Debbie Macomber - Ensine-me a Sonhar

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8/10/2019 Debbie Macomber - Ensine-me a Sonhar http://slidepdf.com/reader/full/debbie-macomber-ensine-me-a-sonhar 1/83 Ensine-me a Sonhar (Trouble With Caasi) Debbie Macomber Ela trocaria poder, fama e dinheiro por um pouco de carinho! Camile foi uma criança diferente das outras. Não brincou, não conheceu o carinho, o calor de uma família... Só as frias paredes do império montado pelo pai. Foi criada para enfrentar o mundo dos negócios, nada mais. Mas um dia Blake entrou em sua vida e lhe despertou as emoções mais belas, mais escondidas... e ela descobriu que não podia viver sem amor. Só não sabia se aquele homem arrogante aceitaria seu coração! Digitalização; Vicky Revisão: Deda Dantas

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Ensine-me a Sonhar (Trouble With Caasi)

Debbie Macomber

Ela trocaria poder, fama e dinheiro por um pouco de carinho!Camile foi uma criança diferente das outras. Não brincou, não conheceu o carinho, o

calor de uma família... Só as frias paredes do império montado pelo pai. Foi criada paraenfrentar o mundo dos negócios, nada mais.

Mas um dia Blake entrou em sua vida e lhe despertou as emoções mais belas, maisescondidas... e ela descobriu que não podia viver sem amor. Só não sabia se aquelehomem arrogante aceitaria seu coração!

Digitalização; VickyRevisão: Deda Dantas

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Leitura — a maneira mais econômica de cultura, lazer e diversão.

NOVA CULTURAL

THE TROUBLE WITH CAASI© 1985 Debbie Macomber Originalmente publicado pela Silhouette Books, Divisão da

Harlequin Enterprises Limited

ENSINA-ME A SONHAR © 1985 para a língua portuguesa

EDITORA NOVA CULTURALTodos os direitos reservados, inclusive o direito de reprodução total ou parcial, sob

qualquer forma.

Esta edição é publicada através de contrato com a Harlequin Enterprises Limited, Toronto,Canadá. Silhouette, Silhouette Desire e o colofão são marcas registradas da Harlequin

Enterprises B. V.

Tradução: Nicole Collet

NOVA CULTURALCAIXA POSTAL 2372— SÃO PAULO

Esta obra foi composta na Linoart Ltda. e impressa naDivisão Gráfica da Editora Abril S.A.

Foto da capa: RJB

NOVA CULTURAL

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CAPÍTULO I

Camile Lester passou os olhos pela magnífica vista do monte Hood e seus picosnevados, que se descortinava através da janela. Não tinha do que se queixar. Possuía umluxuoso escritório no centro de Portland e era a rica proprietária da rede de hotéis Shelter.

O mundo dos negócios reservava muitas surpresas para uma mulher, mas Camilesempre soubera contornar as situações difíceis. Desta vez, porém, estava aturdida: seumelhor funcionário a abandonara. Apoiando-se contra a escrivaninha apinhada de papéis,releu a carta de demissão de Blake Huston. Não conseguia atinar com o porquê de eledeixar seu cargo na Lester Empreendimentos.

Blake ia muito além das funções de gerente geral: planejava a estratégia dacompanhia e tomava decisões importantes. A competência que demonstrava eraretribuída com um salário à altura. Mesmo assim, poderia ser pouco, e Camile pensou empropor-lhe um aumento. Entretanto, ao consultar o arquivo de informações, constatou queo salário dele havia sido reajustado no mês anterior.

Desconcertada, ela se deixou cair na poltrona de couro, ainda segurando a fichareferente a Blake. E, franzindo a testa, procurou adivinhar o que o levara a tomar aqueladecisão.

Ao que constava, não era casado. Tinha cerca de trinta e cinco anos; era alto, forte,de cabelos e olhos castanhos. No decorrer do tempo em que trabalhara para a empresa,ele pouco mudara, mostrando invariavelmente calma e um espírito perspicaz.

Os pensamentos de Camile foram interrompidos pelo chamado da secretária, que ainformou sobre a chegada de Blake Huston.— Faça-o entrar — pediu Camile, desligando o interfone.Estava satisfeita com a vinda dele. Seu pai, quando vivo, treinara-a para ser uma

mulher de negócios e aquela, portanto, era sua especialidade: negociar. Se Blakeestivesse descontente com alguma coisa, ela logo descobriria. Fingindo examinar a fichaque tinha em mãos, aguardou-o.

Quando Blake entrou, encontrou-a sentada à mesa, numa atitude compenetrada.Camile sorriu e convidou, indicando uma cadeira:

— Olá, Blake. Sente-se.— Se não se importa, prefiro ficar em pé.Ele lhe lançou um olhar penetrante e postou-se em frente à mesa. Não era

exatamente um homem que se poderia chamar de "comum". As feições marcantes, e atécerto ponto rudes, traíam sua origem latina. Os olhos escuros insinuavam uma sede deliberdade. Havia nele qualquer coisa indefinível que destoava da sobriedade do ternocinza.

Perturbada, Camile sentiu-se intimidada, como se o visse pela primeira vez.— Ora, vamos! Você parece um soldado em guarda! — brincou ela, tentando

desfazer a atmosfera tensa que se formara entre eles.— Às vezes eu me sinto assim — retrucou Blake, em tom gélido.— Perdão. . . O que disse?

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— Nada importante. Você tem razão. É melhor sentar. . . Importa-se se eu fumar? —perguntou, seco, enquanto procurava o maço de cigarros no bolso do paletó.

— Você já fumou aqui dezenas de vezes. Por que tanta cerimônia agora?— Talvez eu esteja querendo chamar sua atenção. Confusa, ela pressentiu que

havia algo errado. Blake nunca se comportara daquele modo. Com um sorriso conciliador,

mostrou-lhe a carta de demissão e indagou:— Qual foi o problema?— Não há nenhum problema. Simplesmente é hora de mudar e buscar novos

horizontes.— Arranjou outro emprego?— Ainda não.— Então, diga-me o que há de errado.Vendo que perdia o controle da situação, ela disfarçou o nervosismo que começava

a dominá-la, pedindo-lhe um cigarro. Ele a fitou com surpresa:— Não sabia que você fumava.— Gosto de fumar de vez em quando. . .No íntimo, Camile sabia que seu pai a teria desaprovado por essa manifestação de

fraqueza, mas não se importou. Precisava acalmar os nervos e aceitou o cigarro queBlake lhe oferecia.

— Diga o que há de errado — repetiu, dando uma longa tragada.— Pelo jeito, você quer uma descrição detalhada. Por que não tenta o relatório

mensal da companhia?— Não imaginei que o sarcasmo fizesse parte de suas qualidades. . .Irritada, ela apagou o cigarro no cinzeiro que havia sobre a mesa.— Talvez não imaginasse mesmo. . . Então deve admitir que me conhece muito

pouco.Ela ficou sem ação diante dessas palavras, pois era obrigada a admitir que Blake

estava certo. Baixando os olhos, buscou forças para falar. Seu pai não a ensinara a lidar com os homens e, às vezes, Camile sentia-se despreparada como uma adolescente.

— Fique com o fim de semana livre e pense melhor. Eu gostaria que continuasse atrabalhar conosco.

Mas ele parecia decidido e avisou, inflexível:— Não pretendo mudar de ideia.— De qualquer forma, reflita. Conversaremos no início da semana, está bem?— Como quiser.Com um gesto de cabeça, Blake despediu-se e saiu da sala.Camile passou o resto do dia abalada com a perspectiva de Blake Huston insistir na

demissão e deixou-se absorver pelo trabalho, a fim de não pensar mais no assunto.

Anoitecia quando ela deixou o escritório e entrou no luxuoso carro branco que alevaria para casa. Dirigia pensativa, sentindo-se exausta. Lamentava que o jantar comEdie e June estivesse marcado justamente para aquela noite, mas não podia faltar ao

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encontro. As duas eram suas melhores amigas desde os tempos de colégio. Bem, nacerta dariam boas risadas, e isso aliviaria a tensão.

Pensando nisso, Camile chegou a seu apartamento. Abriu a porta do luxuoso dúplexe acendeu as luzes. O ambiente, tão familiar, ajudou-a a tranquilizar-se. Passara a vidaentre as paredes daquele apartamento, desde a época em que seu pai a cercava decuidados e ela não passava de uma criança.

Sua mãe morrera logo após o parto, deixando a Isaac Lester, que perdera os paisainda adolescente e vencera todos os desafios à própria custa, apenas a filha recém-nascida.

A partir do momento em que Camile compreendeu o que era a vida, Isaac começoua transmitir-lhe seus conhecimentos, preparando-a para ocupar a presidência da Lester Empreendimentos. Os bens legados a Camile abrangiam a cadeia de hotéis Shelter, oque causou inveja a muita gente. Para ela, porém, a herança fora demasiado pesada:conseguira-a graças à morte do pai, que tanto amava.

Camile divagava, preparando o banho com gestos lentos. Encheu a banheira de

espuma e mergulhou na água quente. Afastando as recordações, deixou-se invadir pelagostosa sensação de estar ali, relaxada.Camile estava no auge de sua beleza. Os cabelos loiros caíam em longas mechas, e

os olhos verdes emprestavam-lhe um ar sensual. Era esguia e elegante, contrapondomaneiras delicadas com uma postura enérgica. Mas nem de longe ela se dava contadisso. Nos últimos cinco anos, a Lester Empreendimentos fora o centro de sua vida; nadamais tivera importância. Nem amigos, nem namorados.

Terminado o banho, ela vestiu o roupão e dirigiu-se para o quarto, a fim de escolher a roupa que usaria.

Uma hora mais tarde, atravessava o hall do Montparnasse, o restaurante francêsescolhido por suas amigas. Trajava um conjunto de seda lilás, que lhe realçava as formas,e usava uma maquiagem suave em tons de rosa.

Edie acenou, para ela, de uma mesa situada num dos vértices do salão. Estavasozinha. Enquanto caminhava na direção da amiga, Camile perguntou a si própria se Juneviria, uma vez que estava prestes a dar à luz seu segundo filho.

— Seja bem-vinda! Que bons ventos a trazem aqui? — gracejou Edie, puxando-lheuma cadeira.

— Ora, que bons ventos a trazem aqui pergunto eu! — replicou ela, cumprimentandoa amiga. Aquela era uma brincadeira que sempre faziam quando se encontravam.

— Como você está bonita, Camile!— elogiou a outra, com um largo sorriso.— Você não me engana, sua farsante! O que aconteceu para que esse seu sorriso

esteja mais simpático que de costume? — Camile perguntou, de maneira afetuosa.— Eu deveria esperar por June para contar. Mas acho que, se não falar, vou

explodir. Camile, estou grávida!Dizendo isso, serviu champanhe à amiga e ergueu o copo para um brinde.— Mas é muita coincidência! Você e June... grávidas! E logo você, que nunca

desejou filhos.

— Mudei de ideia. Parece loucura; entretanto, estou adorando! Já entrei em dietaespecial, e Fred não cabe em si de contente.— Acalme-se! Ainda não me acostumei com a novidade — comentou Camile,

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sorrindo.— O que acha disso? — perguntou Edie, mas não obteve resposta, pois nesse

momento uma mulher alta, de cabelos avermelhados e pele clara, aproximou-se da mesa,exclamando:

— Hum. . . champanhe!

— Você apareceu em boa hora, June. Estamos comemorando meu estadointeressante! — brincou Edie, acolhendo a recém-chegada com uma expressão teatral.

— Edie! Você está esperando um bebê? Aquela mesma Edie que empreendiaverdadeiras cruzadas a favor do controle da natalidade?

— Sim, June, aquela mesma Edie que sempre falava da revolução promovida pelaspílulas anticoncepcionais!— acrescentou Camile, com um riso malicioso.

— Você duas querem parar de falar com se eu não estivesse aqui? — Edie fingiu-seofendida e todas riram.

Nos instantes que se seguiram, as três conversaram animadamente sobre crianças efraldas. Saborearam pratos requintados, recordando os dias de escola. E, quandoterminaram, dividiram a conta e pediram café.

— Que tal irmos para outro lugar beber um último drinque?— sugeriu Edie.— Não posso. . . Esta barriga de oito meses desencoraja qualquer ousadia. Além

disso, Burt está me esperando — explicou Tune.— Quanto a mim, meus pés doem — argumentou Camile.— Ora, deixem disso! Garanto que nos divertiremos muito!— Está bem, sua farsante. Mas só em respeito ao seu estado interessante. Não vá

se acostumar, certo?Saíram do restaurante e uma garoa fina recebeu-as na rua. June despediu-se dasamigas, enquanto Edie e Camile caminhavam para seus carros, combinando um encontroà porta do Shelter Hotel dentro de minutos.

O velho porteiro cumprimentou-as quando entraram. No hall pairava uma agradávelmelodia.

— Bonita música, Camile!— Vem do bar. É o novo pianista que contratamos. Se preferir, podemos ficar aqui,

em vez de subirmos para minha sala.

— Acho uma ótima ideia— concordou Edie, acompanhando a amiga ao bar.O lugar estava cheio, mas o maitre encontrou uma mesa para acomodá-las e

providenciou-lhes dois coquetéis. Os fregueses alinhavam-se em torno do palco, onde umhomem de meia idade tocava e, a intervalos, brincava e conversava com a plateia. Camilegostou dele e decidiu chamá-lo mais vezes para tocar ali. Observando a decoração debom gosto, a assistência que aplaudia e, mais adiante, o balcão do bar com seus garçonssorridentes, ela se sentiu realizada.

Edie, já um pouco alterada devido à bebida, não se preocupava mais com o efeito desuas palavras e disse a Camile, em tom confidente:

— Você sabe que é como uma irmã para mim. Eu me preocupo muito com seu bem-estar e me pergunto como pode viver assim. Não é natural.

— O que não é natural?

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— Seu modo de vida.— É o único modo que conheço, Edie.— Mas não está certo. Você tem vinte e sete anos. Nunca desejou a companhia de

um homem para compartilhar a vida? Um companheiro que a envolvesse com seu calor numa noite fria?

— Tenho meu cobertor elétrico— gracejou Camile, com uma risada forçada.— E com relação a crianças?— Bem. . . eu até gostaria de ter filhos, mas ainda não encontrei o parceiro ideal.Embora estivesse contente com a vida que levava, Camile tinha que confessar:

ficara perturbada ao ver suas duas amigas grávidas. Jamais lhe ocorrera a ideia de ser mãe, mas, ao presenciar a alegria das companheiras, percebera que também queriaexperimentar a deliciosa sensação de possuir uma família.

— O que devo fazer, Edie?—

Deixe as coisas acontecerem. Não construa barreiras ao redor de si mesma. . .Olhe, lá está um marido em potencial para você!— murmurou Edie, apontando para umhomem apoiado no balcão do bar.

— Onde?— Ali, perto do piano.Camile enrubesceu, sentindo o coração disparar. O "marido em potencial" que Edie

indicava não era outro senão Blake Huston! Tentando aparentar calma, ela comentou comar distraído:

— Pois ele não me parece nada ideal. . .

— Aí é que você se engana! Ele é muito sedutor. Repare no contorno dos lábios. . .Deve ser delicioso beijá-lo. Ele é um tipo forte e atrai as mulheres com um magnetismotodo especial!

Camile estudou a figura de Blake e teve a nítida impressão de que ele estavatranstornado. Observou-o pedir um drinque e esvaziar o copo de um só gole. Estranhouque se portasse daquela maneira, uma vez que sempre agira com calma e prudência notrabalho.

— Nunca vi ninguém tão fascinante. O olhar dele é ao mesmo tempo arrogante erebelde. Só de encará-lo, sinto meu sangue ferver. . . — prosseguiu Edie.

— Pois a mim ele não afeta. Nem um pouco.— Ora, Camile, você não pode estar tão indiferente!De repente, ela se deu conta de que nunca reparara em Blake. Durante anos haviam

trabalhado juntos e nem por um segundo pensara nele como um homem a ser conquistado.

— Bem, talvez ele faça meu gênero.— Talvez? Vamos, seja sincera. Vá até o balcão e se apresente, mulher! Garanto

que não se arrependerá.— Você acha que devo fazer isso?— Claro, querida!— Mas é loucura!

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— Ficarei ao lado da porta, vendo como você se sai. Depois que o contato estiver feito, irei para casa. Morro de curiosidade para assistir ao que acontecerá, mas Fred jádeve estar preocupado com minha demora. . . Agora se apresse, antes que nosso homemdesapareça!

À medida que se acercava de Blake, Camile começou a vacilar. Não sabia por queocultara o fato de conhecê-lo, mas, agora que a tolice já estava feita, ela se via obrigada aabordá-lo. Como poderia explicar a Edie que sentia receio dos homens e que, para ela, omundo masculino constituía um grande enigma? Como explicar que, aos vinte e seteanos, ainda se conservava virgem?

Além disso, existia a Lester Empreendimentos, que ocupava todo o seu tempo. . .Mesmo que iniciasse um romance, poria tudo a perder com a pressão de seuscompromissos, reuniões e viagens de negócios. Para piorar, a riqueza que possuíaintimidava os homens, que hesitavam em aproximar-se dela.

Abrindo caminho apesar das dúvidas, Camile postou-se ao lado de Blake.Empertigou-se e pediu um gim-tônica ao barman, que serviu-a e foi atender outro freguês,sem reconhecê-la.

Armando-se de coragem, Camile cumprimentou-o:— Boa noite.Blake virou-se com um olhar surpreso e não retribuiu à saudação.— Há qualquer coisa errada aqui — disse ele, num tom áspero.— Blake, eu. . . — a voz de Camile já adquiria um tom profissional. Pura defesa. Ou

hábito?Ele consultou o relógio e, assumindo uma expressão sarcástica, ergueu o copo para

um brinde:— Estou de folga há algumas horas. Caso não se importe, eu gostaria de degustar

um bom uísque e esquecer o escritório, pelo menos neste tempinho. À sua saúde!— Também tive um dia difícil.Camile não queria mencionar que a demissão a deixara transtornada, mas entre eles

a questão estava subentendida. Sentindo a garganta seca, ela tomou seu gim-tônica emgrandes goles.

— Pelo jeito, seu dia foi mesmo difícil— ironizou ele, dando de ombros, num gestocheio de descaso.

—Tem razão.— Beba devagar. Isso pode lhe fazer mal.

— Bebo do jeito que bem entender.— Como queira.Camile não compreendia por que se colocava na defensiva. Tudo que fazia era

agredi-lo, quando na verdade desejava chegar a um entendimento, a um acordo.Uma súbita vertigem a dominou e a fez cambalear. Camile buscou apoio no balcão.

O incidente não passou despercebido a Blake, que sorriu.— Você está bem? — indagou, amparando-a.— Sim... só um pouco tonta. . . A proximidade de ambos a embaraçava. Somente naquele momento havia tomado

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consciência do magnetismo de Blake. O calor da pele morena e a firmeza das mãos fortesfizeram-na estremecer. Como pudera ignorá-lo todos esses anos?

Quando se separaram, Camile estava sem fôlego.— Posso pegar um cigarro? — pediu, nervosa.— Pode. Mas, ouça uma coisa: embora eu seja suspeito para falar, aconselho-a a

não se tornar uma fumante.— Tem razão. Consigo passar sem isso — concordou ela, afastando o maço.— Podemos passar sem diversas coisas. Pelo menos é o que estou descobrindo

agora.— Você não precisa passar sem trabalho, Blake. Não exagere.— Neste caso, a opção é minha.— Por quê? Após todos esses anos trabalhando comigo, você poderia ter a cortesia

de me explicar sua decisão.

— Eu não lhe devo satisfações. Trata-se de negócios, gatinha, não de umcasamento.— Nunca mais me chame assim. Eu não sou criança! "Gatinha" fora o apelido que

seu pai lhe dera e Camile não admitia que outra pessoa se atrevesse a usá-lo.— Bem, talvez você não seja mais uma garotinha. . . O que deseja de mim, afinal?

— indagou ele, num tom cheio de ironia.O efeito da bebida já se fazia sentir e Camile, pondo a habitual reserva de lado,

tocou-o de leve no braço.— Blake... Eu quero dançar.— Não comigo.— Sim, com você. . .— Não! — Ele a encarou com irritação. A resposta negativa atingiu-a como um golpe. Percebendo que ia chorar, Camile

deu-lhe as costas e cruzou o salão. Fazia um esforço supremo para conter as lágrimasque lhe afloravam aos olhos. Desde a morte do pai não chorava. . . Por que quase não secontinha agora?

Quando finalmente alcançou a porta do duplex e entrou, caiu num pranto convulso.Instantes depois, obrigou-se a ficar calma. A penumbra envolvia o apartamento silenciosoe Camile recriminou-se por ter bebido demais. Acabara falando e fazendo o que nãodevia.

Foi para o quarto e mirou-se no espelho."Sou tão jovem. . . e ainda não vivi nada", lamentou-se. Jogando-se sobre o leito,

afundou o rosto no travesseiro, como se aquilo pudesse afastar suas tristezas, suaangústia e. . . a imagem de Blake Huston!

CAPÍTULO II

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Na manhã seguinte, Camile acordou com a cabeça latejando. Não se recordava comclareza da noite anterior. Teria realmente pedido a Blake que a tirasse para dançar?Deveria estar fora de si quando fizera semelhante proposta: não dançava desde sua

formatura!O tempo passava e Camile preparou-se para sair. Havia contratos para fechar e uma

conferência à tarde.No escritório, Louise, a secretária, deu-lhe uma série de recados pouco importantes,

que Camile preferiu ignorar. Não estava com ânimo para tratar de tais assuntos.— Meu gerente já chegou?Pretendia passar para Blake as tarefas daquele dia. Foi aí que se lembrou,

desgostosa, que o liberara do trabalho no fim de semana.— Ele esteve aqui, mas, como você custou a aparecer, desistiu e foi embora. Mas

deixou alguma coisa em sua mesa.Camile entrou na sala, curiosa, e viu que, com efeito, havia um bilhete e um

envelope de aspirinas sobre sua escrivaninha.— Obrigada, Louise — agradeceu enquanto a secretária saía. Quando se viu

sozinha, precipitou-se sobre o bilhete de Blake, o coração descompassado."Achei que você poderia precisar disso hoje. Blake"

Ao acabar de ler a breve mensagem escrita com caligrafia firme e exata, elaperguntou-se quantos bilhetes de Blake já tivera nas mãos, sem lhe dar a devida atenção.

Rasgou o envelope de aspirinas e engoliu dois comprimidos. Ainda segurando obilhete, acomodou-se na poltrona e refletiu sobre a noite passada. Embora estivesse felizcom seu serviço e prezasse muito sua independência, era obrigada a admitir que Edietinha razão: sentia falta de uma família, que a amasse e protegesse. A ideia de ter um lar,um marido e filhos, que sempre lhe parecera tão distante, surgia agora como umaperspectiva tentadora.

Nesse instante, o interfone tocou. Mais uma vez, seria obrigada a esquecer de simesma por causa dos compromissos profissionais. Até quando os Hotéis Shelter iriam ser mais importantes que sua vida?

No sábado, quando acordou e sentou-se à beirada da cama, Camile sentiu o corpo

dolorido. Fazia dois dias que isso acontecia: ela se levantava cansada, como se nãotivesse dormido. A tarde que enfrentaria logo mais seria enfadonha. A cúpula da companhia

participaria da inauguração de mais um hotel Shelter. E, em vez de sentir-se orgulhosa,Camile não experimentava senão aborrecimento e fadiga. Estava farta de eventosdaquele gênero, repletos de sorrisos falsos, interesses financeiros e elogios hipócritas.

Algumas torradas e um bule de chá esperavam-na sobre o fogão. Todavia, ela nãotinha fome. Só o que desejava era ver Blake novamente. Apenas dois dias haviam sepassado desde que o encontrara pela última vez, mas Camile já estava aflita desaudades, torturada pela ausência dele.

Desanimada, tomou um banho demorado e vestiu-se com esmero para a recepção.Era um lindo dia de primavera. Como seria bom se pudesse desfrutar algumas horasfelizes sob aquele sol brilhante, ao lado de Blake!

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Camile voltou para casa no fim da tarde. Exausta, descalçou os sapatos de salto altoe estirou-se no sofá. Tudo correra melhor do que o esperado, e a cerimônia deinauguração concretizara-se sem incidentes graças a Blake que, com sua habitualeficiência, cuidara de toda a organização.

Será que, durante todos aqueles anos de trabalho em conjunto, ela não reconheceradevidamente a capacidade de Blake e isso o levara a pedir demissão? Ou haveria outromotivo qualquer, que ele insistia em não revelar?

Decidida a pôr termo em suas dúvidas, Camile tomou um banho às pressas e vestiuum conjunto leve de saia e blusa combinando com as sandálias de salto baixo. Partiu,então, para o escritório, a fim de checar o arquivo de informações. Descobriria o endereçode Blake e então lhe faria uma visitinha. . .

"Imagine! Trabalhamos tanto tempo juntos e nem ao menos sei seu endereço!",lamentou-se.

Aliás, havia uma série de coisas a respeito dele que desconhecia. Mas agora eradiferente: descobrira que o amava.

Pela primeira vez, deixava-se levar pela paixão. A imagem de Blake a acompanhavaa toda parte, guiando suas atitudes e seus gestos.

De posse do endereço, Camile pôs-se a caminho, sentindo um misto de inquietaçãoe euforia. Armando-se de coragem, pisou fundo no acelerador e começou a percorrer avasta estrada à sua frente, cujos espaços abertos sucediam-se, intercalados por uma ououtra casa. Dominada por uma sensação de liberdade, ela diminuiu a marcha,contemplando os pinheiros à margem da rodovia. O vento agitava-lhe os cabelos sedosose, no horizonte, o sol resplandecia. Seus lábios abriram-se num sorriso: pensava no amor,emoção inédita que desejava saborear com toda a intensidade, feito uma criançafascinada pelos mistérios do mundo.

Meia hora depois, parou defronte a uma casa de campo, rodeada por uma cerca vivade arbustos. A construção era de estilo vitoriano; no terreno, circundado por um gramadoalto, havia vários salgueiros dispersos. Ela pressionou a campainha e esperou que Blakeatendesse.

