flexibilidade da cadeia através da adoção de uma cadeia de suprimentos
responsiva. A matriz abaixo demonstra a forma de abordar a previsão de demanda em
casos de novos produtos, novas tecnologias e novos mercados.
27
Figura 5: Matriz do tipo de tecnologia de produto relacionada à inserção no mercado
Fonte: Adaptado de Kahn, Kenneth (2006)
Em suma, pode-se concluir que o pleno entendimento e consequentemente
otimização do processo de planejamento da demanda, de todas as áreas envolvidas
nesse fluxo e de seus impactos na cadeia de suprimentos aparece como fator
indispensável ao bom desempenho operacional e estratégico dos produtos de base
inovadora.
3. PLANEJAMENTO DA DEMANDA
3.1. DEFINIÇÃO
Um mercado cada vez mais competitivo exige que as empresas tenham uma grande
capacidade de responder com rapidez e flexibilidade às exigências dos clientes. Nesse
28
sentido, a gestão da demanda desempenha um papel estratégico e essencial, já que
boa parte do planejamento de uma empresa deve estar voltado para as expectativas de
vendas, que orientam quando e no que investir.
A previsão da demanda consiste, portanto, na base para todas as decisões
estratégicas e de planejamento em uma cadeia de suprimentos. As empresas, de uma
maneira geral, direcionam suas atividades de acordo com as demandas do mercado. A
previsão da demanda é essencial para determinar esses rumos, visto que ela é a base
do planejamento estratégico das áreas de produção, vendas e finanças de uma
empresa, e permite que os gestores planejem adequadamente suas ações.
Dentro do processo de S&OP (Sales and Operations Planning), o planejamento da
demanda possui participação fundamental. Como o S&OP é um processo que visa
antecipar as demandas de vendas para melhor poder atendê-las, se bem implementado,
ele pode ser uma excelente ferramenta para, além de melhorar o desempenho de
entrega ao cliente, reduzir também os estoques.
Figura 6: Esquema do processo de S&OP
Fonte: Gestão da demanda – S&OP3
Nos dias de hoje, é uma tendência entre as empresas buscar trabalhar com o menor
estoque possível. Dessa forma, o capital que fica “paralisado” é minimizado e pode ser
investido em diversos outros setores. O processo se torna, então, puxado pelo cliente e
sua demanda, observando-se, assim, a necessidade de aprimoramento por meio da
3 Disponível em: http://www.konsultbrasil.com.br/arquivos/gestao-de-demanda-sop/. Acesso em julho, 2017.
29
logística, onde o fluxo de informações parte do cliente e acarreta as previsões de
demanda.
O planejamento da demanda é uma declaração sobre o futuro. Mesmo que a
previsão seja incerta por natureza, é preciso haver um norte para que a administração
da produção possa trabalhar. O bom planejamento diminui consideravelmente os custos
das operações, por meio da antecipação dos fluxos de produtos e do balanceamento
dos recursos. No entanto, isso não é uma tarefa simples, uma vez que decisões de
planejamento envolvem os setores chaves da empresa. Quanto maior a complexidade
das operações, maior é a dificuldade de gerenciar e maiores também são os custos
envolvidos. Torna-se, portanto, necessária a estruturação de processos com diferentes
agentes envolvidos nas tomadas de decisão.
Se considerado o processo de S&OP como um todo, a demanda deve ser bem
estruturada para que se possam planejar as vendas e coordenar todas as operações,
balizando o plano de produção e a futura gestão de estoques, conforme figura abaixo.
Figura 7: Esquema do processo de planejamento da demanda em operações
Fonte: Foco no S&OP - sistema C2 de implantação 4
O planejamento da demanda possui, portanto, um papel estratégico e essencial para
o desempenho de toda a organização. Esse importante papel exige maior eficiência na
condução dos processos para balancear todos os recursos com a demanda da empresa.
Nessa perspectiva, é preciso que a previsão seja feita com bastante cautela, de modo
4 Disponível em: http://c2projetos.com.br/implantacao-do-sistema-c2-de-producao-foco-no-sop/. Acesso em julho, 2017.
30
a otimizar os benefícios que um planejamento da demanda acurado proporciona às
empresas. Os principais cuidados são:
• Os fatores responsáveis pela demanda passada são mutáveis;
• O erro de previsão precisa ser conhecido e bem estimado;
• O grau de agregação por meio do qual os produtos são analisados precisa ser
adequado;
• O horizonte de tempo da previsão precisa ser adequado;
• A previsão de demanda não deve se transformar em meta de vendas ou de
produção.
Assim, entende-se que planejar a demanda de maneira eficiente é muito mais do
que simplesmente realizar uma previsão de vendas acurada. É preciso alocar
corretamente os recursos disponíveis na empresa para maximizar os resultados
financeiros, considerando simultaneamente os cenários de mercado e a estratégia de
longo prazo. Percebe-se, portanto, a importância desse processo, uma vez que o
mesmo influencia o nível de serviço percebido pelos clientes e os principais centros de
custos de uma empresa.
A previsão de vendas é, portanto, o ponto de partida na cadeia para que as
atividades necessárias ao processo industrial sejam adequadamente abastecidas de
informação. Essas previsões são insumos essenciais para o planejamento da produção.
As previsões de demanda são elaboradas utilizando técnicas qualitativas,
quantitativas ou, ainda, uma mistura de ambas, como afirma Pellegrini (2000). De
acordo com Goodwin (2000) as técnicas qualitativas utilizam a opinião de um
especialista ou de um grupo de especialistas sobre a previsão final, podendo ser
tendenciosas e dando pouca ou nenhuma ênfase a previsões quantitativa, já as técnicas
quantitativas utilizam uma sequência de observações e um padrão histórico de demanda
e, por intermédio de modelos matemáticos, torna-se possível estimar valores futuros.
Os métodos qualitativos são historicamente os mais utilizados na previsão da demanda.
A figura a seguir ilustra melhor as diferentes abordagens de planejamento da demanda
existentes.
31
Figura 8: Métodos de previsão de demanda
Fonte: Previsão da demanda – Universidade Estadual do Maranhão5
Atualmente, de acordo com Sanders e Ritzman (2004), elaborar previsões de
demanda que contenham o menor erro possível é um desafio constante para as
organizações, visto que é consenso de que ambos os métodos, qualitativo e
quantitativo, possuem pontos fortes e fracos. As principais diferenças entre essas
abordagens podem ser observadas na tabela a seguir:
Tabela 3: Aspectos das abordagens qualitativa e quantitativa
Fonte: Elaboração própria
Nessa perspectiva, Lemos (2006) afirma que diversas pesquisas sugerem melhorias
na acurácia utilizando previsões combinadas, através da integração dos métodos, com
o intuito de diminuir os efeitos das variáveis externas. A combinação ocorre quando as
diferentes fontes de previsão são integradas para a construção da previsão final, tal que
o resultado seja composto de uma análise subjetiva, através do julgamento humano, e
de uma análise quantitativa, baseada em modelos matemáticos. Uma previsão de boa
5 Disponível em: https://pt.slideshare.net/ocap/previsao-de-demanda. Acesso em: julho, 2017.
32
acurácia tem o potencial de trazer grandes economias as empresas, trazendo como
resultado não apenas um bom retorno monetário, como também um aumento na
competitividade e na satisfação de seus clientes.
Atualmente, o método de previsão mais amplamente utilizado têm sido a média
histórica acrescida de uma projeção da empresa, o que amarra os parâmetros no
passado e compromete as estimativas. Isso porque existem diversos fatores que afetam
a demanda e que não podem ser incluídos na previsão quantitativa por conta de
sazonalidades. Como exemplo, é possível citar feriados deslocados no decorrer dos
anos, promoções e mudanças climáticas, entre outros. Tais fatores devem, assim, ser
mensurados por meio da opinião de especialistas e então incluídos no método
quantitativo.
Figura 9: Processo padrão detalhado de planejamento da demanda
Fonte: Nortegubisian consultoria6
3.2. PRINCIPAIS MÉTODOS
3.2.1. Quantitativos
Os chamados métodos de previsão quantitativos são aqueles que utilizam como
base uma série histórica de dados sobre uma certa variável, com o objetivo de identificar
padrões de comportamento que possam ser projetados para o futuro. De acordo com
Slack et. al (2009), esses métodos são classificados em modelos causais e métodos de
séries temporais.
6 Disponível em: http://nortegubisian.com.br/consultoria/gestao-de-supply-chain/metodos-de-previsao-de-demanda-e-gestao-de-estoques/. Acesso em julho, 2017.
33
Os modelos causais fazem a previsão estabelecendo uma relação de causa e efeito
entre a variável de demanda e fatores que possam afetá-la. Como exemplo desses
métodos, é possível citar a análise de regressão e os modelos econométricos.
Já a análise de séries temporais utiliza o histórico da demanda para prever o futuro.
O mesmo assume que os padrões passados, como tendência e sazonalidade, não serão
alterados. Os métodos baseados em análise de séries temporais mais comuns são
Média Móvel, Box-Jenkins e Suavização Exponencial.
A Média Móvel oferece uma técnica simples de suavização exponencial de séries
temporais. Nesse sentido, calcula-se uma média aritmética ou ponderada das N
observações mais recentes da série. No entanto, este método não trabalha bem os
efeitos de sazonalidade, uma vez que a previsão para um novo período envolve
constantemente a adição de novos dados e a exclusão de dados anteriores.
O método de Box-Jenkins é desenvolvido por meio de modelos matemáticos que
visam captar o comportamento da correlação seriada ou a auto-correlação existente
entre os valores da série temporal. Com isso, são realizadas previsões futuras. O
modelo é o resultado da combinação de três componentes: o componente auto-
regressivo (AR), o filtro de integração (I) e o componente de médias móveis (MA).
Os métodos de suavização exponencial destacam mais os últimos valores
observados na série temporal por meio da ponderação exponencial, de acordo com a
proximidade ao período da previsão. Esses métodos se baseiam na ideia de que
observações passadas contêm informações sobre o padrão da série temporal e seu
propósito é distinguir um padrão de comportamento de qualquer outro ruído que possa
estar contido nas observações da série e então usar esse padrão para prever valores
futuros da série. Os métodos mais tradicionais de suavização exponencial são:
Suavização Exponencial Simples, Suavização Exponencial Dupla de Holt e Suavização
Exponencial Sazonal de Holt-Winters.
A Suavização Exponencial Simples é uma média ponderada que atribui pesos
maiores às observações mais recentes, ou seja, a previsão dos N valores futuros é dada
a partir do último valor exponencialmente suavizado. Já a Suavização Exponencial
Dupla é similar, porém possui uma constante extra para modelar a componente de
tendência em uma série temporal. Por fim, o método de Holt-Winters consiste em uma
técnica que envolve três equações com três parâmetros de suavização, associados aos
componentes de nível, tendência e sazonalidade em uma série temporal.
3.2.2. Qualitativos
34
Para produtos considerados inovadores, é comum que não haja disponibilidade de
uma base histórica, o que impossibilita a utilização de modelos quantitativos puros.
Desta forma, os métodos possíveis limitam-se aos qualitativos. Essa categoria de
métodos abrange predições ou inferências muitas vezes de caráter subjetivo,
frequentemente baseadas nas opiniões de especialistas.
As técnicas qualitativas apresentadas por Moreira (2009) são: método Delphi,
opinião de executivos, opinião da força de vendas e pesquisas de mercado. Além destas
técnicas, Gaither e Frazier (2002-2004) ainda citam a analogia com produtos similares
e Wanke e Julianelli (2006) discorrem sobre a análise de cenários. Contudo, cabe
ressaltar que a utilização de uma única técnica de previsão de demanda pode não ser
suficiente para incorporar todo o conhecimento associado ao ambiente de previsão. Por
isso, Werner e Ribeiro (2005) analisam a combinação de previsões, por meio do qual
se utiliza mais de uma única técnica ao mesmo tempo, prática que tem demonstrado
potencial elevado em reduzir os erros de previsão e obter estimativas melhores.
Uma opção quando não existe uma base histórica consiste em utilizar os dados de
um produto similar como ponto de partida para as previsões. Nesses casos, geralmente,
o recurso é estudar a curva do ciclo de vida do produto mais similar já existente no
mercado e utilizá-la para projetar a previsão de demanda do novo produto. A
operacionalização deste método, segundo Lemos e Fogliatto (2007) ocorre através da
análise de características comuns entre o produto de interesse e o produto similar, como
por exemplo funcionalidades dos produtos, classe de consumidores, estrutura de
mercado – potencial de mercado, demanda histórica, concorrentes, etc. e nível de
inovação. Definidas as características similares, estabelecem-se as estimativas de
demanda do novo produto, com base no comportamento passado dos atributos em
questão. Cabe ressaltar, no entanto, que é crítica a escolha correta de um produto
suficientemente similar para que se classifique corretamente o período do ciclo de vida
e a categoria onde o lançamento analisado se enquadra. É importante, também, a
comparação com casos similares de produtos mal-sucedidos, tendo em mente todos os
possíveis impactos desse lançamento na organização.
No caso da análise de cenários, a construção da previsão consiste em prospectar
cenários futuros para as demandas, de forma a identificar antecipadamente como a
demanda se comportaria em cada situação, facilitando, assim, o processo de tomada
de decisão. Wanke e Julianelli (2006) afirmam que quando existem muitas variáveis
interferindo no resultado futuro de um evento, a elaboração de cenários – situações
hipotéticas futuras – pode ser utilizada como forma de estruturar as análises e facilitar
o processo de planejamento. Essa análise de cenários, portanto, possibilita estruturar e
sistematizar o processo de projeções qualitativas, identificar variáveis que impactam a
35
demanda e seus impactos mútuos, estabelecer objetivos organizacionais de longo prazo
e identificar as prioridades de ação. Contudo, ela se torna inviável à medida que
depende dos resultados em função da escolha das variáveis, oferece grande
complexidade para tratar muitas variáveis ao mesmo tempo, e ainda, pelo fato que
pequenas alterações nas variáveis podem ocasionar grandes mudanças nas previsões.
Outro tipo de abordagem consiste em realizar as previsões com base na opinião dos
executivos da empresa, dado seu conhecimento a respeito das atividades
desenvolvidas na companhia e de seus respectivos setores, além da experiência em
matéria de performance de vendas. Dessa forma, a troca de opiniões entre eles
possibilita o alcance de uma visão sistêmica de todo processo e embasa a definição da
previsão de vendas de um lançamento. Moreira (2009) destaca que a vantagem desta
técnica, é a reunião de talentos com diferentes visões de determinado assunto, dessa
forma os resultados serão mais precisos e de qualidade. No entanto, por se tratar de
um método essencialmente baseado no debate, é comum que as discussões acabem
perdendo o foco e não atinjam um consenso em muitos ambientes corporativos. Ou
ainda, que a previsão acabe sendo conduzida de modo a se tornar uma meta de
resultado, e não uma tradução da demanda efetiva do mercado consumidor.
