DELUMEAU, Jean - A Civilização do Renascimento

148
-- J NOVA HISTORIA 8 o 'Ci Jean Delumeau o - A CIVILIZAc;AO >-" o DO RENASCIMENTO Jean Delumeau considera 0 Renascimento enquanto "pro- Volume I rnocao do Ocidente numa epoca em que a civilizacao da Europa ultrapassou , de modo decisivo , as civilizacoes que lhe eram paralel as' ' . Encarado numa perspectiva de "desa- jO'l fio e resposta" , 0 Renascimento passa pela "cntica do pen- o sarnento clerical da ldade Media, pela recuperacao f- demografica, pelos progressos tecnicos , pela aventura marf- Z tima , por uma estetica nova , par urn cristianismo reelabo- l1.J rado e rejuvenescido ". 0 regresso a Antiguidade , "0 l aparente regresso as fontes da beleza, do saber e da reli- "'" U giao foi apenas urn meio de progredir" . Nesta obra em dois rJJ volume s encontrarnos a origem dos movimentos e das pro- fundas aspiracoes do nosso tempo. Bibliotecas Municipais de '1 Almada Biblioteca Central II - ...... R gM;Uj W" EOOB01001227 ! ii i \ ilil // III!!/!ll !ll ii/J III Illi1 I III "'- ---- Z w o c c iJ 'if , " ISBN 972-33-1000- 7 IIII 1111 9 " 789723 310.009

Transcript of DELUMEAU, Jean - A Civilização do Renascimento

J

8 o~

NOVA HISTORIA

o>-"

'Ci

~

Jean Delumeau

o

~

A CIVILIZAc;AO DO RENASCIMENTOVolume I

Jean Delumeau considera 0 Renascimento enquanto "pro rnocao do Ocidente numa epoca em que a civilizacao da Europa ultrapassou , de modo decisivo , as civilizacoes que lhe eram paralel as' ' . Encarado numa persp ectiva de "desa fio e resposta " , 0 Renascimento passa pela "cntica do pen sarnento clerical da ldade Media , pela recuperacao demografica , pelos progressos tecnicos , pela aventura marf tima , por uma estetica nova , par urn cristianismo reelabo rado e rejuvenescido". 0 regresso a Antiguidade , "0 aparente regre sso as fontes da beleza, do saber e da reli giao foi apena s urn meio de progredir" . Nesta obra em dois volume s encontrarnos a ori gem dos movimentos e das pro fundas aspiracoes do nosso tempo.

jO'l

o fZ

l

l1.J

"'" UrJJ ~

Z w~

I~

c ciJ'if

o

,

--

"

~ - ......R gM;Uj W"\" ' - - - -

Bibliotecas Municipais de '1Almada Biblioteca Central

I!

ISBN 972-33-1000- 7

EOOB01001227

ill il//

ii

~ 1 ~'l il!' !I~ IIII!!/!ll!llii/JIII !I I II~ Illi1i III

I

9 " 789723 310.009

IIII 1111

a: .= ....z ....~,...

S

= z

~

J

~-

--=--,--,.-.--------

ro Q);!:Iien01

~~

~< ~

o~

--.0

0-zr :::r ..,....

---

S

.....-4

~

Q)

O

roQ)~

~~ Z

CI

::i .. a::

""'YoI ....

~

:s

~

U~

1--4~

L, o movimento humanista e 0 regresso ao antigo niio devem ter para nos uma ressondncia apenas artistica e literaria. No [undo, e toda uma nova [ilosojia da vida que se elabora e se define. Os Antigos servem, neste aspecto, de modelos e de inspiradores e a ligar;iio com eles e muito projundamente sentida. Mas aquila que [undamenta de novo modo a valorizaciio do corpo humano e pl:Opoe como objectivo supremo da vida um equilibrio harmonioso entre 0 desenvolvimento da alma e 0 desen volvimento do corpo e uma rejlexiio viva e pessoal. A pedagogic de Rabelais, e depots a de Montaigne, prenunciando a de Rousseau, mode lam-se na natureza humana e dejinem com clareza 0 objectivo funda mental de toda a educaciio: niio mutilar 0 hom em, mas desenvolve-lo harmoniosamente na sua totalidade; e a educaciio [isica e os cuidados com o corpo tem de encontrar 0 lugar que merecem. Quanta Ii instruciio propriamente dita, os principios de um Montaigne siio validos hoje como 0 eram ha perto de quatro seculos; e 0 nosso ensino tenta, sem sempre 0 conseguir, conjormar-se a eles. Formar a capacidade de iutzo, evitar, antes do mais, sobrecarregar a memoria com um amdl gama de conhecimentos tantas vezes inuteis - eis as regras que todos aceitamos mas que ainda hoje e bem dijicil levar Ii pratica. E no entanto o ensino s6 desempenhara verdadeiramente 0 seu papel quando a crianr;a puder passar tudo pelo crivo da sua inteligencia sem arrumar nada na cabeca apenas pela autoridade de quem lho diz. Hti muito quem hoje se sinta pouco Ii vontade na leitura de Mon taigne por causa do cardcter ainda arcaico do frances da epoca, desse frances que 0 ardor apaixonado dos poetas da PIeiade contribuiu para impor ao seu seculo. Mas e preciso ler e reler Montaigne, saborear a apetitosa frescura do seu estilo, 0 rebrilhar das suas palavras e das suas frases. E preciso observd-Io, como ele desejava e como nos convida a faze-Io, na sua mane ira simples, natural e corrente, sem contenr;iio nem artificio. A sabedoria a que ele aspirava e que soube alcanr;ar e, real mente, aquela que convem Ii condir;iio do homem. Qual niio e 0 prazer que sentimos ao reler esta definir;iio de um ensino que tem de ensincir a pensar: Quem vai atrds de outrem nada segue e nada encontra: nada procura mesmo. Non sumus sub rege, sibi quisque se vindicet (')>>? No dia em que todos os povos - mas estara proximo esse dia? - se confor marem a semelhante regra poderemos certamente falar tambem de um verdadeiro Renascimento. Raymond Bloch

(

j

j

({

,

\..

,

~

(') Niio dependernos de urn rei; Que cada urn seja senhor de si proprio. (N. do T.)

16

17

INTRODU~AO

A PROMO 1320 e 1450 abateu-se sobre a Europa uma co91uncao de desgra~Lpri '0i~oes, ep1dem1aS; guei'rl!~,gYm~AfO:-_~.m!al da mOrtaIfaaae;'dlininuiCao da producao de metais preciosos, avanco dos-'TiiICOS;desafios'essesque foraw vencittos com coragem e'com genio:-A'hist6fia do Renascimento e a hist6ria desses desafios e dessas respostas. A crftica do pensameiill> clerical da Idade Media, a recuperacao demograflca~"osprogreSsos-i~cni cos;ii'l\vell.tura: maritima; \iiiia"e-sfehca nova, urn cristiaiiISiiio'reeIabolido .i"'rejiivenescldo":-'eli"'os'principais elementos da resposta do Ocidente as tao variadas dificuldades que no seu caminho se haviam acumulado. :Qt:~!i.2...~--(t:~PQS~: pode-se aqui reconhecer a terminologia de A. Toyn bee, e eu penso que ela traduz admiravelmente 0 fen6meno do Renas cimento. Mas nao vou mais alem na esteira desse grande historiador Ingles, Vistas a uma certa distancia, a historia da Humanidade em geral e, mais especialmente, a da humanidade ocidental parecem menos uma sucessao de crescimentos e de desagregacoes que uma marcha para diante, entrecortada, e certo, de paragens e regressoes; mas paragens e regressoes apenas provis6rias. E verdade que houve porcoes de humanidade local mente falhadas, mas a Humanidade, globalmente considerada, nunca deixou de progredir de seculo em seculo, e isso tambem nos perlodos de conjuntura desfavoravel, Assim, e sem negligenciar 0 estudo da conjun tura na epoca do Renascimento, insisti principalmente nas modificacoes das estruturas materiais e mentais que permitiriam a civilizacao europeia avancar, entre os seculos XIII e XVII, no caminho do seu extraordi nario destino.

*

Identificar urn caminho nao implica acha-lo sempre belo, como nlio implica que nao haja outro possfvel. Como ao historiador compete com preender e nao julgar, nao procurei saber se 0 perlodo do Renascimento deveria ser preferido a idade das catedraiss ou privilegiado em relacao ao grande seculos. Para que essa estranha mas frequente distribuicao de premios? Por isso olio apresentei um Renascimento em que tudo fosse . exitos e beleza. Pelo contrario, a mais elementar obrigacao de lucidez conduz-nos a declarar que os seculos XV e XVI viram, de certo modo, um aumento de obscurantismo - 0 obscurantismo dos alquimistas, dos astrologos, das feiticeiras e dos cacadores de feiticeiras. Continuaram a dar relevo a tipos de homens - por exemplo, os condottieri - e de sen

us

10

21

timentos, como 0 desejo de vinganca, que durante muito tempo foram tidos por caracteristicos do SY.lla.ipI~.nt()_ quando, na verdade, consti tuiam heranca do periodo anterior. Tempo de 6dios, de lutas terriveis, de processos insensatos, aepoca de Barba-Azul.e Torquemada, dos o historiador do seculo XX pela dureza da sua vida social. Nao s6 inaugl/l"ou a deportacao dos _Negr~s Pa.I."a. 0 Novo . Mundo como tambem alargou, na-pr6prIa'Europa~ 0 fosso que separava()s humildes dos privi Iegiados, Os ricos tomaram-se mais ricos, os pobres passaram a ser mais pobres. Nlio se repisou ja muito a ascensao da burguesia na epoca de Jacques Coeur, dos Medicis ..e..D.Q$.u~n~er? A realidade e mais cODlpli~~a, pois os novos-ricos .IlPJessa.ram"sc a pa.ssar-.Lricliia.a::qiie-'j~jID 'se' viu renovada e insuflada. Claro que ela foi cada vez mais d6cll eni-rela~ao ao Principe. Mas"'ii~m por isso deixou de ser..a.. classe..possuidora. E, ao converter-se a culture - fen6meno cuja-'lmportancia ainda nao foi bas tante salientada -, impcs a civilizacao ocidental uma estetica e uns gos tos aristocraticos que tinham por contrapartida 0 desprezo pelo trabalho manual. Raramente numa fase da Hist6ria 0 melhor ombreou tanto com 0 pior como no tempo de Savonarola e dos Borgia, de Santo Inacio e do Aretino. Por isso 9-..E!1.ll~.sItto_~'!..~~...a.~ I!0.ssos olhos. .c01l!0 um o~~_Wl..de._contradj~, um concerto por vezes estridente de aspiracoes divergentes, uma diffcil concomitancia da vontade de poderio e de uma ciencia ainda balbuciante, do desejo de beleza e de um apetite malslio pelo horrivel, uma mistura de simplicidade e de complicacoes, de pureza e de sensualidade, de caridade e de 6dio. Recusei-me, portanto, a mutilar o Renascimento e a nao ver nele, como H. Haydn, senao um espirito anticientifico ou, em sentido oposto, como E. Battisti, senao a caminhada para 0 racional. Nisso residem 0 seu caracter desconcertante, a sua com plexidade e a sua inesgotavel riqueza. Por exemplo, ao dar ao numero, na tradicao dos pitagoricos, urn caracter quase mistico e religioso, 0 Renascimento foi, todavia, condnzido, por esse caminho indirecto, para o quantitativo e para a no~iio cientificamente fecunda segundo a qual a Matematica constitui 0 teeido do Universo.'"._~_n'