Saindo da garagem, ele veio encontrá-la no portão. Usava um macacãodesabotoado e sujo de graxa.

Camile adiro-lhe o peito musculoso e moreno. Queria que aquele homem aabraçasse com força, que a apertasse de encontro ao corpo atlético, que era como umporto seguro. . .

Seus devaneios, entretanto, tiveram de cessar de modo abrupto. Parado à suafrente, Blake a encarava com irritação.— Camile, o que veio fazer aqui?— Olá. . . Bonita, a sua casa — comentou ela, com um sorriso forçado.— Também gosto daqui.Camile não contava com uma acolhida tão fria. Tensa, umedeceu os lábios e

apressou-se em dizer, numa tentativa de amenizar a tensão:— Correu tudo bem na inauguração, hoje.

— Isso não me surpreende.— Será que podemos ao menos conversar?

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— Se você quiser. . .Um silêncio pesado abateu-se sobre os dois. Camile sentia vontade de gritar de

exasperação. Apercebendo-lhe o nervosismo, Blake sorriu e disse, num tom mais amistoso:— Vou lavar as mãos e não demoro. Enquanto isso, pode entrar: a porta está aberta.

Fique à vontade.— Obrigada.Camile encontrou um bule de café ainda quente no fogão e serviu-se. Depois

caminhou para a sala, decorada com uma lareira e móveis rústicos. Numa mesa de canto,encontrou diversos porta-retratos. Perguntou-se se ele era casado e, apreensiva,examinou as fotografias. Algumas eram de crianças, cujas feições lembravam as deBlake; mais adiante, havia outra, com um velho casal sentado no sofá. Curiosa, Camilesegurou a fotografia e observou-a com atenção, reparando que fora tirada na mesma salaonde agora se encontrava. A mulher tinha olhos escuros e o homem a abraçava comexpressão terna. Pensou naquela família com simpatia, lamentando sua infância solitária.Seus pensamentos, porém, foram logo interrompidos pela voz de Blake.

— São meus pais.Camile sentiu-se como uma criança pega em flagrante numa travessura.

Recolocando o porta-retrato na mesa, voltou-se para ele, hesitante.— E as crianças?— Meus sobrinhos e sobrinhas.— E você, não tem filhos?— Nunca fui casado. Mas você disse que queria falar comigo. . .Pressentindo que a irritação dele era crescente, Camile assentiu, enquanto Blake

acrescentava.— Então, sente-se.Nesse momento, os olhos dela depararam com uma pintura na parede. Não trazia

assinatura e mostrava uma cena campestre.— Belo quadro! Quem o fez?— Eu.— Muito bonito, Blake. Não sabia que você pintava.— E o que sabe a meu respeito?Constrangida, Camile pigarreou, com uma terrível sensação de desconforto.— Bem, eu lhe falei sobre o sucesso da inauguração de hoje, mas na verdade as

coisas não saíram tão perfeitas. Faltava sua presença.— Você acabará acostumando-se.— O problema é que eu não quero me acostumar.Blake levantou-se e começou a andar pela sala, com uma fisionomia absorta.

Apoiou-se contra a lareira e finalmente disse:

— Minha decisão já está tomada.— Mude-a.

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— Não sou homem de voltar atrás em minhas resoluções.— Blake, você foi o braço direito de meu pai e depois passou a trabalhar comigo.

Confio muito em você e percebi que não reconheci o seu valor, nesses anos todos.— É divertido vê-la negociar, Camile. Tem grande habilidade, mas, se acha que

conseguirá me convencer, sinto informá-la de que se engana.

— Eu dobro o seu salário.Blake não pôde evitar um riso nervoso, que tinha uma ponta de sarcasmo. A calma

que lhe era peculiar parecia haver desaparecido.— Já disse que o problema não é dinheiro.— Então você recebeu outra oferta.— Escute e ponha isso na cabeça de uma vez por todas, Srta. Lester: Tenho meus

motivos para deixar a empresa, mas nunca trabalharei para a concorrência. Eu não fariauma coisa dessas com você, e é lastimável que me tome por uma pessoa semescrúpulos.

Camile ficou irritada. Afinal, Blake não tinha o direito de tratá-la daquele modoagressivo! Mesmo assim, achou melhor controlar-se e prosseguir, em tom contido:

— Então, o que há de errado em trabalhar comigo?— Simples: você não pode dar o que quero.— Mas o que você quer?Camile começou a sentir que seus nervos iam explodir. Não suportava mais aquele

tipo de conversa. Por que ele não ia logo ao que interessava?Erguendo-se, preparou-se para sair, mas parou ao notar em Blake um olhar

diferente.Ele avançou em sua direção e deslizou os dedos por seu rosto, numa carícia

perturbadora, enquanto a encarava com mágica sensualidade. Imobilizada, Camile deixouque um arrepio de excitação a percorresse, dominando-lhe o corpo inteiro. Os dedos deleentão brincaram com os cabelos loiros, lhe escorregaram pelo pescoço e se detiveram nanuca, onde começaram a descrever carícias suaves e inquietantes.

— Eu estava planejando tirar férias neste verão para escalar montanhas. Você gostade alpinismo? — indagou ele, com voz rouca.

— É difícil dizer se gosto ou não. Jamais pratiquei qualquer tipo de esporte.

— Existem muitas coisas que você nunca fez, não é? A pergunta embaraçou-a, fazendo-a envergonhar-se de sua obsessão por aumentar

os negócios e as rendas, pouco se importando com o fato de que isso a levaria asacrificar a própria vida. Se fizesse uma avaliação mais detalhada de todo seu esforço,descobriria que só lhe restara uma conta bancária astronômica e um vazio no coração.

— Blake, você gosta de crianças?— Muito— respondeu ele, desconcertado com o rumo da conversa.— Por que não se casou e constituiu família? Aqui é um lugar perfeito para se criar

filhos. . .— Não me casei pelo mesmo motivo que você, gatinha. Nos últimos anos, nós dois

estivemos casados com a Lester Empreendimentos.

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— Mas esse fato não o impediria de ter uma família, uma vez que precisariatrabalhar para mantê-la. — Camile mudou o tom de voz, tornando-o quase áspero.

— Bem, agora é tarde para pensar nessas coisas. Estou um pouco velho paracomeçar uma família.

— Velho? Aos trinta e cinco anos?

— Desde quando sabe minha idade?— Oh, Blake, pare com isso! Por que quer sair da Lester, afinal?— Ouça, Camile, é melhor que eu a leve até o carro. Não estou com disposição para

recomeçar uma discussão que não levará a nada.— Está zangado?— Você ainda pergunta?— Mas por quê? O que eu fiz de errado?— Creio que você nunca entenderia.— Ora, pare com isso! Será que não me julga sensível o suficiente para

compreendê-lo?— Você é exímia conhecedora de alguns assuntos. Em outros, porém, não passa de

uma amadora, uma ingênua. Agora, prefiro que saia, antes que eu acabe falando mais doque devo.

Magoada, Camile deixou a sala sem dizer uma palavra. Bateu a porta do carro earrancou a toda velocidade.

Chegando ao apartamento, atirou-se sobre a cama e deixou que as lágrimascorressem abundantes, desafogando sua angústia.

A noite chegou e a cidade encheu-se de luzes. Ela foi para a sala, debruçou-se à janela e ficou alguns minutos observando o movimento das ruas. Lembrou-se de queainda não comera nada e dirigiu-se para a cozinha, onde preparou um lanche.

Sentada à mesa, bebericou um gole de leite, sem vontade. A solidão do apartamentodeixou-a deprimida. Depois que se dera conta de quanto amava Blake, as refeiçõessolitárias passaram a ser uma verdadeira tortura.

Lembrou-se das fotografias que vira à tarde: uma família unida, a algazarra dascrianças, a tagarelice dos pais. . . Todos reunidos num almoço de domingo, alegrementesentados ao redor da mesa, enquanto provavam uma deliciosa comida caseira. . .

De repente, o interfone soou, e Camile foi atendê-lo, irritada. Com certeza, era algumproblema urgente a ser resolvido. Já estava acostumada a isso.Qual não foi sua surpresa, porém, ao ouvir a voz do porteiro informar:— O sr. Huston está subindo.Camile repôs o fone no gancho, atônita, perguntando-se qual o motivo daquela visita

inesperada.Pondo de lado as divagações, precipitou-se para o banheiro e penteou os cabelos.

Deu alguns passos hesitantes até a sala e, mudando de ideia, voltou a postar-se diante doespelho. Passou um pouco de água-de-colônia atrás das orelhas e nos pulsos. Reavivou

a cor dos lábios com um batom claro e mirou-se, aprovando o resultado.Nisso, ouviu o toque da campainha e, respirando fundo, foi abrir a porta. Ao ver

Blake, esboçou um sorriso e falou com polidez:

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— Que surpresa!— Não vai me convidar para entrar?— Claro! Fique à vontade.Ele trocara o velho macacão por um terno cinza, que lhe conferia uma aparência

sofisticada.— Sente-se. O que o trouxe aqui?— Troque de roupa e depois ficará sabendo.— Mas por quê?— Porque seu desejo irá realizar-se.— Que desejo?— Numa noite dessas, quando nos encontramos, você quis dançar, lembra-se?— Sim, mas. . . Bem, eu estava um pouco bêbada. Havia tomado champanhe,

coquetel de frutas e gim-tônica!— Sem dúvida, essa é uma mistura pouquíssimo sensata! Mas não se preocupe:

antes beberemos champanhe, coquetel de frutas e gim-tônica. Depois, dançaremos.Camile, entretanto, não parecia nada animada com a ideia, e seu rosto adquiriu uma

expressão de visível ressentimento. Tentando amenizar o clima, Blake perguntou,zombeteiro:

— O que aconteceu? Lembrou-se da ressaca?— É que eu não sei dançar! E não me olhe desse jeito! A última vez que me recordo

de ter estado numa pista de danças foi durante a formatura do colégio. Depois desse dia,aconteceu tanta coisa. . . Minha vida deu uma reviravolta.

— Ora, não se preocupe. Você só precisa de algumas lições.— Lições?— Exato. E eu terei a honra de ser seu professor.Blake percebeu que Camile vacilava e decidiu agir por conta própria. Apanhando um

disco na estante, ligou o aparelho de som e deixou uma música suave invadir o ambiente.— Não fique acanhada. Apenas coloque os braços ao redor do meu pescoço e

acompanhe meus passos, no ritmo da música . . . As mãos dele pousaram na cintura de Camile, pressionando-a levemente, ao mesmo

tempo em que os lábios roçavam os cabelos loiros. Inebriada, ela correspondia às caríciascorrendo os dedos pelas costas largas, deliciando-se com o perfume suave da colôniamasculina. Ambos estavam conscientes da atração que os envolvia e, de corpos colados,moviam-se numa dança langorosa.

— Como estou me saindo? — indagou Camile, num sussurro.— Muito bem. . .De olhos semicerrados, Blake foi diminuindo o ritmo dos movimentos até ambos

ficarem imóveis, enlaçados um ao outro.— Por que paramos?— Porque é delicioso estreitar você nos meus braços, Camile. . .Ela o encarou, perplexa. Não era capaz de esboçar um movimento que fosse,

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aturdida com o comportamento contraditório de Blake, que variava do total desinteresseao sarcasmo.

Não compreendia a razão pela qual ele a tratava com tamanha frieza, naquela tarde.E entendia muito menos por que fora vê-la em sua casa. Agora, completando a confusão,ele fazia uma declaração daquelas!

— Não zombe de mim. . .Em resposta, ele sorriu com doçura.— Blake, por favor. . .Camile não pôde dizer mais nada. Ele cobriu-lhe os lábios com os seus, trazendo-a

de encontro ao peito másculo, numa carícia mais intensa. Num gesto instintivo, elaarqueou os quadris de maneira sensual, roçando as unhas de leve nas costas dele.

As mãos de Blake percorriam centímetro por centímetro o corpo bem-feito,arrancando de Camile gemidos de prazer. Ela ardia de desejo ao sentir os lábios carnudospercorrerem-lhe o pescoço, descendo e insinuando-se pelo decote da blusa, enquanto os

dedos hábeis buscavam, ansiosos, os seios fartos.De repente, porém, ela sentiu uma espécie de pavor diante do curso dos

acontecimentos. Queria Blake, e muito, mas tinha medo de vir a sofrer depois. O quefaria, sozinha, com a lembrança daquelas carícias?

Desejava-o por inteiro, de corpo e alma, e temia que ele estivesse tomando aquilopor uma brincadeira inconsequente. Além disso, envergonhava-se de sua inexperiência.Jamais um homem a beijara com tamanho ardor, quebrando-lhe todas as resistências.

Fazendo um esforço sobre-humano, desvencilhou-se dos braços dele.— Acho. . . acho melhor pararmos de dançar — disse-lhe com voz suplicante e a

respiração entrecortada.Ele pousou os belos olhos nos dela, surpreso. Mas logo sua expressão mostrou umprofundo pesar.

— Desculpe-me, Camile. Não tive intenção de magoá-la. Vá vestir-se, do contráriochegaremos atrasados.

— Você ainda não me disse para onde vamos.— Ao casamento de meu primo. Se nos apressarmos, teremos tempo de dançar ao

menos uma música — respondeu ele, acariciando- lhe o queixo.Sorriu ao notar o entusiasmo com que ela recebera o convite.— Blake, vou adorar conhecer sua família!— Você a conhecerá inteira, até mesmo as pessoas que nem valeria a pena. .— De qualquer modo, sei que vou adorar! Espere apenas um minuto, para eu trocar

de roupa.— Então ande logo! E veja se escolhe alguma coisa de gola bem alta.— Por quê?— Porque não quero meus parentes olhando para você!— Bobagem!Ele se aproximou e pousou as mãos fortes na cintura dela, forçando um tom de

ameaça:

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— Você tem exatamente dez minutos para se aprontar. Senão, prometo que entrareiem seu quarto, para ajudá-la a escolher o que vestir. . .

— Serei rápida! — garantiu ela, desaparecendo no corredor. Camile escancarou asportas do armário e examinou as roupas, indecisa e excitada diante da perspectiva depassar algumas horas na companhia de Blake. Sentindo-se nas nuvens, rememorou ocontato íntimo e delicado que ambos haviam experimentado; o toque sensual das mãosexperientes levaram-na a um prazer indescritível, despertando-lhe emoções há muitoreprimidas.

"Sim, eu sou uma mulher. Posso agradar a um homem e tenho a capacidade desenti-lo em toda a beleza do prazer!", constatou, sorrindo.

Sentia-se transbordando sensualidade e afastou os antigos receios que alimentavaem relação aos homens. Estava flertando com Blake e gostava disso. Pensando assim,escolheu um vestido azul que lhe realçava as curvas suaves do corpo bem-feito e o tomclaro da pele.

Enfeitou-se com um par de brincos e um anel de brilhantes, e prendeu os cabelos

num coque no alto da nuca, deixando que algumas mechas loiras escapassem e lheemoldurassem o rosto. Dessa vez, em vez do batom claro, pintou os lábios com uma cor viva e sombreou os olhos com um contorno azulado. Por fim, deu o último toque com umaenvolvente fragrância oriental.

Apreciou sua imagem diante do espelho, dando uma volta em torno de si mesma erumando, confiante, para a sala.

Logo que entrou, notou, satisfeita, que Blake a fitava com admiração. Sabia queestava muito diferente da profissional que dirigia a Lester Empreendimentos.

— Você está linda!

— Ora, muito obrigada, sr. Huston!— Bem, acho melhor irmos. . . — sugeriu ele, lançando-lhe mais um olhar de

aprovação.Em seguida, tomou-a pela mão e conduziu-a até o elevador. Passou depois os

braços pela cintura fina, beijando-a de leve nos lábios e encaminhando-a para o carro,estacionado em frente ao edifício.

A festa acontecia num enorme salão, onde diversas pessoas se aglomeravam edançavam ao som de uma orquestra.

Antes de entrarem, Blake afirmou, em tom zombeteiro:— Depois de conhecer meus parentes, duvido que não sinta alívio por se ver livre de

mim!Camile não soube explicar o porquê, mas não gostou que um assunto estritamente

profissional tivesse vindo à tona naquele instante. Era como se o encantamento daquelaspoucas horas se desfizesse num passe de mágica. Meio angustiada, meio apreensiva, elatentou não pensar no assunto, enquanto se deixava conduzir através do salão.

No ambiente decorado com requinte e bom gosto, com mesas enfeitadas por buquêsde flores campestres e toalhas de linho branco, lustres de cristal espalhavam um brilho

furta-cor, produzindo um efeito maravilhoso. A orquestra, tocando melodias suaves, davaa tudo um ar de irrealidade.Sentindo-se num sonho, Camile apoiou-se no braço de Blake, que abria caminho

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entre os convidados.— Ei, Blake, quem é esta mulher maravilhosa? — perguntaram dois jovens, que

vinham do outro lado do salão.— Camile, aqui estão meus primos caçulas. E, quanto a vocês, tratem de manter

distância desta moça, combinados?

— Ora, primo! Dê-nos pelo menos uma chance. . . — brincou um deles, em tomfalsamente dramático.

— Ou será que você pretende levá-la ao Red Moon? — completou o outro, com umpiscadela maliciosa.

— Red Moon? — repetiu Camile, intrigada.— É uma boate frequentada por casais de namorados — esclareceu Blake.— Bem, não conheço o lugar. Mas gosto de dançar. . . — caçoou ela, sentindo as

mãos de Blake pousarem em seus ombros, numa atitude possessiva.

Os rapazes, enquanto isso, prosseguiam:— Vamos, primo, dançar não é aconselhável para alguém de sua idade. . .— Vocês dois devem esperar mais alguns anos e verão que um homem da minha

idade tem diversas vantagens. A maturidade, por exemplo.Dito isso, puxou Camile e afastou-se dos rapazes, que riam, divertidos.— Você conhece todas as pessoas que se encontram aqui? — indagou ela, curiosa.— A maioria. Venha, vou apresentar-lhe minha família. Enquanto avançavam pelo

salão, várias pessoas endereçavam saudações a Blake, que retribuía com acenoscordiais. Em seguida, baixando a voz, identificava-as para Camile.

— Quantos tios você tem?— Tenho dez tios e mais ou menos o dobro de tias. Quanto aos meus sobrinhos, já

perdi a conta.— É maravilhoso ter uma família assim, Blake!Camile não cabia em si de contente, e sorriu. Era como se, por intermédio dele,

pudesse fazer parte daquela gente simpática.— É a primeira vez que vejo você rir, em muitos anos!— Blake parou e fitou-a com

ar surpreso.

— Pois quero rir muito, e a noite inteira! Nunca imaginei que um dia estaria a seulado, numa situação destas. E, no entanto, cá estamos nós. . . Agora, que tal você cumprir a promessa de dançar comigo?

Blake assentiu com um brilho malicioso no olhar e tomou-a nos braços. Nisso,Camile escutou uma voz atrás de si:

— Então foi você quem arruinou meu irmão!

CAPÍTULO III

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A música cessara e, desvencilhando-se de Blake, que caminhou ao encontro dosnoivos, Camile voltou-se para uma mulher que a encarava com expressão irada:

— A senhora deve estar me confundindo com outra pessoa. Sou Camile Lester.— Sei muito bem quem você é!Camile perguntou-se se alguma vez vira aquela desconhecida. Como era muito

parecida com Blake, deduziu que ambos fossem irmãos.— Creio que se enganou a meu respeito. . . — começou, sendo logo interrompida

pela estranha.— Não, minha cara. Conheço bem você.O som da orquestra abafou essas palavras, enquanto Blake, a poucos metros de

onde Camile se encontrava, conversava animadamente com os noivos. Mas, ao notar aexpressão constrangida de Camile, desculpou-se com polidez e foi ao encontro dela, umar enigmático no rosto.

— Bem, percebo que Gina já se apresentou — disse ele, passando o braço em tornodos ombros de Camile, ao mesmo tempo que fitava com desaprovação a mulher.

— Nós ainda não tivemos oportunidade de uma apresentação formal, Blake— disseCamile, sorrindo.

Gina hesitou em lhe dar a mão, encarando-a com frieza. Blake tentou contornar asituação.

— Agora, Gina, se nos dá licença, quero que Camile conheça o restante da família.— Estou certa de que gostarão dela, meu caro.

Do modo como fitava Blake, era evidente que Gina tinha verdadeira adoração peloirmão, e Camile não pôde deixar de admirá-lo pela ternura que parecia despertar emtodos. Provavelmente Gina sentia ciúmes. . . Mas justamente dela?

Baixando os olhos, entristecida, Camile pensou que sua vida sempre girara em tornodo dinheiro, privando-a do calor do contato humano. E ela daria tudo para experimentar aquele sentimento de união e afeto.

Curioso, Blake escudou-lhe a fisionomia absorta.— Você está distante. . . Parece preocupada.— Desculpe-me. Não é nada importante.

Sem insistir no assunto, ele a conduziu por entre as pessoas até uma mesa situadaperto da varanda que rodeava o salão, onde um grupo de mulheres estava reunido,conversando.

Blake aproximou-se de uma delas, pousou a mão em seu ombro e, depois detrocarem algumas palavras em voz baixa, chamou Camile para mais perto e apresentou-a:

— Mamãe, quero que conheça Camile Lester. Camile, esta é Anne, minha mãe.— Já ouvi falar muito de você, Srta. Lester. É um prazer conhecê-la.— Obrigada, Sra. Huston. Também sinto o mesmo em relação à senhora. Quando a

vi na fotografia, tive certeza de que era uma pessoa maravilhosa!Notando o olhar espantado da mãe de Blake, Camile apressou-se em explicar:

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— Estive na casa de seu filho durante a tarde e vi as fotografias sobre a mesa dasala.

— Onde está papai? - — perguntou ele, desviando o assunto.— No jardim, com seus tios.— Quer que eu o resgate, mamãe?— Acho uma ótima ideia, desde que você deixe sua linda acompanhante conosco.— Eu adoraria! — reforçou Camile, ansiosa por partilhar alguns instantes da

companhia daquela simpática senhora.— Está bem. Não demoro, mamãe — despediu-se ele, dando em seguida um beijo

na face rosada e cochichando algo em seu ouvido.Camile observou-o afastar-se em direção à varanda, curiosa para descobrir o que

ele dissera a Anne.— Você já comeu? — perguntou a simpática senhora, sorrindo.

— Não. Acabamos de chegar.— Ah, esse meu filho é um péssimo anfitrião! Venha, eu lhe farei um prato.Dito isto, levou Camile para o bufê, onde havia uma infinidade de travessas.— Sirva-se, minha querida. Não faça cerimônia.— Quanta coisa gostosa! É comida caseira?— Sim. Todos contribuíram com um prato e eu me incumbi dos doces.— Isso é maravilhoso, Sra. Huston. Vivo à base de sanduíches, refrigerantes e

copos de leite, e adoro quando surge uma oportunidade de saborear uma boa comida

caseira!— Você trabalha muito, não é, querida?— Nem fale! A Lester Empreendimentos foi uma herança complicada deixada por

meu pai e exige atenção constante.— Blake me contou que vocês trabalham demais. Mas é preciso lutar pelo que se

quer, não? Além disso, me parece que o esforço compensou, pois a Lester é umaempresa bem-sucedida.

— Se não fosse pela ajuda de Blake, eu não saberia como administrá-la.Camile sorriu e continuou colocando pequenos bocados de comida no prato,

enquanto tecia comentários sobre o mundo dos negócios e suas dificuldades.— Ora, querida, assim você nem vai sentir o sabor dessas iguarias! Sirva-se à

vontade!— Obrigada, Sra. Huston, mas prefiro controlar-me. Senão, posso me acostumar e

engordar.

— Deixe essas bobagens de lado, minha filha. Você está com ótima aparência eexagerar uma vez na vida não faz mal a ninguém. Agora, encha um bom copo de vinho edivirta-se!

Retornaram à mesa e Camile começou a comer, elogiando a perfeição dos pratos.— Anne faz as melhores panquecas de frango da região! — exclamou uma mulher

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de meia-idade.— Foi a senhora quem preparou esta delícia? — perguntou Camile, notando que a

Sra. Huston corava de satisfação pelo elogio.— É uma velha receita de família, que aprendi com minha mãe. O segredo são os

temperos e o preparo da massa.

— E não são apenas as panquecas de frango que estão boas. Que me diz do patoao forno com molho de cogumelos?— continuou a mulher de meia-idade, entusiasmada.

Anne sorriu e apresentou-a a Camile.— Esta é Gladys, a tia-avó de Blake.— Muito prazer — cumprimentou Gladys, satisfeita por finalmente ter sido

apresentada.Camile respondeu ao cumprimento e perguntou interessada:— Gostei muito do pato ao forno. Como se faz?

A ideia de cozinhar a fascinava, pois preparar um bom prato dava-lhe a impressãode possuir um lar. Jamais, em seus vinte e sete anos, tivera a alegria de compartilhar deuma mesa com uma família unida, provando alguma comida caseira.

— Venha a minha casa um dia desses para almoçar e eu a ensinarei — convidou amãe de Blake.

— Será um prazer, Sra. Huston!— É a primeira vez que Blake traz uma garota a nossas reuniões de família, não é?

— perguntou uma jovem, avaliando Camile de modo amistoso.— Ele nunca deu grande importância às namoradas, apesar de muitas correrem

atrás dele, não é, Anne? — comentou Gladys, dando uma gostosa gargalhada.— Meu filho é muito independente e talvez este seja um fator de atração para as

mulheres.— Lembra-se daquela ruiva que o perseguiu durante um tempo? Encontrei-a com

Blake certa vez, quando fazia compras na avenida principal. Ele apresentou-a como umaamiga e tratou-a como tal, mas via-se que a pobre garota estava apaixonadíssima! —continuou Gladys.

