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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SECRETARIA DE ESTADO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO

SUPERIOR

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

MARLI HADAS DA CUNHA

CHARGE: UMA LEITURA CRÍTICA E HUMORÍSTICA

DA REALIDADE BRASILEIRA

CURITIBA

2011

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SUMÁRIO

PARTE 1 ....................................................................... 3

1 Embasamento teórico para o(a) professor(a) ................................... 3

1.1 Gênero Textual... O que é? Para que serve? ................................. 3

1.2 O gênero charge ............................................................ 5

2 Diferenças entre charge, cartum e caricatura ................................... 6

2.1 Charge ...................................................................... 6

2.2 Cartum ...................................................................... 6

2.3 Caricatura ................................................................... 7

2.4 Charge e intertextualidade ................................................... 7

2.5 Conhecimento de mundo .................................................... 8

PARTE 2 ....................................................................... 9

Charge: uma leitura crítica e humorística da realidade brasileira .................. 9

Charge e notícia ................................................................ 9

Charge, cartum, caricatura..., mas não é a mesma coisa? ....................... 12

A estrutura do gênero charge ................................................... 14

A intertextualidade na charge ................................................... 20

A charge e o conhecimento de mundo .......................................... 23

Sugestões de atividades com charges para continuidade do trabalho ............ 25

Referências .................................................................... 30

3

CHARGE: UMA LEITURA CRÍTICA E HUMORÍSTICA

DA REALIDADE BRASILEIRA

Observação 1: A primeira parte dessa unidade didática consistirá

em apresentar sinteticamente, aos professores, uma fundamentação

teórica básica sobre o gênero charge, a ser consultada, se

necessário, no desenvolvimento das atividades. Essa

fundamentação não se faz presente nas atividades dos alunos, pois

o objetivo do trabalho é que eles, por meio da prática, se apropriem

das especificidades presentes neste gênero textual.

Observação 2: As orientações para o professor sobre o

encaminhamento das atividades encontram-se inseridas em boxes.

Observação 3: Os textos visuais podem ser fotocopiados e

entregues aos alunos, mas, com o intuito de garantir a qualidade das

imagens e não prejudicar a compreensão dos sentidos, sugere-se

que sejam apresentados em Datashow ou TV Pendrive.

PARTE 1

1 EMBASAMENTO TEÓRICO PARA O(A) PROFESSOR(A)

1.1 Gênero Textual... O que é? Para que serve?

Todo o conhecimento adquirido por uma pessoa e toda interação social

acontece por meio da linguagem. Assim é preciso dominá-la em qualquer

situação de comunicação, em qualquer área de conhecimento ou profissional.

Na vida pessoal, também ela é necessária a todo momento: numa conversa

com os amigos, para expor ideias, para namorar, para brigar, para informar

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algo a alguém, para relatar uma experiência, para exigir direitos, enfim, para

qualquer tipo de comunicação.

Portanto:

Gêneros textuais são instrumentos indispensáveis para as pessoas se

comunicarem umas com as outras.

Os exemplos de gêneros textuais são incontáveis: notícias, cartas,

artigos científicos, artigos de opinião, piadas, receitas, leis, manual de

instrução, novela, música, teatro e infinitos outros textos. Porém, o texto verbal

(escrito) não é o único para se expressar sentimentos e ideias a respeito de

alguma coisa. A interação com o outro pode acontecer por meio da linguagem

não-verbal: a dança, a pintura, a imagem, o desenho, dentre muitos outros

existentes.

Os gêneros são meios de que o indivíduo dispõe para agir em

diferentes campos de atividades para legitimar sua prática discursiva, são

instrumentos de comunicação indispensáveis. Todas as pessoas dominam pelo

menos alguns gêneros e isso faz com que possam, a partir deles, aprender

muitos outros. Assim sendo, quando se domina um gênero textual, domina-se

não uma forma linguística e sim um modo de cumprir linguisticamente fins

característicos em situações sociais.

