DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · advogados: é o diabo! É o tal sono pesado e contínuo. De...
Transcript of DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · advogados: é o diabo! É o tal sono pesado e contínuo. De...
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
Secretaria de Estado da Educação
Superintendência da Educação Departamento de Políticas e Programas Educacionais
Coordenação Estadual do PDE Universidade Estadual de Maringá
UNIDADE DIDÁTICA PARA O TRABALHO COM O GÊNERO TEXTUAL: CONTO
ÁREA: LÍNGUA PORTUGUESA
Professora PDE- Ligia Aparecida Favalessa
Orientador – Profª Drª Dulce Elena Coelho Barros
CIANORTE-PR. 2010
1 IDENTIFICAÇÃO:
1.1 Área: Língua Portuguesa
1.2 Professora PDE: Ligia Aparecida Favalessa
1.3 Professora Orientadora IES: Profª. Drª. Dulce Elena Coelho Barros
1.4 IES: UEM – Universidade Estadual de Maringá
Objeto de Estudo e intervenção: Estratégias de Leitura Compartilhada.
Gênero principal: Conto
Gêneros de apoio: poema, filme
Série: 8ª Série do Ensino Fundamental
Duração: 1 bimestre.
Leitura Compartilhada do Gênero Conto: formando o a luno leitor
O foco principal desta unidade será a leitura, atividade por meio da qual
construímos/reconstruímos o significado do texto. O que implica na aplicação de
algumas estratégias de leitura intimamente ligadas ao gênero textual e ao assunto
nele focalizado, bem como, ao seu produtor e receptor. Esses princípios ou
condições de produção do sentido podem, em condições propícias, levar o aluno a
desenvolver habilidades que o elevem à condição de leitor competente. Você, caro
aluno, se considera um bom leitor? Quando lê, costuma recorrer a alguma
estratégia? Quais?
Na sequência de atividades aqui apresentadas, vamos juntos, usar
estratégias que nos possibilitam fazer do ato de ler uma grande viagem, cheia de
descobertas, rumo ao entendimento do texto. Para tal, partamos, então, dos
seguintes elementos: previsões de significados expressos, suposições, implícitos,
subentendidos, hipóteses fundamentais norteadoras dos sentidos do texto que nos
possibilitam compreendê-lo em sua complexidade. Sendo assim, abordaremos a
leitura do conto “Uns Braços” de machado de Assis, ativando-se alguns
O trabalho com unidades didáticas permite-nos focalizar diversos contextos
de produção linguístico-discursiva. As atividades que nelas se apresentam devem
oferecer aos alunos noções, técnicas e instrumentos que desenvolvam suas
capacidades de expressão oral e escrita em diversas situações de comunicação.
conhecimentos sobre o autor, discutindo-se o título do conto a ser lido, fazendo-se
previsões das possibilidades semânticas contidas no texto, relacionando seus
eventuais significados a nossa vivência concreta, para que, na próxima etapa da
leitura possamos ir além da pura e simples decodificação do texto, extrapolando-se
os limites da superfície linguística, num movimento de valorização daquilo que se
nos apresenta no extralinguístico.
A primeira etapa da atividade tem por finalidade chamar atenção para o autor
e o título do texto, ativando-se conhecimentos prévio-enciclopédicos, que se
encontram no extralingüístico, capazes de levar seus leitores a criarem expectativas
quanto aos seus possíveis significados e objetivos, levando-os a perceber que as
estratégias de leitura os elevam a condição de leitor produtivo, fundamentalmente,
por meio de sua interação com o texto.
Você conhece Machado de Assis? Já leu alguma obra desse escritor? Afinal, o que
vocês conhecem desse autor? Ler e conhecer Machado de Assis, em nossos dias,
vale mais do que se pode
imaginar. Vamos
conversar e trocar
informações com os
colegas da sala sobre
aquilo que cada um já
sabe sobre a vida e a
obra deste autor que
ficou conhecido entre o
final do século XIX e
início do século XX e que
tem intrigado aqueles que
buscam decifrar sua
obra. Escritor brasileiro
dos mais expressivos, faz parte do cânone dos autores do nosso
Realismo/Naturalismo. É considerado o maestro/mestre das palavras, “o bruxo de
Cosme Velho” que investiga a condição humana, sempre com sua visão cética e
desencantada da vida, seu pessimismo e ironia. O humor que caracteriza sua obra
se converte em desconforto, desacomoda o leitor e o faz refletir sobre a alma
humana. Embora jamais tenha passado pelos bancos universitários, Machado
mobilizou a crítica e levou o nome do Brasil do Império e da recente República para
o estrangeiro. A sedução que sua obra exerce sobre quem procura entendê-la é
inegável, por isso é reconhecido, hoje, como o maior romancista brasileiro de todos
os tempos. Pessimista, melancólico, dono de uma ironia fina conquista cada vez
mais leitores em todo o mundo. O mulato de origem humilde galgou os degraus da
elevação social no Brasil, passando à elite das celebridades nacionais do seu
tempo, sendo fundador e primeiro membro da Academia Brasileira de Letras. Sua
produção principal – romance e contos produzidos entre os anos de 1880 a 1900 –,
consta dos anais da história do Brasil. Gago e epiléptico, filho de um pintor mulato e
de uma lavadeira, órfão desde a infância, foi criado por sua madrasta, Maria Inês.
Atravessou os sertões do tempo e venceu na vida, tornando-se imortal por meio da
literatura deixada como legado de sua genialidade como escritor. Autodidata por
excelência aprendeu as primeiras letras numa escola pública e teve aulas de Latim e
Francês com um padre amigo, Silveira Sarmenho. Como o conseguiu? Ora, sendo
exemplar leitor.
Ao falar sobre as obras de Machado de Assis, dentre as quais selecionamos
uma para desenvolver nosso trabalho, não podemos nos esquecer que estamos
tratando de LITERATURA.