— Por que Blake nunca se casou?— Não sei, Camile. Ele adora crianças e tem tudo para conquistar e amar uma

mulher. Pode ser que ainda não tenha encontrado a pessoa certa.— Entendo....— E, mudando de assunto, que tal almoçar comigo amanhã mesmo?— É um convite irrecusável, Sra. Huston!Mentalmente, Camile enumerou as tarefas que tinha a cumprir no dia seguinte, para

adiantar os negócios da companhia. Mas decidiu adiá-las sem dó. Afinal, não era todo diaque podia estar no seio de uma família maravilhosa como aquela.

Tirou da bolsa uma pequena caderneta e anotou o endereço que Anne ditava. Nãoentendia ao certo a razão pela qual a mãe de Blake a convidava, mas resolveu nãopensar no assunto. Importava, isso sim, a oportunidade única que teria de conhecer melhor o homem por quem se apaixonara.

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22

— Olhe, lá vem Blake e o pai!— anunciou Anne.Camile voltou-se para a porta envidraçada e divisou Blake, que se aproximava

acompanhando um homem de olhar bondoso, cujas feições eram as mesmas que ela virana fotografia.

De repente, ela se orgulhou por participar daquela celebração, sendo aceita e

acolhida por todos. . . Bem, por quase todos, já que suspeitava dos ciúmes de Gina.— Papai, quero que conheça Camile.George Huston tomou a mão dela entre as suas e fitou-a com aprovação.— É uma linda mulher.— Obrigada, s.r. Huston — murmurou ela, meio encabulada.— Não dê ouvidos a George, Camile. Ele fica com a língua solta depois de algumas

cervejas — desculpou-se Anne, enquanto chamava o marido para perto de si.Blake riu e perguntou:

— Vamos dançar, Camile?— Claro que sim!— respondeu ela, sorrindo e tomando o braço que ele lhe oferecia.Seguiram para o centro do salão, onde vários pares bailavam. Blake então enlaçou

Camile, que, feliz, deixou-se levar pela melodia.— Mais devagar, "professor". Lembre-se de que não sei dançar. . .— Não sabe? Pois está indo muito bem!Terminada a música, Blake deixou-a sozinha por alguns momentos, a fim de

apanhar bebidas para ambos. Logo voltou, trazendo dois copos de vinho branco gelado.

— O vinho é um tributo a Baco. . . Ao mesmo tempo que delicia o paladar, inebria ocorpo, fazendo nossas barreiras mais íntimas desaparecerem. Pode revelar todos osnossos segredos — profetizou, em tom teatral, enquanto lhe entregava um dos copos.

Nesse instante, soaram os primeiros acordes de uma música suave, e Blake enlaçouCamile pela cintura, conduzindo-a ao salão. A excitação experimentada por ela horasatrás voltou a invadi-la. Levada por um desejo impetuoso, beijou-o no pescoço com oslábios entreabertos, colando-se ao corpo másculo de Blake.

— Camile. . . você nem imagina as sensações que desperta em mim! — gemeu ele.— Sei o que faço com você e gosto disso. Não me peça para parar, por favor.

— Às vezes, penso que enlouqueci — Blake selou essa afirmação com um beijocarinhoso e mordiscou-lhe o lóbulo da orelha.— É tão bom, Blake.. .Surpreso, ele parou de dançar e examinou-a de modo atento.— Você está bêbada?— Não é da sua conta!Irritada com a recriminação que transparecia na voz dele, Camile permaneceu

imóvel no meio do salão, encarando-o com uma expressão desafiante.—

Olá, Blake. . . Não vai apresentar sua amiguinha? —

interrompeu um homem,com voz insolente.Camile examinou-o e deduziu que ele deveria ter cerca de trinta anos. Vestia-se com

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elegância e examinava Blake com visível desagrado.— Esta é Camile Lester. Camile, meu primo Johnny.— Muito prazer — respondeu o outro, demonstrando indisfarçável interesse por

Camile.— Agora, Johnny, se não se importa, nós estamos tendo uma conversa particular.— Pensei que já houvéssemos encerrado esse assunto, Blake. Além disso, estou

morrendo de sede e adoraria um pouco de vinho.— Neste caso, eu me ofereço para acompanhá-la ao bufê — adiantou-se Johnny.— Então aceito seu convite.— Se eu fosse você, não me arriscaria a ir a qualquer lugar com Johnny.— Ora, primo, o que ela vai pensar de mim?— Volto num instante, Blake — informou Camile, ignorando a advertência e

seguindo Johnny.Enquanto caminhavam até o bufê, o primo de Blake perguntou, zombeteiro:— Você gosta de se arriscar, não?— Nem sempre.— Então, eu diria que você gosta de ver os outros em perigo. Só me salvei da cólera

de Blake porque ele não suporta cenas.— Então eu pergunto: de que está rindo?— Confesso que é interessante superar meu primo de vez em quando. Ele é

considerado o grande herói, o centro da família, e fico enciumado com tantas regalias. E

você? Está mesmo com sede ou esse foi um pretexto para provocá-lo?— Bem. . . digamos que foi um pretexto.— Sendo assim, vamos dançar, para tirar uma desforra completa!— Sinto muito, mas minha intenção não é essa. A essa altura, Camile começou a censurar-se por ter seguido Johnny. Agira como

uma criança, e Blake teria razão em ficar furioso com seu comportamento. Ainda pensava no por que dessa atitude impensada quando ouviu Johnny dizer, em

tom de aviso:—

Não olhe agora, mas meu priminho está vindo para cá. E com uma cara péssima!Com expressão contrafeita, Blake aproximou-se dos dois e tirou Camile de perto deJohnny:

— Desculpe-nos, primo, mas esta dança é nossa.Ela acompanhou-o até o centro do salão e, quando ele tornou a abraçá-la para

dançarem, constatou, entristecida, que o clima romântico que os envolvera se dissiparapor completo.

Blake, por sua vez, abraçava-a nervoso, como se quisesse castigá-la. Na tentativade amenizar a situação, ela murmurou:

— Sinto muito. Gostaria que me perdoasse pela maneira infantil como me comportei.Prometo que isso não se repetirá.

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A expressão dele suavizou-se. Acariciando-lhe o rosto, perguntou, com voz macia:— Seja sincera: você bebeu alguma coisa com ele?— Não, nada.— Jura?—

Blake, não estou embriagada, se é o que quer saber.— Você brincou com fogo, quando me provocou daquele jeito. Se não estavabêbada, então me explique o porquê daquela cena de sedução.

— De que está falando?— Não banque a ingênua, Camile! Seu olhar era um convite para a cama, não para

a pista de dança. Naquele momento, você me desejava!— Perdoe-me, Blake, não foi esta minha intenção. Eu. . . Enrubescendo, ela preferiu

calar-se, pois sua justificativa não estava soando nada convincente.— Não se preocupe. Conheço-a a bastante tempo. Não precisa explicar-se.— E o que sabe sobre mim, s.r. Huston?— Sei que é uma mulher de negócios independente e sofisticada, que desde cedo

foi preparada para assumir a Lester Empreendimentos, e isso é tudo que consegue fazer.No fundo, não é sangue que corre em suas veias: é tinta, com a qual você assina oscontratos!

Magoada, ela afastou-se de Blake e correu para o toalete, deixando as lágrimasrolarem pelas faces. Debruçou-se sobre o lavatório e, sem se importar com amaquilagem, lavou o rosto com água fria até parar de chorar. Ainda trêmula, enxugou asfaces e ajeitou os cabelos, a fim de que ninguém percebesse que estivera chorando.

Sua mente era um turbilhão de emoções. Blake tinha razão ao afirmar que não sabiafazer outra coisa, senão administrar a empresa. Mesmo assim, que direito tinha ele deofendê-la?

Embora reconhecesse que ele falara a verdade, doía-lhe o fato de já não se sentir como uma mulher, mas como uma máquina.

Seu pai a advertira para separar o trabalho da vida afetiva, mas ela não conseguirafazê-lo e se deixara arrastar pela contínua busca de aperfeiçoamento profissional,enquanto sufocava todos os sentimentos, todas as emoções. O pior era que desconheciao motivo. Só sabia que fora educada para aquilo.

Seu pai fora o único exemplo que pudera seguir, e a Lester Empreendimentos oúnico mundo que conhecera. Nunca tivera ó carinho de uma boa mãe, o calor de umafamília.

E quando ficara completamente sozinha, depois da morte de Isaac, perceberaquanto era incapaz de se entregar a alguém. Receava ser abandonada e experimentar denovo a terrível solidão provocada por um amor que jamais poderia ser recuperado.

Diante desse temor, ela se enchera de defesas, tentando convencer-se de que eraautossuficiente e se bastava. Mas não era verdade! Necessitava de apoio e de carinho,como qualquer ser humano.

De repente, suas emoções reprimidas se manifestavam e ela já não podia bloqueá-las. Então, o melhor a fazer seria aprender a controlá-las, permitindo que fluíssem. AmavaBlake e assumiria esse amor. Iria descobrir a mulher que morava dentro de si e oconquistaria.

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Nesse instante, o ruído da porta se abrindo tirou-a dos devaneios. Sobressaltada,Camile voltou-se e viu Gina, que parecia um pouco constrangida, mas lhe disse, em tomconciliador:

— Estou feliz por tê-la encontrado. Gostaria de lhe pedir desculpas pelo meucomportamento de hoje. Sei que agi feito uma tola, mas espero que possamos ser amigas.

— Claro, Gina. Vamos esquecer o que aconteceu.— Obrigada — a moça fez uma pausa antes de prosseguir, com voz simpática: —

Mamãe disse que você almoçará conosco amanhã...— Sim, é verdade.— Será ótimo! Teremos chance de conversar mais e de nos conhecermos melhor,

não é?Gina deu um sorriso espontâneo enquanto estendia a mão para Camile, que a

apertou, selando a amizade.

Mais calma, a jovem executiva voltou ao salão, preparando-se para enfrentar amultidão. Logo avistou Blake a um canto, com fisionomia desgostosa. Evitou aproximar-sedele e foi conversar com Anne Huston.

— Sra. Huston, foi um prazer conhecê-la.— Ora, por favor! Me chame de Anne, como todo mundo!— Anne. . . obrigada pela gentileza— agradeceu ela, abraçando a mãe de Blake.— Há algo errado, querida?— Imagine! Eu estou muito bem. Amanhã irei visitá-la, se o convite ainda estiver de

pé. — Mas é claro que está!— Então está combinado. Despeça-se de seu marido por mim, por favor.Camile sempre se orgulhara do controle que exercia sobre as próprias emoções.

Desta vez, porém, teve de fazer um esforço enorme para não chorar e, ainda assim, semmuito sucesso, pois Anne notou sua perturbação e fitou-a com curiosidade.

— Você está pálida, querida. Espero que melhore e que isso não seja nada grave.— E não é. Vai passar, prometo.Camile deu um sorriso forçado e encaminhou-se para a saída. No instante em que

alcançava a porta, Blake bloqueou-lhe a passagem.— Quer mesmo ir embora?— Sim, quero.— Então eu a levarei até sua casa.— Não é necessário. Não pretendo atrapalhá-lo ainda mais.— Não será incômodo nenhum. Não comece com histórias e deixe-me levá-la.Blake abriu-lhe a porta do automóvel e tomou seu lugar ao volante. Mal ela se havia

acomodado no assento, o carro deu partida. A noite estava fria e Camile encolheu-se no banco. O silêncio de Blake fazia com

que se sentisse nervosa e tivesse vontade de fugir de perto dele. Sem coragem de

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encará-lo, fechou os olhos e recostou a cabeça no assento alto. O vento entrava pelovidro meio aberto, brincando com seus cabelos.

De repente Blake diminuiu a marcha, e ela abriu os olhos, tentando ver onde seencontravam. Percebeu que seguiam por uma estrada estreita, cheia de curvas, nadireção contrária à de sua casa.

— Para onde estamos indo?— Para o Red Moon.— Red Moon? Você está louco?— Sim, estou. Durante oito anos, só fiz ser um grande louco.— Você deve estar brincando! De onde tirou a ideia de me levar a um lugar desses?

Por acaso acha divertido me deixar nervosa? E para que pretende levar-me lá, se sou umrobô com tinta nas veias? Por que você não convida uma mulher de carne e osso?

Sem sequer se dar ao trabalho de responder, Blake parou o carro e saltou. Estavamnum mirante, que permitia a visão de toda cidade, cujas luzes se entrelaçavam num colar cintilante.

Ele deu a volta e abriu a porta para Camile. Mas, em vez de sair, ela se agarrouainda mais ao banco.

— Como vê, não fomos a boate nenhuma. Falei aquilo só para provocá-la. Pena quevocê acreditou, julgando-me capaz de cometer tamanha grosseria. Agora saia e respireum pouco de ar puro.

Ela manteve-se imóvel, evitando encará-lo.— Bem, mocinha, faça o que quiser.

Dito isto ele se afastou, sem se voltar. Nesse momento Camile mudou de ideia eprecipitou-se no seu encalço.— Blake, aonde você vai?— Para o parque. — Olhando-a com ternura, completou:— Venha comigo. Sempre

sonhei trazê-la aqui.Camile o observou atentamente, perguntando-se por que aquele homem a deixava

confusa, incapaz de raciocinar. Como poderia entender aquelas súbitas mudanças dehumor com que Blake a surpreendia?

Ele a segurou pela mão, guiando-a através das árvores. Atingiram um muro depedras gastas pelos anos e contemplaram a Lua cheia, a derramar sua luminosidadesobre o rio que serpenteava morro abaixo.

— Que lindo!— murmurou ela, embevecida.— Adoro este lugar. Há uma atmosfera de calma aqui, que me traz muita paz. Esta

muralha pertenceu a um antigo forte. Não existe uma lacuna sequer entre as pedras, poiselas se encaixam com uma precisão espantosa. Hoje, poucas pessoas realizam umtrabalho desse tipo. Trata-se de uma arte perdida no tempo. . .

— A construção do forte data de que época?— De quando o presidente Roosevelt instaurou os grandes projetos de obras

públicas.Camile sentia o coração bater descompassado, mas obrigou-se a abordar o assunto

que a inquietava:

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— Você disse que sempre sonhou em me trazer aqui. Por que, Blake?— Não sei. . . Sabe, acho que fui prepotente ao fazê-lo sem consultá-la. Vou levá-la

de volta a Portland.Entretanto, o tom com que disse essas palavras denunciava uma relutância

incomum nele.

Camile também hesitava. Não desejava retornar ao apartamento e experimentar denovo a solidão. Blake estava ali, e ela o desejava mais do que qualquer coisa no mundo.

— Blake. . . Aproximando-se, Camile sentiu o calor que emanava do corpo másculo. Com doçura

inesperada, ele a beijou nas pálpebras, na testa e nas faces. Por fim, cobriu-lhe os lábioscom um beijo apaixonado, enquanto a estreitava num abraço terno.

— Vamos? — sugeriu ele, com voz suave.Ela assentiu e, abraçados, voltaram para o carro. Não diziam nada. As palavras

eram desnecessárias.Blake parou em frente ao luxuoso prédio e, abrindo a porta para Camile, sem

desligar o motor, avisou:— Não entrarei com você.— Por quê? Não consigo entendê-lo! — ela se queixou, desapontada.— Ouça, princesa: não posso subir ao seu apartamento porque, se o fizer, só sairei

de manhã. . . Ato contínuo, ele tomou uma mecha dos cabelos dourados de Camile entre os dedos

e fitou-a nos olhos, com expressão enigmática.

CAPÍTULO IV

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Camile dirigia devagar, tentando localizar a casa dos Huston. Feito isso, estacionou,com um ligeiro receio de que seu luxuoso automóvel destoasse demais dos outros, aliparados.

Tratava-se de um grande conjunto habitacional, com praças e pistas de ciclismomargeadas por árvores altas. Ela experimentou um estranho sentimento diante daquelecenário, pois sua infância transcorrera somente dentro dos limites da Lester Em-preendimentos, entre elevadores e salas com ar condicionado.

Na calçada, um grupo de crianças brincava com figurinhas. Aquela gente miúda, deroupas coloridas e simples, olhou-a com interesse enquanto ela apertava a campainha,segurando um maço de flores.

Do outro lado da rua, uma mulher apareceu e chamou as crianças para almoçar,reclamando por estarem atrasadas. Duas meninas juntaram-se a ela e as demaisseguiram em outras direções. Um garotinho veio postar-se atrás de Camile.

— Olá — disse ele, com expressão de curiosidade.Era pequenino e lhe faltava um dente da frente. Tinha olhos escuros e os cabelos

desgrenhados não negavam que brincara muito àquele dia.— Olá — retribuiu ela, sorrindo.— Meu nome é Tod Huston.— O meu é Camile.— Você veio visitar minha avó?— Acertou em cheio. Ela me convidou para almoçar. A porta se abriu nesse instante e Gina recebeu Camile com um alegre sorriso.—

Entre, querida. Estávamos esperando a sua chegada. E quanto a você, Tod, tratede se comportar!— Não me atrasei? — perguntou Camile, um tanto apreensiva.— Não, não — tranquilizou-a, fechando a porta. Anne saiu da cozinha e foi encontrá-las na sala, ainda enxugando as mãos no

avental.— Que prazer vê-la, Camile! Teve dificuldades em achar a casa?— Não, nenhuma. Tome, espero que goste das flores.— São lindas! Obrigada, querida. Vamos colocá-las num vaso. As três seguiram

para a cozinha, onde Anne providenciou o arranjo das flores. A mesa estava posta, e ela aenfeitou com o ramalhete, apreciando o efeito obtido.

— Agora vamos até o quintal, para que conheça toda a família. Os homens estão jogando cartas, e as mulheres, conversando. . .

— É uma forma sutil de dizer que elas estão fofocando!— explicou Gina com umarisada.

Seis crianças estavam envolvidas num jogo de memória, sentadas ao pé da mesaonde os homens jogavam cartas.

Seguiu-se uma série de apresentações e apertos de mão. Todos os filhos de Anneestavam presentes, à exceção de Blake. Camile trocou breves palavras com eles e ficouconhecendo um por um. Descobriu que Blake e Gina eram os únicos que aindapermaneciam solteiros. Orgulhosa, Gina exibiu-lhe um anel de noivado, confessando que

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logo estaria casada. Anne interrompeu-as:— Venha, Camile, quero mostrar-lhe meu canteiro.— Rosas. . . Mamãe e suas rosas. Às vezes eu gostaria que ela dispensasse aos

filhos a mesma atenção que manifesta por essas flores — comentou Gina, com ar brincalhão, desviando-se das crianças para seguir Anne e Camile.

— Portland é a Cidade das Rosas — disse Anne, enquanto olhava para o canteirocom expressão carinhosa.

Tommy, o neto mais novo, de dois anos, acabava de despertar de um cochilo eainda se mostrava sonolento. Gina segurava-o no colo e brincava com Tod, que derepente correu até Camile e segurou-lhe a mão.

— Você é tão bonita!— Obrigada, Tod. Você também é um rapaz muito simpático.— Quer ser minha tia?—

Então você só quer ter tias bonitas?—

Camile perguntou com ar de cumplicidade.— Sim! Tia Gina e tia Bárbara são bonitas.— Está certo, então. Também serei sua tia. Mas uma tia especial, combinado?— Combinado, tia Camile!Nesse instante um garoto chamou por Tod, que olhou para a nova "tia", em dúvida.

Não sabia se ficava junto dela ou não.— Pode ir, Tod.— Você estará aqui mais tarde, tia Camile?

— Claro que sim!— Promete brincar de figurinhas comigo depois?— Se você quiser, eu brinco.— Até mais, então!— gritou Tod, correndo até o outro menino.Ela sorriu consigo mesma, experimentando uma sensação de conforto. Ao ver Tod

afastar-se foi invadida por uma onda de ternura. Pela primeira vez alguém a chamava detia, e isso era como possuir uma família.

O bebê no colo de Gina fitou-a com interesse, arregalando os olhinhos brilhantes.—

Posso segurá-lo, Gina?— É melhor esperar alguns minutos, até que ele se acostume à sua presença. Acabou de acordar e ainda está um pouco irritado — explicou a moça acariciando acriança, que escondeu o rosto em seu ombro.

— Donald virá, Gina?— perguntou-lhe a mãe.— Ele está atrasado, como sempre. É capaz de se atrasar para seu próprio

casamento! Mas eu o amo assim mesmo.— Vocês já marcaram a data? — Camile indagou.— Será dentro de dois meses.— Faremos o chá-de-cozinha na semana que vem. Por que não aparece, querida?

— convidou Anne com a brandura que lhe era característica.

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— Eu adoraria! Inclusive, se vocês quisessem, eu poderia arranjar para que a festafosse no hotel. . . Quero dizer, se isso não atrapalhar... — Camile falou aos tropeções,com medo de ofendê-los.

— Você faria isso? — perguntou Gina incrédula.— Sinto muito, mas nós não podemos aceitar essa oferta gentil, minha filha.

— Por que não? Será uma forma de retribuir o almoço de hoje. . . Que tal?— insistiuCamile.

— Mas nós não podemos. . .— Bobagem, Anne. Além disso, será uma chance de Gina e eu nos conhecermos

melhor.— Ah, mamãe. . . um chá-de-cozinha no Hotel Shelter! Já imaginou?— Na próxima semana, então, nós nos reuniremos e acertaremos os preparativos,

está bem?

A voz de Camile traía ansiedade. Queria muito fazer aquele favor a Gina, cujaexpressão exultante foi-lhe uma verdadeira recompensa. Nesse instante, notou que obebê voltara a encará-la. Sorrindo, estendeu-lhe os braços com meiguice:

— Posso segurar você um pouquinho, Tommy?O garotinho olhou para Gina e novamente para Camile, que pegou-o enquanto

sussurrava palavras doces. O pequeno Tommy ria e agitava os bracinhos.— Bem, vocês duas venceram. E, pelo jeito, Camile acaba de conseguir um amigo

para a vida inteira!— Anne falou, enquanto abria a porta para que tornassem a entrar.Donald já chegara e Gina correu a abraçá-lo, contando-lhe sobre a oferta de Camile,

que estava radiante por poder prestar um serviço àquela gente maravilhosa.Na cozinha, ela continuou brincando com Tommy, feliz por participar de tudo aquilo.No entanto, o que mais a deliciava era observar as contínuas idas e vindas das crianças eter o pequeno Tommy nos braços. Aquela era uma situação nova e encantadora.

Foi então que percebeu Blake, parado à porta da cozinha, observando-a com umaexpressão indefinível. Não poderia dizer se ele estava satisfeito ou irritado com suapresença.

Alheio ao que acontecia a seu redor, Tommy continuou brincando e, ansioso paraalcançar uma travessa de salada sobre a mesa, puxou a toalha e derrubou um copo derefresco na saia branca de Camile, que começou a rir.

Confusa, a mãe do garoto balbuciou algumas desculpas e pegou-o no colo,enquanto Anne se ocupava em ajudar Camile a limpar a roupa. Mas logo precisou voltar aseus afazeres, e deixou-a sozinha no lavabo, tentando tirar as manchas da saia.

— O que está fazendo aqui? A voz de Blake tirou-a de sua distração. Era visível que ele a considerava uma

intrusa ali.— Sua mãe me convidou para almoçar, mas, se eu o incomodo, vou embora. Não

quero que minha presença estrague seu dia.Dizendo isso, ela largou a toalha que usara para se limpar e preparou-se para sair.

Blake, porém, a impediu.— Fique, por favor.

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— Bem, então com licença. Vou ver se posso ajudar na cozinha.Ele pousou uma das mãos sobre os seus ombros frágeis. A tensão crescia entre os

dois.— Dormiu bem esta noite, Camile?— Sim. . . Por quê?— Por nada. . .Camile desvencilhou-se dele e, desejando mostrar-se útil, foi para a cozinha e

começou a lavar a louça. As mulheres estavam reunidas e trocavam comentários espirituosos, o que a ajudou

a sentir-se mais à vontade.

O almoço transcorreu num clima descontraído e, ao final, todos ajudaram a tirar amesa e a lavar os pratos. Apesar disso, Blake não trocou uma palavra sequer com

Camile, que estranhou o fato, mas não fez qualquer comentário.Depois de ajudar na cozinha, ela acompanhou Tod e dois de seus primos ao quintal,participando com eles de uma partida de Memória, como havia prometido.

Blake, enquanto isso, jogava cartas com o pai, seus irmãos e Donald.Cerca de uma hora depois, Tod e os primos foram ver televisão e Camile voltou à

companhia das mulheres, que falavam sobre o casamento de Gina e Donald. Ela escutou-as com interesse, mas não pôde evitar que seu olhar se fixasse na figura de Blake, no jardim, entretido com as cartas. Por um instante, seus olhares se cruzaram, e ela,tentando dissimular o embaraço, perguntou a Gina:

—O que eles estão jogando?— King. Já experimentou?

— Não. . .Jogos de cartas nunca fizeram parte das atividades da família Lester. Mesmo

quando criança, Camile jamais participara desse tipo de divertimento, que seu paiconsiderava pura perda de tempo.

Sem se dar conta da perturbação de Camile, Gina admirou-se.— É sério? Nunca participou de uma boa partida de King? Entre nós, isso já se

tornou tradição! Venha. Papai e Blake ensinarão a você.— Não, eu. . .— Mas é claro que sim! Donald, querido, você se importa em ceder seu lugar para

Camile? Ela nunca jogou King.Donald assentiu e, com um sorriso franco, ofereceu sua cadeira para Camile, que

continuou em pé com expressão insegura.Seus olhos encontraram os de Blake, que a fitavam com irritação. Ele parecia não

desejar sua participação no jogo e demonstrou isso quando se levantou e chamou um dosirmãos para substituí-lo.

Sentindo-se mortificada, Camile desejou sumir dali.— Sente-se, querida. Faremos uma parceria e eu lhe mostrarei qual é a estratégia —

ofereceu-se Gina, tomando o lugar deixado pelo irmão.

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A principio, Camile sentiu-se urna intrusa, mas foi relaxando e acabou por se divertir.Embora as cartas fossem uma novidade para ela, as bases do jogo eram algo a que jáestava acostumada, pelo desafio que enfrentava todos os dias no escritório da Lester Empreendimentos.

Era noite quando Anne e George acompanharam Camile até o carro, convidando-apara voltar na semana seguinte.

