Curso de Treinamento Funcional

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AN02FREV001/REV 4.0 20 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE TREINAMENTO FUNCIONAL Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação

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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação

CURSO DE

TREINAMENTO FUNCIONAL

Aluno:

EaD - Educação a Distância Portal Educação

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CURSO DE

TREINAMENTO FUNCIONAL

MÓDULO II

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

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MÓDULO II

2 BASES NEUROLÓGICAS E A BIOMECÂNICA DO TREINAMENTO FUNCIONAL

Campos e Coraucci (2004) apud Monteiro e Evangelista (2012), relatam que o

treinamento funcional é baseado na estimulação do corpo humano para que sejam

melhoradas todas as qualidades do sistema musculoesquelético, bem como

sistemas interdependentes.

Segundo Wilmore e Costil (1999), o movimento humano é controlado e

regulado pelo sistema nervoso central, sendo o cérebro o controlador principal da

atividade muscular. De tal modo, muitas das atividades ocorrem a nível espinal, em

que os impulsos são integrados e enviados aos órgãos periféricos.

O sistema nervoso central compreende o encéfalo, dividido em cérebro,

diencéfalo, cerebelo e ramo cerebral e a medula espinal, que leva as fibras tanto

sensoriais quanto motoras, unindo encéfalo e a periferia. Já o sistema nervoso

periférico é dividido funcionalmente em divisão sensorial e divisão motora

(CAMPOS; NETO, 2004).

A divisão sensorial é responsável pelo transporte de informações da periferia

rumo ao sistema nervoso central, conhecida como via aferente (leva as

informações). Já a divisão motora, tratada como via eferente (traz de volta às

informações para execução) do sistema nervoso periférico, transmite informações do

sistema nervoso central a inúmeras partes do corpo, decidindo como o mesmo irá

responder a um determinado estímulo.

Como o sistema nervoso controla todas as funções do sistema

musculoesquelético, a ênfase desse treinamento reside nele e em seus

componentes.

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A prática do treinamento funcional pode manter ou recuperar a capacidade

funcional do ser humano, independentemente da fase da vida em que se encontram,

sendo uma importante ferramenta para melhorar o condicionamento físico e a saúde

em geral.

Os exercícios funcionais estimulam os chamados proprioceptores, que estão

presentes nos músculos (fusos musculares), nos tendões (órgão tendinoso de golgi-

OTG) e também nas cápsulas articulares (mecanorreceptores articulares –

corpúsculo de Ruffini e Pacini). Esses receptores desempenham, em simultâneo, a

função de detectar todas as variações mecânicas e de enviar a informação recolhida

ao sistema nervoso central. Para além dos proprioceptores, o aparelho vestibular e o

sistema visual também fornecem importantes informações somato sensoriais. Pode-

se dizer, portanto, que a propriocepção é responsável pelo envio constante de

SISTEMA NERVOSO CONTROLA

SISTEMA MUSCULAR EXECUTA

SISTEMA ESQUELÉTICO SUSTENTA

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informação sobre eventuais deslocamentos de segmentos no espaço auxiliando-nos

nas diversas tarefas motoras.

A propriocepção é o termo utilizado para nomear a capacidade em

reconhecer a localização espacial do corpo, sua posição e orientação, a força

exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo em relação às demais,

sem utilizar a visão.

Guyton (2002) refere-se às sensações proprioceptivas como as responsáveis

em informar ao cérebro sobre o estado físico do corpo, incluindo sensações como o

comprimento muscular, tensão nos tendões, angulação das articulações e pressão

plantar.

A propriocepção é um componente chave da estabilidade articular, pelo fato de seus impulsos aferentes indiretamente produzirem e modularem as respostas eferentes que permitem ao sistema neuromuscular manter um equilíbrio de estabilidade, pois as respostas eferentes para as informações sensoriais resultam em atividades que afetam o tônus muscular, os programas de execução motora, as percepções somáticas cognitivas e a estabilização articular reflexa. (CAMPOS; NETO, 2004, p.14)

Este tipo específico de percepção permite a manutenção do equilíbrio e a

realização de diversas atividades práticas. Resulta da interação das fibras

musculares que trabalham para manter o corpo na sua base de sustentação, de

informações táteis e do sistema vestibular, localizado no ouvido interno, responsável

pelo equilíbrio.

