DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009...MONTANHA ENCANTADA” Alaide Carvalho Laufer1 Luciane Thomé...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
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RESULTADOS REFLEXIVOS DO USO DO BLOG COMO FERRAMENTA DE
ENSINO/APRENDIZAGEM A PARTIR DE UMA ANÁLISE DA OBRA “A
MONTANHA ENCANTADA”
Alaide Carvalho Laufer1
Luciane Thomé Schröder2
Resumo
Os recursos didáticos têm um papel importante na mudança de atitude do educador e do educando, sendo que sua principal função é propiciar o ensino, motivando os alunos para uma aprendizagem eficiente. Na Era digital a dificuldade de despertar o interesse para os estudos pede atitude de colaboração entre professores e alunos e é através dela que a aprendizagem acontece. O filósofo francês Pierre Lévy (2007), define ―Inteligência Coletiva‖ como a soma das inteligências individuais que se tornam disponíveis através de veículos de comunicação, como a Internet, e que podem ser compartilhadas por todas as pessoas, bastando para isso, conectar-se a ela. Portanto, é necessário utilizar-se dos novos serviços disponíveis que podem auxiliar o professor na práxis pedagógica, uma vez que o quadro de giz, o lápis e o caderno já não são suficientes para atrair a atenção do aluno. Nesse sentido o blog é um dos instrumentos que pode auxiliar, possibilitando a criação de condições de estímulo, para que educador e educando desenvolvam seu conhecimento de modo significativo. Este trabalho utilizou como motivação a obra A Montanha Encantada, de Maria José Dupré, para fazer a Análise de Discurso, com o objetivo de ampliar o conhecimento dos alunos e leva-los a ir além das palavras escritas, percebendo que o discurso interativo é marcado pelo dialogismo e procurando na língua a visão discursiva que busca a exterioridade da linguagem como fator constitutivo do sentido. .
Palavras-chave: blog; prática de leitura e escrita.
1 Cursista do PDE/2009, graduada em Letras pela FACISA, pós-graduada em Linguística e Ensino de
Língua Portuguesa, professora de Língua Portuguesa do Colégio Estadual Ulysses Guimarães – Foz do Iguaçu 2 Mestre em Letras, Linguagem e Sociedade pela UNIOESTE, docente curso de Letras da
UNIOESTE – Campus de Marechal Cândido Rondon.
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1 Introdução
Para motivar a aprendizagem são necessárias ferramentas tecnológicas que
auxiliem o professor na práxis pedagógica. O modelo tradicional de quadro e giz não
é mais suficiente para atrair a atenção do aluno, o que torna necessário a introdução
de outros meios para auxiliar na criação de condições e estímulos para que o aluno
consiga desenvolver seu conhecimento de modo significativo.
A principal função dos recursos didáticos é facilitar o ensino e despertar o
interesse do aluno através da motivação, resultando na aprendizagem eficiente.
Acredita-se que através da análise de livros infanto-juvenis o conhecimento
pode ser encontrado, possibilitando formar uma sociedade consciente de seus
direitos e de seus deveres e que estes tenham melhor visão de mundo e de si
mesmos.
Aguiar e Bordine (1993 p. 12-13) afirmam que ―uma das necessidades
fundamentais do homem é dar sentido ao mundo e a si mesmo e o livro, seja
informativo ou ficcional, permanece como veículo primordial para esse diálogo‖.
Frente a isso, alguns questionamentos são colocados para reflexão: de que
estratégia lançar mão para provocar o aluno à leitura de textos literários? Que
metodologia deve ser pensada a fim de propiciar a eles a superação da leitura
mecanizada? De que modo uma prática de leitura reflexiva pode levá-los ao
exercício da autonomia intelectual?
O ambiente escolar vem passando por mudanças, principalmente no que se
referem às normas educacionais e/ou ferramentas pedagógicas que, com o decorrer
dos anos, foram integrando-se à escola, permitindo maior comprometimento e
qualidade de conhecimentos e conteúdos. Dentre todas, percebemos a
incorporação, como cita Ramos e Coppola (2009, p. 3), ―do computador e da internet
como mediadores do processo de conhecimento‖ que, se bem utilizado, constituir-
se-á em mais uma possibilidade de uma ferramenta para o ensino-aprendizagem.
A Internet oferece uma série de serviços e utilidades, dentre eles estão os
blogs, que segundo Fonseca, são diários virtuais apresentados na Internet. Neles, o
dono insere seus apontamentos e se deixar com acesso livre, pode permitir que
internautas façam comentários (FONSECA, 2006).
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Se for função da escola formar pessoas críticas, faz-se necessário partir
para uma atitude que leve o aluno a conquistar a leitura reflexiva que o encaminhará
para o exercício da autonomia intelectual. É justamente a leitura provocativa e que
faz o pensar, que lhe proporcionará ser cidadão, sabedor dos seus deveres e
merecedor dos seus direitos.
A compreensão e a interpretação de textos são práticas necessárias e
importantes para a aprendizagem. Ler, portanto, é essencial, para o processo
educacional, pois somente através da leitura eficiente é possível torna-se mais
crítico e com capacidade argumentativa, o que leva a construção do conhecimento.
2 Como motivar a leitura?
Por ser importante fonte de aprendizagem, a leitura deve ocupar lugar
privilegiado na vida escolar do aluno que deverá aprender a empregar a leitura além
das palavras, o que acontece através da história que faz parte da vida de cada um.
O histórico familiar, social e cultural está interligado na interpretação da leitura que
cada ser faz do mundo em sua volta. Orlandi esclarece:
Quem analisa não pode se contentar nem com a inteligibilidade nem com a interpretação. Para a inteligibilidade basta ―saber‖ a língua que se fala. Para interpretar, o fazemos de nossa posição sujeito, determinados pela ideologia, nos reconhecemos nos sentidos que interpretamos. Mas para compreender é preciso teorizar. É preciso não só se reconhecer, mas fazer o esforço de conhecer. É aceitar que a linguagem não é propriedade privada. É social, é histórica. Não é transparente. (ORLANDI, 2006, p. 2 e 3)
A principal função é estudar o discurso como prática social, o que significa
torná-lo interventor na apropriação do conhecimento para a superação de
dificuldades numa troca entre os homens e a sociedade em que vivem e se
desenvolvem.
Portanto, através da leitura, é necessário ajudar o aluno a elevar sua auto-
estima e perceber-se como sujeito ativo na construção de uma sociedade
democrática. E o blog é um dos recursos a serem utilizados para que os alunos
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possam interagir em sala de aula. A leitura dramatizada chama e prende a atenção
para o conteúdo e assim, o ouvinte/aluno, tem maior possibilidade de apreender
maior significação da história em ação, pois participa dela através da imaginação.