A previsão de vendas pode, ainda, ser estruturada com base na opinião da equipe
de vendas. Segundo Moreira (2009), elaborar previsões junto ao pessoal diretamente
envolvido com as vendas se mostra como uma alternativa atraente na medida em que
a equipe no campo possui conhecimento tácito a respeito do desenvolvimento histórico
dos produtos e é capaz de perceber de perto as evoluções do mercado. Essa técnica
é vantajosa conforme Ritzman e Krajewski (2008) devido o conhecimento da equipe de
vendas sobre os produtos e serviços desejados pelos clientes, bem como pela facilidade
de combinação das previsões estabelecidas pelos vendedores, e ainda, por possibilitar
informações detalhadas por região, o que facilita o gerenciamento das atividades. Em
contrapartida, é comum que sejam estabelecidos níveis errados para as previsões caso
elas sejam baseadas apenas no sentimento de que as vendas estão performando bem
ou mal em um dado momento. Além disso, o estabelecimento de metas de vendas gera
um conflito entre os interesses dos vendedores com a capacidade e a estratégia da
empresa.
O método Delphi, por outro lado, utiliza a opinião de um grupo estruturado de
especialistas, que são chamados a participar em grupos, com a diferença de que as
perguntas são apresentadas através de questionários respondidos anonimamente. Em
reuniões posteriores, o resultado das respostas é mostrado e cada especialista é
convidado a alterar sua opinião, repetindo-se o processo até se obter decisões mais
próximas. Esse método passou a ser disseminado no começo dos anos 60, por
36
intermédio de pesquisadores da Rand Corporation. O objetivo original era desenvolver
um método para aprimorar o uso da opinião de especialistas na previsão de demanda.
Para Moreira (2009) sua principal vantagem consiste em permitir a obtenção de dados
pessoais sem que haja interações dentro do grupo, as quais poderiam distorcer os
resultados. Durante esse processo é dado maior foco às opiniões significativamente
divergentes da média do grupo. No entanto, é ainda um processo lento que depende do
envolvimento do mesmo grupo ao longo do tempo.
Por fim, pode ser elaborada uma pesquisa de mercado para obter de forma direta a
opinião de grupos potenciais de consumidores. Esse método possui a vantagem de
traduzir diretamente as expectativas do mercado consumidor alvo aos executivos da
companhia, no entanto, possui como desvantagem o alto custo envolvido, o tempo
necessário para execução e limitações técnicas. É necessário coletar uma amostra
suficientemente representativa da população estudada para embasar as análises, além
de elaborar perguntas que não deem margem a interpretações equivocadas. Assim, um
plano de execução é essencial para que esse método não acabe distorcendo a realidade
do mercado e enviesando o dimensionamento de um lançamento, sendo
potencialmente negativo para sua performance no mercado.
A importância da escolha do tipo de técnica a ser utilizada para prever a demanda é
ressaltada por Ritzman e Krajewski (2004), visto que às vezes tem-se de optar entre
precisão e custos de previsão. O objetivo fundamental é que se desenvolva uma técnica
de previsão apropriada para as diferentes características de demanda. Além disso, um
fator que deve ser levado em consideração no momento da escolha da técnica é o
horizonte de tempo, ou seja, se as projeções são de curto, médio ou longo prazo.
3.3. PRINCIPAIS INDICADORES
3.3.1. Assertividade da previsão
O planejamento de demanda é um ponto chave na estruturação de toda cadeia de
suprimentos. O que se busca com a gestão da demanda é a rápida e adequada
integração das necessidades originadas do mercado na direção dos diversos agentes
envolvidos na cadeia de suprimentos, de modo a balancear e alinhar estrategicamente
a demanda com a capacidade operacional ao longo da mesma.
Segundo Fisher (1997), estudos realizados nos Estados Unidos demonstram que
mais de 30 bilhões de dólares são perdidos anualmente na indústria de alimentos
apenas devido a erros no planejamento de demanda. Em todos os tipos de indústria, as
cadeias de suprimentos sofrem com esse tipo de problema, seja com previsões erradas
37
que provocam um excesso de produção, ou mesmo por problemas de ruptura. Ambos
impactam diretamente em todos os agentes da cadeia de suprimentos, provocando
perdas no sistema como um todo.
O planejamento e gestão de demanda não podem ser consideradas atividades
resumidas à previsão de vendas ou a um processo isolado de uma função
organizacional específica ou de uma única empresa. Portanto, é nesse ponto que entra
a relação desses conceitos com a cadeia de suprimentos. Em uma análise desse tipo,
é necessário compreender todos os agentes envolvidos com as mais diversas atividades
em supply chain. A relação entre esses dois pontos é mais abrangente, envolvendo a
criação de sinergias entre a gestão de operação e de marketing com objetivo de
compreender o mercado e desenvolver ações sincronizadas com a estratégia da
empresa, capacidade produtiva e atendimento das necessidades do consumidor final.
No que tange a esse relacionamento intrínseco entre o planejamento de demanda e
a cadeia de suprimentos, surgem inúmeras dificuldades, que como demonstrado
anteriormente, levam a perdas nas mais diversas indústrias. Fawcett e Magnan (2002)
relatam que, apesar dos benefícios da integração e colaboração entre os membros da
cadeia de suprimentos, poucas empresas alcançam o potencial da integração: cerca da
metade das organizações estão de fato trabalhando com a integração dentro da
empresa, um terço das empresas focam seus esforços de integração com os
fornecedores do primeiro nível da cadeia, com pouco esforço ou nenhum esforço de
integração entre outros níveis. Com isso, surge o chamado “efeito chicote”, resultado
direto da amplificação da demanda.
Figura 10: Efeito chicote
Fonte: Slack at al (2002)
38
Esse tipo de dificuldade pode ter diversas causas. Uma delas ocorre devido às
dificuldades para alcançar colaboração efetiva e algumas limitações como, por exemplo,
resistência no compartilhamento de informações, ou a falta de um fluxo de informações
transparente. Por exemplo, ao estudar diversas empresas sob a perspectiva dessa
relação entre demanda e supply chain, muitos dos dados de sell out (venda ao
consumidor final) de grandes empresas não são repassados aos seus fornecedores e
outros agentes da cadeia de suprimentos.
Assim, não são desenvolvidas diretrizes coordenadas para a produção, fazendo com
que o estoque e entrega ao longo de toda a cadeia não sejam baseados na demanda
de consumo, mas sim em previsões orçamentárias dos diferentes agentes que usam
como base o histórico de vendas ou de entregas.
Além disso, o planejamento da demanda está diretamente relacionado aos riscos de
ruptura (ou stockout) e de geração de obsoletos. A saúde do inventário está diretamente
ligada ao super ou subdimensionamento das vendas, o que pode acarretar em custos
tanto em matéria de perda de vendas (como detalhado nos tópicos a seguir) ou em
manutenção ou descarte do estoque de itens que não podem mais ser comercializados.
3.3.2. Ruptura de fornecimento
Quando se reflete a respeito das consequências decorrentes de erros no processo
de planejamento da demanda, a ruptura de estoque aparece como um dos primeiros e
mais urgentes casos a serem tratados pelas organizações. A falta de estoque para
atender aos pedidos representa efetivamente a perda de vendas, um gap no
faturamento ou até mesmo um impacto no market share.
Especialmente em um cenário de crise econômica, esse quadro se torna ainda mais
crítico, visto que, como queda das vendas tem se mostrado acentuada por si só, a perda
de oportunidades de faturamento se torna um risco inaceitável. Dependendo do nível da
indisponibilidade dos produtos nos pontos de venda, os impactos se aprofundam a nível
do negócio, culminando até no esquecimento do produto depois de passar tanto tempo
longe das gôndolas, o que representa uma perda significativa de market share.
Combater rupturas de estoque se torna, portanto, a tomada de uma série de medidas
emergenciais que muitas vezes acabam afetando todo o funcionamento e os fluxos
normais dentro da cadeia de suprimentos. Compras extras de insumos para aumento
do estoque de segurança, aumentos no número de reprogramações de produção
(gerando por vezes estoque intermediários e desperdício de materiais), alocação
ineficiente de recursos locais, (como pessoal, equipamentos e capital) são apenas
39
alguns dos problemas que podem ser ocasionados ao tentar minimizar os efeitos das
rupturas de estoque.
A falta de acuracidade na previsão da demanda também pode impactar outras
camadas dentro da cadeia de suprimentos, gerando, por exemplo, falta de insumos em
determinada etapa da produção. Dependendo do nível de integração entre as áreas, as
faltas só são percebidas próximo ao momento de uso, gerando paralisação da produção
ou desperdício dos materiais já usados. Mesmo quando há conhecimento prévio a
respeito da falta, ela pode repercutir em compra de lotes emergenciais mais caros, ou
priorização da produção de um produto em detrimento de outro.
Pode-se afirmar, portanto, que o relacionamento inconsistente entre o planejamento
de demanda e a cadeia de suprimentos é capaz de impactar diretamente vários
indicadores das empresas, sendo o nível de serviço um dos mais afetados nesse
sentido.
Por nível de serviço (ou fill rate) entende-se todas as funções de operações que
agreguem valor ao cliente: disponibilidade de estoque, tempo de entrega, tempo de
processamento do pedido, flexibilidade na entrega, tempo do produto em estoque entre
outros. Para se alcançar um nível ótimo de serviço, é preciso analisar também os custos
que essa qualidade da empresa traz para o negócio. Até certo ponto, quanto maior a
qualidade do serviço, maior o valor percebido pelo cliente, o que se reverte em receita.
Entretanto, quando esse ponto é excedido o gasto em infraestrutura, transporte e
“estoque-colchão” não compensam o ganho de receita, como na figura abaixo:
Figura 11: Nível de serviço logístico
Fonte: Nível de serviço no gerenciamento de estoque 7
3.3.3. Giro lento e estoque obsoleto
7 Disponível: http://www.cafecomempreendedor.com.br/2013/04/nivel-de-servico-no-gerenciamento-do.html. Acesso em julho, 2017.
40
Em outro extremo, a falta de acuracidade da previsão pode acarretar a geração de
estoque excessivo, que pode passar a operar em giro lento e possui uma possibilidade
considerável de se tornar obsoleto no futuro.
Como a previsão de demanda funciona como parâmetro essencial à construção das
necessidades de suprimentos e é ponto de partida para a ordem de produção, é
necessário ter em mente que há um horizonte aceitável até o qual podem ser absorvidas
pela indústria as modificações mais expressivas no que foi traçado como demanda
anteriormente. Esse horizonte, conhecido como horizonte de bloqueio do plano de
produção, baliza o volume de estoque a ser produzido e está intrinsecamente
relacionado à acuracidade da previsão de vendas. Caso seja estabelecida uma previsão
muito divergente da realidade e caso isso seja percebido fora do prazo para
estabelecimento de mudanças no plano de produção acordado com as fábricas, serão
produzidos lotes além do necessário, gerando um excesso de estoque previsto, mas
não menos prejudicial às operações da empresa. Além disso, estão envolvidos custos
industriais, perda de capacidade e compras de matérias prima que não poderão ser
reaproveitados depois.
A manutenção do estoque nos centros de distribuição e nas fábricas representa um
dos montantes mais significativos em termo de gasto com operações. Os custos de
armazenamento incluem o custo das posições de estoque em si, dos pallets e das
máquinas para embalagem e movimentação de cargas, o aluguel dos armazéns e o
custo com transporte interno e segurança, além do pagamento de operadores logísticos
especializados. A permanência de altos volumes de estoque no centro de distribuição
por tempo indeterminado significa, necessariamente, a perda de recursos. Uma vez
transformado, o produto final perde flexibilidade e a sua manutenção em estoque
significa a perda de oportunidades de venda. Assim, as empresas têm voltado muitos
esforços para não fomentar a geração de estoques desnecessários dos produtos, visto
que, uma vez em estoque e sem perspectivas de escoamento por meio de vendas, a
perda de recursos torna-se inevitável.
41
Figura 12: Tipos de estoque
Fonte: Adaptado de Gintzler International8
O estoque considerado não saudável ou obsoleto, quando se encontra em um
patamar onde as vendas são inviáveis, acaba tendo de ser descartado ou destruído
pelas empresas que, frequentemente, por questões legais e comerciais, preferem arcar
com os custos e com todo o processo de destruição. Esses custos são elevados e
representam uma perda para a companhia, o que justifica a preocupação em evitar ao
máximo que se chegue a esse ponto da saúde do inventário, onde as atitudes tomadas
são consideradas drásticas.
4. ESTUDO DE CASO
4.1. EMPRESA ESCOLHIDA
Um dos principais players mundiais no mercado de beleza, a empresa escolhida
para realização do presente estudo atua em diversos países ao redor do globo. Por
questões de confidencialidade em relação à divulgação de dados estratégicos, serão
omitidos o nome da empresa em questão e dos produtos analisados (que será
mencionada como Empresa X ao longo dos próximos capítulos). A Empresa X possui
um rico portfólio de marcas internacionais com diversas funções como cuidados com os
cabelos, coloração, cuidados com a pele, maquiagem e perfumes. Muito
complementares entre si, essas marcas são administradas dentro da companhia por
meio da estrutura em divisões de negócio, na qual cada possui expertise em seu próprio
canal de distribuição, o que possibilita não só responder às expectativas de cada
8 Disponível em: http://www.gintzlerinternational.com/blog/2017/03/22/managing-your-packaging-inventory-obsolescence. Acesso em março, 2018.
42
consumidor de acordo com seus hábitos e seu estilo de vida, mas também adaptar-se
às condições locais de distribuição, em qualquer lugar do mundo.
No Brasil, a subsidiária da Empresa X é uma das maiores do mundo e possui um
papel estratégico para o negócio por conta de sua dimensão e diversidade étnica e
cultural. Suas duas fábricas (uma no Rio de Janeiro e uma em São Paulo) representam
um dos maiores e mais importantes parques industriais da companhia no mundo, e
nelas são produzidas quase a totalidade dos produtos que a organização vende
atualmente no país.
Atualmente a Empresa X é um dos maiores produtores de cosméticos do mundo e
conta com mais de 72 mil funcionários. Os maiores mercados da empresa são Estados
Unidos, França, China, Alemanha e Itália. Além disso, possui em seu portfólio 27 marcas
globais com faturamento superior a €50 milhões anuais.
Devido ao seu grande portfólio de marcas internacionais, a empresa decidiu separar
todas as suas marcas em divisões de negócio específicas, cada uma com expertise em
seus próprios canais de distribuição. Conceitualmente, uma unidade estratégica de
negócio (UEN) pode ser definida como uma divisão, linha de produtos ou centro de lucro
de uma empresa que produz e comercializa um conjunto bem definido de produtos ou
serviços correlatos, serve um nicho claramente estruturado de clientes e compete com
uma gama bem definida de concorrentes (BUZZELL & GALE, 1991). Cada UEN pode
ser entendida como uma “unidade de planejamento”, definida em termo de
necessidades e oportunidades estratégicas. A nível operacional, é possível estender
esse conceito ao levar o conceito de UEN a todas as aplicações decorrentes dessa
divisão dentro de uma companhia, considerando as possibilidades de autonomia de
gestão, estratégias de operações distintas, entre outras. As unidades de negócio são,
portanto, relativamente independentes e possuem características próprias de
negociação e aproveitamento das oportunidades de mercado.
A Empresa X atualmente divide-se em quatro unidades estratégicas de negócio. A
divisão de produtos destinados ao público massivo busca disponibilizar inovação
cosmética ao maior número de pessoas em cada continente. Suas marcas distribuem-
se predominantemente nos canais de varejo de massa, como hipermercados,
supermercados, drogarias e lojas tradicionais e contam com produtos para os cuidados
com os cabelos, coloração capilar, maquiagem e cuidados com a pele.