— Vocês se reúnem todos os domingos?— Não. Hoje foi uma ocasião especial, porque toda a família estava em Portland

para o casamento de Kathleen.— Foi muita gentileza lembrar-se de mim, Anne. E, como o casamento dela me

apanhou de surpresa ontem, dê-lhe isso por mim, está bem? Tirou do dedo um anel deouro e colocou-o num envelope.

— Ora, não precisa incomodar-se — replicou Anne, segurando o presente.— Eu faço questão.

— Kathleen vai ficar muito contente!Camile sorriu, despediu-se do velho casal e deu partida no carro. Pelo espelho

retrovisor, ainda pôde vê-los entrar na casa, abraçados, sob o luar.

Na manhã seguinte, ela entrou, ansiosa, no escritório. Sentia-se cheia deentusiasmo com a ideia do chá-de-cozinha.

A secretária notou seu comportamento diferente, mas não fez nenhum comentário;apenas observou a patroa com curiosidade.

—Louise, gostaria que você preparasse o Salão Nobre para um chá-de-cozinha eque mandasse o cozinheiro chefe vir conversar comigo, pois quero tratar pessoalmente da

escolha do bolo e dos salgadinhos.— Providenciarei tudo, Srta. Lester.— Obrigada. A manhã passou depressa e, ao meio-dia, Camile comeu um sanduíche, sentada à

sua escrivaninha. Pensava em Blake. Quando se encontrassem, como será que elereagiria? Talvez nem mencionasse o almoço da véspera. . .

O trabalho absorveu-a durante todo o resto do dia. No final da tarde, pediu a Louiseque comprasse ingredientes para uma torta de frango. Bastava de sanduíches! Naquelanoite, prepararia uma refeição de verdade.

O expediente se encerrava, e as primeiras luzes começavam a pontilhar a cidade.Camile estava sozinha no escritório e, antes de ir embora, decidiu conferir algumas notasque se encontravam sobre a mesa.

Nisso, Blake entrou na sala. Ficou parado a poucos metros dela e sua irritação eraevidente.

— Aconteceu alguma coisa, Blake? — alarmou-se ela, ao vê-lo.— Recebi um telefonema de minha mãe esta tarde. Ela me contou que você deu um

anel de ouro a Kathleen. Que ideia foi essa de presentear minha prima com uma joia tãocara?

— Qual é o problema? Por que isso o deixa tão furioso?

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— Eles não passam de estranhos para você!— Aí é que você se engana. Eu os conheci ontem, lembra-se?— Kathleen e Bob não precisam de sua caridade!— Não se trata de caridade! Além disso, trabalho e ganho meu próprio dinheiro. O

que lhe importa o que faço com ele?— É muita ingenuidade sua imaginar que com uma joia poderá comprar minha

família! Pensa que seu maldito dinheiro fará com que as pessoas amem e respeitemvocê?

Ela se levantou da cadeira, buscando apoio na ponta da mesa, os olhoslacrimejando. Respirando fundo para recuperar o auto controle, dirigiu-se a Blake, comvoz pausada:

— Não estou atrás da aprovação de ninguém, muito menos da sua, sr. Huston.Mandarei uma carta aos seus primos, com sinceras desculpas pela minha ousadia. Nãotive intenção de ofendê-los. Agora, por favor, saia. Não diga mais nada. Apenas saia.

Ele hesitou, parecendo querer dizer alguma coisa. Por fim, com um movimentobrusco, deixou a sala, furioso.

Arrasada, Camile escorregou para a cadeira e, cobrindo o rosto com as mãos,deixou-se cair num choro convulsivo. Estava perturbada e não conseguia ordenar ospensamentos. Parecia que com Blake as coisas sempre tinham de acontecer daquelemodo: ela agia de boa vontade e, sem esperar, sua conduta era mal interpretada.

Ele realmente acreditava que ela tivera a intenção de subornar Kathleen e Bob. Esua família, pensaria o mesmo?

As dúvidas lhe martelavam a cabeça, e ela se sentia humilhada. Talvez fosse isso

que Blake desejasse há muito tempo: humilhá-la.Desistindo de prosseguir com a averiguação das notas, Camile fechou a sala edesceu até a garagem do hotel.

Com rapidez incrível, venceu a curta distância que a separava do apartamento.Entrou na sala finamente decorada e atirou a bolsa sobre o sofá. Sentia dor de

cabeça, mas resolveu afastar os pensamentos opressivos. Só precisava de um banho ede um bom jantar para relaxar. Afinal, prometera a si mesma de que iria assar uma torta.

Blake, que tanto a acusara de desatenção, agora não demonstrara a mínimacompreensão, julgando-a calculista e fria. Bem, se ele estava decidido a destratá-la,

paciência! Faria sua torta e se divertiria sozinha.Tirou os sapatos de saltos altos e, descalça, foi até a cozinha. Pegou um livro dereceitas e começou a ler com atenção, separando os ingredientes necessários. Sentindo-se desconfortável no conjunto justo de saia e blusa que usava, resolveu tomar um banhoe vestir um short minúsculo e uma mini blusa.

Pouco depois, preparava-se para fazer a massa, mas achou que seria melhor começar pelo recheio. Abriu diversas latas, desfiou o frango e deixou tudo cozinhar emfogo brando. Em seguida, voltou a atenção para a massa.

Nesse momento, o interfone soou e, como estava com as mãos cheias de farinha,ela decidiu não atender.

Minutos depois, ouviu batidas na porta, seguidas pela voz grave de Blake.— Abra, Camile! Sei que você está aí. Não havia ninguém no escritório, e o porteiro

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a viu chegar. Portanto, não adianta tentar me enganar. Abra logo essa porta!— Vá embora!— Camile. . .— Ouça aqui, não quero ver você! Além disso, não estou. . . hã. . . vestida.—

Pois eu lhe proponho que coloque alguma coisa decente e abra em seguida,porque do contrário vou arrombar esta porta!Ela respirou fundo, resignada.— Pode entrar. Está destrancada.Entrando, Blake fechou a porta e foi à cozinha. Um sorriso desenhou-se em seus

lábios ao vê-la às voltas com a massa. Colocando as mãos nos bolsos da calça, eleperguntou:

— Mas o que você está fazendo?— O que você está fazendo? Invadiu meu apartamento, sabia? Eu devia ter

chamado o segurança do prédio.— Por que não fez isso?— Porque. . . porque minhas mãos estão cheias de farinha e eu não queria sujar o

interfone.— Nunca me deram uma desculpa tão pouco convincente, Camile.Ela enrubesceu ante o olhar provocante que ele lhe lançava. Os olhos castanhos

avaliaram-na com malícia, passando do minúsculo short para as pernas nuas. Ela ficoufuriosa.

— Eu estou com calor, e daí? Se você quiser, tem permissão para rir. Vamos, o queestá esperando? Comece! Dê uma sonora gargalhada que não vou me importar. Pelovisto, sou uma inesgotável fonte de inspiração para os seus gracejos!

— Não estou rindo de você.— Então diga o que tem a falar e suma! Não estou com vontade de discutir!Sua voz tremia. Ele conseguira magoá-la e Camile via-se obrigada a admitir que

Blake a perturbava ao menor contato e que isso a assustava.— Para ser sincero, eu me lembro de ocasiões em que você estava bem mais

apresentável — retrucou ele com timbre macio, enquanto avançava em sua direção.

Camile foi andando para trás até dar de encontro com a parede e não ter mais paraonde fugir.— Há farinha na ponta de seu nariz. Deixe-me limpá-la. . .— Não me toque, Blake! Nunca mais!Ele parou, vendo a agressividade com que Camile o repelia, e perguntou:— Eu a magoei de novo, não foi? Mas, dessa vez, vim pedir desculpas. Reconheço

que fui muito duro com você, hoje, no escritório. Sua expressão ressentida não me saíada cabeça e, a meio caminho de casa, resolvi voltar e tentar consertar o que fiz.

— Está enganado, Blake. Não fiquei ressentida ou chocada com o que me disse.Fiquei. . .

Interrompeu-se, paralisada, quando ele pousou os dedos fortes em seus lábios,

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pedindo-lhe silêncio. Sentiu o coração disparar e odiou-se por excitar-se àquele levecontato, em vez de expulsá-lo dali.

Sem poder aparentar indiferença, disse, num fio de voz:— Eu bem que lhe falei para não me tocar... Sabia que isso ia acabar acontecendo.— Eu só desejo uma coisa. . .Blake prendeu-a entre os braços musculosos e Camile tentou resistir, mas foi em

vão. Dominada pela sede de ter o corpo daquele homem junto ao seu, abandonou-se àsensação inebriante daquele abraço.

Depois, ele lhe mordiscou os lábios e deslizou a ponta da língua por seu pescoço, aomesmo tempo que lhe acariciava as costas macias e descrevia pequenos círculos com aponta dos dedos, provocando-lhe arrepios de prazer.

— Não. . . — sussurrou ela, libertando-se.Dando-lhe as costas, apoiou-se na mesa, ofegante. Entretanto, Blake tornou a

aproximar-se e postou-se a seu lado, a respiração morna acariciando-a na nuca.— É este o problema. Cada vez que a toco, quero mais e mais. . . É insuportável ter

de me controlar. Mas ainda virá o dia em que ficaremos juntos e, então, você não meexpulsará mais, gatinha.

— Não me chame de gatinha! Já lhe pedi para não me chamar assim!O telefone tocou e, indecisa, Camile olhou para o aparelho.— Você não vai atender?— Atenda por mim, por favor. Preciso lavar as mãos.Ele apanhou o fone e, após algumas palavras, anunciou, abafando o bocal do

aparelho com uma das mãos:— Uma moça chamada June quer lhe falar. E me pareceu chocada quando atendi

ao telefone.Rindo das prováveis suposições da amiga, Camile segurou o fone.— Olá, June.— Quem atendeu?— Ninguém importante. Apenas o meu gerente — esclareceu, dando um sorriso

irônico para Blake.

— Estou ligando porque acabei de voltar do médico. Ele disse que estou ótima e quepoderia ter dois acompanhantes em meu quarto quando chegar a hora. Sendo assim,imaginei que você talvez gostasse de ficar comigo no dia do parto. . .

— Puxa, seria uma honra, June! Mas, e Burt? Ele não se importa?— Ah, não! Burt ficará contente por tê-la conosco.— Então aceito. Estou muito feliz, querida.— Irei ao hospital na sexta-feira, para conhecer o local. Você pode ir comigo?— Claro, não há problema. Só preciso verificar minha agenda. Na sexta de manhã

ligo para você, combinado?— Ótimo! Agora vou deixá-la livre para voltar aos braços daquele "insignificante"

gerente de voz sexy.

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— Não tire conclusões precipitadas! Amanhã eu telefono — despediu-se Camile,dando uma risada.

De volta à cozinha, notou que Blake tirara a jaqueta, pendurando-a às costas de umacadeira. Com as mangas da camisa arregaçadas, ele preparava a massa da torta, comhabilidade de um perito.

— Ei, o que pensa que está fazendo?— Bem, achei que você não conseguiria comer tudo isso sozinha. Então, concluí queme convidaria para jantar.

— Você se considera tão irresistível assim? Pois eu lhe garanto que posso passar muito bem sem sua companhia!

Ele sorriu com um ar maroto que a desarmou, enquanto completava:— Então, como fui convidado para o jantar, pensei que o mínimo que poderia fazer

era ajudar no preparo da comida.

CAPÍTULO V

— Não fique aí parada. Que tal bater os ovos?Camile hesitou, assaltada por sentimentos contraditórios. Por um lado, sabia que era

impossível existir entre ambos um relacionamento mais profundo. Por outro, não podianegar-se aqueles momentos deliciosos ao lado do homem que amava, mesmo estando

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consciente de que aquelas lembranças seriam uma tortura quando se separassemdefinitivamente.

Esse conflito de emoções a deixava péssima. Optou, então, por deixar as coisasacontecerem. Suspirando, pegou uma tigela e começou a bater os ovos.

Calados, os dois se ocupavam em cozinhar. Cada um absorvia-se em seus próprios

pensamentos. Foi Camile quem rompeu o silêncio, mencionando a ida ao hospital nasexta-feira. Blake parou de mexer o recheio e, olhou-a, espantado:— Você está com algum problema de saúde?— Não, pelo contrário. Afinal, um bebê faz parte da vida. Ele se mostrou perplexo.

Ficou tenso, pálido, atônito. Camile, que se divertia com o mal-entendido, sentiu-setentada a prosseguir com a brincadeira.

— Você disse um bebê?— Sim — ela confirmou, picando o cheiro-verde com naturalidade, como se

ignorasse a surpresa dele.

— Você está tentando me contar que está grávida?— Eu não estou tentando dizer nada. Só falei que iria ao hospital na sexta-feira.— Por causa de um bebê?Camile afirmou com um gesto de cabeça, ao mesmo tempo que se controlava para

não rir. Ele estava quase fora de si e refogava os pedaços de frango com raiva.— Quem é o pai?— Burt.— E quem é Burt?— O marido de June.— Mas. . . June foi aquela que telefonou para cá ainda há pouco... A fisionomia desnorteada dele revelava as inúmeras suposições que o assaltavam.

Mas, de repente, Blake compreendeu a brincadeira e declarou, entre sério e zombeteiro:— Sua diabinha! Você merecia uma lição por isso!— Diabinha, eu? Por quê?Ela fez uma expressão inocente e voltou a atenção para os temperos.Nesse momento, Blake aproximou-se e acariciou-lhe o pescoço, sussurrando em

seu ouvido:— Porque você me enlouquece cada vez que a toco. . . Camile fechou os olhos,

langorosa. Desistiu de esquivar-se e ofereceu os lábios entreabertos para um beijoapaixonado. Ele a envolveu num abraço terno e apertou-a contra o peito musculoso,explorando com a língua cada contorno de sua boca.

Amedrontada com as sensações que aquelas carícias lhe despertavam, Camileafastou-o com as mãos e perguntou, confusa:

— Você acha que estou menos. . . fria?— Você me parece mudada, isso sim.— Queria lhe contar que pensei muito a respeito daquilo que me disse na noite do

casamento, e cheguei à conclusão de que eu, realmente, tenho dado tanto valor aos

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negócios que esqueci meu lado humano. Você não foi a primeira pessoa a me alertar paraisso. June e Edie, minhas amigas, já haviam chamado minha atenção para o problema, eaté sugeriram que eu iniciasse um relacionamento amoroso, a fim de dar vazão aos meussentimentos.

Camile interrompeu-se, assustada com a frieza que transparecia no rosto de Blake,substituindo a meiguice de antes. Quando ele falou, sua voz era cortante:

— Portanto, você pretende ter um caso!— O quê?!— Você entendeu muito bem! Não seja cínica comigo, porque não suporto cinismo!

Sua amiga lhe deu sábios conselhos e você decidiu segui-los. Então, num belo dia, deu-se conta da minha existência e julgou que eu seria perfeito para saciar os seus desejos!

Respirando fundo, ela conteve-se para não esbofeteá-lo. Decidida a se dominar,falou, num tom indiferente:

— É claro que não! Considerei uma grande bobagem o que elas me sugeriram, pois

não sinto falta de homens na minha vida e, caso eu me envolvesse com alguém, nãoconseguiria manter um relacionamento passageiro. Como você pode me julgar capazdisso?

— E por que não? Logo deixaremos de nos ver. Você pode envolver-se comigodurante alguns dias, numa relação descompromissada.

Camile se sentia cada vez mais angustiada e não sabia mais o que falar paraconvencê-lo de sua honestidade. Desconsolada, pensou que Blake jamais a entenderia ecada frase que dissesse só serviria para afastá-lo ainda mais. Suas palavras saíram,então, num amargo desabafo:

— Por que faz isso comigo, Blake? Nós estávamos nos dando bem e até admiti quevocê tinha razão quanto à minha frieza. E, de repente, aqui estou eu na defensiva maisuma vez. . . Minhas amigas notaram que havia exagero na forma como me dedico àcompanhia, perceberam que minha vida era carente de afeto. Eu apenas procurei explicar a você que estou tentando mudar meu comportamento!

Exasperada com sua inabilidade para expressar-se, Camile encaminhou-se para asala e recostou-se no vidro da janela, melancólica, observando a paisagem.

Blake seguiu-a e parou a seu lado, sem fazer menção de tocá-la. Quando falou, foicom doçura:

— Você já reparou que não conseguimos passar mais do que alguns minutos sem

brigar?— Sim, eu já notei isso.— Sabe de uma coisa? Você devia me expulsar de sua casa.— Não posso fazer isso. Você preparou metade do jantar e agora tem de comê-lo.Embora aquilo não fizesse o menor sentido, agradava-lhe a companhia de Blake e

ela estava disposta a perdoá-lo, sobretudo agora que ele parecia resolvido a fazer aspazes.

— Vamos estabelecer uma trégua, Camile?—

Por quanto tempo?— Durante essa noite, por exemplo. Poderemos passá-la sem desentendimentos.Que tal?

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— Se nós dois tentarmos, talvez consigamos.Camile suspirou. Não pôde deixar de pensar que sempre haviam trabalhado num

clima de camaradagem e respeito. Pena que justamente agora a situação estivessemudada e pairasse no ar aquela tensão constante. Sentiu vontade de chamar a atençãodele para aquele fato, mas conteve-se, pois, sempre que tocava no assunto, Blake ficavacontrariado.

— A torta estará pronta dentro de uma hora — anunciou, disposta a parecer simpática. — Você não quer ouvir um pouco de música enquanto espera?

— Sim. Música e um copo de vinho, por favor. Música, vinho e você. O que mais umhomem pode desejar?

Ela sorriu e foi à geladeira apanhar uma garrafa de vinho branco. Encheu dois coposde cristal com a bebida e voltou para a sala, onde Blake já se havia encarregado do som,colocando no toca-discos o Noturno, de Chopin.

Ele acomodou-se no sofá, chamou Camile para perto e passou os braços em tornodos ombros delicados. Ela, por sua vez, ainda se sentia confusa com os acontecimentosinesperados daquele dia.

Primeiro, a expectativa dolorosa de conhecer a decisão final de Blake, frustrada por ele não estar disposto a conversar e, sim, feri-la ainda mais. Depois fora a cena patética,com Blake entrando e encontrando-a suja de farinha. Por último, viera a discussão. Eagora ela estava. . . namorando Blake no sofá!

Aquele desfecho pegara-a desprevenida e, como nunca tinha vivido situaçãoparecida, não sabia como agir.

— June quer que eu seja sua acompanhante de quarto, quando tiver o bebê. Elaestá grávida de oito meses. Esta semana nós iremos ao hospital conhecer as instalações

— comentou Camile, puxando assunto.— Tem certeza de que deseja ir? O trabalho de parto pode abalar uma pessoa que

nunca teve um filho.— Pois vou me sentir muito bem em acompanhar June. Por que você sempre coloca

empecilhos nas ideias que me dão prazer?— Vinte minutos— informou Blake, consultando o relógio de pulso.— Vinte minutos? Vinte minutos o quê?— Foi o tempo que durou nossa trégua. Já estamos discutindo de novo. . .—

Nós não brigamos. Bem que fiquei tentada, porém sou uma mulher adulta econtrolei meu impulso.Camile tomou um gole de vinho e recostou-se numa almofada. Blake, com um

sorriso, provocou-a:— Estou contente. . . Sabe, muitas vezes falo certas coisas apenas para enfurecê-la,

pois nessas ocasiões a única forma de derrubar suas defesas é deixando-a com raiva.— Eu pretendo mudar. O problema é que sempre encarei nosso relacionamento

como profissional. Acho que exagerei. . . Antes, eu só o considerava um bom gerente.— E agora?

— Você sabe que agora as coisas são diferentes.— Porque estou me demitindo?

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— Sim. Mas já acabou meu tempo de fazer confidências. É a sua vez! — brincouCamile, arrependendo-se de imediato de ter falado demais.

Blake, entretanto, não parecia disposto a se abrir e deu uma resposta seca:— Eu gosto de pintar nas horas vagas, de escalar montanhas e de caminhar na

praia, sobretudo durante a madrugada. Adoro tomar banhos de mar e durante a noite

acho muito agradável ouvir um pouco de música enquanto beberico um bom vinho. Estásatisfeita?— Continuo um pouco curiosa.Ela sentia-se desapontada, pois Blake não queria falar sobre si mesmo. Nesse

instante, a música parou e Camile levantou-se, a fim de virar o disco.— É melhor verificar como anda o nosso jantar — anunciou ela, encaminhando-se

para a cozinha. A torta já estava no ponto, e Camile deixou-a esfriando sobre o fogão. De volta à

sala, encontrou Blake pensativo, debruçado na janela. Postando-se ao lado dele,

comentou:— Muitas vezes fico aí, exatamente onde você está, e admiro a vista da cidade...— E em que pensa, nessas horas?— Em muitas coisas. . .— Algo em particular?— A torta está pronta. Vamos comer?Ela desviou o assunto evitando entrar em detalhes, mas Blake não se deixou

ludibriar e, num gesto carinhoso, acariciou-lhe o rosto.

— Não estou com vontade de comer. Ainda não.Dito isto, deslizou a mão para o pescoço alvo. Levada por um impulso irresistível,

Camile pousou os lábios nos dele, num beijo profundo e cheio de promessas.Correspondendo com ardor, ele colou o corpo atlético contra o dela, que o abraçou commais força.

Ondas de prazer invadiram-na, causando-lhe torpor. As pernas ficaram moles e osseios pediam carinhos, beijos. . .

Ela gemeu de emoção no momento em que Blake a ergueu, tomando-a nos braços edepositando-a com suavidade no sofá.

A resposta de Camile ao calor daquele corpo era automática: acontecia sem quepudesse prever. Contorcia-se com movimentos lânguidos enquanto ele, inclinando-se,traçava uma linha de fogo em seus ombros macios e, com dedos ágeis, escorregava paraos seios, contornando-os, descendo pelo ventre. . .

De súbito, porém, Blake separou-se dela e, suspirando, sugeriu:— Vamos jantar?Camile concordou sem se magoar com a interrupção. Deliciada, constatou que ele

estava tão transtornado quanto ela, o que a fazia crer que também era desejada. Havia,assim, a esperança de que Blake viesse a amá-la, pelo menos um pouco.

Sentaram-se à mesa e puseram-se a comer a torta sem muito entusiasmo, apesar de ele ter elogiado o sabor.Conversaram sobre banalidades, embora ambos soubessem que seus pensamentos

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estavam muito longe. Quando terminaram, retornaram à sala. Blake trocou o disco e levouCamile para o sofá. Serviram-se de mais vinho e fitaram-se com olhares cheios desensualidade.

Camile, audaciosa, passou a língua pelos lábios dele, impregnando-lhe a boca como gosto do vinho. Depois, afastou-se e desabotoou-lhe a camisa com lentidão,saboreando o toque da pele macia e dos pelos do peito másculo.

Em seguida, explorou com a boca o tórax musculoso, lambendo-o, mordiscando-o.Depois, satisfeita com aquela brincadeira amorosa, acariciou-lhe os cabelos escuros ereclinou-se para ele, que a acolheu num abraço terno.

Ficaram muito tempo naquela posição, sem noção das horas.Camile, encostada ao peito dele, às vezes esfregava de leve o rosto no tórax nu,

aspirando profundamente, sentindo-se invadida pelo perfume gostoso de Blake.Ele alisava-lhe o braço com uma das mãos e, com a outra, afagava-lhe os cabelos

sedosos. Estavam silenciosos, comunicando-se através de olhares muito expressivos. . .

O relógio antigo na parede deu doze badaladas. Camile mexeu-se, sobressaltada.— Meia-noite!— Acompanhe-me até a porta — Blake murmurou, beijando-lhe a testa.— Bem, pelo menos nossa trégua durou horas!— Se ainda tivermos alguma briga pela frente, que seja como a que acabamos de

ter. Combinado?Camile assentiu, sorrindo com meiguice. A seguir, enroscando os dedos nos cabelos

castanhos, não conseguiu reprimir a dúvida que tanto a angustiava:—

Você vai mesmo me deixar, Blake?— Como assim?Percebendo o duplo sentido de suas palavras, ela apressou-se a explicar:— Deixar a companhia. Você não vai mais se demitir, vai? Assim que Camile

terminou de falar, arrependeu-se. Mas já era tarde demais.— Então era isso! Você me seduziu por interesse!— Não, Blake!Ela fez uma tentativa de impedi-lo, mas já não adiantava. Batendo a porta, ele partiu.

Talvez para nunca mais voltar. . .— Gina Huston quer falar com você— anunciou Louise na segunda-feira, através do

interfone.— Diga-lhe para entrar. E cuide para que não sejamos interrompidas, sim?— Deixe comigo.Gina surgiu à porta minutos depois. Parou, indecisa, estudando a fina decoração da

sala, com móveis sofisticados e quadros famosos nas paredes. Seu olhar fixou-se naenorme janela envidraçada e ela assobiou, admirando a vista.

— Nossa, que paisagem linda! Como consegue concentrar-se no trabalho?

— É bastante difícil, em especial nestes dias ensolarados de verão. Dá vontade desair por aí, ao sabor do vento!

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— Camile. . . sentimos sua falta no domingo passado.— Eu sinto muito, Gina. Tive um compromisso inadiável— mentiu ela, rolando uma

caneta entre os dedos longos, a fim de disfarçar o nervosismo.— Todos adoraram você e esperam que volte lá em casa.— Farei uma visita em breve.Ela própria, porém, duvidava de suas palavras. Não podia correr o risco de enfrentar

Blake outra vez. Ele já havia oficializado sua decisão de demitir-se na semana anterior,indicando um substituto, e já se havia encarregado de prepará-lo para o cargo.

Brian Harris, o escolhido para ocupar o posto, era um homem sério de meia idade,com o qual Camile simpatizara de imediato, prevendo que não teriam problemas emtrabalhar juntos. A saída de Blake fora acertada para o fim do mês, restando-lhe, portanto,ainda dez dias na empresa.