Na hora de desenvolver a parte escrita, a proposta do blog poderá servir de
motivação, uma vez que ele deixará de escrever para cumprir mais uma tarefa e
passará a escrever para ser lido e não meramente para a o atribuição de uma nota.
A obra ―A Montanha Encantada‖ de Maria José Dupré serviu de meio para a
realização da interlocução entre o ensino em sala de aula e as novas tecnologias,
como sites de pesquisa, e-mails e blog com divulgação de alguns trabalhos
elaborados em sala e a adaptação do livro para uma ―rádio novela‖. O desafio da
escrita foi proposto porque atrai.
3 A história: “A montanha encantada” (Maria José Dupré)
No livro ―A Montanha Encantada‖, é narrada uma história envolvendo as
crianças Vera, Lúcia, Cecília, Quico e Oscar, que numa temporada no sítio do
Padrinho ficam curiosas para descobrir o que significa a estranha luz que
esporadicamente aparece no cume de uma montanha próxima. Junto com o dono do
sítio, o Padrinho e as crianças partem para uma excursão rumo ao topo da
montanha que lhes pareceu encantada, dispostos a descobrir o que causa a
aparição da iluminação que lhes chamou a atenção.
Durante a viagem o mistério é aguçado quando escutam uma espécie de
música, mas sem conseguir saber com exatidão de onde ela vem. Ao atingir o alto
da montanha, os jovens fazem o reconhecimento e, num acidente, caem no seu
interior. São encontrados por um anão que os escolta até seu líder, que na realidade
é um príncipe. A partir dali vivem uma história que sobrevive desde o tempo de Mem
de Sá, quando os anões vieram junto com os portugueses, fazendo parte da trupe
cuja incumbência era alegrar a comitiva do Rei. Habituaram-se a este país e não
mais quiseram regressar ao de origem.
As crianças, sempre acompanhadas por seus cachorrinhos de estimação,
Pingo e Pipoca, exploram o local que lhes parecia inóspito por não entrar a luz do
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sol e se surpreenderam ao se depararem com uma cidade com muitos habitantes e
cuja matéria prima era o ouro.
Materialmente tratava-se do lugar mais rico do mundo, mas a cidade dos
anões não possuía livros, instrumentos musicais, nem flores, o que a tornava pobre,
apesar do rico minério e das pedras preciosas encontradas por lá. A luz misteriosa
que chamou a atenção das crianças tratava-se da experiência do cientista da
cidade, mas quando o príncipe ficou sabendo que foram suas tentativas de contato
com outros planetas que atraíra a curiosidade das crianças, proibiu-o de continuar
suas misteriosas experiências com as pedras preciosas.
As crianças conheceram o príncipe local, a cultura portuguesa - que
permaneceu desde a época que os anões vieram com a comitiva real, na época do
―descobrimento‖ - a alimentação improvisada - por conta de viver sem a luz solar - e
ainda tiveram a oportunidade de assistir ao casamento dos príncipes.
Após algumas confusões (hilárias) e a pedido da princesa, o príncipe
permitiu que os garotos retornassem ao mundo exterior. Foram acompanhados por
um anão e no caminho, ainda dentro da montanha, inesperadamente a luz de um
lampião, que o pequenino carregava, apagou-se e os garotos viram- se
arremessados para o alto. Quando clareou não reconheceram o local e iniciaram a
busca por Padrinho e os outros aventureiros. Ao encontrá-los, sentiram-se aliviados.
Após alimentarem-se, contam a fantástica história vivida por eles dentro da
montanha dos anões. Os adultos não acreditaram, porém iniciou-se uma série de
fatos que deixaram os adultos em dúvida e passaram a pensar na possibilidade de
ser verdade a história contada pelas crianças.
De volta para casa são recebidos carinhosamente por Madrinha. Terminada
as férias, Eduardo, Henrique e as três meninas retornam para São Paulo. Antes de
partir beijam as mãos dos padrinhos que os convida para nova visita de férias no
ano seguinte.
4 Encaminhamento didático: leitura e produção de sentido
Para encaminhamento didático fez-se uso da Análise de Discurso (AD) de
orientação francesa, porque ela aborda a linguagem como um fator sócio-histórico,
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considera os valores sociais e individuais, a história que cada pessoa carrega
consigo, além de privilegiar o estudo do sentido. Acredita-se que a AD, através das
suas abordagens (que tem como pilar a leitura como produção de sentido), vá ao
encontro das necessidades de ensino, o que contribui para leitura mais crítica e
reflexiva, base geradora para o desenvolvimento da escrita tão necessária no ensino-
aprendizagem da língua materna.
A AD tem o discurso como objeto de estudo e, segundo Orlandi, na obra
Discurso e Leitura (2008, p.35), tem-se um provocativo questionamento: afinal, ―A
leitura é uma questão linguística, pedagógica ou social?‖
A resposta, então, é a de que a leitura é uma questão lingüística, pedagógica e social ao mesmo tempo. Embora cada especialista a encare em sua perspectiva. (...) Metaforicamente, eu diria que é preciso não esquecer que o microscópio não é a bactéria que o observa (ORLANDI, 2008, p. 35).
A principal função de se estudar o discurso como prática social significa
torná-lo mediador na apropriação do conhecimento para a superação de
dificuldades, numa espécie de troca entre os homens e o mundo em que vivem e se
desenvolvem, considerando toda a complexidade que envolve o fazer discursivo.
Não vejo condições para compactuar com uma pedagogia da facilitação, onde sempre prevalece a preocupação de encontrar recursos e técnicas de aprendizagem que aparentam simplificar o que é impossível de simplificar (...) desmerece a inteligência dos alunos ao negar-lhes as oportunidades e os meios para se constituírem como sujeitos (VOESE, 2005, p. 134).
Na medida em que se efetiva este desenvolvimento, novo acréscimo é feito
através do discurso e nova apropriação se completa numa espécie de espiral infinito,
dando forma às épocas históricas e aumentando o grau de complexidade do
conhecimento humano. Ao mesmo tempo em que isto ocorre, fica claro ser o
conhecimento dinâmico e, portanto, infinito, devendo o homem estar constantemente
procurando sua superação.
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A transitividade crítica por outro lado, a que chegaríamos com uma educação dialogal e ativa, voltada para a responsabilidade social e política, se caracteriza pela profundidade na interpretação dos problemas. Pela substituição de explicações mágicas por princípios causais. Por procurar testar os ―achados‖ e se dispor sempre a revisões. Por despir-se ao máximo de preconceitos na análise dos problemas e, na sua apreensão, esforçar-se por evitar deformações. Por negar a transferência de responsabilidade. Pela recusa a posições quietistas. Por segurança na argumentação. Pela prática do diálogo e não da polêmica. Pela receptividade do novo, não apenas porque novo e pela não-recusa ao velho, só porque velho, mas pela aceitação de ambos, enquanto válidos (FREIRE, 1991 apud VOESE, 2005, p. 133).
