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CUSTO FINANCEIRO DE ESTOCAGEM:
ESTUDO DE CASO EM UNIVERSIDADE
COMUNITÁRIA
JOCIMAR VAZOCHA WESCINSKI (UNOCHAPECÓ )
Rodney Wernke (UNOCHAPECÓ )
ANTONIO ZANIN (UNOCHAPECÓ )
O artigo pretendeu responder questão de estudo relacionada a como
evidenciar os efeitos financeiros negativos da gestão inadequada dos
estoques de insumos em uma universidade comunitária. Nessa direção,
o objetivo principal do trabalho foi elaborar relatórios que
permitissem gerenciar os estoques de forma a identificar inadequações
nos níveis de estocagem e os respectivos impactos financeiros. Quanto
aos resultados do estudo, concluiu-se que o contexto encontrado na
universidade é preocupante, pois na amostra de produtos considerada
foi constatada a existência de prazos de estocagem altos e valores de
estoques excedentes elevados, que acarretaram valores de custos
financeiros significativos. Nesse sentido, os procedimentos de cálculos
utilizados permitiram identificar os produtos mais problemáticos em
cada almoxarifado pesquisado, bem como mostrar o desempenho geral
destes setores de forma comparativa.
Palavras-chave: Estoque, Custo financeiro da estocagem,
Universidade comunitária.
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1. Introdução
Por não ser relacionado à atividade-fim de uma instituição universitária, um tipo de gasto que
pode passar despercebido é aquele relacionado à manutenção de estoques em níveis além do
necessário para o cotidiano. Entretanto, os recursos empregados nos itens estocados podem
ser excessivamente elevados e até prejudicar a gestão de caixa da entidade.
Entre as ferramentas para gerenciar estoques, talvez a metodologia de mais fácil execução e
análise seja a determinação dos prazos de estocagem. As informações oriundas do cálculo dos
dias de permanência em estoque podem ser utilizadas para verificar a pertinência da
manutenção dos volumes de estoques atuais da entidade, além de permitir o cálculo do
volume de estoque excedente (em unidades e valor monetário) e a mensuração do respectivo
“custo financeiro”.
É nesse contexto que emerge a questão de pesquisa a responder: como evidenciar os efeitos
financeiros negativos da gestão inadequada dos estoques de insumos em instituição
universitária? Nessa direção, o objetivo principal do trabalho foi elaborar relatórios adaptados
ao contexto de uma instituição de ensino superior, sediada em Chapecó (SC), que permitissem
gerenciar os estoques de forma a identificar inadequações nos níveis de estocagem e os
respectivos impactos financeiros. Estudos com esta abordagem se justificam em virtude de
que o custo de oportunidade de aplicar recursos em itens estocados pode ser representativo,
em termos financeiros, para uma instituição universitária comunitária que lida com
orçamentos restritos. Nessa direção seria pertinente conhecer o montante efetivamente
suportado pela entidade com a manutenção de estoques.
2. Revisão da literatura
Ao considerar o porte da empresa onde se realizou este estudo e, principalmente, os controles
internos disponíveis por ocasião da pesquisa, optou-se por empregar a metodologia que visa a
determinação do prazo de estocagem dos insumos armazenados e do “custo financeiro”
inerente. Nesse sentido, Assef (1999) defende que a política de estocagem deve começar pela
definição dos dias médios de estoque de cada insumo/produto, pois ao conhecer esse prazo o
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gestor da área pode analisar a conveniência do nível de estoque atual considerando as diversas
variáveis envolvidas no processo de aquisição e armazenamento de materiais.
Wernke (2008) menciona que uma possibilidade para otimizar o desempenho da empresa no
que tange à gestão de estoques consiste definir uma política de estocagem que abranja, ao
menos, o levantamento dos prazos médios de estocagem (em dias) das mercadorias, o cálculo
do custo financeiro (R$) de manter determinado volume estocado, o valor do estoque
excedente (R$) e o valor do custo financeiro (R$) do estoque excedente. Com esses
procedimentos o administrador contaria com informações para decidir acerca da manutenção
ou redução dos níveis de estoques da organização (quantidades e valor monetário). O referido
autor cita, ainda, que para apurar o custo financeiro dos estoques primeiramente é necessário
calcular o valor (em R$) estocado ao final do prazo de estocagem (em dias) de cada insumo
fabril. Com esse propósito, deve ser utilizada a fórmula do Valor Futuro (também conhecido
como Valor Nominal ou Montante). Esse conceito, para Puccini (2004, p.40), é o valor
“resultante da aplicação de um item principal (PV), durante (n) períodos de capitalização, com
uma taxa de juros “i” por período, no regime de juros compostos”. Referida concepção está de
acordo com Heymann e Bloom (1990), que afirmam que os relatórios financeiros, para efeitos
gerenciais, devem expressar os valores contábeis em termos de fluxo de caixa. Isso implica,
conforme tais autores, que os usuários desses relatórios devem dispor de informes que
considerem o valor do dinheiro no tempo trazido a valor presente.