A literatura , como produção humana, está intrinsecamente ligada à vida
social. Ela é a arte que transforma/humaniza o homem e a sociedade,
compreendendo subjetividades, expressas na tríade obra/autor/leitor, que dever ser
reconhecidas como parte constitutiva da prática de leitura. Trata-se, de fato, da
relação entre o leitor e a obra, e nela a representação de mundo do autor que se
confronta com a representação de mundo do leitor, no ato, a um só mesmo tempo,
solitário e dialógico da leitura. Aquele que lê amplia seu universo, mas amplia
Para saber mais sobre Machado de Assis: www.dominiopublico.gov.br
também o universo da obra a partir da sua experiência cultural (CÂNDIDO, 1972. In
Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, 2009, p 57,58).
MACHADO DE ASSIS escreveu contos, crônicas, peças teatrais, poesias,
romances. Dentre eles, o escolhido para este trabalho foi o gênero conto .
O CONTO é a forma narrativa, em prosa, de menor extensão (no sentido
estrito de tamanho). Entre suas principais características, estão a concisão, a
precisão, a densidade, a unidade de efeito ou impressão total. O conto precisa
causar um efeito singular no leitor; muita excitação e emotividade.
Mas como defini-lo? Segundo Machado de Assis, a tarefa não é nada simples:
"trata-se de um gênero difícil, a despeito de sua aparente facilidade". As palavras do
autor de Dom Casmurro, escritas em 1873, condensam uma opinião partilhada por
diversos críticos e escritores que, ao enfrentar essa questão, acabam confirmando a
dificuldade de propor uma definição categórica do conto. A exemplo de Mário de
Andrade, aqueles que se aventuram a procurar tal resposta chegam,
invariavelmente, a uma conclusão: trata-se de um gênero "indefinível, insondável,
irredutível a receitas".
Machado de Assis escreveu suas obras em diferentes gêneros, mas o que é
um Gênero ?
Gênero textual : são os textos que encontramos em nossa vida diária e que
apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por composições
funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração
de forças históricas, sociais, institucionais e técnicas. São entidades empíricas em
situações comunicativas e se expressam em designações diversas, constituindo em
princípio listagens abertas. São formas textuais escritas ou orais bastante estáveis,
histórica e socialmente situadas. Exemplos: telefonema, sermão, carta pessoal,
carta comercial, resenha, cardápio de restaurante, bate-papo no computador...
(Marcuschi, 2008. P.155).
http://tp.wikipedia.org/wiki/Conto - www.atica.com.br/Artigos/?a=5
LEITURA E COMPREENSÃO COMO PRÁTICA SOCIAL
LER é um ato de produção e apropriação de sentido que nunca é definitivo e
completo, isto é, ler não é um simples ato de extração de conteúdos ou identificação
de sentidos, não é, apenas, uma experiência individual sobre o texto, seja ele oral ou
escrito, é sim, uma atividade colaborativa que se dá na interação entre o autor-texto-
leitor ou falante-texto-ouvinte. Em síntese, tal como sugere Marcuschi (2008), ler é
um exercício de convivência sociocultural.
Leitura Literária constitui uma busca além da realidade. Procura o significado
interno, o reconhecimento do simbólico nos acontecimentos cotidianos. E... quando
pensamos num “bom leitor”, vem-nos à mente o leitor literário, para o qual a leitura é
uma experiência estética (Bamberger, 2004, p.42).
Sob essa ótica, vamos desenvolver nosso trabalho com o conto machadiano
“UNS BRAÇOS”.
Atividade 01.
Fazendo previsões, levantando hipóteses:
1. O título do conto nos remete a que realidade?
2. O título cria expectativas sobre o tema? Sobre o quê pode-se falar em um conto
intitulado “Uns Braços”?
3. O título traz informações suficientes para que possamos descobrir, de imediato,
qual o assunto tratado por Machado de Assis nesse conto? Justifique a sua resposta
fazendo suposições coerentes.
4. Do seu ponto de vista, o título permite subentender o tema abordado no texto ou é
enigmático? Justifique sua resposta.
Agora que já tentamos desvendar o assunto do conto por meio do título,
vamos fazer a leitura-descoberta . A leitura é, muitas vezes, um ato solitário e para
isso faremos uma leitura silenciosa. Depois, faremos a leitura compartilhada. Cada
aluno lê um parágrafo e, juntos, Cada um ativando seus conhecimentos de mundo,
ou seja, da realidade social que nos cerca, teceremos alguns comentários sobre
cada trecho lido, buscando-se descobrir os possíveis significados do conto, bem
como as condições de produção desse texto.
Uns Braços Machado de Assis
Inácio estremeceu, ouvindo os gritos do solicitador, recebeu o prato que este
lhe apresentava e tratou de comer, debaixo de uma trovoada de nomes, malandro,
cabeça de vento, estúpido, maluco.
Iniciemos a leitura...
— Onde anda que nunca ouve o que lhe digo? Hei de contar tudo a seu pai,
para que lhe sacuda a preguiça do corpo com uma boa vara de marmelo, ou um
pau; sim, ainda pode apanhar, não pense que não. Estúpido! Maluco!
— Olhe que lá fora é isto mesmo que você vê aqui, continuou, voltando-se
para D. Severina, senhora que vivia com ele maritalmente, há anos. Confunde-me
os papéis todos, erra as casas, vai a um escrivão em vez de ir a outro, troca os
advogados: é o diabo! É o tal sono pesado e contínuo. De manhã é o que se vê;
primeiro que acorde é preciso quebrar-lhe os ossos... Deixe; amanhã hei de acordá-
lo a pau de vassoura!
D. Severina tocou-lhe no pé, como pedindo que acabasse. Borges espeitorou
ainda alguns impropérios, e ficou em paz com Deus e os homens.