Sabe-se que é comum as aulas serem ministradas a grandes grupos de
alunos, ignorando-se a herança histórica social particular de cada um, o que
influencia no desempenho escolar, uma vez que a interlocução é deixada de lado
em função da disciplina.
Mas essa interlocução precisa ter espaço garantido, pois é por meio dela
que o discurso acontece. Segundo Orlandi (2007, p. 15), ―Na análise de discurso
procura-se compreender a língua fazendo sentido, enquanto trabalho simbólico,
parte do trabalho social geral, constitutivo do homem e da sua história‖.
É por meio do estudo do discurso que se observa a relação entre língua e
ideologia, compreendendo-se como ela produz sentidos diferentes dependendo das
histórias de vida dos sujeitos que proferem discursos: ―o sentido não existe em si,
mas é determinado pelas posições ideológicas colocadas em jogo no processo
sócio-histórico em que as palavras são produzidas‖ (ORLANDI, 2007, p. 42).
Propõe-se que o currículo da Educação Básica ofereça, ao estudante, a formação necessária para o enfrentamento com vistas à transformação da realidade social, econômica e política de seu tempo. Esta ambição remete às reflexões de Gramsci em sua defesa de uma educação na qual o espaço de conhecimento, na escola, deveria equivaler à idéia de atelier-biblioteca oficina, em favor de uma formação, a um só tempo, humanista e tecnológica. (...) Com isso, entende-se a escola como o espaço do confronto e diálogo entre os conhecimentos sistematizados e os conhecimentos do cotidiano popular. Essas são as fontes sócio-históricas do conhecimento em sua complexidade (PARANÁ, 2008, p. 20-21).
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Os Parâmetros Curriculares Nacionais, entre outros indicam como objetivos
do ensino fundamental que os alunos sejam capazes de:
• compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito; • posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas; • conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao País; • saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos; (BRASIL, 2008, p. 55 )
Apesar das Diretrizes Curriculares Estaduais, apregoarem que os
estudantes devem saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos
tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos, é possível perceber que o
problema não aparece somente na parte econômica, tem suas raízes na área
cultural e política, portanto interessa a Análise de Discurso orientação francesa.
Nestas diretrizes, propõe-se uma reorientação na política curricular com o objetivo de construir uma sociedade justa, onde as oportunidades sejam iguais para todos. Para isso, os sujeitos da educação básica, crianças, jovens e adultos, em geral oriundos das classes assalariadas, urbanas ou rurais, de diversas regiões e com diferentes origens étnicas e culturais (FRIGOTTO, 2004), devem ter acesso ao conhecimento produzido pela humanidade que, na escola, é veiculado pelos conteúdos das disciplinas escolares. (PARANÁ, 2008 p. 14)
Procurando não fugir do caminho traçado pelas DCEs, este trabalho é
norteado pela AD de orientação francesa que surgiu com o filósofo Michel Pêcheux,
na década de 60, na França. É considerada uma disciplina de entremeios,
justamente por trabalhar o discurso na sua historicidade, que é o significado
adquirido através do tempo, através da história, das lutas, da marca ideológica que o
discurso carrega.
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A AD trata do discurso (...) e a palavra etimologicamente, tem em si a idéia de curso, de percurso, de correr por, de movimento. O discurso é assim, palavra em movimento, prática da linguagem: com o estudo do discurso observa-se o homem falando (ORLANDI, 2007, p. 15).
Para a AD, a língua precisa fazer sentido, participar do espaço político-sócio-
cultural do sujeito. É necessário que o professor intermedie e assessore o aluno
para que este vá realizando um trabalho de interpretação e seja capaz de ler além
do que está dito. Que conheça, além da sua, outras histórias, outras culturas, outras
sociedades e, por força desse conhecimento, possa (re) escrever outra história. ―A
AD visa à compreensão de como um objeto simbólico produz sentido, como ele está
investido de significância para e por sujeitos‖ (ORLANDI, 2007, p. 26).
Cabe à escola a função de dar o acesso à cultura ditada pelas classes
dominantes, para que todos possam ser cidadãos em igualdade; e isso não
acontece fora do discurso.
(...) a relação entre linguagem e pensamento, e linguagem e mundo tem também suas mediações. Daí da necessidade da noção de discurso para pensar essas relações mediadas. Mas ainda é pelo discurso que melhor se compreende a relação entre linguagem/pensamento/mundo, porque o discurso é uma das instancias materiais (concretas) dessa relação (ORLANDI, 2007 p.12).
A AD em sua vertente francesa, abordando a linguagem como um fato sócio-
histórico e que considera os valores e a história que cada pessoa carrega consigo,
privilegia o estudo do sentido, contribuindo para leitura crítica e reflexiva, base
geradora para o desenvolvimento da escrita.
Tendo como objeto de estudo o discurso, a AD procura ver a língua não
apenas como transmissão de informações ou a materialização de simples atos de
fala, mas estuda a língua numa visão discursiva que busca a exterioridade da
linguagem como fator constitutivo do sentido. Orlandi, ao discorrer sobre a AD,
afirma que nela ―procura-se compreender a língua fazendo sentido, enquanto
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trabalho simbólico, parte do trabalho social geral, constitutivo do homem e da sua
história‖ (ORLANDI, 2007, p. 15).
A AD toma a linguagem como mediadora indispensável entre o homem e o
meio social e natural em que vive. Assim, a AD não toma a língua como um sistema
abstrato, mas como modo de interação entre os sujeitos.
Sendo o discurso uma prática, pode-se dizer que por ele se dá uma ação do
sujeito sobre o mundo. Por isso, sua aparição deve ser contextualizada como um
evento, que fundamenta uma interpretação e constrói uma ―vontade de verdade‖. A
AD coloca aos sujeitos a seguinte questão: ―como este texto significa?‖ Ou seja, ela
se interessa pelo momento histórico de ―surgimento‖ do texto, da sua historicidade,
releva as condições de produção para que o dito fosse daquele jeito e não de outro,
―(...) ela concebe [o texto] em sua discursividade‖ (ORLANDI, 2007, p 18).
A AD teve início na década de 60, como já foi dito, com a preocupação
voltada ao discurso e, a partir de então, passou-se a pensar o enunciado a partir do
espaço social de onde ele se manifesta, tornando-se assunto de linguístas, de
historiadores e até de psicólogos.
Concebendo a linguagem como a mediação necessária entre o homem e a realidade natural e social. Essa mediação, que é o discurso, torna possível tanto a permanência e continuidade quanto o deslocamento e a transformação do homem e da realidade em que ele vive. O trabalho simbólico do discurso está na base da produção da existência humana (ORLANDI, 2007, p.15).
