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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL-PDE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO - GOIOERÊ

JANIR DOMINGUES DA SILVA

AÇÕES PEDAGÓGICAS PARA A CONSTRUÇÃO DE VALORES MORAIS E

FORMAÇÃO PARA A CIDADANIA NA ESCOLA

JANIÓPOLIS – PARANÁ

2010

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL-PDE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO - GOIOERÊ

JANIR DOMINGUES DA SILVA

AÇÕES PEDAGÓGICAS PARA A CONSTRUÇÃO DE VALORES MORAIS E

FORMAÇÃO PARA A CIDADANIA NA ESCOLA

Artigo apresentado à Universidade Estadual de Maringá, como exigência parcial do Programa de Desenvolvimento da Educação PDE da Área Pedagogia. Orientador: Prof. Me. José Aparecido Celório.

JANIÓPOLIS – PARANÁ

2010

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PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NA ESCOLA

A) DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Professor PDE: Janir Domingues da Silva

Área PDE: Pedagogia

NRE: Goioerê

Professor Orientador IES: José Aparecido Celório

IES vinculada: Universidade Estadual de Maringá

Escola de implementação: Colégio Estadual João XXIII

Público objeto de intervenção: Alunos da 2ª série do Ensino Médio

B) TEMA:

Cidadania e Valores

C) TÍTULO:

Ações pedagógicas para a construção de valores morais e formação para a

cidadania na escola

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“É fundamental que o estudante adquira uma compreensão e uma percepção nítida de valores. Tem de aprender a ter um sentido bem definido do belo e do moralmente bom”.

Albert Einstein

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AÇÕES PEDAGÓGICAS PARA A CONSTRUÇÃO DE VALORES MORAIS E

FORMAÇÃO PARA A CIDADANIA NA ESCOLA

Autor: Janir Domingues da Silva1

Orientador: José Aparecido Celório 2

RESUMO

Os valores morais são de fundamental importância para a formação de cidadãos e, embora os pais sejam os primeiros responsáveis pelo ensinamento de valores aos filhos, a escola assume um importantíssimo papel na transmissão e resgate de valores morais. O presente artigo analisa como a escola pode desempenhar esse papel com maestria, contribuindo para a formação de cidadãos críticos e participativos. Também mostra qual a importância dos direitos e deveres individuais para a vida em sociedade e como estes se relacionam com os valores morais. Como metodologia de trabalho, optamos pela pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo. A primeira fundamentou o estudo por meio das ideias e conceitos de autores renomados e a segunda evidenciou a aplicação prática dessas ideias em sala de aula. Os trabalhos foram realizados em uma escola de ensino médio do Município de Janiópolis, Estado do Paraná, e incluíram dinâmicas de grupo, leituras de textos e análises de filmes. Os resultados evidenciam que, por meio de um esforço conjunto e direcionado, é possível orientar os alunos para uma vida mais digna, honesta e construtiva, demonstrando que a escola pode contribuir com ações pedagógicas para a construção de valores morais e para formação para a cidadania.

Palavras-chave: Cidadania; Direitos e deveres; Valores morais; Educação.

Introdução

“A educação vem de berço”. Não se sabe exatamente quando esse provérbio foi dito pela primeira vez, mas imaginamos que foi há muito tempo. Tempo

1 Professora de Pedagogia do Ensino Médio do Colégio Estadual João XXIII, do Município de Janiópolis - PR. Email: [email protected]. 2 Professor do Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Estadual de Maringá, lotado no Campus Regional de Cianorte, onde atua como professor e coordenador do curso de Pedagogia. e-mail: [email protected]; [email protected] .

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este em que os pais ou os tutores eram os únicos responsáveis pela transmissão de valores morais aos filhos.

Os valores morais podem ser compreendidos, segundo Roizman (2006, p.

14), “como referenciais que norteiam nossas motivações, escolhas e maneiras de

sentir”. O Dicionário Aurélio amplia esse conceito ao definir valores como “normas,

princípios ou padrões sociais, aceitos ou mantidos por indivíduo, classe ou

sociedade” e moral como “o conjunto de regras de conduta consideradas como

válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para um grupo

ou determinada pessoa” (FERREIRA, 1999).

Esses princípios e padrões sociais eram ensinados em casa, pela família.

Assim, ao chegar à escola, as crianças já traziam consigo toda uma bagagem de

educação e valores morais. Mas os tempos mudaram e a escola hoje assume um

papel bem mais amplo no processo de ensino e aprendizagem desses valores.

Martins (2009, p.1) explica:

A educação escolar não se restringe mais, como no passado, a mera transmissão de conhecimentos, onde a atividade de ensinar era centrada no professor, detentor dos saberes e o aluno, um mero recebedor da matéria. Na sociedade atual, com a ampliação das ambiências de formação escolar, o aluno passa a ser o centro do processo didático pedagógico e a educação escolar, agora entendida como processo de desenvolvimento físico, intelectual e moral do educando.