Não digo que ficou em paz com os meninos, porque o nosso Inácio não era
propriamente menino. Tinha quinze anos feitos e bem feitos. Cabeça inculta, mas
bela, olhos de rapaz que sonha que adivinha que indaga que quer saber e não
acaba de saber nada. Tudo isso posto sobre um corpo não destituído de graça,
ainda que mal vestido. O pai é barbeiro na Cidade Nova, e pô-lo de agente,
escrevente, ou que quer que fosse do solicitador Borges, com esperança de vê-lo no
foro, porque lhe parecia que os procuradores de causas ganhavam muito. Passava-
se isto na Rua da Lapa, em 1870.
Durante alguns minutos não se ouviu mais que o tinir dos talheres e o ruído
da mastigação. Borges abarrotava-se de alface e vaca; interrompia-se para virgular
a oração com um golpe de vinho e continuava logo calado.
Inácio ia comendo devagarinho, não ousando levantar os olhos do prato, nem
para colocá-los onde eles estavam no momento em que o terrível Borges o
descompôs. Verdade é que seria agora muito arriscado. Nunca ele pôs os olhos nos
braços de D. Severina que se não se esquecesse de si e de tudo.
Também a culpa era antes de D. Severina em trazê-los assim nus,
constantemente. Usava mangas curtas em todos os vestidos de casa, meio palmo
abaixo do ombro; dali em diante ficava-lhe os braços à mostra. Na verdade, eram
belos e cheios, em harmonia com a dona, que era antes grossa que fina, e não
perdiam a cor nem a maciez por viverem ao ar; mas é justo explicar que ela os não
trazia assim por faceira, senão porque já gastara todos os vestidos de mangas
compridas. De pé, era muito vistosa; andando, tinha meneios engraçados; ele,
entretanto, quase que só a via à mesa, onde, além dos braços, mal poderia mirar-lhe
o busto. Não se pode dizer que era bonita; mas também não era feia. Nenhum
adorno; o próprio penteado consta de mui pouco; alisou os cabelos, apanhou-os,
atou-os e fixou-os no alto da cabeça com o pente de tartaruga que a mãe lhe deixou.
Ao pescoço, um lenço escuro, nas orelhas, nada. Tudo isso com vinte e sete anos
floridos e sólidos.
Acabaram de jantar. Borges, vindo o café, tirou quatro charutos da algibeira,
comparou-os, apertou-os entre os dedos, escolheu um e guardou os restantes.
Aceso o charuto, fincou os cotovelos na mesa e falou a D. Severina de trinta mil
cousas que não interessavam nada ao nosso Inácio; mas enquanto falava, não o
descompunha e ele podia devanear à larga.
Inácio demorou o café o mais que pôde. Entre um e outro gole alisava a
toalha, arrancava dos dedos pedacinhos de pele imaginários ou passava os olhos
pelos quadros da sala de jantar, que eram dous, um S. Pedro e um S. João,
registros trazidos de festas encaixilhados em casa. Vá que disfarçasse com S. João,
cuja cabeça moça alegra as imaginações católicas, mas com o austero S. Pedro era
demais. A única defesa do moço Inácio é que ele não via nem um nem outro;
passava os olhos por ali como por nada. Via só os braços de D. Severina, — ou
porque sorrateiramente olhasse para eles, ou porque andasse com eles impressos
na memória.
— Homem, você não acaba mais? Bradou de repente o solicitador. Não havia
remédio; Inácio bebeu a última gota, já fria, e retirou-se, como de costume, para o
seu quarto, nos fundos da casa. Entrando, fez um gesto de zanga e desespero e foi
depois encostar-se a uma das duas janelas que davam para o mar. Cinco minutos
depois, a vista das águas próximas e das montanhas ao longe restituía-lhe o
sentimento confuso, vago, inquieto, que lhe doía e fazia bem, alguma cousa que
deve sentir a planta, quando abotoa a primeira flor. Tinha vontade de ir embora e de
ficar. Havia cinco semanas que ali morava, e a vida era sempre a mesma, sair de
manhã com o Borges, andar por audiências e cartórios, correndo, levando papéis ao
selo, ao distribuidor, aos escrivães, aos oficiais de justiça. Voltava à tarde jantava e
recolhia-se ao quarto, até a hora da ceia; ceava e ia dormir. Borges não lhe dava
intimidade na família, que se compunha apenas de D. Severina, nem Inácio a via
mais de três vezes por dia, durante as refeições. Cinco semanas de solidão, de
trabalho sem gosto, longe da mãe e das irmãs; cinco semanas de silêncio, porque
ele só falava uma ou outra vez na rua; em casa, nada.
"Deixe estar, — pensou ele um dia — fujo daqui e não volto mais."
Não foi; sentiu-se agarrado e acorrentado pelos braços de D. Severina. Nunca
vira outros tão bonitos e tão frescos. A educação que tivera não lhe permitia encará-
los logo abertamente, parece até que a princípio afastava os olhos, vexado.
Encarou-os pouco a pouco, ao ver que eles não tinham outras mangas, e assim os
foi descobrindo, mirando e amando. No fim de três semanas eram eles, moralmente
falando, as suas tendas de repouso. Agüentava toda a trabalheira de fora, toda a
melancolia da solidão e do silêncio, toda a grosseria do patrão, pela única paga de
ver, três vezes por dia, o famoso par de braços.
Naquele dia, enquanto a noite ia caindo e Inácio estirava-se na rede (não
tinha ali outra cama), D. Severina, na sala da frente, recapitulava o episódio do
jantar e, pela primeira vez, desconfiou alguma cousa Rejeitou a idéia logo, uma
criança! Mas há ideias que são da família das moscas teimosas: por mais que a
gente as sacuda, elas tornam e pousam. Criança? Tinha quinze anos; e ela advertiu
que entre o nariz e a boca do rapaz havia um princípio de rascunho de buço. Que
admira que começasse a amar? E não era ela bonita? Esta outra idéia não foi
rejeitada, antes afagada e beijada. E recordou então os modos dele, os
esquecimentos, as distrações, e mais um incidente, e mais outro, tudo eram
sintomas, e concluiu que sim.