A voz de Gina tirou-a dessas reflexões:— Ei, o que houve? Você está tão aérea!— Desculpe-me. Eu estava só pensando. . . Bem, vamos descer ao Salão Nobre e

você me dirá que tipo de decoração prefere. Há mais alguém com você?— As damas de honra vieram também, mas preferiram esperar lá embaixo em vez

de incomodá-la aqui no escritório.— Oh, não haveria problema algum!— Camile. . . É verdade que Blake pediu demissão?— Sim, é. Infelizmente, é verdade. Gina encarou-a com expressão intrigada.— É estranho. Nunca pensei que um dia Blake deixaria esse emprego.Camile deu um sorriso triste. Era esse o problema. Ninguém, nem mesmo ela,

imaginara que um dia Blake sairia da empresa.— Vamos? — sugeriu Camile, ao mesmo tempo que abria a porta.Gina concordou e, no elevador, disse, sorridente:— Já enviei os convites. Todos estão impressionados porque a festa será no Shelter.

Eu mesma ainda custo a acreditar!— Fico contente, Gina.— Você virá, não é?

— Não posso prometer nada, pois nesse dia tenho compromissos com algunsarquitetos, mas farei o máximo para estar aqui.

Desceram ao hall do hotel e reuniram-se às companheiras de Gina, encaminhando-se, em seguida, para o Salão Nobre, todo decorado em azul e ornado com espelhos decristal de moldura dourada.

Gina não escondia o quanto estava entusiasmada.— É perfeito, simplesmente perfeito!Camile sorria, mas estava preocupada com a reunião que teria mais tarde com a

Câmara de Comércio de Portland, a respeito de uma convenção que se realizaria duranteo inverno. Ainda precisava almoçar e não podia fazer companhia a Gina por muito tempo.

A jovem noiva, porém, alheia aos problemas da amiga, continuava com seus

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comentários:— O bolo da festa será maior do que o encomendado para o casamento!Camile consultou o relógio de pulso e, contrariada, lamentou:— Ah, que pena! Eu preciso ir. Mas ainda nos falaremos na quinta-feira, está bem?—

Certo. Olhe, não sei como agradecer. Estou muito feliz.— Para ser sincera, estou me divertindo tanto quanto você. Ah, sim! Esqueci deavisá-la que encomendei lilases para enfeitar o salão.

— Oh, querida, você é ótima!Camile sorriu e voltou para o escritório. Ao atravessar a porta, deparou com Blake. A

surpresa foi tanta que ela por pouco não caiu, mas as mãos fortes ampararam-na,enquanto os olhares se cruzavam.

Ela fitou-o como que hipnotizada, sem conseguir desviar os olhos do rosto bonito,viril. Pela primeira vez, naqueles dias todos, os dois tinham um contato que superava a

relação profissional.Camile observou-lhe os traços marcantes, tentando gravar na memória cada detalhedaquela fisionomia querida.

— Camile. . .— Como vai, Blake— ela perguntou, corando e baixando o olhar.— Bem, e você?— Eu estou bem, obrigada.— Você pode deixar o escritório esta tarde para estudar o orçamento de Wilson?

— Sim, não há problema. Voltarei aqui por volta das duas horas.— Perfeito. Pedirei a Harris que fale com você.— Combinado. Agora, se me dá licença, preciso ir para minha sala. Afastando-se, Camile pensou em Harris. Pelo menos, com ele não seria obrigada a

torturar-se a cada instante, como acontecia quando estava junto de Blake.Parada à porta do escritório, ela não sentiu a menor vontade de entrar. Voltou-se

para Louise e avisou-a num repente:— Sabe de uma coisa? Eu vou sair.—

Mas, Srta. Lester, há uma entrevista marcada com o Dr. Gains dentro de vinteminutos!— Mande o s.r. Huston atendê-lo em meu lugar. Você sabe onde encontrá-lo.E, encaminhando-se ao estacionamento, pôs o carro em movimento e seguiu pelos

bulevares de Portland. Deu algumas voltas a esmo, procurando lembrar-se do caminhopara o mirante da cidade. Afinal, reconheceu uma antiga confeitaria, que lhe serviu comoreferência, e partiu na direção certa.

Lá chegando, saltou do automóvel e avançou pelo parque, avizinhando-se damuralha onde estivera sentada com Blake.

Aproximou-se mais e, debruçada sobre o parapeito, admirou o reflexo do Sol naságuas do rio Gorge. Recordando a conversa que tivera naquele mesmo lugar com ohomem que amava, deu um sorriso triste.

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Pouco depois das duas horas, ela regressou ao escritório. Louise recebeu-anervosa:

— O s.r. Huston a espera em sua sala.— Obrigada pelo recado, Louise.Pelo tom da secretária, ele não deveria estar de muito bom humor.— Algum problema, Blake?— perguntou Camile, entrando na sala e reparando na

fisionomia zangada.— Gains tinha um compromisso com você. Onde esteve?— Eu saí.— Você não pode desdenhar de clientes importantes como Gains. Ele ficou furioso,

e com toda a razão!— Você está com a pretensão de me ensinar a melhor maneira de dirigir a Lester

Empreendimentos? Já não bastam as críticas que fez à minha vida pessoal?

Seu tom era áspero e, quando ela sentou-se à escrivaninha, encarava-o com frieza.— Pelo visto, você não está em condições de ter uma conversa adulta!— Ora, ora, a troca de gentilezas está ficando cada vez melhor! Que maravilha!Ela sorriu com ironia e, fingindo examinar um documento, pediu, em tom indiferente:— Diga a Harry que veja o orçamento de Wilson para mim, por favor.— O nome dele é Harris— Blake corrigiu com rudeza, deixando a sala em seguida.Camile deixou-se cair num choro convulsivo, na esperança de que as lágrimas

pudessem desafogar a inexprimível solidão que a assaltava. Quem sabe elas não

afastariam a dor que Blake lhe causava? No entanto, estava certa de que o choro não aaliviaria, pois nada seria capaz de aplacar sua dor.

Na quinta-feira, pouco antes de uma reunião com um grupo de arquitetos, Camiledirigiu-se ao Salão Nobre do hotel, onde acontecia a festa de Gina.

Parou à entrada do recinto, alegrando-se ao ver a irmã de Blake abrindo ospresentes com expressão de felicidade. Aparentemente tudo corria bem, e Camilereconheceu algumas mulheres que haviam estado presentes no casamento de Kathleen eBob.

No centro do salão, sobre uma mesa larga, via-se um enorme e lindo boloconfeitado. Ela passeou os olhos com aprovação pelas paredes azuis, que ostentavamdiversos arranjos de flores.

Nesse momento, Gina avistou-a e acenou, chamando-a para apresentá-la àsamigas.

O chá-de-cozinha era, na verdade, uma grande reunião de mulheres, que comiamdocinhos e tagarelavam com descontração.

Gina, por ser muito tímida, recusara-se a participar das brincadeiras de adivinhaçõese prendas. Camile achou graça daquele pudor e imaginou como ela própria reagiria em talsituação.

Sua passagem pelo salão foi rápida. Pedindo desculpas, voltou para o escritório.Entretanto sentia-se tristonha por não ter encontrado chance de conversar com Anne.

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Louise sorriu quando a viu chegar e avisou-a:— A Sra. Huston esteve aqui agora a pouco, procurando-a. Eu disse que a senhorita

tinha descido ao Salão Nobre e ela foi para lá.Camile meneou a cabeça, com um sorriso desanimado. Havia perdido mais uma

chance de estar com Anne. . . Aliás, sua vida parecia uma rede de desencontros.

Mal tinha se acomodado à escrivaninha, Blake entrou e fechou a porta com umestrondo.

— O que minha mãe está fazendo aqui?— Ela veio ao chá-de-cozinha de Gina.. .— Chá-de-cozinha?— Exato. No Salão Nobre.— Não estou entendendo. . . Minha família não tem recursos suficientes para arcar

com o Salão Nobre!

— Mas eu tenho. Quis dar esse presente a Gina.— Você fez isso? Mas com que direito?Blake exaltava-se cada vez mais, parecendo mais irritado a cada instante. Camile,

no entanto, conservava-se impassível.— Eu teria lhe contado sobre a festa se nós dois estivéssemos agindo como

pessoas maduras, não como adolescentes rebeldes. Acontece que, nos últimos tempos,tudo o que eu digo parece levá-lo à exasperação. Você tem pela frente uns poucos diasna companhia. Será que, ainda assim, precisa me agredir sempre que surge umaoportunidade?

Blake andou até o outro lado da sala e, acalmando-se, passou as mãos peloscabelos, dizendo:— Quero que você anote as despesas deste chá-de-cozinha, centavo por centavo, e

desconte do meu salário.— O quê? — Camile levantou-se, atônita.— Você ouviu muito bem. Centavo por centavo. As lágrimas turvaram-lhe a vista e ela virou o rosto, rezando para que Blake não

percebesse que estava chorando. Era como se o mundo inteiro desmoronasse à suafrente.

— Por que, Blake?— Eu já lhe avisei que você não pode comprar uma família. Muito menos a minha.— Chega, Blake! Eu não aguento mais!Camile saiu da sala e, ao passar pela secretária, esta informou:— A Sala de Conferências da ala B está pronta, Srta. Lester. Sente-se bem? Quer

que eu chame um médico?Louise olhava-a, aturdida. Durante todos os seus anos de serviço, jamais vira a

patroa chorando.

— Cancele a reunião, por favor!Reprimindo a angústia que a dominava, Camile saiu do escritório. Enquanto

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esperava pelo elevador, Blake aproximou-se dela.— Camile, ouça. . .Ela o ignorou. Entrou no elevador, mas, antes que a porta se fechasse, desabafou,

entre soluços:— Ah, Blake, você tem tantas coisas. . . É tão difícil assim compartilhar um pouco

disso tudo comigo?

CAPÍTULO VI

Camile chegou ao apartamento e, meio zonza, deixou-se cair na primeira cadeiraque encontrou. As lágrimas corriam em suas faces, enquanto ela se perguntava se valia apena descobrir os próprios sentimentos ou se era melhor continuar sendo um robô que,

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ao menos, não sofria. Apesar de toda angústia, porém, sabia que era tarde para searrepender, pois já não poderia viver sem amor.

Quando finalmente se acalmou um pouco, foi até a janela observar o movimento dasruas. Como Blake logo iria embora de sua vida de uma vez por todas, ela precisariaarranjar alguma maneira de se distrair, de esquecer a dor. . .

E se fizesse uma viagem? Sim, seria ótimo mudar de ares, conhecer pessoas novas,talvez até mesmo arranjar uma nova paixão.Sempre desejara conhecer Hollywood e o bairro dos artistas, Beverly Hills. Com

certeza, não haveria melhor remédio para seu amor frustrado do que a realização de umvelho sonho. Ainda mais para ela, que sempre fora apaixonada por cinema.

Decidida a levar seus planos avante o mais breve possível, Camile dirigiu-se aoquarto e abriu uma mala sobre a cama, começando a separar algumas roupas leves,próprias para o clima ensolarado da Califórnia.

Batidas suaves na porta tiraram-na de seus devaneios. Deveria ser Louise,preocupada com o estado em que a vira deixar o hotel.

— Entre!Voltando-se para receber a secretária, ficou perplexa ao ver Blake, parado no meio

da sala, indeciso entre ir até seu quarto ou não.— Sr. Huston, esta é minha casa. Não sei de onde você tirou a ideia de vir me visitar

sem ter sido convidado. Por isso tenha a bondade de se retirar. Caso contrário, sereiobrigada a chamar o segurança do prédio.

— Só vim pedir desculpas pelo que disse. . .Ele usava um tom de voz muito brando, mas Camile não se comoveu e prosseguiu

com o tratamento ríspido.— Está bem, já o desculpei. Agora saia!Blake ficou sem ação. Nunca a vira desse jeito. Seus olhos acompanhavam os

movimentos de Camile, da mala para o armário e vice-versa. Não resistindo à curiosidade,perguntou:

— O que você está fazendo?— Não lhe interessa.— Droga! Você está indo a algum lugar e eu preciso saber para onde!— Primeiro: não lhe devo satisfações. Em segundo: Louise será informada acerca

dos detalhes de minha viagem. Caso continue tão interessado, pergunte a ela.— Não acha que está sendo um pouco precipitada?— Se estou ou não, é da minha conta, e você não tem direito de se intrometer.— Você sabe que isso não é verdade, Camile. Precisa me dizer por que está

viajando!Sem dignar-se a responder, ela apanhou o interfone e pediu a presença de um

guarda de segurança.— Pode chamar a Guarda Nacional, se quiser! Não conseguirá me tirar daqui! Não

sem antes conversarmos e pormos tudo às claras!-— E o que há para pôr às claras? Não há nada para resolver! Eu sou a patroa, você

é o empregado. Agora, saia de uma vez por todas!

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— Não!Nesse momento, o pessoal da segurança atendeu o interfone e ela começou a

explicar:— Sim, aqui quem fala é Camile Lester. Estou tendo um problema e gostaria que me

enviassem um segurança. . . Sim, o mais rápido possível, por favor.— E, desligando o

interfone, virou-se para Blake e avisou: — Ah, antes que eu me esqueça: fale com ocontador amanhã. Assim terá certeza de que as despesas do Salão Nobre serãopassadas para a sua conta!

Indo ao banheiro, Camile pegou uma frasqueira e, com movimentos nervosos,começou a enchê-la com apetrechos de maquiagem. Quando quis entrar no quarto, Blakebloqueou a passagem, postando-se à porta.

— Você poderia fazer a gentileza de sair daqui?— Só irei depois de conversarmos.Não querendo deixar dúvidas quanto ao seu aborrecimento, ela cruzou os braços e

fez cara de enfado.— Está bem, então. Diga logo o que quer.Blake olhava-a cada vez mais surpreso com seu comportamento, e continuava

calado. Camile impacientou-se:— O que aconteceu? Esqueceu-se do que ia falar? É bom que se lembre logo,

porque eu não tenho muito tempo.— Sabe, há alguma coisa em você que me faz fazer e dizer coisas tolas. E, mesmo

sabendo que vou feri-la, não consigo agir de modo diferente. . .— São essas as suas "desculpas"?Camile viu-o empalidecer, ao mesmo tempo que seus olhos ficavam marejados de

lágrimas. Não esperava que seu modo de agir provocasse aquela reação em Blake.Nesse momento, o telefone tocou na sala e ela fez menção de atendê-lo. Blake, no

entanto, continuou a impedir-lhe a passagem.— Preciso atender o telefone. Com licença.— Não. Agora não. . .— Estou na minha casa e vou atender o telefone.Blake, magoado, liberou a passagem, e Camile precipitou-se em direção ao telefone.

Ficou perturbada ao ver a maneira como ele a fitava, mas sua voz não traiu nenhumaemoção quando atendeu o aparelho:— Alô. . . Burt, é você?— June entrou em trabalho de parto e me pediu para avisá-la.— Mas tão cedo? Eu pensei que fosse demorar. . .— Estávamos esperando o bebê para daqui a dez dias, mas o médico assegurou

que tudo vai correr bem. June está sendo examinada agora.— Espere um pouco. Estou indo para aí.

Camile desligou o telefone e, preocupada com a amiga, sequer notou Blake do seulado.— Posso saber quem era?

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— Era Burt, avisando que June já foi para a maternidade.Ela consultou o relógio antigo da parede e, apanhando a bolsa sobre o sofá,

preparou-se para sair. Mal cruzou a porta, entretanto, deu com um homem fardado.— Srta. Lester?— Sim — confirmou, indo apressada para o elevador.— A senhorita requisitou a segurança. . .— Não se incomode. Já dei conta do problema. Desculpe-me por tê-lo incomodado.— Não foi nada, senhorita — respondeu o guarda, fazendo uma reverência e se

retirando em seguida.— Camile, vou cuidar dos arquitetos. Amanhã lhe digo qual foi a conclusão da

reunião — gritou Blake, da porta, enquanto a via entrar no elevador.Camile partiu a toda velocidade para a maternidade. Durante o trajeto, perguntava-

se se tudo estava certo com a amiga, fazendo pensamento positivo para que o parto fosse

bem-sucedido. Ela bem sabia quanto essa criança significava para Burt e June.O estacionamento do hospital estava lotado e Camile precisou gastar alguns minutospara achar uma vaga. Assim que conseguiu, foi a passos rápidos para a recepção. Apressada, tomou o elevador para o quarto da amiga.

Uma vez no segundo andar, ela procurou pelo quarto 204, onde June e o marido seencontravam.

Bateu de leve na porta. Burt veio abrir, com fisionomia ansiosa.— Alguma coisa errada, Burt?— Não, está tudo em ordem.— Calma, homem! Tudo vai dar certo! Agora trate de relaxar, porque está parecendo

que é você quem está em trabalho de parto!— Ah, Camile... O fato é que não suporto ver June sofrer desse jeito— desabafou

ele, embaraçado.— Camile, é você? — June indagou num fio de voz, com as faces coradas.— Sim, sou eu, querida. . . E postou-se diante dela.— Espero não tê-la tirado de alguma reunião importante. . .— Ora, sua bobinha! Até que você me tirou de uma situação desagradável. . . —

retrucou ela com uma risada, puxando uma cadeira para perto da cama e sentando-se.— Acordei sentindo contrações, mas não pensei que tivesse chegado a hora.

Entretanto o médico confirmou minhas suspeitas e resolvi avisar você. Afinal, já havíamoscombinado tudo.

— E eu ficaria muito ressentida se não estivesse a seu lado nessa hora, June. Nãose preocupe, você não me atrapalhou em nada. Além disso, os bebês não têm muitanoção do tempo e não costumam ser pontuais. . . — sorriu, afetuosa.

— Como se sente, querida? — perguntou Burt, acercando-se do leito e tomando asmãos da esposa.

Ele a olhava com muita ternura e Camile invejou a sorte da amiga. Perguntou-se se,um dia, ela também seria olhada daquele jeito, com tanto afeto. E, como contraponto,lembrou-se de imediato do olhar de Blake, tão frio e repleto de desdém.

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Enquanto isso, June sorria para o marido, tentando controlar a dor:— Ora Burt, eu estou bem! De qualquer forma, garanto-lhe que vou sobreviver a isto.

Você não sabe que as mulheres vêm tendo bebês desde o início dos tempos?Burt virou-se para Camile, com expressão estarrecida:— Vou lhe dizer uma coisa: ter um filho é uma experiência lindíssima. Jamais sonhei

que fosse assim.O rosto de June contraiu-se e ela deu um longo gemido. Camile segurou-lhe a mão,

observando o semblante que, pouco a pouco, suavizava-se.— A contração, segundo o médico, dura apenas uns trinta segundos . . . Mas eu juro

que são os trinta segundos mais longos que já passei em toda minha vida! — queixou-seJune, num meio sorriso.

As horas transcorreram rápidas e as contrações passaram a acontecer a intervaloscada vez menores.

Quando June foi levada à sala de parto, Burt e Camile receberam uniformescirúrgicos para acompanhá-la.

Algum tempo depois, o choro de um bebê ecoou pelo aposento. Segurando o filhode June, o médico anunciou:

— É uma menina!June não pôde conter uma exclamação de felicidade:— Uma menina, Burt. . . eu queria tanto uma menina! — E, começando a chorar,

emocionada, abraçou o marido.— Três quilos e duzentas gramas — informou a enfermeira, tirando a menina da

balança.Camile sentia-se parte integrante daquela explosão de vida. Com os olhos rasosd'água fitou a amiga, deixando-se sacudir por soluços. Aquele fora o dia mais feliz de suaexistência.

Ainda entre risos e lágrimas, June voltou-se para ele, surpreendendo-se com seuchoro.

— Camile! Nunca tinha visto você chorar!— É tudo tão maravilhoso. . . E sua filha é tão bonita!— Conto a ela ou não? — Burt perguntou à esposa, com um olhar carinhoso. June

fez um gesto afirmativo com a cabeça, e ele continuou:— Camile, nós decidimos que, se fosse uma menina, teria seu nome. E,

naturalmente, queremos que você seja a madrinha. . .— Mas é claro! Oh, eu estou tão comovida!

Uma hora depois, Camile regressava ao apartamento. Porém, mal estacionou ocarro na garagem, deu meia-volta e tornou a sair em direção à casa de Blake!

Ia seguindo o fluxo de carros, entoando baixinho o trecho de uma sinfonia, sentindo-se, enfim, dona do mundo. A cena da pequena Camile vindo ao mundo ficaria marcadaem sua memória para sempre, e ela recordava-se detalhe por detalhe enquanto dirigia,comovida pela prova de afeto que Burt e June haviam demonstrado ao convidá-la paramadrinha.

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Foi com alívio que avistou as janelas iluminadas da casa de Blake. Sem saber bem oporquê, precisava compartilhar com ele o que acabara de vivenciar.

Respirando fundo, pois já sabia de antemão quanto ele a perturbava, saltou do carroe encaminhou-se para a porta. Tocou a campainha, assaltada por dúvidas repentinas.Talvez, ponderou consigo mesma, não tivesse sido boa ideia procurá-lo. Ele poderiarepeli-la devido à frieza com que o tratara. . .

Mas foi um Blake desconcertado que abriu a porta:— Camile! Você está bem?— June teve uma menina!— Que ótimo! Agora entre, que eu lhe farei um bom café.— Obrigada. É justamente o que eu estou precisando — agradeceu ela, entrando

sem cerimônia e seguindo-o até a cozinha.Estava tão agitada que se esquecera de quaisquer convenções sociais.

Blake serviu-a e ela tomou o líquido fumegante em grandes goles, com satisfação.Contou então a novidade:— A criança vai se chamar Camile! E June me convidou para ser a madrinha! Sabe,

é uma menininha de bochechas rosadas e olhos grandes. . . ainda estão fechados, mas jádá para notar que são grandes e amendoados. Ela é perfeita! Pude segurá-la por algunsinstantes na sala de parto. Foi uma sensação maravilhosa, a de segurar aquelacriaturinha recém-chegada ao mundo!

— Vamos nos sentar na sala e você me conta tudo em detalhes — convidou ele,sorrindo com ternura.

Ela relatou o acontecimento dando uma versão detalhada das horas que passara nohospital. Quando terminou, Blake perguntou:

— Você jantou? Depois dessa correria toda, deve estar com fome.— Bem, na verdade, eu nem sequer almocei!— Vou preparar alguma coisa para você comer.— Não precisa se preocupar comigo. . .Mas ele já se havia levantado. Camile foi encontrá-lo na cozinha, examinando o

interior da geladeira.— Temos arroz, verduras, ovos, bacon. . . O que prefere?— Qualquer coisa, obrigada.— Ovos e bacon, então. É a minha especialidade!Camile sentou-se à mesa, enquanto ele cortava finas tiras de bacon e esquentava o

óleo na frigideira.— June foi muito forte e fez questão de que o parto fosse natural. Nem o médico

conseguiu convencê-la do contrário. Burt estava nervosíssimo e fechou os olhos para nãovê-la sofrer. . . Mas não me entenda mal, ele também foi maravilhoso e é indispensável oapoio do marido em uma hora dessas. Para a mulher, é muito importante. . .

Camile engoliu em seco, pensando que nunca teria um filho, e seu entusiasmoesmoreceu. Ficou cabisbaixa, olhando para a xícara de café.

Um silêncio constrangedor estabeleceu-se entre ambos. Foi Blake quem o rompeu,

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com um comentário sobre a reunião que tivera à tarde com os arquitetos:— A conversa com os representantes da Schultz & Filho correu conforme o

esperado. Eles querem que você vá até a costa, na próxima quinta, se possível.— Para mim está bem. Mas vou verificar, minha agenda com Louise e confirmarei

com você.

Camile observou-o cozinhar. Lembrou-se de que, às vezes, Blake a acompanhavaem suas viagens de negócios e perguntou a ele se dessa vez iria também. Diante daresposta afirmativa, sentiu um misto de alegria e mágoa.

Por um lado, a separação iminente estava no ar, lembrando-a quanto sofrimentoteria pela frente, sem a presença querida de Blake. Por outro, a viagem era umaoportunidade de tê-lo por mais uns instantes junto de si.

Ele colocou à sua frente o prato com a omelete de bacon e Camile deu um sorriso deaprovação, sentindo o cheiro bom da comida.

— Ora, eu não imaginava que você sé saísse tão bem na cozinha!

— Aprende-se praticando, e eu já preparei muitas refeições para mim. Também façodoces deliciosos, sabia?

— Não me lembro de ter comido nada tão gostoso, Blake. Está perfeito! —comentou Camile, animada, enquanto devorava a comida.

— Então eu lhe sugiro uma conversa muito séria com aquele chef sofisticado quevocê importou da França para trabalhar no restaurante do Shelter. Sempre lhe falei queera um desperdício. Temos cozinheiros competentes aqui mesmo em Portland.

— Eu proponho um trato: substituirei não só ele, mas todo o pessoal da cozinha,desde que você concorde em continuar trabalhando para mim...

Ele a encarou com impaciência e Camile percebeu que, de novo, conseguiraenfurecê-lo. Baixou os olhos para o prato, arrependida do que dissera.— Desculpe, foi uma brincadeira boba. Não quis fazer nenhuma insinuação.— Ah, não?— Bem, devo confessar que sua demissão me abalou e, a contragosto, fui obrigada

a aceitá-la. Mas tenho razões pessoais para...Não terminou a frase porque estava a um passo de declarar seu amor. Embaraçada,

terminou a refeição e pôs-se a brincar com o guardanapo. Blake estudava-a com atenção,procurando desvendar o que lhe passava pela mente. A fisionomia dela, porém, nãodeixava transparecer nenhuma emoção.

— Você não precisa de mim, Camile.— Creio que não. Agora tenho Harris, não é mesmo? Mas, mesmo assim, sentirei

sua falta.— É claro que sentirá."Se ele soubesse a importância que tem para mim!", ela pensou, ressentida.Exasperou-se pela indiferença com que ele encarava a sua saída da Lester

Empreendimentos, após tantos anos. Pelo visto, ela significava muito pouco para Blake... A fim de não se deprimir com aqueles pensamentos desagradáveis, levantou-se da mesa.

— Posso lavar a louça? Ansiava por alguma coisa que a deixasse ocupada, distraindo-a de tanta melancolia.