!!1~~g~~-AQ.~..E9j~Qs_~li",n9i.~~--dQi.~~Ut.9~e~t~; impr~ssiOM.~.Qlb~m.--"'-'~

maior artista 'de todos os tempos. Demoliu-se Arist6teles com base em Platao e Arquimedes. Colombo descobriu as Antilhas gracas aos erros de catculo de Ptolomeu. Lutero e Calvino, julgando restaurar a Igreja primitiva, deram uma face nova ao cristianismo. 0 Renascimento, que se comprazia com os emblemaes e os criptogramas, dissimilou a sua profunda originalidade e 0 seu desejo de novidade por tras de um hie r6glifo que ainda causa ensanos: a falsa imagem de um resresso ao passado. Atrave, de contradiCOes, e por caminhos complicados, mas sempre sonhando com paraisos mitol6gicos ou com impossivei" utopias, 0 Renas cimento deu um extraordimirio saito para diante. Nunca uma civilizacao dera tao grande lugar a pintura e a musica, nem erguera ao ceu tao altas cupulas, nem elevara ao nivel da alta Iiteratura tantas hnguas nacionais encerradas em tao exiguo espaco. Nunca no passado da Huma nidade tinham surgido tantas Invencces em tao pouco tempo. ~ Renascimento foi, especialmente, progresso tecnico, deu ao homem do OCidente malOr-dOiiiIiiTo sobre Um-'milttdo"mairbem cOIilieddo:-EnsIDou_ fundido, aservir-se das armas de fogo, a eontar as horas com Urn motor, a imprimir, a utilizar dia a dia a-Teria'de cambici e"oseguro rnarltimo. __espiritual paralelo ao progresso mate rial -, iniciou aliberta~ao do individuo ao tira-lo do seu anonimato medievare-oomeCandoa"Qesemoai'aii~r(nfas imltlrCQe"S" T Burck hardt observoii-delormageiilaI'estil'ClITaeteristie-lf (fa-epoca'-que estuda va. Todos os seus sucessores 0 tem de seguir nesse caminho, mas sublinhando quao doloroso foi esse nascimento do homem modemo, acompanhado por um sentimento de solidao e de pequenez. Os contemporaneos de Lutero e de Du BeIIay descobriram-se pecadores e frageis, sujeitos as ameacas do Diabo e das estrelas. Houve uma melancolia do Renascimento. E tal vez nao tenha sido errado - sob condicao de se nao tomar a f6rmula em mau sentido - 0 definir-se a doutrina da justifica~ao pela fe como urn romantismo da consolaCao. Mas falar apenas de descoberta do Homem e dizer muito pouco, A historiografia recente demonstrou que 0 Renas cimento foi tambem descoberta da erian~a, da familia, no sentido estrito da palavra, do casamento e da esposa, A civilizacao ocidental fez-se entao menos antifeminista, menos hostil ao amor no lar, mais sensivel a fragili dade e a delicadeza da crianca,

.iheaarravessarOS6~etthos;'afabri~tfetro

...

--~~~esm~ t~~po~:::"':'progress.o

coTecHvas:

tinha 0 gosto dos caminhos escusos. E por isso que ainda hoje 0 regresso a Antiguidade obceca certos espiritos que preten dem avaliar a epoca de Leonardo em fun~ao desse aspecto e Ihe repro yam ter-se deixado atrasar por aquele passado ja de h3. muito suplantado. Na verdade, 0 aparente regresso as fontes da heleza, do saber e da reli giao foi apenas urn meio de progredir. Alegremente se pilhou os templos de Atenas e de Roma para omamentar os de Fran~, de Espanha e de Inglaterra. A partir do seculo XVI identificou-se em Miguel Angelo 0

o Renascimento

*

o cristianismo viu-se nessa altura perante uma nova mentalidade, uma mentalidade complexa, feita do receio da danacao, da necessidade de devocao pessoal, da aspira~o a uma cultura mais laica e do desejo de integracao da vida e da heleza na religiao. 0 anarquismo religioso dos seculos XIV e XV levou, sim, a uma ruptura, mas tambem a um cristianismo rejuvenescido, mais estruturado, mais aberto as realidades do dia a dia, mais habitflveI pelos leigos, mais permeavel a beleza do corpo e do mundo. 0 Renascimento foi, sem duvida, sensual; e optou,23

22

L

por vezes, especialmente em Padua, por uma filosofia materialista. Mas o seu paganismo, mais aparente que real, iludiu certos espfritos que bus cavam, principalmente, 0 aned6tico e 0 escandaloso. Deslumbrado com a beleza do corpo, pede restituir-lhe 0 seu legftimo lugar na arte e na vida. Mas, com isso, nlio aspirava a romper com 0 cristianismo. A maioria dos pintores representou com igual conviccao as cenas bfblicas e os nus mitol6gicos. Ao faze-lo, nlio tinham 0 sentimento de estar em contra dieao consigo pr6prios. A mensagem de Lorenzo Valla foi compreendida: cristianismo nao significava, forcosamente, ascetismo. A laicizacao e a humanizacao da religiao nao constitufram, nos seculos XV e XVI, urnadescristianizacao,

Esta explicacao convida a outra, de natureza diferente. Ambas, porem, provem do mesmo desejo de explorar em profundidade um perfodo que tern sido fascinante principalmente pelo seu cenario, as suas festas e os seus excesses. Pois nao irfamos aqui ceder A facilidade e apre sentar urn Renascimento em que 0 veneno dos Borgia, as cortesas de Veneza, os casarnentos de Henrique VITI e os bailes da corte dos Valois tivessem posicao de primeiro plano. Em vez disso, 0 que deve chamar as atencoes sao as transformaeoes de incalculavel alcance, escondidas por falsas perspectivas como as que todas as epocas tem. Seguindo John U. Nef, acentuei, portanto, a promocao do quantitativo e a elevacao do espirito de abstraccao e de organizacao, a lenta mas firme consolidacao de uma mentalidade mais experimental e mais cientifica. Fugindo a caminhos muito trilhados, A anedota e ao superficial, desejoso de oferecer uma sintese nova e de empreender uma reinterpre tacao do Renascimento, tive todavia a constante preocupacao de evitar o paradoxo e as formulas, que atordoam mas nao convencem. Procurei, em vez disso, demonstrar, esclarecer, fomecer ao leitor uma documentacao tao vasta quanto possivel. Quando estava a escrever este livro veio-me muito A mem6ria uma frase de Calvino. No fim da vida, ao dar uma olhadela as suas obras, Calvino disse: esforcei-me por alcancar a simpli cidades. Tambem euprocurei fazer 0 mesmo. Estas poucas paginas de introducao tiveram a finalidade de criar uma ligacao, uma cumplicidade entre 0 leitor e 0 autor. Eu devia a quem viesse a ler-me as explicacbes necessarias, Chegou agora 0 momento de recolher-me e dar Iugar ao assunto que tratei; mas nao sem mostrar 0 plano seguido. A primeira parte constitui uma colocacao dos principals factos nos quatro dominios: politico, econ6mico, cultural e religioso. A segunda e uma penetracao no interior das realidades concretas da vida quotidiana. A terceira, paralela A segunda, mas na ordem espiritual, pro cum identificar uma mentalidade diferente da do passado e captar a vinda a superficie de novos sentimentos.

PRIMEIRA PARTE

LINHAS DE FOR~A

'4

I

CAPITULO I

A EXPLOSAO DA NEBULOSA CRISTA

L ._

A importancia da Europa na epoca do Renascimento nao esta no populacao, em-tlSOO;--atfidii imcnitiilgia cern milhoes de habitantes, quando, segundo parece, era este 0 mimero de habitantes cia india no principio do seculo XVI: 30 ou 40 milh6es no Decao e 60 milhoes no Norte. A China, por volta de 1500, teria ja 53 milh6es de almas; e 60 em 1578. Claro que a Africa e a America tambem eram pouco povoaclas em relacao a imensidao dos seus territ6 rios: arrisca-se a calcular em relacao a Africa uns 50 milhoes de habitantes no principio do seculo XVI; quanto a America, hesita-se entre os 40 e os 80 milhoes, Mas em ambos esses continentes havia vastas zonas desertas a separar nucleos de povoamento muito intenso. A plataforma vulcanica mexicsna (cerca de 510000 km") teria 25 milh6es de habitantes quando Cortez C) e os Espanh6is irromperam nesse mundo ate entao desconhe cido dos Europeus. 0 Imperio inca, no inicio do seculo XVI, reuniria 8 a 10 milhoes de siibditos. Ora a Franca, considerada nos seus actuais limites territoriais, tinha menos de 15 milhoes de habitantes em 1320; e nao e certo que, em 1620, tenha ultrapassado os 18 milhoes, Entre estas duas datas, por causa das pestes, das fornes, das guerras, 0 progresso demogra fico cia Europa foi muito fraco. A Italia passou, talvez, de 10 a 12 milhoes de almas; a Alemanha (nas fronteiras de 1937) de 12 a 15 milh6es; a Espanha de 6 rnilhoes e meio a 8 milh6es e meio; a Inglaterra e a Esc6cia, juntas, de 4 a 5 milh6es e meio. Vale ainda a pena fazer notar que, no principio do seculo XVI, as mais importantes cidades do mundo estavam fora da esfera cia civilizaeao ocidental. Assim, Constantino pla> e Mexico, duas capitals que se ignoravam mutuamente, teriam, a primeira, 250 000 habitantes e a segunda 300000, mais, portanto, que Paris (talvez 200 000 almas) e Napoles> (cerca de 150000). Mas era na Europa, e mais especialmente no Oeste do continente, que estavam 0 dinamismo e as chaves do futuro.plano_~..!!!o&rlifi~o.-A-

sua .