— Que é que você tem? Disse-lhe o solicitador, estirado no canapé, ao cabo
de alguns minutos de pausa.
— Não tenho nada.
— Nada? Parece que cá em casa anda tudo dormindo! Deixem estar, que eu
sei de um bom remédio para tirar o sono aos dorminhocos...
E foi por ali, no mesmo tom zangado, fuzilando ameaças, mas realmente
incapaz de cumpri-las, pois era antes grosseiro que mau. D. Severina interrompia-o
que não, que era engano, não estava dormindo, estava pensando na comadre
Fortunata. Não a visitavam desde o Natal; por que não iria lá uma daquelas noites?
Borges redargüia que andava cansado, trabalhava como um negro, não estava para
visitas de parola, e descompôs a comadre, descompôs o compadre, descompôs o
afilhado, que não ia ao colégio, com dez anos! Ele, Borges, com dez anos, já sabia
ler, escrever e contar, não muito bem, é certo, mas sabia. Dez anos! Havia de ter um
bonito fim: — vadio, e o côvado e meio nas costas. A tarimba é que viria ensiná-lo.
D. Severina apaziguava-o com desculpas, a pobreza da comadre, o
caiporismo do compadre, e fazia-lhe carinhos, a medo, que eles podiam irritá-lo
mais. A noite caíra de todo; ela ouviu o tlic do lampião do gás da rua, que acabavam
de acender, e viu o clarão dele nas janelas da casa fronteira. Borges, cansado do
dia, pois era realmente um trabalhador de primeira ordem, foi fechando os olhos e
pegando no sono, e deixou-a só na sala, às escuras, consigo e com a descoberta
que acaba de fazer.
Tudo parecia dizer à dama que era verdade; mas essa verdade, desfeita a
impressão do assombro, trouxe-lhe uma complicação moral que ela só conheceu
pelos efeitos, não achando meio de discernir o que era. Não podia entender-se nem
equilibrar-se, chegou a pensar em dizer tudo ao solicitador, e ele que mandasse
embora o fedelho. Mas que era tudo? Aqui estacou: realmente, não havia mais que
suposição, coincidência e possivelmente ilusão. Não, não, ilusão não era. E logo
recolhia os indícios vagos, as atitudes do mocinho, o acanhamento, as distrações,
para rejeitar a idéia de estar enganada. Daí a pouco, (capciosa natureza!), refletindo
que seria mal acusá-lo sem fundamento, admitiu que se iludisse, para o único fim de
observá-lo melhor e averiguar bem a realidade das cousas.
Já nessa noite, D. Severina mirava por baixo dos olhos os gestos de Inácio;
não chegou a achar nada, porque o tempo do chá era curto e o rapazinho não tirou
os olhos da xícara. No dia seguinte pôde observar melhor, e nos outros otimamente.
Percebeu que sim, que era amada e temida, amor adolescente e virgem, retido
pelos liames sociais e por um sentimento de inferioridade que o impedia de
reconhecer-se a si mesmo. D. Severina compreendeu que não havia recear nenhum
desacato, e concluiu que o melhor era não dizer nada ao solicitador; poupava-lhe um
desgosto, e outro à pobre criança. Já se persuadia bem que ele era criança, e
assentou de o tratar tão secamente como até ali, ou ainda mais. E assim fez; Inácio
começou assentir que ela fugia com os olhos, ou falava áspero, quase tanto como o
próprio Borges. De outras vezes, é verdade que o tom da voz saía brando e até
meigo, muito meigo; assim como o olhar geralmente esquivo, tanto errava por outras
partes, que, para descansar, vinha pousar na cabeça dele; mas tudo isso era curto.
— Vou-me embora, repetia ele na rua como nos primeiros dias.
Chegava a casa e não se ia embora. Os braços de D. Severina fechavam-lhe
um parêntesis no meio do longo e fastidioso período da vida que levava, e essa
oração intercalada trazia uma idéia original e profunda, inventada pelo céu
unicamente para ele. Deixava-se estar e ia andando. Afinal, porém, teve de sair, e
para nunca mais; eis aqui como e por quê.
D. Severina tratava-o desde alguns dias com benignidade. A rudeza da voz
parecia acabada, e havia mais do que brandura, havia desvelo e carinho. Um dia
recomendava-lhe que não apanhasse ar, outro que não bebesse água fria depois do
café quente, conselhos, lembranças, cuidados de amiga e mãe, que lhe lançaram na
alma ainda maior inquietação e confusão. Inácio chegou ao extremo de confiança de
rir um dia à mesa, cousa que jamais fizera; e o solicitador não o tratou mal dessa
vez, porque era ele que contava um caso engraçado, e ninguém pune a outro pelo
aplauso que recebe. Foi então que D. Severina viu que a boca do mocinho, graciosa
estando calada, não o era menos quando ria.
A agitação de Inácio ia crescendo, sem que ele pudesse acalmar-se nem
entender-se. Não estava bem em parte nenhuma. Acordava de noite, pensando em
D. Severina. Na rua, trocava de esquinas, errava as portas, muito mais que dantes,
e não via mulher, ao longe ou ao perto, que lha não trouxesse à memória. Ao entrar
no corredor da casa, voltando do trabalho, sentia sempre algum alvoroço, às vezes
grande, quando dava com ela no topo da escada, olhando através das grades de
pau da cancela, como tendo acudido a ver quem era.