No contexto escolar e no plano da linguagem, para uma leitura

produtiva, é preciso levar em conta a questão dos gêneros textuais. Os

gêneros discursivos que circulam socialmente entre as pessoas ampliam a

competência linguística e mostram formas de participação social que o aluno

pode ter enquanto cidadão ao fazer uso da linguagem. Assim, compete à

escola propiciar ao aluno a capacidade de utilização de diversos gêneros de

acordo com as situações comunicativas em que estiver inserido. Faz-se

necessário, como também propõe Marcuschi, “levar os alunos a produzirem ou

analisarem eventos lingüísticos os mais diversos, tanto escritos como orais, e

identificarem as características de gênero em cada um” (MARCUSCHI, 2007,

p. 35)

Diante disso, é bom saber que, para existir uma boa comunicação em

qualquer situação da vida de uma pessoa é preciso entender como os textos se

organizam, saber para quem servem, a quem se direcionam, quando e como

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foram produzidos e outros aspectos importantes inerentes ao gênero textual

utilizado no momento da comunicação. Quanto mais gêneros as pessoas

dominarem, mais acesso elas terão à cidadania.

1.2 O gênero charge

A charge, na atualidade, é um instrumento bastante utilizado pelos

meios de comunicação (jornal impresso e televisivo e internet) para se mostrar

formas de protesto e crítica aos problemas sociais, principalmente, ao sistema

sócio-político brasileiro. Ela é criada a partir da notícia, por isso é um meio de

situar o leitor sobre os acontecimentos no Brasil e no mundo. O chargista, com

poucas ou mesmo sem palavras, permite, ao leitor, construir uma visão social

da realidade, representando-a simbolicamente.

Por transmitir informações que envolvem fatos, sempre retrata um

acontecimento específico, atual e importante, um assunto conhecido dos

leitores. Quase sempre está relacionada com as manchetes da primeira

página, que resumem os temas mais importantes da publicação, mas pode

também estar relacionada com artigos de opinião ou outras notícias.

É importante saber que os chargistas não são totalmente livres para

expor sua subjetividade, isto é, ideias e intenções. Isso acontece porque os

jornais e sites eletrônicos que publicam charges expressam ideologias,

conceitos, concepções, efetivamente impostos a todos os que integram a

equipe dessas empresas. Por exemplo, se um chargista criar uma charge

criticando algum político de um partido que tenha o apoio de um jornal,

certamente, não poderá publicá-la. Portanto, de certa maneira, as instituições

influenciam a subjetividade do autor.

Na constituição da charge, o elemento visual é predominante, e,

grande parte do sentido desse gênero textual é efetuado pela imagem, além

de, muitas vezes, ser essa, por si só, a responsável pelo humor, traço básico

do texto chárgico. No entanto, “o texto chárgico pode apresentar justaposição

dos códigos verbal e visual, que se auxiliam, se completam ou se contrapõem

na busca da produção do sentido pretendido” (ROMUALDO, 2000, p. 28). Para

o autor, o conteúdo verbal – representado por palavras, sinais de pontuação e

6

outros caracteres gráficos – reproduz a fala das personagens, os sons e os

ruídos que reforçam o significado da mensagem.

Souza e Machado compartilham essa afirmação e comentam que

[...] o desenho é fator determinante numa charge; ele pode ser interpretado como um tipo de texto descritivo, pois todos os detalhes presentes na imagem vão influenciar e auxiliar a compreensão do sentido proposto na mensagem. As imagens, palavras, expressões ou até o próprio fato de não haver nenhum conteúdo escrito (apenas sinais de pontuação ou balões em branco) já produzem um determinado sentido (SOUZA; MACHADO, 2005, p. 63)

Esses e outros recursos são considerados pelos chargistas na

construção do sentido e do humor.

2 DIFERENÇAS ENTRE CHARGE, CARTUM E CARICATURA

2.1 Charge

Texto visual que focaliza e critica uma realidade específica, um assunto

conhecido dos leitores. Por isso, se prende ao momento e tem limitação

temporal.