{I} As palavras assinaladas no texto com urn asterisco correspondem artigos do Indice Documental no fim desta obra. (N. do E.)

17

1-.--.

Descobrir-se-a uma primeira prova desse dinamismo ao comparar dois mapas da Europa: 0 de 1320 e 0 de 1620. Entre estas duas datas, quantas transforma~oes! No iniSio .99.-s-ec.YJ.QJgY1..a,,~C:$s!JJa, Jb~!"ica esta repartida em cinco estados: Navarra, Aragao, _ Castela, portugal e 0 ~~I.!!~]f~rr~nada"P.9rtu~al nao pOs -amd-a pe'-e-m:-Africa. S6em 14fs, ao apoderar-se de ~,{f- fara, Castela, rasgada por querelas intestinas ao longo de todo 0 seculo XIV, e derrotada em 1319 por Granada e em 1343 por Algeciras. Em contrapartida, Aragao, mais vigoroso, tenta criar urn imperio mediterranico. Valois -:- que sobe ao trono em 1328 _ A Fr~de..Yili~_ VI de _ ~ ~Bru~~!!iiiS..iiaojnduiMetz. nem Gr~nQble. nem _Mar selha nem Montpellier, sem falar, naturalmente, de Estrasburgo ou de perpIgnari~ryon"es~' na fronteira do ducado da Sab6ia. Bordeus, Baiona e toda a ~.~~m comQ.o-ponthieu....estio em maos iiiglesas,'embOfa orel Inglaterra ainda aceite prestar homenagem ao seu suserano de

Will TeutOnicas

mm

Domlnio das Ordens XIVI'

m:m Domlnios OtomanosIlttttl cerea de 1350 ~ PossessOes dos reis ~ de Inglaterra

ffi@l ~~~1Jo Bd~a~.:Jo

~ Possessdes dos Habsbur:

l1li Possessees venezianasBremen Cidades hanseatlcas~!!!! Possesslles genovesasIE KIPTCHAK:

RElNO

~TCaft'a

_~

M!!!!~tro~ ~~

---

de

---

Franca. A

Quaritl,i tnglaterra, conseguiu, nlio sem dificuldade, anexar 0 Pais de Gales _ que, porem, s6 no reinado de Henrique VIII sera total mente absorvido. Esta, no entanto, em mas relacoes com 0 reino da Esc6cia, vizinho e rival. A Irlanda ja e uma especie de co16nia inglesa, mas uma co16nia desprezada, cuja costa oriental e a unica regiao efecti vamente dominada por Eduardo III, feito rei de Inglaterra em 1327. o Imperio esta entregue, de uma forma cronica e duravel, ~ anar quia e ~ impotencia. Mas a Liga Hanseatica, nascida em meados do se culo XII da penetracao germanica nas costas do Baltico, constitui uma potencia. Em 1370 formara urna federa~lio de setenta e sete cidades, capaz de impor ao rei da Dinamarca, pela paz de Stralsund, a isencao de direitos alfandegarios aos navios hanseaucoe que atravessassem 0 Sund. Em 1375 0 imperador Carlos IV consasrara a grandeza da Hansa diri gindo-se a Lubeck em visita solene. Mas, na Alemanha do principio do seculo XIV, 0 Brandeburgo ainda nao pertence aos Hohenrollern, que s6 em 1415 0 adquirirlio. Quanto aos Habsburgos, duques da Austria e da Estiria, sofreram derrotas nas lutas contra os Sui~os - a Confedera~lio data de 1291 _ e nlio possuem ainda a Carlntia, nem 0 Tirol nem a Carniola. S6 em 1440, com Frederico III, obteriio a coroa imperial. A noroeste, os Paises Baixos ainda nlio nasceram como unidade politica. A leste, 0 seculo XIV e urna epoca brilhante para 0 reino da Boemia, parte integrante do Imperio ~ qual estao Iigadas a Moravia e a Silesia. A dinastia dos Luxemburgos instala-se em Praga em 1310. S6 se extin guira em 1437. 0 seu apogeu situa-se no reinado de Carlos IV, rei da Boemia de 1347 a 1378, rei da GennAnia desde 1346, coroado imperador em 1355, que foi 0 fundador da Universidade de Fraga. Os imperadores, teoricamente, tern direitos de tutela numa parte da Italia; mas esta, na realidade, escapa-se-lhes. As viagens de Henrique VII. em 1312, e de Luis de Baviera, em 1328, ~ peninsula redundaram em

Bre~1)h.l!._~_JJJJU!!1g~,J;Lm;l.!t9!tueIlte.- iDdepende.nte.

DO~

REINO ZElANmAS

~ DOS HAFSIDAS

REINO

~~

1. A EUROPA NO IN/C/O DO SECULO XIV.

fracassos. A urn tempo esplendorosa e dividida, a Italia e formada por muitos pequenos estados que fazem, cada urn, 0 seu pr6prio [ogo. A si tuacao, portanto, e muito fluida: vai modificar-se muitas vezes entre 1320 e 1620. Depois das Vesperas Sicilianas de 1282, a Sicilia pertence a Ara gao, que anexa a Sardenha em 1325. Mas s6 a partir de 1442 havera urn Reino das Duas Sicflias, estendido, portanto, ~ Italia do SuI. Mais a norte, os feudais parecem senhores do Estado eclesiastico, que 0 papado aban donou ao instalar-se, em 1309, em Avinhlio. Em Florenca ", onde Dante, exilado em 1302, nlio podera voltar, as lutas intestinas nlio estorvam os negocios. A cidade do Arno, porem, grande centro bancario e thtil, ainda domina apenas urn pequeno territ6rio e s6 tera acesso ao mar em 1406 depois de veneer Pisa. Em Millio, os Visconti comeearam uma carreira que sera brilhante - principalmente no fim do seculo XIV e na primeira metade do seculo XV. Em 1395-1397, Gian Galeazzo recebera do imperador os titulos de duque de Millio e da Lombardia. Bloqueada por terra pelos Apeninos, Genova. e no seculo XIV uma rica cidade

1&

29

maritima, orgulhosa des suas Ieitorias do Mar Negro e do EgeIJ. CaITa. na Crimeia, onde ternnnam as rotas terrestres do Extreme Oriente, per. tence-lhe uesde 1286. Em frente da costa ce Asia Menor, usOO5, Chio! e Sames cacm tambem em seu poder entre 1340 c 1360. Genova passa a dominar a produc;ao e a venda do alumen .. oriental, especialmente 0 de Foglia, a antiga Poceta. A .rumiga de Genova, Yeneza ., inccre,.rzl, cornrosto por urn frances em meados do seculo XV, res ponde, cern anos depois, 0 Debale between the heralds of Engl(Uld ami France de John Coke. 0 aulor insular elogia, naluralmente, pela boca do seu arauto, 0 que h.:i de agradavel, de valoroso e de rico em Inglaterra.

'!tIE~I}.~Q......~m-_T~a.-,.de UlIl.a _~Q~~i~j(e-coJlscle'l9~L().actonaI, ..da._quaLJoana de Arc foi comoventl: e-nobre.intt[]llt1l:... Joana eserevia em 1429 duque de' Bedford:' Dai a Doozela, aqui envia'da por Deus, Rei do Ceu, as chaves de todas as boas cidades que: teodes tornado e violado em Fran\a. Eu vim aqd da parte de Deus, Rei do Ceu, para os escor ra\ar para fora de toda a Fran\a... E nao julgueis que mais alguma vel tereis de DeliS 0 reino de Fran.;a.~0.0

~C.~I~ao .d2~J~~.!~'i_~2~..s..!a!_e!!.a e~nse9!lenc.jl!dQ_.!lt:KIlYDI.