Um domingo, — nunca ele esqueceu esse domingo, — estava só no quarto, à
janela, virado para o mar, que lhe falava a mesma linguagem obscura e nova de
D.Severina. Divertia-se em olhar para as gaivotas, que faziam grandes giros no ar,
ou pairavam em cima d'água, ou avoaçavam somente. O dia estava lindíssimo. Não
era só um domingo cristão; era um imenso domingo universal.
Inácio passava-os todos ali no quarto ou à janela, ou relendo um dos três
folhetos que trouxera consigo, contos de outros tempos, comprados a tostão,
debaixo do passadiço do Largo do Paço. Eram duas horas da tarde. Estava
cansado, dormira mal a noite, depois de haver andado muito na véspera; estirou-se
na rede, pegou em um dos folhetos, a Princesa Magalona, e começou a ler. Nunca
pôde entender por que é que todas as heroínas dessas velhas histórias tinham a
mesma cara e talhe de D. Severina, mas a verdade é que os tinham. Ao cabo de
meia hora, deixou cair o folheto e pôs os olhos na parede, donde, cinco minutos
depois, viu sair a dama dos seus cuidados. O natural era que se espantasse; mas
não se espantou. Embora com as pálpebras cerradas viu-a desprender-se de todo,
parar, sorrir e andar para a rede. Era ela mesma, eram os seus mesmos braços.
É certo, porém, que D. Severina, tanto não podia sair da parede, dado que
houvesse ali porta ou rasgão, que estava justamente na sala da frente ouvindo os
passos do solicitador que descia as escadas. Ouviu-o descer; foi à janela vê-lo sair e
só se recolheu quando ele se perdeu ao longe, no caminho da Rua das Mangueiras.
Então entrou e foi sentar-se no canapé. Parecia fora do natural, inquieta, quase
maluca; levantando-se, foi pegar na jarra que estava em cima do aparador e deixou-
a no mesmo lugar; depois caminhou até a porta, deteve-se e voltou ao que parece,
sem plano. Sentou-se outra vez cinco ou dez minutos. De repente, lembrou-se que
Inácio comera pouco ao almoço e tinha o ar abatido, e advertiu que podia estar
doente; podia ser até que estivesse muito mal.
Saiu da sala, atravessou rasgadamente o corredor e foi até o quarto do
mocinho, cuja porta achou escancarada. D. Severina parou, espiou, deu com ele na
rede, dormindo, com o braço para fora e o folheto caído no chão. A cabeça
inclinava-se um pouco do lado da porta, deixando ver os olhos fechados, os cabelos
revoltos e um grande ar de riso e de beatitude.
D. Severina sentiu bater-lhe o coração com veemência e recuou. Sonhara de
noite com ele; pode ser que ele estivesse sonhando com ela. Desde madrugada que
a figura do mocinho andava-lhe diante dos olhos como uma tentação diabólica.
Recuou ainda, depois voltou, olhou
dous, três, cinco minutos, ou mais.
Parece que o sono dava à
adolescência de Inácio uma
expressão mais acentuada, quase
feminina, quase pueril. "Uma
criança!" disse ela a si mesma,
naquela língua sem palavras que
todos trazemos conosco. E esta idéia abateu-lhe o alvoroço do sangue e dissipou-
lhe em parte a turvação dos sentidos.
"Uma criança!"
E mirou-o lentamente, fartou-se de vê-lo, com a cabeça inclinada, o braço
caído; mas, ao mesmo tempo em que o achava criança, achava-o bonito, muito mais
bonito que acordado, e uma dessas idéias corrigia ou corrompia a outra. De repente
estremeceu e recuou assustada: ouvira um ruído ao pé, na saleta do engomado; foi
ver, era um gato que deitara uma tigela ao chão. Voltando devagarinho a espiá-lo,
viu que dormia profundamente. Tinha o sono duro a criança! O rumor que a abalara
tanto, não o fez sequer mudar de posição. E ela continuou a vê-lo dormir, — dormir
e talvez sonhar.
Que não possamos ver os sonhos uns dos outros! D. Severina ter-se-ia visto
a si mesma na imaginação do rapaz; ter-se-ia visto diante da rede, risonha e parada;
depois inclinar-se, pegar-lhe nas mãos, levá-las ao peito, cruzando ali os braços, os
famosos braços. Inácio, namorado deles, ainda assim ouvia as palavras dela, que
eram lindas cálidas, principalmente novas, — ou, pelo menos, pertenciam a algum
idioma que ele não conhecia, posto que o entendesse. Duas três e quatro vezes a
figura esvaía-se, para tornar logo, vindo do mar ou de outra parte, entre gaivotas, ou
atravessando o corredor com toda a graça robusta de que era capaz. E tornando,
inclinava-se, pegava-lhe outra vez das mãos e cruzava ao peito os braços, até que
se inclinando, ainda mais, muito mais, abrochou os lábios e deixou-lhe um beijo na
boca.
Aqui o sonho coincidiu com a realidade, e as mesmas bocas uniram-se na
imaginação e fora dela. A diferença é que a visão não recuou, e a pessoa real tão
depressa cumprira o gesto, como fugiu até à porta, vexada e medrosa. Dali passou à
sala da frente, aturdida do que fizera, sem olhar fixamente para nada. Afiava o
ouvido, ia até o fim do corredor, a ver se escutava algum rumor que lhe dissesse que
ele acordara, e só depois de muito tempo é que o medo foi passando. Na verdade, a
criança tinha o sono duro; nada lhe abria os olhos, nem os fracassos contíguos, nem
os beijos de verdade. Mas, se o medo foi passando, o vexame ficou e cresceu.
D.Severina não acabava de crer que fizesse aquilo; parece que embrulhara os seus
desejos na idéia de que era uma criança namorada que ali estava sem consciência
nem imputação; e, meia mãe, meio amiga, inclinara-se e beijara-o. Fosse como
fosse, estava confusa, irritada, aborrecida, mal consigo e mal com ele. O medo de
que ele podia estar fingindo que dormia apontou-lhe na alma e deu-lhe um calafrio.