Segundo Romualdo, a charge “é o texto visual humorístico que critica

uma personagem, fato ou acontecimento político específico. Por focalizar uma

realidade específica, ele se prende mais ao momento, tendo, portanto, uma

limitação temporal” (ROMUALDO, 2000, p. 21).

Portanto, por abordar um assunto conhecido dos leitores, representa

figuras reais e fica limitado ao tempo. Fator, esse, que contribui para a

efemeridade desse gênero textual.

2.2 Cartum

O cartum, que surgiu da charge, é o desenho humorístico no qual o

chargista realiza a crítica de costumes. Ao contrário da charge, aborda uma

realidade genérica, fantasiosa, que pode ser entendida em qualquer época.

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2.3 Caricatura

A caricatura é o texto que exagera propositadamente determinados

traços marcantes de uma pessoa. Geralmente o exagero acontece nos traços

da fisionomia da pessoa caracterizada, mas pode ocorrer também com outras

partes do corpo. O exagero é importante, porém é preciso manter os traços

característicos que identificam o indivíduo caricaturizado.

Às vezes, este exagero é tão salientado que a caricatura se torna

cômica.

2.4 Charge e intertextualidade

Ao criar uma charge, o autor retoma integral ou parcialmente outros

textos produzidos anteriormente. Isso significa dizer que a charge mantém um

diálogo, uma relação intertextual com outros textos, principalmente com as

notícias veiculadas pela mídia. Assim, focaliza e sintetiza fatos ocorridos em

uma época definida, num determinado contexto cultural, econômico e social, ou

seja, uma certa realidade, que, para ser compreendida, precisa ser conhecida

pelo leitor, pois, ao contrário, a charge não terá força comunicativa. Daí vem o

caráter de efemeridade desse gênero textual.

Quando o leitor encontra a charge, normalmente já leu algumas das

notícias veiculadas sobre o assunto, o que facilita a construção de sentido.

Contudo, há casos em que o contexto para se interpretar uma charge não está

no jornal. Veja o que Edson Carlos Romualdo, professor de linguística na

Universidade Estadual de Maringá, afirma sobre isso:

[...] não podemos pensar a charge como um texto isolado, sem relações com outros textos, que aparecem não só no próprio jornal, mas também fora dele. [...] Nos casos em que as relações intertextuais se dão com textos que não estão no jornal, cabe ao leitor fazer a recuperação desses intertextos, para inteirar-se mais profundamente da mensagem transmitida pelo texto chárgico.(ROMUALDO, 2000, p. 6)

Como se vê, um texto nunca aparece sozinho, sempre está relacionado

com outros textos. Por isso, para compreendermos o sentido de uma charge,

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temos que ter um conhecimento prévio de outros textos com os quais a charge

estabelece relações.

Essa intertextualidade pode ocorrer de maneira explícita, normalmente

com uma notícia apresentada na primeira página do jornal ou com a citação

direta de parte de um texto-fonte, trecho de uma música, nome de uma obra de

arte, uma piada, dentre outros. Porém, quando o intertexto não aparece no

jornal, a intertextualidade se dá de maneira implícita, sem menções a fontes.

Pode acontecer através da simbologia de uma data, por citações indiretas de

legendas de texto teatral, de receitas culinárias, de crenças e costumes

familiares e muitos outros intertextos recuperados pelo chargista. A partir dessa

retomada implícita de “velhos” textos, o autor argumenta, ironiza, ridiculariza,

contradiz ou adapta as ideias, com o objetivo de que o leitor não apenas

identifique o texto-fonte, mas, principalmente, que produza novas leituras e

perceba os novos sentidos e intenções desses novos textos constituídos.

Nesse caso, a compreensão da charge exige mais do leitor, pois ele deve ter

um conhecimento textual bem mais amplo, buscar na memória o intertexto e

recontextualizá-lo.