Quando pronunciamos um discurso, agimos sobre o meio em que vivemos e
marcamos nossa posição, seja selecionando sentidos ou excluindo-os no processo
interlocutório, sem que isso signifique controle, intenção, manipulação. O sujeito
sempre fala a partir de uma posição social, e, desta forma, o dizer está marcado
pelas ideologias que se manifestam nas escolhas mais ou menos conscientes que
ele faz e que se revela pela sua cultura. Como, por exemplo, esse estudo fará ao
tratar do tema família, que, na obra ―A Montanha Encantada‖ é uma representação
construída por uma dada sociedade.
Para Maingueneau (2004, p.56), o discurso é uma dispersão de textos cujo
modo de inscrição histórica permite defini-lo como um espaço de regularidades
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enunciativas. O referido autor explica que o termo discurso apresenta várias
características e que as essenciais são: o discurso como organização situada além
da frase, cujos elementos estão submetidos a regras de organização vigente em um
determinado grupo social. Porém, o discurso não deixa de ser orientado, o que
supõe seguir uma ordem no tempo de forma linear, mas que também pode se
desviar e mudar de direção de acordo com as intencionalidades do locutor.
Para o autor, o discurso interativo é marcado pelo dialogismo, é uma troca,
implícita ou explicita, com outros enunciadores reais ou virtuais; e supõe-se que há
sempre a presença de outra enunciação a qual o enunciador se dirige para construir
seu próprio discurso.
O discurso só é um discurso enquanto remete a um sujeito, um EU, que se coloca como fonte de referências pessoal, temporal, espacial e, ao mesmo tempo, indica que atitude está tomando em relação àquilo que diz e em relação ao seu co-enunciador (MAINGUENEAU, 2004, p.55).
Este lugar no discurso é dirigido por regras anônimas que determina o que
pode e deve ser dito. Somente nesse lugar constituinte, o discurso vai ter um dado
efeito de sentido. Se for pronunciado em outra situação que remeta a outras
condições de produção, seu sentido, consequentemente, será outro. Por exemplo,
os temas ―a inflação dos anos 80‖ ou ―a ditadura dos anos 60‖, quando comentados
por pessoas que viveram os acontecimentos, tem-se um sentido, talvez, distante
daquele que um jovem de hoje atribuiria aos assuntos, o que não significa leituras
mais ou menos certas, mas as palavras são tomadas por efeitos de sentido
diferentes dependendo daquele que as pronuncia.
5 Sistemas e métodos
Analisado o tempo disponível para o desenvolvimento do trabalho e seu
melhor aproveitamento, decidiu-se que seria efetuado em sala de aula, em casa e
no contraturno, dependendo do aluno ter ou não acesso à Internet.
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Foi estabelecido que duas aulas semanais fossem reservadas para leitura e
conversação sobre os assuntos abordados durante a atividade, além de sugerir
pesquisas como preparação para os capítulos a serem lidos posteriormente. Ao
término da leitura semanal os alunos fariam um resumo dos capítulos como forma de
rever a trajetória da história. Também estudariam os elementos da narrativa e os
fatos históricos envolvendo os personagens e suas atitudes. Segundo Orlandi (2007,
p. 15), ―Na análise de discurso procura-se compreender a língua fazendo sentido,
enquanto trabalho simbólico, parte do trabalho social geral, constitutivo do homem e
da sua história‖.
É por meio do estudo do discurso que se observa a relação entre língua e
ideologia, compreendendo-se como a língua produz sentidos diferentes,
dependendo das histórias da vida dos sujeitos que proferem discursos: ―o sentido
não existe em si, mas é determinado pelas posições ideológicas colocadas em jogo
no processo sócio-histórico em que as palavras são produzidas‖ (ORLANDI, 2007, p.
42). Pensando dessa forma, alguns fragmentos do livro foram utilizados como
amostragem para se trabalhar oralmente a AD com os alunos.
6 A análise
A fazenda do Padrinho é muito bonita e rodeada de montanhas altíssimas. (DUPRÉ, 2009 p.8)
A história acontece no espaço rural, se assemelhando com os contos de
fadas de origem européia, onde as aventuras acontecem no campo, como por
exemplo: Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida, Branca de Neve, entre
outros. Segundo Zilberman (2007, p. 59), o livro infantil teve origem européia, no
Século XVII:
A literatura infantil, desde seu aparecimento, na Europa moderna, mostrou preferência particular pelo mundo agrícola como local para o transcurso de ações. Isso se deve ao aproveitamento, desde o início, de narrativas de
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origem folclórica ou contos de fadas de proveniência camponesa como matéria-prima para a (re) criação literária. (ZILBERMAN, 2007, p. 59)
Padrinho era um fazendeiro e para manter a fazenda produtiva precisa da
mão de obra para cultivar sua plantação. Segundo Viotti (1999, p. 14), os
fazendeiros não se preocupavam com seus trabalhadores. A preocupação era com o
lucro.
A expansão do mercado internacional e a revolução no sistema de transportes abriram novas possibilidades para a agricultura brasileira no século XIX. O desenvolvimento da cultura cafeeira em Minas, Rio e São Paulo tornaram urgente a solução de dois problemas interdependentes: o da mão-de-obra e o da propriedade da terra. (...) a abolição liberou os brancos do peso da escravidão e abandonou os ex-escravos à sua própria sorte. Os maiores beneficiários foram, uma vez mais, as elites e a sua clientela. (VIOTTI, 1999 p. 14)
―A Montanha Encantada‖ foi publicada, originalmente, em 1945 e sabendo
que as condições de produção incluem o contexto sócio-histórico, ideológico, então,
o excerto mencionado anteriormente, que a princípio parecia uma frase com pouca
significação, ao se aprofundar historicamente é possível saber que: naquela fazenda
também houve mão de obra escrava, famílias separadas pela venda, assim a
história passa a ter outros significados por haver personagens e ser desenvolvida
por sujeitos situados historicamente. Esse fato também leva o leitor a recorrer-se das
informações armazenadas que o proporcionam imaginar o que é beleza nesta
situação específica.
De acordo com Chevalier e Gheerbrant (2009, p. 616), sendo a montanha
muito alta, próxima do céu e por encontrar-se ao mesmo tempo presa na terra,
participa do simbolismo da transcendência. Sendo ali, a morada dos deuses, é o
objetivo da ascensão humana. É uma escada que necessita ser escalada e naquele
ambiente rural, da fazenda, a altura da montanha chama a atenção dos visitantes,
significando para eles, a possibilidade de mudar seu estágio de conhecimento,
aprendendo com o Padrinho e até obter ascensão social, já que ali estão sob sua
proteção.
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– Todos – disse ele – As meninas são tão boas companheiras quanto os meninos. (DUPRÉ, 2009, p. 16)
O caráter preconceituoso em relação ao papel da figura feminina fica
evidente no trecho acima, essa mentalidade coaduna com os valores arcaicos
advindos de uma sociedade patriarcal. A organização desse modelo de sociedade,
segundo Freyre, (2004, p. 63) ―teve no complexo ou sistema patriarcal, ou tutelar, de
família, de economia, de organização social, na forma patriarcal de habitação – a
casa-grande completada pela senzala".