O autor acrescenta:

Entre as diferentes ambiências humanas, a escola tem sido, historicamente, a instituição escolhida pelo Estado e pela família, como o melhor lugar para o ensino-aprendizagem dos valores, de modo a cumprir, em se tratando de educação para a vida em sociedade, a finalidade de pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o mundo do trabalho. Sendo assim caberá às instituições de ensino a missão, por excelência, de ensinar valores no âmbito do desenvolvimento moral dos educandos, através da seleção de conteúdos e metodologias que favoreçam temas transversais (Justiça, Solidariedade, Ética, etc.) presentes em todas as matérias do currículo escolar, utilizando-se, para tanto, de projetos interdisciplinares de educação em valores, aplicados em contextos determinados, fora e dentro da escola.

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Na ausência da “educação de berço”, muitos simplesmente não se sentem

comprometidos com o senso moral ao chegarem aos bancos escolares. Destes

podemos esperar qualquer coisa: falta de interesse, indisciplina, xingamentos,

palavrões, atitudes agressivas, destruição e depredação da escola, e tantos outros

tipos de violência. Apesar de essas ações serem consideradas um valor para quem

as pratica, não podemos dizer que se trata de um valor moral. Assim, é fundamental

que os agentes escolares se preparem para lidar com tais atitudes, procurando

entender de que forma os valores são construídos e que ações pedagógicas podem

ser realizadas para que os valoreis morais se tornem prioridade na vida das

pessoas.

Vemos que os educadores não se encontram totalmente desamparados. Em

meio à turbulência, eles encontram caminhos por granjear subsídios em muitos

parâmetros legais, tais como os estabelecidos na Conferência Nacional de

Educação – CONAE, nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs e nas

Diretrizes Curriculares Nacionais – DCNs. As escolas também têm aberto espaço

para as disciplinas de Sociologia e Filosofia, que incluem em seus programas,

matérias sobre ética, moral e construção de valores.

No entanto, mesmo com todos esses esforços, é preciso lembrar que cada

indivíduo convive em uma sociedade multicultural, cada qual com seus próprios

valores e que, no âmbito escolar, esses valores muitas vezes se chocam. Diante do

exposto, justifica-se um estudo que se proponha a responder como ações

pedagógicas aplicadas em sala de aula podem contribuir para a construção de

valores na escola.

Assim, foi desenvolvido um estudo com os alunos da 2ª série do Ensino

Médio do Colégio Estadual João XXIII, no município de Janiópolis, Estado do

Paraná. Os educadores dessa escola têm se deparado com muitos alunos que

desconhecem o senso moral e estão longe de praticar a cidadania.

O principal objetivo do estudo foi o de desenvolver ações pedagógicas para

que os alunos compreendessem de que maneira o conhecimento dos direitos e

deveres colabora na construção de valores morais e, por conseguinte, para a

formação para a cidadania. Mostra também a importância da elaboração e a

execução de dinâmicas de grupo com temáticas que levam à compreensão e à

reflexão sobre direitos e deveres expostos no Estatuto da Criança e do Adolescente.

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Por fim, o estudo demonstra de modo prático como a sala de aula pode se

transformar em um espaço de convivência e reflexão.

A metodologia utilizada pode ser classificada em pesquisa bibliográfica e em

pesquisa aplicada. A pesquisa bibliográfica permitiu livre acesso a materiais literários

de autores renomados ligados ao tema em questão. Por meio dela, foi possível obter

um conhecimento mais profundo sobre a relação entre valores morais e cidadania,

bem como, sobre os direitos e deveres estabelecidos pelo Estatuto da Criança e do

Adolescente – ECA. A pesquisa aplicada conduziu à aplicação em sala de aula dos

resultados obtidos na pesquisa bibliográfica, na forma de dinâmicas de grupos,

leituras de textos e análise de filmes. Todas as etapas da pesquisa são

apresentadas neste artigo, buscando uma síntese dos principais resultados obtidos

durante as intervenções na escola.

Esperamos, com este estudo, fornecer sugestões práticas aos professores

para que estes possam usar a escola como um ambiente propício ao ensino e

aprendizagem e fundamentalmente para construção de valores morais.

1 A Construção de Valores Morais na Escola

O ser humano sempre se preocupou em estabelecer valores (podemos dizer

que nem todos os valores podem ser considerados morais) e em ter um código de

ética para a convivência em grupo. Sim, para que a sociedade humana fosse estável

e próspera, era preciso que as pessoas tivessem uma base sólida de normas

amplamente aceitas que identificassem o que era certo ou errado, bom ou mau.