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Mas Blake espantou-se com a sugestão.— Camile Lester lavando louça? Essa eu quero ver!— Ora! Quando você jantou em meu apartamento, quem pensa que arrumou a

cozinha? E no dia que almocei na casa de sua mãe não lavei a louça também? Posso ser um robô, mas tenho coordenação motora!

Camile começou a trabalhar, enquanto Blake enxugava e guardava a louça e ostalheres. Executavam a tarefa em silêncio, mas o clima era de cortesia. Quando eleguardou o último prato, já era muito tarde. Os dois ainda teriam que repor horas de sono,a fim de trabalhar na manhã seguinte.

Embora não houvesse desculpas para ficar, Camile não sentia a menor vontade devoltar para casa. Desejava prolongar ao máximo aqueles minutos preciosos ao lado dohomem que amava.

— Bem, acho que preciso ir. . .Ele esboçou um gesto de compreensão, mas não se mexeu, e seu olhar ganhou um

brilho sedutor, num convite irresistível para que ela ficasse.Camile esforçou-se para manter a naturalidade e admirou o quadro na parede da

sala. Resolvida a esticar a conversa, a fim de protelar sua saída, interessou-se:— Você tem pintado alguma coisa nestes últimos tempos?— Nada. Mas pretendo concentrar-me mais nisso, dentro de alguns dias. . .— Eu gostaria de ter uma obra sua. Que tal me vender este quadro?— A arte, para mim, não é comércio. Além disso, a companhia possui em seu

patrimônio obras de artistas renomados. Eles se sentiriam insultados em ter um trabalhomeu ao lado de suas pinturas.

Ele riu, achando graça da simplicidade dela. No entanto, não era bem aquilo queCamile tinha em mente. Seu desejo era colocar o quadro de Blake no apartamento.Desejava uma lembrança dele, dos instantes mágicos que haviam vivido juntos. . .

Mas, em vez de revelar seu romantismo, ela preferiu calar-se. Numa pausa quepareceu durar toda a eternidade, contemplou o corpo másculo, as feições marcantes, osolhos escuros. . . Trêmula, sorriu timidamente e comentou:

— Afinal, nós conseguimos. . .— O quê?— Não tivemos nenhum desentendimento esta noite. Batemos nosso recorde. . .

— Isso porque você falou a respeito de minha demissão apenas uma vez.— Devo admitir que precisei dominar-me para não tocar no assunto.— É tão difícil para você aceitar o fato?— Sim. . .Eles saíram e avançaram pelo gramado, parando ao lado do carro de Camile.— Sabe, ao analisar minha vida, vejo que deixei a Lester tomar conta de minhas

vontades. Desperdicei tanto tempo. . . — ela desabafou, tomada de súbita tristeza.— E quanto ao presente?— Eu não sei. . . Às vezes me sinto tão confusa. . . Mas sei que devo mudar e cuidar

de mim mesma como ser humano, e não mais como uma máquina infalível.

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— Ao me fazer tais confissões, você me põe numa situação embaraçosa. Eu poderiausar suas fraquezas para manipulá-la.

— Confio em você. Mais do que em mim mesma, às vezes.— Você fala em nome da Lester Empreendimentos?— Sim. E no meu também...Ele ficou em silêncio, mirando o horizonte. Camile duvidou que tivesse escutado

suas últimas palavras. Blake, porém, ergueu os olhos para o céu enluarado,concentrando-se nos próprios pensamentos. Em seguida voltou-se para ela e expressousua indecisão. Já não estava tão seguro de querer a demissão.

— Tenho de pensar muito no assunto. . .— Quando pode me dar uma resposta? A voz dela era um apelo, e seu coração batia acelerado. Se Blake desistisse da

demissão, então seria possível aprofundar os laços que os uniam, torná-los talvezeternos. . . A perspectiva de perdê-lo, justamente quando o descobria como o homem desua vida, era intolerável.

A voz de Blake soou grave:— Eu lhe direi no começo da semana.— Ótimo. Então, boa noite. E obrigada por reconsiderar o assunto. Ao deixá-lo, Camile sentia as esperanças renovadas. Ao menos, ainda restava uma

possibilidade. . .

CAPÍTULO VII

Na segunda-feira, Camile entrou no escritório exultante e cumprimentou Louise comum sorriso aberto, franco. A secretária olhou-a, sem entender o porquê daquelecomportamento, e retribuiu a saudação. Camile tinha certeza que ela já não sabia mais oque pensar de suas atitudes, e era bem provável que atribuísse aquelas mudanças dehumor à saída do gerente.

Naquele dia, conheceria a decisão de Blake e estava quase certa de que elereconsideraria sua atitude. Um sentimento intuitivo dizia-lhe que Blake Huston não eraimune à sua presença. . .

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— Louise, quando o Sr. Huston chegar, peça-lhe para vir até o escritório, está bem?— Ele já está aqui, Srta. Lester.— Ótimo!Muita coisa havia mudado entre os dois num curto espaço de tempo. Ao perceber

como ela se mostrava diferente, Blake não teria mais motivos para sair da companhia. ECamile acreditava que ele, no íntimo, não queria partir.

Seu pai a ensinara a esperar sempre o melhor, embora prevenindo-se contra o pior.Sendo assim, o que aconteceria se Blake deixasse a companhia? De um ângulo objetivo,nada mudaria, já que Harris parecia competente o bastante para assumir o posto degerente.

Entretanto, Blake não era apenas um gerente geral competente. Era o homem queCamile amava e, para ela, sua presença tornava-se fundamental.

— Bom dia. Você queria me ver?— saudou Blake, entrando.— Sim, eu o chamei aqui. . . Meu Deus, você está bem?— assustou-se ela, diante

da palidez e das olheiras escuras que ele trazia no rosto.— Acredito que queira saber qual foi minha resolução.— É claro. . .Tudo o que Camile queria, na verdade, era gritar seu amor e ouvi-lo dizer que nunca

a abandonaria.— Não foi fácil tomar uma decisão, sabe?— Eu imagino.Em seu íntimo, Camile rogava a Deus que não deixasse aquele homem sair de sua

vida. Aguardava, angustiada, a resposta que poderia mudar o seu destino.— Eu não posso ficar na Lester.— Não pode? Mas por quê?Camile levantou-se da cadeira, trêmula, tentando dissimular o desgosto que se

abatia sobre ela.— Pelas mesmas razões de antes, ora!— Compreendo. Em outras palavras. . .— Em outras palavras, muita coisa mudou entre nós.

— Mas mudaram para melhor. Eu me esforcei tanto!— Esforçou-se demais, gatinha.Ela não sabia mais que argumentos empregar para fazê-lo desistir. As palavras eram

inúteis, porque ele estava decidido. A dor invadiu-a intensamente.— Estou seguro de que minha decisão é correta. Inclusive, penso que seria melhor

Harris acompanhá-la na viagem de amanhã.Camile assentiu com expressão sofrida. Blake continuou, então, com fisionomia

grave, mas conciliadora:—

Meu último dia de trabalho será na quarta-feira. Se você preferir, porém, eu mecomprometo a ficar mais alguns dias.— Não, obrigada. Se você já decidiu partir, não prolongue o inevitável. Seria pior

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para nós dois — ela rebateu, entre ressentida e magoada.— Você está parecendo seu pai, falando desse jeito.— Estou mesmo? Bem, não há nada de estranho nisso. Afinal, sou filha dele!— Camile. . .—

Desculpe-me, Blake, mas, agora que já resolvemos nossos problemas, é melhor você sair. Tenho uma entrevista marcada para daqui a alguns minutos — pediu ela comfrieza, evitando olhá-lo.

Logo ouviu a porta bater e, com surpreendente firmeza, chamou Louise:— Tenho alguma coisa marcada para esta manhã?Do outro lado da linha, a secretária listou uma série de compromissos.— Transfira-os para outro dia, Louise. Preciso sair.— Sair? — repetiu a secretária, incrédula, avisando que haveria uma reunião

importantíssima logo mais.— Estarei aqui para o encontro com Tefferson, não se preocupe. Quanto ao resto,

cancele tudo.— Devo cancelar todos os compromissos do dia?— Não. Só os do período da manhã.Uma hora mais tarde, na tentativa de se distrair, Camile dirigiu-se até o shopping

center e, enquanto subia a rampa entre um piso e outro, via diversos casais denamorados circulando, fazendo-a sentir-se ainda mais miserável.

O rosto de Blake estava gravado em sua memória e ela parecia enxergá-lo paraonde quer que olhasse. Não suportava ser apenas uma espectadora daquela cena decasais apaixonados. Embora a dor que a dominava fosse muito viva, ela se sentia comouma simples narradora que não participava da história da vida.

Mas, ao menos, podia dar-se ao luxo de uma compensação material: comprariapresentes para si mesma e para a pequena Camile.

Andou de loja em loja e comprou tudo o que lhe agradou, desde roupas caras eousadas até diversos brinquedos e roupinhas para a afilhada.

Depois, apressada, porque não poderia se atrasar, deixou as compras em seuapartamento. A última coisa que queria era que Blake visse os pacotes e a acusasseoutra vez de estar tentando comprar uma família.

Retornou ao escritório e, ao passar por Louise, deu-lhe um pequeno presente.— O que é isso, Srta. Lester? — perguntou a secretária, sem entender, enquanto

desfazia o embrulho.Uma caixinha de bombons escorregou para sua mão espalmada e ela agradeceu,

deliciada:— Oh, muito obrigada! Não precisava se preocupar comigo. . .— Ficam como agradecimento pelo trabalho que lhe dei hoje, cancelando os

compromissos da manhã. Você merece muito mais.

A secretária encarava-a, entre alegre e atônita:— Muito obrigada, Srta. Lester.

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— Muito obrigada digo eu! A lista de recados telefônicos era bastante comprida. Diversas pessoas haviam-na

procurado durante sua ausência, algumas delas com mensagens importantes. Um certoDirk Evans, da Rede Internacional de Hotéis, estava interessado na aquisição da cadeiaShelter, e desejava marcar uma reunião.

Camile encaminhou-se para sua sala, pensativa. Ocorreu-lhe que Isaac. Lester iriarevirar-se no túmulo se soubesse que passava pela cabeça da filha vender os HotéisShelter. Mas, afinal, para que serviam todos aqueles monumentos de lucro e sofisticação?Não acabavam com a depressão nem com a infelicidade de Camile, que, mesmo que sedesfizesse deles, continuaria uma mulher rica, vivendo com conforto e tendo sempre àmão tudo o que desejasse. Ou melhor, quase tudo.

Entretanto, ela sabia que, apesar de a oferta ser tentadora, não poderia jamaisvender a cadeia de hotéis, que já era parte de sua vida. Além isso, a profissão era a únicacoisa que lhe restava em termos de realização pessoal. O trabalho era sua única família.

O toque do interfone trouxe-a de volta à realidade.

— Edie Albright na linha três— informou a secretária.Camile agradeceu e, apertando um botão no aparelho, atendeu:— Olá, Edie. Tudo bem?— Mais ou menos.— O que foi, querida? Você está com uma voz chorosa. . .— É que Fred viajou. Ele precisou ir a Nova York para resolver negócios

importantes. Estou sozinha, triste e aborrecida. Pensei que poderíamos jantar juntas hojee pôr a conversa em dia, se você tiver tempo.

— Seria ótimo, Edie. Eu também ando um pouco deprimida — Camile respondeu,disfarçando um pouco a angústia, porque não queria que ela e Edie terminassem a noitechorando sobre a mesa de um restaurante.

— Então nós haveremos de nos consolar com um bom prato de comida! Alegro-meque possa sair comigo, querida. Pensei que você estaria ocupada demais. . .

— Façamos o seguinte, então: eu a encontro às sete, no hall principal do hotel, estábem?

— Perfeito. Aí lhe contarei as novidades sobre minha gravidez. Tudo está correndode maneira bem diversa do que eu havia imaginado!

— Então está combinado. Até mais tarde, Edie.— Até mais, querida.Camile desligou, satisfeita por poder rever a amiga. Edie era uma companhia

descontraída que, com suas excentricidades e trejeitos engraçados, fazia as coisas maisestouvadas nas horas mais inesperadas.

Camile passou a tarde atarefada e, ao final do expediente, desceu para o hall dohotel. Edie ainda não havia chegado. Consultando o relógio de pulso, ela constatou quesobrava-lhe meia hora para tomar um banho e mudar de roupa. Seduzida pela ideia deum banho morno, após o dia estafante que tivera de enfrentar no escritório, foi para casa,apressada, contando os minutos para não fazer Edie esperar.

A mesa da sala ainda estava ocupada com os diversos pacotes que trouxera

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naquela manhã, mas Camile decidiu guardá-los mais tarde. Entrou no chuveiro e banhou-se rapidamente. Quando preparava-se para sair, ouviu batidas na porta.

— Um minuto, que já estou indo atender!— gritou de dentro do quarto, vestindo umroupão. Encaminhou-se então para a porta e abriu-a com um sorriso:

— Pensei que o combinado fosse nos encontrarmos às sete, no hall do hotel. . .

Camile parou de falar, atônita, ao ver que, à sua frente, estava ninguém maisninguém menos que. . . Blake Huston!

— Posso entrar?O tom de voz era sério, porém seus olhos expressavam divertimento, enquanto

observavam o roupão amarelo que Camile vestia. Ela desviou o olhar, embaraçada.— Eu. . . não estou vestida de modo adequado para receber visitas. . .— Então, troque de roupa, se isso a faz sentir-se melhor — disse ele, entrando.— Eu tenho que...

— Vou lhe tomar apenas um minuto, não se preocupe.— Ainda assim, prefiro vestir-me.Camile virou-se para ir até o quarto, mas tropeçou na mesa lotada de embrulhos.

Blake voltou sua atenção para os presentes e, retirando um casaquinho de bebê dedentro de uma sacola, deslizou os dedos pelo tecido felpudo.

— Isto me parece um pouco pequeno para você — zombou, segurando a roupinha.— Como você deve perceber, esse casaquinho não é para mim.— Eu sei, estava apenas brincando. Não precisa ficar brava. Você vai dar de

presente à pequena Camile, não é? Comprou tudo isso para ela? — perguntou Blake,apontando para a pilha de pacotes.

— Não é da sua conta. E não ouse dizer que estou tentando subornar June paraconquistar afeto!

— Mas você já tem o afeto de June, Camile. Agora é parte da família dela.Camile olhou-o, confusa. Não compreendia por que ele estava ali, observando-a com

uma expressão quase paternal. Queria mandá-lo parar de encará-la daquele jeito,deixando de torturá-la. . . Então, num movimento súbito, apoiou-se na mesa e desafiou-o:

— Há alguma coisa que queira me dizer, Blake?

— Sim. Harris não poderá viajar amanhã, porque seu filho adoeceu. Terei de ir nolugar dele. . . Mas não precisa fazer essa cara entediada. Sairemos pela manhã e à tarde já estaremos de volta a Portland.

— Certo. . . E por que não? "Maravilhoso!", pensou ela, sarcástica.O filho de Harris resolvia ficar doente justamente àquela altura dos acontecimentos,

atirando-a aos braços de Blake!— "Por que não", pergunto eu, Camile— murmurou ele, magoado.— Deixe isso para lá.Dando de ombros, ela atravessou a sala e postou-se à janela, de costas para Blake.— Eu a vejo amanhã, então.— Está bem. Até amanhã.

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Mas ele não saiu da sala. Ao contrário, aproximou-se mais e parou ao lado dela,numa expressão indefinível no rosto.

— Deseja mais alguma coisa, Blake?Ele hesitou um pouco antes de responder, com uma voz que era quase um sussurro:— Não. . .— Ótimo. Nos veremos amanhã.Ele nada respondeu. Apenas virou-se e, com passos lentos, deixou-a sozinha no

luxuoso apartamento.Edie já a esperava no restaurante do hotel e acenou, vendo-a entrar. Quando Camile

tomou seu lugar à mesa, a amiga exclamou:— O que houve, querida? Você está abatida. . .— Oh, Edie, como seu comentário me deixou feliz! Adoro elogios como esse!— Imagine, querida! Demonstre todas as suas tristezas, pois o mundo inteiro precisa

saber dos nossos dissabores. Olhe bem para nós: duas mulheres arrasadas, que embreve irão desafogar as mágoas num prato de comida!— Mas o que aconteceu para deixá-la tão infeliz, Edie?— Simplesmente não consigo parar de comer doces. . . não é terrível?— E qual é o problema?— Primeiro: o açúcar é um veneno, faz mal ao organismo. E esse veneno está indo

para meu filho. Segundo: já imaginou quanto vou engordar? Ao perceber que a amiga falava sério, Camile conteve um sorriso e respondeu,

zombeteira:— Mas será que engorda mesmo?— Lógico que sim, e muito! O mais absurdo é que, desde criança, sempre detestei

doces. E então bastou-me uma gravidez para aparecer essa obsessão inexplicável. . .— Ora, acalme-se, Edie. Não é tão terrível assim. . .— Mas esse não é o único problema. Ando muito sensível, sabe? Ontem, eu estava

assistindo a um jogo de basquete pela televisão e, vendo aqueles jogadores de doismetros de altura, pensei no meu bebê que está por nascer, tão pequeno e frágil. . . Daí,comecei a chorar feito uma criança desesperada. Fred não entendeu nada e largou orelatório, vindo preocupadíssimo me consolar. . . Pense só, querida, que situação maistola!

— Eu não sou perita no assunto, Edie, mas será que o aumento de sensibilidade nãofaz parte da gravidez?

— Por que não conversa com June a respeito? Ela pode orientá-la nesse sentido,pois já é experiente nessas coisas.

A conversa foi interrompida pelo maitre, que trouxe os cardápios, fazendo um sinalbem educado de reconhecimento a Camile. Edie examinou o cardápio e, meneando acabeça, cobriu o rosto com ambas as mãos.

— O que foi, Edie? Algo errado?— Eu bem sabia que isso iria acontecer! Tudo me parece divino e não consigo

resistir! Vou pedir lasanha, ensopado de ostras e um filé com fritas. E, de sobremesa,

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claro, a mousse de chocolate de sempre. . .— Edie! Isso é comida suficiente para alimentar um batalhão!— Sinto muito, mas não consigo me controlar.— Se a vir comendo tudo isso, eu é que vou ficar enjoada!—

Tudo bem, tudo bem. . . Você faz os pedidos. Eu não confio muito no meu estadointeressante.— Então, que tal um prato alemão? Bolinhos de batata, filé de frango grelhado com

molho de páprica e arroz, além de uma salada de repolho. Eu lhe garanto que é pesado osuficiente para satisfazer seu notável apetite.

— Certo. Então peça também uma cerveja. Assim teremos uma entrada bem alemã— disse Edie, estalando a língua.

Enquanto esperavam a comida e bebericavam cerveja, Edie enveredou por umassunto que constrangeu a amiga:

— Agora, conte-me sobre sua vida. Já arranjou algum namorado alto, moreno eforte?

— Ainda não. . . Você soube que eu presenciei o parto de June? — Camileapressou-se em falar, mudando o rumo da conversa,

— Ela me disse, quando fui visitá-la na maternidade. Imagino que tenha sido umaexperiência e tanto para você!

— Foi a experiência mais bonita de minha vida! Acho que nunca mais vou esquecer aqueles momentos.

— Mas não fuja da raia, sua farsante! A respeito disso conversaremos em outra

ocasião. Agora quero saber se pensou sobre aquilo que lhe falei em nosso últimoencontro.— Prefiro não tocar nesse assunto.Camile enrubesceu, desviando a vista para o copo, enquanto a amiga perscrutava-a

com o olhar, tentando adivinhar o que lhe ia pela mente, e insistia.— Se eu persisto nisso é porque sei que um amor lhe faria bem. Aliás, já está

fazendo: você está mais magra e tem um rosto sonhador. Quem é ele? Não seria o tipoarrebatador que vimos na noite em que jantamos com June?

— Não. . . aquilo foi uma bobagem e não deu em nada— mentiu Camile, torcendoas mãos e procurando disfarçar o embaraço.

Entretanto, Edie nada percebeu e continuou a falar, sem tomar consciência docrescente acanhamento da amiga:

— Não se sinta desencorajada, querida. Foi sua primeira tentativa, mas haveráoutras. Quer que eu lhe aponte mais um namorado em potencial? Basta dar uma olhadaem volta e. . .

— Não, Edie, deixe disso! Sou perfeitamente capaz de encontrar um homemsozinha, se quiser.

— Se quiser?

Nesse minuto a comida chegou e Camile sentiu-se agradecida por poder desviar aatenção da amiga, explicando-lhe as maravilhas da cozinha alemã.O diálogo entre as duas correu em meio a amenidades, depois da farta refeição, e

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decidiram beber um último drinque, ali mesmo, no bar do hotel.O pianista de meia idade fazia uma apresentação e a assistência era numerosa ao

redor do palco. As duas sentaram-se a uma mesa afastada do aglomerado de pessoas e o garçom

logo trouxe os coquetéis. Foi então que, de repente, Edie sussurrou, entusiasmada:

— Não olhe agora, mas adivinhe quem está aqui!— Quem? James Dean?— Não zombe! É o mesmo homem que vimos da última vez que estivemos aqui.Camile afastou a cadeira, a fim de enxergar o recém-chegado. Não imaginava,

entretanto, que só poderia tratar-se de Blake.— É um belo homem, concorda? — provocou Edie, apreciando os gestos firmes de

Blake com um sorriso malicioso.Camile, cansada da "campanha" da amiga, discordou, só para provocá-la:

— Se é um tipo que lhe agrada, Edie. . .— Mas você ainda não percebeu que esse homem é o tipo que agrada a qualquer

mulher? Você reparou nos olhares que ele atraiu, assim que entrou?Claro que Camile havia reparado, e sentia-se invadida por uma onda incontida de

ciúmes. As palmas das mãos suaram e a garganta ficou seca ao ver uma loira, alta eexuberante, encostar-se no balcão, ao lado de Blake.

A desconhecida tirou um cigarro da bolsa e pediu fogo a ele, que lhe estendeu oisqueiro aceso, com movimentos gentis, solícitos.

Edie, alheia à tempestade que se armava no coração de Camile, prosseguiu comseus comentários:

— Note como aquela loira age, querida. Ela sabe o que faz. Preste atenção, poispode ser-lhe útil quando estiver na mesma situação.

Mas Camile tinha um só pensamento: aquela mulher não tinha o direito de flertar com Blake! Ele lhe pertencia! De súbito, porém, sua indignação deu lugar a uma terrívelmelancolia. Ele não lhe pertencia, afinal. . .

E, entre observá-lo trocando amabilidades com uma loira atraente e olhar para o seudrinque, Camile optou pela última alternativa, fitando com insistência a bebida à suafrente. Uma exclamação de Edie arrancou-a de sua distração:

— Eu não acredito! Querida, não pode ser verdade!— Não acredita em que, Edie?— Você não viu?— Pare com o suspense! Eu não vi o quê?— Nosso homem dispensou a loira! Foi de uma sutileza incrível! Aposto como é um

desses sujeitos difíceis de conquistar. Ainda bem que você não estava no lugar daquelamulher!

— É. . . ainda bem — repetiu ela, com amarga ironia.

— Mas veja: observando nosso homem com mais atenção, começo a desconfiar quese encontra em profunda depressão.— Depressão? — Camile perguntou, entre curiosa e apreensiva.

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— Sim. Note a maneira como ele se encosta no balcão, as mãos enfiadas nosbolsos, o corpo tenso, numa postura que desencoraja qualquer tentativa de aproximação.

— Ora, Edie, se ele quisesse mesmo a solidão, iria sentar-se a uma mesa.— Pelo contrário, minha amiga! A mesa, em vez de isolá-lo. Seria um convite aberto

para atrair uma companhia feminina. O que esse sujeito quer é ficar sozinho. . .

— Mesmo assim, o fato de ele desejar um pouco de solidão não implica que estejacom o coração dilacerado.

— É verdade. Mas que nosso homem está com problemas, isso está. Observe alentidão com que beberica seu uísque. Até parece que brigou com a namorada! Aliás,querida, você e ele estão com a mesma fisionomia desanimada.

Os olhos de Edie fixaram-se em Camile, que conseguiu despistá-la, fazendo-se dedesentendida:

— Eu, com fisionomia desanimada?— Ora, deixe isso para lá — Edie falou, pensativa, enquanto continuava a olhar

Blake.Camile aproveitou a ocasião para desviar o assunto e contou sobre a viagem que

pretendia fazer.— Não é maravilhoso, Edie? Serão as primeiras férias que tirarei em cinco anos!

Estou com sérias intensões de ir para Hollywood, mas talvez acabe decidindo-me por umcruzeiro através dos mares.

— Só acredito vendo! Camile, vou lhe dizer uma coisa: você não seria capaz de ficar sem fazer nada!

— Mas é claro que seria! Vou aproveitar para retomar minhas lições de francês, lereios livros que tiver vontade, cozinharei, aprenderei a costurar e. . . — Calou-sebruscamente, notando o olhar admirado que a amiga lhe lançava.

— Não posso acreditar que esta seja você!Camile riu, rezando para que Edie não começasse a tecer comentários

constrangedores.— Há muito tempo que desejo fazer isso — falou, imprimindo à voz um tom de

naturalidade.— Mas seus planos mais parecem o roteiro diário de uma dona-de-casa do que o de

uma executiva em férias!— Bem, e o que há de errado nisso? Trata-se de algo inédito para mim. E férias é

tempo de tentar novas experiências. . .— Não se zangue. Bem, no fim das contas, é uma loucura, June já embarcou nessa

e eu serei a próxima. Logo mais, será a sua vez. Pense nisso. . . nós três, às voltas combebês, comida cozinhando no fogão, roupas para serem lavadas. . . Consegue visualizar a cena?

Camile mordeu o lábio inferior, desgostosa. Não que quisesse se tornar uma dona-de-casa igual à que a amiga descrevia, mas possuir um lar seria tão bom! A únicacondição que impunha era a presença de Blake, partilhando com ela cada instante de

familiaridade e companheirismo.Dirigiu um breve olhar para a figura dele, encostado ao balcão com displicência. Fezum esforço supremo para não correr até lá e abraçá-lo, pois sabia que seria uma loucura.