2.5 Conhecimento de mundo

A compreensão de um texto é o resultado da interação dos mais

variados conhecimentos adquiridos pelo indivíduo no decorrer de sua

existência. Para Kleiman:

O leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. É mediante a interação de diversos níveis de conhecimento, como o conhecimento linguístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto. (KLEIMAN, 2007, p. 13)

Neste sentido, o conhecimento de mundo, bem como o conhecimento

linguístico e o textual têm grande importância no ato de ler. A construção de

sentidos pelo leitor vai acontecendo à medida que se vai lendo e relacionando

o conteúdo do texto com o seu conhecimento de mundo, o qual “ lhe permite

fazer as inferências necessárias para relacionar diferentes partes do texto num

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todo coerente” (KLEIMAN, 2007, p. 25). Assim, a compreensão do texto jamais

se daria apenas pela leitura de letra por letra, palavra por palavra, frase por

frase, isto é, pela mera decodificação.

PARTE 2

Charge: uma leitura crítica e humorística da realidade brasileira

As atividades serão desenvolvidas por meio de uma sequência didática, isto é, um

conjunto de atividades relacionadas entre si, planejadas para ensinar um conteúdo, etapa

por etapa. Tal sequência deve objetivar, de uma forma gradual, o desenvolvimento das

habilidades de compreensão e domínio das características inerentes ao gênero trabalhado.

A duração (número de aulas) necessária para cada etapa dependerá do

desenvolvimento da turma.

PRIMEIRA ETAPA

Neste momento acontecerá o primeiro contato – em sala de aula – do aluno com o

gênero textual charge. Para isso, apresente aos alunos, na lousa, uma manchete relacionada

ao conteúdo da charge a ser trabalhada e solicite respostas orais às perguntas elaboradas. É

importante, que neste primeiro contato, os alunos não tenham acesso ao texto visual.

Charge e notícia

Leia a manchete e responda oralmente.

CCoomm mmoorrttee ddee ZZiillddaa AArrnnss,, BBrraassiill ppeerrddee ""bbeennffeeiittoorraa"" ee ""hheerrooíínnaa"",,

ddiizz iimmpprreennssaa iinntteerrnnaacciioonnaall.. (Folha Online, 14/01/2010)

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1. O que deu origem a esse texto, ou seja, do que ele surgiu?

2. Se você tivesse que falar sobre o assunto da manchete, como se

manifestaria?

3. É possível expressar o conteúdo da manchete acima somente por

meio de imagens, sem utilizar palavras? Em caso afirmativo, como?

Agora, peça para os alunos se reunirem em duplas, apresente a charge relacionada

à manchete do início da atividade e dê-lhes cinco minutos para a análise do texto. Em

seguida, peça para algumas duplas explanarem, oralmente, as respostas à turma.

Veja, agora, como Ademir Paixão, da Gazeta do Povo, se expressa

sobre o assunto e, depois, responda oralmente às questões abaixo:

FONTE: PAIXÃO, 2010c.1

1. Para você, esse desenho pode ser considerado um texto? Explique

por quê.

2. O texto analisado é uma charge. Você gosta de charges? Acha

difícil interpretá-las? O que é charge para você? 1 Créditos: ADEMIR VIGILATO DA PAIXÃO, (material cedido pela Editora Gazeta do Povo

S.A.).

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3. Analisando a charge acima, pode-se dizer que o chargista conseguiu

expressar, à sua maneira, o conteúdo da manchete do jornal? Em

sua opinião, ele concordou com as características (expressas por

adjetivos) atribuídas à Zilda Arns na manchete jornalística? Há

elementos no desenho que comprovam sua resposta?

4. Além do jornal impresso, em que outros suportes e/ou meios de

circulação podemos encontrar publicações de charges?

SEGUNDA ETAPA

Neste módulo, a intenção é mostrar aos alunos as pequenas diferenças existentes

entre os gêneros charge, cartum e caricatura. Apresente exemplares desses gêneros e peça

que respondam às questões elaboradas e a outros questionamentos que poderão surgir no

decorrer da atividade visando à construção do conhecimento objetivado especificamente

para esse momento.