*

42_""~"'""",,"~,_.,..< ~>~!""'Ii\~."._r~.;_

4J

.''"'*'' ,'*Vi84iij:,""..';'-+

iWZtffW snM'C".t"tfe nWe

t ; ""e

'k t ' ....- - ,,~":",' '_ leu' ' -, 'iri'tMiEti!ttiWi'MtiiPh

T

P

. " , orrcos, bern munidos de baixetas de ccbre e de estanhc nas suas estaDona Prudencla, encarregada de ajuizar, nao pede deixar de se prcnun cjar comra a Franca: A minba sentence e que 0 reino de jnglaterre devera sec conduzido para junio da Hcnra, de preferencla A prance. e tomar Iugar a sua rlirerta; que vos, senhor araurc da Franca, em rcdas as assembleia!i ondc ncnra se deva mosrrar, rcconhecais para sempre 0 vosso dever dando 0 Iugar ao arauro da Inglaterra. No rim do seculo XVI, 0 orgulbo nacional ingJes viria a lee em Shakespeare urn vale genial. Em Ricardo II (cerca de 1595), Jcao de Gand, antes de morrer, exaua a Inglaterra: cBle augusto irono de refs, esta llha porta-ceptro, esra terra de majestade, estc a5senW de Marte, este segundo Eden, este semiparaiso. esra rortalem construida para se defender da tnvasao e das proezas da guerra, esta feliz raca dc hcrnens, esrc pequenc universe, esta pedra preciosa enga~lada num mar de pruta que a defendc como urna rnuralha, ou como 0 rossc protector de urn easteto, contra a inveja dos parses menos felizes .. ,, lsto e depois da derrota da InvendvcJ Armada! ,0 que temos de coDlpreender que estA por tras das..inj~!:ji!sJ.c!;,tL~baro~~ e das ~lP~r~~t,Ji_C:_Q~cienw de"'S{to ((os outrns. a ne 03 Cpoca do Renasdmento, sqrg~_J\~ ma~oriadQS.PQ:Vos.,.l:.UtOp""'S- Sabem jtt que sacnlil'erentes. Os Francescs tern reputacao de jevianos, fervenles, incons' tantes. No seculo XIV, Jean Le Bel asse"'era: :, sempre prometerarn e scmpre cumpriram mal. Duzento, anos depOlS, 0 embaixador veneziano Marcanlonio Barbaro ddine-os assim: (Os Franceses sao naluralmenle brioso.'i e orgulhosos. muito audazes nas ac~Oes de guerra; por isso 0 seu primeiro emhate e muito difieil de aguentar ... Nos seus exercitos hi\. rnuilO entusiasmo e pouca ordem. Se pudessem dominar 0 seu ardor, os Fran ceses seriam invendveis.; mas a sua falta de ordem provem de 'lhes ser imposslvei suponar por muito tcmpo as fadigas e os inc6modos~. No se sell Livre de la description des JXJYS, Gilles le Bouvier esforcapor caraclerizar povos, naCS e provincias. Os Sui~os sao dados como {(genIe cruel e rude. Quanto aos Escandinavos e aos Polaco s, diz ele que saO ,gente~ terriveis e furiosas, gentes sanguinarias que ferem antes ainda daquel que estao cheios de vinho~. Os Sicilianos sao ,grandrs crisHios es e muito ciurnentos das suas mulheres, os Napolitano! .gente grosseira e rude. maus cat6licos e grandcs pecadorcs. Os Caste/hanos soo descrilos enmo 'POllCO cornedores de earne e sao gente muito irritadi~a, e ilndam mal vestidos, mal cal~ados e mal dormidos, e sao mauS c:llo{icos, e isso em tao born (ferW) pais. Gilles Le Bouvier faz, em contrapartida, 0 elogio dos Florentinos: Estas gentes suportam comparar;ao com toda a Cristandade; tudo 0 que ganham levam-no para a cidade de F1orem;a, as e por isso a cid.1de e lilo rica; estas genIes slio muilo bern comportad e honeslamente vestidas e sao muito wbria, nO beber e no comer, Tam bern e prestada semelhante bomenagem ao Hainault, cujos hahitantes, .nohres e comuns, sao gente mllilO honesta, bern veslida com bons lccidos e boa~ plumas. e sao muilo bons mercadorrs, trabalhadore~ e gcnte de

Iagens.Paz-se jujzn sobre cs estrangelros, mas rambem sobre 0 proprio povo, e as vezes sem piedade. No seu Apelo ci Nobre..a Crista do Nafoo Alemii, Lutero (1520) nao receia evocar 0 abuso das vitualhas e das bebidas, de que nos, Alemaes, fizemos 0 nosso vfclc particular e gracas ao qual nao gozamos no estrangeirn de excelente reputa~iio; jA nAo e possivel reme dia-Ic pela pregacao, de tal modo esse abuse se enraizou e tal 0 domlnio que tern ja sobre nose. Donde 0 reformador ccnclui que compete as auroridades civis lutar contra a embriaguez. Quanto a Montaigne (EnsaioJ, II, Ix), avalia, de modo ir6nico, 0 valor Intelectual e a finura de espf rite de varies povos do Ocidente em runcao do sen comportamento na guerra: Urn senhor Italiano exprimlu uma vez, na minha presence, esta cpiniac em desfavor da sua cacao: que a subtlleza des Italianos e a vrvacidade das suas concepcoes era tao grande e que previam com tal antecedencia os perigos e acidentes que lhea podiam advir que se nao devia achar eerraebo que Iossem vlstos, munae vezes, na guerra, prover a sua seguranca bern antes de ter reconheeidc 0 perjgo; que n6s e os Espanhols nao eramos tao finos, lamos adiante e tinhamos de ver com os o.lhos e toear com a mAo 0 perigo antes de assustar-DOs com ele, e logo depois perdlamos a compostura; mas que os AlemAes e OS SuI~os, mais grosseiros e mais pesados, nao tinharn 0 senso de madificar as SUllS opiniOe:s oem rnesmo quando jA estavam subjugados pdos goJpes do inimigo. Esta compreens1o de si e do:s outros, a nIvei dos poVOJ, explica bas tantes coisas desse periodo em que nasceu a Europa modema. Expliea nao sO que os barOe:s franceses tenham afastado em 1328 Eduardo III. neto de Filipe, 0 Belo, mas nascido em Inglaterlll, como tambtm que os Portugueses, para nao se unirem a Castela ern 1385, tenham preferido ele ger urn rei bastardo, Joao I, fundador da dinastia de Avis, e que estes mes mas Portugueses, dois seculos e meio mais tarde. ten ham recusado manter se sob urn soberano espanhol: recusa de que nuceu a revolta de 1640. Esta tomada de consd~ncia explica ainda que a palavra - e, mais ainda, a no~ de fronteira tenba gradualmente .substituldo, a partir do se culo XIV. a palavra e a realidade da marca,. que as callindegas :sejam, no fim da Idade Media, uma inovaJ;Ao comum a todos os paIses da Europa; que 0 mercantilismo se desenvolva como expreUiio econ6miea da vontade de independencia; e que se tenha come~ado a definir, na senda dos exemplos italianos, d.guas territoriais ao longo das costas maritimas dos varios Estados, tendo as tribunais maritimos surgido em Ingla. terra em 1360 e em Franca em 1373. Como esquecer, per outre lado, tudo 0 que houve de cnacionab no comportamento religioso dos OcidentaiB a partir do sk:ula XIV? Catarina de Siena pediu com rervor 0 regre.&!JO do papa para entre as gentes de Roma au de Italia,. A Inglaterra rrritou-se ao ver a Fran~ p6r 0 papado

~

4514

];il

1-- _

1

.

-i,i'

'1;

sob tutela. Os rnernbros do Concilio de Constanca - inieiativa revolueio nana _ agruparam-se per enacces. Alem-Reno, como alem-Maneha, era-se cada vez mais hostil a fuga de dinheiros para Roma e a nomeacao de beneficiados estrangeiros. A Reforma, que triunfou no seculo XVI em metade da Europa, pede legiLimamente parecer, de certo ponte de vista, como uma reaq:ao de individualismo nacional. No seu Apelo d Nobreza Crisra da Nat;iio A/emil, Lutero escrevia: N6s (Alemlies) temos 0 nome do Imperio, mas 0 papa dispoe des nossos bens, da nossa honra, das nossas pessoas, des nossas vldas, das nossas almas e de tudo aquilo que nos temos: ha que trocar des Alemlies e pagar-Ihes com uusoes. Quanto ao rei de Inglaterra, recebeu do Parlamento, em 1534, 0 direito de examiner, repudiar, ordenar, corrjgir, reformar, repreender e emendar tais horro res, heresias, enormidades, abuses, ofensas e irregularidades... a fim de conservar a paz, a unidade e a tranquilidade do reino, nao obstante qual quer uso, costume ou lei estrangeira e qualquer autoridade estrangeira. Seria per acaso que 0 primeiro grande reformador smco, Zwingli, primei ramente paroco de Glaris, comecou a sua carreira protestando contra u envio de mercenaries helvetieos para fora do pais? Assim, 0 individualismo, do qual falaremos rnais adiante e que e urn dos traces disrintivos do Renascimento, e percebido, antes de maie, ao ntvel dos povos da Europa, que, ao diferenciarem-se e oporem-se uns aos ourros de forma per vezes dramatlca, adquirem 0 sentimento da sua pro funda originalidade. Licao geradora de espirito entico e de relativismo e, portanto, fecunda. A duvida met6dica de Montaigne ", antes da de Des cartes, viria permitir a crHica de bastantes preeoneeitos: Qual a verdade que estes montes limitam, e que e mentira no mundo que esta para la?. A cada naclio sua verdade. A partir do seculo XIV desenha-se uma nova geografia universitaria que, a urn tempo, exprime e reforca a crescente diversificac lio da Europa. Sao criadas universidades., designadamente em Praga (1347), Crac6via (1364), Viena (1365), Col6nia (1388), Leipzig (1409), S1. Andrews (1413), Lovaina (1425), Basileia (1459), Uppsala (1477), Copenhaga (1478), Al calA (1499), etc. Esta mulliplicaClio, aerescentando-se aos efeitos do Grande Cisma e ao exodo de muitos c1erigos que, antes da Guerra dos cern Anos, esludavam ern Paris, teve como resultado a diminuicao do recrutamento intemacional das universidades e a ruina do sistema das nacres, que constituira ate enlio a chave da sua eslrutura. o hurnanismo. tambtm contribuiu para 0 nascimento das nac Oes europeias. Esta afirmaeao pode causar surpresa. Lorenzo Valla reeusa va-5e a morrer pela palria, agregado de individuos em que nenhum lhe devia ser mais querido que ele proprio. Erasrno, espfrito cosmopolita que s6 escrevia em latUn, foi, nos anos que antecederam a Reforma, uma especie de presidente da republica das letras. E, no entanto, 0 latUn renovado serviu, especialmente, para exaltar a historia nacional. A inicia~ tiva partiu de ltalia, com Flfavio Biondo, que comp&, entre 1439 e 1453,