Mas a verdade é que dormiu ainda muito, e só acordou para jantar. Sentou-se
à mesa lépido. Conquanto achasse D. Severina calada e severa e o solicitador tão
ríspido como nos outros dias, nem a rispidez de um, nem a severidade da outra
podiam dissipar-lhe a visão graciosa que ainda trazia consigo, ou amortecer-lhe a
sensação do beijo. Não reparou que D. Severina tinha um xale que lhe cobria os
braços; reparou depois, na segunda-feira, e na terça-feira, também, e até sábado,
que foi o dia em que Borges mandou dizer ao pai que não podia ficar com ele; e não
o fez zangado, porque o tratou relativamente bem e ainda lhe disse à saída:
— Quando precisar de mim para alguma cousa, procure-me.
— Sim, senhor. A Sra. D. Severina...
— Está lá para o quarto, com muita dor de cabeça. Venha amanhã ou depois
despedir-se dela.
Inácio saiu sem entender nada. Não entendia a despedida, nem a completa
mudança de D. Severina, em relação a ele, nem o xale, nem nada. Estava tão bem!
Falava-lhe com tanta amizade! Como é que, de repente... Tanto pensou que acabou
supondo de sua parte algum olhar indiscreto, alguma distração que a ofendera, não
era outra cousa; e daqui a cara fechada e o xale que cobria os braços tão bonitos...
Não importa; levava consigo o sabor do sonho. E através dos anos, por meio de
outros amores, mais efetivos e longos, nenhuma sensação achou nunca igual à
daquele domingo, na Rua da Lapa, quando ele tinha quinze anos. Ele mesmo
exclama às vezes, sem saber que se engana:
E foi um sonho! Um simples sonho!
* O conto machadiano “Uns Braços” de 1895, utilizado nesse material didático, manteve-se fiel ao original.
Atividade 02.
Confirmando ou refutando as hipóteses levantadas anteriormente.
1. Suas expectativas foram confirmadas? Por quê?
2. O título do conto é pertinente em relação às ideias (assunto) apresentadas no
texto?
3. Qual a temática desenvolvida por Machado de Assis nesse conto? Busquem no
texto elementos que comprove sua resposta.
Esse texto você pode encontrar em: http://www.dominiopublico.gov.br
Atividade 03.
Estudo do Gênero/ Texto – buscando novas informaçõe s.
1. Identifique os personagens que participam da narrativa, os lugares onde os fatos
acontecem e o momento histórico em que se desenvolvem os acontecimentos.
Esses elementos colaboram para o entendimento do texto? Que características dos
personagens, lugares e momento histórico retratados no conto auxiliam na sua
compreensão?
2. O foco narrativo é o ponto de vista que o narrador se utiliza para contar um fato.
Observe o foco narrativo do Conto “Uns Braços” e responda:
a) Como o narrador conta o fato? Ele participa das ações ou somente conta a
história? Como isso está marcado no texto? Exemplifique.
Atividade 04.
Linguagem e estilo: reflexão.
1. O narrador está na 3ª pessoa e é onisciente, aquele que tudo sabe tudo ouve,
tudo vê. Demonstra certo carinho com “Inácio” e cria um vínculo com o leitor quando
diz “nosso Inácio”. As pessoas do verbo indicam se o narrador é personagem ou
onisciente. Copiem do texto alguns exemplos de verbos indicadores do tipo de
narrador.
2. Os verbos que constituem as ações estão no pretérito perfeito simples e no
pretérito imperfeito. Ressaltam ações narradas, essencialmente, no passado. Qual a
razão, portanto, para o autor usar ora um tempo verbal, ora outro? Justifique.
3. As exclamações, pelo contexto, podem, às vezes, provocar “várias leituras, isto é,
outras interpretações” que permitem ao leitor inferir possíveis significados para o
texto, bem como, se valer do conteúdo semântico daquilo que não foi dito, mas
sugerido implicitamente. Nessa perspectiva, qual seria o significado do uso das
exclamações no desfecho do conto?
4. Faça um levantamento das palavras ou expressões do texto que caracterizam os
personagens da história. Essa escolha é adequada aos personagens dessa
narrativa? Justifique sua resposta.
5. Há no texto palavras ou expressões que você desconhecia? Caso não consiga
apreender seu significado a partir do texto, faça um apanhado das mesmas e
pesquise o seu significado em um dicionário, depois volte ao texto e diga de que
maneira essa pesquisa contribuiu para o seu entendimento/interpretação.
Atividade 05.
Relações intertextuais / interdiscursivas
1. A temática “amor proibido”, presente na história, pode ser justificada pelas
características comportamentais e psicológicas dos personagens?
2. Retire do texto situações típicas de um amor proibido, escondido, permeado pela
traição, etc.
3. Quando D. Severina chegou à conclusão de estar sendo admirada/cortejada pelo
rapaz Inácio? Que álibi(s) ela procura para disfarçar seu desejo?
4- Destaquem no texto os trechos em que há uma frágil fronteira entre o sonho e a
realidade. Por que isso acontece?
5- Sabendo-se que o texto foi publicado, pela primeira vez, em outubro de 1895, no
final do século XIX, em meio a uma sociedade impregnada de valores morais e
sociais muito rígidos e num cenário doméstico da família burguesa, identifique e
discuta partes do conto que nos permitem ligar o personagem Inácio e D. Severina a
esse momento histórico?
6- Nos dias atuais, como os personagens Inácio e D. Severina se comportariam
frente a esse amor “platônico” e proibido?
Atividade 06.