Após a realização dessa atividade, você pode dividir a turma em quatro grupos e

solicitar, a todos, uma pesquisa na Internet sobre as definições desses gêneros textuais.

Além da pesquisa, atribua uma tarefa diferente para cada grupo. Aos três primeiros, solicite

que imprimam de sites jornalísticos e/ou recortem de jornais impressos dois exemplares de

charge, de cartum e de caricatura. Ao quarto grupo, solicite que traga, de maneira bem

sucinta, a definição de cada gênero.

Na aula seguinte, junto com os alunos, monte um painel que permita visualizar as

diferenças entre esses gêneros textuais.

O painel pode ser assim construído:

CHARGE

CARTUM

CARICATURA

Exemplos

Exemplos

Exemplos

Definição

Definição

Definição

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Charge, cartum, caricatura..., mas não é a mesma coisa?

É importante diferenciar a charge do cartum e da caricatura, já que os

três gêneros circulam amplamente na mídia e apresentam muitas semelhanças

que geram dúvidas nas pessoas. A charge e o cartum são muito parecidos na

estética – ambos integram imagem e texto, embora possam ser constituídos só

de imagens. Um e outro servem-se do humor para fazer crítica.

Neste momento, em grupo, analisem os desenhos abaixo e

respondam, oralmente, às questões propostas:

TEXTO A

FONTE: MACEDO, 2005.2

1. Esse texto é charge, cartum ou caricatura? Por quê?

2 Créditos: BENETT ALBERTO DE MACEDO, (material cedido pela Editora Gazeta do Povo

S.A.)

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TEXTO B

Fonte: PAIXÃO, 2009b.3

1. E o texto B, como pode ser nomeado? Justifique sua resposta.

TEXTO C

FONTE: RECCHIA, 2010a.4

3 Créditos: ADEMIR VIGILATO DA PAIXÃO, (material cedido pela Editora Gazeta do Povo

S.A.) 4 Créditos: JOSÉ TIAGO RECCHIA, (material cedido pela Editora Gazeta do Povo S.A.)

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1. Qual é o assunto desse texto? Como ele é nomeado?

2. Os textos A e C são bastante parecidos, no entanto, são gêneros

textuais um pouco diferentes. Em que consiste essa diferença?

TERCEIRA ETAPA

A partir desse módulo, pretende-se levar os alunos a identificarem, através da

leitura e da escrita, as características peculiares do gênero charge: o conteúdo temático (o

tema, isto é, o domínio de sentido de que se ocupa o gênero), a construção composicional

(modo de organização, de estruturação de um texto) e o estilo (meios linguísticos: léxico,

frases e aspectos gramaticais) que, juntos, caracterizam um gênero textual.

Para isso, mostre aos alunos os desenhos chargísticos, dos quais foram retirados o

texto verbal e peça que respondam, oralmente, às perguntas propostas. Somente após a

realização dessa atividade, entregue a eles as charges na íntegra.

A estrutura do gênero charge

A partir de agora vamos começar a analisar charges veiculadas num

dos jornais mais lidos em nosso estado e disponibilizadas no site

http://www.gazetadopovo.com.br, com o intuito de saber um pouco mais sobre

o modo de produção de sentidos, sobre a estrutura e sobre o estilo do gênero

charge.

Para efeitos didáticos, foi retirado, neste primeiro momento, o texto

verbal (escrito) do balão das charges abaixo, de Tiago Recchia, que, em

seguida, serão apresentadas em sua forma original.

Em grupo, analisem os desenhos e exponham, oralmente, sua

compreensão dos textos.

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TEXTO A

TEXTO B

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1. Que assunto é abordado pelo texto A?

2. No texto B, o que lembram os casebres construídos nos morros?

3. A que fato os furos, presentes no outdoor das Olimpíadas, nos

remetem?