A história demonstra também que:
O movimento liderado pela Dra. Bertha Lutz no Brasil, nas décadas de 1920 e 1930, foi objeto de alguns estudos. O referido movimento, que examino em trabalho anterior, teve como alvo o acesso das mulheres à cidadania plena e, apesar de limitações, comuns aos demais movimentos feministas da época, algumas de suas propostas, como a dos direitos civis, só recentemente vêm sendo implementadas. (FLAMARION, 1997, p. 409)
Apesar das mulheres já terem conseguido algumas conquistas naquela
época, era impossível esconder o preconceito que deixava sua marca nos discursos,
conforme nos diz Voese (2005, p. 124), ―no modo de enunciar do autor do texto‖ (...)
―O dito, os silenciamentos e o modo de enunciar apontam para o lugar social que
ocupa‖. Assim deixa clara a comparação feita entre os meninos e as meninas e mais
claro ainda fica o caráter da ―supremacia‖ masculina daquela época (?).
Considerado de suma importância conhecer as origens, o passado da
família para compreender a própria história, foi que se sugeriu como atividade aos
alunos, uma pesquisa sobre o significado da palavra brasão e após, que cada um
construísse a árvore genealógica como representação da sua história familiar. O
primeiro passo foi o diálogo com seus familiares procurando conhecer a história e
vida dos seus antepassados e suas origens. Após escreveram sua história familiar e
desenharam o ―Retrato de Família‖ que se encontra exposto no Blog Literário
Colaborativo: http://blogliterariocolaborativo.blogspot.com/2010_10_17_archive.html
http://blogliterariocolaborativo.blogspot.com/2010_10_17_archive.html
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Figura 1: Desenhos criados pelos alunos representando a família de cada um.
Na sequência, cada aluno criaria um brasão representando a trajetória vivida
pelos seus antepassados. Para isso, propôs que se pesquisassem o significado das
imagens que usariam e de acordo com seu sentido produzissem um escudo que
revelasse a história de vida familiar. Para esta atividade usaram moldes e desenhos,
ocorrendo participação efetiva da turma.
Os laços familiares na época em que a história ―A Montanha Encantada‖ foi
escrita, transcende a consanguinidade para encontrar os laços espirituais através do
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compadrio, como estratégia de proteção entre os envolvidos, tornando-os membros
da mesma família espiritual.
A noção de ‗amizade desigual‘, que subordinava a reciprocidade ao respeito à hierarquia social, tornava-se o elemento legitimador das relações de poder internas ou externas aos grupos sociais. No caso do compadrio, tais vínculos eram ainda mais intensos, pois geravam laços de parentesco para o resto da vida — tanto na relação padrinho-afilhado quanto na de compadre-compadre. Nesse sentido, é possível afirmar que o compadrio consistia em um dos elementos de estruturação das redes sociais que organizavam a vida cotidiana. (REVISTA BRASILEIRA DE HISTÓRIA, vol. 26, nº 52 p. 274).
– Eles eram dessa alturinha, Padrinho. Nós éramos quase gigantes perto deles. (DUPRÉ, 2009, p. 112)
Como em alguns contos de fada onde os anões estão ligados a cavernas e
grutas das montanhas, nesta história também existe a presença deles vivendo num
mundo à parte.
O preconceito aparece na maneira de falar das crianças ao se referirem aos
anões transmitindo ao leitor a impressão de que os moradores do interior da
montanha eram ainda menores, uma vez que a fala parte de crianças.
Percebe-se nesta fala que o objetivo é demonstrar que não sentiram medo,
porque eram quase ―gigantes‖ perto deles. Aparece aqui a necessidade de
demonstrar um ethos diferente da realidade, no entanto ele não se efetiva, pois
como observa Bourdieu (Bourdieu, Apud AMOSSY, 2008, p. 121) ―a eficácia
simbólica da palavra só se efetiva quando aquele que a sofre reconhece aquele que
a exerce como capacitado para exercê-la‖. Neste caso, o que as crianças disseram
não está de acordo com o que aconteceu. Elas ficaram prisioneiras dos anões,
apesar do contraste de tamanho. ―São essas as pessoas que eu vi subindo a
montanha. Prendi-os hoje; são crianças― (Dupré, 2009, p. 48).
– Desde o tempo dos avós dos nossos avós vivemos aqui nessa montanha e nunca ninguém veio perturbar nossa paz. (DUPRÉ, 2009 p. 46)
-
A citação acima lembra posse. Estão naquelas terras há tanto tempo que
adquiriram direitos sobre ela. São os donos e sobre elas reinam, são os senhores.
Ninguém tem direito de tirar-lhes o sossego nem perturbar-lhes a paz. Neste trecho,
o anão deixa perceber pelo ―tom‖ o questionamento implícito: Quem essas pessoas
pensam (?) que são e com que direito (pensam que têm) de perturbar a paz de
quem é dono da terra. Eles (as crianças) é que estão invadindo nossas propriedades
que foram passadas de pais para filhos numa herança história como o é o reinado
do príncipe anão.
Orlandi (2002, p. 217), quando trata dos lugares de observação, traça um
panorama do nosso processo de identificação e cita: Não deixa de soar estranha a
tabuleta colocada no norte do Amapá: ―Aqui começa o Brasil‖. E comenta: ―Já nos
aparece do que se trata: do imaginário das descobertas‖. Será mesmo necessário
dizer onde começa e onde termina o Brasil? Em outros países este fato acontece?
Orlandi (2002, p. 217) questiona que no ano de 2000 o Brasil fez aniversário de
descoberta e pergunta: ―A Itália faz aniversário?‖; ―A França faz aniversário?‖;
―Porque não escolher a data da independência para começar o Brasil?‖
O que não está dito nesta história? Orlandi (2002, p. 218), faz outro
questionamento: ―Qual a relação desse imaginário com a realidade do país, quando
pensamos seus sentidos?‖
Os portugueses, anões, que estão nas montanhas há muito tempo sentem-
se donos dela e quando vêem as crianças, consideram-nas uma ameaça à
tranquilidade local.
Historicamente, os portugueses que estavam habituados as conquistas
marítimas reclamam por estarem sendo ―perturbados‖. Apesar do tempo que estão
longe da terra mãe, as lembranças são repassadas de pai para filho e por não ter
contato com outras culturas elas não se apagam.