O enredo / trama
Observando a organização estrutural do texto, identifique trechos onde
aparecem:
1. As características de caráter, de comportamento dos personagens.
2. Introdução do conflito.
3. O acontecimento notável (o clímax).
4. Desfecho do conflito.
5. A conclusão a que chegou Inácio depois do ocorrido.
INTERTEXTUALIZANDO
No mundo da leitura há um processo contínuo de texto que puxa outro
texto. Isso porque um tema nunca está dentro de um único gênero textual. Ele
surge sempre nos mais variados gêneros do discurso. Sendo assim, vamos enriquecer nosso trabalho desenvolvendo o tema amor (proibido) , presente no
Conto “Uns Braços”, na perspectiva de outros gêneros, sem, entretanto, nos
aprofundarmos em cada um deles, já que nosso objetivo aqui é apenas de lançar luz
sobre a intertextualidade. A palavra amor (do latim amor) presta-se a múltiplos significados na língua
portuguesa. Pode significar afeição, compaixão, misericórdia, ou ainda, inclinação,
atração, apetite, paixão, querer bem, satisfação, conquista, desejo, libido, etc. O
conceito mais popular de amor envolve, de modo geral, a formação de um vínculo
emocional com alguém, ou com algum objeto. Fala-se do amor das mais diversas
formas: amor físico, amor platônico, amor materno, amor a Deus, amor a vida. É o
tipo de amor que tem relação com o caráter da própria pessoa e a motiva a amar (no
sentido de querer bem e agir em prol).
Esse tema não é novo, data-se da criação do mundo e consta do mito
adâmico, quando Adão e Eva, sozinhos, no paraíso, descobrem o amor e, a partir
daí, inicia-se a família e as várias manifestações de amor.
Temos também o amor proibido, focalizado na obra “Romeu e Julieta” de
Willian Shakespeare, escritor britânico que escreve uma peça teatral dividida em
cinco partes, cujo enredo é: Em Verona , o jovem Romeu fica apaixonado e é
correspondido por Julieta, uma donzela que pertence a uma família rival. No entanto,
este amor profundo terá trágicas consequências. Definitivamente, uma história
clássica de um amor proibido entre um homem e uma mulher.
Machado de Assis, autor do conto, utilizou o texto em prosa para dar forma ao
conto, porém, a temática de um conto pode aparecer nas mais variadas formas, em
versos, em letras de música, no cinema, em peças teatrais, em novelas e muitos
outros. A seguir, poemas que podem remeter à temática do Conto “Uns Braços”.
Quadrilha
(Carlos Drummond de Andrade)
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou-se com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
http://tp.wikipedia.org/wiki/Amor.html
Espinho na roseira (Drumonda)
(André Abujamra)
Tem espinho na roseira
Cuidado vai cortar a mão
Pedro Alcântara do Nascimento amava Rosa, mas a Rosa não amava ele não
Rosa Albuquerque amava Jorge, amava Jorge Benedito de Jesus
E o Bendedito, Benedito, Benedito Jorge, amava Lina que é casada com João
E o João, João sem dente, amava Carla, a Carla da cintura fina
E a Carla, linda menina, amava Antônio Violeiro do Sertão
E o sertão vai virar mar
E o mar vai virar sertão
E o Antônio, cabra da peste, amava Júlia que era filha de Odete
E a Odete amava Pedro, que amava Rosa que era prima de Drumond
E o Drumond era casado com Maria que era filha de Sofia, mãe de Onofre e de José
E o José era casado com Nazira que era filha de Jandira, concubina de Mané
E o Mané tinha 17 filhos 10 homem e 6 menina e um que ia resolver
E o rapaz tava na adolescência tinha brinco na orelha e salto alto para crescer
E o Rodolfo que já era desquitado era homem mal amado não queria mais viver
E encontrou Maria Paula de Arruda que lhe deu muita ajuda fez seu coração nascer
E são essas histórias de amor
Que acontecem, todo dia, sim senhor
Encontre o texto, domínio público:
http://pulsarbrasil.blogspot.com/2007_02_01_archive.html.
ATIVIDADE 07.
Produções do aluno a partir do texto
Desenvolvendo a oralidade:
1-Discutir com os alunos as opiniões deles a respeito do conto, fazendo-os elaborar
argumentos que sustentem suas ideias.
2-Debater questões polêmicas, como: adultério, amor e diferença de idade, a
repressão moral dos costumes, as relações entre essência e aparência.
Narrar é contar - construindo o texto.
Há uma velha crença de que quem conta um conto aumenta um ponto.
Machado de Assis deixa, como sempre, muitas lacunas para serem preenchidas
pelo leitor em suas possíveis/prováveis leituras. Algo “ficou no ar” ao terminar o texto
com a expressão: “Foi um sonho! Apenas um sonho!”. Vamos aproveitar essa
“deixa” e reescrever o conto, a partir do parágrafo – ‘ Um domingo’ - mudando o foco
narrativo: Inácio ou Dona Severina como narradora ou, ainda, elaborar outro final
para o conto.
A elaboração de uma nova versão para o texto nos dá a oportunidade de
colocarmo-nos criticamente diante de uma determinada realidade e/ou de
buscarmos, na ficção, uma forma de extrapolar nossas ideias e concepções sobre o
tema em questão. Relacionar o tempo histórico do conto e a vida atual – o que
permanece e o que muda, em relação à repressão moral e ao ambiente ambíguo em
que se movia a mulher (D.Severina) – é uma forma de colocar nossa leitura de
mundo como prática atitudinal que formará leitores proficientes, inseridos, portanto,
em práticas sociais coerentes e alicerçadas.
Atividade 08.
Outras leituras...
1-A paixão de Inácio faz com que viva sentimentos ambíguos: ...que lhe doía e fazia
bem (...)Tinha vontade de ir embora e de ficar. O amor, como sentimento
contraditório, está presente, por exemplo, no famoso soneto de Camões Amor é
fogo que arde sem se ver e em Vinicius, especialmente, no Soneto da Fidelidade .
Seria interessante ler estes poemas com/para a turma.