4. Todos os integrantes do grupo interpretaram a charge da mesma

forma?

5. De acordo com as análises feitas, escreva uma frase que complete

os balões.

Texto A

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Texto B

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Agora, analisem as charges em sua íntegra e respondam

oralmente às questões:

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CHARGE A

FONTE: RECCHIA, 2009b.5

1. A sua interpretação da charge continua a mesma ou você a vê de

forma diferente? Explique.

2. A frase do balão, pronunciada pela criança com uma arma na mão,

nos remete a um outro contexto que não às Olimpíadas. Qual?

3. Na frase “Preciso levar ouro pra casa”, o substantivo ouro está

destacado, pois apresenta ambigüidade, isto é, duplo sentido. Quais

são esses sentidos?

4. Percebe-se, na mesma frase, de maneira implícita, uma visão crítica

do autor. O que ele está criticando?

5. A caracterização dos turistas pode indicar se eles são brasileiros ou

estrangeiros? Justifique.

5 Créditos: JOSÉ TIAGO RECCHIA, (material cedido pela Editora Gazeta do Povo S.A.)

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CHARGE B

FONTE: RECCHIA, 2009c.6

1. Ao comparar as charges, com e sem o texto verbal, pode-se afirmar

que o texto visual permite ao leitor atribuir vários significados à

charge. Comente essa afirmação.

2. Relacionem a escrita aos casebres no mais alto do morro. Os

diversos significados da charge continuam ou é atribuído um

sentido único a esse texto. Expliquem.

3. A fala, no balão, facilita o entendimento do sentido dos furos no

outdoor? Vocês os interpretaram de maneira diferente?

4. Na charge A, o autor coloca uma criança com uma arma nas mãos.

Na B, nos remete a uma criança por meio do termo guri. O que ele

critica com esses fatos?

6 Créditos JOSÉ TIAGO RECCHIA, (material cedido pela Editora Gazeta do Povo S.A.)

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5. Agora, com base no que aprendemos até aqui, a respeito da

charge, responda por escrito:

a. Quais os elementos que constituem uma charge e qual deles é

essencial nesse gênero textual?

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b. Para você, qual é o objetivo do texto chargístico?

_________________________________________________________

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Produção de texto

As duas charges se referem às Olimpíadas de 2016, cuja sede será o

Rio de Janeiro. Escolha uma delas e escreva um texto de 10 a 15 linhas,

explicitando sua compreensão.

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QUARTA ETAPA

Como na atividade anterior, a charge original foi dividida em partes que deverão ser

trabalhadas com os alunos, separadamente. Você pode levar uma Bíblia à sala e utilizá-la

no momento sugerido no próximo boxe.

A intertextualidade na charge

Para se criar um texto verbal ou visual, o autor sempre recorre a outros

textos já existentes. A essa retomada de um texto ou a parte dele, por outro,

dá-se o nome de intertextualidade, que pode ser explícita (clara, evidente) ou

implícita (velada, oculta).

Como a intertextualidade contribui para a leitura e a compreensão das

charges? É o que vamos analisar neste momento. O texto abaixo é parte de

uma charge de Alberto Benett, que logo em seguida será disponibilizada

integralmente.

Responda oralmente:

1. O que a imagem lhe sugere?

2. “No princípio era o verbo...” é uma expressão muito conhecida. Você

sabe onde ela pode ser localizada?

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3. Na mesma expressão “No princípio era o verbo...” para que servem

as reticências?

4. Juntando a imagem com a escrita, fica claro o texto retomado pelo

autor? Comente.

Veja, agora, a charge em sua íntegra:

FONTE: MACEDO, 2010a.7

Responda oralmente:

1. Analisando o todo da charge, fica mais clara a presença de um

intertexto, isto é, de outro texto. Qual é esse texto? Quais são os

elementos que o fazem reconhecê-lo?

