DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · regular, o estudo de caráter qualitativo realizado,...
-
Upload
phungkhanh -
Category
Documents
-
view
213 -
download
0
Transcript of DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · regular, o estudo de caráter qualitativo realizado,...
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
Secretaria de Estado da EducaçãoSuperintendência da Educação
Departamento de Políticas e Programas EducacionaisCoordenação Estadual do PDE
Inclusão Escolar: Acesso do aluno surdo aos conhecimentos específicos de geografia
Autor: Zilman do Rocio Martins Rechi1
Orientador Irene Stock.2
RESUMO
O presente artigo examina como vem sendo viabilizado o acesso do aluno surdo aos conhecimentos geográficos, bem como as práticas pedagógicas utilizadas no atendimento as diferenças, propiciando um olhar diferenciado sobre a questão da inclusão dos surdos no ensino regular. Promover uma aprendizagem satisfatória junto a alunos surdos nas escolas públicas, é um dos desafios da educação atual. Mais do que inclusão é preciso pensar na acessibilidade ao conhecimento e na qualidade das relações sociais para promover o seu desenvolvimento. A educação inclusiva é a prática da inclusão de todos os alunos, independente de suas necessidades especiais, de modo que haja o aprendizado dos conteúdos ministrados.
Palavraschave: Inclusão, Geografia. Surdos, práticas pedagógicas.
ABSTRACTThis article examines how it has been enabled access to knowledge of geography deaf students and the teaching practices used in the treatment differences, providing a different look at the issue of inclusion of deaf people in mainstream education. Promote a satisfactory learning from the deaf students in public schools, is one of the challenges of education today. More than inclusion is necessary to think about accessibility to knowledge and quality of social relations in their development aid. Inclusive education is the practice of including all students, regardless of their special needs, so that there is learning the contents taught.
1. Professor do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, da Secretaria de Estado daEducação, Graduada em Geografia pela FAFIG.2. Professora do Departamento de Educação Especial da Universidade Estadual do Centro-Oeste, Orientadora do PDE,
Keywords: Inclusion, Geography. Deaf, teaching practices.INTRODUÇÃO
Na realidade atual no meio educacional e da sociedade, temse
discutido a inclusão educacional, ou seja, como estão sendo incluídas pessoas com
deficiência como: mental, física ou psicomotora na escola. A questão é difícil de
ser analisada, pois ainda há vários paradigmas a serem quebrados.
O estudo realizado se desenvolveu nas seguintes etapas: pesquisa e
análise de material sobre ensino especial e educação inclusiva, principalmente no
ensino de surdos ou com deficiência auditiva, diretrizes curriculares de Geografia e
de educação especial do Estado do Paraná; observação do ambiente escolar;
contato com os professores de Geografia e de outras áreas que trabalham com
alunos surdos; realização de entrevistas com base em um roteiro semiestruturado
com professores e alunos, aplicação em sala de aula regular de um conteúdo
geográfico com utilização de imagens, estudo de campo e, finalmente, análise do
material coletado.
Partindo de pesquisa realizada junto ao corpo docente e discente do
Colégio Estadual Antonio Dorigon, onde existem alunos surdos incluídos no ensino
regular, o estudo de caráter qualitativo realizado, procurou estabelecer quais as
concepções sobre ensino e escola inclusiva que os professores que trabalham com
alunos surdos incluídos tinham no momento da pesquisa. Se a escola possui
interprete de LIBRAS? Que avaliações fazem disso, diante de sua realidade de
ensino? Quais as práticas pedagógicas têm favorecido a aprendizagem de alunos
surdos? Quais recursos didáticos são mais utilizados? Quais formas de avaliação
são mais utilizadas com alunos surdos?
Assim, procuramos reconhecer qual o entendimento e envolvimento
dos professores de Geografia e demais disciplinas quanto à questão da inclusão,
bem como as dificuldades e possibilidades de trabalho com o aluno surdo em
relação aos conteúdos da disciplina.