Roizman (2006, p. 14) afirma que “as pessoas e as culturas de todos os

tempos construíram suas vidas e histórias baseadas em valores”. Esses valores,

conforme esclarece Puig (1998, p. 37), são como “guias de conduta que atuam

quando o sujeito deve confrontar-se com situações complexas; isto é, são critérios

de conduta úteis para orientar-se em situações difíceis e controversas”.

A escola é hoje um meio importante para a construção de valores morais em

crianças e jovens e para a formação da cidadania. Giglio (1999, p. 198) explica que

“educar para a cidadania na escola é possibilitar a participação em sua vida pública,

é vivenciar práticas de respeito a direitos, de tolerância, de uma justiça que seja

referenciada no projeto educativo da escola”. Para que isso se efetive, é preciso que

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seus agentes reconheçam a escola como espaço multicultural, complexo e

dinâmico, com contrastes e diferenças que precisam ser consideradas no cotidiano.

Para Arantes (2005, p. 27), “cada ser humano constrói um sistema de valores

com base nas interações com o mundo e consigo mesmo, desde o nascimento” e

tais valores “são resultado da projeção de sentimentos positivos sobre objetos,

pessoas, relações e sobre seus próprios pensamentos e ações”. A escola é um

ambiente muito favorável a essa construção. No entanto, para que ela ocorra é

preciso uma total interação entre seus agentes, a saber, professor, aluno, gestores e

até mesmo zeladoria.

Esse papel da escola de ensinar valores é de fundamental importância. Mas a

escola precisa, conforme indicam muitos autores, repensar sua forma de ensinar

valores morais. Antigamente esse ensino se dava por meio de aulas específicas,

como as de ética e as de moral e cívica. A linha de ensino também era diferente.

Havia uma imposição de valores. Porém esse modo de pensar teve de ser

reavaliado. Aos poucos a escola compreendeu a necessidade não apenas de

modificar os métodos de ensino, mas também de acabar com essa vertente de

ensino por meio da obrigação imposta.

Falando a esse respeito, Arantes (2005, p. 35) diz:

O universo educacional em que os sujeitos vivem deve estar permeado por possibilidades de convivência cotidiana com valores éticos e instrumentos que facilitem relações interpessoais pautadas em valores vinculados à democracia, à cidadania e aos direitos humanos. Com isso fugimos de um modelo de educação em valores baseado exclusivamente em aulas de religião, moral ou ética e compreendemos que a construção de valores morais se dá a todo instante, dentro e fora da escola. Se a escola e a sociedade propiciarem possibilidades constantes e significativas de convívio com temáticas éticas, haverá maior probabilidade de que tais valores sejam construídos pelos sujeitos.

O próprio ambiente escolar pode contribuir para o ensino e aprendizagem de

valores morais. A Secretaria da Educação, por meio do Guia de Gestão Escolar

elaborado em 2002 pelo Governo do Paraná, afirma que o ambiente escolar pode

fazer toda a diferença. Segundo este manual, “o ambiente escolar educa, tanto nos

seus aspectos físicos quanto sociais” e “mesmo com poucos recursos, uma escola

pode ter um ambiente agradável, encorajador e desafiador, com equilíbrio entre os

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aspectos normativo e criativo”. Em outro momento, o Guia diz que o ambiente

escolar “educa mais do que o esforço isolado de qualquer professor. O professor

pode ensinar e transmitir informações aos alunos, mas é o ambiente que reforça

valores (PARANÁ, 2002, p. 30 e 36).

É importante ressaltar também, que, no cenário escolar, professores e alunos

assumem papéis de protagonistas. A escola pode estar muito bem preparada para

ensinar valores, mas o ensino só ocorrerá efetivamente se todos os professores

estiverem comprometidos com esta causa. Goergen (2005, p. 1001) explica que

“não são apenas os conteúdos que o educando vai assumindo ao longo do processo

de aprendizagem que tem influência sobre sua formação moral, mas também o

comportamento dos educadores [...] se encontra ao abrigo das categorias da

moralidade”. É como afirma aquele velho ditado: “um grama de exemplo vale mais

que mil palavras”.

Assim, não basta querer incutir moralidade nos alunos, quando o próprio

educador deixa a desejar neste sentido. Como sublinha Goergen (2005, p. 1115),

“objetivos éticos são indispensáveis para qualquer teoria da educação, mas também

determinam as atitudes e funções do educador”.

Para Araújo (2001, p. 11), a escola não precisa de super-professores, mas de:

Educadores não autoritários, conscientes da importância que ambientes cooperativos e democráticos tem na constituição psíquica, social e cognitiva de seus alunos. Educadores que percebam que os conteúdos tradicionais da escola, apesar de serem essenciais para o pleno desenvolvimento do aluno, não devem ser encarados como um fim na educação e sim como instrumentos para a construção da cidadania. Educadores que compreendam que devem respeitar as diversidades do corpo, do pensamento, das ações e dos sentimentos; utilizando metodologias cooperativas e democráticas, ricas na solicitação de trocas sociais e interpessoais.

