Desafios de nosso tempo

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Vivemos numa era de grandes desafios. Parece lugar comum

fazer esta afirmação. De fato, cada geração tem seus próprios

desafios, mas ao que tudo indica nosso tempo é pródigo no

quesito. Nenhuma lista poderia esgotá-los, nem mesmo inéditos

são. Como o espaço é limitado, iremos nos ater àqueles que em

nossa cosmovisão1 são alguns dos mais preocupantes:

1. Crescente quantidade de informações

O volume de dados que trafega no mundo é imenso,

ecoando a predição de Daniel 12:4. Milhões de

computadores2 de grande porte espalhados nos cinco

continentes armazenam, atualizam e manipulam informações

que se escritas gastaria todo papel disponível. Ao menos

metade da população mundial, estimada em sete bilhões no

momento, tem acesso direto e transformador a tais dados

todos os dias. Imaginemos que um pescador, numa praia

qualquer, pode agora estar fazendo uma pesquisa sobre

preços de gelo. Esta requisição vai atravessar fronteiras

inimagináveis e passear por locais inacreditáveis até retornar

ao seu equipamento com os resultados.

Os estudiosos se debruçam sobre as implicações da chamada

Era da Informação nos negócios, na família e na igreja. Este

último item nos interessa diretamente. Nossos membros

1 Modo particular de enxergar o mundo que nos cerca

2 Segundo o endereço http://www.ime.usp.br/~is/infousp/imre/imre.htm a quantidade de servidores de internet dobra a cada

quatorze semanas!

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estão expostos a uma grande quantidade de informações

diariamente, sendo diretamente influenciados por ela. Se há,

por exemplo, um crescimento do número de divórcios

(somente em 2011 da ordem de 45,6%3) e muitos desses

litígios surgem a partir da web, por que não deveríamos estar

atentos à tais transformações? Mesmo que alguns de suas

implicações sejam colaterais ou tenhamos que lidar com elas

de maneira involuntária. E boa parte o é!

Ter mais informações disponíveis significa, por exemplo,

mais questionamentos. Sobre interpretações bíblicas

descabidas, inferências sem base racional, deduções ao bel

prazer do intérprete. Maior oportunidade de pesquisa,

aprendizado e exposição de ideias. De maneira que o que se

pensava da TV a internet potencializou e em muitas igrejas a

situação beira o caos. Enquanto na TV ficamos à mercê da

programação da emissora, seja ela de boa ou má qualidade,

na web somos nós que ditamos o que queremos acessar,

seguindo caminhos macro pré-estabelecidos. O poder que se

dá ao internauta é, por assim dizer, incontrolável. Isso afeta

diretamente nossos cultos. O que dizer, por exemplo, do

aluno que pesquisa a lição da EBD durante a semana toda

através dos inúmeros sites e blogs, em contrapartida ao

professor que apenas pega a lição no domingo pela manhã?

Do obreiro que vai falar a uma congregação leitora de

3 http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/noticia/2012/12/numero-de-divorcios-no-pais-cresce-45-6-em-2011-3984810.html

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estudos bíblicos que não se prepara adequadamente para um

culto de doutrina? Isso só para falar em exemplos positivos.

Há negativos em abundância.

Mas há outras situações mais complicadas. Antes não

podíamos ser encontrados comprando uma coletânea de

Roberto Carlos numa livraria qualquer, agora podemos baixá-

la no anonimato dos sites de download e ouvi-la

candidamente em nossa casa, com nossos fones de ouvido? O

que dizer do irmão que antes tinha medo de ser flagrado

comprando a Playboy e agora pode baixa-la!? A capacidade

de armazenar e representar a informação das mais variadas

formas está cada vez mais na pauta do dia. Além da guerra

por audiência dos grandes portais, incansáveis em diversificar

as formas de atrair a atenção dos navegantes, há as redes

sociais, excelentes na difusão da futilidade. O Brasil é o

quarto país do mundo com a maior quantidade de usuários

do Facebook4 e está muito próximo da Índia. Nossas

celebridades estão entre aqueles perfis em tais redes com o

maior número de seguidores. A TV não deixa por menos,

embora a audiência tenha caído significativamente. A final do

BBB10, por exemplo, teve 154.878.460 de votos5!