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Na certa, Blake a rejeitaria como naquela manhã, ao anunciar sua demissão.Nesse instante, Edie indicou a direção do bar com uma expressão de incredulidade

no rosto.— Olhe quem vem vindo!— Edie sussurrou, cada vez mais atônita.Quando Camile virou-se para ver quem era, defrontou-se com Blake, que parou ao

lado da mesa e cumprimentou-as com polidez. Ela engoliu em seco, sentindo o coraçãodisparar.

— Nós não acertamos a hora em que nos encontraríamos amanhã. Às oito está bempara você? — ele perguntou, sem fazer menção de juntar-se a elas.

— Sim. . . é um bom horário— respondeu Camile, com dificuldade para articular aspalavras.

— Até mais, então.Edie olhava-os boquiaberta. Então ele se afastou e ela virou-se para Camile, dizendo

num tom entre acusador e zombeteiro:— Muito bem, Srta. Camile Lester! Acho que me deve algumas explicações. . .

CAPÍTULO VIII

As hélices possantes entraram em funcionamento e Camile, sentada à janela,manteve os olhos fixos no chão que se distanciava, evitando fitar Blake, acomodado a seulado. O barulho do helicóptero impossibilitava qualquer conversa, e ela sentia-se grata por isso.

Pensou nas ironias que a vida lhe reservara: se aquela viagem tivesse sido marcadapara a semana anterior, estaria excitadíssima com a presença de Blake, tão próxima.Teria se apresentado, então, a oportunidade tão esperada para conhecê-lo melhor edesvendar os mistérios que se escondiam por trás daquela máscara de homemintrovertido e imprevisível. Agora, no entanto, sentia que nada tinha a lhe dizer.

— Camile. . .— começou Blake, pondo a mão em seu ombro.

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— O que é?— Ainda há tempo de voltarmos e apanharmos o carro. Não demorará mais do que. .

.— Não quero ir de carro. Prefiro o helicóptero.Ela fechou os olhos, aconchegando-se no encosto da poltrona. Blake havia insistido

para que fossem de carro, mas Camile recusara, pois não sabia o que ele pretendia aofazer aquela sugestão. Além disso, o silêncio entre os dois era insustentável e ela nãosuportaria a quietude de uma viagem de carro.

Notando que ele se levantara, Camile abriu os olhos e viu-o falando com o piloto,que disse alguma coisa a Blake em voz baixa. Em seguida, ele voltou a seu lugar esentou-se.

— Tudo certo?— Tudo. Não há com que se preocupar. Apesar do tom tranquilizador dessas palavras, Blake não a convenceu, pois

continuava com a fisionomia preocupada.— Você está sendo sincero?— Claro, Camile. Pode ficar calma.Ela assentiu, embora soubesse que não ficaria calma enquanto ele estivesse a seu

lado. Blake notou-lhe a tensão e, num gesto carinhoso, protetor, colocou as mãos sobreas dela. Esse ato, porém, a irritou, pois Camile já estava farta das mudanças de humor deseu companheiro de viagem.

Lembrando-se da perplexidade de Edie na véspera, ao vê-la conversando comBlake, deixou que um meio sorriso se desenhasse em seus lábios carnudos. Quandocontara à amiga que o conhecia há oito anos, Edie chamara-a de felizarda.

Agora, podia lembrar-se, palavra por palavra, do diálogo que se travara entre elas:— Sempre trabalhei com Blake, que nesse momento está prestes a deixar a

companhia.— E por que ele se demitiu?— Eu não sei. Tentei de tudo para dissuadi-lo da ideia, mas sua convicção é

inabalável.— E não há nenhuma possibilidade de vocês dois fazerem as pazes?

Ela não soubera o que dizer à amiga; apenas enrubescera. Logo em seguida,porém, Edie saíra-se com mais uma de suas perguntas embaraçosas:— E quanto ao pai de seus filhos?— O meu o quê? — Camile perguntara, sem conter o riso.— Da última vez que conversamos, falamos sobre a ideia de você ter um filho, está

lembrada?— Sim, Edie, mas este não é o momento certo para pensar nisso.— Por que não? Você é uma mulher forte, independente, tem todas as condições

necessárias para criar um filho.— Não posso acreditar no que você está propondo! Por acaso sugere que eu tenha

um filho de Blake?

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— Não se enfureça, mas é justamente esta a minha proposta. Blake está indoembora, não é? Quanto a você, deseja um filho, não um marido. A meu ver, a combinaçãoé perfeita!

Edie e suas maluquices. . . Camile sorriu de novo ao lembrar-se da expressão daamiga ao dizer aquilo e observou Blake, sentado a seu lado. Sentiu-se incapaz de integrá-lo à ideia insensata de Edie. Às vezes, julgava-se tão diferente da amiga que não entendiapor que se davam tão bem.

Uma hora mais tarde, já em terra, Camile estudava os projetos da companhiaSchultz & Filho.

O terreno adquirido, perto da costa, era adequado e ela considerou que a expansãoturística ali seria um dado fundamental para o sucesso de um futuro hotel. A compradaquela área fora um investimento de peso, que a médio prazo traria lucros astronômicos.E Blake fora o responsável pela transação.

A manhã passou com rapidez, Camile deixou o escritório dos arquitetos e visitou aárea onde já estavam sendo construídas as futuras instalações de mais um Hotel Shelter.

Ela passeou por largas colunas, salas semi acabadas e alicerces. A inspeção, quesemanas antes teria sido motivo de euforia, deixava-a entediada. Um hotel a mais ou amenos não lhe faria diferença. Duvidava muito que uma construção de concreto pudessedar-lhe um mínimo de felicidade.

Mas um sorriso desenhou-se em seus lábios quando cruzou o recinto do restaurantee viu Blake almoçando na companhia de John, o piloto. Reuniu-se a eles, aguardando queacabassem de comer para então regressarem a Portland.

Minutos depois, entretanto, os problemas começaram a bordo do helicóptero, que

não respondia ao comando.— Alguma coisa errada? — perguntou ela, apreensiva.— Não sei, mas já vou descobrir — disse Blake, indo conversar com o piloto.Os dois trocaram algumas palavras e logo ele estava de volta.— E então?— Precisamos verificar o motor. Esta manhã, antes de partirmos, John testou o

helicóptero e notou que as engrenagens não estavam bem presas. Foi por isso que sugeria viagem de carro.

—Se você me tivesse avisado do problema, eu não me oporia a vir por terra. Masagora já está feito. Quanto tempo demorará o conserto?

— Uma ou duas horas.Camile umedeceu os lábios, irritada com suas fantasias absurdas. Como pudera

pensar que Blake havia tentado convencê-la a ir de carro na intenção de aproveitaremalguns momentos a sós?

Aborrecida, decidiu que não enfrentaria mais duas horas na companhia dele. Assim,avisou que passearia um pouco pela praia. Entretanto, Blake não lhe deu atenção,entretido em examinar o motor do helicóptero.

Camile desceu pelo barranco escorregadio do terreno e, em alguns minutos,alcançou a areia. Descalçou as sandálias de saltos altos e, segurando-as, correu paramolhar os pés na água, deliciada com aquele contato refrescante. Em seguida, pôs-se a

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caminhar pela praia deserta, presa de um delicioso sentimento de liberdade.Ela vagava, deslizando descalça pela areia macia, enquanto seus pensamentos se

voltavam para Blake. Os olhos verdes ficaram rasos d'água e ela fitou o azul-turquesa domar com expressão melancólica. Só o tempo poderia apagar a dor que sentia. Mas atéquando aquele sofrimento haveria de persistir? Ninguém poderia lhe dar a resposta. . .

Ao voltar para o local da construção, ela avistou Blake, que, do alto dos alicerces, aobservava, solitário. Ficou perturbada com aquela atitude estranha.

Quando atingiu a área do futuro hotel, Blake veio ao seu encontro:— Acabei de falar com John.— E ele acha que já podemos partir?— Ouça, o problema é mais grave do que imaginávamos. Ao que tudo indica,

teremos de passar a noite aqui.—

Mas eu não quero!— Não temos outra escolha.— Então alugue um carro. E, se isso também não for possível, compre um. Quero

voltar para Portland ainda hoje!— Não me irrite, por favor. Não temos outra saída senão ficar.— Você ainda é meu funcionário, Blake, e continuará sendo nas próximas vinte e

quatro horas. Portanto, espero que faça o que pedi. Depois disso, estará livre para agir como bem entender.

Mal acabou de falar, ela se arrependeu, vendo-o cerrar os punhos, cada vez maiszangado. Respirando fundo, tentou retificar-se:

— Desculpe-me se agi de modo autoritário. Tome as providências que julgar necessárias. Eu me comunicarei com Louise e resolverei os problemas de Portland daquimesmo.

Algum tempo depois, Camile circulava pelo quarto do hotel onde estava hospedada,segurando o telefone conversando com Louise.

Uma batida à porta cortou sua conversa.— Quem é?— Sou eu — a voz de Blake soou, grave, através da porta.— Escute, Louise, Blake deseja falar comigo. Amanhã cedo eu torno a ligar. Até

mais.Desligando o telefone, Camile ajeitou os cabelos em frente ao espelho e correu a

abrir a porta.— Achei que você precisaria de algumas coisas — disse ele, entregando-lhe um

pequeno embrulho, contendo sabonete, escova e pasta de dentes.Ela sorriu, contente, mas não se deu por satisfeita.

— Obrigada, mas o que eu preciso mesmo é de um bom drinque!— Gelado, eu imagino.. .

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— Sim, bem gelado — ela concordou, enquanto o acompanhava ao bar.Era fim de tarde e as cores do pôr-do-sol invadiam o lugar. Sentaram-se a uma mesa

próxima da janela e Camile sentiu que, embora permanecessem calados, a atmosferaentre ambos era de cordialidade. Serena, observou as ondas se quebrando na praia.Nesse instante, uma linda gaivota branca cruzou os ares, num maravilhoso contraste como azul vivo do céu. Camile suspirou. Se ao menos pudesse voar, abandonando todos osproblemas, levando consigo apenas uma intensa sensação de liberdade. . .

— Você quer jantar, Camile?— É uma ótima ideia.Blake encomendou frutos do mar e vinho branco gelado. Saborearam a comida com

satisfação, pois ambos estavam famintos.— Nosso chef do Shelter bem que poderia aproveitar algumas dessas receitas —

comentou ela, deliciando-se com um prato de camarões gratinados.— Você e esse maldito cozinheiro! Sabe que trazê-lo para os Estados Unidos me

deu um trabalhão danado? Você inventa cada uma. . .— Pelo visto, continuo inventando. Ultimamente, tem faltado muito pouco para vocêpular no meu pescoço!

Ela sorriu, mas seus olhos traíam o quanto estava ressentida. Uma música suaveinvadiu o ambiente e os olhos castanhos fitaram-na com doçura:

— Vamos dançar, Camile?— Está bem. . .Ela aceitou com uma ponta de relutância, seguindo-o ao pequeno tablado que servia

de pista.Com o corpo de encontro ao dela, Blake guiava-a por entre os outros pares. Camile

reclinou a cabeça sobre o ombro largo e congratulou-se pela sua insistência em viajaremde helicóptero. Não fosse o incidente, teria perdido sua última chance de ficar com Blake.

— Camile. . .— Não fale. . . Abrace-me, uma última vez. . . Rodopiaram pelo recinto, embriagados

com a proximidade e o calor de seus corpos. Camile ficou tensa por um instante,pensando que em questão de horas jamais tornaria a vê-lo, mas relaxou ao ver que,naquele momento, ele lhe pertencia.

A melodia terminou e, ao invés de voltarem para a mesa, os dois decidiram dar umpasseio. Foi então que ela, com o coração batendo acelerado, conduziu-o para o primeiroandar, onde ficavam os quartos.

Blake parou, indeciso, diante da porta que se abria. Seus olhos brilhavam de desejoenquanto Camile entrava e estendia-lhe a mão, envolta na penumbra e na quietude doquarto.

Ela lançou-lhe um olhar carregado de significados e a expressão perturbada deBlake sumiu como por encanto. Ele então avançou um passo, fechando a porta.

Camile passou os braços em torno do pescoço másculo e colou o corpo ao dele,buscando-lhe a boca com sofreguidão. Como tinha saudade daquele beijo cheio de ardor!

— Pare, Camile.. . Você não sabe o que está fazendo. . . Blake esboçou um gestoresignado. Parecia não ter mais forças para resistir.— Não diga nada, querido, por favor. ..

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Dizendo isso, ela beijou-o mais uma vez. As carícias, ternas a princípio,intensificaram-se, ávidas. Tinham necessidade um do outro e abandonaram-se àquelecontato. O silêncio do cômodo foi preenchido por suspiros suaves e promessas ditadaspela emoção.

Ela desabotoou-lhe a camisa, acariciando o peito musculoso e recoberto de pelinhosnegros. Ele emitiu um débil protesto, enquanto a camisa deslizava para o chão.

— Não, Camile. . . assim não. ..— Sim. . . só esta noite, é tudo que lhe peço. ..E apertou os seios contra o peito nu, inebriada com a presença máscula.Blake tomou-a nos braços, mordiscando-lhe o pescoço e depositando-a sobre a

cama, num ritual cheio de ternura e delicadeza.Camile entrelaçou as pernas bem torneadas nas dele, atraindo-o para si,

arranhando-lhe as costas levemente, beijando-o com toda a febre de sua paixão.— Camile, pelo amor de Deus. . . Você está embriagada?— Sim, estou.. . mas não pela bebida. . . Você me enlouquece ... Só você...— Eu não queria que as coisas acontecessem assim, mas não consigo resistir. . . —

ele gemeu com voz rouca.Pousando os lábios nos dela, escorregou as mãos fortes pelas curvas do corpo

delicado, fazendo carícias abrasadoras até deixá-la a ponto de desmaiar de desejo. Osdedos experientes libertaram-na das roupas, com impaciência. Senti-los explorando-lhe apele nua era uma deliciosa tortura.

— Esta noite sou sua, Blake — disse Camile num murmúrio entrecortado.— Só sua!—

Sim—

ele concordou, beijando-lhe o pescoço com lábios úmidos.— Entretanto, não quero que se sinta responsável pelas consequências desse ato.O corpo de Blake tornou-se rígido e ele rompeu a magia do momento, separando-se

dela com um movimento brusco.— Aonde você quer chegar?— Eu o eximo de qualquer responsabilidade... — respondeu ela, confusa,

imaginando que dizia tudo o que um homem desejaria ouvir.Blake soltou-a, deixando-se cair na beirada da cama. Passou as mãos nos cabelos

desalinhados, tomando fôlego. Por fim, recompôs-se e começou a vestir a camisa.— Querido. . . o que eu fiz de errado?Blake não respondeu à pergunta. A bem da verdade, ignorou Camile por completo.

O luar iluminava suas feições que denunciavam toda a raiva que ele sentia. Os lábios e ospunhos cerrados, os olhos turvados pela ira. . .

Camile teve medo.Durante várias horas, depois de Blake ter saído, ela ficou estirada sobre o leito, sem

se mover. Sentia uma dor tão intensa que nem sequer conseguia chorar. Oferecera aBlake a coisa mais preciosa que possuía, e fora rejeitada.

Na manhã seguinte, nem a maquiagem conseguia esconder a palidez e as olheirasescuras ao redor dos olhos verdes de Camile. Ela sabia que nada era eterno e que a

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tristeza haveria de passar. . . Quem sabe se um dia não riria de tudo aquilo? Entretanto,estava ciente de que alguma coisa havia morrido dentro dela, na noite anterior. Nuncamais seria a mesma.

Teve uma satisfação infantil ao perceber que Blake também parecia não ter dormido.John esperava-os no helicóptero. Os dois mal se falaram e sentaram-se o mais

distante possível um do outro. O próprio piloto, que nem sequer desconfiava dosacontecimentos, percebeu o clima tenso.Quando aterrissaram, Blake avisou-a de que ia para casa e depois ainda passaria no

escritório, a fim de recolher suas coisas. Era quarta-feira. O último dia dele na Lester Empreendimentos!

Camile ouvira boatos sobre uma despedida que o pessoal da companhia haviaplanejado, mas achou melhor permanecer alheia ao fato, seguindo diretamente para oapartamento, onde tomou um banho demorado e trocou de roupa.

Ao chegar no escritório, uma hora depois, encontrou diversos recados, que exigiamatenção imediata. Decidiu então parar de adiar a entrevista com Harris. Não fazia sentidoprotelar, já que a saída de Blake era um fato consumado.

— Louise, mande Harris vir falar comigo, sim?— Pois não, Srta. Lester.— E, antes que eu me esqueça, preciso ditar algumas cartas.— Estarei aí num minuto. Ao entrar na sala, Louise encontrou Camile sentada na poltrona, massageando as

têmporas com ar de fadiga.— A senhorita está bem?— Sim. Estou, só um pouco cansada. . . A secretária tomou seu lugar numa cadeira e anotou as linhas que Camile lhe ditava.— Isso é tudo, Louise. Agora, telefone para Dick Evans, da Rede Internacional de

Hotéis, sim? Muito obrigada.Pouco depois, Louise a chamava pelo interfone:— Srta. Lester, o sr. Evans na linha um.— Obrigada. Poderia me fazer o favor de providenciar uma aspirina e um copo

d'água?— Claro.Camile deu um longo suspiro, sentindo-se mais desanimada que nunca. Tratou com

Evans o assunto da venda dos hotéis, deixando pendente sua resposta. Depois, engoliu ocomprimido que Louise pusera sobre sua mesa, sorrindo com amargura.

Durante aqueles anos todos, era a primeira vez que precisava de um remédio paramanter-se de pé. O pior de tudo era que a aspirina podia livrá-la do mal-estar físico, masnão aliviava a dor de seu coração.

A secretária a chamou pelo interfone, avisando-a de que a festa de despedida deBlake tivera início.

— Estarei aí dentro de um minuto — ela falou, agradecendo Louise pelo recado,enquanto fechava os olhos e preparava-se para enfrentar aquela maldita festa.

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Deixando a sala, atravessou alguns compartimentos e chegou até onde todosestavam reunidos. Uma mulher servia fatias de bolo aos presentes, e Camile reconheceu-a: era a secretária de Blake, que, muito elegante num conjunto de linho branco, distribuíasorrisos a ele. Camile sentiu um ciúme absurdo e achou melhor se controlar.

Blake, rodeado por todos, era o centro das atenções. E não havia uma só pessoaque não lamentasse sua saída. Um homem uniformizado cochichou algo em seu ouvido,dando-lhe um tapinha nas costas. Blake riu. Nesse momento, avistou Camile, queenrubesceu. Ainda assim, falou com cortesia e naturalidade.

— Todos nós sentiremos a sua falta. Se meu pai fosse vivo, tenho certeza de queficaria muito agradecido pelo trabalho que você realizou na empresa, e lhe desejariasucesso.

— Ele, mas não você — Blake sussurrou.— Engano seu. Desejo-lhe toda a sorte do mundo. E mais: quando quiser voltar a

trabalhar conosco, é só avisar. Sempre haverá lugar para você, aqui. Adeus, Blake.— Obrigado, Srta. Lester. A secretária dele aproximou-se e Camile aproveitou a oportunidade para escapar

dali. Blake a encarava com um estranho brilho no olhar e isso a deixou confusa.Pedindo licença a todos, ela se retirou a passos apressados, só parando quando

chegou a uma sala. Então, deixou que grossas lágrimas rolassem por seu rosto. Comoera amargo o fim de um amor!

Camile forçou-se a comer alguma coisa, pois há dias era incapaz de dar mais queduas garfadas na refeição. Também dormia mal, e tinha dor de cabeça constante. Seusono era agitado e, nas últimas semanas, acordava sempre mais cansada do que na horaem que se havia deitado.

Era sábado, plena tarde de primavera, e ela estava ali, olhando o prato sem o menor ânimo de comer.

O telefone tocou e, com gestos lentos, ela atendeu:— Camile? — perguntou uma voz familiar.— Sim. Gina, é você?— Desculpe-me incomodá-la em sua casa, mas não pude encontrá-la no escritório. .

.

— Estive muito ocupada esses dias, Gina. Gostei que tenha ligado.— Sei que você tem muitos compromissos, e quero que perdoe minha ousadia, mas

gostaria de convidá-la para almoçar em casa amanhã. Todos perguntam por você esentem a sua falta.

"Todos, menos Blake, claro", ela pensou, amargurada. Com sutileza, recusou ogentil convite de Gina, que pareceu muito desapontada.

— Eu adoraria almoçar com vocês, mas não poderei esta semana. Fica para outravez, está bem? Também sinto saudades de vocês.

— Eu compreendo.— Ouça, agradeço muito por vocês terem se lembrado de mim. Mande um abraço

para sua família, sim?

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— Telefone sempre que quiser, Camile. E venha nos visitar assim que puder, estábem? Até breve!

Mal havia desligado o telefone, ela ouviu batidas à porta.— Um minuto, por favor.Ficou irritada. Quando sentia-se solitária, ninguém aparecia para visitá-la. Agora, que

desejava sossego, não a deixavam em paz.. .Mas, ao abrir a porta, seu coração disparou. Era Blake!— Vim convidar você para

jantar. Aliás, procurei-a a tarde inteira, sem encontrá-la. Onde esteve, gatinha?

CAPÍTULO IX

Camile fitou-o, surpresa e eufórica ao mesmo tempo. Quando menos esperava, eisque Blake surgia! Não o compreendia, e talvez jamais chegasse a entendê-lo.

— Você disse que me procurou a tarde inteira. . .— Exato, gatinha.Blake ajeitou-se confortavelmente no sofá da sala, numa pose displicente. Quanto a

Camile sentia-se apavorada. Queria se ver livre das emoções que aquele homem lhedespertava e resolveu mentir:

— Eu tenho um compromisso para daqui a pouco. Negócios da empresa. . .Ele sorriu de modo irônico antes de responder:— Em primeiro lugar, essa desculpa não me convence. Eu sei que não foram os

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negócios que a fizeram sumir o dia todo. Averiguei no escritório.— Você teve essa coragem? Bem, então sugiro que consulte suas fontes de novo,

pois com certeza poderão informá-lo melhor!— Sabe, você fica muito bonita quando está nervosa. Mas que tal se acalmar em vez

de discutir?

Ela fechou a porta e deu alguns passos na direção do sofá. Não sentou-se, porém,mantendo as mãos na cintura. Fazia questão de conservar-se numa atitude séria e fria.

Blake, entretanto, observou-a com um olhar cheio de malícia:— Não se incomode em mudar de roupa. O que você está vestindo parece-me

perfeito. A expressão divertida dele desarmou Camile, que se viu novamente sem saber

como agir.— Pensei que você houvesse deixado a Lester. ..—

E deixei.— Então por que voltou? Por que está aqui? Será que não percebe quanto sofrotoda vez que o vejo? Não quero ser obrigada a suportar isso! Se você quer sair de minhavida, então suma de uma vez! Eu não o vejo há. . .

— Três dias. Eu pretendia lhe dar tempo para pensar, mas parece que você continuaconfusa — ele explicou, com brandura.

— Pois saiba que detesto jogos de palavras. Se você tem algo a dizer, não mevenha com rodeios e subterfúgios!

— Você é tão cega que não enxerga o que está mais do que evidente? Ou será que

não quer enxergar?— Blake, a última coisa de que preciso é ser insultada em minha própria casa!— E eu não vim aqui para discutir.Ela se calou, percebendo quanto ele estava magoado. Depois, descontraindo, sorriu,

suavizando o rosto tenso. Não queria brigar, pois amava Blake e Deus sabia a falta quesentira dele naqueles três longos dias.

— Será que podemos recomeçar, gatinha? Finja que sou um velho amigo, que veiovisitá-la no fim de semana.

— Não me chame assim! Eu não sou mais uma garotinha e essa é a última coisa

que deve pensar de mim!— Quanto a isso, pode ficar tranquila. Sei muito bem que você não é uma criança.Camile sentia-se cada vez mais perturbada. Sempre tivera o controle da situação,

mas Blake oferecia-lhe um mundo novo, desconhecido e fascinante. Infelizmente, a dor que ele lhe causara era muito maior do que poderia tolerar.

— Vamos jantar, Camile?Ela meneou a cabeça num gesto de assentimento. Iria a qualquer parte com aquele

homem. Talvez Blake desejasse apenas um relacionamento passageiro. . . Mas queimportava? Haveria de ser maravilhoso enquanto durasse.

— Aonde iremos?— Para minha casa.

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— Sua casa?— Sim. E, depois do jantar, poderíamos assistir à corrida de cavalos.— Corrida de cavalos? Blake sorriu.— Ei, o que está acontecendo com você? Por que fica repetindo tudo o que digo em

vez de dizer "vamos logo"?— ele zombou, afagando os cabelos loiros.Camile não pôde resistir. Aceitou o convite.Na estrada, baixou a capota do conversível e seguiram caminho, os cabelos ao

vento. Camile esboçou um sorriso de pura alegria, pois tinha tudo o que sempre desejara:Blake.

A casa estava às escuras e ele apressou-se em acender as luzes. Passando osbraços na cintura de Camile, conduziu-a para o interior da cozinha. Ali pararam,abraçando-se e trocando um beijo terno. Ela não se conteve e disse baixinho:

— Senti tanto a sua falta. . .

Um sorriso iluminou o semblante da Blake, que apertou-a com força contra o peito,murmurando:— Eu também senti saudades. Muitas saudades. Soltando-a com brandura, ele tirou

a jaqueta e arregaçou as mangas da camisa, deixando à mostra os braços musculosos.Começou então a separar os ingredientes para o jantar.

— Eu preparo a carne e você faz a salada, está bem, gatinha? Ela concordou comum gesto de cabeça e Blake pousou os lábios nos dela, de leve.

— Então, eu vou sair para cuidar do churrasco.Tirando a jaqueta, Camile abriu a geladeira e examinou seu interior. Retirou legumes

e verduras, colocando-os sobre a mesa, ao lado da vasilha que Blake havia deixado.Sorriu satisfeita, imaginando que uma salada não seria tão difícil assim de preparar. Olhoupara as paredes da cozinha, pensando no quanto amava aquela casa.