uma His/aria da Decadencia do Imperio Romano (Historiarum ob tncuno none Romanorum Imperii decades) e uma Italia illustrate. Este humanista dizia que, no seu tempo, gracas a beuevolencia divine e as qualidades des ltalianos, a dignidade e a gloria da peninsula se manifestavam de novo depois de urn eclipse de mil anos. Alem disso, dava, na Ltaua illustrata, a primeira representecao geograflca de toda a peninsula. Em Espanha e em IngJaterra, os Italianos fizeram nascer 0 interesse pelas antiguidades nacionais. Lucio Marineo, urn s.ieiliano que ensinava na Ijniversidade de Salamanca, publicou em J495 urn De Hispania laudibur e Polidoro Vergilio comecou em 1506, a pedido de Henrlque VII, a sua grande Htuorta ang/ica. A redescoberta da Germania de Tacite, publicada em 1500 per Conrad Celtis, suscitou na Alemanha toda uma Iiteratura, escrita em latim mas resolutamente nacionalfsta, da qual e born exemplo o dialogo Arminius, composto em 1520 por Ulrich von Huuen. Arminius era 0 her6i naeional e 0 simbolo da resistencia alema contra Rome: alusao evidente a revolta Iurerana conlra 0 papado. Mas os humanislas nao se contentaram com escrcver em Iatim. Admi radores des escritores antigos, quiseram frequentemente imitA-los e igua la-los, cada urn na sua lingua. Ao Iazer isto, ccntinuaram, com novos meios e baseando-se numa cultura muito mais vasta, a obra dos primeiros grandes eseritores - Dante, Chaucer, Froissart, etc. - que tinham aberto o eaminho as diversas lileraluras nacionais. No seculo XVI deseobre-se na Europa, em toda " parte, a vontade expressa de prcmocao das linguas vernacuias. Na sua eelebre Defense er illustration de fa langue fran caise (1529), Du Bellay s deplorava 0 desprezo dado, mesmo em Franca, ao idioma frances: Reservam-no para os generorinhos frivolos, baladas, redondilhas, e outros temperos... Quando se qucr exprimir grandes ideias, usa-se 0 latim~. Ronsard, no prefacio da Fronciade, aconselha: Usai palavras puramenle francesas.~ Mais tarde, Agrippa d'Aubigne recordarA, no prefaeio das Tragiques, estas palaveas de Ronsard: Recomendo-vos em testamento que nilo deixem, de modo algum, perder velhos lermos e que os empregueis e os defendais audazmcnle contra os maraus que nlio tem nor elegante 0 que nlio seja surripiado do lalim e do italiano~. Assim, poetas e prosadores franceses do seculo XVI esforearam-se por conservar as palaveas anligas, por inventar vocAbuios novos e por filro duzir na literalura nacional os grandes generos imitados dos Antigos: ode, epopeia, tragedia, comedia, salira, epistola, ou dos Italianos: 0 &meto. Nao hesitaram em pilhar Atenas e Roma para enriquecer os templos e altares da Franca. Na competieao inlemacional entre Ifnguas vulgaresll, 0 toscano tinha, desde 0 seeulo XIV, gracas a Daote, Petrarca e Boceacio., consideravel avaneo em relaeao ao frances. Mas urn admirador de Virgilio e de Dante, Sperone, esereveu em 1542 urna defesa da lingua de Florenea, 0 Dialogo delle Ungue. de onde Du Bellay traduziu, pura e simplesmente, baslanles trechos para a sua Defense. utilizando em favor do frances aquilo que

46.~" ,,,",,"""'"""'''''''''''~'''''':''':''"'''''';''''~''''''''-:;~~''''Y''~'~~-~'P

47

o sell co/ega jtalia.no escrevera em peal do idioma toscenc. Tambem em Portugal se eraucu a lingua nacional, 0 humanista Antonio Ferreira (I 528 .1569), a quem se deve uma tragedia celebre (A Caslro), pode scr coo atceradc como urn Du Bellay portugues. Exclamou UDl dia: Que fjoresca, fale, cante, seia ouvida e viva a lingua portuguesa, e, onde quer que se mostre orgulhosa W; 51 e altaQcjra. 0 jngl~s Roger Ascbam (l5J5 -1568), Que foi, por breve tempo, preceptor de Isabel e 0 mais popu lar doe educadores do seu tempo ern Ingfaterra, devc ser comparado a Du Bellay e a Ant6nio Ferreira. Todos tree estavam imbujdcs de culture greco-romana. Ora todos eles beberam nesra culture 0 desejo de rorta Iecer e sen'it a.! Unguas dos seus pa!ses. Ascbam afirmava, no inicio do seu Tosophilus, que pcderia ganhar maier rama se escrevesse em Iatim. Mas, como 0 Ingles era ainda uma jjngua inferior, a mercA des iancrantes e dos tecomretenres, queria contnbuir para 0 seu aperfeiccamentc Inrro duzindo-lhe os torneados e as e1egancias do latirn. A prcee illglc$S, dizia ere, devia seguir a escola de Oce-o e de seneca. Na longinqua Pol6nia, Nicolai Rei, a quem chamaram epai da literatura nacionale, nao dtscorrta de modo diferente. Em todoa os seue escritos, especialmente oa sua obra .prima,o Espelho de Toaos 01 ESIQdos (1568), esrcrccu-se per cemonstrar as possibilidades da lingua petaca em comparecco com 0 Iatirn. Estell afor(:Os foram coroados de euto. 0 seculo XVI viu 0 deci sivo erguer das grandes literatures europeias: e 0 secuio de Ar.icsto e de Maqulavel, de Luten) e de Rabelais, de Ronsard e de Spenser, de Camees e de S. Joac da Cruz- Em 1620, data em que podemos, razcavej mente, cccslcerar conclufdo u ReLi81K:imento, Cervames e Sbakesreare tjnham morrido ha"ja cuatrc aacs. Mas esta vitcria das Hnguas neclcnee nio se aitua somenre DO cume da actividade intelectual. Encontramo-la. lam'btm na vida profunda dos pavos. Na ~poca em que 0 Mito de Villen-Cotterets (1539) iropunha, no teino de Francisco I, 0 usa da Uo.gua da lle-de-France, em ve.z do latim, nos escrims de juJus e de nourios, o to.scano passa"a a ser a liogua de Roma e, portanto, da capital natural da IUlia. Os papas do Renascimeoto, em especial all M~dic.is (15131521 e 1523.1534), chamando aRoma artistas toscanos e povoando de Floren tinos a cUria e as secreLarw do Vaticano, foram os prindpais Autores do n::cuo simultatteo do latim e do diaJecto romQneJCQ. Quanto il Reforma, na medida em que fez mLemificar a leitura da Bfblia pelo pova, auxiliou poderosamente a consolidar e duundir ~ Unguas vernacllias. Lutero foi, sem querer. 0 Drincipal autor da unificacao, pelo menos relativa. dos fala res alemiie$. No momeoto em que se alirmavam as nac(ies europeias, reforcavase a unidade da civilizacao ocidental: dois fen6menOi apareotemente contra dit6rios e, DO entllnto, solid6.ri03, cuja dialectica e uma das maiores caracterlsliCWI do perlodo que estamos a estudar. A descoberta e explora cia dos Dluodos ex6ticos viria, ao mesmo tempo, avivar as tens6e5 entre os Europeus e. precisar Binda filII.is a comnmdade d09 sellS deatin09.

CAPlTULo IT

A ASIA, A AMERICA E A CONIUNTURA

EUROPEIA

va,

Em 1454, Constantinopla tinha cerdo havia urn ano; os Principes da Europa, divididos. nao eram capeees de organizar uma contra-t:< "*1'"

art

fi; t'fnWhn

9

Wi

jjrdtittu&Mf't.,

'.,

._".!."

"iM;\,'#!~... ,~,

I , ,

l!

f

.

r

-Qll.

Mas cs pafses maravilhosos nao estavam todos a teste. 0 Eldorado' mais exactamente. 0 Rio d'Oro (0 Rio de Ourot)- foi primeira mente localizado em Africa, pols foi 0 Duro do Sudiio que originou esta Ienda -de vida tenaz, jli. que os conquistadores do seculo XVI ainda pro curaram na actual Venezuela esse pals de abundftncia. Quanto ! noo;io daAtllinlida, continente atlfl.ntico desaparecido do qual, todavia, subsistinarn

Eo mar, cada vez mais quente a medida que se ia andando para 0 sui, enrrava em ebuli~o no Equador.

ainda alguns pedacos, sabe-se Que vern de platao. Mas robrevivia ainda no

6. NAUFRAGIO l'ROYOCADO l'ELAS l'DRAS-IMAN QUEESTAO NO FUNDO DO MAR.

(G'avlJ,a em madeira eXl,aida de um Hortus sanneus de 149/.)

Renascirnento, reavlvada per lendas crislas. Dizla-se que, DO pnnctplo da Idade Media, S. BrandAo visitara mares tantasrtcos e ilhas encantadas a noroeste da Irlanda. Tambem se cria na viagem dos sete bispoe que teriam partido da Espanha muculmana, teriam navegado no Atlfl.ntico e encon trado urna ilha de felicidade onde fundaram sete cidades. Esta tradi~ao persis[ia ainda no tempo de Henrique, 0 Navegador: urn capitao rela tou-lhe que linha descoberto a ilha dos sete santos. Ern meados do seculo XV[ ainda uns aventureiros espanh6is procuravam na regiao do Mississipi urn oculto paraoo baptizado de sete cidades de Cibola. E a i1ha de S. Brandao figura, a 5' a oeste das Caniirias, num mapa de... 1755! Todas estas miragens servirnm de contrapeso aos horrores espalhados entre os marinheiros por narralivas terrlveis. Dina-se que os navios se afundavam ao passar perto de certas pedras de 1man., pois os pregos do casco, atraldos peto (man, saltayam do casco e este desconiuntava-se.4

melhor conhecimento des trabalhos e das concepcees geograficas des Gregcs tambem revoreceu as grandea viagens maritimas do Renas cimento. MQvimento intelectual caractertsuco deste perfodo: em multos domfnios, 0 regresso ao paesado provocou urn enorme salto para diante. Os Gregos, a partir da escota pitag6rica, e depois com Ansrcteles, tinham afirmado a esfericidade da Terra. Uma boa parte da Idade Media eria, pelo contraric, que a Terra era urn disco, achatada. Esta coneeJ)Ciio per. deu muito da sua autoridade depcls de Alberto Magno (1200-1280) e de Roger Bacon 0214-1294). Eratcstenes (276-194 a. C.) dera uma medida notevetmerue exacta do pertmetro do Equador (39690 krn). Mas Ptolo meu (127-160) considerava uma circunferencia muitc mats pequena, com 28350 km: erro fecundo que dell a Colombo ccragem para empreender a grande viagem para oeste. Ptolomeu foi esqueetdo durante rode urn pertodo da Idade Media. Mais tarde, no seculo XlII, a sua Cosmogra/ia (Almagesto), traduzida do arabe, veto parar as maos dos Ocidentais. E a sua Geogratia foi, finalmenle, encontrada no prindpio do secujc XV gra cas aos pesquisadores humanlstas; a sua traducllo para latim, aeontecimen to considerAvel, sltua-se entre 1406 e 1410. 0 bispo de Cambrai, Pierre d'Ailly (1350-1420), que compusera uma lmago mundt antes do reapa recimento da Geograiia ptolomaica, levou esta cescoberta em linha de conta nos seus Cosmographie tractatus duo. Pierre d'Ailly esrcndia a Asia ainda mae para teste que Ptclomeu e encurtava a extensao oceanica que separava a Espanha do Extremo Oriente. Crist6vao Colombo, que tinha na sua biblioteca urn exemplar da Imago mundi, abundantemente anotado per si, nao hesitou em reduzir a 5600 krn a distancia entre as Canarias e a China. Nao havia acordo entre os Gregos acerca do numero e extensao das zonas habitadas. Para Arist6teles, existia apenas uma oikoumene. embora ela se estendesse para longe a lesle e a sui do Mediterrfl.neo. Ma:s Crates deMallos.e.mais tarde, Pcmponius Mela e Mecrobio, herdeiros da cencla helenica, garantiram que os antfpodas eram habitados. Alherto Magno compartilhou esta opinHio e afinnou, all!m disso - coisa que 09 Portugueses viriam a verificar -, que a pr6pria :zona equatorial, geral. mente considerada inabitaYel por demasiado quente, tambl!m albergava seres humanos. Roger Bacon, que Pierre D'AiJly copiou rrequentemente palavra POr paIavra, abundou no mesmo sentido e postulon ainda a em t@ncia de uma terra habitalla, uma especie de prolongamento da China, a bern pequena distancia de Espanha. Hii, pois, uma. estreita rela~ao entre a ci@ncia piolomaica, as especula~5es escolAsticas e a descoberta da Ame rica.