Também foram analisadas as dificuldades encontradas pelos alunos
surdos em relação às aulas, destacando quais práticas pedagógicas favorecem o
entendimento dos conteúdos.
1. A EDUCAÇÃO INCLUSIVA: SUA TRAJETÓRIA E CARACTERÍSTICAS
A inclusão de alunos com deficiência, seja esta qual for, é um grande
desafio para nós educadores, o qual não deve ficar apenas no campo das idéias ou
opiniões, mas sim efetivamente praticado com responsabilidade.
Neste sentido, Carvalho (2004) faz um comentário extremamente
propício:
(...) a proposta de educação inclusiva tem sido apresentada por educadores, por outros profissionais, ou por pais e familiares, com conotações diferenciadas e, por vezes, contraditórias, o que tem gerado dúvidas e resistências, principalmente dos professores em geral”. (p.14)
O que realmente ocorre, é falta de conhecimento pleno sobre o
assunto tanto de educadores, como pais e comunidade em geral. Muitas discussões
ficam limitadas ao nível do senso comum, predominando a afirmação de que a
escola não está preparada para receber estes alunos e que os professores ainda
não estão capacitados.
A educação inclusiva é algo que necessita ser compreendida na
escola, pois é lei e esta deve receber o aluno com deficiência independentemente
de qual seja ela. Portanto, a palavra chave neste momento é “capacitação”,
ressaltando que quando falamos em escola, estamos nos referindo a todos os
envolvidos diretamente: direção, professores, funcionários, enfim, todos aqueles
que fazem parte do contexto escolar.
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996) a
Educação Especial é entendida como: “Modalidade de educação escolar,
oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores
de necessidades especiais”.
A educação inclusiva deve ser encarada como um processo de
formação do indivíduo, e sobretudo cumprimento da lei.
Sabese que existem um conjunto de leis, as quais garantem o
acesso e permanências de crianças com deficiência. Podemos citar como referência
a Declaração de Salamanca, esta elaborada pela ONU (Organização das Nações
Unidas), em 1994, a qual afirma que os Estados devem assegurar que a educação
de pessoas com deficiência seja parte integrante do sistema educacional.
Sabemos que a aceitação do indivíduo com deficiência na
sociedade é um tanto quanto complicada, pois desde os primórdios de nossa
existência, eles eram simplesmente abandonados, deixados de lado.
Portanto, se faz necessário que a sociedade entenda a sua
responsabilidade, e comprometimento, no sentido de tornar o ensino um direito
realmente de todos, sem distinção.
Nesse sentido, a escola necessita entender que receber o aluno
especial não é um fato a ser questionado, se pode ou não frequentar a escola
regular, mas sim uma obrigatoriedade.
2. O DEFICIENTE AUDITIVO NO PROCESSO DE INCLUSÃO NO BRASIL
Em 1857, foram implantadas as primeiras ações em relação ao
processo de aprendizagem dos surdos, através da Fundação do Imperial Instituto
dos SurdosMudos, pelo imperador Dom Pedro II, através da Lei nº 839, de 26 de
setembro, onde teve início a primeira escola de surdos do Brasil.
O professor francês, surdo, Eduard Huet implantou no Brasil a
Língua de Sinais Francesa.
Mais tarde, na década de 1950, o Instituto passou a denominarse
INES – Instituto Nacional de Educação especializado em surdez, onde eram
desenvolvidas pesquisas científicas, esperando promover e assegurar o
desenvolvimento do sujeito com deficiência auditiva, sua socialização com o mundo
e o respeito às suas diferenças.
Em 1951, foi criado o primeiro curso normal para professores na
área da surdez.
Em 1980, é criado o Curso de Especialização para professores na
área da surdez, este com a finalidade de capacitar , bem como formar
multiplicadores na área da surdez, conhecido hoje como Curso de Estudos
Adicionais, onde são recebidos professores de todo o país, os quais serão
disseminadores dos conhecimentos adquiridos.