Já a divisão que atua com itens considerados de luxo oferece produtos de marcas
internacionais modernas, muito vinculadas à moda, em um nicho considerado mais
premium. Esse setor apresenta produtos mais refinados, especializando-se
principalmente em cuidados com a pele, maquiagem e perfumes. Sua distribuição é
43
seletiva e compartilhada entre lojas de departamentos, lojas de cosméticos,
perfumarias, além de lojas próprias das marcas e e-commerce.
Por outro lado, uma unidade do negócio específica para produtos profissionais
comunica-se com o setor profissional de cuidados com o cabelo. Seus produtos são
distribuídos em salões de beleza, possuindo como pilar em seu negócio os altos padrões
de qualidade e especialização de profissionais. É focada no desenvolvimento de
produtos de altíssima tecnologia, exclusivos para uso profissional, além da realização
de treinamentos específicos para cabeleireiros e profissionais do setor.
Por fim, uma outra unidade estratégica atua focada em produtos do setor de
dermocosméticos, que consistem em produtos capazes de melhorar a qualidade e a
saúde da pele dos consumidores, seja ela sensível ou possua problemas
dermatológicos. Para isso, conta com a comercialização de produtos dermocosméticos
distribuídos exclusivamente em farmácias ou lojas próprias e possui uma importante
interface com dermatologista, técnicos de visitação médica e congressos.
Figura 13: Faturamento por unidade estratégica de negócio
Fonte: Dados da Empresa X
Essa divisão possibilita que a Empresa X atinja maior foco estratégico, entendendo
os fatores que são críticos ao sucesso dentro das especificidades de cada uma de suas
divisões. Por definição, uma UEN permite a obtenção de unidades operacionais mais
focalizadas, que trazem ganhos na curva de experiência dos processos envolvidos,
agilidade operacional e maior aderência dos controles e decisões gerenciais. Além
disso, permite racionalizar os investimentos necessários para atingir seus objetivos,
levando a uma análise enxuta do processo de planejamento e proporcionando melhor
qualidade e consistência com a realidade.
44
No entanto, embora a divisão em UENs demande a adoção de estratégias
específicas próprias, faz-se necessária a coordenação com uma estratégia global da
organização como um todo, de modo a evitar a duplicação de esforços ou a incoerência
interna. Além disso, cabe entender qual a capacidade que cada negócio possui de gerar
uma ação de alavancagem estratégica no portfólio da empresa. O valor de cada UEN,
não só na empresa analisada, mas em qualquer outra organização, deve ser
considerado como resultado da operação de um elemento de um sistema de negócios,
com seu efeito no total, e não apenas pautado no rendimento individual. Um conceito
utilizado por Tucker (1981) é o de contribution pool, ou seja, um somatório de todas as
contribuições (positivas e negativas) geradas na empresa, que pode ser visto como
sendo a capacidade efetiva de auto-financiamento considerando todos os negócios.
Para a Empresa X, essa organização faz sentido se considerado o mercado
heterogêneo e dinâmico no qual a empresa está inserida. O segmento de cosméticos
possui diversas especificidades e pode ser repartido em áreas de interesse muito
distintas, o que requer um foco por parte da organização em se manter atualizada dentro
de cada um desses nichos. A empresa conseguiu se posicionar competitivamente como
maior multinacional do ramo justamente porque configurou-se em unidades estratégicas
de negócio que, ao compreender bem as demandas e os detalhes estratégicos de cada
fatia do mercado em que estão inseridas, alavancaram o potencial da empresa como
um todo.
4.2. TENDÊNCIAS ATUAIS DO SEGMENTO
O mercado mundial de cosméticos, estimado em 205 bilhões de euros, mostrou-se
forte em 2016, com crescimento de 4,0%. Nesse mercado impulsionado pela oferta e
inovação, assim como qualidade e presença da marca, a Empresa X aparece como líder
em meio aos demais players. O ramo dos cosméticos manteve resultados positivos nos
últimos 9 anos, mesmo em 2009 durante a recessão americana, que afetou
profundamente grandes economias mundiais. Nos últimos anos, é possível observar
que o crescimento do setor tende a uma estabilização, fator que pode ser visto
positivamente no cenário atual.
45
Figura 14: Crescimento do mercado mundial de cosméticos
Fonte: Relatório anual da Empresa X
Pode-se observar uma concentração de demanda ao analisar os continentes
separadamente, conforme a tabela a seguir. Mais de um terço do mercado de
cosméticos concentra-se no continente asiático e Oceania, onde o público é
caracterizado por sua diversidade e dinamismo. Em seguida estão os Estados Unidos,
que representam aproximadamente um quarto do setor e Europa ocidental com cerca
de um quinto do mercado. A América Latina, Europa Oriental e África juntas constituem
19,1% do consumo de cosméticos no mundo. Nesse cenário, é possível inferir que o
Brasil possui grande potencial de crescimento ao comparar o resultado norte-americano
com o sul-americano.
Tabela 4: Mercado de cosméticos por zona geográfica
Fonte: Relatório anual da Empresa X
Esse cenário é fortemente influenciado por players de grande porte, como
multinacionais do ramo de cosméticos e higiene, que são robustas o suficiente para
implementar inovações e ditar certos padrões e preços no mercado. Companhias como
Unilever, L’Oréal, Procter&Gamble e Estée Lauder possuem uma fatia considerável do
46
mercado, comandando diversas sub-empresas com produtos dos mais variados
setores, que possuem em seu portfólio a maior parte dos produtos pioneiros e top sellers
no ramo.
Em meio a esse cenário de grandes e bem estruturados concorrentes, também cabe
ressaltar que uma clara tendência atual do setor é o crescimento das chamadas indie
brands. Essas marcas consistem basicamente em empresas independentes, que
buscam aproveitar as mudanças recentes na tecnologia, na fabricação de produtos e no
comportamento do consumidor para superar as barreiras que as empresas tradicionais
enfrentam para aprimorar o tradicional plabook de marketing. Vinculam-se,
frequentemente, a causas sociais e a ideologias (como o veganismo, por exemplo) e
fazem uso inovador de plataformas modernas e divulgação nas redes sociais. Com
taxas de crescimento de dois a três dígitos por ano, as indie brands já cresceram cinco
vezes mais do que grandes marcas de cosméticos nos Estados Unidos e já são
consideradas um fenômeno no mercado global da beleza.
Para o Brasil, especificamente, o cenário atual configura-se de maneira bastante
específica. Em um contexto de auge da crise econômica, as maiores empresas no ramo
de cosméticos perceberam que o brasileiro ainda se mantém fiel às marcas que se
acostumou-se durante o período de economia em expansão. Um levantamento da
consultoria Euromonitor mostrou que, em 2016, as vendas de produtos de beleza
considerados premium tiveram alta de 9,1%, enquanto as marcas populares registraram
avanço de 4,4%. Em 2015, essa tendência já havia se tornado clara quando os itens
mais sofisticados alcançaram um aumento de 16,6% nas vendas, enquanto os
cosméticos de massa caíram cerca de 1,3% no mercado.
Essa configuração atual se deve a principalmente dois fatores: a redução do
consumo nas faixas de menor renda, que afeta diretamente a demanda dos produtos
populares, e o fato de que o consumidor, quando obrigado a rever seu orçamento,
frequentemente acaba adotando uma postura “auto-indulgente”, ou seja, passa a prezar
por alguns “pequenos prazeres” em sua rotina e acaba optando por gastar um pouco
mais em itens que julga possuir um valor agregado em matéria de satisfação pessoal e
experiência de consumo. No Brasil, dentre os cosméticos premium mais vendidos estão
os batons e produtos de cuidado com a pele, principalmente os de proteção solar.
O mercado de cosméticos como um todo pode ser dividido em cinco grandes áreas:
skin care, hair care, make-up, fragrâncias e produtos de higiene. A representatividade
de cada área em 2016 é exposta na tabela abaixo, onde é possível perceber a relevância
do mercado de cuidados com a pele (skin care) frente a outras categorias atualmente.
47
Tabela 5: Mercado por categoria de produto
Fonte: Relatório anual da Empresa X
No Brasil, o mercado de skincare vem adquirindo notável espaço nos últimos anos.
Segundo dados da ABIHPEC (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal,
Perfumaria e Cosméticos), a categoria de cuidados com a pele subiu da 7ª posição em
2008 para a 5ª em 2013 e continua apresentando tendências de crescimento. Tal
crescimento está relacionado a diversos fatores, como o aumento de renda da
população, a chegada de novas marcas ao mercado, a conscientização da importância
da saúde da pele impulsionada por dermatologistas, o aumento da expectativa de vida
e, com ele, a necessidade de se manter jovial por mais tempo.
É visível também a busca por produtos mais práticos de usar, que apresentam
benefícios muito palpáveis e não implicam a adoção de uma rotina extremamente
complexa. A importância crescente dos produtos de cuidado com a pele no Brasil,
portanto, é atrelada à busca por novas tecnologias e rotinas simples e rápidas, de fácil
adaptação. Além disso, um dos setores que mais ganha atenção no país atualmente
são os produtos que trazem diversos benefícios, ou os multifuncionais. Possuem
destaque nesse cenário os produtos que contém fatores de proteção e os BB creams,
que tonalizam e cuidam da pele ao mesmo tempo. O mercado brasileiro de cuidados
com a pele também está diretamente ligado às prescrições médicas, visto que o país
tem cerca de 7 mil dermatologistas, atrás apenas dos Estados Unidos nesse quesito.
48
Figura 15: Preocupação dos brasileiros a respeito dos cuidados com a pele
Fonte: Adaptado de Sociedade Brasileira Dermatologia9
Figura 16: Consumo de produtos cosméticos para a pele
Fonte: Adaptado de Sociedade Brasileira Dermatologia
Segundo artigo publicado pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, a oleosidade
aparece como fator que mais incomoda os brasileiros atualmente. No entanto, quando
questionados a respeito do tipo de produtos que mais compram, os entrevistados não
9 Disponível em: http://www.surgicalcosmetic.org.br/detalhe-artigo/481/Comportamento-de-homens-e-mulheres-quanto-ao-consumo-de-cosmeticos-e-a-importancia-na-indicacao-de-produtos-e-adesao-ao-tratamento. Acesso em setembro, 2017.
49
apontam em primeiro lugar um produto específico que combata esse problema, o que
demonstra uma possível oportunidade de mercado para inserção de produtos que
atendam a essa necessidade.
4.3. A INOVAÇÃO COMO PILAR DO NEGÓCIO
Dentro da Empresa X como um todo, a inovação aparece como um fator essencial
aos princípios da organização. De acordo com dados da própria empresa,
aproximadamente 40% da receita atual vem de produtos lançados há menos de um ano,
o que evidencia a importância do estabelecimento de novos e relevantes produtos no
mercado. Ao se posicionar como um líder do mercado e ao estabelecer a inovação de
qualidade como uma de suas principais vantagens competitivas, a empresa desenvolve
e implementa grande parte das soluções. Estas, no entanto, acabam sendo
frequentemente utilizadas pela concorrência em larga escala, que tem focado em copiar
esse modelo cada vez mais a curto prazo. Como descrito anteriormente, a Empresa X
estrutura-se de acordo com unidades estratégicas de negócio, de acordo com o padrão
de outras grandes corporações internacionais, trabalhando de forma independente em
suas unidades, mas compartilhando serviços e estratégias macro. A organização é
estruturada de forma matricial, tanto a nível do negócio quanto em matéria de produção
e distribuição, possuindo pilares unificados e um gerenciamento individualizado de cada
divisão.
O pilar estratégico da empresa é, portanto, a pesquisa e inovação. Diversos
laboratórios ao redor do mundo que desenvolvem soluções aplicáveis
internacionalmente. Só no ano passado, foram registradas 497 patentes pela
organização. O processo de desenvolvimento se inicia quando é detectada uma
tendência de mercado ou uma necessidade emergente do consumidor. Os laboratórios,
então, começam a pesquisar compostos e fórmulas que podem solucionar as questões
levantadas. Em conjunto com equipes de pesquisa com o consumidor, os centros de
P&D começam a traçar o perfil da solução desejada, visualizando qual o tipo de público
que será alcançado e o quanto ele estaria disposto a pagar pelo produto desenvolvido.
A partir dessas análises, é identificada a divisão do negócio com mais proximidade à
solução, integrando as equipes de desenvolvimento para dar forma ao conceito
elaborado.
Frequentemente, as descobertas encontradas em laboratório consistem apenas em
componentes ativos, em fórmulas ou reações químicas específicas. Dessa forma, uma
equipe multidisciplinar se apresenta como fator essencial para alcançar o entendimento
50
a respeito da aplicação da solução em um determinado formato (um shampoo ou uma
ampola, por exemplo). Os produtos são submetidos a diversos testes com consumidores
para decidir embalagem, nome, formato antes de serem efetivamente lançados ao
mercado. Diversos protótipos são entregues a grupos amostrais de consumidores,
representativos para determinado público alvo ou mercado consumidor.
Em matéria de desenvolvimento de princípios ativos, também é frequente a
utilização de fórmulas bem-sucedidas mundialmente e de patentes desenvolvidas
dentro da empresa como mesma base para produtos distintos, como forma de
otimização operacional e de portfólio. Um protetor solar de uso dermocosmético pode,
por exemplo, possuir composição similar à de um produto do público massivo,
diferenciando-se apenas pela concentração de certas moléculas. Desse fato decorre
que, muitas vezes, as similaridades entre as fórmulas acabam causando certo conflito
de interesse entre as divisões, que por compartilhar públicos semelhantes em alguns
mercados, acabam tendo interfaces e têm de lidar com a possibilidade de canibalização
entre os produtos.
Além do consumidor final propriamente dito, a comunicação por meio dos canais de
venda se mostra como essencial. Para cada divisão estratégica do negócio há uma
gama muito diversa de canais disponíveis e de formas de apresentação dos produtos
em cada um deles. Para o segmento de dermocosméticos, por exemplo, o canal
farmácia aparece como principal e quase exclusivo (devido à natureza dos produtos, à
necessidade de espaço para exibição e orientação de profissionais), enquanto para os
produtos do canal massivo, há a possibilidade de se comunicar desde grandes redes de
supermercados até farmácias, perfumarias e lojas de departamento.
Um dos principais questionamentos levantados diz respeito à forma por meio da qual
a Empresa X se posicionou como um dos líderes globais em beleza. Sua principal
diretriz estratégica é totalmente pautada na excelência em inovação e busca
implementar novas soluções de maneira a consolidar o mercado de forma profunda,
construindo-o em bases sólidas, mesmo que isso implique lançar um produto apenas
quando se tem a certeza da aderência ao mercado. Um exemplo nacional recente é a
solução micelar, um conceito trazido por um concorrente direto, mas que ganhou
popularidade com a fórmula desenvolvida pela Empresa X com qualidade diferenciada
e preço mais atrativo.