Reminiscências de memórias da infância e a reprodução de comportamentos psíquicos, expressos por meio de arquétipos, podem alargar nossos horizontes e aumentar o campo da nossa consciência — sob condição de que os conteúdos readquiridos sejam assimilados e integrados na mente consciente. Como não são elementos neutros, a sua assimilação vai modificar a personalidade do indivíduo, já que também eles vão sofrer algumas alterações. (CARL G. JUNG, 1964 p. 99)
-
Os pequenos moradores da Montanha vivem isolados, escondidos do
restante da civilização há muito tempo e só vive desta maneira, quem tem medo de
enfrentar a vida, quem tem medo do futuro, próprio da criança em fase de transição:
Ao chegar à idade escolar a criança começa a fase de estruturação do seu ego e de adaptação ao mundo exterior. Esta fase em geral traz um bom número de choques e embates dolorosos. Ao mesmo tempo, algumas crianças nesta época começam a sentir-se muito diferentes das outras, e este sentimento de singularidade acarreta certa tristeza, que faz parte da solidão de muitos existe dentro e fora de nós, tornam-se problemas conscientes; a criança precisa enfrentar impulsos interiores prementes (e ainda não compreendidos), além das exigências do mundo exterior. Se o desenvolvimento da consciência for perturbado no seu desabrochar natural, a criança, para escapar às suas dificuldades externas e internas, isola-se em uma "fortaleza" íntima. Quando isto acontece, seus sonhos e seus desenhos, que dão ao material inconsciente uma expressão simbólica, revelam de maneira invulgar a recorrência de um tipo de motivo circular, quadrangular ou "nuclear" (que mais tarde explicaremos). É uma referência ao núcleo psíquico, que já mencionamos antes, o centro vital da personalidade do qual emana todo o desenvolvimento estrutural da consciência. (CARL G.JUNG, 1964 p. 165/166)
Os anões, também, representam as crianças que não tiveram espaço na
sociedade para viver sua infância e passaram esta fase da vida convivendo com
adultos, como se fossem um deles, tornando-se adultos precoces.
A transmissão dos valores e dos conhecimentos, e de modo mais geral, a socialização da criança, não era, portanto nem asseguradas nem controladas pela família. A criança se afastava logo de seus pais, e pode-se dizer que durante séculos à educação foi garantida pela aprendizagem, graças à convivência da criança ou do jovem com os adultos. A criança aprendia as coisas que devia saber ajudando os adultos a fazê-las. A passagem da criança pela família e pela sociedade era muito breve e muito insignificante para que tivesse tempo ou razão de forçar a memória e tocar a sensibilidade. (ÁRIES, 1981, p. 3)
– Viemos com fome porque não jantamos. Sabe o que comíamos lá, Padrinho? Crista de galo garnisé e pão de mel... (DUPRÉ, 2009, p. 113)
-
No Dicionário de Símbolos (2009, p.457), galo é conhecido como emblema
de altidez, justificado pela postura da ave. Seu canto também anuncia o nascimento
do Sol. Dentro da montanha, "o Sol não chegava nunca" (Dupré, p.64), portanto,
como seu canto perdeu a função de anunciação, ele passou a servir de alimento aos
anões.
O mel é doce e natural, produzido por abelhas, "soldados organizados"
Não é absolutamente necessário participar numa civilização histórica para poder dizer de alguém que esse alguém se encontra numa «situação histórica». O australiano que se alimenta de insetos e de raízes encontra-se, também ele, numa «situação histórica», ou seja, numa situação bem delimitada, expressa numa certa ideologia e sustentada por certo tipo de organização social e econômica; (ELIADE, 1979, p.57).
Os hábitos alimentares e culturais causam estranhamento aos visitantes,
para os anões que estavam acostumados, era natural. Fazia parte da cultura que
eles adaptaram para aquela situação que estavam vivendo e depois da adaptação
passou a ser espontânea para eles, tornando-se sedimentada naquela sociedade.
―Se sabemos que, ideologicamente o sujeito-leitor se apresenta como esse sujeito
capaz da livre determinação dos sentidos ao mesmo tempo em que é um sujeito
submetido às regras das instituições...‖ (ORLANDI, 2008, p.50).
Aproveitando o momento em que duas culturas se defrontam, sugeriu-se aos
alunos uma pesquisa sobre o significado de ―cultura‖ e descobrir qual é a ―cultura
brasileira‖.
Significado de Cultura Fig. Conjunto dos conhecimentos adquiridos; a instrução, o saber: uma sólida cultura. Sociologia Conjunto das estruturas sociais, religiosas etc., das manifestações intelectuais, artísticas etc., que caracteriza uma sociedade: a cultura inca; a cultura helenística. Aplicação do espírito a uma coisa: a cultura das ciências. Desenvolvimento das faculdades naturais: a cultura do espírito. (Dicionário on line de português, acessado em 22/10/2010) http://www.dicio.com.br/cultura/ em 22/ 10/ 2010
Embora o Brasil tenha sido colonizado por portugueses é um país que
convive harmoniosamente com diversas etnias, as quais deixaram influências
-
profundas na cultura nacional, com destaque aos povos indígenas e africanos, mas
sem esquecer as contribuições dos alemães e italianos, dentre tantos outros que
colaboraram para a colonização deste país, o que tornou nosso povo multi-étnico e
miscigenado. O mesmo ocorreu com a cultura brasileira, que é um conjunto de
cultura que acaba se mesclando pela convivência entre estes povos.
Pelo que foi averiguado nesta aula, atitudes de preconceito, historicamente
não fazem sentido em nossa sociedade. Os alunos perceberam que se o Brasil é
acolhedor e tem uma história tão bonita, qualquer ato de preconceito é antes um ato
de ignorância do preconceituoso. Sugeriu-se então, que ele fosse levado para uma
―escola‖ onde se ensina história do Brasil e história de vida.
(...) elas ainda olharam para trás procurando os padrinhos, que diziam adeus ao lado de Quico e Oscar no terraço da fazenda. (DUPRÉ, 2009, p.126)
Nesta citação fica claro o caráter da separação. A família do Padrinho
permanece na fazendo onde residem e os visitantes, apadrinhados, se retiram:
―Eduardo, Henrique e as três meninas voltam para São Paulo‖ (Dupré, 2009, p. 125).
Em nenhum momento a autora esclarece quem conduz os jovens mirins
nesta viagem de retorno, apenas que voltaram juntamente com os dois
cachorrinhos, Pingo e Pipoca, o que pode representar a falta de uma família os
traços tradicionais daquela época, ou seja, pai, mãe e irmãos. Estas crianças
poderiam morar em uma instituição ou na casa de amigos ou parentes, por enfrentar
problemas familiares ou por sua falta.
Padrinho estava lendo na sala de jantar; saiu acompanhado por Madrinha. (DUPRÉ, 2009, p. 10)
No período da escravidão não havia tempo de construir as relações
familiares elementares. Das famílias originais os escravos guardavam somente
lembranças, uma vez que delas foram separados ainda jovens, na África e levados
em navios negreiros para outras regiões, no caso do livro ―A Montanha Encantada‖,
-
o Brasil. Já que o mar os separava de seus laços consanguíneos, restava-lhes
construir laços afetivos através do compadrio. A Igreja cumpria o papel de batizar as
crianças, dando-lhe um documento legal e os padrinhos, o apoio, a solidariedade, a
ajuda e proteção necessária, pois passavam a ter um parentesco espiritual tanto
com os afilhados quanto com os compadres, uma vez que estavam consolidados
legalmente perante a Igreja Católica.