Araújo (2001, p. 11) ressalta que, com educadores que satisfaçam tais

requisitos, a escola “contribuirá de maneira efetiva para que os alunos construam

personalidades morais autônomas e equilibradas”.

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Assim, entra em cena o próximo agente envolvido no sistema educacional: o

aluno. O aluno é o sujeito para qual todo o esforço dos pais e da escola é dirigido ao

se repassar conhecimento. A escola existe em sua função. Assim, nada mais justo e

coerente, que ele corresponda de modo positivo ao processo de ensino e

aprendizagem, como sustenta Arantes (2005, p. 35):

Defendo o princípio de que a construção dos conhecimentos e dos valores pressupõe um sujeito ativo, que participa de maneira intensa e reflexiva das aulas; um sujeito que constrói sua inteligência, sua identidade e seus valores por meio do diálogo estabelecido com seus pares, professores, família e com a cultura, na própria realidade cotidiana do mundo em que vive. Estamos falando, portanto, de alunos que são autores do conhecimento e protagonistas da própria vida, e não meros reprodutores daquilo que a sociedade decide que devem aprender.

Assim, para que a educação em valores ocorra de forma efetiva é preciso que

haja um real comprometimento por todos os agentes envolvidos: a família, a escola,

os educadores e a comunidade. Em meio a tudo isso, o aluno – como agente

principal desse processo – precisa corresponder de forma positiva ao que lhe for

sendo ensinado. Trata-se realmente de um sistema. Um sistema complexo, porém,

não impossível de ser colocado em prática em sala de aula. Mas, que

procedimentos e estratégias a escola poderia adotar a fim de atingir este objetivo

com maestria? Uma sugestão é a de trabalhar em sala de aula os conceitos sobre

direitos e deveres, e sua relação com os valores morais.

2 Direitos e Deveres e sua Relação com os Valores Morais

Os direitos e deveres de cada cidadão estão previstos na Carta Magna, a

saber, a Constituição Federal do Brasil promulgada em 1988. Em seu artigo 227 é

assegurado o direito à educação a toda criança e adolescente do país. O artigo, em

seu caput, determina:

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É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1998, p. 116).

Ainda preocupado em assegurar os direitos e fixar deveres a crianças e

adolescentes, o Governo Federal promulgou outra Lei Federal em 1990. Nascia

então, neste ano, o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, que trata dos

direitos fundamentais das crianças e dos adolescentes. Entre esses direitos está o

da educação e é de fundamental importância que educadores e alunos conheçam

bem os direitos e deveres elencados neste Estatuto.

Discorrendo sobre o ECA, o Guia de Gestão Escolar afirma que o Estatuto da

Criança e do Adolescente é um dos “documentos básicos a serem conhecidos pelos

dirigentes das escolas públicas, pois determina direitos e deveres de crianças,

jovens e adultos quanto às regras que orientam o processo de ensino, a convivência

e a cidadania” (PARANÁ, 2002, p. 41).

É interessante notar que, logo em seu terceiro artigo, o Estatuto assegura o

desenvolvimento moral da criança e do adolescente. O artigo diz que “a criança e o

adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana a

fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, moral, espiritual e social, em condições

de liberdade e de dignidade” (BRASIL, 1990, art.3˚).

Para fazer jus a este princípio, o artigo trata de muitos direitos e deveres dos

jovens em relação a si mesmos e ao próximo. O artigo 16, por exemplo, discorre

sobre o direito à liberdade. Entre outras coisas, é assegurado à criança e ao

adolescente, o direito se expressar dando sua opinião sobre assuntos cotidianos;

também o direito de ter sua própria crença e culto religioso; bem como participar da

vida familiar e comunitária, sem discriminação.

Entender o direito à liberdade implica não apenas conhecer esse direito como

sendo seu, mas também de outros. Assim, o aluno entendendo seu direito,

compreenderá que o outro (colegas, educadores, familiares, entre outros) também

possui direitos iguais. Trata-se de uma via de mão dupla. Se ele pode dar sua

opinião, o outro também pode e é seu dever ouvi-la com todo o respeito.

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E, por falar em respeito, o artigo 17 garante à criança e ao adolescente, o

“direito ao respeito”, que segundo esse artigo, “consiste na inviolabilidade a

integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a

preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças,

dos espaços e objetos pessoais” (BRASIL, 1990, art. 16 e 17˚).

O aluno também tem o direito assegurado em lei de ser respeitado pelos

educadores, conforme determina o segundo parágrafo do artigo 53 do Estatuto.

Sobre a multiplicidade de valores, o artigo 58 esclarece que, “no processo

educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos próprios do

contexto social da criança e do adolescente” e explica que estão garantidos a estes,

“a liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura” (BRASIL, 1990, art.53 e

58˚).