Na realidade atual do Brasil, esse cenário é ainda mais crítico e potencializado pela
realidade operacional da companhia. O desenvolvimento e a aplicação de tecnologias
de produção e fabricação ainda estão um passo atrás em relação ao desenvolvimento
de produtos. Como exemplo, pode ser citada a extensão da linha carro chefe de protetor
solar com cunho dermocosmético, que consistia em um aumento do portfólio em duas
51
cores de protetor solar facial. Por conta de exigências expressivas em matérias de
padrões de qualidade e de adequação das linhas de produção (principalmente em
matéria de tempo de set up), uma renovação conceitualmente simples e considerada
essencial à estratégia da companhia no mercado acabou sendo adiada em mais de um
ano, o que abriu espaço para que a concorrência lançasse produtos semelhantes,
porém não tão reconhecidos.
A exigência no padrão de qualidade é um fator diretamente vinculado à imagem da
empresa e de suas marcas que, por conta de lançamentos muito bem desenvolvidos
em aspectos tecnológicos, consolidou seu posicionamento ao longo dos anos. O trade
off nesse sentido está relacionado à relativa falta de flexibilidade ou de reatividade para
ajustar as falhas e imprevistos durante o processo de desenvolvimento operacional, de
fabricação e de inserção no mercado, demandando uma precisão expressiva na escolha
dos lançamentos.
O desenvolvimento de produtos em escala mundial também tem como etapa
fundamental para garantir sua assertividade a análise da adequação do produto ao
mercado nacional sob aspectos socioeconômicos. As divisões de negócio precisam,
individualmente, analisar cada produto sob a ótica da diversidade étnica do brasileiro
em relação ao europeu, assim como a heterogeneidade de climas, e as diferentes
rotinas do consumidor por classe social. Por configurar um mercado tão complexo, o
portfólio no Brasil é bastante reduzido em relação ao mundial: apenas 20% dos produtos
comercializados ao redor do mundo também existem no país.
A construção de custos também é essencial para determinar o potencial de uma
inovação no país. Tanto os custos de fabricação local quanto os custos de importação
(de matérias primas, embalagens quanto de produtos finais) e o câmbio utilizado
constroem o preço do final do produto. A possibilidade de produção nacional versus
importação é levantada sempre se considerando a realidade atual da cadeia de
suprimentos da empresa, a saturação das linhas de produção, o tempo para negociação
e compra com fornecedores e a estrutura de distribuição para os potenciais clientes.
4.4. CONTEXTO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS
O entendimento das restrições operacionais e da capacidade atual sob a qual a
Empresa X opera é fundamental para dimensionar corretamente o potencial de
implementar uma inovação dentro da realidade da cadeia de suprimentos da empresa.
Compreender os principais gargalos e quais as maiores dificuldades no dia a dia no
âmbito logístico da empresa mostra-se crítico quando pretende-se analisar os principais
riscos envolvidos na performance de um produto novo.
52
Atualmente, a Empresa X comanda três fábricas. Uma reestruturação atual do
quadro industrial, no entanto, propõe a desativação de uma das plantas, permanecendo
apenas duas: uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro, conforme quadro abaixo.
Os volumes produzidos (em milhares de unidades) também estão representados
abaixo.
Tabela 6: Configuração das linhas e volume produzido por fábrica Fonte: Dados da Empresa X
Uma das principais questões para o contexto atual da Empresa X diz respeito ao
fato de que a realidade operacional muitas vezes acaba ficando relativamente deslocada
em relação ao contexto do negócio e ao desenvolvimento de produtos, visto que a
reatividade da cadeia frente às demandas mais recentes do mercado brasileiro ainda se
encontra em processo de adaptação. O cenário atual é de crescentes inovações por
parte da concorrência, que aumenta tanto em número de players (especialmente de
pequeno a médio porte, incluindo as indie brands) quanto em diversidade de portfólio.
O mercado em crise também acabou modificando um pouco a configuração da
demanda, como analisado anteriormente, que decaiu para os produtos populares e se
manteve relativamente estável para os produtos aos quais os consumidores se sentem
mais fiéis e relacionam um maior valor agregado em matéria de satisfação quanto ao
consumo, mesmo que seus preços sejam mais elevados. Assim, a gerência industrial
da empresa tem encontrado como maiores desafios a adaptação a esse novo cenário,
no qual o timing para o lançamento de um produto se mostra como ainda mais crítico e
as inovações exigem uma flexibilidade muito alta por parte dos processos de fabricação
e distribuição.
Em matéria dos principais indicadores da qualidade das operações, atualmente a
Empresa X consegue manter o nível de serviço 10entre 95 e 100% como média em suas
10 O nível de serviço é calculado medindo-se o percentual de pedidos faturados sobre a demanda real, em valor (quantidade x unidade monetária) .
53
divisões de negócio. As principais dificuldades enfrentadas atualmente dizem respeito
à reatividade das plantas e ao aumento considerável do volume de importações.
O gráfico abaixo apresenta a evolução do indicador do nível de serviço no último
ano para cada divisão estratégica do negócio e para a empresa como um todo na
Empresa X. É possível perceber que as divisões que possuem em média os piores
resultados são aquelas que contam com o maior volume de importações (tanto de
matéria prima quanto de produtos finais): luxo e dermocosméticos. Isso se deve à
complexidade inerente ao processo de importação, a custos elevados, empecilhos
fiscais e trâmites legais no Brasil, elevado lead time por conta da necessidade de
consolidação de carga para ganhos de escala, necessidade de processo industrial para
nacionalização das embalagens em território nacional, armazenagem em terceiros e
transporte intermediário.
Em quesitos logísticos, o aumento expressivo do lead time dos produtos aparece
como principal ofensor dentre as dificuldades do processo de importação. No Brasil uma
das maiores dificuldades operacionais enfrentadas pelas empresas diz respeito a pouca
estrutura nacional em matéria de modais de transporte. Existem poucos portos,
relativamente saturados, e o modal rodoviário apresenta uma série de problemas que
aumentam os custos de deslocamento dentro do país. Em um contexto de mercado em
que a elasticidade preço da demanda apresenta-se como cada vez mais elevada,
produtos essencialmente mais caros apenas por conta de custos operacionais podem
representar um fator de risco ao negócio.
Todos esses fatores somados acabam tornando ainda mais crítica a assertividade
da previsão da demanda para produtos de base importada, visto que a reatividade da
cadeia de suprimentos como um todo se configura de forma totalmente diferente do que
acontece em uma produção nacional. Atualmente, mais da metade do portfólio da
empresa é constituído de produtos finais importados e de produtos para os quais pelo
menos uma das matérias primas é proveniente de outros países.
Para itens que são produzidos nas fábricas no Brasil, os principais empecilhos dizem
respeito à necessidade de embalagens (como bisnagas) e parte de componentes dos
produtos (como kits de coloração) que vem de empresas terceirizadas, além de
dificuldades operacionais relativas à produção de itens complexos industrialmente,
como desodorantes aerosol ou produtos com fórmulas específicas que requerem
cuidados extras em relação às matérias primas.
54
Figura 17: Nível de serviço por divisão de negócio
Fonte: Dados da Empresa X
Em matéria de reatividade, as plantas industriais da Empresa X possuem um perfil
bem distinto. Enquanto a planta atual do Rio de Janeiro é extremamente reativa e possui
uma produção enxuta e simplificada para produtos de grande volume de vendas, a
planta de São Paulo possui linhas ociosas em processo de adaptação para aumento de
capacidade (visto que operava com uma média de 40% da saturação em suas linhas),
produtos de demanda muito diversa e imensa capacidade de expansão. Como a
complexidade dos produtos varia muito e há uma série de matérias primas importadas
e com alto lote de compra, a fabricação fora da planta do Rio de Janeiro possui diversas
restrições e acaba sendo muito complexa dependendo do tipo de produto.
Assim, ao projetar-se uma inovação nesse cenário, devem ser levadas em conta
todas as características atuais da cadeia e como a Empresa X consegue reagir às
demandas por novos produtos, sem prejudicar a sua configuração atual e sem implicar
riscos muito elevados à performance do lançamento em seus primeiros meses, que é
extremamente crítica para consolidação do produto no mercado. Um fluxograma
simplificado da cadeia de suprimentos da empresa e dos atores envolvidos no processo
de envio de um produto ao mercado está ilustrado abaixo.
55
Figura 18: Fluxograma simplificado da cadeia de suprimentos
Fonte: Elaboração própria
A empresa possui um cronograma operacional padrão desenvolvido para o caso de
lançamento de novos produtos. Esse cronograma é específico para o cenário brasileiro,
porém, baseia-se em padrões desenvolvidos mundialmente para garantir a qualidade
na performance de um lançamento.
O planejamento deve começar com um período de relativa antecedência para que
haja tempo de aprovisionamento, ou seja, para compra de matérias primas, embalagens
e estruturação do cronograma de produção de acordo com a capacidade das linhas.
Assim, oito meses antes da primeira produção, o projeto deve começar a ser executado,
dando início ao desenvolvimento conduzido entre as áreas de marketing e
desenvolvimento operacional.
O projeto passa, então, da etapa da Ideia para a etapa da Definição, conduzida
majoritariamente por equipes de pesquisa, e que consiste em uma avaliação da
complexidade do produto concebido, além de uma análise dos custos envolvidos. É
estabelecido, então, o primeiro canal de comunicação formal sobre o lançamento para
que seja desenvolvida a fórmula e a embalagem. Após isso, parte-se para uma etapa
de Validação, em que são aprovadas as fórmulas e os custos de produção iniciais e
criada a masterdata necessária no sistema.
Cinco meses antes do lançamento, inicia-se a fase de Planejamento, em que se
realiza uma produção piloto do produto, que é incluído no planejamento e controle de
produção da fábrica. Inicia-se a compra de matéria prima e a adaptação das linhas de
produção para receber o produto, que passa por rigorosos testes de qualidade. Por fim,
na fase de Fabricação/Produção, antes de ser efetivamente enviado às vendas, o
primeiro lote do produto passa por mais testes de qualidade e por uma aprovação final
do time de marketing, que checa se o lançamento corresponde às expectativas do
negócio e ao que foi desenhado no início do projeto. O macroprocesso e suas etapas,
assim como os processos intermediários, encontram-se mapeados nos esquemas
incluídos nos apêndices.
56
4.5. UNIDADE DE NEGÓCIO ANALISADA
Tendo em vista o panorama atual do mercado, optou-se por realizar um estudo
focado em uma unidade específica do negócio dentro da Empresa X. Por se tratar de
uma divisão que engloba um grande contingente de inovações em seu portfólio e que
se mostra relevante para a companhia como um todo exatamente por conta do seu perfil
focado no desenvolvimento de novos produtos, foi escolhida a unidade do negócio de
dermocosméticos como caso analisado.
O mercado de dermocosméticos é altamente movido a inovação e muito dependente
da figura do médico dermatologista como maior influenciador. Nesse contexto, o
principal fundamento acaba sendo a busca por melhorias em termos tecnológicos nos
produtos que circulam nesse meio. A expectativa de resultados positivos é muito maior
quando comparada aos cosméticos de outra categoria: trazer resultados imediatos e
perceptíveis é o fator-chave para o sucesso de um produto, linha ou marca nesse
sentido. Assim, a eficácia e segurança são fatores intrínsecos da categoria.
A categoria dispõe de uma grande quantidade de concorrentes reconhecidos pela
expertise técnica, o que faz “a guerra por inovação” necessária ao bom desempenho
nesse ramo. Essa divisão específica do negócio na Empresa X se posiciona como líder
do mercado atual, de acordo com dados da Nielsen. São lançados uma média de 10
produtos inovadores por ano na divisão, o que corresponde a cerca de 30% do
faturamento no ano, segundo dados da própria empresa. A divisão foca em manter o
timing de lançamentos frente à concorrência e em promover experiências novas a seus
consumidores, sempre mantendo o vínculo com o dermatologista e buscando o
reconhecimento médico para garantir a prescrição dos seus produtos por esse canal.
Nesse sentido, cabe ressaltar as especificidades relativas à comunicação com o
consumidor para esse segmento de produtos. Quando se trata de produtos
dermatológicos, a interface com o consultório médico se mostra como fator essencial ao
entendimento do produto pelo público alvo. Assim, os principais canais pelos quais as
marcas se comunicam não são exatamente os mesmos que atingem o público massivo.
O mercado em questão se divide em diversas subcategorias: Solar (protetores
solares), que representa 25% do ganho da divisão, Limpeza (voltado para pele oleosa),
Anti Idade (categoria com maior ticket médio), Hidratação (corporal) e por fim Capilar
(ainda muito focado em anticaspa e anti queda). Cada uma dessas categorias tem
características muito distintas entre si. A categoria de Anti Idade, por exemplo, é muito
mais dependente da prescrição do dermatologista que a categoria hidratação, que
57
consegue manter o giro alto apenas com divulgação no ponto de venda. O quadro
abaixo estrutura as principais diferenças entre essas subcategorias.
Tabela 7: Principais diferenças entre as subcategorias
Fonte: Elaboração própria
Tabela 8: Descrição sobre os critérios adotados para comparação das subcategorias
Fonte: Elaboração própria
A classificação de importância na dermatologia é especialmente relevante porque
determina quais produtos serão divulgados e em que ordem serão falados durantes as
visitas médicas programadas pela empresa (que conta com um time específico dedicado
58
à manutenção do contato com os dermatologistas). A cada ciclo (como duração
aproximada de um mês) são levados quatro produtos diferentes nas visitas médicas,
sendo o primeiro a ser falado tendo maior foco, detalhamento e tempo de fala do
propagandista. Já a importância no ponto de venda (PDV) define o investimento em kit
promocionais e material de merchandise. Essa importância varia com a estação do ano
e apresentação de lançamentos na categoria.
4.6. PRODUTO ESCOLHIDO
No ano de 2017, a categoria com maior número de lançamentos foi a de pele oleosa.
Como visto anteriormente, é possível perceber uma clara tendência do mercado na
direção dos produtos de cuidados com a pele, especificamente aqueles desenvolvidos
para pele oleosa, problema extremamente comum para o consumidor brasileiro.
Observando o portfólio das marcas dentro da empresa e entendendo o
comportamento das inovações ao longo do último ano, escolheu-se para o presente
estudo um produto que engloba diversas características interessantes em matéria de
inovação e de oportunidades de mercado. Assim, foi escolhido o Produto S (cujo nome
também foi oculto por questões de confidencialidade dos dados). O produto, assim como
a divisão a qual pertence, apresenta um risco base inerente ao apelo tecnológico de sua
fórmula, que nem sempre tem valor percebido, além de contar uma mídia de base 100%
digital para alcançar o consumidor final.
4.6.1. Concepção do produto
O Produto S foi trazido para o Brasil com a proposta de atender a necessidade da
mulher com pele oleosa, que, mesmo mantendo uma rotina de cuidados com a pele, no
decorrer do dia percebe a oleosidade da pele aumentar. O produto foi considerado
totalmente inovador pela empresa porque propõe a criação de um novo gesto na rotina:
ele consiste em um spray que reduz a oleosidade da pele instantaneamente e pode ser
aplicado antes ou depois da maquiagem e reaplicado durante o dia. Ele não se encaixa
em nenhuma categoria já definida dentro da companhia, mas o entendimento do seu
propósito julgou-se fácil e intuitivo para o grande público.
Três principais dados embasaram o lançamento: 54% dos brasileiros possuem pele
oleosa (de acordo com pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Dermatologia
em 2009), o clima no Brasil é predominantemente quente e úmido (o que favorece esse
tipo de problema de pele) e 98% das mulheres no país usam maquiagem (segundo
59
pesquisa da Nielsen para a empresa em 2015) . A soma desses fatores configurou a
dimensão inicial que se obteve do público alvo do produto, que tem como objetivo
manter a pele livre de oleosidade sem a necessidade de lavar o rosto constantemente
ao longo do dia.