2. Propor que os alunos pesquisem sobre o tema amor na biblioteca, em revistas,
jornais, Internet, em casa; incluindo textos, cartas, poemas que os próprios alunos já
escreveram.
a) Criar critérios de classificação de todo o material pesquisado. Os critérios
podem se relacionar com: gêneros textuais, diferentes linguagens, textos por
autor, etc.
b) Feita a classificação coletivamente, organizar um mural e expor para a escola.
O cinema é um campo que propicia um amplo diálogo c om a literatura.
Alguns filmes dão claro exemplo de como a realidade (na sociedade) se
apresenta e até dão margem para que o expectador reflita sobre as críticas, muitas
vezes veladas, mas claras e objetivas, contribuindo para uma leitura de mundo
interativa e num tempo real. Muitos desses filmes nem alcançam muito sucesso na
mídia, mas analisados são cheios de significação.
DIVERSÃO E CULTURA
Sugestões de filmes sobre as diversas manifestações de amor
Atividade 09.
Vamos assistir ao filme “Romeu e Julieta de Willian Shakespeare?” , um
filme do diretor Baz Lubrimann, 1996.
O filme “Romeu e Julieta” narra o amor proibido entre dois jovens, pois suas
respectivas famílias eram inimigas. Porém, a adaptação brilhante e contemporânea
faz do trágico caso de amor, uma inesquecível e criativa história que fora
transportada de suas origens Elizabethanas para a futurista e agitada cidade de
Verona Beach. Mesmo sendo adaptação, demonstra a real dificuldade de se manter
um amor, ainda mais proibido, na vida real em sociedades machistas, autoritárias e
cheias de preconceitos e enormes diferenças sociais na qual vivemos.
Após o filme, em círculo, na sala de aula, debater sobre o temática, fazendo
comparações entre a temática do conto machadiano “Uns Braços” e a adaptação do
clássico Romeu&Julieta. Nesta roda de debates, deixar os alunos livres para fazer
suas exposições a cerca dos fatos, tempos históricos e atuais, personagens,
atitudes, moral... Ao professor, atentar sempre para o encaminhamento do debate,
de maneira que os tragam para a realidade atual na qual vivemos.
“A VIDA É BELA” – (ROBERTO BENIGNI)
Ambientada na dura realidade da Segunda Guerra Mundial, é uma
comovente fábula CHAPLINIANA de amor e fantasia, que conta a história de um
homem que usou a imaginação e seu infatigável espírito para salvar aqueles a quem
mais amava.
“O AMOR ALÉM DA VIDA” – (VINCENT WARD)
Um filme intenso e emocionante, que fala de uma família destruída pela morte
dos filhos, depois do esposo e mais tarde da esposa (morte não natural e sim,
suicídio). Enfim, todos mortos, o esposo parte em busca da salvação da alma da
esposa, provando que o amor e a união da família, desafiam qualquer infortúnio.
“MADRE TERESA” – (FABRIZIO COSTA)
Um filme verídico que narra a vida daquela que dedicou parte dela para cuidar
dos pobres, dos doentes, dos esquecidos. A “Santa dos pobres mais pobres”, como
era conhecida aos 21 anos mudou seu nome para TERESA, ingressou em um
Convento de Calcutá onde anos mais tarde o deixaria e começara a trabalhar nos
bairros mais pobre da cidade, vindo a fundar em 1946, a Congregação da
Missionária da Caridade. Seu coração encontrou os esquecidos. Sua fé encontrou o
caminho. Prova de que o amor aos próximos existe e se faz necessário.
“ÓLEO DE LORENZO” – (GEORGE MILLER)
Um filme inesquecível baseado em história real que conta sobre uma doença
terminal, rara no Lorenzo (filho de cinco anos). Os pais se lançam para salvá-lo
enfrentando médicos, cientistas e grupos de apoio que relutam em incentivar o casal
na busca de uma cura. O esforço inesgotável dos dois testa a resistência de seus
laços de união, de amor, a profundidade de suas crenças e os limites da medicina
convencional.
“PAIXÃO PROIBIDA” – (FRANÇOIS GIRARD)
Dois jovens em pleno século XIX casam-se e acham que vão ser felizes para
sempre. Mas estavam enganados. A próspera indústria europeia de seda é atingida
por uma praga, e ele (o marido) terá que fazer uma perigosa viagem ao Japão. Sua
viagem o levará ao temido barão local - e também a sua concubina, garota
misteriosa e dona de uma beleza impressionante. Ela não tem nome, não falam a
mesma língua. Mas algo acontece entre os dois que vai mudar a vida do
protagonista e, consequentemente, sua vida conjugal.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Mario de. Disponível em: http://tp.wikipedia.org/wiki/Conto-
www.atica.com.br/Artigos/?a=5
Acesso em: 02.03.2010
ASSIS, Machado de. Conto Uns Braços. Disponível em:
http://www.dominopublico.gov.br.
Acesso em: 09.02.2010.
ASSIS, Machado de. Biografia . Disponível em: http://www.dominopublico.gov.br
Acesso em: 22.02.2010.
BAMBERGER, R. Como Incentivar a Leitura. Trad. Octávio Mendes Cajado. 7.ed.
São Paulo: Ática, 2004.
FREIRE, P. A importância do ato de Ler . São Paulo: Cortez, 1992. GERALDI, J.
W. O texto na sala de aula – leitura e produção. Cascavel: Assoeste, 1984.
MARCUSCHI. L.A. Produção Textual, Análise de Gêneros e Compreensão. São
Paulo: Parábola Editorial, 2008.
MENEGASSI, Renilson José. Leitura e Ensino. Maringá: EDUEM, 2005.
PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Língua
Portuguesa para a Educação Básica. Ensino Médio , Curitiba, 2007.
SOLÉ, I. Estratégias de Leitura . Trad. Claudia Schilling. 6.ed. Porto Alegre: ArtMed,
1998.