Diante desse contexto é possível perder muito dinheiro em função do grande número de itens
estocados sem necessidade, sendo que esses recursos poderiam ser aplicados em outro
investimento mais rentável, o que acarreta um “custo de oportunidade”. Para Pindyck e
Rubinfeld (2009) os custos de oportunidade são os custos associados às oportunidades que
serão deixadas de lado caso a empresa não utilize os recursos da melhor maneira possível.
Sobre esse assunto, Assaf Neto e Lima (2009, p. 316) mencionam que “um custo de
oportunidade retrata quanto uma pessoa (empresa) sacrificou de remuneração por ter tomado
a decisão de aplicar seus recursos em determinado investimento alternativo, de risco
semelhante”. Ou seja, o custo de oportunidade é a melhor alternativa disponível que foi
sacrificada. É quanto se deixou de ganhar decidindo por um investimento em vez de outro, de
mesmo risco. Basso (2005) afirma que, se nenhum objeto avaliado ou atividade é necessitado,
todos os pedidos, de todos os povos, em todos os períodos, podem ser realizados; portanto,
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não existiria a necessidade de escolher entre as opções avaliadas separadamente, não existiria
oportunidade ou alternativa deixada de lado. Assim, com a escassez, nem todas as
necessidades ou demandas podem ser realizadas; o que obriga escolher a melhor alternativa
disponível. Nesse sentido, é interessante que seja considerado o custo de oportunidade do
capital “empatado” nos estoques. Acerca disso, Faria e Costa (2005) pugnam que a
determinação da taxa de oportunidade mais adequada ao custo de manter estoques é inerente
ao tipo de investimento que se faria, caso os recursos não fossem aplicados nesses ativos.
Argumentam a favor desse raciocínio citando que se o dinheiro fosse destinado a uma conta
bancária ou utilizado para abater dívidas, então se aplicaria a taxa de juros adequada à opção
escolhida.
Sobre pesquisas com abordagem semelhante à pretendida neste estudo foram realizadas
consultas às bases de dados Scopus, Science Direct, Speel e Portal de Periódicos Capes, com
buscas pelas palavras-chave “financial cost”, “custo financeiro”, “opportunity cost”, “custo de
oportunidade”, “inventory” e “estoque”. Dessa seleção de termos resultaram três textos que
abordavam temática assemelhada à utilizada neste estudo (WEERASINGHE e ZHU, 2015;
REDIVO, 2004; SANTOS, 2007) e, ainda, outros três artigos que discorriam mais
especificamente sobre o custo financeiro de estocagem (WERNKE, LEMBECK e
NASCIMENTO, 2011; WERNKE, GOMES e LEMBECK, 2014; WERNKE e VARGAS,
2014).
3. Metodologia utilizada
Quanto aos objetivos esta pesquisa é classificável como descritiva, de vez que esse tipo de
estudo faz a descrição das características de uma população, fenômeno ou de uma experiência
(GIL, 2008). No que concerne à abordagem, pode ser classificada como qualitativa, que é
como Richardson (2008) denomina os estudos que descrevem a complexidade de determinado
problema, analisam a interação de certas variáveis, compreendem e classificam processos
dinâmicos vividos por grupos sociais. Pelo aspecto dos procedimentos adotados caracteriza-se
como um estudo de caso, pois se concentra em uma única entidade e suas conclusões limitam-
se ao contexto do objeto de estudo. No que tange à coleta de dados necessários ao estudo
foram realizadas entrevistas informais (não estruturadas) com o gestor responsável pela área
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de estocagem. Por intermédio dessas entrevistas foi possível conhecer o contexto da
instituição quanto aos controles internos utilizados para gerenciar os itens estocados. Quanto
ao período abrangido, a pesquisa foi desenvolvida no segundo semestre de 2015, mas utilizou
o mês de outubro daquele ano como base para obtenção dos valores pertinentes.