O Estatuto da Criança e do Adolescente também determina medidas sócio-

educativas em caso de ato infracional no estabelecimento escolar. Estas medidas

incluem, entre outras coisas, “advertência” e a “obrigação de reparar o dano”

causado, conforme determina o artigo 112 do Estatuto. Os artigos 115 e 116 fazem

uma abordagem sobre como essas penalidades deverão ser aplicadas. Eles rezam:

Art.115. A advertência consistirá em admoestação verbal, que será reduzida a termo e assinada. Art.116. Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima (BRASIL, 1990, art. 112, 115 e 116).

Os direitos e deveres citados no presente artigo são apenas amostras do que

o Estatuto da Criança e do Adolescente determina. O conhecimento desses

princípios está intimamente relacionado com o aprendizado dos valores morais.

Sabendo seus direitos (o que pode esperar dos outros) e seus deveres (o que os

outros esperam dele), fica mais fácil o aprendizado dos princípios de moralidade.

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3 Propostas Pedagógicas Para o Ensino de Valores Morais

A proposta pedagógica, como menciona o Guia de Gestão Escolar, “é

inquestionavelmente, o documento mais importante de uma escola”. É dela que

“emanam as diretrizes, as orientações e a inspiração que possibilitam – ou dificultam

se ausentes ou mal definidas – alcançar resultados pedagógicos significativos e

valiosos” (PARANÁ, 2002, p. 31).

No contexto do ensino de valores morais são muitas as propostas

pedagógicas sugeridas por educadores e estudiosos do tema. O maior valor da

Proposta Pedagógica, diz o Guia de Gestão Escolar, “está na articulação que ela

promove permanentemente entre as intenções educativas da escola, os conteúdos a

serem trabalhados e os recursos e os meios que ela dispõe – ou pode vir a dispor –

para realizar sés propósitos”. O Guia de Gestão Escolar acrescenta que essa

articulação “deve acontecer de forma a garantir o respeito e o reforço de três

princípios fundamentais que decorrem do novo paradigma da educação”. São eles:

� Estética da Sensibilidade: Incentiva a criatividade, a afetividade, a valorização da qualidade e do aprimoramento constante; promove a crítica das formas estereotipadas e reducionistas de expressão da realidade e das manifestações que banalizam afetos e relações interpessoais.

� Política da Igualdade: Valoriza a equidade, o exercício dos direitos e deveres da cidadania e o combate a todas as formas de preconceito e discriminação; leva ao aprendizado da convivência na diversidade.

� Ética da Identidade: Baseada no humanismo, na responsabilidade e na solidariedade, leva ao reconhecimento da identidade própria e do outro e à autonomia e ao aprendizado do ‘ser’ (PARANÁ, 2002, p. 33).

Em seu artigo A prática de valores na escola, Martins (2009, p. 5), também

ressalta a importância dessa metodologia. Segundo seu ponto de vista, esta

abordagem “consiste em os professores, num clima de não-diretividade e de

neutralidade, ajudarem os alunos a clarificar, assumir e por em prática os seus

próprios valores”.

Outra opção de abordagem pedagógica citada por Martins é a de julgamento

de valores. Esta abordagem “consiste em a escola acentuar os componentes

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cognitivos da moralidade” e, defende “que existem princípios universais (tolerância

recíproca, liberdade, solidariedade e justiça) que constituem os critérios da avaliação

moral ou do juízo de valor” (MARTINS, 2009, p. 6)

O autor acrescenta:

Os alunos, na abordagem pelo julgamento de valores são vistos pelos professores como sujeitos da educação em valores, uma vez que constroem tais princípios ativamente e regulam a sua ação de acordo com os princípios. Esta abordagem propõe que a educação moral se centre na discussão de dilemas morais em contexto de sala de aula sem levar em conta, no entanto, as diferenças de sexo, de raça, de classes sociais e de culturas, concentrando-se unicamente na atribuição de significados que pessoas dão às suas expectativas ou vivências morais.

Como atividade em sala de aula, sugere-se:

Uma atividade, baseada na abordagem pelo julgamento de valores, que pode ser desenvolvida pelo professor, inclusive, com atividades de expressão oral e escrita, é pedir que os alunos desenvolvam um texto, oral ou escrito, sobre o que pensam da concepção da Justiça em frases do tipo “A justiça é a vingança do homem em sociedade, como a vingança é a justiça do homem em estado selvagem”, de Epicuro.

Certamente, há inúmeras maneiras de se trabalhar a construção de valores

na escola. As sugestões aqui citadas são apenas um breve exemplo. Elas não as

primeiras nem as últimas, pois os educadores estão buscando continuamente novas

maneiras de ensino. Cabe aos professores fazer sua parte em buscar uma

educação continuada para que possam introduzir novas propostas pedagógicas em

sala de aula.

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4 Metodologia

A proposta de metodologia para o presente trabalho consistiu em quatro

principais dinâmicas, sendo cada uma delas subdivididas em outras atividades.