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FIGURA 9: PROPRIOCEPTORES MUSCULARES E TENDINEOS – FUSO

MUSCULAR E OTG

FONTE: Disponível em:

<http://www2.ibb.unesp.br/Museu_Escola/2_qualidade_vida_humana/imagens/proprio_receptores.jpg>. Acesso em: 10 jan. 2013.

Inicialmente, os sinais proprioceptivos e os cinestésicos são transmitidos

para a medula espinhal por meio das vias sensoriais aferentes, a informação é

processada em nível do córtex cerebral, que devolve em resposta eferente motora.

A esta resposta chamamos de controle neuromuscular.

O controle neuromuscular é a ativação inconsciente das restrições

dinâmicas que agem na preparação e na resposta do movimento articular, tendo por

finalidade a manutenção e/ou restauração da estabilidade funcional da articulação.

O controle neuromuscular depende da integração das informações que a

articulação manda para o cérebro junto com os sentidos (visão e audição) e os

comandos que o cérebro manda para os músculos na tentativa de manter a

articulação estável enquanto o corpo se prepara para realizar um movimento com

qualidade.

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O comprometimento do mecanismo de propriocepção resulta no

comprometimento da estabilização articular neuromuscular reflexa normal, que pode

contribuir para a distensão excessiva da cápsula e ligamentos e potencialmente para

a continuação da lesão.

O procedimento proprioceptivo é extremamente importante, pois ele é bem

ativado e potencializado de forma eficiente, podendo melhorar muito o sistema de

proteção ósteo-mio-articular, além de melhorar o equilíbrio, ajudando na prevenção

ou recuperação de grandes traumas ortopédicos.

FIGURA 10: CONTROLE NEUROMUSCULAR

FONTE: Disponível em: < www.ebah.com.br >. Acesso em: 10 jan. 2013.

Os movimentos realizados pelo corpo humano são sempre influenciados

pelas sensações e suas respectivas percepções que ocorrem durante o

processamento de informações para a realização de um movimento.

Lente (2004) descreve como sensação a capacidade que os animais têm de

codificar certos aspectos da energia física e química que os circunda,

representando-os como impulsos nervosos capazes de serem compreendidos pelos

neurônios, apresentando funções importantíssimas no corpo humano, como a

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própria percepção, o controle da motricidade, a regulação das funções orgânicas e a

manutenção da vigília (sono).

Os exercícios funcionais procuram levar ao praticante, atividades

desafiadoras, sendo assim, os órgãos dos sentidos solicitados. Por isso, é

importante mesclar as atividades para que a informação sensorial seja treinada.

O treinamento funcional também procura desenvolver em seus praticantes

um melhor equilíbrio muscular e uma melhor estabilidade articular. Dessa forma, os

exercícios podem ser criados e modificados de acordo com os planos de

movimentos. Para entendermos melhor é interessante relembrarmos quais são os

planos de movimentos e os eixos do corpo humano.

Os planos do corpo humano são superfícies planas imaginárias que passam

através de partes do corpo, facilitando o estudo da anatomia e a descrição dos

movimentos.

O Plano frontal ou coronal divide o corpo humano em regiões anterior e

posterior (parte da frente e parte de trás). Já o Plano sagital divide o corpo em direita

e esquerda (divide em lados) e o Plano horizontal ou transversal divide o corpo

humano em regiões superior e inferior.

Quando é observado o movimento do corpo humano, aplica-se o

conhecimento de eixo. Os eixos são linhas imaginárias que atravessam os planos do

corpo perpendicularmente. Sendo assim, quando o Plano for sagital o eixo de

movimento será frontal; quando o Plano for frontal o eixo de movimento sagital, e

quando, o Plano for horizontal o eixo será longitudinal. Na figura abaixo podemos

visualizar os planos e eixos de movimento:

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FIGURA 11: PLANOS E EIXOS DE MOVIMENTO

FONTE: Disponível em: < http://nuishbellaluna.files.wordpress.com/2011/07/eixo.jpg>. Acesso em: 10 jan. 2013.