Para estruturar a análise conceitual do produto, é possível consultar a tabela
elaborada por Slack et. al (2009), que funciona como guia para analisar a
vulnerabilidade do lançamento em termos de marketing, produção e finanças. O objetivo
dessa tabela é entender, por meio de critérios específicos, quais os principais riscos
para uma organização associados à introdução de um determinado lançamento no
mercado. Ao elaborar-se a tabela para o Produto S, obteve-se as respostas de acordo
com o quadro abaixo.
Tabela 9: Quadro padrão para análise de vulnerabilidade do lançamento
Fonte: Slack et.al (2009)
Tabela 10: Avaliação do Produto S em termos de vulnerabilidade
Fonte: Elaboração própria
60
É possível notar que os maiores riscos relacionados ao Produto S são relacionados
a questões de marketing, devido ao fato dele configurar uma nova categoria de produto.
Além disso, a produção também apresenta riscos em matéria de tempo para importação,
impactando diretamente a responsividade da cadeia. Os impactos financeiros, por outro
lado, são considerados baixos para o padrão da divisão do negócio em que o produto
está inserido, já que o planejamento inicial de importação era de apenas um lote e o
retorno econômico devido à margem do produto mostrou-se inicialmente alto.
A decisão estratégica de trazer o Produto S para o mercado brasileiro também pode
ser melhor compreendida se analisada sob o viés da vantagem competitiva. A escolha
estratégica inevitavelmente é baseada em recursos. A estratégia competitiva por menor
custo total, por exemplo, depende de tecnologias para obter economias de escala, de
fontes de matérias primas e mão de obra de baixo custo, enquanto a estratégia
competitiva por diferenciação de produto, por outro lado, depende de recursos raros e
valiosos, tais como as marcas, as patentes, as redes de serviços e de distribuição, que
também são fatores de produção.
Uma das escolas de Estratégia é a da visão baseada em recursos (resource-based
view, ou RBV). Este modelo adota duas premissas: as empresas, mesmo dentro de uma
mesma indústria, são heterogêneas com respeito aos recursos estratégicos que
controlam e esses recursos não são perfeitamente distribuídos entre as organizações,
o que faz com que a vantagem competitiva obtida por algumas delas possa durar muito
tempo.
A utilização dos recursos de forma diferenciada por uma determinada empresa pode
fazer com que ela obtenha vantagem competitiva em relação a seus concorrentes. O
modelo VRIO, portanto, analisa as principais forças e recursos compreendidos em uma
decisão estratégica sob uma ótica binária, posicionando-as em um patamar na escala
da vantagem competitiva.
61
Figura 19: Resumo do modelo VRIO
Fonte: Adaptado de The Business Zoom11
Assim, para entender a incorporação do Produto S ao portfólio da Empresa X no
Brasil, estruturou-se as proposições do modelo VRIO de modo a identificar se o produto
de fato representa uma aquisição em termos de vantagem competitiva para a
companhia analisada.
Figura 20: Modelo VRIO aplicado
Fonte: Elaboração própria
Compreende-se, portanto, que o Produto S consiste em uma vantagem competitiva
de curto prazo para a empresa. Isso se justifica pelo fato de que o produto tem um claro
valor percebido pelo mercado e é considerado raro por seu caráter inovador, porém não
possui uma dificuldade de imitação por parte da concorrência devido à simplicidade de
11 Disponível em: http://www.thebusinesszoom.com/visatildeo-baseada-nos-recursos-rbv.html. Acesso em agosto, 2017.
62
sua fórmula minimalista (água e zinco). Apesar disso, a empresa possui a organização
devida para a manutenção desse produto, o que o tornaria uma vantagem competitiva
de longo prazo caso a sua formulação fosse mais complexa.
Entende-se, portanto, que o produto foi concebido assumindo-se os riscos de
marketing inerentes à incerteza de seu posicionamento no mercado, como um caso
típico de inovação. Para isso, foi construído um plano de divulgação específico,
buscando-se as melhores formas de comunicação com o público alvo.
Por fim, pode-se ressaltar que principal vantagem atrelada ao lançamento do
Produto S é seu conceito considerado único em meio aos principais players no mercado
atual. Por se mostrar como uma vantagem competitiva de curto prazo, o cenário ideal
seria uma divulgação massiva e uma comunicação rápida e efetiva com o mercado
consumidor, de modo a consolidar sua posição de pioneiro no mercado para que,
mesmo que haja a proliferação de concorrentes similares, o produto permaneça com
um valor diferenciado percebido pelos seus consumidores.
4.6.2. Análise da concorrência
Tendo em vista que se trata de uma nova categoria no Brasil, a concorrência se
restringe a produtos substitutos que entregam ao menos um dos benefícios do produto
quando usados na mesma situação de consumo. O mercado de pele oleosa é altamente
consolidado no Brasil, visto que mais da metade dos brasileiros possuem esse tipo de
pele. Portanto, ao longo dos anos, diversas categorias de produtos com marcas de
diferentes posicionamentos foram desenvolvidas e se difundiram nos mais diversos
canais de venda.
Como base para compreender o posicionamento desejado para o Produto S no país,
desenvolveu-se uma análise dos principais concorrentes que seriam mais relevantes ao
cenário do lançamento. A tabela abaixo ilustra os players mapeados e suas principais
semelhanças e diferenças em relação ao produto estudado.
63
Figura 21: Principais concorrentes do produto analisado
Fonte: Elaboração própria
Os chamados “lenços antibrilho” são os produtos que mais se aproximam de um
concorrente direto na temática que o Produto S se propõe a resolver. Com grande oferta
no mercado, os lencinhos absorvem a oleosidade da pele sem remover a maquiagem,
com um mecanismo parecido ao de toalhas de papel usadas na culinária para absorver
gordura. Seus principais pontos fortes são a praticidade, a grande variedade de marcas
e preços baixos e a capacidade de resolver rapidamente o problema da oleosidade.
Como pontos fracos dos lencinhos, é possível apontar a pouca higiene no processo, a
falta de sensação de frescor pós uso e de benefícios adicionais para a pele ou de alguma
forma de tratamento.
Outros players relevantes nesse contexto são os produtos na categoria dos pós
matificantes. Estes também buscam atender o mercado da pele oleosa, porém com a
proposta de fixar a maquiagem ao longo do dia. Há uma série de opções disponíveis no
mercado em diferentes faixas de preço, normalmente acima dos os lencinhos e em torno
de R$ 20,00. A solução é on-the-go e ganha por ser compacta e ter o atributo portátil,
podendo ser usado por cima da maquiagem e possuindo efeito instantâneo. Por outro
lado, o pó quando usado em excesso causa sensação de peso na pele pelo excesso de
camadas, e um acabamento esbranquiçado em determinados tons de pele
(característica extremamente relevante ao público brasileiro, tão diverso em matéria de
tons de pele).
Os sabonetes de limpeza também aparecem como concorrentes do Produto S no
mercado da pele oleosa. Apesar de não serem soluções tão práticas ou instantâneas
quanto as anteriores, os sabonetes e géis de limpeza estão presentes na bolsa de
muitas consumidoras, que fazem uso para lavar a pele ao longo do dia. Essa opção é
certamente a mais eficiente no controle da oleosidade e na promoção de frescor, sendo
recomendada pela maior parte dos especialistas no assunto. No entanto, possui como
64
principal desvantagem o empecilho de ser trabalhosa, necessitando de local adequado
para realização da rotina, além de ser incompatível com o uso de maquiagem. Tendo
em vista o perfil da consumidora do Produto S, acredita-se que a necessidade de refazer
toda a maquiagem ao longo do dia é um ponto negativo desse produto, que se encaixa
melhor com o uso em casa. Dentro desse mercado de sabonetes e géis de limpeza os
concorrentes também são diversos, podendo variar preços entre R$ 5 e R$ 100. Dentro
da própria marca a qual o produto analisado pertence, essa opção apresenta uma das
linhas de produto mais vendidas do mercado e para o mercado de dermocosméticos
como um todo, a categoria de limpeza/pele oleosa tem peso extremamente significativo,
possuindo elevados investimentos principalmente no que diz respeito a promoções.
A água termal é a opção que mais se aproxima do Produto S do ponto de vista do
consumidor por conta do formato em spray. Nas páginas da marca nas redes sociais,
um dos tópicos mais questionados do produto foi a diferença entre a água termal para
a solução matificante. O conflito começa porque a água termal também comunica a
sensação de refrescância através do spray, além do cuidado com a pele decorrente do
uso contínuo. A opção é a mais cara dentre as demais, sendo, em geral, um produto de
base 100% importada. No Brasil o apelo desse produto é baixo, ficando restrito a um
nicho de consumidores com maior poder aquisitivo. As águas termais possuem versões
compactas, práticas para serem reaplicadas ao longo do dia e que podem ser levadas
dentro da bolsa. O seu maior benefício é a refrescância e cuidado para peles sensíveis.
Possui a vantagem de não retirar a maquiagem mas, por outro lado, não age
diretamente contra a oleosidade da pele, não tendo, portanto, o efeito matificante.
Em resumo, o Produto S se apresenta com uma opção completa para as tensões
da consumidora com pele oleosa, resolvendo os principais pontos fracos dos produtos
substitutos. Para melhor entender se o posicionamento pretendido pelo Produto S
realmente se enquadra nas principais demandas do mercado consumidor e se o produto
de fato contém um diferencial claro em relação à sua concorrência, elaborou-se um
diagrama de QFD (Quality Function Deployment - Desdobramento da Função
Qualidade). O QFD é uma ferramenta de qualidade que permite incorporar as demandas
dos clientes aos projetos de produto, dando mais consistência aos lançamentos e
aproximando-os das necessidades e da realidade do mercado
A partir dos requisitos dos consumidores, é possível traduzir essas ideias ou
conceitos em requisitos de projeto que podem ser mensuráveis e, portanto,
transformados em características efetivas do produto, ou conceitos. Abaixo, explicita-se
o padrão ou o plano básico de como a casa da qualidade pode ser montada para
relacionar as percepções dos consumidores em relação ao produto em questão e
concorrentes, além da influência desses fatores nas especificações do produto. Nos
65
apêndices, encontra-se o diagrama completo elaborado considerando o lançamento do
Produto S, os aspectos de mercado analisados e seus principais concorrentes atuais.
Figura 22: Quality Function Deployment
Fonte: Câmara de comércio e indústria12
Analisando a adequação de mercado do Produto S em relação as especificações e
produtos similares, é possível ressaltar alguns pontos principais.
Em pesquisa com consumidoras de pele oleosa, elaborada pela Nielsen em 2015,
foram apontados os seguintes fatores relevantes para um produto com controle de
oleosidade:
• Eficaz: Relacionado ao controle de oleosidade do produto.
• Prático: Fácil de aplicar, de rápida aplicação.
• Portátil: Foi apontado como diferencial produtos com embalagem pequena e
vedada para levar na bolsa.
• Barato: Relação do ticket médio do produto, a categoria não é tão valorizada.
• Reaplicável ao longo do dia: Produtos que podem ser aplicados por cima da
maquiagem, cujas camadas não pesem no rosto.
• Refrescante: Diferencial para a categoria, oleosidade tido como mais incomoda
no calor.
12 Disponível em: http://www.aeportugal.pt/Inicio.asp?Pagina=/Areas/Qualidade/FerramentasQualidadeQuality&Menu=MenuQualidade. Acesso em dezembro, 2017.
66
• Higiene: Produtos que não geram resíduos e não tenham aplicador em contato
diretamente com a pele do rosto (pincéis, esponjas), já que a oleosidade é
apontada como o principal ofensor em matéria de insatisfação por parte dos
consumidores.
Em relação aos concorrentes, o Produto S é superior na maioria dos quesitos,
perdendo em portabilidade, item fundamental para um item que visa ser reaplicável ao
longo dia. Apesar desse ponto de fraquezas, o Produto S mostra nas análises um
potencial alto de aceitabilidade, tendo um mercado receptivo e preço adequado a
categoria. Essa análise, portanto, posiciona o produto em algumas posições
estratégicas frente a seus principais concorrentes, possuindo atributos diferenciados
que são considerados relevantes pelo mercado.
Contudo, a garantia de tais atributos está intimamente ligada ao projeto do produto.
Embalagem e fórmulas são pontos de atenção por colocarem em risco a margem de
lucro do Produto S, ponto fundamental para a consolidação no lançamento como um
produto cruzeiro na empresa. Apesar de ser possível desenvolver um produto mais
compatível com a necessidade dos consumidores brasileiros, existe uma clara barreira
de quantidade mínima a ser produzida para que sejam obtidos ganhos de escala e se
possa conseguir manter o preço no patamar dos produtos similares.
4.7. ESTRATÉGIA DE LANÇAMENTO
O Produto S foi entendido inicialmente como um produto de grande apelo digital, e
não dermatológico. Por ser um produto minimalista com uma fórmula simples, que
possui como componentes apenas água e zinco, ele não foi visto como um produto com
potencial de penetração tão alto na divulgação por meio dos dermatologistas. Assim,
optou-se por alocar um investimento mínimo nesse pilar, tendo em vista o fato de que a
marca no qual está inserido tem um portfólio de produtos tipicamente aliados ao
consultório médico.
Contudo, a grande oportunidade para o produto consiste no fato de que o apelo
digital tem se tornado um dos pilares dentro dos hábitos de consumo dos brasileiros. De
acordo com o estudo WebShoppers, realizado pela empresa Ebit, quase 25% da
população adquiriu produtos por meio do comércio eletrônico em 2016, número 22%
maior do que no ano anterior. Esse fato demonstra que a mídia digital é um fator
essencial tanto em matéria de conscientização a respeito do produto e enorme potencial
de capilaridade na divulgação do lançamento, e que também leva o consumidor a evoluir
e a de fato comprar os produtos que o atingem por meio de campanhas online.
67
Nesse cenário, a construção do preço foi fundamental para estabelecer vantagem
competitiva frente aos possíveis produtos substitutos. Considerando o preço base do
produto no país de origem, os custos de importação e royalties, os gastos com impostos
e o custo de nacionalização da embalagem, chegou-se a um preço para o consumidor
final que está bem abaixo o ticket médio da marca, R$ 59,90, e que consiste em uma
margem de lucro de 70% por produto para a empresa. Esse fato, aliado à elaboração
de uma forte campanha digital, potencializou a expectativa de que o produto ficasse
ainda mais atrativo nas redes sociais.
O lançamento do Produto S contou com dois grandes pilares digitais: a campanha
nas redes sociais da marca e a parceria com influenciadores digitais do mercado da
beleza.
A campanha digital foi desenhada para educar a consumidora sobre o novo gesto
proposto, focando em criar uma necessidade de consumo ao mostrar que o produto era
mais uma etapa necessária ao cuidado com a pele oleosa. Como visto acima, a rotina
de pessoas que se enquadram nesse mercado consumidor envolve diversas etapas. O
consumidor já está acostumado com o uso de dermocosmético ou soluções de limpeza,
assim, a inserção do Produto S nesse contexto teve como principal objetivo o
posicionamento como uma solução imediata: “controle da oleosidade em apenas
algumas borrifadas”.