Depois da publicação da Declaração de Salamanca em 1994, a qual
atesta que “toda criança tem o direito fundamental à educação, e deve ser dada a
oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem” percebeuse a
necessidade do conhecimento, por parte dos órgãos governamentais, das diferenças
e situações individuais, principalmente levando em consideração a importância da
lingua de sinais como meio de comunicação entre os surdos.
Finalmente, em 1996 a Coordenadoria Nacional para Integração da
Pessoa Portadora de Deficiência, realiza uma Câmara Técnica, onde resulta no
documento “Resultado da Sistematização dos Trabalhos da Câmara Técnica sobre o
Surdo e a Língua de Sinais”, consolidando propostas e sugestões dos participantes
de todo o Brasil, tanto ouvintes como surdos, assinadas e aprovadas em sessão
plenária do evento, a título de subsidiar a legalização da Língua Brasileira de Sinais
no país e a caracterização da profissão de intérprete.
No V Congresso LatinoAmericano de Bilingüismo, em 1999, surdos
de todo Brasil, realizam um encontro nacional, onde resulta o documento “A
educação que nós Surdos queremos”.
Na Lei n° 10.172 de Janeiro de 2001 que aprovou o Plano Nacional
de Educação, em relação aos deficientes auditivos na parte 8 coloca a obrigação de:
Garantir a generalização, em cinco anos, da aplicação de testes e acuidade visual e auditiva em todas as instituições de educação infantil e do ensino fundamental, em parceria com a área de saúde, de forma a detectar problemas e oferecer apoio adequado às crianças especiais. Implantar, em cinco anos, e generalizar em dez anos, o ensino da Língua Brasileira de Sinais para os alunos surdos e, sempre que possível, para
seus familiares e para o pessoal da unidade escolar, mediante um programa de formação de monitores, em parceria com organizações nãogovernamentais.
Hoje, conhecida como uma fonte de comunicação e cidadania para os deficientes auditivos, a LIBRAS ( Língua de Sinais):
Art. 1o É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais – Libras e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entendese como Língua Brasileira de Sinais – Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visualmotora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos nas comunidades de pessoas surdas do Brasil. (Lei Federal no 10.436, de 24 de Abril de 2002).
Em 22 de dezembro de 2005, pelo decreto no 5.626 é
regulamentado a LIBRAS, a qual veio reforçar a idéia de inclusão, pois destaca que:
Art. 3. A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Reforça ainda a idéia da educação dos surdos, destacando também
a capacitação do professor, neste mesmo decreto colocando que:
Art. 4. A formação de docentes para o ensino de Libras nas séries finais do ensino fundamental, no ensino médio e na educação superior, deve ser realizada em nível superior, em curso de graduação de licenciatura plena em Letras: Libras ou em Letras: Libras/Língua Portuguesa como segunda língua.
Ainda estamos engatinhando neste processo de evolução na área
da surdez. Devemos procurar enquanto professores e educadores nos adaptar a
estas diferenças.
É fundamental a capacitação do professor, pois em sua graduação
não foi preparado para trabalhar com as diferenças. Demo (2007) destaca que:
É preciso, em contra partida, cuidar do professor com absoluto carinho e sistematicidade, para que possa dar conta de tantas expectativas depositadas sobre ele. Não cabe apenas exigir e muito menos criticar. Ele precisa antes de tudo, de oportunidades para que possa contribuir na construção das oportunidades da sociedade. Um professor tendencialmente excluído não consegue cuidar da inclusão dos outros, em particular da imensa multidão excluída de nossa sociedade.
Constatamos que vários cursos de graduação já possuem em suas
matrizes curriculares disciplinas que visam esclarecer e preparar o discente para
este desafio. Já existem muitas universidades que possuem cursos específicos de
Libras, como propõe a lei.
Verificamos através do exposto, que o Brasil, sob o ponto de vista da
legislação, possui uma série de mecanismos, os quais garantem o atendimento, bem
como visa a inclusão das pessoas com deficiência, inclusive os surdos na educação.