Na tabela abaixo está um resumo dos movimentos que ocorrem em cada

eixo de movimento:

Tabela 02: Planos e eixos de movimento do corpo humano

FONTE: autora tutorial

PLANO EIXO MOVIMENTO

Frontal Sagital Abdução, adução e inclinação lateral

Sagital Frontal Flexão extensão

Horizontal Longitudinal Rotação interna e externa, pronação e supinação

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FIGURA 12: MOVIMENTOS ARTICULARES DO CORPO HUMANO

FONTE: Monteiro e Evangelista, 2012.

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FIGURA 13: MOVIMENTOS ARTICULARES DO CORPO HUMANO

FONTE: Monteiro e Evangelista, 2012.

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FIGURA 14: MOVIMENTOS ARTICULARES DO CORPO HUMANO

FONTE: Monteiro e Evangelista, 2012.

Os exercícios também podem e são realizados em cadeia cinemática aberta

e fechada, conforme o objetivo articular que melhor se enquadra ao

condicionamento físico do indivíduo que o realizará.

A cadeia cinemática nada mais é do que a combinação de várias

articulações que unem segmentos a fim de realizar um movimento específico.

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Na Cadeia Cinemática Aberta a extremidade distal se movimenta livremente

durante o exercício. A figura abaixo mostra um exemplo de cadeia cinemática aberta

para os membros superiores.

FIGURA 15: EXERCÍCIO EM CADEIA CINEMÁTICA ABERTA DE MEMBRO SUPERIOR

FONTE: Disponível em: < www.globalfitness.com.br>. Acesso em: 10 jan. 2013.

Este tipo de exercício funcional tem como objetivo:

Aumento das forças de aceleração;

Diminuição das forças de resistência;

Aumentos das forças de distração e rotações;

Aumentos da deformação dos mecanorreceptores articulares e musculares;

Força de aceleração concêntrica e desaceleração excêntrica;

Estímulo de atividade funcional.

Na Cadeia Cinemática Fechada o movimento acontece com a extremidade

distal fixa, pode ser o membro superior ou o membro inferior. A figura abaixo mostra

um exemplo de cadeia cinemática fechada em solo estável para os membros

inferiores.

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FIGURA 16: EXERCÍCIO EM CADEIA CINEMÁTICA FECHADA DE MEMBRO INFERIOR

FONTE: Disponível em: <www.globalfitness.com.br>. Acesso em: 10 jan. 2013.

Este tipo de exercício funcional tem como objetivo:

Aumento das forças de compressão articular;

Aumento da congruência articular, melhora estabilidade;

Diminuição das forças de cisilhamento e aceleração;

Estimulação dos propriceptores;

Aumento da estabilidade dinâmica;

Co-contração dos músculos agonistas e antagonistas;

São essenciais para o treinamento específico de esporte e reabilitação.

A percepção da posição do próprio corpo e de seu movimento no espaço

requer uma combinação de informações provenientes de receptores periféricos de

múltiplos sistemas sensoriais, incluindo o sistema visual, somatossensorial

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(receptores proprioceptivos, articulares e cutâneos) e sistema vestibular. Para que

seja possível entender como organizar exercícios funcionais, variando as

solicitações do sistema sensorial, é importante lembrarmos algumas características

desses sistemas:

Tabela 03: Sistemas sensoriais responsáveis pelo controle postural e suas funções

Sistema Sensorial Função

Sistema visual

Localizar o corpo e perceber seu movimento no

espaço em relação a referências extremas;

Estabilização da cabeça e do corpo em relação ao

ambiente

Sistema vestibular

Informação sobre orientação da cabeça em

relação ao campo gravitacional da Terra

Acelerações lineares e angulares

Atração gravitacional

Somestesia

Tato: percepção das características dos objetos

que tocam a pele.

Propriocepção: capacidade de distinguir as

posições estáticas e dinâmicas do corpo e suas

partes.

Termossensibilidade: percepção da temperatura

dos objetos e do ar.

Dor: identificação de estímulos muito fortes,

potenciais ou reais, capazes de causar lesões nos

tecidos.

FONTE: Monteiro e Evangelista, 2012.