Neste momento, você pode solicitar a um aluno que leia, na Bíblia, o fragmento de

Gênesis, 3, 1-6, que narra o episódio do “fruto proibido”, com o intuito de deixar bem claro

aos alunos a questão da intertextualidade.

2. A expressão “verbo”, analisada no contexto da charge, apresenta um

sentido ambíguo que gera humor e, ao mesmo tempo, crítica.

a. Qual a ambigüidade dessa palavra?

b. O que o autor critica através dessa ambigüidade?

3. O autor coloca: No princípio era o verbo... e então Deus criou o

gerúndio e o “tipo assim”. Na sequência, na fala das personagens,

ele emprega o gerúndio. Responda por escrito:

7 Créditos: BENETT ALBERTO DE MACEDO, (material cedido pela Editora Gazeta do Povo

S.A.)

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a. Qual é a expressão empregada no gerúndio?

_________________________________________________________

_________________________________________________________

b. Qual é o sentido dessa expressão?

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c. Ao empregar essa forma nominal do verbo, o autor deixa subtendida

uma posição crítica? Qual é?

_________________________________________________________

_________________________________________________________

_________________________________________________________

4. Quais são as gírias utilizadas pelo autor?

_________________________________________________________

_________________________________________________________

5. O chargista utilizou no texto escrito a linguagem culta, mas para

representar a fala das personagens, usou a coloquial. Qual a

intenção do autor ao utilizar essas duas formas de linguagem?

_________________________________________________________

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_________________________________________________________

6. Com o emprego da linguagem culta nas falas das personagens,

haveria teor crítico e humorístico na charge? Explique.

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Produção de texto

Escreva um texto de 8 a 10 linhas no qual você exponha sua

compreensão da charge.

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QUINTA ETAPA

Neste momento, serão analisadas duas charges relacionadas ao contexto político

brasileiro e, com esta atividade, pretende-se conduzir o aluno a construir o sentido da

charge a partir da relação do conteúdo do texto com o seu conhecimento de mundo. Isso

porque a compreensão se modifica graças ao acionamento de informações adquiridas

anteriormente.

Divida a sala em grupos e delimite um tempo de 10 minutos para a análise das

duas charges. Peça ao grupo para escolher um integrante da equipe para expor, oralmente,

as respostas às questões formuladas. Para finalizar a etapa, solicite uma produção escrita,

individual, em que o aluno demonstre sua compreensão de um dos textos analisados.

A charge e o conhecimento de mundo

As charges seguintes vão nos mostrar um pouco do contexto político

brasileiro.

FONTE: PAIXÃO, 2010b.8

8 Créditos: ADEMIR VIGILATO DA PAIXÃO, (material cedido pela Editora Gazeta do Povo S.A.)

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1. Para que seja atribuído um sentido à charge, é necessário entender

o cenário político. Que fatos estão representados nela?

2. A frase “Minha casa minha vida” mantém relação com que outro

texto?

3. Ao atribuir a frase “Minha casa minha vida” aos dois personagens,

percebe-se uma visão crítica do autor. O que ele critica?

4. A crítica ao presidente Lula é negativa? E a José Sarney? Comente.

Há elementos no texto que comprovam sua resposta?

FONTE: RECCHIA, 2009a.9

1. Qual é a simbologia presente na data “11 de setembro”? Que relação

existe entre essa data e a data de publicação da charge?

2. O que o autor discute nesta charge?

3. Pode-se afirmar que existe humor neste texto? Justifique.

9 Créditos: JOSÉ TIAGO RECCHIA, (material cedido pela Editora Gazeta do Povo S.A.)

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Produção de texto

A primeira charge nos mostra personagens bastante conhecidos da

política brasileira. A segunda, também nos remete aos representantes políticos

de nosso país. Escolha uma das duas charges e escreva um texto de 10 a 15

linhas, explicitando sua compreensão do texto.

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Sugestões de atividades com charges para continuidade

do trabalho

Caso julgue conveniente revisar, aprofundar e/ou verificar o aprendizado do assunto

desenvolvido nesta unidade didática, são sugeridas algumas atividades complementares.