3. A VISÃO DO PROFESSOR SOBRE A EDUCAÇAO DO SURDO.
Pelas pesquisas realizadas com os professores da rede estadual,
pertencentes ao Colégio Estadual Antonio Dorigon, pudemos ter uma visão sintética
a respeito da inclusão, bem como o desenvolvimento em suas aulas.
Foram questionados 26 professores, com o objetivo de coletar
dados sobre as práticas pedagógicas utilizadas no desenvolvimento dos conteúdos
da disciplina, junto a alunos surdos.
Podemos observar os resultados da pesquisa através dos gráficos a
seguir:
No primeiro gráfico referese as quais concepções os professores
possuem em relação ao trabalho com aluno surdo, 62% responderam que
apresentam dificuldades no trabalho por não ter formação, 15% acham que o
trabalho com surdos é muito difícil, 15% responderam que acham de grande
importância os projetos relacionados com os surdos e 8% responderam que os
alunos surdos não conhecem Libras.
Que concepção você professor possui em relação ao trabalho com aluno surdo?
62%15%
15%
8%
Dificuldades no trabalhosem formação
Trabalho difícil
Grande importância aosprojetos relacionadoscom os surdos
Aluno surdo não conhecelibras
Figura 1 Zilman do Rocio Martins Rechi
Pelas respostas apresentadas quanto as concepções do trabalho
com alunos surdos, constatase que os professores encontram grandes dificuldades
no desenvolvimento de suas atividades ,sendo o principal motivo o despreparo e
insegurança para lidar com essa realidade.
O gráfico a seguir demonstra quais as práticas pedagógicas que têm
favorecido a aprendizagem de alunos surdos. 47% acreditam que a utilização de
Libras, imagens e gravuras, favorecem na aprendizagem, 23% responderam que a
busca de material visual e técnicas de conhecimento em Libras auxiliará na
aprendizagem, 15% responderam que não conhece nenhum material didatico, 15%
acham muito importante o atendimento individual e na sala de recursos.
Quais as práticas pedagógicas tem favorecido a aprendizagem de alunos surdos?
47%
23%
15%
15%Uso de libras, imagens egravuras
Busca de materiais etecnicas de conhecimentoem libras
Atendimento individual esala de recursos
Não conhece nenhummaterial didáticodiferenciado
Figura 2 Zilman do Rocio Martins Rechi
Percebese em relação as práticas pedagógicas que o uso de Libras
e imagens são destaques no ensino aprendizagem. Contudo observase que uma
grande parcela de professores não conhecem materiais didáticos que facilitariam a
aprendizagem de seus alunos o que impede seu direito de aprender.
O gráfico 3 referese a quais recursos didáticos os professores
mais utilizam, 39% responderam que utilizam slides na TV pendrive, 15% utilizam
imagens, 38% ainda utilizam apenas o quadro de giz e 8% utlizam gestos para se
comunicar com os alunos.
Recursos didáticos mais utilizados
39%
15%
38%
8%
Slides
Imagens
Quadro de giz
Gestos
Figura 3 Zilman do Rocio Martins Rechi
Pelos dados obtidos acima observase a importância do uso de
imagens e slides, como recurso didático essencial no trabalho com aluno surdo.
O ensino de Geografia, assim como as demais disciplinas, será
melhor ensinada e terá uma aprendizagem significativa, com a utilização de
materiais didáticos que não fiquem presos apenas à escrita.
Segundo Reily (2003 p.16), é importante o uso de
representações visuais como estratégia de ensino numa proposta pedagógica
inclusiva. Ela afirma que o uso das imagens beneficia o ensino do aluno surdo e,
que os educadores devem compreender mais seu poder construtivo para utiliza
lo adequadamente, auxiliando no processo de desenvolvimento do pensamento
conceitual.