Blake reapareceu pouco depois e ficou a observá-la enquanto cortava um maço debrócolis. Ela parou, tensa.

— Alguma coisa errada?— Não. Mas seria melhor você retirar as folhas antes de cortar a verdura.— É, tem razão. . .— Você lavou o brócolis?

Camile murmurou uma negativa. Estivera tão nervosa que havia se esquecido dealgo tão prosaico como lavar uma verdura antes de comê-la. Sentiu-se tão desajeitada emmeio à cozinha que desejou fugir dali.

Cabisbaixa, encheu de água uma vasilha e começou a lavar os legumes. . . atéperceber que não estava utilizando água filtrada. Aquilo era demais! Vendo-se em papeltão ridículo, não esperou pela reação dele e correu para a sala, soluçando.

Ouviu os passos de Blake atrás de si, mas não se virou. Quando a mão forte tocou-lhe o ombro, desabafou:

— Desculpe-me, acho que estou nervosa. Agi como uma criança.— Deixe disso. Sou eu que devo me desculpar.Com ternura, ele acariciou-lhe o rosto, deslizando os dedos com movimentos lentos

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e detendo-os nos lábios carnudos. Camile aconchegou-se e choramingou:— Às vezes eu sou tão infantil! Além disso, mal sei cozinhar!— Vamos, minha querida, acalme-se. É só uma questão de prática. Sabe, gatinha,

acho que nunca vou esquecer a primeira vez que a vi. Seu pai era tão reservado no quedizia respeito à vida pessoal... Eu trabalhava com Isaac havia uns seis meses quando

soube que ele tinha uma filha. Então, numa tarde, você apareceu no escritório, e estavatão linda, vestindo um conjunto azul. . . Fiquei fascinado, mas jamais pensei que um diateríamos um envolvimento maior.

— Eu ainda não tinha vinte anos, naquela época. . .Blake segurou-lhe o queixo, depositando-lhe um beijo nos lábios entreabertos.— E agora você está ainda mais bonita!Tomando o rosto de Camile, entre as mãos, tornou a beijá-la com doçura, enquanto

afagava seus cabelos macios com gestos carinhosos.— Blake, espero que você tenha mais verduras na geladeira. Receio ter estragado

nossa salada.— Não se preocupe com isso, gatinha. Agora vou assar a carne. Como prefere o seu

pedaço? Bem ou mal passado?— Bem passado.— Pois acho que você deveria experimentá-lo mal passado.— Ora, Blake, até parece que sentimos prazer em discutir! Deixe que eu asso o meu

pedaço, então.— Ah, essa eu quero ver!

Os dois, então, trocaram os papéis: ele foi para a cozinha preparar a salada e elasaiu para o quintal, indo tratar da carne. Pouco depois, Blake foi encontrá-la a postos nachurrasqueira.

— Pensei que você estivesse cortando as verduras — ela comentou, dispondo ospedaços da carne suculenta sobre a grelha.

— Já terminei. Apenas ralei algumas cenouras, umas beterrabas, coloquei algumasfatias de tomate e pinguei um pouco de sal, limão e azeite. O que me interessa mesmo éver qual será o destino da carne. . .

— Bem, pensando melhor, talvez seja mais aconselhável você cuidar da sua carne.Não quero me responsabilizar pelo jantar de ninguém.

— Certo, gatinha. Isso me parece sensato.Blake virou seu filé um par de vezes e retirou-o do fogo. Camile observou-o,

nauseada, e não pôde conter uma exclamação:— Não posso crer que você vá comer a carne desse jeito!— Trata-se de um filé malpassado, gatinha. Ora, Blake! Não está malpassado, está

cru!— Cada um faz de acordo com seu gosto. Além disso, você não me parece em

condições de aconselhar ninguém sobre práticas culinárias.

Camile sentiu a cor fugir de suas faces. Como ele dizia uma coisa daquelas depoisdos recentes instantes de ternura que haviam compartilhado? Mas, por outro lado, elatambém não devia ter-se intrometido na maneira como ele preparava o churrasco.

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— Camile, desculpe-me. Não quis ofendê-la.— Sabe de uma coisa? Você está certo. Não tenho nada a ver com o seu jeito de

comer carne. Não estou magoada, pode ficar tranquilo. Apesar disso, alguns minutos depois, na cozinha, ela e Blake quase não tocaram na

comida. E, por mais que Camile se esforçasse em aparentar naturalidade, continuava

constrangida pelo vexame que dera com as verduras. E o pior era que, cada vez queolhava a pia, via o maço de brócolis, que parecia estar ali apenas para rememorar o seufracasso.

— Vamos assistir às corridas? — sugeriu Blake tirando-a de seus devaneios.Ela concordou e seguiu-o até o carro. Durante o trajeto, porém, retomaram o assunto

de bifes mal e bem passados, e acabaram a noite numa discussão inútil. Camile,emburrada, pôs um ponto final ao passeio:

— Talvez seja preferível deixarmos as corridas para outro dia.— Sou forçado a admitir que você tem toda a razão.

Dando meia-volta, Blake tomou a direção do apartamento dela e não disse maisnenhuma palavra até o fim do trajeto.

O encontro dos dois fora um fiasco e Camile ficou amuada, perguntando-se comopoderia amar tanto um homem e ao mesmo tempo estar sempre entrando em conflito comele.

Blake parou o carro defronte ao edifício e abriu a porta para ela; antes de vê-la entrar no prédio, porém, disse:

— Acho que devemos conversar, mas não agora. Com mais calma poderemoschegar a um entendimento.

— O que quer de mim, Blake? Enquanto trabalhávamos juntos, eu sabia exatamenteem que terreno pisava. Mas as coisas entre nós mudaram, e já não sei mais o que pensar a seu respeito.

— Depois de todos esses anos, você ainda não descobriu o que quero? Será queme enganei em relação a você, Camile? É. . . talvez seja tarde demais e a minha gatinhasó tenha olhos para a Lester Empreendimentos. . .

Dito isso, Blake arrancou, fazendo os pneus cantarem e deixando para trás umaCamile desnorteada e triste. Mais uma vez ele a abandonava!

No domingo, ela resolveu visitar June, a fim de se distrair um pouco.

A amiga recebeu-a com alegria e ofereceu-lhe uma xícara de café.— Burt está consertando uma das cercas, mas logo se juntará a nós.Camile sorriu e entregou-lhe um chocalho enfeitado de fitas coloridas:— Tome, June. Trouxe para minha afilhada. . .— Assim vai mimá-la demais! Nós mal temos espaço para guardar todos os

presentes que você lhe traz! — exclamou a amiga, dando uma risada.— Deixe-me mimá-la, June. Eu adoro a sua filha.— Sei disso, querida. Venha vê-la, então.

O quarto estava na penumbra, mas quando elas entraram a pequena Camile abriuos olhos. A madrinha tomou-a nos braços, invadida por uma infinita ternura. Depoispassou-a para June que, sentada na cama, amamentou-a.

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Camile observava, comovida, os movimentos suaves da amiga. Aquela era umacena maravilhosa, que ela sonhava viver um dia.

June notou-lhe o olhar enternecido.— Toda vez que vejo você segurar um bebê, fico contente em notar a naturalidade

com que trata as crianças. Eu receava que não tivesse jeito, mas estava errada. Não vejo

a hora de poder vê-la cuidando de seus próprios filhos... — June comentou, afagando acabecinha da filha.— Tenho pensado nisso. . . Quero dizer, constituir família, ter um lar e trabalhar

menos.— Mas isso é muito bom! Não sabe como me deixa feliz ao falar assim. O hotel

estava dominando demais sua vida. Nada melhor do que parar de se dedicar aosnegócios da maneira exagerada como vinha fazendo esses anos todos. Você precisadescansar. Agora, me conte: quem é o felizardo, hein?

— O que eu tenho em mente não é bem um casamento.

E acomodou-se melhor na cadeira, sentindo-se constrangida com o rumo daconversa.— O que quer dizer com isso, querida?— Eu quero um filho, não um marido.— Eu não entendo. Por que não se casa? Você é uma mulher atraente e merece ser

feliz ao lado de um homem que a ame. Tem muito amor para dar, minha amiga.— Talvez você esteja certa, mas um marido não é fundamental para a minha vida. E

posso dar todo amor do mundo a meu filho e à pequena Camile.— E quanto ao bebê? Não acha que ele tem direito a um pai que esteja sempre

presente, amando-o e protegendo-o?— Já pensei nisso.— Se quer saber minha opinião, essa ideia absurda não parece partir de você.

Quando foi que começou a ter esse tipo de pensamentos? Ah, já sei. Edie, é claro! É bemdo feitio dela alimentar planos malucos!

— Quem sabe. . . Mas, se você parar para refletir, verá que a ideia não é tãoabsurda. Hoje em dia há muitas mães solteiras que vivem contentes, criando seus filhos.

— Correto, mas. . . você já escolheu o pai?— Bem, digamos que sim. Você não o conhece, ele trabalhou comigo. No final das

contas, acho que meu método é mais eficaz do que o de Edie. Ela havia sugerido que euescolhesse alguém num bar. . . Imagine a loucura que seria!

— Pois eu preciso ter uma conversa muito séria com Edie!— Ela estava apenas brincando. Não esperou que eu fosse levá-la a sério.— Ouça, querida, nunca lhe dei conselhos porque você nunca precisou. Suas

maneiras são seguras e sei que é uma mulher sensata. Mas cuidado! Reflita melhor sobreseus projetos de futuro, porque depois poderá arrepender-se.

— Pretendo agir com muita seriedade e ponderação. Nunca fui estouvada e nãoserá agora que começarei a cometer loucuras, não se preocupe.

Era sexta-feira e Camile fora convidada para o casamento de Gina e Donald. Apanhando o talão de cheques, ela preencheu uma quantia generosa para presenteá-los.

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Mas, assim que largou a caneta, lembrou-se das acusações que Blake lhe fizera comrelação ao anel de ouro que dera a Kathleen. Rasgou então o cheque e fez outro, commetade do valor do primeiro.

"Que inferno! Quem Blake pensa que é para determinar o valor de meus cheques?",pensou, irritada.

Decidida a não se deixar dominar por ele, tornou a anular o cheque, preenchendooutro com a quantia original. Enfiou-o num envelope, junto com uma carta em que sedesculpava por não poder comparecer à cerimônia.

Na segunda-feira, foi ver seu advogado. Se ele ficou chocado, com o que elapretendia, não demonstrou; apenas confessou que jamais havia deparado comsemelhante proposta. Camile, porém, reafirmou sua convicção.

Era terça-feira e ela estava no escritório, com a cabeça recostada, admirando apaisagem pela janela. Foi quando Blake apareceu na sala, transtornado.

— Eu preciso de uma boa explicação, Camile!—

Desconfiei que isso aconteceria desde o momento em que pus aquela carta nocorreio. Tinha quase certeza de que você me censuraria, como se eu houvesse cometidoo pior dos crimes. Mas já estou um pouco crescidinha para que você fique controlandomeus atos!

— Controlando seus atos? Não consigo acreditar no que você fez! O que seu paidiria, se ainda fosse vivo?

Blake andava de um lado para outro, sem esconder seu nervosismo. Camile teve deadmitir que, mesmo zangado, ele era bastante atraente. Os olhos castanhos brilhavam deódio ao fixarem-se nela, que andava deprimida demais para se abalar. Perguntou, com ar indiferente:

— O que meu pai tem a ver com isso? Mesmo que estivesse vivo, duvido que seimportasse com o fato de eu dar um presente a Gina.

— Gina? Como minha irmã entrou nessa história? — ele perguntou, confuso,mostrando-lhe a manchete no jornal: "Boatos confirmam a venda da cadeia de HotéisShelter".

— Ah, então era isso... — e ela suspirou, dando de ombros.— Quero que você me diga por que fez isso! Camile indicou uma cadeira,

convidando-o a sentar-se.— Fique à vontade, Blake. Nós precisamos conversar e creio que agora é o

momento ideal.— Então isso é verdade?— Sim. Mas não se altere desse jeito. Pretendo vender apenas oito hotéis.

Conservarei o Shelter da costa e o de Portland.— Você sabe o que isso significa?— Ouça, não sou nenhuma irresponsável. Tomei essa decisão porque não terei mais

tempo de administrar todos os hotéis. Quero me ocupar com outras coisas. Como umbebê, por exemplo.

—Um bebê?

—ele gritou, dando um soco sobre a mesa. Camile fechou os olhos,forçando-se a manter o autocontrole.

Depois, falou num tom polido, mas firme:

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— Ouça, pensei que pudéssemos conversar como duas pessoas civilizadas. Porém,se você insiste em fazer escândalo, serei obrigada a pedir que se retire.

— Está certo, prometo ficar calmo. Agora responda: você está grávida?— Ainda não.— Ainda não? E quem será o pai?Camile baixou os olhos, girando a caneta entre os dedos com gestos nervosos.

Fazendo das tripas coração, falou:— Eu gostaria que você fosse o pai do meu filho, com todos os seus direitos

assegurados...

CAPÍTULO X

Blake quase caiu da cadeira, os olhos fuzilando:— O que você disse?— Você escutou muito bem.— Já procurou um médico? — indagou ele, começando a caminhar pela sala.— Não, ainda não. Achei que não seria necessário, até o momento em que estivesse

grávida.— Eu não me refiro a esse tipo de médico!Camile olhou-o, nervosa. Blake parou de andar e ficaram encarando-se um longo

tempo, até ela dizer:— Por favor, seja sincero. Você acha que preciso de um psiquiatra?— Honestamente, sim. Você tem trabalhado demais. Deve estar com estafa.

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— Não tenho trabalhado nem mais, nem menos do que trabalhei nos últimos cincoanos — replicou ela com melancolia.

— Talvez seja o acúmulo de tensões.— A Lester não tem nada a ver com isso, Blake. Eu apenas decidi querer um pouco

mais, além de dinheiro e um apartamento silencioso. . . Afinal, sou uma mulher. O que há

de estranho no fato de querer ser mãe? Eu lhe garanto que saberei cuidar de meu filho.Então deu um longo suspiro, calando-se. Preferia não revelar que fora ele o

responsável pela mudança que se operara em seu íntimo.— Mas por que escolheu justamente a mim?— E por que não? Você tem um bom físico e me agrada.. . Camile virou-se para a

janela, ficando de costas para ele. Não queria que Blake notasse sua expressão de dor e,cruzando os braços, sentiu o sangue subir-lhe às faces.

— E como você pretende engravidar? Através de movimentos mecânicos?— Não, claro que não. Sei que não estou conseguindo me expressar direito. Não

devia sequer ter começado esta conversa idiota. Mas escute, Blake, eu gostaria derecompensar a sua... cooperação.

— Pois fique sabendo que todo o seu dinheiro não é, nem será, suficiente parapagar o favor que está me pedindo!

Indignado com a proposta, ele dirigiu-se à porta, resoluto.— Blake, por favor, não vá embora!Ele voltou-se e, com a mão ainda pousada sobre a maçaneta, olhou-a fixamente.— Não há mais nada para conversar, gatinha. Adeus.

Camile sentiu o corpo estremecer. Naquelas poucas palavras, a voz dele traírafrustração, incredulidade, decepção.Deixando-se cair na cadeira, ela teve a sensação de ser incapaz de raciocinar.

Nunca, durante todo o tempo que trabalharam juntos, vira Blake naquele estado. Osdesentendimentos anteriores aconteciam como uma tempestade, em meio a vozes egestos alterados, mas logo passavam. Dessa vez, entretanto, a cólera de Blake partia dofundo do coração.

Sem conseguir concentrar-se no trabalho, ela resolveu voltar para casa. Assim que chegou ao duplex, descalçou os sapatos e tomou um banho morno, a fim

de se acalmar. Afundou-se então no sofá, condenando-se pela precipitação. Não foracapaz de exprimir-se; falara com uma objetividade que o chocara. O que ele estariapensando, àquela altura?

Não podiam terminar assim, com tamanho ressentimento.. .Ela percebeu então que seu desejo de ter um filho era verdadeiro mas, se Blake

tivesse concordado com aquele trato, desistiria. Na verdade, havia armado aquela cenatoda numa tentativa inconsciente de chamar a atenção dele para seu amor. Falhara comsua inabilidade, e agora tinha de fazê-lo compreender sua paixão.

Decidida, vestiu-se rapidamente e apanhou o carro, indo para a casa de Blake.Como a estrada estava deserta, chegou em menos de meia hora. Mas não viu nemsombra do conversível dele e, examinando a casa, constatou que se encontrava vazia.

Determinada a entrar a qualquer custo, resignou-se a esperar pelo retorno de Blake.Voltou para o carro, mas, de súbito, teve uma ideia. Caminhou até a soleira da porta dos

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fundos, levantou o capacho e teve suas suspeitas confirmadas: a chave estava ali.Sorrindo, entrou na cozinha e viu a louça suja do café da manhã. Lavou e guardou

os pratos e os talheres antes de seguir para a sala, onde encontrou algumas revistas, quecomeçou a folhear, embora não conseguisse se concentrar.

Resolveu então tomar um café enquanto o esperava. Não sabia o que dizer a ele

quando o visse chegar. Só tinha certeza de uma coisa: dessa vez, Blake Huston não lheescaparia.Mal acabara de coar o café e servir-se, escutou o conversível estacionando na

garagem. Seu coração disparou enquanto ela contava os segundos que a separavam doencontro final.

Ficou parada e deu um tímido sorriso no momento em que ele apareceu à porta.— Então foi você que tirou a chave debaixo do capacho, hem?— Sim, fui eu.— Está bem. Vamos passar por cima disso e ir direto ao assunto. Por que está aqui?Camile não conseguia articular uma palavra. Desejava confessar a ele todo seu

amor, que a impedia de dormir e trabalhar, que a fazia ter pesadelos e enxaquecas.Queria dizer que precisava dele, de seus olhares ternos, de seus carinhos, e até dasdiscussões. Mas não sabia o que fazer para se exprimir, pois as palavras não podiamtraduzir aquela violenta emoção.

Procurando ganhar tempo, ofereceu a Blake um café, que ele recusou com um gestobrusco e quase gritando:

— Não, eu não quero café! Só quero uma explicação!— Vamos nos sentar — ela propôs, puxando duas cadeiras. Mas Blake ignorou o

convite, permanecendo apoiado ao batente da porta.Camile tomou um gole de café e cruzou as mãos sobre a mesa, tomando fôlego

antes de falar, sem coragem de fitá-lo.— Uma vez você me acusou de ser uma máquina sem sentimentos. Na época tinha

razão. . . mas agora estou mudada, e a cada instante novas emoções me assaltam.— E então?— E então? Se eu às vezes faço coisas disparatadas, é por sua causa. Você me fez

mudar, despertou sentimentos novos em mim. . . e ainda não sei como controlá-los.— Quer dizer que sou o responsável por seus planos insensatos? E, assim, deseja

me pagar para ser o pai de seu filho? O que você tem contra o casamento?— Nada, ora. Muito pelo contrário. . .— Nesse caso, já que anseia tanto por uma família, por que não se casa comigo?Ela olhou-o, sem conseguir acreditar no que ouvia.— Isso é um pedido?— Sim, é.Ela começou a chorar, mas Blake aproximou-se e, com doçura, acariciou-lhe os

cabelos macios.— O que foi?— Toda mulher imagina que um dia vai encontrar um companheiro com quem levar

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uma vida em comum, com amor e solidariedade. Mas nunca pensei que o meu pedido decasamento fosse acontecer aos gritos, numa cozinha!

E encarou-o, com o rosto molhado de lágrimas. Na verdade, sua perplexidade nãoera pela falta de romantismo do instante, mas sim pela proposta que acabara de ouvir. ..Será que ele estava sendo sincero ou tudo não passava de uma piada de mau gosto?

Mas, quando Blake falou, foi com uma seriedade incontestável:— Ouça, eu também sonhava em fazer meu pedido de casamento com vinho, flores,música e à luz de velas, mas não foi possível. Entretanto, o que interessa é o que estásendo dito, não o lugar. Agora, quero que saiba que moraremos nessa casa e, caso vocêqueira, trabalharemos juntos na companhia, está bem?

— Oh, Blake.. . Você não imagina o que suas palavras significam para mim. Minhamãe morreu antes que eu tivesse oportunidade de conhecê-la. Talvez, se eu houvessedesfrutado de carinho materno, conseguisse me expressar melhor agora. No entanto, fuicriada para ser dura e inflexível, não para exprimir sentimentos.

— Por que não tenta?— Bem, vou tentar... A meu ver, a união entre duas pessoas vai muito além da

concepção de um filho. Esqueça tudo o que eu lhe falei esta manhã, porque agi levadapor um impulso inconsequente e irresponsável. Encaro a ligação entre um homem e umamulher como uma comunhão silenciosa de dois espíritos, que dispensa palavras parauma compreensão mútua. Pude comprovar esse laço de harmonia e sinceridade no olhar de Burt, quando June deu à luz a pequena Camile.. . Entende o que quero dizer?

Seguiu-se um longo silêncio e ela chegou a perguntar-se se ele a ouvira. Quando,afinal, Blake falou, foi com voz abafada, olhando fixamente para o assoalho.

— Nós deveríamos pelo menos tentar, Camile. Talvez um dia você aprenda a me

amar...— Aprender a amá-lo? Mas eu já o amo! Quero estar a seu lado para sempre! Por

você sinto admiração, confiança e atração, como jamais senti por outro homem! Amovocê!

— Tem certeza do que está dizendo?— Claro que sim! Nunca falei tão sério em toda minha vida. A prova disso foi aquela

noite no hotel da praia. Eu queria me entregar a você de corpo e alma, mas então. . .— Eu sei, gatinha. Pude senti-la totalmente naquela cama. Você era tão mulher, tão

minha, que eu estava prestes a declarar meu amor. Aí você começou com aquela

conversa de liberar-me das responsabilidades, tratando-me como um amante passageiro.Não pude suportar.— Ah, Blake, eu não queria pressioná-lo. Não podia perder você! Por que tinha de se

demitir? Sofri tanto!— Você era uma Vénus inatingível, princesa. Eu a amava e usava de todos os

pretextos para me aproximar, mas em vão. Você só tinha olhos para a companhia e, paraser franco, seu dinheiro me assustava. Eu não acreditava que você pudesse crer no meuamor desinteressado. Então, decidi sair da empresa e parar de me torturar.

— Mas jamais me ocorreu que você estivesse interessado no meu dinheiro!

— Por outro lado, você jamais sonhou que eu a amava. . . Camile não o deixouterminar. Abraçou-o, cobrindo-lhe o rosto com beijos, e finalmente encontrou seus lábios,numa ávida promessa de amor.

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Camile observou Blake sair do carro e caminhar em sua direção, com movimentosdisplicentes. Mesmo após cinco meses de casamento, a chegada do marido à casa aindaa deixava emocionada. Estava deixando a maior parte de suas tarefas profissionais acargo dele, indo trabalhar apenas algumas vezes por semana. Durante algum tempo,queria familiarizar-se com sua nova casa e acostumar-se com aquela mudança de vida.

— Olá! Como foi o dia? — perguntou, passando os braços em torno do pescoçodele.

Blake retribuiu ao abraço com muita paixão, mordiscando-lhe o lóbulo da orelha,consciente das sensações que despertava na esposa com aquela carícia. Camile sentiuum arrepio de prazer e afastou-o, sorridente:

— Você está com energia demais para quem trabalhou o dia inteiro!— As horas de trabalho não alteram em nada o que sinto por você. Eu a amo. Daqui

a vinte anos, continuarei a amá-la, talvez até mais, se for possível!

Blake largou a pasta de trabalho sobre a cadeira e estreitou com força a esposa.Seus olhos cintilaram de desejo e ele falou, cheio de malícia:— Estou faminto. . .— Então adivinhe o que teremos para o jantar!— Não faço a mínima ideia. Mas, seja lá o que for, está com um cheiro delicioso.— Bem, querido. . . Eu tenho boas e más notícias. O que prefere ouvir primeiro?— Partindo de você, eu me resigno a enfrentar a má notícia sem rodeios. Afinal, já

estou habituado. . .—

Promete que não ficará bravo?— Eu não prometo nada.— Bem, a má notícia é que queimei o rosbife. A boa nova é que saí e comprei um

frango grelhado.— Ora, Camile! É a segunda vez nessa semana! Se continuar assim, vamos à

falência!Mas ele não estava zangado, e sim zombeteiro. Ela enrubesceu e falou num tom

maroto, enquanto acariciava o rosto bem barbeado do marido.— E isso não é tudo. Quebrei a cabeça, tentando fazer uma lista de nomes. Cheguei

até em pensar em Ekalb, mas não deu certo. . .Ele fitou-a, sem entender. Apertou-a contra o peito forte e franziu a testa:— Minha maluquinha! Do que está falando?— Ekalb é Blake, soletrado de trás para frente. Ocorreu-me quando eu pensava nos

possíveis nomes para o bebê, mas não parece muito propício, nem para um menino, nempara uma menina. ..

— Bebê? Que bebê, Camile?Blake afrouxou o abraço, estupefato. Ela tomou-lhe a mão morena, pousando-a

sobre seu ventre arredondado:— O que está aqui, dentro de mim, amor.— Princesa. . . Por que não me contou antes? Eu. . . — não conseguiu completar a

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frase. Foi invadido por uma incrível sensação de alegria.— Eu não queria falar nada até ter certeza. Está magoado por eu ter mantido minhas

suspeitas em segredo?— Magoado? Não, estou é surpreso. E muito feliz.. .Blake não pôde falar mais nada, pois as palavras jamais seriam capazes de

expressar tudo que sentia. Então, apenas beijou a jovem esposa com imensa paixão,tentando dizer-lhe, através de carícias, tudo o que lhe ia na alma. Camile, maravilhada,respondeu ao marido naquela mesma linguagem primitiva, selvagem, arrebatadora, quetraduzia, naquele instante, uma única mensagem: a de que aquele amor seria eterno!

Fim