No treinamento funcional, os diferentes sentidos são desafiados para que o

corpo consiga manter melhor controle neuromuscular. Por isso também que os

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exercícios devem ser aplicados de forma estática e dinâmica, e também diferenciar o

praticante inicial do avançado, pois as atividades requerem maiores dificuldades.

De acordo com Campos e Coraucci Neto (2004) apud Monteiro e

Evangelista (2012), o treinamento funcional quando aplicado para indivíduos

sedentários, deve ser antecedido por algumas etapas de treinamento que

correspondem à preparação e a melhora da consciência postural e da cinestesia.

Na etapa da preparação o aluno sedentário deve estimular as capacidades

físicas que serão mais utilizadas e que estão mais debilitadas, ou seja, devem

realizar um treinamento de força específico com máquinas ou pesos, treinamento de

resistência aeróbica e treinamento de flexibilidade. Para saber quais grupos

musculares estão mais debilitados é necessário que se faça uma avaliação postural,

bem como, teste de força muscular no aluno para posteriormente desenvolver as

atividades. Aconselha-se também melhorar a resistência dos músculos

estabilizadores da coluna vertebral.

A literatura divide os músculos estabilizadores da coluna em dois grupos: os

músculos profundos (sistema local) e os superficiais (sistema global). Os músculos

profundos são responsáveis pela estabilidade e controle segmentar, sendo estes: os

oblíquos internos, o transverso abdominal, os multífidos, o quadrado lombar e até

mesmo o diafragma. Os músculos superficiais são grandes produtores de força, mas

também contribuem para o suporte da coluna vertebral e da pelve, sendo eles: os

oblíquos externos, os eretores espinhais, o reto abdominal e a fáscia toracolombar

(GOUVEIA e GOUVEIA, 2008; FRANÇA et al., 2008).

Os exercícios realizados em posições menos funcionais, como na posição

deitada, por exemplo, devem ser usados para isolar e melhorar os padrões de

estabilidade. Tal treinamento de estabilização isolada pode ser considerado como a

primeira fase do treinamento. Mas assim que possível, o núcleo de estabilidade deve

ser treinado em exercícios que se assemelham as atividades que o indivíduo

enfrenta no esporte, em sua casa, trabalho e atividades recreativas ou cotidianas

(LIEBENSON, 2006).

Os exercícios do treinamento funcional são compostos por uma combinação

de variáveis que irão determinar seu grau de funcionalidade, são elas: qualidades

físicas trabalhadas (equilíbrio, força, velocidade, resistência, flexibilidade, potência),

padrões de movimento (lançar, puxar, empurrar, agachar, carregar, levantar),

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integração do movimento (isolado, multiarticular, integrado), equipamentos utilizados

(barra, elástico, bola, prancha, disco, medicine ball, pesos livres), acessórios

naturais (olhos abertos ou fechados, unilateral ou bilateral, um apoio, dois apoios,

três apoios, quatro apoios) e nível de dificuldade (iniciante, intermediário, avançado)

(D’ELIA e D’ELIA, 2005).

Essas variáveis são combinadas objetivando a formação de um exercício

que leve em consideração a transferência do mesmo para o esporte desejado.

Entendendo que existam três níveis de dificuldade (iniciante, intermediário e

avançado), o primeiro nível pode utilizar um exercício que trabalhe apenas uma

capacidade física, um padrão de movimento, a integração do movimento isolado ou

no máximo multiarticulado, poucos equipamentos e os acessórios naturais mais

simples como olhos abertos. Conforme o indivíduo for melhorando sua resistência

aos exercícios, novas combinações de atividades devem ser aplicadas, sempre

dificultando o estímulo do treinamento.

O treinamento funcional auxilia os músculos agonistas e antagonistas a

estabilizarem o complexo articular ativamente, sendo que o aumento da força é

consequência do aumento da sensitividade do reflexo monossináptico de

alongamento. Assim, o sistema neuromuscular é capaz de ativar os músculos mais

eficientemente no início do desenvolvimento de força. Do ponto de vista funcional,

isso é importante para estabilizar o complexo articular em situações de instabilidade,

evitando lesões (NOGUEIRA e DEL VECCHIO, 2008).

FIM DO MÓDULO II