4. Apresentação e discussão dos resultados
A pesquisa foi realizada em universidade comunitária sediada em Chapecó (SC) que, em
razão de suas características operacionais, mantinha itens armazenados em quatro
almoxarifados. Todas as entregas dos fornecedores eram feitas no Almoxarifado Central (AC)
e, quando cabível, fazia-se o remanejamento para os demais almoxarifados: Equipamentos de
Proteção Individual (AE), Almoxarifado de Informática (AI) e Almoxarifado dos Reagentes
Químicos (AR).
A partir do sistema informatizado desses almoxarifados verificou-se que eram mantidos 1.134
produtos distintos em estoque. Porém, foram abrangidos neste somente os 20 principais itens
armazenados (11 produtos do AC e três de cada um dos demais almoxarifados). Para tanto, o
critério de seleção levou em conta o valor monetário total (R$) mantido em estoque no
período-base.
Além disso, as informações obtidas nas entrevistas efetuadas evidenciaram que não era
empregada qualquer metodologia mais aprimorada tecnicamente no que diz respeito ao
dimensionamento correto dos estoques e, principalmente, que não eram calculados os custos
financeiros de estocagem. Então, para avaliar o montante dos custos financeiros dos estoques,
o valor do estoque excedente e também o custo financeiro dos estoques excedentes, foi
proposta a elaboração de relatórios específicos (em planilhas Excel) a partir dos dados
disponíveis, como delineado na sequência.
4.1. Coleta dos dados necessários
Os controles internos da área de suprimentos da instituição em tela eram informatizados, o
que possibilitou importar os três principais dados necessários para aplicar a metodologia de
gestão de estoques escolhida: saldo atual em unidades físicas de cada material; respectivo
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consumo médio mensal em unidades físicas e valor monetário (R$) do custo de compra de
cada insumo. Referidos dados estão expostos na Tabela 1.
Ainda, para realizar o estudo pretendido também foi necessário obter informações
relacionadas com o número de dias de expediente mensal (em média 22 dias/mês) e com a
taxa de juros a considerar como “custo de oportunidade”. Neste caso, a taxa de juros
recomendada pelos gestores foi de 1,5% ao mês, em razão de ser a taxa de captação média
que a universidade costumava pagar para obter recursos junto às instituições bancárias.
4.2. Determinação do prazo médio de estocagem e do custo financeiro respectivo
Os dados citados na seção precedente permitiram apurar os prazos médios de estocagem dos
itens armazenados, conforme descrito na Tabela 2, a seguir.
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Nesta Tabela 2 dividiu-se o estoque atual em unidades físicas de cada insumo (coluna “A”)
pela respectiva quantidade média mensal consumida nos últimos 10 meses (janeiro a outubro
de 2015), conforme expresso na coluna “B”. Em seguida, multiplicou-se o resultado da
divisão pelo número de dias úteis do mês (22 dias, no caso da universidade pesquisada). O
resultado dessa equação forneceu o prazo médio de estocagem (PME), em dias, dos itens
abrangidos como consta da coluna “C” da Tabela 2.
O conhecimento do PME de cada item armazenado possibilita ao gestor uma comparação
deste com o prazo de entrega dos fornecedores. No caso do “Água mineral pet 500ml”
(primeiro produto listado na Tabela 2), a universidade mantinha nível de estoque equivalente
a 50,42 dias de consumo. Esse prazo é considerado inadequado porque, segundo o gestor do
almoxarifado, o fornecedor entrega esse item no prazo máximo de 2 dias depois de efetuado o
pedido. Portanto, não haveria necessidade de manter grande volume físico desse produto e
que implica prazo médio de estocagem tão elevado. Destarte, poderia ser comprado um lote
de estoque suficiente para cerca de 5 dias (como exemplo), proporcionando uma “margem de
segurança” de 3 dias. Além disso, apenas um dos 20 produtos enfocados no estudo possuía
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tempo de estocagem inferior a um mês de atividade (22 dias de expediente/mês). Tendo em
vista a identificação de longos prazos de estocagem, cabe ao gestor de suprimentos avaliar a
pertinência, ao menos, daqueles produtos com prazos de armazenagem mais elevados,
considerando a estimativa de dias para fornecimento ou reposição.