o

*

52.-."-~--"""""""""-*""'"'

53

"" ''''1l'*'t.'fFJ!!!!!'_

hI

ne

"M

t

men!

t

Em t

i ' 'titt&eiritnw

W"

n

'.~ Sf 1ditfVhfdwwi '

1

II

Mas as grandes viagens mariLimas so puderam realizar-se mediante o concurso de muitas outras causas e circunstAncias que vieram reforcar

.

o estado de espiritc criado pela atraccao do longfnquc, pela miragem das lendas e pe10 recrudescimenlo do interesse pela geografia grega. Mais adiante vcltaremca a falar de certos progressos tecnicos que, todavia, e necessaria mencionar desde ji: a associacao da agulha magnetica com a carta de marear; 0 aperfenoamenw do calculo da latitude; a eonseucac (cerca de 1420) da caravela, que podia navegar contra ventos contrarios; a descoberta __especialmente pelcs Porlugueses - dos auseos e doe ven tos que permitem coatarnar a Africa: cis outros tantos proleg6meno3 das c:xpedil;oes de Colombo e do Gama. Ora tais progressos deram-se na altura em que a Europa sofria de uma crescente necessidade de ouro, prata, especiarias, perfume~ e drogas. A guerra era cada vez mais dis pendiosa per causa dos mercenaries e da artilharia- E, por oulro lado, a civiliz.al;ao ocidental era cade vez mais Iuxuosa. Sofria, porem, de uma carencta cronica de metais precio30s, e dai 0 deseic de alcanl;ar esses palses Iabulcsos chamados Orir, Eldorado e Catai. A necessidade de especianas s explica-se iacilmente. A a!.irnental;3.0 dessa epoca era muuc monetona. Para lhe dar alguma variedade, 0 cozinheiro s6 dispunha da arte dos mo!hos. As drogas e perfumes eram muito usadcs nas cenmcntas religiosas, na Iarmacopeia. na luta de cada dia contra os maus cheiros e as epidemias. portanto, a Europa pedia ao Oriente nao so a pimenta mas tambelll 0 crave de girofie, a canela, a ncz moscada, a caorora, 0 incense, etc., rude produtos existenles, principalmente, na India, no Ceilio, nas ilhas da Sonda e nas Molucas. Havia muito tempo que chegavam ao Ocidente pelo Mar Vermelho e pelo Egipto (ou pela Siria). Em Alexandria e em Tripolis, barcos venezianos, e tambem de Franl;B, da Catalunha, da Ragusa e de Ancona carregavam as preciosas mercadorias. No rjm do seculo XV, os Portugueses pensaram que seria mail> vantajoSQ evitar tais intermediArios e ir pessoalmente aos locais de prodUl;3.o. De resto, contornando a Africa, escapariam as ameal;aS turcas, que enxameavam nas vias comerciais do prollimo Oriente. Mas a expansao europeia nao teve unicamente motivos materiiuS. Os Portugueses procuravam derrotar 0 mundo mUl;ulmano com 0 auxllio da Eti6pia, ja identificada como 0 teino do Preste low, da mesma maneira como S. Lws e Inocencio IY procuraram a alianl;a e a conversao do Grande ca. Nao roi por aeasO que Isabel deu a Colombo 0 tilulo de almif'd.nle e 0 nomeou vice-rei das terras que descobrisse (17 de Abril de 1492) menos de quatro meses depois da conquista de Gl1lnada (2 de Janeiro). Os Espanh6is, de facto, tinharn a impressao de polIer continuar alem-mar a rerorlquisla, jil. condufda nil Europa. Rom a, pur seu lado, acompanhou de muito perlO os grandes empreendimentos ultramarinos Aos Europeus. Em 1493 veio a publi.:o urn extracto do diArio da primeira r viagem de Colombo. 0 papa, ne IIle&mO ano, foi chamado a estabeleee. urn proiecto de limite entre os nevos imperios coloniais espanhol e portu

gues. Foi a Leao X que 0 Italiano Pietro Martire, criadcr da expresssc Novo Mundo, dedicou as sues Decades de orbe /lOl'O, publicadas a par tir de 1511, que silo ainda hcje uma rome fundamental para 0 conheci mento dos principies da penetraeao europeia na America. 0 Dome de S. Francisco Xavier simbcliza redo 0 interesse que a Igreia romana dedicou no seculo XVI as regi5es longfnquas recentemente dominadas pdos Buropeus.

*

Vma vez dcbrado per Bartolomeu Dias, em 1487, 0 Cabo da Boa Esperanca, 0 caminho maritime para a india e para 0 Extreme Oriente estava aberto aos Portugueses, A viagem des quatro navies de Vasco da Gama a Calecut data de 1497-1498. Em Marco de 1500 saiu de Lisboa para a india, sob 0 comando de Cabral e, urna frota, composta ]1 de treze barcos; em 1501, 0 rei de Portugal, Manuel, 0 venturcsc, inaugurou a pratica das viagens martnmas anuais ao Oriente. Os Pcrtuguesea des cobriram Madagascar em 1501, construfram 0 seu primeiro forte na india, em Cochim, em 1503, lnstataram-ee comercial e militarmente na costa oriental da Afri.:a -em Sofala, Qu!loa, Mombace e Mocambique entre 1505 e 1507. Ocuparam Goa em 1510, fazcndo dela a capital doc-.

JAP,{O

PlmUUJ

C""ewOCE./tNO INDICO

_

Eotlbelcdmrmns portull"eoesPrlDdl'ab roW; marftimM {l *J;%ij3-fi!' ""' wzRA, , ,-

@ff@;r".h';,/>J

0'/

...

"'"JCo,.nt~. _._ '~"'--'. ~~'2'""''''' ,~:~., _.leIlA

1'~"'3i,:::~~:~2:~:::\' DV'~\"-"-0. '" f-n'~'" '";~'~~ r~~ ~ '~ .{:'D~1:.~o,,\'".i,_,Lr----L..r"',

~

I """ h~ Sloen,," '':-''00'-'0 v " I,:;;,nx, Bolco. I ;:,-", r," ,,.. ." t,,,,'d~_ PItide hli muito.G

"Isr~iu

lestemunhas .rtji'~"""-,"dg!lL_-l1-

do RelUIscimenlO

"sM

:0111baoc

r-r:

"lvlC-' ~Co1nIe

oouTodD""P(....lII8.~

13. P1UNCIPAlS R,EAL1ZACaES AIIQUITECTONlCAS DO RENASCIMENTO EM FRANCA.(Sllgu/ldQ La Renaissance rril.n~il.ise, itt .La documenlation phoIQgrophiql'fI.)

A Frani;a foi, por excelencia,

0

pais da reeccac ctasstca contra

os excesses omamentais. Mais Que noutros sitios, at se opes a Antigui dade reenconlrada a fantasia superabundante de Julio Romano e do Primaticio _. A influ!ncia de Serlio -, autor de urn celebre tratado de arquitectura, que morreu em Fontainebleau enl 1554, a difusao em Franca das obras de Vitruvio ilustradas por Jean Gouion, 0 intensfssitno estudo dos monumentos de Roma a que se dedicou Philibert de L 'Orme expli cam esta procura da reguiaridade, da simetria, da harmonia, que carac ter1zam a arte francesa de entn:: 1540 e 1560. As ninfa:> da fonte dos Inocentes (1549) t!m a plenitude carnal, a finurn e 0 a_vontade das obms grega:>. Os seus trajes molbados fazern lembrar os da Acr6pole. Na mesma

epoca, Philibert de L'Orme ", trabalhando no palacio de Anet, ergue 0 ramose portico, urn cos pnmeiros exemplos Irancescs das Ires ordens anti gas em scbreposieao. deturo de pouco tempo este exemplo sera seguido no palacio de Assezat de Toulouse (l555-l560). Philibert de L'Orme e tarn bern autor do tumulo de Francisco I (1552) em Saint-Denis, monumenlo uo qual se disse, com justeza, que era mais greco-romano que italiano. De facto, tern a forma de urn arco de triunfo antigo. As Iinhas da arqui tecrura dominam nele, rigorosamente, a composicac e 0 artista aplieou estritamente 0 sistema modular des Antigos. 0 apogeu deere elassicismo arquitectonico do seculo XVI frances e alcancado com a facbada do novo Lcuvre v; nela trabalharam Pierre Lescot e Jean Goujon ". Eo urn verdadeiro manifesto: todos os pormenores sao antigos, mas ainda mais o e 0 esptrito, isto e, a opr;ao pela simetria, a rejeicao das excresceneias, a sabia graduacjlo, desdc a s6bria base ate a ordem atica, interrompida pelo grande rrontao encurvado, os efcitos de relevo e de c1aro-escuro, 0 rigoroso calcuro das croporcses. Esta-se ja longe da fantasia iralianizante dc Fontainebleau. Como a Anuguidade foi melhor conhecida a partir do seeulo XVI, o curse da hist6ria cultural e artfstica da Europa modificou-se. A sere nidade do Apolo do Belvedere influenciou Rafael e todcs os que 0 imi taram: e a hipcrtrofia muscular c 0 movirnento dramancc do Loocoonte foram uma revetaeao para Miguel Angelo, cuja obra se explica, a partir de 1506, em parte, com essa descoberta. A pmtura eseult6rica de urn Macrten Van Heemskerck, que, com certo exagero, foi ja cogncminadc de Miguel Angelo do Norte, e muitas outras obras cheias de violencia, atormentadas, do perfodc barroco, derivam, de certo modo, do Laocoorue. e. tam bern a arte helcnfstica que, provavelmente, se rem de Iigar a Iinha serpentinas e 0 alongamento de formes que caractenzam a estetiea manectsra de Parmesao, de Correggto ", de Cellini, da eseota de Fon taincbleau e do Greco. As consideravels dimens5es des rurnas da Roma imperial impressionaram Bramante, Rafael, Miguel Angelo e, mats tarde, Domenico Fontana, arquitecto de Sisto V: dal 0 estilo monumental, quase colossal, do Renascimento romano e, depois, da arte barroca euro peia em geral, por oposio;ao a discricao, mais anca, do Renasei mente ftorentino. Tambem a poesia e a musica foram marcadas pelo novo favor concedldo a civilizacao greco-romana. Os poetas do seculo XVI, espectalmente em Franca, procuraram subrneter os seus versos, mesmo aqueles que escreviam em lingua vulgar, a medida a anliga. Esie ritmo rcpercutiu-se tambem na musica, pais Ronsard queria que as suas odes fos sem cantadas, como as de Anacreonte ou de Pindaro. A 6pera italiana, que encontrou a sua f6rmula com Monleverdi, no infcio do seculo XVII, nasceu das pesquisas conjugadas de humanistas, musicos e poetas, dese josos dc ressuscitar 0 teatro antigo por meio da mUsica. 0 canto n::pn:: sentativoll. islo e, 0 canto dramatico, evocava, para des, a voz acompa nhada a lira da antiga Grecia.