O principal risco identificado no lançamento dessa campanha era justamente a não-
valorização do produto por conta da falta de entendimento de suas propriedades, tendo
em vista, principalmente, todas as outras opções disponíveis no mercado com a mesma
finalidade. A consumidora brasileira, de forma geral, busca por produtos práticos e se
possível multiuso, como descrito em tópicos anteriores. Nesse contexto, o Produto S
transmite em suas peças não apenas o benefício primário, mas também o efeito de
tratamento a longo prazo, estimulando o uso contínuo.
Pensando na inevitável comparação a ser feita pelos consumidores após o
lançamento, a Empresa X buscou como sua própria estratégia de campanha o uso de
comparações com produtos substitutos, expondo as tensões da mulher na sua rotina e
estimulando uma substituição. O produto foi vendido como solução para o problema que
outros produtos não conseguiam resolver, ou que resolviam, mas promoviam
experiências desagradáveis no uso. Em estudos pré-lançamento, foram realizadas, por
exemplo, pesquisas com consumidoras que mostraram rejeição ao uso de “lencinhos
antioleosidade” porque, segundo elas, eles deixam “o papel sujo e com aspecto
desagradável”.
O resultado da campanha inicial da campanha mostrou-se extremamente positivo
em matéria de engajamento nas redes sociais (número de curtidas e visualizações
68
orgânicas) e na geração de posts espontâneos por celebridades do mundo digital. No
entanto, o impacto em conversão de vendas diretas pelos canais digitais é difícil de ser
medido, visto que o e-commerce nessa categoria representa um percentual muito baixo
do negócio.
Seguindo a tendência global, o lançamento de Produto S também contou com o uso
de pessoas consideradas influentes no meio digital para criar awareness. Em um
contexto social no qual o fluxo de informações ocorre em larga escala, o modelo de
comunicação atual possui como base a interação instantânea e a quebra de barreiras
de espaço entre os indivíduos. Nesse cenário, onde a maior parte das pessoas faz uso
das plataformas de redes sociais como forma preferencial e quase exclusiva de
obtenção de informações, novos tipos de produtores de conteúdo se destacam: os
chamados influenciadores digitais são indivíduos que se destacam nas redes e que
possuem a capacidade de mobilizar um grande número de seguidores, pautando
opiniões e comportamentos e até mesmo criando conteúdos que sejam exclusivos. A
exposição de seus estilos de vida, experiências, opiniões e gostos acabam tendo uma
grande repercussão em determinados assuntos e, por meio desse canal, algumas
marcas tem buscado alcançar o seu consumidor de forma simples e natural ao seu dia
a dia. É uma prática capaz de gerar empatia e tornar-se parte do cotidiano do indivíduo,
não como uma propaganda invasiva e cansativa, mas como informação e
entretenimento. Nesse sentido, a publicidade é feita diretamente onde o público alvo
está: ao receber uma divulgação por meio de um determinado influenciador digital, seus
seguidores consomem aquela propaganda naturalmente pelo simples fato de confiar e
almejar os mesmos produtos ou serviços que ele usa.
A escolha desses indivíduos formadores de opinião é baseada no perfil do seguidor
que se deseja atingir. Para o caso de Produto S, este deveria ser compatível com os
interesses e faixa etária da marca, além do número de seguidores que tais
influenciadores são capazes de alcançar. Os influenciadores digitais geram hoje
resultados tão (ou mais) significativos do que um filme de 30 segundos na televisão.
Isso acontece porque as últimas gerações estão muito mais presentes na internet do
que nos meios convencionais de comunicação em que os horários e conteúdo são
limitados pelas emissoras.
Esse tipo de campanha via influenciadores tem como principal objetivo promover
grandes incrementos de vendas a curto prazo. É comum que uma personalidade com
milhões de seguidores poste um vídeo temporário em sua página sobre algum produto
e impacte sensivelmente a curva de vendas em um dia, por exemplo, podendo levar até
mesmo a ruptura do produto em alguns pontos de venda. Por isso, esse tipo de ação
ainda se mostra como altamente imprevisível e até arriscada, caso o produto não
69
possua base suficiente para atender à demanda que pode ser explosiva, ou os elevados
investimentos não retornem nem o mínimo esperado.
Esses impactos dependem muito da aceitação do produto pela audiência em
questão e da capacidade do comunicador de transmitir a mensagem. Como muitos
desses influenciadores costumam fazer vídeos espontâneos, dando um certo tom de
indicação pessoal ao anúncio publicitário, nem sempre o conteúdo é passado
corretamente e não atinge totalmente o objetivo.
Algumas campanhas também acontecem em parceria com clientes parceiros, como
sites de cosméticos e até grandes redes de farmácia, por conta da relação sensível
entre a marca e a dermatologia. Para manter o perfil de marca dermatológica, a marca
ao qual o produto pertence em geral evita atrelar a sua imagem a pessoas que
“prescrevem” produtos sem a legitimidade médica. Apesar dos produtos não precisarem
de receita para serem comprados, nem se enquadrarem na categoria de medicamento,
o uso em tratamento de doenças aproxima os produtos dos consultórios. Produtos
dermatológicos que fazem grande apelo ao grande público geralmente são
desvalorizados pelos dermatologistas.
4.8. MÉTODO DE PREVISÃO UTILIZADO
Assim como os demais produtos da divisão do negócio, a previsão do Produto S foi
desenhada para ser incluída em um software específico que usa como fonte séries
históricas e comparações com outros produtos. A empresa francesa que fornece o
software atua no ramo do gerenciamento de supply chain há mais de 20 anos e oferece
soluções para otimização da cadeia de suprimentos, possibilitando a redução de custos
ao mesmo tempo em que viabiliza o aumento do nível de serviço.
Dentre o portfólio de soluções com plataformas para apoio à tomada de decisão, a
empresa X escolheu fazer uso de um software exclusivo para previsão de vendas. Esse
sistema, implementado no Brasil em 2014, consiste em uma ferramenta robusta de base
estatística, que consolida todos os dados de venda a respeito de todos os produtos
existentes na organização e propõe projeções baseadas em diversos modelos distintos,
com parâmetros variáveis específicos (como tendência e sazonalidade).
Como o produto analisado inaugura uma nova categoria no Brasil, no entanto, foram
usados como benchmark produtos substitutos analisados anteriormente. A seleção dos
produtos foi feita visando a escolher produtos que mais se relacionam com o mercado
de dermocosméticos, ou seja, com o ticket médio alto e com principal canal farmácia.
Muitos dos produtos concorrentes se enquadram na categoria “grande público”,
fazendo campanhas de marketing massivas que atingem direto o consumidor. Por outro
70
lado, acabam perdendo no quesito expertise dermatológica e confiança que a marca em
questão tem no ramo de cuidados com a pele.
Tabela 11: Semelhanças e diferenças entre os concorrentes
Fonte: Elaboração própria
Dos produtos concorrentes, foram selecionados dois que mais possuem pontos em
comum:
• Lenços antioleosidade da Dermage (R$ 57,00): marca consolidada na
dermatologia, com presença expressiva no canal farma e lojas próprias.
• Água Termal da Avene (R$ 59,00): produto que, de acordo com pesquisas
realizadas, foi o mais associado ao Produto S. Apesar de apresentar benefícios
diferentes, ambos possuem o mesmo formato e o gesto em spray. A Avene é
líder no mercado em água termal por ter um preço muito abaixo da concorrência.
Como o preço é um fator de extrema relevância ao consumidor, acreditou-se que
Produto S poderia alcançar o mesmo patamar por ter o mesmo preço e formato,
apesar de ser um produto com benefícios distintos.
Com base no desempenho de lançamento desses dois produtos foi possível estimar
a priori o potencial do mercado. Para uma estimativa mais otimista, poderia ter sido
utilizado como base o produto da linha cruzeiro Effaclar Gel, sabonete antioleosidade
da marca La Roche-Posay. Com mesmo preço de venda (R$ 59,90) e mesmo público
alvo, o produto possui benefícios bem similares e um posicionamento bem definido em
relação à concorrência. Contudo, foram levantados muitos questionamentos sobre a
eficácia do produto e a aceitação do novo gesto na rotina do consumidor, que cada vez
mais busca a simplificação e a adequação das marcas em que confia ao seu dia a dia.
As características do produto desenvolvido também mostravam pouca relação com a
71
dermatologia, por ser um produto de resultado imediato e não possuir resultados
relevantes como tratamento a longo prazo.
O lançamento também foi desenhado para não contar com investimentos
expressivos de marketing confirmados até o início da verificação de sua performance.
Apenas quando estruturado o real potencial dessa nova solução no mercado, decidiu-
se que 30% da verba para campanhas seriam liberados, o que poderia variar
proporcionalmente de acordo com o faturamento da divisão como um todo. Em um
cenário de retração de investimentos e de lucros com uma taxa de crescimento
expressivamente menor, torna-se mais difícil dimensionar um lançamento em termos
financeiros para que ele atinja todo o seu potencial de vendas.
Por esses motivos, o método utilizado para construir o número que guiou a previsão
de vendas antes do lançamento foi o faturamento apenas da Água Termal da marca
Avene, que possui mesmo preço, um entendimento semelhante por parte do consumidor
e faz parte de uma categoria com pouco investimento em marketing.
Figura 23: Comparação entre produtos da mesma marca
Fonte: Elaboração própria
No entanto, como demonstrado no gráfico acima, dois produtos de uma mesma
marca consolidada no mercado e focados nos mesmos consumidores, com propostas
semelhantes de benefício final, podem possuir desempenhos consideravelmente
diferentes, assim como preços (dados fornecidos pela própria Empresa X). Com uma
abordagem altamente conservadora, presumiu-se na análise pré-lançamento (julho) que
o Produto S teria em sua maturidade exatamente o mesmo desempenho que a Água
Termal de Avene, ou seja, em torno de 4000 unidades por mês.
Definida a ambição inicial em matéria de vendas do produto, foi feito o ramp up da
maneira usual dentro da divisão do negócio: 50% da ambição no mês seguinte ao início
72
do sell in (venda para consumidores pessoa-jurídica) e aumento gradativo até chegar
no quarto mês após o sell in. O Produto S começou a ser vendido para as grandes redes
em junhos e os resultados começaram a ser apurados em agosto, sempre tendo a visão
do mês anterior como base comparativa (M-1). A previsão de vendas, sob essa ótica,
acabou sendo ajustada diversas vezes quando se passou a apurar o resultado obtido
no faturamento.
Figura 24: Previsão e venda realizada do lançamento
Fonte: Elaboração própria com dados da Empresa X
Inicialmente acreditava-se que Produto S venderia apenas 1800 unidades no
primeiro mês de venda: no entanto, quando o resultado foi apurado no mês seguinte, o
número passava de 4000 unidades.
O grande salto ocorreu no mês de setembro com o início da campanha digital, que
levou o lançamento a alcançar o número de 11000 unidades já no segundo mês de
vendas. Na previsão M-1, estimavam-se ainda 4000 unidades (como realizado no
primeiro mês) e a diferença é ainda maior quando comparado a previsão M-2, de 2200
unidades.
73
Figura 25: Alteração na previsão de vendas mês a mês
Fonte: Elaboração própria com dados da Empresa X
Os novos ajustes da previsão com a apuração de vendas, estabeleceram uma nova
ambição do produto, saltando de 4000 unidades para até um pico de 15000 unidades
em dezembro. No próprio mês de setembro, o ritmo acelerado das vendas culminou na
ruptura de estoque do produto em alguns pontos de venda, o que tornou ainda mais
difícil mensurar o real potencial do produto no auge do lançamento.
Apesar dos reajustes, a quantidade em estoque só pôde ser de fato corrigida no fim
mês de novembro, quando foi concluída uma nova entrada de produtos no centro de
distribuição. Por se tratar de um produto de base importada, o lead time para entrega e
disponibilização de estoque possui uma média de 3 meses. Considerando essa
limitação, a previsão de novembro foi feita com base nas unidades em distribuição, não
podendo considerar o real alcance do produto (demanda reprimida).
Cabe ressaltar que uma franquia similar de produtos passou por uma situação
parecida com o lançamento de um tipo de BB cream, o que demonstra um padrão em
matéria de dimensionamento dos lançamentos dentro dessa unidade do negócio. Como
consistiu em um grande sucesso pelos meios digitais, impulsionado por campanhas com
influenciadores famosos, o produto acabou sofrendo por conta de ruptura de estoque
em todos os seus primeiros meses. A adequação para a nova demanda foi lenta,
deixando milhares de consumidores frustrados por não encontrarem produto. Como
resposta, o produto foi importado em caráter de urgência em grandes quantidades. A
chegada no lead time, no entanto, aconteceu após o auge do lançamento. Sem as
ferramentas de divulgação focadas no produto, ele rapidamente se transformou em um
giro lento dentro do estoque.
74
O fenômeno descrito acima demonstra o risco de reajustes na previsão de venda
depois de períodos de ruptura, onde consumidores perdem o contato com o produto nos
veículos de comunicação. Por conta disso, esse fenômeno será uma das vertentes
analisadas no desempenho do Produto S, que pode ter desempenho prejudicado em
uma segunda fase por ter ficado ausente do ponto de venda e por não ter previstas mais
campanhas de ativação focadas ao longo do ano.
4.9. RESULTADOS
Após o período inicial do lançamento, foi possível coletar os dados relativos à
performance do produto e analisar os resultados concretos do Produto S no mercado.
Em relação à categoria de cuidados com o rosto como um todo, o produto apresentou
um faturamento significativo desde o mês de seu lançamento, representando uma média
de 5% do faturamento total da categoria em unidades, percentual expressivo se
comparado ao produto de melhor performance para a marca nesse segmento, que gira
em torno de 30% do faturamento total.
Figura 26: Faturamento do lançamento em relação à categoria
Fonte: Elaboração própria com dados da Empresa X
A categoria como um todo possui um histórico de boa assertividade em matéria de
previsão de vendas, com resultados que oscilam em uma média de 85% de
acuracidade. Esse fato demonstra a boa percepção e a leitura correta das informações
que têm sido obtidas do mercado de cuidados com a pele, entendendo-se qual o espaço
ocupado atualmente nesse mercado e trabalhando os resultados para atender a esse
público já bem definido.
75
As principais diferenças em matéria de previsão versus faturado são relativas ao
entendimento do timing do impacto das ações que impulsionam a venda ao consumidor
final (sell out) na venda ao consumidor intermediário (sell in). É frequente que as ações
em mídia e nos pontos de venda demorem algum tempo para serem traduzidas
efetivamente em incrementos em venda. Esse tempo é variável e depende de vários
fatores, como da efetividade da ação em si, da clareza da comunicação com o público
alvo e com os clientes intermediários e do posicionamento do produto no mercado como
um todo.