As imagens são peças fundamentais na aprendizagem do
aluno surdo, pois é um importante meio para a pessoa surda associar
informações com a realidade. As novas tecnologias, mapas, murais, ilustrações e
todas as atividades dinâmicas como estudo do meio, saída a campo etc, irão
subsídiar o ensinoaprendizagem do aluno surdo.
4. A VISÃO DO ALUNO SURDO SOBRE O ENSINO APRENDIZAGEM
Com base nas pesquisas feitas com alunos surdos do já referido
colégio, destacamos que todos possuem grandes dificuldades de comunicação com
professores e demais alunos, acreditam ser fundamental a presença do intérprete de
Libras nas salas, porem não contam com esse auxilio. Gostam de estudar em
escolas regulares sendo que um aluno relatou que gosta mais ou menos, e as
atividades que mais gostam são as que utilizamse de imagens e desenhos, e uso
de laboratório de informática. Destacaram também que as principais formas de
avaliação feitas pelos professores são uso de provas escritas com perguntas,
marque verdadeiro ou falso, sendo que um aluno relatou que são usadas poucas
imagens nas provas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante dos resultados obtidos na pesquisa que foi relatado no
presente artigo, constatamos que não é fácil aprender e aceitar a inclusão de
alunos surdos. É uma tarefa difícil para muitos educadores, pois se necessita
romper barreiras frente aos ambientes educacionais pautados por paradigmas
tradicionais e disciplinares.
Percebemos que as salas de aula hoje, devem atender as
particularidades de cada aluno surdo, pois existem diferentes graus de surdez,
além de domínios diferentes de linguagem, alguns chegam na escola
alfabetizados na Língua de Sinais (LIBRAS), mas muitos apenas se comunicam
com gestos criados na própria família. Portanto, a capacidade de interpretação
de textos pode variar muito, havendo necessidade maior ou menor de
investimentos de recursos didáticos diferenciados e apoio extrasala.
Hoje para que a escola comum possa ser efetivamente
inclusiva, o professor necessita ser informado sobre todas as dificuldades e
possibilidades do aluno surdo, entre outros, bem como necessita ser capacitado
para atender o mesmo de modo eficaz. A Secretaria de Educação deve oferecer
formação a todos os professores, para informar sobre a surdez e a educação
inclusiva, pois só assim estaremos implantado uma educação inclusiva com
responsabilidade e ao mesmo tempo ajudando a eliminar preconceitos. O
professor precisa estar apto para se comunicar com o aluno surdo em Libras e
ter a ajuda de um intérprete.
Precisamos entender que mais do que se comunicar, o aluno
surdo como qualquer outro ser humano tem suas necessidades, ou seja ele
precisa realizar, para se desenvolver cognitivamente, profissionalmente e
pessoalmente. Assim, ele se sentirá parte do mundo em que vive. O importante,
mais do que tudo, é o que eles querem, ou seja, poder intervir, participar, viver
em comunidade e mostrar a sua capacidade.
No livro “Pedagogia da autonomia”, de Paulo Freire, onde o
mesmo fala de ética e sobre a necessidade do professor respeitar o aluno como
um individuo com “vocação ontológica para ser mais”, afirma o seguinte:
[...] mais do que um ser no mundo, o ser humano se tornou uma Presença no mundo, com o mundo e com os outros. Presença que, reconhecendo a outra presença como um “nãoeu” se reconhece como “si própria”. Presença que se pensa a si mesma, que se pensa a si mesma, que se sabe presença, que intervém, que transforma, que fala do que faz mas também do que sonha, que constata, compara, avalia, valora, que decide, que rompe.(FREIRE, 2002, p. 20)
Finalizamos, ressaltando a importância do professor de
Geografia, estar preparado para o uso das diferentes linguas, não somente
visando a compreensão dos alunos surdos, mas no sentido de ampliar e
potencializar o processo de alfabetização geográfica para todos os alunos.