Entre a elite, que era composta de pessoas que possuíam alguma influência
política e de preferência também financeira, havia o compadrio que os ligava por
laços de interesses políticos, sociais e econômicos, favor ou patronagem:
A breve e triste história do primeiro Banco do Brasil, criado pelo príncipe regente sete meses depois de chegar ao Rio de Janeiro, é um exemplo do compadrio que se estabeleceu entre a monarquia e uma casta de privilegiados negociantes, fazendeiros e traficantes de escravos a partir de 1808. (GOMES, p. 191, 2008)
O compadrio entre as famílias da elite, que era um pequeno grupo detentor
do poder e do prestígio na sociedade vigente, fazia do casamento um traço
marcante na época. Os filhos destas famílias eram encaminhados pelos seus pais
para seguirem seus caminhos. Já para as filhas procuravam um ―bom‖ casamento
entre os seus ―amigos‖ e de preferência que somasse aos seus interesses
financeiros de poderio.
O compadrio se tornou uma relação relevante na sociedade da época, isso
não ocorreu apenas pelo significado que possuía para a religião católica onde os
afilhados eram protegidos por seus padrinhos, mas também para a elite senhorial
que objetivava aumentar seu poder. Com o decorrer do tempo e a mistura de
culturas houve uma re-significação até chegar à atualidade.
A necessidade de manter intacto o latifúndio explica a sobrevivência do direito de primogenitura até a primeira metade do século XIX (1835), criando condições para o desenvolvimento da família de tipo patriarcal em que o chefe goza de poder absoluto sobre seus membros que dele dependem e a ele devem obediência. (COSTA, 1999, p 237)
-
Os fragmentos demonstram que não há diferenciação no tratamento das
crianças. As orientações são dadas a todos da mesma forma. Padrinho e madrinha
estão ligados ao batismo que é um dos principais sacramentos da Igreja Católica.
Ele nos remete diretamente ao Evangelho, lembrando a passagem em que João
Batista batizou Jesus Cristo. Este ritual constrói entre afilhado, padrinho e madrinha;
compadres e comadres, laços familiares espirituais.
De acordo com Brugger (2007, p. 284), o ―apadrinhamento criava ou
reforçava relações sociais, que se constituíam em importantes alianças, ampliando
os laços familiares para além da consanguinidade‖.
Semelhante aos contos de fadas, na história ―A Montanha Encantada‖, os
responsáveis pelas crianças não possuem nome, sendo identificados como
―Padrinho‖ e ―Madrinha‖, como se fosse um disfarce por assumir o papel de pai e
mãe, o que facilita ao leitor uma identificação pessoal, ou seja. Facilita o leitor
identificar-se com estes personagens.
Padrinho é citado como se fosse um nome, assim como o é o ―Príncipe
Encantado‖, daí o motivo das iniciais maiúsculas.
Considera-se a família o alicerce da sociedade, por este motivo os alunos
foram orientados para pesquisar os direitos e os deveres da família no código civil e
na sociedade. Primeiro dentro da própria família, depois com seus ―guias
espirituais‖, padres, catequistas ou pastores, após, em sites da Internet que os
conduziu a blogs religiosos, Conselho Tutelar e Jurídico.
Direito de Família é o conjunto de princípios e normas de Direito Público e Direito Privado destinado à regular as relações decorrentes da união ou do parentesco entre pessoas. Ainda que a principal fonte de Direito de Família seja o Código Civil, não se pode esquecer que esse ramo do Direito também inclui normas existentes em diversos outros diplomas legais, considerados legislação extravagante como por exemplo, a Lei n. 5.478/68 (Lei de Alimentos), a Lei n. 6.515/77 (Lei do Divórcio), a Lei n. 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), a Lei n. 8.560/92 (Investigação de Paternidade), a Lei n. 9.263/96 (Planejamento Familiar) e a Lei n. 10.741/2003 (Estatuto do Idoso), além de outras. Quanto ao objetivo do Direito de Família, consiste em tutelar o grupo familiar no interesse do Estado, conforme se dessume do art. 226 da Constituição Federal: ―A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado‖ (LUZ, 2009, p.5).
-
Entende-se que, se existe direito, na mesma medida, há responsabilidade.
As leis protegem, mas não exoneram que se cumpram com as obrigações.
Neste ponto do trabalho a pesquisa voltou-se sobre a forma como a família é
representada pela mídia. O objeto de observação foram vídeos-novela e desenhos
animados que versassem sobre a representação da família no passado, presente e
no futuro.
Após observação percebeu-se que nem sempre é possível acreditar no que
é vinculado pela mídia, que o inconsciente muitas vezes pregam peças levando o
telespectador chegar a conclusões sem reflexão que nem sempre corresponde a
verdade, sendo, portanto, necessário refletir antes de qualquer tomada de partido ou
decisão.
Passou-se a trabalhar o texto dramático e a novela de rádio. Ao contrário do
livro que é escrito para ser lido, o texto dramático é escrito para a representação.
Sendo que a rádio novela é um texto dramático, escrito para ser ―ouvido‖, uma vez
que seu objetivo é a gravação e a divulgação através de uma rádio. Portanto, há a
necessidade da reescrita do livro ―A Montanha Encantada‖, fazendo a adaptação
para essa modalidade, uma vez que se pretende divulgá-la em uma rádio-recreio.
Sabe-se que:
O discurso só adquire sentido no interior de um universo de outros discursos, lugar do qual ele deve traçar seu caminho. Para interpretar qualquer enunciado, é necessário relacioná-lo a muitos outros – outros enunciados que são comentados, parodiados, citados, etc. (MAINGUENEAU, 2004, p.55).
Pelo motivo citado, a solicitação de trabalho quanto à reescrita da história,
foi respeitando o universo do aluno, pois a formação do sentido é construída
socialmente.
É também na relação entre locutor e interlocutor, ouvindo e se fazendo ouvir,
que a língua vai fazendo sentindo. Sendo o professor mediador em um espaço onde
se pressupõe querer ensinar e aprender, esta é a condição necessária para que o
processo ocorra. É preciso que ambos os sujeitos estejam abertos para os novos
sentidos e se permitam ir além do que está dito.
-
A incompletude é constitutiva de qualquer signo - qualquer ato de nomeação é um ato falho, um mero efeito discursivo. O discurso diz muito mais do que seu enunciador pretendia, ―A multiplicidade de sentido é inerente à linguagem‖ (ORLANDI, 2007, p. 20).