Figura 27: Comparação da previsão com o faturado realizado pela categoria como um todo
Fonte: Elaboração própria com dados da Empresa X
Para o produto analisado, o gráfico que compara previsão de vendas com o
faturamento (sell in), demonstra o efeito do sucesso de vendas nos primeiros meses de
lançamento do produto e evidencia o quanto os fatores logísticos e operacionais são
relevantes à performance do produto no mercado. No primeiro mês, o produto teve um
faturamento em linha com o esperado, muito impulsionado pelo fato de que sua abertura
de vendas ocorreu na segunda metade do mês. Pode-se verificar que já havia os
primeiros indícios de que o produto venderia além do esperado, fato que se consolidou
no mês de agosto, no qual o produto sobrevendeu 54,3% da sua previsão traçada três
meses antes (M-3, utilizada como resultado oficial da companhia). Por conta disso, o
produto abriu o mês de setembro com o estoque muito abaixo do previsto, o que acabou
sendo suficiente apenas para atender à previsão subestimada feita três meses antes,
mas não à realidade do mercado, o que acabou sendo refletido em uma perda de vendas
de quase R$300.000.
76
O mesmo cenário acabou se mantendo no início do mês de outubro, até a chegada
da importação do segundo lote comprado do produto. Com a chegada do estoque, mais
uma vez, a previsão de vendas foi superada pelo faturamento, dessa vez em 79%.
Evidenciou-se, portanto, que a construção do número havia sido feita de forma a
subestimar o real potencial de vendas do produto em seus primeiros meses. A decisão
de importar mais lotes e de aumentar os parâmetros de estoque, no entanto, ficou mais
crítica devido ao fato de não haver a certeza se as vendas expressivas nos primeiros
meses consistiam em um efeito temporário do lançamento, ou se de fato o produto
estava inaugurando uma linha de sucesso para a marca.
Figura 28: Comparação da previsão com o faturado realizado do lançamento
Fonte: Elaboração própria com dados da Empresa X
A previsão de vendas para esse lançamento, portanto, ao ser construída baseada
inteiramente em um resultado de um produto considerado semelhante de uma linha
cruzeiro na concorrência, acabou subestimando o potencial dos primeiros meses do
produto no mercado. Assim, adotou-se uma postura inicialmente conservadora e pouco
pautada nas impressões reais a respeito do mercado, o que, ao somar-se com as
dificuldades logísticas e ao elevado lead time do produto, culminaram em uma perda
considerável em matéria de nível de serviço e de disponibilidade na gôndola.
O gráfico abaixo demonstra uma dispersão do erro em relação à previsão de vendas,
que se mostrou muito descolada da realidade principalmente nos meses de venda em
que o produto alcançou níveis de estoque suficientes para atender à demanda reprimida
nos meses anteriores. Medido em unidades, o erro calculado demonstra o quão
subestimada foi a previsão em relação à realidade do lançamento.
77
Figura 29: Previsão de vendas realizada e dispersão do erro
Fonte: Elaboração própria com dados da Empresa X
Em matéria de nível de serviço (fill rate), portanto, percebe-se uma clara queda
devido à ruptura de fornecimento nos primeiros meses. Quanto mais baixo o estoque,
maior a perda de vendas, que gera uma repressão da demanda nos meses
subsequentes. O cenário só passa a melhorar a partir do momento em que se reconstrói
o inventário.
Cabe ressaltar que durante o período de outubro e novembro houve a chegada de
mais um lote de compra, que foi rapidamente consumido pelo mercado que aguardava
pelo produto. Isso demonstra, mais uma vez, os problemas operacionais decorrentes do
subdimensionamento do potencial de vendas do produto. Toda a cadeia e o processo
de importação tem um elevado lead time e alta complexidade envolvida, com diversos
atores envolvidos. Em pouco tempo (dentro de apenas um mês), consumiu-se todo o
estoque proveniente de um lote importado. Para reabastecimento, não seria suficiente
considerar o fluxo normal e o tempo padrão para as etapas envolvidas no processo de
importação, o que acarreta gastos extras e estresse em todos os elos da cadeia para
trazer o produto em caráter de exceção o mais rápido possível.
78
Figura 30: Estoque e nível de serviço
Fonte: Elaboração própria com dados da Empresa X
4.10. PROPOSTAS, IDENTIFICAÇÃO DE PROBLEMAS E SOLUÇÕES
Ao analisar o desempenho do Produto S no mercado e o método escolhido para
construir a sua previsão de vendas ao longo dos meses, foi possível identificar alguns
pontos de alavancagem no que diz respeito à consolidação de diversas vertentes para
construir e compreender a demanda de produtos sem base histórica de vendas.
4.10.1. Desenvolvimento operacional versus janela de lançamentos
O principal problema identificado foi a ausência de estudos de mercado quantitativos
ou de testes efetivos de performance do produto com os consumidores, que foi lançado
com uma previsão de vendas inicial pautada apenas nos números de faturamento de
um concorrente local cujo preço era semelhante. Percebeu-se o espaço no mercado e
a oportunidade clara do desenvolvimento de um produto que suprisse o gap da pele
oleosa e do gesto simples diário de limpeza, porém, optou-se pelo lançamento de um
item operacionalmente complexo, com elevado lead time e lote mínimo de compra. Essa
postura pode ser justificada pelo clássico trade off do timing do lançamento versus o
estudo detalhado de suas possibilidades: buscava-se apenas um lançamento que
pudesse atingir o mercado consumidor o mais rápido possível e atender a uma demanda
cada vez mais evidente para a concorrência.
Percebe-se, no entanto, que esse problema é comum às empresas que lidam com
a inovação como pilar estratégico no negócio e com o desenvolvimento de produtos
79
baseados em novos conceitos ou tecnologias em larga escala. A consolidação de uma
proposta de valor no mercado e o estabelecimento de uma vantagem competitiva de
longo prazo são tarefas complexas, que exigem apostas muito grandes por parte tanto
da gerência executiva quanto dos investidores em uma companhia. Em um mercado
movido à inovação,o grande dilema consiste nas necessidades dos consumidores em
relação às possibilidades concretas de lançamentos bem estruturados. Como afirma
Eccles et al.(1994), a sociedade atual faz mais do que aceitar passivamente a introdução
de novos produtos ou serviços: ela criou um mercado que “engole” ansiosamente o novo
por acreditar que ele é superior apenas por sua simples condição diferente do atual,
demonstrando-se, de certa forma, mais intensa em matéria de decisões e,
simultaneamente, mais imprevisível. Assim, frequentemente os setores envolvidos na
concepção de um lançamento esbarram na necessidade da rápida introdução a um
mercado consumidor volátil em matéria de aceitação de novos produtos, porém com
pouco tempo hábil para desenvolver os detalhes operacionais necessários à
performance ideal, ou até mesmo esperada ou mínima.
Nesse contexto, o cenário ideal consiste na utilização de uma cadeia produtiva
suficientemente flexível para introduzir “testes” ou versões iniciais dos produtos que a
organização pretende lançar, com áreas dedicadas ao desenvolvimento operacional,
visando a otimiza-lo em matéria tanto de tempo de execução quanto em performance.
Assim, a estruturação de células de lançamento que atuem nesse gap operacional e
funcionem em paralelo, em um processo de engenharia simultânea, à criação
estratégica e ao entendimento do mercado consumidor alvo aparecem como proposta
nesse sentido. Cadeias de suprimentos e processos que dependam de uma
estruturação de grande porte e de um “engessamento” dos atores envolvidos acabam
consistindo em um dos principais empecilhos a decisões estratégicas acertadas em
matérias de lançamentos. É essencial que os processos de desenvolvimento
operacional sejam bem estruturados e desenhados, mas que possuam os insumos para
ocorrer de forma rápida o suficiente para serem tão relevantes quanto às perspectivas
das necessidades de mercado no momento das decisões de negócio. A dimensão
operacional, portanto, deve ser fator mais relevante à decisão estratégica e não consistir
apenas em uma barreira e possuir um aspecto de entrave ao potencial desempenho de
um dado lançamento.
4.10.2. Scorecard estratégico
80
Com uma cadeia mais flexível e capaz de atender ao timing das decisões, cabe
considerar no processo de previsão de vendas dos novos produtos todos os cenários
possíveis em matéria de custos versus performance esperada. Nesse sentido, é
fundamental a estruturação de um processo de simulações, com objetivo de verificar se
a empresa tem a estrutura necessária para absorver os custos e os impactos de
mercado decorrentes de um desempenho de lançamento que vá contra as expectativas
iniciais.
O processo de previsão de vendas é, por essência, um processo sujeito a altos
níveis de erro, devido a todas as incertezas envolvidas e à variedade ou até mesmo
subjetividade dos parâmetros que devem ser considerados ao alcançar um número final.
Assim, cabe aos atores desse processo a consciência de que, principalmente para o
caso de produtos ou serviços inovadores, mais importante do que a exatidão nos
números traçados é a certeza de quais cenários limite a empresa consegue alcançar.
Isso exige uma mudança de mentalidade por parte tanto da gerência de marketing
quanto do planejamento operacional que devem, em conjunto, entender se a balança
entre o posicionamento de mercado desejado e a complexidade, baixa reatividade e
eventuais altos custos realmente atinge um nível de equilíbrio desejado.
De forma prática, pode-se pensar em um scorecard estratégico estruturado do tripé
de custos, complexidade e mercado consumidor, que leva os atores na decisão de um
lançamento a pensar em conjunto em todos os aspectos tanto de caráter mercadológico
quanto operacional simultaneamente, abordando todos os tópicos que podem ser
críticos e entendendo se a inovação realmente vale a pena ao balancear todos esses
aspectos. O principal objetivo da ferramenta é garantir que todos os aspectos críticos
sejam levados em consideração no momento da decisão do projeto do lançamento,
estruturando de forma concisa todos os possíveis problemas que se podem obter e de
que forma eles podem ser contornados, caso haja um ou mais tópicos dentro do tripé
que o compensem.
Ao atribuir notas a cada um dos critérios, é possível estruturar de maneira visual
quais os principais pontos que devem ser levados em conta no dimensionamento do
lançamento em questão e, principalmente, quais os aspectos mais críticos que precisam
ser considerados em uma análise de cenários de acordo com as possibilidades de
performance traçadas para as vendas. Um exemplo de scorecard estratégico que pode
ser adotado pelas organizações para auxiliar em seu processo decisório está
representado abaixo.
83
Figura 33: Scorecard estratégico - mercado consumidor
Fonte: Elaboração própria
Cabe ressaltar, no entanto, que apenas um fluxo mais transparente de informações
entre os agentes acaba não construindo uma solução definitiva para os problemas de
previsão de vendas. Mesmo com um melhor compartilhamento de dados e uma
visualização mais clara dos aspectos críticos, ainda pode existir uma distorção
significativa no planejamento da demanda. Faz-se necessária também a definição
conjunta de uma estratégia, fundamental ao analisar os desafios do cenário em que se
encontra todo o sistema e o estabelecimento de uma política de procedimentos a se
adotar diante dessa perspectiva, que leva a encadear ações condizentes com essa
política pretendida.
A adoção de uma estratégia resulta em compartilhamento de visão, objetivos e
suporte operacional nos indicadores de desempenho na cadeia de suprimentos. Um
maior controle na efetividade dos processos de demanda é também muito importante
na medida em que cria mecanismos de controle e feedback em toda gestão do sistema.
4.10.3. Análise de cenários
84
Em outra análise, é possível categorizar as oportunidades de melhoria em duas
grandes vertentes: acuracidade da previsão de venda e melhoria na responsividade da
cadeia. Em matéria de melhoria na previsão de vendas, é possível estruturar uma
análise de cenários para conduzir o dimensionamento de custos.
Atualmente a Empresa X segue integralmente as previsões de venda como inputs
para balizar os planos de produção, assumindo em termos operacionais que a previsão
feita condiz com a realidade do mercado. Com isso, qualquer diferença no número para
mais ou para menos gera custos secundários não levados em consideração no
momento do lançamento.
Como analisado anteriormente, em termos de previsão de demanda é seguro
assumir que haverá algum erro. Se a previsão atua como um norte para o planejamento
da produção, esse potencial de erro deve ser levado em conta, em conjunto com as
possíveis variações do mercado.
Para tal, tem-se como boa prática de previsão de demanda a construção de três
cenários: um otimista, um moderado e um pessimista. Dessa forma, é possível estar
mais preparado em termos financeiros durante os primeiros meses de vida do produto.
No caso do Produto S, até mesmo o cenário otimista poderia ser considerado abaixo do
número de venda, tendo em vista a proporção que o produto tomou. Mesmo assim, os
impactos nesse caso teriam sido menores do que seguindo com o cenário pessimista,
fato que acabou acontecendo.
Os custos que devem ser levados em conta no momento da escolha do cenário são
diferentes: o cenário pessimista nivela as vendas por cima e compreende que é possível
vender menos do que o produzido, estando envolvidos tanto o custo de produção do
giro lento quanto custo de manutenção de estoques e eventual obsolescência. Já o
cenário otimista assume como premissa a venda além do planejado e a ruptura de
fornecimento, levando em conta o custo oportunidade da venda do produto além de se
estimar o impacto dessa quebra de fornecimento por um determinado período,
associados a custo de campanhas de marketing no ar e perda de fidelização dos clientes
que podem recorrer a concorrência nesse período. Assim, em resumo, os custos ou
fatores mais relevantes a serem considerados dentro desses cenários são:
Em caso de gap de vendas (cenário pessimista):
• Custo de produção (fator unitário calculado que inclui todos os custos do produto
até que ele chegue ao centro de distribuição)
• Custo de armazenagem
• Custo de estratégia de escoamento (rebaixas e promoções)
85
Em caso de sobrevenda (cenário otimista):
• Custo de oportunidade
• Investimento em amostras
• Investimento em mídia durante o período
• Migração de consumidores para concorrência
Para cálculo desses dois cenários, deve-se usar o cenário moderado (padrão, ou
média inicial) como base, para a assim tomar a decisão de que posicionamento seguir.
Em alguns casos os custos do cenário otimista compensam o risco de ruptura, sendo
mais razoável seguir com essa abordagem. Sendo ambos custos muito altos vale seguir
com o cenário moderado e até mesmo repensar a viabilidade do lançamento, podendo
incluir no custo do produto uma porcentagem ligada ao risco.
4.10.4. Priorização de clientes
Pode-se afirmar, portanto, que ter todas a possibilidades mapeadas quando se trata
de um lançamento inovador é fundamental para o sucesso de um produto ou serviço.
Faz-se necessária a criação de indicadores de ritmo e a formulação de planos de ação
para cada cenário possível. Na Empresa X, o tempo entre perceber que o lançamento
está desenvolvendo diferente do esperado e o tempo de reação é longo. Com o Produto
S, o segundo mês de venda já excedeu em 50% as expectativas e no mês seguinte já
houve ruptura, sem tempo hábil para executar um plano de ação suficientemente
responsivo.
Um dos custos associados a ruptura passa pela falta de visibilidade do produto.
Quando um consumidor para de ver o produto na gôndola, em um primeiro momento
ele pode começar a procurar o mesmo produto em outras lojas. Porém, se a falta for
longa o suficiente, ele começa a se esquecer do produto e até mesmo comprar algum
outro substituto que atenda parcialmente à sua necessidade.
Para minimizar o impacto da ausência do produto em casos de estoque
subdimensionado, sugere-se a priorização de pontos de venda de maneira que a falta
do produto não tenha impactos tão expressivos nos principais clientes, principais
cidades e bairros. O controle de quando essa priorização deve ser feita e de quão
estreita ela deve ficar varia com a criticidade da cobertura de estoque. Para o momento
do lançamento como um todo, é possível até mesmo estabelecer cotas (limites) de
venda para os principais clientes e, conforme essa cota for alcançada, deve-se começar
a repriorização e a pensar em uma expansão parcial.