Depois de conhecidos os prazos médios, a avaliação dos estoques pode ser aprimorada com a
identificação do “custo financeiro” que a universidade arcava com os períodos de estocagem
excessivos. Para tanto, de início cabe levantar o valor total mantido em estoque. Com esse
propósito, os dados levantados até essa etapa permitiram determinar o valor total (em R$)
mantido em estoque pela organização em tela, conforme descrito na Tabela 3, para a amostra
de 20 itens selecionados.
O rol dos principais insumos utilizados pela universidade pesquisada atingiu o valor total de
R$ 70.793,22. Para chegar a esse montante, bastou multiplicar a quantidade em estoque pelo
respectivo custo de compra unitário (em R$).
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As tabelas citadas mostraram que a universidade mantinha valores expressivos em estoque
por períodos longos em termos de prazos médios de estocagem (em dias). Esse procedimento
pode repercutir negativamente no desempenho financeiro da instituição ou ter impactos na
necessidade de captar recursos para suportar o pagamento das aquisições de insumos se o
fluxo de caixa não estiver convenientemente equilibrado. Então, para evidenciar um dos
aspectos problemáticos relacionados aos níveis inadequados de estoques (ou mostrar o efeito
financeiro dessa “imobilização” de recursos nos estoques) pode ser empregada a mensuração
do “custo financeiro” respectivo, como exemplificado na Tabela 4 (com apenas 1 produto
detalhado e os demais representados na linha “outros”, por restrição de espaço no texto).
Tabela 4 - Custo financeiro do estoque dos produtos pesquisados
Grupo Produtos
Total
Estocado
(R$)
E = A x D
Dia Médio de
Estocagem
C = (A/B) x Dias
úteis
Estoque a
VF (R$)
VF = VP
(1+i)^n
Custo
Financeiro
do Estoque
(R$)
AR Glicerol (glicerina 99%) C3H8O3 c/ 1000ml 5.580,00 1.205,48 10.149,79 4.569,79
... Outros ... ... ... ...
TOTAIS 70.793,22 - 94.987,33 24.194,11
Fonte: elaborada pelos autores, com dados da pesquisa.
Para determinar o “custo financeiro” dos estoques inicialmente foi calculado o valor (em R$)
armazenado ao final do prazo de estocagem (em dias) de cada item (na penúltima coluna da
Tabela 4) por meio da equação do Valor Futuro (VF). Para isso foi utilizada a taxa de 1,5% ao
mês como “custo de oportunidade”, para considerar o conceito do “valor do dinheiro no
tempo” e aprimorar as informações dos relatórios gerenciais propostos.
Em seguida, foi necessário obter o valor total (R$) atualmente estocado (coluna E) e o prazo
médio (em dias) de estocagem (coluna C) para cada insumo armazenado. No exemplo
reproduzido na Tabela 4, o estoque atual do item “Glicerol (glicerina 99%) C3H8O3 c/
1000ml” tinha o valor de R$ 5.580,00, enquanto que o PME (prazo médio de estocagem)
apurado foi de 1.205,48 dias (calculado na Tabela 2).
Com esses três dados disponíveis para cada item foi possível calcular o valor futuro (VF) do
estoque atual com a fórmula citada anteriormente. Ou seja, no cálculo do “Valor Total no
Período R$” citado na Tabela 4 foi considerado como fator “n” na equação do VF o “Prazo
Médio de Estocagem (em dias)” apurado para cada insumo armazenado. Ainda, foi utilizado o
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valor estocado (R$) de cada um dos produtos abrangidos, conforme mencionado na segunda
coluna da Tabela 4, como sendo o valor presente (VP) na referida equação.
Ao abranger todos os 20 itens da Tabela 4, numa amostra com R$ 70.793,22 de insumos
estocados foi apurado “custo financeiro” total da ordem de R$ 24.194,11 no período
pesquisado. Este valor representava 34,17% do montante estocado e não aparecia nos
controles contábeis tradicionais ou nos controles internos da universidade. No entanto, deveria
ser evidenciado aos administradores porque fornece um diagnóstico acerca dos recursos
financeiros que são consumidos pelos estoques mantidos no almoxarifado da instituição.