Outra vertente a ser analisada é a produção intelectual.

Embora as informações disponíveis sobre as igrejas na grande 4 http://lista10.org/tech-web/os-10-paises-com-mais-e-menos-pessoas-no-facebook/ Posição em 20 de março de 2013

5 http://televisao.uol.com.br/bbb/bbb13/noticias/redacao/2013/02/20/relembre-outros-recordes-de-votacao-nos-paredoes-do-

bbb.htm

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rede sejam abundantes, por vezes destoam da ortodoxia

bíblica, quando não denigrem a própria Bíblia e o viver

cristão. É nosso dever criar e compartilhar informações de

boa qualidade para contrabalançar tal situação. Quando

quem é portador da verdade se omite a tendência é a mentira

ganhar terreno. Qualquer um pode criar, gratuitamente, um

blog e expor suas ideias e posicionamentos, mas devemos

refletir cada vez mais sobre o conteúdo. Muitas vezes o que

há são críticas vazias, impertinentes e desprovidas de senso,

quando não fofocas grosseiras e mentirosas.

Mas, não menos importante, temos o culto cibernético, via

TV ou web. Sua versão amena inibe os crentes de vir à igreja.

Na comodidade de seu lar ele assiste ao culto, enquanto dá

conta de seus afazeres ou simplesmente recosta sua cabeça a

uma almofada fofinha. As igrejas promovem tal postura com

os cultos on-line. Temos que pensar seriamente a respeito,

com muito cuidado e critério. Por um lado estamos

beneficiando alguém que realmente não pode vir ao templo,

por dificuldade de locomoção, trabalho, horário, doença, etc,

ou um pecador que se sentiria mal colocado entre nós. Por

outro lado, estamos ninando o monstro da apatia, da falta de

compromisso. O arremedo é que na comodidade da nossa

casa podemos assistir o culto de qualquer maneira, em trajes

sumários, por exemplo, enquanto transitamos entre a sala e o

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banheiro, com a atenção dispersada, atendendo ao celular6

ou em tantas outras atividades. Nesses termos não é culto o

que estamos transmitindo, nem infundindo valores bíblicos.

Pululam na grande rede os cursos de teologia à distância,

que seriam ótimos recursos para o aprendizado da Palavra,

não fora pelo intento de alguns deles de anularem a etapa da

apresentação por um obreiro de uma igreja local, à qual

pertencesse o estudante. Nestes cursos é possível comprar o

material, fazer as provas e já receber a carteira de pastor!

Não há exigência sequer de conversão, quanto mais de

filiação eclesiástica, labor ministerial ou compromisso com

algum ministério.

A versão mais radical do culto cibernético anulou

completamente a Igreja. O templo desaparece de cena e a

web tomou seu lugar. Hoje já existem igrejas virtuais mais

bem frequentadas que muitas igrejas de carne e osso! Para a

ceia, por exemplo, o fiel poderia comprar pão e vinho, o

pastor oraria via programa de TV ou culto na internet e ele

comeria em sua própria casa. Milhares de textos falam contra

a instituição eclesiástica, abominam as lideranças, anulam a

ordenança do dízimo e ridicularizam o casamento (I Tm 4:3)!

E isso somente para ficar nos textos escritos por evangélicos...

6 Ainda que esta prática tenha sido adotada por vários de nossos irmãos dentro das igrejas...

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Uma última nota vai para aqueles que se alheiam

completamente do assunto. Há obreiros que preferem não se

informar sobre internet, Facebook, Orkut e todos estes

termos em voga no mundo moderno. Não adianta, a

realidade vai bater à sua porta a qualquer momento.

Devemos e podemos aproveitar com sabedoria tais espaços

para a promoção do reino de Deus. Foi o aproveitamento da

imprensa de tipos móveis, recém-criada na Alemanha, um

dos fatores de sucesso da Reforma Protestante no século XVI.