Na primeira dinâmica solicitamos aos alunos que assistissem o filme “Meu

nome é Rádio”. A história fala da amizade entre um treinador de futebol americano e

um jovem com certos problemas, conhecido apenas pelo apelido de ‘rádio’. Os

alunos assistiram ao filme e depois realizamos uma discussão em grupo, em que

eles tiveram a oportunidade de expressar suas opiniões sobre algumas das cenas,

diálogos e comportamentos dos personagens que lhes chamaram a atenção.

Como primeira parte das atividades, pedimos aos alunos que apontassem

quais as consequências dos valores retratados no filme para sua vida e para o

grupo. Os alunos demonstraram empatia pelo jovem do filme e entenderam o que é

ser rejeitado e ridicularizado por outros. Colocando-se no lugar do rapaz,

compreenderam valores tais como o do respeito pelas diferenças, o valor de se olhar

além das aparências e o valor de uma amizade verdadeira mesmo com pessoas de

mais idade. Os alunos aprenderam ainda a importância do amor, do esforço em

ajudar outros, da compreensão, da humildade, da igualdade, da força de vontade, da

persistência, da união, da solidariedade, etc., bem como, de algumas atitudes a

serem evitadas, tais como: inveja, maus-tratos, preconceitos, julgamento pré-

concebidos, desprezo, discriminação e falta de confiança.

Como segunda parte dessa atividade, solicitamos aos alunos que formassem

grupos e escolhessem um coordenador para cada grupo formado. O coordenador

deveria convocar um favor a um dos alunos do grupo que saia da sala por alguns

momentos. Na sua volta, conforme combinado entre os outros membros, esse aluno

era totalmente ignorado pelos colegas, fazendo-o sentir-se como invisível. Depois

pedimos que os alunos dissessem como era ignorar alguém e como o aluno

ignorado se sentiu diante da situação.

Na sequência, os alunos fizeram uma reflexão sobre o texto de Fernando

Braga da Costa, com o título “Fingi ser gari por 8 anos e vivi como um ser invisível”3

Os alunos, tendo vivenciado por alguns instantes a situação do texto,

3 DELPHINO, Plinio. "Fingi ser gari por 8 anos e vivi como um ser invisível". Disponível em: <http://www.consciencia.net/comportamento/gari.html>. Acesso em: 11 nov. 2010.

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compreenderam a importância de tratar a todos com respeito e dignidade, e que

todo o trabalho honesto, por mais simples que seja, dignifica o ser humano.

Entenderam também que é horrível ser ignorado por outras pessoas nem que seja

por alguns momentos. Oportunamente, os alunos alistaram algumas profissões que

são vistas com desdém pela sociedade, sendo que entre elas, estão profissionais

tais como as empregadas domésticas, cortadores de grama, lixeiros e varredores de

rua, entre outros. Os alunos compreenderam a necessidade de tratar melhor tais

pessoas, sorrir e desejar um “bom dia”, lhes oferecer um copo de água, e assim por

diante.

A segunda dinâmica apresentada foi uma tabela4 a ser preenchida

individualmente pelos alunos. A primeira coluna continha uma lista de situações que

o aluno precisaria de ajuda, como por exemplo, para resolver um problema de

matemática, fazer um desenho para a capa de um livro, resolver uma briga na

escola, falar corretamente, ser mais calmo, etc. Para cada uma dessas situações, o

aluno deveria indicar, na segunda coluna, a quem entre seus colegas ele pediria

ajuda e dizer o porquê de sua escolha. Na terceira coluna, o aluno deveria dizer a

quem não pediria ajuda e também indicar as razões.

Para preencher as tabelas, os alunos tiveram que ser bons observadores.

Assim, puderam definir, por exemplo, que pediriam ajuda para aprender matemática

a determinado/a colega, porque este/a tem mais facilidade nessa matéria e gosta de

ajudar. Por sua vez, viram que alguns sabem a matéria, mas preferem manter o

conhecimento pra si só, não demonstrando interesse em ajudar outros. Foi uma

dinâmica bastante importante, pois, deu aos alunos a oportunidade de expressarem

suas opiniões sobre o comportamento e personalidade de seus colegas. Os alunos

entenderam que não há ninguém totalmente bom ou totalmente mau e que as

pessoas têm qualidades e defeitos diferentes umas das outras e em maior ou menor

grau. Aprenderam também que o que é considerado defeito por alguns, é visto por

outros como qualidade e que respeitar as diferenças é de fundamental importância

para a vida como cidadãos.