86
Ao primeiro sinal de sobrevenda o estoque deve ser recalculado para que dure até
a próxima entrada de estoque, visando manter a visibilidade do produto, mesmo que
mínima. Assim, garante-se o abastecimento nos pontos de venda mais importantes,
minimizando o impacto da perda de visibilidade e de market share no período inicial do
produto. Dentro desses critérios, portanto, propõe-se uma revisão das cotas na seguinte
ordem de prioridades:
• Principais clientes: redes grandes com maior giro de produtos e com
possibilidade de verificação do estoque no cliente (sistemas de EDI - eletronic
data interchange - e interfaces com trocas de dados direta).
• Região sudeste: para casos de estoque crítico, é importante não pulverizar os
produtos e manter nas área estratégicas de negócio. A região sudeste é crucial
devido ao poder econômico e ao investimento concentrado da categoria
dermatológica como um todo. O efeito do lançamento em outras regionais do
país é visto de forma mais lenta, muito decorrente da repercussão nas principais
capitais.
• Cidades e bairros chaves: quando ao nível de não poder atender todos os
principais clientes da região sudeste é importante manter estoque mínimo
geograficamente, focando nas capitais e bairros chaves. Sendo essa inteligência
algo já mapeado na empresa, o esforço seria no controle detalhado de pedidos
dos clientes, visando manter o mínimo de estoque aceitável em cada ponto de
venda.
4.10.5. Estratégias de escoamento
Da mesma forma que se deve haver uma estratégia para evitar rupturas, também é
necessário prever cenários de giro lento baixo ritmo de vendas devido a performance
aquém do esperado em um lançamento), que aumentam os custos operacionais do
produto, podendo até não compensar os gastos com o lançamento como um todo.
Estratégia consagrada em termos de marketing, as promoções e as rebaixas de
preço são ações que podem ser aplicadas em curto prazo. Porém, a Empresa X possui
uma responsividade baixa para esse tipo de ação, podendo levar até 6 meses para a
criação de um kit promocional industrializado ou para formalizar um determinado
desconto promocional em alguns clientes. Portanto, essas soluções, apesar de
relativamente simples, já devem estar mapeadas antes do lançamento, evitando o
entrave devido a questões burocráticas e acelerando o processo caso sejam
necessárias atitudes rápidas e a curto prazo.
87
As rebaixas são planos de ação mais fáceis de executar operacionalmente, porém
é necessário que a mecânica para esse processo seja estabelecida antes, levando em
conta os custos de armazenagem e capacidade de recuperação do posicionamento de
mercado do produto. Por vezes o lançamento possui desempenho abaixo do esperado
nos primeiros meses apenas por não estar em linha com as ações de marketing, ou por
uma simples questão de timing. Nesses casos, vale garantir que todo o esforço de
suporte está sendo feito para garantir o giro do produto e obter as leituras corretas do
comportamento do mercado e da sua percepção inicial. Uma participação mais ativa e
consolidada da equipe de vendas e dos atores no campo é fundamental para fornecer
insights valiosos à compreensão desse cenário.
4.10.6. Racional para tradução em abordagem quantitativa
Em matéria de construção da previsão de vendas propriamente dita, foi possível
perceber que muitos aspectos são atualmente considerados de forma estritamente
qualitativa, quando poderiam ser abordados de maneira sistemática e traduzidos de
forma quantitativa. Assim, baseando-se no caso estudado e entendendo-se todos os
aspectos que são levantados pelas equipes em contato com as vendas e os clientes,
percebeu-se a necessidade da criação de um racional para o caso dos lançamentos,
com métricas específicas para gerar um número final de sugestão para previsão de
vendas e de mix de produtos.
O racional construído baseou-se na premissa de que, para entender o potencial de
um produto inovador é necessário pautar-se em dados históricos, em produtos
semelhantes (tanto da própria empresa quanto da concorrência) e em dados de ambição
de vendas. Quando se mede efetivamente o número de portas (pontos de venda) que
se visa atingir, baseando o alcance desejado no alcance atual de produtos semelhantes,
é possível entender o potencial de atingimento do produto e medir ou até mesmo prever
a sua recepção pelos clientes. Assim, construiu-se uma tabela que estrutura os inputs
necessários à construção do número final do lançamento. Abaixo, um exemplo do
racional construído.
88
Figura 34: Exemplo de racional construído para previsão de vendas
Fonte: Elaboração própria
A tabela estrutura os principais canais de venda mapeados, compara o número de
lojas alcançadas atualmente com os dados de produtos similares e faz o cálculo
baseado no número de portas que se visa a alcançar, pautado pelas expectativas de
vendas. Esse alcance é um percentual determinado pelo total de lojas já alcançado pela
categoria. Ou seja, caso se tenha a pretensão de atingir 70% do total de pontos de
venda nos primeiros meses do lançamento, a quantidade de lojas do produto analisado
deve corresponder a um alcance de 70% no canal.
Define-se também a quantidade de SKUs do lançamento a serem disponibilizados
por canal e qual o giro médio de cada loja por mês para produtos similares (unidades
vendidas por mês nos primeiros meses do lançamento em média, por loja, no canal
especificado). Além disso, pode-se definir qual a expectativa de venda para os três
primeiros meses do produto. Caso ela seja otimista pode-se arbitrar um valor maior do
que 3 para ser vendido, o que significa que se espera que o produto vai vender x meses
de venda em três meses (com x>3). Em um cenário pessimista, pode-se considerar o
cenário em que o produto não vá completar o volume total dos primeiros meses (x<2),
o que pode ser útil para o caso de simulações. Ao multiplicar o alcance pelo número de
SKUs e pelo giro médio, além da ambição de vendas, obtém-se um primeiro valor para
os três primeiros meses de venda, que é expandido para os doze meses seguintes por
meio de uma regra de três simples. A expansão para os doze meses subsequentes é
apenas um dado que serve como ponto de partida para entender o alcance que o
lançamento pode ter já que, após os meses iniciais de venda, pode-se passar a
comparar com os dados reais de faturamento e a aplicar técnicas estatísticas. Esse
número pode ser útil para o caso de simulações e para entender se o produto realmente
é capaz de atingir, de forma realista, às expectativas do negócio e qual o potencial para
a performance do lançamento no caso de um cenário pessimista.
89
A ferramenta, portanto, projeta o alcance de vendas com base em número de portas,
o que estima a quantidade vendida pelo atingimento que se espera ter no mercado e
pela distribuição do produto, aliando a expectativas de metas que podem ser definidas
com base em inputs comerciais ou de marketing. Os dados sobre o número de pontos
de venda foram obtidos por meio de entrevistas realizadas dentro da própria Empresa
X, com responsáveis da área de trade marketing, que estruturam esses números
baseados em pesquisas de mercado apoiadas por consultorias e em dados coletados
no campo pelos próprios funcionários da empresa.
Ao estruturar a tabela construída para o Produto S, chegou-se nos resultados
abaixo. Como produto similar 1 foi usada a água termal e similar 2 os lenços
antioleosidade. O valor para os primeiros meses de venda foi construído considerando-
se uma expectativa de 70% de alance nos principais canais de venda, dado condizente
com os últimos lançamentos da categoria e com uma perspectiva mais realista, dado o
número de portas elevado em que essa categoria se encontra atualmente.
Figura 35: Previsão de vendas recalculada do Produto S
Fonte: Elaboração própria
Ao estimar-se o giro médio por loja dos produtos similares (baseando-se em dados
fornecidos em pesquisa encomendada para a empresa e em estimativas de market
share também calculadas pela Empresa X) e ao adotar-se uma ambição de vendas
conservadora, cumprindo exatamente a previsão de venda para o período, chegou-se
em um volume inicial total de 53 mil unidades, sendo 59% desse volume estimado para
os top clientes e lojas de drogarias cadeia e 41% para os menores clientes nesse canal
farma. Um pequeno volume encontra-se destinado ao E-commerce, canal ainda em
expansão para a categoria.
Esse cenário calculado já apresenta grande diferença em relação à previsão de
vendas oficial traçada para o lançamento. Ao estimar-se com maior nível de detalhe o
90
potencial alcance do produto, chegou-se a um resultado de volume que já seria
equivalente a dois lotes de pedido inicial de importação, o que eliminaria os problemas
iniciais de perda de venda devido ao esgotamento precoce do estoque nos primeiros
meses de venda (quase R$300 mil de ruptura de fornecimento). Assim, ao construir-se
uma cobertura de segurança, a performance de vendas sofreria uma mudança
considerável, não havendo a perda de oportunidades de ocupação de portas logo nos
primeiros meses do produto no mercado. A demanda (faturado + ruptura), nesse
cenário, poderia até sofrer incremento em relação ao realizado, já que haveria mais
espaço para o produto performar no mercado devido à sua maior presença nos pontos
de venda.
Figura 36: Previsão recalculada x Previsão real
Fonte: Elaboração própria
É possível perceber, portanto, que há grandes possibilidades a serem exploradas
pela empresa no quesito de previsão de demanda de lançamentos, principalmente no
que diz respeito à estruturação de métricas específicas e de criação de padrões ou de
algoritmos para pautar as decisões que envolvem o dimensionamento de uma inovação.
Por se tratarem de discussões complexas e por envolver diversos atores e conflitos de
interesses, é comum que alguns tópicos críticos acabem sendo tratados
superficialmente ou de forma não adequada, o que acaba tendo efeitos negativos que
se tornam mais acentuados em produtos que tem um desempenho pouco previsível no
mercado.
Assim, não só a previsão deve ser realizada de forma mais estruturada, mas também
os possíveis impactos do lançamento devem ser estudados com base em uma análise
de cenários, para garantir que a empresa é capaz de absorver tanto os custos quanto
os impactos estratégicos de um lançamento super ou sub dimensionado.
4.11. PLANO DE AÇÃO
91
Após a elaboração do estudo e da identificação dos principais pontos de
alavancagem dentro da Empresa X, traçou-se um plano de ação para conduzir as
melhorias propostas e apresenta-las à gerência e aos atores responsáveis dentro da
companhia.
Assim, foi estruturado um calendário específico de reuniões com as áreas de
Planejamento da Demanda, Marketing, Trade Marketing, Planejamento Comercial e
Desenvolvimento Operacional (nessa ordem), visando a apresentar cada uma das
ferramentas desenvolvidas e o racional construído para a previsão de vendas de
lançamentos. Além disso, iniciou-se um projeto piloto com as ferramentas para um novo
produto a ser lançado em julho de 2018, com objetivo de testar a aderência do modelo
desenvolvido para casos diferentes dentro da empresa.
O projeto com o cronograma de reuniões estabelecido, a apresentação dos
resultados do caso do Produto S e a elaboração do primeiro piloto de lançamento a ser
desenvolvido com base nos novos racionais construídos a partir deste estudo será
conduzido ao longo do primeiro semestre de 2018.
5. CONCLUSÃO
Tendo em vista as análises elaboradas nos tópicos anteriores, pôde-se concluir que
o planejamento da demanda de produtos inovadores sem base histórica de dados é, por
definição, pouco acurado e impacta de maneira direta e indireta toda a gestão da cadeia
de suprimentos. Em um mercado cada vez mais dinâmico e movido à inovação, cabe
às empresas a estruturação de suas atividades para atender a essa demanda
extremamente volátil e pouco previsível. A consolidação de técnicas para alcançar a
excelência em lançamento de novos produtos ou serviços atualmente vai além de um
simples diferencial competitivo: é uma questão de sobrevivência no mercado atual.
Nesse sentido, é notável a importância da consolidação de uma cadeia de
suprimentos suficientemente responsiva, na qual haja um fluxo de informações
transparente entre todos os stakeholders e de modo que seja possível o ajuste às
respostas do mercado ao lançamento dos produtos (que geralmente acontecem a curto
prazo e possuem impactos expressivos). Cabe ressaltar, também, que a utilização de
mais de um método distinto de previsão de demanda para esse tipo de produto se
mostra como mais eficiente e acurada frente à realidade das vendas. A combinação de
análises quantitativas e qualitativas e os inputs de diversas áreas envolvidas no
dimensionamento das vendas é essencial para alcançar uma visão sistêmica e
compartilhada de todo o potencial de uma inovação no mercado.
No caso da empresa estudada, especificamente, o mercado consumidor comporta-
se de maneira muito distinta e há diversas especificidades e tendências que devem ser
92
consideradas quando planejado um lançamento de produto. Os principais gargalos
identificados no processo atual dizem respeito ao descolamento do desenvolvimento
operacional das decisões estratégicas, que geralmente acaba ocorrendo de forma
defasada ou sem abordar todos os aspectos críticos à decisão de um lançamento de
produto. Além disso, foi possível perceber que há oportunidades em matéria de tradução
das discussões realizadas a nível qualitativo para um mecanismo que realizar uma
primeira sugestão quantitativa em termos de previsão de venda.
Cabe ressaltar que a previsão de venda, por definição, é um processo que implica
erros. A simulação de cenários possíveis leva à compreensão de que, mais importante
do que a precisão e a assertividade em um valor inicial estimado é a capacidade de uma
organização de se mostrar flexível, preparada e adaptável às situações adversas, não
perdendo o controle do processo de lançamentos e não se deparando com efeitos
negativos inesperados e pouco contornáveis.
Como a excelência tecnológica em inovação é um dos pilares sobre os quais foi
construída a vantagem competitiva da empresa analisada frente a seus concorrentes, é
de extrema importância que esse processo de lançamentos esteja bem alinhado tanto
em matéria de expectativas do negócio quanto em capacidade de operações, para que
seja otimizada a saúde do estoque e minimizados os impactos, principalmente em
termos de custos e de planejamento orçamentário.
Por fim, pode-se afirmar que o principal desafio da gestão da demanda consiste em
reduzir ineficiências e tratar ou eliminar os erros na amplificação da demanda ao longo
da cadeia de suprimentos, de modo que seja possível otimizar o uso dos recursos
empregados em seus diferentes níveis. Essas mudanças estão inteiramente ligadas ao
grau de conhecimento que se tem sobre as suas causas e sobre a sua intensidade.
Assim, o desenvolvimento de uma abordagem mais sistemática e integrada de
gestão da demanda na cadeia de suprimentos pode resultar na melhoria do serviço
prestado ao cliente, impactando diretamente no indicador de nível de serviço, e
contribuindo para um nível maior de disponibilidade do produto e alcance de mercado
consumidor. A partir disso, pode-se reduzir os custos pela diminuição das perdas de
produtos e dos estoques e, assim, fornecer uma base mais eficiente para os processos
de produção e entrega, atingindo-se todo o potencial esperado e, finalmente, trazendo
os retornos esperados para a companhia.
93
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APÊNDICES APÊNDICE A – FLUOXGRAMA DO PROCESSO OPERACIONAL DE LANÇAMENTOS – MACROPROCESSO
APÊNDICE B – FLUOXGRAMA DO PROCESSO OPERACIONAL DE LANÇAMENTOS – ETAPA 1
98
APÊNDICE C – FLUOXGRAMA DO PROCESSO OPERACIONAL DE LANÇAMENTOS – ETAPA 2
APÊNDICE D – FLUOXGRAMA DO PROCESSO OPERACIONAL DE LANÇAMENTOS – ETAPA 3