Para ensinar alunos surdos e ouvintes, o professor precisa oferecer
práticas pedagógicas que favoreçam a aprendizagem de todos, sem exclusão. Ao
ensinar a Geografia numa perspectiva inclusiva, o professor deverá dispor e utilizar
dos mesmos recursos que geralmente utiliza com os alunos ouvintes, pois se
estamos trabalhando com inclusão, nossa meta é integrar e não excluir. Para tanto,
ao planejarmos e prepararmos nossas aulas é importante questionarmos que
metodologia é mais indicada para viabilizarmos o acesso ao conhecimento dos
conteúdos de geografia a todos os alunos, sem deixar o aluno surdo ou outros
alunos que tenham dificuldade de aprendizagem à margem do conhecimento.
A utilização de diferentes linguagens se constitui em recursos
didáticos eficazes como mediadoras do processo de ensinoaprendizagem, e devem
obedecer alguns critérios, tais como adequação aos objetivos propostos, e aos
conteúdos a serem trabalhados. Destacase alguns recursos utilizados no
desenvolvimento de conteúdos geográficos tais como, imagens (compreende
fotografias, ilustrações, figuras, mapas, gráficos, tabelas, gravuras, pinturas e obras
de arte), filmes, etc. Esses recursos além de facilitar a aprendizagem poderão
contribuir para tornar a disciplina de geografia mais significativa na reflexão dos
alunos.
Nas DCEs de educação inclusiva encontramos uma definição de
estudiosos da área sobre adaptações curriculares onde os professores devem estar
atentos:
(...) quando se fala de adaptações curriculares esta se falando, sobretudo, e em primeiro lugar, de uma estratégia de planejamento e de atuação docente e, nesse sentido, de um processo para tratar de responder as necessidades de aprendizagem de cada aluno [...] fundamentado em uma série de critérios para guiar a tomada de decisões com respeito ao que é, ao que o aluno ou aluna deve aprender, como e quando e qual é a melhor forma de organizar o ensino para que todos saiam beneficiados (MEC, 1992 apud MANJON, 1995, p.82).
Não se trata de ter currículos separados, mas sim, utilização de
práticas educacionais com estratégias metodológicas flexíveis, buscando remover
barreiras que impeçam a aprendizagem dos alunos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHO, Rosita E. Educação Inclusiva com os pingos nos “is”. Porto Alegre:Editora Mediação, 2004.
Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005.
DEMO, Pedro. Professor do futuro e reconstrução do conhecimento. 5. ed. Petrópolis, RJ. Vozes, 2007.
ESTADO DO PARANÁ, SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, Diretrizes curriculares de Geografia para os anos finais do ensino fundamental e para o ensino médio, Curitiba, 2008.
ESTADO DO PARANÁ, SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, Diretrizes curriculares da Educação Especial para a Construção de Currículos Inclusivos, Curitiba, 2006
Educação Bilíngüe para os Surdos. Espaço Informativo Técnico Científico do INES, Rio de Janeiro, v. 6, p. 4957, 1997.
FERNANDES, S. Educação bilíngüe para surdos: desafios a inclusão. Texto elaborado para o 4 encontro: Grupo de estudos – Educação Especial, 2006.Governo do Paraná.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Terra e paz. São Paulo. 2002.
GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a Pedagogia Histórico Critica. (5.ed. Campinas, SP: Autores associados,2009. Coleção educação contemporânea)
Lei Federal no 10.436, de 24 de Abril de 2002.
REILY,L.H. (2003). As imagens: o lúdico e o absurdo no ensino de arte para préescolares surdos. Em I. R. Silva; S. Kauchakje & Z. M. Gesueli (Orgs). Cidadania, Surdez e Linguagem: desafios e realidades. Cap. IX (pp. 161192). SP: Plexus Editora
SKLIAR, C. Uma análise preliminar das variáveis que intervêm no Projeto de Educação Bilíngüe para os Surdos. Espaço Informativo Técnico Científico do INES, Rio de Janeiro, v. 6, p. 4957, 1997.
______. Um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Ed. Mediação, 2005.