4 Tabela apresentada no caderno didático elaborado pela autora.

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Como terceira dinâmica, apresentamos aos alunos um excerto do texto de

Márcia Tiburi, “Amigos para Sempre5”, que enfatiza a importância de amizades

verdadeiras, sem máscaras, sem egoísmo e sem interesses. Uma amizade altruísta

e abnegada. Os alunos corresponderam bem às atividades propostas e depois

escreveram suas conclusões. É interessante as respostas à primeira pergunta

elaborada, a saber, “será mesmo que temos muitos amigos?”. A grande maioria dos

alunos respondeu que não, e disseram que nem todos são amigos de verdade, que

alguns até querem seu mal, que alguns são apenas colegas e não amigos, que

muitos estão apenas interessados em seus bens materiais, e assim por diante. É

notório o fato de que, mesmo jovens, os alunos tem essa consciência bem aguçada

e percebem quem são seus amigos verdadeiros e quem são os falsos amigos.

Seguindo essa linha de pensamento, solicitamos aos alunos que assistissem

ao filme “O Caçador de Pipas”, que conta a história de dois amigos de infância, tão

unidos como se fossem irmãos, que se separam depois da traição de um deles. O

filme fala de como um ato impensado pode influenciar toda uma vida e de como,

mesmo depois de tantos anos, é preciso voltar e acertar as contas com o passado.

Na discussão em grupo sobre o filme, os alunos disseram que aprenderam que

algumas amizades resistem até mesmo a tragédias e que é muito importante ter

sonhos. Alguns questionaram sobre o comportamento de um dos personagens em

não defender o outro quando foi preciso. Já outros notaram o fato de ele ser ainda

apenas uma criança e que talvez não soubesse o que fazer diante da situação. Em

geral, os alunos entenderam o valor de uma amizade verdadeira e afirmaram ter a

convicção de que amizades assim podem existir mesmo num mundo tão turbulento

e cheio de problemas.

Quando pedimos aos alunos a dizer o que eles acham que pode contribuir

para fortalecer as amizades e o que pode contribuir para romper vínculos de

amizades, suas repostas demonstraram um claro entendimento da questão. Como

situações que fortalecem amizades eles citaram a confiança, gestos de amor,

palavras doces, a pronta ajuda em caso de problemas, gestos de carinho e

compreensão, entre tantos outros fatores. Já como fatores que podem ruir

5TIBURI, Márcia. Amigos para sempre. Disponível em: <http://www.marciatiburi.com.br/textos/amigosparasempre.htm>. Acesso em: 10 out. 2010.

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amizades, os alunos apontaram a falsidade, a traição, a não disponibilidade em ouvir

e ajudar, falar mal por trás, a inveja, espalhar segredos, a falta de paciência, entre

outras coisas.

A quarta dinâmica consistia em assistir outro filme, dessa vez, o “Clube do

Imperador”, que retrata a história de um professor cujo objetivo é ensinar valores

morais por meio do estudo de filósofos gregos e romanos. Os ensinamentos do

professor são colocados em xeque quando um aluno recém chegado começa a

questionar a importância desses ensinamentos.

Depois de assistirem ao filme, os alunos responderam cinco questões

formuladas sobre a história. Uma das perguntas foi: “Que conceito de educação

moral está presente no filme ‘O clube do imperador’? Os alunos responderam, entre

outras coisas: o respeito, o caráter, a disciplina, a educação, a honestidade, a busca

pelo conhecimento e a responsabilidade.

Outra pergunta importante foi: “É possível a escola ensinar uma pessoa a ter

condutas morais”? As respostas a essa pergunta evidenciam que muitos alunos

acreditam que a escola pode sim ensinar valores morais. Estes alunos reconhecem

e admitem sua própria responsabilidade em fazer sua parte nesse sentido. Como

disse um aluno, ‘a escola ensina, mas depende do aluno se deixar influenciar ou

não. Porque depende da cabeça de cada um, depende do gênio e do caráter’.

Outros, porém, disseram que acreditam que a escola sozinha não pode fazer

muita coisa e que é preciso também a contribuição da família. Um aluno disse, por

exemplo, que ‘se dentro de casa não há limites, não vai ser em outros lugares que

haverá disciplina’. Outro aluno afirmou que o caráter e a educação ‘vem de casa’ e

que se a pessoa não tiver ‘uma família bem estruturada, não vai ser na escola que o

aluno vai aprender isso’.

Essas afirmações mostram que os alunos têm uma formada sobre a escola e

os valores morais. Alguns acham que a escola pode contribuir para seu

aprendizado, outros acreditam que ela não pode fazer muita coisa sozinha e que é

preciso um esforço conjunto. A dinâmica desse filme cumpriu seu objetivo de

despertar nos alunos a possibilidade de encontrar respostas dentro de si mesmos e

de tentar ver além do óbvio quando os professores estão ensinando suas matérias.

Também todos afirmaram verbalmente que gostaram do filme e que aprenderam o

papel da escola em ensinar os valores morais aos alunos.