Cabe ressalvar que também foram mensurados os valores relativos ao “estoque excedente”
(R$ 49.778,35) e “custo financeiro do estoque excedente” (R$ 23.313,91). Porém, pela
restrição de espaço, neste artigo foi omitido o detalhamento a respeito.
4.3. Discussão dos resultados
Nesta seção estão sintetizados e comentados os principais “achados” da pesquisa. Com esse
propósito, a Tabela 5 apresenta um resumo dos resultados segmentados pelas quatro
subdivisões da área de suprimentos da universidade estudada.
A Tabela 5 evidencia que a participação de cada almoxarifado e respectivos grupos de
produtos armazenados foi bastante distinta nos critérios mencionados naquela ilustração, que
podem ser adotados para analisar a pertinência do nível de estoque mantido pela entidade.
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Em relação ao Almoxarifado Central (AC), mesmo que fosse responsável por abrigar mais de
95% das unidades físicas, nesta unidade a participação percentual no valor total estocado (R$
41.496,76) era bem menor (58,62%). Esse nível de estoque e os prazos médios respectivos de
cada item acarretaram que o “Custo financeiro do estoque” (R$ 12.168,95) deste setor
respondesse por 50,30% do valor total apurado. Além disso, ao calcular o “Valor Total do
Estoque Excedente” desta unidade (R$ 23.139,00) se constatou que este equivalia a 46,48%
do montante calculado nesta pesquisa. Por último, o custo financeiro do excedente estocado
atingiu R$ 11.668,55 e representou participação de 50,05% no montante determinado a partir
dos produtos envolvidos. Ao ser informado destes resultados, o gestor desta unidade afirmou
que desconhecia tal realidade e surpreendeu-se com o fato de que com apenas 11 itens (de um
estoque com mais de 1.000 produtos) o valor resultante já foi elevado. Assim, se for
mensurado o custo financeiro de estoque de todos os itens desse almoxarifado, a tendência é
que esses valores sejam muito mais expressivos.
No âmbito do Almoxarifado de Informática o cenário oriundo dos cálculos realizados
permitiu dessumir que, apesar de não manter muitos insumos em estoque (cerca de 1,40% do
total das unidades físicas abrangidas), o valor monetário estocado representou 25,35% do
total, com um custo financeiro de estocagem de R$ 6.350,80. Chamou a atenção nesse
almoxarifado o fato de que o valor excedente de estoque (R$ 15.885,87) era apenas R$
2.058,04 menor que o valor total em estoque (R$ 17.943,91). Segundo o responsável pelo
setor, valores elevados já eram esperados em razão de manter armazenados equipamentos e
periféricos de informática, que têm valores monetários elevados de custo de compra.
Quanto ao desempenho do Almoxarifado de Reagentes, pela Tabela 5 foi constatado que o
mesmo teve participação de 2,40% no total de unidades físicas estocadas. Contudo, os
insumos armazenados neste setor possuíam valor monetário de R$ 9.019,59 (12,74% do total
estocado), o que acarretou custo financeiro de estoque de R$ 5.312,48 (21,96% do total da
pesquisa). Ainda, o valor do estoque excedente (R$ 8.633,25) também ficou muito próximo
ao valor total desta unidade (R$ 9.019,59) e implicou que o custo financeiro deste estoque
excedente chegasse a R$ 5.187,64 (o que equivalia a 22,25% do custo financeiro total
mensurado). Ao conhecer essas informações o técnico-químico responsável pela gestão deste
almoxarifado afirmou que, até então, não se preocupava com os níveis de estoques, pois
priorizava somente que não faltasse algum tipo de insumo.
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Por último, no caso do Almoxarifado de EPI’s os indicadores mensurados mostraram que este
mantinha os valores monetários mais baixos (R$ 2.332,96 de estoque; R$ 361,87 de custo
financeiro do estoque; R$ 2.120,24 de estoque excedente e R$ 334,48 do custo financeiro do
estoque excedente). Em relação às unidades estocadas, representa apenas 0,62% do conjunto
de insumos avaliados neste estudo, mas o valor monetário (R$) estocado atingiu 3,30% e o
custo financeiro deste estoque equivaleu a 1,50% do total mensurado.
A respeito de desempenhos indesejados em termos dos valores dos estoques e dos custos
financeiros apurados, estes provavelmente estão vinculados ao fato de que não existia nenhum
controle relacionado a essa problemática na instituição. Além disso, o software de controle
interno do setor de suprimentos não estava configurado para apresentar esses relatórios,
impossibilitando os gestores de terem essa informação por intermédio daquele instrumento.