110

111

*

A adrniracac pe1a Antiguidade teve os seus exageros, tngenuidadea e iniusti~as. uoccecio. ao reneaar aos quarerna ancs a obra de [uven passar a escrever apenas em laLim, e este exemplo foi tude, seguido per muitos hurnamstas italianos e transetpincs - de Leonardo trOU Bruni a Brasrno. Uma ob~er"acno cuidada demons que hi poemas inteitos de poliziano farmadas pot citales latwas. Na Prance do se culo XVI ji V. L. SauLnier pode identificar mais de setecentos poetes laLinos. E e conhecloc 0 inquielante aviso de Ronsard no inicio da

re~O\veu

Franciade:

as Pranceses que meUS versos lerem Se niio forem Gregm nem RomMOS, Em vel deste livro teriio Um pesado [arda entre moos... (')

Nao s6 tor am represenladas em Ferrara, Bordeus e Oxford pecas de Plauto e de Terencio como na !nglaterra isabe1ina bouve grande entusiasmo pelas tragedies de Seneca; a sua influencia no teatro " inglfs anterior a Shakespeare Ioi consider3.vel. Esses tragedias nao rinham side concebides para 0 palco: a eccao e nula e a Hnguagem e uemasiadc enf:Hica, mas tanlo 0 publico como os autores do seculo XV! eram sensl 'leis ~ grandiloquencia do discurw, a alrocidade dos assuntos. Apreciavam a parte que nessas tragedias cabia aos crimes monstruOSos e as vinganlJU implacaveis. A exaltacao da Antiguidade e 0 correspondente desprezo petas realizac a eta posteriores tornatam, por vezes, um aspecto que DOS lks oes espanta hoje. Montaigne escrevia em 1581 que as construc desta Roma bastarda, que nessa altura iam sendo acrescentadas aquelas rufnas antigas, embora tivesseIJl com que suscitar a admirac ao dos nosses pre- sentes seculos, mais faziam lembrar os ninhos que pardais e gmthas vilo em FranCa pendurando nas ab6badas e paredes das igreias acabadas de demolir pelos hugueno teSll. oes. N1io nos deixemos, porem, enganar por tais afirroac A Europa do Renascimento, tomada em conjunto, nlio abdicou perante a Antigui. dade. Tradic vigorosas se op~ram ao seu completo triunfo. a famOSO oes Esque!eto de Ligier Richier, de Bar-Ie-Duc (1547). que renoVD. 0 tema. o medieval do dransido~, e, com diferenca de apenas dais anos, do mesm tempo que a fonte dos Inocenles. Em plena seculo XVII continuava-IC em Franca e na BeJgica a cobrir igrejas com ogivas cnuadas. Apesat petas da estetica de Vitruvio, os Alemaes obstinaram-se na

predil~ilo

(') No Oliginal: Les Frani;ois qui mes .,en Iiront I S'i.Is ne &Opt et Gred RomailU, I Au lieu de ce livre ils n'auropt I Qu'un peMnt falx entre II:s 1I1aiDs..(N. do T.)

verncais. Al, como na Flandres, a familiar silhueta des casas alta" sofreu poucas transformacOes e foi facil colocar no sitio da cimalha em esca dinha urn Jroatao barroco com votutas. E que, na realidade, a Anti guidade - mesmo em Italia - 56 ern conhecida superficialmente. Leo nardo da Vinci e Miguel Angelo DAo eablem Iatim. Shakespeare, que leta multo mas sem plano, Itispircu-se, em muaas das suas pecas sotee a Antiguidade, em Plurarco, mas sem tenter reconstituir nas tragedias que compos os hAbit.os e costumes des Antigos. A cor local nilo lhe inte ressava. Quando, em lUlio Cesar, os mirones comecam per aclamar Brutus, 0 assasslno, para depois, manobrados por Antonius, rebentar em sctucos perante 0 cadaver do tirano assassinadc, nao e tanto a plebe rornana que esra a set evocada como a multidio versatil de todos os tempos. A insuficiencia da culture historica do Renescimento foi causa de eITO'i. Ficino foi menos plat6nico que: necotatonrco e nao viu tudo aquila que separava do pensemento do discfpulo de Socrates 0 de Plotino, de Prcclo e de Jamblico: ora, entre aquele e estes, havia mais de sets seculos. Ficino tambem iulgava que os Livros Hermeticos ", que dera a conhecer a Europa e taDto 8xito obtiverarn, encerravam sob forma esote tenca a preciosa sabedcria da antiga religiiio egfpcia. Oro, na reaudace, os Livros Hermelicos datam oa era crista. Nao e de admirar que sejam uma mistuca de ccncepczes neoplatcnicas, judaicas e egfpcias. Pico de Mirandola'" cometeu 0 menno erro a respeito do IV Livro de Esdrw. que em 'lao pediu A Igreja que integrasse na Bfblia. Tomou por obra do stculo V iWterior a Cristo urn livro manifestamente poslerior A I;on quisla de Jerusalem por Tito. a Renasclmenlo enganou-se, tarnbern, acerca de Diontsio, 0 Areopagita, visto que se atribuiu ao companheiro de Siio Paulo obms marcadas pelo neoplatortismo cuja primeira menr;ao conhe cida - em Constantinopla - data de 522. Em resumo, os humanistas (optimistas bilsearam numa croDologia defeituosa urna das leses-mestras do Renascimento: aqueJa que afjrroava haver um fundo de verdade reli giOSa comum a todos 08 povos e que Caldeus, Persas. Gregos, Egipcios e Judew antigos tiDham possuldo os elementos essenciais da Revelacao. as homens dos steulos XV e XVI considcroram, portanto, a Antiguidade como urn todo. Nao deram suficiente atencao ao facto de eta ter durado mais de mil anos. E do mesmo modo ignoraram quase completamenle a arte da q,oca de .Pericles e a evolu~o das ordens. Para des, a escul tura antiga era a do perfodo helenfstico. Erros dificilmente evilavejsl Mas, por vezes, 0 Renascimento tratou a Antiguidade com excessiva ligeireza. Bromante, cognominado em Roma de llruinante~, niio leve escn1pulos. na reconstruo;ao da Igreja de S. Pedro, em deilar abaixo as 96 colunas corfntias da anuga basilica. Paulo 111., num breve de 1540, revogou todas as licencas para escavaCoes concedidas a particulares - mas para dar 0 seu rnonop61io a05 arquitectos e emprei teiI'Qs que trabalhavam em S. Pedro. Em 1562, todas as placas de p6rfiro e OUlras ... , que havia na Igreja de Santo Adriano (na antiga CUria impe

111

111

[

"

,au nas meotcas das fachadas que nessas teras regras da natureza que dizem respeito A ccmodidade, aos uses e ao proveito des moradores. Assim, pete meres DOS grandes artistas do Renascimento, a imita~ da Antiguidade nunca foi servil. Ao vcltar de Roma, 'ttmoreuo escreveu na parede da oficina: *0 desenho de Miguel Angelo, a cor de Tictanc.s n a cpcca caracrenza-se tanto pela exaitante ccnccrrenca das artes como pela imitacac da Antiguidade: Alberti dava a preemilJencia a arquitectura; Leonardo, ' d~ ilusao penpectiva. fez esfor~ c:spantosos. Leonardo, perem. inleressou-se mais especialmenle pela perspectiva a!rea, que pro cura reslituir as distllncias prill. grada9ao dos efe~tos luminosos - dessa luz que anima 0 vazio do espaco, (. .. e) trabalba 0 objectoJ (A. Chaste!). Inventou 0 stumafO. 0 famo$O daeo-escuro, por rueio do ql13l as figums emersem de uma sombra vaporosa. Seguros do seu lalento e dos sellS processos, como e que os artisw do Renascimento nao ha.viaOl de fa:rer obra original? A8sim, Bramante, inspirando-se embora no Teatro de Marcelo e no SeptizotLium boje desa parecido, inoveu profundawente ao cealizar a altemAncia ritmada de pai [leis de largura desigl.lal, ao quebrar a Olonotonia das fachadas com a saliencia dos corpes avancados, ao acenluar os estil6batas, que sepamm os andares e aumentam a clareza arquiteet6n.ica. B tambem os programas nao eram ja os da Antiguidade. Agora havia que construiJ: igrejas, lan~ c1austros. decorar habita~Oes que oAo eram OOllcebidas como as doa Antigos. Em contrapartida, 1100 se fa.zia lerma5- Bramante teve de reali zar obra original Quando foi encan-egado por JUlio II de Jigar 0 Pall\cio do Vaticano' ao Belvedere por dois corredores paralelos com 300 metrOi de comprimento. Os Gregos e os Ramanos nao n05 legaram nenhuma obra q\le!'.e: compare com 0 Juiw Final de Miguel Angc:lo, que tern 17 metrm por 13, au com as 72 telas pintadas por Tmloretto p.ara a Scuola di San Rocco de Veneza. E nao redigiram nenhum liveo que se pareca com as Ensaios de Montaiine. Tomemos cutro eJl'empJo: .humllnisrno e 50nClO sao praticamente inseparaveis. Ora 0 soneto, posto em vega por Petrarca e depois introdurido, no x-culo XVI, poe Mamt. em Franca, par Gar cilase de la Vega em Espanha, por Wyatt em Ingla1erra, nao e antigo, c de origem Haliana 01.1 tarvez provencal, Poltanto, temcs, apesar da COos lame referencia ace modelos antigos, uma cuHuta nova e uma arte nova no quacro de uma civilizacao profundamente original.