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A próxima atividade proposta aos alunos foi a de escrever poemas e/ou

pequenos textos sobre o preconceito e ilustrá-los. Mais uma vez, houve uma plena

participação por parte dos alunos. Os poemas evidenciam uma maneira de pensar

firme e responsável. A maioria expressa repulsa pelo preconceito e determinação

em apoiar a inclusão de pessoas de outras raças, classes sociais, religiões e

portadores de deficiência.

A repulsa pelo preconceito e pelo racismo também ficou evidente nos

desenhos feitos pelos alunos para ilustrar os poemas. Em um deles, por exemplo, o

aluno desenhou uma menininha jogando o “preconceito” na lata de lixo. Outro

desenhou olhos de cor diferente (azul e castanho) num mesmo rosto. Outro aluno

desenhou uma estrada e dois homens, um branco e um negro seguindo o mesmo

caminho. Muitos desenharam mãos brancas e negras se tocando suavemente.

Ainda outro desenhou um negro, um índio e um cadeirante se manifestando contra o

preconceito. Certamente o aprendizado por meio dessas dinâmicas foi enriquecedor

a todos os participantes.

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Conclusão

A intervenção pedagógica proposta atingiu, sem sombra de dúvida, os

resultados desejados. Suas dinâmicas e atividades propiciaram momentos de

reflexão a cerca de valores morais e de como estes são importantes para a

construção da cidadania. Notamos que todas as atividades proporcionaram uma

interação entre os alunos. Observamos ainda que muitos alunos já possuíam senso

moral e que outros passaram a desenvolvê-lo por meio das atividades realizadas.

No que diz respeito aos filmes, por exemplo, os alunos gostaram muito de

assisti-los. Foi maravilhoso ver todos prestando atenção aos detalhes a fim de

entender não apenas a história, mas também as lições de vida. Mesmo os que são

mais desatentos ou os que gostam de fazer “gracinhas” durante as aulas, se

esforçaram neste sentido. Também notamos que os alunos foram bastante

responsáveis em assistir aos filmes, uma vez que essa atividade foi feita em casa,

longe dos olhos da professora. Mesmo assim, verificamos a disposição e interesse

dos alunos em realizar essa tarefa, participar das discussões um grupo e responder

as questões apresentadas.

Quanto às dinâmicas em sala de aula, houve um comprometimento da parte

de todos. Assim, não houve problemas na formação de grupos e na prática das

atividades. A maioria fez sua parte com zelo e determinação. Quanto aos poemas,

todos se esforçaram em escolher uma poesia apropriada ao tema e fizeram os

desenhos segundo a sua própria habilidade, sendo que alguns foram mais simples e

outros mais elaborados. No entanto, todos fizeram sua parte contribuindo para a

finalização dos trabalhos de forma eficiente e agradável a professora e a todos os

alunos.

Assim, podemos afirmar que os objetivos propostos no projeto do presente

artigo foram alcançados com sucesso. O primeiro objetivo era o explicitar o que são

valores morais aos alunos. Esse objetivo foi cumprido não apenas de maneira teoria,

ao se preparar aulas com este tema, mas também de maneira prática, por meio das

dinâmicas escolhidas. O segundo objetivo era o de demonstrar os direitos e deveres

de cada aluno segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente. Este objetivo

também foi alcançado por meio de aulas teóricas e práticas. Finalmente, o terceiro

objetivo era o de ensinar valores por transformar a sala de aula em um espaço de

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reflexão. Isso realmente aconteceu por meio de cada uma das dinâmicas propostas

e realizadas.

O trabalho deixou evidente que é possível ajudar os alunos a terem uma vida

digna, honesta e produtiva e que a necessidade de resgatar valores morais não é

apenas uma tarefa importante, mas também imprescindível a todos os educadores e

instituições escolares.

Certamente esse trabalho não foi o primeiro nem será o último sobre o

processo de ensino e aprendizagem de valores morais na escola. No entanto, sua

aplicação resultou em mudanças de comportamentos em alguns alunos. Por

exemplo, alguns alunos tinham o costume de responder mal ou responder com

ironia quando fazíamos uma pergunta. Hoje eles estão mais centrados, escutam

mais, prestam mais atenção, colaboram com a execução de trabalhos. Notamos que

os xingamentos diminuíram bem e que a irreverência também deu lugar ao respeito.

Também percebemos que os alunos passaram a contribuir mais com a limpeza da

sala e do pátio da escola. Entendemos que as mudanças são ainda pequenas, mas

é importante que elas vão ocorrendo aos poucos, todos os dias.

Entendemos também, que de modo algum as sugestões apresentadas aqui

são definitivas e únicas. Sempre há espaço para novas formas de ensinar valores

morais e cidadania. Os professores podem utilizar o presente artigo como base de

ideias para suas próprias dinâmicas e atividades.

Finalizamos com a certeza de que, é sim, possível elaborar ações

pedagógicas para a construção de valores morais e formação para a cidadania na

escola.

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Referências

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