Para a AD, o sujeito do discurso é histórico, social e descentrado, pois é
cindido pela ideologia e pelo inconsciente. Histórico, porque não está alienado do
mundo que o cerca, e social porque não é o indivíduo, mas aquele apreendido num
espaço coletivo.
Todo dito tem uma história, um motivo que levou o sujeito àquela atitude
discursiva naquele momento e daquele modo. Porém, assim como a história que
não foi dita, não deixa de existir, entende-se que ela continua a existir e não pode
ser ignorada: os não-ditos e os silêncios significam. E então se problematizou a
massificação de um grupo no processo de ensino que trata a todos de um único
modo, ignorando às suas histórias. Consequência: a escola e seus saberes tornam-
se um mundo alheio à vida real do sujeito.
É importante reiterar que neste trabalho, os sujeitos professor e aluno são
um ―eu‖ pluralizado, pois ambos se constituem na e pela interação verbal, onde o
discurso mediará a ambos e a sua realidade social.
De acordo com Orlandi (2007a, p.48-49), o sujeito é atravessado por
diversos discursos que ficam internalizados, caindo no ―esquecimento‖, mas que
vem à tona como se pertencessem ao próprio sujeito. Da mesma forma que seu
discurso é atravessado por outros discursos, o seu discurso atravessa outros
sujeitos representando e construindo papéis na sociedade.
Não existe sujeito sem discurso, pois é este quem cria um espaço
representacional para aquele. Orlandi (2008, p. 23) afirma que o discurso é
caracterizado pela multiplicidade de efeito de sentidos. O que leva a isso são as
posições do sujeito, sua ideologia, que acaba por materializar-se através da língua.
O discurso se constitui pelo trabalho, com e sobre os recursos de expressão que
produzem determinados efeitos de sentido em correlação com condições de
produções especificas.
Os livros de literatura também trabalham com a História, pois é só através
dela que é possível voltar ao passado para um resgate histórico de forma a
compreender os acontecimentos atuais e inclusive da política, pois historicamente os
-
fatos estão interligados. História, política e literatura estão unidas pelo mesmo laço
de interesse: o povo, porém com cada um partindo de um ponto de vista.
A caravana chegou à fazenda, onde a Madrinha já os esperava, pois de longe havia pressentido a volta dos viajantes. (DUPRÉ, 2009, p. 120)
Aparece aqui o espírito mágico da fada que pode saber o que acontece, o
estereótipo de que a ―boa mãe‖ é aquela que pressente os acontecimentos, que está
propensa a defender e facilitar a vida dos seus rebentos.
Os indivíduos são interpelados em sujeitos falantes pelas formações discursivas que representam as formações ideológicas que lhes correspondem (ORLANDI, 2008, p. 58).
Viajante, aqui, significa aquele que se movimenta num ir e vir em busca do
conhecimento interior. Nesta citação eles estão retornando de uma busca interior e a
boa fada que tudo sabe, pois "pressente", representada na figura da Madrinha, os
aguarda como uma mãe a espera do retorno do filho amado.
É espírito mágico da fada que pode saber o que acontece, o estereótipo de
que a ―boa mãe‖ é aquela que pressente os acontecimentos. Este tipo de marcas de
comportamento é o que (Maingueneau, 2004, p. 98), afirma ser o ethos, ou seja, "os
traços de caráter que o orador deve mostrar ao auditório (pouco importa sua
sinceridade), para causar boa impressão".
Madrinha tem este comportamento em função da sociedade na qual foi
educada e convive. Presenciou em seu meio tal exemplo comportamental que
passou a valorizar e tê-lo como modelo. Para Orlandi, são as diferentes interrupções
discursivas que "atropelam" o sujeito e provoca este a assimilar, de modo
involuntário, determinada atitude no decorrer da convivência com outras pessoas de
discursos e ideologias distintas dos seus: "os indivíduos são interpelados em sujeitos
falantes pelas formações discursivas que representam as formações ideológicas que
lhes correspondem" (ORLANDI, 2008, p. 58).
-
– Mamãe, descobrimos uma cidade maravilhosa, a cidade mais rica do mundo... (DUPRÉ, 2009, p.121).
Na fase entre a infância e a adolescência, é um período de maravilhamento,
das descobertas da natureza de forma espontânea, despertar de sentidos e
sentimentos. Querer dividir as descobertas com a mãe, que não participou da
excursão. Ela permaneceu na fazenda, como era costume naquela época.
Pode-se perceber, também, a relevância atribuída aos minérios preciosos,
deixando transparecer os ideais incutidos pelo capitalismo. Vivendo em um ambiente
onde o capital tem extremo valor, o jovem se lembrou do ouro e das pedras
preciosas que viu na montanha dos anões, se esquecendo completamente do que
lhes faltava o Sol, as flores, os pássaros, entre outros.
Voese (2005, p. 126), esclarece que: "quando quiser educar a criança, o faz
com o objetivo que ela possa apropriar-se do modelo da sociedade atual e, por isso,
deverá descrever o trabalho sempre como uma prática positiva".
7 Conclusão
A AD é uma disciplina de interpretação que se situa nos intermeios das
áreas da linguística, do materialismo histórico e da psicanálise. Um dos seus
fundadores, Michel Pêcheux, estabeleceu a relação existente do discurso entre
língua, sujeito, e história, ou língua e ideologia. Este é o princípio da AD de linha
francesa, que embasou este trabalho.
Sendo o discurso sempre pronunciado a partir de condições de produção de
dados, os alunos foram providos de informações que os embasassem para a
interpretação, uma vez que ela é um gesto simbólico, que dá sentido ao texto, que
dá visibilidade ao que o autor pretendeu transmitir. É através do discurso que as
transformações ocorrem e a sociedade passa por mudanças constantes e não é de
se estranhar que a escola necessite acompanhar estas mudanças. Para que isto
aconteça de forma adequada faz-se necessário que o professor intermedeie o
-
conhecimento, para que seu aluno, aos poucos, vá adquirindo a independência
intelectual através das pesquisas que no futuro fará por si só.
O blog possibilita práticas reais para a escrita, leitura e compreensão. É uma
oportunidade inigualável para o aluno interagir, com possibilidades de eliminar
barreiras geográficas. No ambiente virtual as informações acontecem continuamente
de forma participativa e colaborativa onde são apresentadas as sugestões,
propostas e estratégias, principalmente na divulgação dos conhecimentos
alcançados.
Nossa sociedade precisa acompanhar os avanços e a disseminação dos
blogs, além de permitir que os trabalhos relevantes dos alunos ultrapassem os
domínios escolares e se lancem para a vida, parafraseando Pierre Levy, em seu
livro ―A Inteligência Coletiva‖ (2007), chamarei de ―Conhecimento Coletivo‖, onde
cada grupo dá de sua contribuição nessa grande sociedade de informação.
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