Por isso, recomendou-se que os relatórios expostos nas tabelas das seções precedentes fossem
implementados e que os gestores fossem treinados para interpretá-los corretamente.
Quanto ao cotejamento dos resultados obtidos nesta pesquisa com os “achados” dos artigos
destacados anteriormente, vale salientar alguns pontos. Os estudos de Wernke, Lembeck e
Nascimento (2011), Wernke, Gomes e Lembeck (2014) e Wernke e Vargas (2014) abordam o
custo financeiro de estoque e o estoque excedente de modo semelhante ao enfoque aqui
aplicado, mas em empresas comerciais e industriais que mantinham apenas um almoxarifado.
Quanto às características e resultados, convém destacar que nesses artigos os percentuais entre
os grupos de insumos avaliados também foram muito distintos, bem como foram identificados
produtos “problemáticos”, ou seja, aqueles cujos valores monetários referentes ao custo
financeiro de estoque e ao estoque excedente eram altos. Ao priorizar esses insumos os
gestores poderiam cogitar medidas para minimizar os efeitos desses níveis indesejados de
estoques. Além disso, no que concerne às diferenças em relação aos artigos citados, no caso
da instituição universitária em tela os insumos são recebidos em um local e, depois,
distribuídos para outros almoxarifados menores que fazem o controle e distribuição aos
consumidores/usuários. A partir disso foi possível constatar que o Almoxarifado Central (AC)
teve a maior participação nos valores envolvidos. Contudo, ao se observar a diferença em
percentual do valor do estoque total para o valor do estoque excedente de cada um dos quatro
almoxarifados, nas outras três unidades (AR, AE e AI) essa disparidade foi bem maior. Isso
permite concluir que nestas a gestão de estoques é menos eficiente que no AC.
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5. Considerações finais
O artigo visou responder questão de estudo relacionada aos efeitos financeiros negativos da
gestão do estoque de insumos de uma instituição de ensino superior. Com esse propósito
objetivava elaborar relatórios adaptados ao contexto dessa instituição que permitissem
gerenciar os estoques de forma a identificar inadequações nos níveis de estocagem e os
respectivos impactos financeiros. Nessa direção, os autores entendem que a pergunta de
pesquisa foi convenientemente respondida de vez que, por intermédio das tabelas
apresentadas nas seções precedentes, foi possível evidenciar os prazos médios de estocagem,
o custo financeiro do estoque e o estoque excedente, entre outras informações gerenciais
relevantes. Em razão disso, o objetivo priorizado neste artigo também foi atingido. Ou seja, a
partir dos cálculos que foram explicitados anteriormente os gestores puderem conhecer a
pertinência dos níveis de estoques mantidos nos quatro almoxarifados abrangidos.
Quanto aos resultados do estudo, concluiu-se que o contexto encontrado na universidade é
preocupante, pois na amostra de produtos considerada foi constatada a existência de prazos de
estocagem altos e valores de estoques excedentes elevados, que acarretam custos financeiros
significativos. Nesse sentido, os procedimentos de cálculos utilizados permitiram identificar
os produtos mais problemáticos em cada almoxarifado pesquisa, bem como mostrar o
desempenho geral destes setores de forma comparativa.
No que tange às limitações desta pesquisa, é pertinente destacar dois pontos. O primeiro
relaciona-se ao fato de ter envolvido somente alguns produtos do total de itens estocados em
cada almoxarifado. O segundo ponto diz respeito à definição da taxa de juros utilizada nos
cálculos, visto que poderiam ser utilizadas metodologias mais aprimoradas para definir o
custo de oportunidade considerado na equação do custo financeiro do estoque. Contudo,
optou-se por adotar a taxa de juros mensal que a universidade arcava ao captar recursos
bancários à época da pesquisa pela maior facilidade de obter tal informação.
Como recomendação para trabalhos futuros, seria interessante comparar os resultados
apurados com a realidade de uma ou mais universidades particulares. Com isso, seria possível
aferir se estas dão mais importância à problemática relacionada ao custo financeiro de
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estoques, aos prazos médios de estocagem e aos níveis de estoques excedentes do que a
instituição comunitária pesquisada.
REFERÊNCIAS
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