Nessas atividades poderão ser revistos alguns pontos característicos da charge:

A relação entre o verbal e o não-verbal;

o contexto histórico;

a linguagem;

a criticidade;

a intertextualidade;

o humor;

o conhecimento de mundo.

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CHARGE I

Para esta atividade, você pode, se preferir, retirar o texto verbal (título e fala do

balão), a exemplo das atividades desenvolvidas na terceira etapa, para enfatizar a relação

entre o verbal e o não-verbal. Todos os elementos citados no boxe anterior podem ser

explorados neste texto chárgico.

Apresente a charge aos alunos e peça que respondam oralmente.

FONTE: RECCHIA, 2010b.10

1. O que a montanha de lixo sugere?

2. Além do fator político, esta charge está relacionada com um

problema social e ambiental? De que problema se trata?

3. Novamente temos o uso de gíria no texto chárgico. Por que, neste

gênero textual, a gíria é permitida?

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Créditos: JOSÉ TIAGO RECCHIA, (material cedido pela Editora Gazeta do Povo S.A.)

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4. Como vimos até agora, nas charges não há espaço para frases

longas e sim para períodos bem curtos. O que se pode concluir

disso?

CHARGE II

Texto adequado para se trabalhar a importância do aspecto visual da charge, o

contexto histórico, a criticidade, a ironia e o humor.

FONTE: PAIXÃO, 2009a.11

1. A data de publicação dessa charge nos remete a uma grande festa.

Qual?

2. Que elementos da charge podem comprovar a resposta dada à

questão anterior?

3. Segundo o dicionário Aurélio a ironia é “Um modo de exprimir-se

em que se diz o contrário do que se pensa ou sente”. O que o autor

ironiza nesta charge?

11

Créditos: ADEMIR VIGILATO DA PAIXÃO, (material cedido pela Editora Gazeta do Povo S.A.)

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CHARGE III

Charge indicada para se destacar o aspecto da criticidade, da ambigüidade na

linguagem, do humor.

FONTE: MACEDO, 2010b.12

1. Numa primeira leitura, nos parece que há, na charge, a denúncia de

um problema social. Qual? Que elementos nos levam a pensar

nisso?

2. O autor brinca com a ambigüidade do termo coração. Como as

personagens masculina e feminina interpretam esse termo?

3. O senso comum sempre coloca a mulher como um ser sentimental

e o homem como calculista, pragmático. O autor compartilha dessa

visão? Comente.

4. Com base na resposta à questão anterior, pode-se afirmar que a

crítica feita pelo chargista é realmente aos problemas das drogas?

Se sua resposta for positiva, justifique. Se for negativa, diga o que

você pensa.

12

Créditos: BENETT ALBERTO DE MACEDO, (material cedido pela Editora Gazeta do Povo S.A.)

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CHARGE IV

Nesta charge, além das indagações propostas para os alunos, pode-se também

questionar de quem é a culpa dos desabamentos: das autoridades por negligência no

planejamento urbano ou da ocupação irresponsável do homem que constrói moradias em

morros sem se preocupar com a segurança?

Também pode-se pensar no problema da desertificação do solo, que como areia,

desmorona.

Este texto é apropriado para se trabalhar os seguintes elementos do gênero charge:

a importância da linguagem não-verbal , a contextualização (conhecimento de mundo), a

criticidade, a ironia.

FONTE: PAIXÃO, 2010a.13

1. Que cenário está sendo representado nesta charge?

2. Que problemas o mapa do Brasil desmoronando pode estar sugerindo?

3. Se pensarmos no contexto político de nosso país, o desmoronamento do

Brasil pode significar o quê?

4. Nesta charge, percebe-se também, certa ironia em relação à nossa

atualidade. Qual é a ironia?

13

Créditos: ADEMIR VIGILATO DA PAIXÃO, (material cedido pela Editora Gazeta do Povo S.A.)

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REFERÊNCIAS

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