*

No final deste estucc, definamos em linhas gerais as varias reahza ~Oe:> do Renescuneneo no plano art!stico. Num primeiro tempo vru-se, em ltalia como aquem-Alpes, os anistas aceitar largamente as tradjr;5es tccats eneuaaro admiravam as cbras srecc-romenas. bizantinas e rornanaa aqui, actrcas ali, marilimas e ex6ticas em Pcrtugaf esses tradiC6es Iocels cram per elcs combinadas com elementos decorativos tetirados, princi_ rermeme, do vocabuU.rio antigo. Essa arte comp6sita teve muito eecantc e saber. Depois disso velo a mornento do purlsmc, que se pretenda pla tonico. 0 s artisms buscavam a estrurura metemauce da beleza. Essa estelica sobria, serena, harmoniosa, desabrochou naa obras de Leonardo, Rafael, Bramllnte, Philibert de L'Orme, Pierre Lescot, etc. MHs a estriea disciplina e a beleza maJlllorea nao podiam satjsfaz.er joleiramente uma tpoca inqujeta Que tantos Juizos Finais pintou. Miguel Angelo optou pelo movimeoto e pelo sobre-humano. Foi 0 inu1trapagsavel paeta do desmesurado. Ao fmJo, loi um des criadores da aete barroca, que tinha afej~ao ao gr:mdioso - dal 0 triunfalismo romano _, as vasCali compo_ sicoes, b aq:c.es heroicas, As atitudc:s dramaticas, ao usa da! diagooais. Rafael e Miguel Angelo tivcidW, ambos, numerosos imJladores _ e a alguns deles nao fa/tou taleato. 0 edeetismo dos irmiios Carracci". que juntaram As lies de Rafael as de Miguc:l Angelo, deu ao lecto do Palacio Famese de Roma uma compo,k.!io simuJtaneamente s6lida e variada. Mas boje descobre_se que 0 seculo XVI eurQpeu fOl laI'Rameate maneirista, POt maneiristau devemos, principalmente, cnlender as arti!_ las que quiseram escapar por uma maneiraJ muito pessoal, por UlD estilo r p 6pejo de cada urn -assim JlCnsaV-d Vasaci_, ao dOminio dos gigantes da aete. Com as mandristas triunram um anticlassicismo e Ulna estetica Que se afastam resolutammte da natUte:ra c: do Ilatuzal. Dat a qualifica_ cao de amaneirndaJ durante muito tempo aposta a esta aete QUe pro Cllrava a originafidade a todo 0 custo e que tanto b;ilo teve nas cortes requintadas e preciosas de Manlua, de Fontainoebleau e de Prasa. Os ma~ neirislas Quisc:ram causar e~nto com 0 sobrecarregado da decoracao - scorno ll1lio Romano no Palazzo del Te, em Mantua _, com a escolhil do agsuntos, audaciosamente sensuais com Spmngler e resolutameote e.~tlllnfIos cum Antoine Caron. Usavam cores acidas e gostavam de fundos negros. Seguindo Parmigiano, lliongaram as formas de urn mOdo iIlespe

116117

~~~

rado e mosrrararn urn gosto pronundado pelas cesprororcces - recorde mas 0 CriJIO na Cruz de Cellini, no Escorial, uma Anunci~do de Brcn zmo, as Iiguras caracteristicas do Greco. Nos flOSSOS dias ha urna ten dencia, ow desLilulda de fundamenta, para 'o'er no Maneirismo urna das cuneosees essenciais do seculo XVI no periodo que precedeu a vitcria do Barraco. No plano de. psicologia zctecnva, 0 Maneirismo aparece como testemunho de uma epuca que em todos as dominics se atastava des ensinamentos Iradieionais e buscava a scu caminho em muuas drreccoes. o Maneirismo exprimiu a sede de -enovacac de urn seculo que nao encon rrara ainda 0 equilibria e se mostra, na analise, tao rico e tao diverso que DaO se consegue nxa-io de modo satisfal6rio. E per isso Que, tratando-se de uma epoca Iiia Iecunda, todas as da~siricar;oes sao rormas e artificiais. Tambetn e preciso dar lugar espe cial a pintura veneziana. Por voila de 1500, veneza era ainda uma cidade gotica. 0 Renascimenta so la brilhou verdadeiramenle com 0 palacio Vendrarnino, que e de 1509. Do mesmo modo a pmtura veneziana, depcis da gera~ao dos precursores, des quais 0 mais notave! e Giovanni Bellini, levanta voo com Ticiano, que domina toda a primeira metade do se culo XVI e chega, no fim da carreira, a uma tecnica cease impressionista. Mas a pintura veneziana brilha depots, com novo esplendor, na obra de Tintoretto e de veronese . A arte europeia deve Imensememe a veneza. Rubens, pcussin, Vehizqucz, Watteau e De1aeroix, para citar apenas alguns nomes, consideraram Ticiano como 0 meslre por excelencia, aquele que soube dar A pintura a oleo a sua verdadeira dimensao e a sua prestigiosa voca~ao. Os pintores venezianos preferiram a cor a linba; deram a pintura maior nexibilidade e maior intensidade luminosa. Mas, por volta de 1600, viveu em ItAlia um artista isolado que faria eseola: Caca vaggio . Desdenhava da Antiguidade, reagiu contra todas as convem;oes, esforc;ou-se por uma pinlura ilnaturab e por vezes brutalmente realista. Ao s!umalO de Leonardo optls os violenlos contrastes entre a sombra e a luz. Os iluministas de Fran~a e dos Paises Baixos imitaram a sua.mane ira. Assim, neste principio do seculo XVII, a pinlura e, mais geralmente, todas as artes chegam na Europa a plena maturidade e a perfeita faciIi dade tecnica. Os artistas podem fazer tudo 0 que quiserem. E devem isso rnais a ItAlia que A Antiguidade. Na epoca eJJl que uma Europa dinamica procurava os meios da sua renova~ao, a ItAlia trouxe a possi bilidade de urn rejuvenescimento muito mais radical que aque1e que poderia ser dado pela arte g6tica - apesar das reservas de seiva e de vigor que ela ainda po~ula. 0 esplendor da riquem italiana contribuiu para 0 lriunfo da estetico. now. Foram artistas vindos da peninsula que' por toda a parte espalharam 0 ne..... look (') art1stico. A primeira fachada

renascennsta de Fran...a - a do Palacio de Gaillon - foi obra de uma oficina de escuuores Iranco-italiancs. E e conhecida a importancia que, a partir dos anos uinta do seculc XVI, teve a escctae fundada em Fon ratnebleau per RO.%l) e pelc Primarrcic, que aclimataram 0 Maneirismo em Franca. Em Ingfaterra. as formulas da arse nova foram mtroduzidas por urn florentine, Tcmgiano, auror do Iumulo de Henrique Vll em Westminster. Nos Paiscs Baixos, se Bruegel, 0 velbc ", desenhador e paisaglsra sem par. se inspircu pouco em modelos italianos e nao quis representar nus. veitando a Iorne que grassou em [talia em 1591, 25 navies hanseaticos carregados de trigo, des quais 21 de Lubeck, jessarem 0 Sund nesse ano em direccao de Genova, Livorno, Ovitavecch ia, etc. as barCOS de DanlIig Fcrarn vistos no Adnatieo e mesmo em Creta. Mas ao.prospe nuaoe oa Hansa, apcsar desta renoV3I;ao, era cois:a do passad Entre os navies hanseatieos que trequentovam porlos da Peninsula Iberica havia, na realidade, muitos Clue cram holandeses e que esccnclam a sua verda deira naciona\idade 'Para pader tazer neg6cios cern 0 inimigo. Os Holan_ ver a sua trota muito deses e as zelanceses tinham eornecado a desenvo 1 antes dll. secesSao de 15R\. Mas, depois desta data, 0 progresso de tal {rota acelerOu-se. Calcula-se que, no Iirn do seculo -XVI, a 'Hansa tinba urn milner de navios eom uma ea{laeidade de eersa de 45000 lost (90 000 toneladas), ao passe que os Neerlandcses disPl.lO haJll, pelo menus, de 120000 lost, Entre 1557 e 1585, mais de metade des navies que vinhadl de DlHlt7.ig _ pot to hanseata - e passaram 0 Sund erarn neerlandeses. des barcos da pdos das Provind" Mas a gradual Unidas coincidil.1, ao todo, eom a das trocas entre os do Baltico e os paises do ocidente. A maior fIfOdUl;aO de cereals .- planicie gennano-polaca _'Produ~ao largarnenle exportada para oeste para sl.1l- responde ram Importacoes creseentes de sal e produtos medi' r!nicos pdas regioes situadas aleJIl-Sund. Em 1497 (e csta a rnaia anti de que se disp5e) torara contadas 795 passageDS des estreil ctoeroercceees em ambos 05 selltidos. No per!odo 1557-1569, a lD' anual passou para 1280 e, no deeenio 1581-1~90, para 6673, As eXI tacoes dc centelo de Dantzig subiram de 10000 Iasr por ano no fi do seculo XV para mats de 6.5000 lust entre 1617 e 1621. Amste estava. pais, bern situada para no s~culo xvu ser 0 principal mel" c a maier praca de redistribl.1il;aO de cereais de Europa. l Esta antmacac des mares do norte ecropeu, cada vez mais in teria sido compensada _ como no ft\ovimento des pratos de uma lance _ per um afrouxamentc das rrocas no Mediterrll.neo? D' muito tempo, afirmou-se que 0 Mediterrll.neo entrou em decUniO' da seecto XVI. nePal