2. Analfabetismo funcional e leitura bíblica

Embora haja o crescimento da quantidade de informações

no mundo, nosso País tem um grave déficit com a educação

formal. Apenas 30% dos alunos que terminam as séries do

ensino fundamental (1ª à 4ª série) foram alfabetizados

plenamente. Ser um analfabeto funcional significa que a

pessoa identifica as letras, soletra sílabas, tem um

vocabulário reduzido, mas não consegue articular frases, nem

compreender seu sentido, a não ser de maneira coloquial7.

Esta deficiência impede a compreensão de textos mais

elaborados e a produção dos mesmos. Na Igreja o

analfabetismo funcional é detectado ao ouvir uma leitura

com dificuldade de palavras menos usuais ou solicitar que o

obreiro escreva um pequeno texto.

7 Coloquial se refere à fala do dia a dia

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Existe um remédio para isto: o cultivo do hábito da leitura!

Mas..., quantos livros você já leu este mês? Este trimestre?

Este ano? O obreiro de nossos dias deve ser um leitor ávido (I

Tm 4:15), não apenas do ponto de vista quantitativo.

Devemos selecionar a leitura que nos edifica, espiritual ou

intelectualmente. Buscar confirmar as informações que

chegam ao nosso conhecimento8. Ampliar a gama de

assuntos. Neste particular, o aproveitamento cresce em

função da variedade.

Porém, é na leitura bíblica que deve repousar nossa maior

preocupação (Sl 1). Vivemos uma geração de líderes que não

lê a Bíblia. Boa parte de nós jamais a leu toda e muitos a

acham um livro maçante. O aproveitamento bíblico é

superficial e evitamos as passagens mais difíceis e menos

comuns. Das cinquenta e duas semanas que um ano tem, em

média, no máximo, em cinco ou dez ocasiões ouvimos

pregações sobre o Velho Testamento. E isto em livros

específicos, como: Isaías, Daniel, Malaquias, e Gênesis. Os

demais são solenemente ignorados. Quantos de nós, em 2012

todo, pregou em Sofonias, Ageu, Zacarias ou Crônicas? Até

mesmo o Novo Testamento tem seus livros preferidos. Tito,

por exemplo, somente em consagrações de obreiros. Judas,

somente quando uma lição aborda. Penso que isto é reflexo

8 Cuidado com correntes que surgem na internet, difundindo dados falsos e obtidos de maneira inescrupulosa, como as

informações sobre os Illuminatti

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desse analfabetismo funcional. Escolhemos os livros e

passagens mais fáceis.

Carecemos de obreiros aptos a expor de maneira

sistematizada a Palavra de Deus. Hoje os governos estão

correndo atrás de pessoas não apenas qualificadas para o

magistério, mas que, sobretudo, saibam transmitir as

matérias. Não basta ser um bom físico, o bom professor tem

que saber transmitir os conceitos da Física. Da mesma forma,

o obreiro tem que saber transmitir o que está naquele texto

ou trecho. Há até uma matéria chamada Homilética, bem

concorrida nos bancos das faculdades teológicas, mas uma

lástima em termos de seu uso no dia-a-dia em nossas igrejas.

Por pura preguiça ou comodismo, alguns obreiros ignoram

completamente que a transmissão das verdades bíblicas

atende a princípios milenares, sem os quais restaria

prejudicada.

As perguntas básicas da Homilética são:

O que aconteceu naquele momento? Aqui é preciso

separar os fatos, identificar os personagens e fazê-los reais

para o ouvinte. Um Jesus que apenas se perdeu num

caminho qualquer da Judeia não é atrativo para nenhuma

pregação expositiva.

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Quando e aonde tais fatos se sucederam? Situe o ouvinte

em termos geográficos. Cerque-o dos aspectos históricos.

Analise os costumes sociais envolvidos naquela passagem.

Por que tal fato se sucedeu? Justifique os acontecimentos.

Arrazoe, identifique os objetivos de uma caminhada, de

uma atitude, de uma decisão. Faça a ligação com outras

passagens semelhantes.

Qual a utilidade para quem ouve? Qual a razão de ser do

texto para o ouvinte hoje? Por que ele deveria crer naquilo

que pregamos.

Como vemos, o esquema é fácil de montar. Habitue-se a

escrever um pequeno resumo do texto, esquematizando as

ideias para apresentá-las ao ouvinte. Com alguma tentativa e

erro o resultado será maravilhoso. Comece pelas exposições

curtas, vá progredindo até atingir a quase perfeição. O

problema é quem estará disposto a usá-lo no dia-a-dia?

Não podemos esquecer de ressaltar outro problema básico

da leitura: reter o que lemos. Livros sobre homilética, por

exemplo, há aos montes nas livrarias evangélicas. Quantos,

porém, porão em prática os ensinamentos? Reter do que

lermos um percentual sempre crescente trará resultados

duradouros para nosso ministério.

O obreiro contemporâneo deve ter fome de aprendizado.

Você aprendeu algo novo sobre a Bíblia esta semana? Não!?

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Nem está preocupado com isto? É um péssimo sintoma. Mas

a dinâmica vai além, temos de aprender fazendo e fazer para

aprender (Tg 2:17). A era que atravessamos é a era da difusão

do conhecimento. O Bradesco, somente para citar um

exemplo prático, não acomoda seus gerentes no cargo, mas

os incentiva a fazer cursos das temáticas mais variadas e de

interesse do banco. Tais cursos podem ser feitos

presencialmente, mas o banco optou por um ambiente

especializado de cursos on-line, aonde o aluno é testado e

somente os mais aptos são aprovados. Mas, se falarmos em

reciclagem hoje, para obreiros, corremos o risco de sermos

hostilizados!

3. Crise de espiritualidade e ética eclesiástica

Não é necessário detalhar este assunto. Ele se manifesta de

forma tão expressiva que não temos como ignorá-lo. Nos

costumes, nos relacionamentos, no compromisso, na ética e

em todos os âmbitos da Igreja. Crises de ordem ministerial,

sede exagerada pelo poder, ambição por cargos, relativização

de doutrinas básicas, desvios doutrinários e pecado ou

omissão diante dele. Este é um século que já viu de tudo.

Mas há crises bem sutis. Oramos pouco, por exemplo (I Ts

5:17). Daniel orava três vezes ao dia. Jesus teve uma vida de

oração. Diz-se que Wesley, o fundador do metodismo, orava

duas horas por dia. Lutero, o reformador, três. E nós?

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Alegamos falta de tempo, mas dormimos cada vez menos,

gastando nossa vida à frente da TV ou do computador. Jejuar

tem se tornado algo para colocar em molduras como fotos

antigas. O louvor, mecânico e arrastado, mero ato protocolar.

Descendo um pouco a corda, encontramos obreiros vazios do

Espírito Santo de Deus, mesmo. Há obreiros que nunca mais

sentiram verdadeiramente a presença de Deus. Não se

deixam ser tocados. Mas do que nunca é necessário ouvir

Jesus dizer: Eis que estou às portas e bato (Ap 3:20), não para

pecadores, mas para obreiros! Há outros adotando um

comportamento espiritual libertino. O que dizer, por

exemplo, do falar imitando línguas: - E aí? Vai pro reflay?

Vieste do manto, do remanso... São expressões que denotam

certo desprezo pelas coisas do Espírito.

Já há obreiros especializados em dizer os que os membros

devem fazer, mas não querem uma vida de santidade, de

consagração, de relacionamento profundo com Deus. Muitos

buscam sugestionar a Igreja a partir do púlpito, com rituais

estranhos, com linguajar rasteiro, se aproveitando da

inocência de muitos de nossos membros, desmerecendo em

respeito a Noiva do Cordeiro. Na outra ponta (pois estamos

também na Era dos Extremos) há os adeptos da Teologia da

Prosperidade, cujos assuntos ao microfone somente versam

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sobre bênçãos. Massageiam o ego dos ouvintes, encantam o

público, enquanto o aproveitamento residual é mínimo.

Por fim, a ética verdadeira se manifesta nas pequenas coisas

do ministério. Transparência, lealdade, honestidade,

sinceridade, humildade e união não deveriam ser predicados

raros. Já temos obreiros que se especializaram em seus

antônimos9.

Que Deus tenha misericórdia de nós!

9 Antônimo é uma palavra contrária à outra. Exemplo: paz é antônimo de guerra